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MATERIAL DE APOIO

Disciplina: Direito Civil


Professor: Nelson Rosenvald
Aulas: 35 e 36 | Data: 22/10/2015

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS


1.4 Equilíbrio contratual
1.4.1 Noções gerais
1.4.1.1 Sinalagma genético
1.4.1.2 Sinalagma funcional
1.4.2 Requisitos da teoria da imprevisão
1.4.2.1 Contrato de duração
1.4.2.2 Acontecimento extraordinário e imprevisível
1.4.2.3 Onerosidade excessiva e extrema vantagem
1.4.2.4 Resolução do contrato
1.4.3 Eficácias da teoria da imprevisão
1.4.4 Alteração das circunstâncias no CDC
1.4.4.1 Teoria da base objetiva do negócio jurídico
1.4.4.2 Revisão do contrato

1.4 Equilíbrio contratual


Qual a ideia desse princípio?

O equilíbrio contratual consiste empregar num contrato firmado entre as partes elementos de IGUALDADE
MATERIAL (equilíbrio entre as prestações).

CF, art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República


Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

Na seara contratual, quando a CF assegura a LIBERDADE, a JUSTIÇA e a SOLIDARIEDADE podemos assim entender:

 Liberdade = autonomia privada;

 Justiça = equilíbrio contratual (justiça contratual);

 Solidariedade = boa-fé objetiva e função social do contrato.

A partir de agora iremos concretizar o estudo da JUSTIÇA CONTRATUAL. Vejamos.

1.4.1 Noções gerais


Como o princípio da justiça contratual (sinalagma) se manifesta? Ele se manifesta em dois momentos:

1.4.1.1 Sinalagma genético


O equilíbrio (co-respectividade) entre as prestações deve existir na gênese do negócio jurídico. Ex.: aliena-se um
apartamento por 500 mil reais, porém, ele vale 100 mil reais (viola o sinalagma genético).

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A violação do sinalagma genético se chama LESÃO (causa de invalidade do negócio jurídico).

CC, art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente
necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

1.4.1.2 Sinalagma funcional


Na gênese, o contrato é equilibrado, mas posteriormente, em razão da ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS, este
contrato perde sua função econômica, posto o desequilíbrio superveniente.

Portanto, quando há ALTERAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS, verifica-se a violação do sinalagma funcional.

E quais são as consequências da alteração das circunstâncias? Veremos a partir de agora.

1.4.2 Requisitos da teoria da imprevisão


Trata-se de uma teoria importada do direito italiano (Emilio Betti). Esta teoria é subjetiva, pois se ampara na
lógica das vontades das partes.

CC, art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a


prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução
do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação.

Vamos detalhar esse dispositivo em razão da sua complexidade.

Pergunta: quais os requisitos para haver a alteração das circunstâncias?

1.4.2.1 Contrato de duração


“Nos contratos de execução continuada ou diferida” – é a existência de um CONTRATO DE DURAÇÃO.

Os CONTRATOS INSTANTÂNEOS são diversos dos CONTRATOS DE DURAÇÃO. Isso porque, contrato instantâneo é
aquele em que a execução ocorre simultaneamente ao momento da contratação.

Os contratos de duração se dividem em dois tipos:

 contrato de execução sucessiva (ex.: contrato de leasing, contrato de promessa de compra e venda,
empreitada etc).

 contrato de execução diferida: é aquele cuja eficácia será solucionada em certo termo (ex.: compra de
apartamento hoje, porém, o pagamento será feito após 60 dias).

1.4.2.2 Acontecimento extraordinário e imprevisível


“Em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis”.

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Existem riscos no contrato de duração? Sim, pois o risco (álea) é da essência de todo contrato.

Como se chamam esses riscos?

São chamados de RISCOS PRÓPRIOS (NORMAIS) do contrato – são aqueles riscos perfeitamente estimáveis dentro
de uma previsão econômica. Com relação a esses riscos normais, NÃO haverá intervenção do ordenamento
jurídico.

