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Pr oble m a s Ju r ídicos da Ar bit r a ge m e da M e dia çã o de Con su m o

Le ga l I ssue s on Con su m e r Ar bit r a t ion a n d M e dia t ion

Joa n a Ca m pos Ca r va lh o

Dout oranda na Faculdade de Direit o da Universidade Nova de Lisboa. Mem bro do CEDI S –
Cent ro de I nvest igação & Desenvolvim ent o sobre Direit o e Sociedade

Jor ge M or a is Ca r va lh o

Professor da Faculdade de Direit o da Universidade Nova de Lisboa. I nvest igador do CEDI S –


Cent ro de I nvest igação & Desenvolvim ent o sobre Direit o e Sociedade

Dezem bro de 2015

REVI STA ELECTRÓNI CA DE DI REI TO – FEVEREI RO 2016 – N.º 1


REVI STA ELECTRÓNI CA DE DI REI TO – FEVEREI RO 2016 – N.º 1 – WWW.CI JE.UP.PT/ REVI STARED
RESUM O: A resolução alt ernat iva de lit ígios de consum o ( RALC) levant a problem as j urídicos
específicos com grande r elevância prát ica. A aprovação, nos últ im os quat ro anos, de um a
nova lei de arbit ragem volunt ária, de um a lei da m ediação, de um a lei sobre a RALC e de
um a lei que im põe a arbit ragem aos prest ador es de serviços nos cont rat os relat ivos a
serviços públicos essenciais j ust ifica o aprofundam ent o e o t rat am ent o cient ífico de algum as
quest ões que se colocam diariam ent e às ent idades de RALC, aos consum idores e às
em presas.

PALAVRAS- CH AVE: Resolução Alt ernat iva de Lit ígios; RALC; Mediação; Arbit ragem ; Direit o
do Consum o; Serviços Públicos Essenciais

ABSTRACT: Consum er Alt ernat ive Disput e Resolut ion ( CADR) raises several legal issues
bearing significant pract ical relevance. I n t he last few years Por t ugal has adopt ed new laws
on volunt ary arbit rat ion, m ediat ion and CADR and a legal rule which set s fort h t hat
arbit rat ion is m andat ory for com panies providing services of general int erest . These
circum st ances j ust ify a t horough analysis and scient ific st udy of som e of t he issues t hat
CADR ent it ies, consum ers and com panies deal wit h every day.

KEY W ORD S: Alt ernat ive Disput e Resolut ion; CADR; Mediat ion; Arbit rat ion; Consum er Law ;
Services of General I nt erest

2
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SUM ÁRI O:

1. I nt rodução

2. Arbit ragem de consum o

2.1. Cláusulas cont rat uais gerais de resolução alt ernat iva de lit ígios de consum o ( RALC)

2.2. Adesão plena a cent ros de arbit ragem de conflit os de consum o

2.3. Arbit ragem nos serviços públicos essenciais

2.4. I nt eração ent re a ar bit ragem necessária e o processo j udicial previam ent e inst aurado
pela em presa

2.5. Regras processuais aplicáveis à arbit ragem de consum o – A ( não) aplicabilidade


subsidiária do Código de Processo Civil

2.6. Recursos

3. Mediação de conflit os

3.1. Qualificação da m ediação de consum o com o verdadeira m ediação

3.2. Suspensão dos prazos de caducidade e de prescrição

Bibliografia

Jurisprudência

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1 . I n t r odu çã o

Est e t ext o t em com o pr incipal obj et ivo cont ribuir para a resolução de alguns problem as
j urídicos que se colocam em t orno da arbit ragem e da m ediação de consum o. Apesar de os
m eios de resolução alt ernat iva de lit ígios de consum o ( RALC) est arem m uit o desenvolvidos,
sendo est a, aliás, um a das áreas do direit o em que a arbit ragem e a m ediação são m ais
ut ilizadas, em núm eros absolut os, os est udos t eóricos sobre o assunt o são prat icam ent e
inexist ent es. Est a falt a de base t eórica t orna m ais difícil a resolução de alguns problem as
com que as ent idades de RALC, os consum idores e as em presas se deparam diariam ent e.

As int ervenções legislat ivas nest e dom ínio não t êm norm alm ent e em cont a o com plexo
norm at ivo, dificult ando a com preensão do sist em a com o um t odo. Est e problem a, apesar de
const it uir um desafio m uit o int eressant e para o int érpret e, cria algum a incert eza aos
dest inat ários das m at érias reguladas, sit uação part icularm ent e preocupant e se t iverm os em
cont a que as quest ões que aqui são t rat adas t êm um a relação diret a com o direit o de acesso
ao direit o e à t ut ela j urisdicional efet iva ( art . 20.º da Const it uição da República Port uguesa) .
A Lei n.º 6/ 2011, de 10 de m arço, por exem plo, criou um m ecanism o que designa com o
“ arbit ragem necessária” para os serviços públicos essenciais, num a alt eração ao art . 15.º da
Lei n.º 23/ 96 1 , m as não definiu o regim e aplicável ( cfr. infra 2.3) . Out ro exem plo é a Lei n.º
144/ 2015, de 8 de set em bro, que est abelece os princípios e as regras a que deve obedecer o
funcionam ent o das ent idades de RALC e o enquadram ent o j ur ídico das ent idades de RALC
em Port ugal que funcionam em rede. Est e diplom a t ranspôs par a a ordem j urídica int erna a
Diret iva 2013/ 11/ UE, do Parlam ent o Europeu e do Conselho, de 21 de m aio de 2013, sobre a
RALC, que se aplicava, m as não est ava const ruída a pensar na arbit ragem , sem adapt ar as
suas norm as à especificidade quase exclusivam ent e port uguesa ( e espanhola) de a
arbit ragem ser um a peça chave do sist em a de defesa do consum idor. Por exem plo, as regr as
relat ivas aos prazos ( art . 10.º - 5) ou aos efeit os da celebração de acordo prévio ( art . 13.º )
t êm de ser int erpret adas criat ivam ent e para perm it irem a sua aplicação eficaz à arbit ragem
de consum o.

No que respeit a à arbit ragem de consum o, procuram os responder às quest ões de saber ( i)
se as cláusulas cont rat uais gerais de RALC vinculam o consum idor, ( ii) qual é a nat ureza
j urídica e quais são os efeit os da adesão plena a um cent ro de arbit ragem de consum o, ( iii)
se a ar bit ragem im post a ao pr est ador de serviços pelo regim e dos serviços públicos
essenciais pode ser qualificada com o arbit ragem necessária e se a Lei de Arbit ragem
Volunt ária ( LAV) 2 e os regulam ent os dos cent ros são aplicáveis a est a ar bit ragem , ( iv) se,
nos casos em que a ar bit ragem é necessária para o profissional e est e j á propôs ação
j udicial, o consum idor pode paralelam ent e pr opor um a ação ar bit ral, ( v) se o Código de
Processo Civil ( CPC) é aplicável ( subsidiariam ent e) à arbit ragem de consum o ou, m ais
genericam ent e, quais são as regras processuais aplicáveis à arbit ragem , ( vi) com o é que

1
Lei n.º 23/ 96, de 26 de j ulho, alt erada pelas Leis n. os 5/ 2004, de 10 de fev ereiro, 12/ 2008, de 26 de
fevereiro, 24/ 2008, de 2 de j unho, 6/ 2011, de 10 de m arço, 44/ 2011, de 22 de j unho, e 10/ 2013, de 28 de
j aneiro.
2
Lei n.º 63/ 2011, de 14 de dezem bro.

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devem ser int erpret ados os regulam ent os dos cent ros de arbit ragem e ( vii) qual é o regim e
dos recursos na arbit ragem de consum o.

Em relação à m ediação de consum o, t ent am os dar respost a às quest ões de saber ( i) se a


m ediação de consum o pode ser qualificada com o verdadeira m ediação e ( ii) quando é que os
prazos de caducidade e de pr escrição se suspendem na t ent at iva de r esolução ext raj udicial
do lit ígio, at ravés de m ediação.

2 . Ar bit r a ge m de con su m o

2 .1 . Clá u su la s con t r a t u a is ge r a is de r e solu çã o a lt e r n a t iva de lit ígios


de con su m o ( RALC)

Est a quest ão foi obj et o de algum a discussão na dout rina port uguesa, em especial a propósit o
das cláusulas com prom issórias que são cláusulas cont rat uais gerais, t endo at ualm ent e
respost a expressa na nossa lei. O problem a podia colocar- se quer em relação a cláusulas
arbit rais quer quant o a cláusulas de m ediação, um a vez que em am bos os casos se colocava
a quest ão de saber quais eram os seus efeit os num a relação de consum o.

Est a quest ão é, em Port ugal, essencialm ent e t eórica, um a vez que, no nosso país, as
em presas t ent ar evit ar, em regra, a arbit ragem , sendo os consum idores os principais
int eressados na resolução dos lit ígios por est a via. Tirando os casos em que a em pr esa
aderiu plenam ent e a um cent ro de ar bit ragem ( cfr. infra 2.2) ou em que o consum idor t em
um direit o pot est at ivo à arbit ragem ( cfr. infra 2.3) , as em presas não est ão vinculadas à
arbit ragem , preferindo norm alm ent e não a aceit ar, um a vez que sabem que o consum idor
não t erá um a alt ernat iva eficaz para fazer valer o seu direit o. As em presas, que conform am
o essencial do cont eúdo do cont rat o, não t êm norm alm ent e int eresse na inclusão de
convenções de ar bit ragem , pelo que são, assim , raríssim os os casos em que, em Port ugal,
um a cláusula com prom issória é int roduzida num cont rat o de consum o.

É int eressant e not ar que a discussão em t orno da arbit ragem de consum o é m uit o diferent e
no Brasil 3 e em Port ugal. No Brasil, é necessário discut ir se a cláusula com prom issória
inserida em cont rat os de consum o é v álida, pret endendo as em presas r ecorr er à arbit ragem
e os consum idores aos t ribunais j udiciais. Com efeit o, a inexist ência de cust as processuais
leva a que o risco na proposição da ação j udicial sej a baixo. Acresce, por um lado, que a
grande generosidade dos t ribunais na condenação das em presas ao pagam ent o de danos
m orais t orna int eressant e o recurso a t ribunal, m esm o que o obj et o apar ent e do lit ígio t enha
um valor reduzido, e, por out ro lado, a perm issão ou, pelo m enos, a aceit ação prát ica da
quot a lit is perm it e ao consum idor recorrer a t ribunal com aj uda profissional, sem ou com
poucos cust os. O advogado t em int er esse nest e negócio, um a vez que a condenação pelos

3
Sobre a arbit ragem de consum o no Brasil, v . ELI ZABETH DE ALMEI DA ABREU, Arbit ragem de Consum o no Direit o
Brasileiro, 2015.

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danos m orais, por vezes de valor significat ivo, t orna relevant e o valor de um caso à part ida
pouco apelat ivo. Já em Port ugal, ao cont rário do que acont ece nos t ribunais j udiciais, a
arbit ragem é grat uit a para as part es, sendo m uit as vezes, na prát ica, com o j á se disse, a
única via para os consum idores v erem sat isfeit o o seu direit o. Os cust os e as form alidades
associados à proposit ura de um a ação em t ribunal t êm com o consequência a ret ração do
consum idor nos casos em que o valor pedido é baixo.

Ant es do cont rolo do cont eúdo da cláusula, a inclusão de um a cláusula cont rat ual geral num
cont rat o individualizado t em de passar por um cont rolo relat ivo à sua inserção.

A inserção de um a cláusula cont rat ual geral num cont rat o individualizado im plica a
superação de t rês obst áculos sucessivos, não sendo sequer necessário analisar o obst áculo
seguint e se o ant erior não est iver ult rapassado 4 . O prim eiro obst áculo é a conexão com o
cont rat o. Se a cláusula não t iver qualquer conexão com o cont rat o, não vale a pena analisar
qualquer out ro elem ent o, ficando excluída do cont rat o. Verificada a conexão com o cont rat o5 ,
a cláusula t em de passar pelo crivo da com unicação nos t erm os do art . 5.º do Decret o- Lei
n.º 446/ 85 6 . Concluída a t arefa com um a respost a afirm at iva, é ainda necessário verificar se
foi cum prido o dever de esclarecim ent o ( art . 6.º do m esm o diplom a) . Ult rapassados est es
t rês obst áculos, a cláusula considera- se inserida no cont rat o.

No que respeit a ao cont rolo do cont eúdo, para aferir da validade de um a cláusula de RALC,
era necessár io t er em at enção o art . 19.º - g) do Decret o- Lei n.º 446/ 85, que proíbe,
consoant e o quadro negocial padronizado, as cláusulas cont rat uais gerais que “ est abeleçam
um foro com pet ent e que envolva graves inconvenient es para um a das part es, sem que os
int eresses da out ra o j ust ifiquem ” . O art . 21.º - h) proíbe, por sua vez, em absolut o, as
cláusulas cont rat uais gerais que “ excluam ou lim it em de ant em ão a possibilidade de r equer er
t ut ela j udicial para sit uações lit igiosas que surj am ent re os cont rat ant es ou pr evej am
m odalidades de ar bit ragem que não assegurem as garant ias de procedim ent o est abelecidas
na lei” .

