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Minha magnífica esposa, melhor amiga e

meu amor precioso, Lisa Bevere.

“A mulher que teme o Senhor será elogiada.”


Provérbios 31:30

Escrevi este livro no nosso quadragésimo ano de casamento. Cada


ano com você apenas fica melhor, e se tivesse a chance, eu me
casaria novamente com você em um piscar de olhos.
Não existem palavras para expressar o prazer e a alegria que você
traz ao meu coração.
Eu não seria o homem que sou hoje se não fosse pelo seu amor e
apoio.
Você é sábia, divertida, agradável, forte, aventureira e linda.
Eu a amo para sempre.
SUMÁRIO

Como Ler este Livro


Introdução
SEMANA 1: UM DEUS TREMENDO
1. O Tesouro de Deus
2. Medos Contrastantes
3. O Que é o Santo Temor?
4. A Presença Palpável de Deus
5. Uma Noite Inesquecível
6. Contemplando-O
7. A Glória de Deus

SEMANA 2: REVELADOS COMO SOMOS


8. Seu Valor
9. Colisão Fatal
10.Deus Não Está Vendo
11.Temor e Tremor
12.Hipocrisia Contagiosa
13.Três Imagens
14.Decisões Eternas

SEMANA 3: SANTIDADE IRRESISTÍVEL


15. O Temor do Homem
16. O Engano de Pensar que Temos Direito a Errar ,
17. Afaste-se do Mal
18. Longevidade
19. Purifiquemo-nos
20. Nossa Busca
21. Desejo e Poder

SEMANA 4: NOSSA RESPOSTA À PALAVRA DE DEUS


22. Tremendo Diante da Palavra de Deus
23. Imediatamente
24. Isso Não Faz Sentido
25. Nenhum Benefício Óbvio
26. Uma Dor Boa
27. Está Consumado
28. Como Cauterizar uma Consciência

SEMANA 5: INTIMIDADE COM DEUS


29. Onde a Intimidade Começa
30. Um Jesus Diferente
31. Não Conheço Vocês
32. O Segredo do Senhor
33. A Informação em Primeira Mão
34. Face a Face
35. Vocês São Meus Amigos

SEMANA 6: OS BENEFÍCIOS DO TESOURO


36 Estabelecendo Suas Promessas
37 O Temor que Elimina o Medo
38 Legado
39 A Coisa Mais Importante
40 Uma Vida Bem-sucedida
41 Terminando Bem
42 Encontrando o Tesouro
Apêndice A: Link para Vídeos e Outros Conteúdos Gratuitos
Apêndice B: Um Vislumbre da Grandeza de Deus
Notas
Sobre o Autor
COMO LER ESTE LIVRO

Querido Leitor,
Esta não é apenas qualquer mensagem; é uma mensagem de
vida que, se você a considerar e praticar, o transformará para
sempre. Confio nisso porque estas verdades transformaram a minha
vida e inúmeras outras. Sempre que me pedem conselhos — sejam
sobre casamento, família ou ministério — recorro imediatamente
aos princípios contidos neste livro.
Devido à sua importância, muito tempo e muitas orações foram
dedicados a como apresentá-lo. Considerando o ritmo da nossa vida
hoje — as demandas das nossas agendas e a intensidade com o
qual nos movemos — senti a necessidade de adaptar e apresentar
as verdades em pequenas porções, a fim de que você possa refletir
profundamente sobre cada uma.
À primeira vista, você pode pensar que este livro é um
devocional, mas eu lhe garanto que não é. Deixe-me explicar. Um
devocional geralmente tem diferentes tópicos para cada dia que não
compõem necessariamente uma mensagem concisa e sistemática.
Embora este livro possa parecer um devocional, cada dia
acrescenta um tijolo sobre o alicerce do capítulo do dia anterior,
para formar o que costumamos encontrar em um livro de não ficção.
A vantagem dessa estrutura é que você pode decidir como lê-lo. Ele
com certeza pode ser lido em um dia ou dois, se essa for a sua
preferência; entretanto, recomendo que você o leia em um período
de seis semanas (um capítulo por dia) ou em um período de três
semanas (um capítulo pela manhã e outro à noite).
Na conclusão de cada capítulo, você encontrará cinco
ferramentas para ajudar a aprofundar o conteúdo e tirar o máximo
de proveito dele — chamaremos essa seção de “Personalizando”.
Ela contém 5 Ps:

1. Passagem: Incluí uma passagem da Bíblia que é crucial para a


mensagem de cada dia e que será encontrada no corpo do texto, ou
uma passagem que não foi mencionada no corpo principal daquele
capítulo, mas fortalece o que foi apresentado. Minha recomendação é
de que você memorize essas passagens bíblicas.
2. Ponto: É a ideia principal do capítulo resumida para reafirmar sua
importância. Vê-la novamente fortalecerá sua eficácia e lhe dará uma
referência rápida para quando você voltar e rever o capítulo.
3. Pondere: Esta etapa é essencial. O salmista diz: “Meditarei nos Teus
preceitos e darei atenção às Tuas veredas” (Sl 119:15). Devemos
meditar considerando em nossa mente como a Palavra de Deus se
aplica a nós em nosso atual estado. Ao fazer isso, temos a garantia de
que nossos caminhos serão prósperos e alcançaremos êxito (ver Josué
1:8, Salmos 1 e 1 Timóteo 4:15).
4. Pare para orar: Há também uma oração que reflete o ensinamento do
capítulo. É muito importante que Deus ouça nossa voz e receba nossa
permissão para nos transformar de acordo com a Sua Palavra.
5. Professe: Aprendemos que a morte e a vida estão no poder do que
dizemos ou professamos (ver Provérbios 18:21). Ao dizermos o que
Deus declara sobre nós, nosso espírito, alma e corpo entram em
alinhamento com a Sua vontade para nós, que é a maneira
comprovada de experimentarmos a vida ao máximo.

Mais uma vez, eu o encorajo a reservar um tempo, sem pressa,


para ler este livro, a fim de que as verdades da Palavra de Deus
penetrem no seu coração e na sua mente. Passar as próximas
semanas contemplando essas verdades diariamente fará com que
elas atinjam seu coração e criem raízes na sua vida. O conteúdo
resumido aqui é mais do que meras informações — é o caminho
para aproximar-se mais do nosso Deus. Também recomendo que
você leia os capítulos e percorra cada um dos ٥ pontos do
“Personalizando” com um diário ao seu lado. Anote seus
pensamentos e orações no diário a cada dia para que, ao voltar a
ele mais tarde, você possa consultar o que o Espírito Santo revelou
à sua mente.
Mais algumas recomendações: com seu smartphone ou relógio,
calcule quanto tempo você leva para ler um capítulo, para percorrer
os pontos do “Personalizando”, e para fazer anotações no diário.
Não tenha pressa; não se trata de uma corrida. A razão para medir
o tempo é para que, depois de vários capítulos, você consiga
planejar com sabedoria o tempo necessário para os futuros
capítulos com base no tempo médio que utilizou antes.
Em segundo lugar, tente desenvolver um hábito e não permita
que nada interfira no seu tempo reservado a cada dia. Minha oração
e minha esperança são que o que Deus realizou em mim ao longo
dos últimos quarenta anos Ele realize em sua vida à medida que
você lê e vivencia a experiência deste livro.
Em terceiro lugar, lembre-se de que uma mensagem sempre gera
maior benefício quando a ensinamos ou estudamos com um grupo
de amigos. Escolha alguns amigos próximos e façam isso juntos.
Depois que você concluir o capítulo sozinho, apenas você e o
Espírito Santo, reúna-se com seus amigos e compartilhem o que Ele
lhes mostrou. Façam isso regularmente.
Caso você se interesse em acompanhar este livro em um formato
destinado ao estudo em grupo, também desenvolvemos o curso
bíblico O Esplendor de Deus, com currículo em vídeo e guia de
estudos que você e seus amigos podem examinar juntos
semanalmente.1 Ele oferece ainda mais ferramentas para o estudo
da Palavra de Deus. A Bíblia diz: “Depois aqueles que temiam ao
Senhor conversaram uns com os outros, e o Senhor os ouviu com
atenção. Foi escrito um livro como memorial na sua presença
acerca dos que temiam ao Senhor e honravam o Seu nome” (Ml
3:16).
Finalmente, temos 42 vídeos curtos que enfatizam as verdades
essenciais de cada capítulo. Para acessá-los, escaneie o QR code
do Apêndice A. Você também encontrará informações sobre o
currículo em vídeo para o estudo em pequenos grupos e outros
conteúdos bônus.
Oro para que você passe a ter mais intimidade com Deus à
medida que avançar neste estudo. É importante ler a introdução em
vez de pular direto para o Capítulo 1, pois ela abre o nosso coração
para as verdades que abordaremos aqui. E quando você terminar o
livro, eu adoraria ouvi-lo, sobre como a sua fé e a sua vida foram
impactadas através do santo temor de Deus.
Com amor,
John Bevere

P.S: Apenas um lembrete para que você não pule a introdução. Oro
para que ela acenda um fogo em você capaz de levá-lo a cultivar
um temor sagrado e o faça mergulhar de cabeça nesta mensagem.
INTRODUÇÃO

Medo. Durante anos as pessoas se esforçaram para erradicá-lo.


Muitos pesquisaram sobre ele, lutaram contra ele e fizeram
campanhas para remover sua influência das nossas vidas. Até a
famosa citação do presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt
chama a atenção para ele: “A única coisa que temos de temer é o
próprio medo”. Vozes de todos os lados gritam que precisamos
encontrar formas de vencer o medo, e podemos encontrar centenas,
senão milhares, de livros de autoajuda destinados a fazer
exatamente isso. Desde fins dos anos 1980 pessoas em todos os
lugares têm usado roupas com as palavras “No Fear” (Sem Medo)
impressas nelas em destaque. Parecemos inflexíveis em nossa
busca por eliminar todo o medo de nossa vida.
Essa verdadeira cruzada contra o temor parece sensata, nobre e
prudente; e embora o medo pareça ruim em muitos contextos, a
verdade é que nem todo medo é ruim. Então por que essa
obsessão? Creio que ela vem de colocarmos todos os medos em
uma grande categoria sob o rótulo de “nocivo”. Mas esse conceito é
verdadeiro?
Em primeiro lugar, é importante reconhecer que existem
realmente medos destrutivos, mesmo quando eles parecem lógicos.
Se temermos perder todo nosso dinheiro e bens, por exemplo,
provavelmente ficaremos obcecados com isso e nos tornaremos
mesquinhos e acumuladores, adorando o nosso dinheiro e os
nossos bens acima de qualquer outra coisa. Se temermos perder
nosso cônjuge, nos agarraremos a essa pessoa com força
excessiva ou sentiremos desconfiança a cada ato dela. De uma
forma ou outra, isso leva ao ressentimento e, com o tempo,
prejudica o relacionamento. Se tivermos um medo profundo de
estarmos ficando para trás enquanto os outros estão vivendo uma
vida melhor que a nossa, isso pode fazer com que corramos atrás
de novas experiências cada vez mais empolgantes, mas tudo isso
em detrimento de termos uma comunhão saudável, uma conexão
verdadeira e a paz maravilhosa que acompanha o compromisso. Se
temermos pela segurança dos nossos filhos, provavelmente
atrapalharemos o crescimento deles — tentando protegê-los de tudo
e mimando-os com nossas atitudes. A lista parece interminável.
Por outro lado, os medos construtivos promovem uma sabedoria
que nos beneficia. O medo de cair de um penhasco de seiscentos
metros nos dá a sabedoria de não nos aproximarmos demais da
beirada, onde poderíamos escorregar. O medo da força de um urso
cinzento provoca o bom senso de não ameaçarmos os filhotes da
mamãe urso. O medo de uma queimadura de terceiro grau nos dá a
sabedoria de colocarmos luvas protetoras nas mãos quando
retiramos um refratário do forno quente.
E, no entanto, o medo construtivo, embora benéfico, também
pode ser distorcido e acabar encurtando nossa vida. Se não for
controlado, o medo de cair pode nos impedir de embarcar em um
avião, nos mantendo presos à terra. O terror descontrolado daquele
urso cinzento pode nos privar de uma caminhada agradável pela
floresta, e o medo de nos queimarmos poderia nos impedir de ligar o
forno e desfrutar uma refeição caseira.
A verdadeira pergunta que deveríamos fazer é Do que mais
temos medo? Esta é uma pergunta muito melhor do que focar em
como aniquilar os medos destrutivos ou administrar os construtivos.
É uma pergunta sábia e, se for adequadamente respondida, ela nos
dá uma perspectiva correta sobre todos os outros medos e eleva a
qualidade da nossa vida — tanto agora quanto eternamente. Ela
ilumina o caminho para uma vida boa e realizada. A Bíblia tem muito
a dizer sobre o medo, e o ponto fundamental é este: o temor do
Senhor é o princípio da sabedoria (Pv 1:7), e não apenas de
qualquer sabedoria, mas da sabedoria de Deus. Não é, portanto, um
lugar ruim para se começar.
Portanto, pense sobre isto: e se o medo — corretamente
direcionado — for uma virtude? E se o temor de Deus for o caminho
paradoxal para um relacionamento autêntico com Ele? E se esse
santo temor for o que verdadeiramente nos abre para a plenitude da
vida que os seguidores de Jesus experimentaram ao longo dos
séculos? E se esse temor erradica todos os outros temores — o
medo de começar o seu próprio negócio, o medo do que o seu
governo fará, o medo do que acontecerá com os seus filhos, o medo
que um hipocondríaco sente, o medo que causa a doença mental ou
a depressão (uma lista que poderia continuar interminavelmente)?
Ao iniciarmos a nossa jornada, permita-me enumerar quatro
verdades:
1. Somos humanos, e vamos ter medo.
2. Nosso assombro e temor diante do esplendor de Deus são
muito mais profundos, mais belos e mais íntimos que muitos
ousam imaginar.
3. O temor de Deus consome todos os medos destrutivos.
4. O temor de Deus é o princípio de tudo o que é bom.
Algumas pessoas nos lembram corretamente o que a Bíblia nos
diz — que a expressão “não temas” aparece cerca de 365 vezes, e
isso leva muitos cristãos a concluírem que Deus não quer que
temamos. Mas esses versículos se referem ao medo destrutivo. Por
outro lado, posso citar quase 200 versículos na Bíblia que nos
encorajam a “temer a Deus”. E eis a parte desastrosa: em nossa
busca por tentarmos eliminar qualquer medo das nossas vidas
(inclusive a virtude de temer a Deus), essa área da nossa fé foi
deixada sem ser examinada, sem ser experimentada e sem nos
beneficiarmos dela.
O temor do Senhor é mais glorioso, mais cheio de alegria e
inspira mais assombro do que poderíamos imaginar. Ao
continuarmos, quero lhe mostrar como o medo direcionado
corretamente — a virtude de temer a Deus acima de tudo o mais —
abre caminho para uma vida além do que você jamais imaginou.
Somente então seremos capazes de enfrentar com coragem
qualquer coisa que a vida possa lançar contra nós. Nas palavras de
Charles Spurgeon, “O temor de Deus é a morte de todos os outros
medos; como um leão poderoso, ele persegue todos os outros
medos que estão diante dele”. 1
Minha esperança é que, ao ler este livro, você mergulhe de
cabeça na virtude do temor do Senhor e afaste-se rapidamente da
fachada religiosa do que o temor não é, descobrindo a bênção de
como ele é capaz de colocar nossos pés sobre um terreno firme.
Sim, não tema mal algum — mas descubra como a virtude
incompreendida do temor do Senhor fará com que a sua vida
floresça e se torne uma bela aventura.
Vamos começar explorando o quanto Deus é cheio de esplendor.
Vamos chamar isso de “O Esplendor de Deus”!
O temor do Senhor é o Seu tesouro,
uma joia selecionada,
entregue somente...
àqueles que são grandemente
amados.
— JOHN BUNYAN
Semana 1 — Dia 1

1 | O TESOURO
DE DEUS

E se lhe contassem sobre uma virtude oculta, que na essência é a


chave para tudo na vida? Ela destrava o propósito da sua existência
e atrai a presença, a proteção e a providência do seu Criador. Ela é
a raiz de todo caráter nobre, o fundamento de toda felicidade, e
oferece os ajustes necessários para todas as circunstâncias
desarmoniosas que você possa enfrentar. Abraçar firmemente essa
virtude poderia prolongar a sua vida, proporcionar boa saúde,
garantir sucesso e segurança, eliminar a falta e assegurar um
legado nobre.
Isso parece bom demais para ser verdade? Talvez você esteja se
perguntando: Este livro que estou segurando é um livro de ficção?
Eu lhe garanto que não — o que eu disse é real.
Ao ser apresentada a essa realidade, a maioria das pessoas
poderia zombar e retrucar: “Não existe uma virtude assim!”. Mas
cada uma dessas promessas foi escrita sem dúvida alguma por um
dos homens mais sábios que já viveu, e mais, ele escreveu essas
palavras sob a inspiração do nosso Criador — e as palavras Dele
são infalíveis!
Entretanto, antes de partir desta vida, Salomão perdeu a bênção
que ele mesmo descreveu porque seu coração abandonou a Fonte
da sua sabedoria e, consequentemente, ele se afastou do caminho
da bem-aventurança.
Permita-me fazer um breve relato da sua história. Quando
criança, Salomão foi treinado nessa virtude e abraçou-a. Ele passou
a ter um caráter nobre e desenvolveu uma percepção apurada.
Destacou-se rapidamente na liderança e com o tempo se tornou o
governante de milhões de pessoas. Depois do seu pedido a Deus,
recebeu uma sabedoria impressionante; na verdade, pouca coisa
era de difícil compreensão para Salomão. Ele escreveu milhares de
ditados sábios e compôs centenas de cânticos: “Descreveu as
plantas, desde o cedro do Líbano até o hissopo que brota nos
muros. Também discorreu sobre os quadrúpedes, as aves, os
animais que se movem rente ao chão e os peixes” (1 Rs 4:33).
Esse homem sábio atingiu um nível de sucesso, fortuna e fama
sem igual antes dele e que desde então ainda não foi visto. Reis,
rainhas, embaixadores e líderes de alto nível viajavam grandes
distâncias para estarem na sua presença, ouvir suas percepções,
testemunhar da excelência e da unidade da sua equipe, e
acabavam sendo impactados pela inovação que produzia a grande
força e riqueza da sua nação. Ele era tão impressionante que uma
rainha não acreditou nos relatos que ouviu antes de sua visita.
Entretanto, depois de passar algum tempo com ele, ela exclamou:
“Mas eu não acreditava no que diziam, até ver com os meus
próprios olhos. Na realidade, não me contaram nem a metade; tu
ultrapassas em muito o que ouvi, tanto em sabedoria como em
riqueza. Como devem ser felizes os homens da tua corte, que
continuamente estão diante de ti e ouvem a tua sabedoria!” (1 Rs
10:7-8).
Com base no que lemos, concluímos que as pessoas a quem ele
governava eram felizes e tinham sucesso nos seus
empreendimentos. A pobreza não existia; cada família no seu reino
tinha sua própria casa e jardim. A história relata que as pessoas
“comiam, bebiam e eram felizes” (1 Rs 4:20). Elas viviam em paz e
segurança.
À medida que o tempo passou, porém, esse líder notável acabou
se afastando do que alimentava as suas realizações. Ele se tornou
sábio aos seus próprios olhos, e já não considerava mais necessário
dar ouvidos à sabedoria dessa virtude. Ele perdeu-se no caminho e
no fim tornou-se um cético amargo. Salomão não foi o único a sofrer
pelo seu erro de julgamento — o mesmo aconteceu com aqueles a
quem liderava.
Para ele, a vida se tornou sem sentido. Ele escreveu afirmações
depreciativas como “Tudo é monótono, totalmente monótono —
ninguém pode encontrar sentido algum nisso”,1 e “A história apenas
se repete uma vez que não há nada de novo debaixo do sol”.2 E o
que é ainda mais dramático, ele disse: “O dia em que você morre é
melhor que o dia em que você nasce”,3 e “O que é errado não pode
ser consertado. O que é perdido não pode ser recuperado”. 4 Na
verdade, ele escreveu um livro inteiro retratando a existência sem
sentido da vida; para ele, tudo era vaidade. Esse homem, em um
tempo relativamente curto, mergulhou vertiginosamente das alturas
mais elevadas do sucesso para os recessos mais profundos de um
pessimismo evidente. Muitos psicólogos hoje o diagnosticariam
como alguém que sofre de um caso grave de transtorno maníaco-
depressivo. Como um homem poderia ir de um extremo a outro
assim?
A boa notícia é esta: a história dele não termina nas profundezas
do desalento. Ele enfim retornou à virtude mais importante da vida.
Não sabemos quantos meses ou anos ele passou escrevendo seu
livro pessimista, mas o último capítulo nos dá um vislumbre da sua
recuperação. Ele começa escrevendo sete5 vezes a mesma ideia,
“Lembra-te do teu Criador”, embora com uma construção diferente a
cada vez. Suas últimas palavras são: De tudo o que se tem ouvido,
o fim é: Teme a Deus [reverencia-O e adora-O, sabendo quem ele é]
e guarda Seus mandamentos, porque este é o dever [o propósito
original e completo de Sua criação, o objeto da providência de Deus,
a raiz do caráter, o fundamento de toda a felicidade, a adaptação a
todas as circunstâncias e condições desarmoniosas debaixo do sol]
de todo homem.
— Eclesiastes 12:13 (NBA) Essa virtude preciosíssima não é outra senão o
temor de Deus. O escritor, o rei Salomão, declara que ela é o pré-requisito
para uma vida abundante e realizada. Lemos na Bíblia: “Quem é o homem
que teme o Senhor? Ele o instruirá no caminho que deve seguir” (Sl 25:12).
Este caminho é incomum porque, infelizmente, muitos acreditam, como o
rei Salomão acreditou nas suas horas de escuridão, que a sua própria
sabedoria é o que traz sucesso e felicidade. O santo temor nos mantém
conectados com a sabedoria do nosso Criador — o Único que sabe o que
nos acrescenta e o que nos arruína.

A importância do santo temor triunfa tão grandemente sobre


todas as outras virtudes que a Bíblia a identifica como o prazer de
Jesus (Is 11:3, NKJV), e o que é igualmente incrível, “O temor do
Senhor é o Seu tesouro” (Is 33:6, NKJV). Pare e reflita sobre isto por
um instante: é o prazer e o tesouro do Deus todo-poderoso.
Impressionante! Vamos mergulhar mais fundo nesta realidade
incrível em breve, mas primeiro vamos voltar ao rei Salomão.
Por que eu abriria esta mensagem com o seu sucesso, fracasso e
recuperação final? Nos meus primeiros anos de ministério, um líder
sábio fez uma declaração que chamou a minha atenção e
permaneceu comigo por décadas. Ele disse: “Adotei como princípio
geral a decisão de não promover a uma posição de autoridade
alguém cujo histórico seja perfeito”.
Quando perguntei por que, ele respondeu: “Aprendo mais sobre o
caráter de uma pessoa pela sua reação ao fracasso do que por
qualquer outra coisa. Ele assumiu a responsabilidade, se
arrependeu e cresceu com a experiência? Ou justificou seu
comportamento e delegou a culpa? Isso mostra se ele ou ela está
apto para receber responsabilidade”. O que aprendi foi: isso indica
se a sabedoria é o que a pessoa valoriza acima de tudo. Salomão
não entendia plenamente o valor do temor a Deus, embora ele o
ensinasse sob a inspiração do Espírito Santo! Portanto, foi possível
afastar-se dele. Antes da sua queda, o santo temor não era o seu
tesouro ou prazer; ele não era um fundamento imutável para os
seus motivos e ações. Ao tropeçar, experimentar a loucura, e
finalmente se recuperar, ele entendeu mais plenamente a magnitude
do poder do santo temor.
Inspirado por uma revelação semelhante, o apóstolo Paulo
escreveu: Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para
que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser
reprovado.
— 1 Coríntios 9:27
Paulo entendia a importância de valorizar a sabedoria que lhe
havia sido confiada pelo Espírito de Deus e de não cometer o
mesmo erro trágico do rei Salomão. As verdades ocultas da aliança
de Deus foram reveladas ao apóstolo, as quais libertariam
multidões, mas se ele não visse o santo temor como algo
inestimável e o abraçasse firmemente, também acabaria sendo um
cético incorrigível — inapto, reprovado e rejeitado como um
impostor.
Abraçar o temor a Deus como o nosso tesouro mais precioso nos
reveste de poder para permanecermos em submissão à verdade e,
fazendo isso, continuar no caminho correto, o que traz recompensas
incríveis.
Em um tempo em que a maioria das pessoas considera o medo
prejudicial ou nocivo, declarar que o temor do Senhor é uma virtude
benéfica e preciosa parece contraditório. Entretanto, com base na
autoridade da Bíblia, eu lhe garanto que quando o abraçamos,
somos revestidos de poder para permanecer no caminho da vida.
Experimentamos a verdadeira intimidade com Deus e os benefícios
que mudarão nossas vidas — um dos maiores é o de sermos
transformados segundo a imagem de Jesus Cristo. Portanto, vamos
iniciar nossa jornada de descobrimento do esplendor de Deus.

Personalizando

Passagem: “Ele será o firme fundamento nos tempos a que você pertence, uma grande
riqueza de salvação, sabedoria e conhecimento; o temor do Senhor é a chave desse
tesouro” (Is 33:6).

Ponto: O santo temor é o tesouro de Deus; ele deve ser o seu também.

Pondere: Como é, na prática, valorizar o santo temor? Como devo abordá-lo? Como
devo lidar com ele? Como não perdê-lo?

Pare para orar: Querido Pai celestial, eu Te peço que nesta jornada de descoberta do
temor do Senhor, eu passe a conhecê-lo, a viver nele e a ter prazer nele. Que ele possa
ser o meu tesouro, assim como é o Teu. Que ele me dê a sabedoria e o conhecimento
necessários para viver uma vida realizada e bem-sucedida, uma vida que seja agradável
aos Teus olhos. Que aqueles que amo também possam ser iluminados e que todos os
que interajam comigo reconheçam o seu valor. É o que eu Te peço em nome de Jesus
Cristo, meu Senhor e Salvador. Amém.

Professe: Decido valorizar o temor a Deus como o grande tesouro da vida, e ao fazer
isso serei fortalecido para permanecer no caminho de uma vida abençoada.
Tema a Deus, sim,
mas não tenha medo Dele.
— J. A. SPENDER
Semana 1 — Dia 2

2 | MEDOS
CONTRASTANTES

No verão de 1994, fui convidado para ministrar numa conferência


em uma igreja no sudeste dos Estados Unidos. Era uma grande
congregação que, dois anos antes, havia experimentado um
poderoso despertamento de quatro semanas liderado por um
evangelista mundialmente famoso. O avivamento enfatizou a
bondade, o amor e a alegria de Deus; ele afetou muitas vidas de
uma forma linda. Mas, infelizmente, a igreja permaneceu presa a
essa experiência do avivamento e não continuou a avançar mais no
conhecimento do coração de Deus. Basicamente, eles haviam
ficado estacionados e desequilibrados.
Na época, eu estava em uma jornada para descobrir o santo
temor. Eu percebia sua importância, mas ainda estava crescendo no
conhecimento acerca dele e, portanto, estava hesitante em
compartilhá-lo em público. Mesmo assim, senti fortemente a
necessidade de deixar de lado essa apreensão e ministrar sobre o
temor do Senhor naquela conferência, então fiz isso na primeira
sessão da noite.
Assumi o púlpito e comecei a falar à congregação a partir do meu
entendimento limitado. Não contribuiu em nada para a minha
confiança o fato de as pessoas olharem para mim com cara de
paisagem, sem qualquer reação. Parecia que as pessoas estavam
surdas para o que eu dizia. O que aconteceu depois provou que eu
estava correto, e logo saberia por quê.
Na noite seguinte, após a adoração, o pastor da igreja assumiu o
púlpito. Imaginei que ele faria uma apresentação de rotina, mas não
foi o que aconteceu. Durante quinze minutos, ele corrigiu o que eu
havia dito na noite anterior. E afirmou com confiança: “O temor do
Senhor só se aplica aos tempos do Antigo Testamento, mas como
cristãos nós não recebemos ‘espírito de temor’”, fazendo referência
a 2 Timóteo 1:7.
Fiquei sentado na fileira da frente totalmente chocado e senti que
estava no meio de um pesadelo. Quanto mais ele falava, mais
desconfortável eu me sentia. Ele continuou: “No Novo Testamento
nos é dito que ‘No amor não há medo, pelo contrário, o perfeito
amor expulsa o medo’ (1 Jo 4:18). Portanto, o que John ensinou na
noite passada está errado, e quero proteger vocês contra isso”. A
correção elaborada dele à minha mensagem continuou por vários
minutos ainda.
Para minha surpresa, ao terminar, ele me apresentou e pediu-me
que subisse à plataforma para ministrar. Ainda me lembro que,
enquanto subia, eu pensava comigo mesmo: Como posso ministrar
a essas pessoas depois do que ele acabou de fazer? Isso não pode
estar acontecendo. Mas estava acontecendo e eu tinha de me
recompor, quando tudo o que eu queria fazer era fugir. Foi difícil
manter os pensamentos coerentes e, mais ainda, falar uma
mensagem que trouxesse vida para as pessoas que estavam na
conferência.
Enquanto eu falava, minha mente ficava voltando à sua correção.
Eu não conseguia esquecer as palavras dele. A experiência parecia
tão surreal quanto terrível. Tive de focar meus pensamentos
diversas vezes enquanto falava para permanecer no rumo. Lutei
contra meus sentimentos, que me diziam: Esqueça isso. Pare de
falar e saia daqui. Eu estava arrasado. Depois de uma breve
mensagem, entreguei o culto a ele, voltei rapidamente para o hotel e
fui me deitar totalmente em choque, me sentindo um rejeitado.
Na manhã seguinte, encontrei o terreno de uma construção
próximo ao meu hotel; não havia trabalhadores no local. Orei
ardentemente, na expectativa de ser corrigido por Deus. Com
sinceridade, perguntei: “Senhor, eu feri a Tua igreja? Eu ensinei algo
que não é verdade? Estou colocando o Teu povo em cativeiro?”.
Continuei por algum tempo e, enquanto eu orava, o que eu
estava declarando começou a mudar. Parei de duvidar da minha
mensagem daquela noite e me vi pedindo apaixonadamente mais
entendimento sobre o santo temor. Era uma súplica que vinha do
mais profundo do meu coração, e fiquei surpreso com o que estava
acontecendo. Não senti a insatisfação de Deus, mas o Seu prazer
com o que eu havia feito. Ele começou a trazer à minha lembrança
inúmeros versículos do Novo Testamento com relação ao temor do
Senhor. Com o tempo fui deixando de me sentir confuso e passei a
clamar com uma voz alta e apaixonada: “Pai, quero conhecer o
temor do Senhor, quero andar nele!”.
Os escritores do Novo Testamento escreveram as palavras que o
pastor citou, mas eles também escreveram outras palavras: • O
apóstolo Paulo escreveu: “Ponham em ação a salvação de vocês
com temor e tremor” (Fp 2:12).
• Novamente ele instrui: “Amados, visto que temos essas
promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo e
o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus” (2 Co
7:1).
• O escritor de Hebreus escreveu: “Portanto, já que estamos
recebendo um Reino inabalável, sejamos agradecidos e, assim,
adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor”
(Hb 12:28).
• O apóstolo Pedro escreveu: “Uma vez que vocês chamam Pai
Àquele que julga imparcialmente as obras de cada um, portem-
se com temor durante a jornada terrena de vocês” (1 Pe 1:17).
• O apóstolo Judas declara: “Mostrem misericórdia com temor” (Jd
23).
• E Jesus nos incentiva: “E não temais os que matam o corpo e
não podem matar a alma; temei, antes, Aquele que pode fazer
perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10:28, ARC).
Eu poderia continuar e listar mais versículos, e com certeza o
farei à medida que avançarmos, mas espero que você esteja
entendendo o ponto: o santo temor é uma verdade do Novo
Testamento. Essas são apenas algumas das passagens que o
Senhor trouxe ao meu coração enquanto eu orava.
Entendi naquela manhã que o pastor havia confundido o “espírito
de medo” com o “temor do Senhor”. Há uma enorme diferença, e ela
está ilustrada no episódio em que Moisés leva a nação de Israel ao
Monte Sinai para encontrar-se com Deus.
Quando toda a nação chega, Moisés sobe para um encontro
inicial em particular. O Todo-poderoso revela o propósito que estava
por trás da Sua poderosa libertação: Logo Moisés subiu o monte
para encontrar-se com Deus. E o Senhor o chamou do monte,
dizendo: “Diga o seguinte aos descendentes de Jacó e declare aos
israelitas: ‘Vocês viram o que fiz ao Egito e como os transportei
sobre asas de águias e os trouxe para junto de Mim’.”
— Êxodo 19:3-4

A principal razão da poderosa libertação de Deus era congregar


todo o povo para Si. Ele ansiava por eles e desejava um encontro
para que pudessem conhecê-Lo como Moisés O conhecia.
Entretanto, três dias depois, o povo respondeu recuando
rapidamente. Aterrorizados, clamaram a Moisés: “Fala tu mesmo
conosco, e ouviremos. Mas que Deus não fale conosco, para que
não morramos” (Êx 20:19). Na tentativa de consolá-los, seu líder
responde: “Não tenham medo! Deus veio prová-los, para que o
temor de Deus esteja em vocês e os livre de pecar” (Êx 20:20).
À primeira vista, parece que Moisés está se contradizendo: “Não
tenham medo” porque Deus veio “para que o temor de Deus esteja
em vocês”. Da mesma boca estão saindo duas coisas diferentes? A
resposta é não. Moisés está apenas estabelecendo a diferença
entre “ter medo de Deus” e ter “o temor do Senhor”. Mais uma vez,
há uma enorme diferença entre uma coisa e outra.
Alguém que tem medo de Deus tem algo a esconder. Lembre-se,
no jardim, quando Adão pecou, ele e Eva se esconderam da
presença do Senhor. A reação deles não foi única ou exclusiva;
reações comportamentais semelhantes podem ser vistas ao longo
da Bíblia por parte dos que se aventuram nas trevas.
Entretanto, a pessoa que teme a Deus não tem nada a esconder.
Ela fica aterrorizada em pensar estar longe de Deus. Isso é ilustrado
pelo fato de que enquanto as pessoas recuaram, Moisés
simultaneamente se aproximou mais do Senhor. A pessoa que teme
a Deus não diz dentro de si: “Até onde posso me aproximar da linha
do pecado e não cair nele?”. Não, ela diz: “Quero estar tão próximo
de Deus e tão longe dessa linha, que eu nem sequer possa vê-la”.
Portanto, antes de definir o que é o santo temor e de falar dos
seus benefícios, vamos primeiro esclarecer o que ele não é. Não é
ter medo de Deus e, assim, afastar-se Dele. Como podemos
desfrutar de intimidade com alguém de quem temos medo? Afastar-
se é o oposto do que Ele deseja. Em Salmos lemos: “A Teu respeito
diz o meu coração: ‘Busque a Minha face!’ A Tua face, Senhor,
buscarei” (Sl 27:8). Você consegue ouvir o chamado à intimidade?
Ele deseja que você se aproxime, interaja, riam juntos,
compartilhem coisas e vivam a vida juntos. O salmista também
escreveu: “O Senhor confia os Seus segredos aos que O temem, e
os leva a conhecer a Sua aliança” (25:14). A firme realidade é esta:
Deus quer estar próximo e ser íntimo de você. Portanto, tenha
certeza de que o santo temor não apaga a intimidade; ele faz
exatamente o contrário: intensifica a nossa interação com Deus.

Personalizando

Passagem: Moisés disse ao povo: “Não tenham medo! Deus veio prová-los, para que o
temor de Deus esteja em vocês e os livre de pecar” (Êx 20:20).
Ponto: O santo temor não é ter medo de Deus e, assim, afastar-se Dele. É ficar
aterrorizado com a ideia de estar longe Dele.

Pondere: Qual foi o principal propósito de Deus ao libertar Israel do Egito? Qual é o
principal propósito de Deus em me libertar da escravidão dos cativeiros do mundo?

Pare para orar: Querido Pai celestial, obrigado por me libertar do espírito de medo
através do meu Senhor Jesus Cristo. Eu Te peço que despertes em mim um santo temor
para que eu não peque contra Ti, pois isso me tiraria da intimidade que Tu desejas ter
comigo e que eu desejo ter Contigo. Eu Te peço isso em nome de Jesus, amém.

Professe: Deus me chamou para ser íntimo Dele; portanto, não tenho medo de Deus,
mas desejo temê-Lo para que eu não venha a pecar.
Temer a Deus é um dos primeiros e
maiores deveres das Suas
criaturas racionais.
— CHARLES INGLIS
Semana 1 — Dia 3

3 | O QUE É O
SANTO TEMOR?

É impossível definir o santo temor em uma única frase, parágrafo ou


capítulo. Não é diferente de tentar explicar toda a amplitude do amor
de Deus nesses mesmos espaços. Isso levaria capítulos e, mesmo
assim, estaríamos longe de ser hábeis no nosso entendimento. Na
verdade, creio que continuaremos a descobrir as profundezas tanto
do santo amor quanto do santo temor por toda a eternidade.
Dito isso, deixe-me oferecer um esboço geral da definição de
santo temor. Pense na sua infância, quando você ganhou um livro
de colorir e lápis de cor. Você abriu o livro, escolheu uma página e
encontrou um contorno esperando para ser pintado. De forma
semelhante, este capítulo nos dará os contornos, mas será
necessário o restante do livro para preencher com as cores. Se você
lesse somente este capítulo, teria uma ideia ampla do santo temor,
mas perderia suas verdades transformadoras.
No capítulo anterior, estabelecemos que o temor do Senhor não
nos afasta da presença de Deus — muito pelo contrário. Um temor
bom e maravilhoso nos aproxima Dele, e estabelecer esse
fundamento sólido é vital antes de continuarmos.
Alguns dizem que o temor do Senhor significa apenas adorar a
Deus com reverência. Já ouvi essas palavras serem ditas por
ministros famosos no púlpito, em conversas e em meio a um almoço
com líderes. Embora essa definição seja um começo, ela está longe
do quadro completo. Isso poderia ser comparado a meramente
definir o amor de Deus como sendo “bondoso e paciente” (1 Co
13:4). Mas se pararmos por aqui, deixaremos a desejar e erraremos
o alvo completamente.
Quando Lisa e eu estávamos com nossos quarenta e poucos
anos, o genro de um líder muito respeitado visitou a nossa casa
para compartilhar uma oportunidade de investir na sua empresa.
Nós nos reunimos por algumas horas, e lembro-me claramente da
gentileza e paciência que ele demonstrou para conosco. Se você
observasse seu comportamento, você também afirmaria que ele é
um homem amoroso. Entretanto, depois de vários dias de oração,
Lisa e eu não nos sentimos direcionados a investir. Agora, anos
depois, fico feliz por não termos feito isso, porque ele passou muitos
anos na penitenciária por chefiar um enorme esquema de pirâmide
financeira.
O homem era paciente e gentil? Sem dúvida alguma. Ele andava
em amor? Absolutamente não. Por quê? Porque a Bíblia nos diz:
“Porque nisto consiste o amor a Deus: obedecer aos Seus
mandamentos” (1 Jo 5:3). Roubar é uma atitude egoísta e viola o
mandamento do amor de Deus (Ef 4:28). Um molestador de
crianças pode ser gentil, e até paciente, enquanto ao mesmo tempo
destrói a vida de uma criança. Ele ama aquela criança? É claro que
não!
Da mesma maneira, limitar o santo temor apenas a uma
adoração reverente pode fazer com que erremos o alvo e sejamos
enganados. Então vamos desenhar o contorno, e mais tarde — nos
capítulos subsequentes — acrescentaremos as cores com os
ensinamentos, exemplos da Palavra de Deus e histórias. Antes de
começarmos, quero adverti-lo de que ao definir o santo temor você
ouvirá palavras que podem ser assustadoras, mas eu lhe garanto
que se trata do contrário. Permaneça com a mensagem até o fim e
você descobrirá que o santo temor é um presente de amor e
proteção do nosso Criador, que se importa profundamente conosco
e anseia por nós.
Há muitas passagens no Novo Testamento com as quais
podemos começar, mas creio que esta dá o tom da nossa
abordagem: Por isso, recebendo nós um reino inabalável,
retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável,
com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo
consumidor!
— Hebreus 12:28-29 (ARA) Se você olhar atentamente, observará que
existem dois termos que são mencionados: reverência e santo temor. Isso
mostra imediatamente que o santo temor não pode ser limitado apenas à
reverência; do contrário, o escritor estaria apenas se repetindo ao
mencionar o segundo termo. Estas não são apenas palavras diferentes em
português, como também duas palavras diferentes no grego: aidós e
eulábeia.

Reverência é uma tradução excelente da primeira palavra grega.


O Complete Word Study Dictionary define reverência como
“profundo respeito em adoração e assombro”. 1 Amo estas quatro
palavras juntas; parar para refletir sobre cada uma leva a nossa
compreensão a outro nível!
O segundo termo, santo temor, carrega o significado de
assombro. Para a definição de assombro, consultei a edição original
de 1828 do dicionário Noah Webster’s. Eis o que encontrei: “temor,
pavor inspirado por algo grande e terrível; impactar com temor e
reverência. Influenciar por medo, terror ou respeito”.2 Não fique
alarmado com as palavras pavor e terror. Embora o dicionário grego
também use essas palavras, lembre-se de que o santo temor possui
um efeito que atrai, e não que repele. De modo que devemos
perguntar: existe um aspecto positivo e saudável nessas palavras?
Creio que a Palavra de Deus mostra que sim, e veremos isso ao
acrescentarmos mais entendimentos posteriormente.
Vamos começar listando as nossas definições. Temer a Deus é
reverenciar e estar totalmente maravilhado diante do Seu esplendor.
Temer a Deus é santificá-Lo. Santificar é definido como “respeitar
grandemente”.
Temer a Deus é estimar, respeitar, honrar, venerar e adorar a Ele
acima de tudo e de todos.
Quando tememos a Deus, tomamos para nós o Seu coração.
Amamos o que Ele ama e odiamos o que Ele odeia. (Observe que
não é “desgostar” do que Ele odeia; mas é “odiar” o que Ele odeia).
O que é importante para Ele se torna importante para nós. O que
não é tão importante para Ele passa a não ser tão importante para
nós.
Temer a Deus é odiar o pecado.
Temer a Deus é odiar a injustiça.
Temer a Deus é afastar-se do mal em todos os sentidos — em
pensamentos, palavras e atos. É abster-se de falar
enganosamente. É não dizer ou vestir uma aparência que não
condiz com o coração e os pensamentos Dele. É manter o
nosso comportamento exterior coerente com nossos
pensamentos, motivos e crenças interiores.
Temer a Deus é andar em autêntica humildade diante de Deus e
da humanidade.
Temer a Deus é dar a Ele o louvor, a adoração, as ações de
graças e a adoração que Ele merece.
Temer a Deus é dar a Ele tudo o que Lhe pertence.
Temer a Deus é tremer diante Dele maravilhado diante do Seu
esplendor. É dar plena atenção à Sua Palavra e à Sua
presença.
Temer a Deus é obedecer-Lhe. Não é apenas um desejo, mas
uma força interior determinada a fazer a Sua vontade, custe o
que custar. Nós obedecemos ansiosa, voluntaria e
imediatamente — ainda que não vejamos qualquer benefício ou
que não faça sentido — e fazemos essa vontade até o fim.
Temer a Deus é abster-se de qualquer forma de reclamação,
murmuração ou queixa.
Temer a Deus é respeitar, honrar e submeter-se à Sua autoridade
direta e delegada. Também é obedecer à autoridade delegada,
exceto se essa autoridade nos dizer para pecarmos.
O temor do Senhor molda as nossas intenções, pensamentos,
palavras e atos.
Agora vamos listar parcialmente os benefícios do santo temor. Eis
algumas das muitas promessas bíblicas feitas aos que andam nele.
O temor do Senhor é o ponto de partida para um relacionamento
íntimo com Deus. Nós nos tornamos Seus amigos, e os Seus
segredos tornam-se conhecidos a nós.
O temor do Senhor é como amadurecemos na nossa salvação e
somos conformados à imagem de Jesus.
O temor do Senhor é puro; ele produz verdadeira santidade em
nossa vida.
Permanecer no temor do Senhor é garantir um legado eterno.
O temor do Senhor produz confiança, coragem e segurança. Ele
absorve todos os outros medos, inclusive o temor do homem.
O temor do Senhor nos dá identidade, nos torna produtivos e nos
reveste de poder para multiplicarmos.
O temor do Senhor nos proporciona ajuda por meio de anjos,
desejos realizados, sucesso duradouro, nobreza, influência,
longevidade, dias produtivos, prazer na vida, felicidade, prazer
no trabalho, cura para o nosso corpo, e muito mais.
O temor do Senhor dura para sempre — ele nunca esmorece. O
temor do Senhor é um presente valioso do nosso Pai celestial.

Personalizando

Passagem: “Portanto, já que estamos recebendo um Reino inabalável, sejamos


agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor,
pois o nosso ‘Deus é fogo consumidor!’” (Hb 12:28-29).
Ponto: O temor do Senhor é amar o que Deus ama e odiar o que Deus odeia. O que é
importante para Ele se torna importante para nós. O que não é tão importante para Ele
passa a não ser tão importante para nós.

Pondere: Como é, na prática, eu estimar, respeitar, honrar, venerar e adorar a Deus


acima de tudo e de todos?

Pare para orar: Querido Pai celestial, ensiname a temer o Teu nome, a Tua Palavra, a
Tua presença e tudo o que Tu és. Que eu ame e tenha prazer no santo temor. Espírito
Santo, à medida que prossigo nesta jornada, ensine e transmita os caminhos de Deus a
mim; que o que eu ler não sejam apenas informações, mas que as palavras transformem
a minha vida na imagem do meu Senhor Jesus Cristo. Eu Te peço isto em nome de
Jesus, amém.

Professe: Que as minhas palavras e as meditações do meu coração sejam agradáveis


aos olhos de Deus.
Todo o Seu caráter
ordena a nossa reverência,
porque Ele é insuperavelmente
santo e o Seu nome é para nós
uma palavra de reverência e
admiração que nunca deve ser
mencionada de forma desrespeitosa,
nem jamais deve ser citada sem
uma reflexão intensa e sem um
coração prostrado diante Dele.
— C. H. SPURGEON
Semana 1 — Dia 4

4 | A PRESENÇA
PALPÁVEL DE DEUS

Como foi mencionado antes, o temor a Deus parece contraditório.


Ao ouvir a palavra temor, nossa mente associa isso a uma condição
desfavorável ou até nociva. Mas eu lhe garanto, o temor a Deus é
na verdade o maior poder capaz de prover confiança, consolo e
proteção disponível a qualquer ser no universo. Descobriremos essa
verdade à medida que prosseguirmos na jornada. Mas, primeiro, o
santo temor pode ser dividido em duas categorias principais: 1.
Tremer diante da presença de Deus, e 2. Tremer diante da Sua
Palavra.
Abordaremos ambas, mas vamos começar enfatizando a
primeira. O salmista declara: “Deus deve ser grandemente temido
na assembleia dos santos, e reverenciado por todos aqueles à Sua
volta” (Sl 89:7, NKJV). Observe que a palavra não diz apenas
“temido”, mas “grandemente temido”. Eis uma verdade inabalável:
você nunca encontrará a presença maravilhosa de Deus em uma
atmosfera onde Ele não seja reverenciado e grandemente temido
em Seu esplendor.
Isso se tornou realidade para mim em janeiro de 1997. Fui
convidado para falar em uma conferência nacional na capital do
Brasil. Eu estava exultante em viajar para essa grande nação pela
primeira vez.
Como o avião aterrissou em Brasília de manhã cedo, tive o dia
para orar, me preparar e descansar em meu quarto. Naquela noite,
quando dirigimos em direção à arena onde seria realizada a
conferência, não pude evitar observar inúmeros veículos
estacionados em fila nas ruas antes mesmo de chegarmos. Como
era de se esperar, o estacionamento estava lotado, indicando que a
conferência teria uma frequência muito boa.
Fui escoltado até a arena, e depois de me encontrar com alguns
líderes, subi diretamente para a plataforma. Eu estava extasiado
com a expectativa de adorar a Deus junto a milhares de crentes
famintos. No entanto, minha empolgação não durou muito, pois logo
percebi que a presença de Deus não estava na atmosfera. Fiquei
desnorteado; era uma conferência de crentes e o grupo que
ministrou a adoração estava entre os melhores do país, então por
que a ausência da Sua presença?
Antes de continuar, deixe-me esclarecer algumas coisas sobre a
presença de Deus. A Palavra de Deus identifica dois tipos. O
primeiro é a Sua onipresença. Davi testifica: “Para onde poderia eu
escapar do Teu Espírito? Para onde poderia fugir da Tua presença?
Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na
sepultura, também lá estás... verei que nem as trevas são escuras
para Ti” (Sl 139:7,8,12). Essa é a presença de Deus que promete
“Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hb 13:5).
O segundo é identificado pela afirmação de Jesus: “Eu também o
amarei e Me revelarei a ele” (Jo 14:21). A palavra revelar vem do
termo grego emphanízõ e significa “tornar aparente... permitir-se ser
intimamente conhecido e compreendido”. Isso ocorre quando Deus
se revela à nossa mente e sentidos. Jesus afirma: “Pois onde se
reunirem dois ou três em Meu nome, ali Eu estou no meio deles” (Mt
18:20). Ele obviamente não está se referindo à presença de Deus
em todos os lugares, pois por que Jesus precisaria fazer essa
afirmação? Na verdade, Ele fala da Sua presença manifesta. E essa
presença não estava na arena naquela noite. Totalmente ciente
disso, fechei os olhos e perguntei ao Espírito Santo: Onde está a
Tua presença?
Abri os olhos e, em instantes, percebi algo que eu havia deixado
passar, mas que agora estava óbvio. A maioria das pessoas não
estava envolvida na adoração. Alguns, com as mãos nos bolsos ou
de braços cruzados, olhavam ao redor indiferentes ou parecendo
entediados. As mulheres vasculhavam suas bolsas; muitas pessoas
andavam desordenadamente pelo auditório ou saíam para comprar
lanches nos estandes de vendas. Inúmeros auxiliares estavam rindo
e conversando. O comportamento deles não era diferente de uma
multidão que espera o início de um show. Pensei comigo mesmo:
Com certeza isso vai parar, e as pessoas vão se envolver com a
adoração. Mas isso não aconteceu.
Para minha surpresa, quando os cânticos de adoração
terminaram e um dos líderes do movimento subiu para ler a Palavra
de Deus, nada mudou, a não ser que agora, com a ausência da
música, eu podia ouvir o murmúrio baixo das pessoas conversando.
Comecei a ficar irado enquanto eu observava, incrédulo, o que
estava testemunhando.
Então ouvi o Espírito de Deus sussurrar ao meu coração: Quero
que você confronte isto diretamente.
Depois de ter sido apresentado, subi ao púlpito juntamente com
meu tradutor. Decidi não dizer nada, mas apenas olhar para as
pessoas. Concluí que a única maneira possível de chamar a
atenção de todos era cessando toda a atividade na plataforma.
Funcionou, pois aquele um minuto inteiro de silêncio chamou a
atenção de todos. O movimento das pessoas cessou, as cabeças se
viraram para a plataforma, e a atmosfera ficou em silêncio. A essa
altura, eu sabia que todos os olhares na arena estavam voltados
para mim.
Não abri a mensagem com “É ótimo estar no Brasil” ou “Obrigado
por me convidarem”. Nem me apresentei. Em vez disso, fiz esta
pergunta de forma grave: “Vocês gostariam se, enquanto estão
falando com alguém do outro lado da mesa, essa pessoa os
ignorasse, olhasse para o teto como se estivesse desinteressada ou
começasse a conversar com a pessoa ao lado?”.
Depois de um momento de silêncio, respondi à minha própria
pergunta: “Vocês não gostariam disso, não é?”.
Fui ainda mais fundo: “E se todas as vezes que vocês batessem
à porta do vizinho fossem cumprimentados com um olhar
desinteressado, juntamente com uma voz monótona, que dissesse
‘Ah, é você…’, vocês continuariam indo à casa dele?”.
Novamente, depois de uma pausa, respondi: “De jeito nenhum!”.
Então falei: “Vocês acham que o Rei do universo vai manifestar a
Sua presença ou falar em um lugar onde Ele não está sendo
honrado e reverenciado?”.
Dessa vez respondi à pergunta com firmeza: “Nunca!”.
Continuei: “Se o presidente da sua nação estivesse nesta
plataforma, ele teria sido alvo de toda a sua atenção e respeito. Ou
se um dos seus jogadores de futebol favoritos estivesse aqui, a
maioria de vocês estaria sentada na beirada da cadeira de tanta
empolgação, na expectativa de cada palavra. Mas enquanto a
Palavra de Deus estava sendo lida, apenas um instante atrás, vocês
não prestaram atenção nela; ela foi um ruído de fundo para vocês”.
Então falei às pessoas presentes durante os noventa minutos
seguintes sobre o temor do Senhor. Podia-se ouvir um alfinete cair.
Eles pareciam estar um pouco perplexos com o confronto; não
obstante, ouviam atentamente.
Quando terminei minha exposição, fiz o convite: “Se você é um
crente, mas lhe falta o santo temor, e você está disposto a se
arrepender, levante-se!”.
Sem hesitar, 75 por cento das pessoas se colocaram de pé. Dali
a alguns minutos, antes de orar com eles, a presença manifesta de
Deus encheu o lugar. As pessoas começaram a soluçar e a chorar
enquanto a presença maravilhosa de Deus tocava suas vidas. O
santo temor não os afastou de Deus; ele os aproximou.
O que aconteceu em seguida foi uma das experiências mais
incríveis que já tive em quarenta anos de ministério. Mas antes de
chegarmos nessa história, vamos encerrar com estas palavras:
Então eu o ouvi falando, e, ao ouvi-lo, caí prostrado, rosto em terra,
e perdi os sentidos. Em seguida, a mão de alguém tocou em mim e
me pôs sobre as minhas mãos e os meus joelhos vacilantes. E ele
disse: “Daniel, você é muito amado. Preste bem atenção ao que vou
lhe falar; levante-se, pois eu fui enviado a você”. Quando ele me
disse isso, pus-me de pé, tremendo.
— Daniel 10:9-11
Daniel era muito precioso para Deus, mas ele ficou abalado e
caiu ao chão. Até enquanto estava sendo ajudado a ficar de joelhos
e depois de pé, ele tremia o tempo todo. Se isso acontece na
presença de um mensageiro — um anjo — o que acontece quando
o próprio Deus chega?

Personalizando

Passagem: “Na assembleia dos santos Deus é temível, mais do que todos os que O
rodeiam” (Sl 89:7).

Ponto: Só encontraremos a presença manifesta de Deus em uma atmosfera onde Ele


recebe o máximo respeito.

Pondere: O que significa tremer diante da presença de Deus? Como isso é vivido na
prática quando estou só? Quando estou com amigos? Quando estou em lugares
públicos? Quando estou em um culto da igreja?

Pare para orar: Querido Pai celestial, peço o Teu perdão pelas vezes em que entrei em
uma atmosfera de adoração com uma atitude irreverente e casual. Eu me arrependo por
considerar a Tua presença coisa banal, por subestimá-la. Que o sangue de Jesus me
purifique. Eu me humilho diante de Ti e Te peço graça para mudar. Quero estar
consciente da Tua presença e respeitá-la onde quer que eu esteja ou
independentemente do que eu esteja fazendo. Quero viver em temor reverente diante do
Teu esplendor em todo o tempo. Eu Te peço isso em nome de Jesus, amém.

