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A DOR EXISTENCIAL DISCUTIDA PSICANALITICAMENTE

Carina Labres1
Meique Emília1
Rosane Castro1
Paula Rava2
Evanisa Helena Maio de Brum2
Resumo: Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a dor psíquica, princípio do prazer,
Narcisismo, Pulsão de morte e os métodos de enfrentamento que o paciente encontra
para lidar com os fatos duros da vida, os dados da existência. O presente texto baseou-se
em pesquisa bibliográfica sobre a teoria da técnica Psicanalítica e um caso clinico de
Irvin D. Yalom analisados com base na teoria psicanalítica. Os resultados revelaram que
o vínculo criado no setting terapêutico definirá a resolução dos conflitos internos do
paciente e, consequentemente, do terapeuta.

Palavras Chaves: Dor Psíquica- Princípio do prazer- Narcisismo.

Abstract: This paper presents a reflection on the psychic pain, the pleasure principle,
Narcissism, Death instinct and coping methods that the patient is to deal with the hard
facts of life, the data from there. This text was based on literature on the theory of
psychoanalytic technique and a clinical case of Irvin D. Yalom.
Key words: Psychic Pain-Pleasure Principle Narcissism.

1 – Acadêmicas do Curso de Psicologia do CESUCA


2 – Professora do Curso de Psicologia do CESUCA

Introdução
Ter consciência de si mesmo é o que muitos desejam, conhecer a sua essência; o
que vai ao fundo da alma, curar as feridas e encontrar a energia da vida. Sofrer menos
nesta existência. Mas, para isto, temos que reconhecer o medo da morte. Todos sabem
que vamos crescer, nos desenvolver e, inevitavelmente vamos morrer.
O ser humano esforça-se para lidar com os fatos duros da vida. Enfrentar suas
dores, suas angústias da maneira que aprendeu no decorrer de sua vida. Seguindo
exemplos dos que estão próximos, buscando compensações em algo que os alivie, pelo
menos por algum tempo até a angústia bater a sua porta novamente. Muitos adquirem a
crença na qualidade pessoal, outros vão em busca do prazer sexual, ou ainda na crença
de um eterno salvador. São estratégias que cada pessoa encontra para aliviar suas dores
da alma.
Para abordar estas questões, no presente artigo fazemos uma análise de um caso
literário através de pesquisa bibliográfica, na tentativa de compreender as dores
existenciais da alma humana. Começamos contando parte do caso clínico do
psicoterapeuta Yalom (1996), ‘Não seja gentil’, do Livro o Executor do amor. Seu
paciente Dave um homem de 69 anos de idade, o procura por estar impotente
sexualmente. Ele o surpreende ao solicitar que seja o guardião de suas cartas de amor,
um amor por Soraya sua amante que estava morta há trinta anos.

Objetivo
Identificar a teoria psicanalítica na prática do autor e psiquiatra Yalon no caso
clínico de sua autoria.

Metodologia
Análise de um caso literário através de pesquisa bibliográfica (Gil, 1999) sobre
Psicanálise.