A dout rina j á defendia, quando a quest ão ( ainda) se resolvia ( apenas) com base no Decret o-
Lei n.º 446/ 85, que a em presa não podia im por a arbit ragem ao consum idor at ravés de
cláusulas cont rat uais gerais, t endo est e, se a cláusula est ivesse inserida no cont rat o, a
possibilidade de opt ar ent r e a inst auração da ação no t ribunal arbit ral ou no t ribunal j udicial 7 ,
aqui incluindo, nat uralm ent e, o j ulgado de paz.

4
JORGE MORAI S CARVALHO, Manual de Direit o do Consum o, 2014, p. 67.
5
PEDRO CAETANO NUNES, “ Com unicação de Cláusulas Cont rat uais Gerais” , 2011, p. 518.
6
Decret o- Lei n.º 446/ 85, de 25 de out ubro, alt erado pelos Decret os- Leis n. os 220/ 95, de 31 de agost o
( ret ificado pela Declaração de Ret ificação n.º 114- B/ 95, de 31 de agost o) , 249/ 99, de 7 de j ulho, e 323/ 2001,
de 17 de dezem bro.
7
MARI A JOSÉ CAPELO, “ A Lei de Arbit ragem Volunt ária e os Cent ros de Arbit ragem de Conflit os de Consum o” ,
1999, p. 115; I SABEL OLI VEI RA, “ A Arbit ragem de Consum o” , 2000, p. 399; D ÁRI O MOURA VI CENTE, “ A Manifest ação
do Consent im ent o na Convenção de Arbit ragem ” , 2002, p. 998; ANA PRATA, Cont rat os de Adesão e Cláusulas
Cont rat uais Gerais, 2010, p. 518 ( em bora apenas com dúvidas, face à let ra da lei) ; MARI ANA FRANÇA GOUVEI A,
Curso de Resolução Alt ernat iv a de Lit ígios, 2014, p. 130; JOÃO PEDRO PI NTO- FERREI RA, “ A Resolução Alt ernat iv a
de Lit ígios de Consum o no Cont ext o da Lei n.º 144/ 2015” , 2016, p. 15 ( no prelo) . Num dos poucos casos em
que os nossos t ribunais se pronunciaram sobre o art . 21.º - h) , em ação inibit ória propost a pelo Minist ério
Público, a quest ão não é sequer t rat ada, apenas se concluindo que a cláusula é válida. Não são, no ent ant o,

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At ualm ent e, a quest ão encont ra- se expressam ent e resolvida, precisam ent e nesse sent ido.
Assim , o art . 13.º da Lei n.º 144/ 2015, que t em com o epígrafe “ efeit os da celebração de
acordo prévio” , est abelece que “ os acordos efet uados ent re consum idores e fornecedores de
bens ou prest adores de serviços no sent ido de recorrer a um a ent idade de RAL, celebrados
ant es da ocorrência de um lit ígio e at ravés de form a escrit a, não podem privar os
consum idores do direit o que lhes assist e de subm et er o lit ígio à apreciação e decisão de um
t ribunal j udicial” .

É agora claro que o consum idor não fica vinculado por um a cláusula de RALC ( de m ediação 8 ,
de arbit ragem ou m ist a) , independent em ent e de se t rat ar de um a cláusula cont rat ual geral.
As cláusulas de arbit ragem inseridas em cont rat os de consum o são, no ent ant o, válidas,
apenas vinculando o profissional. O consum idor t em de t er sem pre a opção ent re propor a
ação num t ribunal arbit ral ou num t ribunal est adual ( designação que se prefere em
alt ernat iva a “ t ribunal j udicial” , um a vez que o j ulgado de paz não é um t r ibunal j udicial e
est á claram ent e abrangido pelo espírit o do preceit o cit ado) .

Aliás, não perm it ir ao consum idor a inst auração da ação num t ribunal est adual seria
cont rário ao art . 10.º - 1 da Diret iva 2013/ 11/ UE9 . Seria, assim , incom pat ível com o direit o
europeu, por exem plo, det erm inar que os lit ígios relat ivos a serviços públicos essenciais
est ão suj eit os a arbit ragem necessária, vinculando o consum idor a esse foro ( v. infra 2.3) .

2 .2 . Ade sã o ple n a a ce n t r os de a r bit r a ge m de con flit os de con su m o

Os cent ros de arbit ragem de conflit os de consum o perm it em habit ualm ent e que as em pr esas
em it am um a declaração at ravés da qual aderem plenam ent e ao cent ro. Vej a- se, a t ít ulo de
exem plo, o art . 16.º - 1 do Regulam ent o do Cent ro Nacional de I nform ação e Arbit ragem de
Conflit os de Consum o ( CNI ACC) , que det erm ina que, “ para o efeit o previst o nos núm er os
seguint es, os agent es económ icos podem declarar que aderem previam ent e e com carát er
genérico ao Regulam ent o do CNI ACC, ao Regulam ent o do Serviço de I nform ação, Mediação e
Arbit ragem de Conflit os de Consum os e ao Regulam ent o de Encargos Processuais” . Na
sequência dest a declaração, as em presas aderent es passam a poder ost ent ar nos seus
est abelecim ent os um díst ico publicit ando essa adesão.

A quest ão a que pr et endem os aqui dar respost a é a de saber se o consum idor pode im por a
arbit ragem em det erm inado cent ro de arbit ragem a um a em presa que ader iu a esse cent ro.

analisados os seus efeit os, nom eadam ent e para saber se v inculam ou não o consum idor – Acórdão do Tribunal
da Relação de Lisboa, de 8 de m aio de 2007, Processo n.º 2047/ 2006- 7 ( Orlando Nascim ent o) .
8
JOÃO PEDRO PI NTO- FERREI RA, “ A Resolução Alt ernat iva de Lit ígios de Consum o no Cont ext o da Lei n.º 144/ 2015” ,
2016, p. 15 ( no prelo) .
9
Est e preceit o est abelece que “ os Est ados- Mem bros devem assegurar que os acordos ent re consum idores e
com erciant es no sent ido de apresent ar queixa a um a ent idade de RAL não sej am v inculat ivos para os
consum idores se t iv erem sido celebrados ant es da ocorrência do lit ígio e se t iverem por efeit o privar os
consum idores do seu direit o de int ent ar um a ação em t ribunal para a resolução do lit ígio” ( it álico nosso) . Ainda
se poderia discut ir se a referência a “ t ribunal” t am bém abrange o t ribunal arbit ral, m as o considerando ( 45)
parece afast ar essa int erpret ação quando indica que a “ diret iv a não deverá im pedir as part es de exercer o seu
direit o de acesso ao sist em a j udicial” ( it álico nosso) .

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Para t al, revela- se necessário qualificar j uridicam ent e a declaração at ravés da qual a
em presa realiza a adesão.

Num a prim eira análise é possível configurar a declaração de adesão com o um convit e a
cont rat ar, um a propost a cont rat ual ou com o um a prom essa pública10 .

Na oposição ent re convit e a cont rat ar e propost a cont rat ual a figura do conv it e a cont rat ar
fica, desde logo, afast ada. Um a declaração é considerada um a propost a cont r at ual quando é
com plet a, pr ecisa, firm e e form alm ent e adequada 11 . Pelo cont rár io, deve considerar- se que
se t rat a de um m ero convit e a cont rat ar quando falham os requisit os da com plet ude ou da
adequação form al ou quando o em it ent e fizer saber que a sua declaração não deve ser
considerada com o propost a 12 . Tal não se verifica no present e caso, com o se dem onst ra de
seguida.

Para aferir da com plet ude de det erm inada propost a im port a definir o cont eúdo m ínim o do
cont rat o a celebrar 13 . O cont eúdo m ínim o da convenção de ar bit ragem , ist o é o cont eúdo,
t raduzido habit ualm ent e em cláusulas, sem o qual não pode considerar- se exist ir um a
convenção de arbit ragem , é bast ant e reduzido. Bast a que haj a um acordo quant o a
subm issão de det erm inado ou det erm inados lit ígios à arbit ragem . No caso da adesão plena,
há um a declaração no sent ido de se pret ender subm et er det er m inados lit ígios a arbit ragem ,
pelo que se encont ra preenchido o requisit o da com plet ude.

Para que sej a form alm ent e adequada, a propost a deve revest ir a form a necessária para o
cont rat o. Nos t erm os do art . 2.º - 1 da LAV, a conv enção de ar bit ragem deve adot ar form a
escrit a. Rest ringim os a nossa análise aos casos em que a adesão plena é feit a at ravés de
declaração escrit a, que correspondem à norm a, em que se encont ra cum prido, port ant o, o
elem ent o da adequação form al.

Por fim , não se verifica qualquer m anifest ação, por part e do aderent e, no sent ido de a sua
declaração não dever ser considerada com o propost a cont rat ual.

Encont rando- se, pois, afast ada a hipót ese do convit e a cont rat ar, im port a verificar se a
declaração de adesão plena deve ser qualificada com o propost a cont rat ual ou com o
prom essa pública.

Trat ando- se de propost a cont rat ual, bast a a aceit ação do consum idor para que se considere
celebrado o cont rat o, no caso a convenção de arbit ragem .

No que diz respeit o à prom essa pública, det erm ina o Código Civil ( CC) , no art . 459.º - 1, que
“ aquele que, m ediant e anúncio público, prom et er um a prest ação a quem se encont re em
det erm inada sit uação ou prat ique cert o fact o, posit ivo ou negat ivo, fica vinculado desde logo

10
MARI A JOSÉ CAPELO, “ A Lei de Arbit ragem Volunt ária e os Cent ros de Arbit ragem de Conflit os de Consum o” ,
1999, pp. 112 e 113, com quem não concordam os, configura a adesão plena com o um cont rat o ent re a
em presa e o cent ro de arbit ragem , ret irando daí a consequência de que, sendo t erceiro em relação ao cont rat o,
o consum idor, “ no caso de o agent e económ ico se recusar a celebrar um a convenção de arbit ragem , [ ...] não
lhe pode opor a declaração de adesão genérica à arbit ragem ” .
11
CARLOS FERREI RA DE ALMEI DA, Cont rat os I , 2013, p. 101.
12
CARLOS FERREI RA DE ALMEI DA, Cont rat os I , 2013, p. 105.
13
CARLOS FERREI RA DE ALMEI DA, Cont rat os I , 2013, p. 101.

8
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à prom essa” . Verifica- se, pois, que, at ravés de prom essa pública, alguém prom et e um a
prest ação. No caso em apreço, t al significaria que a em pr esa pr om et eria celebrar convenção
de ar bit ragem , quando o consum idor m anifest asse vont ade de resolver det erm inado lit ígio
at ravés de ar bit ragem .

A configuração com o propost a cont rat ual ou com o prom essa pública conduz, port ant o, a
efeit os com plet am ent e dist int os. Quando alguém em it e um a pr opost a cont r at ual fica num a
posição de suj eição, t endo a out ra part e o direit o pot est at ivo de aceit ar aquela propost a.
Pelo cont rário, quem faz um a prom essa pública fica obrigado a cum prir essa prom essa,
t endo a out ra part e um direit o subj et ivo.

No caso da adesão plena, a qualificação com o propost a cont rat ual im plica que o consum idor
t em o direit o pot est at ivo de aceit ar a propost a de convenção de arbit ragem e,
post eriorm ent e, o direit o pot est at ivo ( decorrent e do cont rat o) de subm et er o seu lit ígio a
arbit ragem . A em presa, encont rando- se num a posição de suj eição não pode im pedir a
celebração da convenção de arbit ragem nem , consequent em ent e, im pedir que o consum idor
recorra à arbit ragem .

Já a qualificação com o pr om essa pública im plica que o consum idor apenas t em um direit o
subj et ivo a que a em presa em it a um a propost a de convenção arbit ral. Tal significa que, não
querendo que o lit ígio sej a suj eit o a arbit ragem , a em presa pode recusar- se a cum prir a
prest ação a que est ava obrigada. Tal recusa t em efeit os m eram ent e obrigacionais, podendo
ser geradora de responsabilidade civil.

A qualificação com o propost a cont rat ual ou com o prom essa pública da declaração de adesão
plena depende, parece- nos, da sua int erpret ação. Nos t erm os do art . 236.º - 1 do CC, “ a
declaração negocial vale com o sent ido que um declarat ário norm al, colocado na posição do
real declarat ário, possa deduzir do com port am ent o do declarant e, salvo se est e não puder
razoavelm ent e cont ar com ele” . É, pois, a est a luz que devem os int erpret ar a declaração
negocial da em presa.

