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Betti, Maria Silvia - Compilador/a o Editor/a; Twain, Mark - Autor/a; Castanheira, Autor(es)
Paulo Cezar - Traductor/a;
São Paulo Lugar
Fundação Perseu Abramo Editorial/Editor
2003 Fecha
Clássicos do Pensamento Radical Colección
Género; Raza; Movimientos sociales; Antiimperialismo; Política; Religión; Periodismo; Temas
China; Rusia; Estados Unidos; Australia; África; Congo;
Libro Tipo de documento
"http://biblioteca.clacso.edu.ar/Brasil/fpa/20170912040419/pdf_1163.pdf" URL
Reconocimiento-No Comercial-Sin Derivadas CC BY-NC-ND Licencia
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/deed.es
PATRIOTAS E TRAIDORES
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
PATRIOTAS E TRAIDORES
Antiimperialismo, política
e crítica social
ORGANIZAÇÃO, INTRODUÇÃO,
TEXTOS DE ABERTURA E REVISÃO DA TRADUÇÃO
MARIA SÍLVIA BETTI
Professora de literatura norte-americana
da Universidade de São Paulo
TRADUÇÃO
PAULO CEZAR CASTANHEIRA
MARK TWAIN
Mark Twain
Diretoria
Hamilton Pereira (presidente) – Ricardo de Azevedo (vice-presidente)
Selma Rocha (diretora) – Flávio Jorge Rodrigues da Silva (diretor)
Editora Assistente
Candice Quinelato Baptista
Assistente editorial
Viviane Akemi Uemura
Revisão
Maurício Balthazar Leal
Márcio Guimarães de Araújo
Índice remissivo
Marcello Lagonegro
Foto da capa
BoondocksNet.com
Editoração eletrônica
Augusto Gomes
Impressão
Gráfica OESP
ANTIIMPERIALIMO ............................................................... 45
DADOS BIOGRÁFICOS
e 1910, ano em que vem a falecer, aos 75 anos de idade, um ano após a
morte de sua filha caçula, Jean.
Filipinas. Isso não prova nada. Não quer dizer que um homem seja um
traidor. Onde está a prova? Somos 75 milhões aprimorando nosso pa-
triotismo. Ele próprio fez a mesma coisa. Seria completamente diferen-
te se a vida do país estivesse em perigo, sua existência em jogo; então – e
esse é um tipo de patriotismo – seríamos todos voluntários ao lado da
bandeira, e ninguém iria pensar se a nação estava certa ou errada; mas
quando não se trata de qualquer ameaça à nação, mas apenas de uma
guerrinha distante, então pode se dar que a nação se divida em torno da
questão política, metade patriotas, metade traidores, e ninguém será
capaz de distinguir entre eles.2
9. Zwick, Jim. Mark Twain’s Antiimperialist Writings in the American Century. Loc. cit.
10. 1829-1906. Oficial do Exército, político e editor nascido na Alemanha. Senador por Missouri (1869-
1875), disseminou as idéias políticas do Partido Republicano com seus discursos e, posteriormente,
com seus editoriais.
INTRODUÇÃO 25
11. Zwick, Jim. Mark Twain’s Arguments against War and Imperialism. http://www.boondocksnet.com/
ai/twain_d.html
12. 1843-1901. Vigésimo quinto presidente dos Estados Unidos (1897-1901). Sua presidência foi marcada
pela Guerra Hispano-Americana, pela anexação de Cuba e das Filipinas, pela abertura de uma política
de livre comércio com a China e pela aprovação do Ato do Padrão Ouro (1900). Foi assassinado por um
anarquista em Buffalo, Nova York.
13. 1858-1919. Vigésimo sexto presidente dos Estados Unidos (1901-1909). Herói da Guerra Hispano-
Americana e governador de Nova York (1899-1900), assumiu a Presidência após o assassinato de William
McKinley, em setembro de 1901. Sua administração foi marcada pela regulamentação de monopólios,
pela construção do canal do Panamá, por uma política externa de livre comércio com a China e pela
política externa do big stick, que pregava a idéia de impor-se pela força. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz
em 1906 por sua mediação na Guerra Russo-Japonesa.
14. 1860-1925. Advogado e político, candidatou-se sem sucesso à Presidência em 1896, 1900 e 1908. É
famoso por seu discurso intitulado “Cruz de Ouro” (1896), defendendo o lastro de prata para a moeda
norte-americana, por sua atuação como promotor e por sua defesa do fundamentalismo no julgamen-
to de Scopes, um professor processado por ensinar a teoria da evolução das espécies de Darwin num
município de Tennessee em 1925.
26 PATRIOTAS E TRAIDORES
15. Zwick, Jim. Mark Twain’s Antiimperialist Writings in the American Century. Loc. cit.
16. Zwick, Jim. Mark Twain’s Arguments against War and Imperialism. Loc. cit.
INTRODUÇÃO 27
Jim Zwick esta seria uma das razões pelas quais muitos pesquisadores
consideram “pessimista” o tom de Twain nos escritos dessa fase, que é
também a fase final de sua carreira. Os chamados “escritos sombrios”
(dark writings), como foram designados os textos elaborados nesse
período, encontram-se impregnados de antiimperialismo, aspecto no
qual, aliás, o autor nunca esteve isolado, dispondo sempre de um nú-
mero amplo e significativo de correligionários dentro e fora do campo
literário e jornalístico. O propalado “pessimismo” é incompatível com
o vigor e o empenho demonstrados por Twain em sua militância an-
tiimperialista, que se concentra precisamente nesses últimos 12 anos
de sua vida. Não é difícil, portanto, entender por que a maior parte da
crítica, durante muito tempo, insistiu em descrever esse período como
de amargura e declínio: ao depreciar a importância da produção nele
desenvolvida, punha-se também em segundo plano a discussão de seu
trabalho antiimperialista, o que sem dúvida alguma atendia aos inte-
resses dominantes, tanto no mundo acadêmico como no editorial.
Outro aspecto de importância a ser lembrado é a forma singular
como Twain, decano da literatura do país e celebridade de renome
internacional, permite-se rever sua posição acerca do imperialismo e
modificá-la, levado pela análise dos fatos e de suas implicações. Dis-
correndo a respeito da posição norte-americana diante de Cuba logo
após seu retorno da Europa, Twain afirmara que os Estados Unidos
estavam “jogando o jogo americano”, ou seja, apoiando, segundo ele
ainda acreditava no momento, um movimento libertário. Segundo um
raciocínio análogo, sua visão inicial da Guerra das Filipinas levava-o a
enxergar um caráter libertário e humanista como fator para a partici-
pação norte-americana. Pouco tempo depois, ele próprio revia essas
avaliações em entrevista ao jornal New York Herald:
Eu dizia com meus botões: aqui está um povo que sofre há 300 anos.
Temos capacidade de torná-los livres como nós, dar-lhes um governo e
um país que sejam só seus, colocar uma miniatura da Constituição
americana a flutuar no Pacífico, fundar uma república absolutamente
nova que há de tomar seu lugar entre as nações livres do mundo. Pare-
28 PATRIOTAS E TRAIDORES
17. 1840-1914. Oficial da Marinha norte-americana e historiador. Este seu livro desencadeou um verda-
deiro processo de armamentismo naval no período imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial.
INTRODUÇÃO 29
18. Zwick, Jim. Mark Twain’s Arguments against War and Imperialism. Loc. cit.
19. Zwick, Jim. Mark Twain’s Arguments against War and Imperialism. Loc. cit.
20. Zwick, Jim. Mark Twain’s Arguments against War and Imperialism. Loc. cit.
30 PATRIOTAS E TRAIDORES
ANTIIMPERIALISMO
SAUDAÇÃO AO SÉCULO XX
(31 de dezembro de 1900)
A VOLTA DO ANTIIMPERIALISTA
(6 E 15 DE OUTUBRO DE 1900)
A PROCISSÃO ESTUPENDA
(1901)
INFORMAÇÕES
(10 de dezembro de 1867)
to” que carregou os dois navios para uma das províncias do interior e
ele quase perdeu a vida. Então desistiu de usar navios para conduzir
pesquisas e está desanimado.
E agora não sabe o que fazer. Já tentou o Alasca, mas os ursos o
perseguiram tanto, ele vivia tão sobressaltado que teve que ir embora.
Nunca ia ter sossego com todos aqueles ursos correndo atrás dele o
tempo todo. Foi por isso que ele veio para essa nova ilha que compra-
mos – São Tomás. Mas ele está começando a achar que São Tomás não
é um lugar tranqüilo para um homem de temperamento igual ao dele,
e é por isso que ele quer que eu descubra se o governo está pensando
em comprar mais algumas ilhas. Ouviu falar que é verdade, e espera
que seja Porto Rico, se for uma ilha sossegada. O senhor acha que o
governo vai comprá-la?
56 PATRIOTAS E TRAIDORES
PATRIOTAS E TRAIDORES:
DISCURSO NO JANTAR DO LOTOS CLUB
(27 de fevereiro de 1901)
BEM-VINDO AO LAR:
DISCURSO EM JANTAR NO LOTOS CLUB
(10 de novembro de 1901)
Muito bem, estou realmente muito feliz por poder me reunir mais
uma vez com os senhores, partilhar mais uma vez o pão e o sal desta
casa hospitaleira. Há sete anos, quando aqui fui recebido, estava velho
e sem esperança e os senhores me deram a força e o incentivo necessá-
rios para erguer um homem, fazê-lo ver a felicidade de estar vivo; e
agora volto do meu exílio rejuvenescido, forte e vivo, pronto a reco-
meçar a vida, e sua recepção dá o toque final à minha juventude re-
conquistada e a torna para mim uma realidade, não um sonho gracio-
so que se esvai pela manhã. Muito obrigado.
64 PATRIOTAS E TRAIDORES
Nos Estados Unidos, o Natal vai descer sobre um povo alegre, cheio
de esperanças e sonhos. Uma condição que significa satisfação e felici-
dade. Um ou outro queixoso rabugento talvez encontre uns poucos
ouvintes. A maioria vai se perguntar se ele está doente e passar adian-
te. – New York Tribune, sobre o Natal.
tes de sexo cortam a noite como abutres, em “negócios” que não são
apenas tolerados, mas até incentivados pela polícia; onde a educação
das crianças se inicia pelo conhecimento da prostituição e as meninas
são treinadas apenas nas artes de Frinéia3; para onde se importam
meninas educadas com o refinamento do lar americano em pequenas
cidades do norte do estado, de Massachusetts, Connecticut e de Nova
Jersey, que são mantidas prisioneiras, quase como se trancadas atrás
das grades até perderem toda a aparência de mulheres; onde os meni-
nos aprendem a agenciar clientes para as mulheres das casas de má
fama; onde existe uma sociedade organizada de homens jovens cujo
único fim é corromper moças e oferecê-las aos prostíbulos; onde ho-
mens que passam com as esposas pelas ruas são abertamente insulta-
dos; onde crianças contraem doenças de adultos e são os principais
clientes dos hospitais e dispensários; onde a regra, e não a exceção, é
não se punir o assassinato, o estupro, o assalto e o roubo – em resumo,
onde o prêmio das formas mais terríveis de vício é o lucro dos políti-
cos.
3. Frinéia: bela e audaciosa cortesã grega do século IV a.C.. Levada a julgamento em Atenas por impie-
dade, foi despida por seu advogado diante dos juízes e, assim, imediatamente absolvida.
ANTIIMPERIALISMO 67
4. Havia na China o costume de amarrar moedas de cobre, que eram vazadas, formando colares. Isto
facilitava o manuseio do dinheiro, os pagamentos e recebimentos. (N. T.)
5. Em inglês o jogo da cara ou coroa tem o nome heads or tails, efígie ou o reverso, o que permite o
trocadilho. (N. T.)
68 PATRIOTAS E TRAIDORES
6. O editorial sem título publicado no The Public de 12 de fevereiro de 1901 menciona as críticas feitas
pelo Dr. Wyland Spalding a Mark Twain devido às afirmações a respeito deste episódio: segundo Spalding,
“13 vezes” teria sido fruto de um equívoco do telegrafista, que teria transmitido esse número em vez de
“1/3” (um terço). Apesar de reconhecer que Twain havia feito posteriormente uma retratação e men-
cionado o erro, Spalding sentiu-se mais seriamente ofendido pelo fato de Twain, em sua retratação,
haver inquirido ainda com maior pertinácia, em nome de que lei ou de que moral o missionário cole-
tou algo de pessoas que não haviam causado qualquer dano a quem quer que fosse, indagando também
qual seria a diferença entre uma extorsão doze vezes maior e uma um terço maior. Em claro apoio a
Twain, o jornal afirma que o Sr. Spalding poderia ter-lhes dado maior satisfação em responder a essas
perguntas do que ao denunciar Twain e acusá-lo de indecente e mal-educado.
ANTIIMPERIALISMO 69
não se dedicavam de modo geral aos saques e que, desde o cerco, eles
agiram com toda lisura, exceto quando foram pressionados pelas cir-
cunstâncias. Proponho-me a organizar a construção do monumento.
As contribuições podem ser enviadas para a Câmara Americana; os
desenhos devem ser enviados a mim. Os projetos devem enfatizar as
13 reduplicações da indenização e o objeto que justificou sua cobran-
ça; como ornamento, os projetos devem exibir 680 cabeças, dispostas
de forma a dar um efeito agradável e belo; quanto aos católicos, sua
grande realização merece menção no movimento. Aceito sugestões de
lemas, se houver algum que seja pertinente.
O feito financeiro de extorquir de camponeses miseráveis uma
indenização multiplicada por 13 para expiar as culpas de outros, con-
denando-os assim, e às suas mulheres e aos seus filhos inocentes, à
certeza da fome e de uma morte lenta a fim de que o dinheiro arreca-
dado pudesse ser “usado para a propagação da Palavra de Deus”, não
perturba minha serenidade, embora o ato e as palavras, em conjunto,
concretizem uma blasfêmia tão horrível e colossal que, não tenho dú-
vidas, jamais se encontrará igual na história desta ou de qualquer ou-
tra era. Ainda assim, se algum leigo tivesse realizado o mesmo feito e o
justificado com as mesmas palavras, sei que teria tido calafrios. O que
também teria ocorrido se eu tivesse realizado o feito e pronunciado eu
mesmo as palavras, apesar de o pensamento ser impensável, por mais
que pessoas desinformadas me considerem irreverente. Às vezes um
pastor ordenado se torna blasfemo. Quando tal acontece, o leigo deixa
de competir; não tem a menor chance.
Temos ainda a garantia emocionada do Sr. Ament de que os mis-
sionários não são “vingativos”. Vamos esperar e orar para que nunca o
sejam, mas guardem a mesma índole quase morbidamente justa e tran-
qüila que hoje dá tanta satisfação a seu irmão e defensor.
O trecho que se segue é da edição do New York Tribune da véspera
do Natal. Foi escrito pelo correspondente do jornal em Tóquio. Soa
estranho e impudente, mas os japoneses ainda são apenas parcialmente
civilizados. Quando se tornarem completamente civilizados, não fala-
rão como falam hoje:
70 PATRIOTAS E TRAIDORES
za passará a ter prejuízo com ele. Repica com tanta ânsia toda aposta
sobre a mesa que aqueles que vivem nas trevas já estão notando; no-
tam e começam a se alarmar. Têm dúvidas quanto às bênçãos da civi-
lização. Mais que isso, passaram a examiná-las cuidadosamente. E isso
não é bom. Bênçãos da Civilização é uma boa marca, uma boa pro-
priedade comercial; sob luz mortiça, talvez não haja outra tão boa.
Sob a luz correta, e a uma distância adequada, com o produto ligeira-
mente fora de foco, ela oferece àqueles que vivem nas trevas esta ima-
gem desejável:
7. A idéia de “fardo” aqui remete ao poema “O fardo do homem branco” (“White man’s Burden”), de
Rudyard Kipling, publicado no McClure Magazine no dia 12 de fevereiro de 1899. A guerra filipino-
americana havia começado oito dias antes e o Tratado de Paris seria ratificado dois dias depois da
publicação, o que o situa num momento particularmente significativo da expansão imperialista e, ao
mesmo tempo, de atuação da Liga Antiimperialista nos Estados Unidos. Embora no poema estivessem
mescladas as louvações ao império e as advertências acerca dos custos que ele implicava, os próprios
imperialistas interpretaram a expressão “fardo do homem branco” como um eufemismo para o impe-
72 PATRIOTAS E TRAIDORES
rialismo e uma justificação implícita da política imperialista como uma empreitada nobre e altruísta.
Rapidamente os antiimperialistas responderam por meio de paródias do poema, tendo como foco o
novo conflito nas Filipinas e a hipocrisia dos que o defendiam e desejavam ocultar os interesses econô-
micos, políticos e militares nele envolvidos. Para os antiimperialistas, o “fardo” verdadeiro era o dos
trabalhadores dos Estados Unidos. Em 1901, após dois dias de terríveis batalhas nas Filipinas, Twain
indagava: “O fardo do homem branco” foi cantado, mas quem cantará o do Homem de Cor?”. O con-
ceito de “fardo do homem branco” se fez presente novamente em período posterior, a propósito das
intervenções norte-americanas nas Américas e no decorrer da Primeira Guerra Mundial.
8. Joseph Chamberlain, 1836-1914. Político britânico reformista e membro do Parlamento por
Birmingham. Foi secretário de assuntos coloniais durante o governo conservador de Salisbury, sendo
responsável pelas relações com as repúblicas bôeres na época em que irrompeu a Guerra dos Bôeres,
em 1899. Foi uma das figuras mais representativas da política externa britânica desse período.
ANTIIMPERIALISMO 73
9. Região localizada na porção nordeste da África do Sul além do rio Vaal, atualmente faz fronteiras
com a Suazilândia, o Zimbábue e Botswana. No século XIX a descoberta de ouro atraiu um grande
número de exploradores e aventureiros britânicos. Durante a Guerra dos Bôeres, a estratégia de atear
fogo às matas e fazendas difundiu-se como meio de forçar os bôeres a deixar seus refúgios.
74 PATRIOTAS E TRAIDORES
dispendiosos. Está tudo errado. Errado, pois aquele que vive nas tre-
vas jamais se deixará enganar. Ele sabe que foi uma cobrança excessi-
va. Sabe que um missionário é como qualquer outro homem: vale ape-
nas o custo de um substituto, nada mais. É útil, mas um médico tam-
bém é útil, um delegado, um editor; mas um imperador justo não
cobra indenizações de guerra por eles. Um missionário inteligente,
diligente, mas obscuro, assim como um editor inteligente, diligente,
mas obscuro, valem muito, todos o sabemos; mas não valem a terra.
Estimamos o editor, lamentamos sua perda; mas quando ele morre
devemos considerar excessiva uma compensação por sua perda com-
posta de 19,3 quilômetros de território, uma igreja e uma fortuna.
Quero dizer, ainda que se tratasse de um editor e tivéssemos que pagar
indenização por ele. Não é um valor condizente com um editor ou um
missionário; pode-se comprar reis por menos. O kaiser fez uma joga-
da errada. É verdade que ele ganhou; mas também produziu a revolta
dos chineses, a rebelião indignada dos patriotas traídos da China, os
boxers. Os resultados foram caros para a Alemanha e para outros
disseminadores do progresso e das bênçãos da civilização.
A aposta do kaiser foi paga, mas mesmo assim foi uma jogada
errada, pois terá certamente efeito danoso sobre aqueles que vivem
nas trevas na China. Eles hão de ponderar o que aconteceu e provavel-
mente irão dizer: “A civilização é bela e graciosa, pois essa é a sua repu-
tação; mas estará ao nosso alcance? Existem chineses ricos, talvez eles
tenham condições; mas essa cobrança não foi apresentada a eles, foi
apresentada aos camponeses de Shantung; só eles terão de pagar essa
quantia enorme, e eles ganham meros quatro centavos por dia. Será
essa civilização melhor que a nossa, mais santa, elevada e nobre? Ou
isso seria rapacidade? Quem sabe extorsão? A Alemanha teria cobrado
200 mil dólares aos Estados Unidos por dois missionários, teria bran-
dido a luva de aço na sua cara, enviado navios de guerra e soldados
com a ordem: ‘Tomem 19,3 quilômetros de território, no valor de 20
milhões de dólares, como pagamento adicional pelos dois missionári-
os e mandem aqueles camponeses construir um monumento aos mis-
sionários e uma custosa igreja cristã para que eles não sejam esqueci-
ANTIIMPERIALISMO 75
olhou para Cuba e disse: “Eis uma nação oprimida e sem amigos, dis-
posta a lutar para conquistar a liberdade; vamos nos associar a ela e
colocar a força de 70 milhões de simpatizantes e os recursos dos Esta-
dos Unidos: jogue!”. Ninguém além da Europa combinada teria con-
dições de repicar, e a Europa não se combina em torno de nada. Em
Cuba ele estava seguindo nossas grandes tradições de uma forma que
nos enchia de orgulho, dele e da profunda insatisfação que sua jogada
provocou na Europa continental. Movido por uma grandiosa inspira-
ção, ele gritou aquelas palavras emocionadas que declaravam ser a
anexação forçada uma “agressão criminosa” e, ao dizer isso, “disparou
mais um tiro ouvido por todo o mundo”. A lembrança daquela decla-
ração magnífica não será superada por nenhuma outra lembrança de
ato seu, a não ser pelo fato de, passados meros 12 meses, ele tê-la es-
quecido e à promessa solene que a acompanhou.
Pois, logo em seguida, veio a tentação filipina. Era forte; forte de-
mais, e ele cometeu um erro grave: começou a jogar o jogo europeu, o
jogo de Chamberlain. Foi uma tristeza; aquele erro foi uma tristeza
muito grande; aquele erro terrível, irremediável. Pois aqueles eram a
hora e o lugar de jogar mais uma vez o jogo americano. E sem custos:
grandes ganhos, ricos e permanentes; indestrutíveis; uma fortuna a
ser transmitida para sempre aos filhos da bandeira. Não a terra, não o
dinheiro, não a dominação; não, algo que valia muitas vezes mais que
essa escória: nossa participação, o espetáculo de uma nação de escra-
vos havia muito perseguidos e atormentados que se libertaria por nos-
sa influência; a cota da nossa posteridade, a lembrança daquele belo
feito. O jogo era nosso. Se tivesse sido jogado de acordo com as regras
americanas, Dewey10 teria zarpado de Manila logo depois de derrotar
a esquadra espanhola, depois de fincar na praia um sinal de garantia
de toda propriedade e toda vida estrangeiras contra agressão pelos
filipinos, e um aviso às potências que qualquer interferência com os
10. O comodoro George Dewey é considerado um herói da Guerra Hispano-Americana, por ter derro-
tado a frota espanhola no Pacífico. Deu início à Batalha de Manila às seis horas da manhã do dia 1º de
maio de 1898, e com uma frota de seis navios (onde se incluía a nau capitânia Olympia) em seis horas
pôs a pique todos os navios da armada espanhola.
ANTIIMPERIALISMO 77
que vive nas trevas, pois nem ele, nem ninguém vai acreditar.] Ao com-
prar os dois espectros por 20 milhões de dólares, assumimos também
responsabilidade sobre os frades e seus bens acumulados. Creio que tam-
bém contratamos a disseminação da lepra e da varíola, mas quanto a
isso ainda há dúvidas. Mas não tem importância: pessoas que já sofrem
com os frades não se importam com outras doenças. Ratificado o trata-
do, Manila conquistada e garantidos os nossos espectros, Aguinaldo se
tornou inútil, bem como os donos do arquipélago. Forçamos uma guerra
e desde então estamos caçando o antigo hóspede e aliado dos Estados
Unidos por florestas e pântanos.
Kitchener sabe bem como tratar essa gente desagradável que luta
por seus lares e liberdades, e é preciso deixar vazar que estamos apenas
imitando Kitchener, e que não temos interesse nacional na questão,
11. Militar inglês, foi comandante em chefe das tropas inglesas durante a Guerra dos Bôeres. Entre suas
táticas estava o incêndio de fazendas e a transferência de mulheres e filhos dos bôeres para campos de
concentração infectados. (N. T.)
ANTIIMPERIALISMO 81
Temos de estar preparados para segurar aquele que vive nas tre-
vas, pois é provável que ele desmaie diante dessa confissão, dizendo:
“Meu Deus, aqueles ‘negros’ cuidam dos prisioneiros feridos e os ame-
ricanos os massacram!”.
Ele deverá ser reanimado, convencido, mimado, e devemos asse-
gurar a ele que os caminhos da Providência são os melhores, e que não
ficaria bem para nós proclamar os defeitos deles; e então, para de-
monstrar que somos apenas imitadores, não os inventores, é preciso
ler para ele este trecho da carta de um soldado americano para a mãe,
publicada no Public Opinion de Decorah, Iowa, em que ele descreve o
fim de uma batalha vitoriosa:
Depois de relatar para aquele que vive nas trevas os fatos históri-
cos, é preciso reanimá-lo mais uma vez e explicá-los a ele. Devemos
dizer-lhe:
OS ESTADOS UNIDOS
DO LINCHAMENTO12
II
Oh, Missouri!
A tragédia aconteceu perto de Pierce City, no canto sudoeste do
estado. Numa tarde de domingo uma jovem branca que havia saído
sozinha da igreja foi encontrada assassinada. Pois lá existem igrejas;
no meu tempo, a religião era mais geral, mais difusa no Sul do que no
Norte, e acho que também mais viril e séria; tenho razões para crer
que ainda é assim. A jovem foi encontrada assassinada. Apesar de ser
uma região de igrejas e escolas, o povo se levantou e linchou três ne-
gros, dois deles bem velhos, queimou cinco casas de negros e expulsou
30 famílias de negros para o mato.
Não quero me deter na provocação que levou aquelas pessoas a
cometer aqueles crimes, pois nada tem a ver com a questão; a única
ANTIIMPERIALISMO 87
13. Girolamo Savonarola, 1452-1498. Frei dominicano do período da Reforma. Sua cruzada contra a
corrupção política e religiosa assegurou-lhe grande popularidade. Em 1494 liderou uma revolta em
Florença expulsando a família Médici, detentora do poder político da cidade, e estabelecendo uma
república. As denúncias que fez contra o papa Alexandre VI (Rodrigo Borgia), acusando-o de corrupção,
provocaram sua excomunhão, em 1497. No ano seguinte ele foi preso, torturado e queimado sob a
acusação de heresia.
