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Fome e
Fascismo
Autor:
Douglas Tottle
Tradução
Leonardo Griz Carvalheira
Introdução ao estudo do
Holodomor
Klaus Scarmeloto
Posfácio
João Carvalho
Fraude,
Fome e
Fascismo
Autor:
Douglas Tottle
Tradução
Leonardo Griz Carvalheira
Introdução ao estudo do
Holodomor
Klaus Scarmeloto
Posfácio
João Carvalho
Copyright ©2022 – Todos os direitos reservados a Editora Raízes da América.
Conselho Editorial:
João Rafael Chío Serra Carvalho: Mestre em História Social pela USP,
Doutorando em História Social da Cultura pela UFMG;
Apoena Canuto Cosenza: Mestre em História Econômica pela USP, Doutor
em História Econômica também pela USP.
Fraude, Fome e Fascismo: o mito do genocídio ucraniano de Hitler a Harvard / Douglas Tottle; Tradução de Leonardo
Griz Carvalheira; Posfácio de João Rafael Chío Serra Carvalho. – 1. ed. – São Paulo : Editora Raízes da América, 2022.
272 p.; il.; gráfs.; fotografias. 16 x 23 cm.
Título original: Fraud, Famine and Fascism: The Ukrainian Genocide Myth from Hitter to Harvard.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-994637-7-8.
CDD 320.531
CDU 316.323.72
Eduardo Neves
Vasco Trindade
CAMARADA CHARLES ENGELS, PRESENTE!
Em primeiro Lugar, seria impossível descrever a trajetória de vida de uma
pessoa tão grandiosa, sem antes citar uma frase muito conhecida de um dos
seus revolucionários mais admirados. “ permita-me dizer-vos, com risco de
parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes senti-
mentos de generosidade, é impossível imaginar um revolucionário autentico
sem esta qualidade” (CHE GUEVERA)
E é exatamente assim, que podemos descrever a memória do camarada
Charles, sempre muito motivado por grandes sentimentos de generosidade e
compromisso com a verdade.
Um homem de ideias brilhantes, preocupado com o próximo e com as
injusticas sociais que permeiam nossa atual estrutura política. Historiador,
comunista e professor, o camarada dedicou grande parte de sua vida, desen-
volvendo trabalhos nas redes sociais, onde disseminava conhecimento e atuava
politicamente com o fim de informar e influenciar diversos segmentos sociais.
Sua página no facebook, o “Acervo do conhecimento histórico”, possui
atualmente mais de 200 mil seguidores, permanecendo ativa através da ajuda
de moderadores de inteira confiança. Além desse trabalho, o camarada possuía
outros projetos nas redes sociais e em outras mídias como, o Instagram com o
“acervo histórico” que acumulava um total de 60 mil seguidores, também pos-
suía seu canal no youtube, “opinião do professor” onde o mesmo expressava
sua análise política sobre a sociedade. Recentemente, construiu um estúdio de
gravação, onde pôde realizar muitos debates políticos nas eleições municipais
de 2020 trazendo diversos candidatos para apresentarem seus projetos, apenas
com o intuito de esclarecer as massas. Ele também criou a conhecida comuni-
dade Josef Stalin e a página de mesmo nome no Facebook. O professor Charles
se declarava MARXISTA-LENINISTA com orgulho e fazia valer o nome que
carregava de Friedrich Engels, por ser um revolucionário leal e fiel as suas con-
vicções.
Perdemos um companheiro de grande prestigio e influencia, mas ganha-
mos um grande referencial de luta de classe, um verdadeiro apaixonado pelo
revolução, suas ideias sempre perduraram em cada camarada que o conheceu,
pois seu legado e sua memória sempre estarão presentes dentro de cada passo
e avanço de uma sociedade mais justa onde o povo viva de forma digna.
Sua luta política começou muito jovem na militância do (PCB-PA), Par-
tido Comunista Brasileiro, onde pertenceu a (UJC) União da Juventude Co-
munista, no final da década de 90. Em 2008, foi dirigente do comitê provisório
do (PCB-PA), junto com alguns camaradas leais ao partido, em 2020 o cama-
rada voltou ao partido comunista, onde participou do ativo do (PCB-PA) atu-
ando na célula dos servidores, como secretario de formação.
Mas tudo isso só foi possível, graças a influência de seu avô Roberto Sales
Moraes e seu pai Giovani Tacilo Garcia Moraes, ambos comunistas, que con-
duziram com muito êxito um homem que soube desenvolver suas próprias
analises políticas e sociais.
Capaz de contagiar as massas, com seu carisma e discurso muito bem fun-
damentados em conhecimento, ideias e princípios verdadeiros, o professor
Charles, era muito querido nos lugares em que atuava, Jamais encontraremos
outro com tanta determinação, amado e odiado pelos que tentaram negar a
verdade e a justiça.
Para o professor Charles, a grande arma reside no conhecimento, nos fa-
tos reais, tendo como testemunho sempre a verdade, e aqui estamos buscando
ela, dia após dia, e onde quer que o camarada esteja, a memória dele vive em
nossos corações junto com o sentimento de revolução que ele nos despertou.
“HASTA LA VICTORIA, SIEMPRE” EM MEMORIA DE CHARLES EN-
GELS CHAVES MORAES
I INTRODUÇÃO AO ESTUDO
DO HOLODOMOR
ORIGEM DO CONCEITO DE HOLODOMOR E SEU OBJETIVO ATUAL .......... 15
ANEXO I................................................................ 74
ANEXO II............................................................... 76
SUMÁRIO
II FRAUDE, FOME E
FASCISMO
AGRADECIMENTOS........................................................ 87
INTRODUÇÃO ............................................................ 89
CAPÍTULO 6: GUERRA FRIA II: A CAMPANHA DOS ANOS 1980 .......... 149
Bibliografia.......................................................... 257
1
Verificar: FURR, Grover. The “Holodomor” and the Film “Bitter Harvest” are Fas-
cist Lies. Disponível em: https://www.counterpunch.org/2017/03/03/the-holodomor-
and-the-film-bitter-harvest-are-fascist-lies. Acesso em 1 de Dezembro de 2021.
2
МАРЧУКОВ, Андрей. Операция “Голодомор”. MARCHUKOV, Andrey. Operação
Holodomor. Disponível em: <https://bit.ly/3Hea41y>. Acesso em 1 de dezembro de 2021.
16 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
3
Idem. Ibidem.
4
Sobre o assunto ver FURR, Grover. The Mystery of the Katyn Massacre: The evidence,
The solution. Nova York: 2019, Erythros Press.
ORIGEM DO CONCEITO DE HOLODOMOR E SEU OBJETIVO ATUAL| 17
5
LOSURDO, Domenico; NOVAES, João; MACHADO, Rodolfo. Losurdo: pro-
dução das emoções é novo estágio do controle da classe dominante. Disponí-
vel em https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/31593/eua-sao-o-pior-inimigo-
da-democracia-nas-relacoes-internacionais-diz-filosofo-italiano. Acessado em 19/01/2022.
6
Ver a matéria a seguir para perceber o quanto a antiga URSS se encontra em total “latinização”.
https://bit.ly/3pyT7bVl
7
Ver o posicionamento do secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, Oleksiy
Danilov https://bit.ly/3FHQDOk.
8
Голодомор – это фейк, – выдающийся украинский история Петр Толочко. TO-
LOCHKO, Petr Petrovich. O Holodomor é Falso. Disponível em: <https://golos-
pravdy.eu/golodomor-eto-fejk-vydayushhijsya-ukrainskij-istorik-petr-tolochko>. Acesso em:
1 de Dezembro de 2021.
9
Idem. Ibidem.
10
Idem. Ibidem.
18 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
não consigo aceitá-la porque sou um historiador e sei que havia fome em quase
todas as regiões produtoras de grãos da União Soviética”11 . Quase sem exce-
ção havia fome “No Kuban, a região do Volga e o Cazaquistão”12 . Longe de
eximir de responsabilidade os comunistas e o Partido Comunista da União So-
viética sobre o incidente, Tolochko afirma: “O que se pode, evidentemente, é
questionar o governo soviético ou os comunistas pela fome”13 . Mas “afirmar
que a fome foi gerada para a destruição deliberada do povo ucraniano é, claro,
uma mentira completa, tudo isto é especulativo”.14 Nada disso é feito pura e
simplesmente atoa. “Mas, isso é dirigido contra Moscou, já que proclamamos
um rumo para a integração europeia e até o chamamos de “nossa escolha civi-
lizacional”15 . Portanto, “tudo o que é contra Moscou e a Rússia funciona, ao
que parece, para a integração europeia”16 .
É certo que a posição expressa neste texto introdutório se distanciará um
pouco dessa abordagem, mas, sem dúvida, Tolochko ganha importância não
só por ser ucraniano, e sim por ser especialista na história medieval da cha-
mada Rússia de Kiev que aborda a existência milenar conjunta da Rússia com
a Ucrânia, passado comum indissolúvel.
Analisando os livros didáticos para o ensino fundamental Tolochko en-
controu erros maciços. “Os livros são incrivelmente ideologizados. Nos pri-
meiros períodos históricos, tudo era declarado como meramente ucraniano —
de Tripillya a Kievan”17 . Assim “esse absurdo é introduzido nos livros didáti-
cos com objetivos atuais, e as crianças, claro, já absorvem essa mitologia”18 . Por
exemplo, “os ucranianos criaram a Rússia de Kiev. Por um período posterior,
após Bohdan Khmelnytsky, há uma linha negligenciada continuamente”19 .
Por fim, esta linha negligenciada aparece “como um tipo de buraco negro na
história da Ucrânia”20 . Segundo essa projeção, há o estimulo a vergonha no
passado comum dos povos ucranianos e soviético-russos, incentivado para se
11
Idem. Ibidem.
12
Idem. Ibidem.
13
Idem. Ibidem.
14
Idem. Ibidem.
15
Idem. Ibidem.
16
Idem. Ibidem.
17
Idem. Ibidem.
18
Idem. Ibidem.
19
Idem. Ibidem.
20
Академик Петр Толочко: “Нельзя отдать на растерзание Ющенко нашу общую
историю”. Tolochko, P. Não podemos dar nossa história comum à misericórdia de
Yushchenko. Disponível em: <https://iz.ru/news/342642>. Acesso em 1 de Dezembro de
2021.
ORIGEM DO CONCEITO DE HOLODOMOR E SEU OBJETIVO ATUAL| 19
21
Holodomor Cortina de Fumo do Regime. Disponível em: <http://www.hist-
socialismo.com/docs/Golodomor-Acortinadefumodoregime.pdf>. Acesso em 20 de Maio
de 2020.
22
Idem, Ibidem.
23
Idem, Ibidem.
24
Idem, Ibidem.
25
Idem, Ibidem.
26
Infelizmente, munições alemãs foram encontradas nos túmulos de Katyn. A questão de como
eles chegaram lá precisa ser esclarecida. É o caso de munições vendidas por nós durante o
período de nosso acordo amigável com os russos soviéticos, ou dos próprios soviéticos jogando
essas munições nas sepulturas. Em qualquer caso, é essencial que este incidente seja mantido
em sigilo absoluto. Se fosse para chegar ao conhecimento do inimigo, todo o caso Katyn teria
que ser abandonado. GOEBBELS, J. The Goebbels Diaries 1942 – 1943. Doubleday 8c
Company, Inc. Garden City 1948 New York. PAG 354. Tradução Nossa.
20 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
36
Idem. Ibidem.
37
Idem. Ibidem.
38
Idem. Ibidem.
39
Idem. Ibidem.
40
Idem. Ibidem.
41
Idem. Ibidem.
42
Idem. Ibidem.
43
Idem. Ibidem.
44
Idem. Ibidem.
24 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
rias gerações, seus ideais, conquistas e sucessos, deve ser declarado artificial e
falso”45 .
Assim, “uma base é lançada para a deseroização do passado”,46 com “a di-
famação de feitos históricos (por exemplo, Vitória na segunda guerra, uma des-
coberta no espaço, a transformação do país em uma poderosa potência cientí-
fica e industrial) e abre o caminho para novos “heróis” e “marcos sagrados”47 .
Não é por acaso que a campanha de promoção do “Holodomor” está sendo
conduzida em paralelo pelas mesmas pessoas que fazem a “revisão” da história
da Grande Guerra Patriótica, com a exaltação de Stepan Bandera e da Orga-
nização dos Nacionalistas Ucranianos e seu braço armado a UPA (Exército
Insurrecto Ucraniano), em persistentes tentativas de igualar a União Soviética
com o Terceiro Reich. Todos esses são elos da mesma cadeia.48
Ademais, não é só a Ucrânia que vem passando pela queda constante de
sua população paralelamente após a queda do socialismo. Este processo acon-
tece em quase todo Leste europeu também. Há uma tentativa de se criar o véu
do holocausto soviético e socialista de leste para tirar de cena as evidências dos
crimes contra as nações de Leste e das antigas repúblicas soviéticas e seus povos
que vem diminuindo após a queda do socialismo.
“A este propósito o professor e historiador Mikhail Rodionov observou
que “as perdas demográficas da atual Ucrânia ultrapassam largamente a mor-
talidade nos anos da fome. A população da Ucrânia diminui sistemática e
constantemente. Em algumas regiões do Leste do país a população diminuiu
20%”49 . O tigre de papel, quer se passar por um cão pastor, que se coloca pelos
interesses mais humanos possíveis. No entanto, a verdade é diversa. “Estamos
em presença de uma política orientada para o extermínio dos seus próprios ci-
dadãos. Procurando adiar o momento em que, mais tarde ou mais cedo, terá
de responder pelo genocídio real e não mítico, o regime cria uma cortina de
fumo sob a forma de holodomor-genocídio”50 . Da direita mais conservadora,
a esquerda mais liberal e anticomunista, todas as fontes indicam que o leste
europeu nada no mar do caos e na amargura. Citaremos alguns dados, mas
recomendamos uma busca no google simples pelo índice de país a país que
compõe tanto as republicas que foram partes da URSS, e também dos países
do leste europeu. Os dados do Banco Mundial, da ONU e da União Europeia
45
Idem. Ibidem.
46
Idem. Ibidem.
47
Idem. Ibidem.
48
Idem. Ibidem.
49
Idem. Ibidem.
50
Idem. Ibidem.
ORIGEM DO CONCEITO DE HOLODOMOR E SEU OBJETIVO ATUAL| 25
não tentam sequer esconder esse fato. Segundo estimativas do próprio banco
mundial, da ONU e da União europeia, já se calcula “que até o ano de 2050
vão desaparecer 50 milhões de trabalhadores e a imigração vai disparar. A po-
pulação está em declínio no “Velho Continente”, cada vez mais um território
de idosos e que hoje produz mais caixões do que berços, diz uma notícia de
jornal”51 .
No mesmo ritmo segue a Bulgária que está passando por uma profunda
transformação socioeconômica provocada por mudanças demográficas extra-
ordinárias. “Entre 1950 e 1988, sua população cresceu de 7,3 milhões para
quase 9,0 milhões e depois caiu pela metade para 7,5 milhões em 2010” 52 .
Atualmente, a população da Bulgária, de acordo com as Nações Unidas, é “de
6.948.000 habitantes”53 .
No lapso de tempo entre 1989 e 2019, “a população da Romênia diminuiu
em 3,5 milhões. Para além de um número de nascimentos inferior ao número
de mortes, o país registrou uma migração líquida negativa de 100.000 pessoas
por ano, em média, nos últimos 30 anos”54 . Outra estimativa diferente afirma
que a população romena caiu de 1989 a 2019 de 23,8 milhões para 19,41 mi-
lhões entre 2002 e 201155 , o que são mais de 4 milhões de pessoas a menos.
Se a imigração constante é provocada pela crise do capital, a responsabilidade
da política econômica do país no extermínio indireto daquele povo, que some
em meio a diáspora, é indiscutível, sobretudo quando isso não acontece por
condições de embargos.
A Polônia sofreu grandes perdas durante a Segunda Guerra Mundial. Em
1939 a Polônia tinha 35,1 milhões de habitantes56 , no final da guerra possuía
apenas 19,1 milhões dentro de suas fronteiras57 . O primeiro censo do pós-
51
O novo velho continente e suas contradições: As cidades que vão morrer. Disponível
em: <https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-novo-velho-continente-e-suas-
contradicoes-As-cidades-que-vao-morrer/4/49356>. Acessado em 22 de Maio de 2021.
52
Active Aging: How Can Bulgaria Tap the Potential of the Elderly?
https://www.worldbank.org/en/events/2016/06/22/active-aging-how-can-bulgaria-tap-
the-potential-of-elderly. Acesso em 20 de maio de 2021.
53
Bulgária: mapa, população, economia, curiosidades. Disponível em: <
https://bit.ly/342hgzj >. Acesso 1 de dezembro de 2021.
54
En Roumanie, immigrés dans un pays d’émigration. Romênia: imigrante num país de
imigração. Disponível: <https://bit.ly/3sJldmJ>. Acesso em 1 de dezembro de 2021.
55
Intentions to Return Evidence from Romanian Migrants. Disponível em:
<https://bit.ly/3mEH236>. Acessado em 1 de dezembro.
56
Tadeusz Piotrowski. Poland’s Holocaust: Ethnic Strife, Collaboration with Occupying
Forces and Genocide... [S.l.]: McFarland & Company. 1997. Pag. 32.
57
Idem. Ibidem.
26 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
“Na verdade, atualmente o regime ucraniano está tentando criar uma his-
tória diferente, reivindicando como heróis aqueles que antes (na União Sovié-
tica) eram considerados inimigos”67 . Por isto foram erguidas “dezenas de mo-
numentos aos “heróis” do chamado Exército Insurgente Ucraniano (U-P-A).
Muitos destes serviram ao regime de Hitler, especialmente de 1941 a 1942”68 .
Sem escrúpulos o nazismo é glorificado na Ucrânia. “A biografia de um dos lí-
deres dos nacionalistas ucranianos — Roman Iosipovich é um exemplo notá-
vel. Roman, junto de milhares de nacionalistas ucranianos, serviu no exército
nazista (Lisenko, 2008: 27)”69 . É claro, “milhares de russos serviram nos exér-
citos de Hitler e o comandante do chamado Exército de Libertação Russo (R-
O-A), General A.A. Vlasov não era melhor do que Roman Iosipovich e seus
associados”70 . No entanto, “na Rússia, as atividades de Vlasov foram oficial-
mente condenadas, nunca foram consideradas, não são consideradas, e, com
sorte, nunca serão consideradas heroicas”71 . Ao contrário da Ucrânia que hoje
“tem 35 ruas com o nome de Roman Iosipovich, 11 monumentos foram er-
guidos”72 . Assim sendo, “dezenas de monumentos estão instalados na Ucrâ-
nia em homenagem a muitos outros nacionalistas ucranianos que colaboraram
com os nazistas”73 ... Este fato deveria ser repudiado. “Isso pode ser chamado
de “curso pró-europeu” do governo ucraniano?”74 .
A esta altura é importante mencionar um pouco da trajetória de Stepan
Bandera. O líder da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (b), e antes da
Organização dos Nacionalistas Ucranianos como um todo, a partir de 1931
lidera o executivo regional da Organização dos Nacionalistas Ucranianos e co-
manda a UVO — organização militar ucraniana que operava na clandestini-
dade na Polonia durante 2ª República Polaca desde 1920.
Em 1933 Stepan Bandera procura instaurar um Estado ucraniano e a Or-
ganização dos Nacionalistas Ucranianos assassina Bronisław Pieracki, Minis-
tro do Interior do governo polaco em 1934. Bandera é condenado pelo crime
— embora não fosse o executor — a cumprir pena de morte que foi substi-
tuída mais tarde pela prisão perpétua. Ainda que não tenha sido o assassino
67
FEDEROV, A; LEVITSKAYA, A. Comparative analysis of the development of mass
media education in the Commonwealth of Independent States (CIS) countries. Dis-
ponível em: <https://bit.ly/31dWvQi>. ´Pag. 45.
68
Idem. Ibidem.
69
Idem. Ibidem.
70
Idem. Ibidem.
71
Idem. Ibidem.
72
Idem. Ibidem.
73
Idem. Ibidem.
74
Idem. Ibidem.
FUSÃO DO NAZISMO E DO LIBERALISMO| 29
ele foi julgado e condenado por liderar a organização que realizou o assassinato
e durante a ocupação nazista, Bandera foi liberado pelos Nazistas.
Bandera manteve por perto diversos círculos militares alemães favoráveis
à “independência” da Ucrânia e organizou grupos expedicionários da Organi-
zação dos Nacionalistas Ucranianos. Quando a Alemanha nazista invadiu a
União Soviética, ele preparou a Proclamação de 30 de junho de 1941 da cria-
ção de um Estado ucraniano em Lviv, jurando lealdade a Adolf Hitler. E aqui,
nos cabe citar o documento por inteiro que prova tal assertiva:
30 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Os nazistas, no entanto, não viram com bons olhos essa declaração de le-
aldade. Mas, independentemente da atitude de início bélica, por parte dos
nazistas para com a Organização dos Nacionalistas Ucranianos e contra Ste-
pan Bandera, é fato público e notório que os banderistas pretendiam ter uma
soberania limitada a liderança global de Hitler na segunda guerra, após a decla-
ração acima. O líder do Terceiro Reich, porém, duvidava de vossas intenções
FUSÃO DO NAZISMO E DO LIBERALISMO| 31
Tauger não encontrou provas cabais de que essas políticas não fossem que-
ridas pelo campesinato e pelo proletariado. Muito pelo contrário. “Em março
de 1929, os camponeses sugeriram em uma reunião em Riazan okrug que o
governo soviético deveria tomar todas as terras”85 — sem qualquer ressalva —
“e fazer com que os camponeses trabalhassem em troca de salários, uma con-
cepção não muito distante da futura operação de kolkhozy”.86 Um camponês
desta mesma região, em um relatório da O-G-P-U, segundo Tauger, afirmava
que “as aquisições de grãos são difíceis, mas necessárias”87 e que, portanto,
eles não podiam “mais viver como antes, é necessário construir fábricas e in-
dustrias, e para isso é necessário o grão”88 .
Outros testemunhos dão fortalecimento a Tauger: “Em janeiro de 1930,
durante a campanha, alguns camponeses disseram, ’chegou a hora de abando-
nar nossas fazendas individuais. É hora de parar com isso, [nós] precisamos
nos transferir para a coletivização”89 . Seguindo a adiante “Outro documento
de janeiro relatou vários casos de camponeses formando kolkhozy espontane-
amente e consolidando seus campos, o que era uma parte básica da coletiviza-
ção”90 .
Nesta perspectiva, quem deseja sustentar que tanto a coletivização quanto
a industrialização são políticas “equivocadas” tem o dever de tratar o problema
como um erro coletivo, tanto das direções políticas como dos dirigidos. Não se
tratou de um erro apenas dos líderes do partido. Assim, “a análise de Bokarev
resumida acima sugere uma razão pela qual muitos camponeses não se rebe-
laram contra a coletivização”91 : isto porque “os kolkhozes de certa maneira,
especialmente em seu coletivismo de uso da terra e princípios de distribuição
igualitária, não estavam muito longe das tradições e valores camponeses nas
aldeias corporativas em toda URSS”92 .
Inevitavelmente “este exemplo, é a evidência de que a vasta maioria dos
camponeses não se envolveu em protestos contra a coletivização, refuta clara-
mente a afirmação de Graziosi citada acima de que as aldeias estavam “unidas”
contra a coletivização93 .
85
Idem. Ibidem.
86
Idem. Ibidem.
87
Idem. Ibidem.
88
Idem. Ibidem.
89
Idem. Ibidem.
90
Idem. Ibidem.
91
Idem. Ibidem.
92
Idem. Ibidem.
93
Idem. Ibidem.
HOUVE RESISTÊNCIA A COLETIVIZAÇÃO E A INDUSTRIALIZAÇÃO?| 35
94
Idem. Ibidem.
95
Idem. Ibidem.
96
Idem. Ibidem.
97
Idem. Ibidem.
98
Idem. Ibidem.
99
Idem. Ibidem.
100
Idem. Ibidem.
101
Idem. Ibidem.
102
Idem. Ibidem.
103
Idem. Ibidem.
36 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
tação mais completa e precisa deve levar em conta mais do que a resistência”104 .
Por consequência, “isso significa que, além de seus problemas de evidência, a
“interpretação da resistência”, pelo menos em suas versões extremas, é unila-
teral, reducionista e incompleta”.105
Não raramente, o próprio Estado soviético procurou investigar os focos
da fome para melhor combatê-la, e sem a coletivização, seria improvável que as
próprias informações fossem circuladas tão rapidamente.
