O sol nascente iluminou o horizonte com um suave matiz
alaranjado. Mathura, a cidade do Senhor Krishna, acordava com o burburinho dos primeiros devotos a caminho do local onde se acredita que o mestre nasceu há alguns milhares de anos. Mitra olhou a rua enlameada pela chuva, que caiu durante toda à noite e vendo uma charrete de aluguel fez sinal ao condutor. Cerca de vinte minutos depois elas chegaram à casa de Sumitra, que ficava em uma praça com inúmeras árvores seculares, entre as quais vários fícus, primaveras em tons de vermelho, acácias e alguns deodares, que são árvores da família dos cedrus. Assim que Nirmalá tocou um sino pendurado na entrada, uma criada veio recepcioná-las e as conduziu para uma varanda, onde uma jovem senhora vestida com um belo sári vermelho as esperava. Nirmalá sorriu ao avistar sua amiga Jayaní Mallya que veio ao seu encontro de braços abertos. Como você está linda! – ela exclamou olhando-a de cima a baixo. Obrigado. – ela agradeceu sorrindo. Por favor sejam bem vindas, Sumitra estará ausente pela manhã, mas pediu-me para recebe-las e acomodá-las. A propósito, eu tenho uma correspondência para a doutora Giovànna. Ah! Aqui está. – disse entregando um pacote. Ufa! Deve pesar uns cinco quilos. – comentou Giovànna. Mais tarde, ao abrir a correspondência ela encontrou o dossiê enviado pelo filho de Arabella Stone, com os relatórios médicos do Hospital Central de Asheville. Após ler as duas centenas de páginas, contendo minucioso detalhamento de todos os exames e os diagnósticos radiográficos, efetuados antes e após as cirurgias, não havia nenhuma dúvida, a lesão vertebral tinha provocado uma paraplegia irreversível. Por um momento Giovànna sentiu-se vazia e pensou: “Então realmente foi um milagre? Meu Deus há quanto tempo eu havia deixado de acreditar em milagres! - um calafrio percorreu seu corpo. – Quem é essa mulher?” Quando Manisha entrou no quarto, Giovànna olhou-a com um olhar vago e sem nada dizer. Percebendo algo estranho, Manisha perguntou: Você está bem? Manisha, você realmente teve lepra? Manisha abaixou a cabeça constrangida, e Giovànna acrescentou: Desculpe, eu não queria lhe ofender. Perguntei porque estou perplexa com as curas que Nirmalá faz, mas agora acredito que tudo foi real, tanto você quanto Arabella foram curadas por ela. Lá no fundo eu ainda tinha dúvidas, mas agora não as tenho mais. Manisha olhou-a corada e com os olhos marejados perguntou: Você não tem vergonha ou repugnância de mim, tem? Não minha amiga, eu não tenho vergonha de você, perguntei porque tinha dúvidas, mas agora sei que sua cura foi real como você me contou. Você estava doente de verdade e Nirmalá a curou, tal como curou Arabella. Para mim isto tudo é inusitado, creio que eu nunca acreditei que um dia iria encontrar alguém com estes poderes. Ramba e Mitra que acabavam de entrar no quarto, escutaram a conversa sem fazer nenhum comentário. Não sei Giovànna, eu considero Nirmalá a encarnação da Mãe Divina! Giovànna olhou-a e deixou-se cair sobre a cama. Meu Deus, como você simplifica as coisas, isto tudo é demais para minha cabeça! Encarnação da Mãe Divina ..., encarnação de uma Deusa! O que isto significa? – disse olhando-as de sobrancelhas erguidas. Tudo isto está além de minha compreensão, embora eu sinto ter sido uma personagem ou testemunha de uma dessas histórias. Então, para mudar de assunto, ela colocou o relatório medico de lado e pegou um envelope de Bolonha, que abriu sem ler o remetente. Ela sabia que era do professor Martino. A carta era longa e elogiava seus relatórios anteriores, mas ao mesmo tempo chamava a sua atenção para o fato de que ela estava se afastando do objetivo da pesquisa. Ela não pode deixar de concordar com Martino, pois de fato ela estava afastando-se do objetivo, mas por uma causa justa. Justa? Para quem? Ela sorriu e murmurou em voz baixa: “para mim, claro”, afinal eu estou descobrindo e vivendo algo que é mais importante do que este estudo acadêmico. Após ler a carta várias vezes, jogou-a sobre a cama murmurando: “minha nossa, eu estou perdida!” Em meio a tantos questionamentos de foro íntimo, ela gostaria de ter alguém para dividir sua inquietude, ou ter um pouco mais de tempo para conversar com Nirmalá. Então pegou seu diário de anotações e começou a reler seus apontamentos, lembrando do incidente da jovem curada de um tumor no pescoço, bem à sua frente na casa de Usha Rao. “Eu fui testemunha disto também!”
