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8.

NEOPOSITIVISMO LÓGICO COMO PENSAMENTO VERSUS


TEORIA DA ESCOLA DE FRANKFURT - (1930/1950)

A segunda parte da lógica moderna, que se efectua a partir dos anos 30


e vai até à década de cinquenta, baseada nos princípios de Carnap e no
positivismo lógico que se manifestou com grande profundidade nos in-
vestigadores ingleses, corresponde à transição entre a lógica matemáti-
ca/algébrica e a lógica linguística, tentando sempre libertar-se das con-
tradições intrínsecas da ciência. Esta nova situação manifesta-se já num
ramo especializado, onde a análise da linguagem transmite a significa-
ção ou interpretação das expressões, e, deste modo, permite definir con-
ceitos dentro de uma linha exacta sob os aspectos da harmonia das coisas,
com o cálculo das proposições e o cálculo dos predicados. O período
semântico linguístico, que é a continuação do anterior, do ponto de vista
do pensamento, ainda se liga à semântica lógica cuja temática se agrega
ao termo de cálculo. Ora, para interpretar o conceito de cálculo existi-
ram várias regras devidamente especializadas que foram esclarecidas
como juízos ou proposições, os cálculos das classes, o cálculo das rela-
ções, relações e compreensão que tornou precisa a semântica lógica sim-
bólica, pretendendo aplicar os mesmos instrumentos algébricos a esta
tendência semântica linguística.
Deste modo, a linguagem pode aproximar-se ao problema algébrico,
dado as regras da lógica resolverem de forma clara, simples e eficaz, os
dois problemas simultaneamente algébrico e linguístico. Esta aproxima-
ção poder sugerir várias controvérsias, pois que, para uns, as regras lin-
guísticas são impróprias de um raciocínio de características científicas,
podendo, no entanto, os cálculos lógicos serem um auxiliar da linguística.
Para outros, a linguística basta-se a si própria e quem pensa o contrário
não entende a riqueza da linguística e nem percebe que a lógica mate-
mática se encontra influenciada pelas regras da linguística, pois os cál-
culos lógicos, idealizados pelos matemáticos e pelos lógicos, interligam-
-se pela estrutura gramatical. Para atingir esta complexa problemática,
os epistemológicos e os empiristas procuraram a estrutura da realidade,
tendo em conta tanto as relações existentes entre o objecto e a expres-
são, como o relacionamento que a expressão constitui no mundo exteri-
or dada pela classe dos objectos. Ora, o problema que se tinha posto
inicialmente, em 1910, sobre a lógica positivista ou a lógica atomista, foi
abandonado pela dificuldade em se inserir no mundo real, por os filóso-
fos não conseguirem atingir com clareza a verdadeira explicação dos

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problemas que se relacionam entre as ideias, as proposições e os
ortogonal para delimitar porções do espaço e criar volumes virtuais. As suas
predicados. Enfim, as matérias eram difíceis de se coordenar em relação
obras, que se intitulam então S x R/3 (1933/34, Paris, Museu Nacional de
aos aspectos do significado. A finalizar esta tendência formalista da ar- Arte Moderna) ou ainda y = 2 x3 - 13.5 x2 + 21 x (1935, Basileia,
quitectura, apreciemos o resultado que nos deu o neopositivismo e o Kunstmuseum) utilizam formas geométricas elementares, essencialmente
empirocriticismo levado a cabo por Bertrand Russell e pelo seu discípu- o paralelepípedo, por vezes reduzido apenas a um plano.»
lo L. Wittgenstein, que se prolonga, já noutro sentido, até R. Carnap, Serge Lernoine, lvumdrían et De Stijl, 1987
entre outros. Este período reduziu-se à análise da linguagem da ciência,
com o objectivo de pôr de parte a filosofia e as próprias ciências exactas. Isto não é mais do que uma falta de conteúdo do neopositivismo como
tendência filosófica, pois os objectos estão completamente separados da
realidade quotidiana.
A crítica ao neopositivismo Como síntese destas manifestações teóricas e relacionando-as com o
período arquitectónico, lembremos três tendências artísticas, como a de
Entretanto, ao estudarmos, de maneira sintética, as manifestações De Stijl, de Mondrian e de Van Doesburg, a Bauhaus de Walter Cropius,
num âmbito lógico dialéctico, verificamos que as opiniões artísticas Kandinsky e Paul Klee, e a dos construtivistas russos, tendo como máxi-
empíricas são comuns com a lógica matemática, matérias que se pode- ma teoria a Escola de Leninegrado de Chernikhov, todas elas dos anos
rão tomar por pseudoproposições. Estas proposições, também conside- 20 a 30, tendo tido uma larga difusão formal e cultural na Europa Oci-
radas metafísicas, afastam-se da lógica por meio da «testabilidade» por dental, coadjuvadas pelas revistas arquitectónicas Mecano e MA. Deve-
se reduzirem, simplesmente, aos números de facto. Para entender me- mos ainda ter presente o exposto por Theodor Adorno no seu livro Teoria
lhor o efeito destas divergências, apliquemos o caso das proposições: Estética, páginas 164/165 (Edições 70), sobre o método da matematização
na arte, que se integra na tendência da antiverificação:
3 + 3 = 6 que corresponde ao mesmo que 6 = 6.
«[ ... ] A matematização como método de objectivação imanente da
forma é quimérica [ ... )
Simultaneamente, vejamos outra proposição empírica de caracterís- [ ... ] Daí que a matematização tenda justamente para as formas tradi-
ticas semelhantes, de conceito metafísico: cionais, que ela ao mesmo tempo contradiz como irracionais. Em vez de
representar a legalidade básica do ser tal como a si mesma se interpreta,
«o mundo é ideal pela sua natureza» ou «O mundo é material pela o aspecto matemático da arte esforça-se desesperadamente por garan-
sua natureza» tir a sua possibilidade no interior de uma situação histórica, em que a
objectividade do conceito de forma é exigida e igualmente inibida pela
o que nos esclarece somente «o princípio de testabilidade», visto não situação da consciência»
existir uma teoria do conhecimento por não sair dos limites da experiên- Assim, a análise da «teoria crítica» e da dialéctica da experiência his-
cia humana. Ao mesmo tempo, estas frases ou estas expressões aritméti- tórica da forma imagem, corresponde ao método que pretende substi-
cas só exercem a função de delimitações e de proposições empíricas e tuir mais claramente as propostas das teorias artísticas do neopositivismo.
metafísicas, dando origem às investigações do positivismo semântico e
à filosofia linguística. NOTAS

«A partir de 1926/1927, Vantongerloo introduz o cálculo, as matemáti- A lógica e a matemática são idênticas?
cas e a geometria na elaboração das suas esculturas. Toda a semelhança
com a realidade é abandonada (Relação de volumes partindo do cone, 1927, Uma antiga tese de Russell é reexarninada, em face do desenvolvi-
Paris, Museu Nacional de Arte Moderna). Depois de 1930, Vantongerloo
mento ulterior da lógica, por Leon A. Henkin, professor da Universida-
passar a utilizar planos reunidos por justaposição ou por interpenetração
de da Califórnia, Berkeley.

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,,1 - [ ... ] A segunda linha importante de desenvolvimento que precedeu Szmielew deu, também, um importante processo de decisão - isto é, um pro-
Russell, e sobre a qual ele fundamentou as suas ideias, foi o estudo sistemático, cesso para a denominada «teoria elementar» dos grupos abelianos. Em con-
por processos matemáticos, das leis da lógica que regem as demonstrações ma- traste, Tarski mostrou que a teoria elementar de todos os grupos não admite
temáticas. Este desenvolvimento foi iniciado por George Boole, na Inglaterra, processo de decisão. De facto, Szmielew e Tarski consideraram exactamente o
em meados do século XIX. Ele descobriu que certas leis lógicas, bastante conhe- mesmo conjunto de sentenças - grosseiramente, todas as sentenças que po-
cidas, podiam ser formuladas com auxílio de símbolos algébricos tais como o dem ser construídas com o símbolo da operação do grupo, e variáveis tomadas
sinal de adição, o sinal de multiplicação, o sinal de igualdade e de variáveis. Por sobre os elementos do grupo, com o auxílio do sinal de igualdade, bem como
exemplo, Boole usou a equação P . Q = Q . P para expressar o facto de que dos conectivos lógicos usuais e de quantificadores. Caso perguntássemos se
sentenças da forma «P» e «Q» e «Q» e «P» devem ser ambas verdadeiras ou qualquer sentença dada, desse tipo, é verdadeira para todos os grupos abelianos.
ambas falsas (quaisquer que sejam as sentenças P e Q enquanto que a equação a resposta pode ser dada, pelo método de Szmielew, de modo automático. Mas,
algébrica, geralmente pouco conhecida, se estivermos interessados em que essas sentenças sejam válidas para todos os
- (P . Q) = (- P) + ( - Q) grupos, então, a demonstração de Tarski mostra que é impossível obter um
indica que a sentença «não é que se tenha ao mesmo tempo P e Q» tem o mes- método mecânico para separar as sentenças verdadeiras das falsas. [ ... ]
mo valor de verdade que «ou não P ou não Q». Boole demonstrou que através
do uso dessas notações algébricas pode-se, efectivarnente, economizar esfor- 3 - Funções recursiuas
ços no sentido de colectar e aplicar as leis básicas da lógica. Mais tarde, o seu
trabalho foi entendido e aprofundado pelo americano C. S. Peirce e pelo mate- [ ... ] O conceito-chave que foi necessário aperfeiçoar, antes das soluções ne-
mático alemão E. Schroder. [ ... ] gativas dos problemas de decisão, foi o de função recursiva. Intuitivamente
falando, estas são, simplesmente, funções de números naturais em números
2 - Conjuntos e métodos de decisão naturais, tendo a propriedade de se poder computar automaticamente o seu
valor para qualquer argumento dado. Uma definição matemática satisfatória
. [ ... ] Para explicar a conexão deste assunto com a lógica deve-se dizer que os e explícita desta classe de funções foi formulada inicialmente por J. Herbrand e
objectos que Russell e Whitehead denominaram "funções proposicionaís» são, Cõdel, Mas, foi S. C. Kleene quem desenvolveu este conceito, de tal modo que
de facto, difíceis de distinguir dos que os matemáticos actualmente denominam actualmente nele se apoia uma grande e importante parte da pesquisa lógica.
«~onjuntos» e «relações». Do ponto de vista filosófico talvez ainda exista oportu- A maior parte dos trabalhos com funções recursivas dizem respeito à
nidads de distinguir um conceito do outro. Mas, urna vez que o tratamento das classificação de conjuntos e funções, classificação semelhante àquela envolven-
funções proposicionais no Principia Mathematica é extensional (duas funções ver- do conjuntos projectivos e analíticos na teoria descritiva dos conjuntos. [ ... ]
dadeiras para os mesmos objectos são indistinguíveis), para as necessidades ma-
temáticas este sistema é idêntico ao que trata de conjuntos e relações. 4 - Álgebra, lógica e modelos
Entre os esforços significativos despendidos nestes sistemas, estão os diri-
gidos no sentido de estabelecer o siatus de proposição como o axioma da esco- [ ... ] Um quarto domínio das pesquisas em lógica é o que se relaciona com o
lha e a hipótese de contínuo de Cantor. Aqui os nomes de Cõdel e A Mostowski assunto actualmente denominado lógica algébrica, e que tem as suas raizes nos
são especialmente importantes. Côdel mostrou que urna forma bastante forte primeiros trabalhos de Boole e Schroder. Contudo, o interesse neste tema pas-
do axioma da escolha e da hipótese generalizada do contínuo são simultanea- sou da formulação e derivação das equações algébricas que expressam leis da
mente consistentes com os axiomas mais elementares da teoria dos conjuntos lógica, para a consideração de estruturas abstractas que são definidas por meio
- supondo que estes últimos sejam consistentes entre si. [ ... ] de tais equações. Assim, receberam atenção, sucessivamente: as álgebras de
[ ... ] ,O se~ndo domínio que eu gostaria de delinear na pesquisa lógica con- Boole, as álgebras de relações, as álgebras cilíndricas e poliádicas; M. Stone,
temporanea e o relacionamento com o problema da decisão. Embora o trabalho Tarski e P Halmos estão bastante ligados a este sector. [ ... ]
de Churc,h mostre que não pod~ existir um processo universal de decisão para [ ... ] Um quinto ramo das pesquisas lógicas modernas é o que se refere à
a matema~lc_a, tem ainda persistido um grande interesse na procura de proces- chamada teoria dos modelos. Aqui, os esforços são dirigidos no sentido de
sos de d,eClsa~ para porções mais modestas da matemática. De especial interes- correlacionar as propriedades matemáticas de uma classe de estruturas defini-
se aqUl.e o metodo de decisão de Tarski para a álgebra e geometria elementares, das por dadas sentenças matemáticas, com as propriedades estruturais dessas
e uma Importante extensão dele, que foi feita por Abraham Robinson. Wanda sentenças. [ ... ]

