remontam a cerca de 2000 a.C. Ao longo do tempo, essa arte se estabeleceu como
também típica japonesa, com grandes contribuições feitas pelo monge Toba-sojo,
que desenhou “Choju Giga”, no período Heyan (795-1185), e Sesshu, no período
Muramaki (1333-1587), considerado o primeiro estilo puramente japonês de
desenho sumie.
São termos relacionados à arte: sumi (tinta), suzuri (bastão de tinta), bokusho
(arte), kami (papel), e o fude (pincel, escova).
O mais importante é que o sumie representa não somente uma bela e singular
forma de arte, mas também uma filosofia. Enquanto a maioria da pintura ocidental
clássica teve como meta a descrição realista do mundo e seus objetos, o sumie
sempre foi expressão de percepção do artista. Pintores tentando capturar a
essência de um objeto, pessoa, ou paisagem: mais importância para a sugestão
que para o realismo. A pintura ocidental usa a cor para criar sombras, tons e um
sentido de espaço. O sumie tradicional, por outro lado, usa unicamente tinta preta.
Na pintura oriental, a tinta preta é a mais alta simplificação de cor.
Esse foi o espírito que levou muitos Samurais a praticarem o Zen e o Sumie. Um
golpe de espada deve ser realizado espontaneamente sem chance para correções
ou reflexões, caso contrário já se estaria morto devido à velocidade que ocorriam
os confrontos.
No Sumie, utiliza-se uma tinta feita de fuligem e cola (Sumi) e pincéis de pêlo de
ovelha ou texugo de maneira a reter muito líquido. Mas é o papel, na maior parte
das vezes fino e absorvente, que dá a principal característica deste tipo de pintura.
Hoje no Japão, muitos executivos e pessoas de altos cargos praticam o Sumie, não
somente como forma de relaxamento ou busca de paz interior, mas também como
forma de melhorarem a eficiência nos negócios, principalmente no que diz respeito
à tomada de decisões rápidas.
Para se pintar Sumie, o praticante tem que conhecer perfeitamente o objeto que
vai pintar, para que não exista reflexão ou dúvida durante o processo criativo deve
ocorrer uma observação quase que constante das coisas à volta, assim sua prática
também traz uma consciência maior sobre a vida, pois com ela começa-se a existir
uma maior sensibilidade das coisas e pessoas que nos cercam.
Uma pintura de Sengai (1750-1837), muito elogiada pela sua riqueza imaginativa
e humorística, foi a de uma abóbora dançando sobre as ondas. A inscrição que a
acompanha explica sua semelhança à compreensão da verdade última que escapa
sem cessar, apesar dos esforços mais renitentes. Ora a abóbora mergulha, ora
emerge novamente, e flutua diante de nossos olhos. Só não conseguimos agarrá-
la. Só a confiança cega e o ininterrupto aparar-se no apoio da fé e no objetivo da
iluminação levam à outra margem de modo totalmente inesperado, quando já nem
mais se nutria essa esperança. Com freqüência isso ocorre somente numa idade
avançada. É o que Hakuin (1685-1768) deseja transmitir através de seus quadros-
parábolas, repetidos tantas vezes de modo quase idêntico, nos quais dois ou três
cegos, tateando com cuidado, atravessam uma pequena ponte. Seu comentário a
respeito diz o seguinte: “Que o tatear dos cegos ao atravessar uma ponte sirva de
modelo de vida no decorrer da velhice...” (p.104 – o Zen na Arte da Pintura.
Brinker, Helmut. Ed. Pensamento).
Dois temas foram transmitidos à arte zen com uma preferência especial. São eles:
bambus e orquídeas, na maioria das vezes interligados a rochas bizarras. Graças
às suas formas encantadoras, à sua elegância e a seus atributos, na Ásia, como
fonte inesgotável de inspiração, ambas as plantas prestam-se como meio de
expressão ideal e específico às idéias zen-budistas. Além disso, a ligação tão
próxima entre a pintura e a arte caligráfica ofereceu, principalmente aos monges
aficionados, a oportunidade da redação imediata e espontânea de intuições
espirituais ou de sensações pessoais...
Em outras palavras, o chi faz a pintura existir por si e movimenta-a além dela própria. É
o que Jacques Maritain chama de ‘ação imanente’ em sua exposição sobre a
intuição criativa. A ação dos artistas nasce da sua concepção do que seja o
universal.
Isto parece bastante profundo e denso. Não se trata de saber se o Taoísmo
representa alguma coisa ou se os artistas são o que sempre foram por toda parte.
