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Revisão da Física Clássica, Parte II

Objetivos:
a) Revisar alguns conceitos-chaves e do Eletromagnetismo
b) Discutir algumas falhas da Mecânica Clássica

O que vamos aprender nesta aula?


Quais são os pontos mais relevantes do Eletromagnetismo necessários para entender a
origem da Teoria da Relatividade Restrita.

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Revisão do Eletromagnetismo
Potencial
𝟏 𝟏 𝟏 𝟏 𝒒𝟏 elétrico
✓ Energia de interação: 𝑼𝟏𝟐 = 𝒒𝟏 𝒒𝟐 = 𝒒𝟐 = 𝒒𝟐 𝑽𝟏
𝟒𝝅 𝜺𝟎 𝒓 𝟒𝝅𝜺𝟎 𝒓

✓ Na escala dos átomos, 𝒒 é da ordem de 𝒆 = 𝟏, 𝟔𝟎𝟐 × 𝟏𝟎−𝟏𝟗 C → Partícula sujeita ao potencial


de 1 V tem energia de interação de:

𝑼 = 𝒒𝑽 = 𝟏, 𝟔𝟎𝟐 × 𝟏𝟎−𝟏𝟗 𝑪 (1 V) = 𝟏, 𝟔𝟎𝟐 × 𝟏𝟎−𝟏𝟗 𝑱 ≡ 𝟏 𝒆𝑽

❖ Escala de energia para sistemas atômicos: 𝒓 ~ 𝟏𝟎−𝟏𝟎 𝒎 𝟏 Å − 𝟏𝟎−𝟗 𝒎(𝟏 𝒏𝒎):


𝟐
𝒆𝟐 𝟏, 𝟔𝟎𝟐 × 𝟏𝟎−𝟏𝟗
𝑪 −𝟐𝟖 𝑵. 𝒎𝟐
= = 𝟐, 𝟑𝟎𝟕 × 𝟏𝟎 Ordem de
𝜺𝟎 𝟒𝝅 × 𝟖, 𝟖𝟓 × 𝟏𝟎−𝟏𝟐 𝑪𝟐 /𝑵𝒎𝟐
grandeza da
𝟏 𝟏𝟎𝟗 𝒏𝒎 energia dos
= 𝟐, 𝟑𝟎𝟕 × 𝟏𝟎−𝟐𝟖 𝑵. 𝒎𝟐 = 𝟏, 𝟒𝟒𝟎 𝒆𝑽. 𝒏𝒎 elétrons de
𝟏, 𝟔𝟎𝟐 × 𝟏𝟎−𝟏𝟗 𝑱/𝒆𝑽 𝟏𝒎
valência nos
𝟏 átomos
✓ Para 𝒓 = 𝟏, 𝟎𝟎 𝒏𝒎: 𝑼 = 𝟏, 𝟒𝟒𝟎 𝒆𝑽. 𝒏𝒎 = 𝟏, 𝟒𝟒 𝒆𝑽
𝟏, 𝟎𝟎 𝒏𝒎
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Revisão do Eletromagnetismo
Consequências dessa energia de alguns eletronvolts
1) É por isso que todas as técnicas espectroscópicas usam luz visível ou muito próxima ao
visível (infravermelho ou ultravioleta). Sabia disso?
2) O que os seus olhos veem é a distribuição dos elétrons nos átomos. Eles são tantos que não
dá para distinguir a luz de um deles individualmente. Sabia disso?
3) Todos os sensores de luz e também as células solares são feitas de Silício, porque esse
material gap de energia de 1,1 eV. Sabia disso?
𝒆𝟐
❖ Escala de energia para sistemas nucleares: 𝒓 ~ 𝟏𝟎−𝟏𝟓 𝒎 (𝒇𝒎): = 𝟏, 𝟒𝟒𝟎 𝐌𝒆𝑽. 𝒇𝒎
𝟒𝝅𝜺𝟎
𝟏 Ordem de grandeza da
✓ Para 𝒓 = 𝟏 𝒇𝒎: 𝑼 = 𝟏, 𝟒𝟒𝟎 𝑴𝒆𝑽. 𝒏𝒎 𝟔
= 𝟏, 𝟒𝟒 𝐌𝒆𝑽 energia dos prótons e
𝟏𝟎 𝐧𝐦 nêutrons nos núcleos
Consequências dessa de energia de milhões de eletronvolts: dos átomos
1) É por isso que as técnicas de raios-x (e tomografias em geral) usam luz invisível muito
energética, com energia que vai de 20 keV até 𝟓𝟎𝟎 keV.
2) As imagens que se vê nas ressonâncias magnéticas e tomografias por emissão de pósitrons
são, na verdade, imagens da distribuição dos núcleos dos átomos.
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Revisão do Eletromagnetismo
Ingredientes da análise: partícula com carga elétrica 𝒒𝟏 entra em movimento