Discussão e Resulatados
Irvin na sua análise vê que o eixo da personalidade de Dave é o segredo em
torno do qual giravam todas as outras coisas, casara-se quatro vezes e não
compartilhava sua vida com as ex-esposa e nem com a atual. Sentia-se numa prisão. Ele
aguçara a curiosidade da esposa por recusar-se a compartilhar até mesmo inocentes
migalhas de informação sobre sua vida. No início, a visão do terapeuta era crítica sobre
o comportamento de seu paciente e concluiu que Dave era ridículo, patético, um homem
velho que caminhava em direção a morte, conformado por um maço de cartas a prova
que ele amara e havia sido amado. A partir destas observações Yalom se auto-avaliou e
percebeu que julgou de forma arrogante e inadequada seu paciente; Foi hipócrita, pois
também guardava suas cartas de amor, não as lia há quinze anos, por causar sofrimento,
e não conforto, porém não conseguia destruí-las. Fez a seguinte reflexão: ”Jamais tire
qualquer coisa se você não tiver nada melhor para oferecer em troca”.
Desde o início o terapeuta sentiu-se atraído por Dave, mas o paciente não
permitia empatia completa, Irvin surpreende-se em uma sessão quanto Dave respondeu
que o que mais o incomodava era a impotência sexual que foi a razão para Dave
procurar terapia. No decorrer das sessões Dave demonstrava melhora na sua qualidade
de vida, segundo Yalom, a raiva diminuiu, seu desempenho sexual melhorou e a
convivência com a esposa estava mais branda.
Mas o que alimentava sua paixão pelo segredo? Aceitar a proposta de guardar as
cartas seria formar uma aliança com a patologia? Com receio o terapeuta sugeriu que
seu paciente fizesse parte de um grupo terapêutico, ele aceitou. No quarto encontro
Dave revelou que contava os dias para a próxima sessão, mas esse entusiasmo
infelizmente não era pela auto descoberta, mas sim em relação as quatro mulheres
atraentes que faziam parte do grupo. No encontro seguinte Dave relatou um sonho forte
que tivera na noite seguinte à sessão anterior. O sonho:
‘A morte me cerca completamente. Posso Cheirá-la. Tenho um pacote com um envelope
dentro dele, e o envelope contém alguma coisa que é imune à morte, à decomposição
ou à deterioração. Eu o mantenho em segredo. Vou pegá-lo e sentí-lo, e subitamente
vejo que ele está vazio. Fico muito angustiado com isso e percebo que ele foi aberto.
Mais tarde, descubro na rua aquilo que pensava estar dentro do envelope, um sapato
velho e sujo com a sola caindo.’

