EDITORIAL

SUMÁRIO
QUANDO TUDO ISSO PASSAR! JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020/03

A
té onde se tem registro, o Coronavírus apareceu
em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan,
República Popular da China. Desde então, co-
meçaram a surgir várias teorias de conspiração,
que iam desde a sua vez, até a sua prevenção.
Hoje, a Covid-19 tornou-se uma espécie de assunto
obrigatório, mobilizando agentes de saúde, políticos,
amigos e parentes de vítimas. Para os meios de comu-
Pandemia da Covid-19
nicação, tem-se a convicção de que a informação é a lança dúvidas sobre o
melhor prevenção. futuro, mas também, espe-
rança de novos tempos.
Nesta edição da revista Missões, que inclui os meses
Foto: Tmaximumge/PxHere
de junho, julho e agosto, trazemos matérias que vêm
demonstrando que o tempo da pandemia do Corona-
vírus tem servido de reflexão para a Igreja, como um
momento de solidariedade.
Jean-Claude Bafutanga, a partir da Área Indígena  PRO-VOCAÇÕES----------------------------------------03
Raposa Serra do Sol (RR), partilha conosco a experiência Vocação e testemunho de vida
desafiante dos Povos Indígenas em meio à pandemia. Joseph Mampia

A Covid-19 é um desafio acrescido na dura vida destes  ATUALIDADE----------------------------------------------04

povos que já vivem à margem da sociedade por tantos
motivos. Joseph Mampia e Benildes Capellotto divi-
dem conosco a experiência de solidariedade durante
a pandemia no socorro aos mais vulneráveis, ambos a
partir da zona norte da capital paulista, impulsionados
pelo carisma da consolação que vai além da Covid-19.
A pandemia é retratada nesta edição desde vários
cantos do mundo, com a disciplina dos povos orientais
(Coreia do Sul) retratada por Geoffrey Boriga, como
o continente africano, que tem mostrado reações
aceitáveis, surpreendendo o mundo, segundo Malius
Ndyamuhaki.
A realidade da Covid-19 é ainda pano de fundo da
entrevista com o padre Gianfranco Graziola, membro
da Pastoral Carcerária Nacional. Ele apresenta mais
um agravante na vida já difícil da população carcerária
no Brasil.
A edição mostra também algumas alternativas de
saídas honrosas em meio a tudo isso. Edson Luiz Sampel
chama a atenção para a importância de alguns católi-
cos que querem o retorno das missas. Com a decisão
imposta de celebrações sem a presença dos fiéis, eles
têm redescoberto a importância do pão da eucaristia,
mas também do pão da palavra. Enfim, desejamos a
todos que quando tudo isso for superado, tenhamos
passado do vírus do individualismo à vacina da soli-
dariedade, como escreve Alfredo J. Gonçalves. Assim
como desejamos que a comunicação, como uma das
dimensões fundamentais da vida, qualifique, cada vez
mais as nossas relações humanas. Boa leitura! 
Coronavírus e indígenas
Jean-Claude Bafutanga
 MISSÃO EM CONTEXTO-------------------------------06
Fomos consolados para consolar
Joseph Mampia
 VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
Folha de S. Paulo, Repórteres sem Fronteiras
 INTENÇÃO MISSIONÁRIA -----------------------------09
Paulo Monteiro dos Santos
 ÁFRICA----------------------------------------------------10
Coronavírus na África
Malius Ndyamuhaki
 TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Missão em tempo de Pandemia
Benildes Capellotto
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------14
Do vírus do individualismo à vacina da solidariedade
Alfredo J. Gonçalves
 FAMÍLIA CONSOLATA-----------------------------------17
Devoção a Nossa Senhora
Redação
 MISSÕES RESPONDE-----------------------------------21
A Cisma de certos tradicionalistas
Edson Luiz Sampel
 ÁSIA--------------------------------------------------------22
A Covid-19 não conhece fronteiras
Geoffrey Boriga
 DESTAQUE------------------------------------------------24
O Pão da Palavra
Paulo Mzé
 ENTREVISTA-----------------------------------------------28
Sem piedade
Maria Emerenciana Raia
 VOLTA AO BRASIL-----------------------------------------30
Jornal Folha de São Paulo, Reuters

2 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES


Vocação
e testemunho de vida
P
ara um bolo ser feito, é ne-
cessário uma receita. No
entanto, em nenhuma festa
de aniversário corta-se a
receita, mas sim, o bolo. Por
que isso? Porque a receita é apenas
projeto, proposta, anseio, palavras.
O bolo é a concretização da proposta
feita vida, alimento festivo.
E Jesus pensa diferente? Não
é aquele que diz Senhor, Senhor
que entrará no Reino do Céus, mas
sim aquele que pratica a vontade
de meu Pai que está nos Céus (Mt
7, 21-21). Em Lucas (Lc 11, 27-28),
Jesus chama de bem-aventurado
aquele que pratica a Palavra. A vida
em comunhão com Jesus requer
a prática da sua Palavra (Jo 15,
1-17). Praticar os mandamentos é
a maneira de amar a Jesus como
ele nos amou e de permanecer no
seu Amor. Vós sois meus amigos se
praticais o que vos ordeno (Jo 15,
14). Ele ordena que nos amemos
uns aos outros como Ele nos amou.
Ele nos amou não com palavras,
mas com a atitude concreta no
serviço, na partilha do pão até a
entrega total da sua pessoa, amor
ágape. Amor não é uma palavra
abstrata, mas é gesto concreto e
vida. No relato do julgamento final
(Mt 25, 35), o Juiz estabelece o jul-
gamento e o critério de aprovação
na partilha do pão com famintos,
nas visitas aos presos, na acolhida
do forasteiro, na visita ao doente,
PRÓ-VOCAÇÕES
de Joseph Mampia
partilha de roupas com quem está
nu etc. O julgamento se realiza com
a pergunta de quantas vezes leu a
Palavra de Deus por dia ou se era
batizado ou não. Isso é porque o
projeto, a proposta, a Palavra de
Deus tem que ser concretizada e
vivida. Que impacto cria a Palavra
naquele que a vive?
Testemunho e adesão
Praticar a Palavra de Deus é dar
testemunho de Jesus e de si diante
do mundo, de que somos de Deus
e trabalhamos por Ele: “Através
deste testemunho todos reconhe-
cerão que sois meus discípulos: se
tiverdes amor uns pelos outros”
(Jo 13, 35). O testemunho do dis-
cípulo leva as pessoas a acreditar
em Jesus e abraçar a proposta.
Com competência e eloquência
um promotor público fascina; com
testemunho, ele convence. Animar
a vocação com doutrina e força Existe uma ligação
é testemunho, é construir sobre
a rocha, é o melhor marketing
entre animação
(Cfr. Mt 7, 15-27). Testemunhar vocacional e
é tornar presente uma verdade testemunho de vida?
recebida e/ou experimentada, é Como fundamentar
revelar as convicções, sobretudo,
com a prática cotidiana. O anúncio isso nas Escrituras?
da pessoa e da Boa Nova de Jesus
com palavras e exemplo, é intrin-
secamente Animação Vocacional.
Joseph Mampia, imc, é Animador Missionário Vocacional
em São Paulo, SP.
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 3
 ATUALIDADE
Coronavírus
e indígenas
Os efeitos da
Covid-19 entre os
Povos Indígenas são
devastadores.
de Jean-Claude Bafutanga
A
chegada da pandemia do
Coronavírus ao estado de
Roraima em meados de
março de 2020 desarticulou
a vida da sociedade rorai-
mense. As medidas da prevenção
como a de distanciamento social,
quarentena, uso de máscaras, higie-
nização com álcool em gel e outras
relevantes fizeram quase tudo parar.
A doença avança continuamente
da capital aos municípios e às ter-
ras indígenas. Já foram notificados
casos em todos os municípios onde
residem esses povos: Uiramutã,
Normandia, Pacaraima, área dos
Yanomami e outros. O quadro da
contaminação é preocupante.
Os Povos Indígenas contam
com uma forte organização desde
o tempo da luta pela terra e pela
desocupação ilegal dela. Ela inclui
a coordenação das regiões e a li-
derança das comunidades: Tuxaua,
o chefe da comunidade, segundo
4 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
Tuxaua (como vice), vaqueiro, capa-
taz, Agente Indígena de Saúde (AIS)
e Agente Indígena de Saneamento
(AISAN). A organização preparou-se
para lutar e proteger as comunida-
des contra esse inimigo invisível.
No início foi feito o trabalho de
conscientização e divulgação da
informação sobre a Covid-19, como
explicar para as comunidades a im-
portância de limitar o movimento
desnecessário e para as cidades.
Como em todos os lugares as reu-
niões, os encontros comunitários,
as celebrações religiosas e as aulas
presenciais nas escolas precisavam
ser suspensas. O Grupo de Proteção
e Vigilância de Território Indígena
(GPVTI) montou as barreiras nas
estradas e rodovias que dão acesso
às comunidades para assim fiscalizar
as entradas e saídas. A equipe re-
forçou as medidas da higienização,
isolamento social e quarentena para
diminuir o risco do contágio.
Nas áreas indígenas não chegam
o sinal de televisão e não tem inter-
net confiável para uma educação à
distância como nas cidades. Para
ajudar os alunos, a Secretaria da
Educação adotou o sistema onde os
professores entregam apontamen-
tos (materiais preparados das aulas)
nas casas dos alunos e mais tarde
passam recolhendo os trabalhos.
O sistema expõe os educadores,
alunos e membros das comunida-
des ao contágio constante ao vírus.
Segundo o líder indígena Wapixa-
na Mario Nicasso, a doença espalha-
-se mais nas comunidades porque,
“os indígenas são vítimas quando
saem das suas comunidades para ir
às vilas e municípios para comprar
ranchos (alimentação) e também às
vezes quando vão procurar sacar
o dinheiro de auxílio emergencial
proposto pelo governo”. E eles pre-
cisam sair porque esses serviços só
têm nas vilas e nas cidades. Algumas
comunidades, para driblar esse
risco, criaram o sistema de caixa
comum, onde todos contribuem
em dinheiro e são escolhidos alguns
membros para fazer a compra dos
alimentos e depois se montam os
ranchos para distribuir às famílias.
Primeira vítima
No dia 9 de abril registrou-se a
primeira vítima entre os indígenas,
um jovem Yanomami. Depois dele,
os casos de óbitos aumentaram.
O maior desafio é quando o caso
é assintomático. Os indígenas têm
uma vida social bem intensa. Em
pouco tempo a pessoa interage
com várias pessoas da maloca e
da vizinhança. Quando o caso é Facilita-se o tempo suficiente de luto
sintomático se isola e tomam-se com o corpo, que as pessoas chorem
as medidas adequadas. o suficiente e que todos os parentes
O único hospital público no es- e familiares de outras aldeias che-
tado de Roraima para atender os guem e participem integralmente
casos do Coronavírus fica na capital do rito. Enterrar logo, segundo a
e já sofria com superlotação antes norma da vigilância sanitária, é uma
da pandemia. Agora com os casos violência ao rito, pois não oferece
crescentes da doença, entrou em oportunidade de realizá-lo segundo
colapso total. O terror de contrair o seu costume.
a doença ou morrer por falta de Tudo está interligado nesta Casa
atendimento adequado é grande. Comum. A lógica epidemiológi-
Um hospital de campanha montado ca demonstra a necessidade do
em colaboração com a Operação distanciamento social, mas para
Acolhida, do Exército brasileiro, os Povos Indígenas é dilacerar o
o governo estadual e a prefeitura conjunto da vida. Eles sofrem com
de Boa Vista ainda não começou a a doença, a morte, a fome, serviços
funcionar. precários de saúde e educação,
Os indígenas do interior correm o desassistência pastoral e, o pior,
risco maior porque se deslocam por a violência cultural. 
conta própria e quando chegam na
cidade, ficam em casas de acolhida. Jean-Claude Bafutanga, imc, é missionário na Área Indígena
Um indígena da Região Baixo Cotingo Raposa Serra do Sol, em Roraima.
veio acompanhar seu parente com
outra doença no Hospital Geral de
Roraima. O parente ficou curado e o
acompanhante contraiu a Covid-19
sem saber e levou para a comuni-
dade. Felizmente, não espalhou e
se recuperou.
O Coronavírus é mais um de-
safio para os Povos Indígenas que
já vivem às margens da sociedade
atual e com uma imunidade pre-
cária. Ele desarticulou a vida das
famílias e das comunidades e os
seus costumes da vivência comuni-
tária. O distanciamento social fere
o cerne da vida dos indígenas. Eles
fazem tudo em comum: trabalhos,
celebrações, festas orações, reuni-
ões, recreio e lazer. O partilhar do
caxiri, pajuaru, damoridha (bebidas
e comida tradicionais) manifesta,
alimenta e fortalece a unidade na
comunidade. Para eles, fica difícil
respeitar estritamente o isolamento
social, porque entra em conflito com
a sua identidade cultural.
A rapidez com que se enter-
ram as vítimas da Covid-19 é um
desrespeito total com o morto e a
família. O rito fúnebre dos indígenas
é sagrado e tem valor comunitário.
Deste modo, tempo não é a questão.

JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 5

 MISSÃO EM CONTEXTO

Fomos
consolados
para consolar
FOTO: GETTY IMAGES/ISTOCKPHOTO

6 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES

 Missionário da
Consolata em
ação durante a
pandemia do novo
Coronavírus.
de Joseph Mampia
A
paralisação mundial causa-
da pela pandemia do novo
Coronavírus tem causado
repercussões gravíssimas
na vida social das pessoas.
As empresas e casas fecharam as
suas portas. Em alguns lares, todos
perderamoemprego.Afomeeoutras
necessidades básicas invadiram as
famílias. Como nos deparamos com
essa situação na qualidade de sacer-
dotes e animadores missionários?
Diante dessa realidade, decidi-
mos fazer da rua nosso altar, procu-
rando por doações, cestas básicas,
material de limpeza e de higiene
pessoal para auxiliar as necessida-
des das famílias, tanto brasileiras
quanto de imigrantes. A iniciativa
de arrecadar alimentos nasceu do
grito de espanto de muitas pessoas
que, partilhando sobre a situação,
apresentaram suas preocupações
e dificuldades. A preocupação da
maioria do povo é a falta de manti-
mentos, das necessidades básicas.
Na condição de sacerdotes e cris-
tãos, decidimos dar uma resposta.
Assim, lançamos uma campanha
solidáriadearrecadaçãodealimentos
junto a todos os corações sensíveis às
necessidades dos irmãos. Primeiro,
foi com pedido de alimentos, pro-
dutos de limpeza e máscaras. Em
seguida, decidimos oferecer mar-
mitex aos motoristas de caminhão
vindos de outras cidades, de longe
que, chegando em São Paulo, não
tinham onde se alimentar. Por fim,
lançamos outra campanha para as
famílias dos imigrantes cuja situação
se tornava cada vez pior. Durante toda
a campanha, conseguimos atender
uma média de 450 famílias.
Sentimo-nos muito felizes e reali-
zados nesse trabalho. Consideramos
que esse tempo de pandemia é um
dos momentos delicados em que
não podemos deixar de testemu-
nhar a nossa fé e praticar a palavra
através da solidariedade para com
os nossos irmãos mais necessitados.
A solidariedade para com as pesso-
as concretas é uma das maneiras
nobres de vivenciar os evangelhos,
pois nelas Cristo se faz presente.
“Eu estava com fome e me destes
de comer” (Mt 25, 35).
Canal da Consolação
A solidariedade é a maneira de
obedecer à Palavra de Deus: “Con-
solai, consolai meu povo” (Isaías,
40). Como o Bem-aventurado José
Allamano, acreditamos firmemente
que cada ser humano é o canal pelo
qual passa a consolação de Deus.
Fomos consolados para consolar
(Paulo). Fomos consolados, por isso
quisemos nos tornar canal por onde
passa a consolação de Deus e con-
solar os necessitados.
Essa maneira de viver o Evangelho
com testemunho concreto de solida-
riedade aos irmãos, não deveria ser
apenas circunstancial ou emergencial
(no tempo de pandemia, apenas),
mas, permanente, pois, descobrimos
através deste trabalho que existem
famílias, a maioria de imigrantes
que já viviam na miséria bem antes
da pandemia. Depois da pandemia
precisamos continuar a ajudar? Será
que nossa solidariedade vai parar
quando a pandemia acabar?
Acreditamos que a pandemia
serviu para descobrir muitas re-
alidades e pessoas necessitadas
desconhecidas. Ajudando, muitos
imigrantes lançaram um desafio
dizendo: “Esperamos que vocês não
nos abandonem depois do Coro-
navírus. Pois, em condições difíceis
sempre vivemos, apesar de trabalhar
muito para sobrevivermos. Portan-
to a ajuda com cestas básicas será
sempre bem-vinda”.
Ao longo das campanhas, encon-
tramos muitos imigrantes desempre-
gados por diversas razões. Alguns
porque não sabem falar português
e não têm como aprender. Outros
não possuem os documentos re-
gularizados. Outros ainda porque
não têm quem os contrate ou por
falta de profissionalização em certas
áreas. Por fim, encontramos também
casos de pessoas doentes, incapazes
de trabalhar.
Desse contato com irmãos imi-
grantes, recebemos mais de dez
currículos de pessoas pedindo ajuda
para obter emprego. Apesar de expli-
car que não podemos dar solução à
todas suas necessidades, eles insisti-
ram em nos entregar, na esperança
que podemos ser ouvidos de forma
melhor que eles.
Encerramos a campanha solidá-
ria, mas, continuamos recebendo
ligações dia e noite de pessoas pedin-
do socorro. Não apenas imigrantes,
mas famílias brasileiras, algumas
dos nossos territórios paroquiais.
Para terminar, podemos dizer que a
experiência valeu a pena e continuar
a trabalhar nisso é gratificante. Seja
você também canal da consolação
de Deus e console o seu povo! 
Joseph Mampia, imc, é Animador Missionário Vocacional
em São Paulo, SP.
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 7

EUA
VOLTA AO MUNDO
Desigualdade social
A violência policial que detonou nos
Estados Unidos pode ser a face visível do
racismo no país, mas as relações entre
brancos e negros são marcadas também
por uma profunda desigualdade social. No
início da pandemia do novo Coronavírus,
chamou a atenção no país o fato de a taxa
de mortalidade entre negros ser quase o
dobro em relação à de brancos. Afastadas
as especulações médicas iniciais, uma das
principais conclusões é que parcela des-
proporcional de trabalhadores negros teve
que continuar trabalhando em entregas,
fábricas de alimentos, supermercados e
demais setores essenciais que pagam salá-
rios mais baixos. Essa exposição maior ao
vírus teria contribuído para que cerca de
23% dos óbitos pela Covid-19 fossem de
negros, embora eles representem menos
de 13% da população. Como agravante, a
população de negros sem acesso a planos
de saúde é próxima a 10%, quase o dobro
da registrada entre brancos não asiáticos ou
latinos. Pesquisa do Pew Research Center
revela que 44% das famílias negras tiveram
perda de empregos ou salários durante a
atual pandemia. Entre os brancos, essa taxa
foi de 38%.
Ranking da Paz
De 2019 para 2020, o Brasil despencou
dez posições em um índice que mede o
nível de paz e a ausência de violência em
163 países do mundo, divulgado dia 10
de junho pelo Institute for Economics and
Peace (IEP). O país está agora na posição
126, atrás de Estados conhecidos por seus
8 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
níveis de violência, como El Salvador e
Guatemala, e quase cem posições abaixo
do Uruguai, o país mais pacífico da Améri-
ca do Sul. No ano passado, o Brasil estava
no lugar 116, à frente dos Estados e com
nível de paz considerado "bom". O país se
encaixa em um contexto mais amplo: das
nove regiões do mundo analisadas pelo
relatório, a América do Sul foi a que teve a
maior queda nos índices de paz. Se pouco
surpreendem os primeiros colocados de 2020
(Islândia em primeiro e Nova Zelândia em
segundo) e os últimos (Síria na penúltima
posição e Afeganistão na última), causa
estranhamento o salto positivo dos EUA,
que subiram sete posições em um ano em
que o país teve ao menos 21 massacres com
armas de fogo, segundo a rede ABC News.
Esta é a 14ª edição do Global Peace Index
(Índice Global da Paz).
Liberdade de imprensa
O Brasil caiu duas posições no ranking
anual de liberdade de imprensa divulgado
pela ONG Repórteres sem Fronteiras. Agora
o país ocupa a posição 107 da lista de 180
Estados publicada dia 21 de maio pela or-
ganização. É a segunda queda consecutiva:
no ano passado, o Brasil havia descido três
lugares devido ao clima anti-imprensa das
eleições presidenciais de 2018 e ao assas-
sinato de jornalistas. Na América Latina, o
Brasil está atrás da Costa Rica (7), Chile (51)
e do Equador (98), mas à frente da Bolívia
(144). À exceção do Uruguai (19), a situação
é complicada para os países hispânicos: o
relatório aponta dezenas de agressões a
jornalistas que participaram da cobertura
dos protestos recentes contra os presiden-
tes Lenin Moreno, do Equador, e Sebastián
Piñera, do Chile, e reportaram a turbulenta
eleição presidencial boliviana de 2019.
Quase não há novidades nos extremos da
lista. Noruega (1) e Finlândia (2) ocupam,
pelo segundo ano seguido, as primeiras
colocações, seguidas pela Dinamarca (3),
que subiu dois pontos, e pela Suécia (4),
que caiu um. O pior país para um jornalista
é a fechada Coreia do Norte (180). 
Fonte: Folha de S.Paulo, Repórteres sem Fronteiras.
 FOTO: AKSHAR DAVE ON UNSPLASH
Intenção Missionária
Rezemos pelos que sofrem
e os que já perderam a
esperança no amor.