Professe: Sempre darei toda a atenção à Palavra de Deus e honrarei a Sua presença
em tudo o que digo e faço.
Antes de orar,
esforce-se por perceber Quem é
Aquele
em cuja Presença você está,
e com Quem você está prestes a
falar,
tendo em mente a Quem você está
se dirigindo.
— TERESA DE ÁVILA
Semana 1 — Dia 5

5 | UMA NOITE
INESQUECÍVEL

O evangelho de Marcos testifica do Senhor operando com os


discípulos, “confirmando-lhes a palavra com os sinais que a
acompanhavam” (Mc 16:20). Essa parceria teve início quando Jesus
subiu ao céu, e em nenhum lugar no Novo Testamento nos é dito
que ela cessaria antes da Sua volta.
Portanto, vamos voltar àquela noite no Brasil. Quando foi feito o
apelo para o povo se arrepender da sua irreverência, 75 por cento
das pessoas se colocaram de pé. Curvei a minha cabeça e orei em
voz alta: “Senhor Deus, confirma a Tua Palavra que foi proclamada
esta noite”.
Dentro de instantes, ouvi soluços entre o povo. Durante os
minutos que se seguiram, uma onda da presença de Deus encheu a
atmosfera, trazendo refrigério e purificando os corações dos que
estavam na audiência. Mesmo depois que essa presença cessou,
uma paz maravilhosa permaneceu no ambiente.
As pessoas não haviam pedido perdão verbalmente ou orado, no
entanto, foi por causa da mudança em seus corações que a
presença de Deus se manifestou. Refletindo sobre isso mais tarde,
percebi que o pai do filho pródigo não esperou que seu filho pedisse
perdão para correr até ele. Na verdade, foi apenas a mudança no
coração do filho, unida à ação correspondente de voltar para casa,
que atraiu o abraço e o beijo entusiasmado de seu pai. Parecia que
a mesma coisa estava acontecendo naquela arena.
Estávamos vivendo um momento especial; havia uma atitude de
silêncio reverente e de quebrantamento de coração. Pareceu-me
bem conduzir aquelas pessoas a uma oração de arrependimento, e
não foi necessário muito discernimento para reconhecer que as
palavras delas eram sinceras e profundas. Momentos depois de
orar, outra onda da presença manifesta de Deus inundou o lugar.
Mais uma vez, pude ouvir soluços e choro entre o povo, só que mais
intensos. Foi realmente lindo, então a presença se intensificou
novamente depois de alguns minutos.
Eu estava grato pelo refrigério que todos nós sentimos com
aquelas duas manifestações da presença pacífica e maravilhosa de
Deus. Todos nós permanecemos em expectativa enquanto uma
tranquilidade divina permeava a atmosfera. Naquela quietude, ouvi o
Espírito de Deus sussurrar ao meu coração: Vou me manifestar
mais uma vez.
Transmiti em voz alta o que eu tinha ouvido; entretanto, nenhum
de nós estava ciente do que aconteceria em seguida — uma
presença diferente estava prestes a nos encontrar. É difícil
compartilhar o que aconteceu, pois as palavras não podem fazer
justiça ao ocorrido. O que vou relatar agora parecerá absurdo, até
irreal, porém mais de vinte anos depois, inúmeras pessoas
confirmaram o que se passou ali.
Imagine estar em uma floresta quando surge um forte vendaval.
Você ouve o sopro alto do vento através das árvores acima de você.
Essa descrição é semelhante ao som do vento que soprou pela
arena. Não podíamos senti-lo, mas podíamos ouvi-lo. Quase que
simultaneamente, os que estavam na audiência irromperam em
orações e clamores ardentes. Suas vozes trovejaram, mas o som do
vento sufocava o ruído de suas vozes. Eu estava perplexo,
maravilhado e quase aterrorizado com a Sua presença. Eu não
conseguia me mover, não conseguia falar, e arrepios percorriam
todo o meu corpo. Havia uma autoridade na atmosfera — nada
parecido com o que eu vira até então. Pensei: Esta não é a
presença do Abba Pai; é o nosso santo, tremendo e poderoso Rei! 1
O rugido do vento durou por volta de noventa segundos. À
medida que ele cedia gradualmente, deixava no seu rastro pessoas
chorando, algumas desmaiadas, outras caídas sobre as costas do
assento à sua frente — mas todos nós estávamos tremendo diante
do Seu esplendor. Esse rastro solene continuou por cerca de dez
minutos. Eu não conseguia dizer nada; todos nós permanecemos
parados e em silêncio. Então entreguei a direção do culto para o
líder e fui escoltado silenciosamente até o carro.
A solista que cantou naquela noite entrou em nosso carro,
juntamente com seu marido, alguns minutos depois de mim.
Imediatamente, ela exclamou: — Vocês ouviram o vento?
Eu não queria reconhecer isso diretamente. Eu queria que outra
pessoa além de mim confirmasse o que realmente havia acontecido.
Então respondi: — Talvez tenha sido um avião voando baixo sobre o
prédio.
(Aquela arena tinha um vão entre a parede superior e o teto para
atuar como ventilação, de modo que podíamos ouvir os sons que
vinham de fora com muito maior facilidade do que em uma estrutura
fechada).
Ela sentou-se no banco da frente, virou-se com um olhar de quem
estava em choque e retrucou apaixonadamente: — Não, era o
Espírito de Deus!
Seu marido, que era um homem mais calado, interrompeu: —
Senhor, não era nenhum avião a jato.
— Como você sabe? — perguntei.
— Havia o pessoal da segurança e os policiais do lado de fora da
arena, e muitos deles não eram crentes. Quando ouviram o som do
vento, entraram correndo e perguntaram à nossa equipe o que era
aquele som de vento forte vindo de dentro do prédio. Além do mais,
eu estava na mesa de som principal [ele estava ali para garantir que
os níveis de som estivessem corretos no momento de sua esposa
cantar]. Nada daquilo passou pelo sistema de som; os medidores de
decibéis não registraram nada durante todo o tempo em que o vento
estava soprando — ele respondeu.
Com lágrimas descendo pelo rosto, sua esposa continuou: — Eu
vi ondas de fogo caindo no prédio e pude sentir anjos por toda a
parte!
Pedi para ser levado direto para o meu hotel. Ficamos em silêncio
durante o trajeto até lá. Mais tarde, naquela noite, sentei-me na
varanda do meu quarto por horas; tudo o que eu podia fazer era
adorar a Deus. Eu estava abalado com o que havia ocorrido naquela
noite.
Na manhã seguinte, quando entramos na arena, a atmosfera
estava completamente diferente. A presença manifesta de Deus que
havia nos impactado durante o culto da noite anterior ainda podia
ser percebida. O temor de Deus havia sido restaurado no coração
das pessoas, e elas estavam experimentando a Sua presença e as
Suas bênçãos de uma forma maravilhosa.
Como já disse, desde aquele episódio várias pessoas têm
confirmado o que aconteceu naquela noite e compartilharam o
impacto sobre suas vidas através de e-mails, cartas e também
pessoalmente. Em 2016, viajei ao Brasil para falar a doze mil líderes
em Goiânia. As primeiras palavras do pastor anfitrião para mim,
quando apertamos as mãos, foram: “Eu estava na reunião em
Brasília há vinte anos quando o vento soprou. Minha vida nunca
mais foi a mesma desde então”. Ele é o líder de uma rede de igrejas
que cresceu para mais de trezentas mil pessoas em apenas
dezesseis anos.
Quando minha esposa esteve no Brasil em 2019 para ministrar
em uma conferência, uma das líderes de outro movimento contou
que estava no culto onde o vento soprou em 1997. Ela também
relatou que sua vida havia sido transformada para sempre.
Estar na presença de Deus é crucial para a saúde espiritual de
todo crente. Costumava ser muito difícil para mim entrar na
presença de Deus durante os meus períodos de oração. Mas um dia
comecei a fazer uma coisa, praticamente por acaso. Decidi não
iniciar o meu tempo de oração cantando ou pronunciando qualquer
palavra. Eu apenas refletia sobre a santidade e a grandeza do
nosso Deus. Quase que imediatamente, eu me deparava com a Sua
presença. Decidi fazer o mesmo no dia seguinte e tive o mesmo
resultado. E no terceiro dia aconteceu novamente.
Eu estava perplexo. Perguntei: “Senhor, por que está sendo tão
fácil para mim nos últimos três dias entrar na Tua presença?”.
Ouvi o Espírito de Deus dizer: Como Jesus ensinou os Seus
discípulos a orar?
Comecei a citar a Oração do Pai Nosso: “Pai Nosso que estás no
céu, santificado seja o Teu nome...”. Gritei: “É isso! Jesus ensinou
Seus discípulos a entrarem na presença de Deus com santo temor e
reverência!”. Agora fazia todo o sentido para mim.
Davi confirma essa verdade, ao dizer: “Eu, porém, pelo Teu
grande amor, entrarei em Tua casa; com temor me inclinarei para o
Teu santo templo” (Sl 5:7). Deus é o nosso Pai, Jesus é o nosso
Senhor e Salvador, e o Espírito de Deus nos ama profundamente.
Mas lembre-se também que no Novo Testamento Deus é chamado
de “fogo consumidor” (Hb 12:29). Jesus fez com que João, o
apóstolo amado, o que era mais chegado a Ele, caísse sobre seu
rosto como um homem morto (Ap 1:17), e o Espírito Santo é Aquele
que manifesta o poder de Deus para chamar a atenção de uma
cidade inteira (At 2), abalar prédios (At 4) e fazer muitos atos
tremendos.
Eis a verdade essencial: onde o Senhor é reverenciado, a Sua
presença se manifesta.
Personalizando

Passagem: “E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês.
Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de
sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que
vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1 Co 2:3-5).

Ponto: O temor do Senhor transforma atmosferas. Ele cultiva um ambiente para o poder
do Espírito Santo transformar nossa vida e as vidas de outros.

Pondere: Eu tenho tido a expectativa e tenho acreditado que a presença e o poder de


Deus se manifestarão? Como a minha vida de oração se transformará se eu me
aproximar Dele com um santo temor? Como posso fazer essa mudança?

Pare para orar: Querido Pai celestial, se tenho restringido a manifestação da Tua
presença devido às experiências passadas ou se tenho sido influenciado pelas
limitações dos outros quanto ao que Tu podes fazer, perdoa-me. Entrarei na Tua
presença com um santo temor e não colocarei qualquer restrição sobre Ti. Por favor,
supere o que eu possa pedir, pensar ou esperar ao revelar o Teu poder. Faça isso para
glorificar o meu Senhor Jesus e ministrar às pessoas na minha esfera de influência. Isso
Te peço em nome de Jesus, amém.

Professe: Tudo é possível se eu apenas crer e me aproximar de Deus com santo temor.
Quando O virmos face a face
em toda a Sua magnífica santidade
e glória flamejante,
nos parecerá incrível algum dia
termos tido um pensamento casual
em relação a Ele.
— JOY DAWSON
Semana 1 — Dia 6

6 | CONTEMPLANDO-O

Nosso santo temor aumenta proporcionalmente à nossa


compreensão da grandeza de Deus. Mas eis a realidade: “Sua
grandeza não tem limites” (Sl 145:3) porque a Sua glória está além
da compreensão. A Sua glória é insondável, não tem limites, nem
limitações e é incomparável. Mesmo assim, deveríamos procurar
aumentar a nossa compreensão.
No ano da morte do rei de Judá, Uzias, aproximadamente em 742
a.C., o profeta Isaías foi transportado até o céu. Ele viu o Senhor
sentado sobre o Seu trono, grandemente exaltado em toda a Sua
glória. Sua magnificência enchia aquele enorme espaço, uma
estrutura que muito provavelmente poderia conter mais de um bilhão
de seres.
Isaías não apenas ficou extasiado e abalado com o Criador, como
ficou encantado com os poderosos anjos, chamados serafins, que
pairavam sobre o trono de Deus. Dos lábios desses seres que
inspiravam temor, Isaías ouviu: “Santo, santo, santo é o Senhor dos
Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória”.
— Isaías 6:3
Muitos de nós estão familiarizados com o clássico hino “Santo,
Santo, Santo”, que contém essas mesmas palavras e que foi escrito
nos anos 1800 por John Bacchus Dykes. Ele tem sido um dos
principais louvores na Igreja por mais de cem anos e
consequentemente foi marcado como uma melodia suave de
adoração. Entretanto, isso estava longe do que Isaías testemunhou.
Esses seres imensos não estão cantando um cântico adorável
para fazer com que Deus se sinta bem consigo mesmo; eles estão
reagindo ao que estão vendo! Aspectos inteiramente novos da Sua
insondável grandeza são revelados continuamente, e tudo o que
eles podem fazer é clamar em voz alta: “Santo, santo, santo...”.
Os serafins não repetem “santo” três vezes. Quando um escritor
hebreu, como Isaías, procurava enfatizar uma palavra, ela era
escrita duas vezes. Vemos isso na afirmação de Jesus: “Nem todo
aquele que Me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus,
mas apenas aquele que faz a vontade de Meu Pai que está nos
céus” (Mt 7:21). Se você fosse Mateus, sentado e ouvindo Jesus,
teria observado um aumento significativo da Sua voz quando Ele
disse a palavra Senhor. Para capturar a ênfase Dele, Mateus
escreveu-a duas vezes.
É muito raro um escritor hebreu elevar a palavra ao terceiro grau
de ênfase. Na verdade, isso só acontece duas vezes na Palavra de
Deus, dando à palavra ou à afirmação o grau mais elevado de
ênfase. Basicamente, essas vozes dos anjos trovejavam em tal grau
que abalavam os umbrais das portas daquele imenso lugar.
Quando nossa família se mudou para a Flórida, descobrimos que
não havia porão na casa porque o nível de água era elevado demais
ali. O construtor da nossa casa me informou: “Se um tornado
ameaçar a sua região, fiquem debaixo dos umbrais das portas de
um cômodo no interior da residência porque essa é a parte mais
estável da estrutura”. É desconcertante pensar que Isaías tenha
identificado especificamente os umbrais das portas tremendo
naquela imensa arena celestial. Sendo assim, é provável que toda a
estrutura estivesse sendo abalada com os clamores poderosos
desses anjos!
Qual foi a reação de Isaías ao contemplar a glória do Senhor?
Não foi: “Uau, veja só isso!”.
Na verdade, ele declarou: “Está tudo acabado! Estou condenado,
pois sou um homem pecador. Tenho lábios impuros!” (Is 6:5). Vamos
considerar o fato de que Isaías é um homem piedoso — um profeta
— alguém que clama no capítulo anterior de seu livro: “Ai dos que
chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da
luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo. Ai dos que são
sábios aos seus próprios olhos e inteligentes em sua própria
opinião. Ai dos que são campeões em beber vinho e mestres em
misturar bebidas” (Is 5:20-22). Mas agora, um capítulo depois, ele
tem um vislumbre da grandeza de Deus, e o seu clamor não é mais
“ai dos pecadores”, mas sim “Ai de mim! Estou perdido!” (Is 6:5). Ele
pensou que O conhecesse, mas agora está muito mais consciente
de quem é o Deus Todo-poderoso. Ele também está bem consciente
de quem ele é diante desse Deus santo. O que resultou desse
encontro? O seu santo temor aumentou em muitos níveis!
Vemos reações semelhantes ao longo da Bíblia naqueles que
contemplam o Senhor na Sua glória. E quanto a Jó? O Todo-
poderoso diz sobre ele: “Reparou em meu servo Jó?” (Jó 1:8). Você
pode imaginar Deus dizendo isso sobre eu ou você? Estaríamos
saltando de alegria! Mas esse homem encontra a glória de Deus e
clama: “Meus ouvidos já tinham ouvido a Teu respeito, mas agora os
meus olhos Te viram. Por isso menosprezo a mim mesmo e me
arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5,6).
E quanto a Ezequiel? Ele viu o Senhor e escreveu: “Essa era a
aparência da figura da glória do Senhor. Quando a vi, prostrei-me
com o rosto em terra” (Ez 1:28).
E quanto a Abraão? Lemos que quando ele viu Deus, “Abrão
prostrou-se com o rosto em terra” (Gn 17:3).
Quando Deus se manifestou gloriosamente no Sinai, “O
espetáculo era tão terrível que até Moisés disse: ‘Estou apavorado e
trêmulo!’” (Hb 12:21).
O apóstolo João, aquele a quem Jesus amava, escreve sobre o
seu encontro com o nosso Jesus glorificado: “Quando O vi, caí aos
Seus pés como morto” (Ap ١:١٧).
E essa lista não termina aqui. Existem muitos outros incidentes
similares registrados na Bíblia.
Mais recentemente na história da Igreja, por volta de 1266 a
1273, Tomás de Aquino estava escrevendo a Summa Theologica,
que ele considerava a sua obra mais importante. Mas um dia ele
teve um encontro tão poderoso com Deus que isso mudou a sua
perspectiva para sempre — e ele parou totalmente de escrever. Seu
amigo Reginald incentivou-o a seguir em frente, mas Aquino
respondeu: “O meu trabalho chegou ao fim. Tudo o que escrevi
parece ser palha depois do que me foi revelado”.1
A certa altura da história de Israel, Deus procura aprimorar o
santo temor do Seu povo fazendo algumas perguntas pontuais.
Isaías, que contemplou a glória do Senhor, pergunta: “Quem definiu
limites para o Espírito do Senhor, ou O instruiu como seu
conselheiro? A quem o Senhor consultou que pudesse esclarecê-
Lo, e que Lhe ensinasse a julgar com justiça? Quem Lhe ensinou o
conhecimento ou Lhe aponta o caminho da sabedoria?... A quem
vocês compararão Deus? Como poderão representá-Lo?” (Is
40:13,14,18).
Então Deus pergunta diretamente: “Com quem vocês Me
compararão? Quem se assemelha a Mim?” (Is 40:25).
Se já houve um tempo na história no qual se deveria refletir
profundamente sobre essas perguntas e não apenas passar os
olhos por elas, esse tempo é agora. Neste dia e hora, muitos de nós
estamos tão preocupados com o ataque das informações que
enchem continuamente nossa mente que não temos espaço ou
tempo para meditar nessas perguntas cruciais. Nosso
desenvolvimento do santo temor foi impedido e, consequentemente,
muitos crentes estão vulneráveis e são facilmente arrastados para o
sistema do mundo de desejo e ganho, e para o orgulho das
realizações humanas.
De forma semelhante, somos continuamente bombardeados
pelos elogios aos atletas talentosos, aos belos astros de Hollywood,
aos músicos habilidosos, aos gurus dos negócios, aos líderes
carismáticos e a outros indivíduos importantes. A fama deles é
enaltecida na televisão, nas mídias sociais, na grande mídia e em
muitas outras plataformas públicas. A trágica realidade é que esses
fragmentos de informação inofensivos e essas realizações humanas
nos distraem ou até nos afastam do magnífico convite para nos
aproximarmos e O contemplarmos.1
Se apenas fizéssemos uma pausa, voltando-nos para dentro e
contemplando a Sua magnificência, seríamos enriquecidos,
fortalecidos e estaríamos em paz. Temos esta promessa: Pois Deus,
que disse: “Das trevas resplandeça a luz”, Ele mesmo brilhou em
nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus na face de Cristo.
— 2 Coríntios 4:6

Na quietude de nossa alma, em união com o Espírito Santo,


podemos contemplar Jesus enquanto meditamos na Sua Palavra.
Contemplar a Sua face ilumina a glória de Deus em nossos
corações e consequentemente faz com que o nível do nosso santo
temor aumente. Nós nos tornamos como Isaías e os outros grandes
listados aqui — que O encontraram, andaram com Ele, Lhe
agradaram, receberam promessas de aliança e terminaram bem. E
o melhor de tudo, ao contemplá-Lo nos é prometido que, “segundo a
Sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez
maior” (2 Co 3:18).
Você almeja ser moldado à imagem de quem — das celebridades
dos nossos dias ou Daquele que criou o universo? Escolha com
sabedoria e tome cuidado com o que você ouve e com o lugar onde
coloca a sua atenção.

Personalizando

Passagem: “Adorem ao Senhor no esplendor da Sua santidade; tremam diante Dele


todos os habitantes da terra” (Sl 96:9).

Ponto: Nosso temor a Deus aumenta proporcionalmente à compreensão de Sua


grandeza.
Pondere: O que aconteceria se eu tirasse três segmentos de dez minutos três vezes ao
dia, isolasse todas as influências externas e refletisse sobre a grandeza de Deus? Vale a
pena investir esse tempo? Eu poderia ser mais eficaz na minha vida diária aumentando
o meu santo temor, o que finalmente me tornará mais sábio?

Pare para orar: Querido Pai celestial, peço que Tu me concedas uma visão fresca de
Jesus. A Tua Palavra promete que ao contemplá-Lo em meu coração, serei
transformado à Sua imagem, de um nível de glória para outro. Que o meu santo temor
aumente à medida que a Sua glória se torna mais real. Peço isto em nome de Jesus,
amém.

Professe: Estou sendo transformado na imagem de Jesus de glória em glória.


Os homens reverenciam
uns aos outros, mas não a Deus.
— HENRY DAVID THOREAU
Semana 1 — Dia 7

7 | A GLÓRIA
DE DEUS

Você não pode ter uma conversa sobre o santo temor sem focar na
glória de Deus. Tocamos nesse ponto no capítulo anterior, mas
agora vamos levar o assunto mais adiante.
A carne mortal não pode ficar de pé na presença da glória de
Deus. O profeta Habacuque declara que “Seu esplendor era como a
luz do sol; raios lampejavam de Sua mão, onde se escondia o Seu
poder” (3:4). Paulo escreveu que Jesus habita em “luz inacessível, a
quem ninguém viu nem pode ver” (1 Tm 6:16). Nessa mesma
perspectiva, o escritor de Hebreus nos diz que Deus é fogo
consumidor (12:29).
Ao ouvir essas afirmações, não pense em um fogo que queima a
madeira, que consome, mas que continua acessível. Em vez disso,
vamos considerar um fogo mais ardente, consumidor — que tal o sol
que ilumina o nosso mundo? Ele é consumidor e inacessível, mas
até mesmo esse exemplo deixa a desejar, porque também nos é
dito “Deus é luz; nele não há treva alguma” (1 Jo 1:5). O sol, por
mais brilhante que seja, tem manchas escuras.
Na verdade, Paulo escreveu: “Por volta do meio-dia, ó rei,
estando eu a caminho, vi uma luz do céu, mais resplandecente que
o sol, brilhando ao meu redor” (At 26:13). Paulo não vê o rosto real
de Jesus; ele só vê a luz que emana Dele, e ela ofusca a luz
ardente do sol do Oriente Médio! Não é o sol da manhã ou o sol do
fim da tarde, mas o sol do meio-dia.
Viajei intensamente para inúmeros lugares em toda a terra. Às
vezes, eu me esqueço de levar meus óculos escuros. Na maioria
dos lugares, posso passar sem eles; no entanto, não no Oriente
Médio. Na minha primeira visita ali, descobri a necessidade de
óculos escuros; sem eles eu tinha de ficar apertando os olhos
devido aos efeitos do sol. Ele é muito mais brilhante ali por três
razões: o clima seco do deserto, a cor leve e a natureza refletora da
terra, e por ficar próximo ao Equador. Embora não fosse muito
intenso no começo ou no fim do dia, o sol ao meio-dia parecia nos
cegar se não estivéssemos usando lentes protetoras.
Agora vamos refletir sobre o que acabamos de ler. Paulo afirma
que a luz que emana de Jesus é mais brilhante que o sol do Oriente
Médio ao meio-dia! A Sua glória excede muitas vezes o resplendor
do sol.
Isso explica por que tanto Joel quanto Isaías dizem que o sol e a
luz se escurecerão e as estrelas não brilharão no dia da volta de
Jesus (Is 13:9-10; Jl 2:31-32). Permita-me refletir sobre isso um
pouco mais. Quando andamos ao ar livre em uma noite clara, o que
vemos? Um céu cheio de estrelas. Mas o que acontece quando o
sol aparece pela manhã? As estrelas desaparecem. Precisamos
perguntar: as estrelas fogem rapidamente quando o sol se levanta, e
depois, quando o sol se põe, as estrelas de repente voltam para o
céu noturno? A resposta para essa pergunta obviamente é não. O
que acontece? A glória das estrelas tem um nível, mas a glória do
sol tem um nível muito maior. Assim, quando o sol sai, por ser muito
mais brilhante que as estrelas, ele as obscurece.
Quando Jesus voltar, sendo a Sua glória muito maior que a do
sol, Ele o obscurecerá, embora o sol ainda esteja brilhando no céu!
Você está tendo um vislumbre melhor da Sua glória? Creio que é
por isso que está escrito que todas as pessoas do mundo vão gritar
“às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da
face Daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro!’”
(Ap 6:16).
Portanto, agora, eis a pergunta principal: O que é a glória do
Senhor? Para respondê-la, vamos ao pedido de Moisés: “Peço-Te
que me mostres a Tua glória” (Êx 33:18).
A palavra hebraica para glória é kabod. O dicionário bíblico
Strong a define como “o peso de alguma coisa”. Ela também fala de
majestade e honra. Assim, Moisés está pedindo: “Mostra-Te a mim
em todo o Teu esplendor”. Veja atentamente a resposta de Deus:
Diante de você farei passar toda a Minha bondade, e diante de você
proclamarei o Meu nome: o Senhor”.
— Êxodo 33:19

Deus identifica o pedido de Moisés — ver a glória do Senhor —


como “toda a Minha bondade”. A palavra hebraica para bondade é
definida como “o bem no sentido mais amplo”. Em outras palavras,
nada de bom é retido.
Em seguida, Deus diz: “Diante de você proclamarei o Meu nome:
o Senhor”. Antes de um rei terreno entrar na sala do seu trono,
primeiro um arauto proclama o seu nome. A trombeta é tocada, e o
rei entra na sala do trono em todo o seu esplendor. A grandeza do
rei é revelada e, na sua corte, não existe dúvida quanto a quem é o
rei. No entanto, se esse monarca estivesse passeando casualmente
pela rua da sua grande nação vestido com roupas comuns, sem
nenhum empregado, ele poderia passar sem ser reconhecido.
Aprendemos no capítulo anterior que a glória do Senhor é
revelada na face de Jesus Cristo. Muitos afirmaram ter uma visão de
Jesus. Isso é muito possível, mas não em toda a Sua glória. Paulo
assim descreve: “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro,
como em espelho; mas, então, veremos face a face” (1 Co 13:12). A
Sua glória está oculta, assim como estava velada por uma nuvem
escura no Antigo Testamento. Por quê? Nenhuma carne pode olhar
para a Sua glória desvendada e permanecer viva.
A primeira pessoa com quem Jesus falou depois da Sua
ressurreição foi Maria Madalena, no entanto ela pensou que Ele
fosse o jardineiro (Jo 20:15,16). Os discípulos tomaram o café da
manhã com Jesus à beira-mar, mas a princípio eles não O
reconheceram (Jo 21:9,10). Dois discípulos andaram com Jesus na
estrada para Emaús, “mas os olhos deles foram impedidos de
reconhecê-Lo” (Lc 24:16). Todos esses contemplaram a Sua face
porque Ele não exibiu abertamente a Sua glória.
Alguns viram o Senhor no Antigo Testamento, mas Ele não foi
revelado em toda a Sua glória. O Senhor apareceu a Abraão junto
aos terebintos de Manre, mas não em Sua glória (Gn 18:1-2). Jacó
lutou com Deus, mas não em Sua glória (Gn 32:24-30). Josué,
quando estava próximo a Jericó, viu o Senhor com uma espada
desembainhada e quis saber se Ele estava do lado de Israel. Ao
saber que era o Senhor, ele prostrou-se sobre o seu rosto e O
adorou. A lista continua com Gideão, com os pais de Sansão, e com
muitos outros.
Em contrapartida, o apóstolo João viu o Senhor, no Espírito, em
toda a Sua glória na ilha de Patmos. João comparou a Sua
fisionomia ao sol brilhando na sua força e caiu como morto. Como
João pôde olhar para Ele? Ele não estava em seu corpo, mas em
espírito. O mesmo acontece com Isaías e com alguns outros.
Moisés, por outro lado, não pôde ver a face de Deus porque estava
em seu corpo mortal.
A glória do Senhor é tudo o que faz de Deus, Deus. Todas as
Suas características, Sua autoridade, Seu poder, Sua sabedoria —
literalmente o peso e a magnitude imensurável de Deus. Nada está
oculto ou é retido! É Alguém que coloca as estrelas nos seus
lugares com os Seus dedos e que deu a cada uma delas um nome.
É Aquele que mediu todo o universo com os Seus dedos — com a
palma da Sua mão. Aquele que pode segurar toda a terra como se
ela fosse um grão de areia; Ele pesou cada gota d’água na palma
de Sua mão; Ele pesou a terra e as montanhas na Sua balança.
Este é Aquele que podemos contemplar em nossos corações e
ainda sermos transformados à Sua imagem, de glória em glória!
É Aquele que nos ama profundamente — tanto assim que
escolheu pagar o terrível julgamento pelos nossos pecados para
que pudéssemos fazer parte da Sua família. Não sei quanto a você,
mas isso realmente me entusiasma!

Personalizando

Passagem: “Ele é o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o
único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A Ele
sejam honra e poder para sempre. Amém” (1 Tm 6:15-16).

Ponto: Imagine uma luz tão brilhante e pura que nenhuma escuridão, sombra,
obscurecimento ou turvação pode estar presente. Imagine essa luz brilhando no meu
coração. Por que eu pensaria em esconder qualquer coisa Dele? É impossível.

Pare para orar: Querido Pai celestial, eu Te peço que Tu me dês uma consciência
aguçada da Tua glória. Não quero que essa seja uma realidade trivial, uma coisa casual,
ou algo em que eu pense periodicamente; em vez disso, quero que a Tua majestade se
torne sempre presente e mais real que o mundo que me cerca. Que a Tua glória esteja
diante do meu coração e da minha mente de modo contínuo. Isso Te peço em nome de
Jesus, amém.

Professe: Em Cristo, sou a luz do mundo, refletindo a Sua glória a todos a quem eu
encontrar.
Devemos temer a Deus por amor,
e não amá-Lo por medo.
— SÃO FRANCISCO DE SALES
Semana 2 — Dia 1

8 | SEU VALOR

Esta seção incluirá alguns tópicos de peso e que possivelmente


trarão convicção de pecado. Portanto, antes de continuar, vamos
fazer uma pausa e aprofundar a nossa compreensão do tremendo
amor de Deus por nós. Vou abrir com uma declaração forte de
Jesus, quase assustadora, que será uma parte significativa do
nosso diálogo nesta seção. Se não forem lidas dentro de um
contexto, Suas palavras poderão ser mal compreendidas — e
possivelmente despertar um medo não saudável — de modo que
imploro que você as leia com um coração submisso e reverente
para com o nosso Deus: Mas Eu mostrarei a quem vocês devem
temer: temam Àquele que, depois de matar o corpo, tem poder para
lançar no inferno. Sim, Eu digo a vocês, a Esse vocês devem temer.
— Lucas 12:5

Jesus nos diz para temermos a Deus — e Ele não diz isso uma
vez, mas enfatiza a recomendação ao repeti-la. O que realmente
chama a atenção são Suas palavras surpreendentes: “tem poder
para lançar no inferno”. Essa é uma linguagem forte! Entretanto,
veja a Sua declaração seguinte: Não se vendem cinco pardais por
duas moedinhas? Contudo, nenhum deles é esquecido por Deus.
Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não
tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais!
— Lucas 12:6-7

Observe que eu enfatizei “Temam Aquele [Deus]” no versículo 5 e


“Não tenham medo” no versículo 7. Mais uma vez, vemos uma
diferenciação entre o santo temor e o medo. Não há como dar mais
ênfase ao fato de que o santo temor não significa sentir pavor de
Deus e consequentemente afastar-se Dele, mas o medo sim. É
imperativo sabermos a diferença entre eles e estarmos firmados
nessa verdade.
Jesus abre Sua mensagem com uma declaração emocionante,
quase aterrorizante, mas no mesmo fôlego Ele declara o nosso
inimaginável valor para Deus. Basicamente, Ele revela que Deus
nos valoriza profundamente e, portanto, nos concede o dom do
santo temor. Esse dom nos protege, nos mantendo próximos ao
doador da vida e longe do que nos arruinaria: o temor do homem,
que é o extremo oposto do santo temor. Os dois farão parte de
modo significativo da nossa análise enquanto avançamos, mas
antes de embarcarmos, vamos primeiro discutir o nosso valor.
De acordo com Jesus, Deus valoriza você tão profundamente que
Ele sabe o número de cabelos na sua cabeça. A ciência estima que
a maioria dos seres humanos possui uma média de cem mil fios de
cabelo no couro cabeludo. Se você colocar dez mil pessoas em um
recinto, acha que poderia calcular qual delas tem 99.569 fios de
cabelo? Mesmo que você calculasse corretamente, você estaria
errado em minutos porque a pessoa perde em média de 50 a 100
fios de cabelo por dia. Deus conhece o número exato a qualquer
momento! O que isso nos diz? Que somos tremendamente valiosos
para Ele. Ele pensa em nós continuamente. Davi escreveu: Como
são preciosos para mim os Teus pensamentos, ó Deus! Como é
grande a soma deles! Se eu os contasse seriam mais do que os
grãos de areia. Se terminasse de contá-los, eu ainda estaria
Contigo.
— Salmos 139:17-18

Mais que os grãos de areia! Pense em toda a areia da terra —


cada praia, cada deserto e cada campo de golfe. É uma quantidade
enorme! Os entusiastas da ciência e da matemática nos dizem que
dependendo do tamanho e da compressão da embalagem, existem
aproximadamente cinco milhões a um bilhão de grãos de areia em
três metros cúbicos de praia.1 Nossas mentes se esforçariam para
compreender o vasto número de grãos apenas nas praias da
Flórida. Mas pense nisso — se você somasse todos os grãos de
areia do planeta, você ainda não teria o número dos pensamentos
que Deus tem a seu respeito!
Faça esta pergunta a si mesmo: Em que você costuma pensar?
Você raramente pensa em algo que não valoriza. Lisa e eu temos
coisas que descobrimos todos os anos quando abrimos o armário
onde guardamos nossos itens de Natal. Utilizo a expressão
“descobrir” porque acabamos esquecendo que os possuímos. Não
penso nesses objetos nem por uma vez durante o ano inteiro porque
eles não são valiosos. Entretanto, se eu contasse todas as vezes
em que penso em Lisa ao longo de nossos mais de quarenta anos
de casamento, eu poderia encher uma caixa de sapatos com areia
até a metade. Isso daria aproximadamente duzentos milhões de
pensamentos, o que constituiria um pensamento a cada 6,3
segundos. Um marido que pensa na sua esposa com tanta
frequência seria considerado alguém profundamente apaixonado
por ela.
Os pensamentos de Deus a seu respeito excedem todos os grãos
de areia do planeta! Você está compreendendo isso? Eis o que é
impressionante: Deus não pode exagerar! Embora todos nós já
tenhamos interagido com pessoas que exageraram e fizeram
afirmações que estavam longe da verdade, Deus não pode se
afastar um milímetro da verdade; Ele não pode mentir. Assim,
quando Ele afirma que os Seus pensamentos sobre você excedem
todos os grãos de areia do planeta, isso é algo enorme!
Vamos levar isso ainda mais longe. Qual é exatamente o nosso
valor? O valor é determinado pelo comprador. Meu filho participou
de um leilão esportivo porque sua empresa estava interessada em
comprar uma camiseta de um jogador de basquete famoso usada
em um jogo de campeonato nos anos 1960. Eles passaram a
compra adiante porque o lance mais alto chegou a $1.044.000! Por
maior jogador que esse cara tenha sido, eu pessoalmente não teria
dado mais de duzentos dólares pela sua camisa ou pelo uniforme de
qualquer outro jogador da NBA. É apenas uma roupa.
A questão não é qual é o nosso valor para as pessoas, porque
isso varia. E além do mais, o mundo não tem o costume de valorizar
as pessoas como deveria. Milhões de bebês têm sido assassinados
no ventre de suas mães. As pessoas valorizaram as vidas desses
bebês? E quanto às moças e mulheres que são traficadas para
sexo, inclusive as prostitutas? Se a medição se basear nas pessoas
que as colocaram ali, o valor delas foi reduzido a algumas centenas
de dólares.
Deus é Aquele que determina a verdadeira medida de valor neste
universo, e não o homem. E mesmo para as coisas que estimamos,
Jesus nos lembra que “aquilo que tem muito valor entre os homens
é detestável aos olhos de Deus” (Lc 16:15). Ele também faz esta
observação notável: “Pois, que adiantará ao homem ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar
em troca de sua alma?” (Mt 16:26).
Considere por um instante toda a riqueza do mundo. Considere
as mansões multimilionárias, as belas propriedades, as pedras e os
metais preciosos, os belos carros, iates e aviões. É quase
inimaginável. Estudos recentes estimam que o produto bruto
mundial seja de $84.97 trilhões de dólares. É uma quantia
inconcebível. Mas Jesus nos diz que se você fosse trocar a sua vida
por tudo isso, você teria feito um negócio que não lhe aproveitou de
nada!
Então qual é o seu valor? Paulo escreveu: “Vocês foram
comprados por alto preço” (1 Co 6:20). A quantia que Deus ofereceu
por você — o Seu preço definido — encontra-se nestas palavras:
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o Seu Filho Unigênito”
(Jo 3:16). Uau, isso é muito mais do que a camiseta de um jogador
famoso! Deus viu o nosso valor como igual ao Seu bem mais
precioso. Eis a verdade impressionante: Se para Deus valêssemos
um centavo a menos abaixo do valor de Jesus, então essa troca não
teria sido feita, pois Deus não faria um negócio que não fosse
proveitoso — dar algo mais valioso por algo menos valioso. Você
está percebendo o quanto é precioso para Deus?
O quanto o amor de Deus por você é enorme? Jesus faz a mais
surpreendente declaração através de uma oração: “Que o mundo
saiba que Tu [Deus] Me enviaste [Jesus Cristo], e os amaste como
igualmente Me amaste”.
— João 17:23
É quase bom demais para compreender! Deus ama você tanto
quanto Ele ama Jesus! Ainda assim, talvez você pense: Ele está
falando apenas dos discípulos. É uma dedução incorreta, pois Jesus
deixa claro: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por
aqueles que crerão em Mim, por meio da mensagem deles” (Jo
17:20). Se você crê em Jesus Cristo, você crê, direta ou
indiretamente, por causa do testemunho dos discípulos. A
profundidade do amor de Deus e o valor que Ele dá a você são
incompreensíveis.
Agora que essa verdade foi firmemente estabelecida, vamos
continuar a desvendar por que este dom do santo temor é tão
crucial no nosso relacionamento com Ele.

Personalizando

Passagem: “Homem algum pode redimir seu irmão ou pagar a Deus o preço de sua
vida, pois o resgate de uma vida não tem preço. Não há pagamento que o livre para que
viva para sempre e não sofra decomposição” (Sl 49:7-9).

Ponto: Nenhuma pessoa sábia fará um acordo que não seja proveitoso — dar o que é
mais valioso por aquilo que é menos valioso. Do mesmo modo Deus jamais faria um
acordo não lucrativo. O preço que Deus pagou por você foi a vida do Seu Filho
unigênito, o que significa que Ele valoriza você tanto quanto valoriza Jesus. Isso também
significa que Ele valoriza os que O cercam tanto quanto valoriza Jesus.

Pondere: Considerando o grande valor que Jesus deu à minha vida, como eu me vejo
agora? Como isso afeta a maneira como eu vejo e trato àqueles que encontro
diariamente?

Pare para orar: Querido Pai celestial, obrigado por estimar a minha vida como sendo
tão valiosa a ponto de Tu estares disposto a dar Jesus para morrer em meu lugar. Jesus,
obrigado por me considerar ainda mais que a Ti, tomando o meu lugar e o meu
julgamento. Espírito Santo, eu Te peço que me dês a firme compreensão no meu
coração e na minha mente do quanto Tu me amas e me valorizas, e que eu possa amar
os outros da mesma forma. Em nome de Jesus, amém.

Professe: Vou amar e valorizar os outros da mesma maneira que Deus me ama e me
valoriza.
Quando pregamos o amor de Deus,
há o risco de esquecermos que a
Bíblia revela, não primeiramente o
amor de Deus, mas a intensa e
ardente santidade de Deus,
com o Seu amor no centro dessa
santidade.
— OSWALD CHAMBERS
Semana 2 — Dia 2

9 | COLISÃO
FATAL

Na primeira seção falamos sobre a glória de Deus, mas mal saímos


da superfície nesse assunto. Neste capítulo, vamos focar nas várias
magnitudes da presença de Deus. Vamos começar indo até um
período no tempo em que o Todo-poderoso decidiu habitar em uma
tenda — quando a nação de Israel habitava no deserto.
Depois de uma obra elaborada e intrincada que consumiu tempo,
o tabernáculo foi concluído por uma equipe de trabalhadores. Ele foi
construído de acordo com o plano exato que Deus entregou a
Moisés no monte e era um modelo bruto do tabernáculo celestial
(Hb 8:1-5). Quando a obra terminou, Deus manifestou a Sua
gloriosa presença: Então a nuvem cobriu a Tenda do Encontro, e a
glória do Senhor encheu o tabernáculo. Moisés não podia entrar na
Tenda do Encontro, porque a nuvem estava sobre ela, e a glória do
Senhor enchia o tabernáculo.
— Êxodo 40:34-35

Mais uma vez, Deus protegeu Israel da Sua glória com uma
nuvem escura. Ele habitaria com Seu povo amado de uma maneira
que eles pudessem suportar. Somente o sumo sacerdote tinha
permissão para entrar no Santo dos Santos — apenas uma vez por
ano e por meio do sangue de animais. Essa posição foi escolhida
divinamente, e o primeiro foi Arão, o irmão de Moisés.
Em um determinado dia, dois dos filhos de Arão, que também
eram sacerdotes, entraram no tabernáculo para oferecer “fogo
profano perante o Senhor, sem que tivessem sido autorizados” (Lv
10:1). Há opiniões diferentes quanto aos detalhes do que realmente
aconteceu, mas em nome de chegarmos ao âmago da questão,
vamos contornar os atos deles e focar na sua motivação. Uma
definição de profano é “tratar alguma coisa sagrada com
irreverência”. Significa tratar o que é santo como comum ou
ordinário. Na essência, os filhos de Arão entraram na gloriosa
presença de Deus com irreverência. O que acontece em seguida é
grave, e até assustador.
Então saiu fogo da presença do Senhor e os consumiu. Morreram perante
o Senhor.
— Levítico 10:2

Esses dois homens, que estavam autorizados a entrar na


presença de Deus, morreram imediatamente pela sua irreverência.
Deus os atacou cruelmente? Não, eles se colocaram no caminho do
perigo. Pense nisso assim. A terra está a 1.496.689.9 quilômetros
de distância do sol. Tomar banho de sol na praia para a maioria das
pessoas é agradável, mas se o seu banho de sol ocorrer a 16.000
quilômetros do mesmo sol, você terá morte imediata.
Eles erraram ao se tornarem familiarizados demais com a
presença santa e gloriosa de Deus e consequentemente agiram de
uma maneira que trouxe o desastre sobre eles. Ouça as palavras
que Moisés disse a Arão logo após a morte de seus filhos: Foi isto
que o Senhor disse: “Aos que de Mim se aproximam santo Me
mostrarei; à vista de todo o povo glorificado serei”.
— Levítico 10:3

O que Moisés disse é um decreto universal e eterno. Universal


significa que ele se aplica a todos os seres criados, sejam humanos
ou angelicais. Eterno sugere que o que sempre foi sempre será —
nunca vai mudar. Você só pode entrar na Sua presença com um
coração e uma atitude de reverência.
Vamos refletir na minha noite no Brasil. Na presença magnífica de
Deus enquanto o vento soprava, fiquei paralisado com um santo
temor. O pensamento que literalmente pulsava em minha mente era:
John Bevere, se você fizer um movimento errado, disser uma
palavra errada, você é um homem morto!
Isso poderia realmente ter acontecido? Não sei ao certo, mas o
que posso dizer com certeza é que um homem e uma mulher no
Antigo Testamento fizeram um movimento errado em uma atmosfera
semelhante e ambos caíram mortos. Sim, esse tipo de morte que
envolve ser enterrado sete palmos debaixo da terra (At 5:1-10).
Esse casal levou uma oferta diante dos líderes da igreja e dos seus
irmãos crentes. Mas ambos foram mortos instantaneamente e
sepultados no mesmo dia. Quando isso aconteceu, como os outros
crentes reagiram?
E grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram
falar desses acontecimentos.
— Atos 5:11

Duas coisas devem ser observadas. O versículo não diz que


“grande temor apoderou-se da cidade”. Na verdade, ele diz “grande
temor apoderou-se de toda a igreja”. Em segundo lugar, observe
que não diz apenas “temor”, mas “grande temor”. Os escritores
hebreus não exageraram, como costumamos fazer na cultura
ocidental. Quando a Bíblia diz “grande”, essa palavra está ali para
expressar uma magnitude muito forte do santo temor.
Em Atos 2, quando o Espírito de Deus se manifestou inicialmente
no dia de Pentecostes, alguns ali presentes concluíram que os
discípulos estavam embriagados de vinho às nove horas da manhã.
Pare e reflita sobre como uma pessoa embriagada se comporta. Ela
geralmente não fica calada e reservada; em vez disso, na maioria
das vezes, vemos muito riso e alegria. Isso descreve a atmosfera
naquele dia notável. A presença do nosso Deus amoroso trazia
refrigério e prazer. Mas quando, mais tarde, Sua presença tremenda
e até aterrorizante se manifestou para juízo no meio das mesmas
pessoas, a Igreja foi tomada de grande temor e assombro. Esse
evento aumentou drasticamente a consciência deles sobre a
santidade de Deus.
Muitas vezes me perguntam: “Por que as pessoas não têm caído
mortas nos nossos dias?”. Essa é uma pergunta boa e válida.
Aquele casal mentiu para Pedro e, no final das contas, ao Espírito
Santo. Já mentiram para muitos pastores no século XX, então por
que os ofensores não tiveram o mesmo destino? Vamos ver o que
acontece imediatamente após a morte desse casal: De modo que o
povo também levava os doentes às ruas e os colocava em camas e
macas, para que pelo menos a sombra de Pedro se projetasse
sobre alguns, enquanto ele passava. Afluíam também multidões das
cidades próximas a Jerusalém, trazendo seus doentes e os que
eram atormentados por espíritos imundos; e todos eram curados.
— Atos 5:15-16
Quando você pensa no assunto, é estarrecedor. Observe que foi
nas ruas (plural!), e não foram “alguns”, mas “todos” que foram
curados! Vamos modernizar isso. Seria como se o apóstolo Pedro
entrasse em um grande hospital e liberasse todas as camas de
todos os andares apenas ao passar pelos corredores. Essa
magnitude de poder só se encontra na atmosfera da glória do
Senhor.
Vamos confirmar isso com outro exemplo bíblico. Centenas de
anos depois do incidente com os dois filhos de Arão, outra dupla de
filhos que também eram sacerdotes, Hofni e Fineias, estavam
cometendo adultério com as mulheres que se reuniam na porta do
mesmo tabernáculo. Isso seria a menos de vinte e sete metros de
onde os filhos de Arão morreram na hora! Se isso não bastasse,
eles também estavam intimidando os adoradores ao recolherem
ofertas à força. Eles eram “ímpios; não se importavam com o
Senhor nem cumpriam os deveres de sacerdotes” (1 Sm 2:12-13).
Deus disse sobre esses homens: “Por isso jurei à família de Eli:
‘Jamais se fará propiciação pela culpa da família de Eli mediante
sacrifício ou oferta’” (1 Sm 3:14). Você nunca vai querer ouvir essas
palavras da boca do Deus Todo-poderoso!
O comportamento deles era extremamente ofensivo a Deus,
várias vezes mais irreverente que o comportamento dos filhos de
Arão, no entanto esses homens não morreram instantaneamente no
mesmo tabernáculo. Por quê? A resposta encontra-se nestas
palavras: “naqueles dias raramente o Senhor falava, e as visões não
eram frequentes” (1 Sm 3:1). A falta da palavra revelada de Deus
explica a ausência da Sua presença; ela não estava presente, não
diferenciando em nada do culto de adoração no Brasil. Entretanto,
nos dias de Moisés, ela estava totalmente presente.
Que conclusão podemos tirar desses exemplos? Quanto maior a
glória manifesta de Deus, maior e mais rápido o juízo pela
irreverência. Assim sendo, juízo retardado não é juízo negado. Por
essa razão, Paulo escreve: Os pecados de alguns são evidentes,
mesmo antes de serem submetidos a julgamento; enquanto que os
pecados de outros se manifestam posteriormente.
— 1 Timóteo 5:24
É sábio nunca permitir, sob qualquer circunstância, uma atitude
irreverente, casual ou familiar para com Deus. Na verdade, isso é
mais perigoso quando a Sua glória não está se manifestando. Por
quê? É mais fácil escorregar para um estado de irreverência com
base na crença errônea de que somos aceitos devido à falta de
juízo. Se isso ocorre, podemos facilmente cair na crença de que
Deus não se importa com a nossa irreverência, como veremos no
próximo capítulo.

Personalizando

Passagem: Moisés então disse a Arão: “Foi isto que o Senhor disse: ‘Aos que de Mim
se aproximam santo Me mostrarei; à vista de todo o povo glorificado serei’” (Lv 10:3).
Ponto: Quanto maior a glória manifesta de Deus, maior e mais rápido o juízo diante da
irreverência. Portanto, juízo retardado não é juízo negado.

Pondere: Como eu me aproximo do Senhor, em oração, na igreja, em adoração,


enquanto a Palavra de Deus está sendo ensinada, ou na vida diária? Eu desenvolvi uma
atitude casual ao me aproximar Dele? Eu perdi de vista a realidade de que Ele é não
apenas meu Pai, mas também o Deus santo que é fogo consumidor?

Pare para orar: Querido Pai celestial, eu Te peço perdão por me aproximar de Ti com
uma atitude casual e irreverente. Eu perdi de vista quem Tu és e me tornei familiarizado
demais contigo. Eu me arrependo e não Te verei mais como um “coleguinha”, mas Te
reverenciarei como o Deus santo que Tu és. Obrigado por ser tão bondoso e
misericordioso e por me perdoar pela minha irreverência. Em nome de Jesus eu oro,
amém.

Professe: Reverenciarei a Deus independentemente do quão poderosa ou suavemente


Ele manifeste a Sua presença.
O Senhor vê os caminhos do homem
e examina todos os
seus passos.
— Provérbios 5:21
Semana 2 — Dia 3

10 | DEUS NÃO
ESTÁ VENDO

Como já foi dito, nosso santo temor aumenta proporcionalmente na


medida da nossa compreensão da glória de Deus. A antítese
também é verdadeira; quanto menos O temermos, mais
diminuiremos a Sua grandeza, até o nível das limitações humanas.
O sistema deste mundo é como a correnteza de um rio que se
agita violentamente, golpeando a psique de uma pessoa na tentativa
de descartar a glória de Deus. A substância desse rio são as
palavras, pensamentos, imagens, vídeos ou qualquer outro meio
que possa ser usado para elevar o homem mortal com o intuito de
reduzir a grandeza do nosso Criador.
Uma pessoa a quem falta o santo temor sucumbe facilmente a
essa força e se deixa levar pela mentalidade de acreditar que Deus
não observa, ou se importa, com o que ela faz. Os pensamentos
começam a formar ideias do tipo: Sou uma exceção; Estou isento;
Não sou diferente da maioria; Deus não observa os meus motivos,
minhas palavras ou minhas ações; até o ponto de pensar: Há muita
coisa acontecendo para Deus cuidar.
[O homem mau] Pensa consigo mesmo: “Deus se esqueceu; escondeu o
rosto e nunca verá isto”.
— Salmos 10:11

Existem diversas variações dessa mentalidade errônea e


perigosa, mas tudo se resume em considerar que as habilidades de
Deus são inferiores ao que elas realmente são. Não é diferente de
como achamos que um pai ou uma mãe, um chefe, um professor,
um treinador ou qualquer outro líder pode ignorar, ou não perceber,
o nosso comportamento. Os indivíduos aprisionados nessa
armadilha se consolam acreditando que existe uma enormidade de
detalhes para acompanhar, e unem isso com a diminuição da
capacidade de Deus.
Vamos dar um passo adiante. Se alguém continuar nesse
caminho escorregadio de não apenas abster-se do santo temor, mas
de rejeitá-lo, ele passa a ser ameaçado com a crença diabólica de
que Deus não pode ver os meus motivos, palavras ou atos. Uma
coisa é acreditar que Deus não está vendo; mas pensar que Ele é
incapaz de ver, é outro nível de irreverência!
É possível escondermos as nossas palavras, atos e motivações
de outros seres humanos. Podemos fazer coisas em segredo — no
escuro, até mesmo nas sombras — que os outros não perceberão.
Mas quando acreditamos que podemos esconder nossos
pensamentos ou caminhos do Deus Todo-poderoso, estamos
enganando a nós mesmos. Essa suposição errônea, quer seja
consciente ou inconsciente, reside em toda alma destituída do santo
temor. A Bíblia nos diz: Ai daqueles que descem às profundezas
para esconder seus planos do Senhor, que agem nas trevas e
pensam: “Quem é que nos vê? Quem ficará sabendo?”.
— Isaías 29:15

A princípio você pode pensar que Isaías está se referindo aos


maus — aos incrédulos, aos que não entrariam em uma igreja para
um evento de adoração. Mas esse trecho foi escrito especificamente
acerca dos que professam ser crentes. É verdade, porque
imediatamente antes dessa afirmação lemos: O Senhor diz: “Esse
povo se aproxima de Mim com a boca e Me honra com os lábios,
mas o seu coração está longe de Mim. A adoração que Me prestam
só é feita de regras ensinadas por homens”.
— Isaías 29:13
Permita-me modernizar isso. Essas pessoas professam ter um
relacionamento com Jesus porque foram salvas pela Sua graça.
Elas O honram verbalmente, participam de conferências cristãs,
ouvem música de adoração no Spotify — mas uma parte da psique
delas pensa que o Senhor não é capaz de ver ou ouvir o que elas
pensam ou fazem. Elas acreditam em uma mentira, e o que é ainda
pior, elas não estão cientes da sua loucura.
Você pode retrucar: “De jeito nenhum! Isso não pode acontecer!”.
Mas vamos revisitar o casal do Novo Testamento que mencionamos
no último capítulo — Ananias e Safira (At 5). O histórico é
importante para entendermos o comportamento errôneo desse
casal. A saga deles na verdade começa no capítulo 4: José, um
levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé...
vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos
pés dos apóstolos.
— Atos 4:36-37

Durante esse período, Chipre era uma ilha de grandes riquezas,


com abundância de pedras preciosas, cobre e minas de ferro, e com
uma grande provisão de madeira. Ela era famosa por suas flores,
frutas, vinho e óleo. Se você possuísse uma terra em Chipre,
provavelmente estaria muito bem de vida.
Imagine o seguinte cenário: um levita rico de Chipre traz uma
grande quantia recebida com a venda de sua terra para entregar
abertamente diante de toda a Igreja. O que acontece em seguida?
Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu
uma propriedade.
— Atos 5:1 (ACF) Observe a primeira palavra: “Mas”. É uma conjunção que
conecta e continua o pensamento. Nesse caso, o início do novo capítulo
pode facilmente prejudicar a continuidade da história.

Esse homem rico entra para a Igreja e traz uma enorme oferta
que todos testemunham. A sua oferta gera uma reação por parte
desse casal. Eles imediatamente vendem uma propriedade e...
Ele [Ananias] reteve parte do dinheiro para si, sabendo disso também sua
mulher; e o restante levou e colocou aos pés dos apóstolos.
— Atos 5:2

O que deu início a essa reação? Seria o fato desse casal, até
aquele momento, ter a reputação de serem os que mais ofertavam
na igreja? Nesse caso, isso atraía a atenção dos líderes e do povo?
Precisamos nos lembrar que ofertar é um dom. E assim como
muitos observam e até aplaudem vários dons — tais como o servir,
o pregar, a hospitalidade, o ensinar, liderar e outros — a
generosidade não é exceção; ela é celebrada (2 Co 9:12,13). Será
que esse casal apreciava demais o respeito e a atenção? Será que
as inseguranças deles foram ameaçadas ao serem superados por
aquele recém-chegado? Será que as pessoas estavam celebrando
aquela enorme oferta e como ela ajudaria nos programas de
evangelismo e de cuidados com os pobres, fazendo com que o foco
se desviasse de Ananias e de sua esposa?
Talvez o casal cobiçasse a atenção que fora perdida, de modo
que a resposta deles foi vender um pedaço de terra —
possivelmente o seu maior bem. Eles raciocinaram: “É dinheiro
demais para entregar. Mas queremos que pareça que estamos
entregando tudo. Então vamos dar apenas uma parte, mas anunciar
‘É tudo que recebemos’.” Esse pensamento enganoso pode ter sido
fortalecido pela racionalização de que a atitude encorajaria outros a
dar grandes ofertas.
A aparência era mais importante que a verdade e, assim, levou
ao engano. Como esse casal poderia pensar que Deus não estava
vendo isso?
Eles premeditaram, deliberaram e concordaram com essa
abordagem. Acreditando que podiam ocultar o seu plano do Senhor,
eles fizeram seu ato terrível no escuro! E de algum modo, na sua
psique, eles pensaram: O Senhor não sabe o que está acontecendo!
(quase uma citação direta de Isaías 29:15). Isso custou as suas
vidas; ambos foram sepultados no mesmo dia!
Como dois cristãos professos que haviam testemunhado milagres
notáveis nos capítulos anteriores — o vento do céu soprando e
chamando a atenção de uma cidade inteira, milhares de pessoas
salvas em reuniões não anunciadas, um aleijado andando
milagrosamente, o poder de Deus sacudindo um prédio, e muito
mais — puderam acreditar que podiam ocultar suas motivações do
Deus Todo-poderoso?
Ou como Adão e Eva, que andavam com Deus no jardim,
puderam acreditar que poderiam se esconder Dele depois de
pecarem? (Gn 3:8).
Como o povo de Israel pôde dizer: “O Senhor não nos vê”? (Ez
9:9).
E quanto a esta afirmação chocante: “Filho do homem, você viu o
que as autoridades da nação de Israel estão fazendo nas trevas,
cada um no santuário de sua própria imagem esculpida? Eles
dizem: ‘O Senhor não nos vê’” (Ez 8:12).
Com que frequência pensamos que podemos esconder o fato de
que o nosso coração está distante do Senhor?
Em suma, todos esses cenários têm uma raiz comum que
promove este erro grosseiro: a falta de santo temor. Na mesma
medida em que temos falta de temor, Suas habilidades são
diminuídas na nossa psique, e o mais assustador é que não nos
damos conta do nosso estado; o nosso discernimento fica
entorpecido. É sobre esse estado que vamos falar nos próximos
capítulos.

Personalizando

Passagem: “Então, todas as igrejas saberão que Eu sou aquele que sonda mentes e
corações, e retribuirei a cada um de vocês de acordo com as suas obras” (Ap 2:23).

Ponto: Deus sabe não apenas o que fazemos; sabe também os motivos e intenções por
trás dos nossos atos.
Pondere: Eu vivo continuamente com a consciência de que Deus conhece os meus
pensamentos, motivos e intenções íntimas? Como posso aumentar a minha consciência
dessa verdade?

Pare para orar: Querido Pai celestial, eu Te peço que as minhas motivações e intenções
sejam tão puras quanto as intenções e motivações de Jesus. Que eu possa filtrar todos
os meus pensamentos, desejos, palavras e atos através do entendimento de que Tu
examinas continuamente os meus caminhos. Que eu nunca diminua essa verdade na
minha percepção a Teu respeito. Em nome de Jesus eu oro, amém.