Por outro lado, o ordenamento intervém nos chamados RISCOS IMPRÓPRIOS (ANORMAIS) – são aqueles que
acarretam à outra parte de forma superveniente o chamado LIMITE DO SACRIFÍCIO (intenso desequilíbrio).

Aduz o Enunciado 366, CJF – o fato extraordinário e imprevisível causador de onerosidade excessiva é aquele que
não está coberto objetivamente pelos riscos próprios da contratação.

Pergunta: quais são os parâmetros objetivos (regra de proporcionalidade) pelos quais os juízes devem se guiar
para avaliar se o risco é próprio ou impróprio?

I – NATUREZA DO CONTRATO
“Quanto maior o proveito, maior o risco” – há contratos que pela própria essência se busca o proveito
econômico maior (a intervenção do poder judiciário é menor). Ex.: contrato de bolsa de valores.

Estabelece o Enunciado 35 da Jornada de Direito Comercial – não haverá revisão ou resolução dos contratos de
derivativos por imprevisibilidade e onerosidade excessiva (arts. 317 e 478 a 480 do Código Civil).

II – CONJUNTURA DO MERCADO
A conjuntura do mercado diz respeito à previsibilidade dos agentes econômicos. Ex.: inflação.

Veja o teor do Informativo 556 do STJ de 4 março de 2015:

DIREITO CIVIL. MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL EM FACE DO DÓLAR AMERICANO E TEORIAS DA IMPREVISÃO E


DA ONEROSIDADE EXCESSIVA.
Tratando-se de relação contratual paritária - a qual não é regida pelas normas consumeristas -, a
maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de janeiro de 1999 não autoriza a
aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade excessiva, com intuito de promover a revisão de
cláusula de indexação ao dólar americano. Com efeito, na relação contratual, a regra é a observância do princípio
pacta sunt servanda, segundo o qual o contrato faz lei entre as partes e, por conseguinte, impõe ao Estado o dever
de não intervir nas relações privadas. Ademais, o princípio da autonomia da vontade confere aos contratantes
ampla liberdade para estipular o que lhes convenha, desde que preservada a moral, a ordem pública e os bons
costumes, valores que não podem ser derrogados pelas partes. Desse modo, a intervenção do Poder Judiciário nos
contratos, à luz da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade excessiva, exige a demonstração de
mudanças supervenientes das circunstâncias iniciais vigentes à época da realização do negócio, oriundas de
evento imprevisível (teoria da imprevisão) e de evento imprevisível e extraordinário (teoria da onerosidade
excessiva), que comprometam o valor da prestação, demandando tutela jurisdicional específica, tendo em vista,
em especial, o disposto nos arts. 317, 478 e 479 do CC. Nesse passo, constitui pressuposto da aplicação das
referidas teorias, a teor dos arts. 317 e 478 do CC, como se pode extrair de suas próprias denominações, a

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existência de um fato imprevisível em contrato de execução diferida, que imponha consequências indesejáveis e
onerosas para um dos contratantes. A par disso, o histórico inflacionário e as sucessivas modificações no padrão
monetário experimentados pelo País desde longa data até julho de 1994, quando sobreveio o Plano Real, seguido
de período de relativa estabilidade até a maxidesvalorização do real em face do dólar, ocorrida a partir de janeiro
de 1999, não autorizam concluir pela inexistência de risco objetivo nos contratos firmados com base na cotação
da moeda norte-americana, em se tratando de relação contratual paritária. REsp 1.321.614-SP, Rel. originário
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014, DJe
3/3/2015.

Pergunta: pode-se aplicar a teoria da alteração das circunstâncias em CONTRATOS ALEATÓRIOS? Em regra, não.

Contrato comutativo x contrato aleatório


Os contratos comutativos são aqueles cuja prestação de ambas as partes são previamente determinadas no
momento da contratação (ex.: locação, compra e venda). Ao passo que os contratos aleatórios são aqueles que
na gênese ao menos uma das prestações é incerta quanto à sua determinação. Ex.: contrato de seguro.

