Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2016
Copyright © UNIASSELVI 2016
Elaboração:
Prof. Eduardo Luiz de Medeiros
200.9
M488c Medeiros; Eduardo Luiz de
Cultura religiosa /Eduardo Luiz de Medeitros:
UNIASSELVI, 2016.
166 p. : il.
ISBN 978-85-515-0011-8
1.Religião - História.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Apresentação
Prezado acadêmico!
III
Lembramos que cada tópico apresenta uma autoatividade para
fixar seus conhecimentos e alguns textos de apoio para ilustrar os conceitos
trabalhados durante a unidade.
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS............................................................................... 1
TÓPICO 1 – HINDUÍSMO..................................................................................................................... 69
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 69
VII
2 HISTÓRIA............................................................................................................................................... 70
3 DOUTRINA............................................................................................................................................ 72
4 RELAÇÕES.............................................................................................................................................. 75
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 79
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 84
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 85
VIII
TÓPICO 3 – OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS................................................................. 141
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 141
2 O ESPIRITISMO................................................................................................................................. 142
3 ESOTERISMO..................................................................................................................................... 145
3.1 ASTROLOGIA................................................................................................................................ 146
3.2 UFOLOGIA..................................................................................................................................... 147
3.3 NOVA ERA..................................................................................................................................... 148
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 150
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 153
IX
X
UNIDADE 1
AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e em cada um deles, você
encontrará atividades que o auxiliarão a compreender os conteúdos
apresentados.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
INTRODUÇÃO TEÓRICA
1 INTRODUÇÃO
Ao iniciarmos o estudo das manifestações, a primeira ideia que precisa
estar em nossas mentes é a de que não é possível entender o sagrado através da
visão profana.
UNI
Todos nós temos uma noção a respeito do sagrado. Quando falamos sobre
o Brasil é ainda mais compreensível, pois aqui temos uma religiosidade peculiar,
a qual estudaremos de maneira pormenorizada na Unidade 3 deste caderno de
estudos. O ser humano traz um conceito de religiosidade intrínseco dentro de si.
Mas então, como podemos definir o sagrado? Essa não é uma tarefa
simples, na medida em que o sagrado se encontra numa realidade “extraordinária”,
distinta do cotidiano do homem. Nos grupos primitivos não havia distinção
entre o sagrado e o profano, na medida em que todas as suas atividades do dia
a dia, como a alimentação, o sexo e o trabalho, por exemplo, eram manifestações
do sagrado para estes grupos. Através do estabelecimento de sociedades e das
regras de convívio social que se estabelecem a partir do momento em que a união
3
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
Porém, em nossa abordagem, o profano tem a denotação de natural, ou seja, tudo aquilo que
não faz parte do sagrado, a vida cotidiana, o trabalho, as relações sociais etc. Não é um termo
pejorativo, apenas utilizado para estabelecer os limites do sagrado em nossos dias.
UNI
4
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
UNI
Ficou claro o conceito de hierofania para você, meu amigo acadêmico? Caso
você tenha dúvidas, acesse o site <http://alvanomutz.blogspot.com.br/2006/08/hierofania.
html>, onde existe um texto complementar extraído do livro Cultura religiosa, de Irineu
Wilges, da Editora Vozes, para que você aprofunde seus conhecimentos neste importante e
desconhecido conceito sobre a cultura religiosa.
UNI
5
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
Você pode se perguntar: O autor deste caderno deve “pegar pesado” falando
em tantas teorias? Mas não se preocupe, ele vai explicar agora o porquê de tantos nomes
complicados!
O respeito pela vida religiosa dos outros, por suas opiniões e seus pontos
de vista, é um pré-requisito para a coexistência humana. Isso não significa que
devemos aceitar tudo como igualmente correto, mas que cada um tem o direito
de ser respeitado em seus pontos de vista, desde que estes não violem os direitos
humanos básicos.
6
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
UNI
7
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
8
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
UNI
Mais uma vez gostaria de lembrá-lo de que essa visão tolerante das demais
religiões não faz com que você abra mão das verdades nas quais acredita, nem significa que
você não deva chamar outros para participar da mesma fé que você. Apenas queremos que
você possa retirar os pré-conceitos que porventura tenha contra alguma religião, em especial
para que possa respeitar aqueles que professam algo com o que você discorde. O apóstolo
Paulo diz que temos que oferecer a Deus um culto racional, ou seja, precisamos conhecer
nossa fé e em que ela difere das demais crenças, para estabelecermos um diálogo.
9
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
4.2 CERIMÔNIA
Todas as religiões apresentam a cerimônia como um importante elemento
constitutivo. Reuniões que se repetem periodicamente apresentam um fluxo de
funcionamento distinto, através de uma série de ritos que formam um culto ou
liturgia.
UNI
4.3 ORGANIZAÇÃO
Um aspecto importante em todas as religiões é a irmandade entre seus
seguidores. Existe um vínculo que é gerado entre os fiéis que, muitas vezes, é
o elo mais forte de uma nação inteira. Os judeus, por exemplo, passaram quase
2000 anos espalhados pelo mundo após a conhecida diáspora dos judeus no ano
70 d.C. Durante séculos, gerações nasceram e morreram em países estrangeiros
em todos os cantos do mundo, porém eles continuavam a se considerar judeus,
ou seja, o elo que manteve a nação unida mesmo em países com crenças diferentes
da sua foi a religião.
Grande parte das religiões é organizada através de um corpo de
funcionários próprio que desenvolve tarefas específicas relacionadas ao serviço
do culto e o atendimento dos fiéis. Pastores, padres, curandeiros desenvolvem
atividades bastantes distintas uns dos outros, porém todos eles desfrutam de
um status superior mediante os fiéis, para os quais são líderes. Essa liderança é
demonstrada através de aconselhamentos, explicação da maneira correta de viver,
da ética peculiar de cada grupo. Algumas possuem uma hierarquia internacional,
tendo um líder único para todo o mundo, como no caso do catolicismo; outras
religiões apresentam uma independência nacional, como no caso da igreja da
Noruega, e outras, ainda, possuem uma hierarquia em nível regional, sendo
algumas denominações pentecostais, um bom exemplo deste tipo de organização.
4.4 EXPERIÊNCIA
O elemento intelectual da religião (crença) não pode ser o único vinculado
à religião, pois ela envolve, com igual intensidade, as emoções do fiel. Emoções
essas que são tão importantes quanto os pensamentos e a racionalidade do
homem. A experiência com o sagrado se manifesta através da música, dança e
em algumas religiões através de oferendas e utilização de elementos naturais
alucinógenos que aproximam o fiel da divindade.
UNI
11
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
LEITURA COMPLEMENTAR
Vanderlei Dorneles
Do outro lado, o padre Marcelo Rossi faz a sua Folia do Senhor, uma
celebração religiosa em ritmo de carnaval. O destaque é o ritmo, o corpo e a dança.
Marcelo e outros padres denominados pop conquistaram a simpatia popular
especialmente por suas movimentadas missas, onde a dança ou a “aeróbica do
Senhor” são pontos altos.
12
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO TEÓRICA
Na relação com Deus, amor e temor precisam estar juntos. Mas isso só é
possível quando sagrado e profano permanecem separados.
13
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
Para que o homem religioso possa ter acesso ao objeto de seu culto, é preciso
que existam espaços sagrados, que são diferentes de quaisquer dos demais
espaços onde o homem vive. Pode ser uma igreja, uma mesquita, um terreiro
ou uma sinagoga.
14
AUTOATIVIDADE
Como esta unidade foi muito densa, ou seja, com muitos conceitos nem sempre
muito fáceis de serem assimilados, revise o tópico e responda às seguintes
questões:
4 Conceito de teofania.
15
16
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Após a abordagem teórica do tópico anterior, passaremos a analisar
juntos os chamados Povos do Livro, ou seja, as três grandes religiões monoteístas
da humanidade: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Embora o diálogo
entre elas não seja uma tarefa muito fácil, é importante destacarmos que existem
semelhanças entre elas, embora as fronteiras entre o que é tolerável, em termos
teológicos, estejam bastante claras para cada uma delas.
UNI
17
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
2 HISTÓRIA
Uma das principais características do povo judeu é sua íntima ligação com
a História. Toda a fé judaica está enraizada na crença de um pacto, ou melhor, uma
aliança especial feita por Deus com um homem chamado Abraão. A descendência
de Abraão deu origem ao povo judeu. Embora o relato do Antigo Testamento
inicie sua narrativa com a história de Adão e Eva e a origem da raça humana por
meio da criação divina, é com Abraão que a ideia de um povo especial, separado
por Deus como Seu, aparece pela primeira vez.
A trajetória do povo judeu tem sua origem por volta de 3.800 anos atrás,
através da figura de Abraão, que parte da terra de Ur, na Caldeia, obedecendo a
uma orientação divina de que deveria sair de sua terra e migrar para a terra de
Canaã. As ruínas de Ur encontram-se hoje no sul do Iraque e Abraão rumou para
próximo das margens orientais do Mediterrâneo. O povo ganhou um nome através
do neto de Abraão, Jacó, que após uma dramática luta com um anjo de Deus, tem
seu nome mudado para Israel. São os 12 filhos de Israel que dão origem às 12 tribos.
18
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
UNI
Caro acadêmico, você já deve ter percebido que o autor está correndo com
esta história, apontando apenas os fatos que são fundamentais para entender a trajetória do
povo judeu. Se você quiser aprofundar esta história, leia o Antigo Testamento de sua Bíblia ou
procure nas referências bibliográficas no livro de História de Israel.
UNI
Quais eram estas práticas abomináveis pelo Deus de Israel? A principal delas
era a prática pagã da idolatria. Ela tem origem nas palavras gregas Eidolon (imagem) + latreia
(culto). Esta era uma prática muito comum no mundo antigo e consistia na fabricação
de ídolos ou imagens dos deuses para que fosse prestado culto à divindade através desta
imagem. No caso específico de Israel, o povo cananeu adorava de maneira especial a quatro
deuses: Baal, Moloque, Astarote e Mamom. Os rituais a estes deuses englobavam sacrifícios
de crianças, orgias rituais com sacerdotisas que se prostituíam nos templos.
Você consegue entender agora porque tantas restrições e proibições para o povo de Israel
não seguir os deuses dos cananeus?
