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APOSTILA​ ​UNIDADE​ ​06

A​ ​APRESENTAÇÃO​ ​DE​ ​UM​ ​SERMÃO

Objetivo: entender o que são, como funcionam e como devem ser usadas as
ilustrações, as aplicações, a introdução e a conclusão; bem como perceber aspectos de
nossa​ ​postura​ ​e​ ​linguajar​ ​como​ ​auxiliadores​ ​em​ ​nossa​ ​exposição.

Sumário:
1​ ​Introdução
2​ ​As​ ​Ilustrações
3​ ​As​ ​Aplicações
4​ ​A​ ​Introdução
5​ ​A​ ​Conclusão
6​ ​O​ ​Apelo
7​ ​Cuidados​ ​com​ ​a​ ​Apresentação​ ​da​ ​Mensagem
7.1​ ​O​ ​Cuidado​ ​com​ ​o​ ​Tempo
7.2​ ​O​ ​Corpo​ ​também​ ​Fala
8​ ​A​ ​Importância​ ​da​ ​Auto-avaliação
9​ ​Cuidados​ ​Necessários​ ​com​ ​as​ ​Ocasiões​ ​Especiais
10​ ​Resumo
1​ ​Introdução
Embora as ilustrações, aplicações, introdução e conclusão devam ser pensadas
e​ ​trabalhadas​ ​no​ ​processo​ ​de​ ​estudo​ ​e​ ​montagem​ ​de​ ​nosso​ ​esboço,
trataremos estas como parte significativa de nossa apresentação, distinguindo esta
Unidade​ ​da​ ​anterior.

2​ ​As​ ​Ilustrações
Como o próprio nome sugere, deve servir para trazer uma luz maior ao assunto
estudado. Devem ser curtas e totalmente coerentes com a parte onde está sendo
descrita. Ou seja, há certas histórias que cairiam muito melhor na introdução, mas
como eu gosto muito dela “vou deixar para o final, como cereja do bolo”. Se fizer isto,
estragarei “a cereja e o bolo”, isto é, quando a ilustração é contada fora de hora, os
nossos ouvintes gastarão energia tentando descobrir o quê que ela teria a ver com a
mensagem ensinada, fugindo do seu propósito inicial. Não devem ser muitas nem
aleatórias, precisam dar suporte à mensagem bíblica e jamais tomar o seu lugar.
Devem ser usadas no máximo uma por tópico ou subtópico. Precisam estar em
sintonia tanto com a mensagem a ser pregada, quanto com os ouvintes. Isto é, não
adianta simplesmente dizer que o sangue de cristo nos torna mais alvos do que a neve,
para um irmão do nordeste, que nunca viu neve. Mas, se eu disser que nossa vida com
Cristo é mais branca que a poupa do coco, fará muito mais sentido. Precisa fazer parte
do mundo sócio-cultural dos ouvintes. Não tem lógica, eu contar uma ilustração, que
deveria clarificar a mensagem que estou narrando e precisar gastar cinco minutos
explicando a ilustração ou partes dela; certa vez, ouvi um pregador que citou uma
poesia de três linhas, como ilustração para um dos tópicos de seu sermão. Porém
precisou fazer quase que uma exegese para explicar cada palavra utilizada na poesia.
Ao final, parecia que ele estava pregando sobre a poesia. Não precisam ser reais, mas
precisam ser factíveis – capazes de serem realidade. Muito menos deverão servir como
via de regra. Por exemplo: se uso a história de alguém que acordava às 5h da manhã
para orar por um determinado problema e em dez dias Deus lhe concedeu um milagre,
devo cuidar para não passar a ideia de que o horário ou a quantidade de dias é que
fizeram​ ​o​ ​milagre​ ​acontecer.
Muito cuidado com algumas histórias, que apesar de sua beleza, podem causar
muito mais inquietação do que ilustrar o tópico da mensagem. Por exemplo: certa vez
usei a seguinte história em uma pregação: “havia um alpinista, que acabou se
aventurando por subir uma montanha durante a noite, confiando na luz das estrelas.
Mas, diante de uma tempestade muito forte, não havia nenhuma luz para guiá-lo e por
isto estava em perigo. Sob um descuido, acabou caindo, ficando pendurado pela corda.
Percebendo o perigo de uma morte rápida e congelante clamou a Deus por perdão e
misericórdia e Deus lhe respondeu – ‘se crês em mim, de fato, corte a corda’. Mas, sua
falta de fé o fez grudar ainda mais na corda e, na manhã seguinte, a equipe de resgate
encontrou seu corpo congelado e segurando naquela corda há apenas um metro do
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chão.” . Quando concluí minha meditação, achando que a ilustração teria ajudado as
pessoas a praticarem mais sua fé, me veio um irmão perguntar como eu sabia que
aquele alpinista teria realmente ouvido a voz de Deus, se ele estava sozinho naquela
montanha? E outro disse: “pastor, esta história está estranha, ninguém é tão louco de
empreender uma aventura como esta sem levar uma lanterna”. E mais um me
perguntou: “se Deus foi tão bom em responder a ele dizendo para que cortasse a
corda, por que não disse que ele estava apenas há um metro do chão?”. Enfim,
aprendi a dar uma melhor atenção às histórias antes de contá-las no Púlpito, afinal,
ilustração​ ​é​ ​para​ ​esclarecer​ ​a​ ​mensagem​ ​e​ ​não​ ​tirar​ ​a​ ​atenção​ ​dos​ ​ouvintes.

