O documento resume um artigo de Christian Topalov sobre a história da pesquisa urbana na França desde 1965. Ele descreve como a pesquisa urbana francesa emergiu em resposta às demandas do Estado e foi influenciada pela sociologia urbana de Chicago. Após 1968, a pesquisa urbana francesa adotou uma abordagem marxista ao entender a cidade como um produto social e das contradições do capitalismo. Entre 1975-1987, a pesquisa urbana entrou em crise devido à crise do capitalismo, questionando seus objetos
O documento resume um artigo de Christian Topalov sobre a história da pesquisa urbana na França desde 1965. Ele descreve como a pesquisa urbana francesa emergiu em resposta às demandas do Estado e foi influenciada pela sociologia urbana de Chicago. Após 1968, a pesquisa urbana francesa adotou uma abordagem marxista ao entender a cidade como um produto social e das contradições do capitalismo. Entre 1975-1987, a pesquisa urbana entrou em crise devido à crise do capitalismo, questionando seus objetos
O documento resume um artigo de Christian Topalov sobre a história da pesquisa urbana na França desde 1965. Ele descreve como a pesquisa urbana francesa emergiu em resposta às demandas do Estado e foi influenciada pela sociologia urbana de Chicago. Após 1968, a pesquisa urbana francesa adotou uma abordagem marxista ao entender a cidade como um produto social e das contradições do capitalismo. Entre 1975-1987, a pesquisa urbana entrou em crise devido à crise do capitalismo, questionando seus objetos
“Fazer a história da pesquisa urbana: a experiência francesa desde 1965”,
Christian Topalov
Aluna: Maria Luiza Belo, N USP 11104650
Christian Topalov, teórico búlgaro radicado na França, inicia seu artigo
publicado em 1988 na revista Espaço e Debates, marcando sua intenção em fazer um balanço crítico da produção acadêmica sobre o urbano a partir das análises da chamada escolar francesa de sociologia urbana entre os anos de 1968 até 1975. Para tal, Topalov revisita a conjuntura política-urbana da França nos anos 60. De acordo com o autor, “a França dos anos 60 é marcada pelo impulso de uma gestão tecnocrática do desenvolvimento urbano” (p.6). Assim, o planejamento urbano era centralizado na mão das autoridade locais sob gestão do general de Gaulle, alçado à uma posição na qual este fazer seria apolítico, puramente técnico e racionalizador. Em um contexto de boom econômico e da produção industrial sem precedentes, o capital financeiro se impõe na produção do ambiente construído, sendo acompanhado das políticas públicas. Assim, o autor inicia uma revisão da inserção do pensamento científico acadêmico no pensar e planejar o urbano, a partir de uma demanda estatal. Apesar do tradicional isolamento da universidade perante à sociedade, segundo Topalov, desde a consolidação da República, os professores universitários se consideravam como os guardiões da ciência- os expert- e aceitam a empreitada de analisar e propor intervenções para os planejadores públicos. Nesse sentido, uma breve observação sobre as influências do pensamento da escola de sociologia urbana de Chicago é feita pelo autor:
“não se deve estranhar o fato que, para os professores universitários
que respondem às demandas dos planejadores na metade dos anos 60, a inspiração teórica venha principalmente dos Estados Unidos. Suas pesquisas, que são então inovadoras, podem ser classificadas em um pequeno número de correntes onde cada uma se constitui em resposta a uma questão formulada pela encomenda estatal.”
Assim, Topalov enumera como foram distribuídas as encomendas estatais. A
primeira sendo dirigidas aos economistas, a segunda versa sobre os citadinos, e a terceira é uma autorreflexão sobre o papel dos planejadores. Pode-se argumentar que a segunda e terceira apostas das encomendas, versam sobre a dialética da produção do espaço, ou seja, como os habitantes da cidade são influenciados pelo ambiente construído, e como a ação dos que constroem esses ambientes moldam a vida desses citadinos? Em 1968, porém, existe uma grande ruptura na pesquisa urbana a partir do ponto de inflexão criado entre os interesses financeiros do setor imobiliário e o poder político. A ideologia do planejamento cede lugar ao tecnicismo e às pesquisas que o defendem. Sobre essas bases se desenvolve então uma nova pesquisa urbana- onde a França é o grande pólo, a partir da definição de novos objetos de pesquisa. A grande mudança de acordo com o autor é: “Deixa-se de aceitar o ambiente urbano como um dado ao qual os citadinos deveriam se adaptar individualmente, e passa-se a considerá-lo como um produto social, que resulta ao mesmo tempo da dinâmica da acumulação capitalista e da ação coletiva. As tendências espontâneas da urbanização das quais se ocupavam os planejadores para controlá-las, não mais são vistas como o efeito dos acasos do mercado, mas como manifestação da ordem do capital e de suas contradições. Não se trata mais de mensurar a eficácia dos instrumentos da política urbana em função dos objetivos oficiais da tecnocracia, mas de incluir no campo de análise o próprio Estado e suas políticas. Trata-se de identificar as relações estruturais objetivas que unem os agentes da urbanização, independentemente das representações que tais agentes fazem de sua ação”.
