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Flávia Maria Cheganças

3º ano Jornalismo – Matutino

Resenha Crítica do livro: “Terceiro Setor e questão social: crítica ao


padrão emergente de intervenção social” – Carlos Montaño

O livro “Terceiro Setor e questão social: crítica ao padrão emergente de


intervenção social” foi escrito pelo professor Carlos Montaño. A obra é
resultado de uma tese de doutorado que ele apresentou na Escola de Serviço
Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2001. Nela, o autor
investiga como se consolidou o terceiro setor, qual é a real situação em que ele
se encontra e quais suas implicações no meio social.

O texto está dividido em introdução, dois capítulos e conclusão, e


pensamento de autores como Marx, Tocqueville, Hayek e Habermas são
explorados. Montaño demonstra que há um discurso dominante sobre terceiro
setor, e afirma que este não representa uma construção física real, mas sim
uma edificação criada por nossas mentes. Para ele, existem ONGS e
associações, porém o que deve ser efetivo no terceiro setor são as ações
solidárias presentes em uma sociedade civil, sem dependência de qualquer
instituição.

Segundo o autor: “Estudam-se as ONGs, as fundações, as associações


comunitárias, os movimentos sociais, etc., porém desconsideram-se processos
tais como a reestruturação produtiva, a reforma do Estado, enfim, descartam-
se as transformações do capital promovidas segundo os postulados
neoliberais.” (p. 51).

Ele se preocupa em destacar essas políticas neoliberais da sociedade,


pois elas afastaram o Estado das responsabilidades sociais e das relações de
regulação entre capital e trabalho. Diante disso, o terceiro setor passou a
liderar as políticas sociais que cabiam ao Estado, e muitas destas ONGS se
usam da intitulação do terceiro setor para mostrarem que são bem
intencionadas, anticapilistas e antiestatista e que trabalham para ajudar na
diminuição da miséria humana.

No entanto, segundo ele, essa transferência de responsabilidade social


para o setor privado e filantrópico, contribui para provocar prejuízos
econômicos a enormes parcelas das populações até recentemente
reconhecidas pelo estado como portadoras de direitos sociais.

Em um segundo momento, o autor retoma a discussão que já havia


abordado no começo do livro, comentando o fato do termo terceiro setor não

MONTAÑO, Carlos. Terceiro Setor e questão social: crítica ao padrão emergente de


intervenção social. 2ª Edição. São Paulo: Cortez Editora, 2003
ser totalmente definido e esclarecido. Muitos autores referem-se a ele como
organizações não-lucrativas e não-governamentais, instituições de caridade,
atividades filantrópicas, ações solidárias, ações voluntárias, e também como
atividades pontuais e informais, mas o autor afirma que a maioria recebe verba
do governo para realizar suas atividades.

Por fim, Montaño afirma que o Estado omite-se em suas


responsabilidades sociais enquanto ajuda financeiramente algumas instituições
do terceiro estado. Isso porque é mais barato as ONGs prestarem serviços
precários e pontuais à população, do que o Estado ser pressionado por
populares e prestar serviços de qualidade a ela.

Além disso, o autor alerta que se deve tomar cuidado ao pensar que o
terceiro setor é democrático e eficiente, quando comparado ao Estado.
Contudo, ele separa as ONGS que fazem parcerias com os movimentos sociais
das que procuram substituí-los. Ele também reafirma que o terceiro setor
existe, portanto, para se atarem os laços da solidariedade, e que para isso
acontecer é necessário que se a população dedique mais tempo a estas
atividades. Assim, a consciência coletiva e as ações provindas delas poderiam
ser mais fortes do que o Estado.

A leitura da obra é imprescindível, pois é necessário o conhecimento (não


só como profissional da área de jornalismo, mas principalmente como cidadão)
das manobras que o Estado utiliza através do terceiro setor que enfraquecem
as políticas sociais e promovem o aumento na desigualdade social no país.

MONTAÑO, Carlos. Terceiro Setor e questão social: crítica ao padrão emergente de


intervenção social. 2ª Edição. São Paulo: Cortez Editora, 2003

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