Você consegue mais informações a respeito de escavações arqueológicas nas ruínas das
cidades cananeias que explicam cada vez mais como funcionavam os cultos destes povos,
no link: <http://www.cafetorah.com/Destruicao-dos-Cananeus>.
O Reino do Norte (Israel) é devastado pelo povo assírio por volta de 722
a.C. A partir desta data, este reino deixa de ter importância política e religiosa
para o contexto geral de Israel. Isso se deu principalmente pela maneira como
os assírios atacavam as cidades e exilavam os povos. Uma parte da população
conquistada era levada cativa até a Assíria, em especial os soldados, a nobreza
e os intelectuais. Ao mesmo tempo, assírios eram mandados até as cidades para
implantar a cultura assíria nos reinos conquistados. O Reino do Norte sofreu o
processo ao qual chamamos de aculturação, formando depois o povo conhecido
como os samaritanos.
UNI
20
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
O Reino do Sul foi conquistado pela Babilônia por volta de 587 a.C., porém
em 539 a.C. foi permitido que os que assim desejassem retornassem a Judá. Este
foi um período muito importante para o povo de Israel, por diversas razões. Foi
a partir do retorno da Babilônia que o termo judeu passou a ser utilizado para
designar os remanescentes do exílio. Foi durante o exílio na Babilônia que surgiu
uma grande preocupação em registrar os acontecimentos e fabricar cópias dos
livros da Torá ou Pentateuco, bem como os livros das crônicas dos reis de Israel e
Judá. Cópias destes livros foram feitas e guardadas tendo como objetivo principal
preservar a tradição de Israel para as gerações futuras.
3 DOUTRINA
A vida na Babilônia trouxe a figura da sinagoga para o contexto do culto
religioso dos judeus. Já que estavam em uma terra estranha sob forte influência
do sistema politeísta babilônio, os líderes começaram a reunir o povo para ensinar
e ler os escritos sagrados. A partir de então, o Templo não era mais indispensável
para a realização das reuniões, mesmo mantendo uma importância considerável
no tocante à identidade judaica. Após o retorno dos remanescentes a Judá, os
judeus foram repetidamente perseguidos e dominados por povos estrangeiros,
culminando com a ocupação romana que sufocou em definitivo as tentativas dos
revoltosos judeus em recuperar o controle e domínio sobre a Palestina. O ponto
alto desta derrota final dos judeus frente aos romanos foi a destruição do Segundo
Templo de Jerusalém no ano 70 d.C. pelo general romano Tito.
UNI
21
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
Numa sinagoga não existem imagens nem objetos no altar, pois são
estritamente proibidas pela Lei de Moisés. O ponto central de uma sinagoga é a
chamada Arca, um armário que fica na parede oriental, na direção de Jerusalém,
onde são guardados os rolos da Torá, todos escritos em formato de pergaminhos.
A principal reunião judaica acontece no sábado, com uma grande cerimônia
repleta de significados em torno da leitura do Livro Sagrado. Acontecem reuniões
também às segundas e quintas-feiras com o objetivo de, ao término do ano, todo
o cânone seja lido em público.
Além da Torá, são lidos salmos, orações e bênçãos, contidos num livro
especial chamado Sidur. Os cânticos podem ser efetuados por um membro do
sexo masculino adulto leigo, porém o sermão e o ensino da Lei devem ser feitos
por um rabino. Todo o serviço na sinagoga é desempenhado por homens adultos,
enquanto as mulheres desempenham um papel fundamental no culto familiar,
que é tão importante quanto a reunião pública, em especial o chamado Shabat.
UNI
O shabbat se inicia com o pôr do sol de sexta-feira e dura até o pôr do sol de
sábado.
Todas as refeições deste dia possuem profundos significados religiosos e são responsáveis
pela manutenção dos costumes religiosos e da transmissão destes costumes de geração em
geração.
22
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
DICAS
Não se preocupe, caro acadêmico, o professor vai explicar cada uma destas
linhas do judaísmo contemporâneo a partir de agora!
E
IMPORTANT
A Halachá é composta por 613 preceitos estipulados pela Lei Judaica. E o que
seriam estes “preceitos”? Eles têm relação com a vida cotidiana do fiel sobre seus hábitos, por
exemplo, a dieta Kosher. Esta dieta determina alguns alimentos que não podem fazer parte
da alimentação dos judeus ortodoxos. Outros hábitos presentes na Halachá são o descanso
sabático e as leis de pureza familiar, entre outras.
23
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
FIGURA 6 – QUIPÁ
24
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
DICAS
O corte desta parte do cabelo é considerado por alguns como uma prática
pagã, pertencente aos de fora da comunidade judaica. Alguns religiosos deixam
esta parte do cabelo crescer de maneira permanente para mostrar sua devoção
aos preceitos do Pentateuco.
25
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
FIGURA 8 – TSITSIT
FIGURA 9 - TALIT
26
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
Por fim, o Tefilin são duas pequenas caixas em couro que contêm trechos
da Torá. São amarradas uma ao braço e outra na testa de todos os homens
maiores de 13 anos todos os dias, exceto sábados. Indica a adesão do indivíduo
aos valores judaicos. Seu uso está descrito em Deuteronômio 6:6-8, que diz: “E
estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus
filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-
te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais
entre os teus olhos”.
FIGURA 10 – TEFILIN
E
IMPORTANT
Achamos interessante trazer para você uma descrição dos paramentos judaicos
ortodoxos, bem como sua origem na Torá, para que você possa ver como eles efetuaram
uma interpretação literal da mensagem bíblica em todos os aspectos, compondo uma linha
bastante rígida na teologia.
Para os ortodoxos, a Torá é um texto revelado por Deus e por esta razão
não pode ser alterada em nenhum ponto, devendo permanecer intacta através de
uma manutenção bastante rígida das tradições.
27
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
Este grupo procura manter sua unidade interna, alheia ao seu entorno.
Formam comunidades em locais específicos, suas crianças recebem uma educação
distinta daquela que o sistema educacional apresenta, para que elas aprendam
desde cedo sobre sua ortodoxia religiosa. E, por fim, não querem que os princípios
que eles seguem sejam alterados ou modificados, para serem melhor aceitos pela
comunidade não ortodoxa.
DICAS
Estava aqui pensando agora sobre este último parágrafo que o professor nos
trouxe e percebo que não é uma prioridade o recebimento de novos membros nestas
comunidades. Pois se o discurso é tão rígido e não existe o desejo de integrar-se à sociedade,
então não existe um forte trabalho de trazer outras pessoas para esta religião. Confere,
professor? Isto faz algum sentido ou eu estou viajando na reflexão?
Como o Brasil possui uma tradição religiosa cristã, nos é comum a ideia de
Evangelismo onde se procura trazer pessoas para sua fé e o processo de conversão
é bastante simples, não demandando muito esforço por parte do que ingressa
na religião, iniciando então um processo de conhecimento e amadurecimento da
fé que ele acabou de abraçar. No judaísmo este processo é mais complicado e
demorado, pois o candidato ou candidata a se tornar um judeu precisa passar um
ano ou mais estudando os fundamentos do judaísmo, além de escolher qual das
três linhas ele vai participar. Caso procure a linha ortodoxa, por exemplo, precisa
passar por um teste e ser circuncidado.
DICAS
Será que o senhor poderia explicar, para nosso aluno que não está acostumado
com o termo, o que significa circuncisão?
28
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
E
IMPORTANT
E
IMPORTANT
29
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
• Judaísmo Messiânico: interage com o cristianismo por aceitar que Jesus Cristo é
o Messias esperado pelos judeus.
• Judaísmo Caraíta: Desconsidera os textos orais utilizados para compor o corpo
doutrinal judaico, aceitando apenas os textos escritos da Torá.
• Judaísmo Samaritano: Divisão oriunda dos habitantes da Samaria, antigo Reino
do Norte de Israel que adotam sua versão da Torá e consideram o monte
Gerizim como lugar sagrado.
• Judaísmo Ateístico: Não acreditam em Deus, mas consideram-se judeus, pois
apresentam simpatia não com a teologia, mas com os costumes e a ética judaica.
4 RELAÇÕES
Para os judeus não existe diferença entre ética e religião. A ética é,
portanto, uma extensão da sua doutrina. Na lei judaica existem 248 afirmações
e 346 restrições ou proibições, totalizando 613 mandamentos. A tradição diz que
um costume tem o mesmo peso de uma lei. Esta lei dá muita ênfase às seguintes
qualidades eticamente aprovadas pela sociedade: generosidade, hospitalidade,
boa vontade, honestidade e respeito pelos pais.
Segundo este conjunto de regras, a ajuda aos necessitados não deve ser
encarada como caridade, mas na justiça, pois é uma determinação divina que
não existam pobres sobre a Terra. (Ver Levítico 19:34). Verificamos no código das
leis judaicas que o exemplo do descanso sabático faz referência à igualdade entre
empregadores e empregados, ou seja, todos devem ser iguais perante esta Lei.
Em última instância, no caso de impor risco à vida humana, as regras poderão ser
quebradas para preservar a vida de alguém.
30
TÓPICO 2 | OS POVOS DO LIVRO: O JUDAÍSMO
UNI
Para o seu final de semana, caro acadêmico, sugerimos que você possa assistir a
dois filmes considerados clássicos recentes sobre o tema do Holocausto nazista:
A Lista de Schindler, de Steven Spilberg, e O Pianista, de Roman Polanski.
Se você já assistiu a estes filmes, encorajo-o a assistir novamente, prestando atenção nos
itens trabalhados neste tópico. Não se esqueça da pipoca e de uma boa companhia!
31
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
LE GOFF, Jacques. Mercadores e banqueiros da Idade Média. São Paulo: Martins Fontes,
1991.
32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A religião judaica é uma religião histórica, ou seja, toda sua doutrina está
baseada nos relatos de sua história com início há aproximadamente 3.800 anos.
• Para o judeu, a ética e a religião são devem caminhar lado a lado e, portanto, a
conduta social deve condizer com a prática religiosa.
• Os judeus sempre sofreram perseguições, tanto por parte dos cristãos, como
por parte dos muçulmanos. A maior de todas foi o Holocausto nazista que
aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial.