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[ ... ] o último domínio da pesquisa lógica para a qual eu gostaria de chamar u SEMIOLOGIA ARQUITECTÓNICA FORMALISTA
a atenção é algo inverso daquilo que denominamos lógica algébrica. esta última
estamos interessados em aplicar aos sistemas lógicos os métodos da álgebra.
Mas, os resultados e os métodos da lógica são, também, usados para estabele-
cer teoremas da álgebra moderna. O primeiro a fazer tais aplicações parece ter
sido o matemático russo A. Malcev, que, em 1941, mostrou como o teorema da
completabilidade em lógica de primeira ordem poderia ser aplicado para se
obter resultados a respeito de grupos. Posteriormente, a mesma técnica foi usa-
da por Tarski para construir vários corpos ordenados não arquimedeanos. [ ... ]

5- A tese de Russell em perspectiva

[ ... ] Espero que este esboço dos domínios da pesquisa lógica contemporâ- 1 . INTRODUÇÃO
nea forneça uma ideia do modo pelo qual os lógicos reagiram aos teoremas de
Gõdel e Church que, no período de 1931 a 1936, abalaram tão severamente as a continuação da lógica matemática, torna-se oportuno abordar o
esperanças iniciais. Falando em geral, pode-se descrever essa reacção como com- pensamento de Saussure, que contribuiu para uma nova perspectiva do
posta de uma aceitação da impossibilidade de realizar as esperanças iniciais da conhecimento, posicionando a história da linguagem sob duas teorias
lógica matemática, de uma relativização do programa original de procura de
distintas: Sincrónica e Diacrónica.
provas de completabilidade e consistência e de métodos de decisão, de uma
A teoria Sincrónica, ou descritiva, representa, comparativamente,
incorporação de novos métodos e construções que apareceram com as demons-
trações de impossibilidade e de um desenvolvimento de novos interesses su-
o pensamento e as imagens de cada época. A Diacrónica mostra a evolu-
geridos pela generalização dos primeiros resultados. ção histórica dos vários elementos do homem através da própria histó-
Agora, com este panorama em vista, retornemos à tese de Russell, de que ria. Deste modo, chegamos aos princípios mais evoluídos dos signos,
toda a matemática pode ser reduzida à lógica. Eu diria que se a lógica é enten- aos quais se chama semiologia e que originaram as primeiras regras do
dida como contendo a teoria dos conjuntos (e parece ser isso o que Russell significado, postas mais tarde em três fases distintas - a pragmática, a
tinha em mente), então a maioria dos matemáticos aceitaria, sem dificuldade, a semântica e a sintáctica. Esta classificação foi elaborada inicialmente por
tese de que os conceitos básicos de toda a matemática podem ser expressos em Peirce e continuada por vários outros filósofos, entre os quais Charles
termos da lógica. Eles concordariam, também, que os teor em as de todos os ra- Morris e Roland Barthes, a fim de procurar as dimensões dos valores
mos da matemática podem ser derivados a partir da teoria dos conjuntos, ape- dos signos simbólicos. Entre estas teorias passaram-se bastantes anos,
sar de reconhecerem que nenhum sistema fixo de axiomas da teoria dos con- pois a primeira surgiu em 1916 e a segunda em 1940. Existem entre elas
juntos é adequado para encerrar todos os prinópios que podem ser considerados
muitos conflitos e discrepâncias por se querer adoptar ora uma lógica
como «matematicamente correcto». [ ... ]
[ ... ] A lógica, em lugar de ser toda a matemática, parece ser na realidade neopositivista matemática e simbólica, ora teorias linguísticas, apesar
apenas um dos seus ramos. Mas, um ramo vigoroso e em crescimento, e exis- de ambas conterem um conceito lógico, que se dirige para o empirismo.
tem razões para esperar que com o tempo ele venha a fornecer um elemento de As manifestações sincrónicas, que se encontram na estrutura do pensa-
unidade em oposição à fragmentação que parece existir na matemática con- mento linguístico/artístico desde o início do século xx até quase às duas
temporânea - e, de facto, em todo o ramo do saber.» últimas décadas, são reforçadas pela teoria da Identidade proposta pela
filosofia de Rudolph Carnap e pelas teorias da Semelhança de Roland
Barthes. Neste capítulo abordaremos os princípios do idealismo propos-
tos inicialmente por Saussure e, posteriormente, por Chomsky, os quais
transformaram o estudo da lógica e da linguística em estudos linguísticos
generativos.

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Saussure, ao estudar a «criação analógica», amplia o conceito de 2. SIGNIFICAÇÃO EPISTEMOLÓGICA NEOPOSITIVISTA
formalismo e do subjectivismo, ao longo do século xx, numa atitude - LÓGICO-LINGUÍSTICA
subjectiva e individual. Até então, a modernidade era interpretada
como um formalismo lógico/matemático, cujas origens remontavam à o termo significação, em semiologia, é tratado como matéria neces-
época das transformações culturais e sociais do século XVIII. Com as sária para se compreenderem as Mensagens dos artistas (arquitectos,
investigações de Saussure, a linguística era inicialmente entendida pintores, escultores, poetas, músicos, etc.) de cada época histórica e con-
como unidade da morfologia, uma sintaxe e um léxico. Chomsky, pos- siste na descrição do Sensível, cujo Significante é o objecto/imagem e o
teriormente, acrescenta-lhe a unificação do sistema generativo. Além Significado é a abstracção desse objecto no âmbito da emoção. Por isso,
disso, as ciências linguísticas e semiológicas, ligadas à arte, tornam-se a Significação de uma obra reproduz os fenómenos pelos quais os artis-
instrumentos acessíveis pela sua repetição, métodos comunicativos ou tas estão influenciados e são tão evidentes em cada época histórica, que
até actos de composição preestabelecidos, numa atitude pragmática e não necessitamos fazer uma demonstração profunda. Esta diferencia-
numa retórica, eficaz pela sua acção dedutiva e classificativa do méto- ção dá-se pelo tratamento dos sentidos e dos fenómenos expostos no
do lógico/matemático. Chomsky considerou estes princípios mais seu contexto. estas circunstâncias, para se apreciar uma obra artística,
simples, acentuando o formalismo numa dedução elementar, sem a partir-se-a de três níveis de significação, sendo o sujeito o condutor da
existência de qualquer raciocínio dialéctico entre o passado, o presen- análise. Assim, temos:
te e o futuro, tendo provocado, com as suas novas teorias, um dos gran-
des impulsos para a aceitação das transformações na era dos computa- - O sujeito primário e natural, que se identifica com as obras tais
dores. como são;
A ciência, deste modo, reduz os procedimentos do raciocínio e da - O sujeito secundário ou convencional, que identifica os temas e a
lógica, fundindo-se num sistema de operações, que passaram a consti- sua combinação;
tuir um meio de comunicação, como se tratasse de catálogos correspon- - O significado intrínseco, ou conteúdo, que identifica a atitude de
dentes a factos, objectos e acontecimentos, não perdendo os seus aspectos um artista, da sua classe social e do seu período durante uma épo-
eficazes e adquirindo um espírito humano, dentro de um organismo, tal ca;
uma grande máquina classificativa, onde o simbólico se relaciona com o
mito empirista de Leibniz (século xvrn). e sobre eles se deduzem os diversos graus de significação.
Com um sentido oposto ao método neopositivista da semiologia/
/semiótica, onde o lógico linguístico é o elemento dominante do pensa- Ainda se devem considerar algumas ideias para melhor esclarecimen-
mento, analisaremos alguns aspectos da Teoria Crítica operativa da Es- to da realidade da arte, quando esta deixa de ser cópia da vida tal como
cola de Frankfurt, que se baseia nos princípios da história da produção é. Pode tornar-se uma mentira ou uma deformação da própria realida-
da sociedade moderna, que se reflecte nos signos. de, a qual se torna mais sugestiva que a verdade literal. A significação
A matéria, que mais desenvolveremos, aborda a linguagem cognitiva pode ter denotação e conotação, conforme veremos desenvolvidamente
no método neopositivista e os conhecimentos organizativos que cons- na alínea 6. 2. A LÓGICA DA SENSAÇÃO (pág. 149).
tituem os conceitos preliminares da «inteligência artificial», próxima O significado necessita do conceito de Iuízo, que, para ser válido,
dos computadores, por ser a que tem tido maior repercussão no
tem de ser apoiado por obras que apresentem uma composição definiti-
conhecimento cultural da civilização moderna e contemporânea.
va e predominante, permitindo-nos formar uma opinião em compara-
Para um melhor esclarecimento, apresentá-la-ernos segundo dois con-
ção com outras obras. Esta comparação faz parte do julgamento artístico
ceitos: o do método neopositivista lógico linguístico e o da Teoria Crí-
e é, com frequência, uma expressão de sentimentos pessoais, na medida
tica da Escola de Frankfurt, com alguns laivos de materialismo dialéc-
em que existem razões para que esse sentimento seja entendido como
tico.
objectivo e não subjectivo.