Contudo, eventualmente, pode-se aplicar a teoria da imprevisão aos CONTRATOS ALEATÓRIOS, porque por mais
que uma das prestações seja incerta, o risco tem um preço, ou seja, toda álea tem um valor.

CC, art. 770. Salvo disposição em contrário, a diminuição do risco no


curso do contrato não acarreta a redução do prêmio estipulado; mas,
se a redução do risco for considerável, o segurado poderá exigir a
revisão do prêmio, ou a resolução do contrato.

Aduz o Enunciado 440 do CJF – é possível a revisão ou resolução por excessiva onerosidade em contratos
aleatórios, desde que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se relacione com a álea assumida
no contrato.

III – QUALIFICAÇÃO DAS PARTES


Quando houver decisão sobre alteração das circunstâncias, o juiz deve observar quem são as parte (ex.: deve
haver intervenção do poder judiciário na relação entre pessoas leigas).

IV – ESPECIFICIDADE DO FATO SUPERVENIENTE


O CC não faz referência a fato imprevisto, mas a FATO IMPREVISÍVEL, que é um acontecimento OBJETIVAMENTE
imprevisível.

Veja o Informativo 526 do STJ de 25 de setembro de 2013:

DIREITO CIVIL. NÃO CARACTERIZAÇÃO DA "FERRUGEM ASIÁTICA" COMO FATO EXTRAORDINÁRIO E IMPREVISÍVEL
PARA FINS DE RESOLUÇÃO DO CONTRATO.
A ocorrência de “ferrugem asiática” na lavoura de soja não enseja, por si só, a resolução de contrato de compra e
venda de safra futura em razão de onerosidade excessiva. Isso porque o advento dessa doença em lavoura de soja
não constitui o fato extraordinário e imprevisível exigido pelo art. 478 do CC/2002, que dispõe sobre a resolução
do contrato por onerosidade excessiva. Precedente citado: REsp 977.007-GO, Terceira Turma, DJe 2/12/2009. REsp
866.414-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2013.

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Aduz o Enunciado 175 do CJF – a menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do
Código Civil, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em
relação às conseqüências que ele produz.

1.4.2.3 Onerosidade excessiva e extrema vantagem


“Se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra” –
(binômio: onerosidade excessiva e extrema vantagem).

Significa que uma pessoa deve provar ao juiz que aquele fato extraordinário e imprevisível trouxe a ela enorme
perda econômica (onerosidade excessiva).

ATENÇÃO: o CC errou flagrantemente, porque criou um “efeito gangorra” – o art. 478 requer um nexo causal
entre a perda de uma parte e o ganho da outra. Isto está EQUIVOCADO de forma fática (nem sempre aquele que
sofre o prejuízo [onerosidade excessiva] gera ganho para a parte adversa) e jurídica (haverá confusão da teoria da
alteração das circunstâncias com a teoria do enriquecimento sem causa).

Estabelece o Enunciado 365 do CJF – a extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada como elemento
acidental da alteração das circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou revisão do negócio por
onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração plena.

1.4.2.4 Resolução do contrato


Trata-se de um requisito negativo: “poderá o devedor pedir a resolução do contrato” – requer que a parte
prejudicada não tenha responsabilidade pela alteração das circunstâncias. Ex.: devedor em mora não pode
invocar a teoria da alteração das circunstâncias, sob pena de configurar TU QUOQUE (abuso do direito).

Pergunta: havendo adimplemento integral das prestações numa conjuntura negativa, a pretexto de requerer
devolução do que foi pago em razão de onerosidade excessiva, pode-se invocar a teoria da alteração das
circunstâncias? NÃO, sob pena de configurar venire contra factum proprium (abuso do direito).

Atenção: nas relações jurídicas interempresariais, as regras da onerosidade excessiva do CC são SUBSIDIÁRIAS,
uma vez que podem estabelecer parâmetros objetivos próprios.