33
AUTOATIVIDADE
34
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
O segundo dos chamados “Povos do Livro” são os cristãos. Até o início do
século XX, o cristianismo foi a religião predominante em todo o Ocidente. Das três
religiões estudadas, nesta Unidade, foi a que mais sofreu modificações estruturais
ao longo de seus dois mil anos de história, seja através do Cisma do Oriente,
seja pela Reforma Protestante, ou ainda pelos movimentos contemporâneos
cristãos, como os protestantes neopentecostais, ou pelo movimento carismático
católico. Portanto, é de suma importância entendermos os traços históricos do
cristianismo para observarmos a sociedade em que vivemos, pois a cultura cristã
está enraizada na política, nas leis e nos estatutos de nossas cidades. Também
iremos entender por que a sociedade ocidental está vivendo um movimento de
franca secularização e porque o islamismo tem avançado de forma tão expressiva
sobre países onde anteriormente o cristianismo predominava.
DICAS
Já viu o que lhe aguarda, caro acadêmico? Então recomendo que você aperte os
cintos e mergulhe na sua própria história!
2 HISTÓRIA
Toda a crença cristã está baseada no cumprimento das profecias judaicas
com relação ao Messias prometido no Antigo Testamento. Para o cristão, o Messias
já veio e Ele é Jesus de Nazaré, que viveu na Palestina, no século I da Era Cristã.
Jesus é o Filho de Deus que veio ao mundo para remir toda a humanidade do
merecido juízo divino, iniciado com o pecado de Adão desde o chamado Jardim
do Éden. Para os cristãos, Jesus foi morto pelos pecados da humanidade, porém
ressuscitou ao terceiro dia como uma prova inconteste de que Deus aceitou seu
sacrifício vicário.
35
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
UNI
36
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
bastante abaladas. As fronteiras já não eram seguras, pois o exército não podia defendê-las
dos povos chamados por eles de bárbaros. A aristocracia romana ameaçada começou a
migrar para o campo e a constituir estados independentes. Com cada vez maiores gastos
para manter o império, o povo passou a sofrer mais e mais privações, iniciando revoltas
internas e atos de banditismo contra Roma. A partir destes eventos, podemos entender
que a adoção do cristianismo por Roma foi uma medida política, na medida em que, em
decorrência da decadência política e econômica romanas, o cristianismo passou a ser uma
força considerável.
37
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
E
IMPORTANT
Professor, que tal numerar algumas diferenças para nossos alunos poderem
entender melhor do que estamos falando aqui? O que acha?
38
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
39
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
UNI
40
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
UNI
41
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
3 DOUTRINA
Para entendermos o sistema religioso cristão, como fizemos no judaísmo,
precisamos ter em mente que os mesmos princípios constantes no Antigo
Testamento são aceitos e validados pelo Cristianismo. A inserção do cânon do
Novo Testamento traz novos elementos para a formação dos credos cristãos. A
base para a crença cristã está na pessoa de Jesus Cristo, que, segundo os fiéis, é
o Filho de Deus, que veio ao mundo para redimir o homem do poder do pecado
através de seu sacrifício vicário. Este é um resumo do Evangelho, ou das boas
novas que Jesus veio para contar aos homens. O Reino de Deus foi inaugurado
com a vinda de Deus ao mundo.
Embora Jesus não tenha especificado uma religião em seu ministério, ele
solicitou aos seus discípulos que contassem as boas novas aos homens, qual seja,
a ressurreição de Cristo, primeiro para os judeus, depois para os gentios. Com o
amadurecimento das primeiras comunidades cristãs, foi necessário criar regras
para estabelecer o que é certo e o que não era para os cristãos, bem como em que
cada cristão deve ou não acreditar. Estas regras estão contidas nos credos que a
Igreja criou ao longo de sua história, sendo o principal deles o de Niceia do século
IV. Nos credos encontramos os dogmas do cristianismo.
UNI
42
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
Os cristãos acreditam que Jesus irá voltar dos céus e trará uma nova era
para a humanidade, onde Ele irá julgar os homens segundo sua fé em Cristo
e suas escolhas de vida na Terra. Haverá, portanto, um Juízo Final onde todos
os seres humanos serão julgados de acordo com as escolhas realizadas em suas
vidas. Este é o núcleo central do cristianismo.
UNI
43
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
44
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
45
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
4 RELAÇÕES
Os principais mandamentos do cristianismo têm relação direta com o
amor: amar a Deus em primeiro lugar e então ao próximo como a mim mesmo.
Segundo Jesus, se os cristãos realizarem esta tarefa, toda a Lei de Moisés seria
cumprida. A ética cristã, portanto, prega as boas obras, a ajuda aos necessitados,
pobres e oprimidos, caridade e o amor entre cristãos e entre cristãos e gentios.
Jesus realizou muitas obras, como curas e milagres, e deixou este legado para
seus seguidores.
UNI
46
TÓPICO 3 | OS POVOS DO LIVRO: CRISTIANISMO
47
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
48
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• O cristianismo surge com os seguidores de Jesus Cristo, para os quais ele era o
Messias esperado pelos judeus.
• Ao longo de seus mais de 2000 anos de História, a Igreja cristã sofreu duas
divisões principais: o Cisma do Oriente em 1054 e a Reforma Protestante no
século XVI, ambos trazendo reações da Igreja Católica Romana.
• Existem discrepâncias entre as doutrinas cristãs, porém todas elas devem estar
centradas na figura de Cristo e em sua ressurreição dos mortos, e na Bíblia
como a Palavra de Deus.
• Embora muitos homens e líderes cristãos não tenham entendido a ética cristã,
por desencadearem muitas atrocidades em nome de Deus, como as Cruzadas e a
Santa Inquisição, para o cristianismo o homem foi feito à imagem e semelhança
de Deus e, portanto, deve ser tratado como tal.
49
AUTOATIVIDADE
50
UNIDADE 1
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
Chegamos ao último tópico de nossa unidade de estudo. Prepare-se
para conhecer uma religião nas areias do deserto e um homem que conheceu
o judaísmo e o cristianismo para formar as bases de sua doutrina. Além dos
interesses econômicos e políticos que resultaram na religião que mais cresce no
mundo, com dados preocupantes sobre estatísticas a respeito do crescimento do
Islã no mundo ocidental.
2 HISTÓRIA
Para entendermos um pouco da História do Islamismo, é preciso
compreender quem foi e o que fez seu fundador, bem como o contexto político
que proporcionou a ele as reformas religiosas e políticas. Este homem foi Maomé.
Maomé nasceu na cidade de Meca, na Arábia, por volta de 571 d.C. Desde
este período esta cidade era muito importante para a economia, no sentido de
Meca estar no caminho dos mercadores e comerciantes que transitavam pela
Península Arábica. Maomé era filho de uma proeminente família de comerciantes,
porém ficou órfão muito cedo e foi criado pelo tio. Mais tarde Maomé conhece
Khadidja, uma viúva 15 anos mais velha que ele e que se tornou conselheira e a
primeira seguidora do esposo.
51
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
Uma vez ao ano, Maomé realizava uma prática dos monges cristãos, que
era a de se retirar para uma caverna para meditar, embora não usasse as escrituras
para sua meditação. Os muçulmanos acreditam que, quando Maomé atingiu
a idade de 40 anos, ele teve uma revelação divina: o Arcanjo Gabriel apareceu
para ele e lhe pediu que lesse os escritos que ele havia trazido do céu, escritos
pelo próprio Deus. Esta é a origem do Corão ou Alcorão, o livro sagrado dos
muçulmanos. Ele é dividido em 114 capítulos, chamadas suras. Após sua visão,
Maomé começou a pregar o que havia visto nas ruas de Meca, se intitulando
como um emissário de Alá, o único Deus. Estas afirmações levaram a uma forte
oposição dos líderes da cidade, que viam este discurso como uma forma de
Maomé buscar usurpar o poder, além de ir contra toda a tradição politeísta de
seus antepassados. Com o aumento desta oposição, Maomé parte em 622 para a
cidade de Medina. Sua saída ficou conhecida como Hégira, que significa partida
ou rompimento. Para os seguidores de Maomé, este movimento seu não foi uma
fuga e sim a submissão deste para com Deus.
Após sua morte, a liderança dos muçulmanos ficou a cargo dos chamados
califas. Os três primeiros califas foram parentes de Maomé ou estavam entre
os primeiros convertidos. O primeiro cisma do Islã aconteceu com o quarto
califa, chamado Ali, primo de Maomé e casado com sua filha. Ali acabou sendo
assassinado por adversários e um vazio de poder se instalou no mundo islâmico.
Diferentemente do cristianismo, que se dividiu por problemas doutrinários
relacionados com a fé, o islamismo foi dividido por problemas relacionados à
liderança do Islã. Surgem dois grupos deste cisma: os xiitas e os sunitas. A primeira
52
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
Porém, como o islamismo teve uma grande adesão entre o mundo árabe?
Ainda no tempo de Maomé, as potências que influenciavam a Arábia eram o
Império Bizantino e o Império Persa, que se encontravam em declínio. Este vazio
de poder facilitou a expansão desta nova ideologia e religião. Os muçulmanos
ocuparam todo o norte da África, cruzaram o Estreito de Gibraltar e ocuparam
todo o sul da Península Ibérica, onde hoje estão Portugal e Espanha. Avançaram
também para o Oriente, chegando até à Índia. O conflito entre muçulmanos e
hindus foi tamanho que dois países foram criados: a Índia de maioria hindu,
e o Paquistão, de maioria muçulmana. Recentemente, a grande imigração de
muçulmanos para o Ocidente tem aumentado muita sua presença na Europa e
América do Norte, especialmente entre os negros norte-americanos, sendo já a
segunda maior religião nestas localidades.
3 DOUTRINA
Se pudéssemos resumir o islamismo em uma única frase, poderíamos
utilizar Achhadu An Lá Iláha illa Allah ach hadu anna Muhammadan Rassulullah, que
quer dizer: “Não há Deus como Alá e Maomé é seu profeta”. As duas características
principais do Islã são o monoteísmo e a revelação dada a Maomé.
Sobre o monoteísmo, cabe dizer que Alá não é um nome próprio e sim a
palavra árabe para Deus, que já havia sido utilizada por judeus e cristãos árabes. A
raiz é a mesma da palavra El, que indica o nome divino para o judaísmo. Porém, Alá
também é o nome da divindade da Lua na antiga religião politeísta árabe. Sobre a
revelação dada por Deus a Maomé, os muçulmanos creem que Deus se revelou ao
homem em três ocasiões: a primeira para Moisés, a segunda para Jesus Cristo, a quem
reconhecessem como Profeta, e a terceira e mais perfeita de todas, para Maomé.
