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A Vida Secreta de Deus - Parte 1 PDF
A Vida Secreta de Deus - Parte 1 PDF
Quando o Eterno quis criar o mundo, Ele provocou a retirada da luz do centro,
criando um vácuo esférico.
Dentro desse vácuo o Eterno criou recipientes, e então lançou um raio fino de luz
dentro dos recipientes.
Mas porque estes eram incapazes de conter a Luz, eles se quebraram e o universo
se transformou em caos.
A Cabalá explica ainda que a vida foi criada para ser um processo de ticún,
"conserto" ou "reconstrução".
Os recipientes devem ser reconstruídos para que, um dia, possam receber a luz.
A vida é o processo de consertar os recipientes quebrados para que possam receber
a luz.
A Cabalá termina a história com um paradoxo.
Embora a luz cerque o vácuo esférico, ela também o preenche.
Isso significa que a luz foi retirada (do centro) mas, misteriosamente, ainda
permanece no lugar (neste centro).
Os paradoxos não são um problema na Cabalá porque a vida não tem de se
encaixar nos pré-requisitos da lógica formulada pelos gregos.
A tradição judaica não acredita que Deus pensa como a gente nem que Ele criou o
mundo conforme nosso modo de pensar.
De fato, Deus disse: "Meus pensamentos não são como os seus pensamentos"
(Isaías 55:8).
O universo funciona de acordo com uma elevada lógica Divina.
Um dos maiores desafios da ciência moderna é atribuído aos paradoxos do mundo.
Quando foi descoberto que a luz é onda e também partícula, a ciência não tinha
escolha a não ser questionar a lógica da lógica.
É uma contradição a luz ser tanto onda como partícula; portanto, a ciência
precisava aceitar que a realidade nem sempre funciona de acordo com a nossa
estrutura preconcebida de "ou isso ou aquilo".
Talvez haja um outro tipo de lógica além das limitações dessa estrutura.
De fato, a ciência desenvolveu uma nova forma de lógica chamada lógica quântica.
Mas os cabalistas conheciam lógica quântica muito antes dos cientistas; eles
sabiam a Teoria da Relatividade muito antes de Einstein.
É por isso que os cabalistas nunca pensariam em descrever o mundo sob a
perspectiva de Deus.
Não poderíamos ter essa perspectiva a não ser que fôssemos Deus.
Como citado acima, só podemos conhecer de Deus o que nos é revelado, e isso em
relação à nossa própria percepção.
Então os cientistas fazem a mesma declaração:
"Não descrevemos a partícula como ela é, mas apenas como nos parece. Por isso, a
luz pode ser onda e também partícula. A luz parece diferente dependendo do
experimento que fazemos. Tudo é relativo à nossa perspectiva humana."
A Cabala concorda cem por cento, e acrescenta: isso inclui a nossa visão de Deus.
Quando tentamos articular a verdade sobre Deus com a nossa mente lógica,
chegamos a afirmações paradoxais.
Por favor, lembre-se de não confundir o menu com a refeição.
Embora o menu seja um paradoxo, a refeição é o paraíso.
Deus é perfeito?
Para entender essa história cabalística e seu subjacente raciocínio paradoxo, temos
de fazer a pergunta que inicialmente parece ridícula:
Deus é perfeito? E se é, um Deus perfeito pode se tornar perfeito?
A maioria de nós responderia imediatamente:
"Se Deus pudesse se tornar perfeito, isso significaria que Deus não era perfeito a
princípio. Portanto, se Ele é perfeito, não pode se tornar perfeito."
Pensemos sobre isso um pouco mais:
"Se o 'Ser Perfeito' não pudesse se tornar perfeito, não seria isso uma imperfeição?
Uma limitação?
Isso quer dizer que o Deus perfeito não pode participar em um processo dinâmico
de crescimento e mudança do imperfeito para uma perfeição cada vez maior?
Quer dizer que Deus vive uma vida estática, entediante e sem aventura?
Falta para Deus a alegria que temos na vida — de superar desafios e alcançar
objetivos?"