Diz o Enunciado 23 do CJF – em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer parâmetros
objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto contratual.

1.4.3 Eficácias da teoria da imprevisão (art. 478, CC)


Quais são os efeitos da teoria da imprevisão?

A teoria da imprevisão acarreta a resolução do contrato (resolução é a desconstituição do negócio jurídico [ex
nunc]) – implica na ineficácia superveniente.

CC, art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a


prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução

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do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação.

Contudo, a fim de evitar a resolução, o réu da ação de resolução pode na contestação pleitear a revisão das
cláusulas para retirar a outra parte da situação de onerosidade excessiva.

CC, art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a


modificar eqüitativamente as condições do contrato.

Pergunta: o juiz pode de ofício rever as cláusulas? Não.

Estabelece o Enunciado 367 do CJF – em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que
tenham por objeto a resolução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo eqüitativamente,
desde que ouvida a parte autora, respeitada sua vontade e observado o contraditório.

NCPC, art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem
que ela seja previamente ouvida.

Aduz o Enunciado 176 do CJF – em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do
Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução
contratual (a preferência do ordenamento é pela revisão, em que pese o art. 478 somente se refira à revisão).

Nesse sentido, leciona o Enunciado 439 do CJF – a revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no
Código Civil deve levar em conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais, observar-se-á a
sofisticação dos contratantes e a alocação de riscos por eles assumidas com o contrato.

Pergunta: a teoria da alteração das circunstâncias se aplica aos CONTRATOS UNILATERAIS? Sim.

CC, art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma


das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou
alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade
excessiva.

Esse dispositivo se aplica ao CONTRATO DE MÚTUO – a única obrigação é do mutuário em restituir o empréstimo.

Pergunta: qual a diferença entre o art. 478 e o art. 317, CC?

CC, art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier


desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do
momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da
parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da
prestação.

A distinção significativa é no sentido do aspecto TOPOGRÁFICO, pois o art. 478 está no capítulo dos contratos
(relação contratual), ao passo que o art. 317 está inserido na teoria geral das obrigações (ex.: ato ilícito [acidente
de trânsito] e direito de alimentos).

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Superada essas questões, passemos a outro prisma da alteração das circunstâncias.

1.4.4 Alteração das circunstâncias no CDC


O tratamento jurídico da alteração das circunstâncias no CC (relação interempresarial ou intercivil) se difere do
regramento no CDC (fornecedor x consumidor).

CF, art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:

V - defesa do consumidor;

Perceba que esse dispositivo fez uma compatibilização entre a ordem econômica e a proteção do consumidor.

A alteração das circunstâncias nas relações de consumo tem duas particularidades:

1.4.4.1 Teoria da base objetiva do negócio jurídico (Karl Larenz)


O diploma consumerista adotou a TEORIA DA BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO (Karl Larenz).

Nesse sentido, o CDC dispensa a imprevisibilidade do fato superveniente, porque pela teoria da base objetiva do
negócio jurídico basta a superveniência de extrema onerosidade para as partes.

CDC, art. 6º São direitos básicos do consumidor:

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam


prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

1.4.4.2 Revisão do contrato


A regra no CDC é a REVISÃO do contrato (dever geral de readaptação do contrato consumerista às novas
circunstâncias – dever geral de renegociação).

Pergunta: é possível aplicar a teoria da base objetiva do negócio jurídico para o CC? Não, porque ela serve apenas
para o CDC, ou seja, caso aplicada no CC, ela acarretaria insegurança jurídica ante a paridade contratual vigente
no diploma civil.