Após o almoço Giovànna encontrou Nirmalá sentada sob a
sombra de um fícus e aproveitou o momento para conversar com ela. Nirmalá eu recebi o relatório médico do acidente da senhora Arabella. Nirmalá olhou-a com carinho esperando em silêncio o que ela tinha a dizer. A lesão espinhal era clinicamente irreversível. No entanto, você fez alguma coisa e acabou curando-a! Você levantou-a e disse; anda. E ela trêmula manteve-se de pé, e no dia seguinte já estava andando com auxílio de uma muleta. Como foi isto minha irmã? Giovànna eu não posso explicar as obras da Mãe Divina, Ela faz o que pode ser feito e a mim somente cabe observar. Observar? Mas foi você que a curou dizendo; anda! Não, eu somente fiz o que Ela me inspirou para fazê-lo. Está bem, está bem, mas se você não estivesse lá, nada teria acontecido, e Arabella ainda estaria paralítica, não é? Creio que sim, mas foi a Mãe Divina que me colocou frente a ela naquele momento. Sua hora havia chegado e eu estava ali para cumprir a vontade da Dela. Nirmalá, eu acho que você está me enrolando. – disse com carinho. Eu não sei quem é esta tal de Mãe Divina que você fala, mas se houve um milagre, e agora tenho certeza que houve, foi você quem o fez! Nirmalá sorriu. Não importa como você vê as coisas minha amiga, o poder da cura não está na minha pessoa, e sim na presença da Mãe Divina em meu coração. Espera..., espera um pouco, então você concorda que está encarnando um Ser Divino? Eu não sei bem o que você quer dizer por encarnando, mas sinto que Ela sempre está comigo inspirando-me em minhas ações. Nirmalá, sem mudar o assunto, mas o que é Deus para você? Quem é este Ser que você diz somente “representar”? Eu não sei. Existe um Deus? Giovànna olhou-a surpresa. Não me diga que você não acredita em Deus! Esta tua Mãe Divina não é uma Deusa? Giovànna eu não posso responder suas perguntas simplesmente dizendo sim ou não, sem saber o que as palavras significam para você. Em geral as pessoas têm uma visão antropomorfizada da Divindade, que não é nem Ele, nem Ela. Descrevê-La é impossível, porque Ela está além da nossa compreensão e além de todas as referências lingüísticas. O que eu posso lhe dizer é que Ela é a matriz vibracional da qual todo o Universo surge para ser apreendido pela subjetividade da cognição humana. Giovànna escutava com admiração e humildade. “Como gostaria que meu tio estivesse aqui para escutar esta ragazza”, pensou esboçando um tímido sorriso. Nirmalá devolveu o seu sorriso e disse: Creio que ele não iria querer escutar. Seu tio é um sacerdote que cuida dos negócios da sua igreja e não creio que ele esteja interessado em conhecer a Verdade tal como ela é! Giovànna deu um grito. Mamma mia, você sabe o que eu penso! Nirmalá abraçou-a e beijou-a no rosto. Quem mandou você pensar em voz alta! Como você fez isto? Não importa. Talvez eu esteja brincando com você para questionar a sua fé. Lembra quando você não se sentiu bem durante o ritual na casa de Bakun Mahal? Giovanna acenou com a cabeça confirmando. Tudo aconteceu porque você duvidou, e ao duvidar foi seqüestrada por seres primitivos. Sua fé ainda é insipiente e por isto às vezes você duvida e se abre para as vibrações negativas. É, eu creio que minha formação foi alicerçada em pressupostos equivocados. - disse Giovànna fazendo uma careta. Tudo em minha religião lembra sofrimento, dor, tristeza, amargura. Sabe, isto sempre me incomodou muito. Minha amiga, a verdadeira busca de Deus é um caminho de alegria, prazer e auto-realização. Não veja teu Deus, como um indivíduo a quem você deve prestar contas de teus atos. Ele não te vigia, nem te pede sacrifícios. Ele é amor. Por isto, namore-O, sinta-O em você e saiba que Ele ou Ela quer compartilhar com você a felicidade da vida. Talvez agora você compreenda porque não dei uma resposta direta a sua pergunta sobre se eu acredito em Deus, ou não. Eu acredito na Divindade mas Ela ou Ele não é aquilo que as religiões ensinam. Eu entendo a Divindade como amor prazeroso. A minha compreensão sobre Ela não é de uma figura humana, com características humanas, e sim de um Ser cósmico que a tudo vê como a testemunha da sua própria manifestação. Confie em mim, minha irmã, a Divindade não julga, nem distribui prêmios ou castigos. A Divindade que alegra meu coração não é isto. Ela é a inteligência, a consciência suprema por detrás do véu da ilusão que cria a materialidade. Pensando Nela e sentido Sua presença em mim, eu tenho vontade de chorar de alegria, dançar e cantar, porque Ela me inspira com sua alegria e sua feminilidade. Feminilidade! Então teu Deus é uma mulher? Desculpe, quero dizer um Ser feminino? Giovànna, a rigor a Divindade está além das dualidades. Mas eu a vejo como a Mãe Divina, porque Dela emanam qualidades muito femininas, tais como sensibilidade, doçura, compaixão, alegria, ternura e amor, muito, muito amor. Mas você a vê como uma entidade feminina? O ser que eu vejo como uma jovem menina de olhos de mel é a materialização em minha mente da Sua vibração feminina. É sempre assim que as ilusões se fazem presente em nós. Nirmalá, neste pouco tempo em que estou com você, seguindo-a e escutando-a eu aprendi muito, mas a minha mente tem ido a exaustão. Você faz coisas que até o Papa duvidaria, e no entanto você é uma mulher simples, jovem, alegre e sensual. Sensual? Porque