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RAÚL ZIBECHI
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Texto originalmente publicado como Introdução ao livro Descolonizar la rebeldía. (Des)
colonialismo del pensamiento crítico y de las prácticas emancipatorias. Málaga: Baladre;
Zambra; Ecologistas en Acción, 2014. Tradução: Alessandro de Melo (fevereiro de 2016).
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Frantz Fanon!FALAR SOBRE
tanto na metrópole quanto em seu próprio país, é o lugar de onde reflete Fanon, que
será nosso guia nesta jornada sobre os movimentos sociais e sua relação com o
colonialismo. Em particular, interessam-me aquele movimentos – como os de
indígenas, dos afros, dos camponeses e de moradores das periferias urbanas da
América Latina – que fazem política “desde a zona do não-ser” (Grosfoguel, 2012 e
2013). O massacre de Paris é um pretexto para entrarmos neste debate. Poderia
haver eleito outras matanças, entre todas as que nos oferece a história brutal do
capitalismo na América Latina, inclusive as numerosas que foram cometidas nestes
mesmos anos na Argélia. Escolher Paris, a cidade das Luzes, da Comuna3 e das
vanguardas artísticas, nos ajuda a por em contraste ambos os mundos e nos
permite colocar luz sobre os modos como se levantam os oprimidos, mas também
sobre as estreitezas da teoria crítica e das esquerdas no momento de incluí-los
como sujeitos em suas reflexões.
Argélia foi ocupada pela França em 1830, anexando-a como departamento
francês. Em 1872 a França havia confiscado cinco milhões de hectares das
melhores terras para entregá-las a sociedades vinculadas à guerra de conquista
(entre elas a Societé Genevoise4), a colonos privilegiados, generais de carreira e
“legionários fiéis que da noite para a manhã se transformam em proprietários”
(Goldar, 1972: 23). No início da década de 1950, 25 mil colonos franceses possuíam
2,7 milhões de hectares e os argelinos (aproximadamente nove milhões) tem 7,6
milhões de hectares. Os europeus cultivavam com tratores, os argelinos com arados
de madeira.
Além da agressão econômica produz-se uma agressão demográfica: desde
1830 se trasladaram para a Argélia um milhão de franceses, estabelecendo uma
relação de um por dez, bem diferente da registrada em outros processos de
colonização. Em 8 de maio de 1945 toda a França festejou a capitulação da
Alemanha nazista. Neste mesmo dia na Argélia, na cidade oriental de Sétif, no
departamento de Constantina, milhares de pessoas se manifestaram pacificamente
pela independência. Ao chegar ao bairro francês, um manifestante levantou uma
bandeira argelina. Foi assassinado por um policial. Nos enfrentamentos morreram
103 europeus e milhares de argelinos. O exército francês, a Legião estrangeira e as
milícias de colonos provocaram nos dias seguintes um dos mais brutais massacres
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falar sobre a Comuna de Paris, ou ao menos indicar que ele fala disso.
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falar sobre!
que se pode ter lembranças, que levou à morte de cinco a vinte mil pessoas, ainda
que algumas fontes elevam os assassinatos a mais de quarenta mil5.
O massacre convenceu os argelinos sobre a impossibilidade de conseguir a
independência por meio de diálogos e negociações. Enquanto eram assassinadas
as crianças argelinas a tiros nas ruas e mercados de Sétif e Guelma, “na França
livre, governa um gabinete de coalizão dirigido por De Gaulle e integrado pelos
comunistas (Charles Tillon e Maurice Thorez) que se apressam para ignorar o
trâmite nomeando uma ‘comissão investigadora’ que termina justificando aos
franceses” (Goldar, 1972: 48). O racismo atravessava, pelo menos naqueles
momentos, todo o espectro político francês, ainda que com diferentes modos e
intensidades.
Em 1 de novembro de 1954, a FLN lança a guerra pela independência com
40 atentados que provocam danos materiais e sete mortos. No ano seguinte as
tropas de ocupação chegam a 160 mil soldados, que crescem até meio milhão em
1959; os combatentes, que eram apenas 400 quando começou a guerra, chegam a
40 mil milicianos em 1959 (Goldar, 1972: 61). Em 1955 foi aprovada uma lei que
autorizava aos prefeitos dos departamentos a declarar toque de recolher e a
regulamentar a circulação em suas respectivas circunscrições, como resposta ao
levante argelino (Thénault, 2007).
Os oito anos que durou o conflito, até a independência em 1962, foram uma
guerra colonial do ocupante contra todo o povo argelino que apoiou maciçamente o
FLN. O exército francês cometeu as atrocidades próprias do ocupante: assassinatos
em massa, torturas não somente a combatentes mas também a crianças, internação
em campos de concentração, violações de mulheres e crianças, entre outras. Para
se ter uma ideia da virulência da guerra, a FLN informou que foram mortos um
milhão de argelinos e outro milhão foram torturados, de um total de
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aproximadamente nove a dez milhões de habitantes . Vários europeus residentes na
Argélia foram condenados à morte por apoiar a FLN (Goldar, 1972: 96). A maior
parte dos europeus que viviam na Argélia apoiaram o exército francês, e uma
pequena parte integrou a OAS (Organización de l’Armée Secréte), grupo terrorista
de extrema direita no qual participavam militares e policiais.
