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14/05/2020
Número: 0600492-36.2020.6.00.0000
Classe: AÇÃO CAUTELAR
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Ministro Sergio Silveira Banhos
Última distribuição : 13/05/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0600664-12.2019.6.00.0000
Assuntos: Cargo - Prefeito, Abuso - De Poder Econômico, Abuso - De Poder Político/Autoridade,
COVID-19, Ação de Investigação Judicial Eleitoral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CHRISTIANO ROGERIO REGO CAVALCANTE (AUTOR) FABIANO FREIRE FEITOSA (ADVOGADO)
ULISSES BARROS VIRIATO (ADVOGADO)
RENATA ANTONY DE SOUZA LIMA NINA (ADVOGADO)
EDUARDO BORGES ARAUJO (ADVOGADO)
LAYS DO AMORIM SANTOS (ADVOGADO)
MARIA CLAUDIA BUCCHIANERI PINHEIRO (ADVOGADO)
COLIGAÇÃO COM O POVO SOMOS FORTES (RÉU)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
29132 14/05/2020 11:44 Decisão Decisão
238
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL
DECISÃO
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razão de o Presidente da Câmara Municipal de Vereadores se encontrar em
quarentena. Em face disso, o Município está com todas as contas bloqueadas até
que seja designado um titular para a cadeira;
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preliminar de coisa julgada, em face da expressa regra do art. 96-B da Lei 9.504/97
e em virtude de representação já apreciada pela Justiça Eleitoral; e o provimento
parcial dos recursos, para se reconhecer o suposto abuso do poder político, com a
reforma da sentença e cassação da chapa eleita;
iv) apenas uma escola estaria tendo sua pintura reavivada na véspera do
pleito.
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especial, sem que seja necessária a incursão em nenhum outro elemento dos autos,
afastando-se, assim, o óbice dos verbetes sumulares 279 do Supremo Tribunal
Federal e 7 do Superior Tribunal de Justiça;
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x) o acórdão regional permaneceu omisso, visto que os excertos nele
transcritos não atestam que os requeridos se desincumbiram de impugnar
especificamente os fundamentos da sentença;
bb) o prescrito no art. 96-B, § 3º, da Lei 9.504/97 visa a evitar que a
própria Justiça Eleitoral julgue que um fato não é passível de sanção de multa, em
processo transitado em julgado, e, posteriormente, em outros autos, com lastro em
acervo probatório idêntico, venha a decidir pela gravíssima penalidade de cassação
de mandato dos mesmos acusados;
ee) se o fato de ter sido estabelecido por lei cores oficiais para o
município e se a utilização de tais cores na padronização dos prédios públicos,
desde 2013, se revela conduta ilícita, esse debate não tem relação com as eleições,
e, sim, com eventual ofensa aos princípios da impessoalidade e da moralidade;
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administrativa, mesmo aqueles que, em tese, possam ser qualificados como atos
ímprobos. Nesse sentido, cita julgados;
ll) num cenário de grave crise de saúde pública, em que não é possível
sequer realizar novas eleições, em que permanece vaga a chefia do Executivo e na
perspectiva de um acórdão tomado pelo voto de desempate, com reforma da
sentença de improcedência, fica evidente o perigo da demora, a autorizar o
deferimento do pedido de medida liminar;
nn) nos autos do REspe 1-16, o Ministro Luís Felipe Salomão atribuiu
efeito suspensivo a agravo interno, interposto em face de decisão monocrática que
já havia negado provimento a recurso especial, por considerar a necessidade de se
evitarem descontinuidades administrativas, num contexto como o do presente caso;
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neutralizado, derivado de afastamentos automáticos de mandatos impostos num
contexto de grave crise de saúde pública como o presente” (ID 28984238, p. 67).
É o relatório.
Decido.
A petição inicial está subscrita por advogados habilitados nos autos (ID
28984288).
[...]