No essencial, a quest ão coloca- se da seguint e form a: um consum idor norm al deduz da


declaração em it ida pela em presa que:

a) Quando surgir um lit ígio poderá opt ar por resolvê- lo at ravés de arbit ragem ; ou

b) Quando surgir um lit ígio poderá m anifest ar a sua vont ade de recorrer a arbit r agem ,
cabendo à em presa decidir se, no caso concret o, concorda com o recurso a esse
m eio de resolução de lit ígios.

Consideram os que um consum idor norm al, colocado na posição do consum idor real, deduz
do com por t am ent o da em presa que est a lhe concede a si, consum idor, a opção de escolha,
perm it indo- lhe, querendo, opt ar pela arbit ragem . Parece- nos m uit o difícil defender que esse
m esm o consum idor percebe que a em presa pret ende reservar- se a possibilidade de obst ar
ao recurso à arbit ragem .

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REVI STA ELECTRÓNI CA DE DI REI TO – FEVEREI RO 2016 – N.º 1 – WWW.CI JE.UP.PT/ REVI STARED
Mariana França Gouveia 14 argum ent a, no sent ido da necessidade de configuração com o
prom essa pública 15 , que apenas pode haver derrogação do direit o de ação quando a lei o
perm it e e que a LAV apenas reconhece dois t ipos de convenção de ar bit ragem 16 : cláusula
com prom issória e com prom isso arbit ral, não preenchendo a declaração unilat eral genérica os
requisit os de nenhum a delas.

Concordam os que apenas pode haver derrogação do direit o de ação quando a lei o perm it e.
Cont udo, a declaração do aderent e não é, por si só, convenção de arbit ragem . A convenção
de ar bit ragem celebra- se quando o consum idor aceit a a propost a. Não há, pois, necessidade
de criar um a t erceira cat egoria de convenção de ar bit ragem nest es casos. Est arem os perant e
um a cláusula com prom issória se ainda não houver lit ígio no m om ent o da aceit ação ou, o que
é m ais com um , um com prom isso arbit ral, nos casos em que j á exist e um lit ígio que opõe o
consum idor e a em presa aderent e.

Not e- se, ainda, que a adesão plena pode ser um fat or dist int ivo do vendedor ou prest ador de
serviços, aum ent ando a confiança do consum idor 17 e levando- o a cont rat ar com a em pr esa
aderent e em vez de cont rat ar com out ra que não aderiu a qualquer cent ro de ar bit ragem .
Seria, pois, desequilibrada um a solução que perm it isse à em presa, no m om ent o da
ocorrência do lit ígio, im pedir o consum idor de recorrer à ar bit ragem , ainda que pudesse
haver lugar a indem nização.

No que diz r espeit o à for m a, à sem elhança da pr opost a em it ida pela em presa aderent e,
t am bém a aceit ação do consum idor t em de revest ir form a escrit a. Cont udo, nada im pede
que a aceit ação sej a t ácit a, nos t erm os do art . 217.º - 1 do CC. Assim , por exem plo, se o
consum idor apresent a um requerim ent o arbit ral no cent ro de arbit ragem a que a em presa
aderiu aceit a t acit am ent e e por escrit o a propost a cont rat ual da em presa, celebrando- se,
naquele m om ent o, a convenção arbit ral.

A propósit o da declaração em it ida pela em presa aderent e coloca- se, ainda, a quest ão de
saber se a adesão carece de aceit ação por part e do cent ro de arbit ragem . A declaração
em it ida pela em presa t em com o dest inat ários os consum idores e não o cent ro de
arbit ragem . At ravés daquela declaração a em presa propõe, com o vim os, ao consum idor a
celebração de um a convenção de ar bit ragem para resolução de lit ígios em det erm inado
cent ro. Apesar de, habit ualm ent e, a em presa enviar um form ulário ao cent ro de arbit ragem
a que ader e, t al não se revela necessário. Bast a que a em presa afixe o díst ico inform ando da
adesão ou inclua essa inform ação nos cont rat os ou na sua publicidade para que fique
vinculada per ant e o consum idor, suj eit ando- se a que aquele aceit e a sua propost a 18 . Não só

14
MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de Lit ígios, 2014, p. 127.
15
Tam bém no sent ido da qualificação com o prom essa pública, v. D ÁRI O MOURA VI CENTE, “ A Manifest ação do
Consent im ent o na Convenção de Arbit ragem ” , 2002, p. 998.
16
Em sent ido cont rário, ANTÓNI O MENEZES CORDEI RO, Trat ado de Arbit ragem , 2015, p. 97, defende que, apesar
de a lei não o prever expressam ent e, são adm it idas cláusulas arbit rais inseridas em negócios unilat erais.
17
Nest e sent ido, MARI A JOSÉ CAPELO, “ A Lei de Arbit ragem Volunt ária e os Cent ros de Arbit ragem de Conflit os de
Consum o” , 1999, p. 111.
18
Em sent ido cont rário, I SABEL OLI VEI RA, “ A Arbit ragem de Consum o” , 2000, p. 396, defende que a adesão
genérica, m ais do que com o convenção arbit ral, apresent a- se com o um cont rat o ent re o organism o arbit ral e a
em presa. Tam bém MARI A JOSÉ CAPELO, “ A Lei de Arbit ragem Volunt ária e os Cent ros de Arbit r agem de Conflit os
de Consum o” , 1999, p. 112- 113, configura a adesão plena com o um cont rat o ent re a em presa e o cent ro.

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não é necessária a aceit ação por part e do cent r o, com o é m esm o irrelevant e que est e
conheça aquela declaração da em presa.

2 .3 . Ar bit r a ge m n os se r viços pú blicos e sse n cia is

A Lei n.º 6/ 2011 alt erou a Lei n.º 23/ 96, t endo o ar t . 15.º - 1 passado a prever que “ os lit ígios
de consum o no âm bit o dos serviços públicos essenciais est ão suj eit os a ar bit ragem
necessária quando, por opção ex pressa dos ut ent es que sej am pessoas singulares, sej am
subm et idos à apreciação do t ribunal arbit ral dos cent ros de arbit ragem de conflit os de
consum o legalm ent e aut orizados” .

Est a arbit ragem , que irem os qualificar um pouco m ais à frent e, t em dois pressupost os de
base:

– Trat ar- se de um lit ígio de consum o, sendo o consum idor um a pessoa singular;

– Est ar em causa um serviço público essencial.

Para responder à quest ão de saber quando é que est am os perant e um lit ígio de consum o, é
necessário perceber qual é o conceit o relevant e de consum idor para efeit o dest e diplom a 19 .
Ao cont rário do que sucede nout ras leis, a Lei n.º 23/ 96 não define o conceit o de
consum idor. Sendo a Lei de Defesa do Consum idor ( LDC) o diplom a cent ral no que r espeit a à
regulação das relações de consum o, que incorpora os princípios gerais do direit o do
consum o, podem os ent ender que a definição m ais relevant e de consum idor é a que const a
do seu art . 2.º - 1 ( “ considera- se consum idor t odo aquele a quem sej am fornecidos bens,
prest ados serviços ou t ransm it idos quaisquer direit os, dest inados a uso não profissional, por
pessoa que exerça com carát er profissional um a at ividade económ ica que vise a obt enção de
benefícios” ) . Est a definição é ut ilizada com o referência no nosso direit o, em alguns casos por
via de repr odução ( Decr et o- Lei n.º 67/ 2003) ou de rem issão expressa ( Decret o- Lei n.º
134/ 2009) da lei, nout ros por via int erpret at iva ( Decret o- Lei n.º 446/ 85 20 ) . Nos casos em
que det erm inado diplom a ut iliza m as não define o conceit o de consum idor, a t endência m ais
com um consist e, assim , em recorrer à definição da LDC21 . Est a parece ser t am bém a m elhor
via para a r esolução dest e problem a int erpret at ivo, aplicando- se o conceit o da LDC para
efeit o do art . 15.º - 1 da Lei n.º 23/ 96 22 . O conceit o de consum idor é analisado com referência
a quat ro elem ent os: elem ent o subj et ivo ( no preceit o em análise lim it ado expressam ent e a
“ pessoas singulares” ) , elem ent o obj et ivo, elem ent o t eleológico e elem ent o relacional 23 . Not a-
se que a qualificação com o consum idor é m at éria de direit o, pelo que não t em de ser

19
O conceit o de consum idor, relevant e para efeit o do art . 15.º - 1, não se confunde com o de ut ent e, que é
bast ant e m ais am plo. Com efeit o, o art . 1.º - 3 est abelece que se considera “ ut ent e, para os efeit os prev ist os
nest a lei, a pessoa singular ou colet iva a quem o prest ador do serv iço se obriga a prest á- lo” .
20
ANA PRATA, Cont rat os de Adesão e Cláusulas Cont rat uais Gerais, 2010, p. 92, n. 262.
21
FERNANDO BAPTI STA DE OLI VEI RA, O Conceit o de Consum idor, 2009, p. 77.
22
FLÁVI A DA COSTA DE SÁ, Cont rat os de Prest ação de Serviços de Com unicações Elect rónicas, 2014, p. 16.
23
CARLOS FERREI RA DE ALMEI DA, Direit o do Consum o, 2005, p. 29.

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alegada ( nem , m uit o m enos, provada, porque não é m at éria de fact o) . Se não forem
incluídos no obj et o do processo por out ra via, cabe ao consum idor a alegação e, em
princípio, a prova dos fact os, relat ivos aos quat ro elem ent os indicados, que sust ent am essa
qualificação, nom eadam ent e o “ uso não profissional” .

Quant o a est ar em causa um serviço público essencial, é necessário verificar o elenco do art .
1.º - 2 da Lei n.º 23/ 96, que nos parece ser t axat ivo 24 . Assim , a arbit ragem previst a no ar t .
15.º - 1 aplica- se aos serviços de fornecim ent o de água 25 , aos serviços de fornecim ent o de
energia elét rica, aos serviços de fornecim ent o de gás nat ur al e de gases de pet róleo
liquefeit os canalizados, aos serviços de com unicações elet r ónicas ( int ernet , t elevisão,
t elefone, et c.) , aos serviços post ais, aos serviços de recolha e t rat am ent o de águas residuais
e aos serviços de gest ão de resíduos sólidos urbanos. Por m uit o essenciais que possam ser
considerados out ros serviços, não lhes é aplicável a Lei n.º 23/ 96.

Não é absolut am ent e fundam ent al que exist a um cont rat o ent r e as par t es, podendo o lit ígio
de consum o result ar de um a relação pré- cont rat ual 26 ou at é m esm o não cont rat ual. Assim ,
por exem plo, no caso do fornecim ent o de energia elét rica, o art . 15.º - 1 da Lei n.º 23/ 96
perm it e ao consum idor resolver por via arbit ral os lit ígios que t enha quer com o
com ercializador ( com quem celebrou um cont rat o) quer com o dist ribuidor ( com quem não
celebrou qualquer cont rat o, m as com quem t em um a relação reconhecida com o t al por via
legal e regulam ent ar 27 ) .

Verificados os dois pressupost os de base, o consum idor pode subm et er o lit ígio à apreciação
do t ribunal arbit ral de um cent ro de arbit ragem de conflit os de consum o legalm ent e
aut orizado. É, ainda, necessário, nat uralm ent e, que o cent ro de arbit ragem aceit e o lit ígio.
Em princípio, os cent ros t êm de aceit ar os lit ígios que est ej am no âm bit o da sua
com pet ência, nom eadam ent e m at erial e/ ou t errit orial.

O art . 11.º da Lei n.º 144/ 2015 regula os casos em que as ent idades de RALC – e os cent ros
de ar bit ragem de consum o legalm ent e aut orizados são necessariam ent e ent idades de RALC

24
Nest e sent ido, cfr. ANTÓNI O PI NTO MONTEI RO, “ A Prot ecção do Consum idor de Serv iços Públicos Essenciais” ,
2000, p. 339; MAFALDA MI RANDA BARBOSA, “ Acerca do Âm bit o da Lei dos Serv iços Públicos Essenciais” , 2004, p.
414; FLÁVI A DA COSTA DE SÁ, Cont rat os de Prest ação de Serv iços de Com unicações Elect rónicas, 2014, p. 18. Em
sent ido cont rário, cfr. CARLOS FERREI RA DE ALMEI DA, “ Serviços Públicos, Cont rat os Privados” , 2002, pp. 140 e 141;
MAFALDA MI RANDA BARBOSA, “ Acerca do Âm bit o da Lei dos Serv iços Públicos Essenciais” , 2004, p. 423.
25
CÁTI A SOFI A RAMOS MENDES, O Cont rat o de Prest ação de Serviços de Fornecim ent o de Água, 2015, p. 75;
Acórdão do Tribunal Cent ral Adm inist rat ivo Sul, de 22 de j aneiro de 2015, Processo n.º 07431/ 14 ( Lurdes
Toscano) .
26
Acórdão do Tribunal da Relação de Coim bra, de 17 de novem bro de 2015, Processo n.º 87/ 15.1YRCBR ( Mar ia
João Areias) . Trat a- se aqui de um a ação de anulação de sent ença arbit ral do Cent ro de Arbit ragem de Conflit os
de Consum o do Dist rit o de Coim bra, concluindo o t ribunal que a Lei n.º 23/ 96 “ não é aplicáv el som ent e à fase
do fornecim ent o de t ais serv iços e que pressupõe a prévia celebração de um cont rat o form al ent re a
concessionária e o ut ilizador de t ais serv iços, m as a t oda a relação que se est abelece ent re am bos, abrangendo
a fase pré- cont rat ual e os serv iços prest ados pela concessionária com v ist a ao est abelecim ent o das condições
necessárias à celebração do cont rat o de fornecim ent o e à disponibilização de um sist em a de abast ecim ent o” .
Acrescent a o t ribunal que “ o lit ígio ent re a concessionária e o propriet ário de um im óvel, referent e ao
pagam ent o de um a obrigação pecuniária decorrent e da inst alação de um ram al de ligação à rede pública, é um
lit ígio de consum o no âm bit o de um serv iço público essencial, podendo ser suj eit o a arbit ragem necessária” .
27
A t ít ulo de ex em plo, refere- se o art . 10.º - 1 do Regulam ent o de Qualidade de Serv iço do Set or Elét rico
( Regulam ent o n.º 455/ 2013, de 30 de out ubro de 2013, da Ent idade Reguladora dos Serv iços Energét icos) , que
est abelece que “ os operadores das redes são responsáveis pela qualidade de serv iço t écnica, perant e os
client es ligados às redes independent em ent e do com ercializador com quem o client e cont rat ou o fornecim ent o” .
Est a responsabilidade do dist ribuidor não afast a, nat uralm ent e, a responsabilidade do com ercializador pelo não
cum prim ent o do cont rat o celebrado.