Uma fome predominantemente causada pelo Homem, além de ser um
método secundário de obliteração e quebra da resistência, costuma proceder
pelo cercamento das vias de transporte de alimentos das regiões que se quer
atingir. Como se sabe, não foi isso que aconteceu com a Ucrânia oriental,
houve apenas um controle sobre as entradas e saídas das regiões famintas, mas
não um cerceamento delas ou cercamento militar. Nenhum país opta pela
fome quando dispõe do poder bélico para a realização de um genocídio. A
fome, neste caso, é um método secundário de dominação. Por isto, é neces-
sário questionar por que um país, com objetivos genocidas e com modernos
arsenais de guerra, optaria pela fome como método principal para atingir este
propósito?
Ao pesquisar as evidências não se encontra base para essa acusação. Por
exemplo:
Durante o início de 1933, a O-G-P-U e vários voluntários investiga-
ram aldeias para determinar a extensão da fome para os esforços de so-
corro. Invariavelmente, seus relatórios mostraram que, embora a fome
afetasse principalmente os camponeses que não ganhavam muitos dias
de trabalho, ela frequentemente atingia os camponeses que ganhavam
centenas de dias de trabalho e kolkhozy altamente produtivos e bem-
sucedidos. Claramente, uma vez que muitos kolkhozniki eram traba-
lhadores e bem-sucedidos até a campanha de aquisições do outono de
1932, a resistência está longe de ser a história completa106 .
Quem quer matar de fome, não socorre. E isto também implica a incoe-
rência a tese da resistência a política comunista ou soviética.
A própria ideia de resistência a política soviética atingiu uma fração dos
camponeses ligada a nobreza latifundiária que, posteriormente, manifestaria
104
Idem. Ibidem.
105
Idem. Ibidem.
106
Tauger, Mark. “Soviet Peasants and Collectivization, 1930-39: Resistance and Adap-
tation.” In Rural Adaptation in Russia by Stephen Wegren, Routledge, New York, NY,
2005, Chapter 3, p.82.
HOUVE RESISTÊNCIA A COLETIVIZAÇÃO E A INDUSTRIALIZAÇÃO?| 37
Este contexto se prova pelo simples fato de que após a obtenção da bomba
atômica a guerra mundial deixou de existir, e isso diminuiu a capacidade im-
perialista de realização dessas guerras. Os soviéticos assumindo o risco, engo-
liram secamente as adversidades. Este preço trazia sobrecargas que gerariam
negligências em diversas áreas, que eram praticamente sacrificadas.
Particularmente, é notável que cientistas brilhantes como Vigotsky e
Krupskaya, acabaram sem grandes atenções, o mesmo aconteceu com Luria
e Leontiev.
Krupskaya acabou por compor diversas comissões de revisão dos expur-
gos, por exemplo, em vez de desenvolver e aplicar seu projeto: a pedagogia so-
cialista. Luria e Leontiev foram obrigados a cumprir funções administrativas
no decorrer da guerra.
O medo da guerra colocava todo o Estado e, por consequência, o Partido
na mais alta pressão. Por vezes, a situação levava a exageros. No entanto, em-
bora isto fosse ruim não era “evitável” no período histórico que corre de 1917 a
1953. Ao pensar, por um instante, a alternativa: a industrialização e a coletivi-
zação moderadas, não se tem garantias de preparo contra uma invasão massiva
de diversos países. Se por ventura esse fosse o caminho soviético, não restaria
dúvidas de que a Guerra contra a Alemanha teria um destino completamente
diferente e ainda mais trágico.
A ocasião infelizmente determina a direção.
É exatamente por isto, pela soma de fatores determinantes que não faz sen-
tido concentrar atenções e elucidações “tão exclusivamente na relutância, es-
pecialmente como fazem versões extremas da interpretação da resistência”108 .
Isto porque, por este caminho, não se explica “a produção repetida dos cam-
poneses soviéticos de boas colheitas que sucederam as graves quebras de safra
e fome”109 , bem como, por consequência, “deturpa-se as ações da maioria dos
camponeses e omite suas realizações, tal qual, portanto, apresenta-se uma in-
terpretação incorreta da vida rural soviética”110 ....
Como é de se esperar, nenhuma política, por mais necessária que seja, deixa
de portar problemas. Com a coletivização, não foi diferente. “A coletivização
foi, portanto, fundamentalmente ambivalente como política, com lados bons
e ruins”111 . Neste mesmo sentido aconteceu a recepção do campesinato a esta
108
Tauger, Mark. “Soviet Peasants and Collectivization, 1930-39: Resistance and Adap-
tation.” In Rural Adaptation in Russia by Stephen Wegren, Routledge, New York, NY,
2005, Chapter 3, p.88.
109
Idem. Ibidem.
110
Idem. Ibidem.
111
Idem. Ibidem.
HOUVE RESISTÊNCIA A COLETIVIZAÇÃO E A INDUSTRIALIZAÇÃO?| 39
política. “As respostas dos camponeses a isto também foram ambivalentes; in-
cluindo, é claro, resistência, mas também muitas outras atitudes, incluindo
adaptação e apoio significativo”112 . Compreendendo que o problema não se
limitava a “maldade” dos comunistas, como tenta fazer parecer o paradigma
dominante, o campesinato agiu para superar as causas centrais da fome e do
problema como um todo, incluindo sua parcela de culpa na questão. Por isto,
procuraram os camponeses, colocar de lado os individualismos em nome do
bem maior. Assim, foi “no auge da crise, que os camponeses demonstraram
repetidamente sua capacidade de colocar de lado suas objeções, de superar ad-
versidades mesmo com grandes custos e de produzir colheitas que acabavam
com a fome”113 . Esta postura do campesinato, não seria possível sem uma vasta
educação geral e socialista.
Eis que seguindo adiante, na mesma página da obra referida de Tauger,
podemos perceber o porquê de a escola revisionista não poder ser considerada
estalinista como sugerem os trotskistas de mãos dadas com a escola totalitária
de Conquest.
Tauger afirma que o sistema soviético em si era um erro, do qual não neces-
sariamente ele apresentará solução ou resposta alternativa viável, infelizmente.
Em maior ou menor proporção, apesar de sua importância, a escola revisio-
nista se coloca como um conglomerado de críticos que fogem do problema
geral do cerco capitalista114 que inferiam os acontecimentos locais tais como
são, para se concentrar nos problemas tais como eles aparecem, em seu fenô-
meno e, embora a distinção entre o que é real e que é fenomênico não estejam
separados por um abismo intransponível115 , é preciso não reduzir a história da
112
Idem. Ibidem.
113
Idem. Ibidem.
114
Para nosso entendimento, a construção da sociedade socialista e da sociedade anti-imperialista
não se compara com qualquer outra sociedade. É preciso compreender sua política de embar-
gos, como a do cordão sanitário soviético, a inevitável industrialização acelerada para a prepa-
ração para guerra que dependiam necessariamente da política de coletivização.
115
Sejam quais forem as coisas e processos que consideremos, verificaremos sempre que essência e
fenómeno não são a mesma coisa. Karl Marx diz, em O Capital:«Toda a ciência seria supérflua
se a forma fenomênica e a essência das coisas coincidissem diretamente.» (O Capital, t. III,
Berlim, 1953, p. 870 - ed. alemã).Mas essência e fenómeno também não estão separados por
um abismo intransponível. É sempre a essência de uma coisa que se manifesta nos fenóme-
nos. Por isso mesmo é que só podemos penetrar na essência, no cerne, partindo do exame dos
fenómenos, por comparações, pela busca de conexões, etc.Há, deste modo, dois tratamentos
incorretos da relação dialética de essência e fenómeno. Um deles reduz tudo aos fenómenos.
É o caso de se dizer, pelo facto de muitos operários de países capitalistas desenvolvidos estarem
acríticos perante o capitalismo, que «os operários já não são revolucionários». E isto vem da
boca de pessoas que se dizem de esquerda e que querem ser de esquerda. O erro está, aqui, em
40 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
URSS a sua aparência imediata, seja nos documentos avaliados seja nos depoi-
mentos analisados. E, infelizmente, muitos teóricos, inclusive no marxismo
cometem esse erro ao analisar as sociedades em transição para o socialismo e
acabam a margem da verdade. Neste sentido, Tauger afirma:
que se confunde o papel objetivo da classe operária (a essência) com a sua consciência atual (o
fenómeno). No mesmo pé estão os representantes ideológicos do capitalismo que dizem, por
exemplo, que «a classe operária (ou o capitalismo) já hoje não existe».O segundo erro consiste
em divorciar essência e fenômeno e em autonomizar a essência — por exemplo, considerando
apenas o papel objetivo da classe operária e subestimando o grau concreto de consciência so-
cialista da classe operária de um país num determinado momento histórico, passa-se a tratar
a «essência» como algo de «transcendente» e cai-se no domínio da teologia, para a qual a
essência é um fenómeno divino. A posição correta é a de reconhecer a unidade contraditória
de essência e fenómeno. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/tematica/li-
vros/abc-marxismo/b06.htm>
116
Tauger, Mark. “Soviet Peasants and Collectivization, 1930-39: Resistance and Adap-
tation.” In Rural Adaptation in Russia by Stephen Wegren, Routledge, New York, NY,
2005, Chapter 3, p.82.
PAPEL DOS KULAQUES NA FOME| 41
Tauger menciona a tal ambivalência, mas parece não perceber que esta am-
biguidade é própria das sociedades de transição para o socialismo, no qual a
consciência e o comportamento que dela pode derivar equivale, mas, ao mesmo
tempo, não é socialista. Paralelamente em que é, porém, simultaneamente,
não é, capitalista.
Por isso, se a URSS e suas políticas eram ambivalentes, não é possível dizer
que o sistema era equívoco, ele era e não era problemático, isto é, era vacilante
entre o objetivo socialista e a reminiscência capitalista.
Tudo na história e nas fontes históricas guardam sua afirmação e negação.
Embora o erro próprio dos revisionistas seja ignorar parte da dialética e do
materialismo, a luta de classes, eles e Tauger cumprem um importante papel
no que tange a mostrar que a resistência contra as políticas soviéticas jamais
permeou o suficiente para ganhar a centralidade do debate.
Para Tauger, apesar de haver resistência, inclusive armada, e aqui ele fez
referência a nobreza ex-czar e latifundiária, esse fator não foi predominante
nas determinações da fome como teriam sido as causas naturais. Mas, a falta
de preponderância de um fator não significa a inércia dele na equação.
Mesmo um reacionário como Volkoganov é obrigado a reconhecer que os
Kulaques impuseram resistência armada ao regime e isso também foi um dos
agravantes da Fome, embora possivelmente não o principal fator:
117
Idem. Ibidem.
42 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
ser inevitável. As estatísticas são as seguintes: “Em 1928, havia 33,5 milhões
de cavalos no país; em 1932, 19,6 milhões. Para o gado, os números foram,
respectivamente, 70,5 milhões e 40,7 milhões; para suínos, 26 milhões e 11,6
milhões; para ovinos e caprinos, 146 milhões e 52,1 milhões”122 . Neste sen-
tido, “no Cazaquistão, o número de ovelhas e cabras caiu de 19,2 milhões em
1930 para apenas 2,6 milhões em 1935. De 1929 a 1934, um total de 149,4 mi-
lhões de cabeças de gado foram destruídas”123 . Assim, “o valor desses animais
e de seus produtos (leite, manteiga, lã e etc.) ultrapassou em muito o valor das
gigantescas fábricas construídas no mesmo período. A destruição de cavalos
significou uma perda de 8,8 milhões de cavalos de potência”124 .
Pode-se dizer que “a motivação revolucionária de Stálin foi, sem dúvida,
reforçada por um sentimento de medo sobre a chegada de informações acerca
da disseminação do massacre de gado pelos camponeses”125 . Infelizmente nada
pôde parar esse processo que causou prejuízos. “No início de 1930, por exem-
plo, o número de cavalos no país — e na contínua ausência de um grande
número de tratores, os cavalos eram tão essenciais para a agricultura coletiva
quanto haviam sido para a agricultura privada — diminuiu drasticamente de-
vido ao abate, doença e falta de alimentação.”126 Na mesma época, “ao longo
de todo o período de coletivização camponesa (1928-33), as estatísticas de abate
de gado camponês, reveladas após a morte de Stalin, são: 26,6 milhões de ca-
beças de gado, ou 46,6% do total; 15,3 milhões de cabeças de cavalos, ou 47%
do total; e 63,4 milhões de cabeças de ovinos, ou 65,1% do total”127 .
Embora aqui exista um bom número de citações de autores relativamente
burgueses da historiografia mundial, nunca é demais repeti-los. Montefiore,
conhecido pelo antistalinismo ferrenho, também admite a chamada pressão
advinda dos Kulaques.
129
Tauger, Mark. Natural Disaster and Human Actions in the Soviet Famine of 1931-
1933 Pittsburgh: University of Pittsburgh, 2001, p. 21
130
Idem. Ibidem.
131
Idem. Ibidem.
132
Idem. Ibidem.
133
Idem. Ibidem.
134
Idem. Ibidem.
135
Idem. Ibidem.
PAPEL DOS KULAQUES NA FOME| 45
Pessoalmente, Stálin agiu com cautela. Alguns relatos dão conta de com-
preender que sua ação não era necessariamente ou imediatamente repressiva.
E isto pode ser documentado tanto por meio de relatos de migrantes, quanto
por meio de pesquisa arquivística.
136
Idem. Ibidem.
137
Idem. Ibidem.
138
Idem. Ibidem.
139
Idem. P, 31.
140
Idem, p, 41.
46 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Por muito tempo, Stalin permaneceu paciente. Ele sabia, por amarga ex-
periência na Geórgia, como é difícil trazer novas ideias a um povo pouco
emancipado, e tinha uma consideração simpática pelo forte individua-
lismo que resiste a qualquer autoridade ativa pela força. Quando final-
mente a ação foi forçada sobre ele, ele se moveu com sua firmeza usual,
mas não até que todas as outras vias tivessem sido exaustivamente explo-
radas.
pouco além, por vezes, a clemência com a família era relativamente conside-
rada. Um documento do P-C-U-S prova isso com muita exatidão: “[Extrato
de 2 de junho de 1935 do Protocolo nº 46 da sessão do Comitê Territorial do
Mar Negro de Azov do Partido Comunista] 2) Deportamos de nosso território
1.500 kulaques, contrarrevolucionários que continuam a exercer seu antisso-
vietismo, atividades antikolkhozes e sabotagem. Os membros de suas famílias,
por outro lado, podem, se assim o desejarem, permanecer no local”144 .
144
Idem. Ibidem.
145
Davies, Sarah; Harris, James (2005). “Joseph Stalin: Power and Ideas”. Stalin: A New
History. Cambridge: Cambridge University Press. p. 3. A Sovietologia acadêmica, filha
do início da Guerra Fria, foi dominada pelo “modelo totalitário” da política soviética. Até a
década de 1960 era quase impossível avançar qualquer outra interpretação, pelo menos nos
EUA. Disponível em: <https://vdocuments.mx/stalin-a-new-history.html>. Acesso em 2 de
dezembro de 2021.
48 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Ainda estou para ver qualquer diretiva central real ordenando o blo-
queio da Ucrânia ou o confisco de alimentos na fronteira. As fontes
disponíveis ainda são muito incompletas para se chegar a qualquer con-
clusão sobre isso.155
nos transmite são diferentes dos trazidos por Viktor Zemskov e Elena Prud-
nikova. Esta é uma questão que daria um livro específico só para trabalhar a
metodologia de cada escola, e escapa ao nosso tempo neste momento. No fu-
turo trabalharemos esta questão. Em breve abaixo abordaremos o ponto de
vista dos demógrafos soviéticos. Por hora nos cumpre mostrar a incoerência
dos totalitários. Tauger responde a Conquest com veemência:
“A segunda resposta de Robert Conquest ao meu artigo não resolve em
seu favor a controvérsia entre nós sobre as causas da fome de 1933”156 . Por
este motivo, “em seus pontos iniciais, observei que a fome era pior na Ucrânia
e em Kuban do que em outros lugares, em grande parte porque as colheitas
nessas regiões eram muito menores do que se conhecia anteriormente”157 . Por
consequência, “rejeitei sua evidência não porque não fosse “oficial”, mas por-
que minha pesquisa mostrou que estava incorreta”158 . Conquest, com toda
sua fragilidade probatória “cita o decreto de Stalin de janeiro de 1933 em uma
tentativa de validar os relatos das memórias ucranianas, para desacreditar as
fontes de arquivo que citei e para provar que a liderança soviética concentrou
a fome na Ucrânia e em Kuban”159 . Entretanto, “as sanções do decreto, não
correspondem aos relatos das memórias, nenhum dos quais descreveu campo-
neses sendo devolvidos às suas aldeias pelas forças da O-G-P-U”160 .
Assim, “as experiências descritas nesses relatos, em vez disso, refletem a
aplicação de uma diretiva secreta da O-G-P-U de setembro de 1932, orde-
nando o confisco de grãos e farinha para impedir o comércio ilegal”161 . Logo,
“uma vez que isso foi aplicado em todo o país, os relatos das memórias ucrani-
anas refletem a política geral e não um foco na Ucrânia”162 .
Neste sentido, “Vários novos estudos confirmam meu ponto de que cen-
tenas de milhares de camponeses fugiram da fome não apenas na Ucrânia e
Kuban, mas também na Sibéria, nos Urais, na bacia do Volga e em outros lu-
gares de 1932-1933”163 . Para conter o problema, como já foi ressaltado “As
autoridades regionais tentaram os deter e, em novembro de 1932, o Politburo
começou a preparar o sistema de passaportes que logo impôs restrições à mo-
bilidade em todo o país”164 .
156
Idem. Ibidem.
157
Idem. Ibidem.
158
Idem. Ibidem.
159
Idem. Ibidem.
160
Idem. Ibidem.
161
Idem. Ibidem.
162
Idem. Ibidem.
163
Idem. Ibidem.
164
Idem. Ibidem.
52 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Esta foi a razão do decreto de janeiro que “foi, portanto, uma das várias
medidas tomadas nessa época para controlar a mobilidade da mão-de-obra,
neste caso para reter a mão-de-obra nas regiões de grãos para que a safra de
1933 não fosse ainda pior”165 . O decreto fazia “referência às regiões do norte,
sugere que pode até ter sido usado para enviar camponeses dessas áreas ao sul
para fornecer trabalho”166 .
Por esta razão “Nem o próprio decreto nem a escala de sua aplicação são
suficientes para provar que a fome foi artificialmente imposta à Ucrânia”167 .
...
Na lógica da história oral, “os relatos de testemunhas oculares ucranianas,
por outro lado, são enganosos porque muito poucos camponeses de outras
regiões tiveram a oportunidade de escapar da URSS após a Segunda Guerra
Mundial”168 .
Tauger alça um importante trabalho para provar a falsidade da premissa
colhida de história oral por Robert Conquest, indicando o trabalho do histo-
riador russo Kondrashin que teria reunido depoimentos o suficiente pra des-
mentir por completo a questão.
É verdade que em um debate com os defensores do holodomor — toma-
dos pelo argumento ad personam e pelo racismo antirrusso —, Kondrashin
poderia ser desconsiderado a priori por ser russo, mas é inegável que ele reali-
zou um excelente trabalho quando “entrevistou 617 sobreviventes da fome na
região do Volga e refutou explicitamente o argumento de Conquest sobre o
foco da nacionalidade da fome”169 . Após a entrevista Kondrashin relatou que
“de acordo com essas testemunhas oculares, a fome foi mais severa nas regiões
de trigo e centeio, em outras palavras, em parte como resultado da pequena co-
lheita”170 .... Por isto, “Tanto estudiosos russos quanto ocidentais, como Kon-
drashin... e Alec Nove... agora reconhecem que a colheita de 1932 foi muito
menor do que se pensava e foi um fator importante na fome.”171
Segundo essas estimativas, a pesquisa do principal representante da escola
do totalitarismo, hoje, passa por diversos problemas em todos os âmbitos da
historiografia, seja na coleta de amostra de história oral ucraniana seja para se
provar documentalmente.
165
Idem. Ibidem.
166
Idem. Ibidem.
167
Idem. Ibidem.
168
Idem. Ibidem.
169
Idem. Ibidem.
170
Idem. Ibidem.
171
Idem. Ibidem.
FRAUDE NOS NÚMEROS DE MORTOS E A DESCONSIDERAÇÃO DOS DADOS DEMOGRÁFICOS| 53
183
Idem. Ibidem.
184
Idem. Ibidem.
185
RGAE. F. 1562, inventário 329, ed. xp. 16, l. 12; GARF. F. 1562, inven-
tário 329, ed. xp. 256, l. 45. Apud in: Прудникова Елена, Чигирин Иван.
Мифология «голодомора». PRUDNIKOVA ELENA, CHIGIRIN, IVAN. A mito-
logia do “Holodomor”. Moscou. Editora: Veche, 2015 Livro Completo Disponível em:
<https://www.litmir.me/br/?b=256400&p=1>. Acesso na data de 26 de Novembro de
2021.
FRAUDE NOS NÚMEROS DE MORTOS E A DESCONSIDERAÇÃO DOS DADOS DEMOGRÁFICOS| 57
Logo, não é impossível crer que o expurgo foi motivado por razões ma-
quiavélicas, afinal, “por várias razões políticas, os arquivos soviéticos foram re-
petidamente “limpos, e o desaparecimento destes dados é inconveniente ape-
nas uma campanha política a da “fome”191 . Neste sentido, somando este fato
“aos estranhos números acima, tem-se a sugestão de que a fome não foi a causa
principal da morte em 1933”192 . Assim, “se todas essas pessoas morreram de
fome — qual o motivo do súbito desaparecimento de dados dos arquivos do
estado?”193
A resposta é mais simples do que se imagina. “A história conhece três cau-
sas de mortalidade em massa: fome, guerra e epidemia. Por definição, não
pode haver fome no verão. Também não houve guerra em 1933. O terceiro
componente permanece — a epidemia. (...)”194
Temos de concreto que, “Para 1933, não há dados sobre mortalidade, como
já mencionado, mas há sobre morbidade”195 . Em frente “estão os dados do ín-
dice Card do Comitê de Planejamento do Estado T-s-U-N-K-h-U (da URSS
sobre a propagação das principais doenças infecciosas na B-S-S-R, a R-S-F-S-R
e a U-R-S-S”196 .
Assim sendo, “nas informações sobre a S-S-R ucraniana e a U-R-S-S, o
numerador da fração indica o número absoluto de doenças (em milhares) e o
denominador — o número de casos por 10.000 habitantes”. De outro modo
“na Bielo-Rússia e na Rússia, as estatísticas, aparentemente, ainda não atingi-
ram tais alturas”. (...)197
Não há como negar que “A propagação de epidemias geralmente é algo
misterioso”198 . Em caso análogo, “o companheiro habitual da fome — disen-
teria em 1933 deu um mínimo estável, mas por alguma razão aumentou drasti-
camente em 1934, um ano sem fome. O que mais uma vez testemunha: tudo
foi difícil”199 .
De outra forma, necessariamente, “dispararam os indicadores de duas do-
enças esquecidas, uma das quais associada a calamidades sociais (mas não à
fome) e a outra — em geral por conta própria, pois depende principalmente da
191
Idem. Ibidem.
192
Idem. Ibidem.
193
Idem. Ibidem.
194
Idem. Ibidem.
195
Idem. Ibidem.
196
Idem. Ibidem.
197
Idem. Ibidem.
198
Idem. Ibidem.
199
Idem. Ibidem.
OS GRÃOS FORAM ENVIADOS PARA SERVIR OS MILITARES NA GUERRA CONTRA O JAPÃO | 59
clarada que, como se sabe, acabou com uma vitória decisiva soviética do exér-
cito vermelho na Batalha de Khalkhin Gol, configurando a primeira e mais
grave derrota militar do Japão desde o início de seu expansionismo na Ásia203 .
Graças a esta derrota, e ao relatório do general soviético que traiu a URSS
Liushikov, o Japão abandonou a ideia de enfrentar a União Soviética sem o
apoio alemão. Os detalhes destes conflitos podem ser vistos na obra de Jo-
nathan Haslam, que diz em sua pesquisa: “A essência do relato começa com
a rejeição do Japão de um pacto de não agressão com a URSS em dezembro
de 1932 e termina com a assinatura de um pacto de neutralidade em abril de
1941.”204 . O Relato de Duranty parece bastante plausível se acompanhado
pela história dos conflitos do Japão fascista contra a URSS.