Veja o teor do Informativo 556 do STJ de 4 de março de 2015:

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. HIPÓTESE DE INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA BASE OBJETIVA OU DA BASE


DO NEGÓCIO JURÍDICO.
A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico tem sua aplicação restrita às relações jurídicas de
consumo, não sendo aplicável às contratuais puramente civis. A teoria da base objetiva difere da teoria da
imprevisão por prescindir da imprevisibilidade de fato que determine oneração excessiva de um dos contratantes.
Pela leitura do art. 6°, V, do CDC, basta a superveniência de fato que determine desequilíbrio na relação contratual

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diferida ou continuada para que seja possível a postulação de sua revisão ou resolução, em virtude da incidência
da teoria da base objetiva. O requisito de o fato não ser previsível nem extraordinário não é exigido para a teoria
da base objetiva, mas tão somente a modificação nas circunstâncias indispensáveis que existiam no momento da
celebração do negócio, ensejando onerosidade ou desproporção para uma das partes. Com efeito, a teoria da
base objetiva tem por pressuposto a premissa de que a celebração de um contrato ocorre mediante consideração
de determinadas circunstâncias, as quais, se modificadas no curso da relação contratual, determinam, por sua
vez, consequências diversas daquelas inicialmente estabelecidas, com repercussão direta no equilíbrio das
obrigações pactuadas. Nesse contexto, a intervenção judicial se daria nos casos em que o contrato fosse atingido
por fatos que comprometessem as circunstâncias intrínsecas à formulação do vínculo contratual, ou seja, sua base
objetiva. Em que pese sua relevante inovação, a referida teoria, ao dispensar, em especial, o requisito de
imprevisibilidade, foi acolhida em nosso ordenamento apenas para as relações de consumo, que demandam
especial proteção. Ademais, não se admite a aplicação da teoria do diálogo das fontes para estender a todo
direito das obrigações regra incidente apenas no microssistema do direito do consumidor. De outro modo, a teoria
da quebra da base objetiva poderia ser invocada para revisão ou resolução de qualquer contrato no qual haja
modificação das circunstâncias iniciais, ainda que previsíveis, comprometendo em especial o princípio pacta sunt
servanda e, por conseguinte, a segurança jurídica. Por fim, destaque-se que, no tocante às relações contratuais
puramente civis, quer dizer, ao desamparo das normas protetivas do CDC, a adoção da teoria da base objetiva, a
fim de determinar a revisão de contratos, poderia, em decorrência da autuação jurisdicional, impor indesejáveis
prejuízos reversos àquele que teria, em tese, algum benefício com a superveniência de fatos que atinjam a base do
negócio. REsp 1.321.614-SP, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014, DJe 3/3/2015.

ATENÇÃO: não obstante a regra no CDC seja da revisão contratual, possibilita-se a ocorrência da RESOLUÇÃO.

CDC, art. 51, §2º A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não
invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos
esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das
partes.

QUESTÃO
Ano: 2013 / Banca: FCC / Órgão: TRT - 1ª REGIÃO (RJ) / Prova: Juiz do Trabalho Substituto

Segundo a teoria da imprevisão adotada no Código Civil,


a) é preciso que, em contratos de execução continuada ou diferida, ocorra onerosidade excessiva a uma das
partes, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis,
hipótese em que poderá o devedor postular a resolução do contrato, retroagindo os efeitos da sentença que a
decretar à época da celebração do contrato.

b) somente as relações de consumo estão sujeitas à resolução contratual por imprevisão em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, não havendo igual normatização no Código Civil.

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c) é preciso apenas que haja, em contratos de execução continuada ou diferida, onerosidade excessiva a uma das
partes, para que possa ela, independentemente de outros requisitos, pleitear a resolução do contrato,
retroagindo os efeitos da sentença que a decretar à data da citação.

d) é preciso que, nos contratos de execução continuada ou diferida, a prestação de uma das partes torne- se
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, hipótese em que poderá o devedor pedir a resolução do contrato, retroagindo os efeitos da
sentença que a decretar à data da citação.

e) é preciso que, em contratos de execução imediata, continuada ou diferida, ocorra onerosidade excessiva a uma
das partes, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordiná- rios e imprevisíveis,
ocasião em que poderá o devedor postular a resolução do contrato, retroagindo os efeitos da sentença à época
da citação.

Resposta: alternativa “d”.

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