3​ ​As​ ​Aplicações
Como já mencionamos anteriormente, aplicar a mensagem é dizer ao nosso
ouvinte como vivenciar a mensagem bíblica hoje, que foi escrita há tanto tempo para
um determinado público alvo. Nosso maior cuidado é com a interpretação correta do
texto bíblico. Pois um significado errado ou distorcido levará a aplicações equivocadas
e​ ​destoantes​ ​daquilo​ ​que​ ​a​ ​Palavra​ ​de​ ​Deus​ ​espera​ ​de​ ​nós.
Por exemplo, quando Deus disse que não deveríamos furtar (Ex 20.15)
certamente ele não estava se referindo apenas ao ato de tomar posse daquilo que
pertence ao outro de forma fortuita e escondida. A ideia por trás do oitavo
mandamento é não tomar posse daquilo que não nos pertence. Feito esta

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Não lembro de onde eu havia retirado esta história. Acabei encontrando alguns sites que a
mencionam, mas preferi não mencioná-los, por ter esta conotação negativa que mencionarei
agora.
interpretação, posso aplicar nas mais diversas áreas de nossa vida. Ou seja, a partir de
Ex 20.15 Deus nos convida a não levar o clips do escritório pra casa; a devolver aquele
livro que pegamos emprestado, mas há 15 anos está conosco e privamos o seu dono
de usufruir seus ensinamentos; a ter mais sabedoria na administração dos bens dos
outros, evitando a chamada improbidade administrativa... Enfim, embora a palavra do
texto bíblico seja furto, qualquer situação na qual eu tomo algo do outro estará
incorrendo​ ​neste​ ​pecado.
Outra situação: se eu interpretar que em Mateus 19.16-22 Jesus está
condenando a riqueza material, poderei cair no erro de achar que nenhum rico irá para
o céu se não vender tudo o que tem e dar aos pobres. Ou ainda, poderia achar que
alguns pobres não conseguiriam ir para o céu por não ter o que vender. Mas, se
interpretar corretamente, percebo que o que Jesus está ensinando é que não devemos
considerar nada mais importante do que ele; aí sim poderemos aplicar para todas as
pessoas. Ou seja, não preciso ter uma conta abastada no banco para cair no pecado
daquele jovem rico. Há pessoas que não permitem Deus agir em suas vidas porque são
escravas de algo que para elas são verdadeiras riquezas, mas que para o mundo não
significam nada. Por exemplo: há pessoas que dão muito mais valor a um animal de
estimação do que aos próprios filhos; há outros que tem um apreço imenso a um carro
velho e por conta disso até perderam amizades; há cristãos que se deixaram tomar
pela vaidade por conta de seu cabelo, bigode, barba, tipo físico, entre outros. O que
dizer ainda daqueles que, por conta de uma novela, filme, jogo ou corrida são
incapazes de se doar para ajudar alguém necessitado? Observem que com uma
interpretação correta, todos nós nos enquadramos naquilo que Jesus pediu ao jovem
rico: “devemos abrir mão de nossa riqueza pessoal, a fim de permitir que sejamos
usados​ ​como​ ​bênção​ ​na​ ​vida​ ​de​ ​nosso​ ​próximo,​ ​por​ ​amor​ ​a​ ​Ele”.