53
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
UNI
2 Oração: “A oração é uma obrigação prescrita aos crentes, para ser cumprida
em seu devido tempo” (ALCORÃO SAGRADO 4:103).
54
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
3 O jejum no mês do Ramadam: "Ó fiéis, está-vos prescrito o jejum, tal como
foi prescrito a vossos antepassados, para que temais a Deus. Jejuareis
determinados dias; porém, quem de vós não cumprir o jejum, por achar-se
enfermo ou em viagem, jejuará, depois o mesmo número de dias. Mas quem,
só à custa de muito sacrifício, consegue cumpri-lo, vier a quebrá-lo, redimir-
se-á, alimentando um necessitado; porém, quem se empenhar em fazer além
do que for obrigatório, será melhor. Mas, se jejuardes, será preferível para
vós, se quereis sabê-lo. O mês de Ramadan foi o mês em que foi revelado
o Alcorão, orientação para a humanidade e evidência de orientação e
discernimento. Por conseguinte, quem de vós presenciar o novilúnio deste
mês deverá jejuar; porém, quem se achar enfermo ou em viagem jejuará,
depois, o mesmo número de dias. Deus vos deseja a comodidade e não a
dificuldade, mas cumpri o número (de dias), e glorificai a Deus por Ter-vos
orientado, a fim de que (Lhe) agradeçais" (ALCORÃO SAGRADO 2:183-185).
UNI
DICAS
56
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
Você tem razão quando diz que precisamos avaliar outros lados dos
eventos. No caso que estamos discutindo aqui, se por um lado as diferenças
religiosas não são tão severas, no campo político as disputas são muito acirradas.
Os núcleos geográficos dos xiitas estão no Irã e no Iêmen, basicamente.
Sobre o fim dos tempos, os xiitas esperam pela vinda do Mahdi, uma
espécie de Messias, o que não ocorre com os sunitas. Resumindo, os sunitas
baseiam sua teologia no passado, enquanto a outra linha pauta sua teoria religiosa
no futuro redentor.
57
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
DICAS
É bom não esquecermos que este islamismo tradicional é formado pelos dois
grupos preponderantes: xiitas e sunitas.
E
IMPORTANT
58
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
DICAS
59
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
Este comentário sobre grupos radicais em plena Idade Média tem o objetivo
de trazer um pouco da discussão que ainda vemos hoje em nosso dia a dia, e
não significa, de forma nenhuma, que a maioria dos muçulmanos compartilha
destas práticas. Neste sentido é importante não generalizar práticas religiosas a
partir das minorias, mas precisamos entender sempre o contexto macro de cada
pesquisa que fizermos em nossa carreira acadêmica.
60
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
4 RELAÇÕES
No Islã não existe distinção entre política e religião. Todas as obrigações
éticas, morais e sociais estão baseadas no Alcorão. A ética muçulmana preocupa-
se com a justiça, na medida em que não existe violência aberta e violência sutil,
apenas justiça e injustiça. É permitido defender-se da injustiça e da tirania. É
neste ponto que alguns radicais islâmicos encontram legalidade para praticar
atos terroristas. Vale lembrar que estas facções extremistas são minorias dentro
do mundo islâmico. O termo fundamentalismo, muito utilizado em nossos dias, é
um termo perigoso. Esta palavra tem origem no verbete fundamento, no sentido
de alicerces de uma casa. Portanto, não é correto afirmar que apenas o islamismo
é fundamentalista. Este conceito foi criado no Ocidente Cristão no século XVII
como uma forma de resistência ao liberalismo que surgiu na Europa neste
período. O fundamentalismo não é exclusividade dos muçulmanos, tendo em
vista que pode ser de cunho religioso, político ou ainda ideológico.
UNI
61
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
62
TÓPICO 4 | OS POVOS DO LIVRO: O ISLAMISMO
LEITURA COMPLEMENTAR
Eliane Brum
O Islã na Laje
Carlos Soares Correia virou Honerê Al-Amin Oadq. Ele é um dos principais
divulgadores muçulmanos do ABC paulista. Na foto, na periferia de São
Bernardo do Campo, onde vive, reza e faz política.
63
UNIDADE 1 | AS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS
incógnita. A verdade é que, até esta década, não havia interesse em estender uma
lupa sobre uma religião que despertava mais atenção em novelas como O clone
que no noticiário.
65
AUTOATIVIDADE
1 Por que a cidade de Meca era fundamental para Maomé e para o islamismo?
66
UNIDADE 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:
• entender que as diferenças entre estas religiões são muitas vezes oriundas
de interpretações diferentes dos ensinamentos de seus fundadores;
PLANO DE ESTUDOS
Esta Unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles, você encon-
trará atividades que o ajudarão a aplicar os conhecimentos apresentados nos
tópicos.
TÓPICO 1 – O HINDUÍSMO
TÓPICO 2 – O BUDISMO
67
68
UNIDADE 2
TÓPICO 1
HINDUÍSMO
1 INTRODUÇÃO
Você conhecerá agora um mundo totalmente novo em conceitos, visão de
mundo e modo de expressar a religiosidade. Bem-vindo ao mundo do hinduísmo!
Mais uma vez, gostaria de salientar que não usaremos nossas opiniões
pessoais nas explanações. Apenas buscamos informações de praticantes destas
religiões, pessoas que realmente acreditam que sua religião é verdadeira e que a
seguem com fé, independentemente de qual seja. Muitas vezes limitamos nossa
visão e entendimento no sentido de atribuirmos o conceito de fé apenas ao nosso
reduto religioso, quando, na verdade, a definição de fé abrange até aqueles que
dizem não a possuir.
69
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
UNI
Até mesmo os ateus precisam de fé para NÃO acreditar em algo sagrado. Até
mesmo a teoria do Big Bang, no sentido prático, é uma questão de fé, na medida em que é
impossível comprovar que o universo surgiu de uma explosão cósmica. Podemos resgatar
a etimologia de fé do grego “pistia” e do latim “Fides”, resultando na firme convicção de que
algo seja verdade, sem prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que
depositamos nele.
2 HISTÓRIA
A principal característica do hinduísmo é sua diversidade extrema. Seu
número sem fim de deuses nos mostra um grande triunfo do hinduísmo: ter
permanecido como uma única religião mesmo com tantos elementos distintos.
Essa é, na verdade, uma característica do politeísmo.
UNI
Você sabe quem foram os povos arianos? Achamos importante que você
entenda isso antes de continuarmos. Estes povos têm sua origem no Mediterrâneo Oriental
e acredita-se que seus vestígios mais antigos datam de 8000 a.C. Eles migraram por toda a
Ásia, Índia e Europa. A miscigenação com os povos nativos deu origem aos gregos, romanos,
celtas e indianos, entre outros.
É interessante notar que o termo ariano foi utilizado por Hitler e pelos intelectuais do nazismo
para estabelecer uma prática de genocídio, buscando mostrar que a “raça ariana”, ou seja,
os alemães, eram racialmente superiores que os judeus, ciganos etc. Isso é um tremendo
contraponto, na medida em que os arianos são, em sua origem, um povo proveniente da
mistura de vários povos.
70
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
71
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
3 DOUTRINA
Um conceito-chave para o hinduísmo é aquele que atribui a imortalidade
à alma do homem. Segundo os preceitos religiosos, após a morte, o hinduísta
pode renascer em uma casta mais alta ou mais baixa, num animal ou até mesmo
em um inseto. O que move este ciclo de renascimentos e o que determina qual
será a próxima jornada da alma de um homem é o “Karma” desta pessoa. A partir
disso, é possível entender por que os hinduístas são vegetarianos, o animal é uma
alma em busca de elevação espiritual e matá-lo representa a interrupção desta
evolução, fazendo com que ela retorne mais uma vez no mesmo estágio anterior
ou até mesmo num estágio inferior.
UNI
O que significa “Karma”? O Karma tem origem no sânscrito e quer dizer ato.
Este ato pode ser físico em pensamento e atitudes. O interessante é que esta ideia cíclica
da alma rumo a algo maior não é exclusividade do hinduísmo, o elemento inovador neste
sistema religioso é o fato de que a vida atual do indivíduo não é vista como uma punição
ou como uma espécie de prêmio pelo Karma da vida anterior, mas sim como uma espécie
de lei natural, imutável. Para o hinduísta, o que interessa são os atos desta vida. São eles que
determinam o que ocorrerá com sua alma na próxima jornada.
72
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
73
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
UNI
É deste elemento da doutrina hindu que foi extraída a famosa frase a respeito do
hinduísmo de que tudo é deus e, portanto, todos os caminhos levam a ele.
UNI
Esta via para a salvação do hindu mostra uma relação mais próxima com o deus
ao qual ele adora. É importante lembrar que existem duas percepções sobre a divindade
hindu. No sentido filosófico, o hinduísmo é panteísta, ou seja, o deus é uma força imaterial
que permeia tudo e todos. No sentido prático, é politeísta, ou seja, existe um panteão de
deuses que supera a casa dos 30 milhões de deuses.
UNI
74
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
DICAS
4 RELAÇÕES
A palavra que mais se aproximaria no sânscrito de ética é a palavra
dharma. A multiforme consistência do hinduísmo gerou, ao longo dos séculos,
um sentimento de tolerância religiosa bastante distinta dos povos monoteístas
estudados na unidade anterior. Para o hindu, cada ser humano deve buscar e
encontrar o caminho para se achegar até Deus, podendo inclusive buscá-lo por
outras religiões.
75
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
UNI
Você deve ter percebido a ausência de figuras neste tópico. Isso foi proposital,
pois existe uma infinidade de deuses e uma infinidade de maneiras de se retratar cada um
deles. Por isso deixamos para que você, acadêmico, possa pesquisar a respeito das divindades
indianas, e é sobre isso que trata sua autoatividade referente ao hinduísmo.
