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Flávia Maria Cheganças

3º ano Jornalismo – Matutino

Resenha Crítica do livro: “Admirável Mundo Novo” - Aldous Huxley

O livro de ficção “Admirável mundo novo” foi escrito pelo inglês Aldous
Huxley no ano de 1931 e publicado em 1932, época que a situação econômica
e social estava caótica. A fome, desemprego e desordem ecoavam nas
potências mundiais que haviam passado por uma grande guerra, e não
tardariam a entrar em outra.

A obra é uma forma de denúncia do progresso científico desumano, e


uma maneira de mostrar e criticar o que o mundo poderia se tornar no futuro. A
narrativa se passa em Londres, no século VII d.F (mais precisamente no ano
632 depois de Ford, o que corresponderia ao ano 2.530 d.C), e ao contrário do
que acontecia na vida real de Huxley, a sociedade da ficção vivia em um lugar
com ordem em demasia.

Na história, o modelo de família tradicional, em que um homem e uma


mulher geram um filho não existe, inclusive pensar em reprodução sexual ou
sugerir isso ou para um alguém pode ser considerado uma das maiores
ofensas que se pode dizer.

Há um controle de natalidade definido pelo método malthusiano e todos


os seres humanos são criados em laboratórios, onde são selecionados,
manipulados biologicamente e condicionados a pertencer a uma determinada
casta e serem felizes, independente de se ela é superior ou inferior. Ao
pertencer a essa casta, a pessoa apresenta características físicas e intelectuais
típicas dela. Para isso, eles utilizam o método da hipnopedia, em que os modos
de agir e conceitos são transmitidos para os bebês através de repetições
proferidas enquanto eles dormem. Também há outros métodos aplicados nas
crianças, no início do livro, por exemplo, o autor descreve uma cena em que
bebês pertencentes a uma casta baixa são submetidos a choques quando se
aproximam de livros e plantas, isso para que eles criem ódio a leitura e coisas
naturais e não percam tempo lendo e possivelmente ficando insatisfeitos com o
seu papel na sociedade já pré-determinado.

Além disso, relacionamentos afetivos intensos e privacidade são


características também inexistentes. O lema defendido é “cada um é de todos”,
pois dessa maneira ninguém cria vínculos e todos são felizes. A promiscuidade

HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. 1ª edição. São Paulo: Globo Livros, 2009
é largamente incentivada logo cedo para as crianças, Huxley mostra na obra
algumas situações como jogos eróticos.

Outro fator importante apresentado no livro é o uso legalizado de uma


droga, a soma. A substância é distribuída pelo governo, e é utilizada para
aliviar problemas advindos de diversas naturezas, como as frustrações e
dúvidas. Ninguém adoece e a morte assim como a velhice é vista com
naturalidade, as pessoas não se lamentam ou choram por alguém que tenha
morrido. O prolongamento da vida é mantido pelos governantes da sociedade.

O enredo conta a história de Bernard Marx, um jovem pertencente à


casta mais alta e que questiona os padrões da sociedade em que vive. Apesar
de ser da classe superior, o personagem se incomoda em ser diferente,
principalmente nos traços físicos, pois é mais baixo e menos bonito que os
outros pertencentes à mesma casta que ele. Ele também se incomoda ao se
sentir apaixonado por Lenina Crowne, e por querer ter um relacionamento
diferente do permitido e visto como ético pelos demais.

Em uma viagem a trabalho, ele e Lenina visitam uma reserva histórica


chamada “Malpaís”. O lugar é chamado de reserva de “selvagens” já que sua
população tem costumes bem diferentes da civilização “avançada”, como o
matrimônio, a crença em divindades, doenças sem cura, sujeira e outros rituais
repugnados pela terra de Bernard.

Ao chegarem ao local se deparam com o jovem selvagem John e sua


mãe chamada Linda. Os dois são levados a Londres com o intuito de serem
amostras científicas de outro tipo de vivência, uma inferior. Linda, que já havia
morado na civilização antes de ter ido para Malpaís é vista com horror pelos
outros, por possuir aparência mais envelhecida (ninguém envelhece em
Londres, pois eles utilizam métodos que os deixam com aparência sempre
jovem), por ser mais gorda e por ter um filho. Ela fica perdida, pois se vê no
meio de duas civilizações com costumes diferentes, em uma é normal se
relacionar com vários homens, e na outra isso não é visto com bons olhos.
Diante disso, ela passa a consumir com frequência a droga soma para aliviar
suas frustrações.

Já seu filho John é visto com curiosidade pela civilização e se torna uma
“celebridade” perante os outros. Ele se apaixona por Lenina, no entanto, a
moça não corresponde seus sentimentos, já que está condicionada e
acostumada com outros tipos de relacionamentos. Além disso, ele não se
adapta, e mais do que isso, fica indignado aos hábitos e condutas das pessoas
ditas civilizadas.

HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. 1ª edição. São Paulo: Globo Livros, 2009
 Ao ver sua mãe morrer, ele se revolta e percebe que não quer estar
naquele mundo cheio de “felicidade”. Seus questionamentos acabam
acarretando uma desordem pública, fazendo com que ele, Bernard e mais um
amigo deles fossem presos. Diante disso, os dois são punidos e transferidos
para ilhas diferentes e John se muda para um velho farol. Mas, até mesmo lá
as pessoas da civilização não o deixam em paz, e para conseguir sua
liberdade, o único meio que ele encontra é o suicídio.

Ao término da obra, pode-se concluir que o autor realiza com grande


astúcia comparações entre a ficção e o mundo em que vive. Os nomes dos
personagens, por exemplo, remetem as pessoas reais, com Lenina Crowne
que faz menção ao revolucionário e chefe de Estado russo Lenin, e Bernard
Marx que remete ao teórico político Karl Marx. A proibição de livros também
pode ser comparada ao Index, lista de livros proibidos pela Igreja Católica, e
que dificulta o aprendizado do intelecto em meio ao avanço da tecnologia.

Além disso, o uso da soma pode ser comparado ao uso de


antidepressivos que estão muito presentes na sociedade atual, que nunca está
feliz com tudo e por isso tem que fazer o uso de substâncias. A promiscuidade
também é uma questão que pode ser apurada, já que hoje as relações sexuais
começam cada vez mais cedo e os vínculos afetivos e duradouros estão cada
vez mais raros.

Algumas técnicas avançadas são também muito parecidas. O processo


de “nascimento” do ser humano por ser comparado à fertilização in vitro, e a
clonagem humana é algo que a sociedade científica sempre quis alcançar e já
conseguiu com animais.

O que se pode depreender é que todas essas comparações são críticas


ao modo de vida atual. E que a maioria da população não está ciente disso,
pois as pessoas estão cada vez mais felizes com os avanços tecnológicos,
como o de remédios, da indústria de entretenimento e de outros. Estes
avanços alienam e provocam o comodismo perante as imposições do governo,
sejam econômicas ou políticas e também perante as diferenças sociais
estrondosas da população.

HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. 1ª edição. São Paulo: Globo Livros, 2009

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