14. Merrill, xerife do condado de Carroll, na Geórgia; Beloat, xerife de Princeton, Indiana. Pelo poder
de uma indiscutível reputação de coragem e sangue-frio, os dois enfrentaram multidões de linchadores
e foram vitoriosos.
ANTIIMPERIALISMO 91
15. O assistente naval construtor Richmond Pearson Hobson (1870-1937) foi um dos chamados he-
róis da Guerra Hispano-Americana, na qual sua fama só foi ultrapassada pela de Theodore Roosevelt e
pela do comodoro George Dewey. Sua popularidade veio da tentativa que fez de bloquear o porto de
Santiago de Cuba afundando deliberadamente o carvoeiro Merrimac à sua entrada, com a intenção de
assim encurralar a frota espanhola no porto. A missão, considerada suicida, foi realizada com uma
tripulação de sete voluntários e resultou num grande fracasso: o Merrimac teve seu leme avariado e,
danificado sob o fogo inimigo, afundou, sem porém bloquear o canal, como pretendia Hobson. Cap-
turado juntamente com seus companheiros, Hobson foi por fim trocado por reféns e tornou-se uma
celebridade nacional.
92 PATRIOTAS E TRAIDORES
O negro foi levado até uma árvore e balançou no ar. Madeira e capim
foram empilhados sob o corpo e acenderam o fogo. Então alguém suge-
riu que o homem não deveria morrer tão depressa, e ele foi baixado e
um grupo foi até Dexter, a cerca de três quilômetros, para buscar quero-
sene, que foi atirado nas chamas e se completou o trabalho.
Temos que lhes implorar que voltem e nos ajudem nessa hora de
necessidade. O patriotismo lhes impõe este dever. Nosso país está em
situação pior que a da China; eles são nossos compatriotas, a pátria
suplica sua ajuda nesta hora de profunda aflição. São competentes,
nosso povo não. Estão acostumados a zombarias, chacotas, insultos e
perigo; nosso povo não. Têm o espírito do mártir; ninguém que não
tenha o espírito do mártir será capaz de enfrentar uma horda de
linchadores, intimidá-la e dispersá-la. Eles têm capacidade de salvar
este país, temos de implorar que voltem e o salvem. Vamos pedir a eles
ANTIIMPERIALISMO 93
que leiam outra vez aquele telegrama, o leiam ainda mais uma vez,
imaginem a cena e a avaliem sobriamente; depois multipliquem por
115 e somem 88; ponham os 203 numa fila, com uma distância de 200
metros entre as tochas humanas, deixando bastante espaço em volta
para 5 mil cristãos americanos, homens, mulheres e crianças, jovens e
donzelas poderem assistir; tudo isso deve ser feito à noite, para au-
mentar o efeito hediondo; montem o espetáculo num terreno em leve
aclive, as tochas subindo até o alto; assim a vista poderá abranger toda
a fila de 38,6 quilômetros de tochas de carne e osso, ao passo que se
fosse num terreno plano a fila desapareceria por causa da curvatura
da Terra. Tudo pronto, escuridão absoluta, o silêncio impressionante,
pois não deve haver um único som além do murmúrio suave da brisa
noturna e os soluços abafados dos sacrificados, que se acendam ao
mesmo tempo as piras da longa linha, e o brilho e os gritos e as agoni-
as subam em direção ao céu até o Trono.
Há mais de 1 milhão de pessoas presentes; a luz das tochas deli-
neia as torres de 5 mil igrejas. Caridoso missionário, saia da China!
Volte para casa e converta esses cristãos!
Acredito que se alguma coisa tem capacidade de cortar essa epide-
mia de loucura sangrenta há de ser a personalidade marcial que con-
segue enfrentar as hordas sem hesitar; e como essas personalidades
são formadas na familiaridade com o perigo, e pelo treinamento e pelo
amadurecimento que vêm da resistência a ele, o lugar mais provável
de encontrá-las será entre os missionários que estão na China há um
ou dois anos. Há trabalho suficiente para todos eles e para outras cen-
tenas ou milhares deles, o campo é crescente e está em expansão. Sere-
mos capazes de encontrá-los? Devemos tentar. Em meio a 75 milhões
há de existir outros Merrills e outros Beloats, e a lei de nossa raça diz
que cada exemplo há de acordar e trazer para a linha de frente os cava-
leiros adormecidos que existem entre nós.
94 PATRIOTAS E TRAIDORES
PATRIOTISMO MONÁRQUICO
E REPUBLICANO
(c. 1905 -1908)
hoje exista mais virtude que antes. Na Europa e nos Estados Unidos há
uma grande mudança de ideais (devida a elas) – você se admira? Toda
a Europa e os Estados Unidos inteiros lutam febrilmente por dinheiro.
O dinheiro é o ideal supremo – todos os outros ficam relegados ao
décimo lugar para o grosso das nações conhecidas. A febre do dinhei-
ro sempre existiu, mas na história do mundo ela não foi a loucura em
que se transformou no seu tempo e no meu. Esta loucura corrompeu
essas nações; tornou-as duras, sórdidas, cruéis, desonestas, opressivas.
A Inglaterra se ergueu contra a infâmia que foi a Guerra dos Bôeres?
Não – ergueu-se a favor dela. Os americanos se levantaram contra a
infâmia da Guerra das Filipinas? Não – levantaram-se a favor dela. A
Rússia se levantou contra a infâmia da guerra atual? Não – continuou
sentada e nada disse. E o Reino de Deus avançou na Rússia desde o
início dos tempos? Ou na Europa e nos Estados Unidos, considerando
o grande passo para trás representado pela febre pelo dinheiro? Ou
em qualquer outro lugar? Se houve algum progresso em direção à vir-
tude desde o início da Criação – do que, na minha inabalável honesti-
dade, sou forçado a duvidar –, acredito que devamos limitá-lo a 10%
das populações da Cristandade (mas deixando de fora a Rússia, a
Espanha e a América do Sul). Isso nos dá 320 milhões dos quais tirar
10%. Ou seja, 32 milhões avançaram para a virtude e o Reino de Deus
desde que as “eras e eras” começaram a correr, e Deus lá sentado, ad-
mirando. Bem, isso deixa 1 bilhão e 200 milhões fora da corrida. Con-
tinuam onde sempre estiveram; não houve mudança.
N.B. Não vou cobrar por essas informações. Mas apareça em breve, Joe.
Do amigo,
Mark.
100 PATRIOTAS E TRAIDORES
16. “Twain”, termo técnico de navegação no contexto dos barcos a vapor do Mississípi, correspondia à
profundidade de 3,65 metros. O termo “mark twain” indica que o barco pode avançar a pleno vapor e
sem risco de encalhar.
17. Quarter less twain: profundidade de 3,2 metros.
18. Helena Reach: cidade na região do rio Mississípi, junto à fronteira do estado do Arkansas, abriga
hoje em dia um Cemitério Confederado.
19. Plum Point Bend, próximo a Fort Pillow, no estado do Tennessee, foi cenário de uma importante
batalha da guerra civil norte-americana em 1862.
102 PATRIOTAS E TRAIDORES
O VERDADEIRO PATRIOTISMO
NO TEATRO DAS CRIANÇAS
(20 de novembro de 1907)
Senhor,
1. As Ilhas Sandwich formam atualmente o território do Havaí e fazem parte dos Estados Unidos.
Honolulu, a capital, fica na Ilha de Oahu.
HAVAÍ 111
Senhor,
Senhoras e senhores:
A próxima conferência deste curso será apresentada por Samuel
L. Clemens, um cavalheiro cujo caráter e cuja intocável integridade só
têm igual na sua elegância e na sua simpatia. E sou eu esse homem! Fui
forçado a substituir o presidente nesta apresentação, pois, sabendo que
ele nunca cumprimenta ninguém, preferi apresentar-me eu mesmo.
As Ilhas Sandwich serão o assunto desta conferência – quando
chegar a ela – e farei o possível para contar a verdade com a fidelidade
de todo jornalista. Adorná-la com algumas bijuterias não fará diferen-
ça; a verdade não será prejudicada, elas serão como a craca que orna a
ostra prendendo-se a ela. Esta figura para mim é original! Nasci no
interior, longe do mar, e não sei como a craca se prende à ostra.
Infelizmente, o primeiro objeto que vi nas Ilhas Sandwich foi re-
pulsivo. Era um caso de lepra oriental de tão horrível natureza que
nunca mais consegui tirá-lo da memória. Não tenho a intenção de dar
à minha conferência esta aparência doentia, mas, como foi a primeira
HAVAÍ 129
coisa que vi naquelas ilhas, foi também a primeira idéia que me ocor-
reu quando me propus a falar sobre elas. É muito difícil tirar da me-
mória um objeto desagradável. Foi o que descobri há muitos anos.
Quando fiz uma excursão funerária a Quaker City, eles me mostraram
vários objetos interessantes numa catedral, e eu tinha a esperança de
guardar todos eles na memória, mas não consegui.
Esqueci de todos – menos de um – e esse me ficou na memória
por ser tão desagradável. Era uma curiosa escultura antiga. Não sei
onde a encontraram, nem há quanto tempo. Era a imagem de pedra
de um homem sem pele, um homem recém-esfolado de que se viam
todas as veias, artérias e tecidos. Era uma coisa horrível, mas havia
nela algo fascinante. Parecia tão natural; parecia sofrer, e qualquer um
sabe que um homem recém-esfolado deve ter a aparência de muita
dor. E aquele só não a teria se tivesse a atenção atraída por outro pro-
blema. Era um objeto assustador, e muitas vezes eu sofri desde que vi
aquele homem. Às vezes ainda sonho com ele, ora ele está parado de
pé à minha cabeceira, ora ele fica deitado entre os lençóis, tocando-me
– a pior companhia que jamais tive na cama.
Não consigo esquecer lembranças desagradáveis. Certa vez, fugi
da escola e fiquei com medo de voltar à noite para casa, então me
esgueirei pela janela e me escondi no escritório de meu pai. A lua lan-
çava uma luz mortalmente pálida na sala e logo distingui no chão uma
forma comprida e estranha. Queria me aproximar e tocá-la; mas não,
contive-me, não a toquei. Tive muita presença de espírito, tentei dor-
mir, e fiquei pensando nela. Aos poucos, à medida que o luar caía so-
bre ela, percebi que era um homem morto, com o rosto branco volta-
do para a lua. Nunca me senti tão mal em toda a minha vida. Nunca
tive tanta vontade de andar! Saí de lá. Não corri – apenas saí pela jane-
la – e levei o batente comigo. Não precisava levar o batente, mas me
pareceu mais fácil levá-lo que o deixar no lugar. Não estava com medo,
estava muito agitado. Nunca mais me esqueci daquele homem. Havia
morrido na rua; fora trazido para ali para ser julgado e acabou conde-
nado. Mas estou divagando; o que estou dizendo nada tem a ver com
as Ilhas Sandwich, mas uma lembrança leva à outra, e me lembro de
130 PATRIOTAS E TRAIDORES
tudo isso pelo desprazer da primeira coisa que lá vi. Não é bom entrar
diretamente num assunto importante. Quando um rapaz pretende
propor casamento a uma jovem, ele não fala diretamente. Começa fa-
lando do tempo. Foi o que eu mesmo fiz muitas vezes.
Agora vou falar a respeito da Ilhas Sandwich. Há quem imagine que
as Ilhas ficam na América do Sul, e este é um erro que quero atacar; é um
erro que pretendo combater. As Ilhas Sandwich ficam a 3.218 quilôme-
tros a sudoeste de San Francisco, mas por que foram deixadas lá no meio
do Pacífico, longe de tudo, num lugar tão inconveniente, não é problema
nosso – foi obra da Providência e não se deve discutir Suas obras. É uma
questão semelhante a tantas outras que gostaríamos de examinar, como,
por exemplo, para que foram criados os mosquitos, mas nas atuais cir-
cunstâncias sentimos não ser educado entrar nessas questões.
São 12 as ilhas, e sua área total não deve ser maior que a de Rhode
Island mais a do estado de Connecticut. São ilhas de origem vulcâni-
ca, ou, deveria dizer, ilhas de construção vulcânica. Se houver em qual-
quer delas uma colher de terra comum, só pode ter sido importada.
Oito ilhas são habitadas, e quatro delas são contornadas por monta-
nhas que limitam a melhor terra para cana-de-açúcar que existe no
mundo. As terras da Louisiana são consideradas ricas, e produzem de
227 a 771 quilos por acre. Duzentos acres nos Estados Unidos produ-
zem entre 20 mil e 30 mil dólares de trigo; nas ilhas, a mesma área
produz 200 mil dólares de açúcar, uma produção impossível neste país
a menos que alguém decida plantar selos para colher ações. Eu pode-
ria continuar falando sobre o açúcar a noite toda, e até gostaria. Mas
acho melhor poupar os senhores. É muito interessante para quem se
interessa, mas agora vou mudar de assunto. Se quiserem, há os relató-
rios do Departamento de Patentes, que posso recomendar como a mais
plácida literatura que conheço.
As ilhas foram descobertas há 80 ou 90 anos pelo capitão Cook7,
embora outro homem pudesse tê-las descoberto antes se não fosse
7. James Cook, conhecido como “capitão Cook” (1728-1779). Navegador britânico e explorador, co-
mandou as três maiores viagens de descoberta e mapeamento e nomeou muitas das ilhas do oceano
Pacífico. Navegou ao longo da costa da América do Norte até o estreito de Behring.
HAVAÍ 131
cença para enterrar a mãe e foi atendido. Poucos dias depois ele voltou
com o mesmo pedido. “Pensei que você a tivesse enterrado na semana
passada”, disse o patrão. “Mas esta é outra”, explicou o nativo. “Está bem”,
respondeu o patrão, “vá e enterre sua mãe”. Um mês depois o emprega-
do queria enterrar mais algumas mães. “Olhe, não quero ser duro com
você nesta hora de aflição, mas parece que seu estoque de mães é muito
grande e atrapalha o seu trabalho, então vá embora e só volte depois de
enterrar todas as mães que você ainda tenha neste mundo.”
Os kanakas são um povo estranho. São capazes de morrer quan-
do querem. É verdade. São tão indiferentes à vida quanto um francês
traído pela amante. Quando decidem morrer, morrem, estando ou
não doentes, e não há meio de dissuadi-los. Quando alguém decide
morrer, se deita e espera morrer, como se tivesse todos os médicos
do mundo à sua volta. Um homem no Havaí perguntou ao seu em-
pregado se ele não gostaria de, quando morresse, ser enterrado com
grande pompa. Com um sorriso feliz, ele respondeu que gostaria, e
no dia seguinte veio o supervisor e disse, “aquele rapaz se deitou e
morreu ontem à noite, e disse que o senhor lhe prometeu um enter-
ro grandioso”.
Gostam de cerimônias fúnebres. Grandes funerais são sua princi-
pal fraqueza. Roupas solenes, velórios imponentes e longas procissões
são coisas que apreciam. Há alguns anos, um kanaka e sua mulher
foram condenados à morte na forca por assassinato. Receberam a sen-
tença com evidente satisfação, pois ela lhes dava a oportunidade de
um lindo enterro. Para eles não interessa quem seja o enterrado; se
pudessem, prefeririam assistir o próprio funeral ao de qualquer outra
pessoa. O casal tinha posses e era dono de muitas terras. Venderam
todas as terras e gastaram todo o dinheiro em roupas finas para o
enforcamento. E a mulher subiu ao patíbulo num lindo vestido bran-
co, sapatilhas e penas coloridas, e o homem usava um casaco maravi-
lhoso, fraque azul com botões de latão e luvas brancas. Enquanto o nó
era ajustado ao seu pescoço, ele assoou o nariz com um gesto grandio-
so, para mostrar o lenço branco bordado. Nunca vi um casal que tives-
se tanto prazer num enforcamento.
HAVAÍ 135
que poderia lhe acontecer. O capitão era mais difícil de digerir que
uma barrica de pregos. Com esse pecado na consciência e um capitão
no estômago, seu sofrimento foi indescritível. Ele sofreu alguns dias e
depois morreu. A verdade é que nem eu acredito nesta história, e só a
conto por causa de sua moral. Acho que os senhores não entenderam
a moral da história; mas eu sei que ela tem uma moral, porque já a
contei umas 30 ou 40 vezes e nunca encontrei a moral.
Apesar de todos esses costumes bons e hospitaleiros, os kanakas
têm alguns instintos cruéis. Gostam de jogar uma galinha viva no fogo
só para vê-la pular. Antigamente, eram cruéis consigo mesmos. Cos-
tumavam arrancar o cabelo e queimar a pele, raspar a cabeça, arrancar
um olho ou um par de dentes da frente toda vez que morria um rei ou
alguma pessoa importante só para demonstrar tristeza e, se sua dor
fosse grande demais, eles escalpelavam o vizinho e queimavam sua
casa. Um excelente costume, já se vê, que oferecia uma boa oportuni-
dade para acertar velhas contas. É uma pena não o termos aqui! Às
vezes eles também matavam um bebê – às vezes o enterravam vivo;
mas os missionários aniquilaram o infanticídio – de minha parte, não
consigo entender a razão.
As mulheres das Ilhas Sandwich têm muitos costumes simpáticos
que poderíamos praticar aqui com grande vantagem. Lá as mulheres
cavalgam como os homens. Gostaria de introduzir esta reforma na
nossa terra. Aqui também as mulheres deveriam cavalgar como os
homens, pois o silhão é muito perigoso. Quando se encontram na rua,
elas correm, se abraçam e se beijam, não se insultam umas às outras
pelas costas. Gostaria de introduzir também esta reforma. Nossas
mulheres não agem assim, e acho que deveriam. Mas estou entrando
em terreno perigoso. Prefiro parar por aqui mesmo.
Esse povo faz praticamente tudo de trás para diante. Prendem a
sela pelo lado direito, que é o lado errado; montam pelo lado errado;
viram-se para o lado errado para dar passagem a quem vem da outra
direção; usam a mesma palavra para dizer “adeus” e “bom dia”; usam
o “sim” para dizer “não”; as mulheres fumam mais que os homens; o
sinal para pedir que você se aproxime é sempre feito na direção opos-
HAVAÍ 137
ta; o único pássaro de belas penas nativo das ilhas só tem duas, e as
duas ficam sob as asas, e não no alto da cabeça; os gatos geralmente
têm uma cauda de apenas cinco centímetros, e geralmente elas termi-
nam em um nó; o pato nativo vive no topo seco das montanhas a
1.524 metros de altitude; os nativos cozinham as galinhas em fogo
baixo em vez de assá-las; dançam nos velórios e cantam canções tristes
quando estão felizes; e com atroz perversidade eles lavam a camisa
com um porrete e passam com um caco de tijolo. Ao jogar o nobre
jogo americano, o seven-up 8– é um jogo... bem, mais tarde eu explico.
Alguns dos senhores talvez já o conheçam, o resto talvez adivinhe; mas,
quando jogam este jogo tão nobre e intelectual, quem dá as cartas
distribui para a direita, e não para a esquerda, e o que ainda é muito
pior – o dez vale mais que o ás! Ora, tamanha ignorância é condenável
e, quanto a mim, agradeço a ida dos missionários para lá.
Os senhores agora podem imaginar o tipo de eleitores que terão
se tomarem as ilhas daquele povo, como tenho certeza de que um dia
vai ser feito. De início eles vão fazer tudo de trás para diante. Provoca-
rão muitos problemas por aqui. Em vez de favorecer e incentivar o
judicioso sistema de especulação ferroviária, toda essa espécie de coi-
sas, acabarão por eleger para o Congresso o homem mais incorruptível.
Vão virar tudo de cabeça para baixo.
O povo de Honolulu é o mais tranqüilo do mundo. Poucas pes-
soas aqui conhecem seus costumes. Fundaram uma companhia de gás
e definiram o preço do gás em 13 dólares por 305 metros. Só fatura-
ram 16 dólares no primeiro mês. Foram todos para a cama ao anoite-
cer. São um povo excelente. E falo sério. Desconhecem até o nome de
alguns dos vícios deste país. Uma mulher consultou um médico. Que-
ria um remédio para debilidade geral. Ele prescreveu que ela deveria
beber cerveja porter9. Mais tarde ela voltou. A porter não fizera ne-
nhum efeito. Ele perguntou a ela quanta cerveja tinha tomado. Ela
respondeu que tinha tomado uma colher de sopa dissolvida num copo
d’água. Quem dera pudéssemos importar um pouco dessa santa igno-
rância. Lá eles bebem pouco. Depois de pagar os impostos de impor-
tação de bebidas não sobra nada com que comprar bebida. São muito
inocentes e bebem qualquer coisa que seja líquida – querosene,
terebintina, óleo de cabelo. Numa cidade, no dia 4 de julho, toda a
comunidade se embebedou com um barril do xarope da Sra. Winslow.
A maior glória das Ilhas Sandwich é o seu grande vulcão. O vulcão
de Kilauea tem 5.181 metros de diâmetro, e entre 213 e 243 metros de
profundidade. Perto dele, o Vesúvio é fichinha. É o maior vulcão do
mundo; lança chamas a enormes alturas. Pode-se testemunhar uma
cena de sublimidade ímpar, e as visões mais impressionantes. Quando
o vulcão explodiu há alguns anos, a lava fluiu dele durante 20 dias e 20
noites, e criou uma correnteza de 40 milhas de comprimento até en-
contrar o mar, rasgando as florestas em sua passagem assustadora, en-
golindo cabanas, destruindo toda vegetação, arrasando vales escuros e
canyons sinuosos – em meio a todo esse carnaval de destruição, majes-
tosas colunas de fumaça se elevavam formando uma negra mortalha
nebulosa. Chamas verdes e azuis eram lançadas para o alto e rasgavam
a vasta escuridão, tornando tudo grandiosamente sublime.
Os nativos são indiferentes ao terror dos vulcões. Durante uma
erupção eles comem, bebem, vendem, plantam e constroem, aparen-
temente indiferentes ao rugido da terra, ao tremor e à fusão de rochas
gigantescas, ao bramido das ondas, aos ruídos assombrosos que vêm
do fogo das profundezas. Andam tranqüilamente em meio à chuva de
cinzas, areia e brilhantes cintilações, olhando desinteressados a apa-
rência mutante da atmosfera, pesada, negra, lívida e em brasa, a subi-
da repentina de grandiosos pilares de fumaça, mil colunas torcidas de
fumaça e a nuvem densa e colorida. Todos esses fenômenos impres-
sionantes são tratados por eles como uma chuva breve ou a correnteza
de um riacho, ao passo que para os outros eles são os sinais da partida
dos céus e do juízo final. É isso! Graças a Deus, finalmente tirei esse
vulcão da minha cabeça.
HAVAÍ 139
10. No original, o termo informal “greenbacks” refere-se às cédulas em papel. Nesse momento, con-
temporâneo ao chamado Pânico de 1873, a defesa de um padrão de prata para a moeda nacional norte-
140 PATRIOTAS E TRAIDORES
americana surge como uma alternativa ao padrão ouro, apoiado num metal de preço cada vez mais
alto e de cada vez mais difícil obtenção. A desmonetização da prata na América e na Europa e o aumen-
to da extração haviam levado à queda de seu preço no mercado. Os defensores da inflação passam,
assim, a pregar o padrão prata, acreditando que a emissão de moedas com o padrão prata atenderia
seus objetivos tanto quanto as cédulas de papel (“greenbacks”), pelo menos enquanto um dólar de
prata valesse intrinsecamente menos do que um de ouro. A idéia de um dinheiro “barato” leva à forma-
ção de um partido político (“Greenback Party”), que várias vezes chegou a indicar candidatos às elei-
ções presidenciais e que teve um período de florescimento em eleições locais entre 1873 e 1878.
HAVAÍ 141
Onteora, 1890
1. George Kennan foi autor de uma série de artigos, publicados entre 1888 e 1891, sobre o exílio e o
confinamento de oponentes políticos do czar. A série causou apreensão nos Estados Unidos a respeito
das condições desses prisioneiros e do regime russo. Mark Twain leu a série e antes do final de 1890
estabeleceu contato com o organizador dos Amigos Ingleses da Liberdade Russa, ajudando a fundar,
no ano seguinte, a similar norte-americana dessa instituição.
RÚSSIA 147
2. Algernon Charles Swinburne, 1837-1909. Poeta e crítico britânico, atacou as convenções da moralidade
britânica em sua obra e escreveu poesia considerada erótica e ousada para a época.
RÚSSIA 149
O SOLILÓQUIO DO CZAR
(1905)
mais foi derrubada sem violência; pela violência meus pais fundaram
nosso trono; pelo assassinato, traição, perjúrio, tortura, banimento e
prisão eles o mantiveram durante quatro séculos, e pelas mesmas ar-
tes eu o mantenho hoje. Jamais existiu um Romanoff culto e experien-
te que não revertesse aquela máxima, dizendo: “Nada politicamente
valioso foi conquistado sem violência”. O moralista percebe que hoje,
pela primeira vez na nossa história, meu trono está em real perigo e a
nação acorda da imemorial letargia da escravidão; mas ele não enten-
de que isso se deve a quatro atos de violência: o assassinato da Consti-
tuição finlandesa por minha mão; o assassinato de Bobrikoff e Plehve
por assassinos revolucionários; e o massacre de inocentes que ordenei
outro dia. Mas o sangue que flui nas minhas veias – sangue informa-
do, treinado, educado por suas heranças terríveis, sangue alertado por
suas tradições, sangue que ao longo de 400 anos freqüentou a escola
nas veias de assassinos profissionais, meus predecessores – ele percebe,
ele entende! Aqueles quatro atos provocaram uma comoção no fundo
inerte e escuro do coração nacional que moralista algum teria conse-
guido; acordaram o ódio e a esperança naquele coração há tanto tem-
po atrofiado; e, pouco a pouco, lenta, mas seguramente, aquele senti-
mento há de penetrar em todos os peitos, e possuí-los. No devido tem-
po, até mesmo no peito dos soldados – dia fatal, dia do juízo! Pouco a
pouco haverá resultados! Como o moralista acadêmico conhece pou-
co a tremenda força moral do massacre e do assassinato! De fato, ha-
verá resultados! A nação está em parto; e logo haverá um portentoso
nascimento – PATRIOTISMO! Dito com palavras rudes, simples e
desagradáveis – o verdadeiro patriotismo, patriotismo real: lealdade,
não a uma família e a uma ficção, mas lealdade à própria nação!