4​ ​A​ ​Introdução
Como havíamos falado anteriormente, ela deve ser uma das últimas coisas a
serem pensadas e planejadas. Mas, se você estiver iniciando sua jornada de estudos e
já teve um vislumbre do que poderia utilizar para introduzir tua meditação, anote em
algum​ ​lugar,​ ​para​ ​avaliar​ ​e​ ​aprimorar​ ​mais​ ​adiante,​ ​após​ ​os​ ​estudos​ ​concluídos.
Neste momento, devemos pensar na formatação final de nossa introdução.
Que deve ser criativa. Deve ser pensada a cada sermão e vislumbrando melhor atender
cada um deles. Em geral, devemos gastar cerca de 10 a 20% de nosso tempo total do
sermão aqui na introdução. Muito cuidado para não gastar 20 minutos introduzindo e
apenas​ ​cinco​ ​pregando.​ ​Fica​ ​muito​ ​estranho.
Ela deve estar em consonância com a meditação. Assim como um filme,
devemos iniciar o processo de captação da atenção do ouvinte. Se ela não for bem
feita, poderá afugentar seu ouvinte antes mesmo de começar a pregar. Tente pensar
nas seguintes perguntas após os estudos e a elaboração de seu esboço: Como poderia
introduzir este sermão? Que história poderia contar que capte a ideia geral, causando
curiosidade​ ​para​ ​os​ ​meus​ ​ouvintes?
Expressões que devem ser evitadas ao desenrolar a introdução: “quero trazer
uma palavrinha pra vocês hoje sobre...” – embora a ideia esteja se referindo ao tempo,
na cabeça do ouvinte pode soar como se fosse algo simples, sem muita importância.
“Pretendo ser breve, não vou me delongar muito” – nem sempre o que é breve para o
pregador será para o povo, assim, dependendo do ouvinte, depois de cinco minutos
começará a pensar: “Shi! vai longe, nem acabou a introdução”. “Não quero tomar
muito do tempo dos irmãos” – pode dar a ideia de que a explanação da Palavra está
apenas servindo aos irmãos, que seriam o real enfoque do culto, quando na verdade a
Palavra é quem deve ter a centralidade. “Quero pedir desculpas, porque não pude me
preparar muito bem para este sermão” – nunca peça desculpas para a igreja. Peça
perdão a Deus e prontifique-se a fazer melhor na próxima vez; mas a igreja não precisa
saber, mesmo que tenha sido por razões nobres; já presenciei sermões maravilhosos
que, se não fosse a desculpa inicial, não teriam do que serem criticados; geralmente
quando ouvimos um pedido de desculpas como este nos desligamos, achando que virá
qualquer​ ​coisa,​ ​e​ ​corremos​ ​o​ ​risco​ ​de​ ​não​ ​sermos​ ​alimentados​ ​pelo​ ​Espírito.