de Paulo Monteiro dos Santos

N
o mês de junho, os missionários da Conso-
lata refletiram em seu retiro mensal sobre o
seguinte tema: “Consolados para Consolar”.
Acreditamos que este tema é bem pertinente
para o momento que estamos vivendo no
mundo e em nosso país com a pandemia da Covid-19,
onde já ceifou a vida de mais de 50.000 pessoas.
A questão que levantamos é: como podemos
estar consolados sabendo desta triste realidade? A
resposta não é simples. Aquele que está consolado
traz dentro de si a misericórdia, esta mesma que Jesus
nos pede para termos para com os que sofrem. Não
existe consolação sem misericórdia. Aquele que não
está consolado necessita deste amor.
O famoso psicanalista Sigmund Freud, na sua
obra Introdução ao Narcisismo, afirma: “É preciso
começar a amar, para não adoecer, e é inevitável
adoecer, quando, devido à frustração, não se pode
amar.”. Em outras palavras, quem ama sofre, mas
quem não ama, adoece. Esta afirmação, se pensar-
mos do ponto de vista psicológico, se refere aquele
que está desprovido de amor. Estas pessoas, não só
estão desconsoladas, como também precisam ser
amados para não adoecerem mais do que já estão.
“O ser humano precisa amar, mas também precisa
ser amado", disse-nos uma vez o frei dominicano
Rafael Colomé, (superior da Província de Buenos
Aires, Argentina). Precisa amar, pois sua vida tem
que ter um objetivo, e precisa ser amado, porque
se não for assim, perde todo o sentido da vida. Po-
rém, é preciso que não só queiramos ser amados,
sem nos esforçarmos a também amar. Amar requer
reciprocidade. Não só devo cobrar amor dos outros,
mas devo amar os outros.
Tempos de solidão
As pessoas que amam, ou tem em si a misericórdia
para com o outro, sofrem. Jesus sofreu duramente
na cruz o seu amor para com a humanidade. Não
apenas Jesus, mas grandes nomes do mundo também
padeceram. Porém, estes homens, apesar de seu
sofrimento, levaram a sua consolação porque eram
pessoas consoladas.
Devemos nos ater ao que diz Freud: quem ama
sofre, mas quem não ama, enferma-se. Atualmente
essas palavras são cheias de significados, já que mui-
tas pessoas que estão de quarentena vivem tempos
de solidão; e as pessoas infectadas vivem dias de
desolação. É nestes tempos que nós devemos mais
que nada, dedicar todo nosso amor e nossa atenção,
porque aquele que está desolado se encontra des-
consolado. Em seu interior, o amor vai se perdendo
nesta desolação. As doenças, não apenas a Covid-19,
mas também a depressão, a ansiedade e outras tan-
tas, vão tomando lugar no coração de tais pessoas.
“Depois de comerem, Jesus disse a Simão Pedro:
Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?
Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te
amo. Jesus lhe disse: apascenta minhas ovelhas” (Jo
21: 15). Aquele que ama Jesus, traz paz às pessoas,
consolando-as. Inclusive nesta parte do Evangelho,
Jesus assim nos pede que ame o seu povo. Este ano
somos chamados a apascentar o povo de Deus que
padece por conta desta pandemia, não apenas os
religiosos, mas todos nós que amamos a Jesus. 
Paulo Monteiro dos Santos, imc, é professo em São Paulo, SP.

JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 9

 ÁFRICA
Coronavírus
na África de Malius Ndyamuhaki
Q
uando o Coronavírus surgiu
em dezembro de 2019 na
cidade chinesa de Wuhan,
apareceram algumas espe-
culações nas redes sociais,
afirmando que ele não atin-
giria a raça negra na África. Susten-
tavam que o novo corona era um
vírus que atacava exclusivamente as
pessoas de pele branca e não teria
efeito na pele negra. Devido a essa
falsa afirmação, alguns africanos
sentiram-se seguros, protegidos e
aliviados em relação ao contágio.
Ainda mais porque o vírus demorou
a chegar no continente africano, em
comparação com outras regiões do
mundo, potencializando ainda mais
a falsa informação de que o vírus não
atingiria a raça negra. No entanto,
o mesmo se espalharia e atingiria
todas as raças e o mundo todo.
O Coronavírus chegou mesmo
ao continente africano, provavel-
mente, por meio de viajantes que
retornavam de pontos de acesso
na Ásia, Europa e Estados Unidos e
o primeiro caso foi eventualmente
registrado no Egito em 14 de feve-
reiro de 2020. Desde então, e em-
bora não sendo o continente mais
atingido, o vírus veio se espalhando
por toda a África.
Em 22 de fevereiro de 2020,
a Organização Mundial de Saúde
10 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
(OMS) lançou um alerta, avisando
que os sistemas de saúde dos países
africanos estavam mal preparados
para enfrentar a pandemia. Isso
fez com que os países africanos
despertassem, tomando medidas
preventivas radicais no combate ao
vírus. Vários governos decretaram
o isolamento precoce de todos os
casos, incluindo os leves, como uma
das principais medidas de controle.
Outros países aceleraram e amplia-
ram uma resposta abrangente no
combate à pandemia, incluindo uma
combinação apropriada de medidas
comprovadas de saúde pública e
distanciamento físico.
Sistema de saúde
O continente africano está cons-
ciente das dificuldades que tem na
área da saúde, e da inexistência, na
maioria dos países, de um sistema
de saúde totalmente eficiente e
equipado para melhor atender à
sua população - não há leitos sufi-
cientes para cuidados intensivos,
nem mesmo pessoal especializado
para o atendimento aos pacientes
contaminados. No entanto, essas
dificuldades não justificam a afir-
mação de que os sistemas de saúde
poderiam não suportar a pandemia.
A história tem revelado que a aplica-
ção dos conhecimentos adquiridos
com surtos virais anteriores, como o
de ebola entre outros, tem ajudado
no combate ao Coronavírus.
O continente africano não pode
ainda celebrar que venceu a pande-
mia; certamente há largos passos
a serem dados. A África tem sido
apresentada desfavoravelmente,
no que diz respeito à luta contra o
vírus. O resto do mundo, até agora,
não reconhece os esforços empre-
endidos pelo continente africano no
combate ao vírus. Inclusive, em uma
entrevista aos 10 de abril à CNN, a
filantropa norte-americana Melinda
Gates afirmava que a pandemia teria
um impacto maior no mundo em
desenvolvimento. Ela sustentava
uma previsão de que a imagem de
corpos caídos nas ruas de países afri-
canos seria inevitável. Também um
relatório divulgado pela comissão
econômica das Nações Unidas para
África, em abril, declarava que entre
300 mil e 3,3 milhões de africanos
poderiam perder suas vidas como
resultado direto da Covid-19. De
certa forma, estas especulações
ajudaram os países africanos a se
prepararem e equiparem com medi-
das de isolamento e utilizar a pouca
estrutura que têm para combater
a pandemia.
Na África há um caminho sendo
percorrido no combate ao Coro-
navírus, mas esse caminho nunca
terá visibilidade em nenhum dos
canais de televisão mundiais, pois
aí a ênfase estará em mostrar a in-
capacidade do continente africano
nesta luta contra essa pandemia,
as guerras enfrentadas, a fome, o
sofrimento do povo ou dos inúmeros
animais selvagens. Há muito pro-
gresso feito na África, inclusive na
área das ciências, para combater a
pandemia. Por exemplo, em alguns
países, como o Senegal, têm-se
feitos testes intensivamente, para
acompanhar a evolução do vírus e
obter o controle sobre o contágio. Os
países de fora ignoram esse avanço
positivo; pelo contrário, ainda afir-
mam que os países africanos estão
relatando baixas taxas de infecção
devido à sua capacidade limitada de
testar. Se os números baixos fossem
apenas confirmação de falta de
testes, os países africanos teriam
observado um aumento nas taxas
de hospitalização e até de mortes,
o que felizmente não tem ocorrido.
os meios de transportes que ligavam
grandes cidades ao interior, inclusi-
ve o fechamento das fronteiras no
caso de Quênia, Uganda e demais
países da África Oriental. Os países,
seguindo as recomendações da OMS
conscientizaram o povo sobre os pe-
rigos da pandemia, recomendaram
a higienização das mãos e decreta-
ram quarentena para quem estava
vindo de fora. Os governos puniram
e prenderam as pessoas que não
seguiam as recomendações da OMS.
Por enquanto a África não pode ce-
lebrar que venceu a Covid-19, pois
precisa ainda se empenhar muito e
fortalecer os sistemas de saúde. 
Malius Ndyamuhaki, imc, é professo em São Paulo, SP.

Continente jovem
Em comparação com outros
continentes, a África é predomi-
nantemente jovem com idade média
inferior aos demais. A população
jovem na África é relativamente
muito maior em comparação com
a idosa, e é conhecida a maior re-
sistência e capacidade de recupe-
ração da população jovem relativa
à contaminação pela Covid-19. Por
outro lado, a população idosa tem Homem usa máscara e luvas cirúrgicas
cumprido bem a quarentena, sendo para proteger-se do coronavírus na África
do Sul. Foto: Themba Hadebe/AP.
sustentada pela juventude, sendo
esse dado algo diferente dos outros
países, onde os idosos estão ati-
vamente envolvidos no mundo
do trabalho, em especial, nas
grandes cidades onde existe
maior risco de contaminação.
Muitos países decreta-
ram obrigatoriamente o
uso de máscara nas cida-
des grandes e cortaram Subestimada pelos
outros continentes, a
África mostra reação
à pandemia do novo
Coronavírus.

JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 11

 TESTEMUNHO

Missão em tempo
de pandemia
Irmãs Missionárias parte da comunidade eclesial de
da Consolata joelhos, em casa!
O convite, porém, da Campanha
desenvolvem da Fraternidade, “Viu, sentiu com-
trabalhos sociais paixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34),
durante quarentena, ressoava tão forte em todos que,
aos poucos, aprendemos a ver e
em São Paulo, SP. com os olhos do coração. Ver para
além dos muros de nossa comuni-
de Benildes Capellotto
dade e casa. Ver a aflição, a fome, a
saudade, a dor de muitos que nos
paulistana, acolheu logo as orien-
tações da Organização Mundial da
Saúde (OMS) sobre a utilização de
máscaras no enfrentamento da Co-
vid-19 e iniciou o projeto “Máscaras
do bem”. Gestos bem pequenos:
doação do material necessário,
corte, costura, higienização, empa-
cotamento, doação, venda... uma
corrente que não para de crescer.
Foram doadas máscaras para um

F
ique em casa! E tudo mudou
drasticamente num piscar
de olhos! O silêncio abraçou
a Comunidade do Jardim
Consolata em São Paulo e
colocou as 17 irmãs e todos os
nossos irmãos e irmãs que fazem
rodeiam... Assim nasceram várias
possibilidades de consolação!
Correntes do bem
O grupo das missionárias deno-
minado Nossa Senhora Aparecida,
que atua na zona norte da capital
Posto de Saúde, Projeto Social de
Moradores de Rua, para a Polícia
Militar do Estado de São Paulo e
outros pequenos grupos. O lucro
das que foram e continuam sendo
vendidas é revertido na compra
de produtos para cestas básicas.