Assim a própria definição do que é a cidade se modifica. A cidade passa a ser
vista como produto da estrutura social em sua totalidade, resultado das contradições e relações entre classes. Uma virada fundamental dessa forma de se pensar a cidade é que nenhum elemento pode ser considerado como dado, tudo deve ser analisado como parte de um mesmo processo, a urbanização capitalista. Para se estudar os usos da cidade é preciso estudar também a sua produção e a técnica-política. Desta forma: “Se a cidade é um produto social, tem-se que começar pelo estudo de seu processo de produção, e para tanto ultrapassar sua representação neoclássica como um conjunto de mercados independentes da ação planejadora.”
Nesta parte especifica do texto, Christian Topalov faz um mapeamento dos
teóricos franceses e o que estavam estudando por volta dos anos de 1960 e 1970. Desta maneira cita Asher, Lacoste, Combes, Latapia, Lafont, Leborgne, Godard, entre outros. Estes passam a conformar o que Topalov delimita de “escola francesa de sociologia urbana marxista”. Na segunda parte do texto, intitulada “Mudança de conjuntura e eclipse da pesquisa urbana francesa (1975-1987)”, Topalov passa a mapear o que ele considera o início da crise, isto é, um momento de declínio da pesquisa urbana e suas problemáticas. O ano de 1975 é fundamental para a compreensão desse eclipse intelectual, segundo Topalov devido à entrada do capitalismo mundial em um longo período de crise e de reestruturação. O quadro que se pintava na economia mundial era de depressão industrial e interrupção do crescimento urbano, os investimentos em grandes obras de provisão social vão se asfixiando por falta de financiamento, e a desaceleração do crescimento urbano é algo que desmobiliza mesmo os movimentos sociais organizados. É nesse contexto que o pensamento marxista se enfraquece e que passa por um momento de reavaliação de suas limitações. Seguindo com seu raciocínio, Topalov segue escrevendo que a crise da pesquisa urbana é uma crise teórica dos próprios objetos que ela havia construído. Assim, um questionamento epistemológico sobre a cidade surge: seria esta um campo de pesquisa empírico somente? A sociologia urbana é uma disciplina fundada em teoria? De acordo com o autor, uma primeira corrente representada por Manuel Castells, o objeto cidade é fundado sobre o conceito de consumo coletivo, focando no papel dos movimentos sociais urbanos na disputa pelo espaço. A segunda corrente, focava na mudança social à nível de Estado. Em geral, segundo o autor, as teorias marxistas do urbano buscavam compreender a solidez da ordem capitalista e suas capacidades de adaptação e de reestruturação. A conclusão que ele chega sobre a centralidade da questão urbana nas ciências sociais nesse momento da história é:
“Se a questão urbana se tornou central no Ocidente durante vinte
anos, é porque a cidade foi colocada como o lugar estratégico da gestão estatal dos conflitos sociais. E se as políticas urbanas se tornaram o objeto principal das pesquisas, é porque este modo de gestão havia entrado em crise.” No final do texto, Topalov analisa como a sociologia urbana marxista foi incorporando ou compreendendo e se engajando teoricamente com uma série de outras questões como, por exemplo, as modificações da relação salarial, a questão do político, a questão dos poderes, e a questão das práticas. Conclui seu texto em tom um pouco cético em relação às novas teorias francesas que bebem de influências antropológicas mais fortes e colocam em segundo plano as análises mais estruturais desenvolvidas pelos marxistas anteriores.