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ou realista figurativa do hiper-realismo. Estas teorias tiveram uma grande
2. 1. Sistemas de significação social
importância no realismo, visto fazerem a distinção entre o conhecimento
No contexto da semiologia que analisou o modernismo nos anos 20/ artístico e o científico, pois a ciência tem uma perspectiva da realidade do
/30 do século xx, devemos incorporar as teorias de G. Lukács, apresen- sujeito totalmente diferente da do sujeito do objecto da arte, devido a esta
tando o realismo formalista como matéria da luta de classes, criticando a ter necessidade de responder à crítica que lhe é dirigida. Ora, é esta crítica
que contribuirá para a unidade dialéctica do objecto e do sujeito, do con-
reconciliação com o sistema económico neoliberal e a fragmentação exis-
ereto e do abstracto, do particular e do geral, do fenómeno e da essência,
tencial em todos os níveis da vida e na organização social.
No século xx, a estrutura social é constituída por um conjunto de rela- ou seja, a especificidade de uma arte que fará a dominância sobre o ho-
ções de classes em total antagonismo, o que provoca anomalias e conflitos mem e, por sua vez, sobre a humanidade. Lukács, com o seu método sobre
em todas as actividades e, portanto, também na arte. Segundo Lukács, arte, tenta a aproximação entre a burguesia e o proletariado, condenando
torna-se necessário procurar uma nova estética política. Outros teóricos a «distanciaçáo» entre classes, que considerava formalista e fria e que,
mais recentes, como Frederic [ameson, perfilharn, parcialmente, a mesma segundo ele, Bertolt Brecht defendia ao afirmar que «a arte realista é uma
opinião para um renovar do pós-modernismo. O estudo da arte realista arte de combate contra as concepções falsas da realidade».
nas duas últimas décadas do século XX tem sido revisto pela estética e Ao estudarem a representação artística, os teóricos G. Lukács
política, com base nas teorias de [ameson, tendo como objectivo colocar e T Adorno recorreram à divisão metodológica do filósofo Heget mas
várias observações ao consumismo da arte, recorrendo aos conceitos do adoptam atitudes divergentes entre ambos, relativamente à relação do
realismo e às divergências entre Brecht e Lukács nos anos 20. objecto com a sociedade e a respectiva interpretação. Lukács afirma que
O realismo era apontado como um método e não como uma tendência uma obra de arte moderna deve representar o conceito clássico, também
artística, que permitisse a compreensão das relações existentes na reali- chamado orgânico. Por seu lado, Adorno entende que aquela arte se deve
dade, cheia de oscilações de factos humanos que se interligassem. Esta enquadrar numa teoria de vanguarda, ou inorgânica, que apenas possui
aplicação teórica em arte teve grande relevância com G. Lukács, que conju- sentido histórico, considerando que o conceito que Lukács propõe para a
gou as teorias de Hegel com as de Marx e Lenine. A «dialéctica marxista», arte realista contemporânea é um retrocesso estético. Chamamos, contudo,
segundo Lukács, corresponde à relação entre a unidade e a essência do a atenção para o facto de nenhuma destas regras serem supra-históricas,
fenómeno. Portanto, para que uma obra artística tivesse impacte no pú- sendo apenas norrnativas, de acordo com a estética de Hegel (clássica ou
blico, a priori, deveria expor uma experiência global da realidade, de modo ~o~ân.tica). Dentro destes princípios, a alegoria proposta por Walter Ben-
que o objecto se distinguisse pelo reflexo mais fiel e completo. outros J~l~ mtegra-se na arte de vanguarda, passando a assumir uma impor-
termos, a investigação e pesquisa da obra de arte não se ordena senão a par- tância crescente no panorama cultural e ideológico universal através de
tir de uma história organizada diacronicamente e não numa interacção apenas vári~s métodos de investigação. Os princípios alegóricos não pretendem
relativa ao sujeito produtor, mas tendo em conta as condições do consu- explicar a estrutura social de uma dada época, mas separar um fragmento
midor, isto é, numa fusão do autor com o público. Enfim, a realidade hu- do seu contexto social, isolando a sua função e criando situações análogas
mana não é somente uma produção nova, mas também reprodução, ou em contextos sociais diferentes. Podemos, ainda, apresentar a definição,
seja, crítica e dialéctica do antigo. Isto quer dizer que a função da arte é segundo o dicionário enciclopédico Larousse, da palavra ALEGORIA:
um processo permanentemente crítico através da dialéctica, a fim de poder
«Expressão de uma ideia através de uma imagem, um quadro, um
criar e transformar a percepção numa proposta para formação da sensibi-
s~r VIVO, etc., obra literária ou artística, que utiliza esta forma de expres-
lidade. Contudo, e ainda segundo as teorias de Lukács, o realismo e o sao; Os Autos das Barcas de Gil Vicente são alegorias. Metáfora continua-
modernismo não são aceitáveis porque o realismo baseia-se em formas da com significado diverso daquele directamente enunciado.»
de velhas experiências que já não se relacionam com os problemas pre-
sentes e o modernismo, com as suas contradições das diversas tendências, as artes plásticas, por vezes conscientemente, a alegoria substitui a
provoca uma desorganização tão importante como as artes abstraccionista transcendência religiosa pelo mundo terreno, de que é exemplo o pintor

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Giotto que, na transição da Idade Média para o Renascimento, se deixa alegoria é transcendental, e esta transcendência é uma ra.zão oriunda. de
dominar pela valorização humana em desfavor da religiosidade, ainda um capricho de Deus, num mundo sem esperança, vaZIO, sem sentido
que este significado se mantenha, mas num outro conceito. o caso da para o homem burguês.
significação e do valor da realidade social transmitirem um reflexo da vida, Todos estes paradoxos resultam no nada.
a alegoria pode ou não depender da vontade do artista. É o caso das culturas o mundo da literatura de Kafka, Deus encontra-se em personagens
renascentista e realista do século XIX, nas quais a estrutura do pensamento que ninguém conhece, não se sabe como cheg~r a eles; mas crê-se na s~a
é o reflexo da situação histórica do homem. Os diversos tipos de significação existência e são poderosos. ão são uma reahdade típica concreta, sao
da classe do nu da mulher no Renascimento (Eva, de Dürer; Vénus Adorme- antes o reflexo desses nadas. Aqui reside a transcendência de Kafka: a
cida, de Giorgione, e Adão e Eva, de Lucas Cranach e Damas, de Ticiano) e vida do homem, esse nada impossível de apreender, corresponde a um
no Barroco (Vénus ao Espelho, de Velázquez), são resultantes do valor atri- pesadelo. Esta transcendência alegórica most~a o q~otidiano de uma s~cie-
buído à nudez da mulher pela burguesia desses períodos. Também a classe dade em desagregação, recorrendo às particularidades da abstracçao e
da imagem de Cristo apresenta significações diferentes consoante as épo- opondo-se ao realismo. Estas são também as opções de Samuel Beckett
cas, como o Cristo Morto, de Holbein, A Descida da Cruz, de Rubens, e o e de J ames J oyce, constituindo O prenúncio do niilismo da segunda metade
Cristo Morto, de Mantegna, onde a morte representa não uma passagem do século xx.
pela terra, mas sim o fim da existência. Apontemos, agora, os aspectos
significativos da alegoria na literatura, onde tem um carácter mais cons-
ciente, exprimentando dar sentido à realidade e ao significado do homem Idealista
e do seu mundo. Assim, o drama aristocrático barroco alemão era já uma
alegoria no plano estético. Quanto à literatura de vanguarda de Walter Para significar o relacionamento entre a forma e o conteúdo, vejamos
Benjamin, ressalta a relação da transcendência com a alegoria e caracte- o que pensam actualmente Michael Graves e Peter Eisenman. Eles tratam
riza a evolução dessa alegoria. A caveira, como imagem de degradação e o sistema imagético e o conteúdo de maneiras diferentes tanto em defini-
morte do mundo barroco, é um símbolo da caducidade da história. O con- ções como em regras. Ou seja, são bem diferentes no ponto de vista semân-
ceito alegórico representa este período e mostra-se para além da beleza, tico e sintático. Graves coloca a arquitectura de acordo com o conteúdo,
como diz Georg Lukács: assumindo o regresso à tradição, numa atitude revivalista neoconser-
vadora, enquanto Peter Eisenman tem conceitos diametralmente opostos
«No reino do pensamento, as alegorias correspondem ao que são as em relação ao carácter do significado cultural. Em qualquer dos casos os
ruínas no reino das coisas.» conceitos dos sistemas de significação ou de expressão estão numa rela-
ção directa entre a semântica e a sintaxe. Deste modo, a forma em arqui-
Se a arte cumprir o seu dever, deve exprimir a transcendência, tectura expressa-se no exterior por uma imagem poética através do desen-
correspondendo a um processo de decomposição e desagregação do real, volvimento do conceito da semiologia, para chegar à qual realizamos a
ela própria, no seu sentido, fragmentando-se. Desta forma, a alegoria tor- descodificação da imagem por meio dos conceitos sintáticos. Ora, se uma
na-se vazia. No Romantismo, a imagem fragmenta-se até à ruína. esta imagem de arquitectura transmite uma mensagem, vejamos então qual
análise, levantam-se questões de significação, tanto no mundo teológico será a de Michael Graves. Sendo ela uma comunicação arquitectónica num
como profano. Um bom exemplo para este princípio é a obra de Franz conjunto de factores semelhantes à linguística, podemos atribuir esta
Kafka, onde o seu mundo é uma eminência da razão, compreendido pelo mensagem aos seguintes elementos: o emissor, o receptor, o canal, o
homem, onde o pormenor é insubstituível. Ainda no realismo literário (a codificador e as referências de factores. A mensagem do objecto arquitec-
tragédia burguesa), o pormenor é um típico concreto, onde a alegoria tónico pode manifestar-se numa comunicação descrevendo-se pelo seu
moderna suprime esse típico concreto pelo particular abstracto. Esta dife- próprio meio, não precisando de influências externas nem se servindo de
rença da alegoria acaba por significar o nada. Em toda a obra de Kafka, a uma função comunicativa. Peter Eisenman pesquisa a imagem, inicial-