12 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES


Até o fechamento desta edição
haviam sido confeccionadas mais
de 3.000 máscaras!
Outra corrente viva é o projeto
“Cestas Básicas”. Doação em dinhei-
ro, produtos ou cestas completas,
compra e organização das cestas,
percepção das famílias vizinhas
necessitadas, distribuição nas ca-
sas... São muitas mãos envolvidas.
Mãos que animam, transformam,
cuidam da vida, consolam. As casas
de alguns líderes da comunidade
e das irmãs missionárias funcio-
nam como ponto de encontro de
tantas bênçãos. Durante os meses
de abril e maio foram distribuídas
156 cestas básicas.
Cuidar da espiritualidade
Cuidar da fé e da espiritualidade
em casa, neste tempo de pandemia,
é uma forma privilegiada de nos
reconectar com o bem comum e
com Deus, fonte da Vida! Nossos
WhatsApps, naturalmente, são nos-
sos aliados na catequese, no consolo
das pessoas que perderam seus entes
queridos, na presença virtual ao lado
de quem está doente..., mas não
são suficientes. Dois gestos, espe-
cialmente, marcaram este período.
O primeiro foi a distribuição
de ramos bentos no Domingo de
Ramos. Padre José Adeildo Pereira
Machado, Reitor do Seminário Ar-
quidiocesano Propedêutico Nossa
Senhora da Assunção, vizinho das
irmãs missionárias da Consolata
no bairro da Cachoeirinha, em São
Paulo, gentilmente veio abençoar
os ramos que foram distribuídos no
portão da Capela. O grupo organi-
zador distribuiu mais de 300 ramos
em cerca de uma hora. Juntamente
com os ramos, uma palavra de fé
e encorajamento!
O segundo gesto foi realizado por
ocasião do Dia das Mães, no dia 12
de maio de 2020. A Mãe Consolata
não estava de quarentena. Pode,
então, dispondo de um carro de
som, a boa vontade de um grupo de
homens da comunidade e a bênção
das Irmãs, fazer uma peregrinação
pelas ruas do bairro, visitar as fa-
mílias e homenagear as Mães. As
palavras não conseguem traduzir
a experiência vivida. Nas ruas, nos
portões, nas sacadas e janelas das
casas, pessoas, especialmente mães,
emocionadas, chorando e rezando,
agradecidas pela surpresa.
Expressões como “Obrigada a
todos por essa alegria. Foi o melhor
presente do Dia das Mães para todas
nós. Nossa rua agradece esta bênção
singular.”; “Às irmãs e ao grupo que
organizou, nossa gratidão por este
gesto de carinho, por essa consola-
ção...”; “Eu ainda estou em estado
de graça. Ganhei o maior presente
de minha vida: o carinho da Mãe
Consolata! Como é que a Mãe do
meu Senhor veio me visitar!”; “Sou
feliz porque Nossa Senhora se ser-
viu de minha caminhoneta – é dela
também – para realizar este gesto
de amor’, demonstram como foi
importante esse momento.
O carisma missionário da Conso-
lata que arde em nosso ser é mais
forte que a Covid 19. Tem a força e
a ternura da Consolata. Tem sabor
de Vida! E o bonito é que também
a comunidade das Irmãs é cuidada
com carinho! Somos gratíssimas e
colocamos tudo e todos sob o Manto
da Mãe! Testemunhos de amor. 
Benildes Capellotto, MC, é missionária em São Paulo e
membro da Equipe de Redação.
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 13
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA
Do vírus do
individualismo
à vacina da
solidariedade
de Alfredo J. Gonçalves
O
documento inaugural da
Doutrina Social da Igreja
completará seu 130º ani-
versário em 2021. Trata-se
da Carta Encíclica Rerum
Novarum (1891), publicada pelo
então papa Leão XIII. O título faz
referência à “sede de coisas novas”
que marca o final do século XIX,
convulsionado pelas turbulências
da Revolução Industrial. A chamada
“questão social” ocupa o centro
das preocupações pontifícias. O
texto alude à “agitação febril” desse
contexto histórico, cujas relações
modificam-se a passos largos.
A Constituição Pastoral Gaudium
et Spes (1965), do Concílio Vaticano
14 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
II dá sequência à análise: “O gênero
humano encontra-se hoje em uma
fase nova de sua história, na qual
mudanças profundas e rápidas
estendem-se progressivamente ao
universo inteiro” (GS, n. 4). Neste
artigo, em vez de Doutrina Social da
Igreja, usaremos a expressão Ensino
Social da Igreja (ESI), adotado pelo
papa Paulo VI na Octogesima Ad-
venians (1971). Enquanto a noção
de doutrina pressupõe um corpus
dogmático, hermético e meio fossi-
lizado, o conceito de ensino ganha
um caráter mais vivo, dinâmico e
sempre aberto aos novos desafios
sócio-históricos.
A Campanha da Fraternidade
(CF) de 2020, por sua vez, retoma os
princípios básicos da ESI, realçando
o dom e o compromisso com a vida
como temática central. Refletindo
a partir de um lema extraído da
parábola do Bom Samaritano – “viu,
sentiu compaixão e cuidou dele”
(Lc 10,33) – a CF/2020 procura
operar com uma ação pastoral
voltada para o empenho no resgate
e defesa dos direitos e da dignida-
de humana, coluna vertebral dos
documentos sociais da Igreja ao
longo dos tempos.
Pandemia, crise e
desigualdade social
Nos últimos meses, a “questão
social” e seus desafios mudaram
nossas experiências e compor-
tamentos em todo o mundo. A
pandemia da Covid-19, com um
rastro macabro de infectados,
mortos e famílias enlutadas, mexeu
de maneira profunda com nosso
modo de ser e de se relacionar.
Não é verdade que “estamos todos
no mesmo barco”, como dizem
alguns, mas “estamos todos na
mesma tempestade”, afirmam ou-
tros. Uma minoria rica e poderosa,
com seus “iates” luxuosos, tem
condições de driblar a doença, ou
então consegue acesso fácil aos
sistemas de saúde mais sofistica-
dos. Para os pobres e excluídos,
os invisíveis e descartáveis, os
migrantes e indocumentados, as
coisas são bem diversas. Tanto que
acabaram ganhando estridente
visibilidade na busca desespera-
da pelo auxílio emergencial dos
magros R$ 600,00.
 Campanha da
Fraternidade
2020 retoma
princípios
básicos do
Ensino Social
da Igreja em
tempos de
pandemia.
Entre estes últimos que o vírus
se revela mais agressivo e letal. A
própria exigência de quarentena
chega a ser um luxo de quem pos-
sui boa casa, quarto individual e
banheiro privado – comodidades
que estão longe das periferias, dos
cortiços e das favelas. Se em tem-
pos normais o sistema capitalista
de produção-consumo acumula,
simultaneamente, renda e riqueza
de um lado, e exclusão social de
outro, tudo se agrava com a epide-
mia e a crise. Mais do que nunca
prevalece o vírus de um individua-
lismo exacerbado, não obstante os
numerosos gestos de solidariedade
popular, como veremos. A metáfora
da máscara desmascara (e escan-
cara) a gritante assimetria social,
com suas desigualdades abissais
em níveis nacional e internacional.
Solidariedade e
o “novo normal”
Tropeçamos aqui com uma das
expressões mais utilizadas recen-
temente pela mídia e pelas autori-
dades. Que significa, na verdade, o
“novo normal” da pós-pandemia?
Talvez superar o vírus do individua-
lismo pela vacina da solidariedade.
Num jogo de palavras que só é pos-
sível em inglês, alguns estudiosos
entendem que, na formulação de
uma ordem mundial recriada, far-
-se-á necessário rever de forma
séria, ousada e profunda a relação
da economia globalizada com os três
“Ps”: profit, people and planet – em
português, lucro, pessoas e planeta!
Em primeiro lugar, o lucro (pro-
fit). O ganho pelo ganho pode se
manter como o motor primor-
dial da política econômica. Desde
os primeiros documentos, o ESI
denuncia essa aberração, anun-
ciando em lugar dela a primazia
do trabalho sobre o capital, ao
lado da “função social” de toda
propriedade privada. Na Carta
Encíclica Populorum Progressio
(1967), publicada por Paulo VI,
lê-se que não basta o crescimento
por si só. Ele não garante o “desen-
volvimento integral”. A isso deve
associar-se uma justa e equânime
distribuição dos resultados do
trabalho conjunto.
Depois, as pessoas (people).
Os filhos e filhas de Deus deverão
ser protagonistas e destinatários
de todo ensinamento da Igreja.
Em primeiro lugar, vem sempre
a condição social de cada famí-
lia, bem como a dignidade de
cada ser humano. Uma atenção
particular deverá ser reservada
àqueles que têm sua vida mais
precária e ameaçada. Atenção
essa que representa o eixo central
dos documentos finais publicados
após as respectivas Assembleias
do Episcopado da América Latina
e Caribe – Medellín (1968), Puebla
(1979), Santo Domingo (1992) e
Aparecida (2007).
Por fim, o planeta (planet). A
exploração predatória comanda
a economia globalizada, espe-
cialmente a partir da Revolução
Industrial, no decorrer dos séculos
XIII e XIX. Daí a derrubada das
florestas, a devastação e deser-
tificação do solo, a contaminação
das águas (mar, lagos e rios), a
destruição progressiva dos dis-
tintos ecossistemas e do meio
ambiente, o derretimento das
geleiras e o aquecimento global.
Combinados, todos esses fatores
agravam as catástrofes extremas,
gerando os novos “refugiados
climáticos” que já se contam aos
milhões. A Carta Encíclica Lau-
dato Si’ (2015), publicada pelo
papa Francisco, traz o apelo e o
desafio: “superar a globalização
da indiferença e a economia que
exclui, descarta e mata pela cul-
tura da acolhida, do encontro, do
diálogo e da solidariedade. 
Alfredo J. Gonçalves, cs, é vice-presidente do Serviço de
Proteção ao Migrante (SPM), Rio de Janeiro, RJ.
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 15
 FÉ EM AÇÃO
Crescimento
e Desenvolvimento
Qualificar a vida das pessoas
significa pensar mais em
desenvolvimento do que em
crescimento econômico.
de Marcus Eduardo de Oliveira
O
intenso crescimento econômico verificado
no pós-Segunda Guerra, de 1945 a 1975,
emoldurado naquilo que o demógrafo francês
Jean Fourastié batizou de “Trinta Gloriosos”,
ocorrido em países semi-industrializados e nos
já avançados, não se converteu em melhores condições
de vida às populações mais pobres, que continuaram
desprovidas de acesso à saúde e à educação, além de não
se beneficiarem de novas aquisições de bens e serviços.
Foi a partir dessa constatação, entrementes, que se
começou a questionar com mais ênfase o real sentido
da palavra desenvolvimento, até então, reduzida sob o
olhar econômico, ao mesmo significado de crescimento.
Grosso modo, crescimento econômico é entendido
como um meio para se atingir o desenvolvimento, longe
de ser sinônimo desse, posto que o crescimento gera
recursos a serem utilizados para se alcançar o desenvol-
vimento, e, dependendo de seu uso, esse último pode
ou não acontecer.
Não se pode perder de vista dois importantes aspectos
inseridos na definição de crescimento: 1) quem abastece
e dá suporte ao sistema de produção da economia, que
intencionará, pois, buscar o crescimento, é a natureza
e seus recursos vindos da terra e do mar, renováveis e
não-renováveis, daí o aparecimento e a importância
do conceito de sustentabilidade e da biodiversidade,
envolvidos nas discussões econômicas; 2) todo o fun-
16 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
cionamento do sistema econômico, especialmente no
que tange à cadeia produtiva, é em essência regida
pela entropia.
Entropia
De tal modo, reconhecer como verdadeiro, em es-
pecial, esse segundo aspecto e, ainda assim, estimular
a expansão do crescimento econômico, ocasionando,
portanto, mais entropia, é provocar rupturas irreversí-
veis no sistema ecológico, aprofundando a degradação
ambiental.
Resulta daí o acirramento da questão ambiental,
cuja crise ecológica provocada pelo modus operandi
da economia em prol do crescimento, somado à ação
antrópica, acaba por afetar toda a biodiversidade,
sabendo-se que essa, por sua vez, contribui direta e
indiretamente ao bem-estar humano, sendo essencial
para o funcionamento dos ecossistemas e para o fluxo
de benefícios oferecidos aos indivíduos e sociedades.
Diante disso, a melhoria das condições de vida de
todos dependerá então da retração econômica, e não
de sua expansão.
Em outras palavras, qualificar a vida das populações
em seus mais elementares pressupostos, tomando o real
sentido imposto aos termos aqui tratados, depende mais
da realização do desenvolvimento, e não do crescimento
e da desordem (entropia) provocados acintosamente
pela “necessidade” irreal de fazer com que as econo-
mias modernas cresçam, até mesmo porque, frisa-se,
é possível alcançar o desenvolvimento (prosperidade)
sem passar antes pelo crescimento – prosperity without
growth, como defende a corrente denominada economia
ecológica. 
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental
Autor de “Economia Destrutiva” (ed. CRV) e “Civilização em desajuste com os limites
planetários” (ed. CRV). prof.marcuseduardo@bol.com.br
Devoção
a Nossa Senhora
da Redação
N
o terceiro artigo da série,
José Allamano orienta seus
missionários, suas missio-
nárias e a todos nós sobre a
devoção a Nossa Senhora e como
demonstrar nosso amor a ela.
Considerar N.Sra. como Mãe
Antes de tudo devemos consi-
derar Maria Santíssima como nossa
verdadeira Mãe, a exemplo de São
Filipe, que costumava invocá-la as-
sim: “Minha Mãe, minha Mãe! São
José Cafasso fazia o mesmo, repetin-
do com frequência aos penitentes:
Lembrai-vos de que tendes em Maria
Santíssima uma segunda Mãe, Mãe
que vos ama mais que a primeira,
sem todavia usurpar-lhe o lugar.”
Certos, entretanto, falam de Nossa
Senhora como se se tratasse de
qualquer santo canonizado! Na Mãe
é preciso depositar confiança e amor.
Despertemos em nós, portanto, um
amor filial para com Nossa Senhora;
desejemos experimentá-lo cada vez
mais intensamente; digamos-lhe
com grande afeto: “Minha Mãe,
minha Mãe!”
Evitar o pecado
Uma só coisa desagrada a Jesus
e, por isso, também a Nossa Se-
nhora: o pecado. Poderá alguém
considerar-se devoto de Maria e
transpassar-lhe o coração com um
punhal? Pois bem, tudo o que fere
Nosso Senhor. fere igualmente Nos-
Família
consolata
sa Senhora. É preciso ter um pouco
Mês de junho, de cuidado! O pecado mortal não
dedicado a Nossa pode coexistir com a verdadeira
Senhora Consolata, devoção a Maria... E se por desgraça
Allamano fala sobre caíssemos? Ponhamo-nos logo em
ordem e recorramos igualmente a
o grande amor que ela, que é o refúgio dos pecadores.
devemos ter para com
a Virgem Santíssima. Obsequiá-la
Em todos os lugares da casa, no
estudo, no dormitório etc. temos o
FOTO: JAIME C. PATIAS
Crucifixo e o quadro de Nossa Senho-
ra. Por que então, ao entrarmos num
destes lugares, depois de saudar o
Crucifixo, não saudar também Nossa
Senhora? É preciso amar e respeitar
tudo quanto se relaciona a ela.
Tornar-nos seus escravos
Nós preferimos ser filhos; de
qualquer forma, sejamos escravos
voluntários e Nossa Senhora nos
tratará bem. Esta escravidão consiste
numa entrega total de nós mesmos
a Maria, que assim pode dispor a
seu bel-prazer de todas as nossas
ações e merecimentos; doação to-
tal, absoluta, irrevogável. Não nos
pertencemos mais; tornamo-nos
propriedade de Nossa Senhora.
Consequentemente, devemos
fazer tudo com Nossa Senhora, tudo
para Nossa Senhora e tudo receber
dela. Fazer tudo com Maria: isto é
realizar todas as nossas ações em
união com ela. Fazer tudo com Maria
significa ainda tomar Nossa Senhora
por nosso modelo em todas as ações:
como faria ela esta ação? 
Extraído do livro A Vida Espiritual, ps. 521 e 522.
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 17
 Pandemia e Educação
de Marcelio José Ribeiro
do professor, dos alunos e das fa- ção e Comunicação) e direção. Esta
mílias com o Ensino à Distância. equipe baseia a sua ação em um
Para se ter uma ideia, a decretação tripé de gestão educacional foca-
da quarentena no dia 23 de março da na informação, comunicação e