5​ ​A​ ​Conclusão
Semelhantemente à introdução, deve ser pensada por último e ter cerca de
10% do tempo total do sermão. Ela deve ser pensada antes, para não virar enrolação.
Já presenciei sermões de uns 15 minutos, com conclusões de 25. Porque
costumeiramente os sermões naquela igreja duravam 40 minutos, então, para não
ficar feio entregar um sermão com apenas 20 minutos, o pregador ficou enrolando os
outros 20 minutos. Como você deve estar percebendo, ficou muito pior enrolar o povo
do que simplesmente ter encerrado antes do tempo. É muito mais bonito e prazeroso
o povo sair da igreja com a sensação de que o pregador poderia ter falado mais, do
que​ ​com​ ​a​ ​sensação​ ​de​ ​que​ ​foram​ ​enrolados.
A Conclusão também deve estar em sintonia com o sermão como um todo. Não
posso usar o tempo apenas para enfatizar um dos tópicos. A hora dos tópicos já
passou. Mas, e se esqueci de falar algo importante quando passei pelo tópico? Neste
caso deixe para trás. Na conclusão não é hora para lições novas. Nela fazemos um
fechamento geral do assunto tratado, relembrando o que fora ensinado e cobrado,
mostrando aplicações de como viver em resposta àquilo que foi pregado. É hora de
fazer o apelo – o convite para que as pessoas se prontifiquem a responder a
mensagem anunciada. Logo, na conclusão é lugar de recapitulação geral do assunto,
releitura​ ​dos​ ​tópicos,​ ​lembrete​ ​das​ ​aplicações​ ​e​ ​apelo​ ​aos​ ​ouvintes.
Nunca diga “concluindo...”. E quando disser, conclua de fato. Recentemente
ouvi uma pregação, excelente por sinal, mas que deixou a desejar por alguns aspectos
práticos: o pregador iniciou dizendo que seria uma breve meditação (mas durou 65
minutos), logo aos 20 minutos disse “como não quero tomar muito o tempo de vocês,
quero ir concluindo”. Você já deve ter feito as contas: 65-20=45. Puxa, 45 minutos de
conclusão! Pior, ele repetiu umas 5 vezes: concluindo... indo para o final...
finalizando...​ ​e​ ​nada.
Nunca inclua assuntos novos ou ilustração que só tenham a ver com um dos
tópicos. A conclusão é o momento do fechamento final. Pode recapitular todos os
tópicos,​ ​mas​ ​não​ ​se​ ​deve​ ​enfocar​ ​em​ ​apenas​ ​um.