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Desse modo, na linha do dispositivo acima, nos casos em que o recurso
especial foi meramente interposto — e, portanto, não submetido ainda ao exame de
admissibilidade —, a competência para a apreciação de eventuais medidas de
urgência é do Presidente do Tribunal recorrido, ao qual também cabe o juízo prévio
dos requisitos recursais.
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Isso porque a execução imediata do julgado, já indicada pelo colegiado
da Corte de origem, poderia causar danos irreversíveis à administração municipal e
ao exercício do mandato, bem como acarretar custos eventualmente desnecessários
ao erário, considerando-se o disposto no art. 224, § 3º, do Código Eleitoral.
I.1. Nos termos das Súmulas nº 634 e 635, ambas do STF, na pendência do juízo
de admissibilidade do apelo nobre, compete ao presidente do Tribunal a quo o
exame de pedido acautelatório visando à suspensão dos efeitos de acórdão
condenatório.
I.2. Essa diretriz foi, por legítima opção do legislador, positivada no art. 1.029, §
5º, I e III, do CPC (Lei nº 13.256, de 4.2.2016).
I.3. Desse modo, não se cuida, tal como antes, de exclusiva superação de
enunciado sumular, construído ainda na vigência do CPC de 1973 e aplicável, por
analogia, no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, mas de suplantar diploma legal
no qual inserida regra expressa de competência sobre o juízo da cautelar.
I.4. Daí por que essa providência exige redobrado rigor, devendo ser circunscrita,
em atenção ao princípio da inafastabilidade da jurisdição de natureza efetiva -
assim compreendida como aquela capaz de evitar o perecimento irreparável do
direito vindicado -, às situações em que: (i) formulado o pedido acautelatório ao
presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, não se tenha, em tempo
razoável, deliberação daquele órgão; e (ii) indeferido o pedido de liminar,
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permaneça pendente, na origem, o exercício do juízo de admissibilidade do
recurso especial.
I.5. O que não se pode conceber é que fique ao exclusivo talante da parte a
escolha entre formular o pedido acautelatório perante o presidente do Tribunal
Regional ou aviá-lo diretamente, de forma dissociada do texto legal, ao Tribunal
Superior Eleitoral per saltum.
No caso dos autos, há, pelo menos, três outros elementos, peculiares à
presente demanda, que corroboram a possibilidade de acesso direto e excepcional a
esta Corte Superior.
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público [3], o que sugere a necessidade de adoção de medidas profiláticas pela
administração municipal da referida localidade.
Tal cenário sugere que a postergação, ainda que por breve período de
tempo, na apreciação do pleito do autor poderia acarretar quadro de anomia na
municipalidade, com presumíveis danos às ações de combate à Covid-19,
declinadas no relatório de atividades de ID 28988338.
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Poder Executivo Municipal verificadas naquela Municipalidade, com sérias
implicações na imprescindível e adequada gestão do sistema de saúde.
Desse modo, a meu sentir, a soma de todos esses fatores recomenda – neste
caso específico, diante das circunstâncias excepcionais, torno a enfatizar –
conceder o efeito suspensivo até a conclusão do julgamento do agravo interno.
A exemplo do que entendo ser o caso dos autos, o feitos acima ilustram
a necessidade de hermenêutica própria de crise, com a superação e/ou adequação
de eventuais comandos legais quando se revele absolutamente necessário para o
resguardo de bens constitucionais de especial envergadura.
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Sem prejuízo de ulterior exame das demais teses recursais, destaco,
para os fins da tutela de urgência ora vindicada, aquelas vertidas nos itens “ii” e “iii”.
Verifico no voto proferido pelo eminente Juiz Marcos Antônio Garapa de Carvalho
que a própria jurisprudência por ele citada diz o seguinte e é bem claro que o
ajuizamento de AIJE eleitoral por suposta prática de abuso de poder econômico
prevista no artigo 22 da lei 64/90 não impede o manejo de representação por
captação ilícita de recursos, alicerçada no art. 30-A da Lei nº 9.504/97.
