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Resumo: O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado não se trata apenas do plano
ecológico, visto que, nas ciências jurídicas, o meio ambiente tem função social intrínseca ao
desenvolvimento da sociedade em todas as suas nuances, sobretudo quando se trata de bem-
estar e qualidade de vida. Dentro dessa abordagem, destaca-se uma situação bastante comum
em cidades de todo o globo, especialmente brasileiras, qual seja a poluição visual imposta por
concessionárias de energia elétrica ao expor emaranhados de fios nas redes aéreas de energia.
O presente artigo tem a finalidade de analisar o comportamento das concessionárias de energia
elétrica brasileiras frente aos dispositivos legais que versam sobre poluição visual. De forma
mais específica, se pretende analisar a legislação infraconstitucional vigente que versa sobre
poluição visual; investigar se existe afronta, por parte destas concessionárias, a estas
legislações; e propor as medidas cabíveis para adequação da realidade às normas existentes. A
metodologia utilizada neste trabalho classifica-se como qualitativa, com revisão bibliográfica,
identificada pela análise documental de leis, artigos e doutrinas encontradas em bases de dados
como Web of Science, Google Acadêmico e periódicos científicos pertinentes a temática sobre
poluição visual por redes aéreas de energia, preferencialmente entre os anos de 2015 a 2021.
Abstract: The right to an ecologically balanced environment is not just about the ecological
plan, since, in the legal sciences, the environmental has a social function intrinsic to the
development of society in all its nuances, especially when it comes to well-being and quality of
life. Within this approach, a very common situation is highlighted in cities all over the globe,
especially in Brazil, which is the visual pollution imposed by electricity concessionaires when
exposing bundles of wires in the aerial energy networks. This article aims to analyze the
behavior of brasilian electric utilities in the face of legal devices that deal with visual pollution.
More specifically, whether it intends to analyze existing infraconstitucional legislation dealing
with visual pollution; investigate whether these dealers are infringing these laws; and propose
appropriate measures to bring reality into line with existing standards. The methodology used
in this work is classified as qualitative, with bibliographic review, identified by the
documentary analysis of laws, articles and doctrines found in databases such as Web of Science,
Google Academic and
1
Acadêmico do curso de Direito da Universidade Potiguar (UnP) da rede Ânima de Educação. E-mail:
wilderlan11@hotmail.com; izabellyaraujo10@hotmail.com. Artigo apresentado como requisito parcial para a
conclusão do curso de Graduação em Direito da Universidade Potiguar (UnP) da Rede Ânima de Educação.
2022. Orientadora: Prof. Islamara da Costa, Mestranda em Psicologia, Especialista em Direito Tributário e
docente da Faculdade de Direito (UnP).
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scientific journals relevant to the topic of visual pollution by aerial energy networks, preferably
between the years 2015 to 2021.
1. INTRODUÇÃO
Deparar-se com postes que fornecem energia elétrica em áreas urbanas, principalmente
de grandes metrópoles, é uma realidade bastante comum, sobretudo quando estes suportam uma
carga exacerbada de fios, e com alinhamento desregulado, sendo possível encontrar facilmente
fiações soltas ou em altura passível de causar acidentes.
Faz-se necessário esclarecer, no entanto, que a situação atual da má organização da
fiação que há nos postes que levam eletricidade até os imóveis não se dá somente em virtude
do trabalho das concessionárias de energia elétrica. Os fornecedores de serviços como internet,
televisão à cabo e telefonia fixa, contribuem significativamente para a desordem que é
encontrada. No entanto, mister ressaltar que o presente trabalho se atém tão somente às
concessionárias de energia elétrica, podendo aplicar assim o princípio da simetria para a
responsabilidade dos demais prestadores de serviço retro citados.
Há em vigência na legislação infraconstitucional brasileira a Lei nº 6.938/1981,
responsável por dispor acerca da Política Nacional do Meio Ambiente, que regulamenta o uso
de diversos modos de atuação das mais variadas vertentes de serviços, inclusive acerca da
poluição visual, dispondo sobre sanções passíveis de serem aplicadas caso haja
descumprimento do regulamentado.