6​ ​O​ ​Apelo
Embora ele faça parte da conclusão, aqui quis deixá-lo em separado por conta
de uns abusos que tenho percebido nos púlpitos de muitas de nossas igrejas. Na
conclusão deve-se existir o apelo e nunca a apelação. Às vezes tenho percebido que o
apelo tem sido utilizado como forma de persuasão meramente humana a fim de coagir
o fiel a uma determinada resposta que favorecerá melhor aquele pastor e sua forma
administrativa.
No apelo devemos nos preocupar com o ouvinte. Em oportunizar ao mesmo um
momento de reflexão e uma tomada de decisão, que poderão mudar radicalmente o
rumo de sua história. Diante de tamanha importância e responsabilidade precisamos
entender​ ​sua​ ​funcionalidade​ ​e​ ​fugir​ ​de​ ​seu​ ​mal​ ​uso.
Por apelo entenda-se a provocação da Palavra a fim de termos uma vida
distinta e diferente da que vivemos hoje. Ele pode ser subjetivo, cada pessoa é
convidada a analisar sua própria vida e tomar a decisão que lhe for mais apropriada.
Mas, também pode ser visível: pedindo que se levante uma mão ou se vá à frente. Um
exemplo de apelo subjetivo: diante do que estudamos hoje, por que não permitir que
Deus cuide de fato de nossas vidas? Por que continuarmos querendo tomar os rumos
de​ ​nossa​ ​própria​ ​vida,​ ​como​ ​se​ ​vivêssemos​ ​sozinhos?
O Apelo também precisa ser coerente com a temática abordada no sermão. Ou
seja, se a pregação é sobre a mordomia do tempo, não posso pedir que os irmãos
sejam mais generosos em suas ofertas. Mas, infelizmente, muitos pregadores deixam
para pensar no apelo exatamente quando o sermão acaba, condicionando-o à
quantidade de respostas obtidas. Assim, se a pregação era de salvação e ninguém
levantou a mão, expandem o apelo para reconciliação, se ninguém levanta a mão,
amplia-se o convite para consagração, para cura disso ou daquilo, libertação, promessa
de prosperidade etc. Enquanto a cota, previamente estabelecida não for cumprida,
não​ ​cessam​ ​a​ ​apelação.
Carnalmente criamos a teoria de que se vários não levantarem a mão em minha
pregação não fui bem sucedido. Fuja deste mal! É o Espírito quem convence e
transforma e não é pela falta de uma mão levantada que Ele irá deixar de abençoar ou
agir. Ao mesmo tempo, nosso ministério não deve ser avaliado pela quantidade de
pessoas que levamos à frente ou que levantam suas mãos. Nossa missão como
pregadores é expor de forma coerente e profunda a Palavra de Deus. E não ficar
preocupado em preencher uma planilha de relatório ou alimentar nosso ego
registrando a quantidade de “nossa” colheita. Isto é apelação e não deve existir em um
sermão​ ​sério​ ​e​ ​honesto.
7​ ​Cuidados​ ​com​ ​a​ ​Apresentação​ ​da​ ​Mensagem
Além do conteúdo da mensagem existem inúmeros cuidados que precisaremos
ter para buscar êxito em nossa explanação. A forma como falamos, os trejeitos, os
gestos,​ ​a​ ​entonação​ ​de​ ​voz,​ ​o​ ​tempo​ ​que​ ​gastamos​ ​são​ ​apenas​ ​alguns​ ​exemplos​ ​disso.

7.1​ ​O​ ​Cuidado​ ​com​ ​o​ ​Tempo


Seja prudente com o tempo que você gasta com a exposição de suas
mensagens. Os tempos mudaram e passamos a semana toda nos envolvendo com
coisas que exigem o mínimo de nossa atenção e, por isto, quando chega o dia do culto
não é tão simples nos concentrarmos totalmente no pregador. Não é só falta de
respeito ou má vontade das pessoas, nosso mundo tem mudado e ficado cada vez mais
dinâmico. Para piorar ainda mais este contexto, alguns pregadores não ajudam em
nada, quando, infelizmente, em nome de uma religiosidade barata, não se dedicam ao
preparo do sermão e apresentam como se fosse qualquer coisa, menos a Palavra de
Deus. Assim, além do cansaço e desatenção do povo, acabamos contribuindo com uma
mensagem sem conteúdo, sem preparo e sem espiritualidade. E ficamos admirados de
não​ ​vermos​ ​transformação​ ​na​ ​vida​ ​de​ ​nossos​ ​ouvintes.
Não há uma regra fixa, nem podemos ir pelo que dá certo na igreja do outro.
Mas, em geral, é possível ministrar ótimos sermões entre 25 e 40 minutos. Mais que
isso também é possível, mas exige-se muito mais trabalho e cuidado para manter a
atenção do povo. Em especial, se você é o pastor principal da igreja e tem que pregar
sempre, procure não ultrapassar os 40 minutos e prime pela qualidade de seus
sermões, mesmo que alguns o achem curto. Já conheci pastores que não pregavam
menos de uma hora. Com mais ou menos um ano a igreja começam a querer enviá-lo
ao campo missionário, não por amor à obra, mas para livrarem-se dele. Também
conheço um pastor que, quando foi chamado para a entrevista pela comissão de
indicação com vistas a assumir aquela igreja, os líderes foram taxativos: “Pastor, a
igreja exige que suas pregações não passem de 15 minutos”. Diante de todos os
demais objetivos e conversas, em oração ele aceitou o desafio da igreja e por cerca de
três meses se manteve fiel ao pedido de sua igreja e nunca ultrapassou os quinze
minutos. Mas esmerou-se cada vez mais em suas prédicas, ao ponto da diretoria se
reunir e dizer: “pode pregar o tempo que o senhor achar necessário, porque a igreja
quer ouví-lo pregar”. Aqui, mais do que nunca, vale aquela máxima dos
relacionamentos: empregue um tempo de qualidade. Ou seja, se um sermão exigir um
pouco mais, faça-o. Se menos, não tem problema. Mas, nunca estabeleça métricas tão
rígidas e formais, para as quais precisará abrir mão da qualidade de sua explanação a
fim​ ​de​ ​atingir​ ​a​ ​meta​ ​estabelecida.
Outra questão importante: quando exageramos no tempo, quando não
respeitamos nosso ouvinte, ele simplesmente não voltará mais e nunca lhe dirá o real
motivo. Se você o visitar e lhe perguntar do por que de sua ausência, ele vai jogar a
culpa no trabalho, no cansaço, no cachorro, em qualquer coisa, mas nunca vai lhe dizer
que​ ​não​ ​aguenta​ ​mais​ ​o​ ​seu​ ​sermão,​ ​porque,​ ​além​ ​de​ ​chato​ ​e​ ​longo,​ ​é​ ​nada​ ​relevante.