“O que aconteceu foi trágico para o interior da Rússia”205 . Diretrizes tive-
ram de ser “dadas em março, no início do período de semeadura da primavera
na Ucrânia e no Norte do Cáucaso e no Baixo Volga, para que 2 milhões de
toneladas de grãos fossem coletados em 30 dias porque o Exército precisava
deles”206 . Infelizmente, sem alternativas a demanda “tinha que ser recolhida,
sem discussão, sob pena de morte. As ordens sobre a gasolina não eram menos
peremptórias. Aqui não sei os números, mas tantos milhares de toneladas de
gasolina devem ser dados ao Exército”207 . Naquele contexto histórico as fa-
zendas coletivas dependiam de tratores para arar seus campos”208 . Essa seria “a
terrível verdade da chamada “fome criada pelo homem”, da “idade de ferro”
da Rússia, quando Stalin foi acusado de causar a morte de 4 ou 5 milhões de
camponeses para satisfazer sua própria determinação brutal de que deveriam
ser socializados ... se não”209 .
Não resta dúvidas que esta é uma concepção errada! “Compare isso com
a verdade, que o Japão estava prestes a atacar e o Exército Vermelho devia ter
reservas de comida e gasolina”210 .... assim, todo setor agrícola foi obrigado a
dispor dos grãos. “A cota precisava ser atingida, essa era a ordem do Krem-
203
Haslam, Jonathan (1992). The Soviet Union and the threat from the East, 1933-41:
Moscow, Tokyo, and the prelude to the Pacific War (em ingles). [S.l.]: University of
Pittsburgh Press. Disponível em: <https://br1lib.org/book/2939709/0f6543?dsource=re-
commend>. Pag. 132. Acesso em 01 de dezembro de 2021.
204
Idem. Pag. 06.
205
Duranty, Walter. USSR: The Story of Soviet Russia. Philadelphia, NY: JB Lippincott
Co. 1944, p. 192.
206
Idem. Ibidem.
207
Idem. Ibidem.
208
Idem. Ibidem.
209
Idem. Ibidem.
210
Idem. Ibidem.
OS GRÃOS FORAM ENVIADOS PARA SERVIR OS MILITARES NA GUERRA CONTRA O JAPÃO | 61
lin. Ele foi alcançado, mas as lixeiras estavam muito limpas”211 . Naquele exato
momento, de fato, “os camponeses, kulaques e coletivos russos estavam envol-
vidos em uma desgraça comum”212 . Assim conclui Duranty:
Os animais de tração estavam mortos, em uma fase anterior da luta, e
não havia gás para os tratores, e suas últimas reservas de comida e se-
mentes para a primavera haviam sido arrancadas deles pelo poder do
Kremlin, que era impulsionado pela compulsão, isto é, pelo medo do
Japão....213
Muito impressiona como as reportagens de Duranty, apesar de se enqua-
drarem na categoria de história imediata, são bastante coerentes com os mate-
riais de arquivos de importantes historiadores que abordamos acima.
Abaixo temos um complemento a discussão apresentada por Prudinikhova
sobre as epidemias.
“Seus padrões de vida [dos camponeses] foram tão reduzidos que se torna-
ram presas fáceis das doenças de desnutrição — tifo, cólera e escorbuto, sempre
endêmicos na Rússia — e infectaram as populações urbanas”214 .
Nesta ótica “a Rússia foi devastada pela miséria, mas o Exército Vermelho
restaurou suas reservas de alimentos e de gasolina, e roupas e couro para uni-
formes e botas”215 . Posteriormente “o Japão não atacou. Em agosto de 1932,
a conclusão da Barragem Dnieper foi comemorada de uma forma que ecoou
em todo o mundo”216 . Por consequência “milhões de acres russos estavam de-
sertos e não cultivados; milhões de camponeses russos imploravam por pão ou
morriam. Mas o Japão não atacou”217 . A guerra, ou a ameaça de guerra, obriga
a retenção de alimentos. E isto infelizmente não é discutível.
A escassez de alimentos e mercadorias na Rússia foi atribuída, como Sta-
lin pretendia, à tensão do Plano Quinquenal, e tudo que os espiões ja-
poneses puderam aprender foi que o Exército Vermelho aguardava seu
ataque sem ansiedade. Sua ponta de lança, apontada para a Mongólia
Exterior e o Lago Baikal, foi deslocada, e suas tropas moveram-se para o
sul para a província chinesa de Jehol, que eles conquistaram facilmente
e adicionaram a “Manchukuo”. 218
211
Idem. Ibidem.
212
Idem. Ibidem.
213
Idem. Ibidem.
214
Idem. p. 193 e 195.
215
Idem. Ibidem.
216
Idem. Ibidem.
217
Idem. Ibidem.
218
Idem. Ibidem.
62 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
A verdade é que a URSS era uma sociedade que se construía não só para
o socialismo, mas uma sociedade de defesa contra o provável terror de uma
guerra mundial contra ela. “Stalin havia vencido o jogo contra probabilidades
terríveis, mas a Rússia pagou em vidas tanto quanto na guerra”219 . Neste sen-
tido, “À luz desse e de outros conhecimentos subsequentes, é interessante ler
meus despachos de Moscou no inverno de 1932-33”220 . Duranty assim perce-
beu o problema com toda clareza:
Parece que eu sabia o que estava acontecendo, sem saber por quê, ou seja,
sem perceber que o Japão era a verdadeira chave do problema soviético naquela
época, e que a primeira melhora genuína da situação agrária durou quase um
dia. com o impulso japonês para o sul contra Jehol. Significava, para dizer de
forma sucinta, que Stalin havia vencido seu blefe: o Japão mudou-se para o
sul, não para o norte, e a Rússia poderia ousar usar seus melhores homens.221
224
Idem. Ibidem.
225
Idem. Ibidem.
226
Idem. Ibidem.
227
Idem. Ibidem.
228
Idem. Ibidem.
229
Idem. Ibidem.
230
Idem. Ibidem.
64 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
de início seria o insuficiente para acabar com o problema, e boa parte do con-
fisco visava a exportação. Por tabela o confisco e a exportação tinham algum
grau de ligação. Portanto, nem o fim do confisco e das exportações possivel-
mente erradicariam o problema.
As causas naturais evidentemente devem ganhar mais destaque, são elas:
1) Doenças: Já abordamos as epidemias nas citações trazidas por Elena
Prudnikova, e acreditamos que aquela é a abordagem mais correta em relação
a causa de morte mais frequente em 1933. Mas, as doenças sobre as plantações,
e produções que dependem do meio ambiente também causaram imenso pre-
juízo.
2) Pragas nas Plantações: ferrugem, fungos e etc. A ferrugem é um
fungo que ataca plantas. De início, não é possível perceber nenhuma alteração
aparente na planta, o que vai ocorrer algum tempo após a infestação, quando
o fungo se reproduzir e esporular. Nesse momento, as manchas começam a
surgir e a doença já causou danos à plantação.
A literatura agronômica soviética e outras fontes publicadas e arquiva-
das da década de 1930, que nenhum estudo anterior sobre a fome dis-
cutiu, indicam que em 1932 as safras soviéticas sofreram de uma com-
binação extraordinariamente severa de infestações de doenças e pragas
nas plantações. A infestação mais importante em 1932 veio de diversas
variedades de ferrugem, uma categoria de fungos que podem infestar
grãos e muitas outras plantas.231
Os números causados de perdas por desastres naturais não são pequenos
em se tratando da URSS. “Embora as infestações de ferrugem não fossem um
problema novo na Rússia, o surto extremo em 1932 pegou agrônomos de sur-
presa, e eles não entenderam totalmente”232 . São substanciais as perdas:
Com ferrugem em 1932 atingiram aproximadamente 9 milhões de to-
neladas, 13% do valor da colheita oficial e quase 20% da estimativa de
colheita de arquivo mais baixa. Também deve ser observado que, em-
bora essas estimativas sejam aproximadas, elas também são as únicas es-
timativas concretas, com base em qualquer evidência científica, mesmo
remotamente, das perdas gerais da colheita de grãos de 1932 de quais-
quer fatores ambientais ou humanos disponíveis em quaisquer fontes
publicadas ou arquivadas que eu tenha sido capaz de encontrar.233
231
Tauger, Mark. Natural Disaster and Human Actions in the Soviet Famine of 1931-
1933. Pittsburgh: University of Pittsburgh, 2001, p. 13
232
Tauger, Mark. Tauger, Mark. Natural Disaster and Human Actions in the Soviet Fa-
mine of 1931-1933. Pittsburgh: University of Pittsburgh, 2001, p. 16.
233
Idem. Pag. 17
CAUSAS NATURAIS SÃO IGNORADAS PELOS CRÍTICOS| 65
238
Idem. Ibidem.
239
Idem. Ibidem.
240
Idem. Ibidem.
241
Idem. Ibidem.
242
Idem. Ibidem.
243
Idem. Ibidem.
244
Idem. Ibidem.
245
Idem. Ibidem.
246
Idem. Ibidem.
247
Idem. Ibidem.
CAUSAS NATURAIS SÃO IGNORADAS PELOS CRÍTICOS| 67
despeito, então a colheita em 1932 não teria sido nem mesmo 50.000.000
de toneladas, mas praticamente nada.248
Após o caos que se formou pelos vários setores soviéticos, de uma coisa
devemos ter certeza, o aprendizado para os camponeses foi gigantesco, a ponto
em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/imperialismo.pdf>.
Acesso em 26 de Novembro de 2021.
72 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Sobre esse assunto, ainda vale um testemunho direto que confirma com
exatidão os dados arquivísticos que os historiadores aqui trabalharam, O Dr.
Hans Blumenfeld trabalhou como arquiteto na cidade ucraniana de Makeyev-
ka na época da fome. Vosso depoimento segue no anexo 1.
276
Koenker e Bachman. Revelations from the Russian archives. Washington: Library of
Congress, 1997, p. 401.
277
Tauger, Mark. “Statistical Falsification in the Soviet Union: A Comparative Case
Study of Projections, Biases, and Trust.” The Henry M. Jackson School of Internati-
onal Studies, University of Washington, 2001, p. 44.
74 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
ANEXO I
ANEXO II
№8
RESOLUÇÃO DA URSS E DO COMITÊ CENTRAL DO PCUS (b)
SOBRE A COLETA DE FUNDOS COLETIVOS DE SEMENTES NA
URSS E SOBRE MEDIDAS DE SEMENTES E ALIMENTOS
ASSISTÊNCIA A ÁREAS DE SECA
16 de fevereiro de 1932
1. Em conexão com a abordagem da campanha de semeadura, o Conselho
dos Comissários do Povo da URSS e o Comitê Central do PCUS (b) indicam a
todos os partidos e organizações soviéticas que a tarefa central de seu trabalho
nas aldeias nas próximas semanas é criar fazendas coletivas de sementes para
estimular o plano de semeadura.
O Conselho de Comissários do Povo e o Comitê Central do PCUS (B.)
Obrigam todas as organizações partidárias, soviéticas e kolkhozes a iniciarem
a formação de fundos iniciais de kolkhozes imediatamente.
2. Aprovar o plano de formação de fundos de cultivo coletivo de sementes
de safras de grãos da primavera estabelecido pelo Comissariado do Povo de
Terras da URSS.
ANEXO II| 77
Quantidade
Grão
[em milhões de poods]
Trigo 18,10
Ovsa 8,25 (incluindo 6 milhões
Cevada 0,40 de poods em comida)
Rzhy 6,50
Milho 3,00
Girassóis 2,80
Pão nosso
Nome da cidade Lista e Grupo Contingente
de cada dia
ODESSA Primeira Lista
Traballhadores 21.587 800g
Traballhadores do colarinho branco 24.830 400g
Primeira Lista
ORS IANV Z-DA I DZHUTOV:
Traballhadores 7.805 800g
Traballhadores do colarinho branco 7.068 400g
Segunda Lista
Traballhadores 79.267 600g
Traballhadores do colarinho branco 80.814 300g
Segunda Lista
Traballhadores 12.591 600g
Trabalhadores do colarinho branco
11.002 300g
e dependentes
Terceira Lista
Traballhadores 8.509 500g
Traballhadores do colarinho branco 588 300g
ZINOVESK Primeira Lista
Traballhadores 941 800g
Traballhadores do colarinho branco 1.521 400g
Estrela Vermelha
Traballhadores 12.685 600g
Trabalhadores do colarinho branco
8.372 300g
e dependentes
Segunda Lista
Traballhadores 8.372 500g
Traballhadores do colarinho branco 11.320 300g
ANEXO II| 81
nadá), além de uma longa guerra civil. A destruição proveniente de sete anos
de guerra, revolução e intervenções, combinados com uma seca severa, resulta-
ram num amplo cenário de fome e penúria – a fome russa de 1921-22. Tendo
sobrevivido estas provações, os soviéticos traçaram os rumos de algo que não
contava com precedentes na história mundial: a construção de uma sociedade
socialista. Eles buscaram transformar uma terra atrasada e repleta de pobreza
e analfabetismo em um país industrializado com um moderno setor agrícola.
Isso foi visto pelos soviéticos como necessário não apenas para o desenvolvi-
mento econômico e social, mas também para a própria sobrevivência do so-
cialismo num ambiente internacional hostil. No início da década de 1930, a
tomada japonesa da Manchúria e a tomada do poder por Hitler na Alemanha
foram vistos de forma especialmente ameaçadora.
A coletivização massiva da agricultura e um programa de industrialização
ambicioso foram pontos centrais do primeiro Plano Quinquenal iniciado em
1929. A coletivização encontrou oposição ativa de partes do campesinato, e
em muitas regiões o embate quase se transformou em guerra civil. A seca (um
fator complicador), sabotagem massiva, planificação amadora soviética, exces-
sos stalinistas e erros causaram a fome de 1932-33.
Durante a campanha da fome-genocídio, todavia, os fatores da seca e da
sabotagem têm sido ignorados, negados, diminuídos ou distorcidos. Os ex-
cessos soviéticos e erros, em contraste, ganham ênfase, recebem uma motiva-
ção “anti-ucraniana”, são descritos como conscientemente planejados, e os re-
sultados são exagerados com afirmações de que as mortes causadas pela fome
atingiram vários milhões de pessoas.
Fotografias fraudulentas e evidências suspeitas são extensivamente utiliza-
dos para enfeitar acusações de “genocídio”, e são na verdade as imagens domi-
nantes da campanha. A quantidade assustadora de materiais não-autênticos
usados para apoiar a ideia de genocídio deveria ser, por si só, motivos para a
rejeição completa de uma tese tão dúbia.
Apresentado na imprensa nazista em 1933, a campanha da fome-genocí-
dio chegou ao Reino Unido em 1934, e aos Estados Unidos no ano seguinte.
Na Alemanha, um país com fortes movimentos comunistas, socialistas e sin-
dicalistas, os nazistas criaram a primeira campanha de propaganda organizada
(1933-1935) como parte de sua consolidação do poder. No Reino Unido e
nos Estados Unidos, por outro lado, a campanha foi desenvolvida como parte
dos esforços da Direita para manter a União Soviética isolada e fora da Liga das
Nações. A campanha também serviu para desencorajar a crescente militância
da classe trabalhadora no período da Grande Depressão.
INTRODUÇÃO| 91
Todavia, as fotos de Walker sobre a fome são realmente notáveis, dado que,
tendo sido provadas como completas mentiras há mais de 50 anos, continuam
a serem usados por nacionalistas ucranianos e institutos de propaganda uni-
versitários como provas do suposto genocídio. A extensão da fraude de Walker
pode apenas ser medida pela magnitude e longevidade da mentira que as fotos
são usadas para ilustrar.
Histórias de horror sobre a Rússia eram comuns na imprensa ocidental,
particularmente entre jornais e jornalistas com orientação conservadora ou fas-
cista. Por exemplo, o London Daily Telegram de 28 de novembro de 1930, pu-
blicou uma entrevista com um homem chamado Frank Eastman Woodhead
que teria “recém retornado da Rússia após uma visita de sete meses”. Wo-
odhead reportou ter testemunhado massacres sangrentos naquele novembro,
uma carnificina que deixou “fileiras de cadáveres medonhos”.
Louis Fischer, um escritor americano para a New Republic e para The Na-
tion, que estava em Moscou no momento das supostas atrocidades, descobriu
que não apenas tais eventos nunca ocorreram, mas que Woodhead tinha dei-
xado o país quase oito meses antes das cenas que teria afirmado testemunhar.
Fischer desafiou Woodhead e o London Daily Telegram no assunto; ambos
responderam com um silêncio vergonhoso. [3]
Quando os artigos de Thomas Walker apareceram na imprensa de Hearst,
Fischer passou a desconfiar – ele nunca tinha ouvido falar de Walker e não en-
controu ninguém que o conhecesse. Os resultados de sua investigação foram
publicados na edição de 13 de março de 1935 do The Nation:
O Sr. Walker, fomos informados, “entrou na Rússia na última prima-
vera”, que foi a primavera de 1934. Ele viu fome. Ele fotografou suas
vítimas. Ele conseguiu relatos em primeira mão e emocionantes da de-
vastação da fome. Agora, a fome na Rússia é notícia “quente”. Por que o
Sr. Hearst manteve esses artigos sensacionais parados por dez meses antes
de publicá-los? Minhas suspeitas cresceram ainda mais [...]
Eu tinha cada vez mais certeza de que ele era apenas outro Woodhead,
outro jornalista ausente. Então eu consultei as autoridades soviéticas que
detinham as informações oficiais de Moscou. Thomas Walker esteve na
União Soviética apenas uma vez. Recebeu um visto de trânsito do Cônsul
96 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Pode-se dizer também que esta foto mostra uma trabalhadora da saúde,
em qualquer lugar da Europa, sentada na sala de espera de uma clínica com
uma criança faminta ou deformada. Há traços inconfundivelmente urbanos,
não-eslavos e provenientes do começo da década de 1920 na boina da mulher.
Além disso, a mulher, que parece estar perfeitamente saudável, está vestida para
o tempo frio enquanto “seu irmão” está nu. O banco tem o encosto marcado,
como ocorre em velhos bancos de escritório, dificilmente correspondendo a
uma única mobília da casa de um “típico camponês”.
Como foi usada na imprensa de Hearst, essa fotografia – e outras fraudes
de Walker encontradas frequentemente na Campanha da Grande fome-geno-
cídio – foi retocada e alterada. Ela tem a aparência de ter sido uma cópia al-
terada de uma fonte não-primária, ao invés de ser uma revelação direta de um
negativo. Esse autor encontrou essa foto inesquecível em uma publicação do
começo da década de 1920 sobre a fome russa no período que seguiu a Primeira
Guerra Mundial. De qualquer maneira, deve-se lembrar que Walker nunca es-
teve na Ucrânia em 1932-1933.
Partes da série de 1935 de Hearst-Walker, incluindo algumas das fotos, ti-
nham realmente aparecido no ano anterior, na edição de 6 de agosto de 1934
do London Daily Express. Atribuídas a um anônimo jovem “turista” inglês, a
história conta com um relato virtualmente idêntico ao da invenção da “criança-
sapo” de Walker. Todavia, essa versão anterior da fraude localiza a história em
Belgorod – que fica na Rússia propriamente. Versões subsequentes da fraude
durante décadas mudaram politicamente o ocorrido para Karkov, que fica, é
claro, na Ucrânia.
Assim, pelo menos alguns dos relatos falsos de Walker foram preparados
com bastante antecedência de sua verdadeira visita soviética no outono de 1934.
Parece que os conspiradores de Hearst-Walker decidiram inventar uma série
279
O nome da cidade é traduzido para o português como Carcóvia, porém, essa tradução é muito
pouco usada. Também é possível encontrar o nome da cidade como Kharkov. Optamos então
pelo nome mais usado para se referir à cidade em textos em português: Karkov. [N.T]
CAPÍTULO 1: THOMAS WALKER, O HOMEM QUE NUNCA EXISTIU| 99
A garota de Thomas Walker com a criança-sapo publicada no New York Evening Journal de
Hearst (19 de fevereiro de 1935). Alegações contraditórias acerca da origem dessa foto foram
instigadas por propagandistas nazistas na década de 1930. Uma cena da década de 1920, essa
foto é ainda amplamente usada como evidência da “Grande fome-genocídio”.
100 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Não apenas eram as fotografias uma fraude, a viagem até a Ucrânia uma
fraude, e a série de Hearst sobre a fome-genocídio uma fraude; Thomas Wal-
ker era também uma fraude. Deportado da Inglaterra e preso em seu retorno
aos Estados Unidos apenas alguns meses depois da série de Hearst, no fim das
contas, Thomas Walker era na realidade o fugitivo condenado Robert Green.
O New York Times publicou: “Robert Green, um escritor de artigos republi-
cados sobre as condições na Ucrânia, que se apresentou na última sexta-feira
perante um Júri Federal numa denúncia de fraude de passaporte, se declarou
culpado ao Juiz Federal Francis G. Caffey. O juiz descobriu que Green era um
fugitivo da Prisão Estadual do Colorado, de onde ele escapou após ter servido
dois anos de uma pena de oito anos por falsificação”. [8]
Robert Green, foi revelado, tinha construído uma impressionante ficha
corrida por três décadas. Seu rastro de crimes passou por cinco estados ame-
ricanos e quatro países europeus, e incluiu condenações em denúncias de ter
violado o Mann White Slave Act no Texas, falsificação e “golpe do casamento”.
[9]
Provas apresentadas no julgamento de Walker revelaram que ele tinha feito
uma visita anterior à União Soviética em 1930, sob o nome de Thomas J.
Burke. Tendo trabalhado brevemente para uma firma de engenharia na URSS,
ele foi – por sua própria confissão – expulso por ter tentado tirar um membro
do Exército Branco do país. Um repórter que cobriu o julgamento notou que
Walker “admitiu que as fotos da ‘fome’ publicadas em sua série no jornal de
Hearst eram falsas e que não tinham sido tiradas na Ucrânia como informado”.
[10]
As “evidências” de fome-genocídio trazidas ao público americano por esse
“notório jornalista” e “testemunha” seguem vivas em círculos historiográfi-
cos contaminados. Os materiais de Walker e sua afirmação de seis milhões de
vítimas ainda são reconhecidos e publicados por editoras de livros de histó-
ria como o Fundo de Estudos Ucranianos da Universidade de Harvard, assim
como na imprensa dos próprios Nacionalistas Ucranianos. As fotografias fal-
sas de Walker são as mais difundidas “provas” visuais associadas à campanha
da fome-genocídio no pós-guerra, mesmo com depois de todo o seu material
ter sido desmascarado como fraudulento imediatamente após a sua publica-
ção em 1935. Aparentemente, sentem que os riscos inerentes em enganar o
público são necessários para seguirem com as invenções sobre a fome-genocí-
dio. [11]
CAPÍTULO 2:
A CAMPANHA DA IMPRENSA
DE HEARST CONTINUA
Apesar do fiasco com Thomas Walker, Hearst não desistiu da campanha
da fome-genocídio; ela fazia parte de sua propagação geral de visões antisso-
viéticas e pró-fascistas. Enquanto ultrapassa o escopo deste livro examinar de
forma pormenorizada as atividades do magnata da imprensa William Ran-
dolph Hearst, pode-se afirmar que ele era conhecido por milhões na década
de 1930 como “O Fascista Número Um da América”. É amplamente conhe-
cido que certas corporações americanas (como por exemplo, Henry Ford), em-
prestaram dinheiro aos nazistas, enquanto uma corporação de petróleo ame-
ricana abasteceu o exército de Franco durante a Guerra Civil Espanhola. [1]
O que é menos conhecido, todavia, é que por um período durante a década de
1930, Hearst empregava o ditador fascista italiano Benito Mussolini, pagando-
o quase dez vezes o valor que o mesmo recebia como chefe do Estado Italiano:
“Por um longo período, a maior fonte de renda de Mussolini eram os 1.500
dólares que recebia por semana da imprensa de Hearst, no começo de 1935,
todavia, ele desistiu de escrever artigos regulares porque a política internacio-
nal estava muito delicada para que ele pudesse se expressar francamente”. [2]
Hearst estava longe de ser o único magnata conservador extremista da im-
prensa. George Seldes, correspondente veterano do Chicago Tribune e autor
do clássico Fatos e Fascismo, avisou das conexões entre grandes empresas, a im-
prensa e tendências fascistas na década de 1930 e no período de guerra Ameri-
cano:
Se o leitor pensa nos donos das nossas cadeias de jornais, como Hearst,
Howard, Patterson e McCormack, como apenas quatro entre os 15.000
editores americanos, não consegue enxergar o perigo para os Estados Uni-
dos vindo de uma imprensa antidemocrática e antiamericana. Esses qua-
tro editores publicam um quarto de todos os jornais vendidos diariamente
em nossas ruas, eles possuem quarenta dos 200 jornais das grandes cidades
que formam a opinião pública americana, eles comandam não apenas as
três maiores redes de jornais no país, mas duas das três maiores grandes
prestadoras de serviços jornalísticos que alimentam a maioria dos diários
dos Estados Unidos, e pelo fato de eles sempre terem sido contra os trabalha-
102 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
William Randolph Hearst, conhecido por milhões de americanos durante a década de 1930
como o “Fascista Número 1 da América”, posa com líderes nazistas durante sua visita no outono
de 1934 à Alemanha Nazista. Da esquerda para a direita: Sr. Rocker, secretário privado de
Hearst; líder nazista Alfred Rosenberg; William Randolph Hearst; Dr. Karl Bomer, Chefe da
Divisão de Imprensa do Bureau de Política Estrangeira Nazista; Thilo von Trotha, tenente de
Rosenberg. Alguns meses após seu retorno aos EUA, Hearst lançou sua campanha de propaganda
da fome.
