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PGR-00166765/2020

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA
SECRETARIA-GERAL
Secretaria de Administração
Assessoria de Análise Administrativa

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PARECER Nº 29/2020/ASSAD

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Refererência: PGEA nº PGR-00162158/2020
Interessada: R7 FACILITIES - SERVICOS DE ENGENHARIA EIRELI
EMENTA: Contrato nº 42/2017. Prestação de serviços manutenção com
fornecimento de mão de obra. Solicitação da suspensão da retenção de tributos federais na
fonte em razão da prorrogação do prazo de pagamento de tributos federais, ocorrida em
função do reconhecimento do estado de calamidade pública no Distrito Federal, decorrente
da pandemia do coronavírus (Covid-19).

À Senhora Secretária de Administração,

1. Trata-se de solicitação da empresa R7 FACILITIES - SERVICOS DE


ENGENHARIA EIRELI, de suspensão da retenção de tributos federais, na fonte, em razão
da prorrogação do prazo de pagamento de tributos federais, ocorrida em razão do
reconhecimento do estado de calamidade pública no Distrito Federal, decorrente da
pandemia do coronavírus (Covid-19).
2. A referida empresa, por meio do Contrato nº 42/2017, presta serviços de
suporte técnico, manutenção preventiva, corretiva, operacionalização, implantação e
remanejamento de pontos de rede de dados e de ramais no Sistema de Cabeamento
Estruturado, com fornecimento de mão de obra, sem fornecimento de peças, nas
dependências da sede da Procuradoria Geral da República, em seus Anexos I, II e III e nas

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representações do MPF nas dependências da Câmara dos Deputados, do Supremo Tribunal
Federal, do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal Superior Eleitoral, todos em Brasília
- DF; e, ainda, em outros que porventura venham a ser incorporados ao patrimônio do
CONTRATANTE, vigente até 4/10/2020, conforme informações da Subsecretaria de Gestão
de Contratos no Despacho nº 8503/2020.
3. A solicitação da empresa se funda, a princípio, na PORTARIA MF Nº 12,
DE 20 DE JANEIRO DE 2012, que dispõe, em síntese, o que se segue:

Art. 1º As datas de vencimento de tributos federais administrados pela


Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), devidos pelos sujeitos
passivos domiciliados nos municípios abrangidos por decreto estadual que
tenha reconhecido estado de calamidade pública, ficam prorrogadas para o

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último dia útil do 3º (terceiro) mês subsequente.
§ 1º O disposto no caput aplica-se ao mês da ocorrência do evento que
ensejou a decretação do estado de calamidade pública e ao mês

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subsequente.

4. Além do argumento normativo, a empresa traz à colação Parecer Jurídico,


bem como algumas decisões judiciais, que, a seu ver, albergariam a sua pretensão.
5. Eis o importa relatar.
6. A princípio, ressalta-se que o presente parecer não pretende esgotar a matéria
atinente à prorrogação dos tributos levada a efeito pelo poder público no contexto da
pandemia decorrente da COVID-19, incluindo todos os eventuais reflexos de tal
prorrogação, mas tão somente se ater ao pedido efetuado pela contratada.
7. Em relação a solicitação de suspensão das retenções efetuadas pela
Administração, cumpre esclarecer, antes de mais nada que estas são regulamentadas por lei
e regramentos próprios da receita federal, como se traz à colação:

LEI Nº 9.430, DE 27 DE DEZEMBRO DE 1996.


Seção V
Arrecadação de Tributos e Contribuições
Retenção de Tributos e Contribuições
Art. 64. Os pagamentos efetuados por órgãos, autarquias e fundações
da administração pública federal a pessoas jurídicas, pela
fornecimento de bens ou prestação de serviços, estão sujeitos à
incidência, na fonte, do imposto sobre a renda, da contribuição social
sobre o lucro líquido, da contribuição para seguridade social - COFINS e
da contribuição para o PIS/PASEP.
§ 1º A obrigação pela retenção é do órgão ou entidade que efetuar o
pagamento.

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§ 2º O valor retido, correspondente a cada tributo ou contribuição, será
levado a crédito da respectiva conta de receita da União.
§ 3º O valor do imposto e das contribuições sociais retido será
considerado como antecipação do que for devido pela contribuinte em
relação ao mesmo imposto e às mesmas contribuições.
§ 4º O valor retido correspondente ao imposto de renda e a cada
contribuição social somente poderá ser compensado com o que for devido
em relação à mesma espécie de imposto ou contribuição.
§ 5º O imposto de renda a ser retido será determinado mediante a
aplicação da alíquota de quinze por cento sobre o resultado da
multiplicação do valor a ser pago pela percentual de que trata o art. 15 da
Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, aplicável à espécie de receita
correspondente ao tipo de bem fornecido ou de serviço prestado.

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§ 6º O valor da contribuição social sobre o lucro líquido, a ser retido, será
determinado mediante a aplicação da alíquota de um por cento, sobre o
montante a ser pago.

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§ 7º O valor da contribuição para a seguridade social - COFINS, a ser
retido, será determinado mediante a aplicação da alíquota respectiva sobre
o montante a ser pago.
§ 8º O valor da contribuição para o PIS/PASEP, a ser retido, será
determinado mediante a aplicação da alíquota respectiva sobre o montante
a ser pago.

INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB Nº 1234, DE 11 DE JANEIRO DE


2012
CAPÍTULO I

DA OBRIGATORIEDADE DE RETENÇÃO DOS TRIBUTOS


Art. 2º Ficam obrigados a efetuar as retenções na fonte do Imposto sobre a
Renda (IR), da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da
Contribuição para o PIS/Pasep sobre os pagamentos que efetuarem às
pessoas jurídicas, pelo fornecimento de bens ou prestação de serviços em
geral, inclusive obras, os seguintes órgãos e entidades da administração
pública federal:
I - os órgãos da administração pública federal direta;
II - as autarquias;
III -as fundações federais;
IV - as empresas públicas;
V - as sociedades de economia mista; e
VI - as demais entidades em que a União, direta ou indiretamente detenha a
maioria do capital social sujeito a voto, e que recebam recursos do Tesouro
Nacional e estejam obrigadas a registrar sua execução orçamentária e
financeira no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo

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Federal (Siafi).

8. Especificamente em relação aos prazos de recolhimento, também são


disciplinados pela Receita Federal, na mesma INSTRUÇÃO
NORMATIVA RFB Nº 1234/2012, que informa:

CAPÍTULO IV
DO PRAZO DE RECOLHIMENTO
Art. 7º Os valores retidos deverão ser recolhidos ao Tesouro Nacional ,
mediante Darf:
I - pelos órgãos da administração pública federal direta, autarquias e

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fundações federais que efetuarem a retenção, até o 3º (terceiro) dia útil
da semana subsequente àquela em que tiver ocorrido o pagamento à
pessoa jurídica fornecedora dos bens ou prestadora do serviço; e

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9. Sem prejuízo da existência de outros normativos a reger a matéria no âmbito
da Administração Pública, percebe-se, claramente, que as regras a que se submete a
Administração para retenção de tributos na fonte quando da realização de pagamento a
fornecedores são específicas e tratam, inclusive, dos prazos em que o recolhimento
referente a retenção deve ser realizado.
10. Tais prazos, como o disciplinado na IN RFB nº 1234/2012, não foram
prorrogados, portanto, não teria a Administração o condão de prorrogá-los em flagrante
oposição à norma de regência.
11. Ademais, a própria Receita Federal em seu site, em uma sessão acerca de
perguntas e respostas sobre as Medidas Tributárias Adotas no Combate ao Covid-19
também se posicionou sobre o assunto:
5 . 8 A Portaria nº 139 prorrogou o prazo para o pagamento da
contribuição previdenciária patronal. Isso também vale para a CPRB,
a SAT/RAT e as contribuições a terceiros? Foi prorrogado o prazo de
vencimento das contribuições de que trata os arts. 22 (contribuição
patronal e SAT), 22-A (contribuição da agroindústria), 24 (contribuição
empregado doméstico) e 25 (contribuição do produtor rural pessoa física)
da Lei nº 8.212/1991, o art. 25 da Lei nº 8.870, de 1994 (contribuição do
produtor rural pessoa jurídica), e os arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546, de 2011
(CPRB), porém a Portaria não alcança as contribuições devidas a terceiros,
já que essas contribuições, devidas pelas empresas, não estão previstas no
art. 22 da Lei nº 8.212, de 1991. Por oportuno, essas contribuições tiveram
redução de 50% promovida pela Medida Provisória nº 932, de 31 de março
de 2020, para as seguintes entidades:
I – Sesi; II - Senai; III - Sesc; IV - Senac; V - Sest; VI - Senat; VII - Senar;
e VIII - Sescoop.
A Portaria não alcança também todas as contribuições que envolvem
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substituição tributária, como a Sub-rogação, a retenção dos 11%
efetuada pelas empresas contratantes de serviços prestados por meio
de cessão de mão de obra, e a contribuição das entidades desportivas que
mantém equipe de futebol profissional, já que nessas situações, o
contribuinte de fato (quem suporta o ônus financeiro do tributo) diferencia-
se do contribuinte de direito (quem é responsável pelo recolhimento do
tributo), e as retenções não podem ser efetuadas em outro momento que
não seja aqueles estabelecidos na lei. (grifamos)

12. De outra parte, apenas em atenção aos argumentos colocados pela


contratada, destaca-se que as decisões judiciais trazidas pela parte não são aptas a dar o
suporte necessário à realização da suspensão das retenções por parte da Administração, haja
vista que se tratam de casos diferentes do aqui analisado. Em ambos os casos, a autoridade

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coatora é a administração fazendária e não a Administração enquanto responsável pela
retenção de tributos.

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13. Ademais, tratam de casos ainda incipientes, incapazes de formar
jurisprudência (série de decisões reiteradas em um mesmo sentido), ou de produzir efeitos
erga omnes, ou seja para além das partes envolvidas no processo.
14. Ante o exposto, sugere-se, pelo menos por ora, o indeferimento do pleito,
ante a impossibilidade normativa da Administração de postergar a realização das retenções
tributárias na fonte, quando da realização de pagamentos às empresas contratadas.
15. S.m.j., é o parecer.

Brasília, 5 de maio de 2020.

DAVI LUCAS BOIS


Assessor-Chefe
(Assinado digitalmente)

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