Existem 25 milhões de famílias na Rússia. Existe um homem-crian-
ça no colo de toda mãe. Se esses 25 milhões de mães patriotas ensinas-
sem diariamente a esses homens-crianças, dizendo: “Lembre-se sem-
pre disto, aprenda de cor, viva por isto, se for necessário, morra por
isto: nosso patriotismo é medieval, velho, obsoleto; o patriotismo
moderno, o verdadeiro patriotismo, o único patriotismo racional, é a
lealdade à Nação TODO o tempo, lealdade ao Governo quando ele a
154 PATRIOTAS E TRAIDORES
Mulheres de reservistas tratadas com hor- Povo passa a noite orando e jejuando antes
rível brutalidade – Pelo menos uma foi de visita de Sua Majestade a Novgorod.
morta.
RUSSOS SOFREDORES
(18 de dezembro de 1905)
Senhoras e senhores,
que tenha chegado a esse ponto na vida – 60, 70, talvez até 50, por
aí –, quando relembra sua própria história, encontra ao longo de
todo o caminho os marcos da oportunidade perdida, e como isso é
patético.
Vocês mais jovens não sabem a tragédia que se esconde nessas
palavras – a oportunidade perdida; mas qualquer um que tenha che-
gado à velhice, que realmente viveu e sentiu a vida, conhece a tragédia
da oportunidade perdida.
Vou lhes contar uma história cuja moral é essa, cuja lição é essa,
cujo lamento é esse.
Há muitos anos eu estava numa vila, subúrbio de New Bedford;
bem, quem sabe, New Bedford é um subúrbio de Fair Haven, ou talvez
seja o contrário; de qualquer modo, era preciso juntar as duas cidade-
zinhas para se ter o grande centro da indústria baleeira da primeira
metade do século XIX, e eu estava lá, em Fair Haven, há alguns anos
com um amigo.
Estava acontecendo a inauguração da nova prefeitura, um edifício
público, e lá estávamos nós naquela tarde. O grande edifício estava
lotado, parecia um grande teatro de cidadãos felizes, e meu amigo e eu
descemos pelo corredor central. Ele viu um homem parado no corre-
dor e me disse: “Veja aquele veterano bronzeado, aquele homem de
rosto impassível como se de madeira. Agora, diga-me, você percebe
naquele rosto algum traço de emoção? Você é capaz de ver nele algu-
ma coisa que sugira que dentro daquele homem exista um incêndio
iminente? Você imaginaria que ele é um vulcão humano?”
“Claro que não; não imagino. Ele me lembra o índio de madeira
na frente da tabacaria.”
“Muito bem, vou lhe mostrar que até nos lugares menos promis-
sores existe emoção. Vou conversar com aquele homem e mencionar
da forma mais natural um incidente que se passou com ele. Ele deve
estar beirando os 90 anos. Já passou dos 80. Vou mencionar um inci-
dente ocorrido há 50 ou 60 anos. Observe o efeito, e tudo vai ser tão
natural que você talvez nem perceba o momento em que eu digo aquela
coisa, mas observe com cuidado o efeito.”
RÚSSIA 159
3. Do inglês, grog (1770), “bebida alcoólica, especialmente rum diluído com água, servido quente, com
limão e açúcar”; de Old Grog, alcunha de Edward Vernon (1684-1757), almirante inglês que ordenou a
diluição do rum dos marinheiros; do inglês, grogram, “gorgorão”, pelo hábito do almirante de usar
uma capa de gorgorão.
160 PATRIOTAS E TRAIDORES
4. O termo utilizado no original é blackballed, e significa “você foi excluído”, “você recebeu um voto de
exclusão”.
RÚSSIA 161
REPÚBLICA RUSSA
(11 DE ABRIL DE 1906)
1. Capítulos LXVI e LXVII de TWAIN, Mark. Following the Equator – A Journey Around the World. Nova
York, Dove, 1989.
2. Atual Sri Lanka. (N.T.)
3. O Novo Calendário de Wilson Cabeça de Pudim. (N. T.)
166 PATRIOTAS E TRAIDORES
pela falsa data da carta, dia 20 de dezembro, não poderia saber que ele
esperou durante dois meses antes de partir.
Jameson foi interceptado pelos bôeres no dia de Ano-Novo e se
rendeu no dia seguinte. A cópia da carta estava em seu poder, e ele
tinha instruções, que foram lealmente obedecidas, de, se as condições
assim o determinassem, fazer que ela caísse nas mãos dos bôeres. A
Sra. Hammond o censura asperamente pelo suposto descuido e acen-
tua seus sentimentos em itálicos ardentes: “Ela foi encontrada no campo
de batalha dentro de um alforje de couro que supostamente equipava
a sela do Sr. Jameson. Em nome da discrição e da honra, ele deveria tê-
la engolido! ”.
Ela está exigindo demais. Ele não estava a serviço dos reformadores,
ou estava apenas ostensivamente; estava a serviço do Sr. Rhodes. Ela
era o único documento inglês claro, sem disfarces de códigos nem
mistérios, responsavelmente assinado e autenticado, e implicava dire-
tamente os reformadores na aventura, e o Sr. Rhodes não tinha o me-
nor interesse em que fosse engolida.
Além disso, tratava-se apenas de uma cópia, não era o original. O
original estava com o Sr. Rhodes, e ele não o comeu. Ele o enviou para
a imprensa de Londres. Já havia sido lido na Inglaterra, nos Estados
Unidos e em toda a Europa antes de Jameson perdê-lo no campo de
batalha. Se o subordinado merecia castigo, o mandante merecia pelo
menos o dobro.
Aquela carta é um documento deliciosamente dramático e mere-
ce toda a sua celebridade, em razão dos efeitos estranhos e variados
que produziu. No curto espaço de uma semana, ela havia transforma-
do Jameson em ilustre herói na Inglaterra, pirata em Pretória e um
idiota indiscreto em Johannesburgo; produziu também a explosão
colorida de um poeta laureado que encheu os céus do mundo de es-
plendores estonteantes, e a informação de sua vinda para salvar mu-
lheres e crianças tirou de Johannesburgo toda essa parcela da popula-
ção. É muito, para uma carta tão antiga. Para uma carta que já tinha
dois meses, ela fez maravilhas; se já tivesse um ano, teria feito mila-
gres.
ÁFRICA DO SUL E AUSTRÁLIA 173
•••
4. STATHAM, Reginald. África do Sul tal como é. Londres, T. Fisher Unwin, 1897, p. 82. (Mark Twain)
ÁFRICA DO SUL E AUSTRÁLIA 177
Quatro dias depois de erguida sua bandeira, a força bôer que fora
enviada para impedir a invasão dos soldados ingleses encontrou-os
em Bronkhorst Spruit, os 246 homens do 94o regimento, sob o co-
mando de um coronel, os tambores rufando, os clarins tocando... e
irrompeu a batalha. Durou dez minutos. Resultado:
Os ingleses perderam mais de 150 oficiais e soldados, de um total
de 246. Os restantes se renderam.
Perdas bôeres, se as houve, não foram informadas.
São excelentes atiradores, os bôeres. Montam desde o berço e ca-
çam animais selvagens com o rifle. São apaixonados pela liberdade e
pela Bíblia, e não se interessam pelo resto.
“O general Sir George Colley, vice-governador e comandante-em-
chefe de Natal, sentiu ser seu dever avançar imediatamente para liber-
tar os cidadãos e soldados leais sitiados em várias cidades do Transvaal.”
Partiu com mil homens e pequena artilharia. Encontrou os bôeres
acampados numa posição reforçada no terreno alto de Laing Nek, to-
dos eles protegidos atrás das pedras. Na manhã de 28 de janeiro de
1881 ele passou ao ataque “com o 58o regimento, comandado pelo co-
ronel Deane, 70 homens de um esquadrão de cavalaria, o 60o de fuzi-
leiros, a brigada naval com três lançadores de foguetes e a artilharia
com seis canhões”. Bombardeou os bôeres durante 20 minutos, e en-
tão lançou o ataque, com o 58o marchando em coluna fechada pela
encosta. A batalha durou pouco, com o seguinte resultado, de acordo
com Russell:
Perdas inglesas, entre mortos e feridos, 174.
Perdas bôeres, “insignificantes”.
O coronel Deane morreu, e aparentemente foram mortos ou feri-
dos todos os oficiais acima de tenente, pois o 58o fez a retirada sob o
comando de um tenente (África tal como é).
E assim terminou a segunda batalha.
No dia 7 de fevereiro o general Colley descobriu que os bôeres
estavam flanqueando a sua posição. Na manhã seguinte ele saiu do
acampamento em Mount Pleasant e cruzou o rio Ingogo com 270
homens, subiu as colinas de Ingogo e lá lutou uma batalha que durou
178 PATRIOTAS E TRAIDORES
5. Entretanto, acredito que o total tenha realmente chegado a 150, pois o número de feridos levados
para o hospital de Krugersdorp foi de 53, e não de 30, como quer o Sr. Garrett. A senhora de quem fui
hóspede em Krugersdorp me deu os números. Ela foi enfermeira-chefe desde o começo das hostilida-
des (1o de janeiro) até a chegada das enfermeiras profissionais, no dia 8 de janeiro. Segundo ela, três ou
quatro dos 53 eram bôeres. (Mark Twain)
182 PATRIOTAS E TRAIDORES
O DOCUMENTO EM EVIDÊNCIA
6. Quando estava terminando este livro, surgiu um debate infeliz entre o doutor Jameson e seus oficiais
de um lado, e o coronel Rhodes de outro, sobre os termos de uma nota que de Johannesburgo Rhodes
enviou por um ciclista a Jameson pouco antes do início das hostilidades naquele inesquecível dia de
Ano-Novo. Alguns fragmentos da nota foram encontrados no campo depois da batalha e colados; a
questão se refere às palavras contidas nos fragmentos que não foram encontrados. Jameson diz que a
nota lhe prometia um reforço de 300 homens de Johannesburgo. O coronel Rhodes nega e diz que
prometeu apenas enviar “alguns” homens “ao seu encontro”.
É uma pena que esses dois amigos tenham tropeçado em detalhe tão pequeno. Qual teria sido a vanta-
gem de enviar os 300 homens? Em 21 horas de luta incessante, os 530 homens de Jameson, suas metra-
lhadoras e seus canhões mataram um total de um bôer. Esta estatística demonstra que os 300 homens
armados apenas de mosquetões teriam matado no máximo mais meio bôer, o que não teria sido sufi-
ciente para garantir a vitória, não teria afetado o resultado da batalha. Os números são claros e mos-
tram com violência matemática que o único meio de salvar Jameson, ou de, no máximo, lhe dar chance
igual diante dos bôeres, teria sido o envio de Johannesburgo de 240 Maxims, 90 canhões, 600 carroças
de munição e 240 mil homens. Johannesburgo não tinha condições para tanto. Johannesburgo foi
insultada de duas formas por não ter fornecido auxílio a Jameson: a primeira por pessoas que não
conhecem história, e a segunda por pessoas iguais a Jameson, que a conhecem, mas não conseguem
entender o que ela significa. (Mark Twain)
ÁFRICA DO SUL E AUSTRÁLIA 185
AUSTRÁLIA7
(1897)
7. Capítulos X e XI de TWAIN, Mark. Following the Equator – A Journey Around the World. Nova York,
Dove, 1989.
186 PATRIOTAS E TRAIDORES
por infrações igualmente triviais, não era uma nação a que se pudesse
aplicar o termo “civilizada”. Somos também forçados a acreditar que
uma nação que soube, por mais de 40 anos, o que estava acontecendo
àqueles exilados, e ainda assim não se deixou perturbar, não estava
avançando para um estágio mais alto de civilização.
Se observarmos o caráter e a conduta dos oficiais e cavalheiros
encarregados dos condenados, das suas costas e dos seus estômagos,
temos mais uma vez de aceitar que entre o condenado e seu carcereiro,
e entre os dois e a nação que ficou para trás, havia uma notável mono-
tonia de mesmice.
Quatro anos haviam se passado e muitos condenados haviam che-
gado. Colonos respeitáveis também começavam a chegar. As duas clas-
ses de colonos tinham de ser protegidas em caso de violências entre
elas ou com os nativos. É preciso mencionar os nativos, embora eles
não chegassem a fazer parte do quadro, por serem tão poucos. Duran-
te o tempo em que não foram muito prejudicados – em que ainda não
estavam atrapalhando –, estima-se que em Nova Gales do Sul havia
apenas um nativo em cada 20 mil hectares de território.
Era necessário oferecer proteção às pessoas. Os homens do exérci-
to regular não aceitavam essa tarefa; naquele fim de mundo não havia
honras nem distinções a serem alcançadas. Assim a Inglaterra recru-
tou e montou uma espécie de milícia de mil civis armados, a que deu
o nome de Brigada de Nova Gales do Sul, e a enviou para lá.
Foi o pior de todos os choques. A colônia tremeu diante deles.
Aquela brigada foi uma verdadeira lição sobre as condições morais da
Inglaterra fora das prisões. Os colonos tremeram. Temia-se que em
seguida a nobreza seria importada.
Naqueles primeiros dias, a colônia não era auto-suficiente. Todas
as necessidades da vida, alimentos, roupas e tudo mais vinham da In-
glaterra, eram guardados em grandes armazéns, distribuídos aos
condenados e vendidos aos colonos; vendidos a pouco mais que o preço
de custo. A brigada viu aí sua oportunidade. Seus oficiais se tornaram
comerciantes, da forma mais ilegal. Começaram a importar rum e a
fabricá-lo em destilarias particulares, em clara desobediência às or-
ÁFRICA DO SUL E AUSTRÁLIA 189
•••
Não sei o que lhe azedou o espírito contra Sydney. Parece estra-
nho que um grau agradável de três ou quatro dedos de familiaridade
respeitosa pudesse preencher um homem e nele provocar um caso tão
agudo de panegírico. Pois ele está doente, gravemente doente, é evi-
dente. Um homem tranqüilo não detrata friamente as produções
arquitetônicas dos outros, ou suas paisagens pitorescas, e sugere que o
que prefere em Dubbo são as tempestades de areia e uma familiarida-
de agradável e respeitosa. Não, esses sintomas já são há muito conhe-
cidos; e quando aparecem sabemos que o homem está com panegírico.
Sydney tem uma população de 400 mil habitantes. Quando um
estrangeiro vindo da América pisa em terra, a primeira coisa a lhe
chamar a atenção é que o lugar é oito ou nove vezes maior do que
imaginava; e em seguida o fato de ser uma cidade inglesa com acessó-
rios americanos. Mais tarde, em Melbourne, verá que os acessórios
americanos são ainda mais evidentes; lá, até mesmo a arquitetura su-
gere a América; uma fotografia de sua rua mais imponente poderia
passar pela fotografia da rua mais importante de alguma grande cida-
de americana. Alguém me disse que as melhores residências eram as
dos posseiros10 da cidade. O nome parece meio fora de foco. Mas, quan-
do chegou, a explicação trazia um novo exemplo das mudanças curio-
sas que sofrem as palavras, assim como os animais, quando passam de
um hábitat e de um clima a outros. Entre nós, quando se fala do pos-
10. O termo original “squatters” (que ao pé da letra significa “agachados”) indica aquele que se instala
numa terra não ocupada a fim de reivindicar o título de posse da mesma.
192 PATRIOTAS E TRAIDORES
11. A mesa está posta, e o jornal está ali; e se madame estiver pronta vou mandar o garçom trazer o café
da manhã. (N. T.)
194 PATRIOTAS E TRAIDORES
Prezado Joe,
Você agora está revivendo em Dave seus dias de guerra, o que deve
ser um grande prazer, temperado com o molho da apreensão – o que
basta para torná-lo schmeck, como dizem os alemães. Se a guerra con-
tinuar, Dave há de voltar com duas ou três divisas no ombro e ficare-
mos todos felizes por ela ter acontecido.
Começamos com Bull Run1. Agora Dewey e Hobson introduzi-
ram um melhoramento no jogo.
Nunca gostei tanto de uma guerra, nem mesmo na história escri-
ta, como estou gostando desta. Pois esta é a mais digna que jamais foi
lutada, até onde chega meu conhecimento. É muito digno lutar pela
liberdade; outra coisa é lutar pela de outro homem. E acho que esta é a
primeira vez que isto é feito.
Esqueça Charley Warner, ele seria capaz de interromper a ressur-
reição de Lázaro. Diria, o testamento já foi executado, as propriedades
1. Primeira batalha da guerra civil, travada na Virgínia próxima a Manassas, entroncamento ferroviá-
rio da Ferrovia Virgínia. Ficou conhecida como Batalha de Manassas, para os confederados, ou Primei-
ra Bull Run, para os unionistas. Recebeu esse nome por causa do riacho que cortava o campo de
batalha.
198 PATRIOTAS E TRAIDORES
Lembranças a todos,
Mark
GUERRA HISPANO-AMERICANA/FILIPINAS 199
Prezado Lampton:
Permita-me dizer que aprecio muito os seus poemas. Especial-
mente aquele que descreve de forma tão vívida a resposta dos nossos
jovens quando foram convocados a combater um opressor e dar a li-
berdade às suas vítimas. Escreva outro poema para mostrar como os
jovens respondem quando convidados pelo governo a ir às Filipinas
numa cruzada de roubo de terras e de crucifixão da liberdade. Obser-
vo que eles se apinham diante dos locais de recrutamento no ritmo de
800 por mês, de uma população entusiástica de 75 milhões de homens
livres; e que ninguém nascido nos Estados Unidos é capaz de pronun-
ciar seus nomes sem machucar o queixo, nem escrevê-los se não tiver
educação estrangeira.
Um abraço,
Mark Twain
GUERRA HISPANO-AMERICANA/FILIPINAS 201
A BANDEIRA AMERICANA
3. Doughnut é um tipo de rosquinha tipicamente norte-americana, feita de massa doce e macia rechea-
da com creme de baunilha. O termo “Partido Anti-doughnut” remete a uma história da infância de
Twain narrada por ele no texto “250,000 Rally for Mark Twain”. Trata-se de um relato do que ele consi-
derava ter sido sua iniciação na arte da liderança política: “Minha primeira lição na arte da liderança
GUERRA HISPANO-AMERICANA/FILIPINAS 207
“Ora, eu disse uma coisa num discurso ontem à noite que não
queria dizer. Ela me escapou porque estava escrevendo um artigo so-
bre o assunto. Não pretendia dizer aquilo naquele discurso.”
política foi aprendida em tenra idade. Cinqüenta e um anos atrás eu tinha 14 anos de idade e nós
tínhamos uma sociedade, na cidade em que eu vivia, nos moldes da dos Maçons ou da Ordem Antiga
de Fazendeiros Unidos ou algo assim – o tipo exato de sociedade em que se baseava não vem ao caso.
Tinha uma guarda interna e uma externa e uma comissão administrativa, e uma série de coisas desse
tipo a fim de dar dignidade à organização e postos a seus membros.
“De modo geral era um tipo bastante bom de organização e alguns dos melhores meninos da cidadezi-
nha inclusive – mas não posso ficar tocando em questões pessoais numa ocasião como esta – e seus
membros poderiam ter-se dado muito bem entre si se não fosse pelo fato de que alguns deles podiam
ser comprados. Esses vieram a se revelar um terrível aborrecimento. Toda vez que tínhamos uma elei-
ção os candidatos tinham que ficar atentos e observar os membros compráveis. O preço por voto era
pago em doughnuts, e dependia um pouco dos apetites dos indivíduos no que diz respeito ao preço dos
votos.
“Isso tudo continuou até que alguns de nós, aqueles que eram realmente os melhores garotos da orga-
nização, decidiram que essas práticas corruptas precisavam parar, e com o propósito de pôr-lhes um
fim, organizamos um terceiro partido. Tínhamos um nome, mas nunca fomos conhecidos por esse
nome. Os que não gostavam de nós chamavam-nos de Partido Anti-doughnut, mas não nos importá-
vamos.
“Dissemos: chamem-nos do que quiserem; o nome não importa. Estamos organizados em prol de um
princípio. Suponho que eles nos chamavam de Partido Anti-doughnut porque eles não podiam nos
comprar com seus doughnuts. Eles não os tinham em quantidade suficiente. A maioria dos reformadores
chega a seu preço mais cedo ou mais tarde, e acho que nós teríamos tido o nosso preço; mas nossos
oponentes não estavam oferecendo nada a não ser doughnuts, e isso nós rejeitávamos.” http://
www.boondocksnet.com/twain2k/news_990930.html
208 PATRIOTAS E TRAIDORES
Não acho errado o uso que se está fazendo de nossa bandeira, pois
agora, para não parecer excêntrico, mudei de opinião e me juntei à
nação na convicção de que nada pode macular uma bandeira. Não fui
bem educado e tinha a ilusão de que uma bandeira era uma coisa a ser
protegida contra usos vergonhosos e contra contatos com a sujeira,
para que ela não se polua; e assim, quando ela foi mandada às Filipi-
nas para pairar sobre uma guerra imoral e uma expedição de pilha-
gem, supus que ela estava sendo conspurcada, e num momento de
ignorância foi o que afirmei. Mas aceito a emenda. Admito e reconhe-
ço que poluído é apenas o governo que a enviou nessa empresa. Nisso
nós podemos concordar. Fico feliz que seja assim. Pois nossa bandeira
não poderia suportar a poluição, já que nunca havia se submetido a
ela, mas isso não vale para a administração.
GUERRA HISPANO-AMERICANA/FILIPINAS 209
DEFESA DO
GENERAL FUNSTON
22 de fevereiro de 1902
(publicado pela primeira vez em maio de 1902)
los dois soldados e da ordem dada pelo general Jacob Smith, mencio-
nada neste ensaio, de “matar e queimar” e de “transformar Samar num
imenso deserto”.
Twain responde na qualidade de “porta-voz dos traidores”, nova-
mente utilizando o recurso da ironia como forma de construção de
um contradiscurso paródico, que esvazia os argumentos daquele ao
qual se reporta.
pertenceu ao homem. Foi Ele, apenas Ele, que levou o homem a pro-
curar e preferir associações que Lhe satisfaziam o espírito; a se abrir
para influências que Lhe davam prazer e satisfação; e a repelir ou man-
ter-se indiferente a influências que não se ajustavam ao Seu gosto.
Minuto a minuto, dia a dia, ano a ano, Ele filtrava as pequenas in-
fluências, atraindo e retendo, tal como um magneto de mercúrio, to-
das as partículas de ouro em pó que surgiam; e repelindo com despre-
zo automático todas as partículas de sujeira; e, com a mesma indife-
rença automática, fazendo com que as associações vis passassem des-
percebidas. Tinha uma afinidade natural com todas as boas e raras
influências, e a elas oferecia um abrigo seguro; tinha uma aversão na-
tural a todas as influências más e vulgares e as repelia. Escolhia as
melhores associações para Seu pupilo; escolhia por ele suas influên-
cias; escolhia em Seu nome os ideais; e, com todos esses materiais pa-
cientemente reunidos, Ele o construiu e moldou o caráter de ouro.
E nós damos o crédito ao homem!
Damos a Deus todo o crédito e louvor por ser onisciente e todo-
poderoso, mas isso é outra história. Nenhuma contribuição externa
nem comissão de nascimento conferiu a Ele essas características; Ele
as fez sozinho. Mas o caráter de Washington nasceu com ele, ele não o
criou; Ele foi o arquiteto do caráter dele; e seu caráter foi o arquiteto
de suas conquistas. Se o meu caráter tivesse sido dado a ele, o mapa da
história teria sido outro. É um privilégio observar o esplendor do Sol,
a beleza do arco-íris e o caráter de Washington, mas não se pode louvá-
los por estas qualidades, pois não criaram a fonte de onde surgiram
estas qualidades: os fogos do Sol, a luz que bate nas gotas de chuva, o
caráter sadio, impoluto e bom do Pai deste país.
Então, qual o valor de se ter um Washington, já que não podemos
atribuir a ele o mérito pessoal pelo que foi e fez? É claro que existe um
valor; um valor tão grande que desafia estimativa. Influências exter-
nas aceitáveis foram os materiais com que o temperamento natural
de Washington construiu seu caráter e o preparou para suas conquis-
tas. Suponhamos que eles não tivessem existido. Suponhamos que ele
tivesse nascido e sido criado numa caverna de piratas; haveria carên-
212 PATRIOTAS E TRAIDORES
II
(Era um homem ferido.) Mas quem falava era Ele, não Funston.
Com alegria jovial Ele vê afundar na morte as criaturas simples que
ouviram Seu pedido mortiço de comida, e sem remorso vê o olhar de
censura nos olhos que se apagam, mas é preciso que nos lembremos
de que tudo isso se deve somente a Ele, e não a Funston; por procura-
ção, na pessoa de Seu servo nato, Ele realiza Sua estranha obra, pratica
todas as ingratidões e traições, enquanto usa a farda de soldado ame-
ricano e marcha sob a autoridade da bandeira americana. E é Ele, não
Funston, quem volta para casa para nos ensinar, a nós meninos, o que
é o patriotismo! E é claro que Ele sabe.
Para mim é claro, e acho que deveria estar claro para todos, que
Funston não é culpado de nenhuma das coisas que fez, faz, pensa ou
diz.