12
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– podem r ecusar o t rat am ent o de um lit ígio. Nos t erm os do art . 11.º - 1, const it uem
fundam ent os lícit os de recusa de t r at am ent o de um lit ígio, se est iverem previst os nos
respet ivos regulam ent os, o consum idor não t er “ t ent ado pr eviam ent e cont act ar o fornecedor
de bens ou prest ador de serviços em quest ão para expor a sua reclam ação e procurar
resolver o assunt o” , o lit ígio ser “ supérfluo ou vexat ório” , o lit ígio j á “ se encont rar pendent e
ou j á t iver sido decidido por out ra ent idade de RAL ou por um t ribunal j udicial” ( sobre est e
aspet o, v. infra 2.4) , o valor do lit ígio est ar fora dos “ lim it es de valor predet erm inados pela
ent idade de RAL” 28 , o consum idor não apresent ar “ a reclam ação à ent idade de RAL dent ro de
um prazo pr eviam ent e est abelecido, o qual não pode ser inferior a um ano a cont ar da dat a
em que o consum idor t enha apresent ado a r eclam ação ao fornecedor de bens ou pr est ador
de serviços, quando est ej am em causa procedim ent os de nat ureza volunt ária” . O art . 11.º - 2
acrescent a que, “ se, de acordo com as suas regr as processuais, um a ent idade de RAL se
revelar incapaz de apreciar um lit ígio que lhe t enha sido apresent ado, est a ent idade dev e
facult ar a am bas as par t es, no prazo de 15 dias út eis a cont ar da dat a de receção do
processo de reclam ação, um a explicação circunst anciada dos m ot ivos que j ust ificaram a não
apreciação do lit ígio” .

Definido o âm bit o da arbit ragem est abelecida no art . 15.º - 1 da Lei n.º 23/ 96, im port a
proceder à sua qualificação: será arbit ragem necessária ou arbit ragem volunt ária?

O int eresse dest a quest ão encont ra- se, no essencial, lim it ado a saber que norm as se
aplicam .

A ideia de que podem os com algum a cert eza part ir é a de que se t rat a de arbit ragem .
Trat ando- se de arbit ragem , t em os dois conj unt os de norm as principais: as da Lei de
Arbit ragem Volunt ária, que se aplicam à arbit ragem volunt ária, e as do Livro VI do CPC, que
se aplicam à arbit ragem necessária.

O elem ent o lit eral, visível logo na epígrafe do art . 15.º - 1, poderia apont ar para a qualificação
com o arbit ragem necessária. No ent ant o, o art . 1082.º do CPC, que abre o livro dedicado ao
“ t ribunal arbit ral necessário” , afast a- a. Assim , prevê- se nessa norm a que, “ se o j ulgam ent o
arbit ral for prescrit o por lei especial, at ende- se ao que nest a est iver det erm inado; na falt a de
det erm inação, observa- se o dispost o nos art igos seguint es” ( it álico nosso) 29 . Ora, no art .
15.º - 1 da Lei n.º 23/ 96, o j ulgam ent o arbit ral não é pr escrit o. A lei confere ao consum idor
um direit o de opção, podendo recorrer a um t ribunal arbit ral ou a um t ribunal est adual. Por
definição, não est am os, port ant o, perant e um caso de arbit ragem necessária30 .

28
Os lim it es im post os pelas ent idades de RALC não podem , no ent ant o, nos t erm os do art . 11.º - 3 com prom et er
“ significat ivam ent e o acesso dos consum idores ao t rat am ent o da reclam ação” .
29
De qualquer form a, m esm o que considerássem os t rat ar- se de arbit ragem necessária, não haveria qualquer
consequência ao nível do regim e j urídico. Os art s. 1083.º e 1084.º do CPC nunca seriam aplicáv eis à
arbit ragem de consum o, um a vez que nest a as part es não escolhem os árbit ros, pressupost o das regras
cont idas nos dois preceit os. Já o art . 1085.º rem et e precisam ent e para a Lei de Arbit ragem Volunt ária em t udo
o que não est iv er especialm ent e regulado.
30
Nest e sent ido, cfr. JOÃO PEDRO PI NTO- FERREI RA, “ A Resolução Alt ernat iva de Lit ígios de Consum o no Cont ext o
da Lei n.º 144/ 2015” , 2016, p. 17 ( no prelo) , que defende ( p. 18) que “ o art . 15.º da LSP [ Lei dos Serv iços
Públicos Essenciais] prevê um a arbit ragem pot est at iv a, pois at ribui ao ut ent e que sej a pessoa física o direit o
pot est at ivo de iniciar o processo arbit ral” .

13
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A lei apenas subst it ui a declaração da em presa, sendo sem pr e necessária a declaração do
consum idor. Port ant o, a sit uação j urídica em que se encont ra o consum idor é idênt ica àquela
que result a da adesão plena da em pr esa ao cent ro. O consum idor t em o direit o pot est at ivo
de recorrer à arbit ragem .

Em bora t enham os concluído que se t r at a de ar bit ragem volunt ária, a aplicação da LAV não
pode ser feit a sem m ais, um a vez que um a das part es não em it iu qualquer declaração
negocial.

É necessário, assim , int erpret ar cada um a das norm as t endo em cont a essa circunst ância.

Por exem plo, o art . 36.º da LAV, que regula a int ervenção de t erceiros, est abelece que “ só
podem ser adm it idos a int ervir num processo ar bit ral em curso t erceiros vinculados pela
convenção de arbit ragem em que aquele se baseie ( …) ” ( it álico nosso) . Ora, não havendo
um a convenção de arbit ragem t ípica, é necessário aplicar o preceit o com as devidas
adapt ações. Assim , j ulgam os que só podem int ervir no processo arbit ral t erceiros em relação
à configuração da lide feit a pelo consum idor, na qual o prest ador do serviço público essencial
part icipa por im posição legal, se esses t erceiros aderirem ao processo de arbit ragem . Não
bast a, no ent ant o, a sua adesão ( volunt ária 31 ) ao processo de arbit ragem . É necessário,
ainda, o consent im ent o de t odas as part es no processo arbit ral 32 . Mesm o que se verifique o
consent im ent o de t odas as part es ( aqui incluindo o t erceiro) , o n.º 3 do art . 36.º est abelece
que “ o t ribunal arbit ral só deve adm it ir a int ervenção se est a não pert ur bar indevidam ent e o
norm al andam ent o do pr ocesso ar bit ral e se houv er razões de relevo que a j ust ifiquem ,
considerando- se com o t ais, em part icular, aquelas sit uações em que, não havendo m anifest a
inviabilidade do pedido: a) O t erceiro t enha em relação ao obj et o da causa um int eresse
igual ao do dem andant e ou do dem andado, que inicialm ent e perm it isse o lit isconsórcio
volunt ário ou im pusesse o lit isconsórcio necessário ent re um a das part es na arbit ragem e o
t erceiro; ou b) O t erceiro queira form ular, cont ra o dem andado, um pedido com o m esm o
obj ect o que o do dem andant e, m as incom pat ível com o dest e; ou c) O dem andado, cont ra
quem sej a invocado crédit o que possa, prim a facie, ser caract erizado com o solidário,
pret enda que os dem ais possíveis credores solidários fiquem vinculados pela decisão final
proferida na arbit ragem ; ou d) O dem andado pret enda que sej am cham ados t erceiros,
cont ra os quais o dem andado possa t er direit o de regresso em consequência da procedência,
t ot al ou parcial, de pedido do dem andant e” .

Os regulam ent os dos cent ros de ar bit ragem t am bém são aplicáveis. A lei est abelece
expressam ent e a sua com pet ência nest es casos, pressupondo- se que a aut orização – de
nat ureza adm inist rat iva – necessária para que os cent ros funcionem garant e a seriedade do
procedim ent o. Os regulam ent os dos cent ros são um dos aspet os suj eit o a cont rolo

31
Não é adm issív el que a inst ância arbit ral sej a iniciada cont ra dois prest adores de serv iços ao abrigo do direit o
pot est at ivo à arbit ragem conferido ao ut ent e consum idor pelo art . 15.º , n.º 1, da Lei n.º 23/ 96 ( na sua redação
at ual) . Com efeit o, se a lei im põe ao prest ador de serv iço a part icipação num processo arbit ral por declaração
da cont rapart e, não im põe a part icipação nesse processo a par de out ras part es. O prest ador de serv iços t em ,
assim , a possibilidade de bloquear a part icipação no processo de out ras part es, além de si e do ut ent e.
32
Com o refere ARMI NDO RI BEI RO MENDES ( AAVV, Lei da Arbit ragem Volunt ária Anot ada, 2015, p. 96) , “ a
ex igência de consent im ent o de t odos os envolvidos decorre do desej o de ev it ar o risco de lesão de int eresses
das part es prim it ivas e os inconvenient es para a condução célere do processo” .

14
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adm inist rat ivo, pelo que a rem issão legal do art . 15.º - 1 da Lei n.º 23/ 96 deve ent ender - se
com o abrangendo a sua aplicação int egral. Com o se verá, as regras processuais previst as
nos regulam ent os dos cent ros são aplicáveis, salvo se não respeit arem o due process of law
ou out ras norm as com cont eúdo im perat ivo da LAV ( art . 30.º - 2 da LAV) . Est a conclusão
vale, aliás, para t oda a arbit ragem de consum o, independent em ent e de est a se sit uar no
âm bit o dos serviços públicos essenciais. Sobre a quest ão da ( não) aplicação subsidiária do
CPC, v. infra 2.5.

2 .4 . I n t e r a çã o e n t r e a a r bit r a ge m n e ce ssá r ia e o pr oce sso j u dicia l


pr e via m e n t e in st a u r a do pe la e m pr e sa

I m aginem os o seguint e caso. Det erm inada em pr esa ent ende que o consum idor é devedor de
150 euros, correspondent es à elet ricidade prest ada ao longo dos últ im os t rês m eses. Para
cobrar esse v alor inicia um a ação j udicial no t ribunal com pet ent e. O consum idor ent ende não
ser devedor, m as pret ende resolver o lit ígio at ravés de arbit ragem e não no t ribunal j udicial.

Coloca- se a quest ão de saber se pode obst ar ao pr osseguim ent o da ação j udicial e iniciar um
processo ar bit ral.

Com o vim os at rás, o art . 15.º - 1 da Lei n.º 23/ 96 det erm ina que “ os lit ígios de consum o no
âm bit o dos serviços públicos essenciais est ão suj eit os a arbit ragem necessária quando, por
opção expressa dos ut ent es que sej am pessoas singulares, sej am subm et idos à apreciação
do t ribunal arbit ral dos cent ros de arbit ragem de conflit os de consum o legalm ent e
aut orizados” .

Daqui decorr e que, sendo a arbit ragem necessária apenas par a a em presa, est a não podia,
por iniciat iva própria, propor ação arbit ral. É, pois, expect ável, que inicie um processo
j udicial 33 .

Cont udo, a t eleologia da norm a do referido art . 15.º - 1 é a de perm it ir ao consum idor a
escolha da arbit ragem quando est ão em causa serviços públicos essenciais. Não
apresent ando a lei qualquer lim it ação, não faz, pois, sent ido que sem pre que sej a a em presa
a t om ar a iniciat iva de resolver det erm inado lit ígio o consum idor se vej a, na prát ica,
im pedido de opt ar pela arbit ragem .