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mente, na base de uma realização «chomskiana» de tipo canónico e dos preender o contexto. Na maior parte, os objectos arquitectónicos não são
conceitos da estrutura profunda. Posteriormente, altera os seus princípios tratados unicamente sob o ponto de vista funcional, mas sim - conforme
de pensamento para uma tendência niilista pós-estruturalista, onde a geo- afirma Saussurre -, eles têm que simbolizar. E é neste carácter existencial
metria topológica se apresenta em formas com movimentos de rotação e entre o símbolo e a realidade que se atinge o conhecimento do objecto
translação. A partir das teorias de Umberto Eco, expostas no seu livro que representa. Assim, no caso dos edifícios públicos, como sejam o Tri-
A Estrutura Ausente, de 1968, os significados arquitectónicos do objecto bunal, o Palácio Governamental, uma Embaixada, etc., eles definem hoje
podem ser divididos em primários e secundários. O significado primário os símbolos como se fossem o novo Pártenon e a nova cultura intelectual
é a construção, ou o edifício que tem um valor de mensagem e representa da época.
o seu uso de referência e a sua estrutura física. O significado secundário
representa a relação do objecto/imagem entre o emissor e o receptor.
É neste sistema de significados que se encontra o interesse da arquitec- A sintaxe formal
tura na sua comunicação com o observador.
A sintaxe em arquitectura, à semelhança da linguística, fornece-nos
um conjunto de regras. Trata-se de regras que conjugadas compõem as
2. 2. Unidades de significado - método de Saussure palavras semióticas do léxico arquitectónico: janelas, portas, terraços, pare-
des, telhados, roupeiros, etc. Este conceito tem efeito uma vez que se com-
Apreciemos agora as unidades de significado/uso em arquitectura, que binam elementos e sistemas construtivos que definem fragmentos de um
se designam, do ponto de vista semiológico, por PALAVRAS e SIGNOS e objecto. À semelhança de um «mapa de acabamentos», com gráficos
constituem umas vezes elementos construtivos como: pavimentos, por- elucidativos dos espaços, formas e materiais. A sintaxe é uma matéria que
tas, janelas, telhados, cornijas e, outras, elementos construtivos menores tem sido estudada desde o século passado, por meio das teorias tipológicas
como ladrilhos, soalhos, azulejos e até colunas. Elas variam segundo o propostas por Semper ou por Viollet-le-Duc, ou até, mais recentemente,
uso e segundo a composição. No entanto, é necessário encontrar num por Françoise Choay. Na Villa Savoye, projectada por Le Corbusier, a sin-
objecto tantas unidades de significação quantas sejam possíveis. Além taxe constituiu, primeiro, um conjunto estrutural de betão armado: vigas,
disso, torna-se importante facilitar as inúmeras interpretações que pos- pilares e lajes, que formam os três pisos da casa. Os espaços desses andares
sam ser atribuídas. Este último elemento muda de significação ao ser apli- tornam-se fluidos em virtude da estrutura se encontrar independente das
cado num outro contexto que não corresponde ao sistema construtivo do paredes interiores e exteriores. Isto constitui, em suma, «o estudo Domus».
edifício, quando passa a constituir um elemento que serve de comemora- As «colunas», interpretadas como palavras, mudam de significação con-
ção a aspectos de vitórias guerreiras ou apoia figuras que têm sido ilus- soante o modo como são aplicadas no contexto geral. Quando estão inte-
tres ao longo da história, como o caso da Coluna de elson, a Coluna de gradas num objecto arquitectónico adquirem uma significação elementar
Trajano ou ainda, em Portugal, na Praça do Rossio, a de D. Pedro IV Esta igual a qualquer outra palavra do edifício, passando a ser uma memória
palavra divide-se em múltiplos sinais extremamente significativos, cada de um facto, um templo ou um sinal evocativo, conforme for o caso.
um com o seu valor distinto (base, fuste, capitel, apoio da estátua, etc.) de O terraço-jardim de superfícies planas que dará aos objectos configurações
conceitos SEMÂNTICOS. Contudo, existem «palavras» arquitectónicas de formas cúbicas, proposto em edifícios modernos por Le Corbusier e
modernas criadas por vários arquitectos, entre eles Le Corbusier, que usa Walter Gropius, em países onde há neve, é chamado metaforicamente
múltiplos elementos construtivos que a maioria dos utentes não estava «habitações sem cabeça». Isto deu origem a uma alteração dos edifícios,
preparada para compreender. Ora, cada Sistema de Significação exprime levando os utentes a não compreenderem as formas criativas destes arqui-
o seu conteúdo de «palavras», o qual é compreendido de maneira mais tectos. Os objectos devem estar em correspondência com os signos sim-
fácil quando se atinge o conhecimento daquilo que se trata. o caso de bólicos, para serem compreendidos e, ao mesmo tempo, formularem uma
desconhecermos o significado de umas «palavras», não se consegue com- visão corre da daquilo que representam. Trata-se do uso PRAGMÁTICO.

96 97
MITOS DE LE CORBUSIER - Segundo Esquissos de Le Corbusier

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m 3. PROPOSIÇÃO/JUÍZO

Signos

No período neopositivista tecnológico industrial, a proposição/juízo


para definição dos signos é estruturada na base da lógica-matemática
de Peano e de Boole, conforme expusemos anteriormente. No período
tecnológico em que existe o pensamento semiológico, a proposição/
/juízo para explicação dos signos baseia-se num conceito histórico-
-sociológico ou num conceito linguístico, indo até um sentido alegóri-
co quando não é possível transmitir objectivamente a crítica à situação
sociaL De acordo com estas ideias, a obra de arte deve ser entendida
como documento integrado no seu contexto histórico ou sociológico. Só
assim o objecto deve ser avaliado como signo/imagem, tendo em consi-
deração a sensibilidade dada pelo artista, o significado na consciência
colectiva e a sua estrutura. Não podemos esquecer, por outro lado, que a
consciência individual é dada pela consciência colectiva e que o Signo
ao comunicar-se amplia o seu significado, ultrapassando os limites da
consciência individual. A problemática do signo alargou-se ao ponto da
sua ciência ter diversas designações: Semiologia, para Saussure, Semân-
tica linguística ou serniótica, para Peirce, para os teóricos do Círculo de
Praga e para Carnap, entre outros.
Em que condições serão questionadas as proposições/juízos na
semiologia/serniótica da TAUTOLOGIA?
~ Se os problemas do signo, da estrutura e do valor, em arte, são ape-
o.
(1) nas medianeiros entre um estado individual (autor) e colectivo (a socie-
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o dade), a sua aceitação é subjectiva, podendo tornar-se inaceitável no seu
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o. todo. Mas se é aceite por todos sem distinções pode ficar reduzida a
(1)
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«obra coisa», sujeita às mudanças no tempo e no espaço, ficando apenas
o. como símbolo exterior para a consciência colectiva. Esta consciência co-
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(1) lectiva contém elementos psíquicos subjectivos «factor associativo» da
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percepção estética, que podem ser objectivados pelo núcleo central
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(1)-
da consciência colectiva, afastando por completo teorias estéticas que
pretendem apenas atingir o que é agradável e dá prazer/hedonismo.
Deste modo, considera-se o signo como um fado sensorial provocado
por uma realidade indirecta. Essa realidade é o objecto de arte interpre-
tado pela comunidade tornando-se signo autónomo.
Partindo do princípio de que a linguagem é determinada pelo de-
senvolvimento histórico, social e cultural de um povo, o sistema tem o

101
o~jectivo de aperfeiçoar a teoria das linguagens, eliminando as antino- Para esclarecimento destas relações, vejamos o que expõe Nicos
rruas e os paradoxos. Hadjinicolaou no seu livro História da Arte e Movimentos Sociais acerca do
. Es.te sistema semântico, proposto por Rudolph Carnap, estabelece a período e das etapas da pintura de Rembrandt:
Identid.ade da.s relações gramaticais e lógicas e propõe substituir O idio-
«Tomemos agora como ponto de partida a verificação das contradi-
ma nacional VIVO por um sistema simbólico formal e dedutivo. Para isso,
ções de Rembrandt e tentemos ver se se trata efectivamente das contra-
estabelece basicamente como regras a classificação dos signos em gru- dições de Rembrandt ou antes dos grupos de imagens contraditórias
pos de outros signos. entre si que não têm como centro Rembrandt mas cada uma das quais
~sta t:oria ~á origem ao princípio da Identidade, segundo o qual o se refere a um centro que está fora do indivíduo Rembrandt e da pretensa
Objecto e precisamente o mesmo que Conceito. Definir o Conceito é unidade da sua obra global: na ideologia imagética das classes sociais
o mesmo que definir o Objecto, ou vice-versa, pois que ambos são sinó- existentes na Holanda, na altura em que essas imagens foram produzidas.
As ideologias imagéticas colectivas a que pertencem as imagens de
nimos. Contudo, por Objecto não se entendem apenas Coisas, mas tam- Rembrandt, entre 1625 e 1669, podem dividir-se, provisória e esquema ti-
bém Qualidades e Relações, Estados e Processos, o Real e o não Real. camente, assim: a "ideologia imagética barroca na sua manifestação ho-
Chomskye Roland Barthes, entre outros, são continuadores do estu- landesa", a "ideologia imagética da burguesia protestante-ascética holan-
do desta área da filosofia, adaptando-a à sua linha de pensamento e às desa do século xvir. Ora, Rembrandt produziu, durante toda a sua vida,
suas épocas, conforme veremos ao longo deste capítulo do nosso en- imagens que pertencem a estas três categorias de ideologias imagéticas.
saio. esse caso, em vez de tentarmos distinguir o "jovem Rernbrandt" do
"Rembrandt maduro", o "Rernbrandt de 1630" do "Rembrandt de 1660",
Em oposição ao contexto da teoria iniciada por Carnap, temos o con-
etc., parece-nos mais útil voltarmo-nos para as imagens produzidas por
teúdo dialéctico, onde existe uma relação ( ou passagem/contradição) en- ele e considerarmos as ideologias imagéticas a que elas pertencem.»
tre os conceitos, que corresponde ao principal conteúdo lógico que nos
mostra o reflexo do mundo exterior, destacando-se pela análise e a sin- Em suma, o signo/imagem, a estrutura e o valor são os problemas
taxe, a dedução e a indução. fundamentais das ciências do imaginário e do consciente colectivo, ou
Mais à frente, retomaremos estas ideias através do teórico grego icos ainda, a obra de arte é um Signo autónomo, a arte tem uma função co-
Hadjinicolaou. municativa e as funções semiológicas manifestam-se na dialéctica
evolutiva.
Signo/Imagem
3. 1. Signos indicadores e icónicos
Mas se o signo/imagem tem um significado tanto para o autor como
para os membros da colectividade e o signo autónomo não tem deter- "O que os distingue não é somente, como se afirma correntemente,
minação precisa, depende da contextualização dos fenómenos sociais O grau arbitrário entre o Significante e o Significado, para o primeiro
de uma. dada ~poca. Isto leva a que haja objectos que só sejam entendi- seria bem marcado e para o segundo quase nulo.
dos muito mais tarde, quando o contexto social se acalma e se consegue ós chamamos signos a toda a unidade, cuja força significante não é
expressar clarament~. Porém, esta situação não significa que o objecto tirada de um sistema simbólico já constituído, de um domínio não orga-
~e arte tenha.que se Juntar aos fenómenos sociais tornando-se na cópia nizado com vista a tal fim, O arbitrário da relação decorre necessaria-
fiel dessa realidade, simplesmente há que fazer o estudo semiológico da mente por isso, encontra-se consideravelmente restrito, logo que se tra-
ta de símbolo no sentido particular deste termo, porque o signo surge
obra de arte para completo entendimento do dinamismo da estrutura
sempre de unidades significativas que estão submetidas a um novo prin-
artís!ic~, r~conhecendo-Ihe autonomia e abrangendo o total significado
ópio de significação.»
da dialéctica entre o movimento evolutivo da arte em consonância com
Henri Lefebvre
a evolução das outras esferas de cultura.