N
o Planejamento Estratégi-
co do Colégio Consolata,
localizado no bairro do
Imirim, em São Paulo, já
são esboçadas adequações
tecnológicas e informacionais para
os nossos processos de ensino.
Tanto é fato que estávamos tra-
balhando junto à empresa Google,
por meio de sua matriz em Moun-
tain View, Califórnia, para o nosso
reconhecimento como Instituição
Educacional. Foi providencial que
tal reconhecimento, pelo Google,
chegasse no final de fevereiro deste
ano. Graças a essa inclusão, o Colé-
gio pode utilizar todos os recursos
disponíveis pelo Google for Edu-
cation para Educação à Distância.
O maior desafio que enfrentamos
foi o pouquíssimo tempo que tive-
mos para implementar mudanças
tão radicais no dia a dia da escola,
impossibilitou que realizássemos
treinamentos presenciais com al-
guns professores considerados do
grupo de risco e, para tanto, os
treinamentos foram realizados à
distância. Iniciamos os trabalhos
preparando os nossos educadores
para desenvolverem duas caracte-
rísticas essenciais: a resiliência e a
humildade profissional.
Ensino à Distância
Foi com este modelo e uma ges-
tão educacional específica para
gerir a crise que iniciamos as aulas
remotas e as atividades do Ensino
à Distância. Uma equipe multidis-
ciplinar foi criada com a presença
dos coordenadores pedagógicos, co-
ordenadores de área, orientadores
educacionais, avaliador educacional,
profissionais para o gerenciamento
das TIC´s (Tecnologias de Informa-
marketing. Portanto, pesquisas de
satisfação com os pais; processos
de auto-avaliação e avaliação dos
alunos; comunicação individual com
famílias, professores e alunos que
procuram esclarecimentos sobre
o processo e divulgação de boas
práticas e nossas redes sociais são
o escopo do nosso trabalho.
O retorno ao modelo presencial
de ensino não apagará essas expe-
riências que toda a comunidade
obteve nesse período. Aliás, assim
como o professor, a própria escola
não será concebida sem essas ha-
bilidades e campos de experiência.
O que demorou décadas para que
a educação pudesse organizar, a
pandemia trouxe em dias essa mu-
dança de paradigma. 
Marcelio José Ribeiro é Coordenador de Avaliação Edu-
cacional do Colégio Consolata, São Paulo, SP.

QUER
QUERSER MISSIONÁRIO?
SER MISSIONÁRIO? QUER
QUERSER MISSIONÁRIA?
SER MISSIONÁRIA?
TEL.: (11) 2232.2383 TEL.: (11) 2231.0500
E-mail: amv@consolata.org.br E-mail: mc@consolata.org.br

18 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES

 Vítimas da Covid-19
D
uas celebrações eucarís-
ticas foram realizadas em
Roma, (às 12h – 7h em
Brasília) na Casa Geral, em
sufrágio dos missionários e
missionárias da Consolata, falecidos
vítimas da Covid-19.
As missas foram celebradas dias
16 de maio e 16 de junho. A escolha
do dia 16 deve-se ao fato de ser
Missa presidida pelo Superior Geral, Padre Stefano Camerlengo, na Casa Geral IMC em Roma, 16 de maio 2020.
o dia mensal em que se recorda o
Bem-aventurado José Allamano,
falecido em 16 de fevereiro de 1926.
Quem partiu
No total, foram 12 missionários
e missionárias que partiram para a
vida eterna, 10 padres e duas irmãs:
padres Lorenzo Cometto; Giovanni
Medri; Antonio Roberti; Giovanni
Viscardi; Gabriele Goletto; Virgilio
Panero; Fedele Crippa; Mario Ba-
seggio; Francesco Pavese; Silvestro
Bettinsoli; Irmãs Pier Giacomina
da Redação
Bagnati e Giulia Vanzetto. Foram
lembrados também os familiares,
amigos e benfeitores falecidos du-
rante a pandemia.
Padre Stefano Camerlengo pre-
sidiu as celebrações e em sua homi-
lia no dia 16 de maio refletiu sobre
“a experiência que estamos fazendo
da morte, através do Coronavírus.
Todos sabemos que tal como exis-
te um princípio, um início, existe
também um final. Todos sabemos
que devemos morrer, não somos
eternos, ainda que certamente, e
algumas vezes, talvez gostaríamos
que fossemos. No entanto, nestes
dias, neste tempo de Coronaví-
rus, em que pelo menos a mim
que acompanhei pessoalmente a
vida destes irmãos, fez-nos expe-
rimentar um encontro mais forte,
mais marcante com a morte. Espe-
cialmente numa sociedade como
a nossa, que faz de tudo para a
esconder, como se esta não exis-
tisse. Mas o Coronavírus colocou
diante de nós esta triste realidade,
e sabemos que toca a cada um de
nós, que somos finitos, que temos
limites, que somos frágeis”.
Padre Stefano partilhou três re-
ações dos coirmãos que faleceram
e que podem nos ensinar algo: “A
primeira reação é a daquele que
está chateado e pergunta porque
que é que este mal “me toca a
mim”, e não queria aceitar se-
quer ser curado, e rejeitava mesmo
deixar-se acompanhar. Creio que
seja a situação de tantos, também
FOTOS: JAIME C. PATIAS
nossa, talvez. O medo de morrer, o
medo de partir, o medo de deixar
alguma coisa que não sabemos
exatamente o que é. Certamente
que a fé nos dá mais força, nos deixa
mais preparados, ou deveríamos
estar mais preparados, mas, no
entanto, o medo permanece. É
uma realidade com a qual devemos
conviver. A segunda reação é a de
um outro coirmão que diz que,
diante da morte que se aproxima,
percebe que são poucas as coisas
que valem realmente a pena. E diz:
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 19
 minha vida, e as relações que construíste”. O
porque agora Superior continuou: "Acredito que
aqui entuba- seja este um grande ensinamento
do por todos para cada um de nós. Existe ainda
os lados, pas- um terceiro ensinamento que um
sam diante de outro irmão partilhou comigo e
mim todas que vos comunico, também. Eu
as pessoas a perguntei “Como estás?”, e ele
quem eu quis respondeu: “Dou-me conta que
bem, a quem estou a caminho do fim”. “E, como
eu quis fazer o te sentes?”. É que diante destas
bem e que eu coisas uma pessoa nem sabe que
senti que me palavras usar, que palavras dizer.
queriam bem, Ele respondeu: “Agora que estou
que gostavam no final dos meus dias, a minha
de mim. En- preocupação é o trabalho que estou
tendes o que dando aos outros”. Ele não se sen-
construíste na tia desesperado diante da morte,
tua vida, as que poderia ser iminente, mas sim
Missionários e missionárias da Consolata falecidos vítimas de Covid-19. relações da preocupado com o trabalho que
“Eu descobri a confiança em Deus tua vida e descobres que diante estava dando aos outros”. 
e a importância das relações que da morte encontras apenas estas
se foram construindo ao longo da duas coisas: a confiança em Deus Com informações do IMC da Itália.