Não obstante apenas a legislação infraconstitucional, é necessário destacar o capítulo
VI da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o qual trata exclusivamente do
meio ambiente, como também outros artigos do texto constitucional que, embora não façam
parte do capítulo, tratam de matéria ambiental, buscando salvaguardar os recursos naturais e a
qualidade do meio ambiente.
É de conhecimento público que os dispositivos, sobretudo quando se trata de matéria
ambiental, são frequentemente descumpridos e as punições não são postas em prática, o que
leva, consequentemente, a repetição das infrações que vão muito além do desrespeito ao Direito
Ambiental e à legislação supracitada, uma vez que deixam a população exposta a possíveis
acidentes elétricos – não tão raros de acontecer – em virtude da falta de segurança.
Nesse caso, é indispensável uma análise acerca da funcionalidade desta lei e da possível
omissão no tocante às infrações cometidas pelas concessionárias de energia elétrica, bem como
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pelas demais prestadoras de serviço que fazem uso de fiações externas para que seja possível
entregar o que foi ofertado aos seus clientes.
Nessa esteira, o presente estudo debruçar-se-á sobre a legislação mencionada em supra,
bem como a postura das prestadoras de serviço acerca do tema ambiental, buscando investigar
casos de omissão e o porquê destes. Não sendo o bastante, tratar-se-á sobre os riscos a que
ficam expostos a população e a poluição visual causada pela desorganização no ato da
instalação e a falta de fiscalização posterior, a fim de verificar se há cumprimento das normas
estabelecidas.
Desse modo, trata-se de uma pesquisa qualitativa, tendo em vista seu caráter de
investigação bibliográfica sobre o tema, objetivando chegar a uma resposta para a omissão
presenciada hodiernamente e propor uma solução para que as distribuidoras de energia elétrica
sigam as recomendações para o melhor estado da população no que concerne à possíveis riscos
e ao meio ambiente.
É necessário deixar claro que a presente pesquisa não se propõe ao esgotamento da
temática, muito menos apresentar novas metodologias para implantação de redes aéreas de
energia. O intuito aqui é apresentar situações conflitantes com a legislação ambiental
vivenciadas hodiernamente e que, por vezes, não são percebidas pela sociedade ou são
ignoradas.
2.1 CONCEITO
Inicialmente, vale destacar que o termo “poluição visual” vem sendo construído ao
longo do tempo. A literatura destaca que desde meados do século XIX surgem tipos variados
de poluição, destacando a poluição hídrica e atmosférica, os quais têm efeitos nocivos ao meio
ambiente. A partir da década de 1970 foram surgindo instrumentos normativos em todo o globo
que apresentavam outros tipos de poluição, v.g. poluição luminosa e visual, exigindo-se o seu
cumprimento por parte das autoridades estaduais e municipais. Sobre isso, a Suprema Corte dos
EUA entendeu que a poluição não se restringe apenas à atmosfera e aos recursos hídricos, de
maneira que também pode ofender o campo visual e auditivo (WAKIL, 2019).
Desde então, muito se discute, principalmente nos países desenvolvidos, acerca da
poluição visual e seus impactos na sociedade, sobretudo na saúde e segurança social. Este tipo
de poluição pode ser conceituado nos termos de Choudhary (2016) e Wakil (2019), os quais
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concordam que é o tipo de poluição que agride a visão humana, o espaço urbano, a saúde física
e mental dos indivíduos, além de causar sérios problemas de ordem econômica na sociedade.
Ainda sobre seu conceito, Jana (2015) e Chmielewski et al (2016), em pesquisa acerca
da poluição visual e seus efeitos na comunidade urbana e suburbana de Bengala, na Índia, trata
a poluição visual como a variedade e o acúmulo de materiais das mais variadas formas, cores e
tamanhos, sem qualquer tipo de ordenamento na paisagem urbana, havendo assim completa
desordem visual, o que compromete a qualidade paisagística.