102 103
Até aos finais do século passado, considerava-se a imagem numa pers- usar a dialéctica dos signos nem dos ícones. Usa, sim, uma magia analó-
pectiva romântica e mística, num conceito de símbolo representativo da gica da visão mítica, igual à da essência.
verdade e num relacionamento com o Belo. Nestas condições, não exis- A matéria da iconicidade, que foi intensamente aplicada ao longo da
tia forma dentro deste universo fantasma do imaginário. Com as novas história como arranque para as ideias da composição artística, tem a pa~-
teorias racionalistas, a imagem passa a constituir um discurso rigoroso, ticularidade de nos mostrar a sequência do acto conceptual. Em arqm-
intelectual e poético. Lembremos novamente Nicos Hadjinicolaou, que tectura, a iconicidade não tem nada a ver com a tradição da cultura visual
nos diz sobre a ideologia imagética e o conhecimento: dos alçados, das plantas e dos volumes, pois estes elementos, que são
considerados representativos do objecto, não constituem, na verdade, a
«Em primeiro lugar, substituimos "arte" por "produção de imagens".
[ ... ] Em contrapartida, por ideologia imagética entendemos o que é a significação da imagem mas são, sim, indicadores de.um~ ~scrita para
característica essencial dos "objectos", dos "factos" que pertencem ao entendermos os ícones que se querem representar. A iconicidade cons-
domínio da produção de imagens. Qualquer imagem, quer seja consi- titui uma investigação do objecto num sistema de identidade ou analo-
derada "grande" ou "menor", pertence a urna ideologia imagética co- gia oposta aos princípios da tipologia, por esta representar a evolução
lectiva mas com características singulares e únicas. E isso que caracteriza histórica. Filósofos como Peirce, Russell, Wittgenstein, Carnap e outros
todas as imagens e as diferencia entre si. lesse caso, a relação entre a contribuíram para a investigação das origens da imagem/modelo do de-
produção de imagens e a ideologia imagética é a relação entre uma certa senho com base no discurso da iconicidade. Esta matéria é exposta por
categoria de produtos e a sua essência. Sendo assim, é preciso substituir
Tomás Maldonado no seu livro Vanguardia y Racionalidad.
a questão que se refere à relação "produção de imagens" - "conheci-
mento", pela seguinte questão paradoxal: qual é a relação entre ideolo- O ícone é urna proposição, visto ser a imagem-modelo própria da que
gias imagéticas e conhecimento? Evidentemente, à primeira vista, pare- se pretende obter como finalidade formal. Para se alcançar esta, o pensa-
ce ilusória a própria existência dessa relação. Com efeito, num sentido mento passa por um faseamento e clarificação subjecti~a do qu~r~r: da
geral e estrito, só se pode afirmar que essa relação não existe. A ideolo- expressão e da significação, através de manipulações da Imagem inicial.
gia imagética, com o seu duplo aspecto de desconhecimento-reconheci-
mento, ilusão-alusão à realidade, não tem qualquer relação com o co-
As duas tendências representativas do signo
nhecimento científico da "realidade". Ideologia imagética e conhecimento
científico são duas realidades distintas que não se sobrepõem.» A maior parte dos teóricos do nosso século, como Cassirer, Carnap,
Charles Morris e, mais recentemente, Roland Barthes e Umberto Eco,
Por isso, a história da produção da imagem é a história das ideologias entre outros, abordaram o signo num pensamento histórico, não se referin-
imagéticas como matéria e é entendida numa combinação específica de do a uma realidade social, pretendendo apenas evocar conceitos ligados às
elementos formais e temáticos numa globalidade pertencente a uma classe palavras, às imagens, às coisas, que geram significados. Contra este mé-
social. O que quer dizer que o que vale para a ideologia em geral, vale todo da proposição do positivismo e opostos a esta teoria, no âmbito da
para a ideologia imagética. Escola de Frankfurt, temos outros teóricos, nomeadamente os america-
A imagem/signo, através da dialéctica, é a concepção que identifica nos Hal Foster e Frederic Jameson e, de outra maneira, o francês Michel
as formas do conhecimento (sensações, percepções, representações e con- Pêcheux, que considera os signos/imagens representativos da evolução his-
ceitos) com os sinais. A imagem é também a consideração de funções tórica dos meios de produção e dos ciclos económicos correspondentes à eco-
heurísticas dos sinais, incluindo os linguísticos, no pensamento e fun- nomia de mercado, aos monopólios e às multinacionais.
damentalmente na ciência moderna. Estas atitudes têm significado es- Observemos então as conflitualidades estéticas entre estas duas ten-
sencial, tanto do ponto de vista teórico como conceptual. Por outro lado, dências, uma lógica/gramatical de características simbólicas, a outra uma
os signos, segundo as diversas tendências do pensamento, podem ser teoria crítica onde os signos são resultantes das condições socioeconómicas
apreciados quer num sistema filosófico idealista, quer num sistema so- ligadas ao método da psicanálise freudiana, a qual Foster e o marxista
cial relacionado com a produção, a história do pensamento e culturas Jameson analisam a partir dos últimos quinze anos, considerando que os
artísticas. Cassirer considera que o homem é um animal simbólico, visto não signos, ao longo do século xx, se conjugam com os meios de produção.

104 105
Esses meios de produção dividem-se em épocas: uma correspondente a As diversas facetas, pelas quais são expressos os signos/imagens,
1930/1960, outra a 1960/1990 e numa terceira de 1990, cada uma com os estruturam-se na consciência dos artistas ou dos arquitectos a partir de
seus discursos, os seus sujeitos e as suas imagens tecnológicas. um mundo específico, ideológico e idealista de produção que modela as
Como método para este nosso trabalho, optámos porum contraponto imagens em diferentes aspectos da realidade. A materialização desse
entre a análise do sistema filosófico idealista formalista do século XX, pensamento, por sua vez, liga-se à metodologia semiótica numa série
onde os problemas da subjectividade e da descontinuidade do pensa- ou numa especialidade, dando objectivações que se relacionam com
mento linguístico são dominantes, com o sistema filosófico dos meios outras formas da nossa actividade intelectual e artística.
de produção da Teoria Crítica. O Signo/imagem não se refere ao conteúdo externo da forma: ele
manifesta uma estreita relação entre o conteúdo e a forma do objecto,
Método simbólico - lógico-linguístico conforme observamos nos princípios de Hjelmslev.
Após estas considerações, comecemos por citar Cassirer, que demons- Segundo a teoria do linguista Charles Sanders, o Signo pode ser vis-
to em relação ao objecto a que se refere e em relação ao interpretante.
trou o conceito estático do signo das Coisas, que não tinham um relacio-
Deste modo, temos:
namento com a análise dos conflitos da realidade nem com o movimento
dialéctico. Assim, os signos arquitectónicos são signos simbólicos sim- Quali-signo: sensação cro- Quali-signo: cor das paredes, da
ples e compostos, baseados num elemento convencional e codificado e mâticn tecto, pavimenta, paredes exterio-
estabelecem uma relação existencial entre o significante e o significado. res, cobertllras, eic.
Cada elemento ou estrutura arquitectónica, segundo este conceito, tem Sinsigno: objecto, palavra Sinsigno: moradia, uniáade
Em relação isolada, é sinsigno enquan- habi tocionnl
um componente indicativo. Os signos mais elementares são indicado- a si mesmo to réplica individual de um
res, apreendidos através da forma ou do conteúdo arquitectónico, apre- legi-signo
sentados de modo simplificado. Legi-signo: convenção Legi-signo: pavillzão de exposi-
O SIGNO INDICADOR apresenta um valor importantíssimo para a área ção, estabelecimentos, etc.
da arquitectura, por razões pragmáticas, as quais permanecem através Ícone: qualidade hnbimciona!
Ícone: imagem menttu, com
dos tempos. Damos três exemplos bem expressivos: a forma da relação represen-
A seta (indica o sentido de circulação). CII tada. meláfora
A janela (indica panorâmica para além do lugar que ocupamos). O Índice: sinal que dirige a Índice: a lorre sineiro de uma
Em relação igreja, paria de vidro de um edi-
A porta de vidro (assinala-se a ela própria e define dois espaços adja- Z ao objecto atenção para uni objeclo par
meio de 11m impulso seca fício-entrada, jUlzela indicadom
centes). (::I
O SIGNO IÓNICO refere-se às diferentes séries de relações entre o
significante e o significado, ou denotação e conotação, conforme o des-
-
CII
Símbolo: representa mais
significado eoidenie e ime-
âiato
da insta sobre a exlerior
Símbolo: o teatro, a moradia,
unidade hahitacional, a cabana
crito adiante nos Quadros A e B sobre a Capela de Ronchamp.
Rema: lermo em relação ao Rema: qualquer signo oisunt to-
deci-signo mado cama lermo de um possi-
3. 2. Fragmentação dos signos vel enunciada
Dici-signo: enunciada, de- Dici-signo: dois signos visuais
Em relação
«Os Signos denotam, com artifícios gráficos convencionados, semas ao interpretante finição associadas de moda a daí origi-
de reconhecimento (nariz, olhos, céu, nuvens); ou então "modelos abs- nar-se lima relação
tractos", símbolos, diagramas conceptuaís do objecto (sol como círculo Argumento: silogismo Argumento: lIIll complexa visual
rodeado de raios filiformes). Amiúde dificilmente analisáveis no âmago que põe em relação a signos de
de um sema, visto que se apresentam como não discretos, num contí- várias tipos, o conjunta por
nuo gráfico. Só reconhecíveis com base no sema como contexto.» exemplo: das comunicações de
utenies; escalas; escadas rolantes

