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A MODERNA
ADMINISTRAÇAo MUNICIPAL
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

DIOGO LORDELLO DE MELLO

A MODERNA
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS


RIO DE JANEIRO
1960
A êstes homens públicos do Paraná:

Bento Munooz da Rocha Netto


Flávio Suplicy de Lacerda
M,moel de Oliveira Franco Sobrinho
Milton Carneiro
João Alves da Rocha Loures
José Pereira de Macedo
Josino Alves da Rocha Loures

e mais ao

Prof. Benedicto Si/Vil


e ao
Major-Brigadeiro Varco Alves Secco

pelo apoio e pelo estimulo CJue dêIes recebi para a realização de meus
estudos na Universidade da Califórnia do Sul.
lNDICE
Capitulo Pág.

PREFÁCIO Xl

I. INTRODUÇÃO ......................................... 3

O problema ............... .-............................ 4


Exposição do problema .............................. 4
Importância do estudo ............................... 4
Metodologia ............................................ 5
Bibliografia ......................................... 5
Entrevistas .......................................... 6
Correspondência ......................... ........... 6
Definição do Têrmo _.................................... 7
Município (Estados Unidos) .......................... 7
Município (Brasil) .................................. 7
Condado........................... ......... ........ 7
Gerente de cidade, gerente de condado ................ 7
Organização da tese ..................................... 7

11. CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO DO PLANO DO ADMI·


NISTRADOR.CHEFE .................................... 11

Origens e desenvolvimento do plano do administrador-chefe:


um fenômeno californiano .......................... . 11
O ambiente ............................ ············· 12
Aparecimento e evolução do plano de câmara.e-gerente .. 13
Outra solução para o problema da integração: o adminis-
trador·chefe .................................... . 15
Um fenômeno californiano ...........•............... 18

O cargo e sua posição no govêrno municipal .............. . 20


Fonte da autoridade administrativa ................... . 20
Conceituação do cargo de administrador·chefe ......... . 22

VII I

I
Capitulo Pás·
Formas de operação do plano .... . 24
Atribuições do cargo ............................... . 25
Distinção entre o plano do administrador-chefe e o de câmara-
-e-gerente ........... .......... 28
Diferenças formais .......... 28
Grandes semelhançaçs na prática .... 30
Como os ocupantes percebem seu cargo 31
Tendências do movimento ..... 33
Será um estágio transitório? .... 33
Perspectivas futuras do movimento 34
Sumário ............... 35

III. SUBORDINAÇAO DO CARGO AO PREFEITO: O CASO


DA CIDADE DE LOS ANGELES . 39
Origens históricas do cargo .......... 40
As raízes reformistas do movimento 40
A cidade luta por eficiência ....................... 41
Aparecimento do cargo de administrador da cidade 42
Estrutura e atribuições do cargo 42
O administrador da cidade 42
Composição do gabinete ... 44
Deveres e atribuições do cargo 45
Atribuições orçamentárias .... 45
Atribuições relativas ao pessoal 46
Análise administrativa 47
Relações Públicas 48
Sumário 48

IV. PANORAMA DA ADMINISTRAÇAO MUNICIPAL BRASI-


LEIRA ................... .......... 53
Desenvolvimento histórico do govêrno local no Brasil 53
Nos tempos coloniais ....................... 54
O Govêmo municipal durante o Império .. 56
O Govêrno local de 1889 a 1946 ..... ......... 58
O Govêmo municipal desde 1946 ...................... 60
O Município como unidade de govêrno local ........ 61
Bstrutura poUtica ................................... 6~

VIII
Capítulo Pág.
Conceituação da autonomia municipa I ................ . 69
Estrutura financeira .....••............. 74
Funções e organização administrativa ........ . 79
Condiçções políticas, econômicas e sociais .... . 84
Relações com os governos do E!tado e da Uniio 87
Sumário 90

v ADAPTAÇÃO DO PLANO DO ADMINISTRADOR-CHEFE


AO BRASIL ....................................... .
O problema do administrador profissional .................. 95
A necessidade do administrador municipal treinado em
administração ........ 95
Soluções propostas: sua crítica ........................ 97
O prefeito como líder político e como administrador 101
O plano do administrador-chefe como solução ........ 104
Adaptação do plano ............ 104
Estrutura legal do cargo ......................... 106
Deveres do cargo e papel do administrador-chefe na
administração municipal. . . . . . . . . . . . . .. . 113
SumÁrio 116

VI. IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO 121


Recrutamento ........................................... 121
Recrutamento dentro dos quadros da administração '.. 121
Recrutamento fora do serviço 122
Onde treinar ........................... 123
Escola Brasileira de Administração Pública ......... 124
Departamento Administrativo do Serviço Público ...... 125
Departamento de Administração Pública da Universidade
de Minas Gerais ............................. 125
Instituto Brasileiro de Administração Municipal ...... 126
Instituto Técnico <!Ie Administração Municipal da Bahia 126
Departamentos de Assistência Técnica aos Municlpios 127
Objetivos do Treinamento 128
Objetivos imediatos 129
Objetivos media tos 130
Sumário .............................. . 132

IX
Capitulo Pis·
VII. SUMÁRIO E CONCLUSÕES 137
Sumário ................................................ 137
O problema ........................................ 137
Método de estudo ................................... 137
Conclusões .....................•........................ 139
Conclusões sôbre a evolução, o conceito e a caractetrização
do plano do administrador-chefe ...................... 139
Conclusões sôbre o panorama da administração municipal
brasileira ....................................... 141
Conclusões sôbre a adaptabilidade do plano ao Brasil .... 14~
Recomendaçções sôbre a adaptação e a implementação do
plano .......................................... 146
BIBLIOGRAFIA 149

x
PREFAcIO

NIJo espere o Zeitor cUste Caderno uma profissl1o de fé municipalts-


ta nos moldes até agora predominantes no Brasil, pois divergimos
da maneira com que os líderes da campanha municipalista brasilei-
ra insistem nos objetivos inicia4s do movimento: maiores rendas e
maior autonomia para os munictpios. Discordamos por considerar
que há outros problemas igualmente urgentes e fundamentais li re-
clamarem a atenção de quantos se propõem promover o soerguimento
da nossa vida municipal, como, por exemplo, o aperfeiçoamento do
pessoal e dos métodos de trabalho dos nossos governo~ locais.
Estam08 convencidos da inutilidade de serem atribuídos maiores
recursos aos municípios soem que, ao mesmo tempo, se procure ele-
var o nível técnico daqueles que vlJo empregar ésses recursos, isto
é, do pessoal administrativo das nossas prefeitur/l8'. Estamos igual-
mente convictos de que a profissionalização do administrador mu-
nicipal, através de seu treinamento sistemático nas modernas téc-
nicas admini~trativas e da mudança de sua atitude geral com reZa--
ção ds suas responsabilidades cívicas perante a comunidade, é uma
revolução branca que urge seja levada a efeito, como ponto de par-
tida para a vitalização de nossas instituições municipais. Essa
revolução é tanto mais indispensável quanto é sabido que o prima-
rismo dos métodos administrativos empregados tornam o Município
típico brasileiro absolutamente incapaz para exercer as funções
que lhe cabem como a única unidade de govêrno local conhecida
entre n6s. O abandono, a pobreza, a obscuridade li qu.e t~m sido re-
legados, no Brasil, o Município e o~ seus problemas, de nenhum modo

XI
invalidam, Mates confirmam a tese universalmente aceita de que
ao govêrno local devem tocar os sennços públicos de primeira ne-
cessidade. Por isso que o Município constitui a realidade governa-
mental mais próxima dos cidadãos, aqu~le govêrno cuja função in-
tere88a-os mais de perto, achamos que no movimento de renovaç40
de nossa administração pública, hoje em franca evolução, deve ter
lugar proeminente a formaç40 de administradores municipais ver-
dadeiramente capazes de tornarem o Municipio uma unidade de go-
rêrno eficiente e à altura da tarefa que lhe é destinada na distri-
buição dos encargos governamenta4s.
A autonomia municipal não pode ser considerada como um fim
cm si mesma, mas como um instrumento para a realização do bem
comum. Como tal, seu pleno e.rercfcio só se juBtifica na medida em
que possa ela realizar 8UaS aUcs finalidades, isto é, na medida em
que Zhe seja pos8'fvel utilizar-se dos processos de descentraZizaçlio
político-administrativa que lhe são próprios, para a execução satis-
fa,tória dos serviços públicos locais. Não é mais possível, hoje, sus-
tentar-se a tere jusnaturalista da autonomia municipal. A auto-
nomia é um direito que deve ser conquistado pelos municípios me-
diante prova de capacidade para o seu exercício. E nenhuma prova
é maior nem mais evidente do que a exisMncia de administradores
aptos para fazerem um bom em~go dos dinheiros< públicos confia-
dos ao Município, seja através de seu poder de imposição, seja por
meio da transferéncia de cotQ.8 de impostos federais e estaduais para
o erário municipal. Cremos que os objetivos imediatos do movimen-
to municipalista - maiores renda8 e ma40r autonomia - já foram
IJatisfatõriamente atingidos, se levarmos em conta o progresso ob-
tido nesse setor a partir da Constituição de 1946, que abriu um enor-
me crédito de confiança aos governos municipais. O que é preci-
.'tO é a consolidação das posições conquistadas, através da demons-
tração, pelas n088a8 comunas, de 81«J capacidade de auto-adminis-
tração, em vez dos reclamos obstinados de recursos e poderes ainda
mais amplos. O estímulo para a ampliação da autonomia municipal
deve partir dos próprios municípios e n40 pode ser outro senão a
administração eficiente dos serviços que lhe s40 confiados.

XII
~sse, o caminho que nos parece mais acertado para o movimen-
to municipalista brasileiro, depois das vitórias alcançadaB no 8eu
primeiro impulso. E não 8e diga que não há condições para que o
movimento possa enveredar, com segurança, pelos nOV08 rumos que
aqui lhe apontamos: ai está, como exemplo inspirador dessa nOVa
orientação, a obra de verdadeiro municipalismo que vem sendo feita,
sem alardes ma8 com ~xito singular, pela Escola Brasileira de Ad-
ministração Pública (E.B.A.P.J da Fundação Getúlio Vargas. De
vários modos vem a E.B.A.P. contribuindo para a revisão da cam-
panha munfcfpalista segundo critérios mais objetivos e racionais
que os até agora adotados. Nos seus cursos de Administração PÚ-
blica - inclusive de Administração Municipal - vém sendo for-
mados ou treinados administradores capazes de dar novo 8entido à
gestão da coisa pública. Seu programa de publicações tem divul-
gado valiosos trabalhos de autores nacionais e l:strangeiroB sóbre
administração local. Enfim, Um sido encorajadas e prestigiadas
pela Escola tôdas as iniciativas que visam a elevar o nível da nos-
sa administração municipal.

Outra organização a serviço do movimento municipalista, o


Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), ingressa
numa nova fase de atividades que 8erá marcada por um mtenso
programa de pesquisa e de estudo dos problemas municipai.9 brasi-
leiros, de divulgação de idéias, prdticas e processos capaze8 de con-
tribuir para o aprimoramento dos serviços públicos locais e de fo-
mentar, por todos as modos, a idéia de profissionalização crescente
dos quadr08 administratit'os das nossas prefeituras e climaras mu-
nicipais.

Por sua vez, vl1rios governos munICIpais, do norte ao sul do


Paf8, e8tão despertando para a realidade de que o importante n40
é tanto acrescer "OVOS direit08 à lista de reivindicaçl5es dos mUI"..
CípW8, mas antes preparar a mdquina administrati11a para desem-
penhar eficiente e eficazmente os serviç08 que já lhe são atribuí-
do8 pelo atual regime de diBtribuição de compet~. Ouritiba em-
preendeu a reforma de todo o 8eu apat'eUr.o admmtBfrati"o, segundo

XIII
os princfpios das novas técnicas da admini8tração municipaL Belo
Horizonte também levou a efeito, recentemente, vasto programa de
reorganização de sua máquina admini8trativa. D~le f~z parte o trm-
namento, na Escola Brasileira de Administração Pública, de mais
de cem funcionários municipa-is, demonstração sem dúvida eloqüen.
te da ímportdncia atribuída pelo gov~o de Belo Horizonte d pre-
paração profissional de Seu8 servidores, como um patrimônio valio-
80 a ser legado ds administrações futuras do Munfcfpio.
Tudo parece indicar que já se inicia, entre nós, o reconhecimen-
to daquela verdade tão lUcidamente expressa por Benedicto Silva:

"O empirismo está passando a ser o distintivo, a mar-


ca de fábrica do administrador chambão, incapaz e esté-
ril, produtor de desordem e sacrificador de programas, cuja
ação, longe de se traduzir em rea.lizações desejadas, gera
o desperdicio, a resist~ncia passiva, a morosidade, a ine-
fi~ia e o parasitismo." (1)

O mundo atual, com as imensas e complexas responsabilidades


que impõe aos governos, não pode suportar por muito tempo o
desperdfcio paulatino de suas energiaI'J pelo administrador imprOVi-
sado. Hd. mesmo quem afirme com autoridade, como f~z hd. pouco,
em oportunissimo trabalho, o autor acima citado, que "a civiliza-
ção contemporl1nea ;11. transp6s os umbrais de um novo perlodo, a que
chamamos a era do administrador profissional." (11)
Ora, os anseios de renovação da vida municipal brasileira que
animam a todos os municipali8tas sinceros 8áo, em última análise,
os anseios de renovação do próprio Brasil, desejoso de emergir da
condição de pais subdesenvolvido e ombrear com nações vanguar-
deiras da civilização, nas quais o bem-estar de seus cidad40s resul-

(1) Benedicto Silva. Asmtllncia Tlfctllca em Adm'nis(rCl(l4o PllbUca. Caderno


n· 21 da série "Cadernos de Administração P1lb!lca" (Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas. 1955). p.4.
(2) Benedicto Silva, A Era do Administrador Profissional. Caderno n· 19
da série "Cadernos de Administração P1lbllca" (Rio de Janeiro: Funda-
ção Get1l110 Vargas. 1955) p. li.

XlV
ta, em larga escala, da efici~ da ação administrativa nos inú-
meros setores em que moderna mente se exerce a atividade gover-
namental. Nesta ordem de idéias, é evidente que a renovação da
nosSG vida municipal não pode prescindir da renovaçdo dos méto-
dos admini8trativos atualmente adotados, estando no âmago da ques-
tito a profissionalização dos servidores públicos municipais.
Foi agindo de acórdo com eS8a8 idéias e coerentemente com
os seus objetivos que a Escola BrfASileira de Administração Públi-
ca resolveu publicar o pre8ente trabalho, cuja tese central é preci-
samente a da profissionalização de nossa administração municipal
u,través da introdução, na estrutura administrativa de nossas pre-
feituras, de um administrador-chefe especialmente treinado para
o cargo.
1!Jste trabalho foi originalmente escrito sob a forma de uma
tese, com a qual o Autor concorreu ao grau de mestre de ciências
(Zicenciado) em AdmInistração Pública, pela Escola de Administração
Pública da Universidade da Califórnia do Sul, em Los Angeles.
Ao traduzi-lo do inglés, preferimos conservCllr tanto quanto pos-
síveZ a forma e a apresentação originais, para deixar clara a rigo-
rosa metodologia exigida em trabalhos dessa natureza pelas uni-
versidades norte-americanas. As referências bibliográficas foram
conservadas na sua totalidade, embora, na sua abundância, possam
elas pan-ecer, por vêzes, cansativas. Quisemos, com isso, não apenas
permanecer fiéis ~ forma original, pelo motivo já exposto, como ainda
patentear a ~IOSsa divida para com quantos têm contribuído para o
enriquecimento da escassa literatura nacional sóbre administraçito
municipal.

DIOGO LoRDELLO DE MELLo

xv
~------------------------

CAPíTULO I

INTRODUÇÃO
o movimento que ora se pro- O plano do administrador-che-
cessa, no Brasil, pela raciona- fe, tal como tem sido adotado
lização da administração públi- por muitas comunidades do Es-
ca e pelo revigoramento das tado da Califórnia, apresenta vã-
instituições municipais, sugere a rios pontos de contacto com o
possibilidade de se melhorar o sistema de administração dos
nivel da administração local bra- pequenos municípios do interior
brasileiro, no qual predomina a
sileira com a introdução de no-
figura do secretãrio municipal
vas técnicas administrativas_ ou do secretãrio-contador como
O aperfeiçoamento do meca- coordenador da incipiente mã-
nismo administrativo seria o quina administrativa da Prefei-
complemento natural das con- tura. Acentuam essa semelhan-
quistas jã realizadas pela cam- ça a estrutura simples do plano,
panha municipalista e que con- sua flexibilidade e sua perfeita
sistem, principalmente, na ob- adaptabilidade à forma de go-
tenção de maior autonomia ad- vêrno municipal conhecida, nos
ministrativa e maiores recursos Estados Unidos, por sistema de
financeiros para os municipios_ câmara-e-prefeito, que correspon-
Em paises novos como naqueles de precisamente à forma de go-
de velha civilização, o estudo da vêrno municipal do Brasil. Em
administração comparada tem ambos os casos a idéia de pro-
sido fonte perene de inspiração fissionalização e de eficiência
para a introdução de reformas do serviço público local preside
nas instituições e nos serviços aos fundamentos do esquema,
governamentais, cujo constante ainda que, aqui, a intenção seja
aperfeiçoamento muito deve ao menos expressa e careça, por
conhecimento mútuo das experi- motivos óbvios, dos meios de
ências, dos êxitos e dos fracas- que dispõem as municipalidades
sos alheios. californianas para se efetivar.
4 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO POBLICA

I - PROBLEMA
:este trabalho é um estudo para o problema havia sido até
comparado do plano do admi- agora apresentada. Tôdas as so-
nistrador-chefe com o sistema luções sugeridas entrariam em
de administração vigorante na conflito com o princípio consti-
maioria dos municípios brasilei- tucional da autonomia munici-
ros_ Nêle procurou-se, em pri- pal, desde que se previa a no-
meiro lugar, fixar as caracte- meação do prefeito pelo gover-
rísticas do plano. Em seguida, nador do Estado, ou então se
tentou-se traçar, sumàriamente, pedia fôsse tolerada pelos mu-
a evolução do govêrno local no nicípios a presença de um téc-
Brasil e estabelecer o quadro nico em administração, nomea-
atual dessa evolução. Em tercei- do pelo govêrno do Estado, para
ro lugar, teve-se a intenção de servir como assistente do pre-
determinar se as semelhanças feito. Além de violar a letra
entre o plano e o sistema de da Constituição, tais propostas
administração municipal predo- são ainda contrárias à tendên-
minante no Brasil, assim como cia geral em favor de uma auto-
as condições do meio brasileiro nomia maior para os municípios
em geral, indicavam a possibi- e de uma democratização mais
lidade de se aproveitarem al- ampla das instituições munici-
guns princípios do plano em pais brasileiras_ Conciliar essas
favor do aperfeiçoamento da tendências com a idéia de um
administração municipal brasi- administrador profissional tem
leira. sido um problema de solução
Tanto a profissionalização difícil, já assim reconhecido em
como o treinamento do admi- trabalhos de duas décadas
nistrador municipal têm sido re- atrás. (3) Ademais, o treinamen-
conhecidos como essenciais para to do administrador municipal
o aprimoramento das práticas para o exercício das funções da
de govêrno local no Brasil. To- administração moderna nem
davia, nenhuma solução prática sempre foi mencíonado, ou pelo

(3) M, A. Teixeira de Freitas, "O Problema do Município no Brasil Atual".


Revista Brasilell'a d08 Jlftl1licipio8, I-lI (Janeiro-Junho, 1948) 94-95,
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 5

menos nem sempre foi preci- sistema californiano apresenta


samente ressaltado pelos auto- sôbre o seu correspondente bra-
res daquelas soluções_ Tampou- sileiro.
co procuraram êsses autores de- A solução proposta procura
finir com clareza o conceito do valorizar as tradições brasilei-
administrador técnico, bem como ras, revigorando-as e preferin-
sua posição exata na estrutura do-as às fórmulas importadas,
do govêrno municipal. e aproveitando a experiência es-
Tentou-se, pois, neste estudo, trangeira apenas naquilo em que
encontrar uma solução para o ela possa reforçar as institui-
problema, através da análise ções nacionais. No assunto em
comparativa de dois sistemas foco, a solução já se encontra-
que, assemelhando-se nos seus va, pràticamente, à mão. ~ste
objetivos e princípios fundamen- estudo, apenas, procura eviden-
tais, divergem apenas nos de- ciá-la, tornando prata da casa
talhes e na riqueza de recursos e polindo-a um pouco para real-
e refinamentos técnicos que o çar-lhe o brilho.

II - METODOLOGIA

O método de investigação usa- Bibliografia - D'uas fontes


do neste estudo assumiu três de material bibliográfico foram
formas principais: (1) consulta consideradas: livros e publica-
à literatura especializada norte- ções brasileiras e norte-america-
americana e brasileira sôbre nas. As fontes norte-americanas
administração municipal; (2) en- consistiram de livros-textos cor-
trevistas com funcionários e rentes sôbre govêrno e adminis-
autoridades municipais na área tração municipal; livros e tra-
de Los Angeles e (3) troca de balhos inéditos a respeito, prin.
correspondência com funcioná- cipalmente, do sistema de câ·
rios municipais brasileiros e mara-e-gerente e do plano do
outras pessoas com interêsse administrador-chefe; revistas es-
profissional na administração lo- pecializadas, notadamente a Na-
cal do Brasil. tional Municipal Review e, por
6 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

fim, pUblicações de governos lo- geles tiveram o objetivo prin-


cais, particularmente sob a for· cipal de descobrir como o admi-
ma de relatórios, panfletos e nistrador-chefe encara sua po-
leis orgânicas (charters). As siçao como agente da câmara
fontes brasileiras incluíram li- para a execução da política mu-
vros escritos sôbre os aspectos nicipal. Na opinião do Autor, os
históricos, legais e políticos do trabalhos acêrca do plano do
govêrno municipal no Brasil, administrador-chefe na Califór-
aspectos que têm recebido a nia, especialmente a obra de
m .. ior atenção dos estudiosos, John C. Bollens, (4) estudaram
com a exclusão quase total dos tão completamente o plano que,
aspectos pràpriamente adminis- àquele respeito, precisou o Autor
trativos; a coletânea de confe- somente de maiores informações
rências de Rafael Xavier sôbre de primeira mão a fim de escla-
os problemas básicos da vida recer com exatidão o conceito
municipal brasileira; outras. pu- do cargo de administrador-chefe.
blicações sôbre o mesmo tema;
Correspondência - A corres-
a coleção completa da Revista
Brasileira dos Municípios; a Re- pondência trocada com funcio-
vista do Serviço Público e, final- nários municipais brasileiros e
mente, publicações governamen- outras pessoas versadas nos pro-
tais de caráter jurídico ou esta- blemas da administração local
tístico, especialmente as Consti- no Brasil tiveram por fim obter
tuições Federais e as dos Esta- dados sôbre o funcionamento da
dos, as leis orgânicas municipais máquina administrativa das pe-
e o último Anuário Estatístico quenas municipalidades brasilei-
Brasileiro. ras. Essas informações foram
obtidas principalmente de fun-
Entrevistas - As entrevistas cionários do Departamento de
com funcionários e autoridades Assistência Técnica aos Muni-
municipais na área de Los An- dpios do Paraná.

(4) John C. Bollens, Appointed ExeclItit·e Local Governmtmt (Los Angeles : The
Haynes Foundation, 1952).
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 7

lII. DEFINIÇÃO DE ttRMOS

As definições que se seguem traçãa das zonas rurais. O con-


poderão servir para esclarecer, dado compreende tanto os cen-
desde logo, o significado de cer- tros urbanos quanto as zonas
tos têrmos e expressões. rurais. Aquêles podem ser in-
Município (Estados Unidos) - corporados em cidades com go-
O município, nos Estados Uni- vêrno municipal próprio e inde-
dos, é uma área urbana incor- pendente do govêrno do conda-
porada como unidade de govêr- do. ~ste, entretanto, administra
no local. No Estado da Califór- algumas funções de govêrno lo-
nia, a comunidade urbana que cal dentro das cidades.
constitui o município é chama- Gerente de cidade, gerente de
da de cidade (city). condado - Essas expressões ou,
Município (Brasil) - O mu- simplesmente, o têrmo gerente,
nicípio é a única unidade de referem-se ao funcionário muni-
govêrno local no Brasil, com- cipal ou do condado ao qual foi
preendendo, sob um só govêr- delegada a necessária autorida-
no, tanto as comunidades urba- de para agir como chefe do
nas quanto a zona rural den- ramo executivo do govêrno.
tro de seu território. A sede do Administrador-chefe Ex-
govêrno municipal tem o nome pressão com que se designa, nes-
de cidade. te trabalho, o funcionário muni-
Condado - Nos Estados Uni- cipal ou do condado - outro
dos o condado é uma unidade que não o gerente - nomeado
de govêrno local e representa para coordenar as atividades
uma subdivisão administrativa administrativas da municipali-
de vários Estados da União Nor- dade ou do condado, ou ainda
te-Atllericana para certos fins, para servir como principal assis-
especialmente para a adminis- tente-administrativo do prefeito.

IV - ORGANIZAÇÃO DA TESE
O restante desta tese está or- conceituação e à caracterizaçko
ganizado da maneira que segue: do plano do administrador-
O Capítulo II é dedicado à chefe.
8 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

o Capítulo lU estuda o cargo O Capítulo V cogita da adap-


do administrador-chefe como as- tação, ao Brasil, do plano do
sistente do prefeito, conforme o administrador-chefe, apresentan-
exemplo fornecido pela organi- do condições e recomendações.
zação governamental da cidade O Capitulo VI discute a im-
de Los Angeles. plementação do plano e apre-
senta recomendações para êsse
O Capítulo IV procura retra- fim.
tar as condições de funciona- O Capítulo VII faz um resu-
mento do govêrno local no Bra- mo do estudo, sob a forma de
sil, em seus diferentes aspectos. conclusões e recomendações.
CAPíTULO II

CONCEITO E CARACTERIZAÇÃO DO PLANO


DO ADMINISTRADOR-CHEFE
As origens relativamente re· menciona. Ademais, as seme-
centes do plano do administra· lhanças entre o plano do admi·
dor·chefe e seu confinamento nistrador·chefe e o sistema ge·
quase exclusivo à Califórnia ex· rencial tendem a causar, em
plicam a escassez da literatura muitos espíritos, certa confusão
sôbre o assunto e a falta de quanto à sua verdadeira natu·
conhecimento de suas caracte· reza.
rfsticas, demonstrada por mui· Para que, pois, se possa che·
tas pessoas que estariam certa· gar ao conceito e à caracteri·
mente familiarizadas com a zação do plano, seria convenien·
idéia, fôsse ela usada em todos te considerar as suas origens e
os Estados Unidos. Um dos tex· desenvolvimento, estudar o caro
tos mais populares sôbre go· go do administrador·chefe, dis·
vêrno municipal nos Estados tinguir entre êsse cargo e o do
Unidos, o de autoria de Austin gerente e estabelecer, afinal, as
F. Macdonald, (5) nem mesmo o tendências do movimento.

I - ORIGENS E DESENVOLVIMENTO DO PLANO DO


ADMINISTRADOR-CHEFE: UM FENOMENO
CALIFORNIANO

Esta seção discutirá como se diçóes locais que têm favoreci·


originou e se desenvolveu o pIa· do a experimentação de novas
no do administrador·chefe na idéias nos dominios do govêrno
Califórnia. O assunto será co· e da administração pública na
berto em quatro partes. Na pri· Califórnia, Na segunda parte se·
meira, serão estudadas as con· rão discutidos o aparecimento
(5) AU8t1n F. Macdonald. American City Gotlernme-nt and Adminitration (5'
ed.; New York: Tbomas Y. Crowell Company, 1951).
12 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

e a evolução do plano de câ- nização igualmente extraordiná-


mara-e-gerente como a primeira ria. As complexidades de uma
manifestação em favor da inte- vida urbana em expansão re-
gração e da profissionalização querem novos princípios de ação
do govêrno local no Estado da administrativa, mais fáceis de
Califórnia. A parte terceira será se obterem através de novas
dedicada ao estudo do apareci- atitudes e de nova orientação
mento do plano do administra- em relação ao govêrno local.
dor-chefe como outra solução Ao mesmo tempo, o fato de mui-
para o problema da integração tas municipalidades estarem sen-
e profissionalização. Na parte do organizadas pela primeira
quarta será tentada a caracte- vez oferece a oportunidade de
rização do plano como um fe- se experimentarem novos con-
nômeno da Califórnia, ainda ceitos de administração muni-
grandemente confinado ao seu cipal. (6)
Estado de origem. Por outro lado, no Estado da
O ambiente - Uma série de Califórnia, de há muito vêm
fatôres tem contribuído para sendo exercidas certas práticas
criar na Califórnia um meio fa- geralmente consideradas básicas
vorável à experimentação de no· para o desenvolvimento de vi-
vas idéias acêrca de govêrno lo- gorosas instituições democráti-
cal. A natureza dinâmica e pro· cas no âmbito local. A autono-
gressista da administração que mia municipal (home Tule), a
caracteriza a maioria das cida· participação dos cidadãos no go-
des californianas está intima· vêrno por meio das práticas da
mente relacionada às condições democracia semi direta e as elei-
do ambiente em que operam ções locais não partidárias têm
aquelas auministrações. sido caracteristicas marcantes
Por um lado, o espírito de da política e da administração
fronteira ainda está bem vivo pública calüornianas.
na Califórnia. O século XX está Na verdade, as cidades da
presenciando um extraordinário Califórnia têm estado livres da
crescimento demográfico no Es- interferência do Estado nos seus
tado e uma tendência de urba- negócios internos desde que a

(6) John C. Bollens, Appointed E.recutive Local Government (Los Angeles ;


The Haynes Foundation, 1952) pp. 4-5.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

Constituição de 1879 proibiu tal lia verdade é que grande nú-


intromissão. Qualquer cidade mero de excelentes medidas têm
com população acima de três sido produzidas pela legislação
mil e quinhentos habitantes pode direta." (9)
votar a sua própria lei orgânica A verdadeira importância des-
(charter), conforme a emenda sas práticas deve, porém, ser
constitucional de 1892. Final· compreendida à luz de suas con-
mente, os poderes relativamen· seqüências para o princípio da
te grandes concedidos às cidade autonomia local, pois a inicia-
sujeitas à legislação geral pela tiva popular e o referendum das
Lei das Corporações Municipais leis têm sido largamente usa-
de 1883 e suas subseqüentes dos para a adoção ou a emen-
emendas (7) completam o quadro da de leis orgânicas, bem como
da extensa autonomia de que para a introdução de alterações
dispõem as municipalidades ca· fundamentais na estrutura de
lifornianas. vários governos locais.
Os institutos da democracia As eleições municipais parti-
semidireta, como o 1'ecall, o re- dárias datam de 1913. O princí-
ferendum e a iniciativa popular pio, que parece haver penetra-
das leis têm sido extensamente do profundamente os costumes
praticados no âmbito local e políticos da Califórnia, tem re-
têm certamente contribuído para cebido grande crédito pela redu-
uma participação maior do povo ção da prática do filhotismo po-
no govêrno. O Professor Crouch lítico (spoil system) (10) e por
e outros (8) reconhecem que à haver facilitado a integração
legislação direta e ao recall tem administrativa contida no pla-
recorrido uma variedade de gru- no de câmara-e-gerente. (11)
pos, se bem que não haja ainda, Aparecimento e e'l:olução do
entre os autores, plena concor- plano de cámara-e-gerente -
dância sôbre o valor dessas me- Não é, pois, de surpreender que,
didas. Mas - acrescentam - oferecendo condições tão favo-

(7) Constituição da Califórnia (1879). Art. XI.