Ajude-nos e venha
fazer parte desta obra
Missões é o veículo de comunicação do Instituto Missões Consolata e retrata o
trabalho missionário de levar a consolação aos que sofrem, aos que andam tristes,
aos que estão sem esperança.
Torne-se um missionário membro da família Consolata, mantendo o
nosso trabalho, contribuindo financeiramente. Mediante a sua
contribuição, enviaremos Missões para você como forma de gratidão!
Veja como é fácil:
R$ 15,00 R$ 20,00 R$ 35,00 R$ 40,00 R$ 75,00 ou mais
1 Exemplar 2 Exemplares 4 Meses 5 Meses 10 Meses
da última edição da última edição últimas edições últimas edições últimas edições
Obs.: (Incluso o envio pelo correio. Para quem retira em mãos, a contribuição mínima permanece a de capa)

por BOLETO OU CARTÃO DE CRÉDITO PagSeguro



por CHEQUE NOMINAL E CRUZADO - Instituto Missões Consolata


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20 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES


A cisma de certos
tradicionalistas
Pandemia cria impaciência em
alguns católicos, que querem a
volta das celebrações.
de Edson Luiz Sampel
D
urante a pandemia pavorosa que ainda nos
flagela, cismaram determinados "católicos"
tradicionalistas – verdadeira implicância – em
desferir acerbas críticas ao episcopado, à
CNBB, até com palavras impudicas e odio-
sas, sem nenhum respeito aos nossos amantíssimos
bispos, querendo compelir as autoridades eclesiás-
ticas, por fás ou por nefas, a que destrancassem as
igrejas para as missas!
Perigo iminente
Em primeiro lugar, as autoridades civis que in-
terditaram os templos para as aglomerações; no-
tórias as razões sanitárias! Por outro lado, certos
tradicionalistas, sede-vacantistas na prática, sempre
menoscabaram o que denominam de "missa nova",
ou seja, a forma romana ordinária. Alguns desses
"católicos", no paroxismo de sua bazófia, chegam
mesmo a vociferar que o rito ordinário é inválido.
E vieram esses irmãos pleiteando "missa já"? Nem
sequer lobrigaram eles o perigo iminente de contá-
gio da Covid-19? Ora, por que não dizem a "missa
MISSÕES RESPONDE
de sempre", em latim (forma extraordinária), nas
suas casas, nos seus prédios, com seus presbíteros
superleais ao saudosismo teológico e, alguns, des-
graçadamente, bem pouco leais ao papa Francisco?
Integram os tradicionalistas, grupo diminuto embora
um tanto quanto barulhento; decerto não necessitam
de grandes espaços para as celebrações.
No Brasil, os sucessores dos apóstolos têm agi-
do corretamente, ao suspender os cultos públicos,
pedindo um pouco de paciência ao povo de Deus.
Comportam-se como autênticos pais de família, que
zelam e velam pelos filhos. Os católicos, de um modo
geral, compreenderam e compreendem a gravidade
do momento e, piedosamente, assistem à missa de
casa, pela televisão. Demais, conforme preceitua o
código canônico, no cânon 920, parágrafo primeiro,
"todo fiel, depois da primeira comunhão, está obri-
gado a comungar ao menos uma vez por ano." Friso:
uma vez por ano! Não podemos ser mais realistas
que o próprio rei, como diz o adágio. Temos de nos
fiar nas regras da santa madre Igreja.
No recesso do lar, impedidos de participar da
missa nas igrejas, com a recepção do santíssimo
sacramento, rezamos o terço, suplicamos que Maria
santíssima, a padroeira do Brasil, nos socorresse...
Em suma, confiamos em Deus e em nossos bispos,
vigários de Cristo! 
Edson Luiz Sampel é professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo
(da arquidiocese de São Paulo).
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 21
 ÁSIA
Celebração eucarística presidida por
padre Geoffrey na paróquia Duckmyoung-
dong na diocese de Daejon.
Fotos: Choe Hong Sok Antonio
A Covid-19
não conhece fronteiras
A pandemia
também afetou a
Coreia do Sul.
de Geoffrey Boriga
N
a Coreia do Sul existe o há-
bito de escrever tudo na
agenda do celular. Quando
alguém deseja marcar um
encontro, basta conferir
se em tal dia e horário as pessoas
envolvidas estarão disponiveis. Isso
significa, a quem ou a qual coisa
dar prioridade. Com o advento da
Covid-19,recordamosaquelafamosa
frase que dizíamos quando eu esta-
va no Brasil, “se Deus quiser”, para
dizer que tudo depende de Deus, e
não da nossa própria vontade. Na
verdade a Covid-19 nos fez enten-
der o quanto a nossa vida é frágil
(como sempre diz padre Stefano
Camerlengo, superior geral dos Mis-
22 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
sionários da Consolata). A Coreia do
Sul testemunhou um aumento nas
transmissões do vírus desde 19 de
fevereiro, um mês após a notificação
do primeiro caso. A paciente era uma
chinesa de 35 anos de idade que
chegou ao aeroporto internacional
de Incheon com febre detectada
durante a varredura térmica.
Os casos começaram a aumen-
tar esporadicamente a partir do
dia 21 de fevereiro, sendo que a
grande maioria na cidade de Daegu.
O aumento ocorreu por causa da
disseminação em uma comunidade
de uma seita chamada em coreano
de Shincheonji (novo céu e nova
terra), alarmando as autoridades de
saúde coreanas. Dado o aumento,
o governo da Coreia do Sul elevou
o nível de alerta para o mais alto
(vermelho) a partir desta data.
Até o dia 14 de junho, a Coreia
do Sul registrava um total de 12.085
casos confirmados e 277 mortes.
Combate
Além dos kits de teste e das
técnicas de rastreamento lançadas,
a Coreia do Sul criou um banco de
dados chamado de “smart city”
(cidade inteligente). Originalmente
esse banco de dados foi projeta-
do para compartilhar informações
entre as cidades sobre assuntos
como: trânsito e poluição. Porém,
essa ferramenta vem sendo usada
no combate ao coronavirus. Esse
sistema faz com que infratores
da quarentena usem pulseiras de
rastreamento, ajudando assim as
autoridades nacionais de saúde
a planejar e rastrear possiveis in-
fectados, reduzindo o tempo de
identificação e isolamento dos novos
casos. O banco de dados é operado
pelos Centros de Controle e Preven-
ção de Doenças da Coreia (KCDC),
fornecendo aos investigadores epi-
demiológicos, dados em tempo real
sobre os pacientes, incluindo seu
paradeiro, tempos gastos em locais
específicos, imagens das câmeras
de segurança e transações com
cartão de crédito.
Em vez de proibições diretas, a
Coreia do Sul está usando testes em
massa e rastreamento habilitado
por tecnologia para permitir que
as pessoas viajem pelo país. No
entanto, para viajantes vindos de
outros países, inclusive os cida-
dãos coreanos, os devidos testes
e quarentenas são absolutamente
obrigatórios.
Políticas de distanciamento so-
cial também foram adotadas. As
pessoas são incentivadas a evitar
aglomerações e não deixarem suas
casas sem necessidade, mas não
impondo "ficar em casa" ou “toque
de recolher”. Novas regras desig-
nam suprimentos como máscaras,
óculos de segurança, desinfetantes,
roupas de proteção e câmeras in-
fravermelhas para detectar febres
como itens estratégicos.
É importante observar a cola-
boração do povo sul-coreano na
luta contra esse vírus. Eles seguem
estritamente as diretrizes do gover-
no sobre as medidas preventivas
necessárias. É importante salientar
ainda que a Coreia do Sul tem ex-
periência em lidar com pandemias
graças ao combate à SRAG (Síndro-
me Respiratória Aguda Grave) e à
MERS (Síndrome Respiratória do
Oriente Médio) em 2015.
Economia
Que efeito a Covid-19 terá na
economia coreana? Mesmo an-
tes da propagação do vírus para
a Coreia do Sul, empresas como a
Hyundai estavam temporariamente
fechando a produção de automó-
veis devido à indisponibilidade de
peças de automóvel fabricadas na
China e usadas na produção nas
fábricas sul-coreanas. A economia
é baseada nas indústrias de expor-
tação, aviação e turismo, evidente-
mente tais restrições têm efeitos
imediatos na atividade econômica
a nível nacional especialmente nas
empresas de pres-
tação de serviços
tais como: lojas,
restaurantes etc.
O amortecimento
prolongado da ati-
vidade econômi-
ca pode até levar
a Coreia do Sul a
uma recessão eco-
nômica. No entan-
to, o governo está
trabalhando para
aprovar algum or-
çamento de estímulo para conter
a crise nacional.
A vida social também vem sen-
do afetada. Isso ocorre porque as
pessoas precisam ter muito cui-
dado para evitar reuniões sociais
no esforço de conter uma maior
disseminação do vírus. A higiene
também é altamente enfatizada.
As pessoas devem usar máscaras,
e lavar as mãos regularmente com
sabão e desinfectantes.
Igreja Católica
A Igreja Católica na Coreia do Sul
está seguindo as recomendações das
autoridades locais para o combate
da propagação do vírus, sendo as-
sim, desde o dia 23 de fevereiro as
missas presenciais foram suspensas.
No entanto, a partir do dia 26 de
abril, com a melhoria da situação de
novas contaminações, reabriram-se
novas possibilidades no cenário na-
cional e com isso a volta das missas.
Essas celebrações são feitas sob
estritas recomendações oriundas
dos bispos locais. Todas as dioceses
na Coreia do Sul forneceram regras
a serem seguidas antes, durante e
depois das celebrações. Entre elas,
deve-se observar: a distância social,
usar máscaras durante a missa, ter
a lista com os nomes e contatos
dos fiéis participantes, medindo
a temperatura de todos antes de
entrar na Igreja. Aqueles com febre
ou que mostram algum sintoma, são
aconselhados a não participarem da
celebração eucarística e a buscarem
ajuda especializada. Desta forma,
idosos, crianças, e pessoas com uma
imunidade baixa são aconselhados
a permanecer em casa e seguir a
missa pela TV. Durante a comunhão.
os fiéis recebem a hóstia nas mãos.
Antes de distribuir a comunhão, o
padre diz ”o Corpo de Cristo” do
altar e todos os fiéis dizem “Amém”
juntos, e ai prossegue a distribuição
da comunhão em silêncio. A con-
fissão também deve ser feita em
um lugar onde se possa observar a
distância social. Outros encontros
nas igrejas continuam suspensos até
que a situação melhore. Durante a
missa, bem curta, não há cantos.
Ao contrário de outros países,
o governo sul-coreano mostrou
grande credibilidade. Desde o
início, agiu de forma transparente
e não escondeu nenhuma infor-
mação das pessoas comuns, mé-
dicos e doentes. A emergência do
coronavírus mostra que o mundo
agora é chamado a resolver pro-
blemas através da colaboração
entre países. A Igreja, assim como
a humanidade, será diferente após
o coronavírus.
Podemos dizer que a Covid-19
é uma emergência universal. Isso
afeta a todos nós e somos convi-
dados a dar uma resposta juntos,
unidos. Desejo a cada um de vocês
uma boa saúde dizendo em core-
ano “항상 건강하시길 바랍니
다” (hangsang geonganghasigil
balabnida) que significa “ que tenha
uma boa saúde sempre!” 
Geoffrey Boriga, imc, é missionário na Coreia do Sul.
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 23
 DESTAQUE
O Pão da Palavra
FOTO: ALEXANDRE BORGES
N
esta edição apresenta-
mos muitas matérias cujo
escopo é a atual pande-
mia do Coronavírus. A
Covid-19 tem mostrado
muito impacto em nossa vida,
nos mais diversos aspectos. Até
a vida litúrgico-pastoral da Igreja
se viu desafiada a mudar ou a dar
ênfase a formas celebrativas que
prescidem da presença de fiéis. Isto
fez com que todos redescobrísse-
24 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
de Paulo Mzé
mos a importância dos meios de
comunicação social.
A Igreja vive do Pão da Palavra
e da Eucaristia. A Bíblia, os livros
sagrados do Antigo e do Novo
Testamento, contém doutrinas
reveladas por Deus a profetas e
evangelistas. No documento 109,
Diretrizes Gerais da Ação Evange-
lizadora da Igreja no Brasil 2019-
2013, da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), lê-se:
“Atualmente, diante da comple-
xidade urbana e da mudança de
época, retorna-se a indicação do
Documento de Aparecida sobre as
pequenas comunidades eclesiais,
consideradas como ambiente pró-
prio para escutar a Palavra de Deus,
viver a paternalidade, animar a
oração, aprofundar processos
de formação continuada de fé, e
fortalecer o firme compromisso
do apostolado na sociedade de
hoje (DAp, nº 309). É na força da
Palavra de Deus que devemos
formar verdadeiras comunidades
de discípulos missionários (At 2,
42-47; 4, 32-37).
Um pouco de história
A pesquisa em comunicação
não é uma atividade científica
recente. Suas origens remontam
à antiguidade grega, mais preci-
samente ao século III a. C.
Os sofistas localizam-se no sé-
culo III a. C., principalmente, na
Grécia. Esta fase compreende os
estudos feitos por Platão, Aris-
tóteles e seus discípulos. Foram
estudos sobre a Retórica.
Inicialmente assumindo um
caráter ideográfico, a escrita evo-
lui, pouco a pouco, para estrutu-
ras fonéticas que culminam com
a implantação do alfabeto. Não
obstante isso ocorrer 4.000 antes
da era cristã, a verdade é que
sua difusão só se verifica muitos
e muitos anos depois. Porque
a escrita não apena significava
instrumento de comunicação ou
registro cultural; mas era, antes
de tudo, símbolo de poder.
O aparecimento da escrita sig-
nificava potencialmente a aces-
sibilidade de todos os indivíduos
aos bens culturais da comunidade
e, consequentemente, ameaçava
a desarticulação dos sistemas de
mando.
O livro surge com a escrita
ideográfica. No começo, sob a
forma dos rolos em pergaminho,
ou madeira e barro. Desenvolve-se
com a escrita alfabética, tornando
Pandemia
do novo
Cooronavírus
despertou para
a importância
dos meios de
comunicação
social.
a forma de manuscrito em papel.
Porém, a sua ascensão como veí-
culo da comunicação só vai ocorrer
com a imprensa, no século XV.
No século XVIII deparamo-nos
com o desenvolvimento da Pesqui-
sa em Comunicação devidamente
sistematizada e oficializada pela
elite intelectual. No final do século
XIX iniciam-se estudos sobre os
meios de comunicação coletiva
e seus efeitos.
Com a efetiva implantação da
tipografia, já nos séculos XV e XVI
predominava um rígido controle
nos trabalhos de impressão. Só
com a abolição da censura prévia e
a possibilidade de circulação livre
de jornais, permitindo o acesso a
quaisquer pessoas que estivessem
em condições de fazer, é que apa-
receu esse tipo de comunicação
noticiosa.
Ao poder disseminador e re-
volucionário do livro é imposto
o controle a que o mesmo passa
a ser submetido, assim sendo, a
partir do século XVI. A Igreja e os
governantes cercearam a difusão
da escrita, tornando-a privilégio de
um reduzido número de pessoas,
que passariam a contribuir com
cartas de letrados.
O fenômeno que ocorreu no
século XIX com a Revolução Indus-
trial, quando do aparecimento da
máquina a vapor, das ferrovias, do
telégrafo e do telefone, deu gran-
de impulso à imprensa e suscitou
o interesse dos cientistas pelo
estudo minucioso dos diversos
aspectos de sua influência sobre
a opinião pública – verificou-se
também no século XX, com a re-
volução eletrônica.
Avanços no século XX
O século XX é considerado o
século das comunicações audio-
visuais. E, portanto, uma etapa
revolucionária na História da ci-
vilização, porque marca, cinco
séculos após a grande invenção
de Gutemberg, o aparecimento
de novas formas de difusão de
informação, capazes de abalar o
prestígio tradicional e solidificado,
da imprensa.
O aparecimento do rádio, do
cinema, da televisão e de outros
instrumentos modernos que per-
mitiram tornar muito rápido a
transmissão de informações torna
o século XX conhecido como o
século das ciências da informação.
Estamos acostumados a ouvir
falar, hoje em dia, sobre a deca-
dência do livro. A origem desse
fenômeno acha-se relacionada
com o desenvolvimento espan-
toso que os meios audiovisuais
de comunicação experimentam
na sociedade contemporânea: a
expansão do rádio e da televisão,
o aperfeiçoamento do cinema, a
implantação dos satélites artificiais
como sistema mundial de difusão
de informação. Foi, contudo, a obra
do professor canadense Marshall
McLuhan que popularizou o este-
reótipo do declínio da “Galáxia de
Gutemberg”.
Revolução cultural
De proposito, vamos tornar
como fonte de referência a siste-
matização formulada por McLuhan
para a análise das etapas da re-
volução cultural da humanidade:
- Tribalização – iniciou-se no
próprio momento da humani-
zação. Ou seja, desencadeou-se
quando o homem adquire a lin-
guagem. Essa aquisição vai-se
fazer não só no gregarismo, mas
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 25
 também na cooperação. Incorpora
a linguagem como instrumento
indispensável de comunicação e
de sobrevivência social, os indi-
víduos deixam simplesmente de
lutar uns contra os outros e de se
destruírem. E começam a perpe-
tuar os modos de intervenção na
natureza e de organização socie-
tária, solidificados sob a forma de
padrões culturais.
- Destribalização – tem origem
na invenção da escrita. Numa pers-
pectiva antropológica, tal fenôme-
no corresponde a uma inquietação
cultural de certos indivíduos na
sociedade, que não se satisfazem
com os instrumentos disponíveis
da cultura alfabética”, vai com-
pletar essa obra, proporcionando,
segundo McLuhan, “instrumento
e oportunidades para o individua-
lismo e a auto-expressão pessoal
na sociedade”. O livro, primeiro
produto da imprensa, vai acarretar
uma verdadeira revolução, alar-
gando a uma maior faixa de ser
privilégio das elites e dos podero-
sos. Aliás, o próprio surgimento do
livro acelera o movimento a faixa
dos alfabetos e letrados.
Imprensa elitista
É exatamente, a partir dessa ca-
racterística em certo sentido elitista,
cultura, não apenas no sentido
de programação, mas também no
sentido de percepção dos bens
criados pelo engenho humano.
É dentro desse contexto que se
prega a decadência da imprensa e
do livro. A realidade, porém, tem
mostrado tendências diferentes.
Ou seja, ao invés de declínio, a
imprensa e o livro continuam ainda
em fase de expansão.
A evolução dos meios de comu-
nicação de massa está indicando
que nenhum veículo substitui ou
aniquila o outro. Antes pelo con-
trário, acelera e estimula o uso
dos demais.

