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PORTUGUÊS – 11º B
Prof.: Conceição Ceia
2019/2020
1.1.Tendo em conta que Camões escreveu Os Lusíadas, uma epopeia de exaltação dos
portugueses, é possível considerar a sua estátua como um símbolo da época áurea dos
Descobrimentos (ou pelo menos do desejo de retorno a essa época) que contrasta
fortemente com a realidade de decadência e estagnação que o cerca. É por esse
motivo que, recorrendo a uma personificação, se dá conta da sua desolação.
2.
2.1 Comparação: «aqueles dois hirtos renques de casas ajanotadas lembravam a Carlos
as famílias que outrora se mobilizavam em filas dos dois lados do Passeio, depois da
missa «da uma», ouvindo a banda, com casimiras e sedas, no catitismo domingueiro.»
O objetivo é mostrar que, tal como as famílias se aprumavam apenas para a missa de
domingo, num luxo artificial, também a Avenida foi uma tentativa, por parte da cidade,
de ostentar um luxo postiço, logo desconstruído pelo facto de este espaço terminar
abruptamente nos terrenos do Vale de Pereiro:
«E ao fundo a colina verde, salpicada de árvores, os terrenos de Vale de Pereiro,
punham um brusco remate campestre àquele curto rompante de luxo barato – que
partira para transformar a velha cidade, e estacar logo, com o fôlego curto, entre
montões de cascalho.»
3. Enquanto Carlos e Ega, apesar de terem fracassado nos seus intentos, tiveram, na
sua juventude, o ideal de mudar o país, esta juventude assume, à partida, uma atitude
de imobilismo e total indiferença face à decadência da sociedade portuguesa,
enquadrando-se perfeitamente no seu ambiente de estagnação.
Com efeito, chegam ao ponto de nem sequer se dignarem a esboçar qualquer tipo de
esforço para observar as senhoras, limitando-se a passear, sem propósito, pela
Avenida,
Tal como a «gente feíssima, reles, …acabrunhada» do Loreto, também esta juventude
vem confirmar a degenerescência da raça (provavelmente uma consequência da
educação tradicional portuguesa): «E eles iam, repassavam, com um arzinho
contrafeito, como mal acostumados àquele vasto espaço, a tanta luz (…) , » O que
atraía pois ali aquela mocidade pálida?
4. Porque este era o símbolo de uma sociedade altamente provinciana, que tentava
tornar-se cosmopolita não através da criação de algo original, mas pela imitação
acrítica de modelos importados do estrangeiro. Esta situação era agravada pelo facto
de as caraterísticas do modelo, por uma ânsia desenfreada de civilização, serem
levadas ao excesso, num processo que acabava por resultar num objeto de contornos
caricaturais.
5
5.1. Os bairros antigos de Lisboa.
6. Carlos falhou no seu projeto de exercer medicina no seu consultório, no seu intuito
de realizar grandes descobertas científica nesse campo, através da investigação no seu
laboratório, e no sonho de escrever uma obra inovadora na área da medicina. Ega viu
também todas as suas ambições intelectuais serem goradas; não conseguiu concretizar
o desejo de fundar uma revista nem um grupo de cenáculo. Nunca chegou a
concretizar o seu projeto de escrever as Memórias de um Átomo nem a comédia O
Lodaçal.
9.
9.1. Apesar de terem concluído da inutilidade de todos os esforços, ironicamente os
amigos não conseguem, no fim, permanecer impassíveis em relação à possibilidade de
apanharem o americano.
O fim do romance pode ter duas interpretações: é possível considerar que Carlos e
Ega, à semelhança dos epicuristas, mostram resignar-se a viver apenas para os
pequenos prazeres da vida, uma vez que correm para o americano para chegarem a
tempo de um jantar de amigos. Contudo, também é possível considerar a hipótese de
uma leitura de contornos mais positivos: apesar de afirmarem que todo o esforço é
inútil, Carlos e Ega mobilizam o seu esforço para alcançar algo aparentemente
insignificante: apanhar o americano.
Assim se demonstra que é impossível ao Homem assumir uma atitude de total
desistência face à vida, dado que há sempre uma esperança que se mantém.