Professe: Vou viver a minha vida sabendo que Deus está plenamente consciente das
minhas intenções, pensamentos, palavras e atos.
Por que Jerusalém
persiste em desviar-se?
— JEREMIAS 8:5
Semana 2 — Dia 4

11 | TEMOR
E TREMOR

A presença tremenda de Deus e o juízo subsequente de Ananias e


Safira trouxeram “grande temor” sobre a igreja. Mais uma vez, é
necessário enfatizar que não é usada a palavra cidade, mas a
palavra igreja — a congregação dos santos. Quando examinamos
as palavras gregas para grande temor, vemos que elas intensificam
o que é comunicado.
A primeira palavra, grande, é o grego mégas, definida como o
andar superior de uma escada... “em grande medida, intenso,
terrível”.1 Dela extraímos a nossa palavra mega. Não há como
confundir o que está sendo comunicado; na essência, ela poderia
ser traduzida como “megatemor”. Tenha em mente que os escritores
da Palavra de Deus não exageraram as coisas.
A segunda palavra, temor, é a palavra grega phóbos, usada
frequentemente para santo temor ao longo do Novo Testamento. Ela
é definida como “medo, terror, reverência, respeito, honra”. Outra
fonte a define como “profundo respeito e admiração pela deidade —
reverência, admiração”.2 Aqui encontramos novamente com as
palavras assombro e terror, que significam um alto nível de medo.
Paulo usou essa mesma palavra ao escrever: Assim, meus amados,
como sempre vocês obedeceram, não apenas em minha presença,
porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a
salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua
em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa
vontade Dele.
— Filipenses 2:12-13
Nossa salvação não é posta em ação com amor e bondade, mas
com temor e tremor, o que examinaremos profundamente mais
tarde. Mais uma vez, a intensidade do que está sendo comunicado é
elevada a um nível acima com uma nova palavra: tremor. Essa é a
tradução da palavra grega trómos, definida como “um tremor de
medo, terror... ou profunda reverência, respeito, pavor”. Esse uso
não é uma ocorrência isolada, uma vez que as duas palavras juntas
são usadas pelo apóstolo Paulo quatro vezes no Novo Testamento.
Embora não tenhamos esgotado o nosso exame do santo temor,
estamos em um ponto no qual podemos nos perguntar como um
mestre da Palavra de Deus poderia limitar seu significado a
“adoração reverente”. Somente neste capítulo, com os poucos
versículos que enfatizamos, ficamos face a face com um vocabulário
bastante forte. Eis uma lista resumida: megatemor, admiração,
terror, profundo respeito, tremor e pavor.
Estas não são apenas palavras que representam um aspecto
menor da nossa vida em Cristo, mas elas identificam como a nossa
salvação é posta em ação — um termo que descreve como os
nossos esforços, em cooperação com o Espírito Santo e
capacitados por Ele, trazem à plena maturidade o que Jesus provê
liberalmente para nós. Deste ponto em diante, diremos assim: a
nossa salvação é amadurecida através do temor e do tremor.
Tendo isso em mente, por que o santo temor não é uma das
verdades principais e primeiramente ensinadas nas nossas igrejas,
pequenos grupos e escolas bíblicas? Seria essa a causa de termos
tantos cristãos mornos e ineficazes no mundo ocidental? E seria
essa a razão pela qual a Bíblia adverte sobre uma grande
“apostasia” da fé nestes últimos dias? Paulo escreve que o anticristo
não pode ser revelado, até que “venha a apostasia primeiro [a não
ser que a apostasia prevista dos que têm professado ser cristãos
tenha vindo]” (2 Te 2:3, AMPC). Será que essa apostasia poderia
ser alimentada pelo fato de reduzirmos o valor do santo temor?
Depois de passar quarenta anos em oração, estudo e ministrações
em todos os estados dos Estados Unidos e em sessenta nações,
acredito que sim.
Vamos avançar um passo adiante. Um dos ensinamentos
elementares ou fundacionais da Igreja é o “juízo eterno”. Leia estas
palavras com atenção: Portanto, deixemos os ensinos elementares
a respeito de Cristo e avancemos para a maturidade, sem lançar
novamente o fundamento do... juízo eterno.
— Hebreus 6:1-2
O fato é que todos nós prestaremos contas da maneira como
vivemos. O que for revelado nesse julgamento durará para sempre
— é eterno! Para o crente, ele é mencionado como o “tribunal de
Cristo”.
Vamos analisar as duas palavras enfatizadas. Primeiro,
elementares. O que uma criança pequena aprende no ensino
elementar? Ela aprende a ler, escrever, somar, subtrair e outras
habilidades básicas. Na essência, adquirimos os alicerces
necessários para o avanço da nossa educação. Você pode imaginar
seguir em frente para o ensino médio ou para a faculdade sem a
capacidade de ler, escrever, somar ou subtrair? Seria impossível!
Vejo que muitos cristãos não estão conscientes do julgamento
que enfrentarão, ou na melhor hipótese, eles só estão familiarizados
com o termo, mas não o investigaram profundamente. Isso poderia
ser comparado a apenas saber que aquelas habilidades básicas da
escola elementar são importantes, mas nunca aprendê-las
realmente. Uma pergunta muito importante a ser feita é: como os
cristãos estão edificando suas vidas em Cristo sem essa verdade
elementar?
Vamos considerar a outra palavra enfatizada, fundamento. Você
pode imaginar alguém construir um prédio sem uma fundação? Se o
tempo estiver calmo, o prédio pode se erguer bem alto e
permanecer de pé. Mas quando vier uma tempestade forte, ele virá
abaixo! Isso poderia representar uma apostasia da fé. O Grupo
Barna de pesquisas relatou que mais de quarenta milhões de norte-
americanos se afastaram da fé entre os anos 2000 a 2020!3 A
metade desse número agora professa ser não-cristã — ateus e
agnósticos. Será que a nossa falta de ensino fundacional poderia ter
contribuído para essa estatística catastrófica?
Vamos dar uma olhada rápida no que está atrelado ao nosso
julgamento: Temos, pois, confiança e preferimos estar ausentes do
corpo e habitar com o Senhor.
— 2 Coríntios 5:8

Imediatamente, sabemos que Paulo está falando somente a


crentes. Quando um incrédulo está ausente do corpo, ele não está
na presença de Deus.
Por isso, temos o propósito de lhe agradar, quer estejamos no corpo, quer
o deixemos.
— 2 Coríntios 5:9

Quando nossos filhos estavam na adolescência, Lisa e eu


procurávamos oportunidades de treiná-los na piedade. Um aspecto
importante do treinamento deles era protegê-los contra
desenvolverem a atitude infantil de achar que têm direito a tudo.
Uma noite, eu disse a eles: “Meninos, vocês não podem fazer uma
única coisa que faça sua mãe e eu amá-los mais ou menos do que
já amamos vocês”.
Nosso amor incondicional por eles ficou registrado. Mas, alguns
instantes depois, eu complementei a afirmação com: “Mas vocês
são responsáveis pelo nosso nível de satisfação com vocês”. Aquele
foi um momento de abertura de olhos para eles.
Esta é a verdade: não podemos fazer nada que faça com que
Deus nos ame mais ou menos, mas somos responsáveis pelo nível
de satisfação Dele conosco. É por isso que Paulo diz que o seu
objetivo é “Lhe agradar”. Por quê?
Pois todos nós [crentes] devemos comparecer perante o tribunal de Cristo,
para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do
corpo, quer sejam boas quer sejam más. Uma vez que conhecemos o
terror do Senhor, procuramos persuadir os homens.
— 2 Coríntios 5:10-11
Nesse tribunal não seremos julgados pelos pecados dos quais
nos arrependemos — eles já foram erradicados pelo sangue de
Jesus. Deus removeu os nossos pecados “como o Oriente está
longe do Ocidente” (Sl 103:12). Mais uma vez, Ele diz: “Porque Eu
lhes perdoarei a maldade e não Me lembrarei mais dos seus
pecados” (Hb 8:12).
Então, em que consistirá o nosso julgamento? Seremos
examinados com relação a como vivemos como crentes, e tanto o
bem quanto o mal serão examinados.
O que é importante para a nossa discussão atual é que Paulo
atrela “o terror do Senhor” ao julgamento do crente. Como
mencionado anteriormente, a palavra grega para terror é phóbos, a
mesma palavra usada para descrever a reação da igreja ao juízo de
Ananias e Safira. Isso nos leva a uma pergunta importante: será que
o incidente com esse casal poderia ser uma amostra do julgamento
do crente? Vamos explorar essa possibilidade nos próximos
capítulos.

Personalizando

Passagem: “E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo
possam agradá-Lo, frutificando em toda boa obra” (Cl 1:10).

Ponto: Você não pode fazer nada que faça Deus amá-lo mais ou menos do que Ele já o
ama. Mas você é responsável pelo nível de satisfação Dele com você.

Pondere: Minha vida está agradando a Deus? Como posso saber o que Lhe agrada e o
que não Lhe agrada?

Pare para orar: Querido Pai celestial, eu Te peço que Tu me reveles através da Tua
Palavra e pelo Teu Espírito o que Te agrada e o que Te desagrada. Dá-me um coração e
uma mente que busquem o Teu prazer e a Tua satisfação mais do que qualquer outra
coisa. Ao fazer isso, que eu possa vir a conhecer o Teu coração e viver de uma maneira
que Te honre. Que o que eu pedir possa me preparar para um dia enfrentar o julgamento
dos crentes e receber as recompensas eternas que Tu desejas me dar. Em nome de
Jesus eu oro, amém.

Professe: Agradar a Deus é a minha prioridade na vida. Ele está trabalhando em mim
tanto o querer quanto o realizar a Sua boa vontade.
O extraordinário sobre Deus é que
quando você O teme, você não teme
mais nada, mas se não teme a
Deus, você teme tudo o mais.
— OSWALD CHAMBERS
Semana 2 — Dia 5

12 | HIPOCRISIA
CONTAGIOSA

É importante esclarecer um ponto importante com relação ao casal


cuja vida teve fim no livro de Atos. A questão não foram os atos de
Ananias e Safira; eles simplesmente deram uma oferta no culto da
igreja. É piedoso, santo e belo dar uma oferta financeira para a obra
de Deus. O pecado foi a motivação deles — o desejo de serem
vistos sob um determinado enfoque.
Isso levanta uma pergunta importante: somente as nossas
palavras e obras serão examinadas no tribunal de Cristo, ou nossos
pensamentos e motivações estarão incluídos nesse exame?
Vamos começar lendo uma advertência que Jesus fez aos Seus
discípulos: Nesse meio tempo, tendo-se juntado uma multidão de
milhares de pessoas, a ponto de se atropelarem umas às outras,
Jesus começou a falar primeiramente aos Seus discípulos, dizendo:
“Tenham cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto
que não venha a ser conhecido”.
— Lucas 12:1-2

Há tanta coisa nestes dois versículos! Imagine que você seja um


ministro do Evangelho e que uma multidão “de milhares de pessoas”
se reúna para ouvi-lo. Esse é o sonho da maioria dos pregadores!
Mas o que Jesus faz? Ele não sussurra para a Sua equipe: “Ei,
rapazes, foi para isto que Eu vim. Fiquem de lado enquanto Eu
trabalho!” Não. Em vez disso, Ele faz três coisas: Primeiro, Ele
aproveita a oportunidade para lhes transmitir uma mensagem
ilustrada de como não ser controlado pelo momento. Ele adverte
aqueles futuros líderes, tanto pelo exemplo quanto pelo ensino,
acerca da hipocrisia. Essa é a palavra grega hupókrisis e ela é
definida como “dar a impressão de ter certos propósitos ou
motivações, enquanto na realidade se tem outros muito diferentes”.1
Os fariseus eram especialistas em hipocrisia — em fazer as
coisas para aparecer e para fingir. Jesus adverte acerca de não nos
deixarmos cair nessa armadilha, permanecendo puros nas nossas
motivações. Basicamente, Ele está comunicando: não permitam que
a popularidade ou a aprovação dos homens os dirija, mas sejam
guiados pelo Espírito, permanecendo firmes na verdade, tanto no
que vocês ensinam quanto no seu modo de viver.
Em segundo lugar, Jesus mostra o quão rapidamente a hipocrisia
pode se espalhar. Ele a compara ao fermento, que se espalha pela
massa e faz com que toda a porção cresça. A ilustração de Jesus
transmite a ideia de que a hipocrisia é contagiosa, mas
diferentemente do fermento, ela é muito prejudicial ao nosso bem-
estar.
Em terceiro lugar, Ele afirma enfaticamente que a hipocrisia não
pode permanecer escondida. É certo que a intenção por trás das
palavras ou atos de alguém acabará sendo exposta. A afirmação
seguinte revela o que nos protege contra as motivações impuras: Eu
lhes digo, meus amigos: não tenham medo dos que matam o corpo
e depois nada mais podem fazer. Mas Eu lhes mostrarei a quem
vocês devem temer: temam Aquele que, depois de matar o corpo,
tem poder para lançar no inferno. Sim, eu lhes digo, Esse vocês
devem temer.
— Lucas 12:4-5
Mais uma vez, Jesus utiliza uma linguagem forte para temer. É
phobéõ, que é semelhante a phóbos, a palavra enfatizada no
capítulo anterior. Phobéõ é definida como “colocar medo, aterrorizar,
amedrontar”. Jesus associa “lançar no inferno” a ignorar o santo
temor. Essa é uma ideia aterrorizante, que não deve ser minimizada.
Mais uma vez, vemos a importância do santo temor, e mais uma vez
fica confirmado que ele é mais do que uma adoração reverente.
Jesus nos diz para temermos a Deus, e não as pessoas. Em
suma, o temor a Deus nos liberta do temor ao homem, enquanto
temer ao homem nos escraviza, removendo nossa capacidade de
temer a Deus. Não se deixe enganar, quando tememos as pessoas,
nossos motivos são afetados. Pense no “temor do homem” de forma
semelhante ao “temor de Deus”. Não tem a ver com fugir por medo
das pessoas, mas sim de agradar aos que estão diante de nós com
a intenção subjacente de conquistar satisfação pessoal, proteção ou
lucro. O temor do homem nos prende no laço do fermento da
hipocrisia, o que nos leva a viver com o intuito de obter a aprovação
das pessoas.
Mais uma vez, os atos de Ananias e Safira pareciam ser
irrepreensíveis; no entanto, a motivação deles os impulsionou a
projetar uma determinada imagem para a sua comunidade, e foi isso
que os levou à queda. As pessoas podem desempenhar papéis e
dizer palavras que demonstrem piedade, mas sem o santo temor
elas pecam em suas intenções.
Quando servia na minha igreja local nos anos 1980, eu era
terrivelmente aprisionado pelo temor do homem. Não percebia isso
até que o Espírito Santo expôs a minha motivação. Na época eu
tinha uma posição de muita evidência na nossa megaigreja. Eu era
consistentemente gentil com aqueles com quem eu interagia e
estava sempre pronto a fazer um elogio, mesmo que não fosse
verdade. Eu detestava o confronto e evitava-o como uma praga.
Começaram a circular relatos de que eu era um dos homens mais
amorosos da igreja. Isso me dava felicidade e satisfação.
Um dia, em oração, ouvi o Senhor dizer: — Filho, as pessoas
dizem que você é um homem amoroso e gentil.
Lembro-me distintamente da maneira como Ele disse isso ao meu
coração; senti que o Seu tom não era de confirmação.
Então eu disse cautelosamente: — Sim, elas dizem isso.
Ele respondeu: — Você sabe por que diz coisas bondosas e
elogiosas às pessoas mesmo que isso não seja verdade?
— Por quê?
— Porque você tem medo da rejeição delas. Então, quem é o
foco do seu amor — você ou elas? Se você realmente amasse as
pessoas, diria a verdade e não uma mentira, mesmo correndo o
risco de ser rejeitado.
Fiquei perplexo. Todos os demais me rotulavam como um homem
amoroso, mas a verdade por trás daquele comportamento era muito
diferente.
Do mesmo modo, os membros da Igreja Primitiva provavelmente
consideravam Ananias e Safira piedosos, especialmente porque
estavam levando uma oferta substancial ao seu pastor diante da
assembleia. Mas os motivos verdadeiros do casal foram expostos.
Do mesmo modo, meus motivos eram a autopromoção, a
autoproteção e a autocompensação. A verdadeira história do meu
comportamento era a de um hipócrita.
É fácil fazer obras piedosas e benéficas diante do mundo que nos
observa, enquanto ao mesmo tempo escondemos um motivo
egocêntrico. Podemos mover uma multidão com uma grande
mensagem do Evangelho, mas interiormente estarmos motivados
por uma ambição egoísta (Fp 1:15,16). Podemos dar ofertas
enormes aos pobres, mas fazer isso destituídos de amor (1 Co
13:3). Podemos conduzir as pessoas à adoração, mas abrigar uma
intenção oculta de sermos conhecidos ou famosos. Podemos ser
gentis nas nossas interações, mas interiormente, analisar e criticar
os outros. Podemos afirmar a nossa tristeza por um pastor que foi
convidado a renunciar ao cargo por uma falha moral, mas
interiormente nos alegrarmos por ele ter recebido o que merecia.
Podemos parecer humildes e proclamar “Toda a glória é para
Jesus!”, enquanto interiormente amamos a afirmação e o louvor. E a
lista é interminável.
Eis a verdade nua e crua: primeiramente, nenhuma motivação ou
intenção pode ser escondida de Deus, e em segundo lugar, ela
acabará sendo revelada. A questão importante é: ela está oculta de
nós? O temor do Senhor nos mantém em contato com as
motivações do nosso coração, o que é crucialmente importante,
porque a falta desse temor nos torna vulneráveis ao engano e à
hipocrisia.
As pessoas na igreja ficaram chocadas com o juízo de Ananias,
mas elas não ficaram mais chocadas que o próprio Ananias, e em
seguida a própria Safira. A falta do santo temor desse casal os
cegou para a maldade das suas próprias motivações. Mais uma vez,
precisamos perguntar: a história deles é uma prévia do tribunal de
Cristo? Veremos no próximo capítulo.

Personalizando

Passagem: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada
de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga
os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12).

Ponto: O temor do Senhor nos mantém em contato com as motivações do nosso


coração, o que é crucialmente importante, pois a falta desse temor nos torna vulneráveis
ao engano da hipocrisia.

Pondere: Tenho a tendência de agradar aos outros com a motivação oculta de ter
satisfação pessoal, proteção ou lucro? Quando estou sob pressão, essa tendência fica
evidente? Em que áreas isso tem feito com que eu comprometa a minha integridade?

Pare para orar: Querido Pai celestial, eu Te peço que me perdoes por procurar agradar
aos outros em benefício próprio. Espírito Santo, eu Te peço que exponhas todas as
áreas da minha vida onde eu cedo facilmente a essa pressão. Eu me arrependo por
fazer das pessoas a minha fonte de alegria e felicidade em vez de fazer de Jesus a
minha fonte. Eu Te peço que enchas o meu coração de santo temor para que eu ame os
outros consistentemente, em verdade, e para que eu não sucumba à hipocrisia. Em
nome de Jesus eu oro, amém.
Professe: Vou amar aqueles com quem interajo dizendo a verdade e buscando o
benefício deles acima do meu.
Pois todos nós deveremos
comparecer
e ser revelados como somos perante
o
tribunal de Cristo.
— 2 Coríntios 5:10 (AMPC)
Semana 2 — Dia 6

13 | TRÊS IMAGENS

Leia com atenção a frase “revelados como somos” no versículo da


página anterior. Cada ser humano possui três imagens de si mesmo:
uma imagem percebida, uma imagem projetada e uma imagem real.
Nossa imagem percebida é a maneira como os outros nos veem.
Nossa imagem projetada é a maneira como desejamos que os
outros nos vejam. Nossa imagem real é quem realmente somos, e
embora ela possa ser ocultada ou não percebida pelos outros, ela é
totalmente visível para Deus. É como seremos revelados diante de
todos no tribunal de Cristo.
Pense sobre Jesus — Ele foi incompreendido, falsamente
acusado, identificado como um beberrão e glutão, rotulado como
herege e até mesmo acusado de ser inspirado por demônios. Ele foi
rejeitado pelos líderes religiosos e outros. Sua imagem percebida
era desfavorável aos olhos de muitos, especialmente dos notáveis.
Os meios-irmãos de Jesus — céticos na época — O
pressionavam para viver com base em uma imagem projetada:
“Você deve sair daqui e ir para a Judéia, para que os Seus
discípulos possam ver as obras que Você faz”, eles zombavam.
“Ninguém que deseja ser reconhecido publicamente age em
segredo. Visto que Você está fazendo estas coisas, mostre-Se ao
mundo” (Jo 7:3,4). Eles eram controlados pelas percepções dos
outros e tentavam colocar Jesus debaixo do mesmo cativeiro: o
temor do homem.
Mas a imagem real de Jesus é muito diferente daquela percebida
por muitos, pois “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1:15).
Embora muitos O estivessem rejeitando, o Deus Todo-poderoso
afirmou audivelmente: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me
agrado” (Mt 3:17). A imagem percebida de Jesus não foi o que
permaneceu, mas sim a Sua imagem real.
Enquanto estava na terra, Ele rejeitou a autopromoção e qualquer
esforço de construir a Sua própria reputação. Quando curava
alguém necessitado, Ele costumava dizer: “Cuidem para que
ninguém saiba disso” (Mt 9:30). Ele evitava a popularidade, a
notoriedade, os elogios e a aprovação dos homens.1 Quando as
pessoas queriam promovê-Lo a rei, Ele se esquivava. Não havia
fachada, nem qualquer falsa ilusão ou engano Nele. Ele tinha prazer
no temor do Senhor, o que mantinha Seu foco no Pai.
Nós também deveríamos ser a imagem expressa de Jesus. Só
encontramos a liberdade quando vivemos de acordo com a verdade
no nosso interior, enquanto evitamos a autopromoção ou a
autopreservação. Descobrimos a origem do comportamento
egocêntrico em Adão e Eva. Lemos que no momento em que eles
caíram “... Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam
nus” (Gn 3:7). O foco deles mudou de Deus para eles mesmos, e
agora eles procuravam aliviar as suas imperfeições recém-
descobertas. O primeiro casal tentou cobrir a sua nudez. Conosco
isso pode se manifestar de forma diferente, mas a raiz do problema
ainda é a mesma. Se estou focado somente em mim, vou procurar
projetar uma imagem que encubra as minhas inadequações. Jesus
deu a Sua vida para nos libertar desse cativeiro. Paulo escreveu:
“Não temos a pretensão de nos igualar ou de nos comparar com
alguns que se recomendam a si mesmos. Quando eles se medem e
se comparam consigo mesmos, agem sem entendimento” (2 Co
10:12).
Se sucumbirmos à pressão da comparação, enfatizaremos
nossas imperfeições e, como consequência, passaremos a nos
autopromover ou a nos autoproteger — e tudo começa com nossas
motivações e intenções. No mundo de hoje, nossa imagem
percebida tem um peso maior que a nossa imagem real.
Resumindo, se sucumbirmos a essa pressão, é a nossa reputação
que buscaremos proteger. Nossos esforços estarão focados nas
aparências, no nosso status, nos nossos títulos, na nossa
popularidade, na nossa aceitação, na nossa reputação, e assim por
diante, porque essas coisas encobrem as nossas imperfeições.
Isso não é o que será revelado e examinado no dia do juízo; mas
será a nossa imagem real, que gira em torno das nossas
motivações e intenções.
Portanto, não julguem nada antes da hora devida; esperem até que o
Senhor venha. Ele trará à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as
intenções dos corações. Nessa ocasião, cada um receberá de Deus a sua
aprovação.
— 1 Coríntios 4:5

Muitos descartam esse versículo pensando que ele se aplica ao


julgamento dos incrédulos. Não é assim, pois nenhum incrédulo
receberá aprovação no seu julgamento. A passagem só pode estar
falando dos cristãos.
Quando você ouve sobre o que está “oculto nas trevas” e sobre
as “intenções dos corações” sendo revelados diante de toda a
assembleia do céu, isso provavelmente faz com que você sinta um
temor saudável. Essa pode ser uma das razões pelas quais Paulo
se refere ao julgamento do crente como o “terror do Senhor”. Nossa
consciência dessa realidade gera um santo temor, o qual por sua
vez nos mantém sob controle e nos capacita a viver com base na
nossa imagem real. Entretanto, o contrário também é verdadeiro:
quanto mais nos falta o santo temor do Senhor, mais confiamos na
nossa imagem projetada.
Essa foi a armadilha mortal em que Ananias e Safira caíram. Eles
estavam mais interessados em como eram percebidos pelos que
viam como rivais, amigos, membros da igreja e líderes.
Para tornar a história deles algo com o qual possamos nos
identificar melhor, vamos imaginar a jornada que levou à queda do
casal como se tivesse acontecido nos tempos atuais. A igreja havia
sido aberta há uns poucos meses. Os apóstolos e os membros da
igreja estavam todos observando para ver que líderes surgiriam em
diferentes áreas.
Para esse casal, foi um dia feliz quando eles receberam a Jesus
e foram perdoados de seus pecados. Eles ficaram maravilhados
com o amor de Deus e com a comunidade de irmãos crentes.
No entanto, o foco deles acabou mudando. O interessante é que
isso provavelmente começou com Deus operando através deles —
talvez uma oferta, uma exortação, cantando na equipe de louvor —
as possibilidades são intermináveis. Eles tiveram prazer em sentir a
gratificação que vem com o reconhecimento do seu serviço. As
endorfinas se agitaram e trouxeram sentimentos estimulantes de
felicidade e satisfação.
O reconhecimento deles aumentou. No entanto, para manter sua
reputação recém-formada, eles precisavam encobrir alguns
comportamentos questionáveis com palavras e atos aparentemente
inofensivos. Talvez eles se encontrassem em uma intensa
discordância doméstica seguida de uma briga prolongada. A raiva
deles e suas discussões ficaram feias e continuaram, mas quando
chegava a hora de se reunirem com os crentes, eles alteravam esse
comportamento drasticamente para encobrir suas imperfeições. O
casal não queria que seus amigos vissem suas divergências e
contendas, o que ameaçaria sua imagem percebida, de modo que
eles projetaram uma atitude amorosa e atenciosa um para com o
outro.
Eles postavam fotos e vídeos no Instagram e no TikTok se
abraçando, sorrindo e desfrutando atividades divertidas juntos. As
legendas diziam coisas do tipo “vivendo o sonho” ou “objetivos de
relacionamento” ou “amo viver a vida com ela [ou ele]!”. Havia
inúmeras outras postagens retratando a vida bem-sucedida deles
(que estava em dificuldades), seu negócio em ascensão (que estava
descendo ladeira abaixo), seus belos filhos (cujo comportamento era
desafiador, autoritário e egoísta), e outros sucessos. Isso parecia
estar funcionando porque o número de seguidores deles na mídia
social estava aumentando rapidamente.
Ananias e Safira estavam em um padrão no qual precisavam
manter sua imagem projetada forte. Tudo parecia inofensivo, mas o
temor piedoso que sentiam outrora agora diminuía gradualmente a
cada ato de hipocrisia. Eles não tinham mais convicção da sua
duplicidade. Tudo parecia bem enquanto eles desfrutavam de uma
boa reputação, parte da qual vinha do fato de serem os ofertantes
mais generosos da igreja.
Chegou o dia em que Barnabé levou suas ofertas diante da
igreja. A atenção dos seus irmãos de repente mudou. Eles ficaram
arrasados, e a imagem percebida deles foi ameaçada. Infelizmente,
a essa altura, a ênfase na imagem que eles haviam criado para si
mesmos já estava bem desenvolvida. O resto é história.
Tudo parecia inofensivo e inspirador para os outros, mas isso os
levou a tomarem um caminho perigoso e destrutivo. Será que o
Espírito Santo colocou o destino desse casal para nós na Bíblia a
fim de nos advertir e para nos dar um vislumbre do quão sério será
o tribunal de Cristo? Paulo escreveu: Os pecados de alguns homens
são manifestos (abertamente evidentes a todos os olhos), indo
adiante deles ao tribunal de julgamento e proclamando a sua
sentença antecipadamente; mas os pecados de outros aparecem
mais tarde [seguindo o ofensor até o foro de julgamento e passando
a ser vistos ali].
— 1 Timóteo 5:24 (AMPC) O pecado de Ananias e Safira foi feito
abertamente evidente a todos naquele dia memorável. O juízo deles foi
proclamado antecipadamente. Entretanto, o que deveria ser mais
alarmante é que os pecados da maioria das pessoas se tornarão evidentes
em um momento posterior. Lembre-se, o veredito de Deus tratou com a
motivação secreta deles, e não com o ato deles.

Eis a boa notícia: podemos nos arrepender de nossas motivações


obscuras, e Deus não apenas perdoará, como podemos ser
abençoados com motivações puras se clamarmos a Ele pedindo
que nos dê um santo temor e que renove a nossa mente através da
Sua Palavra.

Personalizando

Passagem: “Porque não há nada oculto que não venha a ser revelado, e nada
escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz” (Lc 8:17).

Ponto: Todo ser humano tem três imagens: uma imagem percebida, uma imagem
projetada e uma imagem real.

Pondere: Em direção a qual imagem tenho a tendência de seguir? Eu vivo em verdade,


ou minto, ou faço afirmações enganosas para proteger a minha reputação? Sou honesto
e direto com aqueles com quem me relaciono?

Pare para orar: Eu me arrependo por dar mais ênfase à minha imagem projetada e
percebida e não à minha imagem real. Tenho comprometido a minha integridade e peço
que Tu me perdoes. Purifica as minhas motivações e intenções. Que o meu foco esteja
centrado em Jesus e nos outros, e não em mim mesmo.

Professe: Vou permitir que a espada de dois gumes da Palavra de Deus exponha os
pensamentos e intenções do meu coração.
O medo da morte e do juízo sai de
nós à medida que o verdadeiro
temor de Deus entra, e esse temor
não possui tormento,
mas é uma luz e um jugo leve para a
alma,
um jugo que nos descansa em vez
de nos exaurir.
— A. W. TOZER e HARRY VERPLOEGH
Semana 2 — Dia 7

14 | DECISÕES
ETERNAS

Comparada à eternidade, esta vida presente é um vapor. Mas


falando de forma ainda mais exata, esta vida é nada, pois a
matemática simples afirma que qualquer número finito dividido por
infinito é igual a zero. Assim, noventa e tantos anos comparados
com a eternidade são iguais a nada. Diante dessa realidade
aterradora, é sábio nos prepararmos para a eternidade.
As decisões que Jesus tomar acerca de cada um de nós no
Tribunal de Cristo serão eternas (Hb 6:1-2). Ou seja, não haverá
qualquer mudança, revisão ou alteração em Seus pronunciamentos.
Portanto, basicamente, o que fazemos com a cruz determina onde
passaremos a eternidade; mas a maneira como vivemos como
cristãos determina como viveremos para sempre.
Muitas pessoas têm o conceito de que o céu não consiste em
nada além de uma experiência incorpórea, não física, cheia de
amor, paz e sem sofrimento. Elas têm a expectativa de que os
santos são seres etéreos flutuando em nuvens, tocando harpas e
comendo uvas. Outros ainda veem o céu como um culto de
adoração monótono e ininterrupto. É difícil ficar animado com esse
modelo de existência eterna tediosa.
Mas esses mitos não são encontrados em lugar algum na Bíblia.
O melhor desta vida não passa de uma sombra do eterno. Haverá
comunidades para planejar, cidades para construir, nações para
supervisionar, galáxias para explorar e desenvolver, e infinitamente
mais coisas que estarão alinhadas com a maneira como fomos
criados para viver. Existem posições de responsabilidade para
serem preenchidas na cidade eterna do Senhor. Assim, encare o
Tribunal de Cristo como a entrevista e a avaliação que determinarão
a sua posição eterna na cidade capital do novo céu e da nova terra.
Tendo isso em mente, vamos voltar a discutir como o aqui e
agora será examinado no juízo: Pois todos nós devemos
comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba
de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam
boas quer sejam más.
— 2 Coríntios 5:10

Como crentes, nossos pecados, que teriam nos condenado ao


inferno, foram erradicados pelo sangue de Jesus e foram
esquecidos para sempre (Hb 8:12). Mas ainda existem o mal ou o
mau comportamento pelos quais teremos de prestar contas no
julgamento dos crentes. Isso deveria chamar a nossa atenção.
A palavra mal é a palavra grega kakós, e ela é definida como
“relativo a ser mau, com a implicação de prejudicial e nocivo” e
“retroceder, retirar-se, recuar na batalha”. Essa palavra sugere um
efeito danoso, um efeito que pode ser causado não apenas pelo que
fazemos, mas também por retrocedermos ou recuarmos ou, falando
de forma mais simples, pelo que não fazemos. Portanto, ela
abrange não apenas o que fizemos, mas também as oportunidades
perdidas. O santo temor nos mantém alerta para as
responsabilidades do Reino, assim como para quaisquer motivações
ou comportamentos adversos que prejudicam a vida daqueles a
quem Deus ama.
Muitas vezes a Bíblia se refere a nós como “construtores”. Você
poderia visualizar isso como empreiteiros construindo a casa
customizada de Deus, onde Ele habitará para sempre. A Sua casa
tem um nome — Sião (Sl 132:13-14) — e o seu material consiste
em pedras vivas — todos os Seus santos (1 Pe 2:5), sendo Jesus a
pedra angular (Is 28:16).
Paulo identifica claramente a nossa missão: “Porque somos
criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas
obras, as quais Deus preparou para nós de antemão e que
deveríamos praticar” (Ef 2:10, KJV). Observe que na versão King
James em inglês, Paulo escreve que nós deveríamos realizar essas
tarefas, e não que nós as faríamos. Se recuarmos da nossa missão,
optando por viver de uma maneira que seja motivada pelo lucro
egoísta temporário, esse seria considerado um dos “maus”
comportamentos.
Paulo também escreve: “Conforme a graça de Deus que me foi
concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está
construindo sobre ele. Contudo, veja cada um como constrói” (1 Co
3:10). Está claro que a maneira como construímos é essencial.
Estamos construindo com a Sua Palavra eterna ou estamos ouvindo
o espírito desta era? Estamos construindo pelo Seu Espírito ou
estamos atendendo aos nossos desejos egocêntricos? Paulo
continua: Se alguém constrói sobre esse alicerce, usando ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, sua obra será
mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo,
que provará a qualidade da obra de cada um.
— 1 Coríntios 3:12-13
Há uma variedade de formas pelas quais podemos escolher
passar o tempo que Deus nos deu. Se vivermos para construir para
lucro próprio — o que é temporário — isso será considerado
material combustível. Se vivermos de forma altruísta para edificar o
Seu Reino eterno, isso será visto como um material que não será
destruído, mas purificado. O fogo que examinará as nossas vidas
será a Palavra de Deus — em outras palavras, como nossas
motivações, palavras e comportamento se alinham com ela?
Paulo continua dizendo: “Se o que alguém construiu permanecer,
esse receberá recompensa” (1 Co 3:14). Se o nosso comportamento
e trabalho derivam da obediência à Sua Palavra e vontade para as
nossas vidas, as nossas realizações durarão para sempre. Há duas
coisas a serem observadas: primeiro, nossas realizações incluirão
como influenciamos a vida de outros, juntamente com a maneira
como usamos os talentos que Deus nos deu para edificar o Seu
Reino. Em segundo lugar, a nossa recompensa eterna determinará
a nossa posição eterna no Seu Reino.
As próximas palavras de Paulo são penetrantes: Se o que alguém
construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo
como alguém que escapa através do fogo.
— 1 Coríntios 3:15

Há muito conteúdo a ser desvendado neste versículo.


Primeiramente, observe que o construtor é salvo. Aqui não se trata
de um incrédulo que é condenado ao lago de fogo para sempre,
mas sim àquele que habitará eternamente no Reino de Deus.
Em segundo lugar, a perda é grande. A palavra grega usada aqui
pode sugerir punição ou perda. A maioria dos estudiosos não
acredita que seja punição, nem eu. Entretanto, a palavra sugere
uma sensação de profunda perda. Tenha em mente que essa perda
intensa não será sentida apenas no juízo, mas também afetará a
maneira como viveremos para sempre.
Em terceiro lugar, a comparação feita é como alguém que escapa
por pouco através de uma muralha de chamas. Vamos tentar
modernizar isso. Os ocidentais costumam se preparar para a
aposentadoria. (Eu pessoalmente não me rendo a essa
mentalidade, uma vez que aposentadoria fala de recuar de uma
missão — uma definição de “mal” [kakós]. No entanto, como as
pessoas podem se identificar, usarei a aposentadoria para fins de
ilustração).
Imagine que no dia da aposentadoria de alguém, o banco decrete
falência. Todas as economias da pessoa são perdidas e tudo o que
ela possui são os poucos dólares em sua carteira. Naquele mesmo
dia, a Previdência Social e todas as empresas que detêm suas
contas de aposentadoria individual entram em falência. Não apenas
isso, mas a casa da pessoa sofre um incêndio total, e ela escapa
apenas com a camisa que está vestindo. Ela perdeu tudo. Esse
cenário seria considerado um desastre. Mas essa é a descrição que
Paulo utiliza para dizer como alguns crentes entrarão na eternidade.
E não será por um período de vinte e cinco anos (a duração média
de uma aposentadoria); será por toda a eternidade.
Mais uma vez, Paulo diz que o crente é salvo, porém tudo será
queimado e perdido para sempre. Lembre-se de que se trata de um
juízo (decisão) eterno. Não entenda mal — ser salvo não é nada de
insignificante; é infinitamente melhor do que estar perdido no lago
de fogo por toda a eternidade. Todos nós nos alegraremos muito
além da compreensão, mas haverá uma sensação do que poderia
ter sido.
Não é de admirar que Paulo acompanhe esse pensamento com
as seguintes palavras: “Uma vez que conhecemos o terror do
Senhor, procuramos persuadir os homens” (2 Co 5:11, KJV). Por
favor, ouça o meu coração: minha esperança é que este santo temor
que Paulo identifica o convença a não desperdiçar seu tempo em
coisas que não são de nenhum proveito ou a não passar o seu
tempo focado na sua imagem projetada ou percebida. Minha
esperança é que o presente, que é o seu tempo, seja dedicado em
obediência à Palavra e ao Espírito de Deus.

Personalizando

Passagem: “Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que
cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas
quer sejam más. Uma vez que conhecemos o terror do Senhor, procuramos persuadir os
homens” (2 Co 5:10-11, KJV).

Ponto: O que fazemos com a cruz determina onde passaremos a eternidade; entretanto,
a maneira como vivemos como crentes determina como viveremos no Reino eterno.

Pondere: Eu estou focado todos os dias em construir para a eternidade — edificando as


vidas de outros com verdade e amor — ou dedico minha força, energia e tempo em
edificar para mim mesmo?

Pare para orar: Querido Pai celestial, perdoa-me por dedicar a minha atenção focada,
minha energia, força e tempo em construir para o que é temporal. Eu peço que Tu me
mostres como edificar para o Reino de Jesus diariamente. Reveste-me de poder para
impactar as vidas das pessoas para o que é eterno. Eu Te agradeço, em nome de Jesus,
amém.

Professe: Procurarei oportunidades eternas e me envolverei com elas, e não apenas


com aquelas que perecem com esta vida.
A pessoa carnal teme o homem e
não a Deus. O cristão forte teme a
Deus e não o homem. O cristão
fraco teme demais o homem e teme
de menos a Deus.
— JOHN FLAVEL
Semana 3 — Dia 1

15 | O TEMOR
DO HOMEM

A verdadeira santidade é pertencer completamente a Deus. Uma


definição primordial de santidade é “separação para Deus”.1 Sua
amplitude de significado é tão vasta que volumes poderiam ser
escritos sobre isso. Aqui neste livro abrangeremos os pontos
principais, já que o santo temor é um aspecto integrante da
santidade. Mas antes de embarcarmos, é importante afirmar
claramente desde o começo: a santidade autêntica não é um
cativeiro, é a verdadeira liberdade.
É bem possível que o julgamento de Ananias e Safira seja um
prelúdio do que cada ser humano um dia enfrentará — o juízo. A
questão que permanece é: esse casal é um exemplo dos que irão
sofrer “grande perda” no céu, ou eles estão no Hades?
O versículo que geralmente é usado para explicar a condenação
eterna desse casal está em uma passagem anterior nos
Evangelhos, nas palavras de Jesus: “... quem blasfemar contra o
Espírito Santo nunca terá perdão” (Mc 3:29). O equívoco desse
pensamento é exposto pela definição de blasfêmia, que significa
“falar contra alguém de tal forma a prejudicar ou ferir a sua
reputação”.2 Esse casal mentiu ao Espírito Santo, mas, por
definição, eles não blasfemaram, o que mantém o destino deles
inconclusivo. Em todo caso, nenhum de nós deveria invejar o
resultado que tiveram.
Assim, temos um exemplo na Bíblia de alguém que sabemos que
está no céu, mas que sofrerá perda certa no Tribunal de Cristo?
Creio que sim. Permita-me definir isso com as palavras de Paulo:
Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou
estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse
procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo.
— Gálatas 1:10

Que declaração forte! Perderemos o privilégio de sermos servos


de Cristo se sucumbirmos à atração de buscarmos popularidade. Ao
fazermos isso, projetamos qualquer imagem que seja necessária
para termos uma percepção favorável. Paulo não queria ter nada a
ver com isso, e nós não deveríamos ser diferentes.
Paulo andava em um alto nível de santo temor; lembre-se, foi ele
quem escreveu: “Ponham em ação a salvação de vocês com temor
e tremor” (Fp 2:12). Ele permaneceu focado na sua imagem real —
aquela que será revelada no juízo — e não na sua imagem
projetada. Isso o mantinha no lugar da verdadeira santidade e
obediência a Cristo, mesmo quando ele encontrava a decepção, a
reprovação ou a rejeição dos outros.
Deveríamos manter essa verdade diante de nós em todo o
tempo: Você servirá a quem você teme! Se você teme a Deus, você
obedecerá a Deus. Se você teme o homem, você no final das
contas obedecerá aos desejos do homem. Muitas vezes nos
preocupamos mais em não ofender a pessoa que está diante de nós
do que em não ofender Aquele a quem não vemos fisicamente, em
especial se desejamos o amor ou a amizade de uma pessoa. Por
essa razão, nos é dito: “Quem teme ao homem cai em armadilhas”
(Pv 29:25) — uma armadilha na qual Ananias e Safira sem dúvida
caíram.
Posso apenas imaginar que um encontro com os líderes crentes
alimentou o fogo de Paulo, compelindo-o a escrever estas palavras
de confronto mais tarde nessa mesma carta: Quando, porém, Pedro
veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável.
Pois, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com
os gentios. Quando, porém, eles chegaram, afastou-se e separou-se
dos gentios, temendo os que eram da circuncisão. Os demais
judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até
Barnabé se deixou levar.
Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do
Evangelho, declarei a Pedro, diante de todos: “Você é judeu, mas vive
como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios a
viverem como judeus?”
— Gálatas 2:11-14

Pedro, Barnabé e os outros cristãos judeus tinham medo da


reprovação daqueles a quem respeitavam. O desejo deles de
aceitação levou a um comportamento hipócrita — primeiro por parte
de Pedro e depois dos outros. A imagem projetada deles assumiu a
precedência sobre a integridade, levando assim a um
comportamento que não era santo. Outra versão de Provérbios
29:25 nos diz: “É perigoso estar preocupado com o que os outros
pensam a seu respeito” (GNT).
Paulo, que mantinha sua integridade, repreendeu Pedro
pessoalmente, juntamente com Barnabé e os outros que cederam à
pressão dos judeus. Paulo foi rápido em apontar que se os líderes
judeus conservadores estivessem ausentes, Pedro e companhia
viviam de acordo com a verdade, com a sua imagem real. Eles
haviam sido revestidos de poder para serem verdadeiros
representantes de Jesus Cristo — para aceitar, amar e ter
comunhão com os novos crentes gentios. Mas quando a dinâmica
mudava, Pedro e seus amigos assumiam outra postura para projetar
uma imagem que agradasse a seus contemporâneos. As
consequências do comportamento deles não estavam edificando,
mas prejudicando.
Pedro é um santo; ele está no céu. No entanto, este é um
exemplo das motivações, palavras e ações más ou nocivas que
serão examinadas no Tribunal de Cristo. Se vivermos com o objetivo
consistente de agradar a Jesus, não passaremos a ser controlados
pela maneira como os outros nos percebem; em vez disso,
viveremos na verdade. Esse é um aspecto importante da verdadeira
santidade. Leia isto com atenção: Pois a palavra de Deus é viva e
eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela
penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga
os pensamentos e intenções do coração. Nada, em toda a criação,
está oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e exposto
diante dos olhos Daquele a quem havemos de prestar contas.
— Hebreus 4:12-13
Você digeriu estas palavras? Se você as leu rapidamente, sem
dar atenção, por achar que já as conhecia, releia-as lentamente e
reflita sobre cada afirmação.
Observe que a Palavra de Deus penetra profundamente nos
nossos pensamentos e desejos mais íntimos. Se for ouvida e
obedecida, ela nos protege do autoengano — como o pensamento
O Senhor não nos vê, que gera um comportamento ímpio ou não
santo.
Dar ouvidos atentamente à Palavra de Deus mantém o temor do
Senhor ativo em nosso coração. E permite que estejamos
totalmente cientes do fato de que “nada, em toda a criação, está
oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e exposto diante
dos olhos Daquele a quem havemos de prestar contas” (Hb 4:13).
Agora temos uma melhor compreensão da razão pela qual o
Espírito Santo nos aconselha: Meu filho, se você aceitar as Minhas
palavras e guardar no coração os Meus mandamentos; se der
ouvidos à sabedoria e inclinar o coração para o discernimento; se
clamar por entendimento e por discernimento gritar bem alto, se
procurar a sabedoria como se procura a prata e buscá-la como
quem busca um tesouro escondido, então você entenderá o que é
temer ao Senhor e achará o conhecimento de Deus.
— Provérbios 2:1-5

É muito sábio guardarmos a Sua Palavra no nosso interior — o


lugar que governa as nossas motivações e intenções. Quando
encaramos a Palavra de Deus como o maior tesouro a ser
encontrado e obedecemos ao que é revelado, entramos na zona de
segurança. Quando procuramos ardentemente conhecer os Seus
caminhos como se não existisse recompensa superior, então
conhecemos e entendemos o temor do Senhor e evitamos o engano
de projetar uma imagem falsa. Agora temos o poder para viver pela
integridade e pela verdade e plantamos os nossos pés com
segurança na estrada (caminho) da santidade.

Personalizando

Passagem: “Ao Senhor dos Exércitos é que vocês devem considerar santo, a Ele é que
vocês devem temer, Dele é que vocês devem ter pavor. Para os dois reinos de Israel Ele
será um santuário, mas também uma pedra de tropeço, uma rocha que faz cair. E para
os habitantes de Jerusalém Ele será uma armadilha e um laço” (Is 8:13-14).

Ponto: Você servirá a quem você teme. Se você teme a Deus, você obedecerá a Deus.
Se você teme o homem, no final das contas obedecerá aos desejos do homem. Se você
procura obedecer aos desejos dos outros, não poderá mais ser um verdadeiro servo de
Jesus Cristo.

Pondere: Por que eu me esforço mais para não ofender a pessoa que está diante de
mim do que Aquele a quem não vejo fisicamente? Por que eu desejo mais o amor, a
aceitação e a amizade das pessoas do que de Deus? Como posso mudar isso?

Pare para orar: Querido Pai celestial, eu Te peço que me perdoes pelas vezes em que
procurei a aprovação dos outros em lugar da Tua aprovação. Jesus, eu me arrependo
por buscar a popularidade junto às pessoas acima da Tua aprovação. Escolho ser santo,
separado para Ti. Deste momento em diante, Tu és Aquele a quem procurarei agradar.
Em nome de Jesus, amém.

Professe: Sou um servo de Cristo. Busco a aprovação Dele acima da aprovação dos
outros.
Onde quer que o temor de Deus
governe o coração, ele aparecerá
tanto em obras de caridade quanto
de piedade, e nenhuma delas nos
isentará da outra.
— MATTHEW HENRY
Semana 3 — Dia 2

16 | O ENGANO DE
PENSAR QUE TEMOS
DIREITO A ERRAR

O livro de Gálatas foi escrito por volta de 49 d.C., de modo que


podemos concluir que a correção de Paulo a Pedro e aos outros
líderes judeus ocorreu antes dessa época. Mais de uma década
mais tarde, aproximadamente 63 d.C., Pedro escreveu sua primeira
epístola. Estou certo de que o confronto, que chegou ao
conhecimento de toda a igreja da Galácia, ainda estava vívido na
sua memória quando ele escreveu estas palavras: Como filhos
obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora,
quando viviam na ignorância... Uma vez que vocês chamam Pai
aquele que julga imparcialmente as obras de cada um, portem-se
com temor durante a jornada terrena de vocês.
— 1 Pedro 1:14,17

É óbvio que Pedro está escrevendo aos cristãos — àqueles que


negaram a si mesmos, que estão crucificados para o mundo e que
estão totalmente dedicados a seguir Jesus. Qualquer forma de
conversão fora desse fundamento não é autêntica (Mt ١٦:٢٤; Mc
٨:٣٤; Lc ٩:٢٣; Gl ٦:١٤). A partir do momento em que a regeneração
acontece, uma natureza divina é formada dentro de nós. Render-se
a essa natureza nos liberta do governo dos nossos sentidos, e
somos revestidos de poder para fazer isso mediante Seu Espírito e
pela Palavra revelada de Deus (2 Pe 1:4).
O apóstolo nos adverte para não voltarmos a viver de acordo com
os nossos próprios desejos que nos controlavam anteriormente. Um
dos anseios mais fortes que precisamos negar e crucificar é a
necessidade de autopreservação. Essa é a motivação principal que
está por trás da necessidade de nos projetarmos para sermos
percebidos favoravelmente pelos outros — em outras palavras, o
temor do homem. Isso impulsionou não apenas o comportamento
prejudicial de Pedro como também o de Ananias, Safira, Barnabé e
outros.
Pedro adverte que seremos julgados desfavoravelmente, seja
nesta vida ou na próxima, se cedermos a esses anseios. De forma
oposta, seremos recompensados por seguirmos firmemente aos
desejos de Deus. Em meio a essas instruções, ele faz uma séria
advertência: Deus não tem favoritos. Vamos considerar o que
poderia estar por trás desse comentário.
O apóstolo recebeu de Jesus um ministério poderoso. Ele era um
dos principais líderes da Igreja Primitiva, porém, anos antes,
enquanto estava em Antioquia, ele e seus companheiros líderes
judeus caíram na armadilha da autopreservação. Talvez o confronto
revelador de Paulo tenha estimulado uma avaliação honesta dos
seus próprios motivos e atos. Basicamente, Pedro teve um
confronto direto com o “porquê” por trás da sua hipocrisia.
Nesse confronto direto, talvez ele tenha refletido sobre o
comportamento errôneo de outros líderes bíblicos, como o rei Saul e
o rei Davi. Saul desobedeceu a uma ordem direta do céu a fim de
conquistar o favor do seu exército — o temor do homem. Davi
cometeu adultério, depois assassinou o marido da mulher para
salvar a sua reputação — o temor do homem. Ambos os líderes
foram confrontados e ambos trouxeram formas de juízo sobre si
mesmos. No caso de Saul, ele perdeu o reinado. No caso de Davi, a
espada jamais deixaria sua casa. Caindo na armadilha de pensar
que eram favorecidos por Deus, ambos comprometeram os limites
pessoais saudáveis e consequentemente se desviaram para um
comportamento ímpio ou desobediente.
Pedro estava ciente do quão facilmente isso pode ocorrer. Ele
nos advertiu a evitarmos o pensamento de que “temos direito a
errar” e fugirmos de pensamentos que achamos que nos isentarão
do juízo, como: “Eu trabalho diligentemente para Deus”, ou “Eu dei
muito para edificar o Reino de Deus”, ou “Passei anos intercedendo
em oração”, ou “Realizei muito como líder da igreja”. Vamos encarar
os fatos — esses raciocínios enganosos são intermináveis, mas
todos eles se resumem em: Eu tenho passe livre para errar. Essa
mentalidade abandona o tesouro do santo temor.
Pedro começou a compreender mais plenamente o peso da
afirmação de Jesus quando Ele disse: “Assim também vocês,
quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer:
‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’” (Lc
17:10). A palavra grega para “inúteis” é definida como “alguém que
não merece elogio especial, indigno de elogio particular”.1 Por mais
diligentes que tenhamos sido ao servir a Deus, nunca devemos cair
em uma atitude de achar que temos direito a tudo. Essa é a
mentalidade enganosa que aprisiona facilmente a todos nós,
especialmente os líderes.
Em suas cartas, Pedro agora está escrevendo com experiência e
revelação. Ele sabe que o antídoto para o temor do homem é viver
em temor reverente a Deus. Mais uma vez, isso fala de profundo
respeito e admiração. Ele está nos dando a chave que nos
posiciona para sermos recompensados por Deus, em vez de sermos
julgados desfavoravelmente.
Sob esse enfoque, se examinarmos o ensinamento de Jesus
sobre “a porta estreita e o caminho apertado”, é enfatizada uma
realidade estarrecedora que muitos deixam passar.
Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva
à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e
apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram.
— Mateus 7:13-14
Jesus fala da porta estreita, que a maioria das pessoas acredita
que é a entrada para a vida eterna através do senhorio de Jesus. Eu
concordo.
Entretanto, descobri que muitos pensam que “o caminho” (ou
estrada) é o caminho do incrédulo que leva à destruição. Mas se
você olhar com atenção, verá que Ele provavelmente não está
falando do caminho antes de encontrarmos a porta, mas do caminho
depois de passarmos por ela. Leon Morris escreveu: “Entramos pela
porta bem no começo (isto é, nos comprometemos a seguir a
Cristo), após a qual seguimos o caminho que está diante de nós”.2
Jesus está falando da nossa vida Nele depois que somos salvos.
Ele declara que ela é difícil (ou estreita).
A graça, que é tão popular na nossa igreja ocidental, alargou
esse caminho. Ela proclama: “Todos os nossos pecados, passados,
presentes e futuros, estão perdoados”. Isso é verdade no contexto
adequado, mas geralmente é dito de forma a pensarmos que
podemos viver a vida larga, não muito diferente do mundo perdido, e
ainda estarmos em comunhão com Deus. Isso não é verdade, pois o
restante das palavras dos escritos de Pedro afirma: Como filhos
obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora,
quando viviam na ignorância. Mas, assim como é santo Aquele que
os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem,
pois está escrito: “Sejam santos, porque Eu sou santo”.
— 1 Pedro 1:14-16

A santidade não é uma recomendação opcional, mas uma ordem


impositiva. Somos sábios em dar ouvidos logo de cara, mas loucos
se encararmos levianamente as ordens de Deus. Além do mais,
Pedro não está falando sobre a nossa posição em Cristo, mas sobre
os nossos atos. Devemos viver em phóbos (santo temor) para
atingir esse estilo de vida. Deus nos deu duas grandes forças para
nos ajudar a ficarmos à margem das valas que poderiam nos
aprisionar de qualquer dos lados do caminho estreito. A primeira
vala é o legalismo e a segunda é a impiedade.
Muitos na igreja estavam na vala do legalismo anos atrás.
Naqueles dias, a santidade girava em torno das exigências de um
estilo de vida criado pelo homem e não eram bíblicas. Eles
pregavam um falso evangelho de salvação pelas obras. Era um
cativeiro terrível e levou muitos ao ressentimento, e alguns até
abandonaram a fé. Uma revelação importante nos libertou desse
horrível fosso: Deus é um bom Deus. O amor do nosso Pai celestial
se tornou real e arrancou muitos para fora da vala do legalismo.
Mas nós fizemos aquilo que os seres humanos costumam fazer
— decidimos nos afastar tanto do fosso do legalismo que nos
desviamos para o lado oposto e caímos na vala da impiedade. Essa
vala nos aprisionou na crença antibíblica de que somos salvos por
uma graça que permite que vivamos de uma maneira que não difere
em nada do restante do mundo — agora podemos viver de acordo
com os desejos que vêm dos nossos sentidos, em vez de viver de
uma vida crucificada que resulta do poder de Cristo em nosso
interior. Essa é uma mentira que impede muitos de experimentarem
a presença, a bênção e o poder de Deus.
A santidade não é um cativeiro; em vez disso, ela é a verdadeira
liberdade que abre o caminho para desfrutarmos tanto de Deus
quanto desta vida. Fomos chamados para viver uma vida digna
Daquele que nos resgatou e é pelo temor do Senhor que andamos
nela. Vamos desenvolver essa verdade nos nossos próximos
capítulos.

Personalizando

Passagem: “E ali haverá uma grande estrada, um caminho que será chamado Caminho
de Santidade. Os impuros não passarão por ele; servirá apenas aos que são do
Caminho; os insensatos não o tomarão” (Is 35:8).

Ponto: O amor de Deus nos protege da vala do legalismo. De forma oposta, o temor do
Senhor nos protege da vala da impiedade. O santo temor me empodera para
permanecer no caminho da verdadeira santidade.
Pondere: De que forma(s) eu ignoro o santo temor e tolero um comportamento ímpio em
minha vida? De que maneira o meu serviço no Reino me deu permissão para ignorar a
ordem de ser santo como Deus é santo? De que maneira a ideia de que “eu tenho um
passe livre” para errar fez com que eu errasse e caísse na vala da impiedade?

Pare para orar: Querido Senhor, perdoa-me por presumir que estou isento de
julgamento devido ao meu serviço no Teu Reino. Eu me arrependo por isto e dou
ouvidos à Tua ordem de ser santo como Tu és santo. Escolho abraçar o Teu amor por
mim, mas também o santo temor de Ti. Ao escolher ambos, a Tua Palavra promete que
permanecerei no caminho que leva à vida. Em nome de Jesus, amém.

Professe: Decido ser santo assim como Deus é santo!