Não obstante aos conceitos apresentados pelos autores acima, mister se faz deixar claro
que o conceito do termo “poluição visual” não se comunica inteiramente com a definição de
desordem em uma determinada localidade. Sobre isso, Marco et al (2015) assevera que em
determinados bairros podem haver quebra de ordem de determinados objetos ou do controle
social, o que pode vir a prejudicar a qualidade de vida, como veículos abandonados, imóveis
deteriorados etc., e mesmo assim não configurar poluição visual. Conforme assevera Portella
(2014), em pesquisa na cidade de Londres, a poluição visual está ligada a ordem e simetria dos
espaços públicos da sociedade.
É inegável que o crescimento populacional traz consigo a necessidade de maior
desenvolvimento no que se refere à urbanização, sobretudo quando considerado também a
imprescindibilidade de resposta para as complexas demandas urbanas no cenário global.
Em alguns países o crescimento urbano está associado a muitos outros fatores, sobretudo
a dinâmica econômica que este vivencia, sendo necessário um plano de prestação de serviços
bem delineado, sob o risco de degradação da paisagem urbana, e.g., redes aéreas de energia,
fios pendurados de telefonia, internet etc. Desta feita, a poluição visual, em contraste com outras
espécies de poluição, vem sendo corriqueiramente negligenciada no desenvolvimento urbano
(WAKIL et al, 2019).
Outrora, os princípios eram vistos apenas como um norteador para a tomada de decisões
jurídicas, no entanto, após o pós positivismo, foram tomados por uma força legal muito mais
latente, fazendo-se presentes tanto quanto as leis, dotados de força, no ordenamento jurídico
pátrio:
A cada dia reconhece-se mais e mais a importância dos princípios para o mundo do
direito. Se em um dado momento da evolução da ciência jurídica eram eles vistos —
no mesmo patamar dos costumes e da analogia — como mera fonte de integração (ou
seja, mecanismos para suprir as lacunas da lei), hoje não mais se nega sua força
normativa.
Em outras palavras, os princípios, especialmente com o advento do chamado pós-
positivismo, são hoje reconhecidos como verdadeiras normas jurídicas, capazes de
criar direitos, obrigações, etc., nas mais variadas situações concretas, ainda que não
seja constatada qualquer lacuna (RODRIGUES, 2021, p. 160).
Na mesma esteira, Ingo Wolfgang Sarlet e Tiago Fensterseifer (2021) asseveram que:
deva ser acessada em último caso, visto que há inúmeras divergências, inclusive no que tange
ao entendimento doutrinário sobre os mais variados temas ambientais.
Em que pese o Direito Ambiental voltar-se para a preservação do meio ambiente, como
fica evidente no próprio nome, há também uma preocupação para com o ser humano, uma vez
que todos os impactos ambientais gerados, sejam eles positivos ou negativos, repercutem na
sociedade como um todo, gerando maior ou menor qualidade de vida. Dessa forma, vejamos o
que assevera Antunes (2019):
Deste modo, fica evidente que apesar de a fauna e a flora serem de relevância
imensurável no estudo do Direito Ambiental – pois sem essa preocupação, sequer faria sentido
-, a maior preocupação é o bem-estar humano para esta e para as próximas gerações:
Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações (BRASIL, 1988).