(8) Winston Crouch e outros. State and Local G01:erllment in California (Ber-
'<eley e Los Angeles : UnÍ\'ersity of California Press. 1952), pp 74-96.
(9) Ibid .• pp. 74-96
(10) Joha C. Bollens. op. cit., V. 4.
(11) Loc. cito
14 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ráveis para a experimentação A primeira solução para o pro-


de novas idéias no campo da blema apareceu com o chama-
administração e das instituições do Plano de Lockport, concebi-
governamentais, a Califórnia se do por Richard Childs, e que
tenha tão prontamente juntado consiste numa pequena câmara
ao movimento pela renovação eletiva e um administrador, ou
das instituições municipais, che- gerente, contratado pela câma-
fiado pela National Short Ballot ra e investido de largos pode-
Organization (organização devo- res administrativos. O estudo
tada à campanha pela redução minucioso de Bollens (13) sôbre
do número de cargos eletivos a evolução do movimento em fa-
aos de natureza estritamente vor do chefe executivo nomea-
política), movimento cuja me- do na Califórnia, mostra como
lhor síntese é, sem dúvida, o a idéia do gerente de cidade en-
plano de câmara-e-gerente. controu solo fertillssimo no Es-
A necessidade de governos res- tado, logo após as primeiras
ponsáveis e de integração admi- experiências vitoriosas no Leste
nistrativa no nível local fazia- e Suleste do país. De fato, o
se, então, presente na Califór- esquema de Lockport acabava
nia, como em outras partes dos de ser adotado, pela primeira
Estados Unidos. A substanciosa vez, na pequena comunidade de
análise feita pelo Professor BoI- Sumter, Carolina do Sul (1912),
lens, (12) das razões especificas e estava ainda chamando a
.. ue têm levado à instalação de atenção por ter-se incluído na
um chefe executivo nomeado nova lei orgânica da cidade de
(gerente ou administrador-che- Dayton, Ohio, em 1913, quando,
fe) na Califórina aponta, quase neste mesmo ano, a cidade sul-
invariàvelmente, para a insatis- californiana de Whittier tentou
fação com as deficiências con- adotar o plano. Sua rejeição
gênitéls do sistema de govêrno pelo povo de Whíttier não trou-
em comissão e do sistema de xe, porém, maior desinterêsse
câmara-e-prefeito com o executi- pela idéia na Califórnia, pois
vo fraco (weak mayor system)_ no ano seguinte era o plano

(12) lbid., pp. 20-25.


(13) Ibid., pp. 2-9.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MCNICIPAL 15

pôsto em prática nas cidades siasmo avassalador com que


de Inglewood e Glendale. A tantas cidades californianas se
aceitação do plano de câmara voltaram para o plano de câ-
e gerente tem sido contínua des- mara-e-gerente, a idéia ainda
de então. De acôrdo com a lista encontra forte oposição da par·
do Anuário Municipal (Munici- te de muitas outras comunida-
pal Year Book) para 1953, (14) des. O fenômeno, aliás, não é
cento e três das trezentas e peculiar à Colifórnia. Desde seu
seis municipalidades então exis- aparecimento, o movimento dos
tentes na Califórnia estavam gerentes de cidade tem sido acer-
funcionando sob o plano, a 31 bamente atacado como antide-
de dezembro de 1952. Em nú- moerá ti co, ditatorial e de índole
meros absolutos isso dá à Ca- estranha às instituições públi-
lifórnia o segundo maior núme- cas norte-americanas. De vez
ro, depois do Maine, de comuni- em vez os autores de trabalhos
dades sob o sistema gerencial, sôbre administração municipal
enquanto que, do ponto de vis- têm sentido a necessidade de
ta percentual, dá-lhe o primeiro rebater tais acusações, atribuin·
lugar no país, pois mais de um do-as aos politicos egoistas e àli
têrço de tôdas as suas adminis- máquinas políticas. (15) Além
trações municipais funciona sob disso, há muitas pessoas bem in-
um gerente. Nesses números tencionadas que crêem sincera-
estão incluídas cidades de todos mente ser o sistema gerencial
os tamanhos, exceto aquelas de um desvio muito grande das me-
população inferior a mil habi- lhores tradições de govêrno lo-
tantes ou superior a quinhentos cal norte-americanas, segundo
mil. as quais tôdas as autoridades
Outra solução para o proble· importantes devem ficar direta-
ma da integração: o adminis- mente responsáveis perante o
trador-chefe - Apesar do entu- eleitorado. A própria palavra

(14) International City Managers' Association. lJ.!u?licipal Year Book, 1953


(Chicago: International City Managers' Association. 1953). pp. 621-523.
521-523.
(15) Henry G. Hodges. City lJ.!anauement - Theol'y and Practice 01 Municipal
Administratíon (NoYa Iorque: F. S. Crofts and Company. 1939). pp. 31-32;
Richard S. Childs. Civic Victorícs (New York: Harper & Brothers.
1952). Pp. 177-78.
16 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

"gerente" evoca, em muitos es- tiva apareceu, pois, com o es-


píritos, uma idéia autocrática, quema de São Francisco_ Na
tanto assim que muitos autores verdade, a idéia surgiu como um
insistem em chamar o plano plano conciliatório entre o ponto
pelo nome completo de "pla- de vista daqueles que queriam
no de câmara-e-gerente", dando, experimentar a nova forma de
assim, relêvo ao seu elemento govêrno representada pelo pla-
democrático representado pela no de câmara-e-gerente e o pon-
câmara. to de vista tradicional de con-
Desde suas origens, tem o es- servar a autoridade administra-
quema sofrido variações destina· tiva nas mãos de autoridades
das a torná-lo mais aceitável. (16) eletivas. O resultado foi uma
Tais variações, entretanto, não fórmula intermediária que pre-
conseguiram assumir uma for- via não um gerente do modêlo
ma definitiva nem consubstan- clássico mas um administrador-
ciar-se num sistema alternativo chefe nomeado pelo prefeito
até que o conceito do adminis- para dirigir uma série de deparo
trador-chefe apareceu na lei ar- tamentos administrativos.
li:ânica de São Francisco de Tais foram a sorigens do pla-
1931. no do administrado-chefe. A es-
Na Califórnia, as causas es- trutura governamental à qual
pecíficas de resistência à intro- foi ajustado assumiu, assim, ca-
dução do plano de câmara-e-ge- rátí'r bastante peculiar, pois os
rente têm sido várias, confor- poderes admiaistrativos do go-
me se depreende da obra daque- vêrno de São Francisco foram
les que se têm dedicado ao estu- divididos entre o prefeito, eleito
do da dinâmica dos govêrnos lo- diretamente pelo povo, o admi-
cais do Estado. (17) Tôdas elas se nistrador-chefe e um grupo de
resumem, porém, nas razões fun- altos funcionários nomeados
damentais acima referidas. (18) pelo prefeito. Todavia, apesar
A segunda solução para o pro- desta complexa organização não
blema de integração administra- haver sido fielmente copiada
(16) Sixlh Yellrbook of lhe Ci/y MIl!!llgers' Associa/io!!, 19M (Nova Iorque:
City Managers' Association, 1920), pp. 52-53; Orenn Chalmer Hormell.
MaÍlw Tow!!s (Brunswick, Maine: Bowdoin College, 1932), pp. 16-25.
(17) John C. Bollcns, op. cito pp. 52-54.
(18) Loc. cito
A MODER:--;A ADMIr-.:ISTRAÇAO MUNICIPAL 17

por outras comunidades, a idéia safogar OS vereadores das absor-


de um administrador·chefe para ventes e complexas tarefas admi-
coordenar o ramo administrati· nistrativas eram problemas que
vo do govêrno como agente da estavam na ordem do dia, espe-
câmara estava destinada a de- cialmente no sul da Califór-
sempenhar, na Califórnia, um nia, (19) Onde a idéia de um
papel semelhante ao do sistema gerente era considerada exces-
de câmara e gerente. sivamente radical, o plano do
A cidadezinha de Calistoga, admiinstrador·chefe era adotado
no norte da Califórnia, foi a se· como corretivo para aquelas di-
gunda comunidade a estabelecer ficuldades. Ao plano têm aderi-
o cargo de administrador·chefe, do cidades e condados que fun-
no ano de 1932. O plano, entre- cionam quer sob o sistema de
tanto, permaneceu na obscurida- carta própria quer sob o regi-
de até que o condado de Los me de leis orgânicas estaduais.
Angeles o adotou em 1938. Em A fôrça com que o movimen-
1943 ocorreu outra adoção, desta to tem progredido pode ser me-
vez pela cidade de São Gabriel. dida pelo fato de que, ao tem-
Seguil'-se a de Montebello, em po em que esta tese foi escrita
1945. (meados de 1953), já havia cin-
~sse ritmo lento de adesão à qüenta e uma cidades funcio-
idéia foi grandemente alterado nando sob o plano, de acôrdo
a partir do fim da última guer- com a relação da Liga de Cida-
ra. Em quase tôdas as comuni- des da Califórnia. (20) Isso mos-
dades do Estado os problem3.s tra que quase um sexto das tre-
administrativos se haviam amon_ zentas e sete municipalidades do
toado durante os anos de extra- Estado adotou o plano. ~sse nú-
ordinário crescimento que fo- mero inclui sômente aquelas co-
ram os do último conflito mun- munidades onde são adotados os
dial. A integração das ativida- títulos de administrador·chefe,
des administrativas sob um só oficial administrativo, adminis-
chefe e a necessidade de um trador da cidade, chefe da admi-
administrador treinado para de- nistração municipal e coordena-

(9) Ibid., p. 14.


(20) Lista das cid"d"3 da Califórnia com administração cpntralizada, prepa-
rada peja Liga das Cidades da Califórnia em sp!embro i1e 1953.

3 - C~d. Adm. Municipal - .6


18 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

dor municipal. Não estão, pois, que tanto o aparecimento como


incluídas meia dúzia de outras o uso do plano do administrador-
cidades que adotam uma ou chefe é um fenômeno ainda prà-
outra forma de chefe executivo ticamente limitado à Califórnia_
nomeado cujas funções não são Acredita-se que o esquema não
bastante definidas para que seja tenha sido empregado extensiva-
possível considerá-las equivalen- mente em nenhuma outra parte,
tes às do administrador-chefe. pelo menos sob o nome com que
Dez condados estavam tam- é conhecido nesse Estado. Cla-
bém cêrca de um sexto dos con- rence Ridley, editor do Anuário
dados do Estado, é importante Mlmicipal americano (Municipal
salientar que é bem maior que Year Book), foi citado há cin·
o número de condados sob o co anos como tendo declarado
sistema de gerente, que era ape· ser o plano usado exclusiva-
nas de três. Essa situação se mente na Califórnia, tanto quan·
deve principalmente ao fato de to pudera êle apurar. (21) Outra
que a adoção do plano de ge· autoridade em govêrno munici-
rente pelo condado, por envolver pal, Richard Childs (originador
delegação de autoridade do con· do plano de câmara-e-gerente),
se lho em favor do gerente, re- recentemente confirmou êsse
quer a aprovação do voto po· ponto de vista. (22) Entretanto,
pular, enquanto que uma sim· sabe-se que pelo menos duas ci-
pIes ordenança ou resolução do dades em outros estados adota·
conselho tem bastado para in- ram o esquema: Nova Orleans
troduzir a figura do agente ad- (Louisiana) e St. Cloud (Minne·
ministrativo encarnada no admi- sota), ambas as quais estabe·
nistrador-chefe. leceram o cargo de administra·
Um fenômeno californiano - dor-chefe em 1951, subordinan·
As provas existentes indicam do-o ao prefeito. (23)
',~
(21) In The Municipal Administrative Officer Movement in Southern Cali-
fornia, 1945-1948, por Harry Marlow (Tese inédita apresentada à Uni-
versidade da Califórnia do Sul, Los Angeles, 1950>, p, 94,
(22) Richard S. Childs, "Book Review" Nati(mal Municipal Review, XL
(Dezembro, 1952), pp, 159-191.
(23) International City Managers' Association, MuniCipal Year Book, 1953
(Chicago: International City Managers' Association 1953), p, 256, A ci-
dadE' de Nm'a Iorque também adotou, recentemente, um plano baseado
-------------------------------------------------------------

A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 19


Parece bastante claro que o mas os líderes civicos de mui-
aparecimento e o desenvolvi- tas outras não quiseram exa-
mento desta variante do sistema tamente aquela forma de
de câmara-e-gerente resultavam administração municipal_ Que-
principalmente da combinação riam um funcionário para ze-
das circunstâncias peculiarí!':si- lar pelo cumprimento das leis
mas que têm prevalecido na Ca- e ordenanças, para supervisio-
lifórnia nas duas últimas déca- nar todos ou alguns departa-
das, mormente a partir do fim mentos administrativos e in-
da segunda grande guerra_ Fa- tegrar suas atividades, para
tôres objetivos, tais como o ex- preparar o orçamento anual
traordinário crescimento demo- e apresentá-lo à câmara, para
gráfico da região, os problemas fazer recomendações a respei-
administrativos de complexida- to da administração e para
de cada vez maior e as tradições manter a câmara informada
de liberdade política, que têm ela.;; condições financeiras da
permitido a experimentação com cidade_ Todavia, não se sen-
novas formas de govêrno local, tiam com vontade de delegar
constituíram parte significativa a pjnguém a autoridade para
dessa combinação, ao lado das admitir e dispensar os chefes
complexas razões subjetivas, que de serviço e outros funcioná-
levaram os iniciadores e defen- rios municipais_ Queriam, em
sores da idéia a um desvio de- suma, conservar com a câma-
liberado e consciente do siste- ra a autoridade para adminis-
ma de câmara-e-gerente_ Harry trar a cidade e, mais do que
Marlow, um dos primeiros a isso, não desejavam decidida-
fazer o estudo sistemático do mente um "gerente". Havia,
movimento, sintetizou essas ra- então, dois caminhos para se
zões sujetivas nas seguintes pa- chegar à integração adminis-
lavras: trativa. Um consistia em ado-
tar o sistema gerencial. O se-
Certo número de cidades da gundo consistia em se criar
Califórnia do Sul já adotou outro cargo de coordenador
o plano de câmara-e-gerente, das atividades municipais. (24)
-----naidéia de um administrador-chefe para super\"isionar as ati\'!dades da
maioria dos departamentos da municipalidade.
(24) Harry Mario\\". op. cit., pp. 26-27.
20 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO Pt)BLICA

Daqueles que preferiram a se- vêrno, pode-se dizer que viram


gunda hipótese, movidos por um na sua escolha um equilíbrio
receio sincero de criar um car- melhor entre os principios da
go excessivamente poderoso na democracia representativa e da
estrutura administrativa do go- administração profissional.

II _ O CARGO E SUA POSIÇÃO NO GOVÊRNO


MUNICIPAL
Esta seção tem por objetivo Estados Unidos, no que se refere
estudar a posição do cargo do à distinção dos podêres_ A êsse
aàministrador-chefe na estrutu- respeito distinguem-se dois siste-
ra do govêrno municipal atra- mas principais de govêrno local
vés dos seguintes elementos: naquele país. O mais antigo e o
1) determinação da fonte da au- que é ainda o mais popular é
toridade administrativa no go- aquêle em que a câmara está
vêrno local dos Estados Unidos; investida tanto de funções legis-
2) tentativa de conceituação da lativas quanto de administrati-
posição legal do administrador- vas. 1!:sse era o sistema dos tem-
chefe; 3) investigação das for- pos coloniais, mantido depois da
mas que tem assumido a opera- Independência, e que permane-
ção do plano e 4) descrição das ceu por muito tempo imune à
funções usualmente atribuídas doutrina presidencialista da se-
ao administrador-chefe. paração de poderes, adotada no
Fonte da autoridade adminis- nível federal. Sob êsse sistema,
trativa - Antes de se tentar as funções administrativas da
uma conceituação do cargo de cidade são da responsabilidade
administrador-chefe e de se dis- da câmara, que as exerce dire-
cutir sua posição na estrutura tamente ou através de delega-
dos governos que o adotaram, se- ção de sua autoridade a agentes
ria conveniente rever ràpidamen- administrativos e outros funcio-
te a teoria do govêrno local nos nários. (25)

(25) Willlam Benett l\Iunro. The Government of American Cities (New and
revised edltioll; New York: The Macmillall Company, 1919), pp. 180-
182; Ernst Freund, Admi-nistratille Powers Ot:er Persons and Property -
A MODERr\'A ADMINISTRAÇÃO MLTi'-:ICIPAL 21

o segundo sistema é aquêle exato falar dos poderes adminis-


em que o ramo legislativo do trativos de um prefeito popular-
govêrno está separado do exe- mente eleito para a chefia do
cutivo, à maneira do que ocorre executivo corno sendo poderes
no govêrno federal, de que é delegados, do mesmo modo por
uma cópia deliberada. (26) Seu que não se pode dizer serem os
aparecimento ocorreu lentamen· poderes originários do Presiden-
te, durante um período de vários te delegados pelo Congresso e
anos, e se caracterizou pela per· não imanentes ao seu cargo.
da contínua da supremacia da Portanto, num sistema de exe-
câmara, a principio através da cutivo realmente forte, não há
ascenção gradual da figura do dúvida de que a responsabilida-
prefeito, depois pelo fortaleci- de final pela administração cabe
mento dos poderes conferidos às ao prefeito. (28)
comissões da câmara, e final- O primeiro sistema é o pre-
mente' pela eleição popular do dominante, se bem que enfra-
prefeito e de outras autoridades quecido, em muitos casos, pela
municipais. (27) O govêrno de dispersão da autoridade admi·
executivo forte, tal corno existe nistrativa da câmara entre vá·
hoje, especialmente nas grandes rios funcionários eletivos, de
cidades, exemplifica o sistema. acôrdo com as melhores tradi·
Nêle o poder executivo de que ções da democracia jacksoniana.
está investido o prefeito é ima- O sistema é representado por
nente às suas funções de chefe formas de govêrno municipal
do ramo executivo do govêrno e norte·americanas, tais corno o
é um corolário da aplicação do govêrno de executivo fraco, go-
regime presidencialista ao nível vêrno ele comissão, a assembléia
municipal. Ne'ste caso não seria rle cidadãos (town meeting) mo-

A Comparative Sllr1:ey (Chicago: The Unh'ersity of Chicago Press. 1928).


p. 37: E,,~pn" MorQlliJlin. TI>(' La,,' 0.1 M"niripnl C(>rporation (Chicago:
Callaghlln and Company. 1949), p. 586.
(26) William Benett Munro, op. cit., pp. 6-11.
(:7) nià., pp. 180-184.
(28) Ernest Schulz, Americall Citv G01;erllment - !ta JlIachinery and Processe
(Noya Iorque e Harrisburg : Stackpole and Heck, Inc., 1949), pp. 316-
353; Thomas Harrison Reed, Municipal Mallagement (1. o edição; New
York e Londres: McGraw-Hill Book Company, Inc., 1941), pp. 19-22.
22 CADERI\:OS DE ADMIl\'ISTRAÇÃO PÚBLICA

dificada e, estritamente falando, administrador·chefe já foi devi·


tôdas as outras formas, exceto damente caracterizada como a
a de executivo forte. A subor· do agente administrativo. (29)
dinação da administração a um Conseqüentemente, êsse funcio·
conselho eletivo em tôdas aque· nário foi definido como "o agen·
las formas está em marcante te da câmara em cujo nome age
contraste com os princípios do para a execução de tarefas admi·
regime presidencialista e mais
nistrativas. Mas em vez de agir
em consonância com o regime
diretamente, fá·lo através de re·
parlamentarista, fato que tem
comendações sujeitas à revisão
escapado a muitos estudiosos
da câmara". (30)
estrangeiros das instituições go·
vernamentais norte·americanas. A definição acima pode ser
Pode· se argumentar que entre aceita apenas como generaliza.
uma e outra orientação se acha ção, desde que não satisfaz um
o plano câmara·e·gerente. f:sse aspecto importante do plano, que
plano, entretanto, não represen· é o fato de poder o administra·
ta um desvio definitivo do prin· dor·chefe ser também nomeado
cípio de supremacia da câmara, pelo prefeito em vez da câmara,
pois o que ocorre é apenas uma ficando. pois. subordinado à au·
distinção no exercício das fun· toridade do chefe do executivo.
ções municipais. Se bem que, de Tal foi. aliás, a intenção origi·
acôrdo com o plano, a câmara nal daqueles que elaboraram a
não deva interferir na execução lei orgânica de São Francisco.
da política que ela própria tra· em 1932. quando o plano foi
çou, o fato insofismável é que pôsto em execução pela primei.
a responsabilidade final pela ra vez. Ainda que o cargo, na·
administração cabe à câmara, quela cidade. tenha eventual·
que nomeia o gerente e tem pIe· mente assumido tal importância
nos poderes para demiti·lo a a ponto de tornar·se virtualmen·
qualquer momento. te independente do prefeito. a
Conceituação do cargo de ad· sua posicão original ainda é teo·
ministrador·chefe - A figura do ric"m0nte mantida na estrutura

(29) John C. BolIens. op. cit., p. 11.


(30) Loc. cito
A MODERl\A ADMli\ISTRAÇAO MUl\'ICIPAL 23
governamental de São Fran· defini·lo como o agente da admi-
cisco. nistração, visto como pode êle
É igualmente sob a autorida· ser nomeado e agir em nom~ de
de do prefeito que serve o admi· qualquer dos dois órgãos inves-
nistrador·chefe na cidade de Los tidos da autoridade administra-
Angeles, onde sua posição não tiva: a câmara ou o prefeito.
é a de um agente da câmara O conceito do agente adminis·
mas a de um assistente admi· trativo, segundo o entendem tan-
nistrativo do prefeito, sob cuja to aquêles que têm estudado o
direção exerce suas funções espe· funcionamento do plano quanto
cificas, cabendo a responsabi· os muitos ocupantes do cargo,
lidade última de seus atos ao implica uma delegação de auto·
chefe do executivo municipal. ridade que não chega a confio
Ésse ponto merece destaque, gurar verdadeira delegação do
pois mostra que o plano é bas· poder executivo. (31) :esse racio·
tante flexível para funcionar em cinio é baseado no fato de que
qualquer das duas situações. a autoridade do administrador-
Tanto pode servir ao duplo fim chefe na elaboração do orça-
de integrar e profissionalizar a mento é geralmente limitada,
administração, nos casos em que não tendo êle, além disso, o
se deseje desafogar a câmara de poder de nomear e demitir fun-
suas funções administrativas, cionários. Nessas, como em ou·
como pode ser apenas um meio tras matérias, não age êle dire-
de se empregar a competência tamente, mas por meio de re·
profissional de um administra· comendações à câmara ou ao
dor qualificado, quando o pro· prefeito, :sto é. ao órgão ao qual
blema não fór a integração das esteja subordinado.
atividades administrativas, como Para maior clareza e precisão
na cidade de Los Angeles. da terminologia empregada, de-
Agora que foram identificadas ve·se fazer ligeira observação
as (lHas situações em que o pIa· a respeito do têrmo "delegação",
no pode funcionar. é possível no sentiria em que foi empre·
chegar·se a um conceito mais gado linhas acima. Se bem que
exato do administrador·chefp e usado naquele sentido por mui·

(31) Ibid., pp. 119-123.


24 CADER{\OS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

tos autores, para indicar a ori- Existe grande variedade quan-


gem da autoridade investida no to à natureza e à amplitude dês-
cargo de administrador-chefe, o ses deveres e responsabilidades.
têrmo deve ser aplicado somen- Todavia, podem-se distinguir
te aos casos em que o cargo duas formas básicas de opera-
é criado pela câmara - fonte ção do plano no que se refere
do poder administrativo na tra- à natureza das relações entre
dição norte-americana de govêr- administrador-chefe e os chefes
no local - e dela recebe suas de departamento.
atribuições, mas nunca no caso
em que o cargo (' suas atri- Onde a instalação do plano
buições são estabelecidos em lei teve por fim a integração admi-
orgânica votada diretamente nistrativa e a redução do alcance
pelo povo_ Nesta hipótese, não de contrôle da câmara (redução
teria havido nenhuma delegação do número de chefes de serviço
de autoridade pela câmara, e subordinados diretamente à câ-
sim uma atribuição de autori- mara), o administrador-chefe
dade pelo próprio poder consti- funciona como um super-chefe
tuinte - o povo, no caso - em- de departamento, isto é, como
bora uma atribuição limitada, chefe nominal de todos ou quase
pois a responsabilidade final todos os departamentos adminis-
pelos atos do administrador- trativos. Suas funções de con-
chefe pertence à câmara ou ao trolador e coordenador dos ne-
prefeito, como é da essência do gócios administrativos do govêr-
plano. no caracterizam, então, o seu
cargo e o tornam semelhante
fiO ne gerente de cidade.
Formas de operação do pla-
no - A declaração formal dos Entretanto, onde a intenção
deveres e responsabilidades do foi apenas a de facilitar a ta-
administrador-chefe encontra-se refa administrativa da câmara
no instrumento legal que cria ou do chefe do executivo, dando-
o cargo. :esse instrumento tem lhes a assistência de um admi-
sido ora a própria lei orgânica nistrador qualificado, a posição
ou carta da cidade ou do con- do administrador-chefe é a de
dado, ora uma lei, resolução ou um assistente administrativo
moção da câmara. servindo na qualidade de asses-
A MODERNA ADMINISTRAÇAO MUNICIPAL 25

sor técnico dos vários departa- crição da autoridade e dai res-


mentos. ponsabilidades atribuídas ao car-
Em qualquer dos casos o caro go. Tampouco são uniformes os
go ocupa o tôpo da hierarquia deveres. Além disso, a declara-
administrativa do govêrno, exce- ('i'íc formal de atribuiçOes e res-
to, naturalmente, se fôr subor- ponsa bilidades não basta para
dinado ao prefeito, a quem cabe, lhes revelar o escopo e a ampli-
então, aquêle lugar. tude. Há outros fatôres que in-
Esta tentativa de delineamen· fluem no exercicio de fato das
to das características fundamen- iunções do administrador-chefe.
tais de operação do plano não O ambiente em que o plano fun-
pretende insinuar que cada caso ciona, a percepção do cargo tan-
n:al recai precisamente numa ou to por seu ocupante como pela
noutra categoria. Muito ao con- câmara, a oportunidade para o
trário, um exame rigoroso dês- exercicio de um contrôle de fato
ses casos levaria à conclusão de muito maior pelo administrador-
que a forma mais corrente de chefe, através da elaboração e
funcionamento do plano é a de da execução do orçamento, en-
uma combinação dos dois mo- fim ,tôda a dinâmica operacio-
delos básicos, de acôrdo com a nal do cargo pode exercer um
qual o administrador·chefe exer- impacto decisivo sôbre a ma-
ce tanto funções executivas, neira como são desempenhadas
como chefe nominal de alguns aquelas atribuições. A presença
departamentos, como função de dI' tais fatôres tem resultado,
assessoramento em relação a em muitos casos, de um padrão
outros serviços, à câmara ou ao de operação muito diferente, na
prefeitc. prática, do que está formalmen-
Atribuições do cargo - É im- te estabelecido. Em regra, o car-
possível obter·se um quadro exa- go tem eventualmente adquirido
to dos deveres geralmente atri- importância maÍDr e maiores po-
buídos ao administrador-chefe deres do que aparenta sua base
com a leitura casual dos vários legal, tanto assim que muitos
instrumentos em que estão ins- administradores-chefes são con-
critos êsses deveres. Tais ins- siderados verdadeiros gerentes
trumentos são às vêzes minucio- para todos os fins práticos e
sos, às vêzes s,ucintos na des- são mesmo relacionados como
26 CADERNOS DE ADMli':ISTRAÇAO P(lBLICA

tais no Anuário Municipal da pode ser considerada típica das


Associação Internacional de Ge. funções formalmente atribuídas
rentes de Cidade (lnternational à maioria dos administradores-
City Managers' Association Mu· chefes e exercidas por êles na
nicipal Year Bookl. prática. (32)
Tal aumento de poder tem
ocorrido especialmente através 1. Supervisão geral da admi-
do contrôle do orçamento. O nistração - Supervisão, coorde-
exemplo do condado de Los An· nação e contrôle dos departa-
geles está· se tornando clássico mentos, atividades e operações
para o estudo do poder de fato subordinadas ao cargo; execução
que provém do contrôle orça· das leis e ordenanças, dos regu-
mentário exercido pelo adminis· lamentos e da política adminis-
trador-chefe. Idêntica é a situa- trativa do govêrno.
ção na cidade de Los Angeles e 2. Análise administrativa
nas demais cidades onde as atri- Análise contínua das funções
buições daquele cargo incluem a municipais para efeito de reco·
responsabilidade pela prepara- mendações sôbre o aperfeiçoa-
ção das estimativas das despe- mento dos métodos de trabalho
sas e pelo posterior contrôle da e sôbre as alterações que devem
execução da lei de meios. Nes- sofrer os processos e a estru-
ses casos, em vez de s(' limitl'lr tma da organização em benefí-
à mera tarefa de reunir e con· cio de maior produtividade,
solidar as estimativas submeti- maior eficiência e maior eficáda.
das pelo~ chefes de serviço, o
administrador-chefe analisa tô- 3. Administração do pessoal
das elas e apresenta suas pró- - Contrôle das atividades rela-
prias recomendações. cionadas com o pessoal. exceto
Embora. como já ficou dito. nomeações e demissões; apre-
as Rtribuições e as responsahili- sentação de sugestões sôbre a
dades exatas do cargo variem. extinção e consolidação de car-
f'm naturf'za e amnlitude. de ci- gos com base nos pedidos de
dade para cidade e de condado pessoal e no uso de funcioná-
para condado. a lista abaixo rios pelos chefes.

(32) Ibíd., pp. 117-118.