"O Deus perfeito pode se tornar perfeito?" se parece com a questão feita para
enlouquecer os teólogos: "Deus pode criar uma pedra que Ele mesmo não pode
levantar?"
Claro que se você responder não, eles dirão que Deus não é todo-poderoso.
"O quê? Ele não pode criar uma pedra que Ele mesmo não pode levantar?"
Então você diz: "Ah tá, então sim, Deus pode criar essa pedra."
Mas eles o provocariam: "Você quer dizer que Ele não é onipotente? Ele não pode
pegá-la?"
Essa pergunta o coloca em um beco lógico sem saída.
Mas a Cabalá tem a resposta: sim e não.
E você pode dizer: "Tem de ser sim ou não."
No entanto, isso seria exigir que Deus (a Realidade Suprema e Fonte de Toda
Lógica) coubesse nos rigorosos limites da lógica humana.
Quem disse que a Realidade Suprema funciona conforme a lógica humana?
Quem disse que a fundamentação da lógica humana pode descrever
completamente a Realidade Suprema?
Segundo a Cabalá, a resposta é sim e não porque Deus está além do "ou isso ou
aquilo".
Portanto, quando fazemos a pergunta "Deus pode se tornar perfeito?", a resposta é
sim e não.
Ou seja, quando descrevemos a perfeição absoluta de Deus, devemos descrevê-la
paradoxalmente.
A perfeição absoluta traz a possibilidade de dois tipos de perfeição, que podem
coexistir — ser perfeito e tornar-se perfeito.
Em outras palavras, a perfeição absoluta inclui a possibilidade da estática perfeição
imutável e também da perfeição dinâmica, que está sempre mudando, evoluindo e
passando da "imperfeição" para uma "perfeição cada vez maior".
Perfeição Absoluta
Ser perfeito Tornar-se perfeito
Perfeição estática Perfeição dinâmica
Imutável Mudança constante
Porém, lembre-se de que essa é uma descrição relativa ao nosso ponto de vista
limitado; da perspectiva de Deus, há apenas unidade.
Somente por causa da limitação da nossa mente lógica que descrevemos o Deus
único como tendo dois tipos de perfeição — estática e dinâmica; ser perfeito e
tornar-se perfeito.
Por isso, quando descrevemos Deus, a Realidade Suprema, o Ser Absolutamente
Perfeito, temos de dizer que incluída na definição completa da perfeição absoluta de
Deus está a possibilidade de Ele se tornar perfeito (da imperfeição em direção a
uma perfeição cada vez maior) ao mesmo tempo em que Ele já é perfeito.
Por favor, note que sou muito cuidadoso com as minhas palavras: falo de uma
possibilidade.
Não estou dizendo que Deus necessariamente deve se tornar perfeito, porque isso
seria uma limitação.
Deus não tem de fazer nada.
Deus age livremente.
No entanto, tornar-se perfeito infere algo a aperfeiçoar, uma imperfeição.
Por isso, incluída na perfeição absoluta está a possibilidade de imperfeição como
fundação de um processo de aperfeiçoamento.
Na linguagem da Cabala, isso seria expresso assim:
No começo, havia a Luz Infinita — Perfeição Absoluta.
Quando Deus, o Eterno, quis criar a possibilidade de um processo de
aperfeiçoamento, Ele retirou a Sua Absoluta Perfeição e criou um vácuo, uma falta,
um vazio.
Dentro desse vácuo Deus criou recipientes limitados e lhes deu Luz Infinita, embora
soubesse que eles não aguentariam e se quebrariam.
Ou seja, Deus causou intencionalmente o colapso, o caos e a imperfeição.
Deus quis que os recipientes experimentassem a luz perfeita mesmo que fossem se
partir, para que desejassem, trabalhassem e crescessem em direção à perfeição.
Desse modo, Deus criou imperfeição e iniciou um processo dinâmico de crescimento
e aperfeiçoamento.
Porém, apesar de a Luz Infinita cercar esse vácuo, ela ainda assim o preenche — e
continua a ser uma perfeição estática.
