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2016
"Primeiro Bardo
Bardo Thodol
O Bardo Todhol, também conhecido como “Livro Tibetano dos Mortos”, é uma obra
do Busdismo Tibetano Vajrayana da escola LamasianaGelugpa. A compilação desta obra
se atribui ao monge Padmasambhava que viveu no século VII, sendo que antes esses
conhecimentos eram transmitidos por tradição oral.
De acordo com a tradição, o Bardo Thodol seria lido durante a morte, desde o
momento em que o ser humano está iniciando sua passagem e a leitura perdurava por 49
dias, ou seja, sete semanas, com a finalidade de guiar o morto através do bardo.
Para entendermos mais profundamente essa obra precisamos saber que a tradição
tibetana se baseia na reencarnação como processo natural de aprendizagem do ser
humano através de várias vidas e também através da passagem do que chamamos vida,
para o que chamamos morte e também do que chamamos morte, para o que chamamos
vida. O bardo seria um momento em que o ser humano pode aproveitar para evoluir,
aprender a vencer uma série de ilusões as quais se ficou apegado durante a vida: " Esta é
a hora da morte e renascimento. Aproveita esta morte temporal para atingir o perfeito
estado. Ilumina-te. Concentrado na unidade de todos os seres vivos. Mantido sobre a Luz
Clara. Usa-o para alcançar o entendimento e o amor" (Bardo Thodol).
Segundo essa tradição, quando morremos ainda estamos muito apegados ao que
fomos nessa vida, por isso o monge lê os ensinamentos falando o nome do morto, para
que ele se identifique com o processo, e vá seguindo as instruções dadas no livro sobre
tudo que irá se passar em cada uma das fases do pós-morte.
Um dos ensinamentos do livro é que tudo que passaremos nesse momento de morte
é reflexo de projeções de nossos próprios pensamentos e por isso não devemos nos
atemorizar: "Pela luta não poderás conseguir nada neste mundo alucinatório. Não te
apegues. Não sejas débil. Qualquer que seja o medo ou terror que te embargue. Não
olvides estas palavras. Introduz o seu significado no teu coração. Segue em frente. Aqui
mesmo está o segredo vital do conhecimento" (Bardo Thodol).
Se diz que apenas em casos extremos, ou seja, pessoas de alto grau evolutivo ou
pessoas muito primitivas evolutivamente, ficam os 49 dias no bardo, geralmente as
pessoas que estão em um estágio intermediário de evolução se identificam com alguma
das etapas que as leva a um plano de descanso que vai ser relativo ao nível de
consciência da pessoa. Os muito sábios ficam no Bardo até o final e reencarnam para
ajudar a humanidade, e os muito ignorantes, ficam os 49 dias no bardo e reencarnam por
excesso de amor à matéria.
O terceiro estado do bardo é quando a pessoa não entrou nos planos de descanso e
começa a buscar a matéria, pois quer ter um corpo. Se diz que o “Senhor da Morte”, que é
também reflexo de nossa própria consciência espiritual, vai colocando em um recipiente
seixos brancos e negros, que correspondem as intenções que temos em vida,
representando quais delas foram construtivas e o quais fora, egoístas. Assim, essa pessoa
com desejo de um corpo para reencarnar, começa a se aproximar de casais que estão
concebendo um filho, então o senhor da morte instrui a pessoa para que escolha o casal,
ou seja, “A porta do ventre”, de forma que essa nova família permita que tenha as
condições adequadas para a evolução.
Vemos assim, que o Bardo Thodol nos fala sobre a etapa do pós-morte, no
ensinando que é uma continuação da vida, e que devemos aproveitar a oportunidade para
adquirir mais consciência do nosso verdadeiro eu e dar um passo evolutivo.
De acordo com a obra E Depois... (Faras de Patmos, 2010) quando o Bardo Thodol
fala do estado intermediário, está se referindo ao que os indianos chamam de Kama-loka,
ou ao que os antigos egípcios chamam de Duat, no livro da oculta morada, ou podemos
relacionar com o Purgatório das tradições Judaico-Cristãs, a qual a obra da “Divina
Comédia” de Dante Alighieri descreve como a montanha do Purgatório.
Outra obra sobre esse tema, de grande importância dentro da Filosofia, é o Fédon de
Platão, na qual Sócrates, personagem principal, após ter sido condenado a morte, faz um
discurso ensinando à seus discípulos o motivo pelo qual os filósofos não devem temer a
morte, uma vez que se prepararam durante toda sua vida para a passagem através do
trabalho de valores atemporais.
Trataremos agora com mais detalhes de comprar essa obra com aspectos do Bardo
ThodoL.
Vemos também essa ideia expressa no trecho: “Pondera então meu caro Cebes, se
de tudo o que afirmamos não se deduz necessariamente que nossa alma é muito parecida
com o divino, imortal, inteligível, simples, indissolúvel, sempre igual e semelhante à si
mesma, e que nosso corpo parece perfeitamente com o que é humano, mortal, sensível,
composto, solúvel, sempre mutável e nunca semelhante à si mesmo. Existe alguma razão
que possamos alegar para aniquilar essas ilações e demonstrar que não é assim? Por ser
assim, não é natural que o corpo se desfaça e a alma continue sempre indissolúvel ou
num estado semelhante?"(Fédon página 146).