O sonho era revelador, o mistério sobre o inconsciente de Dave ganhou luz, o


significado de suas cartas de amor estava alí representado pelo envelope, a negação à
morte. Elas afastavam o envelhecimento e mantinham a paixão de Dave congelada no
tempo. O sapato velho e sujo, a representação da imagem que ele tinha de si próprio.
Um velho sujo cuja alma estava prestes à abandoná-lo. Dave ficou chocado com o
material que foi revelado através do sonho, por ser muito doloroso, revelou ao grupo
que precisaria de um tempo para digerir todo o conteúdo que foi trabalhado na sessão,
se despediu e não retornou mais, a terapia havia terminado para ele.
Por fim, Yalom declarou ter sentido pena de Dave, por seu isolamento, seu
apego a ilusão, sua falta de coragem, sua falta de disposição para enfrentar os fatos
duros da vida. E que teria que examinar suas próprias cartas algum dia. Assim, como
Dave, muitos pacientes fazem esta escolha de não olhar para este conteúdo interno que
os fazem sofrer, optam por simplesmente ir levando a vida da mesma forma, mas há
muitos também que se permitem, que colocam toda a sua esperança em encontrar algo
dentro de si que as liberte do terror da morte, e esta é a nossa função enquanto
terapeutas, encontar dentro de cada um de nossos pacientes a energia da vida, a alegria
de viver.
Partimos da história de Dave para refletir sobre a dor psíquica, noções do Eu,
princípio do prazer, angústia da morte, e os métodos de enfrentamento. E perguntamos
qual abordagem terapêutica deve ser utilizada nestes casos, como aliviar esta dor, a dor
de não existir?
Freud (1926), em sua obra fez muitas considerações à dor; a psicanálise permite
concluir que a dor é uma manifestação da vida da espécie humana e se refere a um
excesso próprio da pulsão. A ideia da dor que Freud fala em sua obra foi desenvolvida
com a clínica da histeria, onde a noção de dor vem como efeito das pulsões. O valor
afetivo que damos corresponde ao tamanho da dor que sentimos. Desta forma, a dor
aponta a impossibilidade de descarga da tensão pulsional, pede a escuta de sua história.
No caso de Dave como não houve esta descarga da pulsão ela foi representada
somatizando no físico, originando sua impotência sexual.
Ainda para Freud (1905), a pulsão representa o conceito de algo que é o limite
entre o somático e o psíquico, uma fonte de excitação que estimula o organismo a partir
de necessidades vitais interiores e o impele a executar a descarga desta excitação para
um determinado alvo. A natureza dessa força energética só pode ser conhecida por meio
dos seus representantes psíquicos. Assim transformando o somático em psíquico, com
as respectivas sensações das experiências emocionais primitivas, o indivíduo vai
construindo o seu mundo interno de representações, colocando seus sentimentos em
palavras. No decorrer do tratamento Dave apresentou melhoras na sua qualidade de
vida, ao ser acolhido pelo terapeuta na escuta de sua história, ele foi ressignificando
alguns aspectos da sua história de vida e os sintomas físicos foram diminuindo.
Toda pulsão implica a existência de quatro fatores: uma fonte, uma força, uma
finalidade e um objeto. Ainda pode-se caracterizar dos trabalhos de Freud (1915), o
deslocamento da pulsão de uma zona corporal para outra, o intercâmbio entre as
distintas pulsões, a compulsão à repetição e as transformações das pulsões. Dave ao
procurar novos relacionamentos amorosos estava numa tentativa de reencontrar as
experiências de satisfação que lhe dessem esta descarga da tensão interna oriunda das
excitações do corpo. Essa descarga lhe proporcionaria o equilíbrio psíquico. Zimermann
(1999) nos fala que a fonte provém das excitações corporais, ditadas pelas necessidades
de sobrevivência. A força determina o aspecto quantitativo da energia pulsional, ou seja,
representa o importante aspecto “econômico” do psiquismo. A finalidade é a descarga
da excitação para conseguir o retorno a um estado de equilíbrio psíquico. Objeto é
aquele que seja capaz de satisfazer e apaziguar o estado de tensão das excitações do
corpo, ou que, sirva-lhe como depósito de descarga. Ao guardar as cartas e não destruí-
las Dave tinha uma representação, a prova de que amou e foi amado e isso o mantinha
vivo, representava o desejo, o prazer corporal, a energia da vida.
A pulsão sexual situa-se no limite somatopsíquico, sendo que a parte psíquica,
Freud (1905), denominou libido, que alude a “todas as pulsões responsáveis por tudo o
que compreendemos sob o nome de amor” (FREUD,1921). Todo o prazer corporal que
não era devido à satisfação direta das pulsões do ego, como a fome, sede e necessidades
fisiológicas, ele considerou sendo sexuais ou eróticas.
Em sua obra Freud (1930), descreve como se desenvolve o Eu em um ser humano.
Quando a criança é recém-nascida, esta ainda é incapaz de distinguir o seu Eu do mundo