A MODER",A ADMIl\;ISTRAÇÃO MUl\;ICIP AL 27

4. Administração financeira- de responsabilidade exclusiva da


Recomendações sôbre as estima- câmara, cabendo ao administra·
tivas orçamentárias dos diversos dor·chefe executar aquela políti·
serviços e departamentos; admi- ca como o agente da adminis-
nistração do orçamento e con- tração.
trôle das despesas. A íntima relação entre essas
duas fases da atividade gover·
5. Administração patrimonial
namental tem, todavia, levado
- Contrôle de todos os bens mó-
ao reconhecimento gradual do
veis e imóveis de propriedade do
papel do administrador na ela-
govêrno municipal; contrôle das
boração da política do govêrno.
compras e recomendações sôbre
Fazer recomendações acêrca des-
a aquisição e uso de equipamen-
sa política é, portanto, parte dos
to pelos diferentes serviços e
deveres do administrador·che-
departamentos.
fe. (33) Sua neutralidade política
6. Relações públicas - Pro· significa que êle se deve abster
moção de boas relações com o de participar das lutas partidá-
público em geral e com os gru- rias, não que se deva abster de
pos organizados da comunidade. sugerir à câmara ou ao prefeito
7. Serviços de secretaria - as modificações da política admi-
Despacho da correspondência di- nistrativa que lhe pareçam ne-
c~ssárias à melhoria da admi-
rigida à câmara ou ao prefeito
e desempenho de outros servi· nistração.
ços de secretaria. O código de ética adotado para
seus membros pela Associação
Algumas palavras devem ser Internacional de Gerentes de Ci-
ditas a respeito da natureza apo- dades esclarece o problema da
lítica do cargo. Se bem que nem
participação do gerente em ques-
na teoria nem na prática se te- tões de política. Suas palavras
nha chegado a um acôrdo sô- podem ser perfeitamente apli-
bre a linha divisória entre a for- cadas ao administrador-chefe.
mulação e a execução da polí·
tica de um govêrno, o plano de 4. O gerente, como líder da
administrador·chefe supõe que comunidade, submete à câma-
o estabelecimento da política é ra proposta sôbre a polUica

(33) Harry Marlow. op. cit., pp. 85-8!!.


28 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

administrativa do govêrno e nidade. o gerente só defende-


a supre com fatos e conse- rá publicamente uma orienta·
lhos referentes a essa pol1tica, ção política qualquer depois
a fim de lhe dar uma base de haver sido considerada e
para suas decisões ~ôbre a adotada pela câmara. (34)
orientação politica da comu·

ITI - DISTINÇÃO ENTRE O PLANO DO ADMINIS-


TAOOR-CHEFE E O DE CÂMARA-E-GERENTE

Quais são as verdadeiras dife- pelos gerentes e pelos adminis-


renças entre o plano de câmara· tradores-chefes.
e·gerente e o do administrador- Diferenças formais - A pri-
chefe? Haverá apenas variação meira diferença formal que deve
de nomes, ou será que os dois talvez ser mencionada é a refe-
sistemas possuem caracteriticas rente ao conceito de cada um
inconfundiveis ? dos planos.
Tais perguntas têm ocorrido É da essência do sistema ge-
aos estudiosos do plano do ad- rencial que as funções adminis-
ministardor-chefe, a despeito do trativas estejam concentradas no
fato de que um desejo delibe- gerente, que possui autoridade
rado de desvio do sistema ge- administrativa direta, isto é, po·
rencial causou o aparecimento der de decisão próprio em tôdas
da nova forma de govêrno local as questões administrativas. A
conhecida como o plano do admi· tarefa da câmara é, portanto,
nistrador-chefe. a de formular a política do go-
Nas páginas seguintes far-se-á vêrno e fiscalizar a sua execução
uma tentativa de distinção entre pelo gerente. :este deve estar
os dois conceitos em têrmos de livre da interferência da câma·
suas diferenças formais e de suas ra no desempenho de suas atri-
semelhanças práticas e com buições, pois o contrôle do órgão
base no modo como os respec- deliberativo sôbre a administra-
tivos cargos são compreendidos ção se efetua tão-sômente atra-

(34) International City Managers' Association, Código de l!:tica dos Gerentes,


Begundo emenda de 1952.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO Ml'NICIPAL 29
vés do contrôle politico que lhe também o próprio modo de exe-
é próprio e da faculdade de li- cução da política estabelecida.
vremente nomear e demitir o Um segundo aspecto sob o
gerente_ (35)
qual as diferenças formais entre
Contrastando com essa autori- os dois sistemas podem ser exa-
dade plena e direta conferida ao minadas é o dos deveres e res-
gerente, o plano do administra- ponsabilidades legalmente atri-
dor-chefe estabelece um agente buídos aos dois cargos.
administrativo que serve sob a Como norma geral, a autori-
autoridade da câmara ou do pre- dade administrativa investida
feito, com os quais permanecem no gerente se exerce sôbre todos
a autoridade e a responsabilida- os departamentos administrati-
de última pelos atos de seu agen_ vos e sôbre todos os funcioná-
t(·. Comentando a resolução da rios não eletivos da unidade go-
câmara de Montebello, que ser- vernamental. O espírito do pla-
viu de modêlo para a instalação no é precisamente o de integrar
do plano em várias outras ci- tôda a administração sob um
dades, o Professor Bollens re- só chefe executivo, o gerente.
sumiu o conceito do cargo de Esta ampla concessão de autori-
administrador-chefe nestas pala- dade inclui o poder de nomear e
vras: "a filosofia do cargo está demitir os chefes de departa-
encerrada em expressões como mento e de elaborar o orçamen-
"assistir", "recomendar", "em to anual.
nome da câmara" e "como agen-
Por outro lado, a autoridade
te da câmara". (36)
formalmente concedida ao admi-
Contràriamente ao que ocorre nistrador-chefe é mais limitada.
no sistema gerencial, o contrôle Na verdade, pode ser tão peque-
administrativo da câmara não na a ponto de reduzi-lo à posição
está limitado à adoção da polí- de mero assessor com responsa-
tica governamental e ao poder bilidades confinadas a uma área
de nomear e demitir o agente de operações decididamente res-
administrativo, mas abrange trita.

(35) Ernst Schulz. op. cit., pp. 323-324.


(36) John C. Bollens, op. cit., pp. 15-16.
30 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Mas é com relação a duas das tico mas dinâmico, principalmen.


mais importantes funções admi· te no grande laboratório político,
nistrativas - pessoal e orça· administrativo que é a Califór·
mento - que se encontra a di· nia. Tampouco é a estrutura
ferença capital entre os dois pIa. formal do plano do administra·
nos. A faculdade de livremente dor-chefe tão inflexível que imo
nomear e demitir os chefes de peça a câmara de estender os
departamento nunca foi plena· deveres reais de seu agente a
mente concedida ao administra· um ponto que torne êsses deve·
dor-chefe. Em alguns casos, êle res bastante semelhantes aos de
a exerce sujeito à aprovação da um gerente de cidade. Na ver·
câmara, mas êste é o limite dade, isso é precisamente o que
máximo a que tem chegado aque· tem acontecido em várias comu·
la faculdade. nidades, especialmente naquelas
Com referência à elaboração em que se tem conferido ao
orçamentária, a regra tem sido cargo a responsabilidade pela
que o administrador-chefe deve elaboração orçamentária e a au·
apresentar à câmara as estima· toridade para nomeação e de·
tivas dos chefes de departamen· missão dos chefes de departa·
to acompanhadas de suas reco· mento, com a aprovação da câ-
mendações. Em muitos casos, mara.
todavia, a responsabilidade total Quando a autoridade efetiva
pela elaboração da proposta oro
do cargo se torna mais ampla
çamt'ntária lhe tem sido atribuí·
devido à vontade manifestada
da, de modo que os números
pela câmara de abrir mão de
nela contidos representam a sua
parte de seu contrôle em favor
opinião e não a dos chefes de
dep'utamento. do administrador-chefe, ou ain·
da quando êste impõe uma au·
Grandes semelhanças na prá· toridaàe acima da que lhe é
tica - A presença de diferen· formalmente atribuída, graças à
ças formais não tem evitado que sua forte personalidade, o resul·
o plano do administrador-chefe tado final tem sempre sido uma
se aproxime, na prática, da ope· interferência menor da câmara
ração do sistema de câmara-e· nas questões administrativas. Em
gerente. Ora, a atividade gover· outras palavras, a câmara tende
namental não é fenômeno está· então para agir mais através do
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 31
seu agente do que diretamente, Como os ocupantes encaram o
ampliando, dês se modo, o cam· seu cargo - O fato de que tan·
po da discrição administrativa to as diferenças formais quan·
do administrador·chefe. Os po· to as práticas, entre os dois pIa·
deres do cargo são então seme· nos, por vêzes se tornam obs·
lhantes aos do gerente e atê curas, não deve necessàriamen·
mesmo maiores que os de aI· te implicar o abandono da dis·
guns cuja faculdade de nomear cussão do assunto. O complexo
funcionários está na dependên· de fatores subjetivos em atua·
cia de autorização prévia da çã .. no funcion:tmento dos dois
câmara. (37) A mesma flexibi· esquemas sugere que se pode pe·
lidade que permite tal extensão netrar melhor na questão exa·
dos poderes efetivos do admi· minando·se o modo como o ge·
nistrador·chefe explica a redu· rente e o administrador·chefe
ção da autoridade do gerente encaram o papel de seus res·
por uma câmara forte. pectivos cargos.
A Associação Internacional de Há certas características ine·
Gerentes de Cidade tem mostra· rentes e peculiares a cada um
do crescente reconhecimento do dos sistemas que determinaram
fato através da inclusão, na sua aquela percepção. No que tange
lista de cidades sob o sistema ao plano de câmara·e·gerente, es·
gerencial, de dezessete das cin· sas características podem assim
qüenta e uma cidades califor· se resumir: 1) na distinção
nianas que funcionam sob o pIa· consciente e proposital estabele·
no do administrador·chefe. (38) cida quanto ao exercício das fun·
Parece que êsse reconhecimen· ções governamentais e de acôr·
to não se baseia apenas nas se· do com a qual o gerente é de·
melhanças encontradas na estru· finido como o chefe da adminis·
tura legal dos dois planos, mas tração e a câmara como o ór·
também na~ que resultam de gão deliberativo; e 2) na estru·
seu funcionamento prático. (39) tura legal que confirma aquela

(3'7) John C. Bollens. op. cit., p. 120.


(38) International City Managers' Association. Municipal Year Book, 1953
(Chicago; Internativnal C,ty Managers' Association, 1953) pp. ;;21-23.
(39) Jo!,n C. CullC-ll~, up. cit., \l. 1~1
c-- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ~

32 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

distinção e que fortalece o ca- no, por conseguinte, não estabe-


ráter inerente da autoridade ad- lece a autonomia da autoridade
ministrativa do gerente em face administrativa do cargo de ad-
da câmara. O gerente sente, as- ministrador-chefe. Nessas cir-
sim, tanto a autoridade lógica cunstâncias, a despeito dos po-
como a autoridade legal de seu deres de fato acaso exercidos
cargo. ~le se considera o chefe pelo administrador-chefe, êste
do ramo administrativo do go- ainda encara sua posição como
vêrno, com autoridade e respon- sendo a de um agente adminis-
sabilidade próprias para iniciar trativo que nem lógica nem le-
e executar atos administrativos galmente possui autoridade ad-
sem a necessidade de aprovação ministrativa própria; que age
da câmara, exceto, naturalmen- através de recomendações e que,
te, a aprovação implícita na portanto, deve obter aprovação
obrigatoriedade da observância expUcita ou implícita para suas
da política adotada pelo órgão recomendações, antes que possa
deliberativo. Pode o gerente re- pô-las em execução. ~le sabe
sistir a qualquer usurpação de
que os poderes extraordinários
sua autoridade alegando sua fa-
que acaso lhe tenham sido con-
culdade inerente de executar a
politica da câmara sem a inter- feridos podem ser fàcilmente re-
ferência desta. Sua subordina- tirados por uma nova câmara
ção à câmara só se dá com res- ou por um novo prefeito, sem
peito à politica traçada pela mes- que lhe seja possível oferecer
ma. Como executá-la é prerro- qualquer resistência legal nem
gativa de suas funções e ma- alegar seu direito inerente de ge-
téria de sua discrição adminis- rir a administração a seu critério
trativa. exclusivo. Sente êle, ainda, que
O conceito do administrador- sua ação executiva é subordina-
chefe, por outro lado, não impli- da não apenas ao conteúdo da
ca a distinção precisa entre o poUtica traçada pela câmara mas
exercicio das funções deliberati- também à maneira pela qual
vas e exec~tivas, já que, de acôr- deve ser executada essa poUtica.
do com o plano, a câmara re- Suas atividades administrativas
tém seus poderes administrati- estão sujeitas a uma orientação
vos. A estrutura formal do pia- superior continua, visto que sua
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 33

função é executar a vontade da prefeito, pode o administrador·


câmapa ou do prefeito, quer seja chefe sentir a segurança de sua
essa vontade expressa sob a for- autoridade, mas será uma segu·
ma de legislação quer o seja sob rança de natureza pessoal, que
a forma de diretivas administra- decorre de fatôres puramente
tivas. Dependendo de suas rela- subjetivos e não propriamente
ções com a câmara ou com o do cargo.

IV - TENDÊNCIAS DO MOVIMENTO
o último elemento a ser exa- para a afirmativa no fato de
minado para a caracterização que onze comunidades da Cali-
do conceito do administrador· fórnia chegaram ao sistema de
chefe refere-se às tendências do câmara-e-gerente depois de te·
movimento. Tem-se questionado rem experimentado, antes, o pIa·
muitas vêzes a natureza defini- no do administrador-chefe, (40)
tiva e o futuro do plano. Esta não existia, ao tempo em que
&cção tratará de ambas essas êste trabalho foi escrito, sufi-
interrogações, isto é, discutirá ciente evidência sôbre a qual
se o plano é uma forma defini- se pudesse estabelecer a natu-
tiva ou uma forma transitória reza transitória do plano. Muito
de govêrno local e analisará as ao contrário, três fatos parecem
perspectivas futuras do movi- apontar no sentido oposto. O
mento. primeiro ê a capacidade que o
Será um estdgio transitório' palno tem demonstrado para pre-
- Já se tem dito muitas vêzes servar suas principais caracterís.
que o plano é um estágio tran- ticas de origem, contidas princi-
sitório para a adoção do govêr- palmante no conceito do agente
no de gerente e uma espécie de administrativo. O segundo fato,
acôrdo entre os sistemas tradi- que decorre, aliás, do primeiro,
cionais de govêrno local e o é a persistência das diferenças
sistema gerencial na sua forma básicas entre essas duas formas
ortodoxa. Conquanto se possa de centralização administrativa.
encontrar certo fundamento O terceiro é a instalação do pla-

(40) Ibid., p. 165.

4 - Cad. Adm. Municipal - 46


r--

34 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

no do administrador-chefe em cidades e condados, em compa-


nove cidades que tinham expe- ração com sessenta e duas ado-
rimentado, antes, o sistema ge- ções do sistema gerencial. Ao
rencial. (41) Em quatro dêsses tempo em que êste trabalho es-
nove casos a mudança teve lu- tava sendo escrito (setembro de
gar dentro do mesmo ano ou 1953), havia cinqüenta e uma
no ano seguinte à abolição da cidades e dez condados funcio-
forma gerenciaL Isso parece di- nando sob o plano, cêrca, por-
minuir a validade do argumento tanto, de dois têrços do número
em favor da transitoriedade do total de cidades e condados sob
plano com base naquelas onze forma gerencial, na Califórnia_
transferências para o sistema de Havia noventa e duas daquelas
câmara-e-gerente, pois os fatos e três dêsses, no Estado_
provam um fenômeno oposto de Não se tinha observado, até
proporções aproximadas_ então, nenhum sinal de possí-
Perspectivas futuras do movi- vel desinterêsse pelo plano_ Ain-
mento - Um crescimento conti- da não cessaram as razões que
nuo tem caracterizado o movi- causaram o desenvolvimento da
mento, desde que o condado de idéia, como se pode inferir do
Los Angeles adotou o plano em contínuo interêsse pela mesma_
1938 e, especialmente, desde que Nem é provável que essas ra-
as cidades da Califórnia tive- zões venham a modificar-se ime-
ram que enfrentar a necessida- diatamente, pois para isso seria
de de integração e profissiona- preciso que se modificassem as
lização administrativa, depois da condições ambientes em que elas
Segunda Guerra Mundial. A acei- surgiram_ Aquelas condições,
tação do plano tem ultrapassa- como já foi dito, eram forma-
do a do sistema de câmara-e- das pela poderosa tradição de
gerente desde 1945, como se de- autonomia local, pela necessida-
duz do número de adoções ocor- de de integração e profissiona-
ridas no período que vai de lização administrativas e pelo
1945 até meados de 1953, du- temor de que a câmara viesse
rante o qual tiveram lugar se- a perder o contrôle da adminis-
tenta e uma instalações do pla- tração se o sistema gerencial
no do administrador-chefe em fôsse adotado_
(41) Ibid_. p. 166.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO Ml'NJCIPAL 35

Ademais, ao se comentar as A idéia é ainda muito nova


perspectivas futuras do movi- e seu uso restrito a uma área
mento, a grande flexibilidade relativamente limitada para que
do plano não deve ser esqueci- se possa falar conclusivamente
da. Tal flexibilidade tornou pos- de seu futuro. Todavia, com base
sível, por exemplo, adaptar-se o na experiência californiana, pa-
esquema ao govêrno de câmara- rece igualmente muito cedo para
e-prefeito, como no caso da ci- se aceitar a opinião de Mr. Ri-
dade de Los Angeles, pondo-se chard Childs, de acôrdo com a
o cargo do administrador-chefe qual a idéia não é uma concor-
sob a jurisdição do prefeito_ rente do sistema de câmara-e-
Suas potencialidades são de fato gerente. (42) Ainda com base
extraordinárias, graças à sua na mcsma experiência, pode-se
adaptabilidade a outros países concluir C!ue o plano tem reve-
onde se manifeste a necessida- lado uma tendência para se po-
de de profissionalização dos al- pularizar e para consolidar a
tos cargos da administração mu- posição do administrador-chefe
nicipal, mas onde as resistên- na hierarquia administrativa -
cias culturais à idéia de um ge- duas indicações de que o esque-
rente inspirado nas práticas co- ma está correspondendo aos
merciais possam ser in'emo- anseios da Califórnia por novos
víveis. conceitos de govêrno local.

v- SUMARIO
A evolução do plano do admi- administrador-chefe é o de agen-
nistrador-chefe na Califórnia te administrativo. De acôrdo
tem resultado do propósito de- com tal conceito, o administra-
liberado de muitas comunidades dor-chefe serve sob a autorida-
no sentido de resolverem seus de e responsabilidade da câma-
problemas de integração e pro- ra ou do prefeito, cuja vontade
fissionalização anministrativas C'xecuta na implementação da
sem ser preciso recorrer ao go- política governamental. Tanto
vêrno de câmara-e-gerente na pode êle servir como coordena-
sua forma ortodoxa. dor das várias atividades admi-
O conceito básico do cargo de nistrativas da unidade governa-
(~) F.ichard S. Childs, op. cito pp. 590-91
36 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO POBLICA

mental como pode sua posição ta a sua figura juridica de agen-


ser fundamentalmente limitada te administrativo. Assim, ao con-
à de assessor administrativo da trário do gerente, o administra-
câmara ou do prefeito. dor-chefe carece de autoridade
Apesar das atribuições do caro administrativa própria_ ~le pode
go não obedecerem a um mo- fazer recomendações à câmara
dêlo uniforme, nelas se incluem, ou ao prefeito e agir em nome
geralmente, a responsabilidade de um dêsses órgãos, mas não
pela supervisão geral da admi- é da essência do plano que o
nistração, a análise administra- administrador-chefe possua auto-
tiva dos serviços governamen- ridade administrativa definida e
tais, recomendações sôbre a ex- imanente a seu cargo.
tinção ou consolidação de car- Outrossim, em contraste com
gos e sôbre outros assuntos re- o gerente, nunca lhe foi confe-
lativos ao pessoal, recomenda- rida autoridade plena para no-
ções sôbre as estimativas das mear e demitir os chefes de
despesas, administração do orça- departamento e sõmente em al-
mento votado pela câmara e fun- guns casos lhe é atribuida a res-
ções relativas à administração ponsabilidade total pela elabo-
interna, às relações públicas e ração do orçamento.
ao serviço de secretaria. Essas diferenças caracterizam
Os fatos mostram que o car- o esquema como um plano dis-
go tem evoluido, em muitas co- tinto do sistema de câmara-e-
munidades, para uma posição gerente e, se bem que ainda seja
prática que lembra muito o do cedo demais para se dizer se o
gerente. O contrôle orçamentá- esquema é uma forma nova e
rio tem sido o principal fator definitiva de govêrno local ou
na ascenção do administrador- se é apenas um passo transi-
chefe à posição da pessoa mais tório em direção ao sistema ge-
eminente da administração. Não rencial, a experiência california-
obstante, todavia, a importân- na mostra que sua aceitação
cia que os seus poderes de fato crescente tem incluido até mes-
possam assumir, a verdade é que mo várias comunidades que já
permane~em. as premis~as fun-;~ haviam e~perimentado o siste-
damentaIs sobre as quaIS assen-..Ema gerencIal.
CAPíTULO lU

SUBORDINAÇÃO DO CARGO AO PREFEITO:


O CASO DA CIDADE DE LOS ANGELES
A intenção original daqueles discussão do caso de Los Ange-
que primeiro puseram em prá- les num capitulo à parte: pri-
tica o plano do administrador- meiro, a própria posição do car-
chefe era fazer dêsse funcio- go na estrutura governamental
nário o assistente-administrativo da cidade; segundo, o tamanho
do prefeito de São Francisco. da unidade governamental em
Entretanto, assumiu o cargo im- questão; terceiro. o papel impor-
portância tal que se tornou prà- tante que o cargo parece desem-
ticamente independente do pre- penhar na administração da ci-
feito e se constituiu num tercei- dade, e, quarto, as conseqüên-
ro órgão do govêrno daquela ci- cias do arranjo estrutural sôbre
dade. (43) a idéia básica em tôrno da qual
Eventualmente, o plano foi gira a presente tese, isto é, só-
adotado por cidades que funcio- bre a aplicabilidade do plano
navam sob o govêrno de comis- ao Brasil, cujas municipalidades
são e de executivo fraco, exer- funcionam, na sua totalidade,
cendo o papel de agente admi- sob o sistema de câmara-e-pre-
nistrativo da câmara. feito.
1!:ste capítulo dará, em primei-
Em 1951 a idéia original foi ro lugar, breve idéia do movi-
novamente posta em prática em mento que resultou na implan-
Los Angeles, quando o povo des- tação do cargo na cidade de Los
sa cidade votou uma emenda à Angeles e discutirá, em seguida,
sua lei orgânica, criando o car- a estrutura e os deveres do car-
go de administrador-chefe subor- go de administrador-chefe (ad-
dinado ao prefeito_ ministrador da cidade, como é
Quatro motivos justificaram a chamado em Los Angeles)_

(43) Foi esta a impressão exata que ficou no Autor. da entrevista realizada
com Mr. Thomas A. Brooks. administrador-chefe da cidade de São
Francisco.
40 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

I- ORIGENS HISTÓRICAS DO CARGO (44)

A história do movimento pró- última década do século deze-


eficiência, que finalmente levou nove. A idéia mestra do movi-
à criação do cargo, é um exem- mento em Los Angeles era pro-
plo interessante da luta pela efi- porcionar eficiência e economia
ciência e profissionalização ad- ao govêrno municipal através da
ministrativa na vida municipal reforma da estrutura governa-
norte-americana. Serve ainda mental e da pesquisa adminis-
para esclarecer a evolução e a trativa.
implantação da idéia do admi· No comêço dêste século duas
nistrador-chefe em Los Angeles. organizações de Los Angeles já
Um resumo dessa evolução será se achavam empenhadas na cru-
aqui apresentado em três par- zada pela reforma dos costumes
tes, cada uma das quais corres- governamentais, que tivera ini-
ponde a uma fase distinta do cio no leste do país, na década
movimento: 1) as raizes refor- de 1870: a Liga Municipal de
mistas do movimento; 2) a luta Los Angeles, fundada em 1901,
pela eficiência administrativa em e o Clube da Cidade de Los An-
Los Angeles e 3) o aparecimen- geles, fundado em 1906.
to do cargo de administrador da
cidade. A criação, nesse mesmo ano
de 1906, da organização civica
A8 raízes reformista8 do mo- conhecida como Bureau de Pes-
vimento - As raizes do movi- quisas Municipais de Nova Ior-
mento que finalmente levou ao que veio estabelecer um curso
estabelecimento do cargo de ad- de ação ainda mais positivo
ministrador da cidade em Los para os reformistas de todo o
Angeles penetram no passado e pais e inspirou a formação de
são encontrados na cruzada de órgãos de pesquisas governa-
reforma municipalista que teve mentais em outras cidades. Mui-
Inicio nos Estados Unidos na tos dêles tiveram origem nos

(44) O material para esta seção foi obtido, em sua maior parte, pela lei.
tura do seguinte trabalho: Robert J. Huntley, Á Historical 8tudll o/
the De"elopment of the Citll ÁdminiBtrati"e Ollice in the Citll of LOB
AnDele. (Tese Inédita, The Unlverslty of Southern Callfornla, Los An·
«eles, 1962).
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 41

clubes de cidade e em outras te suas atividades úteis, que fi-


organizações cívicas. Em Los caram, na maior parte, restri-
Angeles, por exemplo, a Liga tas ti. reorganização ao sistema
Municipal propôs, em 1909, fôs· de pessoal da cidade.
se criada uma comissão de eco·
nomia no govêrno municipal e Quanto à Divisão de Orça-
que a mesma' fôsse constituída mento e Eficiência, foi ela esta-
por comerciantes e industriais belecida pela lei orgânica como
que pudessem dedicar part~ de mero órgão de assessoramento.
seu tempo ao estudo da organi· A Divisão foi subordinada ao
zação e operação dos departa- prefeito para aSf.isti-Io e assis-
mentos da prefeitura. Mais tar- tir a cãmara na elaboração do
de, em 1912, durante a conferên- C'I'ç'amento anual e para apre-
cia conjunta anual da Liga Mu- sentar-lhes recomendações em
nicipal e do Comitê Nacional assuntos de finanças, pessoal,
pró-Bom Govêrno, realizada em organização, métodos de traba-
Los Angeles, surgiu a idéia da lho, direito e engenharia. No
criação do Bureau de Pesquisas entanto, até 1930 suas ativida-
Municipais de Los Angeles. Mas, des ficaram quase que limitadas
em vez do Bureau, foi estabele- ao setor de finanças. Naquele
cida em 1913 uma Comissão de ano, porém, foi-lhe concedida au-
Eficiência, como parte integran- toridade específica para fazer
te do govêrno municipal, no- estudos das atividades departa-
meando-se um diretor para o mentais em geral, e em 1945
Departamento de Eficiência cria- uma lei municipal estendeu sua
do no mesmo tempo. autcridade ao tornar compulsó-
rio o parecer da Divisão em tô-
A cidade luta por eficiência das as questões referentes à
- O Departamento de Eficiên- ('ri ação de novos cargos. Toda-
da, desde sua origem até sua via, em 1945, os serviços da
substituição, em 1925, pela Di- Divisão eram considerados bas-
visão de Orçamento e Eficiên- tante insatisfatórios, quer pela
cia, teve, entretanto, sua histó- câmara, quer pelo prefeito e pe-
ria marcada por luta contínua los chefes de departamento, em
com a câmara municipal e os face dos conflitos entre êsses
diversos departamentos da pre- três grupos a respeito do modo
feitura. Isso reduziu grandemen- como a Divisão devia funcionar.
42 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PúBLICA

o prefeito decidiu, então, cri~r nistrador da cidade - Os re-


no seu gabinete uma Divisão de latórios da Comissão de Reor·
Serviços Administrativos, como ganização foram desfavoráveis
órgão de assessoramento atra- à Divisão e aos seus funcioná·
vés do qual deveriam passar rios. Para corrigir a situação,
todos os assuntos que lhe fôs· propunha a Comissão fôsse cria·
sem encaminhados pelos diver· do o cargo de administrador da
sos departamentos e comissões. cidade (administrador·chefe).
Por outro lado, a contínua in· A matéria foi submetida ao
satisfação da câmara com a Di· eleitorado e aprovada como
visão de Orçamento e Eficiên· emenda à lei orgânica da cida·
cia levou aquela a criar o seu de, em maio de 1951. Ao mes·
próprio órgão de pesquisa, che· mo tempo foi abolido o cargo
fiado por um anali~ta legislati· de diretor da DivisA0 do Orça·
vo. Em 1949 certos grupos cio mento e Eficiência, passando
vicos estavam de tal modo imo suas atribuições para o cargo
pressionados com as críticas da recém·criado.
câmara à Divisão de Orçamen· Mr. Samuel Leask Jr., ex·vice·
to e Eficiência que o prefeito presidente de uma das maiore:>
achou aconselhável nomear uma lojas de departamento de Los
comissão para estudar a reor· Angeles, a Cia. J. W. Robinson,
ganização do govêrno municipal, foi nomeado pelo Prefeito Bow·
a qual foi constituída de líde· ron, em junho de 1952, para o
res e cidadãos ilustres da cio cargo de administrador da cida·
dade. de, pôsto que ainda ocupava ao
Aparecimento do cargo de ad· tempo dêste estudo.