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O historiador Alistair Horne assegura que muitos cadavers estavam mutilados, as mulheres
com os peitos cortados e os homens com os testículos cortados colocados na boca: Alistais
Horne, A savage war of peace: Algeria 1954-1962 (New York, The Viking Press, 1977). Em
2005 o president Jacques Chirac e em 2012 o presidente François Hollande, reconheceram
o massacre de Sétif (L’Express, 20 de dezembro de 2012).
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Outras fontes estimam cifras menores, ainda que reconheçam entre 300 mil e meio milhão
a cifra de mortos.
Na França viviam ao redor de 350 mil argelinos que trabalhavam como mão
de obra barata para a indústria, dos quais uma parte considerável apoiava a FLN de
forma clandestina, por meio de coletas para a compra de armas e a ajuda a
familiares das vítimas e presos. Em agosto de 1958, a FLN decidiu abrir uma
segunda frente de guerra contra a França, com uma campanha de atentados com
bombas contra as infraestruturas petroleiras e prédios da polícia, como forma de
pressionar as autoridades francesas que cumpriam uma campanha impiedosa
contra os independentistas na Argélia. Em setembro se decretou o toque de recolher
para os “trabalhadores muçulmanos argelinos” das 20h30 até as 5h30 (Thénault,
2008: 168). Em março, Maurice Papon havia sido nomeado comandante da Polícia
de Paris, em um clima de exasperação dos policiais que exigiam mão dura contra os
argelinos. Papon manteve um cargo similar em Constantina, Argélia, e era
considerado especialista no trato duro e sem contemplações com os norteafricanos,
e foi nomeado expressamente para desarticular a FLN em Paris. Durante a segunda
guerra mundial havia sido colaborador dos nazistas como secretário geral na
prefeitura de Gironda, implementando a deportação de judeus de Bordéus para a
Alemanha7.
A prefeitura de Papon institucionalizou a repressão e o controle dos norte-
africanos em Paris, abriu o Centro de Identificação de Vincennes, criou uma força
policial auxiliar integrada por harkis8, e realizou ataques permanentes nos bairros da
região Oeste, onde viviam a maior parte dos imigrantes, como Nanterre e
Aubervilliers (Nordmann, 2005). Desde o início de 1961 ocorrem atentados
atribuídos à OAS contra hotéis frequentados por argelinos, desaparecem militantes
e colaboradores da FLN, que logo aparecem mortos, em um clima de crescente
hostilidade. Antes do massacre de 17 de outubro ocorreram dois fatos que a
antecederam: em 2 e 3 de abril ocorreu um ataque dos harkis no qual resultou 150
argelinos gravemente feridos, no bairro Goutte d’Or, do Distrito 18o, povoado por
argelinos; na noite de 24 para 25 de julho um grupo de 300 paraquedistas atacou a
parte argelina da cidade industrial de Metz, no norte da França, provocando três
mortos.
Em maio de 1961 abrem-se negociações entre o governo francês eo
Governo Provisório da República da Argélia, braço político da FLN, que se
interrompem em julho por desacordos sobre o futuro do Saara, onde encontram-se
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Papon foi acusado pela deportação de 1.600 judeus para a Alemanha entre julho de 1942 a
maio de 1944, e acabou sendo condenado em 1998 a dez anos de prisão por cumplicidade
em crimes contra a humanidade.
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Argelinos que colaboram com o ocupante. Na Argélia é sinônimo de traidor. Os corpos dos
harkis estavam enquadrados no exército ou na polícia franceses.
as principais riquezas argelinas. Em fins de agosto a FLN retoma sua campanha de
ataques em solo francês, que havia interrompido durante as negociações. Entre 29
de agosto e 3 de outubro ocorreram 33 ataques nos quais morreram treze policiais
(Nordmann, 2005). Papon alimenta o ódio policial contra os argelinos. Durante o
funeral de um policial, em 2 de outubro, disse: “Por cada golpe que recebermos,
devolveremos dez” (Einaudi, 1991: 79).