você insiste nisto? Querida, eu vi você dançar..., e você o faz com muita sensualidade, não negue. Sei, e o que isto tem de mais? Nada, mas na minha cultura nós aprendemos que feminilidade e sensualidade, não combinam ou são proibidas na vivência da religião e do sagrado. Mas você concilia as duas coisas, sendo ao mesmo tempo sensual e milagreira! Saiba que na minha religião as santas são assexuadas! Nossa Senhora era virgem..., você entende? Eu entendo sua forma de pensar e nós até já conversamos sobre isto, mas esta é uma maneira incorreta de entender a vida, pois a sexualidade é uma dádiva divina e como tal sagrada. Nós estamos aqui para viver uma experiência, e esta experiência envolve também este lado da vida. Assim, a Divindade nos fez machos e fêmeas para vivenciarmos Seu poder em ação, e vivê-lo de forma natural. Vivendo eu aprendi que tudo que a Divindade nos outorgou é sagrado e por isto deve ser vivenciado com respeito e sem sentimento de culpa. Então você acredita que a religião, a sensualidade e o erotismo se combinam? Eu não diria que se combinam, diria que não se opõem. O que você chama de sensualidade e erotismo é somente a manifestação da natureza humana de maneira saudável e lúdica. Nada mais, nada menos. Quem é saudável e ama a vida, ama a si mesmo e a natureza como um todo. Por isto eu digo que não se pode amar sem ser simples, natural, sensual e lúdico. Nirmalá, esta conversa com você me faz pensar que perdi grande parte da minha vida, sinto que tenho muito que reciclar com você. Talvez o ocidente tenha muito que aprender com a Índia. Querida, deixe-me lhe dizer uma coisa, não crie ilusões quanto à Índia. A Índia é diferente do ocidente somente nas aparências. As pessoas aqui também ignoram as verdades eternas. Aqui também tem muito preconceito, maldade, violência e crueldade. Nós tivemos e temos mestres espirituais maravilhosos, mas a grande maioria somente os reverencia, sem compreender seus ensinamentos e sem procurar vivencia-los no dia-a-dia. Aqui também tem escravidão, prostituição de crianças, assassinatos de viúvas, pobreza e miséria. Mas a imagem que eu tenho da Índia é muito diferente. Eu vejo a Índia como um país espiritualizado. Eu sei, a Índia é um país onde a religiosidade está impregnada nas pessoas, mas isto também ocorre no teu país. Tanto aqui, como lá, a compreensão da verdade é lenta e o aprendizado é muito difícil. Em todos os lugares vamos sempre encontrar uma minoria que vive a espiritualidade da forma correta, seja aqui ou seja lá – Nirmalá fez uma pausa e sorriu -, Mas você sabe que na Índia uma minoria é muita gente e equivale a uma Itália inteira, não é? E você há de convir comigo que isto pesa muito, independentemente do restante das pessoas não ser diferente de nenhum outro lugar do mundo. Então, como você crê que a espiritualidade deve ser vivida? Giovànna, a espiritualidade saudável é vivida quando nós compreendemos que somos feitos à imagem e semelhança da Divindade, e que Ela vive em nossos corações sem se importar como vivemos nossa vida, pois acreditar que a Divindade nos vigia, nos pune ou nos premeia pelo que fazemos, são crenças que estabelecem entre o devoto e o divino uma relação de troca que nos afasta do amor incondicional, a única razão de procura-Lo em nossos corações? Nirmalá, eu ainda tenho muito a aprender com você, embora sinta que você já esteja mudando a minha vida. Uma mulher aproximou-se delas e as cumprimentou com um sorriso. Boa tarde! Você é Nirmalá, não é? Eu estou feliz em recebe-la em minha casa. Nirmalá levantou-se e sorriu para a recém-chegada. Sumitra, eu te agradeço muito por nos receber. Mais uma vez seja bem-vinda. Há muito queria conhecê-la. Obrigada, mas deixe-me apresentá-la a doutora Giovànna, que veio da Itália para estudar a nossa cultura. Elas se abraçaram. Além de ser uma bem sucedida mulher de negócio, Sumitra era uma fervorosa devota de Krishna e sua casa era toda decorada com esculturas e imagens Dele e sua consorte Radha. Vendo-as, Jayaní veio juntar-se a elas. Vejo que já se conheceram, não é? Você sabia que Sumitra é de uma família que descende diretamente de Shrí Krishna? Desconfiei pelo sobrenome Yadavalí, que tem origem no clã dos Yadas, não é? Sumitra balançou a cabeça afirmativamente. Sou muito grata a Krishna por ter nascido no seu clã. Sou sua devota e me considero uma de suas Golpis. Todos riram, menos Giovànna que não entendeu o significado do termo. As golpis foram as “namoradas” de Krishna, elas eram milhares. Parece que Ele foi um apaixonado pela presença feminina na criação! – disse sumitra. Daqui a três dias será celebrado um festival em louvor a Krishna. Nós estamos preparando uma grande comemoração e eu gostaria que você fizesse uma locução durante a comemoração. Manisha olhou para Mitra e sorriu. Nirmalá percebeu e segurando em seu braço perguntou: O que foi minha irmã? Desculpe Nirmalá, mas eu tinha apostado com Mitra que iríamos neste festival, e que você iria nos falar algo sobre os ensinamentos de Krishna. Será que eu acertei? Sumitra olhou-as e sorrindo disse: Acertaram sim! Eu acho que vocês leram as minhas intenções, pois em verdade eu gostaria que Nirmalá fizesse um tributo em homenagem a Krishna. Sinto-me muito feliz e agradecida em poder compartilhar com vocês uma homenagem a Krishna.