𝑬𝟏 campo elétrico de 𝒒𝟏 em movimento


𝑭 = 𝒒𝟐 𝑬𝟏 + 𝒒𝟐 𝒗𝟏 × 𝑩𝟏
𝑩𝟏 campo magnético de 𝒒𝟏 em movimento

Fatos observacionais:

• Partícula carregada em repouso gera variação espacial estática no campo elétrico


intrínseco 𝑬 (Coulomb)

• Partícula carregada em movimento constante gera variação espacial estática no campo


magnético intrínseco 𝑩 (Biot-Savart)

• Variação temporal de 𝑬 gera alteração espacial dinâmica em 𝑩 (Ampère)

• Variação temporal de 𝑩 gera variação espacial dinâmica em 𝑬 (Faraday)

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Revisão do Eletromagnetismo
✓ Partícula com 𝒒 em movimento dentro de 𝑬 e 𝑩 fica sujeita à força de Lorentz (esta é a lei geral
que dá utilidade prática aos conceitos de 𝑬 e 𝑩). Ela conecta o eletromagnetismo com a Mecânica.
𝑭 = 𝒒 𝑬 + 𝒗 × 𝑩 = 𝑭𝑬 + 𝑭𝑩
𝑭𝑬 muda valor de 𝒗 Consequências: 𝑭𝑬 transfere energia e 𝑭𝑩 não!
𝑭𝑩 muda direção de 𝒗 (É aqui que Eletromagnetismo e Mecânica se encontram)
A força de Lorentz não descreve detalhes dos campos 𝑬 e 𝑩. É aqui que entra Maxwell-
Heaviside:

Lei de Gauss 𝝏𝑩
𝛁∙𝑬=𝟎 (a) Lei de Faraday 𝛁 × 𝑬 = − (c)
no vácuo 𝝆 𝝏𝒕
𝛁∙𝑬= 𝝏𝑩
na matéria 𝜺𝟎 𝛁 × 𝑬 = − 𝝏𝒕
Lei de Gauss 𝛁∙𝑩=𝟎 (b) 𝝏𝑬
Lei de Ampère 𝛁 × 𝑩 = 𝝁𝟎 𝜺𝟎 (d)
𝝏𝒕
𝛁∙𝑩=𝟎 𝝏𝑬
𝛁 × 𝑩 = 𝝁𝟎 𝑱Ԧ + 𝝁𝟎 𝜺𝟎
𝝏𝒕
𝑬 e 𝑩 → estáticos 𝑬 e 𝑩 → dinâmicos
Equações de Maxwell-Heaviside
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Revisão do Eletromagnetismo
Qual a utilidade dos campos 𝑬 e 𝑩, além de explicar circuitos elétricos?

