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Equipotenciais e linhas de força do campo elétrico

Igor Peixoto Rodrigues


José Geraldo de Oliveira Júnior

Departamento de Ciências Naturais – DCNAT/ UFSJ


Praça Dom Helvécio, 74 - Fábricas, 36301-160 - São João del Rei – MG
igorpexoto@outlook.com, juniorbjv-@hotmail.com

Resumo
Com esse experimento busca compreender e determinar o campo eletrostático gerado por uma configuração
de corpos que tanto podem ser condutores mantidos em potenciais definidos quanto dielétricos. É esperado desenvolver
tais conceitos através de medidas experimentais dos potenciais elétricos em diferentes pontos de uma solução
eletrolítica na qual se monta uma configuração de eletrodos ou dielétricos semelhante à configuração que se quer
estudar. Esse sistema com os corpos em solução eletrolítica simula o sistema de interesse original com os corpos em
ar, no qual seria mais difícil fazer medições. A partir de daquelas medidas se podem determinar o potencial e o campo
elétrico na região com eletrólito.
Palavras chave: Potencial elétrico, equipotenciais, experimentos,

1 Introdução o campo elétrico, que são trajetórias ao longo das quais a

Fenômenos elétricos são conhecidos desde a variação do campo elétrico é máxima.

antiguidade, porém o aproveitamento consciente da


eletricidade pela humanidade só se tornou possível com a 1.2 Objetivos
compreensão construída durante o séc. XIX. É a partir dos – Obter superfícies equipotenciais em uma cuba
estudos realizados por inúmeros cientistas, que hoje é eletrolítica;
trazido para os estudantes de física, uma melhor – Mapear o campo elétrico à partir das superfícies
compreensão dos fenômenos elétricos e será abordado equipotenciais;
agora em maior extensão e profundidade na Física III, – Desenvolver os conceitos de potencial e campo;
teórica e experimental. – Familiarizar-se com o campo para diversas distribuições
de cargas
1.1 Apresentação
Como em outras áreas da física, no
1.3 Teoria
eletromagnetismo existem abordagens mais simples ou
O campo elétrico é definido no espaço
mais complexas. A abordagem em Física III é simples e
tridimensional. Uma partícula de carga pequena (chamada
começa com o desenvolvimento de um modelo de
carga de prova) fica sujeita a uma força elétrica se for
interação entre os corpos com cargas em repouso por meio
colocada numa região em que o potencial elétrico não é
de um campo, o campo elétrico E. O campo não pode ser
constante. O campo elétrico 𝐸⃗ , é definido como a razão
visto, mas pode ser visualizado. Nessa aula experimental
entre essa força elétrica 𝐹 e a carga de prova q
procuramos visualizar o campo. Fazemos isso medindo
seus efeitos e construindo uma imagem mental de como ele 𝐹
𝐸⃗ =
𝑞
é. Procuraremos desenhar uma representação desse campo.
(1)
Para isso utilizaremos as equipotenciais, que são análogas
embora queiramos experimentar fisicamente como se
a curvas de nível do potencial elétrico e as linhas de força

1
dispõe o campo elétrico no espaço faremos isso que B coincide com A, ou seja, no limite em que a distância
indiretamente. Vamos medir potenciais. Para compreender d tende a zero, obtemos o campo elétrico num ponto. Em
a relação entre o potencial e o campo elétrico, analisemos uma dimensão o campo elétrico será:
primeiramente a situação em uma única dimensão, ao 𝑉(𝑥 + 𝑑) − 𝑉(𝑥)
𝐸⃗ (𝑥)= lim − 𝑑̂
longo de uma reta. 𝑑→0 𝑑
(4)