II - ESTRUTURA E ATRIBUIÇõES DO CARGO


A estrutura e as atribuições o administrador da cidade -
do cargo serão tratadas em três A emenda à lei orgânica local
partes. A primeira será devo· que criou o cargo de adminis·
tada à figura do administrador; trador·chefe em Los Angeles
a segunda à composição de seu manteve a tradição dessa cida·
gabinete, e a terceira aos de· de no que se refere à partici·
veres e atribuições do cargo. pação da câmara em assuntos
A MODERNA ADMli\'ISTRAÇÃO MT;i\'ICIPAL 43

da administração. De acôrdo tem sido a figura mais impor-


com essa tradição e a fim de tante da administração, caben-
assegurar a quem fôsse nomea· do-lhe desde longa data a res-
do certa permanência no caro ponsabilidade final pela elabo-
go, a emenda estabeleceu que ração do orçamento.
o admmistrador da cidade seria Desta maneira, e ainda mais
de nomeação do prefeito com com bases nas funções atribuí-
a aprovação da maioria da câ· das ao administrador da cidade
mara, podendo ser demitido pelo e de acôrdo com I) modo com8
mesmo processo ou mediante o funcionou o cargo sob o pre-
voto de dois têrços da câmara. feito, que nomeou seu primeiro
Além disso, como principal as· (e único até esta data) o,::up'ln·
sistente·administrativo do govêr· te, a conclusão lógica é que a
no municipal, o administrador intenção daqueles que promove·
da cidade deveria servir tanto ram :l emenda loi a de fazer
ao prefeito quanto â câmara. (-15) do Eaministrador-ccefe um as-
O govêrno da cidade de Los sistente, em primeiro lugar, do
Angeles não pode ser conside- prefeito, se bem que em obser-
rado exatamente do tipo de exe- vância às tradições locais te-
cutivo forte, apesar de o pre- nha sido reservado â câmara
feito ser eleito '-liretamente pelo o direito de valer-se também dos
povo de tôda a cidade, de ter serviços de tão importante fun-
o direito de veto e de ser con- cionário. Durante a gestão do
siderado como o chefe do exe- Prefeito Bowron, isto é, duran-
cutivo. Grande parte ~1~ sellS te os dois primeiros anos de
poderes administrativos são par- existência do cargo, o adminis-
tilhados pela câmara e por uma trador da cidade serviu princi-
série de comissões semi-autôno- palmente ao prefeito, de quem
mas de cidadãos, muitas das recebia a maior parte das or-
quais exercem a direção de im- dens e para quem encaminhava
po:-tantes departamentos e ser- a maioria de suas recomenda·
viços administrativos, que fun- ções. (46)
cionam, assim, sob uma chefia Anéllisando-se o cargo do pon-
colegiada. Contudo, o prefeito to de vista formal, dir-seá qUI::

(45) Lei Orgânica da Cidade de Los Angeles, Capo 50.


(46) Entrevista com Messrs. George Terhuue e Carl F. Pahl.
r---

44 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

~ posição do administrador da petência profissional e com sua


cidade é essencialmente a de um habilidade em lidar com o pre-
assessor técnico em administra- feito, a câmara e os chefe:; de
ção_ De fato, é bem pequena a departamento. Foi revelado aü
autoridade direta que lhe é con- autor (49) que, embora haja cer-
ferida sôbre os vários departa- to ressentimento da parte dos
mentos. l!.:le age quase sempre chefes de departamento contra
em nome do prefeito ou da câ- o contrôle indireto que o admi-
mara. Suas funções consistem nistrador da cidade exerce sô-
em orientar "o prefeito e a câ- bre os departamentos, através
mara em relação às condições, da elaboração e admmistração
às linanças e às necessidades do orçamento e através da aná-
futuras da cidade" (47) e em lise continua das atividades ad-
apresentar recomendações a re:;- ministrativas do govêrno, êsses
peito. Todavia, tal é a nature- chefes terminam cedendo ante
za e tal a importância das ati- os benefícios que para êles de-
vidades que éle u'=ve exercer correm da assistência e da li-
para desempenhar com acêrto derança do administrador da ci-
as suas funçõlll5 de ,~conselha­ dade.
mento e tal é o papel do or- Composição do gabinete - A
çamento na administração pú- fim de permitir ao administra-
blica moderna - orçamento que dor da cidade o desempenho de
éle elabora e controla - que seus deveres para com uma uni-
sua autoridade efetiva é imen- dade governamental do tamanho
sa, ainda que se trate d..! uma de Los Angeles, foi-lhe forneci-
simples "autoridade de idéjas", do um corpo de auxiliares téc-
como o pessoal de seu gabinete nicos e burocráticos de tamanho
insiste em chamá-la. (48) considerável, os quais passaram
Essa "autoridade de idéias" a constituir o seu gabinete. Por
decorre do renome que o admi- ocasião dêste estudo, as ativida-
nistrador da cidade tem trazido des dêsse gabinete eram exerci-
para o seu cargo com sua com- das por três divisões: Divisão

(47) Annua! Report o/ tlle City Admini8trative OJ/icer, City o/ Los An"ele~,
1953, p.l
(48) Entrevista com Mr. George Terhune.
(49) Fontes confidenciais.
A MODER1\:A ADMINISTRAÇAO MUNICIPAL 45

de Administração do Orçamen- Atribuições orçamentárias


to, Divisão de Direção Adminis- Como sucessor da Divisão de Or-
trativa e Divisão do Serviço de çamento e Eficiência, o gabinete
Informações_ (50) Cabia, ainda, do administrador da cidade tem
ao administrador da cidade no- tido na preparação e no contrô-
mear e demitir dois administra- le do orçamento uma de suas
dores-assistentes, mas durante principais funções, talvez mes-
quase todo o tempo de existên- mo a principal. Pouco depois de
cia do cargo somente um dês- nomeado, o administrador-chefe
ses assistentes estêve em exer- começou a desenvolver um siso
cicio. Além dêsses dois cargos, tema de orçamento na base de
o quadro de pessoal do gabinete programas de trabalho (perfor-
consistia de trinta e três analis- mance budgeting). Por meio da
tas administrativos, quinze dati- análise minuciosa dos programas
lógrafos e escriturários e três de trabalho e das operações dos
técnicos em relações públicas. diferentes departamentos, um
(51). sistema orçamentário completa-
Deveres e atribuições do cargo mente novo foi instalado em
- Os deveres e atribuições do 1952_ O sistema tem sido cons-
cargo recaem nas quatro cate- tantemente aperfeiçoado com o
gorias seguintes: elaboração e fim de serem aumentadas a sua
contrôle do orçamento, adminis- amplitUde e exatidão. (53)
tração do pessoal, análise admi- O volume e a natureza da aná-
nistrativa e relações públicas. lise administrativa e dos relató-
Cada uma será tratada separa- rios necessários para a elabora-
damente nas próximas páginas. ção do orçamento na base de pro-
(52) gramas são de tal ordem que o

(50) Annual Report o/ the City Admillistrative Ollicer, City o/ Los Angeles,
1953, p. 2.
(51) Ibid. p. 2
(52) Grande parte das informações sóbre os dewres. a autoridade e a res-
ponsabilidade do cargo do administrador da cidade foi obtida da publi-
cação Annual Report o/ the City Administrative Ollicer, City o/ hos
Angeles, 1952.
(53) Annual Report o/ the City Administrative Ollicer, City o/ LOB Angeles,
1953, p. 5
46 CADERNOS DE ADMIJ\'ISTRAÇAO PÚBLICA

exerclclO dessas atribuições tem sal rigoroso de todos os aspec-


servido ao administrador da ci- tos importantes da execução do
dade como valiosíssimo instru- orçamento e dos programas de
mento de contrôle das atividades trabalho pelos departamentos e
administrativas de todo o govêr- conselhos administrativos muni-
no municipal. cipais. Atribui-se ao uso dessa
Para estimativa do custo dos técnica de contrôle grande parte
serviços foram estabelecidos pa- da autoridade de fato exercida
drões de execução calculados na pelo cargo sôbre a administração
base de homens-horas necessá- da cidade. (54)
rios para a realização dQ certo Outras atribuições especificas
trabalho. É fácil imaginar quão incluídas na categoria de admi-
abrangente e minuciosa deve ser nistração orçamentária são as
a análise das operações para se seguintes: autoridade para apro-
chegar aos respectivos padrões var estornos de verbos dentro
de execução e, conseqüentemen- de um mesmo fundo, até cinco
te, como é complexa esta parte mil dólares; autoridade para fa-
das atividades do cargo. Outro zer recomendações sôbre estor·
instrumento de contrôle consiste nos de verbas de um para ou-
na sistema de relatórios men- tro fundo e dentro de um mesmo
sais enviados ao administrador fundo quando se tratar de quan-
da cidade pelos chefes de depar- tia superior a cinco mil dólares;
tamento, sôbre a execução do oro autoridade para dar parecer sô-
çamento e dos programas de tra· bre a abertura de créditos suple-
balho de suas repartições. Os re. mentares e, finalmente, autori-
latórios são cuidadosamente es- dade para analisar e aprovar es·
tudados pelos analistas das Di· pecificações e concorrências para
visões de Administração do Oro aquisição de material usado por
çamento e da Direção Adminis· mais de um departamento.
trativa e resumidos para o ad- Atribuiçõe8 relativa8 ao pe8-
ministrador da cidade. A natu· 80al - O administrador da ci-
reza das informações contidas dade é responsável pela realiza-
nesse sistema especial de rela- ção de um estudo anual dos ven·
tórios permite um contrôle men- cimentos do funcionalismo mu·

(51) Fontes LOnfidenciais.


A MODERNA ADMINISTRAÇAO MCNICIPAL 47

nicipal para o fim de fazer as Los Angeles, o administrador-


recomendações que julgar neces- chefe certa vez se definiu a si
sárias_ Cabe-lhe ainda analisar mesmo como o analista-mor da
todos os pedidos de licença de administração municipal. (55)
funcionários e dar parecer a res- De fato, a fim de promover a
peito. Não raro sua opinião tem eficiência e a economia no go-
sido solicitada em assuntos refe- vêrno da cidade, o administrador-
rentes à reclassificação e redis- chefe deve necessàriamente lan-
tribuição de cargos e a pedidos çar mão das técnicas modernas
de refôrço de pessoal. Tem tam- da administração científica. Sob
bém autoridade para transferir sua direção funciona extenso e
funcionários temporàriamente de ininterrupto programa de pes-
um departamento para outro, q uisa nos setores de direção e
por prazo não superior a cento organização administrativas, mé-
e vinte dias, cabendo ao prefei- todos e rotinas de trabalho e
to decidir nos casos em que os contrôle de impressos e formulá-
chefes de departamento não con- rios. A pedido do prefeito ou da
cordem com as transferências as- câmara e, em alguns casos, a
sim realizadas. seu próprio critério, cabe-lhe es-
Os relatórios mensais acima tudar o funcionamento e as ope-
referidos contêm informações rações dos diferentes departa-
acêrca da utilização do pessoal, mentos da prefeitura.
e servem, por conseguinte, como De tôda essa vasta atividade
meio de contrôle da utilização pesquisadora resultam os seguin-
e das necessidades de pessoal pe- tes benefícios para a cidade: re-
los diversos órgãos da adminis- comendações sôbre os meios de
tração municipal. :esses dados aperfeiçoamento da organização,
se têm revelado de suma impor- da política e das práticas admi-
tância para o desempenho das nistrativas do govêrno; estabe-
funções de pessoal e orçamentá- lecimento de padrões de exe-
rias do administrador-chefe. cução; elaboração de regimentos
Análise Administrati'!;a - Num internos e manuais administra-
discurso pelo rádio, ao povo de tivos para os vários serviços;
(55) Palestra pelo rádio feita por Mr. Samuel Leask, Jr., administrador da
cidade de Los Angeles, através da estação KFI, em 25 de outubro de
1953 (21,45 h) (cópia mimeografada).
48 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO ptJBLICA

contrôle e padronização de im- um Centro de Informações des-


pressos e formulários, com a tinado a informar o público Sô-
conseqüente simplificação do tra- bre a localização das diferentes
balho e redução de despesas; es- repartições municipais e orientá-
tabelecimento de programas de lo a respeito da repartição com-
trabalho e, por fim, simpIüica- petente para onde se devem di-
ção geral do trabalho da admi- rigir aquêles que têm assuntos
nistração municipal. (56) a tratar com a administração.
Relações públicas - Uma or- Nas palavras do relatório anual
denança de primeiro de feverei- apresentado pelo administrador
ro de 1951 transferiu para o ga- da cidade, o Serviço de Informa-
binete do administrador da ci- ções também
dade o Serviço de Informações,
que funcionava no Departamen- . . .. indica aos interessados
to Executivo. Dêsse modo, aquê- o dia, a hora e o lugar das
le alto funcionário passou a che- diferentes sessões públicas,
fiar o serviço de informações da audiências especiais e outros
prefeitura. (57) acontecimentos locais; coor-
1!:sse serviço abrange um vasto dena a disseminação de in-
campo de atividades, tanto em formações públicas através
relação aos cidadãos que entram do rádio e da televisão; dis-
em contacto com os diversos de- tribui relatórios anuais e ou-
partamentos como em relação ao tros materiais informativos
público em geral. Acha-se ins- e exerce outras atividades
talado no edifício da prefeitura correlatas. (58)

lII. SUMARIO
A evolução do movimento pró- no da cidade de Los Angeles,
eficiência e economia, no govêr- ocorreu vagarosamente, num pe-

(56) AnnuaZ Report of the City Administrative Olficer, City of Los AngeZes
1952, pp. 17-34.
(57) Lei municipal n." 99.040. de 1 de fevereiro de 1951. cidade de Los Angeles.
(58) AnnuaZ Report of the City Administrative O/ficer, City of LOIJ AngeZeB,
1952, p. 2.
A MODERNA ADMli\ISTRAÇXO MUNICIPAL 49
rlodo de meio século, partindo, Suas atividades principais con-
a princípio, de grupos cívicos de- sistem em planejar e dirigir o
votados à luta pela moralização sistema orçamentário a fim de
governamental e cristalizando-se torná-lo mais eficiente, elaborar
depois na criação do Departa- e administrar o orçamento, ana-
mento de Eficiência, como parte lisar permanentemente as ope-
do govêrno municipal de 1913_ rações e atividades da adminis-
Assinalou essa primeira fase do tração municipal e dirigir o Ser-
movimento o interêsse pelo apri- viço de Informações da prefei.
moramento da administração de tura.
pessoal, principalmente no qU2
Para que lhe seja possível
dizia respeito ao sistema do mé-
cumprir suas obrigações e tra-
rito_ Com a criação da Divisão
zer economia e eficiência ao go-
de Orçamento e Eficiência, em
vêrno da cidade, o administra-
1925, a ênfase do mo-;imento S2
dor-chefe de Los Angeles deu
fêz sentir noutros setores. A
nova oriE'ntação ao sistema or-
luta política em tôrno da Divi-
çamentário, baseando-o em pro-
são e a insatisfação de certos
gramas de trabalho e também
grupos com êsse órgão levaram,
vem conduzindo extensas pesqui-
em 1951, à criação do cargo de
sas com o fim de aperfeiçoar
administrador da cidade, cujas
mais ainda o sistema, de me·
funções principais são as de
lhorar os serviços governamen·
orientar o prefeito e a câmara
tais e de simplificar os métodos
sôbre a administração geral, as
de trabalho.
condições, as finanças, e as
necessidades futuras da cidade, Inúmeras dificuldades se têm
fazendo-lhes recomendações a apresentado, na sua missão de
respeito_ servir tanto ao prefeito quanto
à câmara. Não raro, os chefes
Como principal assistente-ad- de departamento ressentem-se
ministrativo do prefeito e da do contrôle que sôbre êles exer-
câmara, foram-lhe confiadas im- ce o administrador-chefe, atra·
portantes atribuições na admi- vés do elaborado sistema orça-
nistração municipal, algumas das mentário adotado. Apesar disso
quais pertenciam à antiga Divi- e da imensa responsabilidade do
são de Orçamento e Eficiência_ novo cargo, é firme convicção

~ - CAd. Mm. !IJ,miâpal - 46


-------------------------------------

50 C,\DERl\OS DE ADlIIIl'-:ISTRA(ÃO PCBLICA

do Autor de que o administrador Los Angeles de modo a trazer


da cidade tem conseguido liderar para o seu cargo a mais alta
a administração municipal de reputação profissional.
CAPíTULO IV

PANORAMA DA ADMINISTRAÇÃO
MUNICIPAL BRASILEIRA
o presente capítulo é princi- nicipais no BrasiL Dessa neces-
palmente um trabalho de sínte- sidade resulta o presente capí-
se_ A escassa literatura bra- tulo, cujo objetivo é articular
leira sôbre administração muni- numa visão panorâmica - e,
cipal resume-se a meia dúzia de por isso mesmo, sem a preo-
livros de escopo mais ou me- cupação das minúcias - aquê-
nos mono gráfico e a artigos dis- les quadros isolados da nossa
persos por duas ou três revis- organização municipaL
tas especializadas_
A natureza fragmentária des- As instituições municipais têm
sa obra dificulta uma visão de recebido tal lmpeto no Brasil,
conjunto do panorama da admi- desde que foi votada a Consti-
nistração municipal brasileira, a tuição de 1946, que êsse aconte-
qual só se poderá conseguir me- cimento bem pode ser conside-
diante o exame dos estudos par- rado um marco na história na-
ciais existentes, alguns, aliás, cionaL ~ste trabalho se divide
brilhantemente feitos pelas maio- em tôrno dêsse marco. O passa-
res autoridades na matéria, en- do será tratado na seção intitu-
tre nós_ lada "Desenvolvimento Históri-
Precisa, entretanto, o Autor, co do Govêrno Local no Brasil",
sintetizar em algumas páginas e a situação posterior a 1946
a evolução, a estrutura e o fun- sob o título "O Govêrno Muni·
cionamento das instituições mu- cipal desde 1946".

r. DESENVOLVIMENTO mSTÕRICO DO GOVÊRNO


LOCAL NO BRASIL

Se bem que os três periodos esta seção serã dividida não re-
históricos em tôrno dos quais velem diferenças fundamentais
Sí CADERi'\OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

entre si quanto a muitos aspec- tituíam os concelhos um pode-


tos da evolução da vida muni- roso mei.:> de defesa do povo
cipal brasileira, a divisão será, contra os abusos do clero e da
contudo, adotada em face de sua nobreza. Mas o crescimento do
relação com fatos importantes poder real resultou numa ten-
da história do BrasiL f:sses pe- dência de uniformização e cen-
riodos são: 1) os tempos colo- tralização dos governos locais,
niais; 2) a época imperial, e de modo que os outrora pode-
3) o período republicano até rosos concelhos já estavam com-
1946_ pletamente sob o contrôle da
Nos tempos coloniais - As coroa, por volta de 1595.
instituições de govêrno local fo- O concelho, que a principio
ram trazidas de Portugal para designava apenas o órgão go-
o Brasil, nos primeiros anos do vernamental, passou depois a
século XVI, pelos colonizadores designar o próprio território do
portuguêses, juntamente com municipio_ Constituíam os con-
outras instituições jurídicas e celhos as seguintes autoridades:
sociais. 1) o alcaide, que representava
O velho conceito do m"nicí- o poder central e que exercia
pium romano atravessou a Ida- funções administrativas e judi-
de Média, na Península Ibérica, ciais; 2) os juíze8, também cha-
e, depois de ter sofrido modifi- mados alvazis, eleitos dentre os
cações importantes, sob os go- homens-bons e investidos da fa-
dos e sob o feudalismo, evoluiu, culdade de deliberar e julgar,
em Portugal, nos chamados con- juntamente com o alcaide; 3)
celhos (do latim concilium), cuja os almctacés, cujas funções
estrutura já estava bem defini- eram de natureza puramente
da nos fins do século XII. (59) administrativa, como a aferição
Na luta entre o rei e os se- de pesos e medidas, a manuten-
nhores feudais, os concelhos ou ção das ruas e edifícios públicos,
governos locais desempenharam policiamento das ruas e estra-
importante papel em favor da das, etc.; 4) funcionários subal-
autoridade centraL Com carta ternos, como o escrivão do con-
de foral concedida pelo rei, cons- celho, o porteiro, o pregoeiro e

(59) ORLANDO M. CARVALHO, Política do Município, Ensaio Hist6rico (Rio de


Janeiro: Livraria Agir, editOra. 1946). pp. 11-14.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 55

o vozeiro. Havia, ainda, os no- nações Filipinas já haviam


men~-bons, que constituiam uma transformado os concelhos nas
espécíe de órgão consultivo e câmaras, compostas dos juízes
de assessoramento da adminis· ordinários, com jurisdição cível
tração, e que eram escolhidos e criminal, dos vereadores, com
dentre as pessoas de relêvo na funções administrativas; do pro-
comunidade. curador, espécie de advogado do
Com o crescimento do poder município, e dos alrnotacés, com
central sôbre os concelhos, a funções executivas subalternas,
estrutura administrativa dêstes Tais foram as instituições de
modificou·se para atender à govêrno local introduzidas no
nova situação. Assim, já no sé· Brasil. (61) Todavia, o ambien-
culo XIV aparece a figura do te colonial era totalmente diver-
juiz·de·fora, autoridade judicial so do metropolitano. A imensi-
encarregada de aplicar, no mu· dão do país e a natureza rural
nicípio, as leis gerais do reino. da população cedo começaram
Outras modificaçõcs foram seno a operar uma mudança radical
do pouco a pouco introduzidas no sistema importado, tanto
pelas Ordenações, no correr dos assim que a própria existência
tempos. Com as Afonsinas a de um verdadeiro espírito muni-
corporação dos homens·bons ce· cipalista na colônia é sujeita a
deu lugar à dos juízes pedâneos ~éria dúvida. Diz BARBOSA LIM.\
e vereadores, êstes com as atri- SOBRINHO:
buições administrativas dos ano "Na verdade não chegamos a
tigos almotacés e com algumas ter, no período colonial, o que
das funções de assessoramento hoje se denomiJ;a Municipalis-
dos homens-bons, os quais fica- mo. Conhecemos Sen&dos de Câ-
ram com as suas atribuições maras Municipais e vimos que
pràticamente limitadas a esco- essas assembléias centralizaram
lher, pelo voto, os juízes e ve- movimentos históricos de extra-
readores. (61) ordinário relêvo. Mas eram tão
N o tempo em que começou a amplos os têrmos das vilas e
colonização do Brasil, as Orde- possuíam elas poderes tão di-

(60) Fr"'XCI~CQ :'IACHAOQ VIU.'.O JI1;nicípio no Regime Constitucional rigcllt6


(Rio de Janeiro: Li\Taria Freitas Bastos, 1952), pp. 10-12.
(61) Ibid., pp. 12-14.
5'6 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PlJBLICA

latados que devem ser conside- vi dia eram governadas central-


radas as suas assembléias, me- mente de Portugal e quase não
nos como autoridades propria- mantinham relações oficiais en-
mente municipais do que como tre si. Nessas circunstâncias, as
ensaios de organização represen- instituições locais portuguêsas
tativa, dentro dos governos re- transplantadas para o Brasil
gionais. O Senado da Câmara foram cedo modificadas pelas
das vilas criadas como que an- novas condições ambientes. O
tecipa as assembléias estaduais. govêrno colonial tornou-se cen-
Suas preocupações, como tam- tralizado geogràficamente. (63)
bém a matéria de sua compe- Sem renda, por não possuir qua-
tência, constituem o domínio co- se nenhum poder de imposição,
mum da atividade das Câmaras e administrado diretamente pe-
Legislativas. O Municipalismo, los agentes do rei de Portugal,
como hoje o entendemos, depen- o município colonial brasileiro
deu da formação das cidades, permaneceu, como comunidade,
com os seus interêsses próprios, num estágio bastante primitivo;
seus problemas característicos e, e foi altamente ineficiente como
sobretudo, sua emancipação di· unidade de govêrno. (64)
ante da influência dos clãs la· O gov~rno municipal durante
tifundiários, tão bem expostos o Império - Só depois da Inde-
e compreendidos na sociologia pendência e com a Constituição
do Sr. OLIVEIRA VIANA." (62) de 1824 passaram as instituições
Era, portanto, a propriedade municipais brasileiras a tomar
rural, não as cidades, que for· uma forma definida e a apre-
mava a base do município co- sentar alguma originalidade.
lonial. Havia poucos centros ur- Nas palavras de CASTRO NUNES,
banos naqueles tempos e geral- a fase verdadeiramente brasi-
mente serviam de sede para os leira da história municipal do
governos regionais. As várias Brasil começou com a Consti·
capitanias em que o Brasil se di- tuição de 1824 e com a lei re-

(62) BARBOSA LIMA SOBRINHO. "Atualidade da Campanha Municlpallsta", Revi8-


ta Brasileira d08 Municípios, julho-setembro 1949. p. 446.
(63) A. MACHADO PAUptRIO. "Evolução do Estado Brasileiro", Revista Brasi-
leira dos Municípios, abril-Junho, 1951. p. 189.
(64) Ibid., p. 190.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO Mt.JNICIPAL 57

gulamentar de 1828. (65) Aque- arrancando-lhes o exercício de


la Constituição estabelecia que um poder judiciário que lhes
tôda cidade ou vila deveria ter dera, em tempo, prestígio sin-
uma câmara popularmente elei· gular." (69)
ta, à qual competia o govêrno
econômico e municipal das ditas A reação contra êsse excesso
cidades ou vilas. (66) Estabele· de centralização veio com o Ato
cia, ainda, que o vereador mais Adicional de 1834, que transfor-
votado seria o presidente da câ- mou os Conselhos Gerais das
mara, (67) cargo que equivalia Províncias em Assembléias Le-
ao de agente executivo. Mas a gislativas Provinciais, estas de
lei de 1828 restringiu grande- vitalizado poder, pois lhes foi
mente os poderes das câmaras transferida a autoridade sôbre
municipais, cujas funções judi- os assuntos municipais, anterior-
ciárias foram, então, suprimidas mente reservada aos presidentes
com o estabelecimento do Poder de província. As províncias, to·
Judiciário em órgão separado. davia, durante os longos anos
Essa lei mostrava tendências da Monarquia, não lançaram
francamente centralizadoras em mão daquela autoridade para
relação aos municípios, pois de- criar novas instituições de go-
clarava os atos das autorida- vêrno municipal nem para reor-
des municipais sujeitos à apro- ganizar, em novas bases, o sis-
vação dos presidentes provin- tema vigente. Em suma, o qua-
ciais, que eram de nomeação do dro da vida municipal durante
govêrno central. (68) "Declaran- o Império é um quadro de obs-
do as câmaras corporações me- curidade e apatia, até mesmo de
ramente administrativas" - diz humilhação, por causa da cen-
ORLANDO M. CARVALHO - "redu- tralização extrema de seus ne-
ziu os municípios a simples pe- gOClOS nas mãos dos governos
ças da engrenagem monárquica, provinciais, bem como em vir-

(65) Josl:! DE CASTRO NUNES, Do Estado Federado 6 Sua Organização Muntcipal


(Rio de Janeiro, EditOres Leite Ribeiro & Maurillo, 1920), p. 42-
(66) Constituição Brasileira de 1824, Titulo VII, Capo lI.
(67) Loc. cito
(68) Jod DE CASTRO NUNES, op. cit., pp. 44-45.
(69) ORLANDO M. CARVALHO, op. cit., p. 54.
58 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÜBLICA

tude da sua quase total incapa- quanto respeitasse ao seu pe-


cidade financeira. (70) culiar interêsse. (71) A Consti-
O Govêrno local de 1889 a 1946 tuição, entretanto, não definiu
- Proclamada a República, em o que sj! devia entender por au·
1889, e promulgada a primeira tonomia municipal, nem escla-
constituição republicana, em receu em que consistia o pe-
1891, tornou-se o Brasil um Es- culiar interêsse dos municipios.
tado Federal. O Poder Consti- A interpretação do texto cons-
tuinte conferiu certa autonomia titucional foi deixada a cada Es-
poUtica às antigas provincias, tado e, exceto com relação ao
transformando-as assim em Es- Rio Grande do Sul, que conce-
tados Federados. As instituições deu às suas municipalidades o
federais dos Estados Unidos fo- direito de votarem suas pró-
ram, tanto quanto possível, co- prias leis orgânicas, essa inter-
piadas e adaptadas à situação pretação nunca foi liberal. (72)
oposta de uma nação que pas- A natureza precária de uma
sava do regime unitário para o autonomia assim tão vagamen-
federal, ao contrário do modêlo te esta tu ida evidenciou-se, entre
norte-americano, em que se ve- outros, por dois fatos importan·
rificou a associação de colônias teso O primeiro dêles foi a per-
autônomas, primeiro numa con- manência no estado de incapa-
federação e depois numa fe- cidade financeira, que desde as
deração. origens caracterizara o govêrno
Em obediência ao principio de local no Brasil. O segundo con-
autonomia dos Estados-membros sistiu na interpretação dada
observado pelos Estados Uni- por vários Estados-membros ao
dos, a Constituição de 1891 dei- conceito de autonomia do mu·
xou aos nossos Estados-mem- nicipio, no que se referia à ele-
bros a faculdade de organizar tividade do chefe do executivo
suas instituições de govêrno lo- municipal. A figura do prefeito
cal, tendo-se limitado a declarar eleito se estava então firmando
que a autonomia dos municipios nas instituições municipais bra-
devia ser assegurada em tudo sileiras, mas sàmente em oito

(70) Ibid., pp. 55-57.


(71) Constituição Bra,slleira de :891, Titulo lII.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 59

dos vinte Estados a eleição do referia às suas relações com os


prefeito era a regra. Nos outros munic1pios. A nova Constituição
doze o prefeito era de nomea- deu um passo decisivo para o
ção do governador, senão em fortalecimento da autonomia
todos os munic1pios, pelo menos municipal, estabelecendo que os
na capital do Estado e naqueles municípios deveriam ser orga-
em que o govêrno estadual ti- nizados de modo que lhes ficas·
nha invertido grandes somas em se assegurada a autonomia em
estâncias hidrominerais. (73) tudo que dissesse respeito ao seu
Durante o período revolucio- peculiar interêsse e garantindo-
nário de 1930 a 1934, isto é, du- lhes especialmente: 1) a ele ti-
rante o primeiro regime Vargas, vidade do prefeito e dos verea·
o govérno era grandemente cen- dores, sendo que aquêle pode-
tralizado. Tôdas as câmaras le- ria ser eleito indiretamente por
gislativas foram dissolvidas, in- estes; 2) a decretação de certos
clusive as câmaras municipais_ impostos e a arrecadação e apli-
Os Estados eram governados cação de suas rendas; e 3) a
por interventores nomeados pelo organização de seus serviços. (74)
chefe do Governo Provisório e A estrutura básica do govêrno
os municípios por prefeitos municipal foi, portanto, estabe-
nomeados pelos interventores. lecida pela Constituição Federal,
Essas autoridades exerciam, en- mas as minúcias foram deixadas
tão, tanto o poder executivo para as constituições estaduais,
como o legislativo. a serem votadas em breve pelos
Com a Constituição de 16 de Estados.
jUlho de 1934 o paIs voltou à Ao fazer uma divisão tripa r-
normalidade constitucional. Foi tida da competência entre a
manticnt a Federação, mas a au- União, os Estados e os Muni-
tonomia dos Estados-membros c1pios, o Brasil inaugurava o
foi reduzida, inclusive no que se que desde então tem sido con-

(72) FRANC:~CQ BURKINSKI, "Go\'êrno Municipal", Ret'ista do Serviço Público,


março, 1953. p. 64.
(73) ORLANDO M. CARVALHO. op. cit., pp. 82-83.
(74) Constitulçao Brasileira de 1984, art. 18.
60 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PGBUCA

siderado uma peculiaridade do nadores estaduais se transfor·


seu sistema federal. (75) maram em agentes do govêrno
Todavia, o país mal teve tem· central ou interventores e os
po de experimentar o novo pIa· prefeito!\ passaram a governar
no de revitalização das institui· como prepostos dêsses interven·
ções municipais: o intermezzo tores. A discriminação das ren·
constitucional durou apenas três das em favor dos municípios foi,
anos. A 10 de novembro de 1937 porém, pràticamente mantida
o PRESIDENDE GETÚLIo VARGAS pela Carta de 1937. (76)
tornou·se novamente chefe abso· Tal situação prevaleceu até a
luto do Govêrno e, então, esta· restauração do regime democrá·
beleceu·se um regime altamente tico pela Constituição votada a
centralizado no Brasil. Tôdas as 18 de setembro de 1946, quando
câmaras legislativas foram dis· foi restabelecido o sistema fe·
solvidas novamente. Os gover· derativo.