Portanto, Sr. Presidente, é possível com os mesmos fatos você ajuizar uma AIJE
e uma Representação. Ou seja, porque uma é mais elástica do que a outra. As
consequências de uma AIJE não são as de uma Representação.
Então pelo que eu entendi, pelo que eu li, estava muito tendente a seguir o voto
divergente, mas eu reli novamente as anotações de hoje e eu entendo que aqui
não há coisa julgada. E digo mais, o TSE disse o seguinte: as naturezas das
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ações são diferentes, a procedência de uma não impede também o ajuizamento
da outra.
Então nesse caso aqui, apesar de ser o mesmo fato e conjunto probatório, a
gente entende que são pedidos distintos que impedem a coisa julgada. Então, eu
mantenho meu voto no sentido de negar a coisa julgada.
Como se vê, embora tenha julgado em separado um dos processos (RP 326-97,
cujo trânsito em julgado se operou em 09.02.2018), o juízo da 15ª Zona usou
exatamente o mesmo raciocínio, inclusive com a mesma fundamentação em uma
e outra sentença.
Além do fato do juízo recorrido ter decidido ambas as demandas de modo igual,
apesar de ter afirmado que elas eram distintas, vê-se que nenhum ato processual
foi praticado no processo n.º 309-61 após a separação dele da RP 326-97, pois
mesmo a audiência designada para ouvir testemunhas no dia 22/03/2018, acabou
por ser encerrada sem a tomada de qualquer depoimento em razão do recorrido
ter pedido que fossem trasladados os termos das testemunhas ouvidas no
processo n.º 568-56.
Ora, não apenas fica claro o equívoco do juízo da 15ª Zona Eleitoral, que
tumultuou o andamento de todos os processos conexos ao separá-los, como
conclui-se que aquele tumulto somente trouxe prejuízos para a solução das
demandas, inclusive para aquele que foi julgado posteriormente e agora em
análise.
O registro de tais erros no procedimento por parte do juízo da 15ª Zona Eleitoral
fez-se necessário para que não haja qualquer dúvida acerca de dois pontos:
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Primeiro, convém registrar que, ao apreciar matéria semelhante a que aqui se
discute, o TSE estabeleceu a diretriz jurisprudencial a ser seguida ao se apreciar
a ligação entre feitos regidos pela Lei das Eleições e a Lei das Inelegibilidades.
Confira-se:
[...]
b) tal qual registrado nas duas sentenças pela magistrada, o bem jurídico tutelado
pelas duas ações é equivalente, tendo sido identificado na RP 326-97 como “a
igualdade de oportunidades entre os candidatos nos pleitos eleitorais”, ao passo
que no RE 309-61 visa proteger a “a normalidade e a legitimidade das eleições”;
c) se numa demanda sobre os mesmos fatos, proposta pela mesma parte contra
o mesmo réu, o juízo natural disse que eles não foram capazes de macular o
processo eleitoral, e se esta decisão transitou em julgado, a demanda conexa que
tratava da mesma conduta, proposta pelas mesmas partes, contra o mesmo réu,
não pode ter seguimento, por ofensa à coisa julgada material.
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Diante de tal quadro, deixar de reconhecer, em relação ao objeto jurídico do RE
309-61, a ocorrência de coisa julgada material representaria grave ofensa ao
princípio da segurança, já que significaria possibilitar a desconstituição de uma
situação jurídica instalada e pacificada no sistema, qual seja, o registro de que
inexiste “ligação entre a utilização das cores laranja e verde em prédios públicos e
propagandas institucionais com eventual prejuízo à higidez do pleito eleitoral,
tampouco de tal fato condicionar o livre exercício do voto pelos eleitores de Ilha
das Flores em prol dos representados (recorridos)”.