FIGURA 26 – SIKHS
76
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
Toda biografia de líderes religiosos deve ser observada com cuidado, pois
seus biógrafos avaliam a vida deste líder depois de se tornar alguém sagrado. É
preciso separar o componente histórico do componente fantástico da narrativa
hagiográfica. Existe um elemento histórico, pois, como em nosso exemplo,
guru Nanak existiu de fato, e outro elemento, de cunho mítico, para legitimar o
discurso que se construiu após sua morte de que ele possuía uma vida singular
com relação a seus pares. Segundo estes relatos, Nanak teria feito quatro viagens
chamadas de UDASIS, em locais como Tibete, Ceilão, Bagdá e Meca, mantendo
contato tanto com hindus como com muçulmanos, tendo feito discípulos destes
dois grupos. A estes discípulos deu o nome de SIKHS.
Para ele, a religião seria um veículo para agregar as pessoas, mas na prática
acabava separando e gerando contendas, especialmente entre muçulmanos e
hindus. Neste sentido, a intenção de guru Nanak era fomentar a fraternidade e a
igualdade entre os seres humanos. Uma de suas frases mais famosas é aquela que
diz: “Não há hindus, não há muçulmanos”.
78
TÓPICO 1 | HINDUÍSMO
LEITURA COMPLEMENTAR
Há apenas um deus
Mas ainda, e aqui está a diferença crucial, ninguém pode sustentar que
as escrituras védicas contêm uma concepção politeísta ou panteísta no sentido
usual desses termos. No fim das contas, as escrituras védicas representam uma
concepção de Deus puramente monoteísta. Elas claramente estabelecem que
acima de todas as diferentes variedades de semideuses, há apenas um Deus
supremo que é o criador e mantenedor não apenas dos humanos, mas também
dos semideuses e do cosmos inteiro.
79
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
como todas as formas de vida específicas nesses planetas. Para esse propósito,
ele antes de tudo cria os principais semideuses que, por sua vez, criam mais uma
prole para popular o universo. Brahma é assim considerado o pai e criador de
todas as criaturas vivas e o chefe de todos os semideuses.
Como com todas as deidades, Brahma, Vishnu e Shiva têm, cada um,
sua própria consorte feminina, em sânscrito chamada “shakti”, ou “energia”.
Eles também têm seu próprio veículo pessoal ou animal de tração (chamado
“vahana”), assim como algumas características ou símbolos específicos.
Vishnu (mantenedor do
Lakshmi (deusa da fortuna) Garuda (águia)
universo)
Demais semideuses
81
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
• Senhores dos elementos (p. ex. Varuna, o senhor dos mares e das águas; Agni,
o deus do fogo; Vayu, o senhor dos ventos e do ar).
• Senhores dos planetas (p. ex. Bhumi, a deusa da Terra; Surya, o deus Sol;
Candra, o deus da Lua; Brihaspati, o senhor de Júpiter, que também é o mestre
espiritual dos semideuses; Shukra, o senhor de Vênus).
• Semideuses com funções específicas nos planetas celestiais (p. ex. Indra, o
rei dos semideuses, que também é responsável pelas nuvens e pelo clima na
Terra; Kuvera, o tesoureiro dos semideuses; os Ashvini-kumaras, os deuses
dos tratamentos médicos; Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses).
A maioria desses semideuses tem sua respectiva consorte a seu lado e seu
próprio veículo pessoal. Nós não podemos nomear a todos, já que isso iria muito
além do escopo deste ensaio.
83
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
84
AUTOATIVIDADE
3 Reflita sobre o texto e responda se, a partir de uma visão geral das principais
religiões dos seres humanos, é possível chegar próximo a um denominador
comum que indique pontos em comum entre todas as religiões.
85
86
UNIDADE 2 TÓPICO 2
BUDISMO
1 INTRODUÇÃO
É fundamental entender o hinduísmo para que seja possível entender o
budismo. Afinal, o fundador desta religião, Sidarta Gautama, de quem falaremos
a partir de agora, foi um hinduísta por boa parte de sua vida. O budismo
contemporâneo tem cerca de 329 milhões de adeptos em todo o mundo, embora
sua grande área de concentração seja a China, Japão e Tailândia, com contribuições
de países menores como Birmânia, Nepal e Laos.
UNI
87
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
2 HISTÓRIA
A história do budismo se confunde com a de seu fundador, Sidarta
Gautama. É praticamente impossível separar a história do mito, porém o que
comumente se sabe a respeito de Buda é o que explanaremos a seguir.
Sidarta foi o filho de um rajá que viveu no Nordeste da Índia entre 560-480
a.C., era, portanto, um príncipe. Sua vida foi rodeada pelo luxo e poder. Seu pai ouviu
uma profecia que dizia que seu filho poderia trilhar dois caminhos: ou o do governo
ou do abandono completo do mundo. Para que o primeiro caminho acontecesse, o
príncipe deveria passar a ser protegido para que não visse as dificuldades, a pobreza,
o abandono da vida dos menos favorecidos. Para que isso não acontecesse, o pai do
futuro Buda o impedia de sair do palácio, ao mesmo tempo em que o cercava de
prazeres e diversões, tendo, ainda jovem, um harém com dançarinas.
88
TÓPICO 2 | BUDISMO
UNI
89
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
UNI
Se você quiser realizar a leitura do discurso de Buda, por favor, acesse <www.
saindodamatrix.com.br/archives/siddhartha.htm> e poderá ler o texto na íntegra.
3 DOUTRINA
Todo o sistema religioso budista está baseado nos ensinamentos de Buda.
Não podemos nos esquecer de que Buda cresceu e viveu no meio hinduísta,
portanto, muitos dos seus ensinamentos encontram ressonância no hinduísmo,
como a doutrina do carma, da salvação e do renascimento. O primeiro ensinamento
de Buda, neste sentido, é a escravização do homem pela série interminável de
renascimentos. A mola propulsora deste ciclo é o carma do homem, ou seja, seus
atos, pensamentos e desejos.
90
TÓPICO 2 | BUDISMO
UNI
Para que possamos entender este processo, precisamos pensar em nossas vidas.
Todos nós entendemos que algumas atitudes ou decisões que tomamos refletem em nosso
futuro, algumas de maneira positiva, outras de maneira negativa. A escolha de montar uma
família, cursar uma faculdade, seguir uma vida religiosa, cada uma dessas escolhas é tomada
por nós, esperando que algo aconteça no futuro. Esta é a ideia do carma para os hindus e
budistas, com a grande diferença de que para eles isto é totalmente regulado e atrelado à
vida do indivíduo com reflexos na próxima vida. Para eles, as atitudes que tomamos nesta
existência refletirão na próxima. Os cristãos acreditam na lei da semeadura e da colheita, algo
similar a este ensinamento de Buda, com a diferença de que para os cristãos as consequências
acontecem nesta vida e na eternidade, já que a reencarnação é condenada como um falso
ensinamento pelo Novo Testamento. Espero que tenha lhe ajudado, caro acadêmico, a
entender um pouco mais sobre a doutrina do carma.
A doutrina do carma pode ser vista por nós, ocidentais, como sendo justa,
na medida em que os bons terão reencarnações boas, e os maus, más reencarnações,
porém, para os orientais adeptos destas doutrinas, este ciclo é considerado como
uma maldição que deve ser rompida. Portanto, os orientais buscam escapar da
reencarnação, e este ato está profundamente ligado ao conceito de salvação para
estas religiões. Vimos até agora as semelhanças entre hinduísmo e budismo, é
necessário, neste segundo momento, entendermos onde os ensinamentos de
Buda diferem daqueles escritos nos vedas.
Para os hindus, o homem possui uma alma individual atmã e é essa alma
que sobrevive de uma encarnação para outra. Como roupas que são trocadas
pela pessoa, os corpos são trocados pela alma de um renascimento para o outro.
Esta alma possui uma semelhança ao espírito universal (Brahma). Para Buda,
entretanto, o ser humano não possui nada imutável como a alma para os hindus.
Para ele, o homem de hoje não é o mesmo de ontem, portanto, tudo é transitório
e ilusório: tanto a vida como os sentimentos. Ambas as situações estão fadadas ao
fracasso. No budismo, existem três grupos de ensinamentos que condensam as
palavras e ordenanças de Buda: as quatro nobres verdades sobre o sofrimento, o
caminho das oito vias, e os cinco mandamentos. Embora não seja possível afirmar
que estes textos sejam do próprio Buda, por datarem de cerca de quinhentos
anos após a morte do mestre. Mas estes escritos fundamentais apresentam uma
considerável semelhança entre as diferentes escolas budistas e são, portanto,
aceitos pelos budistas como escritos do próprio mestre, transmitidos via oral por
séculos entre seus seguidores. Cada um destes grupos é importante para uma boa
compreensão das doutrinas budistas.
91
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
92
TÓPICO 2 | BUDISMO
de que o homem não possui alma. No tocante à aspiração, o homem deve buscar
a anulação do desejo de si mesmo, pois esta é a raiz de todo o sofrimento. Por
fim, Buda deve ser o ideal a ser seguido por aqueles que acreditam em seus
ensinamentos.
Os passos seguintes falam da ética budista e sua relação com o mundo não
budista, digamos assim. São eles: perfeita fala, perfeita conduta e perfeito meio de
subsistência. Perfeita fala diz respeito à necessidade do homem em não proferir
mentiras, falsidades, de maneira arrogante. Para Buda, o homem deve proceder
de maneira amigável e carinhosa com todos os seres humanos, além do silêncio
também ser incluído na fala perfeita. Perfeita conduta está relacionado com os
cinco mandamentos aos quais todos os que se dizem budistas devem seguir.
93
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
4 RELAÇÕES
No momento em que Buda sofreu o processo de iluminação, o deus hindu
Brahma pediu a ele que ensinasse aos homens o caminho que ele havia trilhado.
Através da compaixão, Buda decidiu ser o guia daqueles que quisessem o ouvir
para que também pudessem ser salvos através do Nirvana. Neste sentido, o
modelo de Buda é um modelo que deve ser seguido pelos demais budistas no
sentido de que ser budista é se comportar eticamente perante a sociedade através
da piedade e da compaixão. A caridade que fazemos hoje não serve apenas para
ajudar os outros, mas para elevar nosso próprio caráter.
O segundo mandamento fala sobre não tomar aquilo que não lhe foi dado.
Não diz respeito apenas ao roubo, mas sim todos os tipos de trapaça e cobrança
de negócios abusivos.
O quarto mandamento diz que não se deve falar falsidades. Isso se refere
a falar a verdade, mas também a fofoca e a ira, por exemplo.