Platão também trata o tema de maneira similar, uma vez que se apóia na idéia de que
as paixões do corpo dificultam significativamente a consciência humana de se aproximar
da verdade: “A razão deve seguir apenas um caminho em suas investigações, enquanto
tivermos corpo e nossa alma estiver absorvida nessa corrupção, jamais possuiremos o
objeto de nossos desejos, isto é, a verdade. Porque o corpo nos oferece mil obstáculos
pela necessidade que temos de sustentá-lo, e as enfermidades perturbam nossas
investigações. Em primeiro lugar nos enche de amores, de desejos, de receios, de mil
ilusões e de toda classe de tolices, de modo que nada é mais certo do que aquilo que se
diz corretamente: que o corpo nunca nos conduz a algum pensamento sensato. Não,
nunca! Quem faz nascer às guerras, as revoltas e os combates? Nada mais que o corpo e
suas paixões. Com efeito, todas as guerras têm origem apenas no desejo de acumular
riquezas, e somos obrigados a cumulá-las pelo corpo, para servi-lo, como escravos em
suas necessidades. Eis o motivo o motivo de não termos tempo para pensar em filosofia; e
o pior é que, quando conseguimos alguns instantes de paz e começamos a meditar, esse
intruso irrompe em meio nossas investigações e nos impede o discernimento da verdade.
Está demonstrado, ao contrário, que se deseja,os saber alguma coisa é preciso que
abandonemos o corpo e que apenas a alma analise os objetos que deseja conhecer.
Somente então usufruiremos da sabedoria pela qual somos apaixonados, isto é, depois de
nossa morte e de maneira alguma no decorrer da vida. E a própria razão o afirma, já que é
impossível conhecer alguma coisa de forma pura, enquanto temos corpo; é preciso que
não se conheça a verdade ou então, que se conheça após a morte, pois então a lama
pertencerá livre deste fardo e não antes. Enquanto estivermos nesta vida não nos
aproximaremos da verdade a não ser afastando-nos do corpo e tendo com ele relação
apenas o estritamente necessário, sem deixar que nos atinja com sua corrupção natural, e
conservando-nos puros de todas as suas imundices até que o deus venha nos
libertar."(Fédon, páginas 127 e 128)
O Bardo Thodol destaca que o ser humano irá encontrar no pós-morte, o reflexo de
seus pensamentos e ações durante sua vida: "Para ti é suficiente saber que estas
aparições são as formas de teu próprio pensamento. Se não reconheces tuas próprias
formas de pensamento. Se olvidas tua preparação. As luzes te deslumbrarão. Os sons te
atemorizarão. Os raios te aterrorizarão As pessoas ao teu redor te confundirão. Recorda a
chave dos ensinamentos Oh, amigo. Estes reinos não vêm de algum lugar exterior a teu
ego. Vêm de teu interior e brilham sobre ti. Tampouco as revelações vêm de nenhum outro
lugar. Existem desde a eternidade dentro das faculdades de teu próprio intelecto.
Reconhece que são desta natureza. A chave da iluminação e da serenidade durante o
período de dez mil visões é simplesmente esse: Descanso, relaxamento" (Bardo Thodol)
Platão expressa algo de idéia semelhante no trecho: “Se a alma se afasta neste
estado, vai para num lugar análogo a ela, divino, imortal, repleto de sabedoria, em que
usufrui de felicidade, livre dos erros do corpo, de sua ignorância, de seus receios, de suas
paixões tirânicas e de todos os outros males próprios da natureza humana. E como dizem
os iniciados, passa toda a eternidade junto com os deuses. No entanto, se a alma se
afasta do corpo maculada, impura, como se houvesse estado sempre mesclada com ele,
até o ponto de julgar servi-lo, embriagada pelo corpo, até o ponto de crer que nada existe
além do físico, do que se pode ver, tocar, comer e beber, ou do que se presta aos
prazeres do amor, ao passo que detesta, receia e foge de tudo que é inteligente, crês que
essa alma pode, ao separar-se do corpo, ver e si mesma, por si mesma e sem mistura? ...
( Fédon página 147).