Cooper diz o seguinte: “O artista não safa para estudar a natureza, para usá-la
como fuga e voltar à noite para seu estúdio na cidade. Ele vivia com a natureza e
era parte, porção dela. Ela não era exterior a ele de modo algum, algo para
acalmar e se deliciar, mas era o seu próprio ser. Ele estava inteiramente
identificado com a harmonia e com os ritmos cósmicos numa percepção total. A
arte taoísta era inteiramente metafísica, a arte era o espelho da alma”.
“Chen Jung chamava a atenção pela simplicidade de sua vida e pela competência
com que cumpria seus deveres como magistrado. Enfim, era admirado pelos seus
hábitos de beberrão inveterado. Ele fazia nuvens borrifando tinta em seus quadros.
Para a neblina, borrifava água. Quando excitado pelo vinho, dava um sonoro grito
e, apanhando o chapéu, usava-o como pincel, besuntando rudemente o desenho, e
depois terminava o trabalho com um pincel adequado”.
Como diz Bolen: “Fazer a experiência do Tao eterno exige que nossa consciência
perceba através do funcionamento do hemisfério cerebral direito, desligando o
funcionamento analítico e cético do hemisfério esquerdo”.
Pode-se argumentar que um artista apenas tem a consciência de que determinadas
atividades idiossincráticas precipitam o acesso ao imanente, mas não tem medo de
utilizá-las. A espontaneidade e a ausência de convenções associadas ao Taoísmo
teriam feito com que isso ficasse mais fácil.
Tanto na arte como em todos os outros aspectos da vida taoísta, a meta é atingir a
harmonia, não importa como. A harmonia é a solução dos opostos, e assim,
aproxima-se de uma consideração mais completa do yin e do yang.
Em suma, nos tempos antigos, os trabalhos de arte eram feitos e vistos como
especiais e não exclusivamente como magia prática. Suas representações da
harmonia tinham a intenção de induzir harmonia.
“O que é yin indica forma; o que é yang indica espírito. Dez mil coisas (o mundo
cotidiano), todas com uma forma e escondendo um espírito, estão em movimento
com a multidão. Quando o yin e o yang se harmonizam, as dez mil coisas são
transformadas. Chama-se a isso a união do chi”.
Já que é uma função do chi unificar a aparência (yin) com a realidade (yang) das
dez mil coisas, o artista que tentar fazer o mesmo deverá aliar-se ao Espírito
Universal para conseguir isso.
Na composição de um quadro, como nas provas de habilidade das artes marciais,
este intercâmbio e equilíbrio entre yin e yang serão vistos muito sutilmente no uso
do claro e do escuro, do espaço e do não-espaço.
De maneira geral, quando o lado esquerdo estiver leve, o lado direito deve estar
carregado; quando o lado direito estiver leve, então o esquerdo deve estar
carregado. O vazio branco é yang ou leve; a pincelada leve de tinta é yin ou
escura. Para desenhar árvores ou pedras, usa-se a pincelada contínua; para
desenhar nuvens e neblinas, usa-se a pincelada leve. Através do que é leve
movimenta-se o que é denso, e o que é denso, se torna leve. Assim todo o quadro
estará cheio do ritmo da vida.
As elevações do solo que indicam a presença do sopro da natureza, com suas duas
correntes de energia masculina e feminina, positiva e negativa, simbolicamente
chamadas dragão e tigre. A posição relativa e a configuração destas são indicadas
por colinas ou por montanhas, são o ponto mais importante no que concerne aos
perfis e às formas da superfície da Terra.
O yin não pode existir sem o yang. Segundo os taoístas, as tragédias humanas
acontecem porque eles muitas vezes estão em desequilíbrio. Fora do reino humano,
toda a teia do Tao é mantida unida pelo seu intercâmbio entre yin e yang. Mas,
como Lao Tzu nos lembra, eles são “harmonizados pelo Sopro imaterial (o chi)”. O
Pao-p’u tzu afirma: “O homem existe no chi e o chi está dentro do próprio homem.
Desde o Céu e a Terra a todas as espécies da criação, não há nada que não precise
do chi para permanecer vivo”.
O mundo das dez mil coisas não permanece estático; ele está em movimento
constante, mudando sempre, fluindo. Diante disso, fixá-lo no papel ou na seda, na
pedra, na argila ou em palavras parece uma contradição.
Usando tinta diluída sobre seda ou papel poroso, o pincel ajuda o pintor ou o
calígrafo (em geral, a mesma pessoa) nisso. Na verdade, o meio utilizado exige do
artista a manutenção da “imediatez” do processo.
