Inicialmente se faz importante ressaltar as mudanças mais significativas
promovidas pela Reforma Trabalhista no Direito Processual Trabalhista. Desta
feita, destaca-se, na fase postulatória, a alteração quanto ao acesso à justiça e a concessão do benefício de justiça gratuita, além da mitigação da revelia. No que tange a fase instrutória, destaca-se a mudança em relação a distribuição dinâmica do ônus da prova e a responsabilidade por dano processual.
Na fase decisória, entende-se como relevante as alterações quanto aos
honorários advocatícios no processo do trabalho. Por fim, na fase recursal, destaca-se a mudança quanto ao recolhimento de custas processuais e depósito recursal.
Passa-se, a seguir, à analise fundamentada das referidas mudanças.
1 - Acesso à Justiça e a Concessão do Benefício de Justiça Gratuita
Na sistemática anterior, o empregado deveria receber salário não
superior a dois mínimos ou fazer declaração de seu estado de miserabilidade, de próprio punho ou por seu advogado, a fim de fazer jus à Justiça gratuita.
Atualmente, é facultado aos julgadores, de qualquer instância conceder,
a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, àqueles que:
Perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento)
do limite máximo dos benefícios do regime geral de previdência social.
Comprovarem insuficiência de recursos para o pagamento das
custas do processo.
Percebe-se que a lei reformista exige a comprovação da miserabilidade,
não sendo suficiente apenas a declaração de pobreza, firmada pelo trabalhador, ou por procurador com poderes especiais. No entanto, tal prova nunca foi exigido da pessoa física, mas tão somente da pessoa jurídica, como o faz Código do Processo Civil.
Dessa forma, entende-se que a disposição reformista padece de
inconstitucionalidade, uma vez que impõe maiores entraves ao acesso a justiça, o que vai de encontro as disposições do artigo 5º, incisos XXXV e LXXIV, que asseguram que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, além de consagrar que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovem insuficiência de recursos.
Para o Ministro do Tribunal Superior do Trabalho e jurista Maurício
Godinho Delgado o instituto da justiça gratuita, pela nova lei, mostra-se: “remodelado de maneira muito mais desfavorável ao ser humano economicamente hipossuficiente do que ocorre seja no Direito Processual Civil, seja nas relações regidas pelo Código do Consumidor”. O referido autor ainda pontua que:
(...) parte significativa parte significativa dos autores de ações
trabalhistas no Brasil são trabalhadores desempregados que litigam contra seus ex-empregadores ou são trabalhadores com renda salarial relativamente modesta - ambos grupos assumindo, nessa medida, o papel de lídimos destinatáriosda justiça gratuita -, infere-se o dramático fechamento do acesso à justiça que apenas essa injustificável regra restritiva e discriminatória há de provocar no sistema judicial brasileiro.
2 - Mitigação da Revelia
Quanto a mitigação da revelia é importante salientar que a lei nº
13.467/17 não trouxe nenhuma novidade em relação a este instituto, eis que, nas ações em que há litisconsórcio passivo, tendo um dos réus contestado a ação, a revelia nunca produziu o efeito disposto no art. 844 da CLT, além da confissão quanto à matéria de fato. Portanto, verifica-se que a verdadeira novidade do dispositivo se dá em relação ao parágrafo 5º, acrescentado pela reforma trabalhista, o qual estabelece que ainda que ausente o reclamado, estando presente à audiência de conciliação, o advogado serão aceitos a contestação e demais documentos apresentados.
Dessa forma, é evidente o reconhecimento do prestígio do
contraditório e da ampla defesa, em consonância com acesso à justiça pelo reclamado. Observa-se que haverá confissão ficta pelo não comparecimento do reclamado ou de seu preposto, no entanto não haverá revelia, uma vez que houve apresentação de contestação, restando revogada a súmula 122 do TST.
3 - Distribuição dinâmica do ônus da prova
A reforma trabalhista alterou toda a redação do art. 818 da CLT, o
qual previa que a prova das alegações incumbe à parte que as fizer. Pelo novo texto do dispositivo legal, foi incorporada a regulação prevista no art. 373 do CPC de 2015, o qual trata da distribuição do ônus da prova processual.