Pode-se considerar, portanto, que a prevenção atua no sentido de inibir o risco de dano
em potencial (atividades sabidamente perigosas), enquanto a precaução atua para
inibir o risco de perigo potencial (ou seja, o dano em abstrato). Quando se fala em
processos e procedimentos preventivos das políticas públicas, na tomada de decisões
referentes ao meio ambiente, mostra-se clara a presença do princípio da precaução,
pois sua adoção se impõe por meio de medidas de fomento, ainda que o evento não
seja provável nem previsível, bastando para tanto que haja incerteza quanto à
verificação do risco, não precisando que seja conhecido, sequer cognoscível. O
princípio da precaução apresenta um resultado mais evidente do que o da prevenção,
haja vista a aplicação daquele ocorrer em momento anterior ao conhecimento das
consequências do dano ambiental, enquanto este somente se dá em uma fase posterior,
quando o risco se converte em dano. No princípio da prevenção já existem elementos
seguros para afirmar se a atividade é efetivamente perigosa, não se podendo mais
falar, nesta fase, de um perigo em abstrato, visto que deixou de ser potencial para ser
real e atual (TRENNEPOHL, 2020, p. 55).
Ainda que reste claro que o homem é o centro da discussão sobre o Direito Ambiental,
é essencial tratar da sua relação para com este, de modo a não dar robustos direitos ao ser
humano em detrimento do meio ambiente.
Conforme ensinam Ingo Wolfgang Sarlet e Tiago Fensterseifer (2021), o princípio da
função ambiental (ou ecológica) da propriedade é classificada como um princípio geral do
Direito Ambiental, tornando-se indispensável a sua aplicação no que tange aos deveres dos
cidadãos para com o meio ecológico:
Conforme dispõe o texto constitucional, no que tange à propriedade rural (mas tais
diretrizes normativas também se aplicam em certo sentido à propriedade urbana), a
sua função social é cumprida quando atendidos aos seguintes requisitos, conforme
disposição expressa do art. 186 da CF/1988:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações
de trabalho; e
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores (SARLET e FENSTERSEIFER, 2021, p. 576).
(...) as constituições que antecederam à atual Carta, deram ao tema meio ambiente um
tratamento esparso e com enfoque voltado para a infraestrutura da atividade
econômica, e a sua regulamentação legislativa teve por escopo priorizar a atividade
produtiva, independentemente da conservação dos recursos naturais. A Constituição
de 1988 não desconsiderou o meio ambiente como elemento indispensável e que
servira de base para o desenvolvimento da atividade de infraestrutura econômica. Ao
contrário, houve um aprofundamento das relações entre meio ambiente e a
infraestrutura econômica, pois, nos termos da Constituição de 1988, é reconhecido
pelo constituinte originário que se faz necessária a proteção ambiental de forma que
se possa assegurar uma adequada fruição dos recursos ambientais e um nível elevado
de qualidade de vida às populações (ANTUNES, 2019, p. 33).
Sobre isto, resta claro que anteriormente, a matéria ambiental não dispunha de
relevância social, visto que o contexto histórico e cultural de cada Constituição anterior não
demandava a necessidade de proteção ambiental, ou pelo menos era essa a visão social
vivenciada até então. Sobre isto, Farias (2021) apresenta a gradativa evolução do Direito
Ambiental na atual Constituição de 1988 em fases: a primeira fase é marcada pela falta de
normas e dispositivos de tutela ambiental, marcando a falta de preocupação com o meio
ambiente até meados da década de 1930; a segunda fase é marcada pelo surgimento de
imposições normativas que controlam as atividades de extração de recursos naturais; e a terceira
fase é marcada pela promulgação da atual Constituição de 1988, a qual compreende o meio
ambiente como um todo e com suas partes interdependentes, por isso o desiderato de defesa
ambiental.
Dessa forma, tem-se que a Constituição de 1988 foi a primeira a tratar da matéria
ambiental de forma protetiva por entender que o meio ambiente necessita da tutela jurídica, e
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não mais por mera necessidade econômica. Nessa linha, se apresenta o entendimento de Farias
(2021), o qual aduz que:
Restou claro que o legislador permitiu que os municípios legislassem sobre suas
temáticas locais, sobretudo no que diz respeito à organização dos serviços de interesse local, a
exemplo da distribuição de energia elétrica. Logo, o município tem total autonomia para definir
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a forma como as redes de energia são instaladas, principalmente de modo a evitar a poluição
visual.
