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Tabela I
Associação entre hipertrigliceridemia e IMC (≥150 mg/dL ou ≥200 mg/dL)*
TG, mg/dL TG, mg/dL
IMC, kg/m2 ≥150 (n=1744) <150 (n=3250) ≥200 (n=937) <200 (n=4057)
<25 20.1 42.7 17.5 39.0
25 a <30 39.9 31.6 39.6 33.3
≥30 39.9 25.6 42.9 27.7
doentes com valores borderline de triglicerídeos (150-199 reduzir ou até eliminar este tipo de ácidos gordos em gor-
mg/dL) é recomendada a perda de 5% do peso corporal duras de barrar de origem vegetal de consumo corrente
limitando a ingestão de «hidratos de carbono» de 50 a 60% (ex.: margarinas). Contudo, dado o impacto destas subs-
do valor calórico total (VCT) diário da dieta. A perda de peso tâncias na saúde cardiovascular será importante reforçar a
melhora o perfil lipídico. Uma redução de 5 a 10% do peso informação em rótulo relativa ao conteúdo de ácidos gor-
corporal resulta numa redução de 20% dos triglicerídeos, de dos trans nos alimentos.
15% no colesterol LDL e, num aumento de 8 a 10% no Na Figura 1 está representado o algoritmo para rastreio
colesterol HDL(2). Apesar de ser claro que o excesso de adi- e tratamento da hipertrigliceridemia. É de salientar que o
posidade se associa à hipertrigliceridemia, a adiposidade rastreio inicial pode ser feito sem necessidade de jejum,
visceral tem maior impacto nesta alteração do que a adipo- sendo contudo recomendado que a última refeição inge-
sidade subcutânea(3). rida (idealmente o pequeno almoço) não tenha na sua
composição mais de 15 g de gordura. Se nesta medição ini-
Dietoterapia da hipertrigliceridemia cial sem jejum, os valores de triglicerídeos excederem 200
A abordagem nutricional do tratamento da hipertrigli- mg/dL, é recomendado realizar um perfil lipídico em jejum
ceridemia inclui o controlo do peso, da distribuição da adi- dentro de uma janela temporal de 2 a 4 semanas.
posidade corporal, do perfil de macronutrientes da dieta
(incluindo quantidade e tipo de gordura e hidratos de car- Macronutrientes – Gordura total,
bono) e do consumo de bebidas alcoólicas. É de salientar hidratos de carbono e proteína
que se a intervenção for feita a vários níveis, há efeito adi- A Figura 1 sumariza a distribuição de macronutrientes
tivo na redução dos triglicerídeos. Uma das intervenções em percentagem do valor calórico total para os vários
salientada no artigo passa pela eliminação de ácidos gor- intervalos de trigliceridemia. Os múltiplos estudos citados
dos trans na dieta, dado que estes aumentam os níveis de sustentam que a redução da gordura total na dieta leva a
triglicerídeos e lipoproteínas aterogénicas (por ex.: lipo- uma redução da trigliceridemia. Contudo quando esta
proteína [a] e LDL-C) que se associam a maior risco cardio- redução é feita aumentando a proporção de hidratos de
vascular. Apesar do consumo de ácidos gordos trans repre- carbono na dieta, este efeito hipotrigliceridemiante é
sentar uma pequena quantidade do total de gorduras menos evidente e pode até observar-se um aumento da
ingerido habitualmente, a redução da sua ingestão tem trigliceridemia. Este aumento poderá ser mais patente nos
um impacto relevante na redução dos triglicerídeos. Uma indivíduos que já apresentam patologia cardiometabólica.
fonte importante deste tipo de ácidos gordos são os shor- Assim, em indivíduos com hipertrigliceridemia a ingestão
tenings vegetais usados na indústria de confeitaria e pas- de dietas com elevado teor de hidratos de carbono é des-
telaria, bolachas, molhos e outros alimentos processados. aconselhada. É no entanto interessante constatar que
A evolução tecnológica na indústria alimentar permitiu vários estudos recentes não encontraram aumento dos tri-
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Posição da AHA sobre o tratamento não farmacológico das hipertrigliceridemias.
Figura 1
Algoritmo para rastreio e controlo da hipertrigliceridemia. VCT – valor calórico total. EPA/DHA, ácido eicosapentaenóico/ácido
docosahexaenóico. *Nos doentes que apresentem dor abdominal devido a pancreatite causada por hipertrigliceridemia, é
necessário suspender o consumo de toda a gordura (com a possível exceção de triglicerídeos de cadeia media) até que a
intervenção terapêutica reduza substancialmente os níveis de triglicerídeos(1).
glicerídeos em resposta à redução da gordura e concomi- alimentar mediterrânico pode distinguir-se de um padrão
tante aumento de hidratos de carbono da dieta. Um «ocidental» por maior ingestão de frutos, hortícolas, frutos
exemplo é o estudo DASH (Dietary Approaches to Stop gordos (nozes, amêndoas, etc.), cereais integrais e azeite.
Hypertension) cuja dieta enfatiza o uso de frutos e hortí- Isto é, alimentos ricos em ácidos gordos monoinsaturados e
colas, cereais integrais, leguminosas, laticínios magros, polinsaturados, vitaminas, minerais, fitoquímicos e fibra(1).
peixe e aves, limitando o consumo de açúcares simples e
gordura(4). Assim, parece que a elevada densidade nutri- Fibra na dieta
cional desta dieta (em vitaminas, minerais, fitoquímicos) Nos indivíduos com diabetes mellitus tipo 2 (ou em
e a criteriosa seleção do tipo e quantidade de gorduras e risco de a desenvolver) parece haver uma correlação in-
hidratos de carbono tem impacto positivo no colesterol versa entre a trigliceridemia e a fibra total da dieta, fibra
total, C-LDL sem afetar de forma adversa os triglicerídeos. insolúvel e fibra solúvel(1).
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Revista Factores de Risco, Nº26 JUL-SET 2012 Pág. 44-49
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Posição da AHA sobre o tratamento não farmacológico das hipertrigliceridemias.
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