7.2​ ​O​ ​Corpo​ ​também​ ​Fala


Outro cuidado de suma importância deve ser com nossos gestos e posturas.
Não fique debruçado sobre o púlpito. No começo até pode nos dar uma sensação
maior de segurança, mas a impressão de quem assiste é terrível. Dá a ideia de
desânimo e má vontade, mesmo que seja uma pegada de leve, só encostando uma das
mãos. Lembre-se: o púlpito não precisa de apoio. Quanto mais livre estiver suas mãos
e​ ​mais​ ​à​ ​vontade​ ​você​ ​estiver,​ ​melhor​ ​é​ ​a​ ​mensagem​ ​corporal​ ​que​ ​você​ ​transmite.
Cuidado com gestos. Eles devem ser sob medida. Alguém falou em certa
ocasião que devemos imaginar um quadrado com a altura entre nossa testa e umbigo
e da largura de nossos ombros. Gestos fora deste campo de visão, acabam chamando a
atenção​ ​de​ ​forma​ ​muito​ ​negativa.
Cuidado se usar óculos e precisar ajustá-lo enquanto fala. É comum usarmos o
dedo​ ​médio​ ​para​ ​manuseá-lo​ ​e​ ​acabarmos​ ​por​ ​mostrar​ ​um​ ​gesto​ ​obsceno.
Procure dosar sua fala com os gestos faciais. Como é estranho, ouvir alguém sobre um
assunto tão sério e delicado e perceber que ele está rindo. Dá a ideia de que nem ele
acredita no que está falando. Ou, se está falando algo que deveria ser agradável e
bom, mas sua testa está tão franzina, demonstrando como se estivesse zangado ou até
com raiva por Deus estar sendo tão bonzinho com o pecador. Temos que ser coerentes
com​ ​a​ ​mensagem​ ​que​ ​transmitimos.
Cuidado com os cacoetes ou vícios de linguagem. Não é fácil, né, ouvir alguém,
né, que não consegue, né, falar mais que cinco palavras, né, usando o né, né? Procure
se policiar. Filme-se pregando e assista sozinho, ou então pergunte para algum ouvinte
de confiança se há alguma fala, expressão, tique ou qualquer coisa que você faça
subconsciente e repetidamente. Pois muitas vezes isto contribui e muito para a
desatenção​ ​de​ ​muitos,​ ​se​ ​não​ ​de​ ​todos​ ​os​ ​ouvintes.

