Você está na página 1de 28

O Rio de Janeiro e a

República que não foi


Prof. Marcus Pierre de
Carvalho Baptista
Tópicos de discussão
01 “A Proclamação da República” e suas
várias interpretações

A questão da cidadania: uma relação


02 entre passado e presente
A “Proclamação” da Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1889.
República
Eu quisera poder dar a esta data a denominação
seguinte: 15 de Novembro, primeiro ano de
República; mas não posso infelizmente fazê-lo. O
que se fez é um degrau, talvez nem tanto, para o
advento da grande era. Em todo o caso, o que
está feito, pode ser muito, se os homens que vão
tomar a responsabilidade do poder tiverem juízo,
patriotismo e sincero amor à liberdade. Como
trabalho de saneamento, a obra é edificante. Por
ora, a cor do Governo é puramente militar, e
deverá ser assim. O fato foi deles, deles só, porque
a colaboração do elemento civil foi quase nula. O
povo assistiu àquilo bestializado, atônito,
surpreso, sem conhecer o que significava.

Aristides Lobo
O que Aristides Lobo quis dizer? O que significa
inferir que o povo assistiu a este acontecimento
“bestializado”?
O que nos interessa neste
documento?
Interessa saber Por que nos
em que medida o interessa, neste
povo participou caso em
do evento ou específico, o
discutir a olhar deste
compreensão de personagem
um personagem sobre o evento?
em específico?
Outros personagens de época tiveram uma
perspectiva similar

O que isso permite inferir sobre estes sujeitos


em específico?

E como isto nos remete enquanto


pesquisadores em formação?
Um olhar de elite
O comentário de Apresenta ainda
Aristides Lobo uma outra
tratar-se-ia de questão: uma
um olhar visão
elitizado, problemática do
colonizado por Estado enquanto
eventos vilão e a
semelhantes sociedade
ocorridos em vitimizada
outros países
Produz-se, com isto, uma ideia de que a
cidadania, se não existe, é por culpa exclusiva
do Estado. Qual o problema nisto?
Observa-se este olhar enquanto uma
perspectiva paternalista diante dos sujeitos

Necessário entender, no entanto, que o Estado


só existe em relação aos sujeitos que o
compõem, ainda que pra isso se estabeleça
métodos específicos de dominação - A questão
da legitimidade
Por que o momento que marca
a passagem do período imperial
para o republicano é escolhido
como recorte de estudo para se
pensar estas questões?

O que significa “República”?


Manifesto Expostos os princípios gerais que servem de base
Republicano de 1870 à democracia moderna, única que consulta e
respeita o direito à opinião dos povos, temos
tornado conhecido o nosso pensamento. Como o
nosso intuito deve ser satisfeito pela condição da
preliminar estabelecida na própria carta
outorgada; a convocação de uma Assembléia
Constituinte com amplas faculdades para
instaurar um novo regime é necessidade cardeal.
As reformas a que aspiramos são complexas e
abrangem todo o nosso mecanismo social. Negá-
las absolutamente, fora uma obra ímpia, porque
se provocaria a resistência. Aprazá-las
indefinidamente, fora um artifício grosseiro e
perigoso. Fortalecidos, pois, pelo nosso direito e
pela nossa consciência, apresentamo-nos perante
os nossos concidadãos, arvorando resolutamente
Quintino a bandeira do partido republicano federativo.
Bocaiúva
Manifesto Somos da América e queremos ser
Republicano de 1870 americanos. A nossa forma de governo é,
em sua essência e em sua prática,
antinômica e hostil ao direito e aos
interesses dos Estados americanos. A
permanência dessa forma tem de ser
forçosamente, além da origem de opressão
no interior, a fonte perpétua da hostilidade
e das guerras com os povos que nos
rodeiam. Perante a Europa passamos por
ser uma democracia monárquica que não
inspira simpatia nem provoca adesão.
Perante a América passamos por ser uma
democracia monarquizada, aonde o
instinto e a força do povo não podem
Joaquim Saldanha preponderar ante o arbítrio e a onipotência
Marinho do soberano.
Manifesto
Republicano de 1870 Em tais condições pode o
Brasil considerar-se um país
isolado, não só no seio da
América, mas no seio do
mundo. O nosso esforço dirige-
se a suprimir este estado de
coisas, pondo-nos em contato
fraternal com todos os povos, e
em solidariedade democrática
com o continente de que
fazemos parte.
Aristides Lobo
Revolução (RJ) -
Publicado em 1881
Revolução! Revolução!