106 107
o contínuo dos signos quiseram dar um conhecimento com carácter lógico, pois as investiga-
ções não conseguiram atingir um pensamento suficiente na generalida-
Partindo dos estudos elaborados por Emilio Garroni, que corresponde de, como nas Ciências. É nestas circunstâncias que o estudo do símbolo
ao seguimento do pensamento kantiano, podemos ter uma panorâmica é colocado com reticências no Racionalismo e em relação às coerências
sobre o contínuo dos signos mais esclarecida sobre este assunto. Isto é, o científicas. Quem pretender estar na vida no âmbito científico ou ainda
valor de um objecto no âmbito semiológico e o enquadramento numa nos aspectos racionais, não pode seguir tão linearmente as interpreta-
Descontinuidade e saber dos valores em que o "Contínuo» se decom- ções simbólicas, pois estas não são objectivas, embora os psicólogos quei-
põe. Para interpretação desse estudo, convém entender as qualidades ram dar uma certa justificação.
das graduações do «Contínuo» e os seus reflexos nas Imagens e, bem A lógica dos símbolos estrutura-se por meio de princípios que estão em Ínti-
assim, no relacionamento com o Signo e o seu processo das imagens. ma fusão com relações de conotação e, ao mesmo tempo, conexões da própria
O «Contínuo» é uma situação ambígua na exposição dos seus objec- estrutura de símbolos idealistas. Para definir o símbolo devemos pensar primei-
tivos, pois esta teoria só é verdadeira quando tem como resolução nos ramente noutras duas condições: o Real e o Imaginário.
efeitos bem «Discretos» de atitudes formais subtis. O real em filosofia clássica correspondia à inteligência ou à noção
Todo este progressivo relacionamento no seu todo é uma oposição pura que define a verdade. O imaginário era uma verdade oposta ao
entre: real. O que interessa é a interacção que ambos apresentam para consti-
tuir o simbólico. O Símbolo é uma linguagem universal acessível a todas
O Signo e a Imagem; as pessoas, emitindo mensagens que vêm enriquecer as ideias dos po-
O Contínuo e o Discreto. vos, quer no sentido histórico em geral, quer no sentido de pormenor
actual. Ele resulta de confrontos e forças contrárias, que estão num
posicionamento de relação, pois o psiquismo do instinto leva essas for-
3. 3. O conceito dos símbolos ças a uma posição centrífuga. Para ter verdadeira dimensão de poten-
cialidades e ser um instrumento bem eficaz é preciso conhecermos os
A partir da década de trinta, a estética, ao pesquisar a semiologia,
aspectos interpessoais, intergrupos e até internacionais dos povos.
baseia-se principalmente no conhecimento das leis universais que não
Assim, uma vez analisados os aspectos sociais dos símbolos, devemos
dependem de uma adeguada objectividade do mundo e da natureza
dirigir a análise do conhecimento dos seus valores e comportamento
nem de uma realidade. E através desta metodologia metafísica que ire-
para o ramo da psicanálise. Pois o homem necessita que as suas experi-
mos expor a evolução das teorias do símbolo modernista. Com Ernst
ências sensoriais lhe proporcionem um conhecimento mais ou menos
Cassirer (1874-1945), abandona-se a interpretação histórica da Realida-
de Social para se estudar a metafísica do mito e interpretação genética. correcto do mundo, uma vez que tem que existir um relacionamento
Os conceitos simbólicos artísticos ligam-se à linguagem, encontrando- entre o sensorial e o racional; ou seja, as sensações são resultantes da
-se o método comunicativo entre duas atitudes: uma activa e outra pas- acção provoca da pelas coisas que nos rodeiam. Só assim poderá avaliar-
siva, passando assim ao método idealista, em que os signos e os ícones se a ligação entre a imagem e o sinal simbólico.
estão ligados a uma magia analógica semelhante à «essência» de Kant. Finalmente, numa metodologia de teorias metafísicas, o símbolo si-
Diz-nos Cassirer que a arte tem como elemento dominante as constru- tua-se entre a nossa vida e a nossa morte, através da relação de elemen-
ções intelectuais e racionais e, para isso, todos os instrumentos de pen- tos da natureza, como o fogo, a água, a terra, o céu, os espaços, como
samento são formas simbólicas que se reduzem à linguagem. Com as valor da significação, que faz parte do nosso mundo. Ele representa um
grandes alterações verificadas na epistemologia a partir da década de inventário de códigos culturais, conforme a civilização ou sociedade, e
sessenta, os teóricos Gaston Bachelard, C. G. Iung. Freud, Piaget, Gilbert adquire diferentes escalas de valores, que mudam em correspondência
Durand e Lacan, embora tivessem conceitos diferentes sobre o símbolo, ao grupo social a que pertencem.

108 109
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II •
LE CORBUSIER - CÓDIGOS URBANOS

A comparação entre o signo e o símbolo

Enquanto que com a sensibilidade da consciência do homem, obte-


mos da vida exterior duas espécies de observações fundamentais
- a directa, através da qual o espírito nos dá uma percepção e uma sensa-
ção e a indirecta, sempre que o espírito não a sente «em carne e OSSO», como
é o caso das recordações da infância e da imaginação, onde a consciência
procura sempre uma imagem - com os signos deparamos também com
duas sensações diferentes: uma meramente indicaiioa e, outra, que nos oferece
uma ideia abstracta. O signo é bastante simbólico, como certas expressões
utilizadas no nosso vocabulário: <10go purificador,fogo infernal, fogo sexual».
I O relacionamento do símbolo com o signo oferece--nos um significado
invisível, mítico ou ritual. A sua imagem dá-nos uma ideia de algo repre-
sentado com um sentido abstracto, secreto ou misterioso. O símbolo
iconográfico é uma cópia de um sítio ou de um modelo. O símbolo é sem-
pre um pensamento indirecto, nunca encarado como o produto da ciên-
cia. Recorre, sistematicamente, ao simbolismo mítico, ou seja, é o mesmo
que fazer renascer o receio do domínio ideológico no nosso interior, como
a imaginação da infância, numa concepção empirista. O simbolismo é o
conhecimento mítico experimental, como quando para uma salvação in-
terior, nos momentos mais aflitivos, invocamos a figura de Deus. O sím-
bolo oferece sempre ao observador um conjunto de imagens sucessivas.
Após uma primeira imagem, segue-se uma grande variedade de outras
imagens associadas. É a esta variedade de símbolos que Jung chama ar-
quétipo. O arquétipo toma forma no nosso pré-consciente, analogica-
mente, como uma estrutura emissora de imagens originárias da formação
social e cultural de cada um.
"o conhecimento das bases arquetípicas universais [ ... ] incitou-me
a olhar o que existe por toda a parte e sempre e o que pertence a todos
[ ... ] como um facto psicológico.»
]ung, Symbolique de l'esprit

Bachelard afirma que todos os símbolos têm um carácter duvidoso,


devido à imaginação humana que os concebe, numa imagem concreta
que se funde com a imaginação. As imagens e metáforas dão ao símbolo
um carácter de fantasia sonhada, transformando o arquétipo na felici-
dade vincada pela infância ingénua. Logo, a antropologia é o método
formado pela faculdade imaginativa do interior da nossa consciência.
Em suma, o estruturalismo corno concepção de um encadeamento sim-

113
bólico relata as relações de ordem ou sequência mítica, enquadrando, alinhados quebrados, com jardim individual. Os objectos de Nemours e
simultaneamente, com o funcionalismo, o símbolo no seu conceito social, St. Die confirmam esta atitude. Assim, a Unidade de Marselha introduz
semantizando o método utilizado. A imagem é vista como uma regra uma qualidade simbólica e significativa, até aqui diferente dos conjun-
estrutural, que é inteiramente diferente do símbolo semiológico. Den- tos habitacionais. Esta Unidade re-pr.esenta um conjunto compacto de
tro dos sistemas imagéticos que corres ponderam a signos e símbolos habitações, em «células» com 23 tipos diferentes.
semiológicos, apresentamos exemplos característicos de dois arquitec-
tos de épocas bem distintas, que constituíram a base das concepções de
objectos arquitectónicos do século XVI - Palladio - e do século XX - Le A altura como signo publicitário - consurnisia
Corbusier. Num conceito maneirista, as Villas de Palladio, que constituí-
ram um símbolo do poder e riqueza dos mercadores venezianas, apre- O modelo das torres dos apartamentos de Chicago de 1950/1951, ela-
sentam uma organização palaciana rural, num esquema lógico, como se borado por Mies van der Rohe, marca uma autonomia formal e urbanís-
efectuasse uma frase clássica de códigos A.B.C.B.A, sendo os elemen- tica, testemunho da alta tecnologia. Passam a ser elementos geométri-
tos A.C.A fixos e os B variáveis, constituindo pátios de acesso ao ele- cos elementares e códigos, numa estrutura homogénea com uma
mento central. É uma proposição bem marcante, que vem produzir uma totalidade de invólucro de vidro. Dentro deste espírito, surgem os gran-
classe arquitectónica bastante importante para o estudo das tipologias des centros de escritórios e comerciais, como as duas torres gémeas de
ao longo dos séculos XVII a XIX. Quanto a Le Corbusier, existem dois ova Iorque (The World Trade Center) em 1972, com 412 m de altura,
objectos muito representativos dos seus códigos: a Ville Savoye (1931) e 110 pisos, e mais recente, as de Chicago, com no pisos e 442 m de altu-
a Universidade de Marselha (1946). A partir da proposição de cinco ra, revestidas totalmente de cristal negro, assinalando a grande paisa-
princípios - pilares, paredes soltas, janelas rasgadas, terraços e vazio no gem daquela cidade.
embasamento -, a ViII e Savoye apresenta uma geometria cúbica mar-
cando uma imagética representativa da filosofia mecanicista. Entretanto,
na Unidade de Marselha, propõe um novo «readu-made» composto por Sigilos/símbolos em Le Corbusier e Mies van der Rohe
um sólido geométrico paralelepipédico, onde se situam conjuntos habita-
cionais organizados em espaços mínimos para famílias de classes sociais o modernismo arquitectónico nos anos 30/40 constituiu um período
modestas. Esta unidade assinalou a concepção dos objectos habitacionais rico em símbolos culturais, que transmitiam aos arquitectos e às popula-
em todo o mundo nas décadas de cinquenta a setenta. ções os elementos dos edifícios mais representativos. Um dos arquitec-
tos, que talvez melhor soube transmitir essa simbologia nas suas obras,
foi Le Corbusier. Mies van der Rohe contribuiu, igualmente, para o mes-
A unidade habiuicional como signo simbólico mo objectivoj criando uma simbologia muito particular para edifícios
de serviços. E evidente que todos estes símbolos se foram modificando
A célula-alojamento constitui uma unidade mínima funcional e o ele- nas décadas seguintes com as influências da semiologia.
mento base para o sistema combinatório. Relaciona-se também com o Le Corbusier inicia, com os seus cinco princípios da composição e
sector urbano, no qual se insere numa Unidade simples e isolada do construção, as regras do modernismo. Utiliza também outros códigos,
arruamento. A Unidade de alojamento compreende um conjunto de tais como a rampa/promenade e as grades das varandas semelhantes às
modelos de andares, que satisfaz as exigências de uma sintaxe lógico- das armaduras dos navios. Talvez mais significativas, de acordo com a
-formal. É de acordo com este princípio que Le Corbusier opta por Uni- CARTA DE ATE AS, sejam as U1\TIDADES totalmente independentes, apre-
dades independentes, dentro de espaços ajardinados, e pronuncia-se sentadas no seu livro Maneira de Pensar o Urbanismo, de 1943, que consti-
por um aumento de densidade, até 1000 habitantes por hectare, enquanto tuem códigos de formas emblemáticas para as imagens arquitectónicas
Gropius insiste numa diferenciação de modelos tipológicos, isolados ou e o urbanismo, uma sociedade mecanicista, que tiveram uma aplicação