Com isso, se pode entender que muito embora se fale em proteção dos recursos naturais,
a atual Constituição tutela a qualidade de vida, que por vezes está atrelada ao conforto visual
ofertado pelas paisagens do ambiente urbano que vem sendo colocado em risco em razão da má
organização dos fios das redes elétricas e afins.
A Lei Federal n° 6.938/81 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA),
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Como se pode
notar, a PNMA foi editada bem antes da promulgação da Carta Magna de 1988, o que implica
dizer que a referida lei foi recepcionada pela Constituição vigente e, portanto, integralmente
constitucional (BRASIL, 1981).
A Lei retro citada representa um verdadeiro divisor de águas no que se refere ao Direito
Ambiental brasileiro, uma vez que apresenta delineamentos e dispositivos gerais que versam
sobre a proteção jurídica ambiental. Sobre isto, SARLET (2021) aduz o seguinte:
Sobre tema em análise, não se poderia seguir sem antes apresentar o conceito de
poluição posto no art. 3º, inciso III da PNMA, qual seja:
Com isto, é necessário verificar se as redes aéreas de energia, com seus fios e seu
desordenamento estético, vai de encontro ao posto na Lei Federal. Sendo assim, destaca-se que
as redes aéreas de energia: é capaz de prejudicar a segurança e o bem-estar da população, uma
vez que imóveis com crescimento vertical se depararem com fios próximos a varandas e janelas,
o que aumenta o risco de acidentes, sobretudo em dias chuvosos; não criam condições adversas
às atividades sociais e econômicas, visto que é necessário se ter rede de energia, inclusive para
desenvolver atividades econômicas; não afetam desfavoravelmente a biota; e não lançam
energia ou matéria em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.
Mesmo não se enquadrando em várias alíneas do art. 3º da referida Lei, não se pode
deixar passar o enquadramento nas alíneas a e d, uma vez que de forma exposta, os fios e a rede
elétrica aérea colocam em risco a segurança e a saúde pública, visto a grandes chances de
acidentes em razão da proximidade das pessoas com os postes e fiação.
Ainda sobre o rol elencado pelo art. 3º, III, não resta qualquer dúvida o enquadramento
da referida atividade das concessionárias na alínea d, uma vez que os prejuízos estéticos se
constituem a partir do desordenamento da rede e o emaranhado de fios que ficam expostos,
danificando a paisagem estética dos ambientes públicos. Contudo, não se pode deixar de anotar
a percepção de Pereira Júnior (2002), o qual assevera que prejuízos estéticos é uma questão
subjetiva, e que em muito depende de perspectivas culturais, o que dificulta sua definição em
alguma norma legal.
Não obstante ao seu pensamento, de certo modo, negativo acerca da edição de norma
legal que defina a poluição visual por determinadas atividades, o mesmo autor afirma que não
resta dúvida sobre a competência exclusiva do município de legislar sobre a ocupação do solo
urbano de forma geral, atendo-se este último apenas a observância das normas gerais da União,
cujo dever é proteger o meio ambiente de lato sensu.
Sobre isto, a cidade de São Paulo também sofre com a excessiva publicidade e
propaganda das lojas em geral, ocasionando problemas na harmonia paisagística e colocando
em dúvida a qualidade visual dos espaços públicos urbanos. Este tipo de poluição vem afetando
de forma gradual a sociedade, se espalhando de forma lenta, mas que vem ganhando
notoriedade a cada dia, visto com mais ênfase nas grandes cidades, mas com bastante ocorrência
em pequenos municípios (BARROS, 2019).