Como diz Watts ao analisar a arte da caligrafia: “Se você hesita, segurando o pincel
por tempo demais num lugar, ou se se apressa, ou tenta corrigir o que já escreveu,
os borrões ficam muito evidentes. Mas se você escrever bem, terá ao mesmo
tempo a sensação de que o trabalho está acontecendo por si, que o pincel está
escrevendo sozinho - como um rio que faz curvas elegantes, seguindo a linha de
menor resistência”.
O Tao que o Taoísmo conhece e com o qual sua arte está relacionada é uma teia
inconsútil de movimento e de mudança ininterrupta, repleta de ondulações, de
ondas, de padrões de ondulações e de “ondas fixas” temporárias, como um rio.
Cada observador em si é uma função integrante dessa teia.
“...ao mesmo tempo, há a sensação de que o trabalho está acontecendo por si, de
que o pincel está escrevendo sozinho.”
A partir de traços antigos de tinta vermelha e preta (utilizada para pintar caracteres
sobre conchas de tartaruga e ossos de animais, com o propósito de oráculo), pode-
se perceber que a arte do sumi igualmente antecede as várias formas de pintura
atuais. O mais antigo exemplar foi encontrado junto com um carvão em um túmulo
do período da dinastia Qin, o primeiro Imperador da China (221 a 202 a.C.).
Antigas escrituras indicam que o primeiro sumi do Japão foi trazido da China em
610, mas evidências arqueológicas sugerem que já era utilizado anteriormente a
isso. Em 822, houve publicações sobre o uso de sumi, possibilitando sua
propagação por todo o Japão.
Embora o sumi japonês tenha sido baseado no sumi chinês porém modificado de
acordo com o local e clima, o sumi produzido no período Meiji (1868 – 1912) ainda
era inferior se comparado em termos de qualidade. O sumi chinês, além de ter uma
vida útil muito longa, com o tempo uma profundidade especial emerge de sua cor
negra, apurando-a. Por isso, o “kobuko” – sumi de 400 anos atrás – é tão
apreciado e conseqüentemente tão caro. De qualquer forma, o sumi atual japonês é
de boa qualidade e as duas maiores áreas de produção são Nara e Suzuka.
Kumano, por sua vez, é famoso pela qualidade dos seus sumi.
Entre os séculos XII e XIV, o Rinzai Zen passou a ser muito popular na classe dos
samurais que dominava o Japão. Os samurais valorizaram a imediata
praticabilidade do treinamento, que era adaptado para satisfazer as necessidades
urgentes daqueles anos de turbulência. A coragem e a determinação dos guerreiros
fizeram deles discípulos particularmente fortes. Abriram-se templos do Rinzai, em
Kamakura, a capital militar, e o sistema nativo do “Guerreiro Zen”, com seu koan
próprio, começou a se expandir. Nesse meio tempo, o Soto Zen desenvolveu-se
independentemente da agitação política da capital.
Dogen nasceu em 1200. Seu pai morreu quando ele tinha dois anos, e sua mãe
faleceu cinco anos depois. Com a idade de treze anos foi viver com um tio, um
devoto do Budismo. A perda de seus pais e o incentivo de seu tio confirmaram a
decisão do Dogen de tornar-se monge. Alguns anos mais tarde, foi para o mosteiro
de Kenninjo, fundado por Eisai, e estudou com o sucessor do Dharma de Eisai,
Myozen. Durante o tempo que ficou em Kenninjo, o Dogen completou seu
treinamento na tradição Rinzai e recebeu o “Inka”, o selo de mestre. Apesar disso,
não tinha resolvido satisfatoriamente seu dilema básico quanto ao significado da
vida. Suas dúvidas levaram-no a empreender uma viagem arriscada, para a China,
em 1223. Uma vez lá, estudou com o Mestre Ju-ching (1163-1228) no mosteiro de
T’ien-T’ung. Tudo leva a crer que o treinamento foi duro e, no início, não teve uma
vida fácil. Seu Daí-Kensho ocorreu da seguinte maneira:
Ju-ching vendo que a iluminação do Dogen era genuína disse por fim: “Você
realmente deixou cair o corpo e a mente!”
O Dogen ainda insatisfeito persistiu: “Em que você se baseia para dizer que não me
aprovou facilmente?”