Ora, temos Funston; o problema já aconteceu, e está nas nossas
mãos. A questão é: o que devemos fazer, como vamos resolver esta
emergência? Já vimos o que aconteceu no caso de Washington: ele se
tornou um exemplo colossal, um exemplo para todo o mundo e para
todo o tempo porque seu nome e seus feitos chegaram a todos os luga-
res e inspiraram, como ainda hoje inspiram e hão sempre de inspirar,
admiração e incentivaram emulação. Portanto, o que o mundo deve
222 PATRIOTAS E TRAIDORES
China. E é claro que foi o exemplo de Funston que nos fez (e à Ingla-
terra) copiar o horror que foram os reconcentrados do general Weyler,
depois de termos os dois, a caminho da escola paroquial, os narizes
virados para o céu, manifestado o nosso desprezo por aquele “bandi-
do”. E aquele horrível terremoto de Krakatoa, que destruiu uma ilha e
matou 2 milhões de pessoas... Não, aquele não foi um exemplo de
Funston; eu me lembro, ele ainda não havia nascido.
Entretanto, apesar de tudo isso, eu ainda culpo apenas o seu Ele,
não ele. Para concluir, eu o defendi com o melhor da minha capacida-
de, e nem me pareceu difícil, e acredito que consegui afastar dele o
preconceito e reabilitá-lo na admiração do público. Nada pude fazer
por seu Ele, por estar Ele fora de minha jurisdição, assim como fora da
de Funston e da de qualquer um. Como demonstrei, Funston não tem
culpa por seu feito assustador; e se tentasse eu talvez conseguisse de-
monstrar que ele não tem culpa de ainda mantermos prisioneiro o
homem que ele capturou por meios ilegais, e que não é legalmente
nosso prisioneiro, nem espólio, como não o seria se fosse dinheiro
roubado. Ele tem direito à liberdade. Se fosse rei de uma grande po-
tência, ou ex-presidente de nossa república, em vez de ex-presidente
de uma pequena república destruída e abolida, a Civilização (com C
maiúsculo) iria criticar e lamentar até que ele fosse libertado.
Mark Twain
ORAÇÃO DA GUERRA
(1923)
6. Esta série de máximas foi publicada pela primeira vez em Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-
Imperialist Writings on the Philppine-American War. Syracuse, Syracuse University Press, 1992, p. 162.
GUERRA HISPANO-AMERICANA/FILIPINAS 225
7. Como só foi publicada em 1923, o restante da “Oração da guerra” ainda é protegido por direito
autoral e não pode ser publicado sem autorização do editor original.
Esta nota e o comentário a que se refere foram extraídos de: TWAIN, Mark. “The War Prayer”. Excertos
de Albert Bigelow Paine, Mark Twain: A Biography (Nova York, Harper and Brothers, 1912). http://
www.boondocksnet.com/ai/twain/war_prayer.html In: Jim Zwick, ed., Anti-Imperialism in the United
States, 1898-1935. http://www.boondocksnet.com/ai/ (23 de outubro de 2002).
226 PATRIOTAS E TRAIDORES
e a outra não. As duas chegaram aos ouvidos d’Aquele que ouve todas
as súplicas, as ditas e as não ditas...
“Os senhores ouviram todos a prece do Seu servo – a parte dela
que foi pronunciada. Recebi instruções de Deus para pôr em palavras
a outra parte, a parte que o pastor e os senhores, do fundo do coração,
pediram fervorosa e silenciosamente. E, quem sabe, também ignoran-
te e impensadamente? Deus entende que foi isso o que se passou! Os
senhores ouviram estas palavras: ‘Dai-nos a vitória, Oh, Senhor, nosso
Deus!’. Isto foi tudo. Toda a oração pronunciada está resumida nessas
palavras tão sugestivas.
“Ao espírito atento de Deus Pai chegou também a parte não pro-
nunciada da oração. Ele ordenou que eu a expressasse em palavras.
Ouçam!
“Oh, Senhor, nosso Pai, nossos jovens patriotas, a luz de nosso
coração, vão para a batalha. Acompanhai-os! Com eles, em espírito,
deixaremos a doce paz da nossa lareira para atacar o inimigo.
“Oh, Senhor, nosso Deus, ajudai-nos a rasgar a carne dos solda-
dos do inimigo em postas sangrentas com nossas bombas; ajudai-nos
a cobrir seus campos alegres com as formas pálidas de seus patriotas
mortos; permiti-nos abafar o trovão dos canhões com os feridos re-
torcendo-se de dor; ajudai-nos a destruir seus lares humildes com um
furacão de fogo; ajudai-nos a arrancar com dor inútil o coração de
viúvas inocentes; ajudai-nos a deixá-las sem lar a vagar, com trapos,
fome e sede, na companhia dos filhos pequenos, abandonadas pelas
ruínas de sua terra desolada, enfrentando o calor do sol de verão e os
ventos gelados do inverno, o espírito abatido, exaustas de aflição, im-
plorando a Vós o refúgio da tumba e vê-lo negado... por nós que Vos
adoramos, Senhor, matai suas esperanças, estiolai suas vidas, prolongai
sua amarga peregrinação, tornai pesados os seus passos, molhai com
suas lágrimas o seu caminho, manchai a branca neve com o sangue de
seus pés feridos! Imploramos a quem é o Espírito do amor, refúgio e
amigo fiel de todos os que sofrem e buscam Sua ajuda com humildade
e contrição. Atendei à nossa prece, oh, Senhor, e Vossas serão a grati-
dão, a honra e a glória por todos os séculos dos séculos, Amém.
GUERRA HISPANO-AMERICANA/FILIPINAS 227
(Faz uma pausa) “Foi por tudo isso que os senhores oraram; Se
ainda o desejam, digam! O mensageiro do Mais Alto espera.”
•••
todos esses incentivos: “Olha ali um chinês! Deus não vai me amar se
eu não lhe jogar uma pedra”.
E por isso ele foi preso e atirado na cadeia. Tudo conspirou para
lhe ensinar que apedrejar um chinês era um ato sagrado, e mesmo
assim ele é punido tão logo tenta cumprir seu dever; ele, pobre-coita-
do, que sempre soube que um dos principais divertimentos da polícia
era observar e desfrutar tranqüilamente o espetáculo dos açougueiros
da rua Brannan atiçando os cachorros contra um chinês pacífico, que
tinha de correr para salvar a própria vida1.
Tendo em mente o curso de humanidade oferecido por toda a
“costa do Pacífico” aos seus jovens, há até uma certa sublimidade no
grotesco da proclamação dos grandes da cidade (recentemente torna-
da pública) de que a polícia “tem ordens de prender todos os garotos
de qualquer classe ou raça, e sempre que encontrados, que cometerem
violência contra os chineses”.
Ainda assim, devemos nos alegrar por eles terem dado a ordem,
apesar de sua inconsistência; e devemos ter a certeza de que a polícia
também ficará feliz. Pois não há risco em prender garotos, desde que
pequenos, e desde que os repórteres louvem esta ação com a mesma
lealdade de sempre, ou a deixem sem menção. O novo formato dos
“assuntos locais” em São Francisco será: “O sempre vigilante e atento
guarda Fulano de Tal prendeu ontem o jovem Tommy Jones depois de
renhida resistência” etc. etc., acompanhado da costumeira estatística e
do elogio final com o sarcasmo inconsciente: “É bom que se diga tam-
bém que esta foi a 47a prisão deste bravo policial desde que esta ordem
entrou em vigor. É extraordinária a atividade do nosso Departamento
de Polícia. Jamais se viu algo semelhante”.
1. Eu próprio me lembro de muitas dessas ocasiões, mas estou agora me lembrando de uma em parti-
cular, quando os açougueiros da rua Brannan atiçaram os cachorros contra um chinês que passava
tranqüilamente com uma cesta de roupa na cabeça, e enquanto os cachorros rasgavam a carne do
chinês um dos açougueiros o fazia engolir os dentes com um tijolo. Este incidente talvez viva mais forte
na minha memória pelo fato de à época eu estar a serviço de um jornal de São Francisco e não ter tido
autorização para publicá-lo por ele poder ofender algum dos assinantes do jornal. MEMÓRIA DO EDITOR.
CHINA 235
Memorando
Não é realmente uma vergonha que nós, que falamos com tanto
orgulho de nossa civilização e de nossa humanidade, consideremos
normal degradar um ser humano num trabalho como esse? Já não
seria tempo de refletir, quando vemos este ser, nesta situação, como
mero objeto de curiosidade, e não de tristeza e grave reflexão? Eis aqui
uma pobre criatura, a quem a má fortuna exilou de sua terra natal
além-mar, cujo sofrimento deveria comover os estranhos ociosos que
se apertam em torno dele; deveria, mas aparentemente não comove.
Homens que se consideram parte de uma raça superior, a raça da cul-
tura e do sangue generoso, examinavam o estranho chapéu chinês,
um cone alto com uma bola na ponta; e a longa trança dançando con-
tra suas costas. A blusa curta de seda estampada, de botões e casas
decorados (e, tal como o resto das roupas, puída, velha e desajeitada);
a calça apertada de algodão azul amarrada nos tornozelos, e o sapato
estranho, de sola grossa de cortiça; e depois de examiná-lo de cima a
baixo e de inventar alguma piada sem graça sobre a roupa estranha ou
o rosto melancólico, seguiam em frente. Do fundo do coração me veio
uma pena do pobre mongol. Imaginei o que se passava por trás da-
quele rosto triste, que cena distante os olhos vazios sonhavam. Seus
pensamentos estariam, junto com o coração, a 10 mil milhas de dis-
tância, além das ondas desertas do Pacífico? Entre os campos de arroz
e as palmeiras plumosas da China? Sob a sombra de montanhas ocul-
tas na memória, ou entre arbustos e florestas desconhecidas no nosso
clima? E vez por outra, soando entre suas visões e seus sonhos, o riso
conhecido e as vozes meio esquecidas, e a visão de relance de rostos
amigos de tempos idos? Que destino cruel o deste andarilho bronzea-
do, destino realmente muito triste. Para que o grupo de ociosos se
comovesse pelo menos com as palavras do pobre sujeito, já que o ape-
lo do traje miserável e do exílio sem vida se perdeu neles, toquei-lhe o
ombro e disse:
“Alegre-se, não se desespere. Não é a América que trata você dessa
forma, é apenas um cidadão cuja humanidade desapareceu do cora-
ção, consumida pela ganância de lucro. A América oferece mais hospi-
talidade para o exilado e para o oprimido. A América e os americanos
CHINA 237
EVIDÊNCIA A
Este é o despacho do Sr. Chamberlain3, chefe da sucursal do Sun em
Pequim. Foi publicado no Sun na véspera do último Natal, e a partir
de agora vou me referir a ele como “despacho CE”.
EVIDÊNCIA B
Testemunho de George Lynch (reconhecido como absolutamente
confiável pelo Tribune e pelo Herald), correspondente de guerra nas
guerras de Cuba e da África do Sul, e na marcha sobre Pequim para
resgatar as legações. Os itálicos são meus:
6. Erro do telegrama. Em lugar de “treze vezes”, leia-se “um terço”. Esta correção foi feita pelo doutor
Ament no seu curto telegrama de 20 de fevereiro, citado anteriormente. (Jim Zwick)
244 PATRIOTAS E TRAIDORES
Foi o doutor Smith, não eu, quem sugeriu que pessoas que agem
dessa forma são “ladrões e extorsionários”.
EVIDÊNCIA C
Sir Robert Hart, na Fortnightly Review de janeiro de 1901: esta testemu-
nha foi durante muitos anos o inglês mais importante e proeminente na
China, e tem uma reputação inatacável de moderação, eqüidade e vera-
cidade. Ao terminar a descrição de cenas revoltantes que se seguiram à
ocupação de Pequim, quando os exércitos cristãos (com a honrosa exce-
ção dos soldados americanos, ainda bem) se dedicaram a uma implacá-
vel orgia de roubo e espoliação, ele diz (os itálicos são meus):
Foi o doutor Smith, não eu, que sugeriu que pessoas que agem
dessa forma são “ladrões e extorsionários”. De acordo com o Sr. Lynch
e com o Sr. Martin (outro correspondente de guerra), o doutor Ament
ajudou a saquear vários desses egípcios. O Sr. Martin tirou uma foto-
grafia da cena. Ela foi reproduzida no Herald. Eu a tenho.
EVIDÊNCIA D
Numa breve resposta à carta aberta do doutor Smith, eu afirmei o que
se segue no Tribune. Reproduzo propositadamente em itálico diversas
palavras:
CHINA 245
EVIDÊNCIA E
Os breves cabogramas a que me referi acima, trocados entre o dou-
tor Smith e o doutor Ament, e que foram publicados no dia 20 de
fevereiro:
EVIDÊNCIA F
Carta do doutor Smith, datada de 8 de março, dirigida a mim. Os
itálicos são meus; marcam imprecisões das afirmações:
EVIDÊNCIA G
Queria me inteirar de todos os fatos que cercam o despacho CE, por-
tanto escrevi à China solicitando-os, quando verifiquei que a Câmara
não ia fazê-lo. Mas não posso esperar. Pareceu-me inteiramente possí-
vel que o detalhamento completo dos fatos me daria a oportunidade
de apresentar meu pedido de desculpas ao doutor Ament, oportuni-
dade que, dou minha palavra, eu teria honestamente usado sem abu-
sar. Mas não adianta. Se a Câmara não se preocupou com o conteúdo
daquele despacho assustador, por que eu iria me preocupar? Respondi
a muitas cartas de religiosos que me exigiam um pedido de desculpas
com a informação de que havia escrito à China solicitando mais deta-
lhes, e disse que considerava ser esta a única forma garantida de se
248 PATRIOTAS E TRAIDORES
EVIDÊNCIA H
Os dois religiosos ficaram muito satisfeitos com as respostas do dou-
tor Ament para as duas perguntas.
Quanto à primeira, minha própria opinião pode ser indicada por
uma pergunta:
O doutor Ament cobrou de B (seja por coação ou por simples
cobrança) um centavo que fosse de indenização por assassinatos e de-
predações, sem ter a certeza, sem sombra de dúvida, de que foi B, e não
outro, quem cometeu os assassinatos e depredações?
Ou em outras palavras:
CHINA 249
O que foi esse “um terço extra”? Dinheiro devido? Não. Então foi
um roubo? Deixando de lado o terço extra, qual a justificativa do
restante da indenização extorquida, se ela foi cobrada de pessoas que
não eram comprovadamente devedoras, e sem os procedimentos cris-
tãos e civilizados? Seria um roubo, seria um assalto? É o que seria na
América; é o que seria também na Europa cristã. Tenho grande con-
fiança no discernimento do doutor Smith com relação a este detalhe,
e ele lhe dá o nome de “roubo e extorsão”, mesmo na China; pois, à
época em que ele lhe deu este nome forte, ele estava pensando em “13
vezes”9. Sua idéia é então a de que quando alguém faz inocentes e
culpados pagarem igualmente as indenizações calculadas e, além dis-
so, força-os a pagar 13 vezes aquele valor, então o 13 representa “rou-
bo e extorsão”.
9. Em sua Carta Aberta, o doutor Smith cita a carta do doutor Ament de 13 de novembro, que contém
um relato da viagem de cobrança do doutor Ament; então o doutor Smith faz este comentário: “Nada
se diz sobre a cobrança de ‘treze vezes’ o montante das perdas”. Poucas linhas abaixo, o doutor Smith
cita elogios feitos ao doutor Ament e à sua obra (de uma carta do reverendo doutor Sheffield) e acres-
centa este comentário: “O doutor Sheffield não está acostumado a falar assim para elogiar ladrões e
extorsionários ou fanfarrões”. A frase é uma referência à taxa extra de “treze vezes”. (Jim Zwick)
CHINA 251
Então o que representa o terço extra? Será que ele vai dar um nome
a esse terço? Seria “roubo e extorsão modificados”? Lembra a resposta
da moça que foi censurada por ter dado à luz um filho ilegítimo: “Mas
ele é tão pequeno!”.
Quando se reivindicou o “excedente de 13 vezes”, aos olhos do
doutor Smith ele recebeu o nome de “roubo e extorsão”, e ele ficou
chocado. Mas quando o doutor Ament mostrou que só havia tomado
um excedente de um terço, em vez de 13, o doutor Smith ficou alivia-
do e feliz. Declaro que não entendo por quê. O editor citado no início
deste artigo também ficou feliz. Não entendo a razão de tanta felicida-
de. Segundo ele, “eu devia dizer amém e apresentar imediatamente as
minhas desculpas”. Desculpas a quem? E por quê? Tudo isto é profun-
do demais para mim.
Para o doutor Smith, o “excedente de 13 vezes” representava “rou-
bo e extorsão”, e ele estava com a razão, com toda a razão, indiscutivel-
mente tinha razão. É claro que ele pensa que quando aquele valor se
reduz a apenas um terço, coisa tão pequena, já não seria “roubo e ex-
torsão”. Por quê? Só a Câmara sabe! Vou tentar explicar este difícil
problema para que a Câmara entenda. Se um mendigo me deve 1 dó-
lar, e eu o encontro indefeso e o forço a me pagar 14 dólares, 13 dóla-
res deste total são “roubo e extorsão”; se eu o forçar a pagar apenas 1
dólar e 33 centavos, os 33 centavos são da mesma forma “roubo e ex-
torsão”. Vou explicar de outra forma, ainda mais simples. Se um ho-
mem me deve um cachorro – qualquer cachorro, a raça não importa –
e eu... Melhor esquecer; a Câmara nunca iria entender. Eu mesmo sou
incapaz de entender coisas tão complicadas e difíceis.
Mas, se a Câmara pudesse entender, então eu poderia lhe ensinar
um pouco mais. O terço obtido por “roubo e extorsão” é dinheiro sujo,
e não será purificado nem mesmo se for usado para atender a “despe-
sas da igreja” ou se destinar ao “sustento de viúvas e órfãos”. Ele tem de
ser restituído às pessoas de quem foi tirado.
Há uma outra maneira de ver essas coisas. Pelo nosso código mo-
ral e pelo direito cristão, a totalidade do valor de 1 dólar e 33 centavos,
desde que tomados de um homem que não pode ser formalmente res-
252 PATRIOTAS E TRAIDORES
Como tudo isso parece estranho, remoto, oriental, das mil e uma
noites – e realmente é. Faz lembrar histórias esquecidas, e ouvimos o
rei dizer ao seu tesoureiro:
“Traga-me 30 mil tomans de ouro.”
“Alá nos proteja, Senhor, o tesouro está vazio.”
“Você não ouviu? Traga-me o dinheiro dentro de dez dias. Se não
trouxer, pode me enviar sua cabeça num cesto.”
“Ouço e obedeço.”
O tesoureiro convoca os principais de cem aldeias e diz ao primeiro:
“Traga-me cem tomans de ouro.” A outro: “Traga-me 500”; a um
terceiro: “Traga-me mil. Dentro de dez dias. Sua cabeça é a caução.”
“Vossos escravos beijam os vossos pés! Ah, poderoso senhor, te-
nha piedade de nosso povo sofrido; são tão pobres, andam nus, pas-
sam fome; são quantias impossíveis! Nem mesmo a metade...”
“Vão! E arranquem tudo deles, espremam tudo deles, transfor-
mem em dinheiro o sangue dos pais, as lágrimas das mães, o leite das
crianças, ou assumam as conseqüências. Ouviram?”
“Seja feita a Sua vontade, Aquele que é a Fonte de amor e miseri-
córdia e compaixão. Que pela mão de seus servos lança sobre nossas
costas esse peso, abençoado seja Seu Santo Nome. O pai há de sangrar,
a mãe desfalecer de fome, o bebê vai perecer no peito seco. Os escolhi-
dos de Deus mandaram: será como ordenam.”
Não pretendo discordar da substituição de costumes cristãos por
outros pagãos, aqui e ali, uma vez ou outra, quando os cristãos se
mostram inconvenientes. Não; gosto da idéia e a admiro. Eu também
o faço. E admiro o zelo da Câmara ao buscar aproveitar todas as opor-
tunidades de trocar a sua moral pela chinesa, e tirar dessa troca o ga-
nho máximo; não tolero aquelas pessoas, são amarelas, e sempre con-
siderei o amarelo pouco elegante. Sempre agi como a Câmara: bem-
intencionado, mas destituído de senso moral. Ora, uma das principais
razões que tornam difícil para a Câmara entender que não existe dife-
rença moral entre um grande roubo e um pequeno roubo, que a dife-
254 PATRIOTAS E TRAIDORES
AS MELANCIAS
RECAPITULAÇÃO
aprovada pela Câmara, por alguns religiosos, por alguns jornais, con-
siderada um aprimoramento valioso da moral cristã, o que me deixa
de boca fechada, apesar da dor no coração.
10. O cabograma foi transmitido no dia em que foi publicado o relato do senhor George Lynch. Ver “Evidên-
cia B”. Parece uma pena ele não ter perguntado sobre o saque, nem ele ter sido negado. (Jim Zwick)
258 PATRIOTAS E TRAIDORES
CHINA E FILIPINAS
(12 de dezembro de 1900)
SOU EU.
que emana de sua palavra, a luz que torna gloriosa a nossa civilização;
erguê-los e secar suas lágrimas, encher os corações machucados de
alegria e gratidão; erguê-los e fazê-los compreender que já não são
renegados e abandonados, são nossos irmãos em Cristo; como a Amé-
rica e 13 grandes Estados europeus choraram comigo de simpatia e se
convenceram; como seus representantes se reuniram em convenção
em Berlim e me fizeram líder e superintendente do Estado Livre do
Congo, e estabeleceram cuidadosamente meus poderes e limitações,
protegendo as pessoas, liberdades e propriedades dos nativos contra
agressões e prejuízos; proibindo o tráfico de uísque e de armas; ofere-
cendo tribunais de Justiça e tornando livre e desembaraçado o comér-
cio com mercadores e comerciantes de todas as nações, dando boas-
vindas a todos os missionários de todas as crenças e denominações.
Contaram como eu planejei e preparei o estabelecimento e selecionei
a horda de funcionários, meus “amigos do peito”, meus “cafetões”, to-
dos eles “belgas execráveis”; e ergui minha bandeira e iludi um presi-
dente dos Estados Unidos, e fiz que ele fosse o primeiro a reconhecê-la
e saudá-la. Pois que me insultem se quiserem; é uma satisfação enor-
me saber que fui um pouquinho mais esperto que a nação que se con-
sidera tão esperta. Enganei de verdade um ianque, como dizem eles.
Bandeira pirata? Deixe que falem, talvez seja mesmo. Mesmo assim,
foram eles os primeiros a saudá-la.
Esses impertinentes missionários americanos! A franqueza dos
cônsules ingleses! Esses belgas faladores e traiçoeiros, esses papagaios
cansativos sempre a falar, sempre a denunciar. Contaram como, du-
rante 20 anos, eu dominei o Estado congolês não como mandatário
das potências, seu agente, um subordinado, um capataz, mas como
soberano; soberano sobre um rico território quatro vezes maior que
o Império Alemão, soberano absoluto, irresponsável, acima da lei;
pisoteando a Carta do Congo escrita em Berlim; proibindo todo o
comércio estrangeiro que não o meu; restringindo a mim todo o
comércio por intermédio de concessionários que são minhas criatu-
ras e sequazes; tomando e mantendo o Estado como propriedade
pessoal, a totalidade de suas vastas rendas como meu butim pessoal
266 PATRIOTAS E TRAIDORES
1. O resultado dessa visita foi melhor do que se esperava. Um dos membros da comissão era um impor-
tante funcionário no Congo, outro funcionário do governo belga, o terceiro um jurista suíço. Temia-se
que o trabalho da comissão não fosse melhor que as incontáveis “investigações” conduzidas por fun-
cionários locais. Mas parece que a comissão foi assaltada por uma avalanche de testemunhos horríveis.
Uma pessoa presente às audiências públicas escreve: “Homens de pedra teriam se comovido com as
histórias ouvidas à medida que a comissão aprofunda a horrível história da colheita da borracha”. É
evidente que os membros da comissão se comoveram. De seu relatório e de sua influência sobre a
questão internacional representada pelas condições existentes no Estado do Congo, fala-se numa pági-
na suplementar deste panfleto. Algumas reformas foram ordenadas pela comissão em uma das seções
visitadas, mas as notícias mais recentes informam que depois de sua partida as condições logo ficaram
ainda piores do que antes de sua chegada. (Mark Twain)
268 PATRIOTAS E TRAIDORES
Ofereço aqui alguns dos muitos incidentes atrozes que pude observar
pessoalmente; revelam um sistema organizado de saques e violências
que foi perpetuado e agora é executado pelo rei Leopoldo da Bélgica.
Digo rei Leopoldo, porque ele, e somente ele, é hoje responsável, pois
ele é o soberano absoluto. É o que ele se considera. Quando, em 1884,
nosso governo lançou as bases do Estado Livre do Congo, ao reconhe-
cer sua bandeira, não sabia que sob o disfarce da filantropia estava na
realidade o rei Leopoldo da Bélgica, um dos governantes mais impiedosos
e sem consciência que jamais se sentaram num trono. Para não mencio-
nar sua moral corrupta, que tornou seu nome, e o de sua família, co-
nhecido em dois continentes. Nosso governo certamente não teria re-
conhecido aquela bandeira se soubesse que o pedido de tal reconheci-
mento partia do rei Leopoldo individualmente; se soubesse que estava
estabelecendo uma monarquia absoluta no coração da África; se sou-
besse que, depois de abolir a escravidão em nosso próprio país, com
grande custo em sangue e dinheiro, estava ajudando a estabelecer uma
forma mais cruel de escravidão bem no centro da África.
cia a eles a boa sorte. Mas logo o pagamento foi reduzido e finalmente
receberam a ordem de trazer a borracha a troco de nada. Tentaram re-
cusar, mas, para sua surpresa, foram alvejados pelos soldados, e os ou-
tros receberam ordens, em meio a muitos insultos e pancadas, de partir
imediatamente ou mais gente seria morta. Aterrorizados, começaram a
preparar a comida para os 15 dias de ausência da aldeia necessários para
recolher a borracha. Os soldados os encontraram sentados. “O quê? Ain-
da não foram?” Bang! Bang! Bang! E mais um caiu, depois mais outro,
mortos, no meio das mulheres e dos companheiros. Muitos choram e
começam a preparar o enterro, mas não podem. Todos têm de partir
imediatamente para a floresta. Sem comida? É, sem comida. E lá se vão
os pobres-coitados, sem levar nem mesmo com que preparar um fogo.