𝝏𝑩
i) Tome o rotacional de (c): 𝛁 × 𝛁 × 𝑬 = −𝛁 ×
𝝏𝒕

ii) Use a relação: 𝛁 × 𝛁 × 𝑨 = 𝛁 𝛁 ∙ 𝑨 − 𝛁𝟐 𝑨

𝝏
iii) Dê uma garibada: 𝛁 𝛁∙𝑬 − 𝛁𝟐 𝑬 =− 𝛁×𝑩
𝝏𝒕
𝝏 𝝏𝑬
iv) Use as outras equações e ... 𝛁 𝟎 − 𝛁𝟐 𝑬 =− 𝝁 𝜺
𝝏𝒕 𝟎 𝟎 𝝏𝒕

𝝏 𝟐𝑬 𝟏
v) 𝑬 forma uma onda! 𝛁 𝟐 𝑬 = 𝝁𝟎 𝜺 𝟎 𝟐 𝝁𝟎 𝜺𝟎 = 𝟐
𝝏𝒕 𝒗

NOTA: Em geral usa-se 𝒗 ≡ 𝒄. Cuidado! Aqui 𝒄 ≡ 𝒄𝑬𝑴 , que coincide (apenas no


vácuo) com a máxima velocidade prevista pelo princípio da causalidade, que é 𝒄.
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Revisão do Eletromagnetismo
Vamos rearranjar as coisas de outro jeito?
𝝏𝑬
vi) Tome o rotacional de (d): 𝛁 × 𝛁 × 𝑩 = 𝝁𝟎 𝜺 𝟎 𝛁 ×
𝝏𝒕
vii) Repita todo o resto e ... 𝑩 também forma uma onda!
𝟐𝑩
𝝏
𝛁 𝟐 𝑩 = 𝝁𝟎 𝜺𝟎 𝟐
𝝏𝒕 Vamos Pensar?
Conclusão • O que significa esse 𝝁𝟎 ?
• Se você entende bem o que as equações
𝑬 e 𝑩 explicam muito mais do que circuitos elétricos. Juntos eles
formam uma onda (escondida nas equações de Faraday e
de Maxwell dizem, tem ou não tem
Ampère) que viaja no vácuo com a maior velocidade possível. ‘algo’ no vácuo que dá suporte à
Mas fora do vácuo 𝒄𝑬𝑴 < 𝒄. Será mesmo? Você sabe explicar isso? existência da luz? Ou uma onda pode
Dica: use Física II. se propagar no ‘nada’?
𝟏 𝟏
𝒄= = = 𝟐𝟗𝟗. 𝟕𝟗𝟐. 𝟒𝟓𝟖 𝒎/𝒔
𝝁𝟎 𝜺 𝟎 𝟒𝝅 × 𝟏𝟎−𝟕 𝑵/𝒎 × 𝟖, 𝟖𝟓 × 𝟏𝟎−𝟏𝟐 𝑭/𝒎
Este foi o maior triunfo do Eletromagnetismo!
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Inconsistências da Mecânica Clássica
Inconsistência no conceito de intervalo de tempo
✓ Fato experimental: prótons são estilhaçados por raios cósmicos (em aceleradores também).
Quando 2 prótons colidem, seus quarks são liberados e imediatamente se recombinam em
outras partículas. Uma delas é o méson-𝝅 (píon ou 𝝅+ ), formado por 1 quark e 1 antiquark.
✓ O que se observa em laboratório? Méson-𝝅 em repouso existe por 𝟐𝟔 𝒏𝒔∗ . Mas se viaja com
𝒗 = 𝟎, 𝟗𝟏𝟐𝒄 ele existe por 𝟔𝟑, 𝟕 𝒏𝒔. O tempo de um evento depende do observador? Para
Newton ele deveria ser igual. O que está acontecendo? Se tem algo errado, o que será?