É importante ressaltar que, de maneira acertada, a distribuição
diversa do ônus da prova por acordo das partes, conforme prevê o parágrafo 3º e 4º do referido artigo do CPC, não foi incorporado na CLT.
Eis a nova redação abaixo destacada:
Art. 818. O ônus da prova incumbe: (Redação dada pela Lei nº
13.467, de 2017)
I - ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu
direito; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
II - ao reclamado, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do reclamante. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos deste artigo ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juízo atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 2o A decisão referida no § 1o deste artigo deverá ser proferida antes da
abertura da instrução e, a requerimento da parte, implicará o adiamento da audiência e possibilitará provar os fatos por qualquer meio em direito admitido. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
§ 3o A decisão referida no § 1o deste artigo não pode gerar situação em
que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.
Dessa forma, verifica-se que atualmente a legislação trabalhista
se equipara às exigências do processo comum quanto à inversão do ônus da prova, que estava sujeita a incompreensão dos estudiosos interpretes do direito, sendo deferida de forma descomedida .
4- Responsabilidade por dano processual
A verdadeira novidade quanto à responsabilidade do dano
processual diz respeito a possibilidade de se punir a testemunha por litigância de má fé, e apesar desta não ser parte, assume os mesmos ônus processuais e pecuniários atualmente.
Destaca-se que o TST, por meio da instrução normativa 41 de
2018 estabeleceu que, este dispositivo somente será aplicado nas ações ajuizadas a partir da vigência da lei da reforma trabalhista.
É importante destacar que para Mauro Schiavi a litigância de má
fé caracteriza-se como a conduta da parte tipificada na lei processual, viola os princípios da lealdade e da boa-fé processual, bem como atenta contra a dignidade e seriedade da relação jurídica processual.
Salienta-se que não há punição similar no CPC que faça
referência expressa à sanção, mediante multa, à testemunha. Verifica-se, portanto, que a reforma trabalhista foi além do próprio rigor estabelecido no Código de Processo Civil, demonstrando claramente o propósito de restringir o acesso à justiça na realidade trabalhista brasileira.
5- Honorários periciais
A reforma trabalhista trouxer nova redação para o art. 790, b, da
CLT, além de inserir neste dispositivo os parágrafos 1º ao 4º, como se vê da transcrição abaixo colacionadas:
6 - Honorários advocatícios
6 - Recolhimento de custas processuais e depósito recursal.
Conforme Maurício Godinho Delgado, “pode-se afirmar que sem a ideia protetivoretificadora, o Direito Individual do Trabalho não se justificaria histórica e cientificamente.”21 , linha que se adota nesse trabalho. O autor tece os seguintes comentários acerca desse princípio:
[...] o princípio tutelar influi em todos os segmentos do Direito Individual do
Trabalho, influindo na própria perspectiva desse ramo ao construir-se, desenvolver-se e atuar como direito. Efetivamente, há ampla predominância nesse ramo jurídico especializado de regras essencialmente protetivas, tutelares da vontade e interesses obreiros; seus princípios são fundamentalmente favoráveis ao trabalhador; suas presunções são elaboradas em vista do alcance da mesma vantagem jurídica retificadora da diferenciação social prática.22
Além do princípio da proteção, cabe destacar um dos seus corolários, qual
seja, o princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas, o qual traduz a ideia de que o empregado não pode dispor livremente dos direitos protetivos que lhe são outorgados pelo ordenamento
Maurício Godinho Delgado explica que “a indisponibilidade inata aos direitos
trabalhistas constitui-se talvez no veículo principal utilizado pelo Direito do Trabalho para tentar igualizar, no plano jurídico, a assincronia clássica existente entre os sujeitos da relação socioeconômica de emprego”. 25 Por sua vez, Américo Plá Rodriguez afirma que a irrenunciabilidade é “a impossibilidade jurídica de privar-se voluntariamente de uma ou mais vantagens concedidas pelo direito trabalhista em benefício próprio”.26
REFERÊNCIAS
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 15. ed. São Paulo: LTr, 2016, p. 201.
26 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. Tradução de Wagner
D. Giglio. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000, p. 142.
SCHIAVI, Mauro. A Reforma Trabalhista e o Processo do Trabalho: aspectos
processuais da Lei n. 13.467/17. 2. ed. São Paulo: LTr, 2018.