Muitos morreram na floresta de fome e exposição, e muitos outros de
tiros dados pelos soldados ferozes encarregados do posto. Apesar dos
seus esforços, diminuiu a quantidade colhida, e ainda mais gente foi
morta. Mostraram-me o lugar. De acordo com uma estimativa cuida-
dosa, a população sete anos antes era de 2.000 pessoas na aldeia em um
raio de um quarto de milha. Hoje não é possível reunir mais que 200, e
hoje a tristeza é tanta que eles estão rapidamente se acabando.
Ficamos lá toda a segunda-feira e conversamos muito com as pessoas.
No domingo, alguns meninos me haviam falado de alguns ossos avista-
dos, e então, na segunda-feira, pedi a eles para me mostrarem aqueles
ossos. Espalhados pelo gramado, perto da casa que eu ocupava, havia
muitos crânios, ossos, até alguns esqueletos completos. Contei 36 crâ-
nios, e vi muitos grupos de ossos a que faltavam os crânios. Chamei um
dos homens e lhe perguntei o que significava aquilo. “Quando começou
o negócio da borracha, os soldados mataram tantos que muitos de nós
se cansaram de enterrar os mortos, além de não terem permissão para
enterrar; assim, nós simplesmente arrastávamos os corpos e os abando-
návamos no gramado. Há centenas à sua volta, se o senhor quiser ver.”
Mas eu já havia visto mais que o suficiente, e estava nauseado pelas his-
tórias que ouvia daqueles homens e mulheres sobre as coisas horríveis
que tinham de suportar. As atrocidades dos búlgaros podem ser consi-
deradas a própria gentileza quando comparadas ao que se faz aqui. Como
272 PATRIOTAS E TRAIDORES
Cada vez que sai para receber a borracha, o cabo recebe algumas balas.
Ele deve devolver todas que não tiverem sido usadas, e para cada bala
usada ele deve trazer uma mão direita. M. P. me disse que às vezes eles
usavam um cartucho para caçar algum animal; depois cortavam a mão
de um homem vivo. Quanto à extensão dessa prática, ele me informou
que em seis meses o estado do rio Mambogo havia gasto 6.000 balas, o
que significa que 6.000 pessoas foram mortas ou mutiladas. Na verda-
de, mais de 6.000, pois muitas pessoas já me disseram que os soldados
matam crianças com a coronha do fuzil.
Quando parece ao sutil conde que o silêncio será mais eficaz que
as palavras, ele o emprega. Neste caso, ele deixa sem menção o fato de
que mil mortes por mês é um resultado alto para uma região tão pe-
quena quanto a concessão do rio Mambogo, informando silenciosa-
mente as suas dimensões em um mapa anexo com a área prodigiosa
do Estado do Congo, no qual um objeto pequeno como aquele rio não
CONGO 273
é representado. O silêncio parece dizer: “Se morrem mil por mês nesse
pedacinho, imagine a quantidade morta em todo este vasto Estado!”.
Um cavalheiro de verdade não desceria a tamanha dissimulação.
Ora, quanto às mutilações, não se pode decapitar um desses críti-
cos do Congo e deixá-lo sem cabeça; ele se esquiva e reaparece vindo
de outra direção. São escorregadios. Quando a questão das mutilações
(amputação de mãos, castração de homens etc.) começou a agitar a
Europa, tivemos a idéia de justificá-las com uma resposta que haveria
de forçá-los definitivamente ao silêncio, e deixá-los sem palavras; ou
seja, atribuímos o costume aos nativos, e alegamos não o ter inventa-
do, apenas o seguimos. E isso funcionou? Fê-los calar-se? Nem por
cinco minutos. Eles se esquivaram e voltaram ao ataque, observando
que “se um rei cristão vê diferença moral salvadora entre inventar uma
barbaridade sangrenta e imitá-la dos selvagens, pelo amor de Deus,
ele que se console com essa confissão!”.
É impressionante a forma como age aquele cônsul, aquele espião,
aquele intrometido. [Pega um panfleto: “Tratamento dado a mulheres
e crianças no Estado do Congo; o que o Sr. Casement viu em 1903”.]
Mal passados dois anos! Oferecer essa data ao público foi uma enorme
prova de má-fé. Visa enfraquecer a força das garantias oferecidas pelos
meus agentes na imprensa de que essas amputações já haviam sido
interrompidas no Congo, cessaram completamente há muitos anos.
Esse homem gosta de detalhes, diverte-se com eles, alegra-se com eles,
afaga-os, e os registra a todos. Não é preciso aborrecer-se com a leitura
desse relatório monótono para percebê-lo; os subtítulos dos capítulos
o demonstram. [Lê.]
Muito bem, foi uma liberalidade. Não muito menos que um cen-
tavo por semana para cada negro. É típico desse cônsul aviltar essa
troca, apesar de saber muito bem que alimento e trabalho poderiam
274 PATRIOTAS E TRAIDORES
Mas ele toma todo cuidado para não explicar que somos forçados
a exigir resgate para pagamento de dívidas nos casos em que as pes-
soas não têm com que pagar. Famílias que fogem para a mata às vezes
vendem alguns de seus membros como escravos e assim pagam o res-
gate. Ele sabe que eu não permitiria essa prática se houvesse um meio
menos censurável de cobrar essas dívidas. ... Mm – eis aqui mais uma
das pérolas do cônsul. Aqui ele relata uma conversa que teve com al-
guns nativos:
P: Como vocês sabem que foram os brancos quem ordenaram essas cruel-
dades contra vocês? Essas coisas podem ter sido feitas pelos soldados
negros sem o conhecimento dos brancos.
R: Os homens brancos disseram aos soldados: “Vocês só matam mulhe-
res; não são capazes de matar homens. Vocês precisam provar que vocês
matam homens”. Então aí os soldados, quando eles nos mataram (aqui
ele hesitou e então, apontando o ... , ele disse:) “então eles... e eles leva-
ram para mostrar para os homens brancos, que disseram: “É verdade,
vocês mataram homens.”
P: E vocês dizem que isso é verdade? Muitos de vocês foram tratados
assim depois de levar um tiro?
R: Todos gritam: “Nkoto! Nkoto!” (Muitos! Muitos!)
Não havia dúvida de que eles não estavam inventando. A veemência, os
olhos brilhantes, a excitação, nada disso podia ser simulado.
É claro que o crítico iria divulgar isso; não tem respeito próprio.
Todos os da sua laia me condenam, embora saibam muito bem que
CONGO 275
Então ele nos levou até uma estrutura de madeira, sob a qual queimava
um fogo baixo, e lá estavam elas, as mãos direitas – contei 81 no total.
Não havia menos que 60 mulheres (Bena Pianga) presas. Eu as vi.
Dizemos todos que investigamos até o limite de nossa capacidade toda
essa violência, e descobrimos que tudo foi previamente planejado para
tomar tudo o que pudessem e prender toda aquela pobre gente na “ar-
madilha da morte”.
UM ERRO ORIGINAL
(1905)
SUPLEMENTO
2. Uma vez estabelecido o Estado Livre do Congo, um decreto real determinou que os 347.640 quilô-
metros quadrados de seu território, com exceção de uma pequena porção de terra próxima à foz do
Congo e as aldeias nativas, seriam propriedade do governo, ou seja, do rei da Bélgica. Assim como a
terra, também os seus produtos passaram a ser considerados propriedade real. Na maior parte do Congo
o direito exclusivo de compra dos produtos locais era conferido a algumas companhias concessionári-
as das quais o Estado, ou seja, o rei, detinha uma parte (geralmente a metade) em ações. Inúmeras
companhias concessionárias foram fundadas nesse período. O governo, que havia se comprometido a
não estabelecer monopólio ou privilégio de qualquer espécie em assuntos comerciais, passou a decla-
rar que apenas os agentes das companhias concessionárias estavam autorizados a comprar o que quer
que fosse dos nativos (borracha, marfim ou quaisquer outros produtos), sendo aquele que comprasse
diretamente dos nativos considerado um receptador de mercadorias roubadas. Também os nativos
foram terminantemente proibidos de vender sua produção a quem pagasse mais, ficando obrigados a
trazer quantidades especificadas aos agentes do Estado ou das companhias. A produção local, particu-
larmente a de borracha, era cada vez maior. As exportações do Estado do Congo tornaram-se imensas,
e as companhias concessionárias prosperaram extraordinariamente. A A.B.I.R. foi uma dessas concessi-
onárias, e sua história de lucros astronômicos ilustra muito bem o processo de exploração e de lucro aí
CONGO 285
les que tentam resistir aos seus caprichos. A veracidade dessas acu-
sações é comprovada por grande massa de evidências e relatórios
oficiais.”
“As conseqüências são geralmente fatais. E que ninguém se assus-
te. Se durante a execução de uma dessas delicadas operações, cujo ob-
jetivo é a tomada de reféns e a intimidação dos nativos, não for possí-
vel exercer vigilância constante dos instintos sanguinários dos solda-
dos quando a autoridade superior dá ordens de punição, é difícil evi-
tar que a expedição se degenere em massacres, acompanhados de pi-
lhagens e incêndios.”
atingido: com um capital nominal de 40 mil libras por época da fundação, obteve em quatro anos um
lucro de 600 mil libras, e em 1901, quando a especulação atingiu o ápice, as suas 40 mil libras iniciais em
ações podiam ser vendidas por 2,16 milhões. A A.B.I.R. foi apenas uma entre as diversas concessionárias
semelhantes que obtiveram resultados na mesma faixa de lucros. (Fonte: Indictement against the Congo
Government – the Case Reviewed.) http://www.boondocksnet.com/congo/congo_cra_indict.html
286 PATRIOTAS E TRAIDORES
3. Este artigo foi publicado quando o anterior estava sendo impresso, e é oferecido ao rei e aos leitores
de seu solilóquio. (Mark Twain) [Escrito no verão de 1898.]
288 PATRIOTAS E TRAIDORES
4. A missão do Sr. Grenfell está situada no Baixo Congo, muito distante das áreas de extração de borra-
cha. (Mark Twain)
CONGO 291
O NOBRE PELE-VERMELHA
1. Não é exagero. Eu mesmo já vi muitos exemplos em Nevada exatamente iguais ao retrato apresenta-
do aqui. (Mark Twain)
RAÇA, GÊNERO E RELIGIÃO 303
ele cavalga. Ela não usa outra roupa que não a perfumada pele de coe-
lho que antes foi usada por sua bisavó, e todo o seu rubor pode ser
lavado com sabão e toalha, desde que não tenha endurecido depois de
cinco ou seis semanas.
É este o autêntico Nobre Aborígine. Não o conheci nos livros, mas
por observação pessoal.
De acordo com o excelente livro do doutor Keim, parece que entre
junho de 1868 e outubro de 1869 os índios massacraram quase 200
pessoas brancas e violaram mais de 40 mulheres capturadas em pací-
ficos acampamentos distantes ao longo da fronteira, ou participantes
de caravanas de emigrantes que percorriam as rotas de viagem
estabelecidas. Crianças foram queimadas vivas diante dos pais. Mu-
lheres foram violadas diante dos maridos. Maridos foram mutilados,
torturados e escalpelados, e suas mulheres forçadas a olhar. Esses fatos
e números são oficiais, e exibem o verdadeiro caráter do incompreen-
dido Filho da Floresta – uma criatura vazia das qualidades de coragem
e generosidade, mas cruel, traiçoeiro e brutal. Durante a guerra contra
a tribo Pi-Ute, os índios arrancavam os tendões das costas dos bran-
cos antes que estivessem mortos. (Os tendões eram usados como cor-
das nos arcos). Mas não se pode imprimir suas mutilações preferidas.
Ainda assim, toda vez que se mete em confusão, esse Nobre Pele-Ver-
melha é saudado com um gemido de simpatia humanitária que vem
do litoral do Atlântico; donzelas e matronas horrorizadas erguem as
mãos ante a vingança sangrenta que lhe é imposta, e os jornais cla-
mam por uma comissão de inquérito para examinar a conduta do
oficial desumano que infligiu o castigo de brincadeira sobre o “pobre
índio ultrajado” (eles sempre examinam a questão do ponto de vista
do índio ultrajado, nunca do da viúva e do órfão brancos enlutados).
Mas ainda nos resta o conforto de saber que, por mais rápidos que eles
sejam, o inquérito só é realizado depois de o bom oficial ter adminis-
trado o castigo merecido.
RAÇA, GÊNERO E RELIGIÃO 305
pouco na população total de Nova York; mas que sua honestidade re-
presenta muito é comprovado pelo fato de a imensa maioria das em-
presas atacadistas da Broadway, de Battery até a Union Square, ser pro-
priedade deles.
Creio que o exemplo mais pitoresco na história da confiança de
um comerciante no colega comerciante é que ela não trata de um cris-
tão confiando em outro cristão, mas de um cristão que confiou num
judeu. O duque hessiano3 vendia seus súditos ao rei Jorge III para lutar
contra George Washington e assim ficou rico; mais tarde, as guerras
engendradas pela Revolução Francesa fizeram com que seu trono se
tornasse quente demais para ele, e ele foi obrigado a fugir do país.
Como estava com pressa, foi forçado a deixar para trás as suas posses,
9 milhões de dólares. Teve de deixar o dinheiro com alguém, sem a
menor garantia. Não escolheu um cristão, mas um judeu; um judeu
modesto, mas de grande caráter, um caráter tão grande que o isolava
da multidão – Rotschild de Frankfurt. Trinta anos depois, quando a
alma e a segurança retornaram à Europa, o duque voltou do estran-
geiro, e o judeu pagou o empréstimo com juros4.
3. Hessiano: relativo à cidade de Hesse, na Alemanha; durante a época da guerra revolucionária norte-
americana, o termo designava os mercenários alemães engajados no exército britânico, e, por extensão,
passou a designar mercenários em geral no contexto norte-americano.
4. Esta é outra história pitoresca; e ela nos lembra que mesquinhez e desonestidade não são monopólio
de qualquer raça ou credo, são apenas humanas.
“O Congresso acaba de aprovar uma lei para pagar 379,56 dólares a Moses Pendergrass, de Libertyville,
Missouri. A história da razão dessa liberalidade é pateticamente interessante e mostra a enrascada em
que pode se meter um homem que tenta executar um trabalho honesto para o nosso Tio Sam. Em
1886, Moses Pendergrass se qualificou para concorrer a um contrato de transporte do Correio entre
Knob Lick até Libertyville e Coffman, 48 quilômetros por dia, a começar do dia 1o de julho de 1887
com a duração de um ano. Ele pediu ao chefe do Correio de Knob Lick para escrever a carta por ele e,
apesar de Moses oferecer o preço de 400 dólares, o escriba descuidado escreveu 4 dólares. Moses rece-
beu o contrato e só descobriu o erro ao fim do primeiro trimestre, quando recebeu a primeira parcela.
Ao descobrir o preço que estava recebendo, ele ficou desesperado e se comunicou com o Departamen-
to dos Correios. O departamento lhe informou que ele teria de cumprir o contrato ou, se decidisse não
cumprir, seu fiador teria de pagar ao governo a quantia de 1.459,85 dólares por perdas e danos. E assim
Moses cumpriu o contrato e recebeu 4 dólares pelo trabalho, ou melhor, 6,84 dólares, pois o trecho foi
ampliado depois de aceita a sua proposta e o preço aumentou proporcionalmente. Agora, dez anos
depois, aprovou-se finalmente uma lei para pagar a Moses a diferença entre o que ganhou naquele ano
infeliz e o que realmente deveria receber.”
O Sun, que contou a história acima, diz que várias leis foram propostas em três ou quatro legislaturas
para indenizar Moses, e que vários comitês investigaram a sua reivindicação. Foram necessários seis
RAÇA, GÊNERO E RELIGIÃO 311
Congressos, contendo em suas pessoas a condensação das virtudes de 70 milhões de pessoas, dando
expressão cuidadosa e cautelosa a essas virtudes no temor de Deus e na eleição seguinte, 11 anos para
descobrir uma forma de lesar um cristão em cerca de 13 dólares num contrato executado honestamen-
te, e de quase 300 dólares que lhe eram devidos em termos finais. E conseguiram. Durante o mesmo
período eles pagaram 1 bilhão de dólares em pensões – um terço delas injustificadas e imerecidas. Isso
indica uma competência generalizada para o roubo, pois começa com centavos e desenvolve suas in-
dústrias até chegar a fortunas. É possível que os judeus sejam capazes de superar esse caso, mas quem
apostar nisso está arriscando muito. (Mark Twain)
312 PATRIOTAS E TRAIDORES
5. Émile Edouard Charles Antoine Zola (1840-1902). Romancista e reformador social francês, autor de
A fortuna dos Rougons, em 1867, uma série de vinte romances naturalistas tratando da vida de uma
família francesa da época do Segundo Império. Escreveu também Germinal, em 1885, A terra, em 1888,
a trilogia Três cidades, entre 1894 e 1898, e Fecundidade, em 1899, entre outros. Em 1898 publicou um
ensaio sob a forma de panfleto intitulado “Eu acuso!” inculpando os promotores do caso do capitão
Dreyfus, oficial do exército francês condenado sem provas à prisão perpétua por traição à pátria.
6. Referência ao famoso caso do capitão francês Alfred Dreyfus, oficial acusado de traição e condenado
à prisão perpétua sem que houvessem sido apresentadas provas de sua culpa. Três anos após esse fato,
outro caso semelhante teve veredicto completamente oposto, sendo o acusado considerado inocente.
O fato de Dreyfus ser judeu parece ter sido a causa do tratamento diverso, o que acarretou indignação
em todo o mundo. Em 1898, o escritor francês Émile Zola foi preso e acusado de falsidade ideológica
após a publicação de um ensaio intitulado “J’accuse” (“Eu acuso”), acusando o exército francês de
perseguir Dreyfus. Para Carl Dolmetsch, autor de “Our Famous Guest”: Mark Twain in Vienna, muitos
318 PATRIOTAS E TRAIDORES
início, ele foi criado livre, e é claro que sua ajuda não foi necessária. Na
Áustria, na Alemanha e na França ele tem o direito de voto, mas qual a
sua utilidade para ele? Ele parece não saber usá-lo. Apesar de toda a
sua grande capacidade e de toda a sua gorda riqueza, o judeu não tem
importância política em país algum. Na América, desde 1854, o ser-
vente irlandês ignorante, de espírito independente e com coragem de
expô-lo a riscos, deixou claro para todos que queria ser politicamente
reconhecido; ainda assim, 15 anos antes, mal sabíamos como era a
cara de um irlandês. Como força inteligente, e em número, ele esteve
sempre por baixo, mas mesmo assim já governou o país. Isso porque
ele se organizou. E organizar-se deu valor ao seu voto; de fato, tornou-
o essencial.
O senhor há de dizer que o judeu é numericamente fraco em toda
parte. Isso não quer dizer nada – pois temos a história do irlandês
como exemplo. Mas ainda vou chegar à questão de sua fraqueza nu-
mérica. Em todos os países parlamentaristas seria possível eleger ju-
deus para os legislativos – e até mesmo um elemento num desses cor-
pos é uma força que conta. Quanto os senhores se interessaram por
essa questão na Áustria, na França e na Alemanha? Ou mesmo nos
Estados Unidos? O senhor afirma que os judeus não têm culpa pelas
agitações no Reichsrath, e acrescenta satisfeito que não havia um úni-
co participante judeu. Esta afirmação não é estritamente correta; se
fosse, não seria agora a hora de o senhor explicar e se desculpar, em
vez de tentar fazer dessa ausência um mérito? Mas acredito que o ju-
deu não participou com a força que deveria ter demonstrado. A Áus-
tria lhe oferece o sufrágio em termos bastante liberais, e é certamente
por sua própria culpa que ele é tão fraco politicamente.
Quanto à sua fraqueza numérica. Já mencionei alguns números,
500 mil, como a população judia da Alemanha. Posso acrescentar
dos que defendiam a idéia de que Dreyfus não podia em hipótese alguma ser absolvido argumentavam
que, sendo um judeu, ele não poderia ser leal à França ou a qualquer outra nação. O veredicto do
segundo julgamento tornou ainda mais flagrante essa discriminação: embora Dreyfus tenha obtido a
absolvição, ele não teve permissão para reassumir a posição que ocupava anteriormente no exército
francês. (http://www.boondocksnet.com/twainwww/essays/twain_dreyfus0005.html .)
RAÇA, GÊNERO E RELIGIÃO 319
7. “A mudança de nomes, na Áustria, foi feita apenas porque os judeus em algumas regiões recém-
incorporadas não tinham sobrenomes, eram apenas Abraão ou Moisés, e portanto o coletor de impos-
tos não conseguia distinguir um do outro e poderia se perder nessa questão. O restante se deveu aos
bons ofícios do Departamento de Guerra e à graciosa confusão que os jovens tenentes criaram. Para
eles um judeu nada representava, e eles rotulavam a raça de uma forma que fazia os anjos chorarem.
Por exemplo, esses dois: Abraão Dordebarriga, Schmul Deusamaldiçoado.” Recolhido de Namens
Studien, de Carl Emil Franzos. (Jim Zwick)
RAÇA, GÊNERO E RELIGIÃO 321
8. André Massena (1756-1817). General francês, serviu nas Guerras Revolucionárias Francesas e sob o
reinado de Napoleão Bonaparte foi nomeado duque de Rivoli, em 1808, e príncipe de Essling, em 1809,
como reconhecimento por seus méritos militares. Ficou conhecido também pelos atos de pilhagem
praticados contra os inimigos que derrotou. Foi comandante na guerra com a Espanha em 1810-1811,
quando foi derrotado pelas tropas britânicas de Wellington. O texto indica que a visão de Twain quan-
to à figura de Massena é muito diferente da veiculada pela história oficial, deixando subentendido que
Massena foi premiado como um herói sem ter-se empenhado verdadeiramente pelas causas de seu
país. Em carta dirigida ao Harper’s Magazine em setembro de 1899 comentando este artigo de Twain,
o rabino M. S. Levy, referindo-se a esta passagem onde Massena é mencionado, exorta Twain a lem-
brar-se dos feitos heróicos do general francês e lamenta o comentário feito por Twain quanto ao pa-
triotismo dos judeus. http://www.boondocksnet.com/twaintexts/levy99.html
322 PATRIOTAS E TRAIDORES
algum país livre (que não a Escócia) acho que ela devia ser proibida.
Não será bom permitir que aquela raça saiba a própria força. Se os
cavalos soubessem da sua, nunca mais poderíamos cavalgar.
Senhor presidente, não sei por que deva ser eu o escolhido para
receber a maior distinção desta noite – pois assim foi considerado em
todas as eras o ofício de responder ao brinde à mulher. Não sei a razão
de eu ter recebido esta distinção, a menos que eu seja um tanto menos
honesto que os outros membros do clube. Mas, seja qual for a razão,
RAÇA, GÊNERO E RELIGIÃO 327
CONSELHO ÀS MOÇAS
(1909)
Não sei o que aconselhar a vocês. O Sr. Martin já lhes disse tudo o
que devem fazer, e agora devo lhes dar alguns “nãos”.
Há três coisas que me vêm à mente e que considero um conselho
excelente:
330 PATRIOTAS E TRAIDORES
Senhoras e senhores,
É muito pequena a ajuda que posso oferecer, mas a ajuda que ofe-
reço é aquela que vem do coração e passa pela boca. O relatório do Sr.
Mayer foi admirável, e ele me interessou tanto quanto aos senhores.
Ora, sou duas vezes mais velho que ele e já tive tantas experiências que,
ao ouvir seu pedido de ajuda, ousaria dizer a ele: “Não deixe para hoje
ou amanhã, recolha o dinheiro na mesma hora”.
Somos todos criaturas de impulsos repentinos. É como se fôsse-
mos movidos a vapor. Façam agora seus testamentos, depois poderá
ser tarde demais. Há 15 ou 20 anos passei por uma experiência que
nunca esqueci. Entrei numa igreja apinhada com uma multidão suada
e ofegante. O missionário de nossa cidade, Hartford, fez um apelo
emocionado por ajuda. Falou de experiências pessoais entre os pobres
em porões e entre ricas mansões que exigiam exemplos de devoção e
socorro. Os pobres sempre são bons para os pobres. Quando uma pes-
soa tem milhões e dá 100 mil dólares, ela faz grande alarido no mun-
do, mas aquilo não lhe faz falta, é a viúva que não faz barulho mas faz
o melhor trabalho.
Lembro-me de que naquela ocasião na igreja de Hartford era a
hora da coleta. O apelo me emocionou tanto que não podia esperar a
chegada do prato até onde eu estava. Tinha 400 dólares no bolso e
estava ansioso para deixar tudo no prato e ainda queria ter mais. Mas
o prato demorou tanto a chegar que aquela febre de caridade foi bai-
xando lentamente, descendo a um ritmo de cem dólares por minuto.
O prato passou tarde demais. Quando finalmente chegou, meu entu-
siasmo já tinha esfriado tanto que guardei meus 400 dólares e ainda
roubei 10 centavos do prato. Vocês estão vendo então que às vezes o
tempo leva à ocasião que faz o ladrão.
Quantas vezes não me lembrei daquele dia e o lamentei, e conclamo
todos os senhores a dar enquanto a febre está nos senhores.
Quanto à esfera da mulher na vida, devo dizer que a mulher tem
sempre razão. Já sou, há 25 anos, um homem pelos direitos da mulher.
Sempre acreditei, muito antes da morte de minha mãe, que com seus
RAÇA, GÊNERO E RELIGIÃO 333
A PEQUENA BESSIE
AUXILIA A PROVIDÊNCIA
RELIGIÃO
9. http://www.boondocksnet.com/twainwww/csvh_religion.html
10. http://www.boondocksnet.com/twainwww/essays/bible_twain0001.html
RAÇA, GÊNERO E RELIGIÃO 339
[O pregador] nunca cobrou nada por sua pregação. E bem que ela
valia.