Filhos, temam a Deus,
isto é, sejam tomados de uma
reverência santa
sobre suas mentes para evitar o que
é mau,
e o cuidado rigoroso de abraçar e
fazer o que é bom.
— WILLIAM PENN
Semana 3 — Dia 3

17 | AFASTE-SE
DO MAL

O temor do Senhor é um dom do nosso amoroso Pai celestial que


nos protege para não nos afastarmos de Jesus. Ele é a fonte da
vida, do amor, da alegria, da paz, da bondade e da esperança
eternos, e de todas as suas muitas maravilhas. Afastar-se Dele é ir
em direção à morte, às trevas e, por fim, à sepultura eterna.
Aprendemos que “Com o temor do Senhor, o homem evita o mal”
(Pv 16:6).
Deixe-me compartilhar quando essa verdade se tornou real para
mim. Em fins dos anos 1980 a corrupção de um evangelista popular
na TV foi amplamente publicada. Ele era um dos indivíduos mais
famosos do mundo, mas pelas razões erradas. Na época, seu
ministério era o maior globalmente, tanto em alcance quanto nas
finanças, mas sua grande fama aumentou quando praticamente
todas as maiores fontes de notícias relataram diariamente a saga
dos seus crimes, o julgamento que se seguiu, o veredito e
finalmente sua prisão.
Ele foi condenado a quarenta e cinco anos em uma penitenciária,
mas uma apelação posterior reduziu a pena para cinco anos. Em
1994, seu quarto ano na prisão, minha assistente recebeu um
telefonema inesperado. Embora eu fosse desconhecido para ele,
alguém havia lhe dado o meu primeiro livro, Vitória no Deserto
(agora com o título Deus, Cadê Você?!). Ele o leu na prisão e foi
profundamente impactado. Então pediu à sua assistente para entrar
em contato comigo para ver se eu poderia ir visitá-lo.
Fui até ele um dia, e jamais me esquecerei desse encontro.
Aquele homem entrou na área de visitantes com seu uniforme de
presidiário, aproximou-se de mim, estendeu os braços e me deu um
abraço apertado que durou cerca de um minuto. Então ele segurou
meus ombros, olhou para mim com lágrimas nos olhos e perguntou
sinceramente: — Foi você quem escreveu o livro ou foi um ghost
writer?1
— Eu o escrevi. Já passei por sofrimentos, mas nem de longe
iguais aos seus — respondi.
Então ele disse: — Temos tantas coisas para conversar e só
temos noventa minutos.
Eu ainda estava um pouco desconfiado, uma vez que era a
primeira vez que o encontrava. Aquele homem havia sido tão
humilhado e difamado que sinceramente eu não sabia com quem
estava conversando. Mas quando nos sentamos, ele me desarmou
com seu primeiro comentário. Olhando nos meus olhos, ele disse:
— John, esta prisão não foi o juízo de Deus sobre a minha vida; foi
a misericórdia Dele. Se eu continuasse andando pelo caminho onde
estava, eu teria acabado no inferno para sempre.
Àquela altura, ele tinha toda a minha atenção. E continuou a falar
sobre o quanto era mau e acerca do grande livramento de Deus
sobre a sua vida. Não demorou muito para perceber que eu estava
falando com um homem de Deus sincero, quebrantado e contrito.
Ele seguiu em frente, dizendo como Deus o havia libertado das
trevas no primeiro ano da sua sentença na prisão.
Eu soube que todos os dias ele passava horas, tanto
pessoalmente quanto em grupo, lendo a Bíblia e orando. Ele
compartilhou com entusiasmo sobre a igreja deles na prisão e o
homem que os pastoreava, que também era um prisioneiro.
Sentindo que ele estava mais bem qualificado, perguntei por que ele
não era o pastor. Sua explicação foi de que não queria fazer parte
da liderança até que sua transformação estivesse completa. Ele
disse: — John, eu fui um mestre da manipulação, e não quero dar
chance para isso voltar à tona.
Cerca de um ano depois, ele provou que sua afirmação era
verdadeira. Quando foi solto da prisão, nessa época, ele entrou para
uma organização missionária no centro de Los Angeles. Aquele
homem ficou fora de visibilidade por dois anos, cuidando dos
desabrigados nas ruas. Ele amava isso porque as pessoas de rua
estavam entre os poucos no país que não faziam ideia de quem ele
era.
Depois de cerca de vinte minutos ouvindo, eu me senti
confortável o suficiente para fazer algumas perguntas. Comecei com
a maior pergunta na qual eu pude pensar: — Quando foi que você
perdeu a sua paixão por Jesus?
Fiz essa pergunta porque anteriormente, no seu ministério, seu
amor por Jesus era algo que irradiava dele. Todos os que o ouviam
podiam testemunhar de seu fogo e paixão. Então quis saber quando
o seu amor esfriara e, ainda, o que havia causado isso.
Olhando dentro dos meus olhos, com grande sinceridade, ele
respondeu: — Eu não perdi a minha paixão por Jesus.
Fiquei chocado e um pouco zangado com aquele comentário.
Como ele ousa dizer isto?, pensei. Imediatamente retruquei: — O
que você está dizendo? Você cometeu adultério sete anos antes de
ser processado pela fraude nos correios que finalmente o colocou
nesta penitenciária. Como você pode me dizer que amou Jesus
durante esses sete anos?
Sem parar de olhar nos meus olhos, ele disse calmamente: —
John, eu amava Jesus esse tempo todo.
Minha perplexidade era óbvia. Ele fez uma pausa, então disse: —
John, eu não temia a Deus.
Ele fez outra pausa, em seguida explicou um pouco mais o que
queria dizer: — Eu amava Jesus, mas não temia a Deus.
Fiquei sem palavras e perplexo e, muito francamente, eu estava
chocado com o que havia acabado de ouvir. Houve silêncio por uns
bons quinze segundos, com a minha mente processando suas
palavras o tempo todo. Então ele fez a declaração que ainda ressoa
em meu ser: — John, existem milhões de cristãos exatamente como
eu — eles amam Jesus, mas não temem a Deus.
Foi como se Deus tivesse falado diretamente através dos seus
lábios. De repente, muitas perguntas foram respondidas através
daquela afirmação. Eu estava atordoado, e a maior ficha que caiu
naquele momento foi o fato de que a sua história colocou em
palavras a causa e a raiz do imenso afastamento da fé em meu
país. Infelizmente, a apostasia predominante na época vem
aumentando consideravelmente desde então.
A Bíblia deixa isso claro — o ponto de partida para conhecer a
Deus intimamente é o temor do Senhor. Sem isso, desenvolvemos
um relacionamento falso com uma cópia barata de Jesus — um
Jesus que não é o Senhor da glória. Assim, lamentavelmente
cremos em um salvador que não corresponde à realidade. Irei
abordar essa verdade em grande profundidade mais tarde no livro.
Mas deixe-me primeiro dar evidências do que afirmo com dois
exemplos rápidos.
Enquanto escrevo, justamente nesta semana, tomei
conhecimento da notícia dolorosa de uma mulher que conheço
desde que ela era uma garotinha. Ela foi criada na fé e professava
ser uma seguidora de Jesus, mas vivia uma vida promíscua, com a
reputação de ser “fácil” entre os homens. Recentemente, ela postou
no Instagram que Jesus estava segurando sua mão durante todo o
processo de aborto de seu bebê. A qual Jesus ela estava se
referindo?
Outra mulher, que era casada com um homem temente ao
Senhor, me disse descaradamente que Jesus lhe prometeu que
cuidaria dela se ela decidisse divorciar-se de seu marido. Ela fez
isso e deixou um rastro de devastação em seu marido, filhos, família
e amigos. A razão dela para o divórcio não foi escandalosa; ela
simplesmente não o amava mais. Não houve abuso, nem
imoralidade, nem problemas financeiros — tudo isso saiu direto da
sua boca. Na verdade, ela me disse que ele era um marido e pai
bondoso e cuidadoso. A qual Jesus ela estava se referindo?
Esses são apenas dois de inúmeros exemplos que eu poderia dar
de pessoas que professam ter um relacionamento com Jesus, mas
vivem de uma maneira que declara o contrário. Como essas duas
pessoas, e muitas outras, podem estar tão enganadas? Creio que
seja pela falta do santo temor.
Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas em
minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em
ação a salvação de vocês com temor e tremor.
— Filipenses 2:12
Paulo não escreve que deveríamos amadurecer na nossa
salvação com amor e bondade. Muitos afirmariam que essas duas
mulheres eram amorosas e bondosas. Eles confirmariam os anos de
frequência à igreja de ambas e a declaração delas de serem leais a
Jesus. Mas como elas podem mergulhar de cabeça em um
comportamento tão ímpio? Falta-lhes o que faltava àquele
evangelista famoso. É pelo temor do Senhor que nos afastamos do
mal, e não pelo amor que sentimos por Ele. O amor de Deus nos
atrai para Ele; o temor de Deus nos afasta do mal que procura nos
destruir.

Personalizando

Passagem: “Temer ao Senhor é odiar o mal; odeio o orgulho e a arrogância, o mau


comportamento e o falar perverso” (Pv 8:13).

Ponto: O desvio não ocorre no momento em que a pessoa se encontra na cama com
alguém com quem não tem uma aliança de casamento. Ele não começa no momento em
que a pessoa se vê desviando dinheiro do seu chefe. Ele começa muito antes, quando
começamos a tolerar as coisas das quais Jesus deu a Sua vida para nos libertar. Existe
algo do qual Jesus morreu para me libertar e que eu tenho tolerado?

Pare para orar: Querido Senhor, eu Te peço que me perdoes por tolerar o pecado, não
apenas na minha vida, mas na vida dos cristãos com quem eu me relaciono. Perdoa-me
por não os confrontar gentilmente e com um coração amoroso para que eles não
continuem no caminho errado. Eu me arrependo por essa tolerância. Obrigado por me
perdoar. Em nome de Jesus, amém.

Professe: Vou amar as pessoas porque Deus ama as pessoas. Vou odiar o pecado que
destrói as pessoas a quem amo.
Meus passos seguem firmes nas
Tuas veredas;
meus pés não escorregaram.
— SALMOS 17:5
Semana 3 — Dia 4

18 | LONGEVIDADE

Depois das duas experiências extraordinárias em 1994 — a


conferência na igreja onde minha mensagem sobre temer a Deus foi
corrigida e a visita ao famoso evangelista da tevê na prisão — uma
paixão por entender e crescer no santo temor foi acesa dentro de
mim. Esses dois acontecimentos me trouxeram mensagens
semelhantes, mas de duas perspectivas diferentes.
Aquela igreja, que era a maior e mais influente da região, não
existe mais. E o seu pastor, que ensinava que os cristãos do Novo
Testamento não precisam temer a Deus, não está mais no
ministério. O pastor que conheci na prisão perdeu seu
megaministério, mas desde que descobriu e abraçou o santo temor,
permaneceu na rota de servir fielmente a Deus e às pessoas.
Atualmente ele tem uma organização ministerial diferente que está
influenciando muitas vidas.
Esses dois incidentes não relacionados revelam como o temor do
Senhor é crucial para evitarmos o mal que nos seduz e que poderia
encurtar nosso mandato como embaixadores de Cristo. Podemos
resumir isso em uma palavra: longevidade. Recentemente, um
pastor respeitado compartilhou comigo sua conversa com um
professor de uma universidade bíblica que, através de pesquisas
exaustivas, estudou os personagens bíblicos a quem Deus chamou
e comissionou. Ele descobriu que 75 por cento dos mensageiros
escolhidos tiveram a sua eficácia encurtada, e muitos deles não
terminaram bem. Considerando as tragédias no ministério dos dias
atuais unidas à pesquisa desse ministro, a longevidade é o desafio
que todos nós precisamos levar mais a sério.
No fim dos anos 1990, a importância do santo temor com relação
à longevidade seria confirmada ainda por outra experiência
significativa e pela revelação que resultaria dela. Eu estava
ministrando em Kuala Lumpur, na Malásia. Era o décimo e último
culto, e a reunião estava lotada de crentes que haviam viajado de
toda a nação para estarem ali. Ao concluir a mensagem, muitos
responderam ao chamado para se dedicarem ao ministério. Uma
multidão de quatro a cinco fileiras se colocou de pé diante da
imensa plataforma para receber oração.
Comecei a descer os degraus da plataforma, quando de repente
a presença de Deus se manifestou inesperadamente no auditório de
uma forma tangível e significativa. Ela era marcada pelo Seu amor e
alegria. Os que estavam diante de mim começaram a sorrir, o que
logo se transformou em riso, e essa alegria se espalhou
rapidamente até que todos na frente foram afetados por ela. Parecia
que o Abba Pai decidira trazer refrigério sobre os Seus filhos. Não
demorou muito para entender que eu não precisava fazer nada, de
modo que apenas me sentei na beirada da plataforma e observei
Deus fortalecendo e abençoando Seus filhos.
Depois de cinco a sete minutos, Sua bela presença se elevou,
deixando uma quietude no ambiente. Todos nós ficamos em
silêncio, desfrutando daquela paz notável no auditório. Entretanto,
dali a pouco, a presença de Deus se manifestou de uma forma
diferente, de uma forma que me fez lembrar do Brasil. Levantei-me
na expectativa de uma mudança. Ela foi ficando cada vez mais forte;
não havia vento soprando dessa vez, mas Sua autoridade e Sua
magnificência eram inconfundivelmente reais. Os que estavam rindo
momentos antes, sem que nenhuma direção fosse dada,
irromperam quase que simultaneamente em pranto e clamor, alguns
deles intensamente.
A presença ficou mais forte e o pranto se intensificou ainda mais.
Foi como se aquelas pessoas asiáticas naturalmente silenciosas
estivessem sendo batizadas no fogo de Deus. Mais uma vez, não é
possível descrever a grandeza da manifestação; e o ponto mais
importante não é este — compartilhar esse momento sagrado — e
sim esplendor da Sua presença. Ela aumentou a ponto de eu pensar
que não poderíamos mais suportar.
Nesse encontro, passei a ter uma firme consciência da diferença
entre a nossa alma e o nosso espírito. Aprendemos que a Palavra
de Deus “divide alma e espírito” (Hb 4:12). Minha mente (alma)
estava pensando: Não consigo mais suportar! Deus, isso é demais!
Mas o meu coração (espírito) estava clamando: Deus, por favor, não
se vá, por favor, não pare!
Mais uma vez, pensei: John Bevere, se você fizer um único
movimento errado, se disser uma única palavra errada, você é um
homem morto. Assim como no Brasil, não sei dizer com certeza se
isso teria acontecido, mas eu sabia que a irreverência não seria
tolerada naquela atmosfera.
Aquela manifestação da Sua presença cheia de esplendor durou
de três a quatro minutos e depois elevou-se. Quando isso
aconteceu, sem que fosse dada qualquer direção, as pessoas
ficaram em silêncio ao mesmo tempo outra vez. Eu permaneci
quieto por vários minutos naquela calma e paz que tomaram conta
do lugar.
Quando estávamos saindo do prédio, o ambiente era solene,
silencioso e reverente. Parei para fazer contato com um homem e
sua esposa, da Índia; ambos estavam grandemente impactados
com a presença de Deus. Nós apenas nos olhamos atônitos e em
silêncio por alguns instantes, e então ela disse suavemente: “John,
eu me sinto tão limpa por dentro”. Seu marido concordou.
Quando ela disse essas palavras, meu coração saltou.
Finalmente, alguém articulou com exatidão o que eu havia sentido
no Brasil e agora na Malásia. Respondi, controlando a emoção: “Eu
também”. Não conversamos mais, mas a afirmação daquela mulher
continuou a reverberar em mim pelo resto da noite.
Na manhã seguinte, eu estava no hotel me preparando para jogar
basquete com os jovens da equipe ministerial da igreja e da escola
bíblica. De repente, ouvi o Espírito Santo dizer ao meu coração:
“Filho, leia o Salmo 19”.
Peguei a minha Bíblia, abri na passagem e comecei a ler. Quando
cheguei ao versículo 9, li: O temor do Senhor é puro, e dura para
sempre.
— Salmos 19:9
Gritei no meu quarto: “É isso! Aqui está!”. Eu estava maravilhado;
era exatamente isso que a mulher havia me dito no dia anterior.
Havia uma sensação de limpeza indescritível, uma pureza profunda
que sentimos em nossas almas.
Então as palavras “e dura para sempre” saltaram da página. O
Espírito Santo imediatamente falou ao meu coração: Filho, Lúcifer
dirigia a adoração diante do Meu trono. Ele dirigia todo o exército do
céu como havia sido ordenado e ungido para fazer. Ele era próximo
a Mim, contemplava a Minha glória, mas não me temia; portanto, ele
não permaneceu diante do Meu trono para sempre (Ez 28:13-17).
Um terço dos anjos que contemplavam a Minha glória se alinharam com
Lúcifer. Eles não Me temiam, eles não permaneceram na Minha presença
para sempre (Ap 12:4,7).
Adão e Eva andavam na Minha presença gloriosa na viração do dia. Eles
não Me temeram, eles não permaneceram no jardim do Éden para sempre.
Filho, todo ser criado que cerca o Meu trono por toda a eternidade terá
passado pelo santo teste do temor do Senhor (Gn 3:8).
Meus olhos se abriram para essa verdade. Comecei a pensar em
todos os pastores cuja eficácia no ministério foi encurtada ou que
não terminaram bem. Muitos começaram de maneira apaixonada,
amavam a Jesus profundamente, obedeciam e se sacrificavam para
ministrar ao povo de Deus, mas se tornaram saturados, céticos e
muitos abandonaram o ministério. Eles não permaneceram.
Outros ainda estavam no ministério, mas o usavam como um
meio de lucro e para vários outros propósitos egocêntricos. Alguns
se tornaram predadores sexuais, usando suas posições de liderança
para seduzir mulheres inocentes. Alguns se tornaram consultores e
cobravam valores exorbitantes para criar mensagens enganosas
que seriam usadas por certos ministros que desejavam manipular
seus seguidores a fim de que dessem grandes ofertas. Outros
mentiram sobre palavras proféticas de Deus, encontrando maneiras
de descobrir informações dos indivíduos a quem supostamente
estavam ministrando, e depois proclamando essas informações
como se elas tivessem sido reveladas por Deus. A lista de
comportamentos corruptos é quase interminável.
Como esses que começam tão puros terminam tão poluídos? Por
que não existe longevidade na eficácia? É pela falta do santo temor.
Aquilo em que Jesus tinha prazer é considerado coisa banal ou até
evitado, como foi o caso do pastor no sudeste dos Estados Unidos.
O que Deus chama de “Seu tesouro”, eles convencem a si mesmos
e a outros a deixarem de lado. Mas ouça a Palavra de Deus com
relação ao santo temor e à longevidade: Aleluia! Como é feliz o
homem que teme o Senhor!... a sua justiça dura para sempre... para
sempre se lembrarão dele.
— Salmos 112:1,3,6
Não temos de passar por tragédias para descobrir o quanto o
santo temor é importante. Por favor, por amor à glória de Deus e à
sua longevidade, faça do santo temor o seu tesouro.

Personalizando

Passagem: “Mas o amor leal do Senhor, o Seu amor eterno está com os que O temem,
e a Sua justiça com os filhos dos seus filhos” (Sl 103:17).

Ponto: Todos os seres criados que cercam o trono de Deus por toda a eternidade serão
aqueles que O temem.

Pondere: Um dos aspectos de viver bem é terminar bem. O temor do Senhor dura para
sempre. Como posso fazer do santo temor um elemento básico em minha vida? De que
formas práticas posso manter o santo temor como um filtro em tudo o que digo ou faço?
Pare para orar: Querido Pai celestial, a Tua Palavra diz que Tu és poderoso para me
impedir de cair e Tu me levarás com grande alegria à Tua gloriosa presença sem uma
única falha. Sei que é a obra redentora do meu Senhor Jesus, acompanhada pelo fato
de eu abraçar o santo temor, que garante esse relacionamento eterno. Que o santo
temor permaneça dentro de mim todos os dias para que eu possa viver para sempre na
Tua presença. Eu Te peço isso em nome de Jesus, amém.

Professe: Em santo temor, permanecerei na casa do Senhor, na Sua presença, para


sempre.
Se você não se deleita no fato
de que seu Pai é santo, santo, santo,
então você está espiritualmente
morto.
Você pode estar em uma igreja.
Você pode frequentar uma escola
cristã.
Mas se não houver prazer na sua
alma pela santidade de Deus, você
não conhece a Deus. Você não ama
a Deus.
Você não está em contato com
Deus. Você está adormecido para o
caráter Dele.
— R. C. SPROUL
Semana 3 — Dia 5

19 | PURIFIQUEMO-NOS

“O temor do Senhor é puro, e dura para sempre” (Sl 19:9). O


salmista apresenta dois frutos notáveis do santo temor que não
devem ser ignorados ou menosprezados: pureza e longevidade.
Vamos examinar o primeiro, e trataremos do segundo em um
capítulo posterior. Paulo escreve: Amados, visto que temos essas
promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo e o
espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.
— 2 Coríntios 7:1
Aqui vemos a mesma verdade que o salmista comunica, mas em
maior profundidade. Quero primeiramente apontar que a santidade
amadurece através do temor do Senhor, e não do amor a Deus.
Lembre-se do evangelista popular que vivia um estilo de vida ímpio,
enquanto ao mesmo tempo amava a Jesus. Quando abraçou o
santo temor, ele se purificou e saiu livre das antigas impurezas. Isso
por sua vez o levou a um relacionamento mais autêntico com Jesus,
um relacionamento maior do que ele conhecera antes. O que ele
aprendeu pela experiência, nós também vemos na Bíblia.
Como já afirmamos, a santidade não é o assunto mais popular
em nossos dias. Para muitos, ela carrega um gosto ruim porque não
é divertida e coloca um amortecedor na vida. Ela é vista como um
cativeiro legalista ou como uma virtude que é nobre, mas inatingível.
C. S. Lewis abordou essa ignorância ao escrever: “Quão pouco
sabem as pessoas que pensam que a santidade é entediante.
Quando uma pessoa encontra o que é real... ela é irresistível”.1
Portanto, prepare-se para o irresistível enquanto mergulhamos.
Como mencionei anteriormente, a definição principal de santidade
é “separação para Deus”, e isso certamente inclui pureza. Pense em
uma noiva. Ela se separa para o seu marido, o que inclui recusar-se
a desejar outros amores ou envolver-se com eles. Isso representa o
aspecto da pureza da santidade. Mesmo assim, Paulo nos diz para
nos purificarmos. Ele não diz: “O sangue de Jesus vai nos purificar”.
Entretanto, deixe-me esclarecer este ponto: o sangue de Jesus
realmente nos purifica de todo pecado; no entanto, ficamos
confusos quando misturamos a obra da justificação com a obra da
santificação.
Quando nos arrependemos e recebemos a Jesus Cristo como
nosso Senhor, os nossos pecados são perdoados e somos
completamente lavados. Deus sepulta nossos pecados no mar do
esquecimento. Ele não se lembra deles! Essa obra é completa,
perfeita e não pode ser aperfeiçoada. Não fizemos nada para
merecer essa incrível realidade; ela foi um presente de Deus. Essa
é a obra da justificação.
Mas no instante em que recebemos a justificação, a obra da
santificação (santidade) começa. É quando o que foi feito dentro de
nós é posto em ação do lado de fora; nossa nova natureza inicia
uma mudança na realidade exterior em nosso modo de viver. É
exatamente disso que Paulo fala ao escrever: Ponham em ação a
salvação de vocês com temor e tremor,
pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar,
de acordo com a boa vontade Dele.
— Filipenses 2:12-13

Está claro que essa ainda é uma obra da graça de Deus, mas
precisamos cooperar com o poder que Ele dá tanto para querer
quanto para realizar. Assim como o temor e o tremor posicionaram
as pessoas no Brasil para entrarem na presença de Deus e
receberem Dele, do mesmo modo o santo temor e tremor nos
inflamam e nos posicionam para sermos revestidos de poder, pela
Sua graça, para obedecermos.
Um erro comum de muitos professores da Bíblia na Igreja
Ocidental é declarar que a obra da santidade se iguala à obra da
justificação. Em outras palavras, não precisamos fazer nada; Jesus
fez tudo. Então o argumento é que embora continuemos a viver de
um modo em nada diferente do mundo, controlados pelos nossos
vários desejos, somos santos porque Jesus é a nossa santidade. O
que torna isso ainda mais ardiloso é que existem realmente
versículos no Novo Testamento que parecem apoiar essas
afirmações. No entanto, o erro deles deriva de confundirem a nossa
santidade posicional com a nossa santidade comportamental.
Permita-me explicar.
A santidade posicional é unicamente devido ao que Jesus fez por
nós e fala da nossa posição em Cristo; é uma das bênçãos da obra
da justificação: “Porque Deus nos escolheu Nele antes da criação
do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em Sua presença”
(Ef 1:4). Jamais poderíamos ter conquistado essa posição. Mais
uma vez, Paulo escreve: “Vocês estão em Cristo Jesus, o qual Se
tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e
redenção” (1 Co 1:30).
Em 2 de outubro de 1982, Lisa Toscano e eu fizemos uma aliança
de casamento, e ela se tornou Lisa Bevere. Naquele mesmo dia ela
assumiu a posição de minha esposa. Ela não é mais minha esposa
hoje do que no dia em que me casei com ela, nem será minha
esposa, além do que já é, daqui a quarenta anos. Tomando como
base a sua posição, ela se tornou totalmente minha esposa naquele
dia do casamento; a obra estava completa. Do mesmo modo, em
Cristo nos tornamos santos e puros no dia da nossa salvação, e
nunca seremos mais santos do que nesse dia.
Entretanto, quando Lisa se tornou minha esposa, o
comportamento dela começou a se alinhar com a sua posição.
Antes de ser minha esposa, ela namorava outros jovens, dava a
eles o seu número de telefone, vivia para os seus próprios desejos e
fazia todas as outras coisas que as mulheres solteiras fazem, mas
agora ela não faz mais essas coisas. Seus atos se alinharam com a
aliança que fizemos entre nós. Esse comportamento ficou mais
maduro, entrando em alinhamento com a nossa aliança à medida
que o tempo em que estávamos casados passava. Ouça o que o
apóstolo Pedro escreve: Como filhos obedientes, não se deixem
amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na
ignorância. Mas, assim como é santo Aquele que os chamou, sejam
santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito:
“Sejam santos, porque Eu sou santo”.
— 1 Pedro 1:14-16
Observe que Pedro não está tratando da nossa santidade
posicional; ele está falando da nossa santidade comportamental,
que é exatamente o que Paulo aborda quando nos diz para nos
purificarmos de toda a impureza. Esse é o processo da santificação,
e não o dom posicional gratuito de sermos justificados.
Existem outras passagens no Novo Testamento que tratam da
nossa santidade comportamental? A resposta é sim. Elas são
muitas, mas deixe-me citar uma delas: A vontade de Deus é que
vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual.
Cada um saiba controlar o próprio corpo de maneira santa e
honrosa, não com a paixão de desejo desenfreado, como os pagãos
que desconhecem a Deus.
— 1 Tessalonicenses 4:3-5

Recentemente, após um culto de domingo pela manhã, um


homem me disse: “Sou um cristão solteiro. Durmo com mulheres
porque é impossível viver uma vida de celibato. Eu paro por alguns
meses, mas depois volto a dormir com mulheres. Mas esse não é o
ponto principal do que vim lhe falar. Minha pergunta principal é: por
que estou com tantos problemas nos negócios?”.
Fiquei chocado. Será que as nossas mensagens desequilibradas
sobre a graça levaram as pessoas ao ponto de acreditarem que irão
permanecer na presença e nas bênçãos de Deus enquanto vivem
claramente em pecado? Em uma sessão de Perguntas & Respostas
em uma conferência para mulheres na igreja, uma mulher perguntou
à minha esposa: “Eu realmente amo meu marido, mas ele viaja
muito e eu durmo com outros homens. O que devo fazer? Devo
dizer a ele?”.
Essas duas pessoas realmente acreditam que têm um
relacionamento com Jesus — mas será esse Jesus o que está à
destra de Deus, ou será uma cópia barata de Jesus? Esses
exemplos são apenas a ponta do iceberg; tive um número razoável
de encontros semelhantes com outros indivíduos. Será que o
chamado para vivermos uma vida santa foi emudecido de tal
maneira que toda convicção foi silenciada? No entanto, Paulo
escreve: “Portanto, aquele que rejeita estas coisas não está
rejeitando o homem, mas a Deus, que lhes dá o Seu Espírito Santo”
(1 Ts 4:8).
Tenha em mente que existe um aspecto irresistível da santidade.
Veremos isso claramente ao continuarmos a nossa busca por ela.

Personalizando

Passagem: “Aquele que diz: ‘eu O conheço’, mas não obedece aos Seus mandamentos,
é mentiroso, e a verdade não está nele” (1 Jo 2:4).

Ponto: A obra da santificação (santidade) é quando o que foi feito dentro de nós é posto
em ação; a nossa nova natureza realiza uma mudança na realidade externa em nosso
modo de viver.

Pondere: A santidade é uma obra da graça de Deus, mas eu preciso cooperar com o
poder que Ele me dá — tanto para querer quanto para realizar o que Ele deseja de mim.
Eu creio nisso? Eu tenho ignorado essa verdade e a Sua ordem de viver uma vida santa
porque confundi santidade posicional com santidade comportamental? Ou eu tenho
permitido que os fracassos passados sufoquem a minha fé na obra empoderadora de
Deus dentro de mim? Como posso voltar a crer nela para que se torne uma realidade na
minha vida?

Pare para orar: Querido Pai celestial, eu Te peço que Tu operes em mim tanto o querer
quanto o realizar a Tua boa vontade. Desejo viver exteriormente o que Tu já fizeste por
mim interiormente. Em nome de Jesus, amém.
Professe: Estou desenvolvendo a minha salvação com santo temor e tremor.
Façam caminhos retos
para os seus pés...
Esforcem-se para viver em paz com
todos e para serem santos.
— HEBREUS 12:13-14
Semana 3 — Dia 6

20 | NOSSA BUSCA

A santidade não é um fim em si; ela é na verdade uma passagem


para o que é mais importante. Vamos agora nos voltar para o
aspecto irresistível da santidade, examinando nosso texto de
abertura em uma tradução diferente: Segui... a santificação, sem a
qual ninguém verá o Senhor.
— Hebreus 12:14 (ACF) A palavra “seguir” é a palavra grega diókõ, que é
definida como “fazer alguma coisa com esforço intenso e com propósito ou
objetivo definido”.¹ Olhando as duas traduções da Bíblia e ouvindo a
definição de diókõ, não há dúvida de que essa afirmação fala de perseguir
apaixonadamente a santidade com a intenção de tomar posse dela.

Nossa primeira pergunta deveria ser: essa é a santidade


posicional ou a santidade comportamental? Vamos voltar ao
exemplo do meu casamento com Lisa. Você pode imaginar Lisa
dizendo a uma de suas amigas íntimas: “Estou buscando com um
esforço intenso ser a esposa de John!”?
Entre risos, sua amiga diria: “Você já é esposa dele! Você se
tornou esposa dele no dia do seu casamento!”.
Uma mulher não procura a posição de “esposa” que ela já possui.
Mas uma mulher pode buscar o comportamento excelente de uma
esposa. A mesma coisa acontece com a santidade — nós não
buscamos uma posição que já ocupamos, mas um comportamento
“digno do Senhor” (Cl 1:10).
Aprendemos que a consequência de ignorarmos essa ordem é
não vermos o Senhor. Essa é uma ideia assustadora! Ela de fato
nos afeta eternamente, mas esse não é o foco da nossa discussão
neste momento. O que é importante para o tópico que temos diante
de nós é: como isso nos afeta aqui e agora?
Uma vez que sou um cidadão dos Estados Unidos da América,
eu poderia dizer que tenho um “relacionamento” com o presidente.
Estou sob a sua autoridade governante e sou afetado pelas
decisões que ele toma, assim como os 332 milhões de outros
cidadãos norte-americanos. Mas embora eu tenha esse
relacionamento com o presidente, até hoje não me foi concedida
uma audiência particular com nenhum deles. Em suma, eu não
estive na presença de nenhum dos nossos presidentes americanos
nem interagi com eles.
Por outro lado, há outros norte-americanos que podem ver o
presidente regularmente; eles são seus amigos ou trabalham
próximos a ele. Em qualquer dos casos, eles conhecem o homem
que mora na Casa Branca muito melhor que eu. Eles o conhecem
intimamente; eu apenas o conheço como o líder da nação.
Do mesmo modo, existem milhões de crentes que estão sob o
governo de Jesus Cristo. Ele os protege, ama e supre, e responde
aos seus pedidos. Entretanto, a questão é: eles O veem? Em outras
palavras, eles têm experiência com a Sua presença manifesta?
Faltou aos milhares de crentes no Brasil, durante aquele evento
em 1994, o comportamento que os traria para a presença do
Senhor. Quando se arrependeram, foi concedida a eles uma
audiência com o Rei. Isso permanece sendo verdade diariamente, e
até mesmo a cada momento. Se nos faltar o santo temor, nos faltará
o ímpeto para buscarmos o comportamento santo que nos concede
o privilégio da Sua presença manifesta. Jesus diz: “Quem tem os
Meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que Me ama. Aquele
que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu também o amarei e Me
revelarei a ele” (Jo 14:21).
Vale a pena repetir: sem santidade comportamental, não veremos
o Senhor. Por que isso é tão crucial? Em primeiro lugar, se não O
virmos — se nos faltar a Sua presença manifesta — não poderemos
conhecê-Lo intimamente. Podemos apenas saber sobre Ele, o que
não é diferente do meu relacionamento com os presidentes dos
Estados Unidos. Ou, pior, nos enganamos criando um Jesus fictício.
Essa ilusão é mais perigosa porque acreditamos que conhecemos
Alguém que não conhecemos. Tiago nos diz: “Sejam praticantes da
palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos” (Tg
1:22). Alguém que é enganado acredita que conhece alguém ou
alguma coisa, mas na verdade, não conhece.
A segunda razão é igualmente importante. Sem contemplá-Lo —
sem estar na Sua presença — não podemos ser transformados à
Sua semelhança. Paulo menciona que aqueles que veem o Senhor
estão “sendo transformados com glória cada vez maior” (2 Co 3:18).
Essa transformação começa no interior e subsequentemente se
desenvolve para onde ela pode ser testemunhada por outros.
A nossa pureza não pode ser como a dos fariseus. Jesus disse:
“Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro
estão cheios de hipocrisia e maldade” (Mt 23:28). As motivações
deles eram tão impuras e imundas quanto cadáveres. Faltava-lhes o
temor do Senhor, o que por sua vez fazia com que eles buscassem
uma justiça que se baseava estritamente no comportamento
externo, fazendo da sua imagem projetada o foco. Isso impedia a
transformação interior que gera o comportamento externo
correspondente. Eles acreditavam que conheciam a Deus, mas a
realidade é que não conheciam o seu Criador, que estava diante
deles, e consequentemente estavam desalinhados com os desejos
Dele. Eles estavam enganando a si mesmos.
Do mesmo modo, hoje, a santidade que buscamos deve se
originar em nossos corações — em nossos pensamentos,
motivações e intenções. Isso é o que acabará impulsionando nosso
comportamento externo. É por isso que Jesus diz: “Bem-
aventurados os puros de coração, pois verão a Deus” (Mt 5:8). Sem
vê-Lo, nos falta transformação interior — a autêntica santidade — e
consequentemente não O vemos. É um processo cíclico.
Não basta ter uma forma exterior de piedade, mas negar o poder
da transformação dos nossos desejos internos. Precisamos ansiar
pela verdade no nosso íntimo (motivações e intenções); essa deve
ser a nossa busca. O apóstolo Tiago é muito duro com os cristãos
que menosprezam a santidade. Ele escreve: Quando pedem, não
recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus
prazeres. Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo
é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se
inimigo de Deus.
— Tiago 4:3-4
Tiago usa a palavra adúlteros, um termo usado para a violação de
uma aliança de casamento. Deus costuma usar a imagem do
casamento para ilustrar a nossa aliança com Ele; Jesus é chamado
de noivo, e nós somos a Sua noiva. Paulo afirma que o casamento
entre um homem e uma mulher é um exemplo da maneira como
Jesus Cristo e a Igreja estão unidos (Ef 5:31-32).
O mundo vive para o lucro egoísta ou para as realizações
orgulhosas e, portanto, foca nas imagens projetadas e percebidas.
Quando nos alinhamos aos desejos do mundo na nossa negligência
em buscar a santidade, nós nos tornamos adúlteros. Isso é uma
afronta tão grande ao nosso Esposo que realmente nos
transformamos em Seus inimigos. Assim, Tiago continua dizendo:
“Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida,
purifiquem o coração” (Tg 4:8). Só podemos purificar nossos
corações abraçando o temor do Senhor, que nos impulsiona a
buscar a santidade autêntica!
Estou casado com Lisa há mais de quarenta anos, e existem
fortes razões pelas quais não cometi adultério contra ela. A primeira
e principal é porque temo a Deus. Fiz uma aliança com Ele de amar
e cuidar dela, independentemente da resposta ou do
comportamento dela.
A segunda razão é porque não quero perder a intimidade com
essa mulher magnífica. Amo o fato dela confiar em mim,
compartilhando seus segredos mais íntimos e os anseios do seu
coração. Na essência, amo a nossa proximidade.
Não é diferente com Jesus. A razão pela qual eu evito
apaixonadamente cometer adultério contra Ele é porque não quero
perder a intimidade que compartilhamos. Amo a proximidade da Sua
presença e as conversas íntimas que temos. Amo quando Ele
compartilha segredos comigo que eu jamais conhecera. Talvez seja
por isso que nos é dito: O Senhor confia os Seus segredos aos que
O temem, e os leva a conhecer a Sua aliança.
— Salmos 25:14
Estamos apenas começando a descobrir o aspecto irresistível da
santidade. Vamos continuar desvendando sua beleza no próximo
capítulo.

Personalizando

Passagem: “Quem ama a sinceridade de coração e se expressa com elegância será


amigo do rei” (Pv 22:11).

Ponto: Sem perseguir a santidade comportamental com a intenção de tomar posse dela,
não poderemos entrar na presença do Senhor. Não se trata de quando chegamos ao
lugar da perfeita santidade, mas sim de quando fazemos dela a busca do nosso coração.

Pondere: Deus sabe se estou perseguindo um comportamento santo ou se estou


justificando consistentemente o meu amor ou a minha tolerância pelos desejos
mundanos e o orgulho das realizações. Tudo começa com as intenções do meu coração.
Irei perseguir a pureza de coração e de mente para que enfim haja uma mudança de
atitudes? Farei isso mesmo se os que estão perto de mim não o fizerem?

Pare para orar: Querido Pai celestial, perdoa-me por não buscar a santidade. Tenho
ignorado a sua importância, mas agora vejo que essa deve ser a minha busca, pois ela é
a porta para uma audiência contigo. Perdoa-me pelo meu comportamento mundano e
pelas minhas buscas mundanas, e purifica-me com o sangue de Jesus. Eu me
arrependo da minha atitude descuidada para com a santidade. Em nome de Jesus,
amém.

Professe: Estou perseguindo a santidade com a plena intenção de tomar posse dela.
Meu objetivo é ser santo como Deus é santo.
A vereda do
justo é plana;
Tu, que és reto,
torna suave o
caminho do justo.
— Isaías 26:7
Semana 3 — Dia 7

21 | DESEJO
E PODER

A esta altura, talvez você esteja lamentando o fato de ter tentado


viver uma vida santa, mas, sinceramente, você fracassou mais do
que teve êxito. Você anseia por intimidade com Deus, mas tem tido
problemas com a obediência. Saiba disso desde o começo: Ele
anseia mais por você do que você anseia por Ele. Alegre-se, porque
Deus é por você! Permita que essa verdade alivie a tensão.
Há uma boa chance de que o problema esteja no fato de que
você tentou. A Lei de Moisés provou a nossa incapacidade de
cumprir as ordens de Deus; precisamos de ajuda divina. Essa
assistência necessária não é outra senão a graça de Deus. A
maioria dos crentes sabe que a graça de Jesus Cristo nos liberta
das exigências da Lei, mas o que muitos não sabem é que ela vai
um passo além: ela nos concede uma nova natureza, nos dando o
potencial para vivermos livres do pecado (Rm 6:6-7).
Se olharmos para a ordem de Paulo de nos purificarmos de toda
impureza da carne e do espírito, ela é precedida por uma afirmação
que geralmente é ignorada. Alguns parágrafos antes disso, ele
escreve: Como cooperadores de Deus, insistimos com vocês para
não receberem em vão a graça de Deus. Pois Ele diz: “Eu o ouvi no
tempo favorável e o socorri!”.
— 2 Coríntios 6:1-2

O tempo favorável chegou; podemos viver a vida com a ajuda


Dele. Infelizmente, a graça de Deus tem sido comunicada muito
abaixo do seu potencial. Ela tem sido ensinada como salvação
eterna, perdão de pecados, libertação da penalidade do pecado e
um dom imerecido. Embora essas realidades sejam completamente
verdadeiras, o que não tem sido comunicado tão amplamente é o
seu revestimento de poder. Deus fala ao apóstolo Paulo: “Minha
graça é suficiente para você, pois o Meu poder se aperfeiçoa na
fraqueza” (2 Co 12:9). Em suma, “Paulo, o que você não podia fazer
na sua própria capacidade, você pode fazer agora pelo Meu poder,
que se chama graça”.
Pedro confirma essa verdade: “Graça e paz lhes sejam
multiplicadas, pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus, o
nosso Senhor. Seu divino poder nos deu todas as coisas de que
necessitamos para a vida e para a piedade” (2 Pe 1:2-3). A versão
NLT em inglês é ainda mais direta: “Pelo Seu divino poder [graça],
Deus nos deu tudo que necessitamos para viver uma vida piedosa”.
A graça nos dá o poder de vivermos uma vida santa!
Por que essa verdade é tão vital? O Cristianismo é uma vida de
fé. Toda a mensagem bíblica é chamada “palavra da fé” (Rm 10:8).
Em outras palavras, não receberemos nada de Deus a não ser que
creiamos, e não podemos crer no que não conhecemos. Assim, se
não estivermos conscientes do revestimento de poder da graça,
continuaremos tentando agradar a Deus na nossa própria
capacidade. E isso nos levaria a uma existência infrutífera e
miserável.
Pense sobre o exemplo do novo nascimento. Existem muitas
pessoas não salvas que confessam a sua crença de que Deus pode
salvar. Entretanto, até que elas se arrependam e creiam no
Evangelho, elas não recebem a graça salvadora. O mesmo princípio
rege a nossa busca pela santidade. Existem muitos cristãos que
acreditam que Deus pode dar a capacidade para vivermos uma vida
santa, mas até que creiam de todo o coração que a graça nos
reveste de poder, eles não se beneficiarão dessa verdade.
Paulo implora aos cristãos de Corinto para “não receberem em
vão a graça de Deus” (2 Co 6:1). O que significa receber alguma
coisa em vão? Significa simplesmente não a utilizar no seu potencial
máximo. Se um homem recebe equipamento agrícola, juntamente
com sementes, ele pode plantar alimentos para comer e viver. Mas
se não usar o que lhe foi fornecido, ele perderá a vida ao morrer de
fome. Depois que morrer, o que seus vizinhos dirão? “Ele recebeu o
equipamento e as sementes em vão.”
É disso que Paulo está falando — Deus lhe deu a graça para
ajudá-lo a viver de uma maneira que você não poderia viver na sua
própria capacidade. Ela empodera você para buscar e atingir um
estilo de vida santo. Não negligencie acessar esse poder por causa
da incredulidade.
Se a graça de Deus fosse apenas o que tem sido ensinado
amplamente na cultura ocidental — nada mais do que salvação,
perdão e uma passagem para o céu — como alguém poderia
recebê-la em vão? Não há potencial a ser desperdiçado, de modo
que a afirmação de Paulo não faria sentido.
Mas se seguirmos a linha de pensamento do apóstolo, tudo faz
sentido. A igreja de Corinto era mundana; eles estavam em falta na
sua busca por santidade. Para confirmar esse ponto, Paulo escreve
um pouco depois na mesma carta: “Muitos [de vocês]... pecaram
anteriormente e não se arrependeram da impureza, da imoralidade
sexual e da libertinagem que praticaram” (2 Co 12:21). No capítulo
6, Paulo inicia pedindo que aqueles crentes não desperdicem a
graça de Deus. Depois ele menciona seu amor por eles e pergunta
por que eles não estão sendo recíprocos. Então volta ao
pensamento principal — como a negligência deles em relação à
graça de Deus era evidente para as pessoas ímpias que as
influenciavam: Não se ponham em jugo desigual com descrentes.
Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que
comunhão pode ter a luz com as trevas?
— 2 Coríntios 6:14
Precisamos lembrar que há uma diferença entre ir ao mundo para
alcançar os incrédulos e ser influenciado por meio de um
alinhamento impróprio com eles. O resultado será um
comportamento que pode nos remover do caminho da vida. Mais
uma vez, isso é identificado como adultério espiritual.
Então Paulo lembra a esses crentes carnais que eles são o lugar
da habitação de Deus e que o desejo Dele é: “Habitarei com eles e
entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo”.
Portanto, “saiam do meio deles e separem-se”, diz o Senhor. “Não
toquem em coisas impuras, e Eu os receberei” (2 Co 6:16-17).
Mais uma vez, vemos a promessa da presença manifesta de
Deus, mas em um nível ainda maior. Ele não está falando de nos
visitar periodicamente, mas sobre habitar em nós e conosco! Mais
uma vez, percebemos que a promessa de vermos a Deus (Sua
presença manifesta) é condicional. Se permanecermos longe dos
desejos egoístas e orgulhosos aos quais o mundo se apega, nos é
prometida uma audiência duradoura com o Rei — “e Eu os
receberei”. O contrário também é verdade: se nos contaminarmos
com a imundície do mundo, não nos será concedida uma audiência.
Paulo conclui fazendo uma afirmação focada: Amados, visto que
temos essas promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina
o corpo e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.
— 2 Coríntios 7:1

Agora podemos entender mais completamente a afirmação de


Paulo à igreja dos Filipenses: “Ponham em ação a salvação de
vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto
o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade Dele” (Fp
2:12-13). O temor do Senhor nos motiva a querer (nos dá o desejo),
e a graça do nosso Senhor Jesus Cristo nos capacita para realizar
(nos empodera).
Dando um passo adiante, onde há a falta de desejo (devido à
falta de santo temor), o empoderamento não será uma prioridade, e
assim não será utilizado; ele será recebido em vão! É por isso que o
santo temor é tão crucial para a nossa eficácia e longevidade.
Espero que tenha ficado claro que a pureza é um enorme aspecto
da santidade, mas não a sua definição total. Mais uma vez, a
definição principal de santidade é ser consagrado para Ele, ser
completamente Dele. Vamos dar uma ilustração mais ampla do
significado essencial da santidade. Quando uma noiva se casa com
o noivo, ela se entrega inteiramente a ele. Incluída nessa
consagração, está uma pureza que engloba tanto sua posição
quanto seu comportamento. A pureza não é o objetivo final; o
objetivo é ser uma noiva consagrada para o seu noivo, o que inclui a
pureza.
Portanto, a verdadeira santidade é uma pureza transcendente,
consagrada, uma pureza que abre a porta para uma intimidade
profunda com Deus. Esse é o irresistível que continuaremos a
discutir antes da conclusão deste livro. Mas primeiro precisamos
continuar nosso debate sobre o que é na prática vivermos
consagrados para o nosso Noivo. A resposta encontra-se em uma
palavra: obediência.

Personalizando

Passagem: “Portanto, você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus” (2
Tm 2:1).

Ponto: Se não estivermos cientes do revestimento de poder da graça, continuaremos


tentando agradar a Deus na nossa própria capacidade. Teremos recebido a graça de
Deus em vão.

Pondere: Eu tenho tentado viver uma vida santa e tenho falhado mais do que tido êxito?
Tenho tentado na minha própria capacidade? Tenho dependido da graça de Deus para
me revestir de poder e assim viver uma vida santa? Caso contrário, como posso mudar
isso?

Pare para orar: Querido Pai celestial, entendo que é somente pelo poder da Tua graça
que posso viver uma vida santa, uma vida que recebe a Tua presença gloriosa. Perdoa-
me por tentar fazer isso na minha própria capacidade. De agora em diante serei forte na
Tua graça para viver uma vida separada que glorifica a Jesus. Em nome de Jesus eu
oro, amém.

Professe: Sou motivado pelo santo temor a perseguir a santidade e farei isso pelo poder
da graça de Deus.
Guia-me pelo caminho
dos Teus mandamentos,
pois neles encontro a felicidade.
— Salmos 119:35, NTLH
Semana 4 — Dia 1

22 | TREMENDO DIANTE
DA PALAVRA DE DEUS

Na nossa primeira seção foi dito que o temor do Senhor pode ser
dividido em duas categorias: tremer diante da presença de Deus e
tremer diante da Sua Palavra. Falamos sobre a presença gloriosa
de Deus, embora não de forma exaustiva, uma vez que seremos
sempre impactados por ela por toda a eternidade. Agora, nesta
seção, vamos voltar o nosso foco para a maneira como reagimos à
Sua Palavra.
Para começar, vamos considerar um período em que o povo de
Deus se afastou de um relacionamento genuíno com Ele e o
substituiu por meras formalidades. Para chamar a atenção deles,
Deus pergunta: “O céu é o Meu trono, e a terra, o estrado dos Meus
pés. Que espécie de casa vocês Me edificarão? É este o Meu lugar
de descanso?” (Is 66:1).
Se lermos os cinco primeiros versículos desse capítulo em
contexto, veremos o Todo-poderoso se dirigindo a pessoas que
tentavam desenvolver e manter um relacionamento com Ele nos
seus próprios termos. Sem qualquer entusiasmo, elas seguiam os
Seus princípios, supondo que isso O apaziguaria. Deus deixa claro
que o caminho que elas haviam escolhido era ofensivo, mas
imediatamente Ele diz o que é necessário para entrar em um
relacionamento autêntico: A este Eu estimo: ao humilde e contrito de
espírito, que treme diante da Minha palavra.
— Isaías 66:2

A expressão “eu estimo” é o verbo hebraico nabat, que é definido


como “olhar, apreciar, considerar. Tem o sentido de olhar
intensamente para alguma coisa de forma focada”. Na essência,
Deus está dizendo: “Esta é a pessoa em quem prestarei muita
atenção”. Há três virtudes enumeradas: humildade, espírito contrito
e os que “tremem diante da Minha palavra”, o que será o nosso foco
nesta seção.
Aquele que treme diante da Palavra de Deus sempre exalta o que
Ele diz acima de qualquer outra coisa. Nada é mais importante.
Essa é a verdadeira evidência do santo temor. Essa pessoa é
grandemente abençoada. Sob essa mesma ótica, Paulo escreve:
Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não
apenas na minha presença, porém muito mais agora na minha
ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e
tremor.
— Filipenses 2:12

Pense nesta afirmação não como se fosse Paulo escrevendo aos


cristãos de Filipos, mas como se Deus falasse diretamente a nós.
Foque nas palavras “como sempre vocês obedeceram”; elas
significam de modo incondicional. Trata-se de uma obediência que
acontece se você sente a Sua presença ou não, se você O vê se
movendo em seu favor ou não, se a sua oração é respondida no
prazo esperado por você ou não.
É fácil obedecer a Deus quando você está no ambiente de uma
conferência, onde as pessoas são gentis umas com as outras e a
presença de Deus é forte. Mas e quando um membro da equipe em
quem você confiava mente a seu respeito e você é destituído do seu
cargo? Você vai perdoar de acordo com a Sua Palavra ou vai
retaliar para se vingar?
E se você está em uma viagem de negócios e se sentindo
solitário, então começa a lembrar que o seu cônjuge tem sido crítico
demais em relação a você? Um membro da equipe do sexo oposto
de boa aparência o elogia, demonstra compreendê-lo, e depois se
oferece de forma sedutora para passar a noite com você no quarto
de hotel. Ninguém vai ficar sabendo. Você vai fugir ou vai aceitar?
E se você está trabalhando até tarde no computador,
pesquisando na web em busca de informações importantes para o
seu trabalho e se depara com pornografia? Você vai assistir?
Esses são incidentes nos quais a presença de Deus parece estar
ausente. Se você treme diante da Palavra Dele, você obedecerá,
independentemente das circunstâncias, porque não existe nada
mais importante. Isso indica que você anda em santo temor, pois
“com o temor do Senhor o homem evita o mal” (Pv 16:6).
O salmista escreveu: Aleluia! Como é feliz o homem que teme o
Senhor e tem grande prazer em Seus mandamentos!
— Salmos 112:1

O homem ou a mulher que temem a Deus não apenas


obedecem, como têm grande prazer em fazer isso. A obediência
não é um fardo; é uma alegria. Essa pessoa tem o entendimento
fundamental de que Deus é o nosso Criador, portanto Ele sabe o
que nos edifica e o que nos destrói.
Lembro-me de quando nossos quatro filhos eram pequenos. O
Dia de Natal era basicamente um dia de trabalho. A maioria dos pais
com crianças pequenas entende o que vou dizer. Depois que todos
os presentes são abertos, há os presentes que precisam ser
montados. Eu era o pai típico; abria a caixa, despejava as peças no
chão, deixava de lado a caixa e o manual de instruções, e
começava a montagem. Dependendo do presente, geralmente
depois de cerca de uma hora, eu havia terminado, mas, para minha
surpresa, às vezes ainda havia dez peças espalhadas pelo chão. Eu
apertava o botão “ligar” e nada acontecia. O que eu iria fazer? Eu
procurava o manual de instruções, desmontava o brinquedo e o
reconstruía de acordo com o manual do fabricante. E funcionava!
A pessoa que teme a Deus sempre obedece. Essa pessoa, no
âmago do seu ser, não se afasta das seguintes verdades
fundamentais: 1. é Aquele que sabe o que é certo para mim.
2. Deus é puro amor, e eu sou o foco do Seu amor.
3. Deus nunca me dirá para fazer nada que seja prejudicial. Seja
o que for que Ele diga, sempre acabará sendo o melhor.
4. Portanto, não importa o que Ele diga, decidirei obedecer com
alegria.
Os filhos de Israel reclamavam constantemente. Eles não
estavam satisfeitos com a maneira como estavam sendo conduzidos
e com o que estava acontecendo em suas vidas. Eles culpavam a
Deus pelo seu desconforto, falta e por tudo o mais que não era
gratificante. Faltava-lhes o santo temor e eles não tremiam diante da
Sua Palavra. Deus falou: Uma vez que vocês não serviram com
júbilo e alegria ao Senhor, o seu Deus, na época da prosperidade,
então, em meio à fome e à sede, em nudez e pobreza extrema,
vocês servirão aos inimigos que o Senhor enviará contra vocês. Ele
porá um jugo de ferro sobre o seu pescoço, até que os tenha
destruído.
— Deuteronômio 28:47-48
Tremer diante da Sua Palavra envolve alegria e júbilo no âmago
do nosso ser. Se essas coisas estiverem ausentes, é apenas
questão de tempo até que as circunstâncias revelem a falta de
alegria. Jamais me esquecerei do momento em que descobri os
cinco pecados que impediam Israel de cumprir o seu destino: ansiar
por coisas más, adorar ídolos, imoralidade sexual, testar Deus e
reclamar (1 Co 10:6-10). Quando eu li “reclamar”, quase bati no teto!
Exclamei: “O quê? Reclamar! Como reclamar pode estar em uma
lista junto com esses outros pecados enormes?”.
Ouvi o Espírito Santo dizer: “Filho, reclamar é um pecado sério
aos Meus olhos”. Ele me mostrou que reclamar diz o seguinte:
“Deus, não gosto do que Tu estás fazendo na minha vida, e se eu
fosse o Senhor, faria isso de forma diferente”.
Então Ele disse: “Isso é uma afronta ao Meu caráter, é rebelião à
Minha vontade e, acima de tudo, é uma grotesca falta de santo
temor”.
Compartilhei isso com Lisa e concordamos em disciplinar os
nossos filhos sobre esse tema, com o entendimento de que a
reclamação se tratava de rebelião. Eu levei isso a sério. Parei com
todo tipo de prática de murmurar e resmungar e me certifiquei de
nunca pronunciar uma palavra de reclamação. Entretanto, mais
tarde, enquanto estava em um jejum de quatro dias, ouvi o Espírito
Santo sussurrar: “Filho, Eu ouço a reclamação em seu coração”.
Imediatamente caí de joelhos, me arrependendo. Mais tarde Deus
me mostrou que eu não estava servindo ao Senhor com júbilo e
alegria de coração, e os meus inimigos estavam levando vantagem.
Vamos ver novamente as palavras de Paulo: Assim, meus amados,
como sempre vocês obedeceram, não apenas na minha presença,
porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a
salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em
vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa
vontade Dele. Façam tudo sem queixas nem discussões.
— Filipenses 2:12-14
Foi pouco depois desse jejum de quatro dias que descobri a
profundidade do que é revelado neste versículo. Isso abriu os meus
olhos para o fato de que reclamar é a antítese do santo temor; é não
tremer diante da Sua Palavra. Desonramos a Deus e a Sua Palavra
quando pensamos ou falamos com base em uma postura de
descontentamento.
Aqueles que temem a Deus estão firmemente convencidos de
que não há nada mais importante ou benéfico do que a obediência.
Eles obedecem independentemente do preço a ser pago e não
olham para a Palavra de Deus com as lentes da cultura ou das
tendências da sociedade dos nossos dias. Eles também não
baseiam sua obediência à Palavra de Deus em como os outros
crentes se comportam; eles simplesmente obedecem.

Personalizando
Passagem: “Se vocês estiverem dispostos a obedecer, comerão os melhores frutos
desta terra” (Is 1:19).

Ponto: A evidência do santo temor é a obediência, que confere tanto uma atitude correta
quanto uma ação correspondente, não importam as circunstâncias.

Pondere: Eu só obedeço quando as condições são favoráveis? Eu tendo a reclamar


quando as coisas não estão saindo do meu jeito? Como posso manter uma atitude de
alegria e gratidão em todo o tempo? Como posso firmar a minha decisão de obedecer?

Pare para orar: Querido Pai Celestial, perdoa a minha falta de tremor diante da Tua
Palavra. Minha obediência tem sido condicional, e a minha atitude não tem sido de
alegria e gratidão. Eu me arrependo e peço o Teu perdão. Eu abraço o Teu santo temor.
Por favor, ensina-me e reveste-me de poder para obedecer em todo o tempo com uma
atitude de alegria. Em nome de Jesus eu oro, amém.