8​ ​A​ ​Importância​ ​da​ ​Auto-avaliação


Como em toda área de nossa vida, precisamos gastar energia em
auto-avaliações, a fim de verificar como estamos indo, o que podemos melhorar,
como, quando, onde... Todavia, se uma auto-avaliação de qualquer área nem sempre é
tão simples de ser feita, na pregação parece ser pior ainda. E por duas razões, oriundas
de outra em comum: a nossa pecaminosidade – ou somos levados ao orgulho e ao nos
avaliar, podemos só ver os pontos fortes e sair ainda mais ganjentos; ou então, temos
uma baixa auto estima e quando nos avaliamos só olhamos os pontos negativos e
corremos​ ​o​ ​risco​ ​de​ ​abandonar​ ​nossa​ ​missão.
Bem, com ou sem o perigo de nos orgulharmos ou de nos menosprezarmos, é
preciso que de alguma forma possamos parar para analisar a forma como estamos
trabalhando com a ministração da Palavra de Deus. Se for possível, peça um retorno
para alguém maduro e de confiança. Cuidado, não podemos perguntar para qualquer
pessoa. Uma das maneiras mais eficazes que achei foi a de assistirmos nossa pregação
gravada.​ ​Um​ ​pastor​ ​aposentado​ ​me​ ​deu​ ​esta​ ​dica​ ​e​ ​uso​ ​algumas​ ​vezes.

9​ ​Cuidados​ ​Necessários​ ​com​ ​as​ ​Ocasiões​ ​Especiais


Embora não tenhamos a pretensão de gastar tanta energia neste tópico,
pensamos em escrever algumas diretrizes gerais que possam te ajudar em algumas
situações onde se requer um cuidado extra com relação à explanação de nosso
sermão. Chamamos de sermões especiais por necessitarem de alguns cuidados
específicos. Quanto à estrutura de seus esboços, tudo o que aprendemos até aqui
continua sendo válido e relevante. Porém, em sua grande maioria, o tempo deve ser
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bem mais curto, por volta dos dez minutos. Além disso, observe alguns detalhes para
cada​ ​situação​ ​diferente:
a) Aniversário infantil – ​É momento de celebrar a Deus sim, pela vida, mas na
grande maioria das vezes é algo bem informal e em local desapropriado para um culto.
Assim, além do cuidado com o tempo, pois muitos estarão em pé e amontoados, a
atenção maior é com as brincadeiras. Outra dica importante: há aniversários infantis
feitos para a família e a grande maioria dos envolvidos serão adultos e há ocasiões que
o enfoque são os convidados mirins. Procure saber quem é seu público alvo, para
melhor​ ​atingi-lo.
b) Casamento – ​Embora seja um evento mais formal e com uma conotação bem
mais religiosa do que um aniversário, há situações de atrasos e má organização que
acabam deixando todos numa pilha de nervos. Por isto, além de ser breve e objetivo
em seu sermão, o pregador deve lembrar que ele não deve ser o atrativo principal. É
possível​ ​ser​ ​direto,​ ​claro​ ​e​ ​de​ ​profundidade,​ ​mesmo​ ​com​ ​pouco​ ​tempo​ ​de​ ​ministração.
c) Fúnebre – ​Os sermões fúnebres para alguns são os mais difíceis de se pregar.
Ele, por si só, tem a peculiaridade de ter um objetivo triplo: consolar os enlutados,
descrever nossa finitude e enfatizar o futuro certo para aqueles que creem em Cristo.
Muito cuidado para não manter a atenção voltada sempre ao falecido. Se for
incrédulo, não gaste energia dizendo se ele foi para o inferno ou para o céu. Evite
questões do tipo. Foque no consolo necessário dos presentes e da graça de deus que
pode nos ajudar nesta hora. Se for cristão, cuidado com as bajulações, pois por mais
conhecido que sejamos do falecido, só a família sabe como ele era de fato. Mantenha
o​ ​foco​ ​na​ ​esperança​ ​em​ ​Cristo.
d) Culto ao ar livre – ​Geralmente é feito em praças ou lugares movimentados, a
fim de levar a mensagem às pessoas que normalmente não entrariam em uma igreja.
Por isto, devemos ter cuidado redobrado com o evangeliquês. Ou seja, às vezes
estamos tão acostumados com certas expressões que não fazem o menor sentido para
o transeunte que estará ao nosso alcance. Seja claro, evite questões doutrinárias ou
polêmicas. Seu principal objetivo é apresentar o evangelho de Cristo. Evite divagações
e procure ter frases curtas, porque pode ser que haja alguém que esteja apenas de