As grandes metrópoles começam a enxergar essa desordem paisagística como algo
negativo para a sociedade, o que de fato é, e alguns entes federados já trabalham no sentido de
instituir em seu arcabouço jurídico normas que disciplinam a matéria. A exemplo disto, com o
intuito de coibir a prática, a Câmara Municipal de São Paulo instituiu a Lei nº 14.223/06 que
versa sobre a ordenação dos elementos que compõem a paisagem urbana da cidade, a qual já
foi regulamentada e detalha com mais cuidado a ordenação de vários elementos (BARROS,
2019). Sobre os objetivos da referida Lei Municipal do município de São Paulo, temos o
seguinte artigo:
Não obstante apenas a poluição visual causada por excesso de anúncios, banners e
outros meios de propaganda, os objetivos da Lei citada no parágrafo anterior, deixam claro o
objetivo de proteger os valores estéticos, culturais e ambientais da população, não podendo se
falar apenas em poluição por parte de propagandas, mas todo e qualquer tipo de poluição visual.
Sobre isso, Santos (2021) assevera que a cidade não pode ser apenas um ambiente para
negócios tal qual um mercado, onde sua paisagem seja sacrificada em detrimento de interesses
econômicos, se fazendo necessário tutelar a qualidade ambiental paisagística e o conforto visual
que esta proporciona para a sociedade.
No Sul do Brasil, mais especificamente na cidade de Chapecó, Estado de Santa Catarina,
também é bastante comum a poluição visual por cartazes, anúncios e outros meios de
divulgação ou propaganda, colocando em risco as edificações históricas e comprometendo suas
características originais (PAIM, 2021).
Em Brasília, Brasil, os problemas quanto a poluição visual são quase os mesmos:
outdoors, cartazes, ambulantes amontoados em um mesmo local, placas e faixas sem qualquer
tipo de ordenamento e propagandas visuais sem qualquer tipo de sistematização (AMARAL,
2006).
Com base nos exemplos citados, se pode perceber que uma grande parte da sociedade
relaciona a poluição visual apenas com a forma desordenada de propagandas, letreiros de
grande porte, faixas, cartazes e outros artifícios visuais de propaganda, deixando passar
despercebido outros tantos agentes desta espécie de poluição, como é o caso das redes aéreas
de energia elétricas e seus fios desordenados e emaranhados.
Muito embora não existam muitas pesquisas científicas que apontem a poluição visual
por parte das redes aéreas de energia, é fácil de encontrar debates sobre a paisagem urbana e os
excessos de fios na rede aérea de distribuição. Sobre isto, Trevisan (2020), assevera que as
agências reguladoras, através de normas técnicas, estabelecem um limite de pontos de fixação,
mas, na prática, esse limite não é respeitado, e os postes são os mais afetados, com emaranhados
de fios de rede elétrica, telefonia internet, etc.
Ibidem, o debate sobre a temática é necessário, visto que a longo prazo, as
concessionárias e operadoras de telefonia podem, de forma gradual, transformar as redes aéreas
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
de energia, imagem e telefonia de forma modernizada a população, sem que haja necessidade
de submissão da sociedade a poluição visual.
De outra sorte, percebe-se que é cabível a intervenção do Ministério Público Estadual,
este enquanto responsável pela defesa da ordem jurídica no Estado e dos interesses da
sociedade, bem como pela fiel observância da Constituição da República de 1988, a proposição
de ações judiciais que coíbam este tipo de poluição, seja por ação cautelar inominada, ação
popular ou qualquer outro remédio constitucional nos termos do art. 5º, art. 216 e art. 225 da
CF/88, de forma a tutelar os direitos difusos e transindividuais.
Ainda sobre a intervenção do parquet, parece razoável que sua atuação se inicie com a
citação das concessionárias de energia elétrica e quaisquer outras empresas que se utilizem da
rede de fiação aérea para proporcionar seus serviços, buscando solucionar o mais breve possível
o transtorno causado pelas instalações elétricas aéreas, envolvendo, se necessário, a oitiva, por
meio de audiência pública, da própria população prejudicada.
Por fim, resta claro a necessidade de os entes federados editarem suas normas
regulamentadoras, sobretudo quando se trata de matéria ambiental, a fim de salvaguardar sua
qualidade e assegurar os desideratos constitucionais.
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