Naquela noite Sumitra ofereceu-lhes uma soirée, alegrada
por um grupo de músicos que acompanhavam três cantoras, interpretando várias melodias carnáticas. Giovànna apreciava a comida e ao mesmo tempo se deliciava com as entoações melódicas das vozes. Olhando seu enlevo, Sumitra perguntou: O que você está achando da Índia? Giovànna olhou-a de soslaio. Nossa, que pergunta difícil! Sumitra riu. É, para os europeus a Índia é um país indefinível, mas minha pergunta tem mais a haver com seu trabalho, o trabalho que a trouxe aqui. Você está encontrando respostas para sua pesquisa? Está encontrando o que esperava? Veja, meu estudo tem ou tinha, o objetivo de investigar a influência dos místicos religiosos sobre a cultura contemporânea da Índia. Mas, infelizmente para a pesquisa, e felizmente para mim, eu encontrei Nirmalá que está mudando minha visão do mundo e da vida. Afinal ela é a filha da Mãe Divina, não é? É o que dizem e eu acredito nisto, embora seja a primeira vez que a encontro pessoalmente. Minha amiga Jayaní, que a conhece há mais tempo, fala de Nirmalá como uma avatar, uma encarnação divina, uma deusa viva. Giovànna ficou pensativa. “Se você estiver certa, eu não sei o que será de mim e de meu futuro.” Sumitra toucou-lhe as mãos, apertando-as com carinho. Sei que vocês no ocidente não estão acostumados com nossa visão da religiosidade, mas para nós estas coisas são normais e fazem parte do nosso dia-a-dia. Giovànna quase esboçou um sorriso. “Meu Deus, como alguém pode achar normal conviver lado-a-lado com uma deusa?” Jayaní contou-me, que ela já ressuscitou um morto tal como dizem que Jesus fez com Lázaro. – comentou Sumitra com simplicidade. Giovànna permaneceu calada olhando Nirmalá, que ensaiava uma dança com uma das cantoras. Sumitra eu acredito, mas estas coisas estão além de minha compreensão. Como alguém pode trazer alguma pessoa de volta da morte? Sumitra voltou-se para Giovànna. Você não deve teorizar e nem perguntar como. Simplesmente aceite as evidências. – disse Sumitra. Você a vê como uma mulher, mas aceite que dentro desse corpo feminino possa existir um Ser Divino para quem nada é impossível. L'apparenza inganna! Como? Desculpe, eu estava pensando em voz alta e disse que as aparências enganam. Vejo uma bela mulher, uma mulher sensual, alegre, que dança e cantarola, mas em verdade estou frente a uma Divindade! Para mim isto é surreal! Talvez. talvez você tenha que rever seus estereótipos! Mas, voltando ao seu trabalho.... Eu tenho tido pouca oportunidade de constatar a influencia cultural que ela exerce sobre as pessoas, embora eu já tenha percebido que seus ensinamentos são apreciados por todos, inclusive por mim mesma. Como eu disse, ela está transformando minha vida e eu estou descobrindo um mundo que antes não conhecia e nem acreditava que existisse. Então, ai está à resposta da sua pesquisa. Ela está mexendo com você, com sua cultura, com a sua visão da vida e do mundo. Não era isto que você queria estudar e entender? Giovànna ficou pensativa. “Não é que Sumitra está certa! Nirmalá estava exercendo uma grande transformação em seu modo de ver o mundo e compreender a vida, e com certeza isto deveria estar acontecendo com todas as pessoas com quem ela tinha contacto”. No dia seguinte pela manhã elas deram uma volta pela cidade, e depois foram até o local onde estava sendo comemorado o nascimento de Krishna. Giovànna ficou surpresa com a quantidade de devotos e turistas que cantavam e dançavam, sob o som desarmônico de diferentes instrumentos musicais, A comemoração parecia um carnaval, onde os membros das diversas seitas vaishnavas chacoalhavam seus corpos num verdadeiro frenesi. Ela já estava se acostumando com esse tipo de demonstração de fé e por pouco não entrou no clima da comemoração. Mitra e Manisha batiam palmas e cantavam o maha- mantras de louvor a Krishna, enquanto Sumitra e Jayaní afastaram-se da multidão acompanhando Nirmalá e Ramba até a entrada do templo. Giovànna aproximou-se de Manisha e disse: ¾ Fale-me um pouco sobre a história de Krishna. ¾ Krishna é considerado o oitavo avatar do deus Vishnu, ou seja, uma encarnação divina no mundo dos homens. Os ensinamentos Dele estão em vários livros, mas eu somente li a “Canção do Senhor”. O barulho era tão ensurdecedor que estava difícil conversar. Então Giovànna fez um sinal para Manisha, dizendo que mais tarde elas falariam a respeito. Sumitra avistou Shri Prema, a pessoa encarregada de organizar a homenagem que Nirmalá faria ao entardecer. Ela era uma mulher muito respeitada entre os vaishnavas, principalmente aqueles ligados ao movimento de Krishna. Há cerca de dez anos ela assumira a direção da Krishna’s House em Mathura, e em menos de cinco anos ela havia aberto dezoito casas em vários países. Em seu ashram à beira do Rio Yamuna ela recebia mensalmente cerca de quatro mil pessoas interessadas em meditação, e no estudo da Bhagavad Gita. ¾ Bom dia Prema. ¾ Bom dia Sumitra. ¾ Esta é minha amiga Jayaní, que trouxe Nirmalá para visitar Mathura. ¾ Namastê! ¾ Namastê! O prazer é meu. – disse Jayaní. ¾ Mas, onde está Nirmalá? Eu tenho ouvido tantas coisas boas sobre ela que minha curiosidade é imensa. ¾ Venha comigo, ela está logo ali. Veja, é aquela de lehanga vermelha. ¾ Aquela jovem? Eu tinha a imagem de uma senhora com seus quarenta e poucos anos. Quantos anos ela tem? ¾ Não sei ao certo, mas creio que cerca de trinta. ¾ Muito bem conservada, eu não daria mais que vinte e poucos anos! ¾ Nirmalá está é Prema. – disse Sumitra apresentando-a. Nirmalá olhou-a e sorriu de mãos postas frente ao coração. ¾ É um prazer estar aqui na terra de Krishna, e poder participar das homenagens que você está organizando. O local estava repleto de pessoas, que em fila passavam em frente ao piso de pedra que seria uma parte da cela onde Krishna teria nascido. Giovànna tirou fotos de Mitra e Manisha em frente à relíquia e em seguida Mitra fotografou-a com Ramba.