GETTY IMAGES/ISTOCKPHOTO
e querem criar novos. Libertando
o homem da dependência direta
aos ancestrais e pondo à sua dis-
posição um vasto patrimônio de
experiências, conservado sob a
forma de registros gráficos.
- Retribalização – ocorre so-
mente nos meados do século XX,
quando a imprensa perde o seu
monopólio como meio de comu-
nicação de massa e surgem novos
instrumentos capazes de eliminar
barreiras geográficas, linguísticas
e culturais. O fenômeno da retri-
balização estaria ligado à consti-
tuição de uma aldeia global, de
que a televisão seria o veículo
básico, institucionalizando uma
linguagem universal – a imagem
que é a linguagem da evidência.
Os meios audiovisuais aparen-
tam maior vinculação com a cultura
oral, atingem rapidamente os pú- da imprensa que se procura delinear Enfim, os meios de comunicação
blicos analfabetos e os incorporam a seu potencial, decadência como nos lembram que comunicar é uma
à contemporaneidade. Os meios meio de comunicação de massa. das dimensões fundamentais do ser
impressos, por sua vez, encontram- Não obstante possamos des- humano. A ponto dele depender,
-se ligados às vezes na cultura tacar certas vantagens dos meios grande parte, da qualidade das re-
alfabética. Logo, restringem-se aos audiovisuais como instrumentos lações humanas. Assim como dele,
públicos letrados. Na fase tribal, o de difusão cultural – sobretudo dependeonossotestemunhocristão.
poder geralmente estava mono- o fato de democratizarem gran- Não basta, no entanto, ter acesso
polizado pelos velhos guardiões de quantidade de mensagens, aos instrumentos de comunicação.
do patrimônio coletivo, que eram literárias ou cientificas que ate Também é preciso refletir sobre até
a vida e porta-vozes a serviço da então permaneciam restritas às que ponto o conteúdo das informa-
manutenção das tradições. elites cultas -, na verdade é pre- ções predominam na cultura criada
Se a escrita já tinha desenca- ciso reconhecer que a imprensa, pela comunicação moderna. 
deado a destruição da vida tribal, especialmente o livro, continua
a imprensa, como “fase extrema sendo a mais completa fonte de Paulo Mzé, imc, é diretor da Revista Missões.