Professe: Temo a Deus e, portanto, Ele está operando em mim tanto o querer quanto o
realizar a Sua boa vontade.
É melhor tremer diante
da palavra do Senhor,
e prostrar-se diante da infinita
majestade do amor divino, do que
gritar até ficar rouco.
— C. H. SPURGEON
Semana 4 — Dia 2

23 | IMEDIATAMENTE

Um atributo importante do santo temor é a obediência incondicional


à Sua Palavra, a qual trará benefícios impressionantes à nossa vida.
Eis aqui cinco aspectos distintos de tremer diante da Palavra de
Deus, e ao longo dos próximos cinco dias vamos vê-los
individualmente. Eis o primeiro: 1. Obedeça a Deus
imediatamente.
A obediência é um prêmio para os que temem a Deus. Eles não
colocam seus interesses pessoais na frente do que Deus lhes disse
para fazer. O santo temor transmite aos nossos corações que o que
é importante para Deus é prioridade para mim.
Existem inúmeros versículos que poderíamos analisar, mas, para
criar um precedente, vamos ver duas afirmações de Jesus:
É assim que eu quero que vocês se conduzam. Se alguém estiver no local
do culto, prestes a fazer uma oferta, e de repente se lembrar de que um
amigo tem algum ressentimento contra ele, deixe de lado a oferta, saia
imediatamente, procure o amigo e conserte a situação. Depois de fazer
isso, então poderá voltar e oferecer seu culto a Deus.
— Mateus 5:23-24, MSG

Observe a palavra imediatamente. Mais uma vez, como em Isaías


66, Jesus enfatiza que não deveríamos começar a “fazer alguma
coisa para Deus” enquanto deixamos de obedecer ao que Ele já nos
disse para fazer. Jesus trata da situação específica de guardar um
rancor, mas o princípio geral se aplica a todas as circunstâncias.
Você se lembra do homem que compartilhou comigo sobre o seu
padrão repetitivo de fornicação e, no entanto, estava perplexo com
fato de que suas orações não eram atendidas e se perguntava por
que seu negócio não estava sendo bem-sucedido como ele
esperava? Vamos fazer uma pausa e refletir sobre isso. Se não era
a prioridade desse homem obedecer à Palavra de Deus e fugir da
imoralidade sexual, por que ele esperaria que a prioridade de Deus
fosse abençoar o seu negócio?
Eli, o sumo sacerdote de Israel, tinha dois filhos que também
eram sacerdotes sob a sua liderança, mas esses dois filhos eram
maus. Eles cometiam adultério e tiravam ofertas pela força. Eli adiou
lhes dar um tratamento adequado com relação à maldade de seus
filhos. A resposta do Senhor à sua negligência foi: “Por que você
honra seus filhos mais do que a Mim?” (1 Sm 2:29).
Quando somos lentos ou negligenciamos a obediência a Deus
em prol de qualquer pessoa ou propósito, honramos essa pessoa ou
propósito mais do que honramos a Deus. Isso é falta de santo
temor. Então Deus diz: Honrarei aqueles que Me honram, mas
aqueles que Me desprezam serão tratados com desprezo.
— 1 Samuel 2:30

Estas são palavras pesadas. Desprezamos a Deus quando


retardamos ou negligenciamos a obediência à Sua Palavra. Na
essência, estamos dizendo: Ele não é a nossa prioridade. Deus diz
que Ele desprezará os que O desprezam. A palavra desprezar não é
a melhor tradução. Trata-se da palavra hebraica qãlal, que é
definida como “ser trivial, ser banal”. Trivial significa de pouco valor
ou importância. Um exemplo de como essa afirmação poderia ser
interpretada é dizendo que Deus vê como trivial o que é importante
para aqueles que menosprezam a Sua Palavra. Ninguém em juízo
perfeito desejaria esse cenário.
Se o empresário tivesse honrado a Palavra de Deus no tocante à
pureza sexual, talvez Deus visse seu negócio como algo importante.
Em vez disso, parece ser algo trivial.
Outra passagem que ilustra a importância da obediência imediata
são as palavras de Jesus à igreja de Éfeso: Lembre-se de onde
caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio.
Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do
lugar dele.
— Apocalipse 2:5

Arrepender-se significa mudar o seu modo de pensar — e,


portanto, de agir — a fim de entrar em alinhamento com a Palavra
de Deus. Se essa igreja retardasse a sua obediência, eles
perderiam a janela de oportunidade para continuarem sendo
abençoados. Jesus viria rapidamente e removeria a influência deles.
Mais uma vez, essa é uma possibilidade muito grave.
No evangelho de Lucas, nos é contada uma história que ilustra as
oportunidades perdidas devido ao fator tempo e às prioridades.
Jesus disse: “Certo homem estava preparando um grande banquete
e convidou muitas pessoas. Na hora de começar, enviou seu servo
para dizer aos que haviam sido convidados: ‘Venham, pois tudo já
está pronto’” (Lc 14:16-17). Sem dúvida, é a Palavra do Senhor: o
banquete está pronto! O tempo certo é essencial.
Veja a resposta dos convidados: “Mas eles começaram, um por
um, a apresentar desculpas” (v. 18). Aparentemente são dadas
razões plausíveis para a incapacidade de participarem. Um havia
comprado um terreno, o outro precisava cuidar dos seus negócios, e
o outro tinha uma esposa que precisava da sua atenção. As
desculpas não incluíam adultério, roubo, assassinato ou qualquer
outra coisa que classificaríamos como pecaminosa. Entretanto,
quando o que não é pecado assume a precedência sobre a Palavra
do Senhor, isso se torna pecado.
O servo voltou com o relato dos que haviam sido convidados,
então lemos: “O dono da casa irou-se” (v. 21). Ele não ficou triste,
mas irado. Por quê? Porque o seu convite foi desprezado; ele não
era uma prioridade.
O que o dono da casa faz? Ele convida outros que não haviam
sido convidados originalmente. Jesus conclui dizendo: “Nenhum
daqueles que foram convidados provará do Meu banquete” (v. 24). A
janela de oportunidade deles havia sido perdida. Suas desculpas
pareciam inofensivas, mas é importante lembrar que até mesmo as
coisas inofensivas podem nos impedir de cumprir a vontade de
Deus. Isso ocorre facilmente quando o temor do Senhor está
ausente do nosso coração.
Muitas outras oportunidades perdidas estão registradas na Bíblia,
as quais foram resultado de uma obediência adiada — na verdade,
são muitas para enumerarmos — mas vou escolher uma que é mais
interessante. Em Lucas 9, Jesus convida dois homens diferentes
para segui-Lo. Que convite! O Senhor de toda a criação convida
você para andar com Ele! O primeiro homem concordou, mas com
uma condição: “Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai” (v.
59).
O homem concordou em seguir Jesus, mas ele retardou o fato ao
colocar seus interesses pessoais em primeiro lugar. Os estudiosos
nos dizem que naquela época quando um filho primogênito
enterrava seus pais ele recebia porção dobrada da herança, ao
passo que os outros filhos recebiam uma única porção. Entretanto,
se ele não cumprisse o seu dever, a herança dobrada passaria para
o segundo filho. A desculpa dele parecia legítima, e o atraso não se
encaixava na categoria de pecado. No entanto, ele foi deixado para
trás. Infelizmente, foi uma oportunidade perdida.
O outro homem recebeu o mesmo convite, ao qual respondeu:
“Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir
da minha família” (v. 61). Mais uma vez, ouvimos a palavra primeiro;
e, novamente, a razão para a sua demora não seria considerada um
pecado. Ainda assim, ele perdeu a sua janela de oportunidade de
estar próximo do Criador dos céus e da terra.
No capítulo seguinte, lemos: “Depois disso o Senhor designou
outros setenta e dois e os enviou dois a dois, adiante Dele” (Lc
10:1). Esses dois homens teriam sido incluídos entre os setenta,
mas eles provavelmente perderam por terem adiado a sua
obediência pela falta de santo temor.
Após tantos anos ministrando ao povo de Deus, ainda fico
admirado (negativamente) quando ouço um crente comentar com
indiferença: “Deus tem tratado comigo sobre esta questão há alguns
meses”. Eles sorriem e às vezes até riem do assunto, como se fosse
algo engraçadinho. Se eles apenas soubessem que estavam se
gabando da sua falta de santo temor, não creio que levariam a coisa
de forma tão leviana.
E se Moisés tivesse se demorado a deixar de lado as suas
atividades no cuidado com os rebanhos para ver a tremenda visão
da sarça ardente? (Êx 3).
E se Noé tivesse postergado a construção da arca?
E se Abrão tivesse se demorado a ir para Canaã? O pai dele fez
isso, pois foi ele o primeiro a ser chamado para ir a Canaã. O que o
pai dele perdeu com a sua demora, Abrão cumpriu (Gn 11:31).
E se Neemias tivesse postergado a conclusão do muro para
satisfazer o pedido de Sambalate e Gesém, os dois líderes, de
interromper a obra e viajar para encontrar-se com eles? Mas
Neemias temia a Deus. A resposta dele foi: “Estou executando um
grande projeto e não posso descer. Por que parar a obra para ir
encontrar-me com vocês?” (Ne 6:3).
Os exemplos são intermináveis. A conclusão é esta: quando
trememos diante da Sua Palavra, obedecemos a Deus
imediatamente.

Personalizando

Passagem: “Honrarei aqueles que Me honram, mas aqueles que Me desprezam serão
tratados com desprezo” (1 Sm 2:30).

Ponto: Quando retardamos nossa obediência à Palavra de Deus com desculpas


pessoais, estamos comunicando que a vontade Dele é secundária em escala de
importância.
Pondere: É possível que coisas aparentemente inofensivas possam nos impedir de
cumprir a vontade de Deus. Quando o que não é pecado assume a precedência sobre a
Palavra do Senhor, isso se torna pecado. Eu tenho me permitido distrair com interesses
pessoais e, portanto, tenho adiado a minha obediência? Como isso pode mudar?

Pare para orar: Querido Pai celestial, perdoa-me pelas vezes que tratei a Tua Palavra
como opcional ou não a priorizei como o mais importante. Entendo que ao fazer isso, eu
comuniquei inadvertidamente que o que é importante para Ti é trivial para mim. Eu me
arrependo e peço o Teu perdão. Darei a máxima prioridade ao que Tu desejas. Em nome
de Jesus, eu oro, amém.

Professe: Assim que eu souber qual é a vontade de Deus, obedecerei imediatamente.


Não fomos chamados para viver
pela razão humana. Tudo o que
importa é a obediência à Palavra de
Deus e à direção Dele
em nossas vidas.
Quando estamos dentro
da Sua vontade, estamos no lugar
mais seguro do mundo.
— IRMÃO YUN
Semana 4 - Dia 3

24 | ISSO NÃO
FAZ SENTIDO

No passado, o Espírito Santo direcionou você a fazer alguma coisa


que não fazia sentido? A maioria das pessoas que andaram em um
relacionamento íntimo com Deus por qualquer período responderia
que sim. Mas deixe-me fazer outra pergunta. Depois que você
obedeceu — às vezes imediatamente, ou mesmo algum tempo
depois, fez sentido? Quase sempre a resposta é sim. (Digo “quase
sempre” porque existem raras ocasiões em que talvez não faça
sentido até chegarmos ao Tribunal de Cristo.) Continuando a
examinar o que significa tremer diante da Palavra de Deus, uma
pessoa que anda verdadeiramente em santo temor fará estas
coisas: 1. Obedecerá a Deus imediatamente.
2. Obedecerá a Deus mesmo que não faça sentido.

Não é uma ocorrência comum o fato de Deus nos pedir para


fazermos alguma coisa que não faça sentido para a nossa
compreensão. Mas isso acontece. Vamos fazer perguntas.
Fazia sentido cuspir na terra e colocar a lama nos olhos de um
cego e depois dizer a ele para ir se lavar? Não, no momento não
fazia, mas esse conselho (sabedoria) devolveu a vista ao cego.
Fazia sentido derramar água em recipientes para vinho no meio
de um casamento quando o que se necessitava era de mais vinho?
Não, não fazia sentido no momento, mas esse conselho (sabedoria)
resultou no melhor vinho da festa.
Fazia sentido instruir marinheiros experientes a irem contra os
seus instintos e treinamento a não abandonarem um navio que
estava afundando, quando havia barcos salva-vidas disponíveis?
Não, não fazia sentido no momento, mas esse conselho (sabedoria)
salvou todos os 276 homens a bordo; nenhuma vida foi perdida (At
27:27–36).
Fazia sentido para um homem sair de uma reunião de
avivamento em toda a cidade, uma que Deus o usou para iniciar, e
obedecer ao comando de ir para o meio do deserto? Não, na época
não, mas esse conselho (sabedoria) abriu caminho para que o
terceiro homem no comando da Etiópia fosse salvo.
Fazia sentido andar em volta de muralhas imponentes e
fortificadas de uma grande cidade em silêncio por seis dias, então,
no sétimo dia, fazer o mesmo mais sete vezes, e finalmente tocar
buzinas e gritar? Não, na época não, mas esse conselho
(sabedoria) viu as paredes do inimigo desabarem.
Fazia sentido colocar farinha em uma panela cheia de um
ensopado venenoso e depois dizer a todos os ministros que o
comessem? Não, não fazia sentido no momento, mas esse
conselho (sabedoria) deu a todos uma refeição nutritiva, e ninguém
ficou doente.
Faz sentido perdoar os que o ofenderam, a sua família ou alguém
próximo a você? Eles não deveriam pagar?
Faz sentido amar aqueles que o odeiam? Eles não deveriam
receber a sua indiferença?
Faz sentido fazer o bem aos que o maltrataram? Você não
deveria ir à forra?
Faz sentido honrar os que ocupam posição de autoridade e que
estão agindo com maldade? Não deveríamos estar reclamando e
nos rebelando?
Faz sentido honrar os que o tratam com desonra? Eles não
deveriam ser repreendidos?
Eu poderia continuar até o fim do capítulo, e possivelmente de
todo o livro, compartilhando ordens que não fazem sentido na Bíblia,
mas com base nos resultados, cada uma delas provou ser a
sabedoria de Deus. Os envolvidos tremeram diante das instruções
de Deus, obedeceram e foram abençoados; ou faltou a eles o santo
temor e, na sua negligência ou desobediência, sofreram as
consequências. Espero que você esteja vendo com maior clareza
como o temor do Senhor é verdadeiramente o princípio da
sabedoria (Sl 111:10). Eis o que está escrito: Confie no Senhor de
todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento;
reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e Ele endireitará
as suas veredas.
— Provérbios 3:5-6
A sabedoria do Senhor excede em muito a nossa; portanto, não
deveríamos depender do nosso próprio entendimento. Quando
somos instruídos a fazer alguma coisa que não é lógica, podemos
facilmente ser influenciados a não obedecer em algo que acabaria
por nos beneficiar. Mas a pessoa que teme a Deus obedece, mesmo
quando não faz sentido.
Há alguns anos, encontrei-me com um multibilionário. Ele
compartilhou sobre o seu trabalho e as dificuldades que passou no
mercado no começo da carreira. Ele havia lido todos os best-sellers
sobre construir um negócio de sucesso e aplicou a sabedoria que
adquiriu. Mas ainda estava com dificuldades.
Um dia, quando estava sentado na igreja ouvindo o pastor pregar
uma mensagem, esta ideia lhe ocorreu: Ele foi chamado para pregar
o Evangelho e depende do Espírito Santo para realizar a missão da
sua vida. Eu fui chamado para o mercado de trabalho, então por que
não dependo do Espírito Santo para fazer o que fui chamado para
fazer?
Ele determinou que iria se levantar todas as manhãs e pedir
direção ao Senhor para aquele dia. Ele mantinha um bloco de
anotações e anotava todas as impressões do que devia fazer. E
também decidiu manter os ouvidos sempre atentos às orientações
que o Espírito Santo lhe dava ao longo do dia, até nas reuniões de
negócios.
Ele compartilhou comigo algumas histórias das coisas que
aconteceram a partir dessa decisão. Certo dia, ele deveria participar
de uma reunião de aquisições e, naquela manhã, sentiu o Espírito
Santo instruí-lo a fazer algo que parecia trivial. Aquilo não fazia
sentido, mas aquele homem de negócios estava comprometido com
o processo.
O Espírito Santo instruiu-o a fazer determinada coisa de forma
repetitiva. Ele ficou pensando no rei que o profeta Eliseu instruiu a
ferir o chão com flechas. O rei feriu o chão três vezes e foi
repreendido pelo profeta por não ter repetido esse gesto mais vezes
(2 Rs 13:14-19). Assim, aquele empresário decidiu repetir o mesmo
gesto vinte vezes. Mais tarde, ele me disse: “Naquele dia minha
companhia comprou vinte hospitais no Vietnã”.
Então ele compartilhou como adquiriu um dos maiores bancos do
mundo na Europa. O processo parecia ainda mais incomum do que
o da aquisição dos hospitais. Fiquei perplexo. Resumindo, esse
empresário decidiu obedecer a Deus independentemente do que lhe
fosse dito em oração, quer parecesse lógico ou não. O fruto é
evidente — ele não está mais com problemas!
Quando um dos nossos filhos estava no final da adolescência,
pedi-lhe que fizesse uma coisa que não fazia sentido para ele. Ele
ficou contrariado, insistindo comigo que aquela instrução não tinha
cabimento, mas fiquei firme. Exasperado, finalmente ele disse: —
Pai, sou da geração Y, e nós precisamos entender o porquê antes
de fazermos alguma coisa!
Eu disse a ele: — Tudo bem, vamos fazer um acordo. Deixe-me
esclarecer isso lhe contando uma história real. Deus disse a um
jovem profeta de Judá para viajar até Betel, profetizar para o rei de
Israel, e não voltar a Judá pelo mesmo caminho que ele viera e,
além disso, não comer nada durante toda a viagem. O jovem profeta
não obedeceu às instruções do Espírito Santo e sofreu as
consequências; ele foi morto por um leão antes do fim da viagem (1
Rs 13:16, 23-26). Filho, eis o meu acordo com você. No dia em que
você puder me dizer o porquê do que estava por trás dessas
instruções específicas dadas ao jovem profeta, este será o dia em
que eu lhe direi o porquê por trás das minhas instruções.
Até hoje ele não conseguiu me trazer respostas. Na verdade,
esse episódio também me deixa desconcertado. Há momentos em
que Deus nos diz para fazer algo que simplesmente não faz sentido
em nossa mente. Mas a sabedoria Dele é sempre confirmada pelos
resultados. É por isso que Jesus diz: “A sabedoria é comprovada
pelas obras que a acompanham” (Mt 11:19).
Que sejamos todos como Pedro que, depois de se esforçar no
mar a noite inteira sem nenhum resultado, deu ouvidos à voz de
Jesus de voltar às águas profundas e lançar as redes mais uma vez.
Essa ordem resultaria em muito trabalho extra, quando na verdade
eles já estavam exaustos. Você não ama a resposta de Pedro?
“Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas,
porque és Tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes” (Lc 5:5).
O resultado foram dois barcos carregados de peixes.

Personalizando

Passagem: “Quem confia em si mesmo é insensato, mas quem anda segundo a


sabedoria não corre perigo” (Pv 28:26).

Ponto: A sabedoria do Senhor excede em muito a nossa; portanto, não deveríamos


depender do nosso próprio entendimento. Ele pode facilmente nos influenciar a nos
afastarmos da obediência benéfica. A pessoa que teme a Deus obedece, mesmo
quando não faz sentido.

Pondere: Eu tenho dificuldade de confiar na sabedoria de Deus? No passado, eu


critiquei o conselho Dele e voltei ao que parecia lógico para mim? Qual foi o resultado?
O que aconteceria se eu buscasse a Deus para ter direção e confiasse Nele? Posso me
comprometer com esse processo?

Pare para orar: Querido Pai celestial, perdoa-me por confiar na minha própria sabedoria
e não na Tua. Eu Te peço fé para receber a Tua sabedoria à medida que leio a Tua
Palavra, oro e ouço o conselho piedoso daqueles que Te temem. Dá-me forças para crer
e obedecer mesmo quando não fizer sentido. Em nome de Jesus, eu oro, amém.

Professe: Decido obedecer e aceitar a sabedoria de Deus acima da minha própria


sabedoria e das vozes dos que confiam mais na capacidade do homem do que na
capacidade de Deus.
É dever do homem amar e temer a
Deus,
mesmo sem esperança de
recompensa ou com medo de
punição.
— MAIMONIDES
Semana 4 — Dia 4

25 | NENHUM
BENEFÍCIO ÓBVIO

Você provavelmente já ouviu um pai ou uma mãe lamentar o fato de


que as únicas vezes em que eles têm notícias dos filhos que estão
na universidade é quando eles precisam de dinheiro. Nesse cenário
típico, durante aquele raro telefonema, o filho pode parecer
interessado em conversar com a mamãe e o papai, mas o motivo
por trás desse interesse é receber o benefício do recurso
necessário. O santo temor nos protege para não fazermos isso com
o nosso Pai celestial e nos introduz ao próximo aspecto acerca de
tremermos diante da Palavra de Deus. Vamos fazer uma revisão
enquanto acrescentamos um novo indicador. Devemos: 1. Obedecer
a Deus imediatamente.
2. Obedecer a Deus mesmo quando não faz sentido.
3. Obedecer a Deus mesmo quando não vemos nenhum
benefício pessoal.
Em mais de quarenta anos de ministério, observei uma triste
realidade, especialmente na Igreja Ocidental. Com muita frequência,
para fazer com que os crentes se interessem pela obediência, é
necessário enfatizar os benefícios. Pense nisso. Chegaríamos com
trinta minutos de antecedência para nos sentarmos na primeira fila
para ouvir uma mensagem sobre santidade? Os títulos dos livros
que enfatizam a obediência estão na lista de best-sellers? A
liderança se afastou dessa verdade confrontadora para acomodar
essa tendência? Em outras palavras, muitos ministros sucumbiram à
pressão de saciar aos que têm comichão nos ouvidos com histórias
inspiradoras, em vez de chamarem o povo de Deus para negar a si
mesmo e seguir a Jesus?
O que faz dessa tendência uma realidade tão triste? Ao
rejeitarmos a sabedoria de Deus, na verdade nós ferimos a nós
mesmos. Suas ordens, Seu conselho e Sua sabedoria no final das
contas trazem as maiores bênçãos, tanto nesta vida quanto na que
está por vir. Somos ensinados que “há grande recompensa em
obedecer-lhes” (Sl 19:11). Você nunca pode dar mais do que Deus;
Seus benefícios são muito maiores do que qualquer coisa que você
possa fazer por Ele.
Por outro lado, é perigoso ser motivado por incentivos. Por quê?
Se o benefício não for óbvio, teremos a mesma determinação de
obedecer às instruções de Deus? Muito provavelmente essa
determinação será engolida pelos nossos interesses pessoais. É por
isso que o temor do Senhor é tão crucial; ele motiva a obediência,
quer a recompensa seja óbvia ou não.
Durante o tempo do grande império persa, esse poderoso reino
havia subjugado todos os demais, e seu líder, o rei Xerxes, era o
homem mais poderoso da terra. Ele era casado com uma mulher
judia chamada Ester.
O oficial de mais alto escalão abaixo do rei era um homem
chamado Hamã. Ele estava amargamente ofendido com o primo de
Ester, Mardoqueu, que também era um oficial do rei. Em sua fúria,
Hamã decidiu punir não apenas Mardoqueu, mas também toda a
raça do povo judeu. Ele, assim como a maioria, não tinha
conhecimento de que a rainha Ester era judia.
Hamã começou a difamar cruelmente o povo judeu perante o rei
e a sugerir que toda a raça fosse aniquilada em um dia. Sua trama
teve êxito. O rei consentiu, emitiu o decreto, e selou-o com o seu
anel de selar.
Mardoqueu, ao descobrir a notícia do decreto, enviou mensagem
à sua prima, a rainha Ester. Ele pediu que ela comparecesse à
presença do rei e implorasse pelas vidas do povo judeu.
Ester respondeu: “Todos os oficiais do rei e o povo das províncias
do império sabem que existe somente uma lei para qualquer homem
ou mulher que se aproxime do rei no pátio interno sem por ele ser
chamado: será morto, a não ser que o rei estenda o cetro de ouro
para a pessoa e lhe poupe a vida. E eu não sou chamada à
presença do rei há mais de trinta dias” (Et 4:11). Embora Ester fosse
a esposa de Xerxes, se ela se aproximasse dele na sala do trono
sem ser convidada, muito provavelmente seria executada.
Vamos entender isso melhor. Ela é rainha e tem uma vida
fabulosa — na verdade, ela pode ter tudo o que o seu coração
deseja. Ester, pessoalmente, não tem nada a ganhar correndo o
risco de entrar na sala do trono em nome do povo de Deus, mas tem
tudo a perder, inclusive a vida. No entanto, observe a resposta que
ela deu a Mardoqueu: Vá reunir todos os judeus que estão em Susã,
e jejuem em meu favor. Não comam nem bebam durante três dias e
três noites. Eu e minhas criadas jejuaremos como vocês. Depois
disso irei ao rei, ainda que seja contra a lei. Se eu tiver que morrer,
morrerei.
— Ester 4:16

O santo temor a motivou a colocar o Reino de Deus antes do seu


próprio bem-estar. Seu conforto, sua segurança, sua riqueza, sua
posição, tudo foi posto em perigo pela sua obediência. Isso não lhe
traria nenhum benefício pessoal, mas o que era importante para
Deus era mais importante para ela, sem exceção. Ester tremia
diante da Sua Palavra; ela temia a Deus.
Em 2015, Lisa e eu estávamos em Yerevan, na Armênia,
ministrando em uma conferência para mais de três mil líderes.
Pastores haviam ido de avião de toda a Europa Oriental e do
Oriente Médio, e muitos haviam dirigido desde o Irã (Yerevan fica a
cinquenta quilômetros da fronteira com o Irã). Na época, os
cidadãos iranianos tinham permissão para entrar na Armênia, de
modo que inúmeros líderes da igreja subterrânea estavam na
audiência. As reuniões foram gloriosas.
Depois do término da última reunião, Lisa e eu decidimos passear
pela rua principal de Yerevan para tomar um pouco de ar fresco.
Duas jovens na casa dos vinte e poucos anos saíram de um
restaurante para nos cumprimentar. Ao conversarmos, descobrimos
que elas eram duas líderes no Irã. Elas eram tremendamente belas
e cheias de vida; na verdade, a certa altura, pensei: A qual dos
meus três filhos solteiros posso apresentar essas garotas?
Lisa e eu conversamos com elas por cerca de vinte minutos.
Soubemos que a polícia religiosa as estava rastreando; durante a
conferência, as autoridades iranianas telefonaram querendo saber
onde elas estavam. Uma das jovens compartilhou que tinha uma
mensagem de alerta em seu telefone.
Nesse momento, fiz um dos comentários mais estúpidos que já
fizera em quatro décadas de ministério. Eu disse a ela: “Por que
você vai voltar para o Irã? Por que você não desiste de correr esse
risco?”.
Sinceramente, com gentileza e determinação, ela olhou para mim
e respondeu: “Quem vai falar ao povo persa sobre Jesus se nós não
voltarmos?”.
Fiquei perplexo com a resposta dela. Testemunhamos aquelas
mulheres colocarem de lado o seu instinto de autoproteção; ele foi
ofuscado pela paixão de ambas pelo avanço do Reino em seu país.
Elas andavam no mesmo santo temor que Ester andou. Elas
obedeciam a Deus, mesmo quando não havia benefício pessoal
óbvio, e muito provavelmente colocavam suas vidas em risco. Fui
corrigido e inspirado também.
Essa determinação, como foi visto nas jovens que mencionei, não
está limitada a um único ato de obediência. É uma postura do
coração que precisa ser desenvolvida e segundo a qual se vive. Ela
é o nosso modo padrão até mesmo nas decisões aparentemente
insignificantes que tomamos a cada momento. Decidimos, mesmo
nas questões menores, obedecer à Palavra de Deus e à direção do
Espírito Santo. Podemos ter uma agenda apertada, mas de repente
somos movidos a telefonar para alguém. Não há razão, nem
benefício óbvio, mas não somos motivados por essas coisas.
Fazemos a ligação e muitas vezes verificamos o “porquê” depois.
Ou talvez tomemos conhecimento de que alguém nos difamou.
Não existe benefício óbvio em perdoar, buscar reconciliação e
abençoar essa pessoa, mas decidimos fazer isso unicamente por
obediência à ordem “sejam bondosos e compassivos uns para com
os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou
vocês em Cristo” e “abençoem os que os amaldiçoam” (Ef 4:32; Lc
6:28).
Talvez tenhamos sido maltratados por alguém que nos odeia.
Qual é o benefício evidente de obedecer às palavras de Jesus
“Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mt
5:44)? Ou leve isto em consideração: que benefício os crentes nas
nações perseguidas veem em abençoar aqueles que os perseguem,
torturam ou até condenam seus entes queridos à morte por causa
de sua fé? No entanto, Lisa e eu nos sentamos com pastores de
países onde isso aconteceu e testemunhamos a alegria e a vida
abundante deles.
Que benefício há em orar apaixonadamente por aqueles que
estão em outras nações? Ou em ofertar a pessoas de outros
continentes que nunca poderão lhe retribuir? A lista é interminável.
A questão é: você vai obedecer a Deus de forma consistente em
resposta ao santo temor que arde no seu coração, ou você vai
esperar até ver um benefício pessoal?

Personalizando

Passagem: “Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por
minha causa, a encontrará” (Mt 16:25).

Ponto: Muitas vezes perdemos as maiores bênçãos por rejeitarmos a sabedoria de


Deus que não parece ser pessoalmente benéfica. Na essência, mais cedo ou mais tarde
ferimos a nós mesmos. Jamais poderemos dar mais do que Deus.
Pondere: O que Jesus quer dizer com “salvar a sua vida”? Tenho interpretado essa
passagem à luz somente de casos extremos, como o martírio? Eu a tenho aplicado às
pequenas decisões diárias que tomo? O que aconteceria se eu fizesse isso? Como isso
mudaria o meu modo de viver?

Pare para orar: Querido Pai celestial, perdoa-me por limitar a minha fome e a minha
obediência à sabedoria que considero pessoalmente benéfica. Eu me arrependo por
essa mentalidade e peço o Teu perdão. Decido de agora em diante não querer salvar a
minha vida, mas abrir mão dela por amor a Jesus. Assim, terei fome e sede da Tua
sabedoria, mesmo daquela que não traz benefício imediato. Em nome de Jesus eu oro,
amém.

Professe: Decido, a cada momento, entregar minha vida aos desejos e à sabedoria do
meu Senhor Jesus.
Fora da obediência,
não pode haver salvação, pois
salvação sem obediência é uma
impossibilidade contraditória.
— A. W. TOZER
Semana 4 — Dia 5

26 | UMA DOR BOA

Quando uma mulher dá à luz um filho, não é uma experiência


agradável; é difícil e até dolorosa. Entretanto, o resultado final é um
novo membro na família. Sem o desconforto da gravidez e do parto,
essa bela e desejada vida não poderia ter sido trazida à luz. Esse
cenário nos dá uma ideia de mais um aspecto de tremer diante da
Palavra de Deus. Os três primeiros aspectos, juntamente com o
mais novo, são: 1. Obedecer a Deus imediatamente.
2. Obedecer a Deus mesmo quando não faz sentido.
3. Obedecer a Deus mesmo quando não vemos nenhum
benefício pessoal.
4. Obedecer a Deus mesmo que seja doloroso.

Voltando a uma das nossas referências bíblicas básicas,


Filipenses 2:12-13, somos lembrados de colocar em ação a nossa
salvação com temor e tremor. Imediatamente antes dessas palavras
que requerem a nossa obediência, Paulo aponta para Jesus como
aquele que dá o exemplo. Nosso Senhor abriu mão de Seus
privilégios divinos e “humilhou-se a Si mesmo e foi obediente até a
morte, e morte de cruz!” (Fp 2:8). Jesus voluntariamente obedeceu
ao pedido do Pai, embora isso implicasse em tremendo sofrimento.
Na noite anterior à crucificação, no jardim do Getsêmani, Jesus
clamou em angústia: “Meu Pai, se for possível, afasta de Mim este
cálice; contudo, não seja como Eu quero, mas sim como Tu queres”
(Mt 26:39). O conflito entre a obediência e a autopreservação era
tão intenso que Jesus suou grandes gotas de sangue. Lembre-se de
que Ele “passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hb
4:15). Ele previu o terrível sofrimento que estava à frente e implorou
por um caminho alternativo para realizar a vontade do Pai, mas não
era possível. O que motiva esse nível de obediência?
Durante os Seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas,
em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo
ouvido por causa da Sua reverente submissão.
— Hebreus 5:7

Seu profundo temor santo O revestiu de poder para enfrentar e


suportar aquilo diante do qual a natureza humana fugiria. Do mesmo
modo, aprendemos que: Portanto, uma vez que Cristo sofreu
corporalmente, armem-se também do mesmo pensamento, pois
Aquele que sofreu em Seu corpo rompeu com o pecado.
— 1 Pedro 4:1

Antes de prosseguir, quero acrescentar um ponto importante. A


falsa religião buscará o sofrimento para agradar o deus a quem ela
serve. Mas o verdadeiro Cristianismo busca obedecer a Deus e,
nesse processo, encara a resistência de um mundo caído, o que
geralmente resulta em sofrimento. É a obediência que agrada a
Deus, e não buscar as dificuldades. O sofrimento pode ocorrer
fisicamente ou mentalmente; a dor de qualquer deles é real.
Pedro nos instrui a nos armarmos. Você pode imaginar um militar
indo para a guerra desarmado, sem nenhum avião, navio, tanque,
armamento, balas ou facas? Essa ideia parece ridícula. Do mesmo
modo, é igualmente loucura um cristão estar despreparado para
sofrer, porém muitos estão. Um crente desarmado pode facilmente
contornar a dificuldade em nome da autopreservação. O temor do
Senhor é o que nos arma; ele mantém uma determinação profunda
em nossa vontade de obedecer a Deus, independentemente do
sofrimento que isso possa exigir.
Tenho inúmeras histórias que eu poderia compartilhar sobre
sofrimento, o suficiente para encher um livro inteiro. Uma delas diz
respeito a uma viagem ministerial no início dos anos 1990. Lisa,
nossos filhos e eu estávamos em uma cidade muito pequena, no
meio do nada, ministrando a uma igreja que havia acabado de
perder o pastor; ele os havia deixado para estar em uma igreja
maior.
As primeiras reuniões foram difíceis. Uma boa parte da
congregação estava desinteressada, e os jovens se sentaram no
fundo, brincando e rindo. No entanto, por volta da terceira reunião,
uma barreira foi rompida. O impacto foi profundo — até os jovens
agora estavam chegando cedo para pegar lugar na primeira fila. A
frequência aumentou e as reuniões se estenderam por algumas
semanas. Fazíamos reuniões todas as noites no prédio lotado da
pequena igreja, com várias pessoas sendo salvas e quase todos
sendo reavivados.
Depois de muita oração, nós nos oferecemos para ficar por
quantos meses fossem necessários para preparar a igreja para um
novo pastor. Entretanto, a diretoria não ficou feliz com a interferência
na organização de suas vidas e no controle deles sobre a maneira
como as coisas aconteciam. Fiquei chocado com uma das
reclamações, na qual eles diziam não gostarem de que os jovens se
sentassem na primeira fila. Havia outras queixas, mas nada que
valha a pena ouvir. Resumindo, eles acabaram votando e optaram
por não aceitar a nossa oferta, então pediram que fôssemos
embora.
Na noite da votação, anunciei à igreja que nossa última reunião
seria na noite seguinte. Um clamor de decepção foi expresso pela
maioria das pessoas; foi um momento tenso, desconcertante e
desconfortável.
No dia seguinte, a igreja recebeu o telefonema de um homem
descontente cuja esposa havia frequentado as reuniões, e ele
ameaçou jogar uma bomba no prédio da igreja durante a nossa
última reunião. Achei aquilo engraçado, até que um policial me
telefonou para falar sobre o assunto.
Incrédulo, respondi: — Com certeza isso não vai acontecer.
O policial respondeu: — Senhor, eu conheço esse homem.
Suspeita-se que ele seja um contrabandista de drogas de alto nível
e eu não descartaria a possibilidade de ele fazer isso se tiver
tomado alguns drinks.
Preocupado, perguntei: — O senhor pode nos dar algum tipo de
proteção?
Mal pude acreditar na resposta dele: — Meu posto, que é o mais
próximo desse vilarejo, fica a cinquenta e seis quilômetros de
distância. Meu expediente esta noite termina às seis e não temos
ninguém que possa dirigir até aí porque estamos com a equipe
reduzida.
Desliguei o telefone, incrédulo e muito preocupado. Minha mente
estava gritando e dizendo para fazermos as malas imediatamente e
sair da cidade. Estávamos morando num trailer de duas unidades
conectadas, que pertencia a um membro da igreja, estacionado em
um campo e completamente vulnerável a um ataque. Nós nos
sentimos inseguros e rejeitados. Por que não ir embora naquela
noite? A diretoria havia nos menosprezado, então era melhor que
saíssemos da cidade!
Eu sabia que meus pensamentos estavam sendo egoístas.
Muitas pessoas foram impactadas durante as nossas duas semanas
ministrando; se nós as abandonássemos prematuramente por causa
de uma ameaça, eles experimentariam novamente a rejeição de um
líder. Eu sabia que, se fugíssemos, estaríamos estabelecendo um
padrão de negligência que possivelmente poderia nos afetar pelo
resto de nossas vidas. Não pude evitar pensar nas palavras de
Jesus: “O assalariado... [aquele que só serve por salário]... quando
vê que o lobo vem, abandona as ovelhas e foge” (Jo 10:12, AMPC).
Nós oramos por horas. Repetidamente, ouvi em meu coração a
passagem que afirma que os que habitam na presença de Deus são
os que “mantêm a sua palavra, mesmo quando saem prejudicados”
(Sl 15:4). Finalmente, uma paz prevaleceu em nossos corações, e
sentimos que estaríamos seguros. Tivemos um excelente culto
naquela noite. Nenhuma bomba explodiu e pudemos dizer adeus da
maneira adequada à congregação.
Vivemos em um mundo caído que é contrário, e até hostil, aos
caminhos de Deus. Assim está registrado: “Pois a vocês foi dado o
privilégio de, não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por
Ele” (Fp 1:29). Não apenas Paulo, mas Pedro também escreveu:
Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no
lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os Seus
passos. “Ele não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi
encontrado em Sua boca”. Quando insultado, não revidava; quando
sofria, não fazia ameaças, mas entregava-Se àquele que julga com
justiça.
— 1 Pedro 2:21-23

Não devemos retaliar; em vez disso, devemos entregar nas mãos


de Deus qualquer tratamento injusto que recebemos. Não devemos
ignorá-lo, mas em oração devemos entregá-lo a Deus, que nos
vingará, mas a Seu modo e no Seu tempo.
Os heróis do Reino experimentaram grandes vitórias através da
fé, mas na sua obediência a Deus, alguns foram ridicularizados,
acorrentados, torturados, abusados, aprisionados, perambularam
em desertos, viveram em caverna e passaram por uma série de
outras circunstâncias desconfortáveis ou dolorosas. Por quê? Eles
viviam em um mundo caído que é hostil ao Reino de Deus (Hb
11:36-39). Todos tinham isso em comum: por causa do santo temor
em seus corações, eles se recusaram a se afastar da obediência,
mesmo que isso os prejudicasse. Mas eles confiavam nesta
promessa: “Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de
alegria colherão. Aquele que sai chorando enquanto lança a
semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes” (Sl
126:5-6).

Personalizando
Passagem: “Aquele que teme ao Senhor possui uma fortaleza segura, refúgio para os
seus filhos” (Pv 14:26).

Ponto: O temor do Senhor é o que nos arma para manter uma profunda determinação
de obedecer a Deus, mesmo diante da adversidade.

Pondere: Tenho deixado de obedecer à Palavra de Deus em nome da autopreservação?


Estou disposto a me arrepender e a abraçar o temor do Senhor? Vou escolher viver e
obedecer mesmo que isso me custe financeira, social ou mesmo fisicamente?

Pare para orar: Querido Senhor, perdoa-me pelo padrão de evitar a obediência à Tua
Palavra para me proteger. Entendo que tenho escolhido de forma pouco sábia — a Tua
proteção é infalível e duradoura; a minha proteção é apenas temporária. De agora em
diante escolho o temor do Senhor; que ele possa me dar a profunda determinação de
obedecer-Te independentemente do custo. Obrigado por esta força, em nome de Jesus,
amém.

Professe: Estou armado pelo santo temor de obedecer a Deus, ainda que isso signifique
que eu sofrerei nesse processo. Entrego a minha alma Àquele que julga retamente.
Veja bem por onde anda, e os seus
passos serão seguros.
— PROVÉRBIOS 4:26
Semana 4 — Dia 6

27 | ESTÁ CONSUMADO

Para iniciar este capítulo, deixe-me fazer uma pergunta: é possível


atingir o pleno potencial de qualquer projeto sem completá-lo? A
resposta é um óbvio não. Nosso Senhor tem um imenso projeto em
andamento, o qual está centrado em edificar um Reino. Ele deu a
cada um de nós a responsabilidade de realizar subprojetos que,
quando completados, concluirão a obra do Seu glorioso Reino.
Tenha isso em mente enquanto caminhamos na direção do nosso
aspecto final de tremer diante da Palavra de Deus. Aqui estão
novamente os quatro primeiros, juntamente com o último: 1.
Obedecer a Deus imediatamente.
2. Obedecer a Deus mesmo que não faça sentido.
3. Obedecer a Deus mesmo que você não veja nenhum benefício
pessoal.
4. Obedecer a Deus mesmo que seja doloroso.
5. Obedecer a Deus até o fim.

O primeiro rei de Israel, Saul, é um exemplo clássico de alguém


que não tremia diante da Palavra de Deus. Ele se afastava
facilmente da obediência quando não fazia sentido, quando o
benefício não era óbvio, ou quando isso não servia aos seus
propósitos. Sua falta de santo temor frequentemente causava dor ou
mal a outros, que era o que de fato acontecia como resultado desse
comportamento.
Mas nem sempre foi assim. Antes de ser coroado rei, ele era um
jovem humilde e temente a Deus — duas virtudes que andam de
mãos dadas. Quando Samuel, o famoso profeta, o procurou, ele foi
rápido em dizer: “Por que você daria atenção a mim? Sou da menor
tribo de Israel, e a minha família é a menos importante da nossa
tribo” (1 Sm 9:21, paráfrase minha). Mais tarde, todo o Israel havia
se reunido para descobrir qual seria a identidade do seu primeiro rei.
Depois de um longo processo, a escolha divina caiu em Saul, mas
quando os líderes o chamaram, ele não estava em lugar algum; ele
estava escondido em um lugar obscuro. Ele não queria ser
reconhecido (1 Sm 10:20-24).
O santo temor não era o seu tesouro. Como aconteceu com
Salomão, ele acabou abandonando-o quando desfrutou de sucesso,
notoriedade e dos benefícios da liderança. Como acontece com a
maioria, como foi com o rei Saul, os sinais iniciais da perda do santo
temor são sutis. Tudo começa ignorando a convicção do certo e do
errado nas pequenas coisas, e o resultado é que nossa consciência
se torna cada vez mais insensível. No fim, quando nos deparamos
com questões mais significativas, não temos consciência do padrão
de desobediência desenvolvido em nós.
Isso aconteceu com o rei Saul. Os sinais da perda do santo temor
começaram a aparecer (1 Sm 13:5-14), mas o curioso era que ele
estava tendo grande sucesso ao mesmo tempo (1 Sm 14:47).
Depois de algum tempo, o rei recebeu as ordens: “Agora vão,
ataquem os amalequitas e consagrem ao Senhor para destruição
tudo o que lhes pertence. Não os poupem; matem homens,
mulheres, crianças, recém-nascidos, bois, ovelhas, camelos e
jumentos” (1 Sm 15:3). O Senhor estava pronto para vingar o
comportamento iníquo dessa nação.
Saul mobilizou 210 mil tropas. Ele e os seus homens mataram
cada ser humano e animal — exceto o rei amalequita, Agague, e os
melhores animais (1 Sm 15:7-9).
Vamos analisar isso. Para Saul comissionar um exército tão
grande, os amalequitas deviam ter pelo menos um quarto de milhão
de cidadãos, de modo que, essencialmente, eles assassinaram
249.999 pessoas. O rei fez 99,99 por cento do que havia lhe sido
dito para fazer, mas observe a resposta de Deus para a sua
obediência quase completa.
Arrependo-Me de ter constituído a Saul rei, pois ele me abandonou e não
seguiu as Minhas instruções.
— 1 Samuel 15:11
Samuel entrega essa mensagem ao rei e chama abertamente seu
comportamento de rebelde (1 Sm 15:23). Não há dúvida quanto a
isso, Saul pecou. Vamos fazer uma breve pausa e discutir o pecado.
O apóstolo João diz que pecado é transgressão (1 Jo 3:4). Sua
definição de pecado pode ser expressa deste modo: o pecado é a
insubordinação à autoridade de Deus. Veja a partir deste ângulo: no
jardim, Adão não foi para a cama com uma prostituta, não roubou
um banco, nem assassinou alguém. Ele apenas desobedeceu ao
que Deus havia dito. Do mesmo modo, Saul decidiu não obedecer
completamente ao que Deus o havia instruído a fazer.
Vamos mergulhar mais fundo. Quando Saul recebeu a ordem de
ir para a batalha, ele não bateu o pé e disse: “De jeito nenhum! Não
vou fazer isso!”. A maioria classificaria esse comportamento como
rebelião. Ele não ignorou a ordem e foi se ocupar com outras
questões pessoais. Se esse fosse o caso, chegaríamos à seguinte
conclusão: “Ele cometeu um erro de julgamento ao não fazer da
obediência uma prioridade”. Mas poucos usariam a palavra
“rebelião”.
Do mesmo modo, a maioria afirmaria que ele fez bem ao
completar 99,99 por cento da missão, mas muito poucos
classificariam seus atos como rebelião. Se estivéssemos no lugar de
Saul e recebêssemos essa correção, quantos de nós protestaríamos
assim: “Vamos lá, seja razoável! Por que você está tão focado no
pouco que eu não fiz, em vez de reconhecer tudo o que realizei?”.
Diante disso, é seguro concluir esta verdade: obediência quase
completa não é obediência nenhuma.
Vamos explorar por que foram usadas palavras tão fortes.
Primeiramente, naqueles dias, se você fosse um rei que conquistou
outra nação, levar o seu rei vivo era o mesmo que ter um troféu no
seu palácio. Isso servia como um lembrete constante da grandeza
da sua liderança, não apenas para o seu ego, mas para todos os
que entrassem no seu palácio.
Em segundo lugar, por que poupar os melhores animais? Antes
de responder, vamos complicar ainda mais. Saul permitiu que os
melhores animais fossem poupados com o propósito de ofertá-los
ao Senhor. Observe a sua réplica ao profeta: “Os soldados os
trouxeram dos amalequitas; eles pouparam o melhor das ovelhas e
dos bois para o sacrificarem ao Senhor seu Deus, mas destruímos
totalmente o restante” (1 Sm 15:15). Por que ele faria isso? Seria
para garantir o favor junto ao povo? Israel era uma nação que
reconhecia ao Senhor Deus. Pense na perspectiva dos soldados,
dos sacerdotes e do povo; eles provavelmente estavam dizendo uns
aos outros: “Temos um rei tão piedoso; ele sempre coloca o Senhor
em primeiro lugar; ele está dando o melhor a Deus”. O povo não
sabia que a ordem original era destruir absolutamente tudo. No
fundo, Saul estava garantindo a sua reputação. A motivação por trás
dos seus atos era o temor do homem. Saul era inseguro.
Em nosso mundo hoje, muitos são compreensivos com os
inseguros. Entretanto, o que está por trás da insegurança é o desejo
de sermos aceitos, amados ou respeitados, mesmo que o preço
seja a obediência. Falta-nos o entendimento do quanto somos
profundamente aceitos e amados pelo nosso Criador. A insegurança
precisa ser chamada como ela é: uma armadilha perigosa.
Saul não completou a ordem devido à sua falta de santo temor.
Vamos voltar ao exemplo de Jesus. Ele estava enfrentando a
rejeição, a vergonha, o ódio, a oposição extrema, espancamentos
físicos e a terrível crucificação. Quando a guarda do templo veio
para prendê-Lo, Seus discípulos tentaram impedir e proteger Jesus,
porém, a resposta Dele foi: Você acha que Eu não posso pedir a
Meu Pai, e Ele não colocaria imediatamente à Minha disposição
mais de doze legiões de anjos? Como então se cumpririam as
Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer desta
forma?”
— Mateus 26:53-54

Obedecer até o fim era primordial para Jesus.


No ensino médio, eu não era cristão, mas havia um pôster no
nosso vestiário que me impactava. Eu o via todas as tardes depois
do treino de basquete. Nele havia um atleta sentado com a cabeça
baixa, dizendo: “Desisto”. Abaixo dessa imagem havia uma imagem
de Jesus na cruz, dizendo: “Eu não desisti”.
Aquilo deixou uma impressão permanente em mim, um incrédulo.
Agora entendo que Jesus poderia ter evitado o tratamento
impiedoso e a morte brutal, mas escolheu continuar em obediência
até poder finalmente dizer “Está consumado”. Isso carrega um peso
muito maior. Ele nos deixou um exemplo de obediência total — para
completarmos o que quer que Deus nos confie.
Agora podemos entender melhor Suas instruções aos discípulos
quando clamaram para que a fé deles fosse aumentada: Assim
também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado,
devem dizer: “Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso
dever”.
— Lucas 17:10

A palavra “tudo” assume um significado inteiramente novo. Vamos


sempre obedecer até o fim.

Personalizando

Passagem: “Nunca desistam!... Mantenham os olhos em Jesus, que começou e


terminou a corrida da qual participamos. Observem como Ele fez. Porque Ele jamais
perdeu o alvo de vista — aquele fim jubiloso com Deus. Ele foi capaz de vencer tudo
pelo caminho... Quando se sentirem cansados no caminho da fé, lembrem-se da história
Dele, da longa lista de hostilidades que enfrentou. Será como uma injeção de adrenalina
na alma!” (Hb 12:2-3, MSG).

Ponto: Obediência quase completa não é obediência nenhuma. Jesus nos deu o
exemplo de obedecer completamente — até o fim — a tudo o que Deus nos confiar.
Pondere: Eu comecei a obedecer à Palavra de Deus e permiti que as distrações, o
prazer, a resistência, a reprovação dos outros, ou qualquer outra adversidade me
fizessem parar e não terminar? Como isso pode mudar?

Pare para orar: Querido Pai celestial, perdoa-me por começar a obedecer ao que Tu me
disseste para fazer, mas não ir até o fim, seja ignorando o assunto ou mudando de ideia
por não ver isso como algo que servia aos meus interesses. Eu me arrependo por essa
falta de santo temor e peço o Teu perdão. Em nome de Jesus, eu oro, amém.

Professe: Decido obedecer à Palavra de Deus até o fim.


Quando os homens
não temem mais a Deus, eles
transgridem as Suas leis sem
hesitação. O medo das
consequências não intimida quando
o temor de Deus está ausente.
— A. W. TOZER
Semana 4 — Dia 7

28 | COMO
CAUTERIZAR
UMA CONSCIÊNCIA

Conforme dissemos no capítulo anterior, os sinais iniciais da perda


do santo temor são sutis — tão sutis que precisamos focar um
pouco mais e desenvolver este ponto importante. Você já sentiu
uma pontada no estômago como uma forma de advertência quando
apresentaram a você a oportunidade de fazer algo questionável? A
maioria das pessoas entende que isso é a nossa consciência nos
protegendo, mas o que muitos não percebem é que a clareza e a
força da nossa consciência podem ser alteradas.
Nossa consciência é um presente de Deus que nunca deveria ser
menosprezado. Ela é uma parte integrante do nosso coração; a sua
sensibilidade é fortalecida pelo santo temor e, de modo inverso, é
entorpecida pela falta dele. Recebemos esta advertência: “Acima de
tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Pv
4:23).
Quando eu tinha trinta e poucos anos, um ministro famoso me
convidou para almoçar. Durante a refeição, ele perguntou: “John,
como posso evitar cair como tantos outros líderes têm caído?”.
Quase me engasguei com a comida. Por que ele me faria uma
pergunta como essa? Eu era jovem, e ele tinha mais tempo de
ministério do que eu na presença de Deus. Mas em vez de protelar
o assunto, olhei para dentro de mim e perguntei silenciosamente:
Espírito Santo, que resposta dou a ele?
Quase que instantaneamente, ouvi: Diga a ele para proteger sua
consciência como o seu bem mais precioso.
Eu disse o que havia ouvido e, de repente, as palavras
começaram a se derramar da minha alma: “Você receberá grandes
oportunidades, mas dentro de você, saberá que elas violam a
integridade, que não são honestas, que são questionáveis ou que
poderiam ferir outros. Ouça a sua consciência; não rejeite a
advertência que ela lhe fizer. Se você a ignorar, perderá sua
sensibilidade a Deus”.
Nos dias que se seguiram, descobri que a palavra “consciência”
aparece frequentemente na Bíblia, algo que eu não tinha percebido
antes. Ela é encontrada aproximadamente trinta vezes apenas no
Novo Testamento. Paulo escreve a Timóteo: Mantendo a fé e a boa
consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé.
— 1 Timóteo 1:19

Naufragar na fé não é uma questão banal.


O almoço com aquele pastor mais velho abriu meus olhos para o
peso da afirmação de Paulo. Ela confirmava por que muitos não
terminam bem.
Se a Palavra de Deus nos adverte para “mantermos” a nossa
consciência limpa — significa que inicialmente ela está em bom
estado. O sangue de Jesus purifica a nossa consciência (1 Tm 3:9;
Hb 9:9,14). Esse é um dos grandes benefícios do novo nascimento.
O profeta Jeremias faz uma afirmação com relação à nossa
consciência que geralmente é mal aplicada. Ele declara: “O coração
é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é
incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?” (17:9). Ele não está
falando dos que nasceram de novo, com uma nova natureza,
recriada à semelhança de Jesus. O povo do Antigo Testamento não
tinha um novo coração. Mas Deus prometeu a eles: “Darei a vocês
um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de
vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne” (Ez
36:26). Isso aconteceria quando Jesus redimisse a nossa natureza e
nos desse a natureza Dele.
Devido ao milagre de nos tornarmos uma pessoa inteiramente
nova em Cristo, temos uma consciência confiável. O desafio é
mantê-la pura. Portanto, agora devemos perguntar: como
contaminamos a nossa consciência? A contaminação completa não
acontece em um momento; em vez disso, começa na maioria das
vezes com questões menores e, no devido tempo, se não for
tratada, nossa consciência acaba naufragando. Tiago escreveu:
Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se
a si mesmos.
— Tiago 1:22
Ficamos novamente face a face com o conceito da obediência.
Discutimos completamente o fato de que a evidência do santo temor
é a obediência imediata e total — mesmo que não faça sentido, que
não haja benefício evidente ou que nos fira. A pessoa que anda de
acordo com isso não pode enganar a si mesma.
Vamos fazer uma pausa e garantir que o impacto não se perca.
Com certeza é possível enganar nossos conhecidos — e até os
amigos chegados e a família — mas enganar a nós mesmos é outra
coisa. Na essência, quando desobedecemos, enganamos a nós
mesmos. Enfraquecemos a proteção da verdade, e o nosso senso
de navegação moral é comprometido. Ficamos menos conscientes
de estarmos no caminho do perigo.
Vamos dar um exemplo hipotético desse processo. Você já disse
uma palavra de difamação contra alguém? No instante em que fez
isso, talvez tenha sentido como se uma faca tivesse sido enfiada no
seu estômago, e imediatamente você corrigiu o que disse.
Entretanto, o que acontece com frequência é que justificamos o
nosso comportamento. Nosso raciocínio após o momento da
difamação pode soar como algo do tipo: O que eu disse é verdade!
Infelizmente, nosso argumento incorreto prevalece, e confirmamos a
nossa afirmação enquanto ignoramos o aviso interior. Agora
iniciamos o processo de contaminação; a sensibilidade da nossa
consciência foi enfraquecida.
Na próxima vez que falarmos contra alguém, não haverá mais
uma faca atingindo nosso estômago; agora sentimos uma
impressão forte no nosso interior. Nossa consciência falou
novamente, mas dessa vez com uma voz menos reconhecível.
Agora o conflito interior não é tão intenso; é mais fácil ignorar o
aviso e justificar nossas palavras. Assim, poluímos um pouco mais o
nosso coração e a sensibilidade da nossa consciência diminui ainda
mais.
Quando falamos contra alguém novamente, não sentimos uma
impressão forte; agora é somente um formigamento — quase
irreconhecível. Quase nem precisamos nos convencer com
racionalizações porque a voz da nossa consciência é muito suave. É
mais fácil justifica o nosso comportamento. A sensibilidade da nossa
consciência diminui mais uma vez.
Por fim, não sentimos nada. Nossa consciência foi cauterizada.
Estamos mais do que cegos e perdemos todo o senso de
discernimento. Agora estamos sem qualquer navegação moral, e o
naufrágio da nossa fé é iminente. Basicamente, enganamos a nós
mesmos — fomos ludibriados.
Tudo isso poderia ter sido evitado através do simples
arrependimento — uma mudança completa de mente e coração. É
quando reconhecemos que a nossa sabedoria é inútil e abraçamos
firmemente a sabedoria de Deus. “Quem esconde os seus pecados
não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra
misericórdia” (Pv 28:13).
Misericórdia e restauração podem acontecer em qualquer fase do
processo, mas a falta de santo temor retarda a nossa reação.
Corremos o risco porque nosso coração se torna cada vez menos
sensível para as convicções da nossa consciência. A pessoa sábia
é sempre rápida em responder com arrependimento aos avisos da
sua consciência; ela sabe que demorar-se é perigoso.
Há muitas pessoas, tanto na Bíblia quanto nos nossos dias, que
se demoraram para dar ouvidos à consciência. Isso pode ser
comparado a jogar roleta russa. Você poderia escapar do naufrágio,
mas como sabe quando deixou de sentir? Não há uma voz
advertindo: “Se você ignorar mais uma vez, eu me calarei”. Paulo
lamenta: O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns
abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de
demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e
mentirosos, que têm a consciência cauterizada.
— 1 Timóteo 4:1-2
A pele humana cauterizada com ferro quente perde toda a
sensação. O mesmo acontece com a nossa consciência. Acabamos
nos projetando de forma contrária a quem realmente somos, sem
qualquer convicção. Foi o que aconteceu com Ananias, Safira, o rei
Saul, e muitos outros.
A segunda consequência da cauterização é que ela tranca as
coisas no interior. Se você sela um pedaço de carne, você impede
as proteínas de escaparem. Paulo escreveu: “Digo a verdade em
Cristo, não minto; minha consciência o confirma no Espírito Santo”
(Rm 9:1). Se um crente cauterizou sua consciência, ele não
consegue mais se comunicar com o Espírito Santo. A testificação do
Espírito não pode atingir sua alma, não muito diferente das
proteínas que não podem deixar a carne quando ela é selada. Esse
crente está agora sem o sistema de navegação da vida. O caminho
dele é um caminho de destruição.
Para encerrar, ouça duas das muitas afirmações de Paulo: “Meus
irmãos, tenho cumprido meu dever para com Deus com toda a boa
consciência, até o dia de hoje” (At 23:1). Mais uma vez: “Por isso
procuro sempre conservar minha consciência limpa diante de Deus
e dos homens” (At 24:16). Portanto, vamos guardar o nosso coração
diligentemente.

Personalizando

Passagem: “Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com


plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma
consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura” (Hb 10:22).
Ponto: A clareza e a força da nossa consciência podem ser alteradas. Nossa
sensibilidade é fortalecida pelo santo temor e, de modo inverso, é entorpecida pela falta
dele.

Pondere: Nossa consciência é purificada pelo sangue de Jesus Cristo. Que disciplina
espiritual posso praticar para manter a minha consciência limpa?

Pare para orar: Querido Pai celestial, peço perdão pelas vezes em que ignorei e fui
contra a minha consciência. Sinto muito por não a proteger diligentemente. Eu me
arrependo e peço o Teu perdão. Purifica-me com o sangue de Jesus. Restaura uma
consciência pura dentro de mim, uma consciência que seja sensível à Tua voz e à Tua
direção. Que eu possa ser rápido em obedecer-Te em tudo. Em nome de Jesus, amém.