II. O GOVf:RNO MUNICIPAL DESDE 1946


À medida que o país marcha· havido uma verdadeira revolu·
va novamente para a normali· ção municipalista no Brasil, a
dade constitucional, uma inten· partir de 1946. (77) Outros, en·
sa campanha municipalista era tretanto, são menos enfáticos.
levada a efeito tanto fora como RAF.\EL XAVIER, um dos líderes
dentro da Assembléia Consti· da campanha municipalista, diz,
tuinte. Como conseqÜência des· por exemplo, pensando talvez
sa campanha, foram inscritos em têrmos dos objetivos finais
na nova Constituição tantos dis· do movimento, que "a Constitui·
positivos em favor da autono· ção de 1946, com suas reivindi·
mia política e financeira dos cações municipalistas, mostrou
municipios que muitos dizem ter o caminho de uma evolução in·

(75) VITOR NUNES LEAL, "Leis Municipais", Revista Brasileira dos Municfpio&.
IX, janeiro-março, 1950. p. 68.
(76) VALE:ULll F. Bor;çAs, "Sistema Tributário Municipal", Revista Brasileira
dos Municípios, abril-junho. 1950, p. 447.
(77) YVES ORLANDO TITO DE OLIVEIRA. A Ruvoluç{lo Municipali8ta na 001l8titV(-
ção de 1946 (Salvador: edição particular, 1953), p. 109.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 61

dispensável", mas que, "na rea- to local dos recursos locais, vida
lidade, os dispositivos aprova- própria e não vida reflexa, de-
dos ainda estão muito longe de senvolvimento do espírito de co-
representar uma grande refor- munidade, de modo a fazer, com
ma". (78) É fácil compreender- a terra e o povo de cada Muni-
-se tal reserva, se se pesarem cipio, um organismo autopolíti-
bem os objetivos últimos da cam- co, tanto quanto possível." (80)
panha. Tais objetivos, êle pró- Para se compreender exata·
prfo os teria definido, ao dizer: mente o que tem sido consegui-
"A Campanha Municipalista do através dessa revolução -
deixa de ser, assim, uma coisa ou evolução - municipalista, e
nova, para ser a continuação da o que ainda resta por fazer, é
luta sustentada no último quar- preciso estudar o Município bra·
tel do século passado, pela de- sileiro, analisando suas caracte-
mocracia rural, pelo crédito agrí- rísticas como unidade de govêr-
cola, pela fixação do homem à no local, sua estrutura política
terra mediante a propriedade de e financeira, o conceito de sua
um lote onde promover o bem· autonomia, sua organização e
-estar da família, pela descen- suas funções administrativas,
tralização administrativa, pela suas condições sócio-econômicas
educação popular e profissio· e suas relações com as órbitas
nal." (79) superiores de govêrno.
Referindo-se, em complemen· Eis o que será tentado de for-
to, à maneira como se tem abu· ma sumária nas próximas pá-
sado da expressão autonomia ginas.
municipal, acrescenta RAFAEL O Municipio como unidade de
XAVIER : govêrno local - O município
"Entre nós, municipalistas, o tem sido, por tradição, a única
significado é mais especial. A unidade de govêrno local no Bra-
autonomia municipal que defen· sil. A 31 de dezembro de 1957
demos significa o aproveitamen· havia, no Brasil, duas mil qua·

(78) RAFAEL XAVIER. O ltJ<lnicfpio e a Realidade Nacional (Rio de JaneIro:


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatlstica. 1952). p. 12.
(79) Ibid., p. 15.
(80) Ibid., p. 17.
62 CADER1\OS DE ADMI"'ISTRA(l~O I'CBLlCA

trocentas e sessenta e oito des- grandemente. A maior é de du-


sas unidades_ (81) zentos e oitenta e dois mil e se-
O Município brasileiro com- tenta quilômetros quadrados; e
preende tanto as zonas rurais a menor, de vinte e um quilô-
como as comunidades urbanas metros quadrados. (83)
que se encontram dentro de suas São desconhecidos no Brasil
fronteiras, isto é, ambas consti- os distritos para fins especiais,
tuem uma única unidade gover- como os existentes nos Estados
namental. O municipio pode ser Unidos. Se bem que exista nos
subdividido em distritos, mas a Estados uma divisão territorial
organização distrital brasileira diferente para fins judiciários,
carece presentemente de qual- é todavia com base no munici-
quer importância como fator re- pio que tal divisão é feita.
levante no govêrno local, por A Constituição da República
isso que a administração distri- não menciona explicitamente o
tal não passa de mero prolon- municipio como elemento essen-
gamento da administração mu- cial do sistema federativo, nem
nicipal, já que os distritos "não impõe aos Estados a obrigação
têm sombra de govêrno lo- de se dividirem em municlpios,
cal". (82) o que todos os Estados têm fei-
A comunidade urbana onde to, porém, por tradição de longa
está localizada a sede do govêr- data. Mas, a despeito da omis-
no municipal tem o nome de ci- são constitucional, crê-se, hoje,
dade, enquanto que à sede do que o Municlpio autônomo cons-
distrito se dá geralmente o nome titui uma ordem polltlca e admi-
de vila. Dêste modo, pelo me- nistrativa inerente ao sistema
nos teõricamente, há tantas ci- federal brasileiro, inclusive por-
dades no Brasil quantas são as que a Constituição estabeleceu,
unidades de govêrno local. entre outros pertinentes à ma-
A área dos municipios varia téria, o principiO da intervenção

(81) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatlstlca. Atludrio E,tatÚltico do


Bra8iZ, ano XI. 1958 (Rio d" Janeiro: I.B.G.E., 1958.), p. 441.
(82) GUSTAVO LESSA, .., u18trito _ Organi::a(l(l.o Municipal (Rio de Janeiro,
Fundação GetOllo Vargas. 19ó2), p. 10.
(83) Respecth'amente, os Municlplos de Altamlra, no Pará, e de NII6po1lB, no
Estado do Rio de Janeiro.
A MODERr-.:A ADMH,;!STRA(AO :'-.ll':\:!CIP:\L 63

federal nos Estados, para defesa das para a constituição de novo


da autonomia municipal. (84) municipio. (85)
Estrutura política - Antes de
Desde que o território brasi- se entrar na discussão da estru-
leiro é totalmente dividido em tura política do municipio, con-
municipios, novas unidades mu- vém mencionar alguns dos mais
nicipais sômente podem origi- importantes principias de govêr-
nar-se do desmembramento ou no representativo aplicados in-
da fusão dos já existentes. As distintamente a todos os três ní-
condições para sua criação são veis de govêrno no Brasil_
prescritas nas constituições es- De acôrdo com o principio
taduais e nas leis orgânicas dos da unificação dos direitos po-
municipios. Os requisitos mais micos adotados pela Constitui-
comumente exigidos para a cria- ção, não há distinção entre elei-
ção de uma nova comuna são tores federais, estaduais e mu-
a existência de um mínimo de nicipais_ (86) Qualquer partido
população e de um mínimo de legalmente registrado é livre de
renda na região que aspira à participar de qualquer eleição,
autonomia. Em alguns Estados em qualquer ponto do país. (8'7)
é ainda exigida a existência de Os direitos de cidadania são es-
um número mínimo de casas no tabelecidos pela Constituição Fe-
local destinado à sede do futuro deral, não havendo senão uma
govêrno; ou a existência de edi- cidadania única. (88) Compete ex·
fielos para a instalação do go- clusivamente à União legislar
vêrno municipal e de certos ser- sObre direito eleitoral. (89) Os
viços públicos_ Sômente alguns candidatos a cargos eletivos são
Estados requerem o voto das po- indicados em convenções de seus
pulações diretamente interessa- partidos, não sendo permitido

(8'1) CRlSTL\NOMARTms DA SILVA. Dír€ito P,'bILco Municipal e Adml'nistra.!lo


dOB M1Wicípíos no Estcdo de il-lillas G6'I":.ís (Belo Horlzont~: Edições
Mantiqueira, 1952), p, 49,
(85) FLÁVIO LEME, "Condições Mlnlmas para Criação de Munlc!plo". Revj,'Jta
Brasileira dos Uunlcfpios, julho-setembro, 1950, p. 758.
(86) FRANCISCO Bt:RKINSKI, op. cit., p. 60.
(8'7) Constituiç40 Bra.riZe1ra de 1946, art. 134.
(88) Ibid., Titulo IV. Capo I.
189l Ibid., art. 6.°, XV, a.
...----------------------------- -~--- -~--- -

64 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

candidatos independentes, já que Tal uniformidade das institui-


os partidos políticos são o único ções políticas do pais se reflete
instrumento de representação na estrutura do govêrno local.
popular para aquêles cargos. (90) Dai terem todos os municípios
Além de só haver uma cidada- brasileiros a mesma forma de
nia - a nacional -, não se govêrno, isto é, a forma de pre-
exige dos candidatos a condição feito-e-câmara. Tanto o prefeito
de residentes da unidade gover- como os vereadores são eleitos
namental para cujos cargos vão por sufrágio universal, em elei-
concorrer. O sistema presiden- ções diretas, os vereadores pelo
cial, adotado pela União, (91) e sistema de representação pro-
caracterizado pela separação de porcional dos partidos políticos
poderes com o predomínio do e o prefeito pelo sistema majo-
Poder Executivo sôbre os de- ritário. Somente em alguns mu-
mais, é impôsto aos Estados nicípios é o prefeito nomeado
pela Constituição Federal. (92) em vez de eleito, como se verá
Assim, será inconstitucional até adiante.
mesmo a exigência de que a A Câmara dos Vereadores é
nomeação dos Secretários de o órgão deliberativo do govêr-
Estado seja aprovada pela as- no municipal, não lhe cabendo
sembléia legislativa estadual, outras funções administrativas
conforme decisão do Supremo além das referentes à sua orga-
Tribunal Federal. (93) nização interna. (94)

(90) C6digo Eleitoral Brasileiro, 1950.


(91) Constituição BT<Ulileira d6 1946, art. 36.
(92) Ibid., art. 7.°. VII, b.
(93) PINTO FERREIRA, Princípios Gerais do Direito Constitucional Moderno,
2.' edição (RIo:> de Janeiro: José Konfino, editor, 1951), pp. 792-93.
(94) l!: muito discutida entre os constitucionalistas e os estudiosos do Direito
Municipal a verdadeira natureza dos podertlS municipais. Para uns, se
trata de verdadeiros Poderes: o Legislativo, representado pela Câmara,
e o Executivo. representado pelo prefeito, semelhantes aos seus corres-
pondentes nas órbitas federal e estadual. De acOrdo com êsse ponto de
vista, a.!! leis municipais são leis tanto no sentido material como no
formal. Para outros, porém, os poderes municipais não são prOpriamente
Poderes, por faltar ao Municlpio o atributo de soberania ou da auto-
determinação, mas mera faculdade para o exercicio das funções admi-
nistrativas do Municlpio, devendo a palavra poder ser tomada como sinO-
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUKICIPAL 6S
A chefia do Executivo se As duas funções mais impor-
acha integrada no prefeito, que tantes da Câmara dos Vereado-
tem exclusiva responsabilidade res consistem: - na formula-
pela administração do municí- ção da política do govêrno mu-
pio, como a única autoridade nicipal em relação a tudo que
eletiva do ramo executivo do go- diga respeito aos interêsses pe-
vêrno municipaL De acôrdo com culiares do município; e na fis-
a tradição do sistema presiden- calização e contrôle do ramo
cial brasileiro, o prefeito tem o executivo do govêrno. J!:sse con-
direito de veto e a competência trôle, a Câmara o exerce atra-
para iniciar leis, competência vés dos dois poderes seguintes,
claramente expressa nas leis or- que lhe são geralmente atribui-
gânicas municipais de dez Esta- dos: 1) o de cassação do man-
dos, sendo-lhe ainda reservada, dato do prefeito, quando êste
em algumas unidades da Fe- incorrer em certas faltas enu-
deração, a competência priva- meradas na lei orgânica e 2) o
tiva em certas matérias, espe- de tomar as contas do prefeito,
cialmente as que dizem respeito anualmente_
à elaboração do orçamento e à Por sua vez, como chefe do
criação de cargos em serviços executivo, o prefeito é investido
existentes_ A referência aqui fei- de todos os poderes executivos
ta ao sistema presidencial se e administrativos necessários à
justifica, não porque tal siste- gestão dos negócios municipais_
ma, a rigor, seja cabível em J!:sses poderes incluem: 1) a ela-
se tratando de municípios, nem boração e a execução do orça-
porque lhes tenha sido impôsto, mento; 2) a publicação e a exe-
mas porque os seus princípios cução das leis municipais; 3) a
têm indubitàvelmente inspirado nomeação. exoneração e demis-
a moderna estrutura do govêrno são, nos limites da lei. de todos
municipal no Brasil. os chefes de departamento e de-

nimo de funç,io. As leis municipais não seriam. assim. leis no sentido


formal, mas apenas no material. Ver. sObre o assunto: PONTES DE MI-
RANDA. Comentdrios d Constituição de 1946, 2.- edição. vol. lI. pp. 119-134;
FRANCISCO MACHADO VILLA, op. cit., pp. 35-39; CRISTIANO MARTINS DA SILVA,
OJ). cit., pp. 329-330; VÍTOa NUNES LEAL. op. cit., pp. 68-73.

6 - Catl. MI",. Municipfl! -- 40


66 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO Pt)BLlCA

mais funcionârios municipais; rlor sôbre organização munici-


4) a imposição de multas pela pal. O Rio Grande do Sul mano
violação das leis e contratos do teve, porém, suas tradições de
municipio, e 5) a representação home role, deixando a cada mu-
legal do municipio. (95) nicipio a votação de sua própria
São três as fontes donde pro- lei orgânica.
vém a estrutura politica do go- A Constituição da República
vêrno municipal no Brasil: a devotou um número considerá-
Constituição Federal, as consti· vel de artigos aos municipios.
tuições estaduais e as leis orgâ· No seu artigo 28 foi estabeleci·
nicas municipais votadas pelos da a estrutura fundamental do
Estados, sendo de notar que, no govêrno municipal sob a forma
Estado do Rio Grande do Sul, de uma delimitação à faculda·
cada municipio vota sua própria de dos Estados·membros, de se
lei orgânica. (96) organizarem internamente. Diz
Seguindo as tradições do fe- o artigo 28:
deralismo brasileiro, a Assem- "A autonomia dos Municipios
bléia Constituinte de 1946 colo- será assegurada:
cou sob a égide da Lei Magna
do pais aquêles principios bási- I - Pela eleição do Prefeito
cos considerados pelos consti- e dos vereadores;
tuintes como essenciais à con· Ir - Pela administração pró·
figuração da autonomia muni- pria, no que concerne ao seu pe-
cipal, deixando os pormenores culiar interêsse e, especialmente:
aos Estados. As constituições
estaduais que se seguiram abor· a) à decretação e arrecada·
daram a matéria, à qual dedi- ção dos tributos de sua compe-
caram vârios artigos. Além dis· tência e à aplicação das suas
SO, cada Estado, exceto o Rio rendas;
Grande do Sul, votou uma lei
orgânica para os seus munici- b) à organização dos servi·
pios ou revigorou sua lei ante- ços públicos locais.

(95) A enumeração das atribuições conferidas ao prefeito e à CAmara ê fun-


damentalmente semelhante em tOdas as leis orgAnica.s municipais pro-
mulgadas pelol diferentes Estados.
(\16) O Diatrito Federal tem lua lei or&,Anlca votada pelo Coll&'l"e.IeO Federal.
A ?fODER0::\ ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 67
§ 1.. Poderão ser nomeados ses da segurança do pais ou os
pelos governadores dos Estados interêsses financeiros dos Esta-
ou dos Territórios os prefeitos dos ou da União naqueles mu-
das capitais, bem como os dos nicipios. Tais restrições ao fun-
Municipios onde houver estân- cionamento do processo demo-
cias hidrominerais naturais, crático em geral e do principie
quando beneficiadas pelo Esta- da autonomia municipal em par-
do ou pela União_ ticular têm sido, na prâtica, de
reduzidas proporções, por isso
§ 2_· Serão nomeados pelos que muitos Estados não fizeram
governadores dos Estados ou uso da permissão constitucional
dos Territórios os prefeitos dos para nomear prefeitos. Outros,
Municipios que a lei federal, que se valeram daquela facul-
mediante parecer do Conselho dade emendaram mais tarde
de Segurança Nacional, declarar suas constituições, desistindo de
bases ou portos militares de ex- exercê-Ia. Ademais, o próprio
cepcional importância para a Congresso Federal tem votado
defesa externa do pais_" (97) sucessivas leis excluindo da lista
Outros dispositivos constitu- de bases ou portos de excepcio-
cionais completam a regra dêsse nal importância militar quase
artigo, especialmente aquêles todos os dezoito municipios ante-
que discriminam os tributos da riormente classificados como tais
competência do municipio ou pela lei federal, e restituindo-
que estabelecem a participação -lhes, assim, o direito de eleger
do municipio em impostos fe- os seus prefeitos. (98)
derais e estaduais. Os dispositivos das constitui-
Os dois parâgrafos que com- ções estaduais relativos à orga·
põem o artigo 28 foram inspira- nização municipal consistem na
dos no receio de que a eleição repetição das regras estabeleci-
popular do prefeito pudesse pôr das na Constituição Federal e
em perigo os superiores interês- na adição de alguns outros prln-
(97) ConstituiC/Jo Brasileira de 1496, art. 28_
(98) LxvI CARNEII!O. Oroanl.eação do8 Mlmicfpi04 e do Distrito Federal (Rio
de Janeiro: Editorial Sul-Americana, S.A., 1953), pp. 254-255, 293. Acre-
dita o autor que, ao tempo dêste estudo, não haja no Brasil mais de
vinte e cinco munlclplos com prefeitos de nomeação, sendo quase a metade
dêles constltulda de estAnclu bldromlnerals do listado de SIo Paulo.
68 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO POBLICA

cipios sObre os quais se deve a remuneração devida aos edis;


fundamentar aquela organiza- (99) os vencimentos dos prefei-
ção. Dentre êles, os mais impor- tos; as principais normas a se-
tantes dizem respeito às seguin- rem observadas para o funcio-
tes questões: competência da namento da câmara e a vota-
câmara e do prefeito; números ção das leis; casos de perda do
minimo e máximo de vereadores mandato de prefeito e vereador;
em cada Câmara; processo de princípios gerais de administra-
intervenção do Estado no muni- ção orçamentária; pré-requisitos
cípio; inelegibilidades e impedi- da validade dos atos adminis-
mentos do prefeito e dos verea- trativos, condições para criação
dores; duração dos mandatos, a de municípios e distritos, e proi-
qual é de quatro anos em de- bições de diversas naturezas vi-
zesseis Estados, sendo de cinco sando à moralização da admi-
anos o mandato do prefeito nos nistração local. Apesar de vota-
Estados de Alagoas, Rio Gran- dos pelos órgãos legislativos de
de do Norte, Sta. Catarina e vinte Estados diferentes, aquê-
Maranhão e, finalmente, o modo les dispositivos constitucionais e
de contrôle da administração fi- essas leis orgânicas são extra-
nanceira dos municípios. ordinàriamente semelhantes en-
tre si, explicando-se, assim, a
As leis orgânicas municipais, extrema uniformidade que se
por sua vez, reproduzem as nor- observa nas instituições de go-
mas dos textos constitucionais vêrno local no Brasil. Mesmo no
acima, acrescentando-lhes por- Estado do Rio Grande do Sul,
menores que abrangem pràtica- onde, como já foi dito, cada
mente todos os aspectos impor- município vota sua própria lei
tantes da organização municipal, de organização municipal, não
tais como: o número de verea- se têm verificado inovações de
dores para cada município, de maior vulto que afastem a estru-
acôrdo com a sua população; tura dos governos municipais

(99) A tradição brasileira tem sido a de considerar o exerclclo do m'lndato


de vereador como prestação de serviços públicos relevantes. sem outra
remuneração que uma pequena ajuda de custo. Todavia. parece haver
presentemente uma tendência. em vários Estados. para o pagamento de
subsidios aoe membros das câmaras mWlicipai•.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 69
gaúchos do modêlo tradicional reito do municIpio à "adminis-
adotado pelo resto do pais. tração própria, no que concerne
Conceituação da autono-mia ao seu peculiar interêsse", (101)
municipal - Matéria sujeita a se bem que tanto a própria Cons-
velhas controvérsias, o conceito tituição Federal como várias
de autonomia municipal nunca constituições estaduais estabele-
foi satisfatõriamente definido na ceram limitações expressas a
literatura jurídica brasileira. Os êsse princípio, como se verá
textos das diferentes constitui· adiante.
ções federais, por sua vez, se Apesar de tudo, a Constitui-
têm caracterizado por certa im- ção delimitou uma área de com-
precisão, quando, ao enumerar petência expressa e exclusiva do
os elementos dessa autonomia, município, que barra tanto a
recorrem a cláusulas mais ou competência da lei federal ordi-
menos vagas e gerais, tais como nária como a da constituição e
"peculiar interêsse do municí- da lei ordinária dos Estados_
pio" e "organização dos servi- Parece, portanto, como já foi
ços públicos locais." (100) Dessa dito, (102) que, em face dessa
impreclsao têm-se aproveitado delimitação de competência, o
constantemente os Estados para sistema federal brasileiro assu-
restringir a autonomia munici- miu caracteristicas peculiares
pal. Assim tem sido no passado que o colocam em posição única
e assim continua sendo sob o entre os demais regimes fe-
regime da Constituição de 1946, derativos. Segundo êsse ponto
na qual reaparecem aquelas de vista, o Brasil seria o único
mesmas cláusulas. pais em que foi feita uma divi-
A enumeração constitucional são tripartida de competênci",
dos tributos que podem ser arre- nacional entre a União, os Es-
cadados e gastos pelo govêrno tados e os 11.1unicÍpios. Nef:sas
municipal constituiu, todavia, condições, teria sido alter",da a
um passo importante para a natureza unitária dos Estados-
conceituação da autonomia mu- -membros, que passaram a ser,
nicipal no que se refere ao di- de certo modo, Estados federa-

(100) Supra, pp. 13-14.


(101) Supra, p. 22.
(102) VITOR NUNES LEAL op. cit., pp. 67-73.
70 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

dos constituídos de municipios levadas em conta para que se


sôbre os quais o seu poder e a compreenda o funcionamento do
sua competência são decidida- govêrno local no Brasil. Elas
mente limitados pela Constitui- explicam, também, porque uma
ção Federal. (103) A teoria é su- das maiores autoridades do di-
jeita a profundas controvérsias_ reito municipal brasileiro afir-
Sua aceitação implicaria, em úl- mou que em nenhum outro pais
tima análise, a rejeição do velho é tão ampla a autonomia muni-
princípio segundo o qual, estri- cipal. (105)
tamente falando, a autonomia A Constituição de 1946 não se
municipal é de natureza pura- limitou a declarar e a caracte-
mente administrativa, ao con- rizar o princípio da autonomia
trário da autonomia do Estado- municipal. Foi muito mais longe,
-membro no regime federal, que pois não só permitiu a interven-
se reveste de substância polí- ção federal nos Estados para
tica e constitucional, no sentido proteger o princípio (106) como
estrito dêste último têrmo. É também limitou a intervenção
precisamente esta autonomia do Estado no Município ao caso
constitucional que distingue o em que seja necessária a regu-
Estado-membro de uma federa- larização das finanças munici-
ção, das coletividades territo- pais em face da impontualida-
riais inferiores como o municí- de do município no pagamento
pio, por isso que essa autono- de sua dívida fundada ou de em-
mia constitucional confere ao préstimo garantido pelo Esta-
Estado-membro o poder de auto- do. (107)
organização e de participação Deixando de lado possíveis ar-
na formação da vontade fe- gumentações de caráter doutri-
deral. (104) nário, FRANCISCO BROCHADO DA
Seja como fôr, essas tendên- ROCHA conseguiu formular o que
cias do federalismo brasileiro se pode considerar uma das de-
merecem atenção e devem ser finições mais objetivas da auto-

(103) Ibid., pp. 67-73.


(104) PINTO FE~RETRA. 01>. cit., pp. 74h-750.
(105) ODILON DE ANDRADE, citado por LEVI CARNEIRO. op. cit., p. 158.
(106) C01l8tituição B1'aslleira de 19~6, art. 7.·, VII.
(107) Ibid., art. 23.
A MODERNA ADMINISTRACA.O MUNICIPAL 71

nomla municipal, fundamentan· mais ampla. se acha, porém, res-


do·a apenas no direito positivo tringido tanto pela própria Cons·
escrito brasileiro. Ei·la: tituição Federal como pelas cons·
tituições estaduais, tendo estas
"Como é o Estado que orga· chegado mesmo a violar o espí·
niza os municípios, cabe·lhe, res· rito e a letra da Carta Magna
peitada a regra do artigo 28 da da República no que se refere
Constituição da República, defi· à faculdade de autodetermina·
nir a esfera da competência mu· ção dos municípios. Um estudo
nicipal, especificando as respec· da questão feito por VITOR Nu·
tivas atribuições e, pois, o que NES LEAL (109) chega às seguin·
se entende por serviço público tes conclusões, que vão aqui re·
local e peculiar interêsse." sumidas:
"Por isso, podemos dizer que
a autonomia do municIpio bra· 1. Restrições impostas pela
sileiro consiste na capacidade Constituição Federal:
para eleger o prefeito e os ve-
readores, bem como na adminis· a) a Constituição da Repú·
tração própria, no que concer· blica estendeu aos municIpios os
ne à decretação e arrecadação mesmos dispositivos proibitivos,
dos tributos de sua competência, inclusive os referentes às isen·
à aplicação de suas rendas, à ções tributárias, que foram imo
o:-ganização dos serviços que a postos à União e aos Estados;
Constituição do Estado, ou a b) estabeleceu, ainda, a Cons·
Lei Orgânica por êste promul· tituição, diversas limitações ao
gada considera de natureza lo· emprêgo das rendas municipais,
cal, como a tudo que a citada sob a forma de destinação espe-
Constituição, ou Lei Orgânica, cífica de parte dessas rendas, a
defina como do seu peculiar in· saber: aplicação obrigatória pelo
terêsse." (108) municipio de cinqüenta por cen·
l!:ste conceito de autonomia to da cota do impôsto de ren·
municipal, na sua compreensão da que lhe é atribuída pela mes·

(lOS) FRANCISCO BROCHADO DA RocHA. "Incorporação, Subdivisão e Desmem-


bramento do Municlpio", RC'l:ista Brasileira doa Munkipios, janeiro·
março, 1950. p. 104.
(109) VITOR NUNES LEAL, "Restrições à Autonomia Municipal", BeNta BraM-
Zeira dos Municípios, abril·junho. 1951, pp. 123·47.
72 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ma Constituição em benefícios versas limitações à autonomia


de ordem rural; regulamentação, municipal. Todavia, o contrôle
pela lei federal, do emprêgo da da execução orçamentária foi,
cota do impôsto único sôbre como regra quase geral, deixa-
combustíveis e lubrificantes que do às próprias câmaras muni-
a Constituição manda entregar cipais, ora com exclusividade,
aos municípios; obrigação de os ora com a colaboração do órgão
municípios da região amazônica técnico estadual de assistência
reservarem anualmente três por aos municípios, ora com a pos-
cento de suas rendas tributárias sibilidade de ser interposto re-
para aplicação, pelo govêrno fe- curso dos atos e decísões da Câ-
deral, na execução do plano de mara Municipal à Assembléia
valorização da Amazônia e, fj, Legislativa ou ao Tribunal de
nalmente, a determinação de que Contas do Estado_ Sômente no
os municípios apliquem, anual- Estado do Pará é que foí con-
mente, pelo menos vinte por cen- ferida ao Tribunal de Contas
to da renda resultante de im- a atribuição de julgar as con-
postos na manutenção e desen- tas dos prefeitos;
volvimento do ensino;
b) para que se mantenham
c) a Constituição permitiu a
intervenção dos Estados nos dentro do espírito da Constitui-
mumClplOS para regularização ção Federal, os Estados devem
das finanças municipais e reser- limitar a fiscalização das finan-
vou aos Estados o direito de ças municipais tão-sômente ao
fiscalizar a administração finan- exame da legalidade dos atos
ceira de suas comunas, especial- financeiros dos municípios, não
mente no que se refere à exe- lhes cabendo, porém, exercer o
cução do orçamento_ contrôle da conveniência ou da
oportunidade dêsses atos. Fa-
2_ Restrições impostas pelas zendo uso daquela atribuição, di-
constituições estaduais: versos Estados resolveram inse-
rir em suas constituições certos
a) no exercicio da faculdade, pré-requisitos para a legalidade
que lhes foi conferida, de fisca- das operações financeiras das
lizar a administração financeira municipalidades, tais como a
dos municípios, incluíram os Es- obrigatoriedade de concorrência
tados em suas constituições di- pública {lara serviços, forneci-
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 73

mentos, obras, concessões e alie- nistração municipal, entre ou-


nação de bens municipais, e de tras, questões como tributação
publicação dos balancetes, con· gravosa ou excessiva, emprésti·
tratos e outros atos financeiros. mos internos, desapropriação,
Outros estabeleceram restrições concessão de privilégios e isen·
à concessão de isenções e favo· ções, venda, hipoteca, permuta,
res fiscais pelos municípios; e aforamento e arrendamento de
outros, ainda, procuraram limi· bens pertencentes ao Município;
tar as despesas com pessoal pro·
b) em alguns Estados os mu-
porcionalmente à receita do mu·
nicípio. nicípios foram proibidos de au·
mentar os impostos em mais de
3. Violação da autonomia mu- vinte por cento do seu valor. Em
nicipal pelas constituições outros casos, foram decretadas
estaduais: outras isenções tributãrias além
das previstas na ConstitUição
Tôdas as constituições esta· Federal e, ainda em outros ca·
duais violaram, de algum modo, sos, :\s rendas municipaiS foram
o principio da autonomia muni· limitadas pelos Estados através
cipal. Umas o fizeram mediante da redução de impostos, da con·
o contrôle, pelo Estado, da con· cessão de anistia fiscal e do per·
veniência e oportunidade das dão de dívidas, da limitação só-
operações financeiras do Muni· bre o valor das multas e do esta·
cípio, outras através do contrôle belecimento de limites e proibi·
da legalidade de atos e leis mu· ções à participação dos fiscais
nicipais de carãter não finan· e denunciantes no produto des·
ceiro. Eis alguns exemplos: tas. O Supremo Tribunal Fe-
a) às assembléias legislati· deral, entretanto, jã fulminou
vas de vãrios Estados foi atri· como inconstitucionais dispositi·
buído pelas respectivas consti· vos da Constituição paulista que,
tuições estaduais o poder de de· estabelecendo isenções fiscais e
cidirem sôbre a conveniência de concedendo o perdão de dívidas,
atos financeiros do Município, limitavam a receita municipal,
anulando ou submetendo tais proclamando o Supremo Tribu·
atos à sua prévia aprovação. nal que essa receita não é sus·
Foram objeto dessa interferên· cetível de redução por ato do
cia indébita do Estado na admi· Estado;
I