1.3.1 Campo elétrico em uma dimensão


𝐝(𝑽)
Vamos escolher uma origem, uma orientação e ⃗𝑬 = − ̂
𝒙
𝒅(𝒙)
uma unidade de medida de espaço (cm). Vamos também (5)
escolher que o potencial na origem, onde 𝑥(0), seja
1.3.2 Campo elétrico em três dimensões
𝑉(𝑥 = 0) = 0𝑉. A referência para o potencial pode ser
Embora isso não seja óbvio, em três dimensões, é
escolhida arbitrariamente. Por fim vamos ligar uma fonte
possível se convencer de que: o campo elétrico é o
em nosso sistema unidimensional de forma que o potencial
gradiente do potencial elétrico.
cresça no sentido positivo de nossa reta (𝑥 crescente).
𝜕𝑉 𝜕𝑉 𝜕𝑉
Podemos então escolher dois pontos, A e B, 𝐸⃗ = − ( 𝑥̂ + 𝑦̂ + 𝑧̂)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
separados entre si por uma distância d, com B à direita de (6)
A, e medir o potencial em cada um deles, 𝑉𝐴 e 𝑉𝐵 . A
Ou, simplificadamente, ⃗⃗⃗𝑬 = −𝛁
⃗ 𝑽.
diferença de potencial (ddp) entre os pontos A e B, também
(7)
chamada de voltagem entre A e B ou tensão entre A e B, é
Podemos, portanto escrever uma ddp 𝑉𝐴𝐵 em função de ⃗⃗⃗𝐸 ,
definida como 𝑉𝐴𝐵 = 𝑉𝐴 − 𝑉𝐵 ·. (Observe que não 𝐵
definimos uma grandeza chamada variação do potencial e 𝑉𝐴𝐵 = − ∫ ⃗⃗⃗𝐸 . 𝑑𝑙̂
𝐴
nem usamos a letra grega delta! A ddp entre um ponto no
(8)
início i de um percurso e outro no fim f do percurso é 𝑉𝑖𝑓 = E, por fim, devemos mencionar que é comum considerar
𝑉𝑖 − 𝑉𝑓 . O vetor campo elétrico aponta no sentido em que que o potencial é nulo em pontos infinitamente distantes do
o potencial diminui e tem intensidade igual ao valor sistema de interesse, isto é, 𝑉(𝑥 → ∞) = 0𝑉. Com essa
absoluto da taxa de variação do potencial elétrico por referência, o potencial num ponto P será
unidade de comprimento. 𝑃
𝑉𝑃 = − ∫ ⃗⃗⃗𝐸 . 𝑑𝑙̂
Temos apenas que nos assegurar de que o ∞

potencial em função do espaço seja suave, isto é, o (9)


potencial não tenha mudanças bruscas entre A e B, e de que 2 Materiais
d seja pequeno. Para simplificar a notação com uma • Cuba eletrolítica (cuba de vidro)
expressão vetorial, consideremos que 𝑑̂ seja um vetor • NaCl
unitário que aponte de A para B. • Água (~300ml)
𝑉𝐴 −𝑉𝐵
𝐸⃗𝐸𝑛𝑡𝑟𝑒 = 𝑑̂ (V suave e d pequeno). • Fonte de tensão regulável de 2V a 10V
𝐴𝑒𝐵 𝑑
• Multímetro
(2)
• Cabos banana-jacaré
É muito comum encontrar essa expressão como adiante:
𝑉𝐵 − 𝑉𝐴 • Régua
𝐸⃗𝐴𝐵 = − 𝑑̂
𝑑 • Folha de papel milimetrado
(3) • Multímetro
Se quisermos calcular o campo elétrico num ponto em vez • Chapa de fórmica
de num intervalo, basta aproximar B de A. No limite em

2
3 Experimento 4.1 Capacitor com placas paralelas
1. Monte a cuba eletrolítica conforme a figura 1 Inicialmente foi montado um esquema conforme
a figura 2, de modo a compreender e estudar as linhas de
campo e equipotenciais em um capacitor de placas
paralelas, onde também foi encontrada a intensidade do