externo, este mundo como fonte de sensações que fluem sobre ela. O primeiro momento
em que o Eu é contrastado com um objeto é quando este descobre que uma fonte vital
de prazer lhe é subtraída, só reaparecendo quando grita. Esta fonte é o seio da mãe; na
realidade, o primeiro objeto que diz existir algo externo a ele. A outra função importante
que forja o Eu, forçando-o a separar-se das sensações, é o confronto movido pelo
“princípio do prazer”, uma das forças motrizes de todo o desenvolvimento humano, com
as inevitáveis sensações de sofrimento e desprazer.
Surge, então, uma tendência a isolar do Eu tudo o que pode tornar-se fonte de tal
desprazer, a lançá-lo para fora e criar um puro Eu em busca do prazer, que sofre o
confronto com um exterior estranho e ameaçador (Rêgo, 1995). O que é possível
verificar no caso de Dave, que tendia a se isolar das pessoas.
Rêgo (1995) fala que é através desta luta do homem com o seu mundo exterior
que começa a se diferenciar o Eu do mundo externo, começando o ser humano a
introduzir o “princípio da realidade”, que estrutura todo o seu desenvolvimento
posterior. A finalidade do “principio da realidade” é, no seu confronto com o “princípio
do prazer”, capacitar o ser humano a construir defesas que o protejam dos desprazeres
de que o mundo externo o ameaça. Ao não compartilhar a sua vida nem com a esposa,
Dave estava se defendendo de possíveis críticas por parte dela, foi evitando uma
proximidade maior para não se sentir invadido e assim sentir-se livre, livre do
desprazer, mantendo-se em segredo sentia-se menos ameaçado pelo mundo externo.
Descrevendo a estruturação do Eu do ser humano Freud (1930), identificou nesta
relação do Eu com os objetos existentes no mundo externo principalmente com
sensações que estes objetos causam no interior do ser, um importante ponto de partida
de distúrbios patológicos. Ainda Rêgo (1995) concluiu que algumas coisas difíceis de
serem abandonadas, por proporcionarem prazer, são não EU, mas objeto, e certos
sofrimentos que se procura extirpar mostram-se inseparáveis do Eu, por causa de sua
origem interna, afim de desviar certas excitações desagradáveis que surgem do interior,
o Eu não pode utilizar senão os métodos que utiliza contra o desprazer oriundo do
exterior, e este é o ponto de partida de importantes distúrbios patológicos.
No auge do sentimento de amor, a fronteira entre Eu e objeto ameaça desaparecer.
Dave quando enamorado de Soraya, o “EU” e o “Tu” eram um só, não existia a
demarcação de um ego autônomo e unitário, ficando evidente a sua posição narcisista
(ZIMERMAN, 1999), a sua unidade simbiótica com a mãe (MALHER, 1975). As suas
cartas de amor expressavam a representação inconsciente desta fusão com a mãe e ao
destruí-las estaria o seu ego exposto às pulsões destrutivas e do pavor de aniquilamento
decorrentes da pulsão de morte.
O princípio geral que mostra ser o propósito de todo ser humano diante da vida
de buscar intensamente o prazer e evitar o sofrimento e define o propósito da vida é o
“Princípio do Prazer” (FREUD, 1930). Manter-se em segredo foi à maneira que Dave
encontrou para dizer não as regras impostas pelo mundo exterior e assim não sofrer. O
mais penoso sofrimento do ser humano é decorrente do relacionamento com outros
seres humanos, então se vê obrigado, como uma forma de defesa, a moderar as suas
expectativas domesticando o princípio do prazer, reduzindo-o ao princípio da realidade.
Colocando em primeiro lugar a tarefa de evitar o sofrimento. No caso de Dave,
podemos levantar a hipótese que seu isolamento era defensivo, pelo receio de sofrer
com a proximidade afetiva.
O ser humano tenta de diversas formas buscar o prazer, sem com isso ter-se a
garantia de sucesso, identifica-se a intoxicação química, a religião, e a fruição das obras
de artes como formas legítimas de se conseguir prazer, colocando em primeiro plano
uma importante técnica à arte de viver, que é o “amor”. Este conjunto de processos
mentais internos que dirigem a sua libido para um objeto para extrair satisfação deles
(RÊGO, 1995). Freud (1930) colocou que, mesmo esta arte, é frágil em garantir uma
perene realização do princípio do prazer, uma vez que o ser apaixonado demonstra uma
grande vulnerabilidade diante do objeto. Nunca nos achamos tão indefesos contra o
sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente infelizes como quando
perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor. Isso, porém, não liquida com a técnica
de viver. Exatamente por defender-se dessa proximidade Dave teve tantos casamentos e
amantes. Desenvolveu uma defesa, ter muitas fazia com que não construísse intimidade
com nenhuma.
Em condições normais a criança reconhece a presença e a necessidade do outro, de