𝒗𝟏 Classicamente, 𝝉
deveria ser o
Méson viajando para a direita 𝒗𝟏 Méson parado 𝝉𝟐 = 𝟐𝟔 𝒏𝒔 mesmo para
𝒗𝟐 = 𝟎 𝑶𝟏 e 𝑶𝟐 .
laboratório 𝒗𝟏 = 𝟎, 𝟗𝟏𝟐𝒄 laboratório
𝝉𝟏 = 𝟔𝟑, 𝟕 𝒏𝒔 *Demonstração experimental da
dilatação do tempo e da contração
−𝒗𝟏 do espaço dos mésons da radiação
cósmica. RBEF. v. 29, n. 4, p.
585-591, (2007)
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Inconsistências da Mecânica Clássica
Inconsistência no conceito de distância
✓ Se o observador 𝑶𝟏 no laboratório marca locais onde o 𝝅+ foi gerado e onde decai, ele
encontra 𝒅𝟏 = 𝒗𝟏 𝝉𝟏 = 𝟏𝟕, 𝟒 𝒎, sendo 𝒗𝟏 - velocidade do 𝝅+ .
✓ No referencial 𝑶𝟐 do 𝝅+ , a distância é 𝒅𝟐 = 𝒗𝟏 𝝉𝟐 = 𝟕, 𝟏𝟏 𝒎. 𝒗𝟏 - velocidade das marcas
para a esquerda. A distância percorrida depende do observador? Para Newton ela não
depende de quem mede.

𝒗𝟏 Classicamente, 𝒅
deveria ser o
𝒗𝟏 mesmo para
𝒗𝟐 = 𝟎 𝑶𝟏 e 𝑶𝟐 .
laboratório 𝒗𝟏 = 𝟎, 𝟗𝟏𝟐𝒄 laboratório
𝒅𝟏 = 𝟏𝟕, 𝟒𝒎 𝒅𝟐 = 𝟕, 𝟏𝟏𝒎
Vamos Pensar?
−𝒗𝟏 Você tem alguma ideia do que
está por trás de ∆𝒕 e 𝒅 serem
os mesmos na Física Clássica?
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Inconsistências da Mecânica Clássica
Inconsistência no conceito de velocidade Vamos Pensar?
Isto viola o Eletromagnetismo, para o 𝟏qual é
✓ Ao longo do experimento, o píon em um 𝝅+ decai 𝒗 < 𝒄. Você viu em Física IV que 𝒄 = 𝜺 𝝁 .
𝟎 𝟎
múon 𝝁− (que posteriormente decai em elétron,
Se 𝛆𝟎 e 𝛍𝟎 não existissem (fossem nulos):
neutrino e antineutrino).
✓ 𝝁− se desloca no mesmo sentido do 𝝅+ com 𝒗 = 𝟎, 𝟐𝟕𝟏𝒄. i) Com que velocidade uma informação se
propagaria no espaço?
✓ Previsão teórica para a velocidade do 𝝁− , segundo 𝑶𝟏 :
ii) Em Física III e Física IV você considerou 𝛆𝟎 e
𝒗 = 𝟎, 𝟗𝟏𝟐𝒄 + 𝟎, 𝟐𝟕𝟏𝒄 = 𝟏, 𝟏𝟖𝟑𝒄 𝛍𝟎 não nulos e ao mesmo tempo considerou 𝒄
Essa operação é lógica Esse é o resultado infinito. Você percebeu isso? Mais tarde se
esperado classicamente
convencerá que fez isso mesmo, quando
✓ E qual é o valor observado? 𝒗 = 𝟎, 𝟗𝟒𝟖𝒄 descobrir que existem dois tipos de 𝒄′s.
(compatível com o Eletromagnetismo)
Isso viola: i) o sendo comum e ii) a Física Clássica iii) Como seriam os valores das forças
Conclusão: ou o conceito de velocidade precisa mudar ou a forma como as agregadoras da matéria? Lembre-se que
𝑭𝑬 ~ 𝟏/𝛆𝟎 e 𝑭𝑩 ~ 𝝁𝟎 .
velocidades são combinadas precisa ser redefinida. Nem todo 𝒗 pode ser
somado! Tem alguma coisa estranha aqui. Será que estávamos usando a NOTA: Os corpos são feitos com 𝑭𝑬. Por acaso
teoria errada desde sempre e não percebemos? Vamos descobrir! eles não se quebram? Então, 𝛆𝟎 pode ser nulo?
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