Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
05 Artigo 3 - Sobre Paul Singer
05 Artigo 3 - Sobre Paul Singer
Resumo
O artigo pretende discutir as contribuições de forma integrada do economista Paul Singer para o
entendimento da questão urbana no Brasil focando nos seus desenvolvimentos a partir das obras
Economia Política da Urbanização, Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana e Dinâmica
Populacional e Desenvolvimento. A conclusão é de que o autor apresenta um enfoque abrangente
e aberto da questão urbana, o que lhe possibilita interpretar a problemática urbana brasileira de
uma forma original e por um enfoque globalizador, sendo de grande importância o seu resgate
para a compreensão da formação e os debates contemporâneos do urbano no Brasil.
Palavras-chave: Paul Singer, 1932-; Economia urbana; Intérpretes do urbano.
Abstract
The article discusses the contributions of an integrated economist Paul Singer to the understanding
of urban issues in Brazil, focusing on their development from the works Political Economy of
Urbanization, Economic Development and Urban Evolution and Population Dynamics and
Development. The conclusion is that the author presents a comprehensive and open approach to
the urban issue, which enables him to interpret the Brazilian urban problems in an original and a
globalizing approach, being of great importance to her rescue to understanding the formation and
contemporary debates in urban Brazil.
Keywords: Paul Singer, 1932; Urban economy.
Introdução
Paul Singer contribuiu substantivamente para o entendimento do
desenvolvimento urbano no Brasil. Construiu um método aberto e abrangente
de análise voltado para o urbano e sua complexidade baseado num enfoque
globalizador, ou seja, uma busca pro uma “economia política da urbanização”.
() Trabalho apresentado como parte da avaliação da disciplina HO030 - Política Econômica e
Desenvolvimento Urbano, ministrada pelos professores Dr. Carlos Antônio Brandão e Dr. Humberto Miranda
do Nascimento.
() Mestrando em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente da Unicamp. Área de
Concentração: Economia Regional e Urbana. Bolsista CNPq. E-mail: danielpereirasampaio@gmail.com.
() Para o tema da financeirização sugere-se Braga (1997), Marques e Nakatani (2010) e Chesnais (2005).
() “Toda essa transferência de atividades do campo à cidade parece ser motiva por uma exigência
técnica da produção industrial: a aglomeração espacial das atividades – que se traduz em sua urbanização
– parece ser um requisito de sua crescente especialização e conseqüente complementaridade” (Singer, 1980,
p. 33).
() “(...) o ritmo da inovação tecnológica depende mais do qualquer outro fator, do tamanho da
indústria, que reflete o do mercado” (Singer, 1988, p. 77).
(10) Identifica-se aqui uma passagem que lembra o funcionamento do fluxo circular discutido por
Schumpeter, o que pode sugerir uma certa influência deste autor em Paul Singer, mesmo que não tenhamos
indicações de tal influência: “Da mesma forma que a circulação sangüínea de uma criança que, embora simul-
taneamente com o seu crescimento, ou, digamos, com alterações patológicas ocorridas nos seus órgãos, pode,
todavia, ser isolada e tratada como um fenômeno real distinto, e todo analista e todo homem de negócios real-
mente o tratam assim (...) uma coisa é administrar um edifício existente e outra é colocá-lo abaixo e substituí-lo
por outro de tipo diferente” (Schumpeter in Carneiro, 2003, p. 77).
Vale destacar:
Pode-se concluir, pois, que superpopulação e subemprego no campo,
onde de fato são encontrados, não resultam de excessivas densidades
demográficas mas da distribuição desigual da propriedade do solo, que
“produz” um “exército de reserva” de trabalhadores agrícolas ao impedir
a aplicação mais ampla de métodos intensivos de cultivo (Singer, 1988,
p. 102).
Caso a reforma agrária não ocorra e com ela o progresso técnico, é de se
esperar que a população no setor de subsistência cresça, pois a atividade agrícola
necessitará cada vez mais de mão-de-obra para o incremento de sua produção
(Singer, 1988, p. 102-103).
O conceito de “modernização” ajuda a entender as transformações
sociais e culturais que ocorrem no setor de subsistência com o processo de
desenvolvimento. Destaca-se a mudança na estrutura da família rural, no papel
do homem, da mulher e das crianças. A integração com o mercado traz, por outro
lado, uma integração social e cultural, na qual as mudanças no comportamento
reprodutivo aludem a uma questão que faz parte de um processo maior. Assim,
a “transformação do SS, levando à sua desaparição como setor separado da
economia e a “modernização” de sua estrutura social é uma das mais importantes
realizações do desenvolvimento” (Singer, 1988, p. 136).