Professe: Guardarei o meu coração diligentemente e serei sensível à direção e à voz da


minha consciência.
Prefiro pagar o preço
de ouvir a voz de Deus
pessoalmente,
independentemente de quão difíceis
as circunstâncias possam ser, a ter
de me contentar em sempre ouvir
Dele por outra pessoa.
— JOY DAWSON
Semana 5 — Dia 1

29 | ONDE A
INTIMIDADE COMEÇA

À medida que o santo temor aumenta dentro de nós de acordo com


o aumento da nossa compreensão da glória de Deus, ele purifica as
nossas motivações, nos liberta do temor do homem e produz a
verdadeira santidade em nossa vida. A manifestação do santo temor
é a imediata e completa obediência a Deus, independentemente de
vermos uma razão ou benefício, ou do quanto seja doloroso.
Com esse conhecimento, agora podemos voltar ao nosso debate
sobre os benefícios e dádivas especiais do santo temor. Nesta
seção vamos focar no que é sem dúvida o maior benefício de todos:
a intimidade com Deus.
A palavra íntimo vem de duas palavras latinas: intus, que significa
“dentro” e intimus, que significa “muito secreto”.1 Ao unirmos as
duas, temos “segredos muito íntimos”. Isso nos dá uma imagem
muito boa de intimidade, uma palavra usada para descrever a
conexão afetiva entre dois amigos íntimos em níveis muito mais
profundos do que apenas uma pessoa conhecida, que é alguém que
você encontrou e conhece ligeiramente, mas não conhece bem.
Ser íntimo é uma via de mão dupla; ambas as partes precisam
conhecer os desejos e pensamentos mais profundos uma da outra.
Com relação à intimidade com Deus, vamos ver tanto as
perspectivas Dele quanto as nossas, começando com as Dele. Davi
escreveu: Senhor, Tu me sondas e me conheces.
— Salmos 139:1
A palavra sondar é o hebraico hãqar, que é definida como
“explorar, procurar, examinar”. Descreve perfeitamente o que é
necessário para entrar em um relacionamento íntimo com alguém.
Tempo e esforço, os quais não são pesados, mas prazerosos, são
dedicados para explorar os pensamentos e os caminhos mais
íntimos da outra pessoa.
Desfrutei disso no meu casamento com Lisa. Quando nos
casamos, eu não sabia muita coisa sobre os anseios, os prazeres,
as preferências e as aversões dela, nem mesmo sobre o que ela
desprezava. Foi necessário um tempo de investigação — do qual
gostei muito — para passar a conhecer esses pensamentos e
caminhos mais íntimos. Resumindo, é necessário esforço mental,
emocional e físico focado para passar a ter intimidade com o seu
cônjuge.
A próxima palavra de interesse no versículo é conheces; essa é a
palavra hebraica yãda. No Antigo Testamento, ela é usada com mais
frequência para transmitir a ideia de intimidade. Ela é usada em
Gênesis 4:1 quando lemos: “E conheceu [yãda] Adão a Eva, sua
mulher, e ela concebeu” (ACF). O Espírito Santo usa yãda para
identificar o mais próximo que dois seres humanos podem se tornar
nesta vida. Na essência, Davi está dizendo: “Senhor, Tu me
conheces muito profundamente”.
Davi usa ambas as palavras, hãqar e yãda, para nos dar o
conjunto de imagens vívidas de Deus buscando e sondando os
desejos e caminhos mais íntimos daqueles de quem Ele anseia
estar próximo. Mais uma vez, olhando para o relacionamento entre
Lisa e eu, conheço muito mais sobre ela anos depois de passarmos
tempo juntos. Eu não apenas conheço os seus desejos internos
como mencionado, mas também as suas rotinas, como ela reagirá
sob certas circunstâncias, o que ela gosta de fazer no seu tempo de
lazer, com o que ela ama trabalhar, e a lista continua. Do mesmo
modo, Davi esclarece: Sabes quando me sento e quando me
levanto; de longe percebes os meus pensamentos. Sabes muito
bem quando trabalho e quando descanso; todos os meus caminhos
são bem conhecidos por Ti. Antes mesmo que a palavra me chegue
à língua, Tu já a conheces inteiramente, Senhor.
— Salmos 139:2-4

Deus conhece os nossos detalhes íntimos de uma forma que vai


além de toda a compreensão. Por hãqar, Deus empenhou-se em
explorar, sondar e examinar Davi, e Ele faz o mesmo com cada um
de nós — semelhantemente ao que fiz, durante os últimos quarenta
anos com Lisa, mas em um nível muito maior. Na verdade, apenas
alguns versículos depois, chegamos à afirmação desnorteante de
que os pensamentos de Deus para conosco como indivíduos
excedem cada grão de areia (v. 18). Se eu refletisse sobre os
gostos, manias, anseios e aversões de Lisa a cada doze segundos
durante os últimos quarenta anos e prendesse um grão de areia a
cada pensamento, isso constituiria menos de uma caixa de sapatos
cheia de areia! Os pensamentos de Deus para com cada um de nós
excedem todos os grãos de areia do planeta, e Ele jamais poderia
estar exagerando, pois isso seria uma mentira, e é impossível que
Deus minta. Isso é estarrecedor! Você está começando a captar a
paixão Dele por conhecer tudo a nosso respeito?
Ele deseja profundamente estar próximo de cada um de nós. Mas
permita-me reiterar que a verdadeira intimidade só acontece quando
ambas as partes conhecem bem uma à outra, e não apenas uma
delas. Assim como Ele sonda os nossos pensamentos mais íntimos,
também assim deveríamos buscar apaixonadamente criar uma
verdadeira intimidade com o Senhor. Moisés persegue esse nível de
relacionamento clamando: “Disseste: ‘Eu o conheço [yãda] pelo
nome e de você tenho Me agradado’. Se me vês com agrado,
revela-me os Teus propósitos, para que eu Te conheça [yãda] e
continue sendo aceito por Ti”.
— Êxodo 33:12-13
Deus não nos conhece apenas como um número entre uma
massa de pessoas; Ele nos conhece pessoalmente,
individualmente, pelo nome. Nesse versículo vemos que Moisés
quer que isso seja recíproco; o seu desejo apaixonado é ir além no
seu conhecimento de Deus. Ele quer um relacionamento de
intimidade — não apenas Deus conhecendo-o profundamente, mas
também Moisés conhecendo profundamente a Deus. E quanto a
nós? Lemos: “Aproximem-se de Deus, e Ele se aproximará de
vocês!” (Tg 4:8).
Com o que acabamos de abordar, creio que agora você ouve um
chamado — não, um grito — vindo do coração de Deus. A cada
momento que passa, ele se intensifica. “Por que vocês continuam
distantes quando poderiam ser íntimos de Mim?”. Na essência,
estamos sendo informados de que somos nós que determinamos o
nível da nossa intimidade com Deus. Deixe-me explicar em termos
mais simples: você é quem determina o quão próximo você é de
Deus, e não Ele! E então, qual é o papel do temor do Senhor nisso?
Lemos que: O temor do Senhor é o princípio do conhecimento.
— Provérbios 1:7
Do conhecimento de quê? O autor está se referindo ao
conhecimento médico, científico, histórico ou a outro conhecimento
acadêmico? Muitas das nossas universidades estão cheias desse
conhecimento, no entanto elas têm pouco ou nenhum temor de
Deus. Isso se refere ao conhecimento social ou político? Não, os
caminhos do mundo são loucura para Deus. Será o conhecimento
da Bíblia? Absolutamente não, pois os fariseus eram especialistas
nas Escrituras, mas não temiam a Deus e Lhe desagradavam muito.
Nossa resposta encontra-se nestas palavras: Então você entenderá
o que é temer o Senhor e achará o conhecimento de Deus.
— Provérbios 2:5
A palavra conhecimento é definida pelo Dictionary of Biblical
Languages como “informações sobre uma pessoa, com uma forte
implicação de relacionamento com ela”. O Vine’s Complete
Expository Dictionary nos diz que essa palavra sugere “ter um
conhecimento íntimo experimental Dele [Deus]”. Reafirmando
simplesmente o que é prometido na passagem: o temor do Senhor é
o princípio de conhecer a Deus intimamente.
A verdade é que nem sequer começamos a conhecer a Deus em
um nível íntimo a não ser que O temamos — esse é o ponto de
partida. Se você iniciar qualquer coisa fora do ponto de partida, não
conseguirá completá-la. Se eu começar uma corrida de cem metros,
por exemplo, cinquenta metros na frente dos blocos de partida, serei
incapaz de participar ou de concluir a corrida. Não é diferente no
nosso relacionamento com Deus — sem santo temor, é impossível
conhecê-Lo intimamente. Para nossa alegria, Ele nos deu um
caminho, mas nós iremos andar por ele?
Lembre-se, pelo temor do Senhor nos afastamos do mal ou da
iniquidade. Com este conhecimento, considere que Jesus prediz
que um grande grupo de pessoas ficará chocado no dia do juízo.
Esses homens e mulheres O chamam de Senhor, mas ouvirão
Jesus dizer: “Nunca os conheci. Afastem-se de Mim vocês, que
praticam o mal!” (Mt 7:23). A palavra para “conheci” é ginõsko; essa
é a palavra grega para yãda. Jesus dirá aos que não possuem o
santo temor: “Eu nunca os conheci intimamente”. Isso apresenta
uma questão tremenda que abordaremos no próximo capítulo.

Personalizando

Passagem: “A Teu respeito diz o meu coração: ‘Busque a Minha face!’ A Tua face,
Senhor, buscarei” (Sl 27:8).

Ponto: A verdadeira intimidade é gerada quando ambas as partes se conhecem bem, e


não apenas uma delas.

Pondere: Pense na pessoa com quem você tem mais prazer em estar. Até onde você
sabe o que ela está pensando ou sentindo sem que ela pronuncie uma só palavra? Até
onde você prevê a reação dela em várias situações? Você simplesmente chegou a isso
por acaso ou levou tempo para sondar e refletir sobre a pessoa do seu amigo? Agora,
considere os pensamentos de Deus a seu respeito, que são inumeráveis. O que isso lhe
diz? O que aconteceria se você pesquisasse e refletisse mais sobre o coração de Deus
e sobre os Seus caminhos do que sobre o seu amigo mais íntimo?

Pare Para Orar: Querido Senhor, entendo que tenho negligenciado o maior convite que
já recebi — o de ser íntimo de Ti. Tenho permitido que tantas coisas fiquem no caminho,
me impedindo de dedicar tempo para desenvolver essa intimidade. Com alegria, decido
mudar. Quando eu abrir a minha Bíblia para ler, orar e refletir, que eu possa Te conhecer
em um nível profundo e íntimo. Peço isso em nome de Jesus, amém.

Professe: Decido buscar conhecer a Jesus tão profundamente quanto Ele decidiu me
conhecer.
Há caminho que parece
reto ao homem,
mas no final conduz à morte.
— PROVÉRBIOS 16:25
Semana 5 — Dia 2

30 | UM JESUS
DIFERENTE

Muitas vezes, para entender melhor um assunto, é útil pesquisar o


oposto do que procuramos saber. Assim, antes de embarcarmos em
maiores discussões sobre a intimidade com Deus, vamos primeiro
abordar o seu antônimo, ilustrado pela seguinte história.
Eu havia acabado de chegar ao Havaí para pregar em uma
conferência para líderes. O meu quarto de hotel não estava pronto,
de modo que encontrei um lugar para relaxar debaixo do guarda-sol
de uma piscina. Aconteceu que uma empresária que estava
participando de outra conferência também estava aguardando seu
quarto. Começamos a conversar, e quando descobriu que eu era um
escritor cristão e um ministro, ela começou a falar sobre o seu
relacionamento com Jesus.
Não demorou mais do que alguns minutos para eu perceber que
ela não O conhecia. A mulher não parava de afirmar com confiança
no que ela acreditava, mas muito pouco do que dizia correspondia
ao que a Bíblia revela. Em silêncio, pedi sabedoria ao Espírito
Santo, então, dentro de alguns instantes Ele me revelou o que dizer.
Quando ela terminou, perguntei: — Está vendo aquele homem
sentado do outro lado da piscina?
Com um olhar surpreso (muito provavelmente devido à minha
mudança abrupta de assunto), ela respondeu: — Sim. Por quê?
Eu respondi com bastante entusiasmo: — O nome dele é Jim, e
ele é de Fresno, na Califórnia. Ele faz uma dieta vegana rígida. O
sonho dele é entrar para a equipe americana de polo olímpico. Ele
se exercita na piscina e na academia três horas por dia. Seus
hobbies são jogar bola, pintura e queda livre. Jim é casado com
aquela mulher que está perto da banheira de hidromassagem; o
nome dela é Beth, e ela é dez anos mais velha que ele.
Intrigada com o quanto eu o conhecia, ela perguntou: — Ele está
participando da conferência com você?
— Não — respondi rapidamente Ela ficou mais curiosa: — Então,
como você o conhece tão bem?
Foi aí que me virei, olhei nos olhos dela e afirmei: — Eu nunca o
conheci.
A fisionomia dela mudou e agora demonstrava cautela, e um
pouco até de preocupação. Talvez ela estivesse se perguntando se
eu seria um assediador, um detetive particular ou mesmo um agente
do governo.
Deixei o assunto em suspenso por um instante, e depois disse
com confiança: — Isso é o que eu acredito sobre ele.
Ela ficou sem fala. Então, continuei.
— Você acabou de falar com muita segurança sobre o que
acredita acerca de quem Jesus é, mas quase tudo o que você
acabou de dizer sobre Ele não é verdade; é contrário ao que a Bíblia
ensina. Sei disso porque eu O conheço.
Nossa conversa terminou por escolha daquela mulher, mas ela
ficou perceptivelmente abalada.
O apóstolo Paulo faz uma afirmação impressionante para uma
igreja que ele ama profundamente: “Vocês aceitam de boa vontade
o que qualquer um lhes diz, mesmo que anuncie um Jesus diferente
daquele que lhes anunciamos, ou um espírito diferente daquele que
vocês receberam, ou boas-novas diferentes daquelas em que vocês
creram” (2 Co 11:4, NVT). Ele não identifica um deus diferente, mas
um Jesus diferente. É óbvio que essas pessoas acreditavam em
Jesus, mas na verdade não O conheciam. Por quê? Elas
acreditavam em qualquer coisa que fosse do seu gosto e,
consequentemente, viviam separados do verdadeiro Jesus. Não é
difícil fazer isso; o Senhor é invisível, de modo que você pode alterar
a Sua natureza de acordo com a sua imaginação.
Os filhos de Israel fizeram algo semelhante. Sair do Egito tipifica
ser salvo do mundo. Lemos: “E beberam da mesma bebida
espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e
essa rocha era Cristo. Contudo, Deus não se agradou da maioria
deles” (1 Co 10:4-5). Existem inúmeras razões pelas quais Deus
não se agradou, mas tudo se resume a um ponto principal:
desobediência à Palavra de Deus — a falta de santo temor deles.
Quando Moisés estava na montanha por quarenta dias, um
bezerro de ouro foi criado pelo líder de Israel local, Arão. Vemos
isso e gritamos “idolatria!”. Isso mesmo; no entanto, o que muitos
não percebem é que Arão e todo o povo se referiram ao bezerro
como elõhiym. Essa palavra aparece quase três mil vezes no Antigo
Testamento. Ela pode se referir a falsos deuses, mas nove entre dez
vezes ela se refere a Jeová — o único Deus verdadeiro. Por
exemplo, ela se encontra trinta e duas vezes no primeiro capítulo de
Gênesis. O primeiro versículo da Bíblia diz: “No princípio elõhiym
criou os céus e a terra”.
Podemos facilmente confirmar se eles estão se referindo ao
bezerro como elõhiym — Deus Todo-poderoso — ou como elõhiym,
falso deus. A prova encontra-se na referência de Abrão ao bezerro
como Yahweh (Êx ٣٢:٥). Esse é o nome sagrado do nosso único
Deus verdadeiro, e ele nunca é usado em nenhum lugar na Bíblia
como o nome de um falso deus, a não ser ali. Arão e o povo não se
referiram ao bezerro como osiris, baal, Isis, ou o nome de qualquer
outro falso deus. Eles proclamaram: “Este é Yahweh, aquele que
nos libertou do Egito” (Êx 32:4, paráfrase minha).
Como eles puderam errar tanto? Por que não conheceram o
verdadeiro Deus vivo como Moisés? Eles viram os Seus milagres,
seguiram a Sua nuvem e a Sua coluna de fogo. A resposta não é
complexa. Meses antes, quando Deus desceu sobre o monte para
se apresentar, eles recuaram e clamaram a Moisés: “Aproxime-se
você, Moisés, e ouça tudo o que o Senhor, o nosso Deus, disser;
você nos relatará tudo o que o Senhor, o nosso Deus, lhe disser.
Nós ouviremos e obedeceremos” (Dt 5:27).
Posso imaginar a total decepção de Moisés. Ele não consegue
entender a falta de desejo deles de estarem na presença de Deus.
Como isso poderia ser possível? Moisés leva essa preocupação ao
Senhor esperando encontrar respostas, mas é quase certo que a
resposta de Deus surpreende a Moisés: “Ouvi o que este povo disse
a você, e eles têm razão em tudo o que disseram” (Dt 5:28).
Moisés fica perplexo. Provavelmente ele pensa: Espere aí! Eles
estão certos? Pelo menos uma vez esses caras estão realmente
certos? Imagino que sua resposta para Deus seja algo do tipo: “Por
que eles não podem entrar na Tua presença e Te conhecer
intimamente, assim como eu?”. Deus responde, mas a resposta é
de partir o coração.
Quem dera eles tivessem sempre no coração esta disposição para temer-
Me.
— Deuteronômio 5:29
Deus está lamentando. Se eles tão somente andassem em santo
temor, poderiam entrar na Sua presença e experimentar um
relacionamento de intimidade. Isso por sua vez os capacitaria a
obedecer, e assim tudo correria bem para eles e para seus filhos.
Então Deus dá esta direção a Moisés: Vá, diga-lhes que voltem às
suas tendas. Você ficará aqui comigo, e anunciarei a você toda a lei.
— Deuteronômio 5:30-31
Essa passagem é tanto de partir o coração quanto empolgante.
Primeiro, o desgosto. A hora mais escura de Israel não foi quando
eles construíram o bezerro, nem quando fizeram um relato negativo
que os impediu de entrar na terra prometida. Não, aquela foi a hora
mais escura deles. Deus os tirou do Egito (o mundo) com o
propósito de trazê-los para Si, para que eles pudessem conhecê-Lo
como Ele os conhecia — intimamente. Entretanto, eles recusaram
essa intimidade devido à falta de santo temor. Que trágico!
Por outro lado, foi empolgante para Moisés, pois ele foi convidado
a ficar perto de Deus e ouvir as Suas palavras diretamente da Sua
boca. Ele foi convidado para um relacionamento íntimo com Deus,
enquanto o povo voltava para suas tendas.
A mulher na piscina proclamou um Jesus diferente, os coríntios
serviam a um Jesus diferente, e Israel seguiu um Deus Todo-
poderoso diferente. Estamos vendo um padrão aqui? É possível
criarmos uma divindade com o nome de Jesus e, no entanto, não
conhecermos o verdadeiro Jesus que está sentado à destra de
Deus. E o que torna isso ainda mais desconcertante é que Israel e a
igreja de Corinto experimentaram o poder manifesto do Senhor e os
Seus milagres nas suas orações atendidas.
Portanto, agora vamos voltar para o grande grupo de pessoas
que haverão de declarar Jesus como seu Senhor no juízo, mas que
tragicamente O ouvirão dizer as mesmas palavras que Moisés ouviu
Deus dizer com relação a Israel: “Apartai-vos de Mim”. Cabe a nós
examinar mais de perto as palavras proféticas de Jesus sobre o que
realmente acontecerá com essas multidões. Conforme dito no início
deste capítulo, isso nos dará uma melhor compreensão sobre a
importância do santo temor com respeito à intimidade entre nosso
Senhor e Mestre e nós. Faremos isso no próximo capítulo.

Personalizando

Passagem: “Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem
firmemente à palavra que preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão” (1 Co 15:2).

Ponto: É possível crer de todo o coração em alguém ou em alguma coisa que não é de
verdade.

Pondere: Como posso saber com certeza que acredito no verdadeiro Jesus, em vez de
acreditar em uma imitação? Posso confiar nisso porque os meus líderes ensinam sobre
Ele? Ora, mas Arão não ensinava e liderava Israel? Posso saber com certeza por que
leio a Bíblia? Mas, pense, os fariseus não faziam o mesmo? Como posso saber?

Pare para orar: Pai, em nome de Jesus, peço-Te que eu não apenas conheça a
verdade, mas que eu ame a verdade. Decido abraçar a Tua Palavra viva como
autoridade definitiva e, quer eu entenda, quer não, sempre lhe ser obediente. Ao fazer
isso, tenho a Tua promessa de que não serei enganado. À medida que eu ler e obedecer
à Tua Palavra, que ela possa me ler; que ela possa me revelar quem sou e quem é o
meu Senhor Jesus. Eu Te peço isto em nome de Jesus, amém.

Professe: Decido acreditar na Palavra de Deus, quer eu compreenda, quer não.


O tempo todo estendi as mãos a um
povo obstinado, que anda por um
caminho que não é bom, seguindo
as suas inclinações.

— Isaías 65:2
Semana 5 — Dia 3

31 | NÃO CONHEÇO
VOCÊS

Valorizaremos e entenderemos mais a intimidade com Deus se


continuarmos a observar os seus benefícios. O tópico do último
capítulo, assim como deste, é uma pílula difícil de engolir.
Entretanto, as advertências bíblicas da nossa discussão são na
verdade presentes de amor e proteção da parte do nosso Pai, que é
profundamente cuidadoso. As palavras ditas por Jesus inspirarão
em nós um santo temor que nos manterá próximos do Doador da
vida até o fim.
A Bíblia nos adverte claramente que nos últimos dias um
evangelho seria proclamado e amplamente aceito, o qual ofereceria
uma salvação falsificada, destituída de senhorio. Resumindo, é
oferecido um relacionamento com Jesus sem o compromisso de
uma obediência incondicional à Sua Palavra. Essa é a antítese do
santo temor e produz um Jesus fictício, em nada diferente daquele
que Paulo acusou muitos dos coríntios de abraçarem.
Depois que Paulo confronta esses “crentes” gregos por seguirem
um Jesus diferente, ele aborda o estado do coração deles que
produziu esse salvador imaginário. Ele escreve: “muitos... não se
arrependeram da impureza, da imoralidade sexual e da libertinagem
que praticaram” (2 Co 12:21). Eles professam o Senhor Jesus, mas
vivem de uma forma contrária à Sua Palavra.
Essa era uma ocorrência rara na Igreja Primitiva, mas ela está
disseminada na nossa igreja ocidental moderna. A consequência
desse ensino reduz “Senhor” apenas a um título, em vez de uma
posição que Ele deveria ocupar na vida das pessoas. Jesus
profetiza: Nem todo aquele que Me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no
Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de Meu Pai
que está nos céus.
— Mateus 7:21

Jesus reconhece as pessoas que O declaram como seu Senhor


— e não aquelas que reverenciam Maomé, Joseph Smith, Buda,
Hare Krishna, Confúcio, ou qualquer outro falso profeta da nossa
era. Observe que a palavra Senhor é repetida consecutivamente
neste versículo. Mais uma vez, se uma palavra ou frase é repetida
duas vezes na Bíblia, isso não é acidental. O autor está
comunicando uma ênfase. No entanto, em casos como este, não se
trata apenas de ênfase, mas de intensidade de emoção. Por
exemplo, quando chegou ao rei Davi a notícia da execução de seu
filho pelo exército de Joabe, sua reação foi carregada de emoção:
“O rei, com o rosto coberto, gritava: ‘Ah, meu filho Absalão! Ah,
Absalão, meu filho, meu filho!’” (2 Sm 19:4). Ele não disse
necessariamente “meu filho” duas vezes; na verdade, seu clamor
emocional de sofrimento foi tão intenso que o autor repetiu as
palavras.
Do mesmo modo, o Mestre está comunicando os fortes
sentimentos dessas pessoas com relação a Ele. Elas não apenas
estão em concordância com o ensinamento de Jesus Cristo ser o
Filho de Deus; elas estão emocionalmente envolvidas e
apaixonadas na sua convicção. Estamos falando de pessoas
empolgadas por serem “cristãs”, muito provavelmente aquelas que
demonstram emoção quando falam da sua fé e até choram durante
um culto.
Elas não apenas têm profundos sentimentos pela causa de
Cristo, como também estão envolvidas no Seu serviço: Posso até
ver a cena no juízo final, milhares vindo em Minha direção e se
justificando: ‘Senhor, nós pregamos a Mensagem, expulsamos
demônios, e todos diziam que nossos projetos eram patrocinados
por Deus’”.
— Mateus 7:22, A Mensagem Utilizo a paráfrase da Bíblia A Mensagem
porque ela transmite melhor o fato de que essas pessoas não estão fora da
vida religiosa. Elas estão diretamente envolvidas ou apoiam a obra de suas
igrejas. Elas também se expressam de forma convincente sobre a sua
crença no Evangelho — “Nós pregamos a Mensagem”. Na essência, eles
faziam parte do processo de mudar a vida das pessoas para melhor.

Essa versão parafraseada utiliza a palavra milhares, mas a


maioria das outras traduções utiliza a palavra muitos. Essa é a
palavra grega polus, que significa “muito em número, quantidade,
valor” e geralmente é usada no sentido de “a maioria”. Em todo
caso, Jesus não está se referindo a um pequeno grupo de pessoas,
mas a um grande grupo que acredita nos ensinamentos dos
Evangelhos. Elas O chamam de Senhor, estão emocionalmente
envolvidas, dão voz à Sua mensagem e são ativas no serviço
cristão. Nós as identificaríamos facilmente como verdadeiros
cristãos. Então, qual é o fator de separação? Em que elas diferem
dos crentes autênticos? Jesus nos diz: Então Eu lhes direi
claramente: “Nunca os conheci. Afastem-se de Mim vocês que
praticam o mal!”.
— Mateus 7:23

A frase-chave é “praticam o mal”. Mais uma vez, o


comportamento iníquo não se submete à autoridade da Palavra de
Deus. Esses homens e mulheres não tropeçam periodicamente; em
vez disso, quando melhor lhes apraz, eles habitualmente ignoram,
negligenciam ou desobedecem à Palavra de Deus — falta-lhes o
santo temor.
É interessante notar que Jesus declarou: “Nunca os conheci”.
Como dito em um capítulo anterior, a palavra “conheci” é o grego
ginõskõ, que é o mesmo termo hebraico yãda: conhecer alguém
intimamente. Eles nunca tiveram um verdadeiro relacionamento de
intimidade com Jesus. Embora O chamem de Mestre e Senhor, esse
é apenas um título porque eles não obedeceram às Suas ordens.
João escreve: Sabemos que O conhecemos [ginõskõ] se
obedecemos aos Seus mandamentos. Aquele que diz: “Eu O
conheço”, [ginõskõ], mas não obedece aos Seus mandamentos, é
mentiroso, e a verdade não está nele.
— 1 João 2:3-4

Isso se alinha perfeitamente com a maneira como Jesus definiu o


Seu discurso: “Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!” (Mt
7:20). Os frutos não são o serviço cristão, proclamar a mensagem
ou frequentar a igreja, porque aqueles que serão mandados embora
terão essas qualidades.
Deixe-me dizer de outra forma: você certamente encontrará
essas qualidades em um verdadeiro crente. Na verdade, uma
pessoa não pode ser um verdadeiro crente sem elas. Porém,
possuir essas qualidades não significa que sejam verdadeiros filhos
de Deus. O fator decisivo é: eles são obedientes às Suas palavras?
Essa discussão é o assunto com o qual Jesus encerra o Seu
famoso Sermão do Monte. Para fechar Suas impressionantes
palavras, Ele conclui dizendo: Portanto, quem ouve estas Minhas
palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a
sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios,
sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu,
porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas Minhas
palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua
casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram
os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua
queda.
— Mateus 7:24-27
Se você examinar os dois grupos, tudo se resume a uma
diferença simples. Ele afirma que ambos os grupos ouvem as Suas
palavras, mas o primeiro grupo as põe em prática; o segundo grupo
não as põe em prática — ou poderíamos dizer, o primeiro grupo
treme diante da Palavra de Deus (teme a Deus) e o segundo grupo
não treme diante da Palavra de Deus (não teme a Deus).
Jesus deixa claro que esses dois grupos são muito similares na
aparência. No grupo a quem falta o fundamento, a crença deles na
doutrina do Cristianismo, chamando-O fervorosamente de Senhor, e
o seu serviço cristão ativo, representava como eles construíram a
sua vida, a sua casa. O grupo do fundamento firme tinha todas as
mesmas qualidades, exceto o fato de que eles obedeciam às
palavras Dele como se elas fossem a sua própria vontade. Ambas
as casas são feitas do mesmo material, os mesmos ensinamentos.
Ambas parecem idênticas na adoração e no serviço. A diferença é o
fundamento — o que é invisível. Um grupo experimenta intimidade
com Deus no particular; o outro grupo, não.
A intimidade com Deus é prometida aos que andam em santo
temor. Nos próximos capítulos veremos esse magnífico privilégio ao
qual você e eu somos convidados.

Personalizando

Passagem: “Graça e paz lhes sejam multiplicadas... Seu divino poder [graça] nos deu
todas as coisas de que necessitamos para a vida e para a piedade... Ele nos deu as
Suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem
participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada
pela cobiça” (2 Pe 1:2-4).

Ponto: A evidência de que alguém está em um relacionamento com Jesus é que ele é
revestido de poder além da sua própria capacidade para cumprir a Sua Palavra. Esse
revestimento de poder é identificado como a Sua graça.

Pondere: Estou tentando obedecer às palavras de Jesus na minha própria força ou


estou contando com Sua graça, Suas promessas e Sua natureza divina para fazer isso?
Como posso contar mais com a Sua habilidade, em vez da minha?

Pare para orar: Pai, perdoa-me por tentar obedecer à Tua Palavra na minha própria
força. Deste momento em diante declaro Jesus como o supremo Senhor da minha vida.
Tudo o que a Tua Palavra diz é autoridade definitiva em minha vida. Dependerei
unicamente da Tua graça que me dá poder e da Tua natureza divina revelada a mim
para andar nos Teus caminhos. Esse é um caminho que trilharemos juntos em um
relacionamento íntimo. Sou muito grato pelo Teu convite para essa vida magnífica. Em
nome de Jesus, amém.

Professe: Andarei pela fé na capacidade do Senhor. Não dependerei mais da minha


capacidade, mas agora cooperarei com o poder Dele.
Nunca somos
iluminados ou
surpreendidos pelo
que vem dos nossos
próprios pensamentos.
Mas quando Deus fala,
há sempre um elemento
de admiração e assombro.
— JOY DAWSON
Semana 5 — Dia 4

32 | O SEGREDO
DO SENHOR

Os dois últimos capítulos foram difíceis, desafiadores e sérios. É


tanto aterrador quanto de partir o coração saber que muitos que
esperam ouvir Jesus dizer: “Entre no gozo do Senhor”, em vez disso
ouvirão: “Afaste-se de Mim”. Não há decepção maior do que pensar
que você está em um relacionamento com Deus quando, na
verdade, não está. Esses homens e mulheres de repente chegarão
à terrível revelação da sua loucura ao “usar Deus” em vez de
estarem “unidos com Ele”. Eles usaram a Sua Palavra para os seus
propósitos egocêntricos em lugar de experimentarem o magnífico
amor revelado na obediência à Sua Palavra. Com grande amor,
Jesus nos adverte contra essa possibilidade terrível a fim de nos
proteger de cairmos em um estado de mornidão ou de engano.
Agora, com o entendimento do que é o contrário da intimidade,
vamos alegremente começar a nossa discussão sobre a beleza de
estar genuinamente próximos do nosso Criador. Vamos começar
olhando para um cenário que levaremos os próximos capítulos para
investigar completamente.
Para defini-lo, deixe-me fazer uma pergunta: é possível ser um
membro do Reino (não ouvir as terríveis palavras “afastem-se de
Mim”) mas ainda assim ter perdido a oportunidade de ser íntimo de
Deus? A resposta rápida é sim. Mas vamos explorar essa questão
na Bíblia e, para começar, vou compartilhar uma das minhas
passagens favoritas: O Senhor confia os Seus segredos aos que O
temem, e os leva a conhecer a Sua aliança.
— Salmos 25:14

A palavra hebraica para segredo é sôd, e ela é definida como


“conselho”. O dicionário grego também diz: “A confidencialidade
está no âmago desse termo”. Assim, na essência, o salmista não
está falando de um segredo, mas do conselho secreto de Deus ou,
para o nosso propósito aqui, simplesmente o chamarei de segredos
(no plural), como diz a passagem mencionada.
Agora faça esta pergunta a si mesmo: com quem você
compartilha os seus segredos, com conhecidos ou com os amigos
próximos? Estou certo de que você respondeu com os seus amigos
próximos. Deus não é diferente; Ele compartilha os Seus segredos
com os Seus amigos próximos e íntimos, e os Seus amigos
próximos são aqueles que abraçam o santo temor. A versão ARA
diz: “A intimidade do Senhor é para os que O temem”.
Deus não é amigo de todo mundo. Deixe-me repetir isso de uma
forma mais específica: Deus não é amigo de todo mundo que está
na igreja. Para desenvolver esse raciocínio, vamos começar no
Antigo Testamento. Há dois homens identificados como amigos de
Deus: Abraão e Moisés. Existem outros? Certamente sim — Noé,
Daniel, Ester, José, Davi, Jó, Enoque, Isaías e muitos outros
andavam intimamente com Deus. Entretanto, as vidas desses dois
homens exemplificam o caminho que leva a um relacionamento de
amizade com o Senhor.
Vamos começar com Abraão. Por que ele é chamado amigo de
Deus? Quando ele tinha setenta e cinco anos, Deus prometeu
conceder o maior desejo do seu coração, um filho. Entretanto, isso
não foi imediato. Ele esperou por mais vinte e cinco anos até que
Sara, sua mulher, milagrosamente desse à luz Isaque. Você pode
imaginar o profundo apreço e a imensa doçura em esperar tanto
tempo por esse cumprimento?
Estou certo de que o relacionamento pai-filho ficava mais forte a
cada ano que passava. Sua grande riqueza não era nada
comparada ao prazer de estar com seu filho. Nada significava mais
para Abraão — nem mesmo a própria vida.
Mas então um dia, sem nenhum aviso antecipado, Deus diz a
Abraão em oração: “Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem
você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como
holocausto num dos montes que lhe indicarei” (Gn 22:2).
O quê??! Matar a pessoa ou a coisa mais importante da sua vida,
só porque Deus disse para fazer isso, sem lhe dar uma razão? Está
falando sério? Você pode imaginar o choque de Abraão ao ouvir tais
palavras? Ele jamais poderia imaginar que Deus lhe pedisse algo
tão difícil. Ele havia pedido mais do que a vida de Abraão — Ele
havia pedido o seu coração. Isso não fazia sentido.
Deixe-me inserir este ponto importante: sabemos que isso era um
teste. Na verdade, a Bíblia deixa claro esse ponto: “Passado algum
tempo, Deus pôs Abraão à prova” (v. 1). Mas aqui está a
desvantagem de ler um relato histórico que já aconteceu —
sabemos o resultado; a maioria dos crentes o ouviu ou leu diversas
vezes. Mas nos esquecemos que Abraão não sabia que aquilo era
um teste! Nunca sabemos quando Deus está nos testando até
estarmos do outro lado. Pode ser possível colar em uma prova da
escola, mas ninguém pode “colar” nas provas que Deus dá. Se não
tivermos feito o nosso dever de casa de permanecer na Sua Palavra
com o propósito de santificar o nosso coração, teremos dificuldades
para passar, por mais inteligentes que sejamos!
Se os descendentes de Abraão tivessem conhecido as ocasiões
dos testes de Deus no deserto, eles teriam agido de outro modo.
Abraão tinha algo diferente, algo que faltava aos seus
descendentes: o santo temor.
Amo a resposta de Abraão à ordem extremamente difícil de Deus:
“Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada” (Gn 22:3,
ACF). Ele agiu imediatamente! Ele não ficou refletindo sobre o
assunto por alguns dias ou semanas; não chamou seus amigos para
pedir a opinião deles; não ignorou a ordem de Deus nem resistiu a
ela. Ele, Isaque e dois servos se levantaram cedo na manhã
seguinte, prepararam as coisas e iniciaram a jornada.
Pode ter sido ligeiramente mais fácil agir depois de ouvir a voz de
Deus na noite anterior, mas e dois dias e meio depois, quando
Abraão não ouvia uma voz do céu desde então? Agora ele está face
a face com a montanha onde sacrificará a pessoa ou o bem mais
precioso de sua vida, só porque Deus disse para fazer isso, sem dar
nenhuma explicação.
Abraão continua indo em direção ao sopé da montanha e pede a
seus servos que esperem. Ele leva Isaque para subir a montanha e
edifica o altar, o tempo todo escondendo as suas emoções
turbulentas e as suas lágrimas. Foi necessário cada centímetro da
sua força de vontade e da sua força mental para fazer o que era
necessário para o sacrifício. Chegando o momento crucial, toda a
esperança de que Deus mude de ideia parece perdida. Assim, em
grande angústia, ele amarra Isaque, ergue o cutelo e está pronto
para enterrá-lo no coração de seu filho — tudo porque Deus o pediu.
Nenhuma razão foi dada.
De repente, um anjo de Deus aparece. “Não toque no rapaz”,
disse o Anjo. “Não lhe faça nada. Agora sei que você teme a Deus,
porque não me negou seu filho, o seu único filho” (Gn 22:12).
Como o anjo sabia que Abraão temia a Deus? Porque ele
obedeceu instantaneamente, quando não fazia sentido, quando ele
não via qualquer benefício, quando isso doía, e ele foi até o fim.
Então Abraão abaixa o cutelo, desamarra Isaque, ergue os olhos,
e vê um cordeiro preso em um arbusto. Da sua boca saem estas
palavras: “Jeová-Jirê”, que significa “o Senhor proverá” (Gn 22:14).
O que acabara de acontecer? Naquele momento, Deus revelou uma
faceta do Seu caráter a Abraão que ninguém mais havia conhecido
antes. Por quê? Porque ele era amigo de Deus.
Deixe-me esclarecer. Todos vocês que estão lendo este livro me
conhecem como John Bevere, o autor. Alguns de vocês que me
ouviram pregar em conferências ou igrejas me conhecem como
John Bevere, o palestrante. No entanto, há uma mulher — seu
nome é Lisa — que me conhece como John Bevere, o marido; John
Bevere, o pai; John Bevere, o avô; John Bevere, o melhor amigo;
John Bevere, o amado; e eu poderia continuar. Pouquíssimas
pessoas conhecem essas facetas da minha personalidade — só os
mais chegados a mim. E a última, só Lisa conhece.
Abraão se tornou amigo íntimo de Deus naquele dia. No próximo
capítulo, vamos explorar as dinâmicas extraordinárias entre esses
dois amigos — e como nós também podemos ter um
relacionamento assim.

Personalizando

Passagem: “O Senhor confia os Seus segredos [do doce e satisfatório companheirismo]


aos que O temem [reverenciam e adoram], e Ele lhes mostrará a Sua aliança e lhes
revelará o seu [profundo e íntimo] significado” (Sl 25:14, AMPC).

Ponto: Deus divide Seus segredos com os amigos íntimos, e Seus amigos íntimos são
aqueles que vivem em santo temor.

Pondere: O que é um amigo? Como os amigos desfrutam a vida juntos? O que torna
uma amizade mais profunda? Eu gostaria de ser amigo de Deus? O que penso que Ele
procura em um amigo? Eu tenho sido um bom amigo Dele? Caso contrário, o que
deveria mudar? Quais são os meus desejos ligados a ser Seu amigo?

Pare para orar: Querido Senhor, desejo ser um dos Teus amigos íntimos. Sei que este
também é o Teu desejo. Refletindo sobre o que é um amigo íntimo, entendo que não
tenho sido um amigo fiel a Ti. Perdoa-me por não colocar os Teus desejos acima de tudo
o mais e por não proteger o nosso relacionamento na maneira como vivo e respondo a
Ti. Peço-Te a graça de ser Teu amigo por toda a eternidade. Em nome de Jesus, amém.

Professe: Buscarei ser um amigo de Deus e decido não ter nenhuma outra prioridade
maior.
O temor de Deus ilumina a alma,
aniquila o mal, enfraquece as
paixões, expulsa as trevas da alma e
a torna pura. O temor de Deus é o
ápice da sabedoria. Onde ele não
está, não encontraremos nada de
bom. Todo aquele que não possui o
temor de Deus está aberto a quedas
diabólicas.
— EFRÉM, O SÍRIO
Semana 5 — Dia 5

33 | A INFORMAÇÃO
EM PRIMEIRA MÃO

Falamos como a amizade entre Deus e Abraão se formou. Eis um


exemplo de como podemos entrar em um relacionamento similar de
intimidade com Deus. Mas, antes de tratarmos disso, vamos
continuar com Abraão. Lemos: Você pode ver que tanto a fé como
as suas obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas
obras... e ele foi chamado amigo de Deus.
— Tiago 2:22-23

O apóstolo Tiago fala sobre a amizade deles, e não é


coincidência que tanto as palavras de Tiago quanto as do anjo
estejam de acordo. O que promoveu essa intimidade foi o santo
temor de Abraão, e isso ficou evidente pela sua rápida e completa
obediência (obras). Mesmo quando a ordem não fez sentido, não
tinha qualquer benefício aparente e era dolorosa de ser executada,
ele tremeu diante da Palavra de Deus. O santo temor nos motiva
tanto para querer quanto para realizar o que Deus pede de nós. Ele
abre a porta para a intimidade com Ele.
Certo dia, Deus fez esta pergunta aos dois anjos que O
acompanhavam em uma visita a Abraão junto aos carvalhais que
pertenciam a Manre: “Esconderei de Abraão o que estou para
fazer?” (Gn 18:17).
Então o Senhor voltou-se para Abraão para discutir Suas
intenções, e os dois anjos foram até às cidades de Sodoma e
Gomorra. Vou parafrasear o que aconteceu em seguida, a fim de
termos uma maior identificação, mas basicamente o Senhor disse:
“Abraão, estou planejando explodir estas duas cidades porque o
clamor do pecado delas está gritante demais. O que você acha?”.
Você pode se imaginar ouvindo essas palavras do Criador?
Chocado, Abraão responde: “Sodoma?!”
O Senhor responde: “Sim, sim, e Gomorra também. O que você
acha a respeito disso?”.
Em pânico, Abraão diz consigo mesmo: Pense, Abraão, pense.
Meu sobrinho Ló está lá, então tenho de interceder em favor dele
assim como em favor de quaisquer outras pessoas inocentes.
Abraão tem uma ideia: Exterminarás o justo com o ímpio? E se
houver cinquenta justos na cidade? Ainda a destruirás e não
pouparás o lugar por amor aos cinquenta justos que nele estão?
Longe de Ti fazer tal coisa: matar o justo com o ímpio, tratando o
justo e o ímpio da mesma maneira. Longe de Ti! Não agirá com
justiça o Juiz de toda a terra?
— Gênesis 18:23-25

Você pode imaginar a alegria e o prazer de Deus ao ouvir a


resposta do homem com quem Ele tinha uma aliança? Ele
provavelmente respondeu: “Excelente comentário! Tudo bem, não
destruirei as duas cidades se houver cinquenta justos ali. Estou
muito feliz por ter falado com Meu amigo Abraão”.
Mas Abraão não estava satisfeito — e se não houver cinquenta?
Então ele repete a pergunta, mas reduz o número para quarenta e
cinco.
O Senhor responde: “Outro bom argumento! Tudo bem, não
destruirei as cidades se houver quarenta e cinco justos. Estou
satisfeito por ter tido esta discussão com Meu amigo Abraão”.
Abraão não para; ele continua pressionando, passando de
quarenta e cinco para quarenta, depois para trinta, depois para
vinte, e finalmente para dez justos. Ele pensa consigo mesmo: Tem
de haver dez. Ló, meu sobrinho, é um — preciso apenas de mais
nove.
Só um amigo pode agir dessa maneira com um rei que tem o
poder de exercer juízo. Vindo de um servo ou súdito, essa petição
seria desrespeitosa. O Senhor concordou com cada pedido, e então
lemos: “Tendo acabado de falar com Abraão, o Senhor partiu, e
Abraão voltou para casa” (Gn 18:33).
Lembre-se, temer a Deus significa que amamos o que Ele ama e
odiamos o que Ele odeia. Deus certa vez falou comigo em um
determinado dia depois de eu ter me esforçado em amor para dizer
palavras de cura a alguém que havia sido duro comigo: “Filho,
quando você se importar com o que Eu me importo — pessoas —
então discutirei os Meus planos com você”. O santo temor realmente
nos capacita a amar mais verdadeira e profundamente não apenas
a Deus, mas também as pessoas.
A Bíblia afirma que os habitantes de Sodoma e Gomorra estavam
“comendo e bebendo, comprando e vendendo, plantando e
construindo” (Lc 17:28). Vamos colocar isso em termos mais atuais:
“A vida está boa, a economia está bombando, e se existe um Deus,
Ele não se importa com o nosso estilo de vida”. Essas cidades
estavam a menos de vinte e quatro horas de serem exterminadas, e
as pessoas não se davam conta disso. Mas essa não é a realidade
mais alarmante.
A realidade aterrorizante é esta: Ló, que a Bíblia identifica como
“justo” (2 Pe 2:7), também não se dava conta do que estava prestes
a acontecer — em nada diferente de todas as pessoas ímpias!
Foram necessários dois anjos de misericórdia para tirá-lo dali
juntamente com sua família — tudo porque Abraão orou (Gn 19:29).
Para tornar essa história mais relevante, vamos olhar para ela
como se tivesse acontecido nos nossos dias. Temos dois homens
justos — dois homens cristãos salvos, nascidos de novo. Um justo
sabe o que Deus vai fazer antes que aconteça, e ajuda Deus a
decidir como Ele vai fazer isso. O outro justo está tão alheio ao juízo
iminente quanto os maus. Por quê? O primeiro justo teme a Deus;
portanto, ele é um amigo de Deus, que, por sua vez, conhece os
segredos de Deus. O segundo justo não teme a Deus; portanto, ele
não é um amigo de Deus, e assim, não conhece os segredos de
Deus.
Ló foi chamado de justo, mas ele era mundano. Ele representa o
cristão que, quando é colocado contra a parede, procura primeiro
servir aos seus próprios interesses, semelhantemente à igreja de
Corinto e bem parecido também com muitos da nossa Igreja
Ocidental. Esse grupo de homens e mulheres “justos” tem um
relacionamento com Deus que não é muito diferente do meu
relacionamento com o presidente dos Estados Unidos. Posso me
beneficiar das suas decisões e da sua liderança, mas não tenho as
notícias em primeira mão, os seus planos, seus sentimentos
pessoais ou suas decisões antes que ele as tome.
O caráter de Ló se torna evidente pelo lugar onde ele escolhe
habitar, pelo tipo de esposa que ele escolhe e pelos filhos que ele
gerou por meio do incesto — os moabitas e amonitas. Ló
originalmente escolheu o que lhe pareceu melhor. Quando se
separou de Ló, Abraão lhe deu a primeira escolha sobre em qual
terra ele queria viver, concordando em ir na direção oposta. A Bíblia
diz: “Olhou então Ló e viu todo o vale do Jordão, todo ele bem
irrigado” (Gn 13:10). A Nova Versão Transformadora diz que ele
“olhou demoradamente para as planícies férteis do vale”. Por que
ele olhou demoradamente para o vale do Jordão? Ele conhecia a
maldade das cidades daquelas planícies. Ele provavelmente estava
tentando decidir como poderia desfrutar dos benefícios do sistema
do mundo, mas não se deixar enredar nele. Então traçou um plano.
Ele decidiu acampar nas planícies, a uma distância segura do centro
da maldade (Gn 13:12), mas sua ideia comprometedora não deu
certo. Mais tarde, Ló e sua família acabaram dentro dos portões da
cidade, e ele acabou sendo atraído para dentro.
Quando nos falta o santo temor, vamos inevitavelmente procurar
nos aproximar do mundo tanto quanto possível sem cairmos de
cabeça nele. Entretanto, se esse for o nosso motivo, é apenas
questão de tempo para que o mundo nos atraia. Precisamos lembrar
que fomos chamados para alcançar os perdidos no mundo, e não
para fazer parte dele.
A vida de Ló serve como uma advertência para cada um de nós.
O dia do juízo viria sobre ele como um ladrão na noite se não fosse
pela intercessão de Abraão. Haveria consequências terríveis para o
seu mundanismo. Conforme dito, a descendência de Ló foi muito
ímpia. Sua mulher estava tão presa a Sodoma que desobedeceu à
ordem dos anjos de não olhar para trás, e isso resultou em juízo —
ela se tornou instantaneamente uma coluna de sal. Jesus nos
adverte: “Lembrem-se da mulher de Ló!” (Lc 17:32).
Agora, a sabedoria nos faz perguntar: essa condição de amizade
é verdadeira para aqueles de nós que somos filhos de Deus?
Vamos tratar disso brevemente, mas, primeiro, vamos examinar
outro amigo de Deus famoso no Antigo Testamento.

Personalizando

Passagem: “Aproximem-se de Deus, e Ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem


as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração” (Tg 4:8).

Ponto: Deus compartilha Seus planos com aqueles que O temem. Ele esconde Seus
planos daqueles cuja lealdade está dividida entre Deus e o mundo.

Pondere: Jesus diz: “Mas, quando o Espírito da verdade vier, Ele... anunciará a vocês o
que está por vir” (Jo 16:13). Como isso está correlacionado com a maneira como Deus e
Abraão interagiam? Isso é algo que desejo ter com Deus, que Ele compartilhe os Seus
planos comigo?

Pare para orar: Querido Senhor, desejo ouvir o Teu conselho secreto. Entendo que
tenho flertado com o mundo, como Ló. Eu na essência me afastei do Teu conselho
interno. E me arrependo por isso. Peço-Te que me purifiques completamente com o
sangue de Jesus, meu Senhor. Recebe-me como alguém com quem Tu compartilhas os
Teus segredos. Em nome de Jesus, amém.

Professe: Escolho Deus e não o mundo.


Somente quando formos dominados
por uma sensação avassaladora
de admiração e reverência na
presença de Deus é que
começaremos a adorar a Deus em
espírito e em verdade.
— ALISTAIR BEGG
Semana 5 — Dia 6

34 | FACE A FACE

Agora vamos ver o outro homem do Antigo Testamento que é


mencionado como “amigo” no seu relacionamento com Deus.
O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com seu amigo.
— Êxodo 33:11

É quase incompreensível que a Bíblia utilize a expressão “face a


face” ao descrever a amizade compartilhada entre Deus e Moisés.
Tenha em mente que esse é o Deus Todo-poderoso, não alguém do
outro lado da rua, ou mesmo uma figura famosa. Você está
entendendo a grandeza dessa afirmação? Essa expressão de
intimidade não é usada somente uma vez; ela é usada uma
segunda vez quando o Senhor estava irado com Arão e Miriam por
criticarem Moisés. Ele declara de forma severa: Não é assim,
porém, com Meu servo Moisés, que é fiel em toda a Minha casa.
Com Ele falo face a face, claramente, e não por enigmas; e Ele vê a
forma do Senhor. Por que não temeram criticar Meu servo Moisés?
— Números 12:7-8

Uma versão diz: “De toda a minha casa, ele é aquele em quem
confio”. Deus dizer “Eu confio em você” é um dos maiores elogios
que um ser humano pode receber. Isso nos dá ainda mais
entendimento sobre o que é ter uma amizade com Deus — o
fundamento da verdade. O que constrói a confiança com Deus?
Obediência incondicional — sempre fazer o que lhe é pedido.
Integridade absoluta — sempre cumprir a sua palavra.
Prioridade irredutível — sempre colocar os desejos Dele em
primeiro lugar.
Conhecer o coração Dele — sempre escolher a vontade de Deus
quando tomar decisões.
Ser consistente em todos os quatro pontos é primordial. Se há
falhas em uma área, o arrependimento rápido e sincero coloca você
no caminho da confiança recuperada. O santo temor motiva essa
confiabilidade em todas as quatro categorias, e Moisés demonstrava
um alto nível de temor. Neste capítulo, vamos focar na terceira e na
quarta categorias — basicamente, sempre escolher e conhecer o
coração de Deus.
Reflita sobre a vida de Moisés — seus primeiros quarenta anos
foram cheios de grandes riquezas, das melhores comidas, de
roupas da moda, dos melhores bens materiais e de todo prazer
desejável. Ele morava em uma casa espetacular; ninguém na terra
era mais rico ou poderoso que seu avô, o faraó. No entanto, lemos:
(..) preferindo ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os
prazeres do pecado durante algum tempo. Por amor de Cristo,
considerou sua desonra uma riqueza maior do que os tesouros do
Egito, porque contemplava a sua recompensa.
— Hebreus 11:25-26

Moisés escolheu se afastar de tudo isso. Ele poderia ter tentado


servir a Deus no palácio, mas buscava uma recompensa que ficar
no Egito não poderia lhe dar. Seria a terra prometida? Não poderia
ser, porque o que a terra que manava leite e mel teria a oferecer que
ele já não possuísse?
Para descobrir o que ele mais procurava, vamos analisar sua vida
depois do palácio. A escolha de deixar tudo aquilo parecia sábia?
Suas condições de vida eram melhores do que ser um príncipe no
Egito? Ele deixou de governar pessoas para apascentar ovelhas no
deserto por quarenta anos! Isso é muito tempo — apascentando
ovelhas! Em seguida, ele passou por um processo muito
estressante e longo para libertar o povo de Deus das mãos de faraó.
Se tudo isso não bastasse, agora ele se vê morando em uma tenda
em um deserto árido cheio de grandes desafios. O povo que ele
está liderando está decepcionado, hostil e totalmente insatisfeito
com sua liderança.
Em meio a tudo isso, Deus faz uma oferta a Moisés que aliviará
grande parte do estresse e da desordem. Ele instrui Moisés a reunir
o povo e levá-lo para a terra prometida. Deus comissiona um anjo
escolhido para guiá-los e expulsar todas as nações oponentes. O
Senhor lembra a Moisés que aquela será uma terra rica e fértil,
porém declara: “Mas Eu não irei com vocês” (Êx 33:3).
Faça uma pausa e considere o que Moisés e o povo enfrentavam
diariamente. Eles não tinham variedade — não tinham belos vales,
rios, florestas, solo fértil, jardins, pomares ou pastos. Ninguém
tomava um banho quente, dormia em uma cama confortável, usava
roupas limpas ou desfrutava de um mercado para fazer compras por
bastante tempo. O cardápio deles era totalmente monótono: não
havia frutas frescas ou vegetais, nem peixe ou carne, nem
sobremesas, apenas pão que aparecia no chão a cada manhã, sem
manteiga de amendoim, geleia ou frios sortidos para acompanhar —
mais nada!
O cativeiro no Egito era terrível, mas perambular no deserto árido
não era muito melhor; ambas as condições eram extremamente
difíceis, embora de formas diferentes. Entretanto, no deserto, os
israelitas tinham uma esperança: conquistar sua própria terra —
uma terra rica, fértil e bela. Eles haviam esperado por ela por
gerações!
Você pode se imaginar ouvindo as palavras maravilhosas de
Deus? Com certeza Moisés aceitará, descerá a montanha correndo
e anunciará a grande notícia na assembleia nacional. O povo
celebrará, o enaltecerá como um grande líder mais uma vez, e todos
iniciarão felizes a jornada tão esperada em direção à desejada terra
prometida. Entretanto, ouça a resposta de Moisés à oferta de Deus:
Se a Tua presença não vai comigo, não nos faça subir deste lugar.
— Êxodo 33:15 (ARA) Só para lembrar, onde era “este lugar”? Era o lugar
da adversidade, do estresse e da dificuldade. Moisés deu uma resposta
que nos deixa perplexos e que para nós, não iluminados, é até confusa.
Basicamente, ele declarou: “Se eu tiver de escolher entre a Tua presença e
as Tuas bênçãos, fico com a Tua presença!”. Por quê? Você pode
conhecer sobre alguém na ausência dele, mas não pode se tornar próximo
e íntimo. Essa era a recompensa que Moisés cobiçava.

Você pode questionar: por que Deus se agradaria do fato de


Moisés ter recusado o que lhe foi dito para fazer? Moisés conhecia o
coração de Deus. Pense no seguinte: você já ofereceu a alguém
que amava a oportunidade de fazer alguma coisa benéfica ou
agradável apenas para ele, e foi sincero nessa atitude, mas ele o
surpreendeu ao dizer: “Não, prefiro estar com você em vez de
desfrutar isso sem você”? Uma resposta como essa é rara,
avassaladora e maravilhosa demais.
Moisés temia a Deus, de modo que o que era importante para
Deus acabava sendo a prioridade de Moisés; ele tinha o coração de
Deus e, assim, a Sua confiança. O povo que ele liderava tinha um
coração diferente. Lemos: Ele manifestou os Seus caminhos
[caráter] a Moisés; os Seus feitos aos israelitas.
— Salmos 103:7

Assim como aconteceu com Abraão, Deus revelou o Seu caráter


a Moisés. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje da Bíblia diz que
Deus revelou Seus planos a Moisés. Em outras palavras, Seus
segredos particulares foram revelados a seu amigo, mas não a
Israel. O povo de Israel só conhecia a Deus pela maneira como Ele
respondia às orações deles — os Seus feitos.
Quantos crentes hoje só conhecem a Deus pelas orações
respondidas? O relacionamento deles se baseia mais no que Deus
pode fazer por eles, e não na intimidade. Eles conhecem Suas
palavras, mas não o Seu coração. Para eles, a Bíblia em geral é tida
como um livro de regras e relatos históricos, ou é usada meramente
como uma fonte de inspiração. E o que é pior, ela é distorcida para
conceder permissão para a prática de um comportamento iníquo,
em vez de oferecer verdades transformadoras que revelam o Seu
coração.
Tanto Moisés quanto Israel eram justos, em nada diferentes de
Abraão e Ló. No entanto, somente os que temem a Deus têm o
direito de conhecer o Seu coração — Seu caráter, Seus segredos e
Seus planos. Por que Deus confiaria em Moisés, mas não no Seu
povo? Porque Deus sabia que Moisés sempre escolheria o coração
de Deus acima do que parecia ser o melhor para ele — isso é santo
temor.
Quando Israel construiu o bezerro em Êxodo, Deus declarou
furioso: Deixe-Me agora, para que a Minha ira se acenda contra
eles, e Eu os destrua. Depois farei de você uma grande nação.
— Êxodo 32:10
Mais uma vez, é feita uma oferta extraordinária — fazer de
Moisés uma grande nação. Que incrível! Como Moisés reagiu? De
novo, ele escolheu o que era melhor para Deus, e não para si
mesmo. Ele desafiou com ousadia essa proposta, lembrando a
Deus a Sua reputação junto ao Egito e ao mundo que lhes
observava — os outros diriam que Deus não foi fiel ao Seu povo. A
interação ficou tão intensa que Moisés disse, de forma direta: “Mude
de ideia!” (v. 12). Ele teve a coragem de dizer a Deus, quando Ele
estava furioso, para mudar de ideia! Isso não pode acontecer a não
ser que você tema a Deus e consequentemente conheça o coração
Dele e deseje o Seu melhor.
É por isso que Deus confiava em Moisés e não no povo, embora
tivesse salvado cada um deles. Ele libertou poderosamente o povo
das garras fortes do Egito, mas não compartilharia o Seu coração
com eles. Essa condição de amizade se aplica aos filhos de Deus
nos tempos do Novo Testamento? Veremos no próximo capítulo.