À tarde Sumitra e Jayaní levaram-nas ao Krishna’s House,
uma herdade às margens do rio Yamuna, onde cerca de umas três mil pessoas esperavam pela celebração do aniversário de Krishna. Um coral de jovens entoava mantras, acompanhado por um conjunto de músicos. A assistência participava ativamente, cantando e dançando. Prema veio ao encontro delas e disse: ¾ Mais uma vez sou grata pela presença de vocês. Nós já iniciamos os festejos e daqui a pouco iremos acender a pira sagrada, que dará inicio a sua palestra. Fique a vontade para se expressar como quiser e sobre o que quiser falar, porque sua presença já torna o dia de hoje especial. Nirmalá agradeceu com um aceno de cabeça e elas foram para o local da celebração. ¾ Irmãos, hoje é para todos nós um dia especial, porque temos a presença em nossa casa da jovem senhora, Nirmalá Sundarí Deví, uma irmã que é conhecida por sua espiritualidade como a encarnação da luz e do amor. Eu pedi a ela que fizesse uma locução em homenagem a Krishna, então vamos ouvi-la. Sobre o palco uma pira em forma de lótus queimava lenha de sândalo, que perfumava o ambiente com um aroma suave e delicado. A um sinal de Prema três sinos de bronze iniciaram a chamada para a celebração, que foi acompanhada de uma distribuição de flores e prasad entre os participantes. Nirmalá dentou-se no chão do palco, pegou o lampadário e elevando-o acima da cabeça fez circunvoluções no ar olhando as pessoas, que em silêncio esperavam sua fala. Depois tomou alguns bastões de incenso e acendeu-os na chama, espetando-os em seguida no incensário. ¾ Meus irmãos, que a Luz Divina nos envolva, e que a paz e a harmonia se faça presente em nossos corações. No dia de hoje comemoramos o nascimento de Krishna, o oitavo avatar de Vishnu. Eu sei que vocês sabem o que é um avatar, mas mesmo assim gostaria de lhes falar um pouco a respeito, pois um avatar é uma encarnação divina, mas também sabemos que nós somos feitos à imagem e semelhança do Divino, portanto nós também somos encarnações divinas e por isto verdadeiros avatares do futuro. Lembro que na ‘Canção do Senhor’, Krishna nos diz: Eu sou o Ser entronizado no coração de todas as criaturas. Eu sou o princípio, o meio e o fim de todos os seres. Por isto, todos nós somos encarnações Divinas. – disse sorrindo e gesticulando como quem quisesse tocar seus corações com seu amor e sua luz. ¾ Mas o que nos diferencia de um avatar? Eu diria que é somente nosso grau de despertar consciencial. Um avatar é um ser iluminado, um ser desperto, um buddha, mas a maioria da humanidade ainda vive sob as trevas da ilusão. A humanidade não está desperta, somente à medida que formos despertando nossa consciência, iremos nos tornando seres de luz, seres iluminados, tal como os avatares, Rama, Krishna, Buddha e Jesus...., além de muitos outros que se manifestaram em todos os tempos, e em todas as culturas. Eu digo isto como uma esperança para todos nós, no que diz respeito ao nosso porvir. Nós também podemos vir a ser mensageiros divinos, manifestando o Divino na criação. Gostaria de fazer justiça a um outro grande avatar, um verdadeiro sábio, cujo nome também é Krishna. Eu falo de Krishna Dvaipáyana Vyasa, o ser iluminado que nos legou os Vedas, os Puranas, o Mahabharata e a própria canção do Senhor, a Bhagavad Gitá, imortalizando em seus versos a mensagem de Krishna para a eternidade. E, é sobre esta mensagem de amor e verdade, que agora eu desejo vos falar. Sumitra olhou o semblante de Nirmalá, e teve a impressão que ela estava envolvida em uma suave luminosidade. ¾ Krishna nos legou muitos ensinamentos através da mensagem de Vyasa, mas sem duvida o mais belo de todos está na Bhagavad Gitá, a Canção do Senhor, que segundo a tradição é o colóquio que Ele teve com Árjuna momentos antes da batalha pelo reino de Hastinápura, a Cidade dos Elefantes. É obvio que esta batalha é uma metáfora, pois um texto espiritual da magnitude da Bhagavad Gitá não iria fazer apologia a uma luta sanguinária. É uma história contada para nos mostrar a luta interna que todos nós travamos, dia-a-dia, entre nossa mente instintiva e nossa mente espiritual. A primeira nós denominamos manas e a segunda buddhi, daí a expressão buddha para todos aqueles que atingiram a iluminação, vencendo a batalha e sobrepujando os instintos e condicionamentos do corpo material. No Gitá, Krishna nos ensina como devemos agir no mundo para transferir nossa consciência da mente instintiva para a mente espiritual, e seus ensinamentos abordam três caminhos ou iogas para a auto-realização. O primeiro caminho é o do conhecimento, que denominamos Jñana Ioga. O segundo é o caminho do amor ou devoção espiritual, que