Os ataques são massivos, com mais de 600 detidos por algumas noites. Em
5 de outubro foi estabelecido um novo toque de recolher para os argelinos, já que o
de 1958 havia sido desbordado, obrigado a fechar os lugares de venda de bebidas,
com a expressa recomendação de andar sozinhos, já que “os pequenos grupos
correm o risco de parecer suspeitos para as patrulhas policiais” (Thénault, 2008:
172). A FLN decide convocar uma manifestação pacífica ao mesmo tempo em que
finaliza os atentados na França. A organização local da FLN resolve que a
manifestação deve realizar-se durante o dia, sem armas e sem cair em
provocações. Na tarde de 17 de outubro, entre vinte e trinta mil argelinos ocupam as
ruas do centro de Paris. Quatro colunas marcham para o centro: serenos, dignos,
vestidos com suas melhores roupas (endomingados, propôs a FLN), desafiando o
toque de recolher. A repressão foi brutal. Houve abundantes disparos contra a
multidão, que resistiu com assombrosa serenidade. Mais de onze mil foram detidos
e levados a diversas dependências policiais e ao Palácio dos Esportes. Algumas
fontes asseguram que várias dezenas de pessoas foram assassinadas durante a
noite no quartel de polícia e nos dias seguintes apareceram cadáveres nas margens
do Sena (Einaudi, 1991: 82).
Até aqui os fatos, sumariamente recortados. O Estado censurou as
publicações que relataram o massacre. O livro de Paulette Péju, Ratonnades a
Paris, publicado no final deste mesmo ano pela editorial Maspero, teve sua
distribuição e venta proibidas pela polícia. O mesmo ocorreu com o filme de Jacques
Panijel, Outubro em Paris, quando foi projetado no ano seguinte.
A independência foi reconhecida em 18 de março de 1962, seis meses
depois do massacre em Paris. Todavia, os fatos acabaram no esquecimento e
apareceram recentemente, quase trinta anos depois, graças ao trabalho militante do
movimento antirracista da década de 1980. A historiadora Sylvie Thénault assinala
que foi gerado um segredo em torno do massacre de 17 de outubro de 1961, com
base em três lógicas: a camuflagem, o esquecimento e a ocultação (Thénault, 2000:
72). A camuflagem provém da atitude do aparato estatal e consiste em negar, proibir
a difusão e deformar os fatos, apesar do fato de que alguns meios informaram, nos
dias seguintes e com detalhes, ainda que não lhe deram a importância que merecia.
O esquecimento, pelo contrário, “explica-se pela atitude dos franceses no momento
dos fatos”, já que “somente as minorias militantes reagiram e protestaram”, incluindo
uma declaração dos grandes sindicatos, um ato na Sorbonne e uma manifestação
convocada pelo Partido Socialista, à qual compareceram dois ou três mil pessoas
em novembro (Thénault, 2000: 73). O que não houve foi uma reação massiva, nem
uma corrente de opinião a favor dos argelinos.
A ocultação dos fatos aconteceu de forma mais complexa. Thénault sustenta
que o 17 de outubro foi apagado pela “repressão de Charonne” e que esta
responsabilidade “interessa às minorias militantes” (Thénault, 2000: 73). Em 8 de
fevereiro de 1962, três meses depois do massacre de 17 de outubro, o Partido
Comunista convocou uma manifestação contra os atentados que realizava a OAS e
pelo fim da guerra da Argélia, quando estavam a ponto de serem assinados os
Acordos de Evian, que consagravam a independência.
A partir do mês de novembro de 1961, além de manifestações reclamando o
fim da guerra, produziram-se atentados da OAS, um dos quais contra o prédio do
Partido Comunista, com um saldo de vários feridos. A manifestação de 8 de
fevereiro foi convocada pelos comunistas e várias centrais sindicais. Compareceram
cerca de 10 mil pessoas, que se concentraram em cinco pontos. Quando a multidão
se dispersava, uma investida policial provocou a morte de nove pessoas, todas
trabalhadoras e militantes francesas. No dia 13, cerca de meio milhão de pessoas
renderam homenagem às vítimas no cemitério de Père Lachaise. No ato, somente
um dos oradores fez uma referência ao massacre de 17 de outubro (Thénault, 2000:
73). O massacre de Charonne ficou inscrito na memória coletiva, durante três
décadas, como a principal repressão vinculada à guerra da Argélia. Em grande
medida, porque as vítimas eram franceses de esquerda que contavam com partidos,
sindicados e meios de comunicação que sustentaram a memória. Thénault examina
as razões da “ocultação” do massacre de 1961 em contraste com a viva recordação
do massacre de Charonne:
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Neste clima refletia e trabalhava Frantz Fanon: na zona do não-ser, onde a
humanidade dos seres é violentada todos os dias, hora após hora. Na colônia,
quase toda a população argelina era confinada em uma forma de campo de
concentração. Na metrópole das Luzes, a cor da pele é motivo suficiente para que
se aplique medidas repressivas que os confinam em um campo real/simbólico em
que os policiais tem as chaves. A atualidade do pensamento de Fanon radica em
seu empenho em pensar e praticar a resistência e a revolução desde o lugar físico e
espiritual dos oprimidos; ali onde boa parte da humanidade vive em situações de
indizível opressão, agravada pela recolonização que supõe o modelo neoliberal.