Em sent ido cont rário, é possível argum ent ar que quando a iniciat iva é da em presa est am os
habit ualm ent e perant e casos de cobrança de dívidas, para os quais j á exist em m eios

33
Not e- se, aliás, que est a unidirecionalidade é desej ável, na m edida em que solução cont rária conduziria à
inundação dos cent ros de arbit ragem com ações para cobrança de dív idas ( CÁTI A MARQUES CEBOLA, “ Mediação e
Arbit ragem de Conflit os de Consum o: Panoram a Port uguês” , 2012, pp. 43 e 44) . A propósit o da
unidirecionalidade com o um dos t raços carat eríst icos da resolução alt ernat iva de lit ígios de consum o, JOÃO
PEDRO PI NTO- FERREI RA, “ A Resolução Alt ernat iva de Lit ígios de Consum o no Cont ext o da Lei n.º 144/ 2015” , 2016,
p. 6 ( no prelo) .

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processuais específicos, com o a inj unção e a ação especial para cum prim ent o de obrigações
pecuniárias34 , pelo que não deve perm it ir- se o recurso à arbit ragem nest es casos.

No ent ant o, a lei pret endeu at ribuir ao consum idor a opção pela arbit ragem sem pre que
est ej a em causa um serviço público essencial, não est abelecendo qualquer lim it ação. Trat a-
se de um aum ent o da prot eção do consum idor, que deve prevalecer. Ainda que os
procedim ent os especiais sej am adequados à cobrança de dívidas, os cent ros de arbit ragem
de conflit os de consum o são especialm ent e vocacionados par a as relações de consum o,
perm it indo ao consum idor t er um a m aior proxim idade com o o processo e, em princípio, t er
m enos cust os com o m esm o.

Pelo expost o, parece- nos que deve per m it ir- se que o consum idor inicie a arbit ragem quando
é cit ado na ação j udicial, desde que o faça ant es da sua prim eira int ervenção no processo.
Deve depois apresent ar cont est ação na ação j udicial alegando a exceção de pret erição do
t ribunal arbit ral, um a vez que nesse m om ent o j á exist e convenção de ar bit ragem ( o art .
15.º - 1 da Lei n.º 23/ 96 subst it ui a declaração da em presa e o consum idor j á em it iu a sua
própria declaração para a celebração da conv enção arbit r al, at ravés do requerim ent o
arbit ral) .

A em presa pode desist ir da ação ou, se não o fizer, o j uiz deve absolver o réu da inst ância
t endo em cont a a exceção dilat ória de pret erição de t ribunal arbit ral – art s. 96.º - b) e 577.º -
a) do CPC.

Not e- se que, apesar de nos parecer ser claram ent e est a a solução decorr ent e da corret a
int erpret ação da Lei n.º 23/ 96, a m esm a afigura- se onerosa para as em presas, na m edida
em que est as não podem recorrer à arbit ragem , sendo obrigadas, para fazer valer os seus
direit os, a propor ação j udicial, e consequent em ent e a pagar as cust as do pr ocesso j udicial,
ficando depois dependent es da vont ade do consum idor, que pode t ornar inút il o t em po e
dinheiro gast os na ação j udicial ao opt ar pelo recurso à arbit ragem .

2 .5 . Re gr a s pr oce ssu a is a plicá ve is à a r bit r a ge m de con su m o – A


( n ã o) a plica bilida de su bsidiá r ia do Código de Pr oce sso Civil

A Lei n.º 144/ 2015 r egula a resolução alt ernat iva de lit ígios de consum o e est abelece
algum as ( poucas) regr as aplicáveis à arbit ragem . Est as regras devem considerar- se com o
t endo cont eúdo im perat ivo, pelo que se sobrepõem m esm o à convenção das part es.

Assim , o art . 10.º - 2 da Lei n.º 144/ 2015 est abelece que as ent idades de RALC devem
“ assegurar que as part es não t êm de r ecorrer a um advogado e podem fazer- se acom panhar

34
Decret o- Lei n.º 269/ 98, de 1 de set em bro, alt erado pelos Decret os- Leis n. os 383/ 99, de 23 de set em bro,
183/ 2000, de 8 de out ubro, 323/ 2001, de 17 de dezem bro, 32/ 2003, de 17 de fevereiro, 38/ 2003, de 8 de
m arço, 324/ 2003, de 27 de dezem bro, 53/ 2004, de 18 de m arço, 107/ 2005, de 1 de j ulho, 14/ 2006, de 26 de
abril, e 303/ 2007, de 24 de agost o, pela Lei n.º 67- A/ 2007, de 31 de dezem bro, e pelos Decret os- Leis n. os
34/ 2008, de 26 de fevereiro, e 226/ 2008, de 20 de novem bro.

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ou represent ar por t erceiros em qualquer fase do procedim ent o” . Daqui result a que, ao
cont rário do que sucede nos t ribunais est aduais, a represent ação por advogado não pode ser
im post a, independent em ent e do valor da ação. Assim , m esm o que o valor da ação sej a
superior ao da alçada do t ribunal de prim eira inst ância, a represent ação por advogado não é
obrigat ória. Um a cláusula nest e sent ido inserida num regulam ent o de ar bit ragem de um
cent ro é inválida ( por ser cont rária à lei) , não podendo ser aplicada. Por exem plo, o art .
20.º - 3 do Regulam ent o do CNI ACC t ornou- se inválido, com a ent rada em vigor da Lei n.º
144/ 2015, na part e em que prevê que “ no processo arbit ral é obrigat ória a const it uição de
advogado, nas causas com valor superior à alçada do Tribunal de prim eira inst ância” .

O art . 10.º - 4 da Lei n.º 144/ 2015 im põe, no que à arbit ragem diz respeit o, o respeit o pelo
princípio do cont radit ório, princípio fundam ent al de qualquer processo, incluído nos princípios
do processo equit at ivo do art . 20.º - 4 da Const it uição da República Port uguesa. Est e princípio
é, aliás, densificado, no que respeit a à arbit ragem de consum o, no art . 12.º da Lei n.º
144/ 2015.

O art . 10.º - 5 da Lei n.º 144/ 2015 det erm ina que “ os procedim ent os de RAL devem ser
decididos no prazo m áxim o de 90 dias a cont ar da dat a em que a ent idade de RAL receba o
processo de reclam ação com plet o” . O n.º 6 acrescent a que est e prazo “ pode ser prorrogado,
no m áxim o por duas vezes, por iguais períodos, pela ent idade de RAL, caso o lit ígio revele
especial com plexidade, devendo as part es ser inform adas da prorrogação do prazo e do
t em po necessário previst o para a conclusão do procedim ent o de RAL” .

A Lei n.º 144/ 2015 est abelece, por t ant o, um prazo m ais curt o para a arbit ragem de
consum o. O prazo inicial de 90 dias com eça a cont ar a part ir da dat a da r eceção pelo t ribunal
arbit ral do requerim ent o inicial de arbit ragem , não sendo cont abilizado na arbit ragem o
t em po decorr ido no procedim ent o de m ediação 35 . A opção pode ser crit icável 36 , m as a regra
parece clara, pelo que o poder j urisdicional do árbit ro se esgot a findo o prazo previst o no n. os
5 e 6.

No que respeit a à convenção de ar bit ragem , é necessário t er em cont a o art . 13.º da Lei n.º
144/ 2015. No essencial, a regra, j á explicada nest e t ext o ( v. supra 2.1) , é a de que o
consum idor não fica vinculado pela convenção de arbit ragem , podendo sem pre opt ar ent r e a
proposit ura da ação no t ribunal arbit ral ou num t ribunal est adual.

A Lei n.º 144/ 2015 não cont ém out ras regras sobr e o processo de arbit ragem nem qualquer
norm a de aplicação subsidiária.

Sendo arbit ragem , sem pr e que não haj a norm a especial na Lei n.º 144/ 2015, devem aplicar-
se as norm as da LAV.

35
Nest e sent ido, JOÃO PEDRO PI NTO- FERREI RA, “ A Resolução Alt ernat iva de Lit ígios de Consum o no Cont ext o da
Lei n.º 144/ 2015” , 2016, p. 11 ( no prelo) , defende que “ o prazo de 90 dias respeit a a cada procedim ent o de
resolução alt ernat iva de lit ígios” .
36
JOÃO PEDRO PI NTO- FERREI RA, “ A Resolução Alt ernat iva de Lit ígios de Consum o no Cont ext o da Lei n.º
144/ 2015” , 2016, pp. 11 e 12 ( no prelo) .

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O art . 30.º da LAV regula precisam ent e os princípios e as regras do processo arbit ral. Depois
de realçar a vinculação do t ribunal arbit ral aos princípios do processo j ust o ( n.º 1) ,
est abelece- se a regra ger al relat iva às regras processuais da arbit ragem : livre escolha pelas
part es ( at é à designação do árbit ro) , com o lim it e das norm as im perat ivas ( n.º 2) 37 .

Na arbit ragem de consum o, a livre escolha das regras processuais pelas part es
consubst ancia- se norm alm ent e na seleção do cent ro de arbit r agem de consum o que vai
resolver o lit ígio. Ao aderirem a um cent ro, as part es t or nam suas as cláusulas do
regulam ent o desse cent ro ( cfr. art . 6.º da LAV) .

Coloca- se aqui a quest ão de saber qual é a nat ureza das regras processuais dos
regulam ent os dos cent r os de arbit ragem , que são depois incluídas na convenção de
arbit ragem por rem issão ( expressa ou t ácit a) . Est a quest ão é especialm ent e revelant e para
se concluir quant o à sua int erpret ação e aplicação.

Devem aplicar- se as nor m as de int er pret ação das leis ( art . 9.º do CC) ou as norm as de
int erpret ação dos negócios j urídicos ( art s. 236.º e seguint es do CC) ? Os regulam ent os de
arbit ragem não se subsum em int eiram ent e a nenhum a das cat egorias. Não são negociados
ent re as par t es, m as t am bém não configuram um a norm a geral, na m edida em que são de
criação privada, apenas se aplicando quando as part es assim o det erm inam . Cont udo,
consideram os que t êm um a carat eríst ica que os aproxim a das norm as gerais e dist ancia das
declarações negociais: a circunst ância de serem criados por pessoa diversa das part es.
Assim , as part es at ribuem com pet ência a out rem para criar regras que os vão vincular. Na
m aior part e dos casos, est a norm a de at ribuição de com pet ência, const ant e do cont rat o
ent re as part es, regula a form a com o as regras processuais vão ser criadas, m as não o seu
cont eúdo. Daqui decorre que não faria sent ido int erpret ar as r egras processuais criadas, por
exem plo pelos árbit ros ou por um cent ro de arbit ragem , com o se se t rat asse de regr as
em it idas pelas próprias part es. Concluím os, pois, que, em regra, as norm as const ant es de
regulam ent os de arbit ragem dev em ser int erpret adas segundo os cânones int erpret at ivos
previst os no art . 9.º do CC.

Se essas regras são alt eradas por quem as criou ( cent ro de ar bit ragem ) , ent re o m om ent o
da celebração da convenção de ar bit ragem pelas part es e o m om ent o do início da
arbit ragem , quid iuris? Aplica- se a versão das regras vigent es à dat a da convenção de
arbit ragem ou à dat a do início do processo de arbit ragem ? Quando as part es, na convenção
de arbit ragem , escolhem um cent ro de arbit ragem para resolver o seu lit ígio at ual ou
event ual est ão a escolher um det erm inado conj unt o de r egras. Assim , quando a ent idade
que criou as norm as as alt era ent re o m om ent o em que as part es para elas rem et eram e o
m om ent o em que surge um lit ígio e a arbit ragem efet ivam ent e com eça, o que pode ocor rer
anos depois, im port a saber qual a versão do regulam ent o de arbit ragem que se aplica.

37
Est e art igo t raduz o princípio da aut onom ia das part es, considerado um princípio fundam ent al no âm bit o da
arbit ragem . Acerca dest e princípio na arbit ragem int ernacional ver, por exem plo, ALAN REDFERN e MARTI N H UNTER,
Law and Pract ice of I nt ernat ional Com m ercial Arbit rat ion, 2005, p. 265; PETER BI NDER, I nt ernat ional Com m ercial
Arbit rat ion and Conciliat ion in UNCI TRAL Model Law Jurisdict ions, 2010, pp. 44 e 45, a propósit o da lei m odelo
da Uncit ral que foi seguida na elaboração da LAV.