CAPÍTULO 2: A CAMPANHA DA IMPRENSA DE HEARST CONTINUA| 103
Hearst parece ter sido por muito um promotor devoto dos interesses do
Estado alemão. Desde pelo menos a Primeira Guerra Mundial: “Ele foi contra
empréstimos e envio de munições para a Inglaterra e França, sendo também
contra que os navios mercadores dos Estados Unidos fossem armados. Ele
contratou um antigo correspondente do New York Times, William Bayard
Hale, e o enviou para a Alemanha. Mais tarde se descobriu que Hale era pago
pelos alemães [...]”. [8]
Os métodos para noticiar os períodos de guerra aplicados por Hearst eram
tão amarelos que a Harper’s Weekly, suspeitando que Hearst estava fazendo
uso de correspondentes místicos para publicar artigos falsos, afirmou tal sus-
peita em 15 de outubro de 1915. Em outubro de 1916, os governos britânico
e francês baniram a imprensa de Hearst de fazer uso dos telégrafos e dos cor-
reios. O governo canadense tomou as mesmas medidas no mês seguinte, ba-
nindo todos os jornais de Hearst. Ser pego com um jornal de Hearst naqueles
dias significava uma multa de 5.000 dólares ou até cinco anos de prisão. [9]
Foi após a viagem de Hearst para a Alemanha que sua imprensa passou a
promover a temática da “fome-genocídio na Ucrânia”. Antes disso, seus jor-
nais tinham refletido em diversos momentos uma perspectiva distinta. Por
exemplo, em 1º de outubro de 1934, a edição do Herald and Examiner pu-
blicou um artigo do antigo Primeiro Ministro Francês, Edouard Herriot, que
tinha recentemente retornado de uma viagem pela Ucrânia. Herriot afirmou:
“[...] toda a campanha sobre o tema fome na Ucrânia está neste momento
sendo divulgada. Enquanto cruzei a Ucrânia, não vi nada do tipo.” [10]
Com certa ligação com os planos para uma campanha da fome-genocídio,
existia uma gigantesca campanha de “medo vermelho”, que havia inundado a
imprensa de Hearst desde o final do outono de 1934. Para fundamentar seus
pedidos de leis que obrigassem professores a fazer juramentos de lealdade, He-
arst enviou “centenas” de repórteres para “desmascarar” professores radicais,
em uma “caçada vermelha que destruiu a imagem de vários liberais honestos
[...]”. [11] E, enquanto mantinha uma abordagem frouxa sobre as ativida-
des nazistas na Alemanha, Hearst iniciou seu ataque midiático sobre a suposta
“grande fome, miséria e brutalidade” da União Soviética. [12]
Para a imprensa nazista na Alemanha, os alemães protegidos por outros
Estados estrangeiros, e o império de imprensa de Hearst nos Estados Unidos,
1935 seria o Ano da Grande Fome Ucraniana. Um dos aliados de Hearst neste
processo, Dr. Ewald Ammende, descreveu o início da campanha: “Em 5 de
janeiro de 1935, William Randolph Hearst transmitiu um discurso baseado
quase que por completo nos relatados do Cardeal Innitzer Committee [...]
toda a imprensa de Hearst passou a focar na fome na Rússia”. [13]
104 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Mesmo após a rejeição de Lang pelo público, Hearst ainda não tinha exau-
rido sua série sobre a “Grande fome-genocídio”. Mas seu tempo era curto –
1935 não tinha sido um ano difícil como 1932 ou a parte pré-colheita de 1933,
e os próprios correspondentes de Hearst estavam enviando relatórios favorá-
veis sobre o progresso econômico e social dos soviéticos. [25] Todavia, Hearst
estava determinado a matar a União Soviética de fome, nem que fosse de forma
retroativa.
Seguindo Lang na lista de escribas contratados, tem-se R. H. Sanger, que
fez sua estreia nas edições do final de abril de 1935. Inicialmente apresentados
pelos jornais de Hearst como um “ex-comunista”, Sanger posteriormente ad-
mitiu que seu “comunismo” consistia em ter assistido algumas aulas em uma
escola noturna socialista enquanto trabalhava no Escritório de Comércio Es-
trangeiro e Doméstico em Washington. Para ilustrar suas histórias, uma fo-
tografia supostamente mostrando Sanger entrevistando um grupo de traba-
lhadores russos em Moscou foi incluída. Observadores críticos, todavia, afir-
maram que a foto tinha sido creditada a um fotógrafo da equipe do Evening
Journal de Hearst. Nenhuma das fotos mostrava condições que apoiavam as
denúncias da “Grande fome-genocídio”.
Mais “testemunhas” foram apresentadas. Em maio de 1935, Hearst cele-
brou a “saída do armário” de Andrew Smith, recém-retornado depois de três
108 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
anos na União Soviética. Smith perdeu pouco tempo antes de vender histórias
de horror para a imprensa de Hearst, embora suas correspondências anteriores
com amigos americanos não tenham indicado tal cenário. Talvez ele precisasse
de um novo começo nos Estados Unidos que estava repleto de desempregados.
Sem dúvidas, lembrando da forma na qual tinham queimado seus dedos
na série anterior, os jornais de Hearst agora reproduziam uma suposta docu-
mentação de apoio da estadia de Smith: seus documentos de férias. As pessoas
que sabiam Russo, todavia, afirmaram que o certificado de baixa de Smith di-
zia “dispensado por vadiagem”, e não “dispensado para férias”. [26]
O The Nation desacreditou ainda mais as afirmações de Smith, trazendo à
luz sérias inconsistências e “falsificações” no “orçamento” de Smith que havia
sido descrito na imprensa de Hearst. [27] As estórias de Smith também foram
expostas como mentiras por um trabalhador americano com quem Smith ti-
nha trabalhado na União Soviética e a quem ele tinha nomeado como uma
testemunha chave de suas alegações. Carl Blaha não apenas chamou Smith de
mentiroso, mas também forneceu um relato detalhado e muito diferente das
reais condições de vida e trabalho vivenciadas por ele e Smith. [28]
O “testemunho” de Andrew Smith não se limitou a alegações da existência
da Grande fome-genocídio. Até 1949 ele colaborou com uma testemunha da
Promotoria para o Comitê da Câmara dos Deputados sobre a Guerra Fria e
Atividades Não-Americanas. [29]
Outro informante para o Comitê da Câmara da Era McCarthy foi um
certo Fred Beal, que tinha fugido para a União Soviética em 1930 para se evadir
de uma sentença de 20 anos de prisão como resultado da greve em Gastonia.
[30] Beal voltou de forma secreta para os EUA por seis meses, e depois foi de
volta à União Soviética de forma voluntária. Após seu retorno final para os
EUA em 1933, Beal, o fugitivo que não conseguia qualquer emprego no meio
da depressão econômica, já em 1934 estava se preparando para se vender por
dinheiro e pela esperança de uma pena de prisão reduzida.
Em junho de 1935, artigos de Beal apareceram no Forward de Harry Lang,
e outros foram publicados na imprensa de Hearst. De acordo com um jornal,
que publicou partes da correspondência inicial de Beal que contradiziam suas
alegações perante a imprensa de Hearst, os artigos de Beal foram “ditados” du-
rante maio de 1934. [31]
Os relatos de Beal na imprensa de Hearst foram confrontados por outros
trabalhadores americanos, entre eles um trabalhador da indústria automobi-
lística, J. Wolynec, que tinha trabalhado na fábrica de tratores de Karkov entre
1931 e 1935. Wolynec, que não fazia parte do Partido Comunista, tinha co-
CAPÍTULO 2: A CAMPANHA DA IMPRENSA DE HEARST CONTINUA| 109
nhecido Beal na Ucrânia por dois anos. Ele desafiou os relatos de Beal de ter
ouvido conversas relevantes, afirmando que Beal sequer sabia falar russo [ou
ucraniano]. [32] Wolynec citou um livreto anterior escrito por Beal, com o
título Trabalhadores Estrangeiros em uma Fábrica de Tratores Soviéticos, no
qual Beal tinha dado descrições completamente contraditórias às que posteri-
ormente escreveu para Hearst. Pouco tempo após ter voltado aos EUA, Beal
escreveu em seu livreto:
Não seria verdade dizer que todos os estrangeiros estavam satisfeitos com
a vida na União Soviética. A maioria veio com intenções honestas, mas
também existiam alguns que esperavam algo em troca de nada. Estes,
obviamente, ficaram desapontados e voltaram rapidamente. Mas a mai-
oria dos que voltaram contam a verdade sobre a situação aqui. [33]
Beal não foi um destes.
Após sua reabilitação na imprensa de Hearst, Beal recebeu a autorização de
cumprir apenas uma pequena parte de sua sentença original de prisão. Sua au-
tobiografia – Jornada Proletária – apareceu em 1937, um clássico da imprensa
marrom que ainda é usado como arma da Campanha da Grande fome-geno-
cídio.
Neste livro, Beal apresenta “amostras” difamatórias de americanos que ti-
nham se voluntariado para ajudar na industrialização soviética. O suposto diá-
logo de Beal com uma mulher negra, que ele diz ter sido “pega nas ruas” para
preencher uma cota da Comintern de americanos negros que trabalhavam na
URSS, claramente mostra sua mentalidade racista e sexista. Em resposta à per-
gunta dele sobre seu passado como membro de um sindicato, a caricatura de
Beal responde:
Não, sinhô, eu não pertenço a sindicato nenhum. Eles não têm sindicato
no meu negócio. Trabalhei uma vez numa fábrica de camisas e as pes-
soas lá, elas me fizero entrar no sindicato, mas ieu larguei. Eu não iria
trabalhar em fábrica nenhuma. Consigo mais dinheiro dos meus clientes
homens. [34]
À essa invenção, Beal adicionou um trabalhador americano que seria um
sanguessuga e estuprador. [35] Em outro ponto, ele faz um de seus persona-
gens afirmar: “Essas mulheres de Moscou são imundas, nunca tomam banho.”
[36] E claro que o livro não estaria completo sem uma descrição de uma terra
arrasada pela Grande Fome – Genocídio:
[...] Eu peguei o trem na nossa pequena estação em Lossevo, e andei por
duas horas até Chekuyev. Deste lugar, andamos por várias milhas. Não
110 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Fotografias usadas de forma fraudulenta em Human Life in Russia (p. op. 65). A foto à es-
querda foi roubada de uma fonte de ajuda à fome russa de 1921-1922 - Informação nº 22
(Genebra, 30 de abril de 1922, p. 16), publicada pelo Comitê Internacional de Ajuda à Rússia
do Dr. F. Nansen. Versões alteradas desta foto de 1922 aparecem em livros nacionalistas ucra-
nianos, como 50 Years Ago: The Famine Holocaust in Ukraine (p. 46) de Walter Dushnyck e
The Black Deeds of the Kremlin (Vol. I, p. 228). “Irmãos na Angústia” (à direita) foi tirada de
um filme anterior a 1930. Até o filme nacionalista ucraniano Harvest of Despair admite que
sua origem não é dos anos 1930 e a relaciona à fome de 1921-1922.
legendas estranhas e arbitrárias podem ser citados com relação a essa imagem
sozinha.)
Outras “cenas de verão” em Human Life in Russia incluem uma pessoa
vestida com casaco pesado, capuz e botas; um motorista funerário, cujo cha-
péu volumoso de peles e casaco de gola de pele apertado também são vestimen-
tas indicativas de uma década anterior; uma mulher e um menino agasalhados
para o inverno, o menino vestindo não apenas um chapéu, mas um casaco com
capuz, cachecol e luvas. Outra foto mostra uma garota com casaco, chapéu e
cachecol - segurando uma criança nua no colo. [25]
CAPÍTULO 3: FOTOS DA FOME: QUAL FOME?| 117
280
Título militar apenas inferior ao monarca, usado no leste europeu medieval principalmente
entre poloneses, ucranianos e cossacos. [N.T]
120 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Essas publicações são dedicadas à fome russa de 1921-1922, mas suas fotos são usadas de forma
fraudulenta para ilustrar a “fome-genocídio ucraniana de 1933”. O filme Harvest of Despair
[“Colheita do desespero”], por exemplo, usa fotos encontradas em cada uma. Em cima à es-
querda: Comitê Internacional de Ajuda à Rússia do Dr. Fridtjof Nansen, Information Nº 22,
Genebra, 30 de abril de 1922. Em cima à direita: publicação nacionalista ucraniana Holod
Na Ukrainyi, por Ivan Gerasymovitch, Berlim, 1922. Embaixo: La Famine en Russie, Gene-
bra, 1922.
CAPÍTULO 3: FOTOS DA FOME: QUAL FOME?| 121
Fotografias do Human Life in Russia. “A Última Jornada” (topo à esquerda) é uma cena da
fome russa de 1921-1922 tirada do Information Nº 22 (pág. 21). A foto, no topo à direita,
mostra homens vestindo boinas do exército russo da Primeira Guerra e apareceu pela primeira
vez como propaganda da “fome de 1933” no jornal nazista Voelkischer Beobachter (18 de agosto
de 1933). Abaixo à esquerda: uma fotografia posada similar às fotos da agência de ajuda à
fome russa de 1921-1922 (p.e. Information Nº 22, pág. 66). Abaixo à direita: essa cena da
cova congelada desmente a alegação de “verão de 1933” de Ammende; lembra muito aquela
encontrada na página 10 do La Famine en Russie.
banco (pág. op. 33, topo), lembra muito a técnica e o estilo de fotos prepara-
das, oficiais de documentação tiradas por grupos de assistência durante a fome
de 1921-22.
Como um experiente trabalhador de assistência à fome russa de 1921-22,
Ammende sem dúvida era familiarizado com o material de 1922 do Nansen;
e Ammende de fato descreve uma reunião com Nansen em Human Life in
Russia. [38] Há poucas dúvidas de que Ammende foi cúmplice na aventura
de falsificação de fotos da fome de seu amigo Ditloff. Pode ser, contudo, que
o próprio Ditloff - e os nazis - tenha tido um papel mais central na fraude.
Lembramos que Dr. Ditloff foi Diretor da concessão agrícola ao governo
alemão no Cáucaso Norte, sob um acordo entre o governo alemão e os sovié-
ticos. Quando Hitler tomou o poder em 1933, Ditloff (assim como os “es-
pecialistas” na fome Herwarth e Henke) não renunciaram em protesto. Ele
continuou como Diretor enquanto durou o projeto, indicando que os nazis-
tas não o consideraram inimigo dos seus interesses. Seguindo seu retorno à
Alemanha Nazista mais tarde naquele ano, Ditloff reuniu uma variedade es-
púria de fotos da fome. Estas, como já demonstrado, incluem fotos roubadas
de fontes da fome de 1921-1922. Somado a isso, ao menos 25 das fotos de Di-
tloff podem ter sido divulgadas pelos nazistas, muitas das quais foram passadas
ou recolhidas por vários editores antissoviéticos e pró-fascistas mundo afora.
Algumas das fotos de Ditloff foram publicadas no órgão do Partido Na-
zista Voelkischer Beobachter (18 de agosto de 1933). Outras apareceram no
London Daily Express (6 de agosto de 1934). Aqui deve-se notar que Am-
mende e Ditloff estiveram na Inglaterra em maio de 1934, fazendo campanha
a favor da pressão britânica contra a União Soviética na questão da fome. Am-
mende e Ditloff visitaram o Ministério das Relações Exteriores britânico, bus-
cando que o voto britânico sobre a admissão dos soviéticos na Liga das Nações
fosse “condicionado a algumas garantias [dos soviéticos] sobre os assuntos [...]
como o alívio da fome”. [39] Como Thomas Walker estava vivendo na In-
glaterra como um escritor antissoviético infiltrado, é possível que tenham lhe
passado fotos ali. De fato, fica óbvio que Walker era o turista inglês anônimo
no London Daily Express.
Em 1935, tanto a imprensa nazista quanto William Randolph Hearst pro-
moveram sistematicamente a campanha da fome-genocídio, junto com horrí-
veis fotografias. Aquele ano também viu a publicação em Berlim do livro vi-
olentamente antissemita do nazista Alfred Laubenheimer Und du Siehst Die
Sowjets Richtig [“E veja você os soviéticos corretamente”]. [40] A introdução
de Laubenheimer ao Und Du Siehst elogia o governo Hitler fervorosamente:
“Graças a Deus que desde a revolução Nacional Socialista [nazista] essas con-
CAPÍTULO 3: FOTOS DA FOME: QUAL FOME?| 123
Deixem que [o massacre] una fortemente nosso povo com a poderosa força
da Alemanha, libertadora da Ucrânia, deixe que [nos] una na luta cruel
e impiedosa com o terrível inimigo da raça humana - o bolchevismo. [7]
Folha de rosto do Zlochyn U Vinnytsya, um relato nacionalista ucraniano de 1943 sobre a des-
coberta das valas de Vinnytsia. Página 46 (em parte) enaltece: “Hitler o grande humanitário e
salvador. Só com trabalho duro e nossas vidas seremos capazes de pagar nossa dívida com Hitler,
e derrotar o comunismo judeu.”
128 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Clérigo pró-nazista Bispo Yevlohiy e Arcebispo Hrihory na abertura das valas de Vinnytsia. O
Bispo Yevlohiy declarou: “O Senhor Deus teve piedade de nós e para a nossa salvação nos enviou
as mãos louváveis do povo alemão e de seu líder Adolph Hitler. Todos devemos ajudar o povo
alemão e, com trabalho honesto e coração dedicado, acelerar a vitória sobre o bolchevismo.”
eds está Fedir Fedorenko. Seria esse o mesmo Fedorenko deportado dos Es-
tados Unidos e posteriormente condenado como guarda confesso do campo
de extermínio de Treblinka? [16] Outros doadores incluem Anatol Bilotser-
kiwsky, [17] identificado em alguns livros como Anton Shpak, um ex-policial
nazista ucraniano em Bila Tserkva, Ucrânia. Sobre essa pessoa, o escritor ucra-
niano M. Skrybnyak declara: “De acordo com documentos e depoimento de
testemunha, Anton Shpak e seus semelhantes exterminaram quase dois mil
residentes civis em Bila Tserkva durante a ocupação nazista. A maioria das ví-
timas eram judeus.” [18] Uma testemunha sobrevivente, I. Yevchuk, relembra:
Quando levavam os judeus para onde os executariam, uma moça bonita
correu para Shpak, “Ora, Anton, o que você está fazendo? Você não lembra
que fomos colegas na escola, você carregava minha mochila?”, ela implo-
rou. “Cala a boca, sua puta desgraçada”, rugiu Shpak, que levantou sua
arma e atirou bem na cara da moça. [19]
282
O nome da cidade é traduzido para o português como Leópolis, porém, essa tradução é muito
pouco usada. Também é possível encontrar o nome da cidade como Lviv. Optamos então
pelo nome mais usado para se referir à cidade: Lvov. [N.T]
CAPÍTULO 4: GUERRA FRIA I: FEITOS SOMBRIOS| 131
Órgão do partido nazista Voelkischer Beobachter, 18 de agosto de 1933: fotos de 1921-1922 são
usadas para ilustrar a fome de 1933. Em 1935 essas fotos reaparecem no livro de propaganda
antissemita Und Du Siehst die Sowjets Richtig (reimpresso em 1937). Esse livro e o Human
Life in Russia de Ammende (1936) dão créditos a Fritz Ditloff como fotógrafo. Fotos dessa
seleção também são utilizadas pelos seguintes livros nacionalistas ucranianos: Black Deeds of
the Kremlin (1953, 1955); 50 Years Ago: The Famine Holocaust in Ukraine (1983); The Great
Famine in Ukraine: The Unknown Holocaust (1983); e o chamado documentário Harvest of
Despair (1984).
132 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
[...] passou alguns anos visitando a URSS e provavelmente falava russo.” [3]
Tão inaceitável quando usar Walker como fonte, é a compulsão de Dalrym-
ple para inserir suposições sem fundamento de que esse homem “provavel-
mente falava russo”, sem mencionar a utilização dessas fabricações como evi-
dências para estender a fome até 1934. Para explorar melhor a pirueta de Wal-
ker, Dalrymple declara que “Walker incluiu uma extensa e arrepiante variedade
de fotos”. [4]
________________________________________________-
___
1. Ralph W. Barnes, Million Feared Dead of Hunger in South Russia, New York Herald
Tribune, 21 de Agosto de 1933, p. 7.
2. Walter Duranty, Famine Toll Heavy in Southern Russia, New York Times, 24 de Agos-
to de 1933, p. 1 (computado de números dados por Duranty).
CAPÍTULO 5: O JOGO DOS NÚMEROS| 137
3. Citado por Eugene Lyons em Assignment in Utopia, Harcourt Brace, Nova Iorque,
1937, p. 579.
4. W. H. Chamberlin, Soviet Taboos, Foreign Affairs, Abril de 1935, p. 435.
5. Stephen P. Duggan, Russia After Eight Years, Harper’s Magazine, Novembro de 1934,
p. 696.
6. Frederick Birchall, Famine in Russia Held Equal of 1921, New York Times, 25 de
Agosto de 1933, p. 7.
7. Bernard Pares, Russia, New American Library, Nova Iorque, 1953, p. 7.
8. Lyons, loc. cit. (estimativas feitas por estrangeiros e russos em Moscou).
9. Starvation in Russia (pauta da Câmara dos Lordes de 25 de julho), The Times (Lon-
dres), 26 de julho de 1934, p. 7.
10. Clarence Manning, Ukraine Under the Soviets, Bookman Associates, Nova Iorque,
1953, p. 101.
11. Whiting Williams, The Worker’s View of Europe, Nation’s Business, dezembro de
1933, p. 20.
12. Naum Jasny, The Socialist Agriculture of the USSR, Stanford University Press, Stan-
ford, 1949, p. 553.
13. Harry Lang, Socialist Bares Soviet Horrors, New York Evening Journal, 15 de Abril de
1935, p. 2.
14. Thomas Walker, 6,000,000 Starve to Death in Russia, New York Evening Journal, 18
de Fevereiro de 1935, p. 1.
15. Nicholas Prychodko, Ukraine and Russia, Ukrainian Canadian Committee, Winni-
peg, 1953, p. 15.
16. Chamberlain, op. cit., p. 432 (estimativas de expatriados da Ucrânia).
17. Wide Starvation in Russia Feared, New York Times, 1 de julho de 1934, p. 13.
18. Otto Schiller, Die Landwirtschaftspolitik der Sowjets und Ihre Ergebnisse, Berlin, 1943,
p. 79.
19. Serge N. Prokopovicz, Histoire Economique de L’URSS, Portulan, Paris, p. 66.
20. Says Ten Million Starved in Russia, New York World Telegram, 7 de julho de 1933,
p. 3.
dos primeiros jornalistas dos EUA a pular no barco pró-Hitler e tentar pôr
um “rosto humano” no nazismo. O autor americano Michael Parenti cita
uma entrevista com Birchall na rádio nacional da CBS pela sua alegação de
que os nazistas não estavam planejando “nenhum massacre dos seus inimigos
ou opressão racial em nenhum nível vital”. Parenti diz:
Enquanto os soviéticos eram retratados como sempre à beira de lançar ata-
ques agressivos contra todos e qualquer um, Birchall tranquilizou os ou-
vintes de que os nazistas não tinham vontade de ir à guerra e Hitler não
podia ser chamado de ditador. Com aquele típico olhar aguçado para o
irrelevante do jornalismo americano, ele observou que Hitler era vegeta-
riano e não fumante, atributos [...] supostamente indicativos de uma na-
tureza benigna. E observou que Hitler havia assumido “o trabalho mais
difícil que um homem poderia empreender”. [16]
O maior pontuador entre os 20 caçadores de fome-genocídio de Dalrym-
ple é Richard Sallet, cujo material foi no jornal de Scripp-Howard, o New York
World Telegram. O tipo de jornalismo desse jornal tinha a fama de chegar
perto da de Hearst. Aparentemente o pessoal de Scripp-Howard não sentia
necessidade de ser conservador quando se tratava de histórias que agrediam os
“russkies” - o lance de Sallet lidera com 10.000.000 mortes.