L1
1

L2
1
campo elétrico.
Figura 2 Figura 1

2. Determine as equipotenciais. Há duas maneiras de se


determinar o potencial em um ponto: usando o Seguindo o procedimento da seção 3, foram
potenciômetro ou diretamente com o multímetro. Com o medidos os valores de diferenças de potencial (ddp) em
uso do potenciômetro as medias são mais precisas, do outro função da variação da distância no eixo x, onde pode se
modo são mais simples e fáceis de fazer. montar a tabela 1
3. Confira a polaridade dos eletrodos. Ela será importante Na tabela 1, as siglas L1, L2 e C são
na determinação da direção do campo. respectivamente, lado 1, lado 2 e centro, essas
4. Conecte o terminal positivo do multímetro ao conector representações estão mais visíveis vide anexo 1. O erro da
central do potenciômetro e do conector negativo na ponta distância foi aumentado devido a uma decisão dos
de prova com o grafite. experimentalistas de modo que o erro de paralaxe causado
5. Toque a ponta de prova no eletrodo negativo e ajuste o na montagem não influencie substancialmente no valor do
potenciômetro até a tensão de 2,00V. campo. O erro original seria (±0,005 m) que é o erro
6. Mergulhe a ponta de prova verticalmente na solução e associado a instrumentos de medidas analógicos com
marque, sobre a placa formica os pontos em que o escala centimetrada, os erros associados às diferenças de
multímetro indicar 0,00V. o Resultado será mais preciso se potencial é o erro associado ao multímetro com escala em
a ponta de prova for mantida na vertical. cm/V.
7. O número de pontos marcado deve ser suficiente para
que possa determinar a curva de equipotencial. Anote o
valor da tensão (2,00 V) para esta curva.
8. Evite fazer marcações muito fortes ou continuas, o
grafite também é condutor e pode alterar o campo se for
usado em excesso.

4. Análise e discussão

3
A variação da distância é medida em relação ao intensidade do campo elétrico, como é mostrado na

ponto zero do eixo x. equação 5, que quando ajustada:

∆𝑉
Essas diferenças nos valores podem estar 𝐸 = ⸫ ∆𝑉= 𝐸 ∗ ∆𝑑 (10)
∆𝑑
associadas principalmente a dois fatores a deficiência da
visão humana na coleta dos dados e ao formato inconstante O sinal negativo na equação 5 depende apenas do
das placas, que por serem fios de cobre estavam um pouco sentido em que as medidas são feitas por isso ele foi
tortos, a oxidação do cobre devido ao meio salino pode ter ocultado da equação que foi trabalhada.
influenciado também apesar de que o experimento ter sido
Associando a equação 10 com a equação geral da
executado de forma rápida para minimizar essa
reta encontra-se que o coeficiente angular a da reta traçada
interferência.
no programa SciDaVis equivale ao valor da intensidade do
Com os dados da tabela 1, foi construído o gráfico campo elétrico entre as placas e que o coeficiente linear b ,
1 no programa Microsoft Office Excel, que relaciona essa demonstra algum erro sistemático da medida que desloca
variação da d.d.p. com a variação da distância, dizendo que todos os dados da origem:
a razão das mesmas representa a
∆𝑉= 𝐸 ∗ ∆𝑑 → 𝑌 = 𝑎 ∗ 𝑋 + 𝑏

4
Assim tem-se que o valor para intensidade do Essa montagem permite ver a propagação radial
campo elétrico com seu erro é: das linhas de campo elétrico e o como suas equipotenciais
se comportam, sempre perpendicularmente as linhas de
𝐸 = (6,05 ± 0,05) 𝑣/𝑚
campo, vide anexo 2.

4.2 Fonte de ponto e anel de guarda


4.3 Dipolos de cargas pontuais
Com a montagem do esquema descrito na figura
Por fim foi montado o esquema da figura 4, para
3, foram retirados pares ordenados de pontos em que havia
que fosse possível a observação do comportamento do
uma d.d.p. equivalente, esse fato é mais bem visto no anexo
campo em cargas pontuais de sinais contrários. Assim
2. Na tabela 2 são encontrados os valores para os pares
como na montagem anterior foram localizados pares
ordenados e suas respectivas diferenças de potenciais, onde
ordenados de pontos em um plano onde as diferenças de
é feito uma análise qualitativa da disposição das linhas de
potencial foram iguais, com isto foi montada a tabela 3, que
campo no sistema.
tem seus pontos representados no anexo 3.