As aventuras de Huckleberry Finn
O livro da natureza nos diz claramente que Deus não liga a míni-
ma para nós – nem para nenhuma criatura viva.
Anotações
1. Ulysses Simpson Grant. Nascido Hiram Ulysses Grant (1822-1885). Décimo oitavo presidente dos
Estados Unidos (1869-1877) e general da guerra civil. Depois de sua campanha vitoriosa em Vicksburg
(1862-1863), tornou-se comandante-em-chefe das tropas da União (1864) e negociou a rendição do
general Robert E. Lee em Appomatox (1865). Teve duas gestões como presidente, ambas caracterizadas
pela corrupção e pela malversação do dinheiro público.
FICÇÃO E JORNALISMO 347
este lado, e depois para o outro. Para nós, foi duro fincar os pés no
chão. Lembro-me de um exemplo. Estava pilotando no Mississípi quan-
do chegaram as notícias de que a Carolina do Sul havia se desligado da
União, no dia 20 de dezembro de 1860. Meu imediato era de Nova
York. Estava com a União de todo coração, eu também. Mas ele não
tinha paciência para me ouvir; para ele, minha lealdade era manchada
porque meu pai fora dono de escravos. Como paliativo para este fato
doloroso, eu explicava que havia ouvido meu pai dizer pouco antes de
morrer que a escravidão era um erro terrível, e que ele libertaria o
único escravo negro que então possuía, se considerasse correto perder
a propriedade da família quando estava vivendo situação tão difícil.
Meu imediato retrucava que um simples impulso não representava
nada, qualquer um poderia fingir um bom impulso, e continuava zom-
bando do meu unionismo e insultando meus ancestrais. Um mês de-
pois, a atmosfera de secessão havia se agravado no Baixo Mississípi e
eu passei para o lado rebelde; ele também. Estávamos juntos em Nova
Orleans quando a Louisiana se desligou da União, no dia 26 de janei-
ro. Ele gritou honestamente os brados rebeldes, mas não admitia que
eu fizesse o mesmo. Dizia que minhas origens não eram boas: um pai
que queria libertar os escravos. No verão seguinte ele pilotava um na-
vio armado da União, e mais uma vez dando vivas a ela, e eu estava
servindo no Exército Confederado. Tinha comigo um vale em que ele
reconhecia me dever dinheiro. Era um dos homens mais honestos que
eu já conheci, mas não hesitou em repudiar o vale porque eu era um
rebelde, filho de um proprietário de escravos.
Naquele verão de 1861, a primeira onda da guerra quebrou nas
margens do Missouri. O estado foi invadido pelas forças da União.
Tomaram Saint Louis, Jefferson Barracks e outros pontos. O governa-
dor, Claib Jackson, lançou uma proclamação convocando 50 mil
milicianos para repelir o invasor.
Eu estava visitando a cidadezinha onde havia passado a infância,
Hannibal, no condado de Marion. Vários de nós nos reunimos à noite
num lugar secreto e formamos uma companhia militar. Um certo Tom
Lyman, um rapaz corajoso mas sem a mínima experiência militar, foi
348 PATRIOTAS E TRAIDORES
2. Sempre acreditei que o cavalo tinha sido preso ali com esse fim e sabia que essa era também a impres-
são de pelo menos outro membro do comando, pois conversamos a respeito à época e eu contei da
minha admiração pela idéia; mas quando estive no Oeste, há três anos, o Sr. A. G. Fuqua, um dos
soldados da companhia, me disse que o cavalo era dele, e que o fato de ele ter ficado preso à porta fora
uma questão de esquecimento e que o atribuir à capacidade inventiva era um crédito que estava acima
do seu merecimento. Para confirmar o que dizia, ele chamou minha atenção para o fato sugestivo de tal
artifício não ter sido empregado outra vez. Antes eu não tinha levado em conta esse fato. (Mark Twain)
FICÇÃO E JORNALISMO 355
era a nossa ignorância, mas houve alguns entre nós que mais tarde
aprenderam a triste profissão; aprenderam a obedecer como máqui-
nas; tornaram-se soldados valorosos; lutaram durante toda a guerra e
dela saíram com honras. Um dos rapazes que se recusaram a sair em
sentinela naquela noite e que me chamou de burro por pensar que ele
iria se expor loucamente ao perigo distinguiu-se por coragem antes de
completar mais um aniversário.
Naquela noite eu consegui montar aquele posto avançado de sen-
tinela, não pela autoridade, mas pela diplomacia. Convenci Bowers a
ir quando concordei em trocar minha patente pela dele durante al-
gum tempo e ir montar guarda com ele, como seu subordinado. Fica-
mos por ali durante umas duas horas em absoluta escuridão e na chu-
va, sem nada além das monótonas imprecações de Bowers contra a
guerra e a chuva para atenuar a monotonia; os olhos começaram a
pesar e tornou-se quase impossível ficar na sela; então desistimos da-
quele trabalho tedioso e voltamos para o acampamento sem esperar a
chegada do nosso substituto. Entramos no acampamento sem interfe-
rência nem resistência de quem quer que fosse, e o inimigo poderia ter
feito a mesma coisa, pois não havia sentinelas. Todos estavam dor-
mindo; à meia-noite não havia ninguém para sair, então não se envia-
ram batedores. Ao que me lembre, não tentamos mais fixar turnos de
vigilância durante a noite, mas durante o dia havia sempre um posto
avançado.
Naquele acampamento, todo o comando dormia sobre o milho
no depósito e geralmente havia uma agitação toda manhã, pois o lu-
gar estava cheio de ratos que passavam pelo corpo e pelo rosto dos
soldados, irritando todo mundo; uma vez ou outra eles se atreviam a
morder o dedo do pé de alguém, e o dono do dedo pulava, ampliava
seu inglês e começava a atirar milho para todos os lados no escuro. As
espigas tinham quase o peso de tijolos e machucavam quando acerta-
vam alguém. Quem era atingido respondia, e em cinco minutos to-
dos os homens estavam engalfinhados com os vizinhos. Muito san-
gue se perdeu no depósito de milho, mas este foi todo o sangue verti-
do enquanto eu estava na guerra. Não, não é bem verdade. Mas, não
FICÇÃO E JORNALISMO 361
fosse por uma circunstância, poderia ter sido. É disso que passo a
falar agora.
Passávamos por sustos freqüentes. Todo dia chegavam boatos de
aproximação do inimigo. Nesses casos, sempre nos retirávamos para
algum outro acampamento; nunca ficávamos onde estávamos. Mas os
boatos foram sempre falsos, então acabamos por ficar indiferentes a
eles. Uma noite um negro foi mandado ao depósito de milho trazendo
o mesmo aviso: o inimigo está chegando à nossa região. Dissemos ao
negro que o inimigo podia chegar aonde quisesse. Decidimos ficar no
conforto de onde estávamos. Foi uma bela decisão, uma decisão de
guerreiros, e sentimos a emoção correndo pelas nossas veias... durante
um instante. Estávamos nos divertindo a rodo, brincando como me-
ninos, mas a animação desapareceu imediatamente e logo o fogo de
palha das piadas e dos risos dos forçados morreu completamente e a
companhia ficou em silêncio. E nervosa. E logo depois inquieta, preo-
cupada, apreensiva. Havíamos dito que ninguém faria uma retirada, e
agora não tínhamos como livrar a cara. Alguém poderia nos ter con-
vencido a partir, mas ninguém tinha coragem de sugerir. Logo teve
início um movimento silencioso, um impulso difuso e sem voz. Com-
pletado o movimento, cada um de nós já sabia que não fora o único a
chegar até a paliçada para olhar entre os paus. Não, na verdade, está-
vamos todos lá; todos com o coração na boca, olhando para as calhas
de açúcar por onde passava o caminho que vinha da floresta. Já era
tarde, e por toda parte a imobilidade da floresta era sentida. Era uma
noite clara, de lua velada por uma névoa fina, que só nos permitia
distinguir a forma geral dos objetos. Logo um som abafado chegou
aos nossos ouvidos e reconhecemos o som de cascos de um ou mais
cavalos. Imediatamente apareceu uma figura no caminho da floresta;
poderia ser fumaça, pois o contorno era muito mal definido. Era um
homem a cavalo, e me pareceu que outros vinham atrás dele. Peguei
uma arma e enfiei pelo buraco entre os paus da cerca, sem nem mes-
mo saber o que estava fazendo, estava morto de medo. Alguém gritou
“Fogo!” e eu puxei o gatilho. Tive a impressão de ver cem raios e de
ouvir cem trovões e vi o homem cair da sela. Meu primeiro sentimen-
362 PATRIOTAS E TRAIDORES
não fora o único a atirar; cinco outros também atiraram; uma divisão
de culpa que para mim foi um bálsamo, pois de certa forma aliviava e
reduzia o peso de minha cruz. Seis tiros foram disparados ao mesmo
tempo. Mas, alterado como estava, minha imaginação excitada am-
pliou meu tiro numa fuzilaria.
O homem não tinha farda nem arma. Era desconhecido na re-
gião, foi o que conseguimos saber dele. Sua lembrança passou a vir
todas as noites assombrar o meu sono; não conseguia esquecê-lo. O
pensamento de que havia tirado aquela vida me parecia desumano.
Parecia um epítome da guerra; que a guerra era aquilo mesmo, matar
estranhos contra quem não tínhamos nenhuma animosidade; estra-
nhos que, em outra circunstância, poderíamos ter ajudado numa si-
tuação difícil, que teriam nos ajudado se precisássemos. Minha guerra
acabou ali. Senti que não estava preparado para coisa tão terrível; que
guerra era coisa de homens e que eu era mais um enfermeiro de crian-
ças. Decidi me afastar dessa falsa vocação militar enquanto ainda me
restava um pouco de respeito próprio. Estava irracionalmente obceca-
do por aqueles pensamentos, pois no fundo não acreditava ter ferido
aquele homem. A lei das probabilidades decretava que não era culpa-
do por aquele sangue; que nunca havia acertado coisa alguma que ti-
vesse tentado acertar, e que havia feito o máximo para acertá-lo. Mas o
pensamento não me consolava. Para uma imaginação doentia, nenhu-
ma demonstração tem valor.
O restante de minha experiência de guerra segue o mesmo padrão
do que contei até agora. Continuamos monotonamente a bater em
retirada para um ou outro acampamento, devorando a região. Até hoje
fico maravilhado pela paciência dos fazendeiros e de suas famílias.
Deveriam ter atirado em nós, mas, pelo contrário, eram hospitaleiros
e gentis, como se fôssemos merecedores. Num desses acampamentos
encontramos Ab Grimes, um piloto do Alto Mississípi que mais tarde
se tornou famoso como espião ousado cuja carreira foi marcada por
aventuras desesperadas. A aparência e o estilo de seus companheiros
de armas mostravam que eles não haviam entrado naquela guerra para
brincar, e seus feitos mais tarde confirmaram essa impressão. Eram
364 PATRIOTAS E TRAIDORES
O HOMEM QUE
CORROMPEU HADLEYBURG
(1899)
ro, para gastar, distribuir ou guardar, como preferir. Esta é apenas a for-
ma que encontrei de afirmar minha gratidão. Se me fosse possível ficar,
eu mesmo o encontraria; mas não importa, ele vai ser encontrado. Esta
cidade é honesta, incorruptível, e estou certo de que nela posso confiar
despreocupado. Esse homem será identificado pela frase que me disse;
tenho certeza de que ele há de se lembrar.
Este é o meu plano: se preferirem, os senhores poderão conduzir discre-
tamente esse inquérito. Informem o conteúdo desta carta a quem ima-
ginem ser o homem certo. Se ele responder, “Sou eu o homem e a frase
é tal e qual”, apliquem o teste: ou seja, abram o saco e lá encontrarão um
envelope selado contendo a frase. Se a frase citada pelo candidato for
igual a ela, entreguem-lhe o dinheiro sem mais perguntas, pois ele será
com certeza o homem certo.
Mas se preferirem um inquérito público publiquem esta carta no jornal
local – inclusive as seguintes instruções: dentro de 30 dias, que o candi-
dato se apresente no salão da prefeitura e entregue sua frase num enve-
lope selado ao reverendo Sr. Burgess (se ele aceitar tal incumbência); e
lá, no mesmo instante, o reverendo Sr. Burgess deverá romper os selos
do saco, abri-lo e verificar se a frase está correta; se correta, que o di-
nheiro seja entregue, com toda a minha gratidão, ao meu benfeitor as-
sim identificado.
“Que próxima vez!? Não vai haver próxima vez nem em mil anos.”
Os dois amigos então se separaram sem boa-noite e se arrastaram
para casa com o passo de homens mortalmente feridos. Em casa, as
duas mulheres se levantaram com um ansioso “E então?”... e viram a
resposta em seus olhos e se perderam em tristeza, sem esperar as pala-
vras. Nas duas casas começou uma discussão acalorada, uma coisa
anormal; já houvera discussões antes, mas nenhuma acalorada, eram
sempre educadas. As discussões daquela noite foram quase um plágio
uma da outra. A Sra. Richards disse:
“Você podia ter esperado, Edward... Devia ter parado para pensar,
mas não, tem de sair feito um louco até o jornal e contar para o mun-
do todo”.
“A carta dizia ‘publique’.”
“Isso não quer dizer nada; ela também dizia que, se você preferis-
se, podia fazer uma investigação discreta. Era verdade ou não era?”
“Era, era, mas quando eu pensei na comoção que ia ser, como ia
ser importante Hadleyburg ter sido a única merecedora da confiança
do estrangeiro...”
“É claro, eu bem sei disso tudo; mas, se você tivesse parado para
pensar, veria que era impossível encontrar o homem, porque ele está
enterrado e não deixou ninguém, nem filho, nem parente, nem namo-
rada; e que o dinheiro iria para quem precisava tanto, e que ninguém
seria prejudicado, e... e...”
Ela rompeu a chorar. O marido tentou pensar em alguma coisa
confortadora para lhe dizer, e saiu-se com esta:
“Mas afinal, Mary, deve estar tudo certo, tem de estar; a gente sabe
que está. E não podemos esquecer que essa foi a ordem que recebe-
mos...”
“Ordem! Tudo é ordem quando uma pessoa tem que inventar uma
desculpa para tanta estupidez. Mesmo assim, foi também ordenado
que o dinheiro viesse a nós dessa maneira especial, mas você tem de
discutir os desígnios da Providência, quem lhe deu esse direito? Foi
uma maldade, uma presunção blasfema, que não condiz com um hu-
milde professor de...”
FICÇÃO E JORNALISMO 377
“Mas, Mary, você sabe que nós fomos treinados toda a vida, como
toda a vila, e agora é como uma segunda natureza não parar para pen-
sar quando existe uma coisa honesta a ser feita...”
“Oh, eu sei, eu sei... foi um treinamento sem fim... treinar, ensaiar
honestidade... uma honestidade protegida de toda tentação; então é
uma honestidade artificial, e fraca como água quando chega a tenta-
ção, como nós vimos esta noite mesmo. Deus é testemunha de que eu
nunca tive a menor hesitação, a menor dúvida com relação à minha
honestidade petrificada e indestrutível, até hoje, e agora, com a pri-
meira tentação forte e de verdade, eu... Edward, acho que a honestida-
de desta cidade é tão podre quanto a minha, tão podre quanto a sua. É
uma cidade dura, cruel e sovina e não tem outra virtude, só essa ho-
nestidade que lhe dá tanta fama, e que lhe dá tanto orgulho; e sou
capaz de pôr a mão no fogo que no dia em que aparecer a grande
tentação essa reputação vai desmoronar como um castelo de cartas.
Pronto; já confessei, e estou melhor; sou uma fraude, e sempre fui
uma fraude toda a minha vida, mesmo sem saber. Que ninguém me
chame de honesta; eu não admito.”
“Eu... bem... Mary, eu também estou sentindo a mesma coisa; é
verdade. Parece estranho, tão estranho. Eu nunca acreditei... nun-
ca.”
Seguiu-se um longo silêncio; os dois mergulharam em pensamen-
tos. Finalmente a mulher ergueu os olhos e disse:
“Sei o que você está pensando, Edward”.
Os dois ficaram com a expressão embaraçada de quem foi pego
com a mão na botija.
“É uma vergonha, Mary, mas tenho de confessar...”
“Não tem importância. Eu também estava fazendo a mesma per-
gunta.”
“Espero que sim. Diga.”
“Você estava perguntando se alguém sabe qual era a frase que
Goodson disse para o estrangeiro.”
“É a pura verdade. Eu me sinto culpado e envergonhado. E
você?”
378 PATRIOTAS E TRAIDORES
II
Você não me conhece, mas isto não tem importância. Tenho algo a lhe
dizer. Acabo de chegar do México e fiquei sabendo do acontecido. É
claro que vocês não sabem quem disse a frase, mas eu sei, e sou a única
pessoa viva que sabe. Foi Goodson. Eu já o conhecia bem, há muitos
anos, e estava de passagem por sua cidade naquela mesma noite, hospe-
dado na casa dele, esperando a hora de embarcar no trem da meia-noi-
te. Ouvi quando ele disse a frase ao estrangeiro no escuro – foi no Beco
Hale. Ele e eu viemos conversando pelo caminho e na casa dele, en-
quanto fumávamos. Ele falou de muitas das pessoas da sua cidade – da
maioria em termos nada elogiosos, mas de dois ou três ele falou bem;
entre eles você. Insisto que ele falou bem, nada mais que isso. Lembro-
me de que ele me disse que na verdade não gostava de ninguém na cida-
de, mas que você – acho que foi você, tenho quase certeza – lhe havia
prestado um grande serviço, talvez até sem saber o valor do que tinha
feito, e que se tivesse uma fortuna ele gostaria de deixar para você quan-
do morresse, e uma banana para cada um dos outros cidadãos. Então,
se foi você mesmo quem prestou tal serviço, você é o herdeiro legítimo
e tem direito ao saco de ouro. Sei que posso confiar em você, na sua
honra e na sua honestidade, pois nos cidadãos de Hadleyburg tais qua-
lidades são uma herança irrefutável, e por isso vou lhe revelar a frase,
certo de que se não for o herdeiro você vai procurá-lo e encontrá-lo, e
ver que seja paga a quem lhe prestou aquele serviço a dívida de gratidão
do velho Goodson. A frase é esta: “Você está longe de ser um homem
mau: vá e emende-se”.
Howard Stephenson
“Oh, Edward, o dinheiro é nosso, estou tão feliz, tão grata... Beije-
me, há quanto tempo a gente não se beija... Precisamos tanto... o di-
nheiro... Agora você fica livre de Pinkerton e do banco, não vai ser
mais escravo de ninguém; estou tão feliz que podia voar.”
Foi uma meia hora feliz a que aquele casal passou ali no sofá a
trocar carinhos; voltaram os dias felizes de antigamente, os dias que
começaram com o namoro e que duraram até a noite em que o estran-
geiro trouxe o dinheiro fatal. Mas logo a mulher falou:
382 PATRIOTAS E TRAIDORES
“Ah, Edward, que bom que você lhe deu aquela ajuda, pobre
Goodson! Nunca gostei dele, mas agora eu o adoro. E como é bonito
você nunca ter mencionado nem ter se orgulhado disso.” Em seguida,
com um quê de censura, “Mas você devia ter me contado, Edward,
devia ter contado à sua mulher”.
“Bem, eu... é... bem, Mary, acontece...”
“Ora, pare de resmungar e me conte, Edward. Eu sempre te amei e
agora estou orgulhosa de você. Todo mundo pensando que só havia
uma alma generosa nesta cidade, e agora eu descubro que você... Ah,
Edward, por que você não me conta?”
“Bem... é que... Ora, Mary, eu não posso!”
“Não pode? Por que não pode?”
“É... é... bem... ele me fez prometer que não ia contar.”
A mulher olhou para ele e disse, lentamente:
“Fez você... prometer? Edward, por que você está me dizendo isto?”
“Mary, você acha que eu ia mentir?”
Ela ficou perturbada por um instante, então colocou sua mão na
dele e disse:
“Não... não... A gente já se desviou muito do caminho, Deus nos
livre! Em toda a sua vida você jamais disse uma mentira. Mas agora...
agora que tudo parece desmoronar debaixo de nós... nós...”. Perdeu a
voz por um momento, depois continuou desanimada: “Não nos deixeis
cair em tentação... Acredito que você fez a promessa, Edward. Vamos
esquecer. Não vamos entrar em terreno perigoso. Bem... agora já pas-
sou; vamos voltar a ser felizes; chega de nuvens”.
Edward teve alguma dificuldade em obedecer, pois a cabeça conti-
nuava longe, tentando lembrar qual havia sido o serviço que ele tinha
prestado a Goodson.
O casal passou a noite acordado, Mary feliz e agitada, Edward agi-
tado, mas menos feliz. Mary planejava o que ia fazer com o dinheiro,
Edward tentava se lembrar do que havia feito. De início a consciência
lhe doeu por causa da mentira que havia contado a Mary, se é que era
mesmo uma mentira. Depois de muito pensar, suponhamos que fosse
uma mentira? E então? E isso era tão importante? A gente não vive
FICÇÃO E JORNALISMO 383
valor”. Ora, era uma busca fácil, muito mais fácil do que as outras. E
logo ele descobriu qual seria. Muitos anos antes, Goodson estivera quase
a ponto de se casar com uma moça linda e boa, chamada Nancy Hewitt,
mas de uma forma ou de outra o noivado foi rompido; a moça mor-
reu, Goodson continuou solteiro, e com o passar do tempo tornou-se
amargo e passou a desprezar francamente a raça humana. Logo de-
pois da morte da moça, a cidade ficara sabendo, ou pensara ter desco-
berto, que a moça tinha um pouco de sangue negro nas veias. Richards
elaborou esses detalhes durante algum tempo, e no final ele pensou
lembrar de coisas relacionadas com eles que deviam ter se perdido na
sua memória por longa negligência. Ele se lembrava vagamente de ter
sido ele quem descobrira a história do sangue negro; que foi ele quem
a espalhou pela cidade; que a cidade contou a Goodson de onde tinha
chegado a notícia; e que dessa forma ele havia salvo Goodson de um
casamento com uma moça maculada; e que esse favor havia sido feito
sem que o autor tivesse uma idéia do seu valor, sem saber na verdade o
que estava fazendo; mas que Goodson sabia de seu valor e como havia
escapado por pouco, e portanto foi para o túmulo cheio de gratidão
por seu benfeitor, desejando ter uma fortuna para lhe deixar em testa-
mento. Como tudo agora estava tão claro e simples! E, quanto mais
pensava naquilo, mais aquilo lhe parecia certo e luminoso. Finalmen-
te, quando se preparava para dormir, satisfeito e feliz, ele se lembrou
de tudo como se tivesse ocorrido na noite anterior. De fato, ele até se
lembrava vagamente de que Goodson certa vez lhe havia dito de sua
gratidão. Enquanto isso, Mary já havia gasto 6.000 dólares compran-
do uma nova casa para ela própria e um par de chinelos para seu pas-
tor, e depois caiu num sono tranqüilo.
Naquela mesma noite de sábado o carteiro havia entregue uma
carta na casa de cada um dos outros principais cidadãos, 19 cartas no
total. Não havia dois envelopes iguais, e cada um estava sobrescritado
em letra diferente, mas as cartas eram todas idênticas à que Richards
havia recebido, inclusive a caligrafia; eram todas assinadas por
Stephenson, mas em lugar do nome de Richards cada uma trazia o
nome do destinatário.
386 PATRIOTAS E TRAIDORES
III
O PRESIDENTE:
“Ordem, senhores, ordem! Tomem seus lugares, os dois, por fa-
vor”.
Os dois obedeceram, meneando a cabeça e resmungando irrita-
dos. A platéia estava perplexa; não sabia o que pensar dessa curiosa
emergência. Thompson se levantou. Thompson era o chapeleiro. Ele
sonhava em ser um dos 19; mas tal não estava ao seu alcance: sua
ascendência não lhe dava direito àquela posição. Disse ele:
“Sr. presidente, gostaria de fazer uma pergunta, seria possível que
estes dois senhores tivessem razão ao mesmo tempo? Quero dizer, os
dois poderiam ter dito as mesmas palavras ao estrangeiro? Parece-me...”
O curtidor se levantou e lhe cortou a palavra. O curtidor era um
homem mal-humorado; considerava que devia ser um dos 19, mas
ninguém lhe reconhecia esse direito. Por isso seus modos e sua fala
eram antipáticos. Disse ele:
“Nada disso, a questão não é esta! Isto poderia ter acontecido duas
vezes em cem anos, mas não a outra coisa. Nenhum dos dois deu os 20
dólares!”
[Uma salva de palmas.]
BILLSON: “Eu dei!”
WILSON: “Eu dei!”
E cada um acusou o outro de roubo.
O PRESIDENTE:
“Ordem! Sentem-se, por favor... os dois. Posso garantir que as duas
notas nunca deixaram as minhas mãos”.
UMA VOZ: “Muito bem. Pelo menos alguma coisa está clara”.
O CURTIDOR: “Senhor presidente, uma coisa agora está clara: um
desses dois homens andou espiando debaixo da cama do outro, rou-
bando segredos de família. Se a sugestão não for considerada pouco
parlamentar, eu diria que qualquer dos dois seria capaz disso. [O pre-
sidente: Ordem! Ordem!] Retiro a insinuação, senhor, e vou me limi-
tar a sugerir que, se um dos dois ouviu o outro revelar a frase de teste
à mulher, agora é a hora de descobrir”.
UMA VOZ: “Como?”
FICÇÃO E JORNALISMO 393
PRESIDENTE: “A frase que disse ao... etc.: ‘Você está longe de ser um
homem mau. Vá’ etc. Assinado, Gregory Yates”.
UM FURACÃO DE VOZES: “Quatro símbolos!” “Viva Yates!” “Mais
um!”