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Não se deixe enganar quanto ao tempo, achando que por ser um sermão mais curto, será
mais fácil. Na verdade, o que tenho percebido é que quanto menor o tempo de ministração
mais​ ​pensadas​ ​deverão​ ​ser​ ​as​ ​palavras,​ ​o​ ​que​ ​exige​ ​maior​ ​preocupação.
passagem, mas enquanto estava passando, conseguiu levar uma verdade dita em
poucas​ ​palavras.
e) Culto Radiofônico – ​Ainda tem muita gente que ouve rádio e por isto
continua sendo um ministério relevante. À semelhança do feito ao ar livre, também
devemos ter cuidado com relação ao evangeliquês, evitando doutrinas, polêmicas e
comparações. Os pensamentos também precisam ser curtos e diretos e acima de tudo
deve-se respeitar o tempo. Se você não se cuidar o técnico ou o narrador que te
convidou irá dar uma palavra de agradecimento ou chamar uma música, mesmo se
não tiver terminado o assunto. Não é como na igreja, que você fala o tempo que quiser
e​ ​ninguém​ ​nunca​ ​lhe​ ​chamará​ ​a​ ​atenção.

10​ ​Resumo
Aprendemos nesta unidade que o mesmo esmero e cuidado que preciso ter no
entendimento da mensagem, também devo ter para com a escolha e uso das
ilustrações e aplicações. Enquanto a primeira me ajuda a entender melhor a
mensagem ensinada, a outra me ajuda a perceber formas de eu colocar em prática nos
dias​ ​de​ ​hoje.
De igual modo, devemos dar atenção especial quanto ao preparo e transmissão
de nossa introdução e conclusão. Assim como não devemos começar de qualquer jeito,
também não podemos concluir sem nexo, sem rumo, de forma desordenada ou
simplesmente de qualquer jeito. Tanto a introdução, quanto a conclusão, podem
ajudar numa melhor retenção da mensagem transmitida, como também poderão
servir​ ​de​ ​empecilho​ ​na​ ​fixação​ ​e​ ​na​ ​apropriação​ ​do​ ​ensino​ ​a​ ​ser​ ​ministrado.
É claro que nunca conseguiremos criar uma aplicação para cada ouvinte ou
situação da vida. Mas quando damos alguns exemplos estimulamos as pessoas que,
movidas pelo Espírito Santo, farão as devidas aplicações da mensagem para sua
própria vida. De igual modo, o apelo deve ser bem pensado, com antecedência, e
trabalhado em total sintonia com o assunto pregado. Não pode ser um momento de
mera​ ​extorsão​ ​ou​ ​como​ ​ferramenta​ ​de​ ​afago​ ​à​ ​auto​ ​estima.
De igual modo, precisamos cuidar com a administração do tempo que temos,
pensando​ ​sempre​ ​sobre​ ​a​ ​ocasião,​ ​o​ ​horário​ ​ou​ ​a​ ​logística,​ ​ ​de​ ​onde​ ​ministramos.
Outro grande vilão para o pregador é ele mesmo. Ou seja, seus trejeitos,
linguajar,​ ​gestos,​ ​vestimenta,​ ​etc.​ ​podem​ ​atrapalhá-lo​ ​na​ ​ministração​ ​da​ ​Palavra.

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