Por isso, misteriosamente "ser perfeito" e "tornar-se perfeito" coexistem.
Em suma, o Divino inclui um processo dinâmico.
No Divino existe a possibilidade da imperfeição que cresce rumo à perfeição.
Agora podemos entender por que você e eu existimos.
Deus sofre?
O que seria a vida se não houvesse sofrimento?
Haveria prazer?
Imagine se você e seus amigos fossem ricos e vivessem em um bairro de classe
alta.
E digamos que você vivesse isolado e nunca visse revista, jornal ou filme que
falasse sobre pobreza.
Você seria rico se não soubesse o que é pobreza?
Kirk Douglas, o famoso ator, uma vez me disse: "Eu dei tudo a meus filhos, mas
um presente não pude dar: o presente da pobreza."
Kirk cresceu em uma casa pobre.
Eram nove pessoas na família e às vezes tudo o que tinham para comer era apenas
um ovo.
Alguns anos atrás, uma mulher se inscreveu em um dos meus seminários no
Instituto Isralight, o centro de retiro espiritual que fundei.
Ela era uma das pessoas mais incríveis que já conheci e tinha uma alegria radiante
de viver.
Eu lhe disse: "Você é extraordinária; está realmente irradiando luz!"
Ela respondeu: "Ah, rabino, eu lhe digo o porquê."
Então ela puxou a manga e me mostrou as cicatrizes que tinha no braço.
Depois me mostrou o outro braço, também cheio de cicatrizes, e disse: "Rabino,
tenho cicatrizes por todo o corpo. Há cerca de cinco anos eu tive um acidente de
carro. Minha amiga estava dirigindo e perdeu o controle do carro, que caiu de um
penhasco. O carro capotou algumas vezes e parou. Naquele momento, percebi que
ainda estava consciente, que estava viva. Consegui sair do carro, mas vi que minha
amiga estava presa nas ferragens. Corri de volta para tirá-la. O carro explodiu e eu
explodi junto com o carro. Logo uma ambulância chegou e me levou ao hospital.
Fiquei de reabilitação por um ano e meio para reaprender as tarefas básicas da
vida. Rabino, tenho de lhe dizer, isso foi o maior presente da minha vida. Meu
brilho e felicidade não vieram sem muita dor e trabalho."
Vários grandes líderes que causaram impacto na civilização tiveram uma vida muito
difícil.
Sua força de caráter, determinação e empenho não eram conquistados sem uma
alta dose de desafio, dor e luta.
A vida para eles é uma montanha russa, não um carrossel.
A maioria poderia dizer que seu entusiasmo pela vida, profundidade intelectual,
visão idealista e compromisso foram alcançados com muita angústia e muito
conflito.
Certa vez lecionei para um grupo em Miami que havia sofrido muitas perdas com o
furacão Andrew.
A classe era intitulada “serenidade e sofrimento" e aconteceu em uma casa que
havia sido atingida pelo furacão de 1992.
Dava para ver que os participantes estavam ainda desolados pela experiência
horrível por que passaram.
Eu perguntei como estavam se sentindo e fiquei chocado com a resposta:
"Foi incrível! Sentimos tanto amor uns pelos outros — como nunca sentimos antes.
Vamos para sempre apreciar os sentimentos de união, compaixão e sensibilidade
que surgiram durante aquelas horas aterrorizantes. Apesar de termos passado por
momentos dolorosos, houve tantos sentimentos preciosos e realizações que
alcançamos justamente por causa das horas de dor."
Deus sente esses grandes prazeres que vêm somente através dos desafios e das
dificuldades da vida na Terra?
Deus sofre, luta contra o sofrimento, transcende o sofrimento e sente o prazer da
vitória?
Sim, através de você e de mim!
Se você ler as histórias pessoais de sobreviventes do Holocausto, verá que cada
uma delas é uma obra-prima.
Entendo completamente por que Steven Spielberg investiu milhões de dólares na
criação de um arquivo do Holocausto, coletando todos os testemunhos possíveis.