Personalizando

Passagem: “Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai. Ninguém conhece o
Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho” (Mt 11:27).
Ponto: Deus dizer “Eu confio em você” é um dos maiores elogios que um ser humano
pode receber. O fundamento da confiança é essencial para os que desejam ter uma
amizade com Deus; ele é encontrado nos que temem ao Senhor.

Pondere: Moisés temia a Deus, conhecia o Seu coração e tinha a confiança de Deus.
Jesus tinha prazer no temor do Senhor, conhecia o coração de Seu Pai, e a Ele foram
confiadas todas as coisas. Qual é a correlação? O que acontece quando temos prazer
no santo temor?

Pare para orar: Querido Senhor, desejo ter a Tua confiança. Perdoa-me pelas vezes
que não Te obedeci, não cumpri a minha palavra e não coloquei os Teus desejos e o que
é melhor para Ti acima da minha vontade. Decido mudar esse cenário e peço que Tu me
enchas de santo temor para me capacitar a fazer tal mudança em minha vida. Eu Te
peço isto em nome de Jesus, amém.

Professe: Decido ser alguém em quem o meu Senhor Jesus pode confiar.
Não estava queimando o nosso
coração
dentro de nós, enquanto Ele nos
falava
no caminho e nos expunha as
Escrituras?
— Lucas 24:32
Semana 5 — Dia 7

35 | VOCÊS SÃO
MEUS AMIGOS

As vidas de Abraão e Moisés exemplificam o que é necessário para


entrar em um relacionamento de amizade com Deus. O Senhor
chegou ao ponto de dizer sobre Moisés: “De toda a Minha casa, ele
é aquele em quem confio” (Nm 12:7, NLT). Naquela geração, Deus
declarou que não havia nenhum outro entre o Seu povo em quem
Ele podia confiar mais. Que declaração impressionante.
Jesus alterou esse critério? Ele abriu um relacionamento de
amizade com todos os que creem Nele? A resposta rápida é não,
mas vamos investigar começando com uma declaração de João no
início do ministério de Jesus: Enquanto estava em Jerusalém, na
festa da Páscoa, muitos viram os sinais milagrosos que Ele estava
realizando e creram em Seu nome. Mas Jesus não Se confiava a
eles, pois conhecia a todos.
— João 2:23-24

“Confiar” é uma palavra grega interessante que é definida como


“acreditar a ponto de confiar e depender completamente — ter
confiança em, ter fé em”.1 O interessante é que essa confiança não
é recíproca por parte de Jesus. Embora as pessoas cressem a
ponto de confiar completamente Nele e depender completamente
Dele, Jesus não confiava nelas. Ele sabia que a grande maioria dos
seres humanos não era confiável. Ele os amava e lhes servia, mas
não os considerava a ponto de vê-los como amigos. A confiança
que Deus atribuiu a Moisés não foi concedida por Jesus (Deus
manifestado em carne) aos que simplesmente criam Nele.
Vamos avançar para a Última Ceia. Nos três anos ministeriais
anteriores, a maioria dos que creram Nele não eram confiáveis;
muitos acompanhavam secretamente ou à distância, ou somente
quando isso os beneficiava. Muitos discípulos O deixaram e Judas
O traiu. 2 Isso nos dá uma percepção a mais da razão pela qual
Jesus não era recíproco em confiar neles?
Na ceia, Jesus agora está sentado com os que Lhe são mais
próximos. Com gratidão e afeto, Ele diz: “Vocês são os que têm
permanecido ao Meu lado durante as Minhas provações” (Lc 22:28).
No fundo, eles haviam sido confiáveis. Pedro sofreria um
contratempo terrível mais tarde naquela noite, mas se arrependeria
e voltaria com um coração ainda mais leal, e Jesus sabia disso.
Judas foi deixado para executar a traição, e Jesus diz sobre os
onze que restaram: “Já não os chamo servos” (Jo 15:15). O fato de
Jesus dizer “Já não os chamo...” significa que um dia aqueles
homens foram vistos como servos. Não se trata de revelação, é
apenas língua portuguesa. Paulo desenvolve esse princípio ao
escrever: Enquanto o herdeiro é menor de idade, em nada difere de
um escravo.
— Gálatas 4:1

Devemos perguntar por que Deus nos mantém no nível de servos


quando somos herdeiros do Seu Reino? A resposta é: para nos
proteger! Ele não deseja que a situação de Ananias e Safira
aconteça conosco; Ele não tem prazer nisso.
Nos anos 1980, Lisa e eu trabalhávamos para dois ministérios
globais, um com uma equipe contratada de quatrocentos e
cinquenta funcionários e outro com cento e cinquenta. Vimos
problemas de liderança que não nos agradou em ambos, assim,
quando começamos o nosso próprio ministério, decidimos fazer o
extremo oposto do que havíamos testemunhado ao decidir como
liderar nossa equipe. Algumas ideias às quais nos agarramos eram
boas, mas outras não. Um paradigma que iniciamos foi: “Vou ser o
melhor amigo de todos os funcionários”. Você já deve estar
reconhecendo a estupidez dessa visão.
Nosso primeiro funcionário era um jovem que chamarei de Justin.
Fiz dele o meu melhor companheiro; jogávamos basquete juntos,
assistíamos a vídeos juntos, comíamos juntos com frequência, e
todas as outras atividades que melhores amigos fazem. A princípio
foi ótimo. No entanto, depois de um ano tive de corrigi-lo em alguns
detalhes menores. Ele se sentou do outro lado da minha mesa,
então abri a conversa dizendo gentilmente: “Justin, quando você
viajar comigo, tente tratar as pessoas que se aproximam da nossa
mesa de produtos com gentileza. Sorria e interaja com elas porque
elas são preciosas para Deus”.
O que aconteceu em seguida me chocou. Ele apontou o dedo
para mim e começou a me acusar de todo tipo de comportamento
errado. Ele enumerou coisas que eu estava fazendo incorretamente.
Pensei: Oh não, estou fazendo essas coisas? Fiz uma pausa e
perguntei ao Espírito Santo o que fazer. Ele disse suavemente:
“Libere-o do ministério”.
Deixei que ele desabafasse totalmente antes de dizer: “Justin,
preciso liberar você da nossa equipe”.
Ele ficou furioso e saiu da nossa casa violentamente. De
imediato, fiquei com os olhos cheios de lágrimas, porque eu me
importava com ele. De repente, o Espírito Santo sussurrou: “Ele vai
voltar e será duplamente fiel”.
Três meses depois recebi um telefonema de Justin. Ele disse:
“Deus falou claramente comigo e me corrigiu. Estou telefonando
para lhe pedir perdão. Perdi a noção de onde Deus me colocou na
sua vida e na vida de Lisa, e perdi a noção da posição onde Ele
havia colocado vocês dois em minha vida. Eu tratei vocês dois como
algo comum e ordinário — como colegas e não como líderes. Sinto
muito”.
Rapidamente respondi: “Justin, eu perdoo você”. Depois de mais
alguns comentários conciliadores, perguntei se ele queria voltar a
trabalhar para nós. Ele concordou, satisfeito, e nunca mais tivemos
problemas nessa área.
Agora tenho uma mentalidade diferente. Eu me abstenho de
compartilhar os segredos íntimos do meu coração com qualquer
funcionário até saber que ele está firmado na posição que Justin
perdeu de vista. Não faço isso para me manter à distância ou para
ser impessoal com os membros da nossa equipe; faço isso para
protegê-los. Não quero que eles passem pelo que Justin passou. No
entanto, quando sei que um funcionário está firmado nas nossas
posições, então eu o incluo como um amigo. Alguns dos membros
da nossa equipe são meus amigos mais próximos.
Basicamente, o Senhor nos diz: “Até que você esteja bem firmado
em quem Eu sou na sua vida e bem firmado em quem você é
comigo — o temor do Senhor — preciso manter você no nível de
servo embora você seja um herdeiro — um filho ou uma filha do
Meu Reino. Isso é para proteger você, para que você não passe por
um juízo semelhante ao de Ananias e Safira”.
Jesus diz a Seus discípulos: Já não os chamo servos, porque o
servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, Eu os tenho
chamado amigos, porque tudo o que ouvi de Meu Pai Eu tornei
conhecido a vocês.
— João 15:15

Em resumo, Jesus está dizendo: “Até agora, Eu não lhes dei as


notícias em primeira mão — os Meus planos, o Meu conselho
secreto, ou as áreas íntimas do Meu coração. Mas agora posso
confiar em vocês como Eu fazia com Moisés e Abraão”. É por isso
que Jesus diz a todos nós: Vocês serão Meus amigos, se...
— João 15:14

Nós cantamos canções, pregamos mensagens e falamos


casualmente sobre Jesus ser nosso amigo, e alguns até chegam a
se referir a Ele como se fosse um colega. Entretanto, raramente
terminamos Sua declaração em João 15:14. A palavra “se” é uma
condição; não é automático, mesmo que creiamos Nele. Qual é a
condição para a amizade?
“Vocês serão meus amigos, se fizerem o que Eu lhes ordeno.”
Aí está a condição: o temor do Senhor — tremer diante da Sua
Palavra, obedecer às Suas ordens instantaneamente e até o fim,
ainda que isso não faça sentido, que você não veja benefício ou que
seja doloroso. Assim como Abraão e Moisés foram recebidos em um
relacionamento de amizade com o Deus Todo-poderoso devido à
sua reverência e admiração pelo Senhor, não é diferente conosco
agora. Quando o coração do Senhor e a Sua vontade são a nossa
prioridade número um, então Ele pode confiar em nós e nos receber
em um relacionamento de amizade. Que honra, que privilégio, e
como é empolgante ser um amigo do Criador do universo.
Antes de encerrar, permita-me tratar de uma pergunta que talvez
permaneça em sua mente: Jesus nos dá ordens? Sim, há mais de
quinhentos mandamentos apenas no Novo Testamento. Porém, não
são ordens necessárias para a salvação, pois ela é um dom gratuito.
Na verdade, são ordens que glorificam a Deus, as quais somos
revestidos de poder pelo santo temor para cumprir. As últimas
palavras de Jesus antes de partir foram: “Portanto, vão e façam
discípulos de todas as nações... ensinando-os a obedecer a tudo o
que Eu ordenei a vocês. E Eu estarei sempre com vocês, até o fim
dos tempos” (Mt 28:19-20).
O maior benefício do santo temor é ser recebido em um
relacionamento de amizade com Jesus. Na próxima seção vamos
examinar outros benefícios do santo temor.

Personalizando

Passagem: “Vocês serão Meus amigos, se fizerem o que Eu lhes ordeno” (Jo 15:14).

Ponto: Não ganhamos a confiança de Jesus apenas por crermos Nele. A amizade com
o Senhor é reservada para os que O temem.
Pondere: Vale a pena obedecer a Jesus imediata e completamente, mesmo quando não
faz sentido, ainda que pareça não haver qualquer benefício pessoal, ainda que seja
doloroso? O benefício da Sua amizade vale isso?

Pare para orar: Querido Senhor, desejo acima de tudo ser um dos Teus amigos íntimos.
Não quero conhecer-Te de longe; quero estar próximo a Ti. Escolho o temor do Senhor
— obedecer-Te incondicionalmente, amar-Te de todo o coração, alma, corpo e forças, e
amar as pessoas em verdade como Tu amas. Peço-Te isto em nome de Jesus, amém.

Professe: Decido me tornar um amigo de Jesus! Vou obedecer a Tudo o que Ele me
ordenar.
Veja bem por onde anda, e os seus
passos serão seguros.
— PROVÉRBIOS 4:26
Semana 6 — Dia 1

36 | ESTABELECENDO
SUAS PROMESSAS

Agora vamos voltar nossa atenção para os inúmeros benefícios do


santo temor. Já falamos de vários deles, inclusive do maior: a
intimidade com Deus. Vamos continuar a elucidar o conhecimento
de “como é grande a Tua bondade, que reservaste para aqueles
que Te temem” (Sl 31:19).
Antes de iniciarmos essa abordagem empolgante, é importante
esclarecer um mal-entendido comum. Muitas vezes as pessoas
interpretam a Bíblia através da lente da experiência — pessoal ou
de terceiros — em vez de permitir que a Palavra de Deus molde a
sua experiência. Basicamente, as promessas de Deus são vistas
como cenários de “acerto ou erro”, tendo esta ideia predominante:
Se Deus quer isto para mim, isso é maravilhoso. Mas se não, Ele é
soberano e preciso aceitar. Essa crença configura Deus como
alguém que demonstra parcialidade para com Seus filhos, o que
simplesmente não é verdade. Isso pode facilmente gerar um
ressentimento oculto e não expresso contra o Senhor.
A verdadeira história é bem diferente; muitas vezes precisamos
argumentar com o que Deus diz. Para desenvolver esse raciocínio,
vamos nos voltar para a Palavra de Deus e estabelecer essa
verdade. Vamos abordar uma promessa bíblica que a maioria
consideraria automática. Deus disse a Abraão: “Será por meio de
Isaque que a sua descendência há de ser considerada” (Gn 21:12).
Essa palavra de Deus, juntamente com palavras anteriores, torna
clara a promessa divina: a realidade de que Abraão seria o pai de
uma nação e de que o Messias vindouro viria da descendência de
Isaque.
Tendo isso em mente, vejamos como a linhagem de Isaque teve
início, a começar do episódio em que Deus escolheu a mulher com
quem ele iria se casar. O servo de Abraão viaja até a terra natal do
seu senhor para encontrar uma noiva para Isaque. Após uma longa
jornada, ele se detém junto ao poço da comunidade e ora pedindo a
Deus um sinal inconfundível — a garota que der água aos seus dez
camelos sem que isso lhe seja pedido “seja essa a que escolheste
para teu servo Isaque” (Gn 24:14).
Vamos fazer uma pausa aqui para observar que depois de uma
longa viagem pelo deserto um camelo pode beber de trinta a
cinquenta galões de água em quinze minutos. Multiplique isso por
dez camelos, e isso é muita água para uma garota tirar do poço
voluntariamente. A oração dele teria de ser respondida
milagrosamente, mas Rebeca atendeu perfeitamente ao seu pedido!
Não há dúvida de que ela havia sido escolhida divinamente para ser
a esposa de Isaque.
Depois que o servo volta para casa com a jovem, Isaque e
Rebeca se casam. Mas há um enorme obstáculo ao cumprimento
da promessa — ela é estéril e não pode ter filhos! Deus se
enganou? Ele não sabia que ela não podia conceber? Como a
promessa pôde se cumprir? Por que Deus a escolheria? O que
Isaque e Rebeca fariam? Eles devem esperar que a promessa se
cumpra — até que o ventre dela um dia se abra milagrosamente?
Na busca pela nossa resposta, vamos atrás da nossa primeira
pista em Abraão. Ele é um homem ousado na oração. Foi ele quem
desafiou Deus a ser fiel à Sua natureza e não destruir Sodoma e
Gomorra por amor a dez justos. Sabemos, com base nas Escrituras,
que ele ensina seu filho a fazer o mesmo (Gn 18:19). Sabendo
disso, lemos: E Isaque orou insistentemente ao Senhor por sua
mulher, porquanto era estéril; e o Senhor ouviu as suas orações, e
Rebeca sua mulher concebeu.
— Gênesis 25:21 (ACF) Mais uma vez, se havia uma promessa de Deus
que era certo acontecer sem qualquer envolvimento humano, seria a
capacidade de Rebeca ter bebês. Mas esse não era o caso. Foi necessária
uma ação muito específica de Isaque para garantir a promessa de Deus.
Ele teve de orar insistentemente ou implorar. O dicionário hebraico diz: “O
significado fundamental dessa palavra (implorar) é o de um clamor ao
Senhor”. De modo que não se tratou apenas de uma oração casual, mas
de uma petição ardente, uma petição que não aceitaria um “não” como
resposta. O tipo de oração que agrada a Deus. Lemos: A oração de um
justo é poderosa e eficaz.
— Tiago 5:16

O apóstolo Tiago diz que uma oração eficaz é uma oração


ardente ou apaixonada. Ele dá o exemplo de Elias orando por
chuva. Elias teve de orar apaixonadamente por sete vezes, com a
cabeça entre os joelhos, e por sete vezes ele enviou o seu servo
para ver se as nuvens de chuva estavam chegando. Sua fé se
recusou a desistir até que a promessa de Deus se cumprisse na
terra (1 Reis 18:41-45).
Isaque conhecia a vontade de Deus e clamou ardentemente para
que ela fosse estabelecida na terra. Isso também é verdade com
relação a todos os crentes? Lemos: A Tua palavra, Senhor, para
sempre está firmada nos céus.
— Salmos 119:89

A Palavra de Deus está estabelecida no céu. Não é por acaso


que a terra não é mencionada, mas somente o céu. Por quê? O
salmista diz: “Os mais altos céus pertencem ao Senhor, mas a terra
Ele a confiou ao homem” (Sl 115:16). O Senhor possui o céu e a
terra (1 Co 10:26), mas entregou a terra à humanidade por um
período.
No começo do nosso casamento, Lisa e eu alugamos um
apartamento. Nós não éramos os proprietários, mas ele era nosso
para morarmos nele e para fazermos dele o nosso lar. Os
proprietários não entravam na propriedade para impor sua vontade
sobre a maneira como arrumávamos os móveis, decorávamos a
casa, ou sobre qualquer outro aspecto da nossa vida dentro dela.
No entanto, se pedíssemos ajuda, tínhamos a assistência do
proprietário.
É mais ou menos dessa forma que Deus possui a terra, mas a
“alugou” à humanidade. Isso explica por que Ele não entrou no
jardim e arrancou o fruto da mão de Adão. Ele deu à humanidade
domínio sobre a terra (Gn 1:26-28). Com esse entendimento,
precisamos perguntar: como a Palavra de Deus pode passar a ser
estabelecida na terra? Lemos: “Por boca de duas ou três
testemunhas será confirmada (estabelecida) toda a palavra” (2 Co
13:1, ACF). E em Isaías, Deus declara: Assim também ocorre com a
palavra que sai da Minha boca: ela não voltará para Mim vazia, mas
fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.
— Isaías 55:11
É interessante notar que em ambas as passagens a palavra boca
é especificada. A boca de Deus proclama a vontade que é desejada
por Ele, mas é necessário um ser humano — que recebeu
autoridade na terra — para proclamá-la com a sua boca para
estabelecê-la na terra. Basicamente, fazemos um pedido para que
Ele venha e nos ajude na terra. Agora, a Sua promessa é
estabelecida na terra assim como no céu. Resumindo, Deus não
forçará Sua entrada na terra que nos foi “alugada”, a não ser que
peçamos que a Sua vontade seja feita.
Deus declarou a promessa a Abraão. Você pode visualizar Isaque
implorando? “Deus de meu pai, Tu prometeste que uma nação viria
de mim e que os meus descendentes seriam abençoados. Eu Te
peço que abras o ventre da minha esposa para que ela tenha filhos.
Amém”. Resultado: a vontade de Deus foi estabelecida.
Agora vamos ver o nosso maior exemplo, Jesus.
Durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas,
em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo
ouvido por causa da Sua reverente submissão.
— Hebreus 5:7
Mais uma vez, encontramos a palavra súplicas, mas ela está
unida às palavras reverente submissão (a Deus). Outra chave nos é
dada. Não é necessária apenas uma fé irredutível, que fala (clama)
— até que a promessa de Deus seja evidente na terra — mas
também o temor do Senhor para estabelecer as promessas feitas
por Deus ao Seu povo. Observe que Deus “ouviu” as orações de
Jesus. Uma coisa é orar, mas outra coisa é ser ouvido. Há orações
que não são ouvidas? Absolutamente sim. Tiago escreve: “Quando
pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar
em seus prazeres” (Tg 4:3). Mais uma vez, temos de olhar para os
nossos motivos, e é o temor do Senhor que mantém os nossos
motivos sob controle.
Quando tememos a Deus, podemos orar com ousadia e declarar
que as promessas ou a vontade de Deus sejam estabelecidas na
terra, e elas de fato serão estabelecidas. Talvez seja por isso que o
apóstolo Paulo escreve, próximo ao fim do seu tempo na terra:
“Combata o bom combate da fé. Tome posse da vida eterna” (1 Tm
6:12). Trata-se de um combate, e pela fé tomamos posse do que a
vida eterna nos dá.

Personalizando

Passagem: “Ele realiza os desejos daqueles que O temem; ouve-os gritar por socorro e
os salva” (Sl 145:19).

Ponto: Muitas vezes as pessoas interpretam a Bíblia através da lente da experiência —


pessoal ou de terceiros — em vez de permitirem que a Bíblia molde a sua experiência.

Pondere: Tenho permitido que as minhas crenças se afastem do que é declarado na


Bíblia devido às minhas próprias experiências ou às experiências dos outros? Há
promessas que ainda não se cumpriram na minha vida, na minha família, na minha
esfera de influência? Tenho me contentado em viver fora dessas promessas divinas?
Estou disposto a contender pelas promessas orando insistentemente para que elas se
cumpram nesta terra?
Pare para orar: Querido Senhor, em nome de Jesus, perdoa-me pela preguiça
espiritual, por me contentar com as promessas não cumpridas e por não lutar pelo que a
Tua Palavra declara. Tenho olhado para as experiências do passado para moldar o meu
caminho em vez de contender para que a Tua vontade seja estabelecida. Eu me
arrependo e decido combater o bom combate da fé, orando para que a Tua vontade seja
estabelecida nesta terra assim como ela é no céu. Amém.

Professe: Decido combater o bom combate da fé e tomar posse do que a vida eterna
declara, para ver a vontade de Deus ser estabelecida na minha esfera de influência.
Os homens que temem a Deus
encaram a vida destemidamente.
Os homens que não temem a Deus
acabam temendo tudo.
— RICHARD HALVERSON
Semana 6 — Dia 2

37 | O TEMOR QUE
ELIMINA O MEDO

Vivemos em um mundo perturbado e cheio de medo. Na verdade,


Jesus nos diz que isso só irá se intensificar. Sua descrição do que
está por vir é séria: “Os homens desmaiarão de terror, apreensivos
com o que estará sobrevindo ao mundo; e os poderes celestes
serão abalados” (Lc 21:26). Esses temores e ansiedades destroem
a esperança, a paz e a tranquilidade, deixando somente
inquietação, corações pesados e angústias constante. Qual é o
antídoto?
O Senhor me advertiu firmemente de que não pensasse como todos os
outros. Disse Ele: “Não chame tudo de conspiração, como eles fazem; não
viva com medo do que eles temem. Considere o Senhor dos Exércitos
santo em sua vida; é a Ele que você deve temer. Ele é quem deve fazê-lo
estremecer; Ele o manterá seguro.
— Isaías 8:11-14 (NVT) O santo temor elimina todos os outros temores e
ansiedades, pois ele é sustentado pela promessa de Deus de que seremos
mantidos seguros. Pare por um instante e reflita sobre essa realidade.
Imagine todas as forças armadas dos Estados Unidos sendo designadas
para proteger você. Cada general informa aos oficiais abaixo dele que você
é prioridade máxima, e que qualquer coisa necessária para a sua
segurança deve ser implementada. Todo tipo de armamento avançado é
dedicado a oferecer proteção onde quer que você permaneça ou vá. É
quase inimaginável, mas se isso acontecesse, estou certo de que você se
sentiria seguro. No entanto, tudo isso é nada em comparação ao que o
Deus Todo-poderoso diz: “Eu o manterei seguro”. Não é de admirar que
nos seja dito: Como é grande a Tua bondade, que reservaste para aqueles
que Te temem, e que, à vista dos homens, concedes àqueles que se
refugiam em Ti! No abrigo da Tua presença os escondes das intrigas dos
homens; na Tua habitação os proteges das línguas acusadoras.
— Salmos 31:19-20
A promessa da bondade derramada sobre nós — estar
escondidos no abrigo da presença de Deus, seguros dos que
possam tentar nos fazer mal — não é feita a todos, mas aos que
temem a Deus. Durante anos Lisa e eu suportamos mentiras,
calúnias, acusações e ameaças contra nós. Eu brincava com os
amigos: “Não pesquise o meu nome no Google; você será inundado
com artigos me denunciando”. Mas decidimos ficar em silêncio e
não nos defendermos. Em vez disso, entregamos os ataques
Àquele a quem tememos, e temos testemunhado a Sua proteção
constante. Não foi fácil; houve vezes em que literalmente ergui as
mãos ao alto em forma de cálice como um sinal externo de estar
entregando as acusações ou ameaças a Deus. Eu clamo: “Pai,
entrego isto em Tuas mãos, por favor, proteja-nos”. E Ele nunca
falhou conosco.
Temos testemunhado a proteção do santo temor na vida de
muitos que conhecemos. Há vários anos, falei para mais de mil
pessoas na nossa cidade natal. No culto, muitos trocaram os seus
medos pelo temor do Senhor. Na noite seguinte, quando uma mãe e
uma filha que estavam entre os que haviam respondido e sido
libertos do medo voltavam para casa depois de fazer compras, elas
foram surpreendidas por três homens com facas e armas. Os
homens ordenaram com firmeza que elas entrassem em casa. Muito
provavelmente, o intento deles era roubar, violentar e possivelmente
assassinar as duas mulheres.
A mãe mais tarde relatou: “Se não fosse pela noite anterior, eu
teria congelado de medo, ficado sem fala e obedecido às ordens
deles”. Mas ela disse: “Resolvi ignorá-los e comecei
instantaneamente a orar em voz alta para que Jesus nos salvasse.
Quanto mais eu clamava, mais minha confiança, minha força e
minha paz aumentavam”.
“Os homens começaram a tremer e me ordenaram firmemente
que parasse de orar. Finalmente a paciência deles acabou e,
furiosos, começaram a gritar: ‘Pare, pare, pare com essa oração!’”.
Os três homens estavam despreparados para um confronto com
mulheres tão confiantes. Os assaltantes ficaram confusos e,
enquanto focavam na mãe, a filha conseguiu entrar em casa e pedir
ajuda. Quando os homens perceberam que ela não estava no local,
eles fugiram.
Naquele mesmo ano, quando eu estava ministrando em Houston,
Texas, outra mulher trocou os seus medos pelo santo temor. Dentro
de uma semana após o culto, depois de ter saído de um shopping e
entrado em seu carro, ela se deparou com um homem escondido no
banco traseiro armado com uma faca. Ele ordenou firmemente que
ela dirigisse. Em vez de se deixar dominar pelo medo, ela clamou a
Jesus sem parar. Eles dirigiram por horas com o homem exigindo
que ela se calasse, mas ela se recusava. Finalmente ele disse:
“Pare o carro!”, e quando ela o fez, ele abriu a porta de trás e fugiu.
Houve um tempo em que o rei de Arã ficou furioso com o profeta
Eliseu e enviou tropas para prendê-lo. O servo de Eliseu foi o
primeiro a ver os soldados, cavalos e carros. Ele estava dominado
pelo medo.
“O profeta respondeu: ‘Não tenha medo. Aqueles que estão
conosco são mais numerosos do que eles’. E Eliseu orou: ‘Senhor,
abre os olhos dele para que veja’” (2 Rs 6:16-17). O Senhor fez isso,
e o servo viu multidões de cavalos e carruagens de fogo angelicais.
Jesus costumava encontrar multidões que pegavam pedras para
lançar sobre Ele. Em uma ocasião uma multidão tentou atirá-lo de
um penhasco, mas em cada ocasião ameaçadora, Ele
simplesmente se afastava ileso (ver Lc 4:29; Jo 8:59; 10:39).
O único momento em que Deus permite que alguém que O teme
passe por sofrimento é se isso for concedido do alto, para a glória
de Deus. Entretanto, mesmo nessas situações, há uma confiança
baseada no santo temor que elimina o temor humano. Considere os
três jovens hebreus que foram levados para estar diante do rei mais
poderoso da terra, o rei Nabucodonosor, da Babilônia. Ele havia
construído um grande ídolo e expedido um decreto dizendo que
todas as pessoas deviam se curvar diante dele todas as vezes que
se ouvisse música na terra.
Aqueles três jovens temiam a Deus e não queriam pecar, por isso
se recusaram a obedecer ao decreto do líder. Eles foram levados à
presença de um Nabucodonosor furioso, que podia lançá-los
instantaneamente em uma fornalha ardente. Os três jovens estavam
com medo? Vou deixar que você decida, pois observe o que eles
dizem a um rei enfurecido: “Se formos atirados na fornalha em
chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e Ele nos
livrará das tuas mãos, ó rei. Mas, se Ele não nos livrar, saiba, ó rei,
que não prestaremos culto aos seus deuses nem adoraremos a
imagem de ouro que mandaste erguer” (Dn 3:17-18).
Que confiança! Eles permaneceram calmos e destemidos,
embora a Bíblia afirme: “Nabucodonosor ficou tão furioso com
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que o seu semblante mudou”
(v. 19). Esses homens temiam a Deus e, portanto, sabiam que Ele
os livraria, quer pela vida quer pela morte. Eles foram lançados na
fornalha, mas saíram ilesos, sem nem mesmo qualquer cheiro de
fumaça. Permaneceram destemidos, ainda que isso significasse a
morte.
O apóstolo Paulo, um homem que temia grandemente a Deus,
teve a mesma atitude. Quando enfrentou a possível execução, ele
disse: “Aguardo ansiosamente e espero que em nada serei
envergonhado. Ao contrário, com toda a determinação de sempre,
também agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela
vida quer pela morte;
porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1:20-21).
Por que morrer para glorificar a Cristo é ainda melhor ou, como diz
outra versão, “muito melhor” que a vida? O temor de Deus, que é o
princípio da sabedoria, nos ilumina com a perspectiva adequada
nesta vida e na próxima. É por isso que Jesus diz: “Não tenham
medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes,
tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo
no inferno” (Mt 10:28).
Há anos, enquanto eu estava na estrada ministrando, temi pela
vida dos meus filhos e Deus falou comigo. Ele disse: “John,
qualquer medo na sua vida apenas identifica o que você não
colocou debaixo da cruz; você ainda está no controle dessa área da
sua vida”. Eu me arrependi naquela noite, devolvi os nossos filhos
inteiramente a Deus, e nunca mais me preocupei com a segurança
deles. O temor do Senhor nos leva a entregar tudo a Jesus. Quando
fazemos isso, vivemos o que outros desejam grandemente, mas
simplesmente não conseguem: encontrar paz, confiança e libertação
do medo.

Personalizando

Passagem: “O temor do Senhor conduz à vida: Quem O teme pode descansar em paz,
livre de problemas” (Pv 19:23).

Ponto: Qualquer temor não benéfico na sua vida identifica o que você não colocou
debaixo da cruz; significa que você ainda controla essa área da sua vida.

Pondere: Em que áreas da vida eu luto contra o medo? Será minha saúde, minhas
finanças, meu casamento, meus filhos, meu trabalho, minha educação, a rejeição, a
perseguição pela minha fé, ou outro aspecto da minha vida? Eu entreguei
completamente essa área da minha vida ao senhorio de Jesus, ou ainda a controlo?

Pare para orar: Querido Senhor, perdoa-me por não entregar a Ti a área (mencione a
área da sua vida correspondente). Refletindo, ficou claro que eu mantive esse terreno
sob o meu controle. Minha insegurança expôs a falta de santo temor nesse aspecto da
minha vida. Eu me arrependo e entrego esta área (mencione) e todas as outras áreas da
minha vida ao senhorio de Jesus. Amém.

Professe: Jesus é o Meu Senhor. Dou a Ele a propriedade de todas as áreas da minha
vida. Que seja feito em mim segundo a Sua vontade.
Ensine seus filhos no caminho certo,
e, mesmo quando envelhecerem,
não se desviarão dele.
— PROVÉRBIOS 22:6 (NVT)
Semana 6 — Dia 3

38 | LEGADO

Há outro grande benefício do santo temor: um legado reverente a


Deus. Deixe que eu lhe faça algumas perguntas. O que lhe vem à
mente quando você pensa em Benedict Arnold? O primeiro
pensamento que você tem é “traidor”? E quanto à Madre Teresa?
Você pensa em Missionárias da Caridade? E quanto a Adolf Hitler?
Você pensa “ditador tirânico que assassinou milhões de pessoas”?
E quanto a Albert Einstein? Você pensa naquele que descobriu a
teoria da relatividade?
Os pensamentos que vêm à sua mente provavelmente são o
legado desses indivíduos famosos. O fato é que todos nós geramos
um legado. Portanto, uma pergunta que precisamos fazer a nós
mesmos é: o meu legado será lembrado com admiração ou com
horror? A questão maior, porém, é como o nosso legado será visto
no céu — como benéfico ou prejudicial à edificação do Reino eterno
de Deus.
Uma definição da palavra legado, de acordo com o Dicionário
Merriam-Webster, é “algo transmitido por ou recebido de um
ancestral ou predecessor”.1 Como o temor de Deus afeta a nossa
posteridade? Para começar, vamos voltar ao pai da fé, Abraão. No
monte, quando o anjo o impediu de matar Isaque com a faca, o
Senhor lhe disse: Abençoando te abençoarei, e multiplicando Eu
multiplicarei tua descendência... e a tua descendência possuirá os
portões dos teus inimigos.
— Gênesis 22:17 (NKJV) Eu li estas palavras por anos e me perguntei por
que há duplas referências (em algumas versões). Finalmente, minha
curiosidade me venceu, de modo que fui perguntar a um rabino, que deu a
seguinte resposta: “No entendimento judaico, quando você tem uma dupla
referência como essa, tudo tem a ver com multiplicação... e como um
tempo verbal é o presente e o outro verbo está no futuro, isso é descrito
como uma bênção sobre o pai Abraão, mas Deus está prometendo que
haverá bênçãos sobre os seus descendentes. Em outras palavras, ao
abençoar você, Abraão, Eu continuarei a abençoar você através dos seus
filhos”.

O santo temor beneficia os nossos descendentes — “Tua


descendência possuirá os portões dos teus inimigos”. Isso é
maravilhoso. Vamos discutir esse assunto dentro de um instante,
mas primeiro há outra verdade que deve ser enfatizada com base
na explicação do rabino. O santo temor continua a nos abençoar
através dos nossos descendentes, e isso é verdade não apenas
nesta vida, mas eternamente.
Nossa eternidade é afetada pelo fato de os nossos descendentes
criarem maior honra e influência para nós tanto no nosso futuro
próximo quanto na próxima vida. Para esclarecer, deixe-me dar um
exemplo. Archie Manning foi zagueiro da Liga Nacional de Futebol
Americano pelo time New Orleans Saints por dez temporadas. O
time sob a sua liderança ofensiva só conseguiu ganhar uma vez,
perdendo as outras nove temporadas. Ele teria sido esquecido pela
maioria, mas dois de seus filhos, Peyton e Eli, venceram quatro
Super Bowls e foram os jogadores mais premiados do Super Bowl e
da confederação. Agora, mais pessoas conhecem Archie devido aos
seus dois filhos, e consequentemente, ele recebe maior honra e
influência no mundo dos esportes.
Na eternidade, muitos possuirão maior honra e influência devido
à obediência dos seus descendentes na edificação do Reino.
Abraão é um exemplo excelente; sua influência eterna será
promovida pela sua descendência — José, Samuel, Davi, Daniel,
Isaías e, é claro, Jesus, citando apenas alguns. Agora mesmo, o
seu legado continua. Esta bênção se aplica a todos os que temem a
Deus; “para sempre se lembrarão dele” e “seu poder será exaltado
em honra” (Sl 112:6,9). Muitos pensam que tudo recomeça no céu.
No entanto, isso não é verdade. Como crentes, já começamos a
moldar a história eterna, pois nos é dito: “... seus atos de justiça
serão lembrados para sempre” (Sl 112:9, NVT).
Agora, vamos nos voltar para a promessa de Deus de que os
nossos descendentes serão vencedores; eles possuirão “os portões
dos teus inimigos”. Em um vocabulário mais contemporâneo,
poderíamos dizer que a nossa descendência não será vencida por
aqueles que desprezam a Deus, mas em vez disso será constituída
por líderes e influenciadores bem-sucedidos (Dt 28:13). Você pode
pensar que essa promessa é apenas para Abraão e seus
descendentes diretos. Mas lemos: “Isso para que em Cristo Jesus a
bênção de Abraão chegasse também aos gentios” (Gl 3:14). Eis
uma notícia maravilhosa!
Aleluia! Como é feliz o homem que teme o Senhor e tem grande prazer em
Seus mandamentos! Seus descendentes serão poderosos na terra, serão
uma geração abençoada, de homens íntegros.
— Salmos 112:1-2

A palavra geração significa “um longo tempo”,2 e se refere à


nossa posteridade.3 Zacarias profetizou: “A Sua misericórdia
estende-se aos que O temem, de geração em geração” (Lc 1:50).
Não somente os seus filhos imediatos serão bem-sucedidos; essa
promessa engloba gerações. Um ótimo exemplo da profecia de
Zacarias encontra-se nas vidas de dois homens, ambos nascidos no
começo do século XVIII.
O primeiro é Max Jukes. Em 1874, um sociólogo chamado
Richard Dugdale visitou treze prisões municipais do norte de Nova
Iorque. Ele descobriu seis pessoas com quatro sobrenomes
diferentes que eram parentes de sangue. Instigado pela curiosidade,
Dugdale mergulhou fundo na linhagem familiar dessas pessoas, e
isso o levou a um antigo colonizador holandês chamado Max Jukes,
que nasceu entre 1720 e 1740. Depois de anos de pesquisa
diligente, o sociólogo identificou quinhentos e quarenta
descendentes de Jukes. Entre eles havia 76 criminosos
condenados, 18 zeladores de bordéis, 120 prostitutas e mais de 200
beneficiários de auxílios do governo. Em suma, havia pecados
geracionais que levaram a uma série de comportamentos
disfuncionais e custaram ao governo dezenas de milhões de dólares
no valor monetário atual.4
Agora, vamos compará-lo a Jonathan Edwards, que nasceu
durante o mesmo período. Ele foi um avivalista que escreveu
inúmeros livros e inspirou muitos a levarem o Evangelho às nações.
Ele se casou com Sarah Pierpont em 1727, e o casal temia
grandemente a Deus. Eles liam a Bíblia e oravam juntos todas as
noites antes de se recolherem. Tiveram onze filhos, e Jonathan
declarava uma bênção sobre cada filho em oração diariamente. Ele
dizia: “Cada casa deveria ser uma pequena igreja”.
Os 1.394 descendentes conhecidos de Jonathan e Sarah revelam
a promessa de Deus aos que O temem — que eles possuirão os
portões dos seus inimigos e seus filhos serão bem-sucedidos em
todos os lugares. Entre os seus descendentes estão 13 presidentes
de faculdades ou universidades, 65 professores universitários, 3
senadores dos Estados Unidos, 30 juízes, 100 advogados, 60
médicos, 75 oficiais do Exército e da Marinha, 100 ministros e
missionários, 60 autores proeminentes e 1 vice-presidente dos
Estados Unidos, Aaron Burr. A geração deles não custou um único
centavo ao governo.5
Os medos contra os quais eu lutava quando nossos quatro filhos
eram pequenos giravam em torno de suas vidas terminarem
precocemente, ou se eles ficariam ressentidos pelo fato de o pai
estar fora de casa pregando às vezes duzentas noites por ano, ou
se iriam ficar com raiva de Deus por me chamar para fazer isso.
Certa noite, logo após ministrar em uma conferência longe de casa,
percebi que minha falta de santo temor estava me impedindo de
entregar a vida dos meus filhos a Jesus. Em oração, gritei: “Pai,
estes quatro filhos não são mais meus; eles agora pertencem a
Jesus. Tu podes fazer o que quiseres com eles, mas diabo, você
nunca tocará neles!”. Desde aquele dia, nunca mais temi por suas
vidas.
Logo depois Deus me revelou uma verdade significativa através
da Sua Palavra. Finéias era neto do sacerdote Arão. Ele era
apaixonado por Deus e pelo povo de Israel. O santo temor que o
possuía era tão forte que o levou a fazer o que outros crentes não
tinham coragem; ele defendeu firmemente o que era certo. Ao fazer
isso, Deus disse: “Diga-lhe, pois, que estabeleço com ele a minha
aliança de paz. Dele e dos seus descendentes será a aliança do
sacerdócio perpétuo” (Nm 25:12-13). Em suma, seus descendentes
receberam a promessa de um relacionamento mais íntimo com
Deus devido ao seu santo temor. O Espírito Santo me mostrou que
a proteção para os nossos filhos estava na minha obediência
fervorosa, e na de Lisa, à vontade Dele.
Agora, anos depois, cada um de nossos filhos trabalhou em
nosso ministério, o Messenger International, por pelo menos nove
anos. Dois são escritores com livros publicados, todos eles são
líderes e, o mais importante, todos eles andam no santo temor de
Deus. As pessoas perguntam constantemente o que fizemos para
criar homens de Deus. Sinceramente, isso não teve nada a ver com
a nossa sabedoria, e os nossos muitos erros como pais poderiam
encher volumes de livros. Entretanto, o que fizemos certo foi andar
em um alto nível de santo temor.
Quando nossos filhos se desviaram por curtos períodos durante
os anos da adolescência, Lisa e eu clamamos ao Senhor para que a
promessa divina fosse estabelecida em suas vidas, e continuamos a
viver em santo temor. Nunca perdemos a fé, e você também nunca
deve perdê-la. A promessa de Deus a você que teme ao Senhor é
que seus filhos “serão poderosos na terra” (Sl 112:2).

Personalizando
Passagem: “Seus filhos serão como brotos de oliveira ao redor da sua mesa. Assim
será abençoado o homem que teme o Senhor!” (Sl 128:3-4).

Ponto: Quando você permanece em santo temor, algo significativo é transmitido aos
seus descendentes. Eles não serão apenas influenciadores, como você também
continuará a ser abençoado através deles.

Pondere: Como eu vejo os meus filhos (ou futuros filhos)? Eu me preocupo com o futuro
deles? Eu os entreguei completamente ao senhorio de Jesus? Eu ando em santo temor
diante deles? Eu compreendo, oro e falo de acordo com o comportamento atual deles ou
de acordo com as promessas da Palavra de Deus?

Pare para orar: Querido Senhor, a Tua Palavra diz que eu garantirei um legado
duradouro ao andar em santo temor. Creio na Tua promessa de que meus filhos serão
poderosos na terra, de que serão influentes, bem-sucedidos e darão honra ao Teu nome
e ao meu. Eu me comprometo a continuar a orar com ousadia para que essas
promessas se cumpram. Eu peço isto em nome de Jesus, amém.

Professe: Meus filhos são poderosos na terra, bem-sucedidos por onde quer que vão, e
eles possuem os portões dos seus inimigos.
Quando estamos definindo em que
consiste a verdadeira
sabedoria do homem,
a palavra mais conveniente a ser
usada é aquela que expressa
distintamente o temor de Deus.
— AGOSTINHO DE HIPONA
Semana 6 — Dia 4

39 | A COISA
MAIS IMPORTANTE

O tópico deste capítulo é tão vasto que um livro inteiro poderia ser
escrito sobre ele. Porém, evitá-lo deixaria esta mensagem
incompleta. Portanto, encare este capítulo como uma introdução a
esse aspecto importante do santo temor.
Ouça estas palavras do coração do nosso Criador — palavras de
vida, palavras de verdade, palavras que protegem, palavras que
durarão muito além do sol, da lua e das estrelas, palavras mais
seguras do que a terra sobre a qual estamos: Como é feliz o homem
que acha a sabedoria, o homem que obtém entendimento... nada do
que você possa desejar se compara a ela.
— Provérbios 3:13,15
Não existe nada neste mundo que se iguale ao valor da
sabedoria divina. Ela é notável — nada se compara a ela! Por isso
nos é dito: “A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a
sabedoria” (Pv 4:7, ACF). Quando a encontrar, ela o guiará, pois “Os
caminhos da sabedoria são caminhos agradáveis, e todas as suas
veredas são paz” (Pv 3:17).
Devemos buscar a sabedoria de Deus em todas as decisões que
tomamos. “Dedique alta estima à sabedoria, e ela o exaltará” (Pv
4:8). Que promessa magnífica! A palavra hebraica para exaltar é
definida como “erguer, levantar, ser exaltado”. Quando Deus
promove, ninguém nem nenhuma circunstância pode rebaixar! A
sabedoria, portanto, é o caminho para uma significância duradoura.
A sabedoria precisa ser descoberta; ela está escondida, mas não
fora do nosso alcance. Uma vez encontrada, ela gera benefícios
tremendos. Então, como podemos encontrá-la?
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria.
— Salmos 111:10; Provérbios 9:10

A palavra hebraica para princípio é significativa. Ela se encontra


no primeiro versículo da Bíblia: “No princípio, criou Deus os céus e a
terra”. Essa palavra significa “o ponto de partida”. O santo temor é o
ponto de origem da sabedoria. Imagine o seguinte: há um depósito
cheio de toda a sabedoria que você necessita para ter sucesso
duradouro, mas só há uma porta que pode lhe dar acesso: o santo
temor. Isaías escreveu: “Uma grande riqueza de salvação,
sabedoria e conhecimento; o temor do Senhor é a chave desse
tesouro” (Is 33:6).
Na essência, não existe sabedoria duradoura fora do temor do
Senhor. O santo temor é a origem da sabedoria duradoura, mas o
benefício continua para além do ponto de partida: O temor do
Senhor é fonte de vida, e afasta das armadilhas da morte.
— Provérbios 14:27

Quero enfatizar duas palavras-chave: fonte e armadilhas. A


palavra hebraica para fonte carrega consigo o significado de “um
fluxo” ou uma fonte constante. Viver bem não é resultado de boas
decisões esporádicas, mas de um fluxo constante de decisões
sábias que dão fruto duradouro.
A segunda palavra, armadilhas, se refere a isca ou laço. “O
entendimento adequado dessa palavra hebraica é a isca ou o
chamariz colocados na armadilha de um caçador.”1 Ela precisa estar
escondida, na esperança de que o animal não a reconheça. E
precisa estar colocada de forma a atrair o animal para que ele caia
nas mandíbulas mortais da armadilha. Com uma boa compreensão
das palavras-chave, veja outra passagem que oferece maior clareza
à verdade que está sendo expressa: O temor do Senhor é a
instrução da sabedoria.
— Provérbios 15:33 (ACF) Ao combinar as verdades dessas duas
passagens, descobrimos que o santo temor é uma fonte — um fluxo
contínuo — de instrução da sabedoria de Deus. Ele é um conselheiro
sempre presente que não cochila nem dorme, mas que nos treina
consistentemente para tomarmos decisões sábias na vida.

Quando somos deixados por conta própria, separados da


sabedoria de Deus, a humanidade provou por milhares de anos que
tomaremos decisões prejudiciais, enquanto pensamos que estamos
tomando boas decisões. Por quê? Os caminhos da morte e da
destruição são escondidos e preparados como isca, em nada
diferentes da armadilha de um caçador. O que parece ser bom,
sábio, benéfico e agradável geralmente é apenas uma isca para
atrair você para o que no final das contas é mau, prejudicial, pouco
sábio e causador de sofrimento. O temor do Senhor nos protege
disso nos afastando fielmente dessas armadilhas.
Se você observar a sociedade de hoje, temos homens e mulheres
incríveis e inteligentes tomando decisões que estão conduzindo à
ruína aqueles a quem influenciam. Ao mesmo tempo, outros estão
cegos para a loucura deles. A Bíblia diz que ao rejeitar o santo
temor, “os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração
insensato deles obscureceu-se. Dizendo-se sábios, tornaram-se
loucos” (Rm 1:21-22). Quando a mente é obscurecida, a visão
também é obscurecida; é só uma questão de tempo para nos
precipitarmos nas armadilhas escondidas da morte preparadas
como iscas para nós.
Entretanto, o outro lado também é verdade. Quando abraçamos
firmemente o santo temor, temos um conselheiro sempre presente,
que flui constantemente: é a sabedoria, que nos dá a capacidade de
tomar decisões benéficas duradouras. Mesmo quando não
conseguimos enxergar as armadilhas de morte que nos espreitam, a
fonte nos protege o tempo inteiro para não cairmos
inconscientemente em qualquer laço.
Vamos ver esse princípio examinando o homem que não tinha
uma aliança com Deus, mas O temia. Era o rei Abimeleque, de
Gerar. Ele havia tomado a mulher de Abraão, Sara, e a levado para
o seu harém. Logo depois, Deus lhe aparece durante a noite e diz:
“Você morrerá! A mulher que você tomou é casada” (Gn 20:3).
Abimeleque clama: “Senhor, destruirias um povo inocente?... O
que fiz foi de coração puro e de mãos limpas” (vv. 4-5). Com relação
à palavra usada aqui para “Senhor”, vemos que “essa palavra
significa literalmente ‘meu Senhor’”.2 O temor de Abimeleque a
Deus é muito evidente na maneira como ele se dirige ao Senhor,
assim como na sua reação. Agora ouça o que Deus diz a ele.
Sim, Eu sei que você fez isso de coração puro. Eu mesmo impedi que você
pecasse contra Mim e por isso não lhe permiti tocá-la.
— Gênesis 20:6

O temor do Senhor foi um conselheiro, do qual ele não estava


ciente, para impedi-lo de cair no laço da morte. A armadilha estava
escondida devido à forma enganosa como Sara havia sido
apresentada — como sendo irmã de Abraão — mas o santo temor o
protegeu. Como é possível que esse rei pagão, que não tinha uma
aliança com Deus (que se saiba), que não tinha a palavra escrita de
Deus, tenha tremido diante da ideia de tomar a mulher de outro
homem? Encontramos nossa resposta nos escritos de Paulo:
“Quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que
ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a
lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus
corações. Disso dão testemunho também a consciência e os
pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Rm
2:14-15).
Além do mais, como é possível que esse rei gentio trema diante
da ideia de tomar a mulher de outro homem, porém um pastor
experiente ou alguém que frequentou a igreja por anos toma a
mulher de outro homem em adultério, algo que temos testemunhado
cada vez com mais frequência com o passar do tempo? Não é
preciso ser um cientista de foguete para entender. Embora o líder
eclesiástico ou o mero frequentador de igreja confesse com a sua
boca que pertence a Jesus, ele não tem temor a Deus. Lemos:
Descobri que muito mais amarga do que a morte é a mulher que
serve de laço, cujo coração é uma armadilha e cujas mãos são
correntes. O homem que agrada a Deus escapará dela, mas o
pecador ela apanhará.
— Eclesiastes 7:26

A Bíblia não diz que o mau será preso na armadilha, mas o


pecador — aquele que está errando o alvo devido à sua falta de
santo temor. Isso pode se referir facilmente a alguém que professa o
cristianismo. Tiago escreve aos que professam ser crentes:
“Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida,
purifiquem o coração” (Tg 4:8).
Nosso Evangelho ocidental, aceito de modo quase irrestrito,
removeu sistematicamente o temor de Deus dos nossos corações,
ensinando uma graça falsificada que nos treina de uma forma
diferente na sabedoria de Deus. Ela cria uma fonte não saudável,
com conselhos pervertidos, que remove a força restritiva que nos
protege contra o pecado. Entretanto, a graça autêntica não entra em
conflito com o santo temor.
Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela
nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de
maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente.
— Tito 2:11-12

Não podemos separar a verdadeira graça de Deus do santo


temor a Deus. Eles estão unidos e ambos ensinam — nos
aconselham continuamente a nos afastarmos das armadilhas da
morte.
Essa praga de comportamentos ímpios entre o povo que professa
estar inserido na aliança não é nada nova. Ao longo da história de
Israel e da igreja vimos o mesmo padrão, mas ele foi intensificado
durante estes últimos dias — período que Jesus disse que seriam
marcados pelo engano. A perda do santo temor abre o coração e a
alma das pessoas para conselhos obscuros, com aparência de
verdade, quando na realidade levam inconscientemente ao pecado
e à morte.
Atualmente, em nossa sociedade, a força da iniquidade está em
ritmo acelerado. É como se estivéssemos no impulso de uma curva
exponencial. Se a graça falsificada amplamente aceita continuar a
eliminar o santo temor do coração dos crentes, multidões de
pessoas que professam ser cristãs serão levadas pelo engano da
iniquidade. Precisamos de um avivamento de santo temor, pois ele
nos protege continuamente para que não sejamos enganados. Ele
mantém o nosso coração alinhado com a verdade, mesmo quando a
maioria se precipitou no engano.
Abrace o santo temor como seu grande tesouro. Proteja-o com
mais diligência do que guardaria milhões de dólares, a joia mais
cara, ou a casa mais bela. Nós protegemos esses bens em bancos
garantidos pelo governo, em cofres, ou instalando sistemas de
alarme, mas o nosso maior tesouro é o temor do Senhor. Por isso
está escrito: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele
depende toda a sua vida” (Pv 4:23).

Personalizando

Passagem: “A sabedoria está clamando, o discernimento ergue a sua voz... Pois todo
aquele que me encontra, encontra a vida e recebe o favor do Senhor. Mas aquele que
de mim se afasta, a si mesmo se agride” (Pv 8:1,35,36).

Ponto: Como seguidores de Cristo, obter sabedoria é a coisa mais importante que
podemos fazer. O temor do Senhor é a fonte da sabedoria; ele nos protege das
armadilhas da morte.

Pondere: Eu escrevi uma linha na areia? Decidi não seguir a sabedoria da sociedade
que é contrária ao que a Palavra de Deus afirma? Estou disposto a ser perseguido pela
minha crença e obediência à Sua Palavra? Como irei buscar a sabedoria de Jesus com
mais cuidado nas minhas decisões diárias?

Pare para orar: Querido Pai, em nome de Jesus, clamo pela Tua sabedoria e Teu
entendimento. Abre os meus ouvidos e os meus olhos para percebê-los. Não quero ser
um tolo sendo sábio aos meus próprios olhos. Vou valorizar e depender da sabedoria do
meu Senhor Jesus Cristo acima de qualquer coisa que este mundo tenha a oferecer.
Decido obedecer ainda que eu seja perseguido pelas minhas crenças ou pela minha
obediência. Amém.