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/

universal. A essas UNIDADES correspondem, para a habitação, grupos de alo- pontualizando o seu perfil e a sua textura numa forma extremamente
jamentos autónomos; para o lazer, edifícios e espaços de estar; para a circulação simples, marcando geometrias paralelepipédicas, como os imóveis de
viária, diversos graus de vias rápidas e respectivos nós e, ainda, unidades de escritórios de Chicago, de Mies van der Rohe, ou cilíndricas, como a
paisagem que se enquadram nas zonas verdes. A urbanização de Saint Die Marina City. Inicia-se, assim, uma arte arquitectónica tecnológica, onde
reúne um somatório destes seus códigos, criados ao longo de vinte anos. a electricidade e a electrónica da sociedade neocapitalista marcam uma
O arquitecto brasileiro Óscar Niemeyer seguiu estes princípios na con- nova estética de caixas de vidro.
cepção da cidade de Brasília. Para que o conteúdo seja explícito por meio Temos ainda outros símbolos de tecnologia industrializada, a que se
dos signos, estes devem possuir um sistema de descodificação que pos- dá o nome de High-tech, a qual foi marcada inicialmente com a tendên-
sa ser efectuada pelo observador e que tenha uma objectividade ou cha- cia inglesa dos anos 60 do Archigram e a japonesa do Metabolismo, como
ve que também serviu de base ao arquitecto ou ao artista. Vejamos o é o caso do Museu Pompidou, em Paris. São signos inspirados, por exem-
exemplo da Capela de Ronchamp, com a sua forma corpórea marcada plo, nas refinarias de petróleo, onde as linhas, os cabos ou as estruturas
por três torres sineiras, sendo duas principais e uma secundária. metálicas marcam formas esguias que se confrontam com a sombra e a
Na década de cinquenta, surgiram, no mundo ocidental, várias teorias para dominância do vazio.
resolver as condições do ambiente e da climatização dos objectos arqui-
tectónicos a fim de proporcionar uma boa vivência interior dos seus es-
paços. Ao estudar as diferenças de graduações de temperaturas nas di- Signos/símboLos em Siza Vieira
versas zonas do globo, as investigações foram dirigidas em dois sentidos:
Para estudarmos algumas obras de Siza Vieira destes dois últimos
um, a ventilação natural; decênios, no referente às imagens, aos espaços exteriores e às volumetrias,
outro, a ventilação artificial. deveremos considerar, principalmente, os seus condicionalismos sim-
bólicos. Existem múltiplas configurações regulares e irregulares, entre
O sistema de climatização natural foi resolvido através de quebra- elas, as expressões paralelepipédicas, como o caso dos pátios da Escola
-luzes em posições horizontais ou verticais, estudados por Le Corbusier, Superior de Setúbal, outras, de carácter piramidal horizontal, como seja
desde os anos 30, recorrendo ao betão armado, em pequenas lâminas. a Escola Superior de Arquitectura do Porto, e até volumétricas trape-
Deste modo, Le Corbusier, ao introduzir os quebra-luzes que controlam zoidais, como o Pavilhão Carlos Ramos, também no Porto. Estas obras,
o fluxo dos raios solares, dando uma corrente de temperatura agradá- para melhor entendimento da composição, não são referidas cronologi-
vel, estudou e aplicou este sistema em diversos edifícios, dos quais os camente, mas sim de acordo com um critério de pensamento lógico,
mais representativos são o Ministério da Educação, no Rio de Janeiro desde a simplicidade à complexidade.
(Brasil-1933/1946), o imóvel de escritórios de Argel, apenas projectado Os estudos da obra de Siza Vieira têm sido efectuados por diversos
(1933), e os edifícios em Chandigarh (1951/1956), edifícios com uma cons- historiadores e críticos de arte, tais como: Jacinto Rodrigues, Ignasi de
tituição formal de paralelepípedos horizontais ou verticais, onde va- ° Solá-Morales e Kenneth Frampton, debruçando-se quer sobre o seu mé-
lor das Linhas produz um conjunto de favos, que nos dão luz e sombra, todo compositivo, quer sobre o enquadramento artístico na panorâmica
e que constitui um Signo. Le Corbusier recusa, assim, a climatização ar- contemporânea. A nossa perspectiva analisa essa composição relaciona-
tificial iniciada pelos americanos de acordo com princípios arquitectóni- da com os princípios da semiologia, recorrendo a alguns tópicos de Ja-
cos e teóricos de Mies van der Rohe. Utilizando a ventilação artificial e cinto Rodrigues do seu livro Método e Obra de Siza Vieira, que nos pode-
as imagens de Mies, surgem formas geométricas paralelepipédicas ou rão complementar a leitura dos objectos que consideramos importantes
«caixas» de vidro lança das na vertical, que criaram um novo signo neste ensaio, quanto à harmonia, ao desenho, à racionalidade e à reali-
consumista. Com o auxílio do aço, estas «caixas» formaram as novas dade, que se liga à geometria abstracta. O seu discurso resulta de quatro
«Catedrais» do sector terciário. Assinalam signos isolados no espaço, impulsos de conceitos, como sejam a natureza, a forma, a criatioiâade e o

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lúdico, produzindo qualidades harmónicas num equilíbrio instável en- o símbolo das perspectivas de escorço, em pirâmide horizontal, segundo
tre a abstracção e a empatia. O processo conceptual mostra-nos a as teorias de Erurin Panofsky
morfologia ligada ao desenho e ao lugar, bem como a uma investigação
da metamorfose entre o real e o concreto, numa articulação entre o social A escola de arquitectura lia Porto - composição piramidal
e a expressão. O lugar corresponde a uma atitude existencial cuja geo-
metria topológica é a relação entre o objecto e o sítio. Quanto à razão, A composição desta imagem parte de uma tipología de espaço/pátio
transmite uma dimensão sensível e intuitiva e não uma ideologia dessa irregular, de característica piramidal escalena no sentido horizontal, dentro
razão. Estas matérias concentram-se em pesquisas plásticas de três lógi- de uma geometria topológica que serve de estrutura às micromassas/
cas: a lógica das humanidades, a lógica das ciências exactas e a lógica /volumes envolventes. A colocação destas micromassas diferentes
das ciências humanas. A+B+C+D, etc., tem uma estrutura de pensamento que se repete ao
A análise que propomos não aborda essa visão intelectual de Siza, longo destes últimos quinze anos na obra de Siza Vieira, como
mas relacionar-se-a com os sinais, os símbolos do homem e da história metodologia de espaço topológico. Esta configuração simbólica de
artística regional ou cultural, assinalando signos imagéticos numa atitude escorço converge para uma linha vertical de luz. É nos dois planos late-
estruturalista, fenomenológica minimalisia. rais que se situam, de um lado, os volumes que se encontram isolados e,
A sua grande contribuição morfológica para a arquitectura contem- do outro, um conjunto articulado de zonas de estar, as bibliotecas, ram-
porânea (a partir dos anos 80) é a «investigação» da metamorfose do pa de acesso aos diferentes pisos, bar e cafetaria. Existe neste todo uma
espaço da pirâmide horizontal e do prisma triangular de acordo com a configuração de pequenos elementos, cada um com a sua propriedade,
geometria topológica. A pirâmide apresenta-se em múltiplas expressões com o seu carácter, com os seus sinais, havendo contudo dois percursos
de composição, de penetração, de vazios e de obliquidades axiais, bem distintos consoante a natureza climatérica. O «Local» escolhido é
conjugadas com a pesquisa de efeitos da luz e da sombra. Ao fazer esta um dos valores mais importantes da nova teoria do estruturalismo, com-
pequena síntese, recordemos também a evolução histórica e artística do pletado pela geometria topológica. Esse «Local» atribui a cada massa
paralelepípedo, com diversos dimensionamentos, posições e lugares, de volumétrica um valor de significado, pois vai estabelecer as diferenças
Le Corbusier, ou ainda a morfologia de Alvar Aalto com as suas expres- de percurso de um lugar para o outro, criando uma significação geral.
sões prismáticas triangulares. Neste objecto cria-se uma situação de ambiguidade através do escorço.
Ora, sem o conceito do símbolo que une os vários princípios da His- O escorço, para Siza, é uma das opções formais para atingir a ênfase visual
tória, não entendemos a pesquisa piramidal topológica de acordo com da dinâmica e das evoluções dos agrupamentos dos microvolumes.
as teorias de Erwin Panofsky, que se estendeu à actual perspectiva É uma ciência de ilusão visual que transforma a profundidade num en-
topológica contemporânea. curtamento.
Sem o conhecimento das teorias do símbolo e das suas implicações
na História artística da humanidade e das investigações de Erwin
Panofsky sobre a perspectiva renascentista, não entenderemos a apli- A Casa Vieira de Castro
cação da perspectiva topológica piramidal moderna, iniciada por Alvar
Aalto e continuada por Siza Vieira. A colocação de superfícies e de só- Quem observar este objecto a partir do vale, vê uma longa superfície
lidos não ortogonais, prevalecendo o domínio das obliquidades sem quebrada com abertos e fechados, numa dinâmica que é estruturada
prejuízo do dimensionamento da configuração, traduz um tipo de pers- morfologicamente por três paralelepípedos, sendo um longitudinal e
pectiva e um ponto de fuga elástico. Cria-se, assim, um fenómeno dois transversais, colados entre si, prevalecendo o valor do invólucro
visual de distorções e de angulosidades onde as tensões são coesas, opaco.
apesar de se dar maior movimento à ilusão e registar diferentes distan- A sua concepção «obriga» o observador a escolher, como melhor ân-
ciamentos. gulo visual para a leitura da sua cadência progressiva de dilatação dos