Antes de sair da lista de Dalrymple, que seja observado que um número
significativo de suas fontes se mostraram fraudes completas, rumores basea-
dos em “residentes estrangeiros” (um termo jornalístico interessante) ou me-
ros boatos, ex-nazistas e colaboradores ucranianos, enquanto ao menos três
das estimativas são citadas da campanha antissoviética do estilo de imprensa
do neofascista Hearst e Scripps-Howard e outras cinco de livros publicados
nos anos de Guerra Fria de 1949-1953, exceto um que foi impresso na Alema-
nha nazista.
Ao estabelecer um contexto para seu caso, Dalrymple não só se apoia pesa-
damente em recortes da imprensa, mas também faz referência a figuras histó-
ricas questionáveis. Entre as suas celebridades (não incluídas na lista dos 20),
encontramos o infame Cardeal Innitzer, trazido para reforçar as alegações de
canibalismo durante a fome. [16] Dentro de poucos anos de trabalho do seu
“comitê de ajuda”, Innitzer teve um papel central na traição da Áustria em fa-
vor dos nazistas. O historiador britânico Joseph McCabe, citando o Annual
Register, declara:
Hitler assegurou ao Cardeal que respeitaria escrupulosamente os direitos
da Igreja; ele assegurou ao Vaticano que em troca da ajuda na Áustria
ele adoçaria suas relações azedas com a Alemanha. Innitzer ordenou aos
142 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
católicos que votassem no homem “cuja luta contra o bolchevismo e pelo po-
der, honra e unidade da Alemanha corresponde à voz da Divina Provi-
dência”, como ele disse [...] Depois da sua própria assinatura no plebiscito,
ele acrescentou “Heil Hitler”. [17]
não tenha sido publicado até 1936, o Dr. Gantt indica que forneceu boa
parte da informação acerca da fome usada por correspondentes americanos
durante esse período [...]”. [31] Curiosamente, Ralph Barnes, mencionado
por Dalrymple como exemplo de repórter que recebeu informações do Dr.
Gantt, parece ter depositado pouca fé nos números de mortos de Gantt. De
acordo com a lista de Dalrymple, o palpite do próprio Barnes era quinze vezes
menor do que o defendido por Gantt. [32] Não obstante tais contradições, as
alegações inverificáveis de Gantt, apesar dos seus números demograficamente
implausíveis, contribuíram para os pitacos estimados de mortes que circula-
ram pelos subsequentes polemistas de direita.
A segunda sessão de “Outras Referências” de Dalrymple apresenta “Ob-
servadores Contemporâneos” trazidos à luz em “[um] estudo de registros antes
não abertos do Departamento de Estado dos EUA”. [33] Isso se refere a um
memorando de uma conversa realizada entre Felix Cole (encarregado de ne-
gócios, Riga) e um certo John Lehrs, com um membro de uma missão diplo-
mática estrangeira em Moscou. Novamente, Dalrymple não vai ou não pode
identificar o funcionário da missão estrangeira - que poderia muito bem ser da
Alemanha Nazista por tudo que o leitor sabe. Tal rumor infundado baseado
em fofoca diplomática mal constitui uma evidência aceitável. Mas Dalrymple
tem a audácia de creditar de sete a oito milhões de pessoas “morrendo de fome”
a esses rumores. [34]
“Informes de Emigrantes” é a terceira categoria encontrada nas “Outras
Referências”. Em aparente desespero, Dalrymple se volta para as contagens
do desacreditado Black Deeds of the Kremlin. Então, depois de citar uma
“autobiografia” de um nacionalista publicada pela imprensa anticomunista de
russos emigrados, Dalrymple traz ao leitor trabalhos de ficção: “Wasyl Barka
apresenta uma versão mais extensa na sua novela Zhovty Kniaz (“O Príncipe
Amarelo”). O livro descreve a luta de uma família de uma fazenda coletiva pela
existência durante a fome e reflete a maioria das ocorrências típicas daquele pe-
ríodo.” [35]
Tendo levado a sua busca de fatos sobre a fome até o campo da ficção po-
lítica, Dalrymple observa que o novelista em questão está empregado no Co-
mitê da Radio Liberty em Nova Iorque, uma agência de propaganda e desin-
formação financiada pela CIA.
Ao terminar os “Informes de Emigrantes”, Dalrymple pega emprestada
uma contagem de mortos de cinco a sete milhões do Ukraine: A Concise Ency-
clopaedia [“Ucrânia: uma enciclopédia concisa”], uma apologia nacionalista
oficial, cujo chefe editor era o chefe dos colaboradores nazistas do “Comitê
Central Ucraniano” nos tempos da guerra, Volodymyr Kubijovyc. [36]
146 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Anúncios de página inteira, com fotografias falsas e espúrias, foram característicos da campanha
de fome-genocídio em 1983. Acima: anúncio da Winnipeg Free Press, 1 de outubro de 1983,
colocado pelo Comitê Ucraniano Canadense. Fotos usadas no anúncio (de cima para baixo):
cadáveres congelados - uma cena de “verão” do Human Life in Russia e a publicação nazista
Und Du Siehst die Sowjets Richtig; homens usando boinas do exército czarista, publicado pelo
órgão do partido Voelkischer Beobachter (18 de agosto de 1933); crianças na fome russa de 1921-
1922, publicada em La Famine en Russia (Genebra, 1922, p. 7); a criança faminta num banco,
do Information Nº 22 (Genebra, 1922, p. 19); Embaixo à esquerda: foto de propaganda nazista
do Voelkischer Beobachter; embaixo à direita: uma vítima da fome de 1922, do Information Nº
22 (p. 16).
CAPÍTULO 6:
GUERRA FRIA II: A
CAMPANHA DOS ANOS 1980
Não foi por acidente que campanhas de massa foram financiadas por toda
a América do Norte em 1983 para homenagear o “50º aniversário da fome-ge-
nocídio na Ucrânia”. O principal objetivo da ressurreição de um assunto tão
dúbio era elevar os sentimentos anticomunistas e facilitar as metas da Guerra
Fria de Reagan. Diferente de “aniversários” anteriores, que se limitaram à pe-
riferia dos círculos de ucranianos exilados de direita, a última homenagem foi
destacada pela publicidade na mídia de massas, outdoors, comícios públicos
e tentativas contínuas de incluir a “fome-genocídio” ucraniano no currículo
escolar. Em Edmonton e Winnipeg, foram erguidos monumentos às “víti-
mas do genocídio”. O “obelisco da fome” de Winnipeg foi um “presente” do
Comitê Ucraniano Canadense à cidade, com um custo registrado de $75.000.
Como Winnipeg é há um bom tempo cidade-irmã de Lvov, na Ucrânia - muito
por causa do aborrecimento dos nacionalistas ucranianos - esse monumento
só pode ser visto como uma provocação política contra relações pacíficas. É re-
velador que nem mesmo uma pequena placa jamais foi colocada para honrar
as milhões de vítimas do holocausto nazista. O fato de esse evento ter ocorrido
nos anos 1980 representa uma infeliz homenagem ao novo clima de Guerra
Fria e ao poder de lobby dos ucranianos de direita.
A cobertura “acadêmica” da campanha da fome-genocídio alcançou seu
auge sem precedentes nos anos 1980. O “crédito” por isso é obtido pela Uni-
versidade de Harvard, como declarado numa publicação recente patenteada
pelo Presidente e Colegas do Harvard College: “[...] a Fome ocupou um lugar
apenas marginal nos escritos históricos produzidos pela geração pós-guerra de
Sovietólogos Ocidentais [...] O Projeto Fome estabelecido pelo Instituto de
Pesquisas Ucranianas da Universidade de Harvard em 1981 tem sido o mais
decisivo na organização de trabalhos acadêmicos sobre a Fome. Membros do
Projeto incluem Robert Conquest, bolsista pesquisador sênior no Instituto
Hoover da Universidade de Stanford [...] [e] James E. Mace, pesquisador ad-
junto no Instituto de Pesquisas Ucranianas e diretor do Projeto [...].” [1]
A Universidade de Harvard tem sido há tempos um centro de pesquisas,
estudos e programas anticomunistas, frequentemente em colaboração com
150 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Será que ele e seus colegas, da maneira que milhares de outros haviam
feito, partiram com as tropas nazistas porque eles haviam colaborado com
os nazistas? No seu relato não há sequer uma palavra de crítica aos na-
zistas; ao contrário, não há nada além de ódio e condenação dos soviéticos.
Com isso em mente, como o leitor pode ver a objetividade do material que
está sendo apresentado? [6]
A conexão do The Ninth Circle com Harvard pode não se limitar a Mace
e ao Fundo de Estudos Ucranianos da universidade. Um programa de pes-
quisa de Harvard é particularmente relevante aqui. Logo depois da guerra,
o Escritório de Coordenação Política do Departamento de Estado dos EUA
(futuro componente da CIA) escalou um time de historiadores de Harvard
para entrevistar europeus do leste nos campos de refugiados na Europa. O
principal objetivo do projeto de pesquisa era a coleta de informações para a
inteligência. Essas entrevistas forneceram muitos dos “relatos de testemunhas
oculares” para as alegações de fome-genocídio. [7]
Indaga-se, de fato, se as entrevistas de Woropay em Münster, na Alemanha
em 1948 foram parte do projeto de Harvard-CIA. O próprio Woropay indica
que sua “pesquisa” consistiu em pouco mais que reunir contos políticos do
calor do pós-guerra num campo de refugiados na Alemanha Ocidental:
No inverno, não tinha nada para fazer e as noites eram longas e maçan-
tes. Para passar o tempo, as pessoas contavam histórias sobre suas próprias
experiências. Havia muitos camponeses da Ucrânia ocidental e eles lem-
bravam da vida sob o governo soviético. [8]
Previsivelmente, Woropay não fornece nenhum contexto político ou de
guerra sobre suas “testemunhas” anônimas. Isso pode ter prejudicado ainda
mais a credibilidade do The Ninth Circle.
A pitoresca prova que Woropay oferece é igualmente suspeita. Somente
fotografias de Thomas Walker foram selecionadas, embora Woropay se reivin-
dique como uma testemunha ocular. Será que ele não percebeu a diferença
entre falsificações obviamente manipuladas tomadas uma década antes, in-
cluindo algumas da Rússia, e cenas de um suposto holocausto que ele afirma
ter testemunhado em sua própria terra?
O texto das histórias de Walker não é reproduzido com as fotos; talvez se
espere que a conexão Walker, como os supostos 7 a 15 milhões de ucranianos,
vai simplesmente desaparecer. Afinal de contas, Walker dizia ter feito suas via-
gens na primavera de 1934; Woropay e Mace não ousam tentar esticar a fome
por mais um ano, eles estão em terreno instável nesse caso. (Na verdade, deve-
se lembrar, Walker nunca pisou na Ucrânia, e entrou na Federação Russa no
152 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
com mais de um terço do total do livro tiradas do Und de Siehst dis Sowjets
Richtig. Laubenheimer abre a seção destacando a coleção de fotos de Ditloff
e o artigo sobre a fome-genocídio de Ditloff com essas linhas do Mein Kampf
de Adolf Hitler:
Se, com a ajuda do seu credo marxista, os judeus forem vitoriosos sobre
outros povos do mundo, sua coroa será a coroa fúnebre da humanidade e
este planeta será, como foi há milhões de anos, movido pelo éter desprovido
de homens.
A Natureza Eterna vinga inexoravelmente a violação de seus mandos.
[12]
Propaganda nazista é usada como fonte primária para evidências da “fome-genocídio de 1933”.
O livro Die Sowjet Union am Abgrund de Laubenheimer também foi utilizado por embaixa-
das Alemãs – marcações nas notas e emblema nazista. Direita: Propaganda de 1935 de Die
Sowjet Union am Abgrund de Laubenheimer – em libação às organizações alemãs e da fronte
Volksdeutsche nazista
156 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Und Du Siehst Die Sowjets Richtig contém a maior coleção de fotos comumente usadas como
evidência de um “genocídio planejado de ucranianos” na fome de 1932-1933. Acima à di-
reita: uma citação do Mein Kampf de Adolf Hitler principia a seção sobre a fome neste livro
de propaganda nazista. As 15 fotografias que aparecem nas duas páginas subsequentes são
idênticas àquelas usadas na série falsa de Thomas Walker na imprensa de Hearst (Fevereiro –
Março 1935). Enquanto Walker diz ter tirado as fotos na primavera de 1934, Und Die Siehst
alega que Fritz Ditloff as tirou em 1933. As roupas, poses formais e qualidade de algumas
delas sugerem uma origem anterior a 1930. Também aparentam ter sido tiradas por distintas
combinações de câmeras e fotógrafos, sendo que algumas dessas fotos já haviam sido publica-
das nos anos 1920.
CAPÍTULO 6: GUERRA FRIA II: A CAMPANHA DOS ANOS 1980| 157
158 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
O texto do 50 Years Ago é uma retórica rasa da guerra fria. Uma crítica do
Professor John Ryan afirma:
[...] [50 Years Ago] apesar de ostensivamente documentado, viola certas
normas de pesquisa acadêmica. Por exemplo, o livro contém inúmeras ci-
tações diretas de líderes soviéticos, ou diretivas do Governo Soviético, mas
em nenhuma ocasião sequer isso é documentado com uma fonte primária;
em vez disso, as notas de rodapé se referem a fontes secundárias, todas as
quais aparentam ser publicações antissoviéticas, e a maioria se refere ao
The Ukrainian Quarterly do qual o autor é o editor. Isso não é propria-
mente uma pesquisa acadêmica, e com base somente nisso toda a publica-
ção se torna suspeita. Se Walter Dushnyck pretendia que fosse um artigo
acadêmico sério, com um B.A. e um M.A., ele certamente deveria saber o
procedimento correto. Noto que seu PhD é da Ukrainian Free University
em Munique, mas pelo que posso afirmar, as universidades canadenses e
americanas não reconhecem o status dessa universidade.
[...] Para alguém familiarizado com o assunto, esse material está total-
mente carente de qualquer entendimento intelectual dos eventos da época.
Em vez de uma análise acadêmica, o material consiste numa polêmica vi-
triólica altamente carregada emocionalmente. De fato, pouco tem a ver
com produção acadêmica e, inquestionavelmente, carece de objetividade.
[22]
50 Years Ago continua a prática nacionalista de usar fotografias falsas e
não-documentadas como evidência. Das catorze fotografias da fome forneci-
das, oito são falsificações de Walker/Ditloff. Entre as outras seis, “Um Monte
de Crianças Famintas” (p. 22) aparece na publicação de 1922 La Famine en
Russie (publicada pelo Comite Russe de Secours aux Affames en Russie, Ge-
nebra, 1922, p. 7). A “Coleção de Cadáveres” (p. 24), outra fraude reserva de
1921-1922, fez sua estreia na fome-genocídio de 1932-1933 na edição de 18 de
agosto de 1933 do órgão da Alemanha nazista Voelkischer Beobachter.
A cena do cemitério do Human Life in Russia aparece na página 36, com
boa parte das características de inverno no primeiro plano cortada para corro-
borar a data alegada por Ammende do verão de 1933. Na página 40, é ofere-
cida ao leitor uma imagem não documentada de crianças sem-teto de aparên-
cia tão velha e de qualidade tão atrozmente pobre de cópia repetida que suas
origens anteriores à década de 1930 dificilmente podem ser contestadas. Um
cadáver nu de 1922 decora a p. 44; também apareceu no já citado Voelkischer
Beobachter. Por último, para a p. 46 Dushnyck selecionou “O Menino Ucra-
niano que já foi bonito”. Essa foto aparece no boletim de 1922 Information
162 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Fotografia usada por Walter Dushnyck em 50 Years Ago: The Famine Holocaust in Ukraine. A
legenda cita enganosamente um artigo canadense como fonte. A fotografia foi tirada na verdade
do La Famine en Russie (Genebra, p. 7), publicado em 1922. 50 Years Ago foi apresentado
por nacionalistas ucranianos ao Conselho Escolar de Winnipeg em 1983 como evidência para
defender a introdução das interpretações de “fome-genocídio” no currículo escolar.
Uma foto de 1922 do La Famine en Russie (p. 9) embeleza a revisão acrítica de Paul Pihichyn do
Execution by Hunger [“Execução por fome”] no Winnipeg Free Press (23 de novembro de 1983).
Escrito por Miron Dolot (um pseudônimo assumido), Execution by Hunger não é documentado
e não contém fotos.
foi palco de quatro enormes batalhas antes da libertação. Das 700.000 pessoas
que moravam na cidade quando foi capturada pelos nazistas, apenas metade
sobreviveu.
Similarmente, Mace ignora fatos básicos sobre os alemães do Volga - entre
650.000 e 700.000 alemães do Volga foram reassentados para leste durante a
guerra e nunca retornaram às áreas de seu antigo assentamento.
Além de ignorar aqueles residentes da década de 1930 que morreram ou
foram realocados por causa da guerra, Mace também ignora o grande número
dos que emigraram para outras regiões e repúblicas durante o período da gran-
de reconstrução do pós-guerra. Em resumo, o censo de 1959, como o próprio
Mace sabe, revela padrões demográficos atribuídos principalmente aos desen-
volvimentos pós 1941. Sua tentativa de detectar fumaça de uma fogueira que
foi engolida por um incêndio é infrutífera desde o princípio. Pode-se concluir
que qualquer admissão da Segunda Guerra Mundial como um elemento te-
nha sido vista por Mace como prejudicial à sua defesa - ele não se importa com
o genocídio nazista, procurando apenas convencer os leitores do “genocídio
comunista”.
Pode-se enxergar um sentido mais gráfico da natureza anticientífica de tal
manipulação estatística ao se projetar uma hipotética fome-genocídio em ten-
dências populacionais na província de Sascachevão [Canadá]. Usando núme-
ros básicos do Canada Year Book, pode-se “provar” que 228.586 residentes
nesta província desapareceram durante a Grande Depressão e na sequência
imediata:
287
A Jornada On-to-Ottawa foi resultado da agitação de homens solteiros desempregados em
campos federais de ajuda humanitária. Campos de ajuda federais foram trazidos sob o go-
verno do primeiro-ministro R. B. Bennett como resultado da Grande Depressão. A Grande
Depressão paralisou a economia canadense e deixou um em cada nove cidadãos em alívio.
[N.T]
CAPÍTULO 7:
A COLHEITA DA DECEPÇÃO
A campanha da fome-genocídio, lançada pelos nazistas em 1933 e reavi-
vada em escala de massas 50 anos depois, atingiu seu clímax com o apareci-
mento, em 1986, do ataque “acadêmico” de Harvest of Sorrow [“A Colheita
do Sofrimento”], de Robert Conquest, e o assalto “visual” do filme Harvest
of Despair [“A Colheita do Desespero”].
Produzido pelo Comitê de Pesquisa da Fome Ucraniana do Instituto St.
Vladimir e sob os auspícios do Comitê Canadense Ucraniano e do Congresso
Mundial de Ucranianos Livres, o Harvest of Despair emprega praticamente
todas as fotos datadas erradas e não documentadas comumente usadas na cam-
panha da fome-genocídio em seu apelo à emoção do espectador.
Esse filme de propaganda nacionalista foi exibido em todo o Canadá desde
1984, usado agora como uma nova arma nas tentativas de incluir a “fome-ge-
nocídio” no currículo escolar como parte de uma campanha muito mais am-
pla. A Canadian Broadcasting Corporation, aparentemente sem saber da sua
cumplicidade com essa fraude, televisionou o Harvest of Despair para uma
audiência nacional no outono de 1985. Ilustrando a tendência da era Reagan
do establishment político e midiático de aceitar qualquer coisa antissoviética,
o filme ganhou uma Medalha de Ouro e o Grand Trophy Award Bowl no 28º
Festival Internacional de Filme e TC em Nova Iorque em 1985.
Contradizendo o prestígio que essa honraria implica, contudo, uma re-
vista de Nova Iorque descreveu esse festival de filmes como: “Notoriamente
conhecido como um festival pague-pelo-nariz-para-ganhar-um-grande-prêmio
[“pay-through-the-nose-for-a-snatch-of-the-big-time”], foi rebaixado ao longo
do tempo nesta coluna pela sua política de fornecer placas de prêmio oficiais
fraudadas a todos os participantes, independentemente da qualidade.” [1]
Talvez sentindo o mau cheiro, certos meios de comunicação dos EUA têm
sido no mínimo instintivamente cautelosos com esse filme. Inicialmente, o
Public Broadcasting System se recusou a tratá-lo, enquanto a WNET sabia-
mente o declarou “inadequadamente documentado”. Em novembro de 1985,
a WPBT em Miami rejeitou o Harvest of Despair com o argumento de que “ti-
nha percebido um viés em termos de público”. Algumas outras organizações
de mídia dos EUA o descreveram corretamente como “subjetivo” e expres-
170 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
ucraniana e que “muito poucas fotos de ‘32-33’ pareciam poder ser rastreadas
como autênticas. Uma cena dramática no final do filme de uma garota emaci-
ada, que também foi usada no material promocional do filme, não é da fome
de 1932-1933”, disse Carynnyk.
“Eu deixei claro que esse tipo de imprecisão não pode ser permitida”, disse
ele numa entrevista. “Eu fui ignorado.” [16]
Mesmo o material de promoção de Harvest of Despair usa uma foto não autêntica – uma garota
russa da fome de 1921-1922. Seu uso falseador para ilustrar a fome de 1933 foi admitido pelo
pesquisador do filme Marco Carynnyk.
CAPÍTULO 7: A COLHEITA DA DECEPÇÃO| 175
O Comitê para a Pesquisa da Fome na Ucrânia clama que as imagens usadas em Harvest of
Despair provém de “três fontes primárias”. Não incluídas nessas três está o livro nazista de
propaganda antissemítica Und du Siehst die Sowjets Richtig. As fotos acima e abaixo, usadas
em Harvest of Despair, são tiradas do Und du Siehst, muitas das quais são cenas típicas russas.
Esquerda: camponeses em roupas típicas russas – perceba o calçado de fibra e as calças típicas
(Und du Siehst, p.37, placa 7). Direita: legenda no Und du Siehst lê “um garoto pedinte de
vilarejo nas ruas de Moscou” (p.48, placa 29). Abaixo: 1- p.42, placa 16; 2- p.43, placa 18; 3-
p.43, placa 17; 4- p.51, placa 35; 5-p.57 placa47 e 6- p.132, placa 69
176 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
ou pelos produtores do filme, elas não foram usadas ou foram usadas so-
mente onde não afetaram a narrativa e apenas como ilustrações dos rela-
tos de outras testemunhas oculares. Esses usos dessas últimas imagens são
claramente reconhecidos como adequados pelos produtores de filmes docu-
mentários, e não distorce ou afeta de forma alguma os fatos apresentados
no filme, ou a autenticidade dos eventos mostrados. [27]
Esse uso, na verdade, claramente não é reconhecido como adequado. Por
definição, um “filme documentário” visivelmente documenta, verifica fatos e
eventos. Em parte, nenhuma do filme há fotos ou filmagens específicas identi-
ficadas como ilustrativas, em vez de documentárias. O simples fato de materi-
ais não autenticados terem sido usados não é reconhecido em canto nenhum
do filme. Reedição de “documentários” de propaganda nazista da década de
1930, o Harvest of Despair vai além de uma pesquisa acadêmica desonesta. O
uso generalizado de imagens deturpadas engana e manipula o público para se
adequar aos propósitos políticos dos criadores do filme. Dado o reconheci-
mento de Carynnyk de que o produtor do filme “ignorou” seus protestos de
que “esse tipo de imprecisão não pode ser aceita”, só se pode concluir que o
Harvest of Despair representa uma fraude deliberada.
Não é descabido repetir o apelo deste autor a uma revisão independente
para examinar e avaliar melhor esse filme, principalmente considerando os sub-
sídios e apoio logístico que recebeu de órgãos de financiamento públicos como
o National Film Board [Conselho Nacional de Filmes] do Canadá e o Multi-
culturalism Canada.
O Harvest of Despair evidentemente não é um documentário. Ao con-
trário, é uma contribuição grosseira de propaganda para uma campanha da
Guerra Fria em andamento. Completamente de acordo com esse contexto, o
coprodutor do filme Luhovy demonstra seu talento para o melodrama da dé-
cada de 1950, ao declarar: “Eu não posso dizer honestamente se meus parentes
que vivem na União Soviética sofrerão por causa desse filme.” [28] Os parentes
soviéticos de Luhovy podem bem sofrer severamente - do constrangimento de
ter um parente produzindo um compilado tão sujo que serve a uma causa já
há tanto tempo desacreditada.
