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Apesar das revoluções socialistas do Século XX (Rússia, China, os maiores exemplos) terem

sido bem sucedidas, e terem criado estados que cresceram economicamente,


tecnologicamente e militarmente, o próprio sistema econômico que proporcionou esse
crescimento foi o responsável pela queda desses estados. O sistema econômico soviético
centralizado baseado no planejamento fez a economia crescer, e a renda e qualidade de vida
dos soviéticos aumentarem em relação à Rússia czarista, mas impediu consideravelmente a
mobilidade social (os mais pobres não conseguiam aumentar sua renda, pois quem mais
acessava o ensino superior eram os descendentes de cientistas, da intelligentsia e de
administradores estatais, aqueles que já possuíam ensino superior e tinham os melhores
salários, isto é, o acesso ao ensino superior não foi democratizado, apesar de ter sido
garantido pela constituição, e mesmo quem se formava em profissões liberais como a medicina
não ganhava bem), o acesso aos bens de consumo (todos os bens de consumo levavam mais
minutos e horas de trabalho para se conseguir na URSS do que nos países ocidentais, e você
não podia simplesmente entrar numa loja para comprar um eletrodoméstico se você tivesse
dinheiro, tinha que entrar em filas de espera que demoravam meses para te selecionar, se
tivessem os produtos desejados, e você tinha que voltar para a loja para comprar seu produto.
No caso de um carro demorava de cinco a dez anos para a fila de espera chegar no nome de
um dado indivíduo. MAIS americanos possuíam MAIS eletrodomésticos, e a frota de
automóveis dos Estados Unidos em um dado ano era de 100 milhões de carros enquanto a da
URSS era de 5 milhões. As empresas que produziam eletrodomésticos eram as mesmas que
produziam peças de foguetes, então naturalmente elas deixavam as geladeiras e fogões em
último, não em segundo lugar), e a diversificação das rações alimentares (a alimentação não
era mais diversificada e saudável que a dos países ocidentais, nem a superava em calorias, a
produção de alimentos era ineficiente e produzia leite e carne de qualidade muito menores que
os exemplares dos países ocidentais), dentre outras coisas.

Também não superaram algumas coisas que eram fundamentais na teoria marxista, como a
jornada dupla ou tripla da mulher, pois as mulheres foram inseridas no mercado de trabalho,
mas o sistema de creches falhou, e elas continuaram exercendo também o papel de mães,
esposas e trabalhadoras em um único dia. Além de terem sido extremamente restritivos quanto
à questão do divórcio. Não superaram a desigualdade entre a cidade e o campo, e entre os
diferentes países da União Soviética, como se verifica pela diferença de renda entre estes. Não
melhoraram tanto a qualidade de vida dos trabalhadores, visto que trabalhavam mais de 2000
horas por ano, enquanto nenhum país ocidental chegava à 2000, e enquanto os países
ocidentais já estavam implantando jornadas de menos de 8 horas por dia, a URSS
praticamente nunca diminuiu suas 8 horas. E, na hora do lazer, não possuíam muitas opções
de lazer disponíveis, na verdade, o Estado desprezava o lazer e considerava que o trabalho
tinha que ser feito constantemente, sem descanso. Quando os trabalhadores adoeciam, tinham
que pagar suborno aos hospitais PÚBLICOS e “gratuitos” para poder adiantar muitas coisas,
como operações. Por ganhar pouco muitos médicos cobravam secretamente por seus serviços,
enquanto os membros do alto escalão do partido tinham suas clínicas privadas à sua
disposição. Mais de 20% da população, num país tão frio quanto a URSS, não tinha dinheiro
suficiente pra comprar uma touca e um casaco, visto que o preço de um casaco poderia
superar um mês de salário. Todos essas informações vem de fontes oficiais da URSS,
economistas de lá, estudiosos de lá, dentre outros. Apesar da URSS ter diminuído a
desigualdade de renda, não diminuiu a de riqueza. Criou um igualitarismo que tirava a
liberdade das pessoas de melhorarem sua qualidade de vida por si mesmas. Sendo assim, os
comunistas se esqueceram da palavra fundamental que guiou sua luta: libertação. Quem quer
comprar um carro e não pode (sonho de muitos soviéticos durante a era socialista) porque o
sistema econômico é ineficiente, não está liberto. Quem quer comprar uma casa melhor e não
pode, não esta liberto (apenas os que tinham a maior renda tinham mais de uma casa, e casas
de verão. A população mais pobre se conformava com apenas uma casa pequena, pois jamais
conseguiriam dinheiro para comprar outra, e nem poderiam se juntassem, era vetado). Quem
quer melhorar a qualidade de vida no ambiente doméstico com eletrodomésticos melhores e
não pode, não está liberto. A desigualdade se combate nesses níveis concretos, combater a
desigualdade e pobreza da população é atender às suas necessidades. Sendo assim, o
socialismo real foi inédito em um de seus feitos: igual ao capitalismo, possuía desigualdade de
riqueza muito grande e privilégios aos de maior renda e administradores estatais, mas ao
mesmo tempo estabelecia uma igualdade de renda entre a população mais pobre, igualdade no
sentido de todos receberem uma parte igual, INDEPENDENTEMENTE do seu trabalho, e não
serem capazes de aumentar a sua posição social por causa do racionamento existente, o que
não acontece no capitalismo, aonde a mobilidade social é muito maior.

As experiências falharam no sentido de conseguir o objetivo maior da luta comunista. Se as


lutas dos partidos comunistas que fazem guerras populares hoje em dia são pra estabelecer o
mesmo sistema econômico centralizado, elas são em vão, uma teimosia baseada na
ignorância, uma tentativa de estabelecer um sistema que já se provou falho.

Referências:
Janos Kornai - The Socialist System: The Political Economy of Communism
Back in The USSR - Jose Luis Ricon

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