Figura 3 Figura 4

Nesta montagem percebe-se a influência atrativa


dos dois polos elétricos, onde as linhas de campo,
inicialmente radiais em ambos, se juntam devido à atração
das cargas opostas.

5
2. Walker, J. Halliday/Resnick Fundamentos da
Física, Capítulo 22 Campos Elétricos e capítulo 24
Potencial Elétrico. 8 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
v. 3. Young, H.;
3. Freedmani, R. Sears/Zemansky Fí- sica III:
Eletromagnetismo. Capítulo 21 Carga 5 Elétrica e
Campo Elétrico e capítulo 23 Potencial Elétrico. 12
ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
v. 3.

5 Conclusões
Este experimento permitiu visualizar as linhas
força de campos elétricos produzidos por uma diferença de
potencial em um meio condutor para montagens com
placas paralelas, fonte de ponta e anel de guarda e um
dipolo de cargas pontuais, de modo a permitir analisar o
comportamento das linhas equipotenciais nas diferentes
montagens, percebendo que as representações da
disposição dessas linhas como é mostrado nos livros,
ocorre também na realidade. Em especial para a montagem
com placas paralelas foi possível encontrar um valor para
o gradiente de campo elétrico no interior das placas que
apesar das numerosas fontes de erro teve seu valor médio
muito bom, cerca de (6,05±0,05) v/m.

6 Referências bibliográficas
1. Loyd, David H. Physics laboratory manual. 3 ed.
Belmont: Thomson Books/Cole, 2008.

6
ANEXO 1

Capacitor de placas paralelas


Situação ideal para o
experimento. A figura mostra o
potencial elétrico e as linhas
equipotenciais para a montagem 1 em
três dimensões para um capacitor de
placas paralelas, a projeção das curvas
de nível no plano xy representa o
ocorrido no experimento em
laboratório.
Situação real. Foram medidos os valores dos potenciais sobre as supostas curvas de
nível, e foi constatado que devido ao formato das placas que dispúnhamos em laboratório
houve uma pequena variação nesses valores, mais que em média foram bem sucedidos. O
gráfico abaixo representa os pares ordenados de pontos e as respectivas d.d.p.s , assim como
suas linhas equipotenciais e de campo elétrico.

L1 - linha de campo acima do eixo


Linhas paralelas ao eixo y são as equipotenciais
C - linha de campo central
Linhas paralelas ao eixo x são as linhas de campo
L2 - linha de campo abaixo do eixo

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ANEXO 2

Fonte de ponto e anel de guarda


Situação ideal para o
experimento. A figura mostra o
potencial elétrico e as linhas
equipotenciais para a montagem
2 em três dimensões para uma
fonte de ponto com anel de
guarda, a projeção das curvas de
nível no plano xy representa o
ocorrido no experimento em
laboratório.

No laboratório foi fixado a ponta do


eletrodo na origem do plano como polo
positivo e o anel fica no exterior
envolvendo-o com carga negativa.

Linhas radiais ao centro – linhas de


campo elétrico são perpendiculares as
equipotenciais.

Circunferências em torno do eixo – são


as faixas equipotenciais.

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ANEXO 3
Dipolos de cargas pontuais

Situação ideal para o


experimento. A figura mostra o
potencial elétrico e as linhas
equipotenciais para a montagem 3
em três dimensões para um dipolo
de cargas pontuais, a projeção das
curvas de nível no plano xy
representa o ocorrido na
experimentação dentro do
laboratório.
Em laboratório foram fixados os dois polos à uma distância de 10 cm um do outro, e
então foram marcados os pontos de algumas linhas equipotenciais.

A – polo negativo Arcos de circunferência em torno dos polos – equipotenciais


B – polo positivo Linhas paralelas indo do polo positivo para o negativo – linhas de campo

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