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Parece- nos que a respost a a est a quest ão t em de ser encont rada no cont eúdo das
declarações das part es na convenção de arbit ragem . Se, na arbit ragem com ercial em geral,
a vont ade das part es, expressa nas suas declarações, será, em regra, a de escolher
det erm inadas regras, que conhecem , na arbit ragem de consum o as part es não querem ,
geralm ent e, escolher det erm inado conj unt o de regras, m as sim delegar essa escolha num a
ent idade legalm ent e aut orizada para a RALC, em quem confiam , por serem os m aiores
especialist as na m at éria. Nesses casos, deve ent ender- se que as part es não escolheram o
cont eúdo das norm as. Quiseram apenas at ribuir com pet ência para a elaboração dessas
norm as. Quando assim é, as regras pr ocessuais a aplicar são aquelas que, frut o de avanços
no est udo da arbit ragem , a ent idade escolhida considerar válidas no m om ent o em que o
processo de arbit ragem das part es t em início. Nos casos em que há adesão a um cent ro de
arbit ragem , em princípio a quest ão será resolvida de acor do com a regr a que o próprio
cent ro de ar bit ragem apr ovou para r egular a quest ão. Ao aderirem ao cent ro as part es
aceit am t odas as regras que regulam o seu funcionam ent o, incluindo, as que regulam qual o
regulam ent o de arbit ragem a aplicar.

O art . 30.º - 3 da LAV t rat a do caso em que as part es não acordaram sobre a regra processual
necessária para resolver algum a quest ão ( o que im plica que o regulam ent o do cent ro
t am bém não a resolveu) e a LAV ou out ro diplom a, com o a Lei n.º 144/ 2015, não regule
im perat ivam ent e a m at ér ia. Se assim for, “ o t ribunal arbit ral pode conduzir a arbit ragem do
m odo que considerar apr opriado, definindo as regras processuais que ent ender adequadas,
devendo, se for esse o caso, explicit ar que considera subsidiariam ent e aplicável o dispost o
na lei que rege o processo perant e o t ribunal est adual com pet ent e” 38 ( it álico nosso) .

A “ lei que rege o processo perant e o t ribunal est adual com pet ent e” , ou sej a, no caso
port uguês, o CPC, só será aplicável se o t ribunal arbit ral o indicar explicit am ent e. I st o
significa que o CPC não é aplicável subsidiariam ent e à arbit ragem ( em geral e
especificam ent e à de consum o) .

A form a de suprir lacunas nas regras de processo é a indicada nest e art . 30.º - 3: o t ribunal
arbit ral define, em cada caso, as regras processuais que ent ender adequadas. A flexibilidade
é um inst rum ent o fundam ent al da arbit ragem e est a solução é essencial para garant ir essa
flexibilidade.

Com o exem plo dest a flexibilidade processual, pode analisar- se o Regulam ent o do CNI ACC.
Assim , o art . 22.º , que t rat a do processo arbit ral, est abelece que, “ apresent ados o
requerim ent o inicial e a cont est ação, o Juiz Árbit ro adot a a t ram it ação processual adequada
às especificidades da causa, definindo designadam ent e: a) Se o processo com port a fases
orais para a produção de prova ou par a a exposição oral dos argum ent os das part es ou se é
decidido apenas com base nos docum ent os e out ros elem ent os de prova, dispensando a
realização de qualquer audiência; b) Se há necessidade de delim it ar a m at éria de prova,
separando a da m at éria que consider a j á provada; c) Quais os m eios de pr ova a produzir,

38
MANUEL PEREI RA BARROCAS, Lei de Arbit ragem Com ent ada, 2013, p. 121, defende que est e regim e não é senão
o que corresponde ao “ poder- dever dos árbit ros de exercer essa função com observância da lei aplicável” .

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aqui se incluindo depoim ent o de part e, t est em unhas, docum ent os, perícias e exam es a
coisas ou pessoas; d) Qual o núm ero de t est em unhas a apresent ar, no m áxim o de 6” ( n.º
1) . O n.º 4 perm it e a alt eração dest a decisão de gest ão processual, “ no decurso do processo,
caso se m ost re necessário” .

2 .6 . Re cu r sos

Out ra quest ão que pode ser discut ida consist e em saber qual o regim e de recursos aplicável
à arbit ragem de consum o.

Para responder a est a quest ão, t em os de percorr er o cam inho indicado no pont o ant erior no
que respeit a à definição das regras processuais na arbit ragem de consum o. A Lei n.º
144/ 2015 não regula a quest ão dos r ecursos, pelo que é necessário t er em cont a a LAV. A
regra geral da LAV, nest a m at éria, é a da irrecorribilidade da decisão que ponha t erm o ao
processo ( art . 39.º - 4) . No ent ant o, est e preceit o det erm ina, ainda, que a regra é suplet iva,
podendo ser afast ada por acordo ent re as part es ( excet o se a ação for decidida segundo a
equidade ou m ediant e com posição am igável) .

A regra geral da arbit ragem de consum o é, assim , a da irrecorribilidade da decisão arbit ral.

As part es podem , cont udo, prever a adm issibilidade do recurso, por acordo nesse sent ido.

Tendo em cont a que a negociação efet iva da convenção de ar bit ragem é rara na arbit ragem
de consum o, t orna- se necessário, na prát ica, analisar o regulam ent o de arbit ragem do
cent ro onde est a decorr eu para concluir acerca da quest ão da r ecorribilidade da decisão.

Vej am os alguns exem plos.

O Regulam ent o de Arbit ragem do Cent ro de Arbit ragem de Conflit os de Consum o de Lisboa
( CACCL) nada diz sobre a quest ão. Logo, aplica- se a regr a da LAV, não sendo adm issível o
recurso, salvo se as part es o t iverem est abelecido por acordo, aceit ando o cent ro, ainda
assim , prosseguir com o processo.

O Regulam ent o do Cent ro de Arbit ragem do Set or Aut om óvel ( CASA) regula a m at éria,
est abelecendo o art . 43.º - 2 do respet ivo regulam ent o que “ da decisão arbit ral cabem para o
t ribunal da relação os m esm os recursos que caberiam da sent ença proferida pelo t ribunal de
com arca” . Est a norm a do regulam ent o, que deve ser int erpret ada no sent ido de que rem et e
para o regim e dos r ecursos do CPC ( art s. 627.º e seguint es) , equivale a convenção das
part es quant o a est e assunt o. Se j á havia convenção ent re part es, ant es de recorrer em ao
cent ro, e o seu cont eúdo é diferent e, est e apenas prevalece se o cent ro der o seu acordo
( expresso ou t ácit o) .

O Regulam ent o do CI AB – Cent ro de inform ação, Mediação e Arbit ragem de Consum o


( Tribunal Arbit ral) cont ém um a form ulação diversa, que carece de int erpret ação para ser
bem com preendida. Assim , result a do art . 19.º - 1 que “ só poderão ser obj et o de recurso, os

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processos de reclam ação de valor superior à alçada do Tribunal j udicial de prim eira inst ância
e desde que a causa não haj a sido decidida segundo a equidade ou m ediant e com posição
am igável” . Ao cont rário da norm a do Regulam ent o do CASA, não se rem et e aqui para os
crit érios de recorribilidade do CPC, sendo est a um a norm a aut ónom a. O único crit ério é,
nest e caso, o valor da causa. Não r evelam out ros elem ent os indicados no CPC, com o a
sucum bência ( cfr. art . 629.º - 1) .

O Regulam ent o do CNI ACC oferece ainda um a solução diversa. Nada se diz sobre a
recorribilidade ou irrecorribilidade da decisão, m as est abelece- se o prazo par a a int erposição
do recurso. Assim , est at ui o art . 30.º que “ o prazo para int erposição de recursos é de 30 dias
cont ados da not ificação da decisão” . Será que est a norm a deve ser int erpret ada no sent ido
de que é sem pre adm issível recurso? Parece- nos que não. Apenas será adm issível, nos
t erm os da LAV, se as part es o t iver est ipulado. O Regulam ent o do CNI ACC abre, port ant o, a
port a à possibilidade de as part es, por acordo, decidirem no sent ido da r ecorribilidade da
decisão. Se as part es o fizerem , o prazo para a int erposição do r ecurso é de 30 dias. A regra
geral suplet iva é, port ant o, t al com o no CACCL, a da irrecorribilidade.

Se as part es convencionarem a r ecorribilidade da decisão, o recurso deve ser adm it ido


independent em ent e do valor ( quer da causa quer da sucum bência) . I st o apesar de o recur so
ser da com pet ência “ do Tribunal da Relação em cuj o dist rit o se sit ue o lugar da arbit ragem ” ,
nos t erm os do art . 59.º - 1- e) da LAV.

Nos casos em que o consum idor t em um direit o pot est at ivo a iniciar a arbit ragem ( v. supra
2.3) , não exist e, em princípio, convenção de arbit ragem , pelo que não há convenção quant o
à m at éria da recorribilidade. Nest es casos, não há, port ant o, com o j á se deixou dit o, recurso
da decisão arbit ral.

No que respeit a à m at éria dos recursos, j ulgam os que, se se pret endesse excecionar os
lit ígios de consum o de algum a dest as regras ( ou no sent ido de não perm it ir o recurso nos
lit ígios de valor reduzido ou no sent ido de adm it ir sem pre o recurso nos lit ígios de valor m ais
elevado) , j ulgam os que a Lei n.º 144/ 2015 t eria sido a sede adequada. Não havendo regra
especial para a arbit ragem de consum o, ent endem os que é plenam ent e aplicável o regim e
da LAV, sendo a regra ger al suplet iva a da irrecorribilidade da decisão arbit ral.

Not e- se que a im pugnação da decisão arbit ral pode ser feit a por via de ação de anulação
( art . 46.º da LAV) , para a qual t am bém é com pet ent e o “ Tribunal da Relação em cuj o dist rit o
se sit ue o lugar da arbit r agem ” – art . 59.º - 1- g) . Nos t erm os do art . 46.º - 5, o direit o de
requerer a anulação da sent ença arbit ral é irrenunciável.

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3 . M e dia çã o de con su m o

3 .1 . Qu a lifica çã o da m e dia çã o de con su m o com o ve r da de ir a


m e dia çã o

A m ediação de consum o apresent a t raços dist int ivos em relação à m ediação em geral, frut o
da especificidade dos conflit os que visa resolver 39 .

I rem os analisar as principais carat eríst icas da m ediação de conflit os de consum o, t om ando
com o referência, a t ít ulo m eram ent e exem plificat ivo, o Regulam ent o do CNI ACC40 .
Post eriorm ent e, apresent arem os os principais t raços da m ediação para concluir acerca da
adequação da qualificação da m ediação de consum o com o verdadeira m ediação.

Not e- se que não há dúvidas quant o à aplicação à m ediação de consum o da Lei n.º
144/ 2015, j á que a própr ia lei det erm ina que “ é aplicável aos procedim ent os de r esolução
ext raj udicial de lit ígios nacionais e t ransfront eiriços prom ovidos por um a ent idade de
resolução alt ernat iva de lit ígios ( RAL) quando os m esm os sej am iniciados por um consum idor
cont ra um fornecedor de bens ou prest ador de ser viços [ …] ” e que são “ procedim ent os de
RAL», a m ediação, a conciliação e a arbit ragem ” ( art s. 2.º - 1 e 3.º - i) da Lei n.º 144/ 2015) .

A quest ão que se coloca é a de saber se, na falt a de norm a especial, previst a na Lei n.º
144/ 2015, se aplicam as norm as da Lei da Mediação.

A m ediação de conflit os de consum o é prom ovida e realizada, em regra, por ent idades que
t êm com o obj et ivo a prot eção dos direit os e dos int eresses dos consum idores. Trat a- se de
associações privadas ou de ent idades públicas ou com um a fort e int ervenção pública, cuj o
obj et ivo não é a realização da m ediação com fins lucrat ivos, m as o de perm it ir o acesso dos
consum idores a um a form a m ais eficaz de j ust iça.

O processo é iniciado pelo consum idor, sendo, na sequência da reclam ação dest e, feit a pelo
m ediador um a avaliação prelim inar, dest inada ao respet ivo enquadram ent o [ j urídico] em
face dos fact os relevant es e dos elem ent os de prov a oferecidos” ( art . 12.º - 1 do Regulam ent o
do CNI ACC) . O processo pode m esm o ser im ediat am ent e arquivado, se o m ediador concluir
que, face aos fact os apresent ados, é m anifest a a im procedência das pret ensões do
consum idor ( art s. 10.º - 3 e 12.º - 2- c) do Regulam ent o do CNI ACC) .

O m ediador de conflit os de consum o não é, port ant o, indiferent e aos fact os apresent ados
pelo consum idor. Pelo cont rário, deve avaliá- los j uridicam ent e, podendo explicar às part es o
direit o aplicável ( art . 12.º - 4- b) do Regulam ent o do CNI ACC) 41 . Not e- se a est e propósit o que,
ao cont rário do que é habit ual na m ediação, se exige m esm o aos m ediadores que t enham
“ form ação específica na área de direit o do consum o” ( art . 1.º do Regulam ent o do CNI ACC) .

39
Os conflit os de consum o são essencialm ent e carat erizados por um a t endencial desigualdade ent re as part es,
pelo seu valor habit ualm ent e reduzido e pela circunst ância de não ex ist ir um a relação pessoal ent re as part es
ou um a necessidade de m ant er essa relação no fut uro.
40
Regulam ent o de I nform açã o, Mediaçã o e Arbit ragem de Conflit os de Consum o, disponível em
www.arbit ragem deconsum o.org.
41
PATRÍ CI A DA GUI A PEREI RA, “ A Adequação dos Meios de Resolução Alt ernat iv a, em Especial da Mediação, aos
Conflit os de Consum o” , 2009, p. 195.