O salão estava às gargalhadas, pronto a tirar o máximo de diver-
são que a ocasião pudesse oferecer. Vários dos 19, pálidos e acabru-
nhados, começaram a se esgueirar em direção às saídas, mas nesse ins-
tante ouviram-se muitos gritos:
“As portas! Fechem as portas; nenhum incorruptível vai deixar
este salão! Sentem-se, todos!”
A ordem foi obedecida.
“Mais um! Leia! Leia!”
O presidente tirou mais um e as palavras conhecidas começaram
a ecoar de seus lábios – “ Você está longe de ser um homem mau.”
“O nome! Quem é este?”
“L. Ingold Sargent.”
“Cinco eleitos! Vamos empilhar os símbolos! Continue! Conti-
nue!”
“Você está longe de ser um...”
“Nome! Nome!”
“Nicholas Witworth.”
“Viva! Viva! Hoje é o dia dos símbolos!”
Alguém começou a cantar esse verso ao som de uma linda canção,
muito conhecida; a platéia cantou em coro, alegre; então alguém can-
tou mais um verso:
E uma coisa não pode ser esquecida
O salão urrou em coro! Mais um verso foi cantado:
Corruptos não chegam a Hadleyburg
A platéia cantou também esse verso. Quando morreu a última
nota, ouviu-se claramente sobre o tumulto a voz de Jack Halliday can-
tando o último verso:
Mas símbolos? Pode apostar sua vida!
Esse verso foi cantado com estrepitoso entusiasmo. Então a pla-
téia recomeçou do início e cantou os quatro versos duas vezes em se-
FICÇÃO E JORNALISMO 399
guida, com muito ritmo, fechando com três vezes três vivas a
“Hadleyburg, a incorruptível, e a todos os seus símbolos que puder-
mos encontrar merecedores de tão honroso troféu!”
Recomeçaram então os gritos vindos de todos os lados:
“Continue! Continue! Leia! Leia mais! Leia todos!”
Vários homens se levantaram e começaram a protestar. Disseram
que aquela farsa era obra de algum engraçadinho à-toa e era um insul-
to para toda a comunidade. Todas aquelas assinaturas haviam sido
sem dúvida forjadas.
“Sentem-se! Sentem-se! Isso é uma confissão. Os seus nomes ain-
da vão entrar naquela pilha.”
“Senhor presidente, quantos envelopes o senhor tem em mãos?”
O presidente contou.
“Contando os que já foram lidos, são 19.”
Explodiu uma salva de palmas sarcásticas.
“Talvez todos tenham o mesmo segredo. Proponho que todos se-
jam abertos e lidas as assinaturas que acompanham frases semelhan-
tes, e que seja lida também a frase inicial.”
“Apóio a proposta!”
Foi votada e estrondosamente aprovada. Nesse instante o pobre
Richards se levantou, e sua esposa se levantou e se colocou ao seu lado.
Ela tinha a cabeça baixa, para que ninguém visse que estava chorando.
O marido lhe deu o braço, e assim, apoiando-a, começou a falar em
voz trêmula:
“Amigos, vocês nos conhecem há muitos anos... Mary e eu... toda
a nossa vida... e acho até que gostam de nós, que nos respeitam...”
O presidente o interrompeu:
“Permita-me dizer: isto é a verdade absoluta... o que o senhor está
dizendo, Sr. Richards: esta cidade conhece os senhores; gosta dos dois;
respeita os dois; mais que isso, ela ama os dois, e é honrada pelos se-
nhores...”
Ouviu-se a voz de Halliday:
“É a pura verdade! Se o presidente concordar, que esta assembléia se
levante e confirme. Levantem-se! Agora... hip! hip! hip! Todo mundo!”
400 PATRIOTAS E TRAIDORES
reconhecer. É isso, ele pagou para ver o meu par, e tinha um straight
flush, e o prêmio é dele por direito. E vai ser o grande prêmio, se eu
realizar o que estou pensando. Ele me desapontou, mas não há de ser
nada”.
Ele estava observando o leilão. Quando chegou a mil, o leilão es-
friou; os lances agora subiam pouco. Esperou, ainda observando. Uma
a uma, as pessoas saíam da disputa. Fez um lance, depois outro; espe-
rou um pouco e fez um lance aumentando em 50 dólares o anterior;
quando os lances já estavam aumentando apenas 10 dólares, ele subiu
cinco; alguém deu mais três; ele esperou mais um momento e cobriu
com mais 50 dólares e o saco era seu, por 1.282 dólares. A casa explo-
diu em vivas e parou, pois ele havia se levantado e erguido a mão.
Começou a falar.
“Gostaria de dizer uma palavra e pedir um favor. Sou especulador
de raridades e tenho negócios com pessoas interessadas em numismá-
tica em todo o mundo. Tal como está, esta compra já vai ser lucrativa
para mim, mas, se os senhores concordarem, posso aumentar o valor
desses discos de chumbo até seu valor de face de 20 dólares, talvez
mais. Concedam-me a sua aprovação, e eu ofereço parte do ganho
extra ao senhor Richards, cuja probidade invulnerável os senhores aca-
bam de reconhecer com tanta justiça e tanto entusiasmo; ofereço a ele
uma participação de 10 mil dólares, e o dinheiro lhe será entregue
amanhã. [Aplausos da platéia. A ‘invulnerável probidade’ fez o casal
Richards enrubescer, mas isso foi entendido como nada mais que uma
manifestação de modéstia, e não teve conseqüências.] Se os senhores
aprovarem minha proposta por boa maioria – se possível, uma maio-
ria de dois terços –, poderei entender que a cidade aprova a minha
proposta, e é tudo que peço. Qualquer coisa que aumente o interesse
sempre é benéfica para as raridades. Peço então a permissão dos se-
nhores para estampar nas faces de cada uma dessas moedas os nomes
dos 18 cavalheiros que...”
Nove décimos da platéia se ergueram num pulo, inclusive o ca-
chorro, e a proposta foi votada por um turbilhão de aplausos e garga-
lhadas.
FICÇÃO E JORNALISMO 407
IV
1. Duarte, Maria de Deus. “Mark Twain nos periódicos portugueses: 1890-1920: projeções e
silenciamentos”. In: Actas do I Encontro Internacional de Estudos Anglo-Portugueses. De 6 a 8 de maio
de 2001.
422 PATRIOTAS E TRAIDORES
GUERRA FILIPINO-AMERICANA
CRONOLOGIA DA
REVOLUÇÃO DOS BOXERS (1900)
CRONOLOGIA DA
GUERRA DOS BÔERES (1899-1902)
CRONOLOGIA DA
ANEXAÇÃO DO HAVAÍ (1897)
ANTIIMPERIALISMO
SAUDAÇÃO AO SÉCULO XX
A Salutation to the Twentieth Century
Jim Zwick, ed., Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-Imperialist Writings on the
Philippine-American War (Syracuse: Syracuse University Press, 1992).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/salutate.html [17-02-03]
A VOLTA DO ANTIIMPERIALISTA
Anti-Imperialist Homecoming
Jim Zwick, ed., Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-Imperialist Writings on the
Philippine-American War (Syracuse: Syracuse University Press, 1992).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/mtws_homecoming.html [21-01-2003]
A PROCISSÃO ESTUPENDA
The Stupendous Processsion
Paine, Albert Bigelow. Mark Twain: A Biography (New York: Harper & Brothers,
1912; BoondocksNet Edition, 2001). http://www.boondocksnet.com/twaintexts/
biography/ [21-01-2003]
INFORMAÇÕES
Information Wanted
Sketches, New and Old (Hartford, Conn.: American Publishing Company, 1875).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/infowanted.html [21-01-2003]
PATRIOTAS E TRAIDORES: DISCURSO EM JANTAR DO LOTOS CLUB
Patriots and Traitors: Lotos Club Dinner Speech
Jim Zwick, ed., Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-Imperialist Writings on the
Philippine-American War (Syracuse: Syracuse University Press, 1992).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/mtws_lotos010323.html [21-01-2003]
BEM-VINDO AO LAR: DISCURSO EM JANTAR NO LOTOS CLUB
Welcome Home: Lotos Club Dinner Speech
Jim Zwick, ed., Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-Imperialist Writings on the
Philippine-American War (Syracuse: Syracuse University Press, 1992).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/mtws_lotos001110.html [21-01-2003]
PARA AQUELE QUE VIVE NAS TREVAS
To the Person Sitting in Darkness
440 PATRIOTAS E TRAIDORES
Jim Zwick, ed., Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-Imperialist Writings on the
Philippine-American War (Syracuse: Syracuse University Press, 1992).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/persit.html [21-01- 2003]
OS ESTADOS UNIDOS DO LINCHAMENTO
The United States of Lyncherdom
Bernard de Voto, ed., The Portable Mark Twain (Nova York, Penguin Books, 1977).
PATRIOTISMO MONÁRQUICO E REPUBLICANO
Monarchical and Republican Patriotism
Jim Zwick, ed., Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-Imperialist Writings on the
Philippine-American War (Syracuse: Syracuse University Press, 1992).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/mtws_patriotism1908.html [21-01-2003]
PROGRESSO MATERIAL E A GANA DO DINHEIRO: CARTA A JOSEPH H. TWICHELL
Material Progress and Money Lust: Letter to Joseph H. Twichell
http://www.boondocksnet.com/twaintexts/letters/letter050314.html [21-01-2003]
CARL SCHURZ, PILOTO
Carl Schurz, Pilot
Harper’s Weekly (26 mai.1906).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/schurz_pilot.html [21-01-2003]
VERDADEIRO PATRIOTISMO NO TEATRO DAS CRIANÇAS
True Patriotism at the Children’s Theater
Jim Zwick, ed., Mark Twain’s Weapons of Satire: Anti-Imperialist Writings on the
Philippine-American War (Syracuse: Syracuse University Press, 1992).
http://www.boondocksnet.com/ai/twain/mtws_theater.html [21-01-2003]
HAVAÍ
RÚSSIA
ÁFRICA DO SUL
Mark Twain, Following the Equator – A Journey Around the World (Nova York,
Dover, 1989), capítulo LXVI.
AUSTRÁLIA
Mark Twain, Following the Equator – A Journey Around the World (Nova York,
Dover, 1989), capítulos X e XI.
GUERRA HISPANO-AMERICANA/FILIPINAS
CHINA
CONGO
SÓ UM NEGRO
Only a Nigger
Buffalo Express (Aug. 26, 1869).
http://www.boondocksnet.com/twaintexts/onlynigger.html [21-01-2003]
O NOBRE PELE-VERMELHA
The Noble Red Man
444 PATRIOTAS E TRAIDORES
FICÇÃO E JORNALISMO
ANTIIMPERIALIMO ....................................................................... 45
Saudação ao século XX .............................................................. 47
A volta do antiimperialista ........................................................ 48
A procissão estupenda ............................................................... 51
Informações ............................................................................... 53
Patriotas e traidores: discurso em jantar do Lotos Club .......... 56
Bem-vindo ao lar: discurso em jantar no Lotos Club .............. 60
Para aquele que vive nas trevas ................................................. 64
Os Estados Unidos do linchamento .......................................... 84
Patriotismo monárquico e republicano .................................... 94
Progresso material e a gana do dinheiro:
carta a Joseph H. Twichell ......................................................... 96
Carl Schurz, piloto ................................................................... 100
O verdadeiro patriotismo no teatro das crianças ................... 103
“250,000 Rally for Mark Twain”, de Mark América do Sul, 99, 130
Twain, 206n americanismo, 26
Abbot, Liman, 283 Amigos Americanos da Liberdade Russa
Aberdeen, 315 (American Friends of Russian Freedom),
Abraão, 112 32
Actas do I Encontro Internacional de Estudos Amigos Ingleses da Liberdade Russa, 146n
Anglo-Portugueses, 421n Anápolis, 203
Adão, 132, 331 anexação, 29, 53, 109, 118, 127
Afeganistão, 41 Antiga e Honorável Companhia de Artilharia
África, 264, 269; campos de diamantes da, 205 de Boston, 345
África Central, 288 antiimperialimo, 23, 27, 37, 43, 48, 85, 100
África do Sul, 14, 22, 47, 64, 73n, 75, 80, 83, Antiimperialismo: campanha, 56; causas, 10,
165, 166, 176, 183, 185, 204, 208, 243, 259, 25, 56, 421; debate, 21, 41, 203; escritores,
291 21; militância, 16, 19, 20, 27, 235, 259;
África do Sul: atividade mineradora, 167; pensamento, 20, 118, 200; propaganda,
invasão dos soldados ingleses, 177; 209; ver também escritos
legislação de controle à bebida, 167; antiimperialistas de Mark Twain
rebelião armada, 167, 169, 176; ver Anti-Imperialism in the United States, 1898-
também República Bôer e República Sul- 1935, de Jim Zwick, 225n
Africana anti-semitismo, 305
África do Sul tal como é, A, de Reginald “Aos meus críticos missionários”, de Mark
Statham, 169, 176n, 177 Twain, 263
“Against the empire”, de Michael Parenti, 32n Appomatox, 346n
agricultura, 115 Arauto Missionário, 367
Aguinaldo, Baldormero, 214 Argentina, 34
Aguinaldo, de Edwin Wildman, 214 Arkansas, 101n
Aguinaldo, Emílio, 24, 78, 79, 80, 209, 215, 216, Army and Navy Journal, 199
217, 218, 219 arquitetura, 191, 279
Alabama, 88 arte: galerias, 189
Alambra, Sr., 219, 221 artes, 153, 264, 268, 323
Alasca, 53, 55, 62n As regards patriotism, de Jim Zwick, 22n, 41n
Albany, 21 Ascensão de Silas Lapham, A (The Rise of Silas
Aldrich, 59 Lapham), de William Dean Howells, 20n
Alemanha, 22, 24n, 47, 74, 75, 285, 286, 310n, Ásia, 43
315, 318; tomada da baía de Kiao Chow, Associação Americana de Reforma do Congo
22, 47; ver também Prússia (American Congo Reform Association),
Alexandre III, 146 32, 263
Aliança Educacional do Lower East Side, 103, Associação dos Professores Homens da Cidade
105 de Nova York, 201
Amajuba, 178, 180, 181, 184 Associação Inglesa para a Reforma do Congo,
Ament, reverendo, 66, 67, 69, 239, 240, 241, 242, 263
243, 244, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251, Associação Internacional do Congo, 285, 286,
252, 255, 256, 257 292, 293
América, 75, 77, 106, 126, 140n, 191, 192, 194, Associação para a Reforma do Congo, 267, 288,
224, 231, 235, 236, 250, 260, 265, 269, 279, 290, 292
315, 318, 319, 320, 321, 368, 379 Associated Press, 378
América do Norte, 37, 131n Atenas, 66n
450 PATRIOTAS E TRAIDORES
Ceilão, 165, 185; ver também Sri Lanka Clemens, Olívia (esposa de Mark Twain), 14,
Célebre rã saltadora do condado de Calaveras 165
e outras histórias, A, de Mark Twain, 12- Clemens, Samuel Langhorne (Mark Twain), 10,
13, 423 11, 128, 156, 241, 327, 331, 345
censura, 321, 325, 366, 382, 401 Clemens, Samuel Langhorne (Mark Twain):
censura: a livros e bibliotecas, 28; às obras ataques de antagonistas políticos, 21; ca-
antiimperialistas de Mark Twain, 9, 10, samento, 13; co-editor de seus trabalhos,
21, 27, 38, 39, 40, 41 421; conferencista, 12; contador de ca-
Centro Geográfico do Campo Comercial sos, 12; correspondente, 12; crítico em
Oriental, 29 relação à política externa norte-ameri-
Century Magazine, 346 cana, 12; defensor do imperialismo, 10;
Chamberlain, Joseph, 72n, 72-73, 75, 76, 77, 79, edições póstumas, 37; especulador
83, 241, 245, 246, 247 fundiário, 12; falecimento, 9, 16, 20; fa-
Chancellorsville, 324 lecimento da filha caçula, 16; falecimen-
“Chapters From My Autobiography”, de Mark to da mãe e da sogra, 14; falecimento da
Twain, 15 mulher, 15; falecimento da primogênita,
Charles L. Webster & Co., casa editorial, 14 15; falecimento da segunda filha, 37; free-
Chicago, 23n, 319 lancer do Golden Era, 12; jornalista, 11;
Chicago Herald, 14 minerador de ouro e prata, 12; nascimen-
Chicago Tribune, 49, 88 to, 10; nascimento da primeira, segunda
Chili, província de, 67 e terceira filhas, 13; participação na Guer-
China, 22, 25n, 34, 47, 48, 49, 61, 64, 66, 67n, ra Civil, 182; piloto de barcos, 11, 345;
73, 74, 75, 85, 86, 91, 92, 93, 223, 231, 236, primeiro pseudônimo, 11; repórter, 12;
238, 239, 240, 242n, 244, 245, 247, 250, sócio e editor de um jornal, 13, 297; títu-
256, 260 lo honorário de doutor, 15, 329; volun-
China: cristianização, 92; movimento tário confederado, 12
Yihequan (Lutadores Virtuosos e Cleópatra, 327
Harmoniosos), 238; Rebelião dos Boxers, Cleveland, Grover, 286
64, 74; Revolução Boxer, 238, 239 Coffman, 310n
Christian Science, de Mark Twain, 15, 338 Colley, general Sir George, 177, 178, 179
Churchill, Winston, 259, 260 Colômbia, 30
cidadania, 103, 104, 105, 201, 309, 311 colonialismo: colônias, 29, 33, 34, 188, 189, 204;
Cidade do Cabo, 170 colônias anexadas, 24; colônias de língua
ciência, 123-124, 314, 323, 333, 337 inglesa, 190; colônias sul-africanas, 170;
Cincinnati, 319 expansão colonialista, 33; exploração
cinema, 420 econômica, 288; sem colônias, 35; ver
cinema: filmes de ação, 421; filmes de aventura, também imperialismo
421; musicais, 421 colonização, 33, 36
civilização, 29, 51, 52, 64, 70, 71, 72, 73, 74, 75, Colorado, 88, 89
78, 79, 83, 110, 127, 131, 188, 218, 222, Columbia Britânica, 14, 165
223, 236, 265, 287, 298, 301, 322, 340; comércio, 28, 29, 105, 115, 126, 167, 189, 193,
efeito devastador da, 109 265, 292, 322
Civilização na Terra do Congo, de H. R. Fox Comissão Parlamentar de Inquérito em
Bourne, 287 Londres, 169
civismo, 103; crise cívica, 94 Comitê para Propagação da Tradição, 404
Claflin, 127 Comitê Reformador, 173
classe: de colonos, 188; diferenças de, 194 Comitê Republicano Nacional, 29
classes, 199, 234, 288, 307, 316, 329 Companhia Bênçãos da Civilização, 70, 71, 82
classes sociais, 147 confederados, 197n
Clemens, Clara (segunda filha de Mark Twain), Conferência de Berlim, 285, 286, 292, 293, 294;
37, 165, 338 Ata de Berlim, 285
452 PATRIOTAS E TRAIDORES
Conferência de Bruxelas, 286, 293; Atas da Cuba, 21, 25n, 27, 34, 40, 60, 75, 76, 77, 78, 197,
Conferência de Bruxelas, 285, 287 243
Conferências de Mark Twain (Mark Twain cultura, 109
Speaking), 128 Curzon, Lord, 291
conflitos raciais, 19, 41 D’Arc, Joana, 14, 327
conflitos raciais, étnicos e religiosos: leis de Darwin, Charles, 25n, 338
segregação no sul dos Estados Unidos, 23; Dave, 197
linchamento, 84, 84, 87, 88, 89, 90, 91, De Londres a Pretória, de Winston Churchill,
297; preconceito de raça, 305, 307, 322; 259
preconceitos religiosos, 314, 316, 320 Deane, coronel, 177
Confúcio, 233 Decorah, 81
Congo, 32, 267, 272, 273, 277, 279, 282, 288, “Defesa do general Funston, A”, de Mark Twain,
289, 290, 291, 291n, 292, 293, 294 263
Congo: Carta do Congo, 265; Grande Fome, Delegação do Comitê Reformador, 173
277, 278; Estado Independente do, 263; democracia, 269
Estado Livre do, 149, 264, 265, 269, 284n, Depew, Chauncey, 57, 58, 59, 62
287 Desdêmona, 327
Connecticut, 15, 97, 130 desigualdade social, 185
Connolly, 127 despotismo, 147
Conselho para a Propagação e Preservação da “Desprezo pelo reles McKinley” (“Contempt
Reputação de Hadleyburg, 404 for the lousy McKinley”), de Mark Twain,
Conselho Privado, 118 40
Constituição: dos Estados Unidos, 27, 50, 185, Dewey, George Pomodoro, 76n, 77, 78, 91n, 197
233; da Finlândia, 153; do Havaí, 119, 120 Dewey, Jane, 23, 77, 78, 197
Cony, Carlos Heitor, 421 Dexter, 92
Cook, capitão James, 111, 112, 123, 130, 135, Diários de Adão e Eva, Os, de Mark Twain, 15
186 direito(s), 119, 185, 204, 223, 233, 252, 283, 294,
Cooper, Fenimore, 299 314, 317, 390, 392, 393
Correio de Portugal, 421 direito: a voto, 115, 167, 318; a voz, 346; de
Correspondência de Mark Twain (Mark conquista, 205; de expressão, 263; de falar,
Twain’s Letters), de Mark Twain, 40 181; de livre manifestação, 94; de
Costa, Iná Camargo, 42n oposição, 94; de seleção, 266; do
costumes, 136, 190, 193, 217, 252, 253, 255, 290 indivíduo, 95; individual de livre
Crawford, 59 manifestação, 30; internacional, 124;
crime, 87a, 152, 186, 233, 268, 287, 288, 298, público, 147
308, 311 direitos: autorais, 14, 15; da mulher, 332;
crime: assalto, 309; assassinato, 267, 288; humanos, 260; territoriais, 286
enforcamento, 87, 134; execução coletiva, Discursos de Mark Twain (Mark Twain’s
84; infanticídio, 136; massacres, 293; Speaks), de Mark Twain, 38, 40
roubos, 293, 311n; tortura, 52, 153, 209, Documentos Mark Twain (Mark Twain
222, 288 Papers), de Mark Twain, 37
cristianismo, 109, 114, 312, 313 Dolmetsch, Carl, 317n
cristianismo: cristandade, 47, 51, 70, 82, 96, 99; Drew, Daniel, 118n
cristão(s), 66, 72, 93, 113, 238, 242, 244, Dreyfuss, capitão Alfred, 308, 317n, 318n
249, 250, 252, 253, 273, 310, 311, 312, 313, Duarte, Maria de Deus, 421n, 423n
314, 315, 316, 319, 323, 324, 339; Cristo, Dubbo, 190, 191
52, 265 Duneka, Frederick A., 37
Croker, Richard, 64, 83 Dunlap, Peterson, 348, 356
“Cruz de Ouro”, de William Jennings Bryan, Dyke, Henry van, 259, 283
25n East Side, 65
Cruz Vermelha, 47 economia, 33, 34
ÍNDICE REMISSIVO 453
economia: capital, 33, 35, 36, 126; dívida, 124, ção de Cuba, 25n; anexação de países la-
278; emissões monetárias, 48; exército de tino-americanos, 34; anexação de terri-
empregados, 116; exportações, 72, 124; tórios espanhóis, 34; armamentismo
importações, 124; insumos, 167; naval, 29n; Associação de Educação Pú-
intervencionismo econômico, 36; blica, 239; ataques de 11 de setembro de
investimentos, 36; lucro, 35, 70, 110, 116, 2001, 42, 43; Ato de Exclusão dos Chi-
126, 236, 288, 312; orçamento anual, 125; neses, 231, 239, 259; Ato de Remoção,
renda, 131, 314; salário, 59, 113, 131; 299; Ato do Padrão Ouro, 25n; bases na-
subsídio, 54; tributos, 167; valor da terra, vais em Cuba, 29; bases navais nas Fili-
185 pinas, 30; bases navais em Guam, 30;
Editorial Inquérito, 422 bases navais em Porto Rico, 29-30; Câ-