Índios, negros, mestiços, a imensa maioria da população latino-americana, sofrem
cerco e isolamento (policial e subjetivo) em suas comunidades, favelas, quilombos,
bairros periféricos e precários. A luta de todos os dias para converter estes espaços
em lugar de resistência e transformação social é respondida pelas classes
dominantes com os mais variados e sutis cercamentos: desde o muro que separa
palestinos de israelitas até os mais diversos modos de isolamento, onde os saques
são complementados por políticas sociais domesticadoras.
Ao finalizar a segunda guerra, Fanon emigra da Martinica para a França e
estuda psiquiatria e medicina na Universidade de Lyon, onde sofre a discriminação e
o racismo. Em 1952 publica Pele negra, máscaras brancas9, onde analisa como o
racismo afeta a personalidade dos colonizados. Em 1953 tornou-se médico de uma
divisão do hospital psiquiátrico de Blida-Joinville na Argélia, e, em 1955, une-se à
FLN. No hospital em que trabalhava chegavam torturadores e torturados para
receber assistência. Em 1956 difundiu sua Carta de Renúncia ao cargo, sendo
expulso da Argélia. Foi embaixador do governo provisório da FLN, percorreu vários
países africanos difundindo a causa argelina e realizou uma travessia do deserto
para abrir uma terceira frente na luta pela independência. Doente com leucemia,
morreu em 6 de dezembro de 1961, aos 35 anos.
Fanon é exemplo de compromisso militante e de pensamento anticolonial.
Nunca se sujeitou às categorias herdadas e foi capaz de ir mais além, questionando
a teoria crítica hegemônica, ou seja, o marxismo soviético nas décadas de 1950 e
1960. Por isso advertiu que não devemos imitar a Europa. Suas ideias e análises
são uma porta de entrada a um tema que considero central: a organização e a
militância para mudar o mundo desde a “zona do não-ser”, onde hoje vivem os
milhões de latino-americanos que necessitam construir um mundo novo. A teoria
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Existe uma versão em português deste livro: FANON, Frantz. Pele negra, máscaras
brancas. Salvador: Editora Universidade Federal da Bahia, 2008. Também disponível online:
http://unegro.org.br/arquivos/arquivo_5043.pdf.
crítica foi lavrada na “zona do ser”. Não pode ser transplantada mecanicamente à
“zona do não-ser”, porque seria repetir o fato colonial em nome da revolução. Faz
falta outra coisa, percorrer outros caminhos. Fanon começa a transitá-los. Décadas
depois, os zapatistas são os que mais longe chegaram no caminho da criação de
um mundo novo pelos oprimidos.
Desde seu profundo conhecimento do mundo colonial, Fanon não se engana
nem idealiza a atitude do colonizado. “O mundo do colono é um mundo hostil, que
rechaça, mas ao mesmo tempo é um mundo que suscita inveja”, já que o colonizado
“sempre sonha em se estabelecer no lugar do colono” (Fanon, 1999: 41). Esta
atitude o leva a um lugar diferente ao do que aqueles que pensavam que é
suficiente a realização de mudanças estruturais para mudar a situação de dominado.
Os meios de produção e de mudança devem ser expropriados aos expropriadores, e
sobre isso não há a menor dúvida. Mas ele se coloca em outra dinâmica. Raciocina
sobre o complexo de inferioridade do colonizado, sua desumanização pela violência
do opressos. Não somente violência. Confinação massiva, já que toda colônia se
converte em “um imenso campo de concentração, onde a única lei é a da faca”,
onde viver não consiste em encarnar valores, mas sim, apenas, em “não morrer”
(Fanon, 1999: 242).
O colonizado interioriza, “epidermiza” a inferioridade, como assinala em seu
primeiro livro. Fanon compreende que o negro colonizado busca o reconhecimento
do branco porque acredita que é a chave capaz de abrir as portas da opressão;
busca branquear sua pele, deseja a mulher branca ou um pouco mais branca,
identifica-se com o explorador, até o ponto em que se converte em escravo de sua
inferioridade (Fanon, 2009). Pergunta-se sobre os caminhos a seguir para que o
colonizado supere a inferiorização. Sua resposta é a violência. “A violência
desintoxica. Livra o colonizado de seu complexo de inferioridade, de suas atitudes
contemplativas ou desesperadas. Torna-o intrépido, o reabilita perante seus próprios
olhos” (Fanon, 1999: 73).
Criticaram-no por exagerar o papel libertador da violência, porque conduziria
inevitavelmente a “excessos”. No entanto, foi capaz de reconhecer que os
guerrilheiros da FLN também cometeram erros atrozes.
AUTONOMIA E DIGNIDADE
O debate sobre a autonomia para os revolucionários da zona do ser
pressupõe a existência de uma sociedade homogênea, na qual todos os seus
integrantes estão em condições de alcançar a autonomia individual e social. As
experiências que toma o pensamento autonomista como referência estão ligadas à
autogestão fabril dos operários da Europa em vários períodos, em particular na
primeira e segunda pós-guerras10 . É neste marco que se produzem os debates
sobre autonomia-autogestão.