Para os grandes males, grandes


remedios. Venha a revolução, a
destruição, o incendio e mesmo o
nihilismo para decepar as
cabeças dos tyranos na explosão
da revolta. Levante-se em cada
rua uma ou mais barricadas onde
o povo prefira cahir combatendo
pela liberdade a viver
massacrado pelos despotas! A
Fávila Nunes
bomba, o arcabuz [...]
Revolução (RJ) - a machadinha, sejam os nossos
Publicado em 1881
instrumentos de reacção!
Precisamos de uma nova vida, de
uma vida de agitações violentas; é
necessario queso basruinas
ensanguentadas de um imperio,
podre pela corrupção, surja o
templo magestoso da liberdade
aonde se venere a soberania
popular; é urgente que do tumulo
das velharias monarchicas, surja a
figura risonha e sympathica da
Fávila Nunes Republica!
Revolução (RJ) -
Publicado em 1881 Os direitos dos cidadãos
activos da sociedade, dos
artistas e dos operarios, que
são o sustentaculo do Estado,
foram expoliados pelas
reformas todas e estupidas;
para os reconquistarmos,
precisamos empunhar o
bacamarte na praça publica,
bradando: Revolução!

Fávila Nunes
Revolução (RJ) - 15 de
abril de 1881
Mesmo a nova “República” tendo sido
estabelecida sem a participação efetiva popular
ainda assim gera reações entre àqueles
marginalizados das possibilidades de inserção e
atuação neste novo sistema

Alguns periódicos de época destacavam as


“novas” possibilidades que se descortinavam a
partir da República
Voz do Povo (RJ) -
1890 O Operario e a Republica

Novos horizontes se abrem ao


povo brasileiro, com o
estabelecimento da forma
republicana de governo no
paiz. A democracia que na sua
acepção pura e legitima é o
regimento da igualdade nos
direitos como nos deveres, veio
emfim nivelar todas as classes
na partilha dos bens sociaes [...]
Voz do Povo (RJ) -
1890 libertando-as do privilegio de
umas sobre outras. O
proletariado nacional que até
hoje foi apenas uma forma
anonyma, servindo de base a
todas as ambições, por
inconfessaveis que fosse,
passou desta arte a ser uma
força preponderante na
sociedade, um elemento de
prosperidade, de riqueza e de
progresso.
Voz do Povo (RJ) - Operarios, somos a alavanca do
1890
progresso, e o progresso e a
legenda dos povos americanos.
Foram os proprios prophetas do
governo que o disseram,
inscrevendo como lemma da nossa
bandeira esta legenda - ORDEM E
PROGRESSO. A ordem, pertencerá
a outros, mas o progresso é nosso.
Saibamos ser operarios e cidadãos
de uma patria livre. E assim sendo,
seremos sem duvida as mais fortes
columnas deste grande paiz!
Voz do Povo (RJ) - 7 e
9 de janeiro de 1890
Para o periódico em questão em tempos
pretéritos os operários eram servos sem
direitos, apenas deveres. Com o sistema
republicano estabelecia-se uma proposta de
igualdade e soberania.

Também houve tentativas de organização de


um partido operário logo no início do período
republicano
Afinal, o que José Murilo de
Carvalho se propõe a estudar?

Por que escolher o Rio de


Janeiro enquanto recorte
temporal?
As cidades e sua historicidade
A cidade Rio de Janeiro - 500 mil
enquanto um habitantes no fim do
espaço por século XIX - Centro da
excelência para o vida política - Melhor
desenvolvimento espaço para se refletir
da cidadania sobre o desenvolvimento
da cidadania
O que é cidadania?

Quem era cidadão no Brasil


Império?

O que diz a nova Constituição


de 1891?
Questões a se pensar:

Quem era o povo


“bestializado”?

Qual era seu imaginário político


e quais eram suas práticas
políticas?
Na aula seguinte: Uma nova ordem
republicana? Liberalismo excludente e as
estruturas de poder na Primeira República

Você também pode gostar