74 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO POBLICA

c) finalmente, algumas cons- maioria dos administradores mu-


tituições estaduais deram desti- nicipais não possui competência
nação especifica a percentagens técnica e maturidade pol1tica su-
das rendas municipais, especial- ficientes para gerir os dinheiros
mente para aplicação dessas per- municipais sem o freio dos con-
centagens em serviços rurais, de trôles mencionados acima. (110)
educação, de assistência social, Estrutura financeira - A mais
de saúde, de saneamento, de importante reforma introduzida
construção e manutenção de es- pela Constituição de 1946 no re-
tradas e de obras públicas. E gime municipal brasileiro foi
ainda tornaram obrigatória a sem dúvida a reestruturação
prestação de certos serviços pe- das finanças municipais. Seguin·
los municipios, como habitação do o exemplo de seus antecesso-
popular, bôlsas de estudo e bi- res de 1934, os constituintes de
bliotecas, sem contudo lhes for- 1946 discriminaram as rendas
necer recursos especiais para públicas pelas três órbitas de
isso. govêrno, mas o fizeram aqui-
Parece haver duas razões prin- nhoando os municipios de ma-
cipais para essas restrições à au- neira tão generosa, em compa·
tonomia municipal e para essas ração com a situação de penú-
violações da Constituição Fe- fia clássica dos municipios do
deral. Uma delas é a fôrça da interior, que a nova discrimina·
tradição - de uma longa tra- ção de rendas reflete, melhor
dição de centralização dos negó- que tudo mais, o espírito muni·
cios municipais nas mãos do go- cipali~ta da Constituição de 1946.
vêrno dos Estados e da União. Cinco espécies de impostos fo-
A outra decorre de uma crença ram reservados exclusivamente
sincera e generalizada de que a aos municípios: 1) o predial e

(110) Pode-se afi~mar. sem receio de errar. que a idéia de concessão de au-
tonomia ampla aos municlpios tem mais opositores que defensores no
Brasil. Os debates constantes dos Anais da AS8embléia Nacional COflB-
titllinte revelam o grande liúmero daqueles que lutaram com veemência
contra várias concessões feitas à faculdade de auto-determinação dos
muniCípios, Inclusive contra a eletivldade do prefeito. A razão mais fre-
qüentemente Invocada pelos opositores da autonomia ampla é a Incapaci-
dade da maioria dos governos municipais de dirigir o munlclpio com
um mlnimo dp. competência e de moralidade polltica.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 75

o territorial urbano; 2) o de 11· dados pela União e pelos Esta-


cença; 3) o de indústrias e pro· dos. A riqueza brasileira vinha
fissões; 4) o impôsto sôbre dJ- sendo tradicionalmente drenada
versões públicas, e 5) o impôstc do interior para os grandes cen·
sôbre os atos de sua economia tros urbanos, para o Rio de Ja·
ou assuntos de sua competên- neiro e São Paulo em particular.
cia. (lU) AuoMAR BALEEIRO, um dos líde·
Foi ainda permitido aos go- res da campanha municipalista
vernos municipais lançar contri· na Constituinte, disse - o que
buição de melhoria, cobrar taxas equivale a uma interpretação
e arrecadar quaisquer outras autêntica da Constituição - que
rendas resultantes do exercícic era urna questão de solidarieda·
de suas atribuições e da utili· de nacional fôsse distribuída a
zação dos bens e dos serviços receita pública de maneira mais
do Município. (112) eqüitativa e fôssem protegidos,
Essas fontes de renda não pa· assim, os municípios do interior,
receram, porém, aos constituin· isto é, todos aquêles que não
tes, suficientes para fortalecer são capitais de Estados. (113)
a economia municipal e prepa· Foram cuidadosamente consi-
rar os municípios para atare· deradas as dificuldades que re-
fa que lhes estava sendo reser- sultariam da criação de novos
vada no novo regime. Para se impostos municipais e da trans·
tornarem membros eficientes da ferência, para o Município, de
comunidade brasileira e para po· certos tributos já existentes,
derem participar eficazmente considerações essas feitas não
das responsabilidades da vida só à luz do critério da conve·
nacional, era mister que aos mu· niência e da produtividade, (114)
nicípios, principalmente aos do como em face da oposição cer·
interior, coubesse parte dos di· rada de certos setores da Assem·
nheiros que ainda eram arreca- bléia Contituinte. (115)

(111) Constit:tiçto Erasileira de 19~6, art. 29.


(112) Ibid., art. 30.
(113) ALIOMAR BALEEIRO, Municipalismo em Térmos Financeiro8 (Série Finanças
em Debate, vol. 4, Affonso Almiro, editor; Rio de Janeiro: Edições
Financeiras, S. A. lS51). pp. 26-23.
(U4) VALliNTIM F. BOÇAS. op. cit., pp. 448-49.
(115) ALIOMAR BALEEIRO, op. cit., p. 23.
76 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PtJBLICA

A melhor solução encontrada em município que não seja o da


consistiu na participação, pelos capital, o total das rendas mu-
municipios, de certos impostos nicipais de qualquer natureza, o
cobrados pela União e pelos Es- Estado entregar-lhe-á anualmen-
tados, tendo a Constituição de- te trinta por cento do excesso
cretado que: arrecadado; (118)
d) dos novos tributos que ve-
a) dez por cento do total que
nham a ser criados pela União
a União arrecadar do impôsto e pelos Estados, quarenta por
sôbre a renda serão entregues cento deverão ser entregues aos
aos municIpios, exceto os das ca- municípios onde se tiver reali-
pitais, devendo a distribuição zado a cobrança_ (119)
dessa cota ser feita em partes
iguais; (116) As cláusulas constitucionais,
excluindo os municípios da ca-
b) do impôsto único federal pital, se justificam em face da
sôbre a produção, o comércio, a situação financeira privilegiada
distribuição, o consumo e a im- dêsses municípios em relação aos
portação de lubrificantes e com- do interior_ De fato, apesar de
bustiveis líquidos ou gasosos e, seu número ser apenas de vinte
ainda, no que fôr aplicável, de e um, suas rendas foram, em
minerais do pais e da energia 1950, e incluindo as do Distrito
elétrica, doze por cento deverão Federal, duas vêzes a soma das
ser entregues aos municípios. em dos outros 1.873 municipios_ Só
cotas proporcionais à sua área o Distrito Federal arrecadou
e população, ao seu consumo e mais do que todos os 1.873 mu-
produção dêrses bens; (117) nicípios do interior; e as vinte
c) quando a arrecadação es- capitais de Estado, mais da me-
tadual de impostos, exceto a do tade do que arrecadaram todos
impôsto de exportação, exceder, aquêles municipios_ (120)

(116) C<Yf1stituição Brasileira de 1946, art. 15. VI. 4.


(117) Ibid., art. 15. ~ 2.°. A cota exata de doze por cento foi estabelecida
mais tarnp Dela Lei federa! n.O 1.272-A, de 12 de dezembro de 1950_
(118) C<Yf1stituição Brasileira de 1946, art. 20.
(119) Ibid., art. 21.
(120) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatfstlca, Anum-w Estat!8tfco do
Brasil, Ano XII, 1951 (Rio de Janeiro, I.B.G.E., 1952), pp. 491-512.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO ML'NICIPAL 77

Mas, comparando-se a receio que é igual para todos os mu-


ta atual dos municípios com a nicípios, foi de cêrca de ..... .
da União e a dos Estados, tem- Cr$ 256.558,00, mas, segundo de-
·se novamente um grande dese- claração feita à imprensa (122)
quilíbrio em desfavor dos pri- pelo Diretor do Impôsto sôbre
meiros, situação crônica que a a Renda, a mesma seria de cêr·
Constituição de 1946 não alte- ca de seiscentos mil cruzeiros
rou profundamente, apesar de em 1953. (123)
tudo, e que continua a fornecer O significado dessas importân·
o mais forte argumento dos mu- cias aparentemente pequenas,
nicipalistas para uma nova dis- para os orçamentos municipais,
criminação de rendas em favor deve ser compreendido em têr·
dos municípios. mos da completa incapacidade
Ao tempo do presente estudo, financeira que caracterizava o
a principal fonte de receita mu· município brasileiro típico, antes
nicipal era o impôsto de indús· da reforma de 1946. No velho
trias e profissões. O impôsto e populoso Estado da Bahia, por
predial e territorial urbano vi· exemplo, oitenta e três das suas
nha em segundo lugar, as taxas cento e cinqüenta e uma comu·
em terceiro, e o impôsto de li· nas tinham, em 1939, uma ren-
cença em quarto lugar. (121) En· da total de menos de cem con-
tretanto, para o município bra· tos cada uma e muitas dentre
sileiro típico, a cota do impôsto el3.s tinham um orçamento anual
sôbre a renda representa a sua de menos de quinze contos. (124)
maior fonte de receita, deixan· Não foi sem razão que alguém
do longe qualquer das outras apelidou a cota do impôsto sô-
acima. Em 1950 aquela cota, bre a renda de salário mínimo

(121) Ibid., pp. 491-512.


(122) Despacho da Agência Meridional. O Estado do Paraná (Curitiba), 25
de agõsto de 1953.
(123) As estimativas do Diretor do Impõsto sôbre a Renda foram otimistas:
a cota paga aos Municípios em 1954. referente ao exercício de 1953.
foi de Cr$ 178.338.90. Talvez o otimismo daquela autoridade tenha sido
devido ao fato de não haver êle previsto o aumento do m1mero de Mu-
nIcípios e a conseqüente diminui~ão do valor da cota.
(124) "Bibliografia", Revista Braaileira d08 Município8, janeiro-junho, 1948,
p. 139.
78 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

dos municípios. (125) Todavia, pelos municípios são os mais


muitos dos problemas financei- rudimentares, mesmo em as·
ros municipais continuam inso- suntos tecnicamente complexos,
lúveis. Alguns dêsses problemas como lançamento de impostos
têm suas causas em difíceis con- e contabilidade, para não falar
dições econômicas de natureza de outras fases do processo fi-
geral, cujo contrôle está fora nanceiro, como análise da re-
do âmbito de ação dos gover- ceita e da despesa, arrecadação
nos locais. O subdesenvolvimen- de impostos, contrôle da exe-
to econômÍco e a generalizada cução orçamentária e planeja-
pobreza do país tornam impro- mento econômico-financeiro. O
dutivos os tributos municipais: processo orçamentário é grande-
dai o sistema de participação mente afetado pela falta de boas
dos municípios nas rendas fe- técnicas nesses setores, apesar
derais e estaduais, acima expli· da existência das normas gerais
cado. Outras dificuldades resul- uniformes para elaboração dos
tam da falta de uma politica orçamentos municipais, estabele-
fiscal de âmbito nacional, assun· cidas pelo Decreto-Lei n." 2.416,
to da competência do govêrno de 17 de junho de 1940, e ainda
federal. Desejam os municipalis- em vigor em todo o pais.
tas a elaboração de um Código Finalmente, em matéria de
Tributário Nacional que venha empréstimos públicos, os muni-
a tornar o sistema tributário do cípios estão sujeitos a grandes
pais mais racional e bem assim limitações provenientes de fatô-
atender às reivindicações mu- res adversos, tais como a escas-
nicipalistas. (126) Não são menos sez de capitais, o surto inflacio-
sérios os problemas que decor- nário crescente da economia na·
rem da própria organização e cional, a falta de um programa
administração financeiras dos nacional de crédito sob a orien-
municípios, especialmente no que tação do govêrno federal e 1\
concerne à car~ncia de conhe- inabilidade das administrações
cimentos e de serviços técnicos. locais para traçar uma poUtica
Em geral, os métodos usados de empréstimos capaz de atrair

(125) VAL&NTIK F. BoUCAII. 011. ~t., p. 461-


(126) Carta de Declaraç40 de Princfpios, D1reitos e ReivlndicaçlJ68 Municipais,
art. 14.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MlJ0iICIPAL 79
o interêsse dos cidadãos em ge- estaduais, tocando ao Município
ral e daqueles poucos grupos ou uma parte relativamente peque-
pessoas que dispõem de capital na nesses setores. Por isso que
para investimentos dessa natu- os governos locais raramente
reza_ (127) estão em condições de manter
Funções e organização admi- escolas de nível médio e supe-
nistrativa - A natureza das rior, de fazer funcionar hospi-
funções exercidas pelo govêrno tais e clinicas avançadas, a
municipal no Brasil é bàsica- União e os Estados chamam a
mente semelhante à das fun- si os serviços pÚblicos dessa na-
ções do govêrno local na maio- tureza_ Ou, para usar a lingua-
ria dos outros países_ Convém, gem dos municipalistas, aos mu-
todavia, ter-se em mente que o nicípios são deliberadamente ne-
Município brasileiro compreen- gados os recursos necessãrios à
de tanto as comunidades urba- operação dêsses serviços_
nas como a zona rural situadas Só uma pequena parte dos
nas suas fronteiras, de modo orçamentos municipais é gasta
que certos serviços municipais sob a rubrica de segurança pú-
devem necessàriamente ser de blica, pois os serviços de poli·
carãter rural. Nesta categoria cia, de trânsito e de bombeiros
recaem especialmente os servi- são quase totalmente executa-
ços de fomento agropastoril e dos pelos Estados_ Algumas ca-
os de abertura e conservação de pitais e certas cidades do inte-
estradas e caminhos vicinais_ rior mantêm corpos municipais
As outras funções do govêrno de guardas-civis e guardas-no-
municipal incluem: obras pú- turnos, sendo êste último servi-
blicas, educação e cultura, saú- ço muitas vêzes executado por
de pública, assistência social e organizações particulares nas
a operação de serviços indus- pequenas comunidades do in-
triais e de utilidade pública. terior_
A educação e saúde pública Os chamados serviços indus-
são também funçOes federais e triais compreendem os merca-

(l27) Para uma boa discuss1io dos problemas financeiros que afligem os Mu-
nlc!plos brasileiros, veja-se MunicipaUsmo em Têrm08 Financeiro .. (Série
F1nancas em Debate, voI. 4, Alfonso Almlro, editor; Rio de .Janeiro:
Edições lI'Inancelras, S. Ao, 1961), 75 pp. . .....
,---

so CADERNOS DE ADMI~ISTRAÇÃO PÚBLICA

dos, os matadouros, os serviços particulares - tem desempenha-


de água, esgotos e fôrça e luz. do na campanha municipalista.
É difícil generalizar·se sôbre a A ausência de uma verdadeira
amplitude e a eficiência com organiz2ção distrital tem resul-
que o município brasileiro exer· tado numa concentração pauia-
ce as suas funções, a menos, tina dos recursos financeiros e
talvez, que se queira repetir a dos serviços públicos na sede do
opinião conente de que os ser- govêrno municipal. Estabeleceu-
viços municipais são geralmen- -se fàcilmente, por tal motivo,
te insatisfatórios, príncipalmen- o predomínio absoluto da cida-
1e na parte que toca às popula- de sôbre o resto do município,
ções rurais. São chocantes os tanto assim que o tamanho do
extremos que se verificam quan- govêrno municipal, a natureza
to ao grau em que os recursos e a amplitude de suas funções
naturais e humanos têm sido dependem mais da população e
aproveitados no Brasil. Já foi dos recursos econômicos da ci-
apontado acima (128) o contras- dade onde está a sede do go-
te entre os recursos financeiros vêrno, do que da área, da po-
dos grandes centros urbanos, pulação e dos recursos totais do
representados pelas capitaís e município. É ponto pacífico en·
pelo Distrito Federal de um lado, tre os estudiosos da vida muni·
e os do município típico do in· cipal brasileira que os gover-
terior, de outro lado. Os extre- nos locais têm existido, no Bra-
mos desfavoráveis dêsse contras- sil, para servir os habitantes
te, melhor do que quaisquer ou- das cidades. Num pais cuja po-
tros fatos, determinam a redu- pulação e cuja economia são
zida amplitude das atividades essencialmente rurais, êsse fato
realmente exercidas pelos go- constitui uma das principais cau-
vernos municipais e estabE'lecem sas dos graves problemas so-
o ritmo de tôda a vida munici- ciais e econômicos que de longa
paI: dai o papel importantissi- data afligem a Nação. (129)
mo que o aumento das rendas O recenseamento geral de 1950
locais - tanto públicas como revelou que o município tipico

(128) Supra, p. 33.


(129) Um dos s/ogans preferidos dos municipalistas é que "é preciso sal.ar o
Munlclpio para salvar o Brasil."
r--------------------------~--- ---~~

A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MI-'NICIPAL 81

brasileiro tinha então uma po· ção geral, educação, encargos di-
pulação que variava entre vinte versos, dívida pública, serviços
e cinco mil e cinqüenta mil ha· industriais (matadouros, merca-
bitantes, enquanto que a cidade dos, etc.), administração e exa-
tipica (compreendida como cida- ção financeira, saúde pública,
de tôda sede municipal) tinha segurança pÚblica e assistência
uma população de menos de cin- social, e fomento agrícola e in-
co mil almas. (130) l!:sses núme- dustrial. (132)
ros revelam de modo in sofismá- A organização administrativa,
vel a natureza rural da popu- através da qual são exercidas as
lação do pais. funções municipais, reflete a tra-
A falta de dados estatisticos dição de unidade do executivo
adequados (131) não permite uma nas instituições governamentais
análise das despesas dos muni- brasileiras. Sua estrutura segue
cipios com suas funções e ser· o figurino nacional impôsto pelo
viços segundo a população mu- sistema de câmara-e-prefeito, se-
nicipal. Todavia, considerados gundo o qual os diferentes de-
em conjunto, com exceção do partamentos da prefeitura, to-
Distrito Federal, sabe·se, pelo dos sob chefia individual, res-
censo de 1950, que os dinheiros pondem diretamente perante o
municipais foram gastos para prefeito, em quem se integra,
os seguintes fins, na ordem de- assim, tôda a administração mu-
crescente das despesas realiza- nicipal. O tamanho da máquina
das: obras públicas e serviços administrativa varia, natural-
de utilidade pública, administra- mente, de acôrdo com os recur-

(130) Instituto Brasileiro de Geografi:l e Estatistica, op. cit., pp. 42-49.


(131) Ao tempo do presente estudo, somente a slntese da estatística geral
da Repúblic'l. referente ao recenseamento geral de 1950. havia sido
publicada.
(132) Instituto Brasileiro de Geografia e Esbtística, op. cit., pp. 529-530.
Convém notm' que o Allltário Estatístico Brasileiro segue a classificação
da despesa pública estabelecida pelo Decreto-Lei federal n. o 2.416, de
17-7-1940. segundo a qual os serviços de utilidade pública consistem,
principalmente, nos seniços geralmente atribui dos aos departamentos
municipais de obras e viação. tais como construção e conservação <te
rodovias, logradouros e prédios públicos, limpeza pública, etc., nada
tendo a ver com o~ serviços de utilidade pública propriamente ditos,
tais como f,)rça e luz, telefones e transporte coletl\·o.

7 - Cad. Adm. Municipal - 46


82 CADERNOS DE ADMIl'\ISTRAÇAO PÚBLICA

sos e a importância da unidade Se as rendas municipais o per·


governamental. O que revela, mitirem e se fôr possível en·
porém, quão inadequada é a contrar alguém, nas redondezas,
administração do município bra· com conhecimentos de contabi·
sileiro típico para exercer as lidade, o município terá também
funções dêste como única unida· um contador, além do secretá·
de de govêrno local do país, é rio. Caso contrário, cabe a êste
o fato de que essa administra· escriturar as contas municipais.
ção é tão primária e seu pessoal Um tesoureiro·lançador será
tão escasso, que pràticamente então o terceiro funcionário em
não se nota nela vestígio de di· importância, encerrando· se aqui
versificação departamental ou o quadro do pessoal administra·
de serviços. ~ste ponto será tivo propriamente dito, não seno
mais bem ilustrado pela descri· do raras as situações em que êsse
ção do pessoal de uma prefei· pessoal se resume apenas ao se·
tura típica do interior. (133). cretário que exerce, então, as
O secretário municipal deve, funções de secretário, de conta·
talvez, ser mencionado em pri· dor, de tesoureiro e de lançador
meiro lugar, dada a sua posi· de impostos.
ção de funcíonário mais impor· O resto do pessoal consiste
tante. Suas funções são geral· dos seguintes funcionários e dia·
mente as de um secretário exe· ristas: 1) professôres municio
cutivo, portanto, de principal pais; 2) porteiro, acumulando
assistente do prefeito, a quem êste, às vêzes, as funções de aI·
ajuda a coordenar as atividades moxarife; 3) fiscais municipais,
municipais e a quem alivia de aos quais está afeta uma varie·
grande parte das tarefas admi· dade de atribuições, desde a fis·
nistrativas rotineira~. Nas pre· calização dos Códigos Tributá·
feituras menores, o secretário rio e de Posturas até a inspeção
acumula as funções de conta· das obras públicas, principal·
dor, e cabe·lhe, ainda, a tarefa mente dos serviços de conserva·
de elaborar a proposta orçamen· ção de estradas e caminhos;
tária. 4) um fiscal geral ou mestre·

(138) Informação obtida de várias fontes, especialmente do exame de orça-


mentos municipais de várias regiões do pais.
A MODER:\'A ADMli\ISTRAÇÃO Mlil\'ICIP AL 83
-de-obras, com responsabilidade tores de saúde e assistência
pela direção das obras de enge- social.
nharia de menor vulto, tais como O prefeito tem plenos poderes
construção de pequenos edifícios, para nomear e demitir todos os
arruamento, colocação de meios- funcionários da prefeitura den-
-fios, etc.; 5) alguns funcioná- tro dos limites das garantias
rios semi-especializados encarre- constitucionais (134) asseguradas
gados da operação dos serviços aos funcionários com estabilida-
de matadouro, de fôrça e luz e de. Os cargos de chefia são ge-
cemitérios, e 6) alguns operá- ralmente preenchidos pelo siste-
rios, de número variável segun- ma das funções gratificadas, que
do as necessidades do momento, constituem uma espécie de co-
para os serviços de limpeza ur- missão exercida pelo funcioná·
bana, desmatação e conservação rio enquanto o quiser a autorida-
de estradas e caminhos. de que o nomeou. Os chefes de
Médicos, engenheiros, agrôno- departamento, de divisão e de
mos, enfermeiros, bibliotecários serviços são quase sempre esco-
e outros profissionais só se en- lhidos por êsse critério, dentre
contram nas fôlhas de pagamen- os membros da respectiva car-
to daqueles municípios cujos or- reira. Convém notar que o fun-
çamentos comportam os servi- cionário, quando no exercício de
ços permanentes de tais profis- função gratificada, permanece
sionais. Há, porém, o caso de com direito ao seu cargo efetivo.
muitos municípios, com renda de N a administração municipal,
sete ou oito milhões de cruzei- como de resto em tôda a admi-
ros, que nunca se preocuparam nistração brasileira, as relações
em incluir pelo menos um enge- funcionais e, principalmente, as
nheiro ou um médico nos seus relações da administração com
quadros. Os serviços profissio· o público são demasiadamente
nais dos engenheiros e advoga- formais e caracterizadas por um
dos geralmente executam-se na excesso de burocracia e de pa-
base de contrato, quando não pelório. O princípio hierárquico
são prestados pelo Estado ou é observado com certo cuidado,
pela União, como se dá nos se· principalmente pelos componen-

(134) COilstituiçrl() Brasileira de 19-16, Título VIII.


CADER0:0S DE ADMI~ISTRAÇÃO PÚBLICA

tes das camadas hierárquicas veram num ambiente mais pro·


mais distanciadas entre si, o que pício à formação de uma ver-
é certamente um reflexo da es- dadeira consciência municipal.
tratificação da sociedade brasi- Os mais credenciados estudiosos
leira. da vida e das instituições locais
Para finalizar as presentes brasileiras são unânimes em
considerações sôbre o funciona- apontar como causa da sua este-
mento da máquina administrati- rilidade e da sua fraqueza aquê-
va municipal, não seria demais les defeitos da formação muni-
ressaltar a maneira empírica e cipal brasileira que permitiram
rotineira como são exercidas as o excesso de centralismo, e a
funções administrativas do mu- acumulação, através dos anos,
nicípio. Os funcionários igno- de problemas locais de natureza
ram, em regra, as técnicas mo- econômica, política e social que
dernas da administração munici- nunca foram resolvidos. (135) A
pal, os princípios de análise do maioria dêsses problemas, pela
trabalho e outros processos de sua grandeza e amplitude, sô-
investigação dos fatos e fenôme- mente podem ser resolvidos pela
nos da administração, o que não ação do govérno federal e dos
é, aliás, de admirar, num país governos estaduais, sendo pouco
onde a idéia de pesquisa admi- o que os municípios podem fazer
nistrativa é ainda muito nova. com relação a êles. Eis os mais
Condições políticas, econômi- importantes: falta de crédito
cas e sociais - O que já foi dito rural; reforma agrária; assistên-
até agora sôbre a administração cia social ao trabalhador rural;
do Município basta para carac- deficiência de estradas e de equi-
terizar a vida municipal brasi- pamento de transporte; ausência
leira como carecendo daquele de métodos modernos de produ·
vigor, daquele progresso, daque- ção agrícola; monocultura; fal-
la importância que tem a vida ta de pessoal técnico em geral;
comunal nos países em que as analfabetismo; doenças e ende-
instituições locais se desenvol- mias; falta de administradores

(135) A literatura s&bre o assunto compreende a maior parte do que se tem


escrito sôbrc o go"êrno local nr> Brasil. Ver especialmente a coleção
da Rerista Brasileira dos Municípios, puhlicada pela Associação Brasi-
leira dos Municípios.
A MODER0:A ADMINISTRA(AO Ml'NICIPAL 85

treinados e, como conseqüência Apesar de ter sempre havido,


de todos êsses fatôres juntos, o no Brasil, um ambiente favorá-
êxodo rural em larga escala em vel à ação estatal em quase to-
direção dos grandes centros me- dos os setores de atividade, o ní-
tropolitanos e em detrimento da vel dos serviços públicos é bas-
produção agrícola, isto é, da tante inadequado e insatisfató-
base da economia nacionaL Tem- rio na maioria das cidades, para
se verificado, assim, no país, não falar das zonas rurais_ Cêr-
um artificial surto de crescimen- ca de metade das comunidades
to urbano, o qual constitui um urbanas do país ou são total-
fator negativo na vida brasi- mente desprovidas de mercados,
leira, segundo as palavras de calçamento, serviços de água e
renomado especialista em assun- esgôto, de bombeiros e de coleta
tos rurais_ (136) "A miséria, a de lixo, ou dispõem dêsses re-
exaustão, a esterilidade, a apa- quisitos da vida urbana em es-
tia", a que se refere RAFAEL XA- cala insignificante. Os governos
VIER como sendo a regra da vida locais, como o povo, são pobres
municipal brasileira, (137) refle- e tecnicamente incapazes para
tem a generalizada pobreza de prover até mesmo a essas ne-
um pais que é, todavia, imen- cessidades básicas da população
samente rico em potencial. Co- citadina.
munidades prósperas e flores- Felizmente, essas condições
centes somente são encontradas, estão começando a melhorar um
no interior do Brasil, onde os pouco, graças aos maiores re-
recursos locais foram explora- cursos financeiros atribuídos aos
dos, como em alguns municipios municípios pela Constituição de
de São Paulo, do Rio Grande do 1946. Só a cota do impôsto sôbre
Sul, do norte do Paraná e do a renda tem, em muitos casos,
sul de Minas Gerais_ Nos dp- duplicado e mesmo triplicado a
mais Estados há apenas umas receita de certas comunas. Pa-
poucas, espalhadas pela sua vas- rece, todavia, que o uso dêsses
tidão territoríal. novos recursos nem sempre é

(136) COSTA Pc">Rro. "O Crédito Agrícola e a Re\'italização do Município", Re-


vista Brasileira dos M1I1licípios, abril-junho. 1919. pp. 215-19.
(137) RAFAEL XAVIER. Campanha Mllnicípalista (Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, 1950), pp. 90-91.
86 CADERi'\OS DE ADMli'\ISTRAÇÃO PCBLICA

feito acertadamente, por falta Uma alternativa seria, talvez, o


ele capacidade administrativa de estabelecimento da representa-
muitas administrações munici- ção distrital obrigatória nas câ-
pais_ BARBOSA LIMA SOBRINHO, maras municipais e a organiza-
falando sôbre o assunto com a ção dos distritos como subuni-
sua autoridade de estudioso dos dades de govêrno local, por meio
problemas sociais brasileiros e da descentralização administra-
de ex-governador de Pernambu- tiva e com o objetivo de revita-
co, diz que boas intenções e pa- lizar a vida rural. O número de
triotismo, apenas, da parte dos distritos é, presentemente, mui-
prefeitos, não bastam para su- to pequeno em relação à área
prir a inexperiência e a falta dos respectivos municípios. A
de conhecimentos administrati- média era, em 1950, de menos de
vos de que se ressentem muitos três por município. (140) Ade-
dêles_ (138) mais, carecem os distritos de
O fato de o govêrno munici- qualquer organização político-
pal se exercer tanto sôbre a administr-ativa digna do nome.
zona rural como sôbre a urba- Sàmente em Pernambuco se no-
na tem sido apontado por mui- tam vestígios de descentraliza-
tos como grave inconveniente ção administrativa no nível lo-
para o desenvolvimento da eco- cal. Nesse Estado, os distritos
nomia rural do país_ O govêrno com população igualou superior
municipal tende a restringir a cinco mil habitantes podem
sua ação à sede da comuna, des- deger um subprefeito. (141)
prezando a outra parte_ A cria- Falta ao município brasileiro
ção de governos rurais próprios, certa consistência como entida-
à maneira do que se verifica nos de política, não só pOl' causa de
Estados Unidos e em outros paí- fatôres de ordem geográfica e
ses, tem sido proposta como so- tecnológica, que tornam as co-
lução para êste problema. (139) municações difíceis e a partici-
(138) R\RBOSA LDIA SOBRINHO. Municipalismo em T~rmos Financeiros (Série
Finanças em Debate, \"ol. 4; Affonso Almiro. editor; Rio de Janeiro:
Edições Financeiras, S. A., 1951), pp. 10-11.
(139) GL'STAVO LEssa, op. cit., pp. 54-56.
(140) Instituto Brasileiro de Geograia e Estatística, op. cit., p. 18.
(141) GUSTA\'O LESSA, op. cit., p. 58. Constituição de Pernambuco de 1947,
art. 10-1, § 2.".
A MODERNA ADMI-"'ISTRAÇAO MUNICIPAL 87

pação nas atividades comunais cais, mas antes as fomenta de


penosa para os habitantes das todos os modos, servindo-se para
zonas rurais, como também em isso de vários instrumentos, o
virtude de certas características mais odioso dos quais é certa·
do processo político-eleitoral, al- mente o seu delegado de polí-
gumas das quais são apontadas cia. (143) Finalmente, a maioria
a seguir_ O prefeito e os verea- das leis orgânicas municipais li-
dores são eleitos por todo o mu- mita de tal modo o número de
nicípio, em eleições partidárias, reuniões das câmaras que a
das quais pode participar qual- participação dos vereadores na
quer uma das quatorze ou quin- administração do município é re-
ze agremiações políticas legal- duzida ao mínimo, (144) ao mes·
mente registradas. Os males do mo tempo que faltam aos cida·
partidarismo estreito e da cor· dãos aquêles meios de participa-
rução política têm sido vigoro- ção no govêrno de sua comuna,
samente denunciados, propondo- conhecidos, em outros países,
-se como remédio a abolição das como o direito de tomar parte
eleições partidárias, perigosas nos debates da câmara e o exer-
para os municípios por causa da cício das práticas da democracia
esterilidade que trazem para a semidireta, como a iniciativa, o
administração, nas palavras de referendum e o recall. (145)
LEVI CARNEIRO. (142) Não raro
acontece que o prefeito e a maio- Relações com os governos do
ria da câmara são eleitos por Estado e da União - Com exce·
partidos rivais, surgindo daí sé- ção do que se refere àqueles
rios conflitos entre os dois ra- contrôles que os governos esta-
mos do govêrno municipal. Ade- duais exercem sôbre os negócios
mais, o govêrno estadual nem do municipio, especialmente sô-
sempre fica alheio às lutas 10- bre a sua administração finan·

(142) LE\"I CAR~EIRO, op. cit., pp. 136-137.