Voltando os olhos para o § 3º, do art. 96-B, da Lei 9.504/97, incluído pela Lei nº
13.165/2015, vê-se que, a se adotar a interpretação no sentido de vedar o
ajuizamento de ação eleitoral fundada no mesmo fato apreciado em decisão
proferida em ação eleitoral distinta, haverá clara afronta à garantia fundamental
da inafastabilidade da prestação jurisdicional, contida no art. 5º, inciso XXXV, da
Constituição Federal. Explico. Figure-se, exemplificativamente, uma
representação por conduta vedada a agente público, em que a parte autora
alegue que a conduta do réu se subsume a uma das condutas previstas no art.
73, da Lei nº 9.504/97. Neste hipotético caso, o juiz julga improcedente o pedido,
por entender não haver subsunção do fato descrito na inicial como causa de pedir
remota e a conduta vedada por ele indicada (uma das tipificadas no art. 73).
Ressalte-se ainda que a consequência jurídica da procedência do pedido contido
na ação é a aplicação das sanções dos §§ 4º e 5º do mesmo dispositivo legal,
quais sejam, a suspensão imediata da conduta vedada, quando for o caso, multa
e cassação do registro ou diploma, com inelegibilidade indireta ou reflexa, prevista
no art. 1º, inciso I, alínea “j”, da Lei Complementar nº 64/90. Ocorre que o mesmo
fato foi alegado como causa de pedir em uma Ação de Investigação Judicial
Eleitoral – AIJE, afirmando o autor que incorreu o réu em abuso de poder político
ao praticar tal conduta. É evidente, dada a amplitude do conceito de “abuso de
poder político”, que o mesmo magistrado poderá julgar procedente o pedido,
mesmo não estando subsumida a conduta nas hipóteses previstas no art. 73, da
Lei nº 9.504/97. Acrescente-se ainda que nesta as consequências jurídicas da
procedência do pedido são diversas, quais sejam: a inelegibilidade direta dos
representados e cassação do registro ou diploma.
Pelo exemplo citado, compreende-se, sem margem para dúvidas, que a aplicação
do preceptivo legal invocado findaria por excluir previamente da apreciação
jurisdicional lesão ao interesse público primário da normalidade e da legitimidade
do pleito eleitoral, tão caro ao nosso ordenamento jurídico e previsto
originariamente no art. 14, § 9º, da Constituição Federal.
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Após uma prolongada reflexão sobre a questão, entendo que o dispositivo legal,
por comportar mais de uma interpretação, pode ser compatibilizado com a Carta
da República. E o faço por não enxergar violação à já citada garantia fundamental
na hipótese de se tratarem de ações eleitorais da mesma espécie, já que devem
ser apreciadas com base em idêntico panorama jurídico, ensejando as mesmas
consequências jurídicas. Nesse caso, penso que efetivamente, a bem da
segurança jurídica (princípio extraído da cláusula do Estado de Direito), deverá
ser vedada a propositura de nova ação, ressalva feita à apresentação de novas
provas, criando o legislador aqui uma espécie de coisa julgada secundum
eventum probationis.
[...]
Ante tais razões, VOTO no sentido de resolver a questão de ordem por mim
suscitada, conferindo interpretação conforme à Constituição ao art. 96-B, § 3º, da
Lei nº 9.504/97, incluído pela Lei nº 13.165/2015, para o fim de restringir o
alcance da regra a ações da mesma espécie daquela anteriormente julgada.
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condicionem o exercício do direito de ação (a exemplo das regras de litispendência e
de coisa julgada), em homenagem à segurança jurídica, à coerência da função
jurisdicional e à proteção contra o erro judiciário —, ressalto que esta Corte tem
admitido, ainda que reflexamente, a constitucionalidade do precitado § 3º do art.
96-B da Lei 9.504/97. É o que se depreende do exame da razão subjacente aos
seguintes julgados:
[...]
(AgR-AI 28-84, rel. Min. Edson Fachin, DJE de 4.2.2020, grifo nosso.)
3. Todavia, para tanto, além de similitude fática deve haver exata repetição do
material probatório levado a juízo. Ou seja, o rejulgamento que a norma visa
obstar é aquele que incide sobre as mesmas provas, a teor do art. 96-B, § 3º, da
Lei 9.504/97. Precedentes.