94
TÓPICO 2 | BUDISMO
UNI
95
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
Buda não negou a existência dos deuses hindus, como podemos imaginar
num primeiro momento ao analisarmos sua doutrina. Ele apenas “rebaixou”,
digamos assim, a importância destes deuses, pois, para Buda, eles também estão
vinculados ao ciclo de reencarnações. É muito comum encontrar imagens de
deuses hindus em templos budistas em posição secundária em relação a Buda.
UNI
UNI
Você percebeu que esta é a linha em que nos baseamos para montar toda a
explicação sobre o budismo? A próxima linha apresenta diferenças significativas com relação
a tudo o que discutimos aqui. Preste atenção!
96
TÓPICO 2 | BUDISMO
A segunda linha, Mahayana, prega que todos podem ser salvos, e não
apenas algumas pessoas, como na Theravada. Para esta linha, Buda não é apenas
o guia para ensinar o caminho para o Nirvana, mas sim o grande salvador da
humanidade. No pensamento tradicional, o leigo precisava se dedicar aos
preceitos budistas com afinco a fim de melhorar seu carma e assim renascer
como um monge para então poder atingir o Nirvana. Nesta nova linha filosófica,
todos podem ser salvos pela compaixão e compreensão daqueles que acessam o
Nirvana e espontaneamente decidem abrir mão da eternidade para ajudar seus
semelhantes a alcançarem este estado. Estas pessoas são chamadas de bodhisattvas
ou “pessoas iluminadas”. A única diferença entre elas e Buda é que optaram por
permanecer na Terra para ajudar as pessoas. Os que seguem a linha Mahayana
dizem que o próprio Buda fez esta escolha para ajudar ao próximo.
97
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
98
TÓPICO 2 | BUDISMO
LEITURA COMPLEMENTAR
99
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
orientais. “Sempre fui tratado como um estranho, mesmo falando a língua deles”.
A monja Coen confirma a diferença de tratamento. O famoso templo Busshinji,
na Liberdade, em São Paulo, possui, segundo ela, um porteiro que verifica as
intenções do visitante. “Se é japonês e fala a língua de lá, entra. Brasileiro só pode
na hora da meditação para brasileiros”.
100
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Após a morte de Buda, seus seguidores entraram em conflito quanto aos seus
ensinamentos e realizaram um cisma budista: o Theravada, mais tradicional, e
o Mahayana, de filosofia liberal.
101
AUTOATIVIDADE
8 Qual é o caminho do meio? Quais são os passos para completar este caminho?
9 Quais são os cinco mandamentos que regem a vida prática dos budistas?
102
UNIDADE 2 TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores permanecemos basicamente no território indiano.
Resta-nos agora voltar nossos olhos para a China e o Japão para entender o que
acontece nestes locais no campo religioso. O budismo se espalhou tanto para a
China quanto para o Japão, porém se desenvolveu de maneira mais livre no Japão.
UNI
103
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
2 CONFUCIONISMO
Podemos considerar o confucionismo mais como uma filosofia que uma
religião. Os adeptos podem participar de outras religiões. A fundação data por
volta do século VI antes de Cristo, sendo mais ou menos, portanto, contemporâneo
de Buda. Seu fundador foi K’ung-Fu–Tzé, que em sua versão latina atribuída
pelos missionários jesuítas do século XVI, ficou conhecido como Confúcio.
Confúcio perdeu o pai aos três anos de idade e casou-se com 19. Com
uma grande habilidade para negócios, foi escolhido como administrador dos
celeiros do imperador chinês. Porém, sua inclinação verdadeira era para o campo
da filosofia, música e artes. Entrou então num dilema, que por sinal é bastante
comum em nossos dias: queria viver das artes, porém precisava sustentar sua
família, optou então por uma vida dupla entre o trabalho administrativo e o ensino
de filosofia. A situação mudou quando aos 23 anos perdeu sua mãe, quando
abandonou o trabalho nos celeiros e passou a lecionar filosofia. Aos 34 anos tinha
cerca de três mil alunos, sendo muitos deles filhos da nobreza chinesa. Como
sua reputação aumentou cada vez mais, foi nomeado magistrado-chefe da cidade
de Chung-Tu e em seguida ministro do crime, uma analogia ao nosso Ministro
da Justiça. Foi a partir deste posto que Confúcio experimentou na prática suas
técnicas filosóficas. Fez um estudo para levantar o histórico dos presos, percebeu
que os presos eram ignorantes, no sentido de não terem instrução. A partir disso
passou a fornecer estudo e educação ao público carcerário para que, através do
conhecimento e do aprendizado de um ofício, pudessem prosperar e abandonar
a vida de crimes. A lenda nos conta que os presídios ficaram vazios e os policiais
perderam o emprego.
104
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
FIGURA 33 – CONFÚCIO
105
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
3 TAOÍSMO
O livro sagrado dos taoístas é o Tao Te Ching ou o livro do Tao e do Te:
Tao significa a ordem do mundo e Te a força vital. Não se sabe quem escreveu
este pequeno livro de 25 páginas com os ensinamentos taoístas, mas a tradição
oriental atribui a origem desta religião a Lao Tsé, pensador contemporâneo de
Confúcio, que, como ele, tem uma história lendária.
Assim como Confúcio, Lao Tsé não elaborou uma religião, nem foi essa
sua intenção. Seus pensamentos são bastante próximos aos de Confúcio, com a
diferença de que, para ele, o conceito de Tao, como força motriz do universo, tem
106
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
um papel mais divino que no confucionismo. Para Lao Tsé, Tao não pode ser
descrito pelos homens, pois qualquer descrição do divino será falsa e não terá
elementos que demonstrem a realidade desta força.
FIGURA 35 – YIN-YANG
107
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
4 XINTOÍSMO
O xintoísmo é uma religião sem fundador, pois existe desde a antiguidade
da nação japonesa sem este nome, ou regras e normas para seus seguidores.
Passou a se estruturar apenas após o século VI de nossa era devido à concorrência
com o budismo, muito embora seja possível perceber, como nas outras religiões
asiáticas, a utilização de elementos de outras religiões pelos japoneses. Este povo
sempre teve uma visão de mundo onde os mortos habitam em meio aos vivos,
logo, o xintoísmo é a religião que pode ser definida, de maneira simplificada,
como o culto aos antepassados. É por essa razão que é tão importante para o povo
japonês ter filhos homens, pois é responsabilidade deles a de realizar as orações
em memória aos mortos da família e oferecer as oferendas rituais determinadas.
Estes espíritos cultuados pelos japoneses recebem o nome de Kami.
Como o Japão é uma ilha que permaneceu praticamente isolada por muitos
séculos, os japoneses criaram uma mitologia de sua criação, onde um casal de
deuses criou o Japão. O elemento mais importante neste contexto era a adoração
à figura do imperador japonês que perdurou até meados do século XIX. Após
a Segunda Guerra Mundial, com a avassaladora derrota do Japão pelas forças
aliadas, o imperador japonês Hiroito declarou esta “divindade” do imperador
como falsa e aboliu o xintoísmo do governo japonês como religião estatal.
UNI
5 HARE KRISHNA
Esta seita derivada do hinduísmo é de certa forma recente, fundada em 1896.
Krishna é uma das encarnações do deus Vishnu (avatar), mais especificamente,
sua figura humana.
UNI
Se você não lembra mais a nossa conversa a respeito da trindade hindu, sugiro
que volte ao Tópico 1 desta unidade de ensino.
Para os Hare Krishna, que quer dizer “salve Krishna”, este é o verdadeiro
deus e não Brahma, como no hinduísmo tradicional. Seu livro sagrado é o
Bhagavad-gita e nos outros conceitos doutrinários são muito semelhantes aos
hindus quanto ao sistema de castas, a lei universal do Karma e, portanto, creem em
reencarnações. O ponto interessante nesta seita é que, diferentemente dos hindus,
os Hare Krishna recrutam adeptos nas ruas das grandes cidades ocidentais, e
se sustentam da venda de incensos e livros. Este é um elemento novo dentro
das religiões orientais que não possui apelo à pregação de suas doutrinas, como
verificamos no cristianismo e no islamismo, por exemplo.
109
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
UNI
110
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
6.2 O ZEN-BUDISMO
O zen-budismo segue a linha Mahayana do budismo e esperamos
que você se lembre da diferença entre a linha Theravada e a Mahayana. Caso
contrário, dê uma olhadinha no Tópico 2 de seu caderno de estudos. Zen
significa meditação e o elemento que mais o diferencia do budismo tradicional
é o foco na iluminação de Buda ao invés dos ensinamentos de Buda. Para os
zen-budistas, “mais importante que o dedo que aponta o caminho, é o caminho
que ele aponta”. Disponível em: <http://www.nossacasa.net/shunya/default.
asp?menu=1270>. Acesso em: 20 ago. 2016.
Para eles, a melhor explicação que se pode ter da vida é vivê-la ao invés de
criar inúmeras teorias e regras a serem seguidas. Neste sentido, os zen-budistas
têm uma atitude bastante positiva com relação à vida, algo inaceitável ao budismo
tradicional.
7 SEICHO-NO-IE
A definição no site da Seicho-No-Ie do Brasil é a seguinte:
É um ensinamento de amor que prega que o ser humano é filho
de Deus, que o mundo da matéria é projeção da mente e, também,
nos revela qual é a nossa verdadeira natureza. É uma filosofia que
transcende o sectarismo religioso, pois acredita que todas as religiões
são luzes de salvação que emanam de um único Deus. (Disponível em:
<http://www.sni.org.br/>. Acesso em: 2 set. 2016.)
111
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
DICAS
Quer dizer que para Masaharu e seus seguidores a matéria não existe? Assista
ao filme Matrix, que mostra um pouco deste princípio em seu enredo. É considerado um
clássico da cultura Pop de 1999, produzido pelos irmãos Wachowski. Eles utilizam elementos
da cultura ocidental e oriental com referências claras a esta filosofia de que a matéria não
existe, mas é uma projeção da realidade.
Claro que estas afirmações são muito contrárias àquelas que estudamos na
Unidade 1 de nosso trabalho com os povos do Livro. Taniguchi utilizou elementos
de introspecção psicológica com fenômenos psíquicos para promover a cura de
doentes através da autossugestão, ganhando adeptos e tornando-se bastante
requisitado para palestras e estudos no mundo ocidental. Esta notoriedade
favoreceu a presença da filosofia Seicho-No-Ie no Brasil, que contém locais de
reunião espalhados por todo o país.