modo a constituir o seu mundo desde esse outro, o qual será constitutivo e fundante do
seu self. Em caso contrário, como acontece nos transtornos narcisistas, o indivíduo tanto
pode apresentar uma demanda excessiva em obter o reconhecimento dos outros, como
ele pode negar e fugir dessa vital necessidade, refugiando-se em sua própria
subjetividade, muitas vezes em um estado de isolamento, solidão, encastelado em uma
autarquia narcísica e em uma constante declaração de guerra aos demais
(ZIMERMANN, 1999) sendo este último o caso de Dave.
No fundo estes pacientes como Dave, estão em busca de alguém que lhe reconheça a
fragilidade subjacente, e da mesma forma, como alguém que é digno de ser amado, tal
como realmente ele é. Na organização narcísica da personalidade, é que na busca de
reconhecimento por parte dos outros, tais indivíduos deslocam essa necessidade que
basicamente nunca foi satisfeita para a construção de fetiches (ZIMERMANN, 1999).
Criam a ilusão de que o “parecer” fica sendo. Relacionando com Dave, na sua
organização narcísica da personalidade, na sua busca por reconhecimento dos outros,
deslocou essa necessidade que basicamente nunca foi satisfeita para a construção de
fetiches. Criou a ilusão de que o “parecer fica sendo como de fato é”. Usando a sedução
como uma forma de ser admirado, de ter poder. Para ele o poder significava ter muitas
mulheres, manter-se em segredo não correria o risco de mostrar quem realmente era. A
exaltação da sexualidade, poder e demais recursos de um falso self (WINNICOTT,
1960) que arranque admiração e inveja dos demais.
Da mesma forma, pode acontecer que, por vezes, é tão intensa a necessidade da
criança, em ser reconhecida como alguém muito especial, que pode ocorrer que ele não
consiga compreender os outros, nem ser entendido pelos outros, ou fazer como os
outros. Isto seria nivelar-se aos demais, o que ele não suportaria, e a consequência
poderia resultar em uma busca na transgressão dos costumes habituais da família e
sociedade, inclusive os sexuais (RÊGO,1995). Dave não conseguia entender a esposa, a
sua curiosidade sobre sua vida e cada vez mais se afastava dela e ela também não o
entendia.
O reconhecimento do outro como fonte de vida, de amor, de verdade e de segurança
representa um sentimento catastrófico diante da possibilidade de depender e vir a ser
frustrado em seus anseios. Tais pessoas fogem de um vínculo de dependência afetiva
por meio de uma autossuficiência onipotente, ou diante de frustrações, como as
separações, por exemplo, eles costumam projetar-se no analista, como uma tentativa de
restabelecer a fantasia de estar fundido com ele. Esta última possibilidade apresenta-se
comumente mascarada por uma configuração de aparência edípica, que apresenta uma
situação de “pseudogenitalidade”, na qual esses indivíduos “amam” aqueles que os
fazem sentirem-se amados, ou seja, a intensa atividade aparentemente genital, que exige
uma contínua e ininterrupta troca de parceiros, obedece a uma irrefreável e vital
necessidade primitiva de serem reconhecidos como capazes de serem amados e
desejados (ZIMERMANN, 1999).
Para Freud as pulsões não estariam localizadas no corpo e nem no psiquismo, mas na
fronteira entre os dois e teriam como fonte o ID. A pulsão de vida seria representada
pelas ligações amorosas que estabelecemos com o mundo, com as outras pessoas e com
nós mesmos, enquanto a pulsão de morte seria manifestada pela agressividade que
poderá estar voltada para si mesmo e para o outro. O princípio do prazer e as pulsões
eróticas são outras características da pulsão de vida. Dave ao procurar relacionamentos
com amantes estaria buscando esta pulsão de vida existente nas ligações amorosas, uma
forma de sofrer menos por algum tempo (RÊGO, 1995).
Já a pulsão de morte, além de ser caracterizada pela agressividade traz a marca da
compulsão à repetição, do movimento do retorno à inércia pela morte também
(ZIMERMANN, 1999). Embora pareçam concepções opostas, a pulsão de vida e a
pulsão de morte estão conectadas, fundidas e onde há pulsão de vida, encontramos
também a pulsão de morte. A conexão só seria acabada com a morte física do sujeito.
Aqui ficou explícito no sonho de Dave, o envelope representando o amor, a pulsão de
vida, quando vê que está vazio, o seu vazio interno, a pulsão de morte.
Podemos constatar o enlaçamento existente entre as duas pulsões na dinâmica da
neurose da angústia. A pulsão de morte no sujeito será a responsável pela elevação da
tensão ou excitação libidinal que será escoada pela pulsão de vida que levará o
indivíduo, impulsionado pelo princípio do prazer, a procurar objetos que venham
minimizar os impactos da angustia. Que era o que Dave buscava ao procurar novos
relacionamentos amorosos.
A angústia gerada ao entrar em contato com a fatalidade da morte que faz com que o
