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Resenha de A sociedade contra o Estado Aluno: Gabriel Bosio Gandin, história tarde.

A obra ‘A sociedade contra o Estado' é um dos trabalhos mais importantes do


antropólogo Pierre Clastres, sendo um trabalho influente dentro do pensamento da antropologia
política do século XX. O livro traz em si onze artigos que foram escritos a partir do seu trabalho
etnográfico sobre as populações originárias da América.

No último artigo presente no livro, também intitulado de 'A sociedade contra o Estado',
Clastres, discorrera sobre a aversão que as sociedades primitivas têm de um aparelho estatal
centralizador de poder. Nisso, irá tecer uma crítica ao pensamento enraizado de que não pode
sociedade existir sem Estado e, se ainda não existir, ele virá a existir. Nessa ideia de sempre
haver um órgão estatal, Clastres reconhece um pensamento de cunho etnocêntrico, em que todas
as sociedades seguem um único caminho, indo de "primitivas" para "civilizadas".

Esse etnocentrismo serviria para botar as sociedades primitivas num lugar de


inferioridade em perspectiva com as sociedades Europeias ditas modernas. Essa inferiorização é
criada a partir da ideia da falta de Estado, história, escrita e economia. Essa ideia do vazio pode
ser vista no pensamento de subsistência. Sobre isso, Clastres falará.

Ora, a idéia de economia de subsistência contém em si mesma a afirmação implícita


de que, se as sociedades primitivas não produzem excedentes, é porque são incapazes
de fazê-lo, inteiramente ocupadas que estariam em produzir o mínimo necessário à
sobrevivência, à subsistência. Imagem antiga, sempre eficaz, da miséria dos selvagens.
E, a fim de explicar essa incapacidade das sociedades primitivas de sair da estagnação
de viver o dia-a-dia, dessa alienação permanente na busca de alimentos, invocam-se o
subequipamento técnico, a inferioridade tecnológica (CLASTRES, 1974, p. 184).

Mas, como sabemos e o próprio Clastres, fala as sociedades primitivas possuem igual
capacidade de satisfazer suas necessidades iguais as sociedades ditas “evoluídas”, esse pé de
igualdade pode ser exemplificado pelos povos originários do México e a domesticação do milho.
Sabemos então que eles conseguiam satisfazer suas necessidades, mas será que nos ditos
“evoluídos” realmente consegue satisfazer as nossas? Acho que não, e isso pode ser mostrado
com os casos dos Estados Unidos em 2022 com pessoas que tem renda formal indo morar em
barracas por não conseguirem pagar o aluguel e no Brasil que 15 milhões de pessoas estão em
situação de insegurança alimentar segundo a FAO (A Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura) então é o nosso modelo de produção dito civilizado, científico e
tecnológico que não consegue ou melhor não quer assegurar o básico para a vida humana.
O artigo também fala como os indígenas eram vistos como preguiçosos pelos europeus,
Clastres, fala que esse pensamento do “vagabundo” e contraditório já que o humano que vive em
economia de sub existência ou passa todo o deu tempo atrás de alimento para sobreviver ou vive
em economia de sub existência e tem tempo em excesso para o lazer os dois não podem ser. Essa
visão da improdutividade nesse da construção da forma de vida europeia que era o oposto da
forma que os povos originários viviam

Para o homem das sociedades primitivas, a atividade de produção é exatamente


medida, delimitada pelas necessidades que têm de ser satisfeitas, estando
implícito que se trata essencialmente das necessidades energéticas: a produção é
projetada sobre a reconstituição do estoque de energia gasto. Em outros termos, é
a vida como natureza que – com exceção dos bens consumidos socialmente por
ocasião das festas – fundamenta e determina a quantidade de tempo dedicado a
reproduzi-la. Isso equivale a dizer que, uma vez assegurada a satisfação global
das necessidades energéticas, nada poderia estimular a sociedade primitiva a
desejar produzir mais, isto é, a alienar o seu tempo num trabalho sem finalidade,
enquanto esse tempo é disponível para a ociosidade, o jogo, a guerra ou a festa.
(CLASTRES, 1974, p. 190)

Como é mostrado o ocidental não consegue compreender o modo de vida dos povos
indígenas, isso pode ser visto na forma como os portugueses e franceses se irritavam na forma
ociosa em que os nativos levavam sua vida. Essa irritação da “improdutividade” dos povos
originários ainda se mantem forte, aqui no Brasil um bom exemplo disso e que o antigo
presidente atacava diretamente a demarcação das terras indígenas falando que atrapalhava a
economia “Os índios não falam nossa língua, não têm dinheiro, não têm cultura. São povos
nativos. Como eles conseguem ter 13% do território nacional?” frase dita pelo ex presidente
Bolsonaro em entrevista a Campo Grande News, 22 abril 2015. Essa fala mostra bem esse ódio
por uma forma de organização que não contemple a produção do excedente acima de tudo e o
trabalho até o desgaste. Nessa visão ainda do trabalho acho interessante a ideia do machado de
ferro em que os indígenas não queriam o instrumento para aumentar a produção no memo tempo
de trabalho mais sim fazer o mesmo excedente em menos tempo para terem mais lazer. Assim
uma visão emancipatória do trabalho a partir da tecnologia algo que não acontece no nosso
sistema de vida ocidental a tecnologia avança e ainda trabalhamos 8 horas ou mais todos os dias.

Na parte sobre a falta de um Estado Clastres, faz um bom contraponto e uso da teoria
marxista, mostrando que nas sociedades primitivas graças a sua forma de organização e
produção da base material não a como se criar uma divisão a partir de classes, logo não terá
como ter uma classe dominante que se utilize de um aparelho estatal para através da violência
manter um dominado em condição de explorado. Assim, sem essa necessidade de coerção
através da violência o Estado não necessita existir assim sendo nas sociedades primitivas o
Estado é algo impossível.

Essas tribos primitivas tinham algo diferente dos reis e imperadores eles tinham um chefe
um cargo totalmente diferente dos citados. O chefe não era um chefe mesmo como os chefes de
estado já que ele não dispõe de nenhuma autoridade. Esse líder que é escolhido só tem a função
de servir a sociedade primitiva em disputas internas entre pessoas ou famílias. O chefe não tendo
nenhum poder de coerção, estes só adquirem algum nível de autoridade durante o ato da guerra,
mas essa guerra só vai até onde a tribo achar necessária a duração ou a manutenção do estado de
guerra é somente decidido pela sociedade e quando esse acaba o chefe volta a ter a mesma
posição que exercia antes. Assim a pessoa que está no cargo não pode mobilizar aquela
sociedade para o seu bel prazer como uma ferramenta já que este é a ferramenta.

Isso mostra como nas sociedades primitivas não a um vazio de poder a ser preenchido por
um Estado, já que está se fecha assim não tendo um poder político que se sobreponha ao bem
comum. Ainda no pensamento marxista o autor traz ideia “A história dos povos que têm uma
história é, diz-se, a história da luta de classes. A história dos povos sem história é, dir-se-á com
ao menos tanta verdade, a história da sua luta contra o Estado.” (CLASTRES, 1974, p.208)
mostrando que a real luta nessa sociedade é contra a formação de um poder centralizador.

Referência

Employment alone isn’t enough to solve homelessness, study suggests. Uchicago Nems,
2021. https://news.uchicago.edu/story/employment-alone-isnt-enough-solve-homelessness-
study-suggests. Acesso em: 11/05/2023.

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