Modonesi identifica duas vertentes da autonomia na tradição marxista: como
“independência de classe”, em uma sociedade dominada pela burguesia, e como
emancipação, ou seja, “como modelo, prefiguração ou processo de formação da
sociedade emancipada” (Modonesi, 2010: 104).
Na corrente conselhista, o conceito de autonomia aparece ligado à gestão
(autogestão) das fábricas pelos próprios trabalhadores. Para Anton Pannekoek, a
experiência dos conselhos operários forma parte do “progresso da humanidade” no
sentido do socialismo, em um tipo de ação coletiva que rompe o controle do partido
e dos sindicatos e permite a implantação das iniciativas da base operária. Opõe a
democracia burguesa à democracia proletária, que “depende justamente das
condições econômicas opostas”, ou seja, a produção coletiva.
Para os membros do coletivo Socialismo ou Barbárie, em particular para
Castoriadis, a autonomia – como prática e como objetivo – consiste na direção
consciente dos homens sobre suas próprias vidas, na capacidade das massas de
dirigir-se elas mesmas. Em seus trabalhos, Castoriadis reflete sobre a dupla
experiência histórica: as lutas presentes dos trabalhadores no lugar de trabalho e as
tradições históricas a que recorre o movimento operário em sua auto-instituição. No
primeiro aspecto destaca a luta de classes nas fábricas, tanto as lutas explícitas
(greves, paralisações) como as lutas implícitas (trabalho a desgano11, absenteísmo),
as quais considera como lutas pela autonomia, na medida em que colocam em
questão o domínio do capital, os tempos e a organização do trabalho, e o controle
dos capatazes (Castoriadis, 1974).
Quanto à história de longa duração, considera que o movimento operário se
“autocriou” no século XIX ao se auto-educar para sair do analfabetismo, adquirir,
elaborar e propagar ideias políticas que lhe permitiu modificar as circunstâncias
herdadas. “Mas isso foi possível graças à herança, à tradição do movimento
democrático presente na história destes países, à orientação oferecida pelo projeto
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Soviets na Rússia em 1905 e 1917, conselhos de fábrica na Alemanha (1918) e Itália
(1919); controle operário na revolução espanhola, em particular em Barcelona, e na França
após 1968, entre as mais conhecidas.
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Nota do tradutor: Trata-se de um trabalho realizado apaticamente, sem interesse,
descuidado, com a clara intencionalidade de prejudicar a produtividade da empresa. É
comum em momentos de disputa entre patrões e empregados.
sócio-histórico de autonomia nascido no seio do mundo europeu” (Castoriadis, 1999:
138).
Para os indígenas, camponeses, os setores populares e afros da América
Latina, essas tradições às quais se refere Castoriadis, não existem; não existe nada
que possa assemelhar-se a uma tradição de luta pelas liberdades, como a que
existiu nas cidades europeias a partir do século XIII, à qual se refere em toda sua
obra como o período no qual nasceram as primeiras experiências de autonomia. Na
América Latina estamos frente a outra genealogia: as rebeliões de Tupac Amaru y
Tupac Katari, as revoluções de Zapata e Pancho Villa, a revolução do Haiti, os
quilombos e as outras formas de rebeliões (cimarronajes), são os precursores
daqueles que hoje lutam pela liberdade. Todas estas lutas foram aplastadas a
sangue e fogo, ou brutalmente isoladas, como ocorreu com o Haiti depois de 1804.
Os corpos esquartejados de Katari e Amaru, a escravidão dos milhões que foram
arrancados da África e dos que foram forçados a servir nas minas, falam da “loucura
homicida” do colonizador. Para lutar pela liberdade, os escravos deviam escapar das
plantações até lugares remotos, como aconteceu com o Quilombo dos Palmares,
onde milhares de pessoas viveram durante um século fora do controle colonial
português. O massacre de Peterloo12, em 16 de agosto de 1819 em Manchester foi,
inclusive neste período, uma repressão excepcional na zona do ser, enquanto na
zona do não-ser esse tipo de repressão é a regra, como acertadamente assinala
Ramón Grosfoguel (Grosfoguel, 2013).
Os que vivem na zona do não-ser não podem ser autônomos na sociedade
opressora. Para eles a violência não é o último recurso da dominação (como no
norte), mas sim a vida cotidiana. Para serem autônomos devem separar-se, apartar-
se. Enquanto a autonomia na zona do ser pode realizar-se em espaços comuns aos
diversos setores sociais, como as fábricas, os colonizados devem se proteger em
espaços distantes do controle dos poderosos, traçar uma fronteira inacessível para
os opressores, como assinala Scott:
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Aconteceu em Manchester quando a cavalaria atacou uma manifestação de 60 a 80 mil
pessoas que reclamavam a reforma da representação parlamentar. Houve 15 mortos (cujos
nomes foram identificados) e mais de 400 feridos. Os jornais da época refletiram o horror do
massacre e, anos depois, todas as demandas foram aprovadas.