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No que diz respeit o ao cont eúdo, im port a t am bém r eferir que os m ediadores podem
apresent ar aos lit igant es “ propost a [ ...] de um a solução adequada” ( art . 12.º - 4- c) do
Regulam ent o do CNI ACC) .

Na m ediação de conflit os de consum o são ut ilizados pr eferencialm ent e m eios de


com unicação à dist ância, com o o t elefone, a cart a ou o fax e o correio elet rónico. Acresce
que, na m aior part e das vezes, não chega a haver cont act o diret o ent re as part es, sendo a
com unicação feit a sem pre com o m ediador que, post eriorm ent e, t ransm it e o cont eúdo à
out ra part e. Por um lado, o reduzido valor do conflit o não j ust ifica a deslocação das part es;
por out ro lado, não est á em causa a relação pessoal ent re o consum idor e o profissional, pelo
que não é t ão relevant e a paz social que result a de um acordo obt ido com a presença física e
sim ult ânea dos int ervenient es.

Devido aos aspet os r eferidos, nom eadam ent e a ut ilização de m eios de com unicação à
dist ância e um a m aior ligação e análise dos fact os apresent ados, na m ediação de conflit os de
consum o não se consegue definir com exat idão os int eresses das part es, t rabalhando- se a
part ir das posições ou dos obj et ivos, em especial dos consum idores.

Out ra carat eríst ica t endencial da m ediação de conflit os nas ent idades referidas é a
grat uit idade do processo. Com efeit o, nem o consum idor nem o profissional t êm em regra de
pagar pelos serviços do m ediador. Est a solução, que perm it e a resolução de casos em que o
valor económ ico é m uit o baixo, só é possível face ao financiam ent o público das inst it uições
em causa.

Encont rando- se delineados os principais t raços da m ediação de consum o, im port a agor a


analisar o conceit o de m ediação.

O art . 2.º - 1 da Lei da Mediação 42 define m ediação com o “ a form a de r esolução alt ernat iva de
lit ígios, realizada por ent idades públicas ou privadas, at ravés do qual duas ou m ais part es
em lit ígio procuram volunt ariam ent e alcançar um acordo com assist ência de um m ediador de
conflit os” e o art . 2.º - 2 acrescent a que o m ediador de conflit os é “ um t erceiro, im parcial e
independent e, desprovido de poderes de im posição aos m ediados, que os auxilia na t ent at iva
de const rução de um acor do final sobre o obj et o do lit ígio” . O capít ulo I I da Lei da Mediação
est abelece com o princípios da m ediação a volunt ariedade, a confidencialidade, a igualdade e
im parcialidade e a independência. Finalm ent e, um princípio essencial da m ediação que não é
referido expressam ent e nas norm as m encionadas, m as que deve ser considerado sua
carat eríst ica perm anent e é o princípio dos plenos poderes das part es ( em powerm ent ) 43 .

Num a prim eira análise, a m ediação de consum o encaixa na definição do ar t . 2.º - 1. Quant o
aos princípios que a densificam e com plem ent am podem colocar- se algum as dúvidas.

42
Lei n.º 29/ 2013, de 19 de abril, que est abelece os princípios gerais aplicáveis à m ediação realizada em
Port ugal, bem com o os regim es j urídicos da m ediação civil e com ercial, dos m ediadores e da m ediação pública.
43
MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de Lit ígios, 2014, p. 48. No m esm o sent ido, JORGE
MORAI S CARVALHO, “ A Consagração Legal da Mediação em Port ugal” , 2011, p. 278.

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No que diz respeit o à im parcialidade, pode ar gum ent ar- se que a evident e proxim idade ao
consum idor, um a vez que est am os a falar de est rut uras pensadas para garant ir a efet ividade
dos direit os dos consum idores, im plica a ausência de im parcialidade do m ediador.

Cont udo, consideram os que t al não é o caso. Por um lado, a efet ividade dos direit os dos
consum idores é garant ida at ravés da disponibilização de m eios adequados e acessíveis à
prossecução das suas pr et ensões e não do seu favorecim ent o no âm bit o desses m eios. Por
out ro lado, os cent ros de arbit ragem de conflit os de consum o garant em não apenas a
efet ividade dos direit os dos consum idores, m as t am bém est im ulam o funcionam ent o do
m ercado, na m edida em que ao aum ent ar a confiança dos consum idores se aum ent a o
consum o.

No m om ent o em que o processo se inicia o papel do m ediador é o de ouvir as duas par t es


sobre o assunt o que é obj et o da m ediação e per m it ir que sej am est as a – livrem ent e –
det erm inar a solução que ent endem m ais adequada. Trat ando- se de um processo volunt ário,
um a configuração parcial do processo nunca seria sequer aceit e pela out ra part e, que
desist iria do processo se sent isse que o m ediador não era im parcial, condenando- se assim ao
insucesso const ant e a m ediação de consum o.

Tal não significa que não possa haver casos em que, em concret o, o m ediador age de for m a
parcial. Nessas sit uações o processo não deixa de ser qualificado com o m ediação. Verifica-
se, isso sim , o incum prim ent o pelo m ediador dos seus deveres, o que é gerador de
responsabilidade civil, nos t erm os do art . 8.º - 2 da Lei da Mediação.

A quest ão pode revelar- se m ais com plexa quando a m ediação é levada a cabo por um a
associação de defesa do consum idor, que assum e expressam ent e com o sua at ribuição a
prot eção dos consum idores. Em t eoria, nada im pede que est as associações ofer eçam
serviços de m ediação im parciais. Not e- se, aliás, que o m ediador “ deve paut ar a sua condut a
pela independência, livre de qualquer pressão” , pelo que não est á, no processo de m ediação,
subordinado aos est at ut os da associação nem a orient ações dos seus dirigent es44 . Cont udo,
na prát ica, revela- se necessário analisar de que form a os processos são conduzidos. Se há,
por exem plo, com o inst rum ent o habit ualm ent e ut ilizado na alegada m ediação, am eaças no
sent ido de expor o lit ígio à com unicação social, caso a em presa não aceit e o acordo, não
podem os falar de m ediação, um a vez que não são t idos em cont a os seus princípios
carat erizadores: não apenas a im parcialidade, m as principalm ent e a volunt ariedade, um a
vez que a em presa não pode livrem ent e desist ir do processo 45 .

Relat ivam ent e ao princípio da neut ralidade, a que a Lei da Mediação se refere com o
isenção 46 ( art . 27.º - 1 da Lei da Mediação) , est e diz respeit o ao cont eúdo do lit ígio que est á a
ser discut ido. O m ediador deve colocar de lado preconceit os ou convicções e não t ent ar

44
D ULCE LOPES E AFONSO PATRÃO, Lei da Mediação Com ent ada, 2014, p. 50.
45
A propósit o da essencialidade dest e princípio, MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de
Lit ígios, 2014, pp. 50 e 51, e JOANA CAMPOS, “ O Princípio da Confidencialidade na Mediação” , 2009, p. 319.
46
MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de Lit ígios, 2014, p. 61.

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influenciar o acordo em nom e de princípios com o a equidade ou a j ust iça ou por consider ar
que det erm inada solução é a m ais adequada ao caso 47 .

Com o vim os, o m ediador de conflit os de consum o faz o enquadram ent o j urídico dos fact os
em discussão, pelo que t em um a ideia clara de qual a solução legal do caso. Tem at é m esm o
a possibilidade de explicar o direit o aplicável às part es.

Cont udo, a circunst ância de t er um a opinião quant o à m elhor solução para o caso ( que at é
pode não ser a legal) não significa que o m ediador t ent e im por essa solução às part es.

É aliás apenas com est e alcance que t em de ser ent endido, e que est á pr evist o na Lei da
Mediação, o princípio da neut ralidade. Não é possível exigir ao m ediador que não t enha
convicções ou opiniões quant o à solução do caso 48 . Apenas lhe é exigido que não procure, à
luz das suas opiniões, influenciar ou im por det erm inada solução às part es ( art . 26.º - b) da Lei
da Mediação) .

Pode, ainda, colocar- se a quest ão de saber se a circunst ância de o m ediador poder


apresent ar propost as im pede a qualificação da m ediação de consum o com o verdadeira
m ediação.

Para que exist a m ediação, o aspet o essencial é o de m ediador se encont rar no m esm o nível
do que as part es, sem poderes de aut oridade, m ant endo est as t ot al liberdade em t odas as
fases do processo. A part ir daí, podem exist ir vários níveis de int ervenção do m ediador,
j ust ificando- se um a post ura m ais at iva nuns casos e m ais passiva nout ros49 . Dist ingue- se,
ent ão, a ev aluat ive m ediat ion da facilit at ive m ediat ion 50 , sendo que a prim eira prevê a
possibilidade de o m ediador apresent ar propost as de solução do conflit o.

Refira- se, ainda, que um a das vant agens da m ediação é a flexibilidade do processo 51 , pelo
que o m ediador dev e t er a possibilidade de int er vir m ais ou m enos, conform e considere
adequado ao caso.

Nada na Lei da Mediação im pede a form ulação de propost as de acor do dirigidas aos
m ediados52 . O art . 26.º - b) da Lei da Mediação apenas det erm ina que o m ediador deve
“ abst er- se de im por qualquer acordo aos m ediados” . A im posição de um acordo pressupõe
que se exerce algum t ipo de pr essão para que esse acordo sej a aceit e, o que não é aceit ável
na m ediação, um a vez que cont ende com o princípio da volunt ariedade. A m era form ulação
de propost as de acordo, pelo cont rário, não cont ende com aquele princípio53 .

47
JOANA CAMPOS, “ O Princípio da Confidencialidade na Mediação” , 2009, p. 318, e MI CHÈLE GUI LLAUME- H OFNUNG, La
Médiat ion, 2007, p. 74.
48
Acerca da dificuldade de cont rolar a neut ralidade, MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de
Lit ígios, 2014, p. 61.
49
JOANA CAMPOS, A Conciliação Judicial, 2009, p. 12.
50
V. MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de Lit ígios, 2014, p. 49, e ALESSANDRA ANGI ULI ,
“ Modelli di Conciliazione com Consum at ori e Ut ent i” , 2007, p. 81.
51
Cfr. PATRÍ CI A DA GUI A PEREI RA, “ A Adequação dos Meios de Resolução Alt ernat iva, em Especial da Mediação,
aos Conflit os de Consum o” , 2009, p. 191.
52
Em sent ido cont rário, MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de Lit ígios, 2014, p. 49,
ent ende que “ a noção puram ent e assist encial ou facilit adora da m ediação é a at ualm ent e est abelecida no
ordenam ent o j urídico port uguês” , result ando t al opção do art . 26.º - b) da Lei da Mediação.
53
JOANA CAMPOS, A Conciliação Judicial, 2009, p. 12.

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Concluím os, pelo expost o, que a m ediação de consum o t em carat eríst icas próprias, m as que
essas carat eríst icas não im pedem a sua qualificação com o m ediação. Nenhum a das
carat eríst icas analisadas im pede o preenchim ent o do conceit o de m ediação da Lei da
Mediação, nem cont ende com os princípios fundam ent ais aí delineados.

Daqui decorre que, na ausência de norm a especial na Lei n.º 144/ 2015, devem aplicar- se as
norm as gerais da Lei da Mediação.

Aplicam - se, a t ít ulo de exem plo, as norm as referent es aos direit os e deveres dos m ediadores
ou a norm a do art . 9.º da Lei da Mediação, relat iva à execut oriedade do acordo de m ediação.

Pelo cont rário, não se aplicam , por exem plo, as norm as da secção I I I , que regulam o
procedim ent o de m ediação, um a vez que prev alecem as norm as especiais da Lei n.º
144/ 2015 quant o às regras do procedim ent o, designadam ent e o art . 12.º - 1, que est abelece
que “ as part es devem ser t rat adas de form a equit at iva durant e t odo o procedim ent o de RAL,
devendo as regras do procedim ent o respeit ar os seguint es princípios [ ...] ” . Ora, ao
est abelecer as regras do procedim ent o por referência apenas aos seus lim it es t orna- se claro
que a lei pret ende at ribuir com pet ência a quem organiza os procedim ent os de RALC,
nom eadam ent e aos cent r os de ar bit ragem de conflit os de consum o, para cr iarem as regras
m ais adequadas ao procedim ent o de m ediação t endo em cont a as carat eríst icas desse
cent ro, dent r o dos lim it es considerados fundam ent ais54 .

3 .2 . Su spe n sã o dos pr a zos de ca du cida de e de pr e scr içã o

O nosso ordenam ent o j urídico cont ém várias norm as que pr eveem a suspensão dos pr azos
de caducidade e de pr est ação durant e a t ent at iva de resolução ext raj udicial do lit ígio.