(143) ROl\lULO AI~IEIDA, "Problemas Estruturais do Munic!pio". Revista Bra-
sileira dos M1Inicípios, abril-junho, 1950, p. 501.
(144) FRANCISCO BURKINSKI, op. cit., p. 64.
(145) Nos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul as leis munici-
pais podem ser iniciadas peJo eleitorado: Constituit;ão do Rio Grande
do Sul de 19·11, art. 161. e Constituição de Santa Catarina de 1947,
art. 123.
88 CADERr\'OS DE ADMlr\'ISTRAÇÃO PÚBLICA

ceira - contrôles constitucionais 40,42%, e aos Municípios 11,82%.


que denotam a subordinação dos (146) Nestas circunstâncias, é fá·
municípios aos Estados - as cil compreender porque os go,
relações entre essas duas esfe- vernos municipais estão sempre
ras governamentais são rigoro· solicitando a assistência das es-
samente de govêrno autônomo feras superiores de govêrno para
para govêrno autônomo, como a solução de seus problemas.
exige o princípio da autonomia Como não há, no Brasil, um ver-
municipal, e não relações de um dadeiro programa de subvenções
govêrno central para suas agên- para êsse fim, semelhante aos
cias ou ramificações. Apesar programas de grants-in-aid de
disso, os Estados assumem, ge- outros países, a assistência é so-
ralmente, uma atitude mais ou licitada individualmente pelos
menos paternal nessas relações, municípios ou lhes é concedida
o que se explica em face de da mesma forma. O êxito do
seus maiores recursos técnicos pedido depende muito das cir-
e financeiros. Por sua vez, o mu- cunstâncias ditadas pela situa-
nicípio olha para o Estado como ção política do momento e da
a fonte donde lhe podem provir habilidade do prefeito em expor
grandes favores, sob a forma de e defender o seu caso. Como lí-
subvenções e de assistência téc- der político do município, cabe
nico-financeira para vários fins, principalmente ao prefeito a res-
pois não há atividade do govêr· ponsabilidade pela consecução
no municipal que esteja excluí- das coisas de que a comunidade
da da possibilidade de receber carece, mas que não pode obter
aquela assistência. com os recursos locais. Às vêzes
A discriminação das rendas o prefeito conta, para Isso, com
tem tradicionalmente deixado os ajuda de outros políticos, espe-
municípios com apenas uma pe- cialmente dos deputados federais
quena fração do que é arreca- e estaduais, se dispuser o muni-
dado no país. No ano fiscal de cípio de alguns dêsses represen-
1950 coube à União 47,76 % das tantes no Congresso ou na As-
rendas públicas nacionais, aos sembléia Legislativa. Se dispu-
Estados e ao Distrito Federal ser, - note-se bem -, porque,

(146) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. op. cit., p. 491.


A MODERi'\A ADMIl','ISTRAÇÃO MCI\:ICIP AL 89
não constituindo o município dis- de contabilidade e na prepara-
trito eleitoral, os deputados fe- ção do balanço anuaL Outros,
derais e estaduais são represen- porém, dão aos municípios uma
tantes do Estado e não de de- assistência mais ampla, que vai
terminado município ou grupo desde a construção de estradas
de municípios_ A natureza dos e pontes até aos serviços de
pedidos de auxílio formulados consultoria e procuradoria jurí-
pelos governos municipais varia dica; e desde o treinamento de
grandemente, mas na maioria funcionários nas técnicas admi-
dizem respeito à construção de nistrativas até a elaboração de
obras públicas, como escolas, planos diretores, de projetos de
pontes e estradas, à preparação engenharia e de modelos de có-
de planos e projetos de enge- digos de obras, tributários e de
nharia, urbanismo e rodovias, posturas_ (147)
à prestação de serviços especia- A União também presta assis-
lizados de contabilidade para a tência técnico-financeira direta
organização, atualização e re- aos municípios, seja através de
visão da escrita municipal, à auxílios propostos pelos con-
nomeação de médicos para os gressistas, seja por meio de acor-
postos de higiene do município dos e convênios entre os dois
ou de professôres para as esco- governos_ Não são raros, embo-
las municipais_ ra insuficientes em número, os
Cêrca de metade dos Estados casos de cooperação permanen-
mantém um órgão especializado te entre as três órbitas de go-
de assistência técnica aos muni- vêrno para a prestação de certos
cípios_ Alguns dêsse órgãos con- serviços, especialmente nos se-
centram suas atividades em pres- tores de educação e saúde públi-
tar assistência contábil às pre- cas. Outro exemplo é o convê-
feituras, orientando-as na elabo- nio nacional de estatística entre
ração dos orçamentos municí- os mUnIClplOS e a União_ O go-
pais, na escrituração dos livros vêrno federal carece, porém, de

(147) Como funcion(;rio do Departamento de Assistência Têcnica aos Muni-


ciplos do Paraná, o autor tem tido oportunidade de testemunhar uma
Intensa atividade dêsse órgão nos setores aludidos, especialmente nos
de construção e conservação de estradas intermunicipais e de assistência
contábil.
90 CADERr\OS DE ADMI0:ISTRAÇÃO PÚBLICA

um sistema !'acionaI de subven- lidade como instrumento para


ções para fins específicos_ Na o aperfeiçoamento dos padrões
sua mensagem ao Congresso administrativos dos órgãos be-
Nacional, na abertura da ses- neficiários. Naquele país, exi-
são legislativa de 1951, o pró- ge-se que certas técnicas admi·
prio PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS nistrativas sejam observadas na
apontou a necessidade de se aplicação dos recursos concedi-
expandir e racionalizar a as- dos, inclusive a adoção do sis-
sistência técnico-financeira da tema do mérito para o pessoal
União aos governos municipais, dos serviços a serem financia-
tendo, ainda, sugerido certos cri- dos por êsse processo. Certa·
térios a serem adotados por um mente a introdução de disposi-
tal programa. (148) tivos desta natureza exige um
programa bem definido de sub-
Ao contrário do que ocorre venções, o qual, como tudo in-
com o programa de grants·in·aid dica, é uma engrenagem impor-
do govêrno federal dos Estados tante que está faltando no me·
Unidos, o sistema de subvenções canismo das relações entre os
usado no Brasil ainda não ti- Municipios, de um lado, e os
rou vantagem de sua potencia- Estados e a União, de outro.

III - SUMARIO

Durante mais de quatro sé- começou a se operar uma trans-


culos as instituições locais bra- formação substancial nesse qua-
sileiras se arrastaram na impo· dro sombrio, graças ao restabe-
tênaa e na apatia a que as obri- lecimento da autonomia muni-
gavam a falta de recursos fi- cipal em bases mais concretas
nanceiros e a centralização dos e especialmente graças à atri-
negócios do município nas mãos buição de maiores recursos aos
dos governos regionais. Com a municípios.
Constituição de 1946, todavia, O crédito por essa transfor-

(118) Getúlio Vargas. "Mensagem Presidencial ao Congresso Nacional, na


Abertura da Sessão Legislativa de 1951", Revista Brasileir'l dOB Muni-
cípios, abril-junho, 1951, " 233.
A MODER0:A ADMI0:ISTRAÇÃO Ml'NICIPAL 91

mação cabe a um grupo de mu- pazes de obter o máximo de


nicipalistas que atuavam tanto aproveitamento de quaisquer re-
dentro como fora da Assembléia cursos, mesmo pequenos, de que
Nacional Constituinte_ A ban- disponha o govêrno municipal.
deira municipalista continua, po- É opinião de muitos estudiosos

rém, a ser constantemente des- dos problemas municipais que a


ausência de administradores pro-
fraldada numa. série de congres-
sos nacionais. estaduais e regio- fissionais e das técnicas moder-
nas da administração tem cons-
nais, num esfôrço em prol da
tituído sério obstáculo ao em-
consolidação da posição já al-
prêgo racional dos novos recur-
cançada e da obtenção de maio-
sos atribuídos aos municípios.
res recursos financeiros para os Mas, para atenuar êsse proble-
municípIos. ma, o sistema de relações entre
Entretanto, a realização dês- o govêrno municipal e os go-
sps objetivos não basta para o vernos federal e estadual ofe-
desenvolvimento ele instituições rece possibilidades ainda pràti-
locais vigorosas. Além de alguns camente inexploradas, pois o me-
problemas básicos nacionais de canismo dessas relações poderia
natureza econômica, política e ser usado pelas esfQras gover-
social, que impõem sérios obs- namentais superiores para aper-
táculos ao desenvolvimento da feiçoar os processos da adminis-
vida municipal, outro prohlema tração municipal. De especial
de caráter interno também con- importância nesse mecanismo é
tribui para reduzir a eficiência o papel dos departamentos de
do municipio típicu brasileiro assistência técnica aos municí-
como unidade de govêrno. ~sse pios e a introdução de um siste-
problema consiste na falta de ma racional de auxilios e sub-
administradores treinados e ca- venções aos governos locais.
CAPíTULO V

ADAPTAÇÃO DO PLANO DO ADMINISTRA-


DOR-CHEFE AO BRASIL
Será reconhecida a necessida- seria o plano do administrador-
de de um administrador profis- chefe a solução para o pro-
sional para dirigir as ativida- blema?
des administrativas do municí- :ê:ste capítulo se propõe res-
pio brasileiro? Na afirmativa: ponder a essas duas perguntas.

r. o PROBLEMA DO ADMINISTRADOR PROFISSIONAL


A idéia de treinamento e pro- ministração - De há muito se
fissionalização no serviço públi- tem reconhecido, no Brasil, a
co tem merecido considerável necessidade e a importância da
atenção no Brasil nos últimos racionalização do serviço públi-
anos e tem sido sempre asso- co. A criação do Departamento
ciada ao desejo de se conseguir Administrativo do Serviço PÚ-
maior eficiência nas atividades blico (DASP), em 1937, repre-
governamentais. Como será de- sentou esfôrço de alta signifi-
monstrado nas próximas pági- cação para o aperfeiçoamento
nas, o problema tem girado, no da máquina administrativa do
plano municipal, em tôrno dos govêrno federal. Nos quadros
três pontos seguintes: 1) - do funcionalismo da União foi
a necessidade de um adminis- criada a carreira de técnicos
trador municipal treinado para em administração e diversos
as suas funções; 2) - a su- cursos foram estabelecidos, vi-
gestão de soluções para resol- sando à preparação de funcioná-
ver o problema e 3) - o papel rios da União e dos Estados.
do prefeito como líder político Pouco, entretanto, pôde ser fei-
e como administrador. to Iim favor do treinamento do
A necessidade do administra- pessoal das prefeituras muni-
dor municipal treinado em ad- cipais.
96 CADER0:0S DE ADMI0:ISTRAÇAO PCBLICA

No plano municipal, o proble. dos Unidos têm certamente in·


ma do treinamento do pessoal fluído no pensamento daqueles
tem assumido dois aspectos: a que se têm dedicado ao estudo
preparação de funcionários em das instituições de govêrno lo·
geral e o treinamento de um cal no Brasil. (150) A outra ra·
administrador profissional para zão é o aparecimento do mu·
gerir os negócios municipais. A nicípio como unidade de govêr·
falta de administradores com· no mais vigorosa do que no
petentes e experimentados na passado, graças à maior capa·
chefia dos executivos locais tem cidade financeira que lhe con·
sido constantemente apontada cedeu a Constituição de 1946.
como uma das principais cau· Na verdade, a fim de exercer
sas da estagnação da adminis· seu novo papel na vida admi·
tração municipal brasileira. A nistrativa do país, os municí·
ela tem·se atribuído "o predomí· pios precisam não só de maIo·
nio do empirismo, da rotina, da res recursos financeiros, como
desordem, do arbítrio, na admi· também de que lhes sejam atri·
nistração da grande maioria das buídos maiores encargos. Aliás,
comunas brasileiras". (149) os líderes do movimento muni·
Em anos mais recentes, o pro· cipalista têm proclamado ser
blema tem recebido maior aten· essa a sua orientação. (151) Mas
ção devido, talvez, a duas ra· a obtenção de maiores rendas
zões. Urna delas é a aceitação e a responsabilidade por maIo·
crescente da importância da res encargos não põem o muni·
administração científica. A obra cípio, necessàriamente, em con·
do DASP e o êxito do sistema dições de executar eficientemen·
de câmara·e·gerente nos Esta· te as suas funções. Como já

(149) M. A. TEI:umA DE FREI'.\S. op. cit., pp. 90-91.


(150) São constantemente encontradas, na literatura brasileira sôbre proble-
m3.S municipais, referências ao plano de cãmara-e-gerente como forma
eficiente de go\'êrno local. Ver: ORI..U'DO M. CARVALHO, op. cit., pp. 135-
136; OCÉLIO DE MEDEIROS, Reorganir:ação ltIunicipal (Rio de Janeiro: Ir-
mãos Pongetti, Editôres, 1946), pp. 141-144; e LEVI CARNEIRO, op. cit.,
pp. 123-134.
(151) RAFAEL XAVIER, ltIunicipalismo em T~mlOs Financeiros (Série Finanças
em Debate, VaI. 4, AFFOXSO AL~rIRO, Editor; Rio de Janeiro; Edições
Financeir,,~. S.A. 19~1), p. 9.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 97
foi dito acima, (152) em muitos Soluções propostas.- sua crí-
casos os governos municipais tica - Em virtude da imitação,
não sabem como usar conscien- pelos municípios, do princípio
ciosamente seus novos recursos, de separação de poderes com
por lhes faltarem qualidades de supremacia do executivo, que
liderança e conhecimentos ad- caracteriza o govêrno da União
ministrativos_ Os próprios mu- e dos Estados, o prefeito brasi-
nicipalistas têm reconhecido o leiro adquiriu, com o tempo,
problema, pois a questão de uma posição de absoluta ascen-
treinamento prévio e posterior dência na administração da co-
à entrada no serviço público muna, como chefe que é do exe-
municipal tem constado da cutivo municipal. Por isso, al-
agenda da maioria dos congres- guns dos estudiosos que se têm
sos e reumoes municipalistas preocupado com a formação
realizados no pais, desde que de administradores profissio-
entrou em vigor a nova Cons- nais para dirigir a administra-
tituição_ Ao mesmo tempo, al- ção municipal, têm apontado a
guns departamentos estaduais figura do prefeito como a mais
de assistência técnica aos mu- indicada para exercer o novo
nicípios têm mantido diversos papel.
cursos de administração muni- Várias sugestões já foram fei-
cipal. tas no sentido de serem criados
A idéia de administradores os chamados "prefeitos de car-
treinados não é, portanto, es- reira", mas a constitucionalida-
tranha ao problema mumcipal de da medida foi atacada por
brasileiro nem é o reconheci- contrariar o princípio da auto-
mento de sua necessidade um nomia municipal e da eletivi-
assunto ainda sujeito a gran- dade do prefeito_ (153) Houve,
des controvérsias_ Presentemen- ainda, quem visse na prática
te, pelo menos, a dificuldade pa- de nomeação dos prefeitos pelos
rece consistir na maneira de interventores, durante o Estado
implementação da idéia: quem Novo, boa oportunidade para a
deve ser treinado, como e por introdução do administrador
quem_ profissional nas prefeituras e

(152) Supra, p.
(153) M. A. TEIXEIRA DE FREITAS, op. cit., p. 94.

8 - Cdtl. Adm. Municipal - 46


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98 CADER~OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

para a criação dos "prefeitos época, Parece que tôda a idéia


de carreira", Assim se expres- a respeito consistia em l'ecru-
sava, por exemplo, Océlio de tar, para o cargo de prefeito,
Medeiros, num livro que pu- indivíduos de certa experiênCia
blicou antes de ser votada a administrativa ou, ainda, ir pro-
Constituição de 1946, (154) Pa- movendo das prefeituras meno-
rece, entretanto, que sua opi- res para as maiores aquêles pre-
nião a respeito foi depois mo- feitos que demonstravam capa-
dificada, pois em obra publi- cidade administrativa, (157) Um
cada mais tarde acusava êle ex-Ministro da Agricultura da-
aquela prática estadonovista de quele tempo, Fernando Costa,
"haver consagrado o favoritis- é citado por Océlio de Medeiros
mo e o nepotismo, males pio- como havendo sugerido aos in-
res que os acarretados pelo li- terventores que escolhessem os
vre pronunciamento dos muní- prefeitos dentre os agrônomos,
cipes", (155) sempre que possível, (158) como
Orlando M, Carvalho também se os problemas administrativos
contesta as vantagens da prá- dos municípios fôssem essen-
tica, negando que ela tenha tra- cialmente agrícolas", Outros,
zido qualquer "contribuição ainda, como Levi Carneiro, in-
para melhorar o sistema de go- sistem em que a eletividade do
vêrno municipal", (156) Na ver- prefeito não é essencial ao con-
dade não há nenhuma evidên- ceito de autonomia mumCI-
cia de que as autoridades do paI. (159) Deplora êsse autor o
Estado Novo tivessem conside- excessivo poder de autodeter-
rado qualquer espécie de trei- minação concedido aos municí-
namento organizado e sistemá- pios brasileiros àquele respei-
tico para os prefeitos daquela to, (160) defendendo a tese de

(154) OCÉLIO DE :MEDEIROS, Reorganização lIIunicipal (Rio de Janeiro: Irmãos


Pongetti, Editôres, 1946), p. 136.
(155) OCÉLIo DE MEDEIROS, O Govérno Municipal no Brasil (Rio de Janeiro:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, s. d.), p. 114.
(156) ORLANDO M. CARVALHO, op. cit., p. 137.
(157) Ibid., p. 135.
(158) OCÉLIo DE MEDEIROS, Reorganização Municipal, p. 132.
(159) LEVI CARNEIRO, op. cit., pp. 157-158.
(160) Ibid., p. 55.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 99
que o processo de nomeação do nomeação do prefeito (163) é fa-
prefeito pelo governador, pelo lho, por não levar em conside-
menos em relação às grandes ração o fato de que, nos Esta-
cidades, oferece um caminho dos Unidos, o contrôle final sô-
mais fácil para se conseguir um bre o gerente pertence ao elei-
técnico à frente da administra- torado, já que o gerente é no-
ção municipal do que qualquer meado por uma câmara eleita
sistema de eleição. (161) pelos próprios cidadãos da lo
É muito difícil conciliar essa calidade. Finalmente, a tese de
restrição ao princípio da eleti- que a nomeação pelo governa-
vidade do chefe do executivo dor facilitaria a colocação de
municipal com a sugestão que técnicos à frente dos negócios
faz o próprio autor, algumas municipais requer, para sua va-
páginas adiante do mesmo li- lidade, que os governadores, che-
vro, concernente ao fortaleci- fes políticos que são, se isen-
mento do contrôle popular sô- tem de quaisquer motivos polí-
bre os atos das autoridades mu- tico-partidários ao fazer a no-
nicipais através da introdução, meação dos prefeitos: esperan-
no Brasil, das práticas do re- ça remotíssima que a experiên-
call, do referendum e da ini- cia do passado de nenhum modo
ciativa popular. (162) Ora, de- justifica.
pois de haver sido privado de Outras soluções fazem recair
qualquer participação na esco- o papel do administrador pro-
lha da mais importante autori- fissional noutras figuras que
dade do govêrno local, que con- não a do prefeito_ Océlio de Me-
trôle verdadeiramente eficaz po- deiros, no primeiro de seus já
deria o eleitorado exercer sô- citados livros, depois de haver
bre a administração através da- despedido o sistema gerencial
queles processos de democracia como inaplicável ao Brasil, pro-
semidireta? Ademais, o exem- põe a criação de uma carreira
plo do sistema de câmara-e-ge- de assistente de administrador
rente invocado por Levi Carnei- municipal, o qual seria nomea-
ro para justificar sua tese de do pelo govêrno do Estado e

(161) Ibid., p. 133.


(162) Ibid., pp. 143-144.
(163) Ibid., pp. 132-133.
100 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

colocado à disposição do muni- sugerindo, ainda, que as muni-


ClplO para administrá-lo junta- cipalidades mais ricas "toleras-
mente com o prefeito eleito_ (164) sem" o assistente de adminis-
Para a preparação dêsse fun- trador municipal nomeado pelo
cionário sugere, ainda, o refe- govêrno do Estado, assistente
rido autor, um programa com- que chama então de gerente ou
pleto de treinamento em admi- city-manager. (165) Além de in-
nistração municipal; mas nada troduzir a figura do técnico
diz no sentido de definir a sua propõe, ainda, como parte de
posição no quadro administra- seu programa de reestruturação
tivo do Município_ Silencia o municipal, o funcionamento da
autor completamente sôbre a Câmara de Vereadores nas se-
natureza exata dos deveres do guintes bases:
assistente de administrador mu-
a) a Câmara de Verea-
nicipal, suas relações com o pre-
feito, com a câmara, com outras dores funcionaria junto aos
prefeitos como um colégio
autoridades municipais e com
de colaboração legislativa,
o govêrno do Estado. Dado à
consultiva, deliberativa e
luz em 1946, mas antes, certa-
mente, da Constituição haver administrativa, voltada ao
implantado o princípio da auto- tratamento dos problemas
municipais;
nomia municipal, êsse esquema
era perfeitamente coerente com b) tal colégio teria as
a prática então observada de suas funções grupadas em
centralização dos negócios do setores - como sejam edu-
município nas mãos das auto- cação e saúde, engenharia
ridades estaduais. Todavia, no e obras, organização e lo-
seu livro seguinte, O Govêrno mento da produção, segu-
Municipal no Brasil, publicado rança e guarda, etc.
já sob o regime da nova Cons- competindo a orientação de
tituição, insiste Océlio de Me- cada setor a um vereador
deiros no seu antigo esquema devidamente designado. (166)

(164) ÚCÉLIO DE MEDEIROS, Reorganização Municipal, pp. 143-144.


(165) OctLIO DE MEDEIROS. O GorênlO Municipal no Bra8il, p. 115.
(166) Loc. cito
A MODERJ'.:A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 101

A maneira um tanto sumária Ê evidente que, dentro do sis-


como foram apresentadas tais tema de supremacia do executi-
soluções não permite sua perfei- vo e de escolha do prefeito em
ta compreensão e, portanto, di- eleições partidárias, o prefeito
ficulta uma crítica mais com- não é apenas o chefe do executi·
pleta_ Entretanto, pode-se sali- vo municipal e o principal admi-
entar que, embora voltando a nistrador do mumclplO, mas
falar, nessa obra, sôbre o ad- também o líder político da co-
ministrador municipal de car- munidade. Todavia, em face das
reira, deixou Océlio de Medei- circunstâncias que condicionam
ros, novamente, de lhe caracte- o funcionamento das instituições
rizar os deveres e a posição na locais no Brasil, pode-se afir-
estrutura do govêrno municipaL mar, com segurança, que a po-
De qualquer maneira, a idéia sição do prefeito como líder po-
de um funcionário municipal lítico deve necessàriamente pre-
nomeado pelo govêrno do Es- ceder e suplantar o seu papel
tado é tão frontalmente contrá- como administrador.
ria ao espírito e às tendências
do movimento municipalista bra- Por um lado, o prefeito está
sileiro e fere de tal modo o prin- prêso ao partido ou à coligação
cípio da autonomia municipal partidária responsável por sua
que suas possibilidades são prà- eleição. Daí ser necessária a
ticamente nulas. sua atuação política para que
lhe seja possível obter o apoio
o prefeito como líder político da maioria da câmara de ve-
e como administrador - O pro- re'adores e contentar os dife-
rentes partidos e grupos que o
blema da profissionalização da
apoiamo São realmente grandes
administração municipal atra-
os males que êsse sistema tem
vés da criação dos prefeitos de
trazido à administração muni-
carreira merece mais atenção cipal brasileira, pois geralmen-
do que lhe foi dispensada na te se tem verificado sua dege-
secção anterior. A discussão do nerescência na mais estreita po-
assunto poderá girar em tôrno liticagem, tão criticada por tan-
desta questão: Qual deve ser tos e responsável pela opinião
o papel do prefeito na adminis- daqueles que, como Levi Car-
tração municipal brasileira? neiro, defendem a tese de no-
102 CADERr\OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

meação do prefeito pelo gover- parece, pois, constituir elemen-


nador_ Contudo, seria grave in- to essencial com o qual pre-
justiça não se olhar para o re- cisa contar o prefeito nas suas
verso da medalha e reconhecer relações com os donos da polí-
os aspectos positivos da lideran- tica estadual - os "coronéis",
ça política do prefeito. f:ste, de- os governadores e os deputados.
vido ao seu prestígio pessoal e Sem essa habilidade será ê!e
político, é naturalmente leva- um "esmoler" fracassado, o que
do a agir como o porta-voz quer dizer, quase sempre, um
dos reclamos de sua comuni- prefeito fracassado.
dade, na luta incessante em
que se encontra empenhado o Por outro lado, a carência de
Município brasileiro para obter pessoas com conhecimentos de
assistência econômica da União administração, aliada ao prin-
e do Estado - liderança que cípio de escolha do prefeito por
os prefeitos comumente exer- eleição popular, torna mais di-
cem como "esmoleres constan- fícil a presença de homens com
tes nas ante-salas dos palácios experiência administrativa na
dos governadores estaduais", na chefia do executivo municipal.
expressão feliz de Rafael Xa- Geralmente, o que, no cargo de
vier. (167) Conquanto o partida- prefeito, atrai o político do in-
rismo estreito seja uma das ca- terior, não são os seus aspec-
racterísticas mais indesejáveis tos administrativos propriamen-
do funcionamento do govêrno te ditos, mas o prestígio polí-
municipal brasileiro, é preciso tico e social que dêle deriva e
não esquecer que os governos que serve como escada para po-
locais não têm monopólio da sições mais altas. (168)
prática: sua marca aparece,
com bastante relêvo, em todo Ademais, a complexidade das
o processlls político nacional, modernas técnicas administrati-
ainda em evolução e dependen- vas, em contraste com a intui-
te do progresso cultural do povo ção própria da política partidá-
brasileiro. A habilidade política ria, explica porque é muito mais

(167) RAF_IEL XAVILR, JJII>licipalislllo em Tênnos FinanceiJ-os, p. 9.


(168) li!. A. TEIXEIr.A DE FREITAS, op. cit., p. 95.
A MODERl\'A ADMINISTRAÇAO MUl\'ICIPAL 103

fácil a um prefeito da zona ru- como essa para o resto do país,


ral ser um político sagaz do mas é bem provável que a na-
que um administrador compe- tureza rural da estrutura social,
tente_ A arte de arranjar votos política e econômica do Brasil
é certamente mais acessível ao se reflita ainda mais intensa-
lavrador ou criador que se con- mente, em outros Estados, sô-
segue eleger do que a orienta-
bre a profissão dos prefeitos.
ção a ser dada a um plano-di-
retor ou a um sistema de lan-
Em suma, num sistema de
çamento de impostos_ Entretan-
to, a falta de planos-diretores e govêrno municipal como o bra-
de sistemas racionais de lança- sileiro, caracterizado pela esco-
mento de impostos é problema lha popular do prefeito em elei-
administrativo da maior rele- ('óes partidárias; pela separa-
vância nos municípios do inte- ção de poderes com o predomí-
rior, ao mesmo tempo que gran- nio do executivo; pela falta de
de parte dos prefeitos dêsses recursos financeiros próprios e
municípios são naturalmente es- pela ausência de um progra-
colhidos dentre os seus líderes ma racional de subvenções, é
rurais_ Recente estudo feito pelo lógico que o papel de líder polí-
professor Orlando M_ Carvalho tico se torna o mais importan-
sôbre a origem prOfissional dos te para o prefeito, tanto em
politicos municipais no Estado
seus aspectos negativos como
de Minas Gerais que, como se
nos positivos_ Da liderança po-
sabe, é um dos mais adiantados
e mais industrializados da Fe- lítica do chefe do executivo mu-
deração, revela uma proporção nicipal depende grande parte
de 32 % de fazendeiros e cria- do êxito do Município brasileiro,
dores entre os 84 % dos prefei- típico em participar dos favo-
tos do Estado, na época em que res que lhe são concedidos por
foi feito o estudo, isto é, de- um sistema governamental ain-
pois das eleições de 1950_ (169) da em extremo centralizado fi-
Infelizmente não há estatísticas nanceiramente, como é o nosso.