__________________________________________
O anúncio acima cria uma lista das “engenhosas variações” do terror co-
munista reservadas para os americanos democráticos, incluindo o espectro de
estupros coletivos de mulheres americanas por soldados russos, um destino
miserável para as crianças americanas e alertas para “fomes” inevitáveis. Mas
pode haver esperança. Este livro, nos informam os seus divulgadores do Con-
servative Book Club, é “onde aprender sobre a guerra de guerrilha e sobre a
sobrevivência [...]”. Eles citam o Wall Street Journal para um endosso - “lei-
tura obrigatória sobre o que esperar nos EUA se nos tornarmos tão covardes
que os soviéticos nos dominem [...]”. [35]
Que “historiador” melhor para dar um verniz acadêmico para a campanha
da “fome-genocídio” do que o Dr. Robert Conquest? Mas algumas revisões
foram feitas. O trabalho anterior de Conquest (The Great Terror) alegou que
apenas cinco a seis milhões de pessoas tinham perecido no período de 1932-
1933, e só pouco mais da metade eram ucranianos. [36] Esse dado era inade-
quado para a nova, melhorada campanha da fome-genocídio dos anos 1980.
Entre novas investigações de criminosos de guerra do Leste Europeu na Amé-
rica do Norte, foram exigidos trabalhos diferentes com cálculos de mortes que
se aproximem ou superem os seis milhões judaicas de Hitler. Com a ascensão
do reaganismo e uma crescente mentalidade de Guerra Fria na kremlinologia
dos EUA, existiam condições para a reintrodução de velhas alegações da ex-
trema direita sob a guisa de pesquisa acadêmica séria. Como publicado no
proeminente jornal nacionalista ucraniano, Conquest aumentou - em 1983 -
sua estimativa de mortes para 14 milhões e estendeu as condições de fome para
1937. [37] Tais revisões coincidiram comodamente com o “50º aniversário da
fome-genocídio” lançado naquele ano.
Os capítulos de abertura e a linha geral dos eventos do Harvest of Sorrow
tendem a duplicar a abordagem tradicional da sovietologia americana sobre a
história soviética e a teoria leninista, assim como as interpretações dos naci-
onalistas ucranianos de direita sobre a história ucraniana. Portanto, os vários
grupos nacionalistas que dominaram partes da Ucrânia durante a Guerra Civil
Russa e as intervenções estrangeiras simplesmente são apresentados como go-
vernos idôneos. A aceitação por Conquest da mitologia do estado nacionalista
CAPÍTULO 7: A COLHEITA DA DECEPÇÃO| 181
“Os fatos falam por si só”, responde o Sr. Conquest. Embora admitisse que
tenha citado artigos das séries de Walker, ele não aceitou que eles eram
fraudulentos. “Isso nunca foi confirmado.” [44]
As evidências fotográficas de Conquest consistem nas mesmas velhas ima-
gens não datadas. Elas incluem as falsificações de Thomas Walker somadas ao
banner do Chicago American de 6 de março de 1935 de Hearst. Pode-se até
encontrar a “garota com a criança-sapo” tirada de uma publicação da ajuda à
fome russa de 1922 e famosa pelo seu uso por Walker, Ammende e Laube-
nheimer. Além disso se encontra a velha cena do cemitério com neve e gelo do
“verão de 1933” que Ammende tentou passar em 1936 e uma óbvia foto da
ajuda humanitária de 1921-1922 de uma linha de crianças famintas intitulada
“Os sem-teto”. [45]
Novamente em resposta a críticas, Conquest tenta justificar o uso de fotos
de 1921-1922 para ilustrar alegações de fome-genocídio em 1932-1933: “Além
disso, ele diz que as fotografias da época são difíceis de identificar claramente,
mas, de qualquer forma, ele de fato cobriu a fome de 1921 no seu livro para
que as daquela época não fossem necessariamente inadequadas.” [46] Sombras
do Harvest of Despair.
Além do desequilíbrio político das fontes de Conquest, sua confiança em
memórias revela mais defeitos na sua pesquisa e metodologia. Um analista de
memórias de guerra afirmou: “a memória é uma espécie de ficção, diferindo
do ‘primeiro romance’ [...] apenas por atestados implícitos de veracidade [...]
Quanto mais os materiais escritos saem da forma do diário, mais eles se apro-
ximam do figurativo e do ficcional.” [47] Pode-se acrescentar - principalmente
quando questões de próprio interesse de natureza política e quando aspectos
desagradáveis de um passado devem ser ocultados.
O historiador americano J. Arch Getty observou que, para nenhum outro
período ou assunto, exceto para o estudo da União Soviética nos anos 1930,
“os historiadores ficaram tão empolgados em escrever e aceitar histórias-por-
anedota”. Ele declarou:
Grandes generalizações analíticas vieram de pedaços de fofocas de segun-
da-mão de conversa de corredor. Histórias de campos de prisão (“Minha
amiga conheceu a mulher de Bukharin numa prisão e ela disse [...]”) vi-
raram fontes primárias sobre as tomadas de decisões políticas centrais [so-
viéticas] [...] a necessidade de generalizar informações particulares e não
verificadas transformou rumores em fontes e equiparou a repetição de his-
tórias com confirmação.
É uma característica reveladora da metodologia de Conquest referente à
CAPÍTULO 7: A COLHEITA DA DECEPÇÃO| 183
União Soviética, escreve Getty, que ele eleva rumores e “ouvir dizer” ao nível
de fato histórico. [49] De fato, o próprio Conquest declarou: “A verdade só
pode ser filtrada na forma de rumores” e, “em questões políticas, basicamente
a melhor fonte, embora não infalível, são os rumores”. [50] Getty comenta:
“Essas declarações seriam espantosas em qualquer outro campo da história.
É claro que historiadores não aceitam conversas e rumores como evidência.”
[51]
Tendo batizado rumores e boatos para o reino da evidência histórica em
The Great Terror (objeto da crítica de Getty), Conquest passa a conceder-lhes
ritos de confirmação em Harvest of Sorrow. Os exemplos a seguir estão em
apenas uma página:
Um comunista estrangeiro foi confrontado com um número de dez mi-
lhões de mortes na URSS como um todo. [A referência é a um artigo da
imprensa Hearst de 1935]
semeados, além disso, quando a colheita estava sendo feita [...] em mui-
tas áreas, especialmente no sul, 20, 40 e até 50% foi deixado nos campos e
não foram coletados ou foram perdidos na debulha. [13]
Duvida-se que os heróis dos nacionalistas - aqueles grupos proprietários
que cometeram grande destruição dos recursos agrícolas - tenham sido rece-
bidos calorosamente pelo resto da sociedade que sofreu as consequências. A
destruição dos meios de vida deve ter sido considerada criminosa.
A luta em torno da coletivização não foi limitada aos kulaks. Um número
considerável de camponeses médios foi tratado erroneamente como kulaks.
No lugar de serem ganhos para o apoio da coletivização, eles resistiram à co-
letivização. Louis Fischer observou: “Eu mesmo vi, por toda a Ucrânia em
outubro de 1932, enormes pilhas de grãos que os camponeses se recusaram
a recolher e estavam apodrecendo. Essa, eu escrevi, ‘era a comida de inverno
deles. Depois esses mesmos camponeses passaram fome.’ O Sr. Chamberlin
interpretou falsamente a fome e alguns americanos aceitaram sua interpreta-
ção.” [14]
Problemas inerentes à introdução massiva de um novo sistema coletivo de
cultivo complicaram ainda mais a situação. A própria escala e velocidade da
coletivização foi assustador: no espaço de quatro anos, mais de 14 milhões de
fazendas foram coletivizadas, incluindo 70% das fazendas na Ucrânia. [15]
A coletivização ocorreu a taxas e com métodos sujeitos a extremas oscilações
dependendo das habilidades e atitudes das autoridades locais e regionais. O
planejamento cuidadoso deu lugar a confusão, pois mesmo os níveis superio-
res de programação e de metas da coletivização estavam sujeitos a mudanças e
revisões drásticas. Com poucas experiências históricas para se apoiar e em um
campo conhecido pelo atraso e pelas velhas tradições camponesas, milhões de
pequenos lotes e propriedades foram fundidas em algumas centenas de milha-
res de fazendas coletivas. Os camponeses há muito acostumados ao trabalho
manual e com tração animal eram agora introduzidos aos arados e semeadeiras
puxadas por tratores, colheitadeiras mecânicas e debulhadores. Diante desse
cenário e da sabotagem generalizada, uma transição tranquila era impossível.
Somado a isso há erros e excessos cometidos no curso da coletivização. Ao
contrário do que ideólogos e “especialistas” nacionalistas tentariam nos fazer
acreditar, a historiografia soviética não ignora esse período, nem encobre erros
cometidos. (É verdade, porém, que pouco foi escrito na União Soviética sobre
a fome; como a vida contemporânea soviética demanda um olhar mais aberto
à sua história, pode-se esperar que isso vá mudar.) O History of the Ukrainian
SSR [“História da RSS da Ucrânia], de oito volumes (dois deles duplos) for-
nece a seguinte análise e crítica no capítulo “Luta Contra Distorções da Linha
190 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Todas essas distorções e erros, que não tinham nada em comum com a
linha leninista do partido, foi útil aos kulaks, à burguesia nacionalista,
aos oportunistas de direita e aos trotskistas. [16]
de 50 a 100 anos atrás dos países. Devemos percorrer essa distância em 10 anos.
Ou fazemos isso ou eles nos esmagarão.” [21]
E eles correram! O programa da coletivização e os projetos de industriali-
zação em larga escala dos planos quinquenais dos anos 1930 foram orientados
para a construção de um país industrial moderno, além de desenvolver o soci-
alismo e fortalecer a habilidade da URSS de se defender. A um grande custo,
contra tremendas dificuldades, e não sem dolorosos erros e excessos, a União
Soviética atingiu seus objetivos. O jornalista americano Howard K. Smith ob-
servou:
[...] a produção atingiu seu nível de 1913 apenas em 1928. Depois eles
começaram seus planos para a industrialização. Em outras palavras, eles
não tinham vinte e três, mas só doze anos para se prepararem para a Se-
gunda Guerra Mundial. A medida do seu sucesso está nos índices compa-
rativos da produção industrial de 1940, com o nível de 1913 como index
100 em todos os casos:
França 93,2
Reino Unido 113,3
EUA 120,0
Alemanha 131,6
URSS 908,6 [22]
COLABORAÇÃO E
CONSPIRAÇÃO
Em 30 de junho de 1941, o exército nazista entrou em Lvov, capital da
Ucrânia ocidental. Na sua vanguarda veio o Batalhão Nachtigall, de uniforme
alemão, sob o comando de Roman Shukhevych. Com o conluio do Abwehr
nazista, a facção de Bandera da Organização dos Nacionalistas Ucranianos
criou imediatamente o chamado “Governo das Terras Ocidentais da Ucrânia”,
chefiado por Yaroslav Stetsko que havia acompanhado os invasores nazistas
para a cidade. Um pogrom da população judaica da área de Lvov foi logo lan-
çado. [1] Phillip Weiss, líder do Comitê do Holocausto de Winnipeg e so-
brevivente da Ucrânia ocidental, nota que isso foi antecipado pelo “[...] ar de
medo e terror pairando sobre a cidade por causa da aproximação do exército
alemão e o conhecimento público do próximo pogrom de judeus por nacio-
nalistas ucranianos”. [2]
O escritor americano Saul Friedman, que empreendeu uma extensa pes-
quisa na perseguição histórica de judeus por nacionalistas ucranianos, afirma
no seu livro Pogromchik:
filho de três anos Mikhailo foi baleado com uma pistola Browning de baixo
calibre.” [4]
Uma sobrevivente judia ucraniana de Kolomija descreveu a barbárie dos
nacionalistas ucranianos. “O momento em que os alemães entraram, [...] [os
nacionalistas ucranianos] vestiram braçadeiras brancas [...] e começaram uma
matança.” Escondido num bunker com outras 17 pessoas, ela se lembra:
Ouvimos um tiro bem perto. Depois uma garota e eu subimos silencio-
samente do porão [...] Olhamos em volta, saímos, havia uma mulher
grávida caída. Seu bebê ainda se mexia nela. Ela não falava, mas ela
ainda estava viva. Depois ouvimos algo se aproximar. Saímos correndo
[...] Quando subi do bunker naquele segundo dia [...] e olhei pela janela
para ver o que estava acontecendo, a imagem que vi nunca será apagada
da minha mente. Dez ou doze policiais ucranianos andando com suas bo-
tas altas de couro; todos cobertos de sangue. Eles foram ao poço que ficava
no final da nossa rua para lavar o sangue. [5]
O historiador Reuben Ainsztein registrou a ajuda generalizada e volun-
tária dada pelos nacionalistas ucranianos aos extermínios nazistas na Ucrânia
ocidental. No seu clássico Jewish Resistance in Nazi-Occupied Eastern Eu-
rope, ele afirma que no começo da ocupação nazista, os dirigentes da OUN:
Stetsko e Bandera proclamaram a criação de uma “Ucrânia livre” e or-
ganizaram uma forte milícia de 31.000 homens [...] A milícia teve um
papel importante em tornar possível que o Einsatzkommando executasse
suas tarefas de genocídio e terror até meados de agosto [de 1941] [...] A
milícia foi então dissolvida e 3.000 feridos foram autorizados a entrar na
polícia auxiliar ucraniana, que deveria desempenhar um papel tão abo-
minável na aniquilação dos judeus no Leste Europeu. [6]
Nos primeiros oito meses da ocupação nazista da Ucrânia Ocidental, 15%
dos judeus galícios - 100.000 pessoas - foram massacrados pelas ações conjun-
tas dos alemães e dos nacionalistas ucranianos. [7] Um sobrevivente judeu-
canadense e condecorado partisan antinazista Nahum Kohn descreve o pa-
pel fascista ucraniano no holocausto na região da Volínia da Ucrânia: “[...]
quando judeus eram massacrados, quatro ou cinco alemães participariam, ‘aju-
dados’ por 100 ou 200 nacionalistas ucranianos. Quando a Ucrânia foi pra-
ticamente Judenrein [“limpa de judeus”], a Banderovtsy (OUN-Bandera) se
voltou para os seus vizinhos poloneses.” [8] Na sua autobiografia, Kohn des-
creve como seus guerrilheiros vieram ao resgate dos habitantes poloneses de
Pshebrazhe, violentados pelos fascistas Banderistas que massacraram 40% dos
moradores. [9]
CAPÍTULO 9: COLABORAÇÃO E CONSPIRAÇÃO| 201
[15]
ocupação nazista. Muitos milhares que fugiram para a Alemanha e outros lu-
gares, após a retirada dos exércitos nazistas, tiveram que encobrir sua culpa
pessoal e coletiva no holocausto e na traição de seu país. Há de fato uma ten-
tativa consciente de disfarçar o passado dessas pessoas, e de distorcer a história
do papel dos nacionalistas ucranianos no holocausto nazista. Esses encobri-
mentos são subtemas nas campanhas da fome-genocídio, pois a credibilidade
das alegações de fome-genocídio é destruída por associação direta com cola-
boração e atrocidades na época da guerra. Por exemplo, durante um simpósio
de professores em Winnipeg em 1984, no qual falava da “fome-genocídio”, Ja-
mes Mace foi perguntado por que ele pensava que os nacionalistas ucranianos
apoiaram Hitler e a invasão nazista da Ucrânia. Mace respondeu que eles apoi-
aram Hitler apenas por um breve período no início da guerra. [21]
Mas a relação entre o nazismo alemão e o nacionalismo ucraniano não foi
uma breve lua-de-mel. Ambos representavam formas de nacionalismo extre-
mista que no final da década de 1920 alcançaram alguns fundamentos ideo-
lógicos comuns. Dois documentos dos anos 1920 indicam a direção do pe-
ríodo de transição do nacionalismo ucraniano. O primeiro é o Decálogo (De-
kaloh), os dez mandamentos do nacionalismo ucraniano. Originalmente pu-
blicado no Surma em 1929, todos os membros da Organização dos Naciona-
listas Ucranianos tinham de memorizá-lo:
Consiga um Estado Ucraniano ou morra em batalha por ele.
Não permita que ninguém difame a glória ou a honra da Sua Nação.
Lembre-se dos Grandes Dias dos nossos esforços.
Tenha orgulho do fato de Você ser um herdeiro da luta pela glória do Tri-
dente de Volodymyr.
Vingue a morte dos Grandes Cavaleiros.
Não fale da causa com quem quer que seja possível, mas apenas com quem
quer que seja necessário.
Não hesite em cometer o maior crime, se o bem da causa o demanda.
Considere os inimigos da Sua Nação com ódio e perfídia.
Nem pedidos, nem ameaça, nem tortura, nem a morte podem obrigar
Você a revelar um segredo.
Aspire a expandir a força, os cumes e o tamanho do estado ucraniano,
mesmo por meio da escravidão de estrangeiros. [22]
Similarmente, mas num nível mais intelectual, se encontram inconfundí-
veis noções fascistas de mistificação e “o destino” nas teses de V. Voin sobre a
“juventude com pensamento de Estado”:
204 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Esse extremismo de Voin provavelmente não era atípico pois a Liga é suge-
rida por uma declaração pública liberada pela LUN [League of Ukrai-
nian Nationalists] no final do verão de 1926. “[...] a única forma possível
de domínio estatal, no começo e sob as presentes condições, pode ser uma di-
tadura de grupos de patriotas-nacionalistas ucranianos organizados, que
têm tendências de pensamento de Estado, [uma ditadura] que deveria
ser realizada na pessoa daquele vozhd [führer] nacional que vai organi-
zar e completar a liberação do povo ucraniano.” [24]
opôs. Mas hoje quando judeus não foram nem açoitados, mas apenas
amedrontados, todo mundo grita. [28]
Percebe-se que enquanto ontem os supostos perpetradores de genocídio
eram rotulados de judeus, hoje o rótulo mudou para russos. Antissemitismo
tem uma longa história na ideologia nacionalista. Um exemplo especialmente
vil da literatura de ódio filonazista apareceu na edição de janeiro de 1935 do
Klich (O Chamado), publicado por Anthony Hlynka, um membro de Cré-
dito Social do parlamento de Vegreville, em Alberta. Culpava os judeus pela
fome:
Isso é o descendente dos sanguessugas que exploraram a Ucrânia.
Seus ancestrais roubaram nossos pais da última faixa de terra.
Seus ancestrais ficaram com as chaves dos nossos templos.
Seus ancestrais eram informantes contra nós.
Sua raça barrou o caminho para a formação do nosso estado.
Sua raça assassinou o líder da República Ucraniana.
Sua raça manchou perante o mundo o nome do nosso grande Chmelnitsky.
Sua raça é responsável pelo terror sem precedentes na Ucrânia.
Sua raça matou por exílios, torturas e fome não só milhões de nossos irmãos
e irmãs como também milhões de crianças inocentes da Ucrânia.
Sua raça abusou, perverteu, poluiu, corrompeu e contaminou a majestade
da Ucrânia. [30]
Sem nenhuma menção ao antissemitismo do Klich, Marunchak escreve
sobre Hlynka em The Ukrainian Canadians: A History: “Pelo seu interesse
nas condições dos refugiados, A. Hlynka logo ficou conhecido como o ‘guar-
dião da terceira [pós-guerra] imigração para o Canadá’.” [31]
O contexto ideológico do nacionalismo ucraniano foi um fator que contri-
buiu no apoio ao fascismo de Hitler. O ideólogo nacionalista ucraniano Dmi-
tro Dontsov (que foi permitido se estabelecer no Canadá depois da Segunda
Guerra Mundial) tentou justificar a tomada de poder de Hitler na Alemanha,
descrevendo as condições pré-nazistas, em parte: “O terceiro fator de decadên-
cia foi a comunidade judaica internacional que atacou o país colapsado como
gafanhotos para, junto com os vitoriosos, dele dispor livremente, para man-
char a literatura, a música e a arte teatral com os males da pornografia [...] para
manchar as artes puras com as ideias do bolchevismo.” [32] Bem relacionados
com os círculos de inteligência nazistas seguindo a tomada do poder por Hi-
tler, as visões fascistas da OUN a levaram diretamente para a aliança na guerra
CAPÍTULO 9: COLABORAÇÃO E CONSPIRAÇÃO| 207
Cartaz de recrutamento para a 14ª Divisão da Waffen SS. No Canadá, a organização dos anti-
gos membros da 14ª Divisão da Waffen SS se chama Brotherhood of Former Combatants, First
Ukrainian Division, Ukrainian National Army [“Irmandade dos Antigos Combatentes, Pri-
meira Divisão Ucraniana, Exército Nacional Ucraniano”], e é filiada ao Ukrainian Canadian
Committee [“Comitê Canadense Ucraniano”].
CAPÍTULO 9: COLABORAÇÃO E CONSPIRAÇÃO| 213
Osyp Nawrocky (primeiro à direita), ex-chefe dos terroristas do pré-guerra da Organização Mi-
litar Ucraniana e durante a Segunda Guerra Mundial, membro do Estado Maior da 14ª Di-
visão da Waffen SS, posa com oficiais nazistas durante a ocupação alemã da Ucrânia. Tendo
escapado para o ocidente depois da guerra, Nawrocky morou em Winnipeg e teve uma posição
de liderança no Comitê Canadense Ucraniano.
A 14ª Waffen SS, liderada por oficiais nazistas do topo até praticamente o
nível da companhia, sem nenhum comando nacionalista ucraniano indepen-
dente, foi fundamental para dar treinamento militar ao UPA. Isso só poderia
ter acontecido com o planejamento, conhecimento e aprovação do comando
da SS e dos oficiais alemães que lideravam a divisão. De fato, certos histori-
adores nacionalistas admitem abertamente que o UPA foi assistido pela 14ª
Waffen SS. Wasyl Veryha, um veterano da SS e historiador da Divisão em To-
ronto, escreveu na Visti Combatanta (uma revista de veteranos ucranianos da
SS):
Ao lembrar dos fatos bastante conhecidos de que o pessoal treinado na di-
visão [14ª Waffen SS] havia se tornado a espinha dorsal do UPA, deve
ser mencionado que o comando do UPA também mandou grupos de seu
pessoal à divisão para receber treinamento militar adequado [...] Isso re-
forçou o UPA que foi deixado na terra natal [depois da retirada dos na-
zistas], principalmente seus comandantes e instrutores. [51]
214 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Zum Sieg, órgão semanal da 14ª Divisão da Waffen SS. A edição acima inclui a mensagem de
Ano Novo de Adolph Hitler, que afirma numa parte: “O judaísmo internacional conduz essa
guerra para colocar a Europa e a Inglaterra ao bolchevismo.”
inyk admitiu que o UPA “foi influenciado e formado após o padrão nazista”, e
“adquiriu toda a mentalidade nazista”. Além disso, ele “não era uma unidade
de combate do povo ucraniano, mas meramente uma Waffen SS ucraniana da
OUN”. [52]
O serviço dos nacionalistas ucranianos ao Terceiro Reich de Hitler não
acabou com a expulsão dos nazistas da Ucrânia em 1944. Como revelou o
oficial nazista Schtolze nos julgamentos de crimes de guerra de Nuremberg:
Durante a retirada das tropas alemães da Ucrânia, Kanaris instruiu
pessoalmente a Abwehr para estabelecer uma rede secreta para continuar
a luta contra o poder soviético na Ucrânia, para organizar atos de terro-
rismo, subversão e espionagem. Agentes competentes foram deixados espe-
cialmente para dirigir o movimento nacionalista. Foram dadas ordens
para instalar esconderijos, para armazenar munições, etc. Para manter
a ligação com essas bandas, agentes foram enviados para cruzar a linha
de frente. [53]
Resolution [“Resolução das Nações Cativas”] - cada palavra do que foi es-
crito (na sua própria admissão publicada) por seu porta-voz, Dr. Lev. E.
Dobriansky, então professor associado da Universidade de Georgetown,
e fazer com que esse documento fosse solenemente adotado pelo Congresso
como uma declaração da política americana. Essa resolução comprome-
teu os Estados Unidos, na medida em que o Congresso tinha o poder de
fazê-lo, com a “libertação” de 22 “nações”, duas das quais nunca tiveram
nenhuma existência real, e cujo nome de uma delas parecia ter sido in-
ventado no ministério da propaganda nazista durante a guerra recente.
[10]
sionismo-moscovita.