ser humano, mobilize-se a vencê-la, acionando diversos mecanismos de defesas
expressos através de fantasias inconscientes sobre a morte. Muito comum é a fantasia de
existir vida após a morte; de existir um mundo paradisíaco, regado pelo princípio do
prazer e onde não existe sofrimento. Ao contrário dessas fantasias prazerosas, existem
aquelas que provocam temor. com um ser aterrorizante, com face de caveira, interligado
a pavores de aniquilamento O indivíduo pode relacionar a morte com o inferno. São
fantasias persecutórias que tem a ver com sentimentos de culpa e remorso. Além disso,
existem identificações projetivas com figuras diabólicas, relacionando a morte,
desintegração e dissolução (ANGELA FONSECA, 2006). Dave não suportou olhar a
realidade, a sua terapia foi um sucesso, seus segredos foram desnudados, mas ele
morreu, Continuando uma pessoa viva, mas, morta por dentro.
Falar sobre a morte provoca certo desconforto, pois damos de cara com o inevitável,
a certeza de que um dia a vida chega ao fim. Nós, Terapeutas ao iniciarmos uma
caminhada com cada paciente que venham em busca de acolhimento, temos que estar
conscientes que vamos muitas vezes, nos deparar com histórias que nos levarão a
refletir sobre nossas próprias vidas e também com a dor de não existir. A empatia
construída no setting terapêutico criará a possibilidade de transformar a vida das pessoas
que nos procuram e a nossa também, ao estarmos abertos à nossas questões internas
possibilitaremos aqueles que nos procuram a se permitirem ter um olhar mais profundo
ás suas dores. Os pacientes que buscam terapia compartilham seus mais profundos
segredos, abandonos e sofrimentos, muitos destes sofrimentos são transformados
quando paciente e terapeuta, constroem um vínculo afetivo que possa lhe dar suporte à
resolução de questões dolorosas.
Enquanto terapeutas, somos responsáveis por trazer vida, alegria a nossos pacientes,
fazer com que ressignifiquem suas vidas, Isso é o que nos fará sentir e ter
reconhecimento pelo outro, a satisfação do dever cumprido enquanto profissional e
como ser humano.
Considerações Finais
Todos nós passamos por crises existenciais durante o desenvolvimento do ciclo de
vida, algumas pessoas as enfrentam com muita determinação e coragem, conseguindo
ultrapassá-las sem entrarem no sofrimento psíquico. Em contrapartida existem as que a
dor psíquica é tão intensa que acabam por isolar-se do resto do mundo, perdem o
contato com a realidade que as rodeia, morrendo para a vida.
No caso Clínico que acabamos de ver podemos observar o quão intensa é esta dor,
e como o paciente organizou sua vida para evitar o sofrimento. Isolou-se de um mundo
real deixando que suas fantasias internas fossem representadas através de suas fantasias
de satisfação real, apoderando-se do princípio do prazer sem deixar que o princípio da
realidade desse o equilíbrio psíquico necessário à sua vida. Em nome do sofrer menos
deixou de viver uma vida real, viva.
O paciente repetia suas experiências, na busca de uma satisfação real, e usava a
sexualidade como descarga da pulsão de morte sem transformá-la.
A intervenção do terapeuta em casos como o de Dave, devem ter cuidados
metodológicos para que no seu devido tempo e dentro do seu limite psíquico possam
com a ajuda do analista ir reconstruindo a sua ligação com a vida. Pessoas que não
estão plenamente vivas sentem uma dor contínua e podem mascará-las com drogas,
sexo e vícios. Através da empatia, da valorização dos aspectos positivos do paciente, o
terapeuta poderá levar o paciente ao encontro consigo mesmo possibilitando a cura
desta dor e consequentemente a transformação desta pulsão de morte em uma existência
plenamente consciente. Ficam aqui algumas lacunas a serem pesquisadas neste sentido,
quais métodos os terapeutas devem utilizar para religar pacientes como Dave, pacientes
de difícil acesso? Quais teorias devemos utilizar? A cultura, a criatividade, a confiança
poderão ser a chave para estes pacientes? Temos ainda que fazer muitas pesquisas,
relacionar casos, para melhor compreender estas questões que se abatem sobre o ser
humano e podermos trazer a vida para preencher os vazios da existência.

Referencias Bibliográficas
YALOM, Irvin. O Executor do amor. Porto Alegre: Artmed, 1996.
YALOM, Irvin. De Frente para o sol. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
ZIMERMANN, David. Fundamentos Psicanalíticos Teoria, Técnica e Clínica. Porto
Alegre: Artmed, 1999.
ANGELA, FONSECA. Disponível in:
http://www.zemoleza.com.br/carreiras/28088.html#
RÊGO, JOÃO. disponível in:
/www.fuhtndaj.gov.br/docs/inpso/cpoli/JRego/TextosCPolitica/Hobfreud/hbintr.htm
LATIN AMERICAN JOURNAL OF FUNDAMENTAL PSYCHOPATHOLOGY ON
LINE. Ano VII. N.1, MAIO/2007. Silva, Paulo Jose Carvalho da. Uma história da
noção de dor em Freud.

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