O art igo 13.º - 2 da Lei da Mediação ( Lei n.º 29/ 2013, de 19 de abril) est abelece que “ o
recurso à m ediação suspende os prazos de caducidade e pr escrição a part ir da dat a em que
for assinado o prot ocolo de m ediação ou, no caso de m ediação realizada nos sist em as
públicos de m ediação, em que t odas as part es t enham concordado com a realização da
m ediação” 55 .

O Decret o- Lei n.º 67/ 2003 56 , que regula a venda de bens de consum o, det erm ina que, “ caso
o consum idor t enha efet uado a denúncia da desconform idade, t rat ando- se de bem m óvel, os
direit os at ribuídos ao consum idor nos t erm os do art igo 4.º caducam decorridos dois anos a

54
A propósit o da não aplicação t am bém das norm as relat ivas à convenção de m ediação v ., infra, pont o 3.2.
55
O art . 14.º - 3 da Lei n.º 144/ 2015 det erm ina que “ à conciliação aplica- se, com as necessárias adapt ações, o
dispost o no art igo 13.º da Lei n.º 29/ 2013, de 19 de abril, quant o ao regim e de suspensão dos prazos de
caducidade e de prescrição” . Deve not ar- se que “ conciliação” , nest e preceit o, é ut ilizado em sent ido não
t écnico, para designar a m ediação realizada pelo diret or dos cent ros de arbit ragem . Est a referência legal é
desnecessária, um a vez que est am os aqui perant e um caso de m ediação. Nest e sent ido, cfr. JOÃO PEDRO PI NTO-
FERREI RA, “ A Resolução Alt ernat iva de Lit ígios de Consum o no Cont ext o da Lei n.º 144/ 2015” , 2016, p. 10 ( no
prelo) . Com efeit o, o t erceiro, nest e caso diret or do cent ro, não t em qualquer poder sobre as part es, elem ent o
carat erizador da conciliação ( e que a dist ingue da m ediação) . Para a dist inção ent re m ediação e conciliação, cfr.
JOANA CAMPOS, A Conciliação Judicial, 2009, pp. 12- 15.
56
Decret o- Lei n.º 67/ 2003, de 8 de abril, alt erado pelo Decret o- Lei n.º 84/ 2008, de 21 de m aio.

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cont ar da dat a da denúncia e, t rat ando- se de bem im óvel, no prazo de t rês anos a cont ar
dest a m esm a dat a” ( art . 5.º - A- 3) , est at uindo o n.º 4 do m esm o preceit o que “ o prazo
referido no núm ero ant erior suspende- se durant e o período em que [ …] durar a t ent at iva de
resolução ext raj udicial do conflit o de consum o que opõe o consum idor ao vendedor ou ao
produt or, com exceção da arbit ragem ” .

Est a norm a, int roduzida pelo Decret o- Lei n.º 84/ 2008, t em grande relevância, não só porque
perm it e que a t ent at iva de resolução do lit ígio não se encont re pressionada pelo prazo de
caducidade, m as t am bém pelo carát er pedagógico da referência, dando a conhecer ao
consum idor a exist ência de form as m ais rápidas, económ icas e eficazes para a resolução do
conflit o em com paração com os t ribunais j udiciais. Not e- se que se incluem nest e preceit o as
negociações com o produt or, esclarecendo- se assim que a circunst ância de o consum idor se
dirigir diret am ent e a est e não afast a o exercício dos direit os perant e o vendedor. A norm a
exclui a arbit ragem , por se t rat ar de um m odo adversarial em que o t erceiro decide, t endo a
sua decisão o m esm o valor do que a de um t ribunal est adual. Logo, iniciado o processo
arbit ral dent ro do prazo, o direit o considera- se ex ercido t em pest ivam ent e ( art . 331.º - 1 do
CC) .

A j á referia Lei n.º 23/ 96, que regula os serviços públicos essenciais, t am bém pr evê
expressam ent e a suspensão dos prazos para a proposit ura da ação. Assim , o art . 15.º - 2
est abelece que, “ quando as part es, em caso de lit ígio result ant e de um serviço público
essencial, opt em por r ecorrer a m ecanism os de resolução ext raj udicial de conflit os,
suspendem - se, no seu decurso, os prazos previst os nos n. os 1 e 4 do art igo 10.º ” 57 .

A principal quest ão que im port a discut ir relat ivam ent e aos lit ígios de consum o consist e em
saber em que m om ent o se inicia a t ent at iva de resolução ext raj udicial. Será que bast a a
iniciat iva de um a das par t es para que se possa considerar que j á est á a ser “ t ent ada” a
resolução ext raj udicial? Será que a suspensão deve ser equiparada à int errupção ( da
prescrição) , sendo necessária a not ificação da cont rapart e, nos t erm os dos art s. 323.º e
324.º do CC? Será que é necessário o acordo das part es, consubst anciado na celebração de
acordo de m ediação?

Segundo a Lei da Mediação, a suspensão ocorre, em princípio, a part ir da dat a da celebr ação
do cont rat o de m ediação, a qual “ deve adot ar a form a escrit a, considerando- se est a
exigência sat isfeit a quando a convenção const e de docum ent o escrit o assinado pelas part es,
t roca de car t as, t elegram as, t elefaxes ou out ros m eios de t elecom unicação de que fique
prova escrit a, incluindo m eios elet rónicos de com unicação” ( art . 12.º - 2) . Est a regra poder á
não ser adequada à m ediação de consum o, um a vez que nest a não exist e, em regra, um
cont rat o escr it o de m ediação, desenrolando- se a t ent at iva de resolução do lit ígio de form a
bast ant e inform al. Est e é um dos aspet os fundam ent ais, aliás, para o sucesso da m ediação
de consum o. Apesar de não est arm os aqui perant e um sist em a público de m ediação, pode
aplicar- se, por corresponder ao espírit o da norm a, a part e final do art . 13.º - 2, considerando-

57
Est a regra dev e considerar- se igualm ent e aplicáv el ao prazo de caducidade consagrado no art . 10.º - 2 do
m esm o diplom a, por nada o dist inguir, de um pont o de v ist a lógico, ao prazo de prescrição do art . 10.º - 1.

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se suspensos os prazos a part ir do m om ent o “ em que t odas as part es t enham concordado
com a realização da m ediação” .

Trat ando- se de um lit ígio relat ivo a venda de bens de consum o ou a serviços públicos
essenciais, aplicam - se as j á cit adas norm as dos r espet ivos regim es, que são especiais em
relação à Lei da Mediação, prevalecendo sobre est a.

Se o art . 15.º - 2 da Lei n.º 23/ 96 pouco adiant a relat ivam ent e ao problem a que aqui se
pret ende r esolver, em bora pareça pr essupor um acordo ( “ as part es [ …] opt em ” ) , o Decr et o-
Lei n.º 67/ 2003 cont ém um a norm a específica que incide sobre est a quest ão. Assim , o art .
5.º - A- 5 est abelece que “ a t ent at iva de resolução ext raj udicial do lit ígio inicia- se com a
ocorrência de um dos seguint es fact os: a) as par t es acor dem no sent ido de subm et er o
conflit o a m ediação ou conciliação; b) a m ediação ou a conciliação sej a det erm inada no
âm bit o de processo j udicial; c) Se const it ua a obrigação de recorrer à m ediação ou
conciliação” .

Not a- se que a alínea b) apont a no sent ido de que o j uiz pode im por o recurso à m ediação no
âm bit o de um processo j udicial.

No que respeit a à alínea c) , a inserção da m ediação obrigat ória no conceit o de m ediação


const it ui um a solução m uit o discut ível, na m edida em que um dos princípios basilares dest e
m eio de resolução de conflit os é a volunt ariedade ( art . 4.º da Lei da Mediação) e est a
encont ra- se com prom et ida a part ir do m om ent o em que a presença das part es é
obrigat ória 58 . Em qualquer caso, se havia um a cláusula de m ediação ou a adesão plena a um
cent ro, deve considerar- se que exist e a obrigação de recorrer à m ediação, para efeit o dest a
norm a, bast ando a iniciat iva do consum idor para a suspensão do prazo. A dout rina diverge
quant o à consequência dest as cláusulas, podendo gerar um direit o pot est at ivo ou t er efeit os
m eram ent e obrigacionais59 , m as em qualquer dos ent endim ent os preenche- se a alínea c) .

Além dos casos em que a m ediação é im post a, a suspensão dá- se quando as part es acordem
no sent ido de subm et er o lit ígio a m ediação ( alínea a) ) . Com o j á se referiu, a prát ica da
m ediação de conflit os de consum o m ost ra que est a t em car at eríst icas específicas face à
m ediação em geral 60 , não exist indo norm alm ent e um acordo prévio de m ediação. Nest e
sent ido, deve ent ender- se que há acordo, para efeit os dest a norm a, sem pre que o
consum idor subm et e o caso a um a ent idade de r esolução de lit ígios e o profissional aceit a
t acit am ent e o processo, respondendo à solicit ação dessa ent idade 61 .

A t ent at iva de resolução ext raj udicial do lit ígio finda por um a das razões indicadas no art .
13.º - 3 da Lei da Medição, ret om ando- se nesse m om ent o os prazos de prescrição e de
caducidade. Em prim eiro lugar, conclui- se o processo de m ediação na sequência da recusa

58
JORGE MORAI S CARVALHO, “ A Consagração Legal da Mediação em Port ugal” , 2011, p. 281. Adm it indo com o
“ hipót ese a experim ent ar” : MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de Lit ígios, 2014, p. 71.
59
PAULA COSTA E SI LVA, A Nova Face da Just iça – Os Meios Ext raj udiciais de Resolução de Cont rovérsias, 2009,
pp. 63 a 70; MARI ANA FRANÇA GOUVEI A, Curso de Resolução Alt ernat iva de Lit ígios, 2014, pp. 63 a 70.
60
MARI ANA FRANÇA GOUVEI A e JORGE MORAI S CARVALHO, “ A Experiência da UMAC na Mediação de Conflit os de
Consum o” , 2006, p. 38.
61
JORGE MORAI S CARVALHO, Manual de Direit o do Consum o, 2014, pp. 244 e 245.

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de um a das part es ou de am bas em cont inuar com o procedim ent o. At é pode t er sido
alcançado um acordo parcial, m as cont inua a subsist ir um lit ígio ent re as part es, volt ando a
correr os pr azos de pr escrição e de caducidade. Em segundo, o esgot am ent o do pr azo
m áxim o do procedim ent o det erm ina aut om at icam ent e o t erm o da suspensão do prazo de
prescrição ou de caducidade. Nos lit ígios de consum o, est a nor m a deve ser art iculada com o
art . 10.º - 5 da Lei n.º 144/ 2015, que est abelece que “ os procedim ent os de RAL devem ser
decididos no prazo m áxim o de 90 dias a cont ar da dat a em que a ent idade de RAL receba o
processo de reclam ação com plet o” . O art . 10.º - 6 da Lei n.º 144/ 2015 adm it e que “ o pr azo
referido no núm ero ant erior pode ser prorrogado, no m áxim o por duas v ezes, por iguais
períodos, pela ent idade de RAL, caso o lit ígio revele especial com plexidade, devendo as
part es ser inform adas da prorrogação do prazo e do t em po necessário previst o par a a
conclusão do procedim ent o de RAL” . Se não se v erificar a pr orrogação, a suspensão dos
prazos cessa com o decurso do prazo de 90 dias a cont ar da dat a da receção do processo de
reclam ação com plet o. Em t erceiro lugar, a suspensão cessa quando o m ediador assim o
det erm inar.

Para conseguir fazer prova dos fact os gerador es da suspensão do prazo, que devem ser
com provados pelo cent ro ( art . 13.º - 5 da Lei da Mediação) , qualquer das part es pode
requerer ao cent ro a em issão de um docum ent o com provat ivo ( art . 13.º - 6) . Ao cont rário do
que parece r esult ar da let ra do preceit o, o cent ro não em it e um docum ent o “ com provat ivo
da suspensão dos prazos” , um a vez que a suspensão de um pr azo é um a quest ão de direit o,
result ant e de um a qualificação j urídica, que não cabe ao cent ro ( nem ao m ediador, que não
t em de ser j urist a) , devendo est e lim it ar- se a indicar fact os. Os fact os são os indicados nas
várias alíneas do art . 13.º - 6, que deve ser obj et o de um a int erpret ação rest rit iva:
ident ificação das part es; ident ificação do obj et o da m ediação ( por refer ência ao pedido
efet uado ou ao seu alargam ent o post erior, para verificação do âm bit o da suspensão) ; dat a
do acor do de m ediação, nos t erm os referidos nos parágrafos ant eriores ( ou sej a, na
m ediação de consum o, em princípio, a dat a da respost a da em presa, part icipando no
processo) ; dat a de conclusão do pr ocesso. O m odo de conclusão do processo, sendo
irrelevant e para a análise da quest ão da suspensão do prazo e colocando a causa os
princípios da confidencialidade e, em part icular, da volunt ariedade62 , não deve, em regra, ser
indicado.

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