Para encenar a fabricação da fome-genocídio, o holocausto contra os ju-
deus é minimizado e descartado como uma reivindicação dos “judeus sionis-
tas”. Desde o começo a causa do antissemitismo é vista como “obstinação e
arrogância judaica”. [28] O número de seis milhões de vítimas judaicas é des-
contado como uma “alegação” e o leitor é informado que o holocausto contra
os judeus está sendo usado meramente como “a arma de propaganda número
um de Israel”. [29] Em simpatia com aqueles que negam o holocausto, como
os racistas canadenses Zundel e Keegstra, Chumatskyj afirma:
[...] historiadores revisionistas que reivindicam que não houve nenhum
plano para exterminar judeus, não houve gaseamento em massa e que me-
nos de um milhão de judeus morreram de todas as causas na Segunda
Guerra Mundial, são perseguidos, e seus livros são banidos por boicote co-
mercial. Eles têm sido perseguidos nos tribunais [...] nos EUA, Alemanha
Ocidental e Canadá, eles estão sujeitos a assassinatos de reputação na mí-
dia [...] [30]
ucranianos em qualquer posição de falar sobre esse assunto com qualquer grau
de credibilidade” ao “medo da repercussão nas suas vidas profissionais. Eles es-
tão bem cientes da formidável presença judaica em todas as áreas de emprego
e evitam morder a mão que os alimenta.” [37]
Mais repugnante ainda são os comentários feitos pelo Padre Myron Sta-
siw numa estação de rádio de Toronto em fevereiro de 1985. Stasiw, um ex-
membro da 14ª Divisão da Waffen SS, ainda carrega a sua tatuagem da SS e não
demonstra nenhuma vergonha em ter sido membro desse aparelho sujo. Um
membro proeminente da comunidade de nacionalistas ucranianos, Stasiw foi
eleito presidente da Associação dos Nacionalistas Ucranianos (filiada ao Co-
mitê Canadense Ucraniano) em abril de 1987. Afirmando que, se existisse tal
coisa como “ucranianos criminosos de guerra”, eles seriam “consideravelmente
menos numerosos que os judeus criminosos de guerra”, Stasiw repete a velha
calúnia propagada por reacionários ucranianos:
Os judeus e seu ódio pelos ucranianos remontam a 300 anos atrás ou mais;
mas eles não dizem quais foram as causas desses pogroms judaicos - aque-
les que tinham as chaves para as igrejas cristãs e não permitiriam que as
pessoas entrassem para rezar. Eles eram os taberneiros, que roubaram os
camponeses das suas terras por whiskey, e os fizeram seus servos. Da mesma
forma, os judeus não falam sobre como os judeus jogaram alcatrão der-
retido e água fervente e apedrejaram as cabeças dos soldados ucranianos
[os nacionalistas de Petliura] em Berdichev, em 1918 no tempo do estado
ucraniano [...] Quantos judeus estavam lá no governo de Leiba Trotski?
[...] Considere a façanha de Kaganovich como comissário da Ucrânia nos
anos da fome de 1932-1933, quando mais de sete milhões de ucranianos
pereceram de fome artificial. [38]
nifica uma guerra nuclear universal.” [43] Para não ficar para trás, o Vyzvolnyi
Shliakh afirmou: “A continuidade da existência da URSS configura uma ame-
aça maior ao mundo do que um cataclisma nuclear.” [44]
Fora do movimento nacionalista, num contexto mais amplo, a campanha
da fome-genocídio é uma engrenagem na roda da guerra psicológica contra a
URSS na máquina militar dos EUA. Documentos desclassificados dos EUA
do final da década de 1940 e 1950 claramente associam uma política ofensiva
contra a União Soviética e a sua derrota aos interesses dos Estados Unidos. Nos
anos 1980, o governo dos EUA reenfatizou a política oficial de legitimar o pri-
meiro uso de armas nucleares, um ataque nuclear “preventivo”, e teorias de
guerra nuclear “limitada” e “ganhável”. [45] Uma atmosfera de confrontação
direta com a URSS tem sido promovida, usando a linguagem da chantagem e
ameaças características da “cruzada contra o comunismo” do presidente Ro-
nald Reagan dos EUA.
É cultivada cuidadosamente a imagem de um “Império do Mal” Soviético
preparado para lançar uma guerra convencional ou nuclear para atingir a “do-
minação do mundo”. Deve-se tomar cuidado com o apaziguamento - segue o
argumento - e buscar uma posição de força militar.
A imagem de “Império do Mal” se baseia - ainda que em pequena medida
- na interpretação da fome de 1932-1933 como um genocídio deliberado, pré-
planejado de milhões de ucranianos.
O confronto da Guerra Fria, em vez da verdade e do entendimento histó-
ricos, motivou e caracterizou a campanha da fome-genocídio. Elementos de
fraude, antissemitismo, nacionalismo degenerado, fascismo e pseudo-acade-
micismo revelados neste exame crítico de certas evidências centrais apresenta-
das na campanha, do propósito político e do contexto histórico dos promoto-
res da campanha negritam essa conclusão.
Há mais de 50 anos atrás, o jornalista americano Louis Fischer expôs a
mentira e os motivos políticos do editor pró-fascista William Randolph He-
arst. Ao examinar os registros daqueles que propagam a campanha da fome-
genocídio nos dias de hoje, somos levados à conclusão de Fischer:
A tentativa é muito transparente, e as mãos estão muito sujas para ter
sucesso.
APÊNDICE: DE
PROPAGANDISTA DO
TERCEIRO REICH A AUTOR
DA FOME-GENOCÍDIO
“Testemunhas oculares” estão entre as fontes mais efetivas usadas na pro-
paganda da “fome-genocídio”. A fraqueza acadêmica de tais “evidências” tem
sido geralmente notada. Não é possível examinar cada história individual es-
pecífica. Uma deve bastar.
Dentre os muitos “testemunhos” no Black Deeds of the Kremlin, está um
de Olexa Hay-Holowko. Na época da publicação do livro, esse homem estava
vivendo em Winnipeg sob o nome falso de “Boryslawsky” - um nome que ele
usou até 1958 quando voltou a usar seu nome da época da guerra. [1] Discus-
sões com imigrantes ucranianos do pós-guerra e informações de várias organi-
zações de pesquisa revelam que Hay-Holowko deixou de lado algumas partes
de sua “história”.
Um documento de identificação apresentado na Cracóvia, Polônia, em 14
de novembro de 1942, sob o “Generalgouvernement” de Hans Frank identi-
fica Hay-Holowko como um Shriftsteller, ou escritor, aprovado pelos nazistas.
O documento é carimbado com “Berlim”, indicando a máxima aprovação ofi-
cial nazista. Nascido em 12 de agosto de 1910 em Pysariwka, seu estado civil é
dado como casado. [2] Sua data e local de nascimento devem ser mantidos em
mente, pois, como será mostrado, Hay-Holowko continua mudando detalhes
em documentos antes e depois da rendição da Alemanha.
Hay-Holowko também recebeu um visto de trabalho emitido através do
Ukrainischer Hauptausschuss (Comitê Central Ucraniano) de Volodymyr Ku-
bijovyc. Esse front colaboracionista sob controle alemão foi formado na Cra-
cóvia em 1940 pelos nazistas e nacionalistas ucranianos, muito antes da inva-
são da União Soviética. O visto de trabalho, emitido em 1943, declara Hay-
Holowko membro da Associação de Escritores de Lvov. Possui um número de
identificação extremamente baixo (sete), o que parece indicar que ele foi um
dos primeiros a se inscrever na associação aprovada pelos nazistas. A fotografia
apresentada casa claramente com suas fotos do pós-guerra. [3]
De acordo com um de seus livros publicados décadas depois no Canadá,
232 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
Antes e depois. Acima: Documento de filiação aprovado por nazistas de Hay-Holowko à asso-
ciação de escritores. Notar o baixo número de filiações. Abaixo: depois da rendição nazista, o
membro da SS Hay-Holowko usou um pseudônimo e documentos de identificação sob o nome
“Hajewycz” para escapar de ser identificado.
APÊNDICE: DE PROPAGANDISTA DO TERCEIRO REICH A AUTOR DA FOME-GENOCÍDIO| 233
[14] Embora se apresentasse como tendo uma memória fenomenal para deta-
lhes triviais e supostas conversas que remontam a meio século, Hay-Holowko
sofre de amnésia quando se trata do auge de sua carreira política. Esse lapso de
memória, contudo, não é compartilhado pela ala de Bandera do movimento
nacionalista ucraniano. O livro banderista The Restauration of the Ukrainian
State in World War II [“A restauração do Estado ucraniano na Segunda Guerra
Mundial”], não apenas o lista na formação desse dito governo, como o home-
nageia com uma fotografia. [15]
O “governo” de Stetsko da OUN-Bandera durou apenas 10 dias e alguns
pogroms antes de ser substituído pelo domínio alemão nazista direto. De acor-
do com Styrkul, Hay-Holowko foi treinado na sequência pelos alemães e se
tornou um correspondente de propaganda de guerra, trabalhando para a for-
mação da SS Skorpion Ost (Escorpião do Oeste). Membro de um órgão de
imprensa de escritores das forças armadas nazistas, foi relatado mais tarde que
Hay-Holowko foi alocado no comando da Tropa de Aço, aparentemente um
grupo de nacionalistas ucranianos ligado ao exército nazista. Styrkul afirma
que perto do final da guerra, ele recebeu uma nova promoção na SS: “Em fe-
vereiro de 1945, Haj-Holovko foi nomeado editor do jornal Do Boyu (Com-
bate) e ligado à Divisão Halychyna da SS.” [16]
Styrkul também pode lançar luz sobre a fuga desesperada de Hay-Holowko
da justiça no final da guerra: em junho de 1945 Hay-Holowko foi “preso em
Augsburg (Alemanha) sob acusações de crimes de guerra enquanto servia à SS.
No seu caminho à prisão, uma vez fora da cidade, ele nocauteou e estrangulou
seu motorista americano, saltou do carro e fugiu, deixando para trás seus do-
cumentos, entre eles suas fotos e seu diário.” [17]
Depois de alguns anos na Alemanha, Hay-Holowko decidiu se mandar
daquela parte da Europa completamente. Em 1948 ele foi à Inglaterra como
“Sr. Boryslawsky”, onde morou e trabalhou durante aquele ano. Depois ele
decidiu emigrar para o Canadá, mas foi barrado pelas autoridades que se ques-
tionaram com bons motivos por que o seu irmão, que se estabeleceu em Ed-
monton, Alberta, tinha um sobrenome diferente.
Encurralado na Inglaterra, o Sr. Boryslawsky, ainda não divorciado do
seu casamento de 1942, arranjou um noivado por correspondência com uma
mulher em Montreal, com quem jamais havia se encontrado, para ser apoiado
no Canadá como seu noivo. Embora usasse um nome falso (violando as leis de
imigração canadenses), omitisse seu passado na SS e estivesse casado com uma
família deixada para trás em Lvov, Hay-Holowko conseguiu entrar no Canadá
em 1949. Depois de visitar seu irmão em Edmonton, ele veio a Winnipeg,
casou com sua noiva por correspondência e se estabeleceu.
236 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
que era um sobrevivente da retaliação do povo ucraniano, que ele teria que
enfrentar se não tivesse mudado de nome e fugido após a guerra.
Hay-Holowko não lutou contra a escravidão nazista que matou milhões
de ucranianos pelos quais ele alega falar. Ao contrário, ele serviu à “Nova Or-
dem” em várias funções. Ele continua a servir como expoente da campanha da
fome-genocídio.
NOTAS
INTRODUÇÃO
1. London Review of Books, 22 de Janeiro de 1987
4. W. A. Swanberg, Citizen Hearst: A Biography of William Randolph Hearst, Nova Iorque, Charles Scrib-
ner’s Sons, 1961, p. 443.
5. Ibid., p. 444.
6. Daily Worker, 13 de fevereiro de 1935.
7. New York Times, 23 de agosto de 1934. As visões pró-nazistas de Hearst não se limitavam aos anos 1930.
No dia seguinte da invasão do exército de Hitler à União Soviética em 1941, o New York Journal American,
em simpatia com os nazistas, aconselhou os europeus [mesmo depois da ocupação fascista] a se unirem
contra a expansão do comunismo!
8. Swanberg, p. 299.
9. Ibid., p. 301.
10. De forma similar, o Boston Sunday Advertiser, 1◦ de outubro de 1934.
11. Swanberg, p. 471; ver também pp. 468-469, e New York Times, 24 de dezembro de 1934, Social Frontier,
23 de abril de 1935.
12. Swanberg, p. 469-470.
13. Ewald Ammende, Human Life in Russia, Cleveland, John T. Zubal, 1984, pp. 274-275.
14. Swanberg, p. 470.
15. O New York American de Hearst, por exemplo, apresentou artigos dos importantes nazistas Alfred Rosen-
berg (“Está na Hora de Outras Nações Conhecerem o Desejo da Alemanha pela Paz”), Hermann Goering
(“Reich Treina Juventude para Construir Força Aérea, mas Não para Guerra”), e do ditador fascista Benito
Mussolini (“Itália se glorifica no militarismo, diz Duce; Pacifistas, os Piores Inimigos da Paz”). Ver George
Seldes, Facts and Fascism, p. 227.
16. Philip Foner, The Fur and Leather Workers Union, Newark, Nordan Press, 1950, pp. 106-107.
17. Ibid., pp. 194-195.
18. Ibid., p. 439.
19. Ver New York Evening Journal, 15, 17, 18, 20, 22 e 23 de abril de 1935. Os contos de canibalismo de Lang
seguem vivos em tais livros como The Soviet Revolution 1917-1939 de Raphael Abramovitch, Nova Iorque,
International Universities Press, 1962 (p. 345).
20. Daily Worker, 21 de maio de 1935.
21. Socialist Call, abril de 1935.
22. Daily Worker, 23 de abril e 16 de maio de 1935.
23. Forward, 18 de abril de 1935.
24. The Nation, 8 de maio de 1935.
25. Ver The Nation, 13 de março de 1935.
26. The Nation, 26 de junho de 1935. Ver também Daily Worker, 8 de junho de 1935.
27. The Nation, 26 de junho de 1935.
28. Daily Worker, 8 de junho de 1935.
29. Harvey Klehr, The Heyday of American Communism: The Depression Decade, Nova Iorque, Basic Books,
1984, p. 440.
30. Globe and Mail, 23 de março de 1947.
31. Daily Worker, 12 a 15 de julho de 1935.
32. Ibid., 20 de julho de 1935.
33. Fred Beal, Foreign Workers in Soviet Tractor Plant, 1933, pp. 49-50.
NOTAS| 241
34. Fred Beal, Proletarian Journey, Nova Iorque, Hilman-Curl, 1937, p. 247. Publicado na Inglaterra como
Word from Nowhere.
35. Ibid., p. 280.
36. Ibid., p. 279.
37. Ibid., p. 305.
38. Ibid., p. 350.
39. Ibid., p. 310.
25. Ammende, página oposta 128 (topo), página oposta 193, duas fotos página oposta 64.
26. Ver, por exemplo, Dana Dalrymple, “The Soviet Famine of 1932-1934”, Soviet Studies, janeiro de 1964;
Wasyl Hrushko, The Ukrainian Holocaust, Toronto, Bahryany Foundation, 1983.
27. The Great Famine in Ukraine: The Unknown Holocaust, Nova Jersey, Ukrainian National Association,
1983. Esse livro é ilustrado inteiramente com fotografias de fome plagiadas da Primeira Guerra Mundial
à era da fome russa de 1921-1922. Por exemplo, a capa do livro consiste em uma foto plagiada do Comitê
Internacional de Ajuda à Rússia do Dr. F. Nansen, Informação N◦ 22, Genebra, 30 de abril de 1922, p. 6.
A foto na página 73 (canto inferior) vem do mesmo boletim de 1922 (p. 19).
28. Alfred Laubenheimer, Und du Siehst die Sowjets Richtig: Berichte von deutschen und auslaendischen “Spe-
zialisten” aus der Soqjet Union, segunda edição revisada, Berlim e Leipzig, Nibelungen Verlag, 1937.
37. Esse autor comparou fotos supostamente da fome ucraniana de 1932-1933 com centenas de fotos dos tem-
pos de guerra e pós-guerra de cenas de miséria e epidemia de 1918 até o início dos anos 1920, encontradas
em antologias e documentários. Ver, por exemplo, Ernst Friedrich, War Against War, Berlim, Freijugend,
1925. Esse autor conclui que a maioria das fotos da “fome” tem uma afinidade técnica mais próxima com
fotos desse período anterior. Algumas das fotos “de 1932-1933” são de uma qualidade tão rude e retratam
cenas tão antiquadas que um período de origem ainda mais antigo é aviltado.
39. Marco Carynnyk, “The Dogs That Did Not Bark” [“Os Cães Que Não Latiam”], The Idler, fevereiro de
1985, p. 19.
40. Alfred Laubenheimer, Und du Siehst die Sowjets Richtig: Berichte von deutschen und auslaendischen “Spe-
zialisten” aus der Sowjet-Union, Berlim e Leipzig, Nibelungen Verlag, 1935.
44. Ibid., p. 315. A edição de 1937 do Und du Siehst também inclui o artigo e as fotografias de Ditloff.
2. A teoria da “conspiração judaica”, por exemplo, pode ser vista em Yuryj Chumatskyj, Why Is One Holo-
caust Worth More Than Others? Lidcombe, Austrália, veteranos do Exército Insurgente Ucraniano (UPA),
1986, e Canadian Farmer (Winnipeg), 25 de novembro de 1963. Para saber mais sobre este assunto, ver
Douglas Tottle, “Anti-Semitism and the Ukrainian 1933 Famine-Genocide Hoax” [“Antissemitismo e a
Farsa da fome-genocídio Ucraniana de 1933”], Outlook (Vancouver), junho de 1987.
NOTAS| 243
3. The Black Deeds of the Kremlin, A White Book, Volume 1 (Book of Testimonies), Toronto, Associação Ucra-
niana de Vítimas do Terror Comunista Russo, 1953. The Black Deeds of the Kremlin, Volume II, The Great
Famine in Ukraine in 1932-1933, Detroit, A Organização Democrática de Ucranianos Anteriormente Per-
seguidos pelo Regime Soviético nos EUA, 1955.
4. Artigo de um agente do Escritório de Serviços Estratégicos que havia observado colaboradores nazistas do
leste europeu se preparando para uma falsa entrada nos EUA, inseridos no Apêndice de Registro do Con-
gresso durante o debate de 7 de agosto de 1948 sobre o Projeto de Lei de Pessoas Desalojadas, Congresso
dos Estados Unidos. Citado em John Loftus, The Belarus Secret, Nova Iorque, Alfred A. Knopf, 1982, p.
86.
5. A “Comissão Internacional” organizada por nazistas incluía duas pessoas da Alemanha Nazista, três de
países alinhados com a Alemanha Nazista (Itália, Finlandia, França de Vichy) e duas de países ocupados
pelos nazistas (Holanda e Bélgica). Ver Black Deeds, Vol. I, p. 414.
6. Apollon Trembovetskyj, Zlochyn u Vinnytsya (Crime em Vinnytsia), Vinnytsia, Vinnytski Visti Publishers,
1943.
7. Ibid., p. 4.
8. Ibid., p. 46.
9. Ibid., pp. 7, 9, 43, 36.
10. Oberleutnant Erwin Bingel em “The Extermination of Two Ukrainian Jewish Communities: Testimony
of a German Army Officer” [O Extermínio de Duas Comunidades Judaicas Ucranianas: Testemunho de
um Oficial do Exército Alemão”], Yad Vashem Studies, Vol III, Jerusalém, 1959, pp. 303-320.
11. Tremboverskyj. p. 44.
12. Black Deeds, Vol I, p. 226.
13. Ibid., p. 213.
14. Ibid., p. 193.
15. Ibid., p. 228; “Information Nº 22”, Genebra, Comitê Internacional de Ajuda à Rússia, 1922, p. 16; Ewald
Ammende, Human Life in Russia, Cleveland, John T. Zubal, 1984, p. oposta 65.
16. News from Ukraine, Nº 28-30, 1986.
17. Black Deeds, Vol. I, p. 545.
18. Their True Face, Parte III, Lvov, Ukraina Society, 1978, p. 57. Este livro contém um capítulo inteiro sobre
Shpak/Bilotserkiwsky, mais uma fotografia.
19. Ibid., pp. 55-57.
20. Ibid.
21. Ukrainsky Visti (Edmonton). SUZERO, editora de Black Deeds, é filiada a esta Federação.
22. Black Deeds, Vol. I, p. 291.
23. Ver Capítulo 9 e Apêndice.
24. Black Deeds, Vol. II, p. v. Kersten elaborou a Emenda Kersten, endossada pelo Congresso dos EUA em
1953, para alocar US$ 100 milhões para estabelecer movimentos “subterrâneos” na URSS e em outros
países do Leste Europeu.
25. Ibid., pp. vii-viii.
26. Ibid., pp. v-vi.
27. Ibid., pp. 436, 443, 448, 463, 466 (também usada por Walker), 488, 538 (também usada pelo Voelkischer
Beobachter, 18 de agosto de 1933), 554, 560, 598 (também usada por Walker) - idênticas às fotos usadas por
Ammende em Human Life in Russia. Cenas do período da Guerra Civil e da fome russa de 1921-1933: pp.
161, 166, 170, 175, 177, 444, 457 (publicado em “Information Nº 22”, Genebra, Comitê Internacional de
Ajuda à Rússia, 1922, p. 15), 475, 494, 504, 508, 556, 595, 620, 692, 701. Muitas das últimas parecem ter
sido seletivamente recortadas.
244 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
2. Dana G. Dalrymple, “The Soviet Famine of 1932-1934” [“A Fome Soviética de 1933-1934”], Soviet Studies,
janeiro de 1964, Oxford, Basil Blackwell, pp. 259-260.
3. Ibid., p. 256.
4. Ibid., p. 262.
5. Gerald Reitlinger, The House Built of Sand: The Conflicts of German Policy in Russia, 1941-1944, Londres,
Weidenfeld and Nicholson, 1960, p. 191.
7. Citado por R. Bishop, “Anti-Soviet Propaganda in Britain”, International Press Correspondence, 5 de ou-
tubro de 1934, p. 1371.
8. John Loftus, The Belarus Secret, Nova Iorque, Alfred A. Knopf, 1982, p. 107.
9. Ibid., p. 178.
11. Ver, por exemplo, James Mace, “Historic Introduction”, em Ewald Ammende, Human Life in Russia,
Cleveland, John T. Zubal, 1984, p. ix.
13. Ibid.
15. Michael Parenti, The Politics of Mass Media, Nova Iorque, St. Martin’s Press, 1986, p. 116.
17. Joseph McCabe, The Vatican in Politics Today, Londres, Watts and Co., 1947, pp. 44, 52.
18. Donald S. Strong, Organized Anti-Semitism in America: The Rise of Group Prejudice During the Decade
1930-1940, Washington, DC, Conselho Americano sobre Assuntos Públicos, 1941, p. 61.
19. Dalrymple não menciona os relatos de Louis Fischer, Sherwood Eddy, George Bernard Shaw, os canadenses
Frederick Griffin, Robert Byron e uma série de outros cujos relatos de primeira mão contradizem a tese de
“fome-genocídio pré-planejado”.
20. Dalrymple, pp. 250, 251. Um terceiro grupo poderia ser acrescentado - as próprias testemunhas de Dalrym-
ple. Usando o seu método, esta terceira categoria pode ser descrita como aqueles que, por uma ou outra
razão - por exemplo, não estar lá - não viu fome, mas que por razões políticas ou financeiras inventou histó-
rias incríveis de milhões de mortes deliberadas (uso opcional de fotos fraudulentas).
22. Ibid.
23. Sir John Maynard, The Russian Peasant and Other Studies, Londres, Victos Gollaner, 1942, p. 269.
24. Warren B. Walsh, Russia and the Soviet Union: A Modern History, Ann Arbor, University of Michigan
Press, 1958, p. 451.
26. EKPAH-EKRAN, Revista Ucraniana para Jovens e Adultos, Chicago, Nº 123-125, 1983, p. 2.
NOTAS| 245
27. Yurij Chumatskyj, Why Is One Holocaust Worth More Than Others? Lidcombe, Austrália, veteranos do
Exército Insurgente Ucraniano (UPA), 1986, pp. 34, 41, ênfase acrescentada. Chumatskyj, como Goeb-
bels, reivindica o direito de decidir quem é um judeu; Duranty - nascido na Irlanda e educado na Inglaterra
- não era judeu.
28. Dana Dalrymple, “The Soviet Famine of 1932-1934, Some Further References”, Soviet Studies, Oxford,
Basil Blackwell, Abril de 1965, pp. 471-474.
29. Ibid., p. 471.
30. Ibid.
31. Ibid.
32. O artigo de Barnes citado por Dalrymple foi intitulado “Million Feared Dead of Hunger in South Russia”
[“Milhões Temem Morrer de Fome no Sul da Rússia”]. Dalrymple, janeiro de 1964, p. 260.