Como produtor e diretor, ele entende que cada uma dessas histórias é digna de
vencer um Oscar (mas tenho certeza de que ele não fez isso para ganhar Oscars).
Esses relatos são os dramas épicos de corações e almas, de pessoas que, em sua
luta, alcançaram qualidades como amor, cuidado, integridade, confiança,
esperança, coragem — a lista é interminável.
Claro que houve fracassos.
Nem sempre aquelas cenas terríveis traziam o melhor em todo mundo.
Sim, houve muitos fins trágicos.
Mas esse é o preço.
O preço do bem é a possibilidade do mal, o preço do amor é a possibilidade do
ódio, o preço da felicidade é a possibilidade da tristeza e o preço da vitória é a
possibilidade do fracasso.
Deus pode pagar o preço, encarar os desafios que só a vida na Terra oferece e
alcançar bondade, amor, felicidade e vitória?
Sim, através de você e de mim.
E podemos sentir essa verdade quando convidamos Deus a participar de nossas
lutas diárias.
Fazemos isso ao rezar, encarar os desafios e melhorar este mundo e a nós mesmos
em nome de Deus.
Esse é o verdadeiro significado de servir Deus.
É o que podemos fazer por Ele.
A vida é um drama Divino.
A temática do drama da vida reúne desafios, escolhas, crescimento e amor.
Tudo se resume à jornada.
Nós — com todos os nossos problemas e complexidades — somos as estrelas do
espetáculo.
O cenário ideal é este mundo desordenado.
Nosso verdadeiro "eu interior", porém, não é nada mais que a alma — a centelha
de Deus.
Nossa missão é aceitar o desafio e transformá-lo em serviço a Deus.
Nossa realização mais profunda é saber que Deus precisa de nós e se junta a nós
para poder participar de um processo dinâmico e desafiador de aperfeiçoamento.
Deus vive Sua vida secreta através de você e de mim, se O deixamos entrar.
Em suma
Deus não está aqui para "pegar você".
Deus não está do outro lado.
Deus está sempre do seu lado.
Deus tem interesse em você — porque você é uma alma, uma centelha Dele
mesmo.
Você não é Deus, mas é uma centelha de Deus.
Embora Deus esteja além, um aspecto de Deus se manifesta dentro de você.
Em toda situação, Deus orquestra o cenário para maximizar a sua possibilidade de
escolher bondade, crescimento e conquista.
Deus não é um mágico que acidentalmente estalou os dedos e nos criou, sem
interesse no que aconteceria conosco.
Deus não é uma força distante do nosso percurso, dor e luta, impassivelmente nos
olhando enquanto seguimos a vida neste mundo.
De acordo com a Torá e com a Cabalá, Deus, que é amoroso e caridoso, nos criou
como um veículo para a expressão da possibilidade completa Dele mesmo — a Sua
absoluta perfeição.
A perfeição absoluta de Deus, descrita sob a nossa limitada perspectiva humana,
tem duas facetas: perfeição estática (ser perfeito) e perfeição dinâmica (tornar-se
perfeito).
Através de você e de mim, Deus cumpre o Seu desejo de se manifestar e de
participar de um processo desafiador e aventuroso de aperfeiçoamento.
Quando você percebe que faz parte da vida de Deus e que Deus faz parte da sua
vida, você descobre seu aspecto sagrado, seu significado e sua importância
fundamental.
Quando você compreender que existe dentro da Luz Infinita de Deus, descobrirá
que a Luz Infinita de Deus também está dentro de si.
Entenderá que um aspecto da perfeição absoluta de Deus — a perfeição dinâmica
— se manifesta em você.
O seu privilégio Divino é ser um ser humano que serve de veículo para Deus.
Quando você serve o Supremo, faz parte do Supremo.
Quando compreende que faz parte do Supremo, então vive a perfeição de cada
momento.
Eis o menu colocado de forma simples: Deus vive Sua vida secreta através de você.
Aproveite este momento para contemplar, sentir e degustar essa verdade deliciosa.
Leve a vida toda para vivê-la e celebrá-la.
Continua