112
TÓPICO 3 | AS RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
113
UNIDADE 2 | RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE
DICAS
UNI
114
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Muitos dos fundadores destas religiões, como Confúcio e Lao Tsé, não criaram
religiões, mas sistemas filosóficos para entender o mundo que os cercava e
como atingir a eternidade.
115
AUTOATIVIDADE
116
UNIDADE 3
RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:
• verificar como a História do Brasil pode ser vista através do prisma das
religiões que acompanham o brasileiro ao longo de seus mais de 500 anos
de História;
PLANO DE ESTUDOS
Esta Unidade está dividida em quatro tópicos e no final de cada um deles,
você encontrará atividades que o ajudarão a fixar os conhecimentos aborda-
dos.
TÓPICO 4 – ECUMENISMO
117
118
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Até o momento estudamos as chamadas grandes religiões da humanidade.
Talvez este seja o momento ideal para explicarmos por que estas religiões são
denominadas “grandes”. Isso ocorre porque, por motivos diversos, elas passaram
por um processo de globalização e disseminação muito intenso. Depois da
chegada em uma nova territorialidade, esta religião precisa ser aceita e conseguir
um lugar no seio das religiões autóctones.
UNI
119
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
seja ainda por filmes de Hollywood, que trazem modismos que envolvem e
aguçam a curiosidade dos jovens a respeito da religião por trás do filme. Por fim,
faremos uma discussão sobre o movimento ecumênico e como este movimento
influencia as tentativas de diálogo inter-religioso.
UNI
Se algum dos termos desta introdução não ficou claro para você, caro
acadêmico, não se preocupe, analisaremos cada um deles em seu contexto.
2 OS CULTOS INDÍGENAS
Às vezes podemos ter a impressão de que o Brasil sempre foi católico,
porque em nossos livros de história começamos a estudar a partir da chegada
dos portugueses em 1500. Porém, não podemos nos esquecer de que antes da
presença europeia esta terra já era povoada por diversas nações indígenas com
uma história milenar, além de uma diversidade cultural e religiosa muito grande.
Não podemos ter a mesma impressão de Pedro Álvares Cabral, que acreditava
que todos os habitantes eram iguais. Não é possível determinar ao certo o número
exato de nações indígenas, por não existirem registros escritos sobre sua história.
Eles utilizavam a transmissão oral para sua tradição. Com o extermínio indígena
a partir de 1500, seja por assassinato, escravização ou por doenças para as quais
eles não tinham imunidade para se proteger, o conhecimento de muitas nações
indígenas se perdeu no tempo e no espaço.
UNI
3 HISTÓRIA
Com o tempo, os portugueses dividiram os índios em dois grupos: o
povo tupi e o povo tapuia. O povo tupi era todo indígena que habitava o litoral
brasileiro, e o povo tapuia, todas as tribos que habitavam o interior do continente.
120
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL OU SERIA PINDORAMA?
121
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
4 RELIGIOSIDADE INDÍGENA
Com relação à religiosidade indígena, precisamos resgatar alguns valores
que praticamente não existem mais em nossas sociedades, como a vida em
comunidade e a prioridade na família em detrimento de qualquer outra coisa.
Diversos rituais que aos nossos olhos podem parecer sem sentido e arcaicos,
mostram a posição que a família representa no culto indígena.
122
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL OU SERIA PINDORAMA?
UNI
Os pajés preferem curar à noite, uma das razões é que assim garantem
uma audiência, o que seria difícil durante o dia, quando muitos estão para as
roças. O pajé inicia a cura cantando as canções daquele sobrenatural que o seu
inquérito leva a considerar como provável. Acompanha a si mesmo, marcando
o ritmo da canção com uma batida forte de pé chacoalhando o maracá. Dança
em volta do paciente; em geral, a família deste e alguns dos circunstantes o
acompanham. A esposa ou um ajudante preparam-lhe os cigarros feitos de
folhas de fumo enroladas em fibra de tawari. Um ajudante toma o maracá e o
pajé preocupa-se daí por diante com a cura propriamente dita. Chupa repetidas
vezes no cigarro para soprar a fumaça em suas mãos ou no corpo do paciente.
Afasta-se para um lado e chupa no cigarro até que, meio tonto, recua de súbito
e leva as mãos ao peito, o que indica ter recebido o espírito em seu corpo. Sob
a influência do espírito o pajé comporta-se de maneira peculiar. Se é espírito de
macaco, por exemplo, dança aos saltos, gesticula e grita como esse animal. O
transe se prolonga enquanto o espírito está forte. Algumas vezes o espírito ‘vem
forte demais’ e ele cai ao chão inconsciente. É durante o transe, enquanto está
possuído pelo espírito, que o pajé cura” (cf. Wagley & Galvão, 1961).
123
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
UNI
Todo este sistema religioso que o professor explicou até agora se aplica para
tribos que ainda não sofreram influência do “homem branco”, o que hoje, segundo o site
Brasil Sustentável, resulta num número de 67 tribos, apenas. Portanto, a maioria das tribos
indígenas está até certa medida integrada ao contexto brasileiro e por isso sofre o processo
de aculturação e sincretismo com o cristianismo, principalmente. Movimentos de resgate
da cultura indígena surgem em nosso tempo buscando remontar traços desta cultura
praticamente extinta. Uma destas iniciativas é a série de pequenos programas denominados
ABC da Amazônia, que mostram diversas faces da realidade amazônica, entre elas a cultura
indígena. Você pode assistir a estes vídeos no site disponível em: <http://www.globoamazonia.
com/amazonia/0,,mul937605-16052,00-abc+da+amazonia+confira+todos+os+programetes
+ja+exibidos+da+serie.html>.
124
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS RELIGIÕES DO BRASIL OU SERIA PINDORAMA?
125
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
LEITURA COMPLEMENTAR
• O pajé é, ainda, o porta-voz entre o mundo dos homens e o mundo dos espíritos.
127
AUTOATIVIDADE
128
UNIDADE 3
TÓPICO 2
AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
1 INTRODUÇÃO
Você deve se perguntar por que não falamos do cristianismo brasileiro
antes de iniciar nosso tópico sobre as religiões afro-brasileiras? Você deve
lembrar-se da disciplina de História da Igreja no Brasil, que você já concluiu
há bastante tempo. Abordamos tudo o que era necessário para o estudo do
cristianismo brasileiro, tanto católico quanto protestante, naquela ocasião. Neste
novo trabalho vamos focar no que ainda não conhecemos.
Lembrando mais uma vez que não expresso aqui minha opinião a
respeito de qualquer religião, para que você possa realizar uma leitura isenta
de parcialidade. Um dos jargões do protestantismo é que Deus odeia o pecado,
porém ama o pecador. Por que o homem pode ousar realizar algo diferente,
decretando o julgamento das religiões afro?
129
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
UNI
2 HISTÓRIA
Não é muito fácil determinar a origem distante das religiões oriundas do
continente africano, devido à falta de registros escritos sobre sua história. Muito do
que sabemos hoje dos povos africanos chegou até nós por via oral, ou seja, através
do relato da geração mais antiga para a subsequente. A análise destas religiões é
algo recente, portanto. Durante o século XX, antropólogos e sociólogos utilizaram
métodos científicos modernos para desvendar as origens destes grupos religiosos
que chegaram até nós com a vinda dos escravos africanos ao Brasil. Este elemento
de transmissão oral dos conhecimentos facilita o sincretismo religioso, na medida
em que, de uma geração para outra, os conhecimentos podem ser alterados.
Na África Moderna, rituais têm sofrido mutações com o islamismo, na mesma
proporção que aqui no Brasil as religiões afro-brasileiras sofreram mutações com
o catolicismo romano.
130
TÓPICO 2 | AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
131
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
UNI
FONTE: <ttp://www.editoradobrasil.com.br/jimboe/galeria/imagens/index.
aspx?d=historia&a=4&u=3&t=imagemA>. Acesso em: 10 ago. 2016.
132
TÓPICO 2 | AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
133
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
UNI
Você acha que o candomblé e a umbanda são iguais? Este é um erro comum da
comunidade leiga de maneira geral. Ambas possuem elementos em comum, porém existem
algumas diferenças importantes para distinguirmos o culto afro.
UNI
134
TÓPICO 2 | AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
Agogô
Participantes Xequerê
Pai-de-santo Rum
Rumpi
Ogum Oxalá Lê
Oxóssi Iemanjâ
Obalualé Nanã
Ossaim Tansã
Oxumaré Oxum
Xangõ
135
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
UNI
Você deve ter notado a grande presença de brancos nos trabalhos do culto de
umbanda retratados acima. Podemos dizer que o acesso à umbanda é mais “democrático”
que o candomblé, que além do elemento religioso, é um foco de resistência à manutenção
da cultura afro-brasileira, muito em voga em nossos dias, onde percebemos que os negros
estão buscando retomar seu espaço na sociedade brasileira.
136
TÓPICO 2 | AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
Poderíamos falar ainda de vodu, santeria cubana, por exemplo, mas como
sua influência está mais relacionada ao Caribe que ao Brasil, extrapolaria o recorte
deste trabalho de estudo.
137
RESUMO DO TÓPICO 2
• A família é a chave para entender o papel dos espíritos ancestrais e seu culto,
em especial a participação dos espíritos no cotidiano das pessoas.
• Podemos ainda destacar que do candomblé, a religião mais próxima dos cultos
africanos, derivaram outras vertentes, como umbanda, quimbanda e macumba.
• A família é a chave para entender o papel dos espíritos ancestrais e seu culto,
em especial a participação dos espíritos no cotidiano das pessoas.
• Podemos ainda destacar que do candomblé, a religião mais próxima dos cultos
africanos, derivaram outras vertentes, como umbanda, quimbanda e macumba.
138
• A umbanda é uma religião ou vertente genuinamente brasileira e surgiu do
amálgama entre o candomblé, o catolicismo e o espiritismo.
139
AUTOATIVIDADE
140
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Analisamos, até o presente momento, os três maiores movimentos
religiosos no país: os cultos indígenas e os cultos de origem africanas nesta
unidade, bem como o cristianismo brasileiro no caderno de História da Igreja
no Brasil. Porém, um fenômeno recente importante foi um poderoso veículo
para a chegada de novos movimentos religiosos no nosso país. Este fenômeno
foi a grande imigração de europeus e americanos ao Brasil após a abolição da
escravatura, no final do século XIX. Novas ideias chegaram com eles e marcaram
novas religiões em solo tupiniquim, sobre as quais conversaremos a partir de
agora.