[...]
(AgR-REspe 40-81, rel. Min. Herman Benjamin, DJE de 15.6.2018, grifo nosso.)
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De mais a mais, o efeito prático da adoção da técnica da interpretação
conforme — consistente no julgamento de ação de investigação judicial eleitoral com
os mesmos fatos e provas e proposta, pelo mesmo autor, representação por conduta
vedada já transitada em julgado — vai frontalmente de encontro com a orientação
predominante nesta Corte acerca da litispendência e da coisa julgada em ações
eleitorais, firmada a partir do paradigmático REspe 3-48, da relatoria do Min.
Henrique Neves, DJE de 10.12.2015, de cujo julgamento resultou a seguinte
ementa:
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1. A petição inicial é apta quando presentes seus elementos essenciais (partes,
causa de pedir e pedido) e ausentes os vícios previstos no art. 330, § 1º, do
CPC/2015, de modo a possibilitar às partes o exercício do contraditório e da
ampla defesa, bem como o esclarecimento dos fatos no curso da instrução
processual.
[...]
(AIJE 0601754-89, rel. Min. Jorge Mussi, DJE de 20.3.2019, grifo nosso.)
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5. Vedação a que os legitimados para ajuizar ações de cunho eleitoral trilhem,
concomitantemente, os mais diversos caminhos dispostos na legislação de
regência com vistas a alcançar idêntico resultado - afastamento do candidato do
pleito democrático ou do exercício do mandato popular.
(RO 932-34, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJE de 18.12.2017.)
2. Em que pese o RCED e a AIJE sejam ações distintas, elas possuem, além
das mesmas partes, idêntica causa de pedir remota (fatos). Nesse contexto, e
com o advento das alterações promovidas pela LC nº 135/2010, fica evidente que
a consequência jurídica buscada no presente RCED está abarcada pela
investigação judicial eleitoral, cujas sanções impostas vão, além de almejada
cassação do diploma, a imposição de inelegibilidade por oito anos.
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5. Recurso especial a que se nega provimento.
De início, impende destacar que o gestor público tem autonomia para efetuar as
medidas que julgue necessárias à boa administração de seu município. Se
escolhe determinadas cores para pintar os prédios e logradouros públicos, está
dentro de sua competência e discricionariedade; no entanto, sua escolha deve ser
orientada pelo Princípio da Impessoalidade, no sentido de que jamais seja
utilizada cor(res) que relacionem sua pessoa ou seu partido diretamente com a
administração.
Não foi a situação observada no município de Ilha das Flores, isso porque do
exame do acervo probatório colacionado aos presentes autos, restou
satisfatoriamente demonstrado que diversos bens públicos foram pintados pela
Prefeitura de Ilha das Flores nas cores verde e, principalmente, laranja, ao passo
que a campanha do então gestor municipal e candidato à reeleição Christiano
Rogério Rego Cavalcante estava sendo feita tendo como marca identificadora a
cor laranja. Ante a tão evidente associação, soa mais do que lógico o intuito de
irregularmente associar a imagem da administração muncipal à figura do seu
prefeito/candidato, gerando injustificável prejuízo aos demais candidatos.
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Da leitura desses e de outros trechos do aresto regional, entendo, em
um exame prévio, próprio das medidas de urgência, que: (i) não aparenta estar
perfeitamente evidenciada a vinculação eleitoral, que desborde da seara meramente
administrativa, entre as cores dos demais prédios, pintados antes de 2016, com o
processo eleitoral; (ii) há aparente falta de gravidade a pintura de uma única escola
em período próximo da eleição.
Publique-se.
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Intime-se.
Relator
[2] Dados colhidos da Secretaria de Saúde do Estado de Sergipe, com atualização em 14.5.2020,
disponíveis em: < https://www.saude.se.gov.br/?p=40641 >, acesso em: 14 de Maio de 2020.
[3] Dados por município disponíveis em: < https://todoscontraocorona.net.br/ >, acesso em: 14 de Maio
de 2020.
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