Vemos também essa ideia claramente expressa em outra parte da obra: "A Alma
nada leva consigo ao chegar ao Hades a não ser sua formação e regime de vida, o que,
de acordo com a tradução, é exatamente o que mais valoriza ou prejudica o morto a partir
do início da viagem para o além. Portanto, dizem que o mesmo gênio que acompanha
cada um de nós ao longo da vida é também quem conduz o morto a um determinado
lugar. Os que lá são submetidos a um julgamento e, proferida a sentença, são levados ao
Hades por um guia a quem foi ordenado conduzi-los até lá. Após receberem o que
mereciam e terem permanecido lá o tempo necessário, outro guia os reconduz para cá,
através de muitos e demorados intervalos de tempo. Dessa forma, o caminho não é como
pretende Téfilo de esquilo, que declara ser simples o caminho que leva ao Hades; pra mim
não é nem tão simples, nem único, pois se existisse um só caminho para chegar ao
Hades, não haveria necessidade de guias, pois ninguém erraria a direção. Mas fica
evidente que tal caminho possui muitas encruzilhadas e curvas, e uma prova disso são os
costumes religiosos de que dispomos. Então, a alma comedida é sábia e segue a seu guia
de livre e espontânea vontade e não desconhece a sorte que a espera; mas aquela que
está presa a seu corpo pelas paixões, como eu dizia anteriormente, permanece por muito
tempo ligada a ele e a este mundo visível, e só depois de haver resistido e sofrido muito é
arrastada à força pelo gênio que lhe foi designado. Quando chega a esta reunião de todas
as almas, se ela é impura e está maculada por algum assassinato ou qualquer outro crime
terrível, todas as outras almas fogem de sua presença e lhe demonstram horror; não
encontra nem companheiro nem guia e vaga em completo abandono até que, após um
certo tempo, a necessidade arrasta-a até o lugar que merece. Mas aquela alma que
passou sua vida no comedimento e na pureza tem os próprios deuses por companheiros e
guias, e ocupará o lugar que lhe está destinado, já que lá há lugares maravilhosos e
diferentes da Terra, e não é o que imaginam aqueles que têm o hábito de fazer
descrições, como já ouvi algumas"(Fédon, página 177).
Sobre a descrição das características dos locais que encontraremos no do pós morte
Platão nos fala: "Nesta verdadeira Terra vivem animais diferentes dos daqui e também dos
homens em grande quantidade. Destes, uns vivem no interior da Terra, outros na fímbria
do ar, como nós, à beira-mar; outros, em ilhas cercadas de ar e próximas do continente.
Em resumo, aquilo que representam para nós a água e o mar em face de nossas
necessidades, lá é o ar; e o que é para nós o ar, para esses homens é o éter. No clima de
que gozam, há uma tal perfeição de temperatura que não são afetados por doenças; em
relação à duração da vida, ultrapassam em muito os homens daqui. Há também lugares
sagrados e templos em que residem os deuses; e vozes e profecias mediante as quais os
deuses se tornam sensíveis a eles; desta maneira, entram em contato com as divindades,
frente a frente. E o sol, a lua e todos os astros são vistos por tais homens como realmente
são em sí mesmos. Junto a esses privilégios há uma felicidade que lhes é companhia
natural(Fédon, página 181).
"Eis então, os mortos chegados aonde levou seu gênio tutelar. Aí, antes de mais
nada, são todos julgados, tanto os que levaram um a vida justa e piedosa quanto os
outros. Os que levaram uma vida comum são levados para o Aqueronte e então, em
barcos, se dirigem a Aquerúsia. Vão viver lá, onde são submetido à purificação, tanto para
a remissão das penas imputadas às suas ações criminosas como para obter recompensas
pelas boas ações que praticaram, de acordo com o merecimento de cada um. Outros,
imperdoáveis pela enormidade de pecados cometidos, roubos repetidos e gravas em
templos, muitos homicídios e varias outras coisas do mesmo tipo, recebem o castigo
merecido e são precipitados no Tártaro, de onde nunca mais saem. Aqueles cujas faltas,
embora graves, têm ainda remédio, como as cometidas pelos que, dominados pela ira,
usaram de violência contra os pais, e por isso amargaram o arrependimento no decorrer
de toda a vida, ou que, sob condições parecidas, se tornaram assassinos, esses também
são lançados no Tártaro, mas depois de um ano uma onda os joga para fora, os
assassinos são atirados no Cocito, os que atentaram contra o pai ou mãe, no
Perigeteonte, e lhes suplicam em altos brados que os deixem passar do rio para o lago e
encontrar uns aqueles que mataram outros aos que violaram e lhes imploram permissão
para passar do rio para o lago e para ir ter com eles. Se conseguem o que pedem, saem
do rio e cessam de sofrer. Caso contrário, são de novo arremessados ao Tártaro numa
infindável repetição, até que obtenham o perdão de suas vítimas, já que essa éa sentença
que lhes impuseram os juízes. Os que levaram um existência reconhecidamente de
grande piedade são libertados como de prisõesdas regiões interiores da Terra e levados
para as altitudes da pura morada para viver na superfície da verdadeira Terra! E, entre
estes, aqueles que expiaram suas faltas pela filosofia passam a viver sem seus corpos,
durante o resto do tempo, e a residir em lugares ainda mais belos que os demais" (Fédon,
página 184).
CONCLUSÃO
Vemos então com a comparação de alguns trechos das obras, que os ensinamentos
são muito similares, e assim podemos deduzir algo que a Filosofia á maneira clássica nos
ensina sempre: que existem verdades universais, e que estas estão traduzidas em obras
de diversos povos, de distintas épocas, estando assim disponíveis para todos nós, e nos
deixado a responsabilidade de compreendê-las e aplicá-las.
REFERÊNCIAS