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microvolumes, o vértice ilusório que o agrupamento produz. Esta leitu- mânticos expressam o valor que se pode atribuir a um código sintáctico,
ra é absolutamente oposta à da Faculdade de Arquitectura do Porto e à subdividindo-se em Funções Primárias (a que Charles [encks chama sim-
do Museu Galego de Santiago de Compostela, ao qual nos referiremos plesmente sintácticas), correspondentes aos pilares, vigas, paredes, te-
no capítulo sobre a fenomenologia minimalista. O sistema com positivo lhados, cúpulas, etc.; Funções Simbólicas, ou Secundárias, que repre-
desta volumetria expressionista possui uma configuração prismática sentam objectos alegóricos, como arcos de triunfo, pórticos, ou colunas;
compacta onde prevalecem as PENETRAÇÕES horizontais, tanto no sen- Códigos Distributivos, que se referem à ideologia da habitação: comparti-
tido de maior dimensão, como nos dois sentidos menores. Existem, por- mentos, alçados e outros elementos indicativos do conceito de edifício.
tanto, três eixos, sendo o mais importante o da penetração longitudinal. Estes códigos foram estudados pelo Laboratório Nacional de Engenharia
Os outros dois eixos transversais encaixam-se neste e agrupam os res- Civil, em 1971, em habitações isoladas, geminadas, em banda, torres, etc.
tantes microvolumes. Para um conhecimento mais exacto destes encai- Códigos geométricos: segundo Gilles Deleuze, a geometria é um có-
xes e para tirar partido deles, foi necessário criar zonas de vazios onde digo SEI SÍVEL, não entrando como elemento dominante da composi-
se vêem as sobre posições destes sólidos. O valor das penetrações e dos ção. Broadbent, baseando-se nas teorias de Chomsky sobre a estrutura
vazios na zona do rés-do-chão marca um código à volumetria, suspen- profunda, considera-os, pelo contrário, como tendo funções preponde-
dendo-a por meio de ocos que nos dão dois indícios de profundidade. rantes principalmente para o método com positivo canónico.
A pala sobre a entrada é um sinal bem importante em relação às restan- Códigos tipológicos: são objectos bem definidos, tais como igrejas,
tes fenestrações. Quanto à luz, esta apresenta-se em duas situações salas de espectáculo, hospitais, escolas, centros comerciais, etc.
fenomenológicas distintas valorizando-se a luz zenital pós-modernista Códigos léxicos de tipo icónico, aos quais Broadbent, ainda apro-
barroca que confere maior riqueza às volumetrias interiores, organiza- veitando as teorias de Chomsky, sobre a gramática generativa e a estru-
das em duplex ou pés direitos duplos. tura profunda, considera como exemplo mais representativo a igreja de
Madison, EUA, de F. L. Wright.
Códigos antropológicos, que se referem aos distanciamentos, tais
3. 4. Códigos como:
entre duas pessoas, correspondente à aproximação:
A investigação dos códigos, que neste ensaio não é muito apro-
distância íntima entre duas pessoas, de 15 a 20 cm;
fundada, por termos dirigido a nossa atenção mais para a conflitualidade
distância pública;
das tendências filosóficas dos signos no âmbito do estruturalismo e do
distância social;
pós-estruturalismo, é para Umberto Eco uma matéria bastante impor-
distância de fuga ou de movimento.
tante no contexto histórico e intelectual do presente por ser, ao mesmo
tempo, um instrumento interpretativo e criativo. Expondo as suas ideias
no livro A Estrutura Ausente, considera de forma pragmática que os có-
digos arquitectónicos e antropológicos se dividem em cinco situações 3. 5. A semântica/semiótica e a matemática do método de Max
inseridas nos respectivos ciclos históricos e ideológicos: Arquitectóni- Bense - proposição
cos, Geométricos, Tipológicos, Léxicos de tipo icónico e Antropológicos.
3. 5. L Introdução
Exemplificando, podemos dizer que:
A semiôtica e a composição
Códigos arquitectónicos: são códigos tipológicos que representam Entretanto, numa investigação serniótica muito ligada à matemática,
MENSAGENS e que se dividem em códigos sintácticos e códigos semânti- pesquisa-se esta matéria, mais pormenorizadamente, numa área abso-
cos. Os códigos sintácticos definem os elementos construtivos e os se- lutamente concreta sobre as proposições verdadeiras e falsas. Deste

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modo, de acordo com as teorias de Max Bense, qualquer signo realizado termos de informação e de comunicação, ou seja, convém determinar o
só pode ser concebido dentro de um quadro de um substrato físico objecto de composição quanto à posição que é semioticamente a sua.
(médium, meio-Centro), como figura material. Esta composição (com-
posição do signo ou composição da semiótica) deverá ser bem distinguida
da composição semiótica propriamente dita, no sentido de uma semiótica 3. 5. 2. Sujeito matemático
aplicada. Para assegurar a passagem da teoria semiótica da composição
à prática semiótica, chama-se a atenção para dois pontos. Max Bense A ligação do sujeito à técnica é o princípio segundo o qual Max Bense
tematizou semioticamente o processo da composição (no sentido preciso elabora a sua semiótica e que o situa na linha racionalista que vai de
e completo do termo), como processo pragmático no sentido da relação Descartes a Chomsky. Partindo de uma concepção relacional do signo,
constante, consequentemente cíclica e dialéctica, que faz actuar um iniciada por C. S. Peirce. Este carácter relacional do signo faz-nos enten-
interpretante exterior ao signo como meio; e quanto à relação que liga der cada situação específica, graças às variantes de hierarquização que
este meio com um interpretante interior ao signo, tematizou-a como formam sistemas de signos. Esta possibilidade dinâmica do signo,
semiose triádica. Isto é, como processo semiótico a três é preciso referir, que se deforma entre signo virtual e signo efectivo, é confirmada e de-
ao mesmo tempo, as classes de signos característicos da materialidade senvolvida na escolha da composição como suporte material. Desta for-
técnica e a forma-produto técnico. ma, a semiótica está não só encarregada de classificar o objecto de com-
A primeira semiose diz respeito ao esquema criativo da composição- posição ao lado dos objectos naturais de técnica e de arte, mas também
levando em conta o esquema geral formulado por Peirce e onde ele via de o conduzir para uma posição onde mesmo a sua função de utilização
um esquema de realização. A segunda característica da composição reside o torna objecto de arte.
num processo heurístico, ou «morfologia da composição», e é a «passa- Na lógica do desenvolvimento do pensamento de Bense chega-se à
gem do abstracto ao concreto», ou seja, a passagem (por meio de repeti- realidade que não passa de um elemento operatório. A arquitectura, de
ção) de um grau de variável iconicidade a um grau definitivo de acordo com Max Bense, não está estruturada para ser signo, como o está
indexialidade das reproduções (réplica), desde que se descreva de maneira a linguagem: é por isso que não se pode transcrever a arquitectura em
semioticamente mais exacta este processo, a que também se chamou termos de semiótica. Para ele, as formas de composição, são: forma-pro-
«morfológico». E mais, a prática é sempre orientada em função das dife- duto industrial e técnico-publicitário. Esta última apresenta-se como si-
rentes passagens que podem existir, desde a concepção primária à reali- tuação exemplar da comunicação, a qual é o terreno privilegiado da
zação concreta, e desde a necessidade à saturação. São elas, estas passa- semiótica, sendo preciso distinguir «composição do signo ou composi-
gens possíveis, que determinam o objecto da composição, procurado como ção da serniótica», isto é, o signo gráfico, da escrita para operações
realização a partir, pelo menos, destas três relações pertinentes: semiológicas. Na continuação do pensamento de Peirce, Max Bense con-
cebe os signos como esquemas de relação que representam qualquer
Sistema de adaptação icónico - (carroçarias de carros); coisa. Um signo é, portanto, qualquer coisa determinada e seleccionada
Sistema de aproximação indexial - (entrei aços em arquitectura, ra- num conjunto a que ele atribui o nome de «Relações triádicas do signo»,
mificações de electricidade); o qual contém o sujeito como elemento central. Os outros dois elementos
Sistemas selectivos simbólicos - (sistemas de relação com o objecto). serão um objecto e a sua representação como signo, relacionado com a signi-
Implicam também, ao mesmo tempo, um «comportamento de adap- ficação. Esta matéria é compreendida através da epistemologia, que tem
tação», um «comportamento de aproximação ou de coordenação» e, como objectivo esclarecer a teoria da semiótica lógica como linguagem e
enfim ... «um comportamento selectivo». pensamento; da matemática, que transforma as ideias e os seus espaços
dirnensionais e funcionais em princípios numéricos, à semelhança do
Qualquer comportamento do homem em relação aos objectos supõe Modular de Le Corbusier, e da composição, que se refere à representação
(genética e praticamente) um comportamento em relação aos signos, em gráfica dos objectos comuns através de processos técnicos.

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Podemos considerar que a matemática tanto se interessa pelos «nú-
meros», pelos «espaços» ou pelas «estruturas», enfim, pelos «objectos»
ou pelos «sistemas formais». Em epistemologia, limitar-nos-emos a uma
reflexão estritamente metodológica. As semioses fundam a possibilidade
de conhecer as coisas e a possibilidade de comunicar os conhecimentos
na composição. Fundem tudo o que se relaciona com as manipulações
criativas operadas nas coisas, que também podemos denominar objectos
artificiais ou objectos da composição, objectos técnicos ou objectos de
arte. Esta situação é comparável e insere-se na lógica neopositivista, ine-
rente à linguagem e às matemáticas.

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