abstrata – à socialização das práticas e discursos de resistência
(Scott, 2000: 147)
FAMÍLIA E REPRODUÇÃO
Na cultura revolucionária do norte, a família é, com o campesinato, símbolo
do negativo e do atraso, dificuldades a superar. Existe uma estreita relação entre a
hierarquização da produção e o papel central que se outorga ao produtor, ao
operário, como sujeito central do processo revolucionário. Trata-se de um operário
artificialmente desgarrado da família, que acaba totalmente deslocada da
organização proletária, seja o sindicato ou o partido. A afiliação ou pertencimento é
de caráter individual. Em síntese, estamos perante uma cultura política focalizada no
lugar do trabalho-produção, no indivíduo como trabalhador-produtor, e nas
organizações que o incluem como tal. É evidente que são organizações
profundamente patriarcais, que se organizam de modo hierárquico, estadocêntrico.
Os integrantes dos movimentos da zona do ser contam-se como pessoas. os
da zona do não-ser, por famílias. Basta chegar a um acampamento sem-terra, a
uma comunidades indígena ou a uma organização territorial das periferias urbanas,
para que se fale sobre a quantidade de famílias que participam. Os membros nunca
se contam individualmente. Por que esta diferença?
Os pobres do mundo vivem inseridos no que Braudel chamava a vida
material ou “o oceano da vida cotidiana”, o reino do autoconsumo, “o habitual, o
rotineiro”, a esfera básica da vida humana que, em sua opinião, é o “grande ausente
da história” (Braudel, 1985: 22). Esta vida material é o reino do valor de uso, que
está fora do mercado:
Por acaso não é esta a vida de milhões de pessoas no mundo, ainda que
nas cidades? As periferias urbanas, onde vive a imensa maioria dos setores
populares do mundo, representam um estilo de vida similar ao que descreve Braudel
para a vida rural da época. Não é possível compreender essa vida cotidiana a partir
da lógica da economia capitalista, a partir da centralidade do homem, da
organização vertical, da cultura política de demandar do estado.
Os espaços coletivos, o mercado, o refeitório e a cozinha populares, a
economia informal, são os espaços da reprodução da vida, onde coexistem as mães
com seus filhos e filhas, mas também homens adultos que jogam um papel diferente
ao do operário fabril, já que acompanham as tarefas e cuidados que supõem a
reprodução. Milhões de mulheres na América Latina participam nos movimentos que
são, de fato, movimentos para sustentar a reprodução. A primeira tarefa é o
refeitório popular, o copo de leite ou a merenda escolar; participam em atividades de
apoio escolar ou relacionadas com a saúde e os serviços coletivos do bairro.
A “vida cotidiana” é o lugar das mulheres e das famílias. As mulheres vão
sempre com seus filhos, são mulheres mães, e isso define o papel central das
famílias nos movimentos. No sentido estrito, as mulheres são reprodutoras,
cuidadoras, criadoras, mas também sustentadoras do coletivo. A passagem política
fundamental é a passagem da reprodução na casa familiar à reprodução coletiva em
movimentos. Isto não se costuma visibilizar, ou seja, não lhe dá um estatuto político
à tarefa da reprodução coletiva nem se consideram sujeitos políticos as mulheres
que o realizam.
Como incorporamos este “grande ausente” às teorias e às práticas
revolucionárias? Nos discursos e escritos dos intelectuais e os partidos de esquerda,
o lugar central é ocupado pelo operário (junto com as instituições), mas quase nunca
aparece as pessoas comuns dos bairros pobres, as que vendem nos mercados, os
vendedores informais, os carregadores, as cozinheiras e suas ajudantes nas
cozinhas populares, as artesãs, os motoristas, os vendedores de rua, os mil ofícios
do mundo popular da cidade latino-americana de hoje. Em sintonia com os discursos
modernizantes de organismos internacionais como a CEPAL, as esquerdas
consideram a estes setores populares como um problema para o desenvolvimento,
não como sujeitos. Os sujeitos são os operários (homens) de macacão, por mais
que as mulheres dos setores populares já deram amplas mostras de rebeldia
(Bolívia 2001 a 2005, Oaxaca 2006, entre outros muitos casos).
Esse protagonismo feminino nos levantes populares está conectado com seu
enorme protagonismo na vida cotidiana (vida material de Braudel). As esquerdas
tem dificuldades para enxergar este protagonismo diário; menos ainda considerar
que esta atividade é política. Tão política como a vida laboral do operário em seu
posto de trabalho. A inferiorização e a não visibilização da reprodução vão de mãos
dadas com a desconsideração dos mercados como lugares onde é enunciado o
discurso dos oprimidos, onde se organiza a alimentação, os intercâmbios básicos, o
cuidado dos filhos, onde transcorre parte fundamental da vida dos setores
populares.