Em 1236, Dogen fundou seu próprio templo, e sua fama de mestre começou a se
espalhar. Hoje, ele é reverenciado como um dos maiores gênios religiosos do
Japão. Dogen não tinha nada em comum com as lutas do poder aristocrático e
militar do seu tempo e isto, combinado com sua insistência em afirmar que
mulheres e homens eram igualmente capazes de realizar o Caminho de Buda, fez
do Soto uma tradição realmente sem classes.
Foge ao escopo deste livro fornecer uma pesquisa detalhada dos ensinamentos do
Dogen; todavia, deve-se mencionar que seu impacto sobre o Zen japonês foi
incomensurável e nenhum discípulo bem-intencionado poderá desprezar sua obra.
Durante todos estes anos, uma escola tem criticado a outra, e cada uma pode estar
certa dentro de sua própria perspectiva. Os praticantes do Rinzai criticam seus
congêneres do Soto por subestimarem a realização do Satori, e os últimos criticam
os primeiros por não considerarem que a prática diária do Caminho não é nada
mais do que realizar a Iluminação.
É preciso que alguém tenha a capacidade do próprio Dogen para obter a aprovação
de mestre em uma tradição, e ainda reconhecer que existe algo a ser aprendido
com a outra. Entretanto, foi precisamente isto que o Roshi Daiun Sogaku Harada
(1872-1963) fez. O Roshi Yasutani, seu sucessor do Dharma, disse a respeito dele:
“Embora ele próprio fosse da seita Soto, não conseguiu encontrar um mestre
verdadeiramente realizado naquele seita e, portanto, submeteu-se ao treinamento
no Shogen-ji e, depois, no Nansen-ji, dois mosteiros Rinzai. Em Nansen-ji,
finalmente, apoderou-se do segredo mais profundo do Zen, sob a orientação do
Roshi Doku-tan, um eminente mestre.” Em conseqüência, os sucessores do Dharma
do Roshi Harada usaram ambos os métodos de ensino, Soto e Rinzai, e
argumentaram que assim procediam de uma maneira inovadora, tradicional e
flexível.
Menciona-se tal fato devido à profunda influência que o Roshi Yasutani e outros
dessa linhagem tiveram sobre o desenvolvimento do Zen no Ocidente.
Pinceladas e Cores
O artista deve aprender a usar a tinta livremente com uma pincelada controlada.
Eles devem ser capazes de capturar a essência ou espírito do tema em suas
pinturas. Para evocar a poética da natureza, os pintores criam linhas e formas belas
por meios de pinceladas usando muitas técnicas e métodos, trazendo vida ao tema.
O fluxo e o espalhamento de tinta no papel de arroz é a idealização da forma em si.
A essa técnica básica, a cor pode ser adicionada. As fontes dessa cor são variadas,
incluindo jade em pó, pérola branca, malaquita da terra e outros pigmentos
naturais como o rattan amarelo e índigo. Uma parte integral da composição é o
carimbo vermelho (hanko), que expressa o nome do artista. Carimbos adicionais
podem ser somados como indicações da cidade ou filosofia.
Primeiros Temas
Pincel ou escova;Carvão;
Bastão de tinta;
Pano de Algodão;
Prato e Papel.
Os pincéis para o Sumie são feitos de uma variedade de pêlos naturais. Mais
comumente esses incluem pêlo de ovelha, lobo e veado, embora os de texugo e
cavalo sejam também ocasionalmente utilizados. É mais importante que um pincel
seja capaz de fazer linhas com nuances diferentes. Ou seja, a cabeça do pincel
deve produzir manchas leves e pesadas, assim como meios-tons. Um bom pincel de
Sumie permitirá a você criar tons diferentes, além de mudar a forma da linha ao
mesmo tempo. Apesar de alguns bons pincéis de aquarela serem convenientes para
o Sumie, podem ser soltos demais para esse fim. Outro ponto a ser notado em um
pincel é se ele é bem equilibrado quando segurado em ângulo reto em relação ao
papel.
Algumas pedras para tinta são extraídas de pedras de rio – um tipo de ardósia.
Essas são preferíveis às fabricadas. Possuem um pequeno reservatório para água,
em que é raspado o bastão de tinta. O tipo mais famoso é o chinês tankey. A
superfície da pedra é importante, pois se for muito áspera, a tinta não se dissolve
propriamente, e perde seu brilho.
Às vezes os bastões de tinta possuem gordura animal como envoltório. Por isso,
podem se deteriorar ou estragar se não armazenados adequadamente. Deve-se
tomar muito cuidado ao secar o bastão após o uso e embrulhá-lo. Muitos sensíveis,
podem secar e tornar-se quebradiços. A pedra de tinta deve também
constantemente ser limpa, pois sua superfície pode estragar.