Professe: Estou decidido a seguir a sabedoria do meu Senhor Jesus em todas as


decisões que eu tomar.
O temor de Deus
corresponde aos humildes.
— AGOSTINHO DE HIPONA
Semana 6 — Dia 5

40 | UMA VIDA
BEM-SUCEDIDA

Na sabedoria profunda do livro de Provérbios, vemos o que gosto de


chamar de “os gêmeos poderosos”. Estas duas virtudes andam de
mãos dadas, geralmente se complementando na Bíblia. Elas estão
identificadas no seguinte versículo: A recompensa da humildade e
do temor do Senhor são a riqueza, a honra e a vida.
— Provérbios 22:4

A verdadeira humildade e o santo temor estão ligados. Você


nunca encontrará alguém que teme a Deus que não seja
verdadeiramente humilde, nem encontrará alguém que é
verdadeiramente humilde e que não tema a Deus. A palavra
“verdadeiramente” é importante, uma vez que existem várias formas
de falsa humildade. Trataremos disso de modo mais abrangente no
próximo capítulo.
Vamos ver, sem muita demora, as três promessas relacionadas:
riquezas, honra e vida. A palavra hebraica para “riquezas” é õser, e
ela é definida como “Riqueza. Descreve todo tipo de riqueza em
terras, bens, gado e descendentes”. Seu significado é claro, e não é
uma promessa única relativa ao santo temor. O salmista também
escreve: Aleluia! Como é feliz o homem que teme o Senhor e tem
grande prazer em Seus mandamentos!... Grande riqueza há em sua
casa, e a sua justiça dura para sempre.
— Salmos 112:1-3

Essa é a mesma palavra para “rico”, õser. Aqui temos uma


possível controvérsia. Há pessoas que veem a posse de riquezas
como algo contrário à piedade. Entretanto, se eliminarmos verdades
espirituais claras em nome da nossa tradição, isso não seria uma
indicação de orgulho, que com certeza é a antítese do santo temor?
Tive de encarar essa situação anos atrás. Nos nossos primeiros
anos de ministério, Lisa e eu testemunhamos ministros ensinando
um evangelho da prosperidade que levou muitos a perseguirem uma
opulência decadente. O fruto foi devastador, levando muitos à
cobiça, que é idolatria. Um bom número se desviou da verdadeira fé
e trouxe sobre si mesmo diversos males. Ao testemunhar as vítimas
e as baixas resultantes, decidimos ir na direção totalmente oposta:
passamos a desdenhar de qualquer ensinamento que mencionasse
riquezas ou prosperidade! Nossa imaturidade acabou sendo
corrigida pelo Espírito Santo. Tivemos de encarar a verdade de que
uma pessoa que verdadeiramente teme a Deus lida com a riqueza
de forma adequada e não sucumbirá à armadilha da cobiça.
Qual é o propósito da riqueza? Ela é um meio de abençoar os
outros. Até o momento em que escrevo estas linhas, nosso
ministério já doou mais de 53 milhões de recursos físicos — livros e
cursos — a pastores e líderes em 130 nações, em 118 idiomas.
Também criamos um aplicativo, chamado MessengerX, que está
repleto de recursos para discipulado em 122 idiomas e que já foi
baixado em 230 nações; não cobramos pela utilização. Esses
projetos custaram dezenas de milhões de dólares. E se os homens
e mulheres que deram suporte a esses esforços acreditassem que a
piedade é sinônimo de pobreza ou falta? Nesse caso, não teríamos
fortalecido aos milhões de pessoas que foram alcançadas.
Há uma enorme diferença entre cobiça e possuir riqueza para
impactar vidas. Aqueles que verdadeiramente temem a Deus sabem
a diferença e ficam distantes da cobiça. No Novo Testamento,
depois que Jesus foi crucificado, lemos: Ao cair da tarde chegou um
homem rico, de Arimateia, chamado José, que se tornara discípulo
de Jesus. Dirigindo-se a Pilatos, pediu o corpo de Jesus, e Pilatos
ordenou que lhe fosse entregue.
— Mateus 27:57-58

José era rico, e a Bíblia o chama de discípulo de Jesus. No


entanto, a ironia continua: a maioria dos seguidores de Jesus havia
fugido e se escondido. E ainda, esse homem rico tinha a ousadia,
que era proveniente de seu santo temor, de ignorar a intimidação
dos líderes judeus e do poder de Roma, e se aproximar de Pilatos
para pedir-lhe o corpo de Jesus. Que homem corajoso!
Por favor, não entenda errado. Se alguém é pobre, isso
significado que lhes falta o temor de Deus? Não! As Escrituras estão
cheia de relatos de homens e mulheres que não tinham riqueza
material. Isso tornava-os menos tementes ao Senhor? Com certeza
não! A verdadeira riqueza não é medida em dinheiro ou possessões,
mas em nossa habilidade de ajudar os outros. Aqui está a nossa
promessa: Temam o Senhor, vocês que são os Seus santos, pois
nada falta aos que O temem. Os leões podem passar necessidade e
fome, mas os que buscam o Senhor de nada têm falta.
— Salmos 34:9-10

É um desejo piedoso querer impactar outros para o Reino, quer


seja através da oração, de alimentos, de finanças, de ensino, de
discipulado, de hospitalidade ou de serviço. É bom ter abundância
de recursos para realizar o que quer que seja necessário para a
nossa missão divina. As pessoas de Deus perseguem esse alvo e,
no processo, são pessoalmente abençoadas. Os orgulhosos,
religiosos e invejosos gastarão suas energias discutindo sobre por
que os crentes deveriam ser pobres e procurarão manter as
pessoas presas a convicções que não estão na Bíblia.
O rei Salomão conduziu e ensinou o povo do seu reino no temor
do Senhor. Durante esse período, “Toda a terra de Judá e de Israel
viveu em paz e segurança de uma ponta do país até a outra; e cada
família tinha as suas videiras e figueiras” (1 Rs 4:25, NBV). Lemos
ainda que eles “comiam, bebiam [com fartura] e eram felizes” (1 Rs
4:20). Pare e considere esta frase: “cada família tinha as suas
figueiras e videiras” (NBV). Não havia assistência social,
desemprego nem pobreza em toda a nação — todos tinham em
abundância! O temor do Senhor dá a sabedoria que beneficia a
todos os que estão sob a sua influência; neste caso, era uma nação
inteira. O que aconteceria se todos os nossos líderes andassem no
temor do Senhor?
Para finalizar, digo que essa promessa não é algo pelo qual
devemos contender em oração, como Isaque teve de contender
para que o ventre de Rebeca se abrisse. Jesus nos promete:
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça,
e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês” (Mt 6:33).
Vamos ver a próxima promessa, honra. A palavra hebraica para
“honra” no nosso versículo de abertura é kãbôd, e ela é definida
como “honra, glória, majestade, riqueza”. Vimos em um capítulo
anterior que essa é a palavra que Moisés usou quando pediu para
ver a glória de Deus. Ela carrega um peso, uma autoridade que não
provém de título ou posição, mas que está ligada ao caráter. Então
descobrimos mais um benefício maravilhoso do santo temor:
nobreza. Ela transforma você em uma pessoa de dignidade e honra.
Provérbios não é o único livro que pontua esse benefício; o salmista
usa a mesma palavra hebraica para os que temem a Deus: “Seu
poder será exaltado em honra” (Sl 112:9).
Considere a mulher virtuosa do livro de Provérbios. Ela tem
qualidades tremendas. Ela é confiável, sábia, diligente, cheia de
energia, trabalhadora, próspera, rica, bondosa, assiste aos
necessitados e defende os impotentes. Outra característica notável,
algumas vezes ignorada, mas pertinente para a nossa discussão:
“Reveste-se de força e dignidade” (Pv 31:25). Em outras palavras,
ela usa a honra como uma vestimenta, em nada diferente da nossa
roupa — ela é visível e perceptível a todos os que estão na sua
presença. E qual é a sua última virtude?
A beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher que teme
ao Senhor será elogiada.
— Provérbios 31:30
É o santo temor! Eis a realidade impressionante — a nobreza e a
dignidade atribuídas a essa mulher estão disponíveis a qualquer
homem ou mulher que teme a Deus. Em todos os meus anos
viajando conheci muitos líderes e pessoas importantes. Muitos
impactaram grandemente a sociedade, mas o que chama a minha
atenção mais do que qualquer coisa que eles construíram é quando
encontro um homem ou uma mulher que se vestem de dignidade.
Há um peso na presença deles. Eles irradiam luz, amor, honra e
nobreza. Seus filhos os amam e os respeitam, seus colegas de
trabalho e amigos amam estar perto deles. É interessante notar que
um bom número deles não é de figuras públicas. Qual é seu cartão
de visitas? Eles temem a Deus!
A terceira promessa no nosso versículo de abertura é vida. A
Nova Tradução na Linguagem de Hoje a chama de “vida longa”, ou
longevidade, característica que está intimamente ligada à verdadeira
humildade. Vamos expandir o tema, falando sobre essa promessa
no próximo capítulo.

Personalizando

Passagem: “Temer o Senhor é odiar o mal... Amo os que Me amam, e quem Me procura
me encontra. Comigo estão riquezas e honra, prosperidade e justiça duradouras” (Pv
8:13,17-18).

Ponto: O santo temor e a humildade prometem riquezas, honra e vida longa. A riqueza
não é medida pela quantidade de dinheiro ou bens que possuímos, mas pela nossa
capacidade de ajudar os outros. A nobreza está contida no nosso caráter e não no
nosso título ou posição.

Pondere: Eu vejo a riqueza sob uma luz saudável? Eu a persigo por insegurança, medo
ou cobiça? Eu faria melhor buscando o santo temor e crendo na promessa de ter
abundância para impactar outros? O que significa eu me revestir de dignidade?

Pare para orar: Querido Pai, cumpre a Tua promessa de que na minha busca pela
verdadeira humildade e santo temor experimentarei a riqueza, a honra e a vida longa
necessárias para exercer minha missão divina de servir a outros. Em nome de Jesus,
amém.
Professe: Meu Pai celestial prometeu riquezas, honra e vida longa enquanto busco o
santo temor e a verdadeira humildade.
Quem tem bom senso permanece no
caminho certo.
— PROVÉRBIOS 15:21, NVT
Semana 6 — Dia 6

41 | TERMINANDO BEM

Não podemos discutir plenamente o tópico de viver bem se não


incluirmos o tema terminar bem. No capítulo 18 tocamos no assunto
da longevidade, mas neste capítulo vamos desenvolver e examinar
ainda mais como o temor do Senhor e a humildade exercem um
papel importante.
Quem teme o Senhor e é humilde consegue riqueza, prestígio e vida longa.
— Provérbios 22:4 (NTLH) Um benefício extraordinário do santo temor é o
prolongamento de dias. “O temor do Senhor prolonga a vida” (Pv 10:27).
Que promessa! E não é uma ocorrência única, pois nos é dito novamente
que pela sabedoria do santo temor “os seus dias serão multiplicados, e o
tempo da sua vida se prolongará” (Pv 9:11). Não apenas nos é prometido o
acréscimo de anos, como também que os nossos dias serão mais
produtivos.

Outra confirmação encontra-se em um dos Dez Mandamentos. O


temor do Senhor nos inspira a honrar os nossos pais
incondicionalmente, e ao fazer isso nos é prometido que “tudo te
corra bem e tenhas longa vida sobre a terra” (Ef 6:3). Mais uma vez,
vemos não apenas longevidade, mas também produtividade. Essas
são promessas que podemos reivindicar em oração.
É importante ressaltar que, sem qualidade de vida, o prazer do
acréscimo dos anos diminui. Salomão escreveu nos seus anos de
pessimismo: “O dia da morte é melhor do que o dia do nascimento”
(Ec 7:1). É óbvio que ele não devia estar desfrutando a vida quando
escreveu essas palavras. O que garante qualidade de vida? A
verdadeira humildade e o temor do Senhor.
Anos atrás, eu estava em oração e li: No ano em que o rei Uzias
morreu, eu vi o Senhor assentado num trono alto e exaltado, e a aba
de Sua veste enchia o templo.
— Isaías 6:1
Isaías viu o Senhor em toda a Sua glória. Como discutimos em
um capítulo anterior, ele contemplou o Todo-poderoso em Seu trono,
os enormes anjos e os portais do prédio tremendo ao som das suas
vozes. A partir dessa experiência, sua vida foi radicalmente
transformada.
Depois de ler o relato, clamei: “Senhor, é isto que preciso, uma
nova visão de Jesus!”.
O Espírito Santo sussurrou ao meu coração: “Não foi assim que
comecei o versículo. Volte e leia-o novamente”.
Fiquei perplexo, mas fiz como o Senhor instruiu e, dessa vez, as
palavras “No ano em que o rei Uzias morreu” saltaram da página.
Então ouvi: “Uzias teve de morrer para que Isaías pudesse ter
uma nova visão de Mim”.
Na época, eu não estava familiarizado com Uzias; eu só sabia
que ele havia sido um dos muitos reis de Israel ou de Judá. Mas
quando comecei a pesquisar sobre sua vida, descobri algumas
realidades fascinantes. Ele tinha apenas dezesseis anos quando foi
coroado rei de Judá, e reinou por cinquenta e dois anos. Para fins
de perspectiva, na época em que escrevi sobre isso, um total de dez
presidentes dos Estados Unidos já haviam presidido o país nos
últimos cinquenta e dois anos. Uzias reinou por bastante tempo.
Ao lhe ser entregue o governo sobre milhões de pessoas aos
dezesseis anos, ele fez a coisa sábia — ele buscou a Deus. Lemos:
“Enquanto buscou o Senhor, Deus o fez prosperar” (2 Cr 26:5). Uau,
ele teve êxito! A sabedoria que Deus deu a ele o impulsionou para
uma grandeza espantosa. Ele fortaleceu a economia, restaurou
cidades, formou um exército poderoso e recuperou territórios que
haviam sido perdidos por seus pais. “Ele foi extraordinariamente
ajudado e, assim, tornou-se muito poderoso e a sua fama espalhou-
se para longe” (2 Cr 26:15).
Entretanto, assim como aconteceu com Salomão, o temor do
Senhor não era o seu tesouro. Tragicamente, lemos: Entretanto,
depois que Uzias se tornou poderoso, o seu orgulho provocou a sua
queda.
— 2 Crônicas 26:16

Em algum momento do caminho, ele perdeu a humildade e o


santo temor com os quais havia começado. Eis uma verdade
importante: essas virtudes gêmeas poderosas produzirão um ímpeto
de frutificação, o que significa que o sucesso geralmente continuará,
mesmo quando as virtudes que o iniciaram e impulsionaram não
estão mais por trás dele. O início da passagem de 2 Crônicas 26:16
traz uma informação interessante: Ele foi infiel ao Senhor, o seu
Deus, e entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar
de incenso.
O Espírito Santo me fez uma pergunta: “Filho, Uzias ficou mais
espiritual ou menos espiritual quando o orgulho entrou no seu
coração?”. Entendi imediatamente que a resposta era contrária à
lógica. Eu sempre havia pensado que quando o orgulho entra no
coração de alguém, ele se torna menos espiritual. No entanto, Uzias
entrou no templo para fazer uma atividade espiritual diante do
Senhor. Eu não teria reconhecido tal detalhe a não ser que o
Espírito Santo tivesse me feito esta pergunta.
Em choque, falei em voz alta: “Ele se tornou mais espiritual!”.
O Espírito Santo sussurrou ao meu coração: “O espírito de
orgulho e o espírito da religião andam de mãos dadas, e eles se
fortalecem mutuamente ao esconderem um ao outro”. O orgulho
impede a pessoa de admitir que ela se tornou religiosa, e a religião
encobre o orgulho pelo seu comportamento espiritual.
Então pensei nos fariseus do tempo de Jesus. A exemplo de
Uzias, esses líderes provavelmente começaram com um amor
genuíno e um santo temor por Jeová, mas em algum momento, o
orgulho entrou no coração deles. Eles ficaram mais distantes de
Deus, mas o seu envolvimento nas atividades espirituais se
intensificou.
Uzias foi confrontado pelos sacerdotes, que denunciaram o seu
comportamento antibíblico. Ao se ver cara a cara com a verdade,
Uzias ficou furioso com os sacerdotes (o que também é uma
indicação da perda da humildade). De repente, a lepra irrompeu em
sua testa. O resto da vida desse rei foi trágico; ele teve de viver em
uma casa isolada. Seu filho assumiu o governo do palácio real, e
Uzias veio a morrer leproso.
Vamos examinar os fatos através dos olhos do público em geral.
A única realidade evidente para o povo de Judá e Jerusalém foi que
seu rei contraíra lepra. Você pode imaginar a explosão nas redes
sociais? Comentários inundariam as redes: “Oh não! O nosso rei
pegou lepra; que tragédia!”. Nenhuma das pessoas sabia o que
estava por trás da doença. Mas a nós é dado pelo Espírito Santo a
informação em primeira mão — foi a perda do santo temor e da
humildade.
Nesse ponto, perguntei algo mais ao Senhor com relação aos
nossos dias. Meu coração estava partido pelos inúmeros líderes do
meu tempo que caíram. Muitas vezes trata-se de um caso
extraconjugal, mas em outras ocasiões a causa da queda é o
alcoolismo, o vício em drogas, a ganância, ou outros vícios e
comportamentos impróprios. Observei com tristeza a queda de
líderes que começaram no ministério antes de nós, ao mesmo
tempo que nós, e até depois de nós. Cada um deles começou com
um grande zelo por glorificar a Jesus. Como eles puderam sucumbir
a comportamentos tão obscuros? Não tinham visto outros seguirem
o mesmo padrão?
O Espírito Santo falou comigo novamente: “Filho, esses líderes
que caíram não tinham um problema hormonal, eles tinham um
problema de orgulho”. O que todos nós testemunhamos é a lepra
irrompendo na testa deles — seus casos de adultério, seus vícios,
ou outros comportamentos que os levaram à queda. O que nós não
vimos foi o orgulho que substituiu o santo temor e a humildade
deles. A que ponto isso ocorre, só Deus sabe. Nem mesmo o líder
sabe, porque o orgulho cega a vítima, impedindo-a de ver
claramente.
Devido à explosão que o sucesso gera, podemos facilmente
perder de vista o que nos levou até lá — buscar a Deus
diligentemente com humildade e santo temor. Por isso é tão
importante que nos nossos tempos de sucesso mantenhamos diante
de nós as palavras de Jesus: “Sem Mim vocês não podem fazer
coisa alguma” (Jo 15:5).
Basicamente, o Espírito Santo me disse naquele dia: “John, na
mesma medida em que o orgulho morre, essa é a medida em que
você terá uma nova visão de Jesus”. A transformação é imperativa,
e sem uma nova visão Dele, perdemos a oportunidade de nos
tornarmos mais semelhantes a Ele. Muitos grandes homens e
mulheres não terminaram bem, mas todos eles acreditaram que
podiam escapar da consequência inevitável da perda da humildade
e do santo temor. Não se engane — apegue-se firme à verdadeira
humildade, à sua total dependência de Jesus, e faça do santo temor
o seu tesouro. Faça isso, pois Deus lhe promete riquezas, honra e
vida longa.

Personalizando

Passagem: “Ouça, meu filho, e aceite o que digo, e você terá vida longa” (Pv 4:10).

Ponto: A medida em que o orgulho morre é a medida em que teremos uma nova visão
de Jesus. A verdadeira humildade tem as suas raízes no santo temor. É saber que sem
Jesus, nada podemos fazer. Portanto, decidimos ser completa e totalmente dependentes
Dele.

Pondere: A humildade é uma realidade na minha vida? Existem áreas onde tenho uma
atitude de “Deixa isso comigo?”. Eu faço planos sem consultar ao Senhor? Eu tomo
decisões sem olhar para dentro de mim, em busca da Sua confirmação? Nesse caso,
como posso mudar essa abordagem? Como ser grato me mantém ousado e humilde ao
mesmo tempo?
Pare para orar: Querido Pai, em nome de Jesus, perdoa-me pelo orgulho nessas áreas
da minha vida: (enumere-as). Eu me arrependo por depender de mim mesmo e por me
considerar superior aos outros. Purifica-me com o sangue de Jesus. Eu me humilho aos
Teus olhos e ao fazer isso decido ver os outros como mais importantes do que eu.
Amém.

Professe: Escolho a humildade e o temor do Senhor para guiarem a minha vida.


Eu oro com frequência: “Oh Deus,
envia um avivamento de
arrependimento
e o temor de Deus que varram o
continente,
para que possamos ser poupados e
para que possamos honrar-Te!”.
— A. W. TOZER
Semana 6 — Dia 7

42 | ENCONTRANDO
O TESOURO

(Nota ao leitor: Este capítulo é mais longo que os anteriores a fim de


concluir a mensagem adequadamente. Se você tem lido
diariamente, dividi este capítulo em duas leituras: manhã e noite).

Leitura da Manhã: Resumo dos Benefícios


A profundidade dos benefícios que o santo temor oferece é
numerosa demais para um livro. Seriam necessários volumes para
abordá-los na totalidade. Estive pesquisando por quase três
décadas e ainda fico perplexo com o que o Espírito Santo revela na
Palavra de Deus. Portanto, vamos encerrar este volume dando uma
olhada breve em mais algumas promessas. Veja cada uma como
uma introdução à sua posterior exploração e descoberta. Abrace
essas promessas no seu coração. Não tente cancelá-las ou
minimizá-las. Enumere-as para Deus. Para os que temem a Deus,
estas são as pedras preciosas que você precisa encontrar e tomar
posse.
Como é feliz quem teme o Senhor, quem anda em Seus caminhos!
Você comerá do fruto do seu trabalho, e será feliz e próspero.
— Salmos 128:1-2

Uma pessoa que verdadeiramente teme a Deus tem alegria


abundante. Um aspecto da alegria que é mencionado
especificamente é o nosso trabalho. Jamais esquecerei um
incidente que impactou a minha vida e que ocorreu quando eu era
engenheiro da IBM no início dos anos 1980. Estávamos celebrando
o aniversário de 38 anos de empresa de um colega engenheiro.
Havia uma dúzia de nós amontoados no seu escritório no começo
do dia.
A certa altura, o protagonista daquela celebração disse: —
Detestei cada dia em que entrei neste prédio por trinta e oito anos.
Os outros riram e concordaram.
Eu estava trabalhando na minha posição havia apenas alguns
meses; eu era jovem e ingênuo, mas agora estava confuso.
Perguntei: — Por que você fez isso?
A fisionomia dele mudou rapidamente, passando de um riso
abafado para uma expressão de desgosto, enquanto ele se virava
para mim, juntamente com todos no escritório, e zombava: — John,
isso se chama emprego! Você precisa trabalhar para comprar
comida e roupas.
Pelos olhares dos outros homens, pude ver que eles
compartilhavam dos mesmos sentimentos. Eu não soube dizer mais
nada, uma vez que não estava na presença de homens sábios.
A única razão pela qual eu havia estudado Engenharia era o
medo de não garantir um emprego que pagasse bem. O comentário
dele expôs o meu medo nada “santo”. Decidi naquele dia que eu
não pronunciaria as mesmas palavras trinta e oito anos depois.
Esse medo não dirigiria a minha vida; eu confiaria em Deus. Posso
dizer com alegria que, desde aquela época, desfrutei do fruto do
meu trabalho, e essa promessa é para todos os que temem a Deus.
O salmista continua: Sua mulher será como videira frutífera em
sua casa; seus filhos serão como brotos de oliveira ao redor da sua
mesa. Assim será abençoado o homem que teme o Senhor!
— Salmos 128:3-4

Você desfrutará do fruto do seu trabalho, a sua mulher florescerá


e os seus filhos entusiasmados desejarão estar na sua companhia.
Muitas pessoas têm falta do que está descrito nessa passagem. Na
verdade, isso representa o que está faltando na maior parte da
nossa sociedade. Muitos, ainda que ganhem muito dinheiro, não
estão desfrutando a vida. Eles não convivem bem com seus
cônjuges e seus filhos não querem ter nada a ver com a família.
Suas famílias estão murchando em vez de florescer — mas há uma
esperança divina.
A esperança dessa promessa é específica e muito maravilhosa.
Ela não é para todos os que frequentam a igreja ou mesmo que
confessam ter um relacionamento com Jesus. Ela diz
explicitamente: “Assim será abençoado o homem que teme o
Senhor”.
Caro leitor, você está quase concluindo sua jornada ao longo
desta mensagem. Pelo fato de ter chegado até aqui, você decidiu
temer a Deus; portanto, essa é uma promessa que você pode
reivindicar em oração. Clame a Deus, como Isaque clamou, para ver
essas promessas do santo temor se cumprirem. Passamos por
meses prolongados em nossas vidas nos quais essas promessas
não eram realidade na nossa família; havia indicadores apontando
para a possibilidade de não ocorrerem, mas nós nos agarramos à
esperança das promessas de Deus e lutamos por elas em oração.
Agora podemos dizer que durante anos elas se cumpriram em
nossa família.
Vamos ver outro salmo que fala em profundidade sobre os que
temem a Deus: Louvado seja o Senhor! Quão alegres são aqueles
que temem ao Senhor e se deleitam em obedecer aos Seus
mandamentos. Seus filhos serão bem-sucedidos em todos os
lugares; toda uma geração de pessoas piedosas será abençoada.
— Salmos 112:1,2 (NLT) Mais uma vez, vemos a palavra “alegre” ligada ao
santo temor. A alegria é uma força espiritual; ela não se baseia nas
circunstâncias. Em vez disso, a alegria está fundamentada na eterna
Palavra de Deus; ela é a nossa força. Ela nos torna mais produtivos e
frutíferos.
Vemos também, neste versículo, que o santo temor afeta
grandemente os nossos descendentes. Não apenas nós teremos
êxito, mas nossos filhos têm a mesma promessa. Vamos continuar:
Grande riqueza há em sua casa, e a sua justiça dura para sempre...
O justo jamais será abalado; para sempre se lembrarão dele. Não
temerá más notícias; seu coração está firme, confiante no Senhor. O
seu coração está seguro e nada temerá. No final, verá a derrota dos
seus adversários.
— Salmos 112:3, 6-8

Recentemente, eu estava conversando com um crente, e ele


comentou como um dia, quando deixarmos esta vida, nossa
eternidade começará. Retruquei rapidamente: “Não, para aqueles
que nasceram de novo, a nossa eternidade já começou”. O trabalho
que aqui fazemos em amor continuará para sempre. Entretanto,
aqueles a quem falta o santo temor não têm essa promessa — na
verdade, é exatamente o oposto: “Amar, odiar, invejar, tudo o que já
fizeram ao longo da vida passou há muito tempo” (Ec 9:6, NVT).
Os que temem a Deus não se assustam com as más notícias.
Nestes dias de redes sociais em profusão, grande mídia e da
superabundância de outras fontes de notícias e fofocas, as más
notícias estão em alta. Muitas pessoas estão com medo do que está
por vir. Mas não existe pavor ou medo do futuro para aqueles que
temem a Deus; eles estão confiantes e destemidos. Mais uma vez,
nos é dito: No temor do Senhor há firme confiança e ele será um
refúgio para seus filhos.
— Provérbios 14:26 (ACF) Há uma confiança interior que acompanha o
santo temor. É algo que muitos anseiam ter, mas logo descobrem que
parece estar fora de alcance. Tenho um amigo, John Hagee, que é um
pastor altamente respeitado no Texas. Ele teme a Deus tanto quanto
qualquer líder que já conheci. Em 1973, um homem entrou no seu culto e,
de alguma forma, conseguiu chegar até dois metros e meio de distância
dele, então descarregou seis tiros de um revólver 38. O pastor John
continuou confiante e não se moveu. Nenhum dos seis tiros o acertou. Na
época em que descrevo esse episódio, ele está vivo, cinquenta anos
depois, ainda pregando o Evangelho. Na mesma situação, a maioria das
pessoas teria perdido toda a aparência de equilíbrio, teria gritado e deitado
no chão ou buscado proteção. John não se moveu, mas manteve seu olhar
confiante no atirador. Assim, lemos: O anjo do Senhor é sentinela ao redor
daqueles que O temem, e os livra.
— Salmos 34:7
Anjos são designados para proteger os que temem a Deus.
Depois do acontecido, testes forenses determinaram que a metade
das balas passou a quinze centímetros à esquerda do corpo do
pastor John, e a outra metade passou a quinze centímetros à direita
do seu corpo. O atirador errou a uma distância de dois metros e
meio! Até os atiradores inexperientes teriam acertado o alvo naquela
distância e com seis chances. Estamos certos de que um anjo de
Deus redirecionou as balas.
O rei Josafá, de Judá, foi um homem que “seguiu corajosamente
os caminhos do Senhor” (2 Cr 17:6). No terceiro ano do seu reinado,
ele enviou os sacerdotes a cada cidade da nação para ensinar ao
povo a palavra de Deus. Acompanhe: O temor do Senhor caiu sobre
todos os reinos ao redor de Judá, de forma que não entraram em
guerra contra Josafá.
— 2 Crônicas 17:10

Há uma grande proteção ao permanecermos em santo temor.


Outro exemplo bíblico é Jacó, que direcionou sua família a temer a
Deus e a abandonar os seus ídolos. “Quando eles partiram, o terror
de Deus caiu de tal maneira sobre as cidades ao redor que ninguém
ousou perseguir os filhos de Jacó” (Gn 35:5).
Os que se dedicam a temer ao Senhor desfrutam de muitas
promessas. Veja estas palavras: Não tenha inveja dos pecadores,
mas tema sempre o Senhor.
Você será recompensado por isso; sua esperança não será
frustrada.
— Provérbios 23:17-18 (NVT) Observe as duas palavras enfatizadas.
Primeiramente, em um tempo no qual a esperança é rara, muitos líderes
espirituais estão fazendo da inspiração o seu foco principal e, de modo
inverso, tratando a Palavra de Deus como um complemento. Uma
passagem bíblica ou duas são mencionadas para aplacar os ouvintes
sérios, mas o foco principal são suas histórias inspiradoras. Embora essas
histórias possam beneficiar as pessoas e comovê-las em curto prazo — em
nada diferente de um filme de Hollywood — elas não terão as
recompensas duradouras prometidas do santo temor.
O temor do Senhor nos recompensa de muitas maneiras: desejos
realizados (ver Sl 145:19), amigos fiéis (Sl 119:63,74,79), cura para
o nosso corpo (Pv 3:7,8), identidade (Sl 60:4), e a direção na vida
pela qual tantos anseiam.
Quem é o homem que teme o Senhor? Ele o instruirá no caminho que deve
seguir. Viverá em prosperidade, e os seus descendentes herdarão a terra.
— Salmos 25:12-13
Por que alguém não valorizaria o santo temor é algo que está
além da minha compreensão. Meu desejo sincero é que você veja
esse seu valor e não o guarde para si, mas seja como o rei Josafá,
que ensinou todo o povo que estava sob sua influência a temer a
Deus.
Leitura da Noite: Encontrando o Santo Temor
O Senhor me disse há mais de trinta anos que o último mover de
Deus nesta era enfatizaria o santo temor. O grande benefício desse
despertamento seria o cumprimento da única descrição na Bíblia da
noiva, para a qual Jesus está voltando. Ela não é uma igreja
“relevante”, embora a relevância seja importante para alcançarmos
os perdidos. Ela não é uma igreja “com ênfase na liderança”,
embora a liderança seja crucial para edificar uma igreja forte. Não é
uma “igreja de comunidade”, embora a comunidade seja vital porque
não é bom que o homem esteja só. Eis a única descrição da noiva
para a qual Jesus está voltando: E apresentá-la a Si mesmo como
igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas
santa e inculpável.
— Efésios 5:27
Ela é uma igreja santa! Caro leitor, uma vez que a santidade é
aperfeiçoada no temor de Deus, é desejo ardente do nosso Senhor
que você seja um influenciador neste grande despertamento. Assim,
é importante terminarmos nosso debate abordando como aumentar
o nosso santo temor.
Deixe-me levar você novamente àquele culto tremendo e
emocionante na Malásia. Durante a manifestação da Sua majestosa
e poderosa presença, eu tremia em reverência diante do Seu
esplendor e pensava comigo mesmo: John Bevere, não diga uma
palavra fora de hora nem faça um movimento errado.
Enquanto eu andava de um lado para o outro na plataforma
pensando assim, algo saiu da minha boca que meus ouvidos
ouviram pela primeira vez depois que eu o disse. Eu nunca havia
pensado ou refletido sobre isso antes. Falei com ousadia: “Este é o
Espírito do temor do Senhor!”.
De repente, luzes se acenderam na minha mente. Gritei dentro de
mim: É isso, é isso — esta é uma das manifestações do Espírito
Santo! Eu nunca havia entendido isso, mas na Bíblia nos é dito
sobre Jesus: Repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o Espírito
de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de
fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor. Ele terá
o Seu prazer no temor do Senhor.
— Isaías 11:2-3 (NAA) Há sete formas enumeradas pelas quais o Espírito
Santo se manifesta, e Jesus andava na plenitude de todas elas, mas Seu
prazer estava no santo temor. De modo que a questão passa a ser: como
recebemos o Espírito do temor do Senhor? Jesus nos diz: “Se vocês,
apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto
mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!” (Lc
11:13).

Nós apenas precisamos pedir ao nosso Pai celestial. Entretanto,


não é um pedido casual, mas um clamor do nosso coração e um
clamor que se recusa a receber um não como resposta.
Imediatamente antes dessas palavras, Ele nos diz: “Continuem
pedindo, e lhes será dado; continuem buscando, e encontrarão” (Lc
11:9, NLT). Há uma persistência enfatizada aqui.
Vamos voltar a 1994, à conferência na qual o pastor me corrigiu
por falar sobre o temor do Senhor. Na manhã seguinte, no canteiro
de obras, comecei a orar no sentido de descobrir o que eu fizera de
errado, mas acabei clamando apaixonadamente em voz alta pelo
santo temor. Foi um pedido determinado, um pedido que não
aceitaria um não como resposta. Na época, eu não tinha
consciência da importância daquele momento, mas agora o vejo
como um dos eventos mais cruciais e transformadores da minha
vida. Até agora, quase que diariamente, peço com todas as forças
ao meu Pai celestial um novo enchimento do Espírito Santo do
temor do Senhor. Vamos ver outra porção da Bíblia que trará grande
relevância à nossa discussão.
Meu filho, se você aceitar as Minhas palavras e guardar no coração os
Meus mandamentos; se der ouvidos à sabedoria e inclinar o coração para
o discernimento; se clamar por entendimento e por discernimento gritar
bem alto; se procurar a sabedoria como se procura a prata e buscá-la
como quem busca um tesouro escondido, então você entenderá o que é
temer o Senhor e achará o conhecimento de Deus.
— Provérbios 2:1-5

É preciso haver um profundo clamor aliado a uma busca diligente


pelo santo temor, em nada diferente da maneira como você
procuraria por um anel de noivado de diamantes ou por uma joia de
ouro perdida. Estou certo de que você assistiu a programas ou
filmes envolvendo caçadores de tesouros, que sempre transmitem
uma sensação de persistência irredutível por parte do caçador. Um
dos que se destacam é o filme de ficção A Lenda do Tesouro
Perdido.1 Feito em 2004, ele retrata um homem, Benjamin Gates,
que passou a vida na busca por um tesouro que foi escondido nos
anos de 1700. Ele dedicou todo o seu tempo e energia — a ponto
até de arriscar sua reputação e sua liberdade — para encontrá-lo.
Embora o que ele procurasse muito em breve virá a perecer, sua
persistência irredutível é o que deve nos inspirar.
Se nos aproximarmos da Palavra de Deus, da Sua sabedoria, do
Seu conselho divino e do santo temor com essa mesma
determinação, seremos tremendamente abençoados. Estamos
clamando pelo que nunca perecerá; é o tesouro de Deus. Ele não o
escondeu de nós, mas para nós. Ele está nos incentivando a
encontrá-lo e se alegra quando conseguimos. Ele também celebra
quando experimentamos as suas recompensas.
É minha esperança sincera que, com a ajuda do Espírito Santo, o
que nasceu em mim naquela manhã no canteiro de obras tenha
nascido em você — uma fome insaciável pelo temor do Senhor.
Valorize-o e apegue-se a ele como se ele fosse o seu bem mais
precioso. Se fizer isso, você amará o que Deus ama e odiará o que
Ele odeia; o que é importante para Ele passará a ser importante
para você. Você amará profundamente as pessoas e odiará
profundamente o pecado que as destrói. Você transformará o
mundo que é a sua esfera de influência e ficará feliz por ter feito isso
por toda a eternidade.
Por favor, lembre-se, não é como começamos esta corrida que
importa, mas como a terminamos. Duas passagens que dão grande
esperança e força nesse sentido são: Àquele que é poderoso para
impedi-los de cair e para apresentá-los diante da Sua glória sem
mácula e com grande alegria.
— Judas 1:24
Ele os manterá firmes até o fim, de modo que vocês serão irrepreensíveis
no dia de nosso Senhor Jesus Cristo.
— 1 Coríntios 1:8
Terminar bem é o aspecto mais importante de viver bem, e Deus
nos concedeu o santo temor para alcançarmos isso. Foi uma honra
apresentar você a esse tesouro. Não o guarde apenas para si
mesmo; há muita coisa para ser divulgada. Compartilhe esta
mensagem com as pessoas da sua esfera de influência. Se você
fizer isso, veremos menos vítimas nos dias vindouros e uma Igreja
mais saudável.
Decida agora fazer parte do poderoso mover transformador do
santo temor que preparará a noiva para a volta do nosso Noivo. Não
fique de fora olhando para dentro. Ao abraçar o santo temor, você
encontrará uma intimidade profunda com o nosso Noivo, sua
salvação será amadurecida, você será frutífero e construirá um
legado eterno.

Personalizando

Passagem: “Àquele que é poderoso para impedi-los de cair e para apresentá-los diante
da Sua glória sem mácula e com grande alegria, ao único Deus, nosso Salvador, sejam
glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de
todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém” (Jd 24-25).

Ponto: Terminar bem é o aspecto mais importante de viver bem. Deus, através do Seu
dom do santo temor, manterá você forte e inculpável até o fim.

Pondere: O que eu necessito fazer para aumentar o santo temor em minha vida? Eu
anseio pelo santo temor como um tesouro e assim o persigo sem tréguas? Irei me
apegar a ele como um dos meus bens mais preciosos? O que devo fazer regularmente
para mantê-lo?

Pare para orar: Querido Pai, clamo a Ti para que Tu me enchas com o Espírito do
Senhor, com o Espírito de sabedoria, com o Espírito de entendimento, com o Espírito de
conselho, com o Espírito de fortaleza, com o Espírito de conhecimento, e com o Espírito
de temor do Senhor. Mantém-me forte até o fim para que eu possa ser encontrado
inculpável no dia do meu Senhor Jesus Cristo. Em nome de Jesus, eu oro, amém.

Professe: O temor do Senhor é o meu tesouro.


Apêndice A

LINK PARA VÍDEOS E OUTROS CONTEÚDOS


GRATUITOS

(disponíveis somente em inglês)

Clique no QR code abaixo para ter acesso ao conteúdo


gratuito que inclui:

• 42 vídeos curtos que enfatizam as verdades essenciais de cada capítulo,


que o conduzirão a uma jornada mais profunda e mais pessoal;
• Informações sobre um guia de estudos e um currículo em vídeo criados
especialmente para pequenos grupos edificarem a comunidade e
fortalecerem a igreja local.
• Outros materiais para lhe mostrar como receber o santo temor do Senhor.
Apêndice B

UM VISLUMBRE
DA GRANDEZA
DE DEUS

A certa altura da história de Israel, Deus procura fazer um upgrade


no santo temor do Seu povo fazendo esta pergunta: Com quem
vocês vão Me comparar? Quem se assemelha a Mim?
— Isaías 40:25

Se já houve um tempo na história em que deveríamos refletir


profundamente sobre esta pergunta e não apenas ignorá-la, este
tempo é agora. Aqui mesmo neste dia e hora, a “grandeza” da
humanidade é divulgada continuamente nas redes sociais, na
grande mídia, na televisão e em outras plataformas. Os elogios aos
atletas de talento, aos belos astros e estrelas de Hollywood, aos
artistas musicais talentosos, aos gurus dos negócios, aos líderes
carismáticos e a outros indivíduos importantes são constantemente
demonstrados. A fama deles é enaltecida e, embora aparentemente
inofensiva, essa alimentação constante da glória humana nos
impede de considerar e refletir sobre a realidade da glória de Deus.1
Lisa e eu nos adiantamos nesse aspecto há aproximadamente
vinte e cinco anos na criação dos nossos quatro filhos. Naquele
tempo, o fluxo de informações não era tão predominante porque não
tínhamos aplicativos e redes sociais. Na ocasião, percebemos que
nossos filhos estavam interessados demais em um certo jogador de
basquete profissional. Na época, ele era o atleta mais popular dos
Estados Unidos e era idolatrado por muitos, e mesmo décadas
depois sua fama permanece intacta.
Nossa família estava ministrando na Costa Leste, e estávamos
hospedados em um hotel à beira-mar. Havíamos retornado ao nosso
quarto depois de algumas horas na praia. Os meninos haviam sido
jogados de um lado para o outro por um Oceano Atlântico agitado e
estavam ao mesmo tempo alegres e admirados com o seu poder.
Sentei-me para conversar com nossos três filhos mais velhos.
Apontando para as portas de vidro de correr que estavam abertas,
perguntei a eles: — Meninos, este é um oceano enorme, não é
mesmo?
— Sim, papai.
Continuei: — Vocês só conseguem ver alguns poucos
quilômetros dele, mas o oceano continua por milhares de
quilômetros.
Enrolados no calor de suas toalhas, os meninos responderam: —
Uau!
— E este não é sequer o maior oceano; há outro, ainda maior,
chamado Oceano Pacífico. E além desses dois, ainda há outros
dois.
Os meninos balançaram a cabeça em um assombro silencioso
enquanto continuávamos ouvindo o poder das ondas que
quebravam do lado de fora da nossa porta aberta.
Na época da viagem, os jogos finais da NBA estavam em todos
os noticiários. As realizações daquele superastro do basquete
estavam sendo mencionadas constantemente pela imprensa, pela
ESPN, por nossos filhos e pelos amigos deles. Meus meninos
estavam impressionados com a facilidade com a qual ele podia
segurar uma bola de basquete em uma só mão. Sabendo que até
certo ponto meus filhos haviam entendido a quantidade
avassaladora de água que eu havia acabado de descrever,
perguntei: “Meninos, vocês sabem que Deus pesou toda a água que
vocês estão vendo, além de todos os oceanos que acabei de
descrever, na palma da Sua mão?” (Is 40:12). Seus rostos
demonstraram um espanto genuíno.
Então, nos termos mais simples possíveis, compartilhei não
apenas o tamanho, mas o poder do oceano. Compartilhei com
nossos filhos que se um meteoro de 1.600 quilômetros atingisse o
Oceano Atlântico, a algumas centenas de quilômetros da cidade de
Nova Iorque, ele criaria uma onda grande o bastante para destruir a
estrutura de todas as cidades em toda a Costa Leste da América, no
Caribe, e grande parte da Costa Atlântica da América do Sul! 2 Não
apenas isso, mas ela continuaria através do oceano e destruiria
diversas cidades costeiras da Europa e da África também. No
entanto, essa onda não seria nem de longe tão alta quanto a
profundidade do Oceano Atlântico. Então perguntei: “O que
aconteceria se todo o peso das águas do oceano fosse lançado
contra a humanidade? Há muito poder nos oceanos do mundo, mas
Deus pesou cada gota dessa água na palma da Sua mão!”
Então, passei a discutir sobre o céu da noite. Perguntei aos
meninos, que agora estavam cativados: — Vocês sabem o que mais
a Bíblia diz sobre o quanto Deus é grande?
— O quê, papai?
— Ela diz que Deus pode medir o universo com a palma da Sua
mão (Is 40:12).
Sustentando minha mão diante deles, demonstrei que a palma é
a distância entre a ponta do meu polegar e a ponta do meu dedo
mínimo. O que perguntei aos meus filhos naquele dia é o que vou
perguntar a você agora: “Você já refletiu sobre o tamanho do
universo?”. Isso está além da nossa capacidade mental. Talvez se
tentarmos ter um vislumbre da vastidão do universo, possamos
chegar perto de ter um vislumbre da Sua glória.
O que estou prestes a escrever é um pouco técnico, mas eu
incentivo você a continuar enquanto tento deixar minhas ideias
claras e simples, assim como fiz com os nossos filhos. Quando
meditamos sobre esses fatos, isso levanta dentro de nós uma
sensação de reverência e admiração com relação ao Seu esplendor,
pois nos é dito que “Os céus proclamam a glória de Deus” (Sl 19:1,
ARA).
Os cientistas estimam que existem bilhões de galáxias no
universo, cada uma delas contendo aproximadamente cem milhões
de estrelas. Os tamanhos dessas galáxias são muito pequenos se
comparados ao espaço que existe entre elas.
Nosso sol está localizado em uma dessas galáxias. Nossa
galáxia é tão vasta que quando você olha para o céu à noite, não vê
uma imagem do universo, mas somente a pequena galáxia
(comparada ao universo) em que vivemos, que se chama Via
Láctea. Levando isso um pouco mais longe, você não vê sequer
uma imagem da Via Láctea na totalidade, mas somente de uma
porção dela, pois a maioria das estrelas da nossa galáxia está longe
demais para ver vista a olho nu.
Portanto, vamos falar apenas sobre as estrelas que podemos ver
a olho nu todas as noites. A estrela mais próxima da nossa terra
além do sol é uma estrela que está apenas a 4,3 anos luz de
distância. Ora, isso significa muito pouco, portanto vamos expandir.
A luz viaja na velocidade de 299.793.458 metros por segundo — e
não por hora, mas por segundo. Isso representa aproximadamente
1.000.000.000 quilômetros por hora. Nossos aviões voam a
aproximadamente oitocentos quilômetros por hora. De modo que,
como você pode ver, a luz é incrivelmente rápida!
Para lhe dar uma ideia de quão rápida é, vamos supor que você
pudesse pegar um avião a jato até o sol. Quando eu voo até a Ásia,
que fica do outro lado da terra em relação ao lugar onde moro, levo
aproximadamente vinte e três horas. Se eu pegasse esse mesmo
avião em um voo direto até o sol, isso levaria aproximadamente
vinte e um anos! Pense em onde você estava há vinte e um anos, e
depois imagine passar todo o tempo desde então até agora sentado
em um avião (espero que você consiga um assento na janela). Para
aqueles que preferem dirigir... bem, isso não poderia ser feito, pois
levaria aproximadamente duzentos anos, sem incluir as paradas
para abastecer e descansar! Agora vamos perguntar quanto tempo
é necessário para que a luz viaje até a terra. A resposta é apenas
oito minutos e vinte segundos!
Vamos deixar o sol e seguir em frente para a estrela mais
próxima. Já sabemos que ela fica a 4,3 anos luz da terra. Se
construirmos uma maquete da terra, do sol e da estrela mais
próxima, ela seria assim: proporcionalmente, a terra se reduziria até
o tamanho de um grão de pimenta, e o sol ficaria do tamanho de
uma bola de vinte centímetros de diâmetro. De acordo com essa
maquete, a distância da terra até o sol seria de vinte e três metros
— um quarto do comprimento de um campo de futebol. Mas lembre-
se, para um avião de maquete viajar essa distância de vinte e três
metros, levaria mais de vinte e um anos.
De modo que se este é o modelo da terra e do sol, você pode
imaginar a que distância estaria a estrela mais próxima da nossa
terra do tamanho de um grão de pimenta? Você pensaria em 900
metros, 1.800 metros ou talvez 1.600 quilômetros? Nem de longe! A
nossa estrela mais próxima seria colocada a seis mil e quinhentos
quilômetros de distância do grão de pimenta! Isso significa que se
você colocar a terra do tamanho de um grão de pimenta na cidade
de Nova Iorque, o sol, que levamos vinte e um anos para voar até
ele, estaria a vinte e três metros de distância da cidade de Nova
Iorque, e a estrela mais próxima da nossa maquete estaria
posicionada depois de Los Angeles, 1609.344 quilômetros a mais
Oceano Pacífico adentro! Para alcançar essa estrela mais próxima
de avião, levaríamos aproximadamente 51 bilhões de anos, sem
paradas! Isso representa 51.000.000.000 anos! Mas a luz dessa
estrela viaja até a terra em apenas 4,3 anos!
Vamos expandir ainda mais. A maioria das estrelas que você vê à
noite a olho nu está a uma distância de cem a mil anos luz.
Entretanto, há algumas estrelas que você pode ver a olho nu que
estão até a quatro mil anos luz de distância (lembre-se, estas não
são sequer as estrelas mais distantes da nossa pequena galáxia).
Eu nem tentaria calcular a quantidade de tempo que seria
necessária para um avião chegar a apenas uma dessas estrelas.
Mas pense nisto: quando você sai à noite e olha para uma dessas
estrelas que estão a quatro mil anos luz de distância, você na
verdade está olhando para a luz que saiu dessas estrelas por volta
da época em que Abraão se casou com Sara e esteve viajando a
uma velocidade de 1.782.600.000 quilômetros por hora, sem
desacelerar, desde então, e apenas agora está chegando à terra!
É bom lembrar que estas são apenas estrelas na nossa pequena
galáxia chamada Via Láctea. Nós nem sequer nos aventuramos a
pensar nos outros bilhões de galáxias! E não se esqueça que existe
um vastíssimo espaço entre as galáxias! Por exemplo, temos uma
galáxia vizinha muito próxima que se chama Andrômeda. Sua
distância de nós é de aproximadamente 2,3 milhões de anos luz!
Pense nisso — é preciso que a luz viaje a uma velocidade de
1.782.600.000 quilômetros por hora durante dois milhões de anos
para chegar à nossa terra desde aquela galáxia! E ela é a galáxia
que está mais próxima de nós. Existem bilhões de outras! Será que
já esgotamos a nossa capacidade de compreensão?
Vamos lembrar novamente. Isaías declara que Deus mediu este
vasto universo com a distância do Seu polegar até o Seu dedo
mínimo! Na verdade, Salomão declara pelo Espírito de Deus: “Mas
será possível que Deus habite na terra? Os céus, mesmo os mais
altos céus, não podem conter-Te” (1 Rs 8:27). Você está
conseguindo ter um vislumbre de quem é Este de quem estamos
falando?
Depois de compartilhar tudo isso com nossos filhos, o status
daquele superastro da NBA voltou a ter uma perspectiva adequada.
Eles não estavam mais exageradamente espantados com os
talentos do atleta depois de meditarem na grandeza do nosso
Criador.
Mas para você, leitor, eu gostaria de levar o assunto um passo
mais à frente. Não apenas o nosso Pai celestial fez obras
espetaculares de grande tamanho e proporção, como seus detalhes
declaram Sua glória também. A ciência passou anos e gastou uma
enorme quantidade de dinheiro estudando as obras deste mundo
natural, e ainda assim dedicou apenas uma pequena porção da sua
sabedoria para desvendar os mistérios da criação. Ainda existem
muitas perguntas não respondidas. Seus projetos e Seus
fundamentos continuam sendo motivo de assombro e maravilha.
Todas as formas de vida criada se baseiam em células. As
células são os elementos fundamentais do corpo humano, das
plantas, dos animais e de todas as outras coisas que vivem. O corpo
humano, o qual em si é uma maravilha da engenharia, contém
aproximadamente 100.000.000.000.000 de células (você pode
compreender este número?), das quais há uma enorme variedade.
Em Sua sabedoria, Deus designou essas células para executarem
tarefas específicas. Elas crescem, se multiplicam e, por fim, morrem
— bem no tempo exato.
Embora invisíveis a olho nu, as células não são as menores
partículas conhecidas do homem. As células consistem em
numerosas pequenas estruturas chamadas moléculas, e as
moléculas são compostas por estruturas ainda menores chamadas
elementos — e dentro dos elementos podem ser encontradas
estruturas ainda menores chamadas átomos.
Os átomos são tão pesados que o ponto final no fim desta frase
contém mais de um bilhão deles. Por mais diminuto que seja um
átomo, ele é composto quase que inteiramente de espaço vazio. O
restante do átomo é composto de prótons, elétrons e nêutrons. Os
prótons e os nêutrons encontram-se agrupados em um núcleo
minúsculo e extremamente denso no centro do átomo. Pequenos
fardos de energia chamados elétrons giram ao redor desse núcleo
na velocidade da luz. Esses são os principais elementos
fundamentais que mantêm todas as coisas unidas.
Então, de onde o átomo obtém sua energia? E que força mantém
suas partículas de energia unidas? Os cientistas a chamam de
forças eletromagnéticas e nucleares. Estes são apenas termos
científicos sofisticados que descrevem o que ainda não pode ser
totalmente explicado. Porque Deus já disse que Ele está
“sustentando todas as coisas por Sua palavra poderosa” (Hb 1:3). E
Colossenses 1:17 diz: “Nele tudo subsiste”.
Pare e pense nisso. Eis aqui este glorioso Criador a quem
chamamos Pai, a quem nem mesmo o universo pode conter. Ele
pode medir o universo com a palma da Sua mão, no entanto Ele foi
tão detalhista no Seu projeto da pequenina terra e das criaturas que
andam nela que isso deixa a ciência moderna com muitas perguntas
não respondidas depois de anos de estudo. Não é de admirar que o
salmista clame: Quando contemplo os Teus céus, obra dos Teus
dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o
homem, para que com ele Te importes? E o filho do homem, para
que com ele Te preocupes?
— Salmos 8:3-4

Creio que isso resume tudo. Se eu tivesse de adivinhar, diria que


o salmista provavelmente está pronunciando os pensamentos de um
dos enormes anjos que cercam o trono de Deus. Eles continuam a
clamar “santo” devido à enormidade e à vastidão da Sua
grandiosidade. Esses mesmos seres O viram criar o vasto universo
e a sua complexidade, depois eles viram a criação dos seres
humanos e clamaram: “O que é isso? Por que Deus dá tanta
atenção a essas pequenas partículas de pessoas neste planeta tão
minúsculo?”.
Depois da conversa com os meus meninos, eles não ficaram
mais absorvidos pela glória das celebridades dos nossos dias. Eles
entenderam que tudo o que há de grande no nosso planeta perde o
brilho em comparação com a grandeza do nosso Deus. Espero que
este apêndice tenha feito o mesmo com você. Reflita sobre o que
você leu à luz da pergunta que Deus fez ao Seu povo através do
profeta Isaías: “Com quem vocês vão Me comparar? Quem se
assemelha a Mim?” (Is 40:25).
É claro, muitos livros podem ser escritos sobre as maravilhas e a
sabedoria da Sua criação. Esta não é a minha intenção aqui. Meu
propósito é despertar a sua reverência e admiração diante das
obras das Suas mãos, porque elas declaram a Sua grande glória!
NOTAS

Nota do Autor
1. Conduza o seu pequeno grupo ou toda a sua igreja acompanhando o estudo bíblico em
vídeo O Esplendor de Deus. Com John Bevere como seu guia, cave mais fundo no que
a Palavra de Deus diz sobre o temor do Senhor e aprenda a viver esta virtude saudável
e santa. Procure na sua livraria favorita o Guia de Estudos Bíblicos + Vídeo O Esplendor
de Deus. Lista de preços, esboços de sermões e recursos para a igreja disponíveis em
ChurchSource.com. (somente em inglês) Introdução
1. Spurgeon, Charles. “Charles H. Spurgeon Quote,” Quotefancy. Acesso em 15 de
novembro de 2022. https://quotefancy.com/quote/786372/Charles-H-Spurgeon-The-fear-
of-God-is-the-death-of-every-other-fear-like-a-mighty-lion-it.

Capítulo 1
1. Eclesiastes 1:8, MSG
2. Eclesiastes 1:9
3. Eclesiastes 7:1
4. Eclesiastes 1:15
5. Eclesiastes 12:2–6

Capítulo 3
1. The Complete Word Study Dictionary 2. Webster, Noah. “Awe”. In Webster’s 1828
American Dictionary of the English Language. Editorium, 2010.

Capítulo 5
1. Hebreus 12:29 nos diz que Deus é “fogo consumidor”; Romanos
8:15 nos diz que Ele é Aba Pai.

Capítulo 6
1. Butler’s Lives of the Saints: Concise Edition Revised & Updated, Michael Walsh, ed.
(New York: HarperSanFrancisco, 1991), 29–30.

Capítulo 8
1. “How Many Grains of Sand Are in One Square Inch?” WikiAnswers, Acesso em 10 de
setembro de 2022,
https://math.answers.com/othermath/How_many_grains_of_sand__are_in_one_square_i
nch Capítulo 11
1. Johannes P. Louw and Eugene Albert Nida, Greek-English Lexicon of the
NewTestament: Based on Semantic Domains (New York: United Bible Societies, 1996),
684.
2. Louw and Nida, Greek-English Lexicon of the New Testament: Based on Semantic
Domains, 540.
3. “Signs of Decline & Hope among Key Metrics of Faith: Barna Access.” barna. gloo.us,
2021. https://barna.gloo.us/articles/signs-of-decline-and-hope.

Capítulo 12
1. Louw and Nida, 765.

Capítulo 13
1. Ver Lucas 5:14; João 6:15; Filipenses 2:7, NKJV; Hebreus 5:4; Isaías 42:2.

Capítulo 15
1. Spiros Zodhiates, The Complete Word Study Dictionary: New Testament (Chattanooga,
TN: AMG Publishers, 2000).
2. Louw and Nida, 433.

Capítulo 16
1. Louw and Nida, 429.
2. Leon Morris, The Gospel according to Matthew, The Pillar New Testament Commentary
(Grand Rapids, MI; Leicester, England: W.B. Eerdmans; Inter-Varsity Press, 1992), 175.

Capítulo 19
1. C. S. Lewis and Clyde S. Kilby, C.S. Lewis: Letters to an American Lady (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1997).

Capítulo 20
1. Louw and Nida, 662.

Capítulo 29
1. “Intimate Definition and Meaning: Collins English Dictionary,” Intimate definition and
meaning | Collins English Dictionary (HarperCollins Publishers Ltd), acesso em 15 de
novembro de 2022, https://www.collinsdictionary.com/us/dictionary/ english/intimate;
“intimus” – WordSense. Online Dictionary (15 de Novembro de 2022) URL:
https://www.wordsense.eu/intimus/

Capítulo 35
1. Louw e Nida, 375.
2. Ver João 3:1,2; 6:26,66; 12:42; 19:38; Mateus 26:14–16.

Capítulo 38
1. Merriam-Webster.com Dictionary, s.v. “legacy,” acessado em 1 de Novembro, 2022,
https://www.merriam-webster.com/dictionary/legacy.
2. Ludwig Koehler et al., The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament (Leiden:
E. J. Brill, 1994–2000), 217.
3. Warren Baker and Eugene E. Carpenter, The Complete Word Study Dictionary: Old
Testament (Chattanooga, TN: AMG Publishers, 2003), 231.
4. Richard Louis Dugdale, The Jukes: A Study of Crime, Pauperism, Disease and
Heredity, Georgia State University College of Law Reading Room, 1 de janeiro de 1969,
https://readingroom.law.gsu.edu/cgi/viewcontent. cgi?article=1000&context=buckvbell.
5. Robert Alan Ward, “The Descendants of Jonathan Edwards,” White Mountain
Independent, 27 de setembro de 2019,
https://www.wmicentral.com/community_beat/religion/the-descendants-of-jonathan-
edwards/article_9e54e16d-59c5–5cf2-a99f-dea187da978a.html.

Capítulo 39
1. O entendimento adequado desta palavra hebraica é a isca ou o chamariz colocados na
armadilha de um caçador. Warren Baker e Eugene E. Carpenter, The Complete Word
Study Dictionary: Old Testament (Chattanooga, TN: AMG Publishers, 2003), 585.
2. Baker and Carpenter, The Complete Word Study Dictionary: Old Testament, 18.

Capítulo 42
1. Jon Turteltaub, dir., National Treasure, (2005; Burbank, CA: Walt Disney Entertainment),
2005, DVD.
Apêndice B
1. Os fatos e números foram extraídos de um livro que escrevi anos atrás, Um Coração
Ardente, no Capítulo 4, intitulado “A Glória do Senhor” (Rio de Janeiro, Edilan, 2005).
2. Desde que escrevi isso pela primeira vez, modelos científicos melhores foram criados.
De acordo com as pesquisas, as cidades costeiras podem ficar bem se um meteoro
atingir o meio do oceano. Mas ninguém sabe com certeza o que aconteceria. Eis alguns
artigos interessantes sobre essa especulação:
https://www.nytimes.com/1998/01/08/us/what-if-huge-asteroid-hits-atlantic-you-don-t-
want-to-know.html and https://www.space.com/35081-asteroid-impact-ocean-computer-
simulations-solar-system.html.
SOBRE O AUTOR
John Bevere é um ministro conhecido por sua abordagem ousada e
sem concessões à Palavra de Deus. Ele também é autor
internacional de best-sellers, tendo escrito mais de vinte livros que,
juntos, venderam milhões de cópias e foram traduzidos para 129
idiomas. Juntamente com sua esposa, Lisa, John é o cofundador da
Messenger International — um ministério comprometido em
revolucionar o discipulado global. Movida por uma paixão por
desenvolver seguidores inabaláveis de Cristo, a Messenger doou
mais de 56 milhões de recursos traduzidos a líderes em todo o
mundo. A fim de estender esses esforços, foi desenvolvido o
aplicativo MessengerX, oferecendo recursos traduzidos para
discipulado digital sem qualquer custo para usuários em 121
idiomas até o momento. O MessengerX atualmente possui usuários
em mais de vinte mil cidades e em duzentas e trinta nações.
Quando John está em casa, em Franklin, Tennessee, você o
encontrará brincando com seus netinhos, jogando pickleball ou
tentando convencer Lisa a jogar golfe.

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