33. Dalrymple, abril de 1965, p. 472.
34. Ibid.
35. Ibid., p. 473.
36. Ibid.
37. Ibid., pp. 473-474.
38. Ibid., p. 474.
39. James Mace, por exemplo, descreve o artigo de Dalrymple como “inovador”. Ver Ammende, p. iii.
12. Alfred Laubenheimer, Und du Siehst die Sowjets Richtig: Berichte von deutschen und auslaendischen “Spe-
zialisten” aus der Sowjet Union, Berlim-Leipzig, Nibelungen-Verlag, 1935, p. 259.
13. Ibid., p. 118.
14. Ibid., pp. 100-106. Tradução de extrato de Winter in Moscow, Londres, Eyre and Spottiswood, 1933.
15. Alfred Laubenheimer, Die Sowjet Union am Abgrund, Berlim-Halensee, Verlag Volkswirtschaftsdienst,
1933.
16. Ver Und du Siehst, última página.
17. A cópia do autor de Die Sowjet Union am Abgrund leva não só o emblema do Partido Nazista, mas também
a carimbo “Embajada de Alemania, Sevicio de Prensa Salamanca”.
18. Die Sowjet Union am Abgrund, placa 13, p. 45; placa 16, p. 50.
19. Ver Capítulo 9 e Apêndice.
20. Charles Higham, American Swastika, Nova Iorque, Doubleday, 1985, p. 119.
21. Em Walter Dushnyck, 50 Years Ago: The Famine Holocaust in Ukraine, Terror and Misery as Instruments
of Soviet Russian Imperialism, Nova Iorque, Congresso Mundial de Ucranianos Livres, 1983, p. 5.
22. Ryan to Dixon.
23. Dushnyck, p. 56.
24. Ibid., p. 35.
25. Albert Szymanski, Human Rights in the Soviet Union, Londres, Zed Press, 1984, p. 225.
26. S. G. Wheatcroft, “On Assessing the Size of Forced Concentration Camp Labor in the Soviet Union, 1926-
1956”, Soviet Studies, 2 de Abril de 1981, p. 285.
27. Dr. James E. Mace, “Famine and Nationalism in Soviet Ukraine”, Problems of Communism, maio-junho
de 1984, pp. 37-50.
28. Ver, por exemplo, Flo Conway e Jum Siegelman, Holy Terror, Nova Iorque, Delta, 1984, p. 418; “A Grande
Guerra de Palavras”, Time, 9 de setembro de 1985, p. 35; Phillip Agee, Inside the Company: CIA Diary,
Penguin, 1975, Apêndice II; Roger Burbach e Patricia Flynn, The Politics of Intervention: The United States
in Central America, Nova Iorque, Monthly Review Press, 1984, p. 140; Stephen Schlesinger e Stephen
Kinser, Bitter Fruit: The Untold Story of the American Coup in Guatemala, Garden City, Nova Iorque,
Anchor Press/Doubleday, 1983, p. 136; “Sandinistas Outgunned in Regional Radio Wars”, The Guardian
(Nova Iorque), 11 de setembro de 1985, p. 13.
29. Mace, “Famine and Nationalism in Soviet Ukraine”, p. 39.
30. Barbara A. Anderson e Brian D. Silver, “Demographic Analysis and Population Catastrophes in the USSR”,
Slavic Review, Vol. 44, Nº 3, 1985, p. 532.
31. Ibid., pp. 532-533.
32. Ibid., p. 534.
33. Frank Lorimer, The Population of the Soviet Union, Genebra, Liga das Nações, 1946, p. 240.
34. Dr. James E. Mace para o Professor Jaroslaw Rozumnyj, 4 de fevereiro de 1984. Uma cópia desta carta
enviada por Mace para o Comitê Ucraniano Canadense (UCC) foi apresentada numa reunião do Conselho
Escolar de Winnipeg, 14 de fevereiro de 1984, em apoio à campanha da UCC para incluir o tema da “fo-
me-genocídio” no currículo escolar.
35. Ian Grey, Stalin: Man of History, Londres, Weidenfeld and Nicholson, 1979, p. 370.
36. Cambridge Encyclopaedia of Russia and the Soviet Union, A. Brown, J. Fennell, M. Kaser, H. Willetts, eds.,
Cambridge, Cambridge University Press, 1982, p. 75.
37. Canada Year Book, Ottawa, Dominion Bureau of Statistics, Dept. of Trade and Commerce, 1945, p. 193.
38. Julian V. Bromley, ed., Present-Day Ehnic Processes in the USSR, Moscou, Progress Publishers, 1982, p. 68.
NOTAS| 247
39. Volodymyr Kubijovyc, ed., Ukraine: A Concise Encyclopedia, Vol. I, Toronto, University of Toronto Press,
1982, p. 811 afirma que ucranianos representam 80,1% dos 31,4 milhões de habitantes da RSS Ucraniana
em 1931.
40. Ihor Kamenetsky dá um número de 10 milhões. Ver Hitler’s Occupation of Ukraine, Milwaukee, Marquette
University Press, 1956, p. 84.
41. Este número incluiria a população étnica ucraniana de terras ocidentais incorporadas à União Soviética
imediatamente antes e depois da Segunda Guerra Mundial.
42. Bromley, p. 68.
• retrato (porção superior) de uma mulher com a cabeça coberta: foto de Walker, série de 1935 do
New York Evening Journal; usado também por Ammende, Human Life in Russia, p. op. 64,
atribuído a um ano, estação e fotógrafo diferentes;
• homem vestido para o inverno com um chapéu de pele: foto de Walker, Chicago American, 4 de
março de 1935;
• cavalo morto: detalhe recortado, foto de Walker, Chicago American, 25 de fevereiro de 1935; tam-
bém usada por Ammende, Human Life in Russia, placa de abertura, parte inferior, atribuída a um
ano, estação e fotógrafo diferentes; London Daily Express, 6 de agosto de 1934, alegando fome em
Belgorod (que fica na Rússia, não na Ucrânia);
• mulher estirada num campo: foto de Walker, New York Evening Journal, 21 de fevereiro de 1935;
Ammende, Human Life in Russia, p. op. 129, atribuída a um ano, estação e fotógrafo diferentes;
• corpos mortos num vagão de carga: Ammende, Human Life in Russia, p. op. 192, parte inferior;
• cena do cemitério congelado, Ammende, Human Life in Russia, p. op. 224 (fornecida como
“verão de 1933”); variação fora de ângulo da foto usada em La Famine en Russie, Genebra, 1922,
p. 10, esquerda.
• cadáver de criança nua na rua: publicada primeiramente em relação a 1932-1933 no órgão do
partido nazista Voelkischer Beobachter, 18 de agosto de 1933;
• carroça e coletores de cadáveres, estes últimos usam artigos de uniforme militar no estilo da Pri-
meira Guerra Mundial: Voelkischer Beobachter, 18 de agosto de 1933;
248 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
• carroceiro, com chapéu de pele, ao lado de um vagão carregado de cadáveres nus: “Funeral Pro-
cession in Kherson” [“Procissão Funeral em Cherson”] de 1922, “Information Nº 22”, Comitê
Internacional de Ajuda à Rússia, 30 de abril de 1922, p. 21;
• mulher deitada de bruços no chão: foto de Walker, série de 1935 do Chicago American;
• garota jovem e loira vestindo uma bata: detalhe recortado de foto de refugiados de 1922, Saratov,
Russia, La Famine en Russie, Genebra, 1922, p. 5
13. Hryts Mukhailiv, “Ghosts of Despair”, News from Ukraine, Nº 48 (932), Novembro de 1986.
14. Ibid.
15. Globe and Mail, 8 de novembro de 1986.
16. Toronto Star, 20 de novembro de 1986, ênfase acrescentada.
17. Ibid.
18. Globe and Mail, 18 de novembro de 1986.
19. “Press Release”, “Ukrainian Famine Research Committee”, St. Vladimir Institute, sob os auspícios do
Comitê Ucraniano Canadense, Toronto, 19 de novembro de 1986.
20. Ibid.
21. Como destacado na nota 12 acima.
22. “Press Release”.
23. Ibid.
24. Ibid.
25. Ibid.
26. Ibid., ênfase acrescentada.
27. Ibid., ênfase no original.
28. Winnipeg Free Press, 26 de outubro de 1984.
29. Ver Douglas Tottle, Letter to the Editor [Carta ao Editor], Globe and Mail, 13 de dezembro de 1986,
documentando o uso fraudulento de seis fotos no Globe and Mail, 29 de novembro e 1 de dezembro de
1986. Dessas seis fotos, só uma é usada em Harvest of Sorrow.
30. Robert Conquest, Harvest of Sorrow: Soviet Collectivization and the Terror Famine, Edmonton, University
of Alberta Press, em associação com o Canadian Institute of Ukrainian Studies, 1986.
31. “Death of the department that never was. David Leigh recounts the 30 years history of the Foreign Office’s
propaganda operation”, London Guardian, 27 de janeiro de 1978.
32. Ibid.
33. Ibid.
34. Military History, abril de 1986.
35. Ibid.
36. Robert Conquest, The Great Terror, Nova Iorque, Macmillan, 1973, p. 23.
37. Ukrainian Weekly, Vol. LI, Nº 12, 20 de março de 1983.
38. Harvest of Sorrow, p. 37.
39. Ibid., pp. 333-334.
40. Ibid., pp. 376-382.
41. Ibid., pp. 9, 396.
NOTAS| 249
CAPÍTULO 8: A FOME
1. Ver, por exemplo, Dr. James E. Mace para Professor J. Rozumnyj, 4 de fevereiro de 1984.
2. Michael Hrushevsky, A History of Ukraine, publicado para a Associação Nacional Ucraniana, New Haven,
Yale University Press, 1941, p. 566. Hrushevsky foi presidente da Rada Central da Ucrânia, chefe de estado
(1917-1918) do breve “governo” do grupo nacionalista. A History of Ukraine foi reimpresso em 1970 pela
Archon Books com nenhuma mudança substantiva nas seções em questão.
3. Ibid., p. 551, n.
4. Charles Higham, American Swastika, Nova Iorque, Doubleday, 1985, p. 119. Higham caracteriza a As-
sociação Nacional Ucraniana (para quem A History of Ukraine foi publicado) como sendo repleto de ele-
mentos pró-nazistas antes da entrada dos americanos na Segunda Guerra Mundial (pp. 118-119).
5. Relatório da Associated Press, Washington, 29 de setembro de 1939, citado por Lieut. William A. Kardash,
MLA, Hitler’s Agents in Canada, Toronto, Morris Printing Co., 1942, p. 17.
6. Nicholas V. Riasnovsky, A History of Russia, Nova Iorque, Oxford University Press, 1977, p. 551.
7. Michael T. Florinsky, Russia: A Short History, Toronto, Macmillan, 1969, p. 510.
8. Ibid., ver Introdução.
9. Ewald Ammende, Human Life in Russia, Cleveland, John T. Zubai, 1984, p. 53.
10. From the First to the Second Five Year Plan: A Symposium, Moscou e Leningrado, Cooperative Publishing
Society of Foreign Workers in the USSR, 1933, p. 174.
250 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
11. S. P. Trapenznikov, Leninism and the Agrarian Peasant Question, Vol. II, Moscou, Progress Publishers,
1981, pp. 67-68.
12. Frederick L. Schuman, Russia Since 1917: Four Decades of Soviet Politics, Nova Iorque, Alfred K. Knopf,
1957, pp. 151, 152.
Em alguns aspectos, a destruição dos kulaks superou a dos nazistas no território soviético ocupado: 32 mi-
lhões de cabeças de gado e 97 milhões de ovelhas e cabras destruídas pelos kulaks; comparado a 17 milhões
e 27 milhões respectivamente pelos nazistas. Ver Pyotr Mikhailov, “Mercy in the Inferno of War” [“Mise-
ricórdia no Inferno da Guerra”], Soviet Life (Washington, DC), outubro de 1985, p. 35.
13. Isaac Mazepa, “Ukraina under Bolshevist Rule”, Slavonic Review, Vol. 12, 1933-1934, pp. 342-343.
14. The Nation, 29 de maio de 1935.
15. From the First to the Second Five-Year Plan, p. 280.
16. Istoria Ukrainskoi RSR [“História da RSS da Ucrânia”], Vol. 6, Kiev, Naukova Dumka, 1977, p. 220.
17. Hans Blumenfeld, Life Begins at 65: The Not Entirely Candid Autobiography of a Drifter, Montreal, Har-
vest House, 1987, pp. 152, 153.
18. Dana G. Dalrymple, “The Soviet Famine of 1932-1934: Some Further References” [“A Fome Soviética de
1932-1934: Mais Algumas Referências”], Soviet Studies, abril de 1965, p. 471.
19. Ver, por exemplo, M. P. Bazhan (editor chefe), Soviet Ukraine, Kiev, escritório editorial da Enciclopédia
Soviética da Ucrânia, Academia de Ciências da RSS da Ucrânia, 1969, p. 293.
20. Blumenfeld, pp. 153, 154.
21. Albert Rhys Williams, The Russians, Nova Iorque, Harcourt Brace, 1943, p. 101.
22. Citado por Carl Marzani, We Can Be Friends: The Origins of the Cold War, Nova Iorque, Topical Books
Publishers, 1952, p. 272. Schuman fornece os mesmos números, p. 145.
23. Saturday Evening Post, 27 de setembro de 1945, citado por Ihor Kamenetsky, Hitler’s Occupation of Ukraine
1941-1944, Milwaukee, Marquette Universe Press, 1956, p. ix.
24. Ibid.
25. Heinz Hohne, The Order of the Death’s Head, Londres, Pan, 1972, p. 464.
26. Ver, por exemplo, “No Famine Anywhere Else in Russia” [“Nenhuma Fome em Nenhum Outro Lugar na
Rússia”], The Black Deeds of the Kremlin, Vol. II, Detroit, 1955, pp. 621-622.
27. Olexa Woropay, The Ninth Circle, Cambridge, Fundo de Estudos Ucranianos da Universidade de Harvard,
1983, p. xx.
28. Em Ammende, p. viii.
29. Alec Nove, “When the Head is Off...”, The New Republic, 3 de Novembro de 1986, p. 37.
30. Globe and Mail, 28 de fevereiro de 1984.
31. James Mace, por exemplo, refere-se à contínua “fome”, “empobrecimento mais ou menos permanente”,
e declara: “Embora a situação fosse menos horrível depois de 1933, a necessidade de medidas de alívio
humanitárias permaneceu uma realidade premente em toda a década de 1930”. Ver Ammende, p. ix.
32. Lev Shankivsky, Pokhidni brupy OUN, Munique, 1958, p. 72.
33. Publicado em Suchasne i Maibutnje, nº 4, 1948.
34. William M. Mandel, Soviet but not Russian, Edmonton, University of Alberta Press, 1985, p. 238.
35. Volodymyr Kubijovyc (editor), Ukraine: A Concise Encyclopaedia, Vol. II, publicada para a Associação
Nacional Ucraniana, University of Toronto Press, Toronto, 1971, p. 1083.
36. Ibid.
37. Mandel, p. 239.
NOTAS| 251
38. Roman Szporluk, “The Ukraine and the Ukrainians”, em Zev Katz (editor), Handbook of Major Soviet
Nationalities, Nova Iorque, Free Press, 1975, p. 24.
39. Mykola Stepanenko, “Ukrainian Culture in the Brezhnev-Kosygin Era”, em G. W. Simmonds (editor),
Nationalism in the USSR and Eastern Europe, Detroit, Universidade de Detroit, 1977, p. 78.
a guerra com a União Soviética no final da década de 1940 e início de 1950. O antissemitismo de Petro
Mirshuk, o encobrimento de suspeitos nazistas nos Estados Unidos e a minimização do Holocausto judeu
são destacados pela Liga Antidifamação de B’nai B’rith no seu relatório especial “The Campaign Against
the U.S. Justice Department’s Prosecution of Suspected War Criminals” [“A Campanha Contra a Perse-
guição do Departamento de Justiça dos EUA a Suspeitos de Crimes de Guerra”], Nova Iorque, junho de
1985, pp. 34-37.
49. Lvivski visti, Lvov, 6 de maio de 1943.
50. Canadian Bureau of the Simon Wiesenthal Centre, “Simon Wiesenthal Centre: Close Tie Between RCMP
and Pro-Fascist Wartime Ukrainian Canadian Organizations Revealed by Documents in Canadian Natio-
nal Archives. Major Ukrainian Umbrella Group Organized by RCMP Agent” [“Estreita Ligação Entre a
RCMP e Organizações de Ucranianos Canadenses Pró-Fascistas na Guerra Reveladas por Documentos em
Arquivos Nacionais Canadenses. Importante Grupo Guarda-Chuva Ucraniano Organizado por Agente
da RCMP”], Toronto, 1986.
51. Visti Combatanta, nº 5-6 (36-37), 1968, p. 23.
52. Ukrainski Samostiinyk, Fevereiro de 1950, citado por V. Khystovyi, A Plot Against the Future, Uzhgorod,
Karpaty Publishers, 1983, p. 36.
53. Nuremberg Trial, VII, p. 273.
54. Armstrong, p. 292.
55. Somado às fontes anteriormente citadas, ver Marko Terlytsia, Here is the Evidence, Toronto, Kobzar Pu-
blishing, 1984; Michael Hanusiak, Lest We Forget, Toronto, Progress Books, 1976; Richard Rashke, Escape
from Sobidor, Boston, Houghton Mifflin, 1982; Jean-Francois Steiner, Treblinka, Londres, Weidenfeld and
Nicholson, 1967; Leon W. Wells, The Janowska Road, Nova Iorque, MacMillan, 1963.
10. George Kennan, Memoirs: 1950-1963, Vol. II, Boston, Toronto, Little, Brown and Co., pp. 97-99. Líder
nacionalista ucraniano Lev Dobriansky, anteriormente conectado à inteligência militar dos EUA, foi em-
baixador dos EUA nas Bahamas no início dos anos 1980.
11. Valery Styrkul, We Accuse: Documentary Sketch, Kiev, Dnipro Publishers, 1984, pp. 218-222. Styrkul cita
fontes nacionalistas, como Visti Kombatanta, nº 3, 1977.
12. Ukraine: A Concise Encyclopaedia, Vol. II, p. 1089. Encontrado numa trincheira perto de Pidgaitsy “...
onde o 13º Destacamento Punitivo da SD esteve ativo - centenas de corpos mutilados de pessoas torturadas
até a morte, com corte de orelhas, olhos arrancados, braços e pernas quebrados” (ver History Teaches a
Lesson, Kiev, Politvidav Ukraini Publishers, 1986, p. 245, n. 39).
13. Simon Wiesenthal Centre, “Close Tie Between RCMP and Pro-Fascist Wartime Ukrainian-Canadian Or-
ganizations Revealed by Documents in Canadian National Archives. Major Ukrainian Umbrella Group
Organized by RCMP”, Toronto, 1986. Ver Catherine Bainbridge, “Inquiry avoids scrutiny, Nazi hunter
says”, Winnipeg Free Press, 5 de Junho de 1986, p. 5.
14. Ibid.
15. Watson Kirkconnell, Canada, Europe and Hitler, Toronto, Oxford University Press, 1939, p. 142.
16. Citado pelo Simon Wiesenthal Centre.
17. Styrkul, p. 295.
18. Ver, por exemplo, Whitaker; e Helen Davis, “Unsung Heroes of Partisan War Unveil Deeds as a Reminder”
[“Heróis Desconhecidos da Guerra de Guerrilha Revelam Feito como Lembrança”], Toronto Globe and
Mail, 13 de maio de 1985.
19. Littman, p. 128.
20. Ibid., p. 158.
21. Visti Kombatanta, nos 5-6 (36-37), 1968, p. 12. Stepanenko cita Vasyl Veryha (Nasha Meta, nº 20 (77),
1965).
22. Loftus, p. 107.
23. Citado por Joe Conason, “To Catch a Nazi”, New York Village Voice, 11 de fevereiro de 1986.
24. Ibid.
25. Notamos anteriormente Ukraine: A Concise Encyclopaedia, editado pelo importante lacaio nazista Volo-
domyr Kubijovyc, preparado pela Shevchenko Scientific Society, publicado para a Associação Nacional
Ucraniana pela University of Toronto Press. O Harvest of Sarrow de Robert Conquest e o Ukraine Du-
ring World War II (editado por Yury Boshyk) foram publicados pelo Instituto Canadense de Estudos
Ucranianos na Universidade de Alberta.
26. Robert Conquest, Introdução, “Ethnocide of Ukrainians in the USSR” [“Etnocídio de Ucranianos na
URSS”], Ukrainian Herald, 7-8, Baltimore, Smoloskyp Publishers, 1976, p. 5.
27. Yurij Chumatskyj, Why is One Holocaust Worth More than Others? Lidcombe, Australia, Veterans of the
Ukrainian Insurgent Army, 1986. Importado ao Canadá, esse livro foi vendido abertamente em abril de
1987 pela Arka Books em Toronto e Montreal. O mentor da Arka é o grupo OUN-Banderista League for
the Liberation of Ukraine [Liga pela Libertação da Ucrânia], um filiado do Comitê Canadense Ucraniano.
28. Ibid., p. 2.
29. Ibid., p. 7.
30. Ibid., p. 93.
31. Ibid., p. 104.
32. Ibid., pp. 33-34. Chumatskyj cita, em apoio à sua interpretação antissemita da fome, o artigo de Kalen
Lucyk no extinto jornal nacionalista ucraniano Canadian Farmer, 25 de novembro de 1963.
33. Ibid., p. 34.
NOTAS| 255
APÊNDICE
1. Henderson’s Greater Winnipeg Directory, 1955, 1956, 1957, 1958, Winnipeg.
2. Documento em alemão e ucraniano, cópia em posse do autor. Exceto quando indicado, cópias de docu-
mentos citados a partir daqui estão em posse do autor.
3. Documento em alemão e ucraniano.
4. Olexa Hay-Holowko, Smertelnoiu dorohoiu (Ao Longo da Estrada da Morte), Vol. II, Winnipeg, Trident
Press, 1983, p. 205.
5. Journal, agosto de 1944, p. 12.
6. Documentos em alemão, carimbados “Ukrainischer Hauptausschuss - Stutzpunkte Linz”.
7. Documento formulário número v-o-6369, em inglês e alemão.
8. “Anmeldung bei der Polizeichen Meldebehorde”, carimbado “Der Polizeiprasident in Innsbruck”.
9. Documento em inglês.
10. “Testimonium Copulationis”, registro de casamento em ucraniano e latim.
11. Documento em ucraniano com duplicata em alemão.
12. Valery Styrkul, The SS Werewolves, Lvov, Kamenyar Publishers, 1982.
13. Valery Styrkul, We Accuse: Documentary Sketch, Kiev, Dnipro Publishers, 1984, pp. 139, 142.
14. Olexa Hay-Holowko, Duel with the Devil, Winnipeg, Communigraphics, 1986.
15. The Restoration of the Ukrainian State in World War II, Toronto, Ukrainian Central Information Service
“Studium” Research Institute, n.d., pp. 16, 19 (foto).
256 |FRAUDE, FOME E FASCISMO
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POSFÁCIO: Uma Batalha
pela História
Em sua célebre sexta tese sobre o conceito de História, Walter Benjamin
nos diz:
Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo “como ele
de fato foi”. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela
relampeja no momento de um perigo. Cabe ao materialismo histórico
fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do
perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. O pe-
rigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. Para
ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como
seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao con-
formismo, que quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem apenas
como salvador; ele vem também como o vencedor do Anticristo. O dom
de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo
do historiador convencido de que também os mortos não estarão em se-
gurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.
289
as coisas cobertas por uma auréola benevolente de uma verdade absoluta, cabe
ao historiador a pugna contra o falseamento da História por aqueles que que-
rem politicamente se aproveitar da mesma.
Terceiro, significa mostrar que tal luta se dá em uma longa duração291 e
perpassa não somente o contexto de urdidura de um fato, mas também seus
múltiplos contextos de recepção em diferentes momentos históricos a poste-
riori. Ora, isso nos demonstra que a História está sempre sendo “reescrita” à
medida que se mudam as formações econômicas e sociais e que, obviamente,
o status quo dominante tende a adaptá-la aos seus interesses, não importa o
quão mesquinhos esses sejam.
Ao remate, Benjamin convoca todos aqueles que abraçam o ofício de his-
toriador a se tornarem não somente os guardiões dos mortos, mas, sobrema-
neira, os protetores dos vivos. Compreender que esta é uma batalha política,
que esta é uma batalha necessária e que tal batalha precisa ser lutada ad nau-
seam enquanto nãos nos livrarmos dos grilhões que nos acorrentam como
classe foi algo que Douglas Tottle o fez, com todas as suas forças, abraçando a
missão real de um historiador das massas populares.
Marx e Engels na Ideologia Alemã nos presentearam com o famoso axi-
oma:
João Carvalho
Dezembro de 2021