Eduardo V, 17 mara Americana de Missões no Estran-
educação, 66, 113, 119, 126, 131, 200, 366 geiro, 239, 240, 242, 243, 247, 248, 250,
Egito, 98, 312, 315, 316 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257, 258;
Ellery, Sr., 291 campanha presidencial, 29, 48; campos
emprego, 151 de concentração de Weyler, 40-41, 43;
Encyclopedia Britannica, 319, 320 caráter nacional, 33, 34; Comitê de Ati-
English Review of Reviews, 287 vidades Antiamericanas, 43, 366; contra-
“Ensino da Bíblia e a prática religiosa, O”, de to congressional com Cuba, 82; Decla-
Mark Twain, 339, 340 ração de Independência, 114; defesa na-
Enterprise, 12 cional, 35; Departamento de Estado, 53;
Equador, linha, 111 Departamento de Guerra, 222, 305, 325;
Erie, Ferrovia, 118n Departamento de Patentes, 130; Doutri-
Escócia, 23n, 315, 322 na Monroe, 33; economia industrial, 34;
escola (s), 19, 86, 104, 113, 114, 115, 119, 123, educação das crianças, 66; Era Dourada
133, 153, 154, 167, 189, 201, 202, 214, 222, (Gilded Age), 185; espírito americano,
223, 231, 232, 268, 275, 313, 314 67; expansionismo, 34; Forças Armadas,
Escola Técnica Hebraica para Moças, 331 199; formação cultural do cidadão, 21;
Escola Tewksbury para Moças, 329 Guerra contra a tribo Pi-Ute, 304; Guer-
escravidão, 11, 17, 18, 30, 82, 94, 132, 152, 153, ra de 1812, 324; guerra revolucionária,
254, 264, 270, 272, 275, 347 305, 310n, 324, ver também guerras es-
escravidão: abolição, 18, 269; causa pecíficas; hegemonia econômica, 41; ide-
abolicionista, 30; tráfico, 287 ais republicanos, 28, 94; idéia da nature-
escravos, 84, 118n, 253, 264, 274, 276, 287, 303, za não-americana do imperialismo, 25;
312, 347, 370, 381 ideologia do Destino Manifesto, 33, 34;
escritos antiimperialistas de Mark Twain, 9, 20, Instrução Pública, 43, 201; intervenções
37, 41, 65, 199, 422, 423; ver também externas, 34, 35; Juramento à Bandeira,
antiimperialismo 42, 43, 201; Lei Ramapo, 57, 58, 59; li-
Espanha, 21, 34, 79, 99, 203, 204, 205, 314 berdades civis, 43; liberdades individu-
Estados Unidos da América, 9, 13, 15, 18, 20, ais, 57; Longa Rota das Lágrimas, 299;
21, 23n, 25n, 26, 27, 28, 33, 34, 35, 36, 37, marcha rumo ao Oeste, 19, 33, 34; Mari-
42, 43, 64, 65, 71n, 74, 75, 76, 77, 80, 83, nha, 29; medidas anticomunistas, 42, 43;
84, 96, 99, 103, 104, 105, 110, 110n, 117, mitos da nacionalidade, 19; mugwump,
121, 130, 132, 146n, 172, 185, 190, 199, 62; padrões de prata e de ouro, 48, 140n;
200, 203, 204, 209, 224, 231, 233, 238, 239, Pânico de 1873, 140n; política de livre
259, 265, 268, 283, 285, 286, 287, 292, 293, comércio com a China, 25n; política ex-
306, 307, 317, 318, 319, 320, 346, 366, 419, terna, 34; potência imperialista, 19, 34;
420, 421, 422 processo imperialista, 34; subjugar insur-
Estados Unidos da América: aliança militar reições armadas, 29, 64; territórios ane-
com os filipinos, 78; American way of xados, 24, 53; tese da Fronteira, 33, 34;
life, 419; anexação do Alasca, 53; anexa- ver também imperialismo
454 PATRIOTAS E TRAIDORES
justa, 60, 362; infantaria, 182; milícia, 188; Hazzard, capitão, 215
milícias estaduais, 30; navios de guerra, 54, Helena Reach, 101n
74, 78; teatro de operações, 181 Hendon, Miles, 17
Guerra Civil norte-americana 9, 11, 19, 30, 40, Henrique VIII, 17
84, 101n, 116, 182, 305, 324, 345, 346n, hererós, 204
356, 422 herói, 78, 114, 131, 172, 209, 215, 222, 316
Guerra Civil norte-americana: Acampamento heroísmo, 171, 218, 324
Devastação, 358; Acampamento Ralls, Herzl, doutor, 321
351, 358; batalha de Manassas, 197n; Bull Hesse, 310n
Run, 365; Confederação Sulista, 345, 351; Heth, Joyce, 327
Exército Confederado, 347; final, 9, 34, História da Austrália, A, de J. S. Lurie, 186n
42; início, 11; Patrulheiros de Marion História de uma crise africana, A, de Sr. Garrett,
(Marion Rangers), 345, 346, 348, 356; 169
período de reconstrução, 84; Primeira Ho Chi Minh, cidade de, 42
Bull Run, 197, 197n; unionismo, Holanda, 13
unionistas, 197n, 347 Homem que corrompeu Hadleyburg e outros
Guerra da Secessão: ver Guerra Civil norte- ensaios e histórias, O, de Mark Twain,
americana 305, 422
Guerra do Congo, 292 “Homem que corrompeu Hadleyburg, O”, de
Guerra do México, 40, 324, 351 Mark Twain, 15, 366
Guerra dos Bôeres, 22, 47, 72n, 73n, 80n, 96, Honolulu, 110n, 111, 113, 120, 122, 124, 137, 139
99, 176, 231, 259; derrota em Magersfon- Horn, estreito de, 119
tein, 73 Howard, major-general O. O., 324
Guerra Filipino-Americana, 22, 27, 31, 40, 47, Howells, William Dean, 20, 39, 57, 58, 259, 338
64, 71n, 96, 99, 224; Batalha de Manila, Humboldt, Sr., 125
76n Hunter, Sr., 161
Guerra Franco-Espanhola, 321n Hyde, planície, 354, 358
Guerra Fria, 30, 42, 43 Ianque na corte do rei Arthur, Um, de Mark
Guerra Hispano-Americana, 21, 23, 25, 29, 34, Twain, 10, 13, 16, 18, 118n, 340
42, 76n, 91n, 197, 199, 201, 203, 300 Igreja católica, 50
Guerra Hispano-Americana: bloqueio do igreja(s), 49, 86, 113, 119, 189, 225, 245, 248,
porto de Santiago de Cuba, 91n; fim do 251, 323, 327, 332, 336, 340, 379, 412, 413
império espanhol, 76n; final, 203 Ilhas do Pacífico Sul, 135
Guerra Russo-Japonesa, 25n, 96 imigração, 235, 239
Haia, 283, 291 imigrantes, 103, 189, 199, 231, 235
Haia, Tribunal de, 289, 291 imperialismo, 9, 10, 14, 23, 26, 27, 28, 29, 30,
Hammond, Sra., 172, 173 31, 32, 33, 35, 36, 39, 40, 41, 47, 48, 60,
Hannibal, 10, 11, 15, 18, 345, 347, 349, 357 64, 71-72n, 94, 96, 199, 259, 300, 423; ver
Hanói, 42 também colonialismo
Harper & Brothers, editora, 14, 37, 38, 225, 263 imperialismo: luta contra, 22, 96; pensamento,
Harper’s Magazine, 306, 321n 31; política, 72n; teóricos, 29
Harper’s Monthly, 324 império, 26, 28, 71n, 151, 169, 176, 319
Harpers Bazaar, 224 império: colonial, 28; informal, 35
Harris, reverendo John H., 288, 289, 290, 291 Império: Alemão, 265, 293; Americano, 201;
Harris, Sr. 125, 126 Áustro-húngaro (Áustria-Hungria), 316;
Harris, brigadeiro-general Thomas H., 359, 364 Macedônio, 32; Persa, 32; Romano, 32,
Hart, Sir Robert, 244 312, 316; Russo, 124
Hartfield, 18 impostos, 119, 122, 167, 232, 266, 283
Hartford, 13, 14, 157, 197, 332 impostos: alfandegários, 126; de importação de
Havaí, 14, 109, 110n, 118, 121, 122, 128, 134, bebidas, 138; sobre a propriedade, 115,
165; ver também Sandwich, Ilhas único, 186
456 PATRIOTAS E TRAIDORES
“Impostos e moral”, de Mark Twain, 339 jornalismo, imprensa, 48, 109, 171, 172, 264,
Independent, 252 273, 388
Índia, 14, 165, 185, 277, 288, 291, 341 José, 312, 313
Indiana, 88, 89 judeu(s), 305, 306, 307, 308, 309, 310, 311, 311n,
Índias Ocidentais, 218 312, 313, 314, 315, 316, 317, 317n, 318,
Indictement against the Congo Government – 318n, 319, 320, 320n, 321, 321n, 322, 323,
the Case Reviewed, 285n 324, 325; perseguição aos, 314, 315, 316,
índios, 304 319, 323
indústria, 9, 16, 19, 158, 192, 267, 306, 311n, justiça, 54, 154, 127
420 Kaltenleutgeben, 197
industrialismo, 185 Kamehameha V, 109, 117, 119, 120, 121, 123
Influência do poder marítimo sobre a história, Kasson, Sr., 286
A, de Alfred T. Mahan, 28 Keim, Dr., 304
Inglaterra, 13, 14, 17, 18, 23n, 75, 83, 96, 99, Kennan, George, 146
128, 172, 174, 176, 178, 179, 180, 185, 188, Khan, Gengis, 278
193, 194, 205, 223, 239, 259, 260, 267, 288, Kiao Chow, baía, 47
293, 313, 315, 317, 321, 329; política Kilauea, vulcão, 111, 113, 126, 138
externa, 72n; ver também Grã-Bretanha King, 18
e Reino Unido Kipling, Rudyard, 71n
Ingogo, 177, 180, 181 Kitchener, Plano, 80n
Innocents Abroad, The, de Mark Twain, 13 Klondike, região, 62, 62n
invasão, 70, 104, 170, 171, 173, 174 Knob Lick, 310n
Iowa, 81 Krakatoa, terremoto, 223
Iraque, 41 Krugersdorp, 176, 179, 181
Isabella, província, 216 Kutno, 154
Ivan, o Terrível, 278 Lacuna, 215
Jack, o Estripador, 87 Laffan News Service, 245
Jackson, Claib, 347 Lahaina, ilha, 111
Jackson, Clairbone F., 345 Laing Nek, 177, 179, 180, 181
Jackson, ilha, 17 Lampton, William J., 199, 200
Jacobz, 181 Lanalilo, William, príncipe, 117
James, Henry, 20n Lázaro, ressurreição de, 197
James, William, 23 Lee, Robert E., 346n
Jameson, doutor, 166, 169, 170, 171, 172, 173, Leopoldo II, 263, 268, 269, 275, 282, 286, 288,
174, 175, 176, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 289, 290, 291, 293, 294
184n Leopoldville, 283
Jameson, Fredric, 42 Levy, rabino M. S., 321n
Japão, 34, 36, 75, 96 Libertyville, 310n
Jefferson Barracks, 347 Liga Antiimperialista da Nova Inglaterra, 47
Jennings, 48 Liga Antiimperialista de Nova York, 24-25
Jim, 359 Liga Antiimperialista Norte-Americana, 10, 20,
João, 313 22, 23, 25, 34, 39, 71n, 338
Johannesburgo, 166, 167, 169, 170, 171, 172, Lincoln, Abraham, 31, 82, 213, 346
173, 174, 180, 184 línguas, idiomas, 112, 113, 114, 119, 132, 156,
Johnson, Samuel, 104 204n, 297, 348, 360, 419, 420, 422
Jolly, Beck, 100 literatura, 109, 323
Jones, Tommy, 234 literatura: adulta e infanto-juvenil, 420;
Jordan, David Starr, 283 antiimperialista, 24; “de ação”, 16; de
Jordão, rio, 114 massas, 421; em língua inglesa, 420;
Jorge III, 310 norte-americana, 9, 419, 420
jornais, 49, 189 Lloyd’s Weekly, 73
ÍNDICE REMISSIVO 457
Missouri, 10, 18, 24n, 58, 84, 85, 86, 88, 100, New York Sun, 245
310n, 345, 347, 351, 358, 359 New York Times, 154
Molino del Rey, 351 New York Tribune, 50, 65, 69, 109, 118, 245
monarquia, 28, 31, 60, 124, 131, 146, 205, 339; New York World, 48, 292
absoluta, 269, 270 Newton, capitão, 215
monarquismo, dogma do, 31 Niágara, Cataratas do, 87
monopólio, 167, 185, 189, 284n, 310n, 311, 312 “Niagara Falls”, de Mark Twain, 299
Monroe, condado, 364 Nicarágua, 34, 35
Morely, John, 267, 275 Nightingale, Florence, 327
Morgan, 140, 141 Nobel da Paz, Prêmio, 25n
Morrisson, reverendo W. M., 269 Norbury, Aberdeen, 275
Mount Pleasant, 177 North American Review, 25, 149, 240, 242, 245,
movimento: antiimperialista, 185, 20, 21, 23; 263, 286
contrário à extensão do direito de voto Nosso problema filipino: um estudo da política
aos negros, 23; das sufragistas, 331; em colonial americana, de Henry Parker
prol dos direitos da mulher, 135; Willis, 24
libertário, 27; norte-americano, 161; pelo “No tocante ao patriotismo”, de Mark Twain,
Imposto Único (Single Tax Movement), 40
185, 186; pragmático, 23n; revolucioná- Nova Gales do Sul, 186, 188, 189, 190
rio, 156, 238 Nova Inglaterra, 13, 313
movimentos, 23, 69, 161 Nova Jersey, 66
Mowbray House, 288 Nova Londres, vila, 350, 351
“Mulher – o orgulho de qualquer profissão e a Nova Orleans, 11, 319, 347
jóia da nossa”, de Mark Twain, 326 Nova York, cidade, 49, 50, 60, 64, 65, 66, 88, 89,
“Mulheres – uma opinião”, de Mark Twain, 329 118n, 161, 165, 235, 237, 240, 263, 279,
música, 114, 323 297, 306, 310, 319, 320
N’Cusa, Mulunba, 276 Nova York, estado, 347
nação, 22, 26, 28, 29, 32, 33, 35, 36, 40, 42, 49, Nova Zelândia, 14, 165, 185
50, 52, 57, 60, 68, 76, 78, 85, 94, 95, 99, Novgorod, 154
104, 105, 119, 132, 138n, 150, 151, 152, Novo Mundo, 35
153, 155, 187, 188, 206, 208, 209, 213, 233, Nunmally, Frances, 329
265, 266, 268, 269, 275, 283, 292, 293, 294, O que é o homem? E outros ensaios (What is
312, 313, 341, 390, 422 Man? And Other Essays), de Mark Twain,
nacional, 85 38, 338
nacionalidade, 322 Oahu, ilha, 110n, 122
nacionalismo, 199; xenófobo, 199 Oddell, Benjamin, 57, 58, 59, 62
Namens Studien, de Carl Emil Franzons, 320n Oggel, Terry, 41
Namíbia, 204n Ohio, 18
NBC, emissora, 42 Oklahoma, 299
negócios, 53, 58, 66, 70, 77, 82, 83, 131, 133, Onteora, 145
192, 203, 224, 271, 276, 278, 309, 313, 314, operário, 150; subempregado, 235
315, 316, 319, 323, 406, 410 “Oração da guerra”, de Mark Twain, 224, 225,
negros, 81, 84, 86, 87, 88, 92, 167, 175, 254, 255, 225n, 263
273, 274, 275, 285, 297, 298, 313, 357, 360, Ordem Antiga de Fazendeiros Unidos, 207n
385 Oregon, 43
neocolonialismo, 35 Oriente Próximo, 12
neoimperialismo, 35, 36 Orion (irmão mais velho de Mark Twain), 11,
Nevada, 12, 90, 302, 345 345
New Bedford, 158 ostracismo, 159
New Hampshire, 125 “Our Famous Guest”: Mark Twain in Vienna,
New York Herald, 27, 47, 50, 243, 244 de Carl Dolmetsch, 317n
ÍNDICE REMISSIVO 459
Oxford, universidade, 15, 329 Jim, 17, 18; Joe Harper, 18; John Canty,
Pacífico, oceano, 27, 50, 76n, 111, 126, 130, 139, 17; Johnny, 375; L. Ingold Sargent, 398;
141, 165, 232, 234, 236, 279 mago Merlin, 19; Muff Potter, 17; Nancy
Paige, James, 14, 165 Hewitt, 385; Nicholas Witworth, 398; os
Paine, Albert Bigelow, 15, 37, 38, 39, 40, 41, 225, Wilcox, 372; os Wilson, 372; Oscar B.
225n, 260, 340 Wilder, 400; Pap Finn, 18; pequena Bes-
Palanan, 215, 216 sie, 334; rei Arthur, 18; rei David Kalakua,
Palestina, 321 122; reverendo Sr. Burgess, 369, 371, 372,
Panamá, 34; luta pela independência da 373, 379, 387, 389, 390, 391, 393, 394, 401,
Colômbia, 30 411, 412, 413, 414, 415; Robert J. Titmar-
Panamá, canal do, 25n, 30 sh, 400; Sarah, 412; Sawlsbury, 373; Sr.
Papel de uma mulher na revolução, O, de Sra. Archibald Wilcox, 400; Sr. Barclay Goo-
John Hays Hammond, 169 dson, 371, 373, 374, 377, 378, 379, 381,
“Para aquele que vive nas trevas”, de Mark 382, 383, 384, 385, 386, 388, 403; Sr. Bur-
Twain, 22, 25, 239, 242, 249, 263 gess, 336; Sr. Cox, 371, 374, 375, 378, 379;
Parenti, Michael, 32, 35 Sr. Edward Richards, 369, 370, 371, 372,
Paris, 34, 165 373, 374, 375, 376, 377, 379, 380, 381, 382,
Paris, Tratado de, 21, 24, 28, 50, 71n; campanha 383, 384, 385, 386, 391, 392, 393, 394, 396,
contra a ratificação do, 24 397, 398, 399, 400, 401, 402, 404, 405, 406,
Parker, Sir Gilbert, 275 408, 409, 410, 411, 412, 413, 414; Sr. Ho-
Parlamento Belga, 281 llister, 336, 337; Sr. John Wharton Bill-
partido, 307, 308, 317 son “Colete-Curto”, 386, 390, 391, 392,
Partido: Anti-doughnut, 206, 207, 207n; 393, 394, 395, 396, 397; Sr. Parsons, 405;
Democrata, 118n, 135; Republicano, 24n, Sr. Pinkerton, 379, 381, 386, 387, 397,
62 407, 411, 412; Sr. Thrulow G. Wilson, 387,
partido(s) político(s), 105, 223, 407 390, 391, 392, 393, 394, 395, 396, 397, 404;
pátria, 31, 92, 95, 94, 317 Sra. Cox, 375, 378; Sra. Mary Richards,
patriota(s), 22, 31, 52, 57, 74, 77, 79, 94, 103, 368, 369, 370, 371, 372, 373, 375, 376, 377,
131, 154, 202, 213, 214, 220, 222, 223, 224, 378, 379, 380, 382, 383, 384, 385, 399, 401,
226, 305, 324 405, 408, 409, 410, 411, 412, 413, 414; Sra.
patriotismo, 22, 30, 31, 43, 56, 57, 58, 92, 94, Welch, 336; Sra. Wilcox, 386; Thompson,
95, 101, 103, 104, 105, 149, 150, 153, 201, o chapeleiro, 392, 393, 396, 397, 402, 404;
202, 206, 213, 221, 222, 324 tia Sally, 297; Tom Canty, 17, 18; Victo-
paz, 53, 54, 62, 170, 270, 287, 307, 308, 309 ria, 122, 123; Wingate, o seleiro, 402, 404
Pendergrass, Moses, 310n Peterburger Zeitung, 154
Penn, Sr., 204 Philadelphia North American, 199
Pensilvânia, 89, 204 Phillips, Lionel, 169, 173
“Pequena Bessie auxilia a Providência, A”, de Pierce City, 84, 86, 87
Mark Twain, 334 Pinta, caravela, 301
Pequim, 238, 240, 241, 243, 244, 245, 246 Pittsylvania, 84
Percy, Sir, 288 Plehve, 153
personagens das obras de Mark Twain: Bar- Plum Point Bend, 101n
num, 404; Billy Norris, 334; Camelot, 18; política, 25n, 31, 33, 34, 49, 65, 66, 100, 102,
conde de Hertford, 17; “doutor” Clay 134, 208, 257, 282, 321, 330, 331
Harkness, 407, 409, 410, 412; Dr. Robin- Pond, major, 165
son, 17; Eliphalet Weeks, 400; George Port Arthur, 75
Yates, 386; Gregory Yates, 398; Hank “Por telefone”, de Mark Twain, 421
Morgan, 18, 19; Howard Stephenson, Porto Rico, 23, 29, 55
381, 383, 385, 409, 410; Huck Finn, 16- Portugal, 421, 422
17, 18; Injun Joe, 17, 299; Jack Halliday, Poskine, M. Alfred, 264
379, 380, 386, 387, 394, 398, 399, 404, 405; Post, Louis F., 24
460 PATRIOTAS E TRAIDORES
povo(s), 27, 29, 31, 35, 48, 50, 64, 70, 78, 86, 87, revolução, 26, 28, 147, 149, 169, 170, 174, 289,
119, 120, 127, 131, 132, 135, 136, 137, 140, 305
141, 151, 154, 161, 171, 190, 204, 212, 213, Revolução Francesa, 310, 317
217, 223, 253, 275, 285, 293, 307, 309, 312, Revolução Russa, 32
323 Rhode Island, 130, 192
Pratt, Abner, 127n Rhodes, Cecil, 169, 170, 171, 172, 174, 184n
Pretória, 166, 172 Rio Grande, 215
Primeira Guerra Mundial, 29n, 72n Rio Monbogo, 272
Príncipe e o plebeu, O, de Mark Twain, 10, 13, Riverdale, 15
16, 17, 103 Robson, Richmond Pearson, 91n, 197
“Procissão estupenda, A”, de Mark Twain, 51 Rodgers, Henry Hatson, 14
produção, 29, 33, 167, 189, 279 Romanoff, dinastia, 153
progresso, 19, 73, 78, 79, 83, 96, 98, 99 Roosevelt, Theodore, 15, 25, 28, 33, 34, 60, 61,
Projeto Mark Twain (Mark Twain Project), 37 91n, 292
propaganda, 91 Rotschild, Sr., 310
propriedade, 50, 54, 68, 113, 168, 192, 197, 204, Rull House, 23n
242, 249, 265, 266, 268, 283, 284n, 292, Ruskin, Sr., 291
293, 310, 316, 384, 414 Russell, Sr., 176, 177, 178
propriedade: comercial, 71; da terra, 185, 186; Rússia, 22, 47, 73, 75, 96, 99, 145, 146, 147,
privada, 53, 185 148, 149, 150, 152, 153, 156, 161, 313,
Prússia, 319, 320; ver também Alemanha 315, 319
Public Opinion, 81 Rússia: agitação pró-reforma, 147; causa
Pudd’nhead Wilson’s new Calendar, de Mark revolucionária, 150, 156; cossacos, 154;
Twain, 165, 173, 183, 186, 190, 342 Domingo Sangrento, 149; exílio, 148;
“Quarter-less-twain”, 101n ocupação da Manchúria, 22, 47; partidos
Quaker City, 129 para a libertação, 146, 147
Quéops, pirâmide de, 279 Rússia Livre, 145
raça, 31, 120, 132, 141, 217, 218, 234, 236, 298, Saara, 268
307, 308, 309, 310n, 312, 316, 317, 319, Sabino, Fernando, 421
320, 320n, 322, 323, 339, 385 Sacramento Union, 12, 109
racismo, 297 Sacramento, 122, 139
Ralls, condado, 350 Saint Louis, 15, 131, 268, 347
Ralls, coronel, 351 Salisbury, Sr., 72n
“Ready if needed!” (Pronto se necessário!), de Salomão, 125
William J. Lampton, 199 Samar, 210, 222
Real Igreja Católica Reformada Havaiana, 123 San Francisco, 12, 109, 116, 126, 130, 231, 232,
Redpath, James, 359 233, 234, 279, 319
reforma, 90n, 136, 167, 170, 283; social, 185 Sandwich, Ilhas, 12, 109, 110, 111, 117, 121,
Reichsrath, 318 127n, 128, 129, 130, 131, 132, 136, 138,
Reid, Whitelaw, 24 139; ver também Havaí
Reino Unido, 13; ver também Inglaterra Santiago de Cuba, porto de, 91n
religião, 41, 67, 86, 113, 114, 119, 123, 151, 264, Santo Sepulcro, 313
300, 307, 308, 313, 316, 334, 338, 339, 340, São Petesburgo, 149
341; tolerância religiosa, 19 São Tomás, ilha, 53, 54, 55
república, 26, 28, 35, 50, 81, 147, 161, 167, 168, “Saudação do século XIX ao século XX”, de Mark
169, 176, 178, 201, 213, 214, 223, 233, Twain, 22, 25, 47, 51
República Bôer, 72n, 178; ver também África Savonarola, Girolamo, 90, 90n
do Sul Schreiner, Oliver, 183
República Dominicana, 34 Schurz, Carl, 24, 100, 101, 102
República Sul-Africana, 169; ver também Scopes, julgamento de, 25n
África do Sul Scrivener, reverendo A. E., 270
ÍNDICE REMISSIVO 461
Três Cidades, de Émile Zola, 317n voto, 207, 318, 333, 407; feminino, 19, 331
Tribune, 13, 242, 243, 244, 246, 252 Walbaum, Sr., 291
Turgenev, Ivan, 13 Waldorf Astoria, 259
Turner, Frederick Jackson, 33 Waleer, major, 222
Twain, Mark, ver Clemens, Samuel Langhorne Wanamaker, John, 283
Tweed, William Marcy, 118, 118n Ward, Sr., 252
Twitchell, reverendo Joseph H., 40, 96, 197, 239, Warfield, governador, 204
338 Warner, Charley, 197
União Soviética, 43 Warwick, castelo de, 18
Union Square, 88, 310 Washington D.C., 292
universidades, 119, 123, 420 Washington, Clube de Correspondentes de,
urbanização, 19 326, 327
Uruguai, 34 Washington, 43
Vaal, rio, 73n Washington, George, 31, 78, 82, 209, 210, 211,
Vagabundo no estrangeiro, Um, de Mark 212, 213, 214, 220, 221, 222, 310, 326, 327
Twain, 13, 340 Washington, Monumento a, 126
Vancouver, 50 Wellington, 321n
Vanderbuilt, Cornelius, 118n Wenchiu, região, 67, 242
Veneza, 75 Weyler, general, 223
Vernon, Eduard, 159n “What Is Man?”, de Mark Twain, 15
Vesúvio, vulcão, 138 Whiteside, Sr., 291
Via Láctea, 323 Wildman, Edwin, 209, 214, 219
Viagem ao longo do Equador, de Mark Twain, William, príncipe, 120, 121
339, 340, 341 Willis, Henry Parker, 24
Vicksburg, 346n Windsor Hotel, 89
Victoria, 190 Winslow, Sra., 138
Vida de Mark Twain, A, de Albert Bigelow Wolseley, Sir Garnt, 176
Paine, 340 Woodbull, Sr., 127
Vida no Mississípi, A, de Mark Twain, 13 Woods, Sr., 298
Vieira, José Geraldo, 421 Yale, 59
Viena, 197, 305, 316, 322 Yangzi, rio, 238
Vietnã, 41, 42 Yukon, território, 62n
Villard, Oswald Garrison, 23 Zimbábue, 73n
Villia, Sr., 219, 221 Zola, Émile, 317, 317n
Virginia City, 197n, 345 Zwick, Jim, 9, 22, 24n, 25n, 26, 27, 29, 29n, 31n,
Virgínia, estado, 84, 140, 37, 39, 41, 43, 225n, 241n, 243n, 250n,
Virgínia, Ferrovia, 197n 257n, 306n, 320n
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