26 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES


O Deus
único de
Israel
de Mauro Negro
I
srael, no Antigo Testamento, crê em um único Deus.
Em outro artigo nós observamos o Credo monoteís-
ta, que é a afirmação de um Deus que cria, liberta,
educa e salva. Este credo está em Gênesis 1, 1 a 2,
3. Normalmente é identificado como “narrativa da
criação”. Na realidade, este texto tem a função de ser
uma declaração de Fé em um único Deus, que elege
um povo para com ele fazer uma Aliança.
O Antigo Testamento apresenta muitos tipos de
textos, como poesias, cartas, relatos de prodígios,
narrações, novelas, cantos, e tantos outros. Em grande
parte, o Antigo Testamento apresenta a história teoló-
gica do Povo da Aliança. Na história teológica acontece
a Revelação, que é conhecimento e vivência que não
se alcançaria naturalmente. Ela é “sobrenatural”, isto
é, vem de Deus. Aqui entram elementos importantes
como a transmissão, a educação, a celebração. Estas
coisas definem o modo de ser do Povo da Aliança e
foram assumidas pelo cristianismo.
Todo o Antigo Testamento afirma que Deus é
Único. A própria palavra “Único” é importante na
BÍBLIA
Ouve, ó Israel: o Senhor
nosso Deus é o único
Senhor! (Deuteronômio 6, 4)
compreensão do texto. Pode-se dizer que a principal
ideia teológica nele é o monoteísmo, que é o fato de
Deus ser “Um”. O centro teológico se encontra na
declaração de Deuteronômio 6, 4 que afirma: “Ouve,
ó Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor!”
A transmissão do Monoteísmo
O Monoteísmo é uma realidade exigente, difícil de
ser seguida e vivida. Por isso, o Antigo Testamento,
quando afirma esta realidade, insiste que ela deve
ser transmitida às novas gerações. Os filhos devem
aprender isso, e cabe aos pais este ensino. A educação
é algo fundamental para o Judaísmo, que existe em
torno ao Antigo Testamento. O Deus Único deve ser
seguido e de modo insistente lembrado e ensinado:
“Que estas palavras que hoje te ordeno estejam em
teu coração!” (Dt 6, 6). O texto de Deuteronômio
continua falando das palavras sobre o Deus Único,
assim: “Tu as inculcarás aos teus filhos, e delas falarás
sentado em tua casa e andando em teu caminho,
deitado e de pé” (Dt 6, 7). A adesão de vontade, in-
teligência e afeto é indispensável. Assim se lê nesta
passagem: “…fica atento a ti mesmo! Não te esqueças
do Senhor, que te fez sair da terra do Egito, da casa
da escravidão! É ao Senhor teu Deus que temerás. A
ele servirás e pelo seu nome jurarás (Dt 6, 12-13). 
Mauro Negro, OSJ. Biblista PUC São Paulo SP mauronegro@uol.com.br
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 27
 ENTREVISTA
Sem piedade de Maria Emerenciana Raia
C
omo estão os privados de
liberdade em tempos de
pandemia? O Coronaví-
rus está em todo lugar,
sem-fronteiras... Atingiu o
sistema carcerário? Para responder
a essas e outras questões, Missões
entrevistou com exclusividade, o
missionário da Consolata, padre
Gianfranco Graziola, que já foi vice-
-presidente da Pastoral Carcerária
Nacional e continua atuando junto
a esse público, que necessita de
Consolação.
Há um silêncio sobre a pande-
mia do Coronavírus nos presídios.
O senhor, como membro da Coor-
denação da Pastoral Carcerária
Nacional, tem informações sobre
a disseminação da Covid-19 no
sistema carcerário?
É verdade que há um silêncio
sobre a pandemia da Covid-19
28 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
nos presídios. As únicas e poucas
notícias que temos nos vêm dos
parentes dos privados/as de liber-
dade e de alguns encarcerados que
deixam o sistema devido à conclu-
são da pena. Mesmo nesta con-
tingência, o sistema penitenciário
demonstra toda a sua perversidade
satânica e seu papel punitivista e
de controle dos corpos negros,
pobres e periféricos. A Covid-19
veio acentuar e piorar uma situação
já caótica preexistente no sistema
carcerário que, na sua função de
controle social da pobreza já tem
um papel preponderante e acaba
se transformando num mecanismo
moderno de tortura constante e
difusa. Apesar da falta e escassez
de notícias, sabemos que temos
muitos casos da Covid-19, outros
tantos contaminados e um número
significativo de óbitos. Sabemos
também que houve contaminação
de agentes penitenciários e isso
levou até a morte do diretor de
uma unidade prisional.
O que o poder público tem
feito para proteger os privados
de liberdade? O que mudou na
rotina deles?
Perante a Covid-19 e a possibi-
lidade de contaminação e de uma
hecatombe no sistema peniten-
ciário devido à superlotação, as
péssimas condições de higiene, a
escassez de material de limpeza
e de uma possível dedetização
da unidade prisional, o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), através
de seu presidente, publicou uma
recomendação para os juízes das
comarcas de todo o país, convi-
dando-os a tomar algumas provi-
dências em relação aos privados e
privadas de liberdade. As medidas
eram dirigidas em primeiro lugar
às mães com filhos menores de 12
anos; logo em seguida às pessoas
em situação de risco, devido à idade
ou às doenças graves, para quem
a recomendação sugeria a prisão
domiciliar com o uso da tornozeleira
eletrônica. O presidente do CNJ
recomendava aos juízes das bases
para antecipar as progressões de
penas, seja para quem estava pres-
tes a concluir o cumprimento, como
para quem estivesse para ir para o
regime semiaberto tendo em conta
a súmula 56 do Supremo Tribunal
Federal que proíbe a manutenção
de um privado de liberdade num
regime de detenção mais gravoso
daquele previsto pela Lei de Exe-
cução Penal. Fazendo um exemplo,
uma pessoa que tenha direito ao
semiaberto não pode ser mantida
em regime fechado e caso o Estado
não tenha estabelecimento para
isso, a medida deve ser a prisão
domiciliar. Infelizmente os juízes das
comarcas não têm seguido muito
esta recomendação e por isso a
soltura e as prisões domiciliares
de pessoas privadas de liberdade
tem sido pouco significativa e irre-
levante. Um caso impressionante
tivemos recentemente, onde num
estabelecimento foram encontra-
dos mais de 300 pessoas infectadas
com a Covid-19. A decisão do de-
sembargador foi a soltura e prisão
domiciliar de todos. Infelizmente,
a pressão populista fez com que
todos os órgãos do sistema peni-
tenciário voltassem atrás e estas
pessoas fossem levadas para uma
unidade prisional e lá mantidas
em quarentena e não tenhamos
dúvidas, em condições que ferem
os Direitos Humanos e todos os
tratados internacionais, beirando
à barbárie que no século 21 não
esperaríamos mais ver.
Perante as demonstrações da
Pastoral Carcerária e de várias or-
ganizações de Direitos Humanos,
as Secretarias de Administração
Penitenciária asseguraram que
seriam fornecidos material de lim-
peza e desinfecção, os privados de
liberdade teriam o aumento da
frequência e do tempo do banho
de sol e o fornecimento de ma-
terial de proteção pelos agentes
penitenciários. Também qualquer
caso de Covid-19 que aparecesse,
a pessoa e toda a cela seria isolada
Não houve e não
há manifestação de
solidariedade para com
o privado de liberdade,
devido ao pensamento
da maioria de que ele
deve pagar pelo que
fez, seja de que modo
for.
e colocada em quarentena. Foram
também suspensas todas as visitas
religiosas, dos familiares e dos pró-
prios advogados. Apesar de tudo
isso que, sabemos não passa de
palavreado, tivemos e continuamos
a ter casos de Covid-19 e também
mortes. É de sinalizar que neste
período o número de denúncias
por tortura feitas através de nosso
site, mais que duplicou.
A Pastoral Carcerária tem con-
seguido realizar algum trabalho
nos presídios?
A Pastoral Carcerária, assim
como outras denominações reli-
giosas faz 90 dias que não adentra
nos estabelecimentos prisionais
e nas galerias onde se encontram
os privados de liberdade. Apesar
disso, continua seguindo nas por-
tas das cadeias levando materiais
de limpeza, alimentos, agasalhos.
Também continua atenta nas suas
diversas ramificações estaduais,
diocesanas e locais seguindo passo
a passo a situação dos privados de
liberdade e cobrando as autorida-
des, e particularmente, o Judiciário,
sobre a saúde e a preservação da
vida deles. Isso concretizando a
Campanha da Fraternidade que
nos convida a ver, ter compaixão
e cuidar.
Algum contato com as famílias
dos privados de liberdade nesse
período?
O trabalho com familiares dos
privados de liberdade é uma rea-
lidade que vem já de longa data e
bem antes da Covid-19 e se está
espalhando a nível nacional cada
vez mais. O nosso contato com as
famílias continua e nesse tempo
devido ao fato de sua impossibi-
lidade de visitar seus entes que-
ridos, fator que aumentou sua
preocupação e tensão, tem sido
ainda mais intenso. Com elas nós
partilhamos a preocupação para
com os privados de liberdade e
os assessoramos através de nosso
setor jurídico para suas reivindi-
cações junto às autoridades, por
exemplo, quando não era permi-
tida a entrada de itens de limpeza
pessoal, que elas enviam e que o
Estado não fornece. Muitos Sedex
foram devolvidos, ou até comida
que parentes levavam à unidade
prisional, após a saída deles era
jogada no lixo, não chegando aos
privados de liberdade que em al-
guns casos passam fome.
Para os sem-teto, houve ma-
nifestação de solidariedade por
parte de vários segmentos da so-
ciedade. O mesmo aconteceu com
os privados de liberdade?
Infelizmente temos de dizer que
não houve e não há normalmente
manifestação de solidariedade,
devido ao grande preconceito que
sofre o privado de liberdade e a ideia
dominante que, como ele errou
deve pagar mesmo de uma forma
rígida e totalmente desumana.
Enquanto os sem-teto são “coitadi-
nhos”, os privados de liberdade são
“bandidos”, e, portanto, um perigo
para a sociedade que os quer punir
para além da medida estabeleci-
da pela Constituição e pela lei da
execução penal. Um dado de fato
é importante nesta pandemia, a
Covid-19 está nos mostrando a raiz
humana da crise ecológica. “Há um
modo desordenado de conceber a
vida e a ação do ser humano, que
contradiz a realidade até ao ponto
de a arruinar.” [LS.101] 
Maria Emerenciana Raia é jornalista e editora
da revista Missões.
JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES 29
 Desemprego na pandemia
O Brasil terminou o primeiro trimestre
de 2020, mesmo período em que o Coro-
navírus chegou ao país, com 1,218 milhão
de pessoas a mais na fila do emprego. Com
a alta no número de desempregados, a
taxa de desocupação avançou para 12,2%
contra 11% no quarto trimestre de 2019,
segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) divulgados no
final de maio. Em março, o país começou a
sentir os efeitos econômicos da pandemia,
com fechamento de bares, restaurantes e
comércio para evitar o avanço da Covid-19.
A população desocupada foi de 11,632
milhões, no último trimestre de 2019, para
12,850 milhões nos três meses de 2020,
segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio), do IBGE. A alta no
VOLTA AO BRASIL
período foi de 10,5%.
Desigualdade econômica
Pesquisa divulgada dia 6 de maio pelo
IBGE mostra que a desigualdade de renda
no país parou de crescer após três anos
seguidos de alta. Mas estagnou nos maiores
patamares da série histórica, iniciada em
2012. Com a queda do desemprego para
11% no ano passado, aumentou em 2019
a fatia da população que tinha algum tipo
de rendimento. A melhora no cenário,
porém, foi acompanhada de uma explo-
são na informalidade, que atingiu o maior
nível desde 2016. De acordo com o IBGE,
2,4 milhões de brasileiros passaram a ter
algum rendimento do trabalho em 2019,
elevando a 44,1% o número de pessoas
nessa situação. A renda média mensal do
trabalhador foi de R$ 2.308 por mês, ante
R$ 2.317 no ano anterior. O estudo mostra
que a metade mais pobre da população vive
com uma renda média de R$ 850 por mês.
Diferença salarial
A diferença de rendimentos entre tra-
balhadores brancos e pretos aumentou em
2019, atingindo o maior patamar desde
2016, segundo o IBGE. A renda média
mensal dos pretos, de R$ 1.673, equivale
a 55,8% da dos brancos, de R$ 2.999. Foi a
segunda maior diferença da série histórica
da pesquisa, iniciada em 2012, perden-
do apenas para 2016. Os trabalhadores
que se declaram pardos tiveram em 2019
renda média de R$ 1.719 por mês. Nesse
30 JUNHO/JULHO/AGOSTO 2020 MISSÕES
caso, porém, a diferença se mantém pra-
ticamente estável nos últimos anos, após
queda em 2016. Em 2019, os trabalhadores
pretos representavam 10,4% da população
ocupada no país. Os brancos são 44,8%
da população ocupada, que somou 92
milhões de pessoas em 2019. A pesquisa
do IBGE mostrou que permanece grande
a desigualdade salarial também entre
homens e mulheres. No ano passado, a
renda média das mulheres foi de R$ 1.985,
enquanto a dos homens foi de R$ 2.555.
Isto é, a renda média das mulheres era
equivalente a 77,7% da dos homens. A
diferença é maior que os 78,8% de 2018,
mas mostra evolução em relação aos 73,6%
de 2012. As mulheres representam 43,2%
da população ocupada em 2019, evolução
em relação aos 41,6% de 2012.
Avaliação do governo
A avaliação negativa do governo Jair
Bolsonaro (sem partido), subiu 12,4 pon-
tos percentuais, de 31% para 43,4%, en-
tre janeiro e maio deste ano, de acordo
com pesquisa CNT/MDA divulgada dia
12 de maio. A avaliação positiva oscilou
negativamente de 34,5% para 32% neste
período. Para a pesquisa do instituto MDA
contratada pela Confederação Nacional dos
Transportes, foram feitas 2.002 entrevistas
por telefone, de 7 a 10 de maio, em 494
municípios de 25 unidades da Federação.
Violência Policial
O governo federal excluiu do relatório
anual dos direitos humanos, o Disque Di-
reitos Humanos, indicadores de violência
policial praticada no Brasil em 2019, o
primeiro ano da gestão Bolsonaro. Se-
gundo o Ministério da Mulher, da Família
e Direitos Humanos, responsável pela di-
vulgação, há inconsistência nos dados. O
relatório é considerado um dos principais
termômetros disponíveis no país sobre a
violação dos direitos humanos. Por isso, os
números poderiam ajudar a entender como
se comportam as forças de segurança, em
especial as PMs, naquele ano. O relatório
é produzido com base em denúncias feitas
ao Disque 100, canal que atende relatos de
violação de direitos humanos no país. 
Fonte: Folha de S. Paulo, Reuters.
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