nós conhecemos como Bhakti Ioga e o terceiro é o caminho da ação desinteressada, que denominamos Carma Ioga. São três os caminhos, mas um não exclui o outro, eles devem ser trilhados simultaneamente, embora cada um de nós possa dar início à sua jornada pelo caminho que melhor ressoa com seu coração. O primeiro caminho é importante, porque nos traz o conhecimento da verdade espiritual. O conhecimento de que não somos nem o corpo, nem a mente, mas sim imagens da Divindade Suprema. Portanto somos seres imortais, sem inicio e sem fim. Assim, nada nos pode destruir, embora nossos corpos mortais sejam passíveis de serem destruídos, e quando isto ocorre, a continuidade da vida nos propicia uma nova experiência em um novo corpo. É o que denominamos renascimento ou reencarnação. Basicamente o caminho do conhecimento nos mostra isto; não somos a mente, a personalidade, tampouco o corpo que vestimos nesta vida. Somos seres da Luz, emanados da Luz Divina para vivermos uma experiência humana. Eu não sou Nirmalá, eu estou vivendo como Nirmalá nesta vida, mas tive muitas outras personalidades em vidas passadas, e tive muitos outros nomes, embora em verdade aquilo que eu sou, é sempre o mesmo, um Ser que espelha o Divino no seio da ilusão. A segunda via, como eu disse, é o caminho da devoção espiritual e eu gostaria de lhes falar um pouco sobre a natureza da devoção. Ser devoto é amar a Divindade, desejar estar com Ela e ser um com Ela, tal como o amante ama e deseja estar com o ser amado. Entretanto nós somente podemos amar a Divindade se A sentirmos e A compreendemos no nosso dia-a-dia, porque eu não falo de um Ser distante e imperceptível, falo de um Ser Divino onipresente, que está aqui agora, entre nós, embora a maioria de nós não O perceba, porque está com a consciência voltada para fora, vivendo os sentidos e os conteúdos de sua mente instintiva. Nirmalá fez uma pausa. Em seguida, passou seu olhar pelos presentes e estendendo seus braços em direção a eles acrescentou: ¾ Façam uma inspiração consciente e sintam a vibração do Divino que penetra em seus corpos. Isto é prana, a presença do Divino em ação, a fonte da vida, que os tântricos denominam a Grande Shakti, e que eu carinhosamente chamo de Mãe Divina. Olhem a natureza ao vosso redor e procurem enxergar a beleza e a harmonia do Ser, que está oculto pela ilusão que vocês observam. Então vocês entenderão que a pujança da vida ao vosso redor, é somente um reflexo da presença divina. Olhem os pássaros, as flores, as montanhas, o céu e as estrelas. Olhem os rostos das pessoas e vejam que existe uma pureza, querendo se manifestar através de um olhar e de um sorriso. Toda essa beleza, essa pureza é a expressão da Divindade onipresente na criação. Assim, vocês estão flertando com o Divino e iniciando um namoro com Ele. Isto é começo do amor e o começo do estado devocional que denominamos Bhakti. Krishna expôs o caminho da devoção, porque sem sentir o amor pela presença Divina, não há como se afastar da ilusão e atingir a iluminação. Vejam, eu estou falando de uma competição entre a ilusão e a devoção. Pois, quando vocês percebem que a atitude devocional está competindo com os instintos e com os sentidos que buscam o exterior, vocês optaram pelo amor e estão iniciando o caminho para dentro de si mesmos. Assim, pelo tapete do amor vocês estão indo ao encontro do Divino que é e a vossa origem. O último caminho é a ação desinteressada, o caminho do Carma Ioga. Mas antes de falarmos sobre este caminho, eu devo lhes dizer que a palavra carma é o substantivo da raiz verbal agir, que em sua forma substantivada significa tanto ação como seus frutos e desdobramentos. Os mestres nos ensinaram que tudo que fazemos ao pensar, sentir, desejar e agir é uma ação e toda ação deixa em cada um de nós um resíduo mnemônico da sua própria natureza, com a intensidade da emoção que a motivou. Este resíduo permanece na mente daquele que agiu e, mais cedo ou mais tarde, influenciará suas ações futuras, frente a situações da vida. Assim, se amarmos remanescerá em nós um resíduo da natureza do amor, se odiarmos, o resíduo terá a natureza do ódio. Quais dos resíduos vocês acham que é mais prejudicial para nossa vida, o do amor ou do ódio? Nem é preciso responder, não é? O resíduo do amor nos traz saúde, felicidade, jovialidade e alegria. O do ódio nos traz rancor, conflito, desagregação e doenças. Carma é isto, somente isto, tudo mais que dizem por ai é fantasia sem o fundamento do Dharma. Por isto, carma nada tem a haver com premiação ou castigo. Ninguém é castigado pelas coisas que faz, mas sim através delas. Quem poderia nos castigar se Nossa Mãe Divina é