(11) Isso porque “Se se admite que a migração interna é um processo social, deve-se supor que ele
tenha causas estruturais que impelem determinados grupos a se pôr em movimento. Estas causas são quase
sempre de fundo econômico – deslocamento de atividades no espaço, crescimento diferencial da atividade em
lugares distintos e assim por diante – e atingem os grupo que compõe a estrutura social do lugar de origem de
um modo diferenciado” (Singer, 1980, p. 51).
Conclusões
Esta seção se inicia com uma discussão a partir de Vilmar Faria (1978)
porque este autor buscou uma metodologia para o urbano e, a partir de tal análise,
realizar-se-á uma avaliação final da obra de Paul Singer. A breve análise que se
pretende realizar toma como hipótese a seguinte pergunta: Paul Singer respondeu
às principais questões levantadas por Vilmar Faria? Mas, brevemente, qual é a
proposta de Vilmar Faria?
O urbano é um objeto complexo de análise que deve ser observado nas
suas múltiplas determinações, tais como social, cultural, histórica, demográfica,
econômica e política sendo impossível, dessa forma, estabelecer uma “ciência do
urbano”. Assim, no quadro dos conflitos metodológicos, o urbano aparece como
um esforço na construção de objetos de conhecimento e a análise de situações
concretas (Faria, 1978).
A articulação da problemática sociológica do urbano implica na avaliação
(1) da dinâmica e estrutura populacional, (2) estruturação, apropriação e consumo
do espaço urbano, (3) produção e repartição do produto social. Estas observações
devem ser avaliadas à luz de uma sistematização da divisão social do trabalho e
de uma inserção subordinada das economias periféricas (Faria, 1978).
Faria (1978), embora faça elogios aos estudos realizados, acusa Paul Singer
de realizar uma periodização essencialmente “industrialista” do urbano e que seria
necessário maior ultrapassar esta visão, dando maior atenção para a determinação
de periodizações das transformações na agricultura e das atividades financeiras
no país. Não nos cabe contra-argumentar a argumentação de Vilmar Faria, mas
somente questionar se ao captar o essencial do desenvolvimento, Paul Singer não
teria uma periodização já bastante rica para interpretar o (sub)desenvolvimento
brasileiro.
Referências bibliográficas
BRAGA, J. C. S. Financeirização global - o padrão sistêmico de riqueza no capitalismo
contemporâneo. In: TAVARES, M. C.; FIORI, J. L. Poder e dinheiro: uma economia
política da globalização. Ed. Vozes, 1997.
BRANDÃO, C. A. Território & Desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o global
e o local. Campinas: Ed. Unicamp, 2007.
________. Acumulação primitiva permanente e desenvolvimento capitalista no
Brasil contemporâneo, 2009. Mimeo.
LESSA, C.; DAIN, S. Capitalismo associado: algumas referências para o tema Estado
e desenvolvimento. In: BELLUZZO, Luiz G.; COUTINHO, Renata. Desenvolvimento
capitalista no Brasil: ensaios sobre a crise. São Paulo: Brasiliense, 1982.
MANTEGA, G.; REGO, J. M. Conversas com economistas brasileiros II. São Paulo:
Editora 34, 1999.
MARQUES, R.; NAKATANI, P. O que é capital fictício e sua crise. Ed. Brasiliense,
2010.
OLIVEIRA, F. O Estado e o urbano no Brasil. Espaço e Debates, v. 6, p. 36-54,
1982.
________. Noiva da revolução/Elegia para uma re(li)gião. Ed. Boitempo, 2008.
PARK, Robert E. Cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano
no meio urbano. In: VELHO, Otávio (Org.). O fenômeno urbano. Ed. Zahar, 1991.
SILVA, C.A. O capital incorporador e a segregação social do espaço urbano. Boletim
Goiano de Geografia, jan./dez. 1992.
SINGER, P. Curso de introdução à economia política. Ed. Forense Universitária,
1991.
________. Economia política da urbanização. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1980.
________. Dinâmica populacional e desenvolvimento. São Paulo: Ed. Hucitec,
1988.
________. Desenvolvimento econômico e evolução urbana. São Paulo: Ed.
Companhia Editora Nacional, 1977.
SCOTT, A. et al. Cidades-regiões globais. Espaço & Debates, n. 41, 2001.
SCHUMPETER, J. A. A instabilidade do capitalismo. In: CARNEIRO, R. (2003).
VANNUCHI, P.; SPINA, R. Memória: Paul Singer. Teoria e Debate, São Paulo, Ed.
Fundação Perseu Abramo, n. 62, abr./maio 2005.
VEIGA, J. E. Desenvolvimento territorial do Brasil: do entulho varguista ao
zoneamento ecológico e econômico. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPEC,
2001. Anais...
TAVARES, M. C. Império, território e dinheiro. In: FIORI, J. L. Estados e moedas
no desenvolvimento das nações. Ed. Vozes, 1999.
________; FIORI, J. L. Poder e dinheiro: uma economia política da globalização.
Ed. Vozes, 1997.