A primeira tarefa da pessoa que integra o EZLN [Exército Zapatista de
Libertação Nacional] é convencer à sua família. Isto tem duas dimensões: a
segurança, já que a família é o círculo íntimo que não vai trair, e a dimensão política,
que considera as famílias como os núcleos básicos da organização e da produção-
reprodução de vida.
O zapatismo considera que é nos lugares onde constroem sua vida
cotidiana, “onde os de abajo tomam as grande decisões, onde nasce o Ya basta de
cada um, onde cresce a indignação e a rebeldia, embora seja nas grandes
mobilizações ou ações onde se faz visível e se converte em força coletiva e
transformadora” (EZLN, 2005). A boliviana Silvia Rivera, em um amplo estudo sobre
o trabalho por conta própria das mulheres aymaras no El Alto e La Paz, destaca o
papel da família e das relações de parentesco e reciprocidade no êxito ou fracasso
de seus empreendimentos, para concluir que entre elas “a política não se define
tanto nas ruas como no âmbito mais íntimo dos mercados e das unidades
domésticas” (Rivera, 1996: 132).
Fanon dedica um capítulo à família argelina e outro às mulheres em
Sociologia de uma revolução. Sustenta que a luta revolucionária começa a modificar
a imobilidade da sociedade dominada, até o ponto em que a sociedade colonizada
percebe que, para vencer o colonialismo “deve realizar um enorme esforço sobre ela
mesma, tensionar todas as suas articulações, renovar seu sangue e sua alma”
(Fanon, 1966: 79). Relata a mudança no papel das mulheres a partir do momento
em que se incorporam à luta: exigem poder escolher seus maridos e poder divorciar-
se. Analisa o papel do véu, de modo bem diferente de como o compreendem os
intelectuais colonialistas, convertendo em mecanismos de resistência,
ressignificando seu papel anterior.
A reprodução é o eixo a partir do qual o mundo está mudando. Neste
espaço-tempo é onde a sociedade dos de abajo pode fazer um “esforço sobre ela
mesma”, para mudar-se, modificar sua vida e seu lugar no mundo. Na esfera do
valor de uso, das comunidades e das mulheres, dos meninos e meninas, do jogo, da
vida com a natureza, do intercâmbio entre iguais, do amor e da amizade; é a esfera
onde se pratica a reciprocidade e a irmandade, formas de nos relacionarmos sem as
quais não podemos sonhar com algo diferente do capitalismo. Como seria construir
um mundo novo a partir destes lugares? Como seriam os poderes que nascem
deles?
VANGUARDA OU COMUNIDADE
Fanon denuncia o elitismo das esquerdas, incluindo a noção de partido, que
a considera “importada da metrópole” (Fanon, 1999: 86). É um excelente ponto de
partida anticolonial. Mas sua crítica não se dirige somente ao tipo de organização,
mas sim ao modo como se relaciona com a sociedade e, muito particularmente, com
os setores populares. Em suma, submete à revisão uma cultura política nascida em
Europa a partir da Comuna de Paris (1869), na qual pela primeira vez o partido
começou a ocupar um lugar central:
Esta outra tradição rebelde foi sistematicamente negada, tanto pelos criollos
liberais como pelos revolucionários dos anos setenta. Apenas com o zapatismo e o
ciclo de lutas boliviano entre 2000 e 2005 começa retomar visibilidade. Uma camada
de ativistas e intelectuais aymaras estão realizando um sério esforço para
sistematizar o legado katarista14. Na Venezuela os integrantes de Cecosesola estão
construindo comunidade sem direção, recriando tradições indígenas e populares. O
zapatismo transita este caminho de descolonização do pensamento crítico,
revitalizando tradições de caráter comunitário. Existe uma genealogia rebelde e
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
14
Entre eles poderia se destacar as publicações periódicas Pukara e Willka, dirigidas por
Pedro Portugal e Pablo Mamani respectivamente. Entre as produções recentes destaca-se o
livro Historia, coyuntura y descolonización. Katarismo y indianismo en el proceso político del
MAS en Bolivia, que contempla as exposições de 19 intelectuais, dirigentes e pensadores
aymaras em um ciclo de conferências organizado por Pukara em março de 2010.
emancipatória, não ilustrada nem racionalista, que apenas estamos começando a
explorar.
IDENTIDADE
Quando alguém é invisível por ser negro, índio, mulher, mestiço ou pobre,
quando alguém é ninguneado sistematicamente por sua raça, gênero ou outra
condição, o primeiro que faz é tentar existir, levantar a mão, colocar-se de pé e
dizer: estou aqui! Existo. Essa é a lógica da identidade. Na lógica dos dominados, a
primeira coisa é fazer-se visíveis, nomear-se, reconhecer-se. É um passo ineludível
no processo de converter-se em sujeitos.
Na zona do ser as coisas são de outro modo. Ali a identidade é um
problema. Prisão e opressão, ao mesmo tempo. Identificar-se como espanhol supõe
deslocar para um segundo plano os vascos, catalães, galegos, andaluzes.