Amor, equilíbrio e bem-aventurança? Somente nossa mente pode, manifestando em nós seus conteúdos que podem nos harmonizar ou desarmonizar. Assim, tudo que você faz fica em você e acaba se integrando na sua mente, acaba fazendo parte de sua estrutura mental, seus pensamentos e seus atos. Por isto eu digo; cuidado com seus atos, seus pensamentos, seus desejos, porque eles mais cedo ou mais tarde acabam se realizando em você e em sua vida. O que Krishna nos ensinou como ação desinteressada, é agir sem nenhuma motivação, fazer o que tem que ser feito, porque é o certo naquele instante. Ação desinteressada é a ação que se inicia e acaba no ato, não deixando expectativas pendentes. Por exemplo, quando alguém ajuda uma pessoa, sem esperar algo em troca, a ação se finda no ato de ajudar. Se a pessoa que age espera algo em troca, esta expectativa fica ativa em sua mente. Ela não se lembra, mas seu inconsciente está esperando algo acontecer e desta espera resulta um estado de aflição e ansiedade, que mesmo a pessoa não saiba a origem, vai desestabilizando- a aos poucos. Mas o ensinamento do carma ioga é mais profundo, pois também nos mostra um caminho para o esvaziamento da mente, pois em verdade o que nós denominamos mente, nada mais é que a soma de todos os resíduos que deixamos em nós, vida após vida, desde o momento inicial da criação. Assim, a nossa mente é composta tanto pelos resíduos evolucionários dos animais que nos antecederam na evolução, desde a primeira célula até os dias de hoje, como pelos resíduos das ações executadas nas vidas passadas e nesta vida, principalmente aqueles acumulados na primeira infância. Juntos, estes resíduos formam os nossos instintos e condicionamentos. Nirmalá fez outra pausa e por um momento permaneceu em silencio, de olhos fechados e com a respiração praticamente suspensa. Então fez uma suave inspiração e abrindo os olhos marejados de lágrimas, sentou-se sobre os calcanhares, continuando sua preleção. ¾ Na Canção do Senhor, o mestre Shri Krishna nos ensinou a meditar, um método para nos ajudar a conquistar o despertar consciencial e aos poucos sairmos do mundo da ilusão. Eu me lembro de uma passagem em que Ele disse:
“Alguns dizem ser difícil dominar a mente porque ela é
instável, ora inclinando-se para um objeto, ora para outro. Entretanto, quem fortaleceu sua vontade por meio dos exercícios devocionais e da disciplina, tornar-se-á o senhor de seu coração e de sua mente”.
Mas o que Ele quis dizer com exercícios devocionais e
disciplina? Ele quis nos alertar para a necessidade de termos disciplina na vida espiritual, ou seja, criar o hábito de meditarmos em momentos certos do dia, por exemplo; ao alvorecer, ao meio dia e ao ocaso. Nesses momentos, podemos nos sentar mesmo que seja por cinco minutos, e com amor procurar a Luz em nosso interior, lembrando que a Luz é a presença viva da Divindade em nós. Falando nisso, eu lembro de uma outra passagem que diz: “Eu amo àqueles que Me adoram com fé e a Mim dedicam o interior de seus corações, pois neles transborda Meu amor e a Minha presença. Assim, unido-se a Mim eles atingirão a paz suprema.” Por isto eu digo que a meditação devocional é um exercício que ilumina o nosso coração com o amor e a luz do Senhor. São somente quinze minutos por dia, divididos em três momentos, mas são três preciosos momentos de contacto espiritual com a Luz Divina, que habita nossos corações. Em outro verso Ele nos alertou dizendo que são poucos os que, entre os milhões de nossa raça procuram com afinco o despertar consciencial do espírito, e dentre estes, pouquíssimos obtém a Luz com sucesso. Por que a maioria fracassa? A resposta é simples, porque eles não têm constância. Falta o método. Eu disse cinco minutos três vezes ao dia, mas garanto que estes momentos se constituem somente em um começo, pois com o tempo vocês ficarão tão apaixonados pela Luz, e irão buscá-la com mais freqüência. Ame esta Luz, porque Ela é a fonte de toda a criação, de onde tudo tem sua origem e para onde tudo retorna. Além Dela não há nada. Tudo depende Dela e por Ela tudo é sustentado, tal como as pérolas de um colar são sustentadas pelo fio que as une. Ela é o fluir da água, o calor do Sol e o brilho da Lua, ela é a sílaba sagrada OM, e também o perfume da terra, o esplendor do fogo, a vida dos vivos, o liame entre os mestres e a santidade dos santos. Ela é a ciência eterna e imortal de todos os seres, a sabedoria dos sábios e a nobreza dos nobres. Ela é à força dos fortes que, livres de toda a paixão, exercem o puro amor que lei nenhuma pode proibir. Entretanto, ao falar em ritual eu gostaria de lembrar que nós damos mais importância a liturgia