UNI
Não é uma tarefa fácil dividir um grande grupo de religiões com suas
especificidades próprias em um único tópico de ensino.
Iniciaremos nosso estudo com o espiritismo, cujo maior ícone no Brasil é, sem
dúvida, o médium Chico Xavier. Continuaremos analisando um fenômeno recente
no Brasil onde podemos perceber a formação de comunidades alternativas de cunho
esotérico, de maneira especial na região Centro-Oeste do Brasil, além de citar outras
vertentes com presença no Brasil, porém com um raio de influência menor.
141
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
2 O ESPIRITISMO
O espiritismo surge oficialmente na França no século XIX, através da
figura de Leon Hippolyte Denizard Rivail, que se autodenominou Allan Kardec
posteriormente. Oficialmente, porque existem relatos anteriores de acontecimentos
mediúnicos nos Estados Unidos, em especial o caso curioso da família metodista
Fox que, ao alugar uma casa para residir com a família, estranhos acontecimentos
ocorreram a partir de então, em especial com as duas filhas do casal: Margarida
e Catarina Fox.
UNI
Ficou curioso para conhecer a história das irmãs Fox? Infelizmente não temos
espaço para tratar deste caso de protoespiritismo. Caso queira conhecer esta história, acesse
<http://www.espirito.org.br/portal/publicacoes/abc/cap04.html>.
142
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
do espiritismo, todos os seres humanos possuem uma alma que encarna num
corpo de tempos em tempos. Enquanto a alma está desencarnada, ou seja, sem
um corpo, pode ser acessada através de sessões mediúnicas e transmitir recados
ou trazer a solução para vários problemas emocionais ou mesmo físicos, através
da cura por meio do chamado “passe”, que consiste na imposição das mãos para
os que recebem a direção dos espíritos. Podemos considerar o passe como uma
modalidade leve de exorcismo, onde o objetivo é passar boas energias e afastar
influências espirituais negativas que podem levar a doenças e desequilíbrios
emocionais.
Allan Kardec deixou vários textos que são a base para a doutrina espírita.
Os principais são:
UNI
143
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
144
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
3 ESOTERISMO
O esoterismo é uma ampla gama de movimentos de cunho místico e não
pode identificar uma religião e sim um complexo grupo de movimentos que
têm em comum a crença em forças místicas e cósmicas. Estas forças podem estar
contidas em amuletos de tipos específicos de cristais, através do alinhamento de
planetas e estrelas, podem ser mais intensas em determinadas regiões geográficas.
Perceba que a ênfase não está muito voltada ao contato com o sobrenatural, e
sim com a utilização de elementos que concedam energia que possam auxiliar as
pessoas em seu dia a dia.
145
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
3.1 ASTROLOGIA
É com certeza uma das mais antigas manifestações esotéricas da história.
É de origem persa através da religião Zoroastrista de origem persa e tem pelo
menos 4.000 anos de existência. Com o tempo sofreu aprimoramentos através das
culturas greco-romanas e teve sua idade de ouro durante os séculos XIV, XV e
XVI. O cerne da astrologia está na crença de que existe uma relação muito estreita
entre a posição dos astros (planetas e estrelas) e a vida individual da pessoa. Os
que seguem este movimento observam atentamente o horóscopo, na medida em
que as previsões são feitas a partir dos signos, que são na verdade 12 constelações
que se encontram na faixa do Zodíaco. Em cada período do ano determinado por
cada signo, segundo os astrólogos, é possível determinar elementos pertinentes à
personalidade da pessoa.
146
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
3.2 UFOLOGIA
Dentro do esoterismo contemporâneo existe a vertente ufológica, que é
bastante difundida nos EUA. De acordo com a ufologia, seres de outros planetas
nos visitam constantemente. Estes seres seriam muito mais evoluídos que nós e
estariam monitorando a raça humana para evitar que seja destruída por si mesma.
Algumas pessoas dizem que já tiveram um Encontro Imediato de Terceiro Grau,
ou seja, encontraram um alienígena pessoalmente, ao passo que outros dizem
que foram inclusive abduzidos, ou seja, foram sequestrados do planeta Terra e
levados até os OVNIs (Objetos Voadores não Identificados), onde experiências
foram feitas por parte dos extraterrestres.
147
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
148
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
149
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
LEITURA COMPLEMENTAR
Mas sua vida mudou quando começou sua busca pelo aspecto
transcendente da vida. Acreditando na revelação feita por um espírito, mudou
seu nome para Allan Kardec. Redigiu o influente “O livro dos espíritos” (1857).
Fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e passou a escrever diferentes
livros sobre o assunto e uma publicação mensal. É considerado até hoje o “grande
codificador da doutrina”.
150
TÓPICO 3 | OUTROS MOVIMENTOS RELIGIOSOS
30 milhões de simpatizantes
Marcel Souto Maior escreveu sua biografia, “As Vidas de Chico Xavier”,
que vendeu mais de um milhão de cópias. O sucesso rendeu uma versão
cinematográfica, que atraiu 3,4 milhões de espectadores aos cinemas. Agora, o
autor das duas obras diz que o mesmo ocorrerá com a história de Allan Kardec.
“O filme deve ficar pronto no ano que vem”, comemora.
FONTE: Disponível em: <https://noticias.gospelprime.com.br/istoe-espiritismo-crescendo-
brasil/>. Acesso em: 10 ago. 2016.
151
RESUMO DO TÓPICO 3
152
AUTOATIVIDADE
3 Explique a afirmação de que o esoterismo não pode ser visto como uma
religião única.
5 Quais são os elementos que podemos citar para mostrar o sucesso de adesão
do espiritismo no Brasil?
153
154
UNIDADE 3
TÓPICO 4
ECUMENISMO
1 INTRODUÇÃO
Neste último tópico de estudo vamos examinar as raízes das tentativas de
unificar o discurso cristão em meio ao universo de vertentes cristãs, sejam elas
católicas ou protestantes. A preocupação com a unidade da Igreja sempre foi uma
constante ao longo da história cristã, devido ao grande número de heresias que
sempre se levantou à margem do cristianismo primitivo, quando líderes cristãos
realizavam suas próprias interpretações do contexto doutrinário e constituíam
um novo cristianismo, normalmente intitulado de “verdadeiro”.
2 ORIGEM DO ECUMENISMO
Foi durante a Idade Média que a humanidade teve um exemplo prático
de unidade cristã, naquilo que os historiadores chamam de cristandade, quando
toda a Europa estava firmemente enraizada nas doutrinas cristãs aliadas ao poder
secular dos reinos cristãos. Porém, qual foi o resultado desta experiência prática?
A necessidade de manutenção do status quo a qualquer custo, mesmo que fosse
necessário o uso da força militar para manter a Europa Cristã. Desta forma, muitos
grupos considerados hereges por Roma foram dizimados para manter a unidade
da Igreja. Dentre eles podemos citar os valdenses na Itália e os cátaros e albigenses
na França.
155
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
3 O ECUMENISMO CONTEMPORÂNEO
O marco no movimento ecumênico é a criação do Conselho Mundial de
Igrejas, em 1948, na cidade holandesa de Amsterdã. O objetivo deste conselho
era o de nortear os rumos das igrejas ditas cristãs e auxiliar nos diálogos
intereclesiásticos. Na fundação, 147 igrejas de 44 países aderiram ao movimento.
Hoje, mais de meio século depois de sua fundação, o Conselho Mundial das
Igrejas realizou sua nona Conferência, na cidade de Porto Alegre, no Brasil, em
2006. Nesta nona edição pôde-se perceber que os anseios iniciais do movimento,
que era o de estabelecer o diálogo entre as denominações cristãs, foi ampliado
para outros segmentos religiosos, como a Legião da Boa Vontade (LBV), algumas
Igrejas pseudoprotestantes voltadas a grupos homossexuais e até mesmo religiões
de cunho afro-brasileiro.
UNI
Se você se interessou pelo Conselho Mundial das Igrejas e quer saber mais a
respeito deste polêmico encontro, pode acessar o site do congresso, onde todos os vídeos
dos palestrantes estão disponíveis, bem como os documentos, que as mesas de discussão
formularam. Alguns documentos estão em português, então você pode aproveitar! O
endereço eletrônico é <http://www.wcc-assembly.info/po/sobre-a-assembleia.html>.
O lema do Conselho das Igrejas em sua gênese era descrito pela seguinte
frase de 1954: “O Conselho Mundial de Igrejas é um conjunto de Igrejas que
reconhecem o Senhor Jesus Cristo, de acordo com as Sagradas Escrituras, como
Deus e Salvador, e, portanto, desejam realizar o propósito para o qual foram
conjuntamente comissionadas para a honra de Deus Pai, do Filho e do Espírito
Santo”.
FONTE: Disponível em: <http://www.oikoumene.org/es/about-us/about> Acesso em: 20 ago.
2016.
UNI
157
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
158
TÓPICO 4 | ECUMENISMO
LEITURA COMPLEMENTAR
159
UNIDADE 3 | RELIGIOSIDADE BRASILEIRA
Não cabe dizer que o contato entre elas acabou designando um processo de
aviltamento de religiões que aqui apareceram. Tanto do ponto de vista religioso,
quanto em outros aspectos da nossa vida cotidiana, é possível observar que o
diálogo entre os saberes abre espaço para diversas inovações. Por esta razão, é
impossível acreditar que qualquer religião teria sido injustamente aviltada ou
corrompida.
160
RESUMO DO TÓPICO 4
• A ideia de manter a unidade da Igreja cristã sempre foi uma preocupação dos
cristãos desde sua gênese.
161
AUTOATIVIDADE
162
REFERÊNCIAS
ALCORÃO. Português. Alcorão. Tradução Mansour Challita. Rio de Janeiro,
Associação Cultural Internacional Gibran, 1995.
FLOR, Douglas Moacir. Cultura religiosa. Curitiba: Iesde Brasil S.A., 2007.
GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
2005.
163
SCHERER, Burkhard (Org.). As grandes religiões: temas centrais comparados.
Petrópolis: Editora Vozes, 2005.
164
ANOTAÇÕES
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
165
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
166