Identificar-se como operário com base na centralidade da relação trabalho-capital é
o mesmo que invisibilizar as mulheres, os jovens, os trabalhadores informais, os
imigrantes, os diaristas. Inclusive a identificação como feminista deixa de lado às
mulheres dos setores populares que não se sentem cômodas com esta etiqueta
nem podem falar como elas. E assim por diante.
Ramón Grosfoguel assinala que “na zona do ser o antiessencialismo radical
e a desestabilização de identidades foram exageradas como superiores”
(Grosfoguel, 2013). Mas ali onde as identidades são negadas, inferiorizadas ou
desvalorizadas pela colonialidade do poder, o “antiessencialismo” impede aos povos
reconstruir suas identidades, seus saberes, suas formas de vida e seus
conhecimentos. Convertem-se em parte do fato colonial.
Paralelamente a isso, é necessário debater a ideia de totalidade, em
particular a pretensão de que o capitalismo é um sistema homogêneo no qual as
partes são iguais ao todo, como assinala Aníbal Quijano. A crítica à identidade que
faz John Holloway, por exemplo, adoece deste problema: “O fetichismo é o
problema teórico central que enfrenta qualquer teoria da revolução” (Holloway, 2002:
88). E completa: “A identidade é, talvez, a expressão mais concentrada (e ao
mesmo tempo mais desafiante) do fetichismo ou reificação” (Holloway, 2002: 93).
Vale a pena nos determos neste ponto, já que Holloway é um amigo dos
movimentos do sul. Mas algumas categorias com as que trabalha são eurocêntricas,
foram elaboradas em um certo período do conflito de classes e em certo lugar do
mundo. O conceito de fetichismo, elaborado por Marx para o âmbito da produção de
valores de troca, em uma sociedade que pretendia modelada somente pela relação
trabalho-capital, não é aplicável a lugares onde essa é, apenas, uma das diversas
relações existentes. As mulheres em suas casas e nos refeitórios populares criam
valores de uso e não estão separadas de seu produto, entre outras coisas porque
participam em todo o processo, controlam-no desde o começo até o fim. Na área da
reprodução, ou dos cuidados, os conceitos como fetichismo, trabalho abstrato e
outros, não devem ser aplicados mecanicamente.
O mesmo pode ser dito dos milhões de índios e de camponeses que
trabalham seus lotes para autoconsumo familiar e levam ao mercado somente uma
parte de seus produtos, que muitas vezes não é adquirido por compradores
anônimos mas sim por membros da mesma e outras comunidades. Fetichismo e
alienação não são conceitos adequados para compreender o que fazem os milhões
que controlam a organização e o produto do seu trabalho, como ocorre na pequena
produção independente (chamada frequentemente de informal). Entre eles não
existe uma separação do fazer sobre o feito, para usar a terminologia de Holloway.
A forma capitalista de controlar o trabalho para produzir valores de troca é apenas
uma das muitas formas de trabalho existentes, que não pode subsumir-se em uma
categoria genérica como “fazer”.
Esta análise assinala que a identidade, a definição, implica fragmentação.
Mas a fragmentação existe, não é possível dissolvê-la negando as
heterogeneidades que fazem parte do sistema. Fazem mal os zapatistas em
identificar-se como zapatistas? E os sem terra. E os mapuche, os sem teto, as
mulheres, as camponesas, as negras, os nasa...
REFERÊNCIAS
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el viento, la luna, la tulpa, los alimentos propios y la participación comunitaria
alrededor del pensamiento propio”, Tejido de Comunicación en
http://www.nasaacin.org/informativo-nasaacin/3-newsflash/6999-cauca-el-sol,-el-
viento,-la-luna,-la-tulpa,-los-alimentos-propios-y-la-participaci%C3%B3n-
comunitaria-alrededor-del-pensamiento-propio. (Consulta, 11 de julio de 2014)
ALMENDRA, Vilma (2012) “Aprender caminando: somos con otros y estamos siendo
en relaciones”, Revista Educación y Pedagogía, Universidad de Antioquia, Medellín,
n.62, enero-abril.
HOLLOWAY, John (2002) Cambiar el mundo sin tomar el poder, Buenos Aires,
Herramienta.
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17 octobre 1961: contre lóubli, Paris, en http://www.legrandsoir.info/Ce-qui-s-est-
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84/4, pp.167-185.
THÉNAUL, Sylvie (2007) “L’État d’urgence (1955-2005). De l’Algérie colonial á la
France contemporaine: desin d’une loi”, en Le Mouvement Social, Paris, La
Découverte, n. 218, pp. 167-185.
THÉNAULT, Sylvie (2000) “Le fantasme du secret d’Etat autor du 17 octobre 1961”,
en Matériaux pour l’histoire de notre temps, Paris, Bibliotèque de Documentation
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THOMSON, Sinclair (2006) Cuando sólo reinasen los índios. La política aymara en
la era de la insurgência, La Paz, Muela del Diablo.