que a sua essência. Até que ponto os rituais que executamos nos levam até as esferas conscienciais maiores? Krishna respondeu a esta pergunta dizendo: “Para quem Me adora e em Mim procura o refúgio, Eu sou a Felicidade Suprema e a bem-aventurança eterna. Assim, os que adoram os antepassados com eles se unirão, os que adoram os seres inferiores, à suas esferas conscienciais irão, os que adoram os deuses a eles chegarão. Mas, quem adora a Mim, o Absoluto, vivenciará a felicidade eterna, pois Eu sou a Luz Suprema”. “Saiba que Eu recebo todas as oferendas que a Mim são feitas com amor. Eu não olho o valor da oferenda, mas somente o coração de quem a faz”. “Quem a Mim se dirige, acha em Mim o refúgio e anda pelo soberano caminho da Luz. E, mesmo um ser mundano quando a Mim se dirige, dedicando o amor de sua alma, é por Mim acolhido porque este ser procura a verdade, e por isto é digno de louvor. Então, conheça-Me, adora-Me e fixe sua mente em Mim, unindo a sua vontade com a Minha, pois assim no fruto desta união você encontrará a iluminação e a mais perfeita felicidade”. ¾ Meus irmãos saibam que quem vive na Luz e para a Luz, Nela penetrará, toda vez que Nela se concentrar. Por isto, eu lhes digo, direcionem todos os seus pensamentos à Divindade que reside em vossos corações e lutem, pois se suas mentes e seus corações estiverem fixos na Luz interior, Ela vos guiará e vos iluminará pelos caminhos da vida. Isto é um exercício que desenvolve a visão interior e vos levará a contemplação da majestosa presença Divina que está velada aos olhos materiais daqueles que ainda vivem no mundo da ilusão. Em síntese, Ele nos ensinou o caminho da imortalidade, que é a iluminação através da qual nós permanecemos num estado consciencial sem mente e acima do espaço- tempo. Nirmalá fez outra pequena pausa permanecendo por uns segundos de olhos fechados. ¾ Meus irmãos, eu creio que nada mais precisa ser dito no dia de hoje, além de lembrar que de fato Krishna representa a mais pura presença da consciência divina, na hierarquia manifestada e individualizada, pois viveu como homem entre os homens. Por isto, no decorrer da Canção do Senhor, Ele algumas vezes se apresenta como um Ser Absoluto e transcendente por detrás da manifestação, outras vezes como um Ser imanente na manifestação, e outras vezes ainda como um Ser aparentemente individualizado vivendo como um homem entre os homens. Agradeço a paciência com que vocês me ouviram, e peço à Luz Divina que nos ilumine pelos caminhos da vida. O silêncio e a emoção tomaram conta da audiência. Sumitra olhou para Prema e ela estava cabisbaixa e visivelmente emocionada, porque algo maior que Nirmalá e sua fala podia ser sentido no local. Então Nirmalá desceu do palanque e caminhou na direção das pessoas que continuavam ainda sentadas no chão. Em uma das primeiras filas havia um menino da casta dos shudras, que tinha os olhos opacos devido a uma ulceração de córnea. Ela foi até a criança, agachou-se e abraçou-a com ternura, dizendo em seu ouvido; “Teu amor por Krishna trouxe a luz para seu coração, agora Ele me pede que traga a luz aos seus olhos”. Dizendo isto Ela o levantou e colocou as mãos sobre os olhos da criança, que se sentindo transpassado por uma energia dobrou os joelhos e caiu ao chão com as mãos sobre a face. ¾ Mãe..., mãe. – gritou desesperadamente. ¾ Eu estou te vendo, estou te vendo! Um assombro correu entre a multidão. Sumitra foi até a criança, que ela conhecia há algum tempo e olhando seus olhos límpidos e sem nenhuma mácula, não pode conter o espanto e as lágrimas. Uma senhora de meia idade se aproximou, e ajoelhando-se aos pés de Nirmalá pegou sua mão colocando-a sobre seu seio direito. Nirmalá sentiu o tumor e se curvando beijou-a na testa. ¾ Vá minha amiga, que a sua fé te curou. A senhora desfaleceu ao sentir uma queimação no seio. Nirmalá voltou para o palanque, estendeu as mãos para o alto e abençoou a todos dizendo: ¾ Ó Luz, voz que sois a mais oculta salvadora, brilhe em nossos corações trazendo a cura da alma e do corpo. Nós agradecemos aos deuses e deusas, que sob a tutela da Mãe Divina nos auxiliam no caminho do despertar espiritual. Nós agradecemos aos Budas da Compaixão e aos Mestres da Luz pela nossa proteção. Que a Luz Divina nos ilumine e nos inspire pelos caminhos da vida. Dizendo isto ela se retirou, seguida de suas amigas. Dois dias depois elas partiram para Nova Delhi. Nirmalá estava muito contente com a perspectiva de encontrar com sua mãe e Giovànna também, porque teria a oportunidade de passar no escritório do doutor Ram Das e lhe agradecer pessoalmente pela gentileza, que ele estava tendo com sua correspondência.