(169) Ao tempo dêste estudo. a pesquisa do Professor 0RUNDO M. CARVALHO


ainda não havia sido dada à publicidade.
104 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

lI. O PLANO DO ADMINISTRADOR-CHEFE


COMO SOLUÇÃO
Agora parece chegado o mo· admitir que êsse plano poderia
mento para que se proponham resolver o problema da profis-
estas duas perguntas: seria o sionalização da administração
plano do administrador·chefe, municipal do pais.
nos seus lineamentos básicos,
Talvez se faça mister, a esta
uma solução para o problema da
altura, uma breve recapitulação
profissionalização da administra-
das principais premissas sôbre
ção municipal brasileira? Na as quais estão fundamentadas
afirmativa: como poderia o essas conclusões.
conceito do administrador-chefe
ser adaptado ao regime muni- Com relação ao plano, deve-
cipal brasileiro sem fazer violên- se atentar para a sua grande
cia às instituições vigentes? O flexibilidade, graças à qual,
autor responderá afirmativamen- como foi visto, o administrador·
te à primeira dessas perguntas. chefe tanto pode estar subor-
Para justificar seu ponto de vis- dinado diretamente à câmara
ta e, ao mesmo tempo, responder como ao prefeito. Assim, o prin-
à segunda pergunta, apresenta- cípio da separação dos poderes,
rá em seguida uma proposta vigente no Brasil, não preci-
para a adaptação do plano do sará de ser violado se se su-
administrador-chefe ao Brasil e bordinar o administrador-chefe
discutirá a posição e os deveres ao prefeito.
do cargo no seu novo ambiente. Mercê ainda dessa flexibilida-
de, as atribuições do cargo po-
Adaptação do plano - Na dem ser graduadas de acôrdo
base do estudo até aqui desen- com as circunstâncias. Assim,
volvido sôbre o conceito do tanto pode o administrador-
administrador-chefe e sôbre o chefe assemelhar-se a um ge-
panorama da administração mu- rente e funcionar como um
nicipal no Brasil, pode-se razoà· administrador geral do municí-
velmente concluir pela adapta- pio como podem as suas fun-
bilidade do plano às institui- ções limitar-se às de um assis-
ções municipais brasileiras e tente-administrativo do prefeito.
A MODERt\A ADMIt\ISTRAÇÃO MUNICIPAL 105

No que se refere ao panora- bilidades de continuidade de seu


ma da administração municipal programa administrativo_ Além
brasileira, dois pontos merecem disso, tôda a estrutura do pro-
ser recordados_ O primeiro é cessus político brasileiro e espe-
que a idéia do administrador cialmente das relações entre os
profissional devidamente treina- municípios e as demais órbitas
do para o cargo vem ganhando de govêrno valoriza de tal modo
aceitação crescente el:tre os es- a habilidade e as funções polí-
tudiosos dos problemas munici- ticas do prefeito que a política
pais e entre os próprios líderes e não a administração se torna
da campanha municipalista. a sua principal preocupação. A
Quer isso dizer que, embora não idéia do prefeito de nomeação
se tivesse, até agora, chegado deve ser completamente afas-
a uma solução prática para o tada em virtude de sua incons-
problema, há clima favorável titucionalidade.
de opinião para a implantação
Ao se considerar a adaptação
da idéia. O segundo ponto con-
do plano, êsses fatos sôbre a
siste na impraticabilidade e
posição do prefeito são de ca-
mesmo na inconveniência de se
pital importância e devem por
profissionalizar o cargo de pre-
isso ser levados em conta, pois
feito. Como chefe do executivo
do contrário o esquema propos-
municipal, escolhido em elei-
to poderia ferir os principios
ções partidárias, o prefeito é
básicos, quer legais, quer po-
essencialmente o líder político
líticos, sôbre os quais assen-
da comunidade. As atividades
ta o sistema brasileiro de go-
do seio das quais êle é retira-
vêrno local: a separação dos
do para exercer o mandato des· poderes com um chefe de exe-
conhecem geralmente as moder- cutivo forte, exercendo tanto a
nas técnicas administrativas, ao liderança política como a admi-
mesmo tempo que a proibição nistrativa, num regime de auto-
constitucional de sua reeleição nomia municipal garantido pela
para o período imediato reduz Constituição Federal.
tanto as suas possibilidades de
adquirir aquelas técnicas atra, Portanto, a conformidade com
vés de uma permanência mais êsses princípios exige que o
longa no cargo, como as possi- administrador-chefe seja subor-
106 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

dinado apenas ao chefe do exe- executivo e como líder politico


cutivo municipal. Seria êle o do município seriam mantidas
assistente-administrativo do pre- intactas. Na verdade, teria êle
feito, sendo sua principal fun- mais tempo para dedicar às
ção coordenar as atividades dos suas funções. Finalmente, a
diferentes departamentos da administração não sofreria a
prefeitura. Agiria êle em nome falta de atenção contínua por
e sob a autoridade do prefeito, parte do prefeito que, em mui-
de quem seria o principal agen- tos casos, não pode abandonar
te administrativo, permanecen- seus negócios particulares e ser-
do com o prefeito a responsa- vir em regime de tempo in-
bilidade final pelos atos de seu tegral.
agente.
Estrutura legal do cargo -
Assim aliviado da rotina da A lei municipal que instituísse
administração, poderia então o o cargo de administrador·chefe
prefeito devotar-se às suas im- deveria definir cuidadosamente
portantes funções políticas e es- os deveres, as responsabilidades
pecialmente a certas atividades e a autoridade do cargo, assim
como: defesa dos interêsses como o modo de seu provimen-
municipais perante os órgãos to, inclusive as qualidades pes-
da administração estadual e fe- soais para exercício de tão im-
deral, relações públicas com a portantes funções. Os deveres,
comunidade, representação do as responsabilidades e a auto-
município em cerimônias cívicas ridade serão objeto da próxima
e contatos com a câmara mu- secção. Quanto aos requisitos
nicipal. pessoais, basta que se lembre,
aqui, que o plano é baseado na
A importância de suas fun- idéia de um administrador de-
ções políticas e o fato de que vidamente treinado. Não se tem
permaneceria consigo a respon- em vista sugerir meramente a
sabilidade pela decisão final em criação de um novo cargo na
matéria administrativa, indicam estrutura da administração mu-
que, de nenhum modo, o pre- nicipal, mas promover a entra-
feito se transformaria numa fi- da de um indivíduo adequada-
gura decorativa. Tôdas as suas mente treinado para o serviço
prerrogativas como chefe do do município. O treinamento for-
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 107

mal nas modernas técnicas da da respectiva unidade gover-


administração municipal deve- namental e o da maneira de seu
ria ser, portanto, requisito bá- provimento_
sico para provimento do cargo_
No que se refere ao primeiro
Outro ponto que deveria ser aspecto, há a distinguir os car-
ressaltado na lei que criasse gos de carreira dos cargos iso-
êsse cargo é a neutralidade po- lados. De acôrdo com a prática
lítica que o administrador-chefe dominante, os cargos de carrei-
deveria manter constantemente ra são aquêles que se acham
no exercícío de suas funções -- grupados em classes correspon-
neutralidade que é elemento dentes a vencimentos diferentes
essencial na natureza técnica do e que nada têm a ver, portanto,
cargo_ O assunto será, posterior- com as classes da moderna téc-
mente, abordado com maior nica de classificação de cargos_
vagar_ O cargo isolado é aquêle que,
por suas carecterísticas espe-
O modo de provimento do ciais, não faz parte de nenhuma
cargo constitui outro aspecto carreira. Sem levar em conta as
importante do problema, e sem muitas impropriedades que vi-
dúvida o mais complexo e o ciam o atual sistema brasileiro
mais difícil. As próximas pági- de classificação de cargos, tão
nas serão dedicadas ao exame hem estudado por Pessoa Sobri-
da questão, para que se possa, nho e Teixeira Dias, (170) se há
depois, escolher qual dos modos de convir que, pela sua singula-
de provimento usados no Bra- ridade. o cargo de administra-
sil melhor se adapta ao caráter dor-chefe deverá, necessària-
técnico-profissional do cargo_ mente, pertencer à categoria
Para efeito da presente aná- dos cargos isolados.
lise, os cargos do serviço públi-
co brasileiro serão examinados No que se refere ao modo
sob dois aspectos: o da sua de provimento, os cargos po-
relação com os demais cargos dem ser providos de três mo-

(170) E. PrXTO PESSOA e J. NAZARÉ TEIXEIRA DIAS. PrincípIOS de Administração


do Pessoal (Rio de Janeiro: Departamrnto da Imprensa Nacional, 1949),
passim.
108 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO Pt)BLICA

dos (excluídos, por não interes- dois tipos de cargos (rigorosa-


sar à discussão, os cargos vita- mente falando, a função grati-
lícios dos juízes e dos profes- ficada não passa de um cargo),
sôres catedráticos): em comis- estão as garantias asseguradas
são, em caráter efetivo e en- aos nomeados para os cargos de
quanto o funcionário bem ser- provimento efetivo_ Se a no-
vir, ou seja, during gaad beha- meação se fizer mediante con-
vior, na terminologia anglo-nor- curso, o funcionário adquirirá
te-americana_ estabilidade decorridos dois
As pessoas nomeadas em co-
anos de exercício no cargo, só
missão são demissíveis ad-nu-
podendo ser demitido mediante
tum, pois detêm o cargo enquan-
processo administrativo em que
to gozam da confiança da auto-
ridade que nomeia_ O mesmo se lhe fôr concedida ampla opor-
pode dizer das chamadas fun- tunidade de defesa_ Se nomeado
ções gratificadas, mediante as sem concurso, a estabilidade lhe
quais são exercidos, na admi- será assegurada depois de cinco
nistração pública brasileira, qua- anos de exercício_ 1!:sses são os
se todos os encargos de chefia_ dispositivos constitucionais apli-
As nomeações para os cargos cáveis a todo o funcionalismo
em comissão, bem como as de- público civil do País_ (171)
signações para as funções gra-
tificadas não são feitas à base Apesar da prática brasileira
do mérito do candidato, compro- se restringir, hoje em dia, qua-
vado em concurso, mas segundo se que exclusivamente aos dois
as preferências da autoridade modos de provimento acima des-
que faz a nomeação ou a desig- critos, persiste, em dois Estados
nação_ Nos casos de exercício pelo menos, uma variante do
de função gratificada a esco- cargo em comissão, de uso
lha recai, sempre, sôbre servi- mais generalizado antigamente:
dores públicos_ em Minas Gerais, (172) como no
Em contraste com a precarie- Rio Grande do Norte, (173) ain-
dade do provimento para êsses da se adota a cláusula "enquan-

(171) Constituição Brasileira, 1946, Art. 188.


(172) Constituição do Estado de Minas Gerais, 1947, Art. 74, l.
(173) Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, 1947, Art. 71.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 109

to bem servir" em relação ao mo ser demitido, há mumeras


exercício do cargo de Procura- decisões judiciais em favor des-
dor-Geral do Estado_ A finali- sa prova. (175) De qualquer
dade da cláusula é limitar a fa- modo, a cláusula serve pelo
culdade de demissão à hipótese menos como freio moral capaz
em que o funcionário der cau- de diminuir os casos de demis-
sa ao ato, declarando-se, por são por motivos meramente po-
escrito, essa causa. Em Minas líticos.
Gerais os constituintes recorre-
ram à fórmula para minimizar o problema, agora, consiste
a influência das flutuações po- em se saber qual dêsses três
liticas sôbre o cargo, dando ao modos de provimento melhor se
seu ocupante menos estabilida- aplica ao cargo do administra-
de do que a cQnferida aos dor-chefe. Teoricamente, qual-
ocupantes dos cargos de provi- quer dos três poderia ser ado-
mento efetivo, porém garantin- tado. Todavia, é preciso anali-
do-lhe uma situação menos ins- sarem-se as vantagens e des-
tável que a dos que exercem vantagens de cada um em face
cargo em comissão ou funções do objetivo desejado, que é o
gratificadas. (174) Na verdade, de tornar legal a posição do
no compromisso entre êsses dois administrador-chefe na estrutu-
extremos reside o espírito da ra administrativa do município,
cláusula "enquanto bem servir", de modo que fique plenamente
e se bem que não seja ponto assegurado o caráter técnico,
pacífico, na jurisprudência, a ne- profissional e apolítico do cargo.
cessidade de se provar a atua-
ção insatisfatória do ocupante Parece, pois, que o problema
do cargo para que possa o mes- gira em tôrno dêste ponto: que

(17·1)OSCAR DIAS CORRtA, carta ao Autor. O Deputado Dia.s Corrêa fazia parte
da Assembléia Constituinte que "otou a Constituição Mineira de 1947,
tendo tomado interêsse especial pela inclusão da cláusula na Constitui-
ção, com referência ao cargo de Procurador-Geral do Estado, em
razão dos estudos anteriores que havia feito sObre o assunto para a
Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de Minas Gerais, de cujos
estatutos constava a recomendação para que a cláusula fOsse inscrita
na Constituição,
(175) Revista Forense XXXI, 269; XXXII, 86 e XXXIII, ru.
110 CADERl\.'OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

grau de estabilidade deveria ser responsabilidade prevista para


conferido ao ocupante do cargo, o cargo, cuja importância cres-
a fim de que fôsse estimulado e ceria com a do município. A
protegido o seu caráter profis- estabilidade do administrador-
siOnal? Estabilidade no emprê- chefe deveria, então, ser de
go é certamente um requisito ordem a permitir o reajusta-
para a profissionalização do ser- mento da situação no caso em
viço público, especialmente se que o desenvolvimento dos ser-
o sistema do mérito fôr adota- viços municipais exigisse pessoa
do como condição não só para de maior capacidade no cargo.
o ingresso como para a pro- Seria, pois, inconveniente, o pro-
moção e a permanência no ser- vimento do cargo em caráter
viço: sôbre êsses princípios afetivo para que o mesmo não
assenta o verdadeiro sistema do ficasse vinculado a um indiví-
mérito. duo. Deve-se ter em mente que
o direito à estabilidade é cuida-
Todavia, o cargo do adminis- dosamente protegido e clara-
trador-chefe seria um caso es- mente definido pela Constitui-
pecial. Sua posição única no ção Federal. (176) O princípio
serviço municipal afastaria, ae tem ganho tanta fôrça que, a
imediato, a possibilidade da car- despeito das limitações que a
reira. Teria de ser, pois, um própria Constituição llte impõe,
cargo isolado. Além de ser úni- são raríssimos os casos de de-
co, seria também o cargo admi- missão de funcionários efetivos.
nistrativo mais importante do
govêrno municipal, não só em Ademais, se a profissionali-
razão dos deveres e responsa- zação requer, por uma lado, cer-
bilidades que lhe seriam atribuí- ta estabilidade e garantia no
dos como em função do papel emprêgo, por outro lado tam-
que estaria fadado a desempe- bém requer o aperfeiçoamento
nhar na administração do mu- constante dos conhecimentos
nicípio. Somente pessoa de real técnicos do profissional para
capacidade deveria ser investi- que êste possa estar em dia
da da autoridade e assumir a com o progresso da sua espe-

(176) Constituiçcio Brasileira, Titulo VIII.


I""'"------------------------~------~--- -

A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 111

cialidade. Sentindo·se protegido ridade para nomear os ocupan-


pela garantia constitucional da tes de todOS OS cargos eleuvos
estabilidade poderia, pois, o e, no nivel municlpal, de quase
administrador·chefe valer·se ex· LOduS os postos de chena.
cessivamente daquela garantia,
em vez de procurar manter-se Ora, tendo em vista que o con-
no emprêgo pela demonstração ceno dO admlDlstrador-chele se
continuada de sua competência basela na ldeia de que o espl-
profissional. rito pronssional e a competen-
Cla tecnica deveriam serVIr de
o outro extremo consistiria guia para a seleção da pessoa
no provimento do cargo em co- para o cargo e a sua permanên-
missão, sendo o administrador- Cla nele, ê evidente que a tran-
chefe nomeado e demitido livre- Sltoriedade e a feiçao política
mente pelo prefeito. As nomea- dos cargos em comissão contra-
ções em comissão são, na sua riam o caráter apolítico e pro-
essência, de natureza transitó-
fissional do plano. Submeter a
ria. (177) Refletem uma relação
nomeação do administrador-che-
estritamente pessoal entre a au-
fe à estrita confiança do prefei-
toridade que nomeia e a pes-
soa nomeada, uma situação de to e às incertezas da política
confiança pessoal que deixa de partidária seria extremamente
existir quando quem nomeia indesejável num país como o
muda de opinião ou, por sua Brasil, onde os cargos eletivos
vez, deixa o cargo mediante cuja municipais são conquistados em
autoridade fêz a nomeação. No eleições muito mais encarniça-
Brasil, os cargos em comissão das que as realizadas no plano
são essencialmente políticos por estadual ou federal. Dever-se-ia,
isso que servem, geralmente, pois, reduzir ao mínimo a pos-
para facilitar o contrôle político sibilidade de vir a ser o cargo
da administração pelo chefe do de administrador-chefe trans-
executivo, o qual dispõe de auto- formado num pôsto político co-

(In) TIIEMfsTOCLES BRA~DÃO CWALCA~TI. Tmtado de Direito Administrativo


(Rio de Janeiro: Linaria Editôra Freitas Bastos. 1948. 2.' edição).
pp. 379-380.
112 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

biçado por todo novo prefeito pouco ficaria o seu ocupante su-
para um amigo dileto ou para jeito aos caprichos da política
barganhas políticas. Uma razão partidária, como ocorre com os
de ordem prática, pelo menos, que exercem as comissões ordi-
justificaria a precaução: a di· nárias no serviço público. Não
ficuldade que indubitàvelmente se deve esquecer que, de acor-
existirá no Brasil, nos próximos do com o plano, o prefeito re-
anos, para se encontrar pessoas teria a autoridade final sôbre
qualificadas para exercerem o os atos do administrador-chefe.
cargo. Seria, pois, infundado o receio
Parece, portanto, desejável de que o chefe do executivo mu-
que o administrador-chefe tives- nicipal viesse a perder o con-
se garantida sua permanência trôle sôbre o seu principal au-
no cargo e que o critério para xiliar.
êsse fim estabelecido fôsse - Não é lógico presumir-se que
além, naturalmente, do de sua o êxito do plano dependeria in-
idoneidade moral - o de sua teiramente de sua estruturação
competência profissional. Em legal. Conquanto uma boa for-
outras palavras: o administra- ma jurídica fôsse essencial
dor-chefe, uma vez nomeado, de- para evitar possíveis dificulda-
veria ocupar o cargo enquanto des e para assegurar um mí-
bem servisse. O prefeito somen- nimo de condições favoráveis ao
te poderia demiti-lo havendo jus- desenvolvimento de uma atitude
ta causa, que seria declarada profissional por parte do admi·
por escrito e razoàvelmente nistrador-chefe, é contudo óbvio
comprovada. que muito haveria de depender
A terceira solução indicada se da maneira pela qual tanto o
revela, por conseguinte, a me- prefeito como o próprio admi-
lhor. O administrador-chefe se- nistrador-chefe compreendessem
ria nomeado em comissão, com o cargo. Ambos se deveriam es·
a cláusula de que permaneceria forçar por encará-lo como um
no cargo enquanto bem servis- pôsto técnico-profissional, aci-
se. Desta maneira não gozaria ma das lutas e dos interêsses da
o cargo dos direitos de estabili- pOlítica partidária. Por isso sua
dade conferidos aos cargos de neutralidade política deveria ser
provimento efetivo nem tam· ressaltada tanto na lei e no
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 113

têrmo de posse como na prá- administrativas da municipali-


tica. Sem essa neutralidade, o dade.
plano seria alterado na sua Desde que as funções muni-
essência e perderia o seu cará- cipais são essencialmente as
ter profissional. Outra não é a mesmas tanto nos municípios
base sôbre que repousam os grandes como nos pequenos,
planos de câmara-e-gerente e do apenas será tentada, aqui, uma
administrador-chefe, como outra descrição geral dos deveres e
não é a razão para o seu extra- das responsabilidades do admi-
ordinário êxito nos Estados nistrador·chefe, a qual poderia,
Unidos. pois, aplicar-se a tôdas as muni-
cipalidades, com as adaptações
Deveres do cargo e papel do que se fizerem necessárias para
administrador-chefe na adminis· atender à melhor divisão do tra-
tração municipal - A integra- balho nas prefeituras maiores.
ção administrativa é uma carac- A lista que se segue encerra,
terística das instituições gover- pois, as categorias sob as quais
namentais brasileiras em todos seriam grupados os deveres e
os três níveis de govêrno. O as responsabilidades do cargo
poder legislativo é exercido por de administrador-chefe.
uma Câmara LegiSlativa (duas,
no plano federal) e o poder exe- 1. Orientação técnica - Como
cutivo por um chefe executivo. funcionário especialmente trei-
Como já foi mencionado acima nado para assistir o prefeito, o
com relação ao govêrno muni· primeiro dever do administra-
dor-chefe seria informar-se a si
cipal, os poderes e as respon-
sabilidades administrativas do mesmo e manter o prefeito ori-
entado sôbre as atividades e a
prefeito não se dividem com
política administrativa de todos
autoridades autônomas, mas se
os departamentos e repartições
acham concentradas nêle como da prefeitura, e também fazer
o cabeça da administração. ~sse recomendações a respeito.
sistema parece facilitar a pre-
sença de um administrador-che- 2. Supervisão geral - Essa
fe para coordenar e dirigir, em responsabilidade consistiria do
nome do prefeito e sob a auto- seguinte: supervisão, coordena-
ridade dêste, tôdas as atividades ção e contrôle de todos os de-

9 - Cad. Adm. Municipal - 46


1----

114 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÜBLICA

partamentos, atividades e ope- trativas a serem observadas pe-


rações; execução das leis e dos los chefes de serviço.
regulamentos e execução da po-
5. Administração do pessoal
lítica administrativa do govêrno
municipal. O exercicio dessa f>U- - Contrôle das atividades rela·
pervisão geral pelo administra· cionadas com o pessoal, exceto
dor·chefe libertaria o prefeito nomeações, transferências e de·
da maioria de seus contactos missões, mas incluindo a apre-
com os chefes de departamen· sentação de recomendações !;ô-
bre a nomeação e a demissão
to, podendo aquêles contactos se
dos diretores de departamento;
restringirem aos casos que en-
anâlise da utilização e dos pedi·
volvessem decisões muito imo
dos de refôrço do pessoal e apre·
portantes ou que encerrassem
sentação de recomendações Sô-
matéria a ser submetida à câ·
mara pelo prefeito ou, ainda, bre o assunto.
aos casos de desacôrdo entre o 6. Administração orçamentâ·
administrador·chefe e os dire- ria - Preparação do orçamen-
tores de departamento. A assi- to anual e do orçamento para
natura de todo o expediente de os programas a longo prazo;
rotina, especialmente, deveria administração do orçamento
ser eliminada das tarefas do aprovado pela câmara e con·
chefe do executivo e deferida trôle das verbas orçamentârias.
aos escalões inferiores da admi-
nistração, aos quais mais pró- 7. Administração patrimonial
priamente compete. - Contrôle de todos os bens do
município; contrôle das com-
3. Elaboração de projetos de pras e apresentação de reco-
lei - Elaboração de projetos de mendações a respeito da aquí-
lei e das respectivas exposições- sição e distribuição de equipa·
de· motivos, de acôrdo com o po- mento.
der de iniciativa do prefeito.
8. Relações públicas e pres-
4. Organização e métodos - tação de contas - Promoção de
Anâlise continua de tôdas as boas relações públicas com os
atividades e funções municipais cidadãos em geral e com os di-
para efeito de recomendação de versos grupos da comunidade;
padrões e de prâticas adminis· preparação do relatório e da
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 115

prestação de contas anuais do gundo as normas e as técnicas


prefeito, assim como de outros modernas da administração mu-
relatórios que o chefe do exe- nicipal. A verdadeira diferença
cutivo desejasse apresentar à consistiria no papel que se pro-
Câmara de Vereadores ou ao pú- põe para o administrador-chefe
blico. como mentor das atividades
administrativas da prefeitura.
9. Secretaria - Recebimento :É de crer-se que a presença de
e despacho da correspondência um administrador treinado que
oficial dirigida ao prefeito (na· pudesse desempenhar as fun-
quelas municipalidades em que ções acima enumeradas tivesse,
não existisse um secretário en- em última análise, O' efeito de
carregado exclusivamente do ex- guiar e inspirar o municipio na
pediente). adoção de melhores práticas
administrativas.
10. Treinamento - Treina- A maior parte dos estudiosos
mento e preparação do pessoal dos problemas municipais brasi-
nas modernas técnicas da admi- leiros é de opinião que a falta
nistração municipal. de técnicas administrativas ade-
:esses deveres do administra- quadas está no âmago dêsses
dor·chefe deveriam constar da problemas. Diz Barbosa Lima
lei que estabelecesse o cargo, Sobrinho que, em regra, os pre-
sem que fôsse com isso infringi- feitos são homens bem inten-
do qualquer princípio fundamen· cionados a quem faltam· o co-
tal do regime municipal brasi- nhecimento e a experiência da
leiro, desde que a responsabili- administração pública. (178) Ou,
dade final por tôdas essas ati- nas palavras de Rômulo de Al-
vidades permanecesse com o meida, os coronéis, que são lí-
prefeito. Aliás - e isso é da deres políticos municipais e que
maior importância - para mui- são muitas vêzes doutores,
tos municípios pequenos a inova· têm a consciência dos proble-
ção proposta consistiria apenas mas locais e "gostariam de se-
na reorganização das funções dos guir a orientação técnica de
atuais secretários· contadores se- funcionários realmente compe-

(178) B.\RBOS.\ LIMA SOBP.I!OIO, Municipalismo em T~rmo8 Financeiros, p. 11.


,-~-~----------------------------------------

116 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

tentes" se houvesse, é claro, tais introduzir melhoramentos na


funcionários à mão. (179) operação de todo o ramo exe-
Se se aceitassem êsses pon- cutivo do govêrno municipal.
tos de vista, seria válido con· Se, no final das contas, o
cluir que a orientação de um aperfeiçoamento da administra-
administrador profissional seria ção resultasse em progresso
provàvelmente procurada e acei- para os municípios, êstes teriam
ta pelos prefeitos e por ou- ganho em prestígio político, eco-
tros líderes municipais. Estaria, nômico e social, prestígio cuja
assim, assegurado o papel do falta tem tolhido a sua efetiva
administrador-chefe como a fôr- participação nos altos planos
ça renovadora da administração do govêrno, concorrido para sua
do município. Com a assistên- subordinação às grandes metró-
cia técnica de seu principal au- poles e os tem pràticamente
xiliar, estaria o prefeito em con- excluído da vida nacional, nas
dições de fazer uso do seu po- palavras de Teixeira de Frei-
der de iniciativa das leis para tas. (180)

III. SUMARIO

A análise das características nais que presidem ao funciona-


do plano do administrador-chefe mento das instituições de go-
e o exame do panorama da vêrno local no Brasil, o admi-
administração municipal brasi- nistrador-chefe seria subordina-
leira sugerem que a aplicação do direta e exclusivamente ao
daquele plano seria uma solu- prefeito, de quem seria o prin-
ção para o problema do profis- cipal auxiliar administrativo.
sionalismo e da técnica na admi- Conquanto seu cargo pudesse
nistração das comunas brasi- ser provido por qualquer dos
leiras. modos usados no Brasil, conclui-
Para que fôssem respeitados se que sua nomeação em comis-
os princípios politico-constitucio- são mas com a cláusula de sua

(179) l'tO:\lTLO AL:\IEIDA, op. cit., p. 9.


(180) TEIXEIRA DE FREITAS, op. cit., p. 94.
A MODERr\A ADMINISTRAÇAO MUNICIPAL 117

permanência no cargo enquan- através da permanência do


to bem servisse, seria a fór- administrador-chefe no seu põsto
mula que melhor garantiria as enquanto bem servisse.
condições necessárias à forma-
ção e à manutenção do prestí- Os deveres e as responsabí-
gio profissional do cargo. Tal lidades do cargo deveriam ser
prestígio, todavia, dependeria claramente definidos na lei de
também da atitude de estrita sua instituição. Os principais
neutralidade política que deve- dêsses deveres seriam a coor-
ria ser mantida a todo o tempo denação pelo administrador-che-
pelo administrador-chefe e que fe de tôdas as atividades admi-
deveria ser ressaltada tanto no nistrativas do município, a obri-
instrumento legal que instituís- gação de se manter a si próprio
se o cargo como no têrmo de informado sôbre essas ativida-
posse do cargo. 1!:sse deveria des e de aconselhar o prefeito
ser resguardado do partidaris- com relação às mesmas. A deci-
mo político tanto quanto pos- são e a responsabilidade· finais,
sível, de modo a ficar a salvo em matéria de administração,
das flutuações políticas e de permaneceriam com o prefeito,
modo que fôsse assegurada a como chefe do executivo e líder
continuidade da administração político da comunidade.
CAPITULO VI

IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO
A adaptabilidade do plano co cial ao aperfeiçoamento da
administrador-chefe à adminis- administração, é ponto funda-
tração municipal brasileira im- mental desta tese que o admi-
plica algo mais do que a inves- nistrador-chefe deveria ser pre-
tigação dos aspectos jurídicos viamente treinado para suas
do problema e o exame da cul- funções, a fim de que a adoção
tura político-administrativa do do plano pudesse realmente
país: requer também uma ava- atingir o seu objetivo de trazer
liação dos meios práticos que a profissionalização e a técnica
poderiam ser usados para trei- para a administração municipal.
namento dos futuros adminis- A finalidade dêste capitulo é
tradores-chefes_ Por isso que é investigar os seguintes pontos:
grande, no Brasil, a falta ãe 1) - a área de recrutamento
pessoas com treinamento for- para o cargo; 2) - as possi-
mal em administração pública bilidades de treinamento exis-
ou com conhecimentos sistema- tentes e 3) - os objetivos do
tizados das técnicas administra- treinamento a ser ministrado
tivas modernas, e ainda porque aos futuros administradores-
a idéia de treinamento é essen- ~chefes_

I. RECRUTAMENTO

No recrutamento para fins ambas essas hipóteses com re-


de treinamento para o serviço lação ao recrutamento para o
público, os candidatos podem cargo de administrador-chefe.
ser encontrados tanto dentro Recrutamento dentro dos qua-
como fora dos quadros da admi- dros da administração - A pre-
nistração. Esta secção analisará sença, no municipio brasileiro
as possibilidades oferecidas por típico, de um secretário-conta-
122 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

dor cujas funções se asseme- As prefeituras maiores ofere-


lham, bàsicamente, às propos- ceriam uma área bem mais vas-
tas para o administrador·chefe, ta para o recrutamento de can-
e cujo lugar êste viria tomar didatos, embora não haja, nes-
em grande parte, parece que fa- sas prefeituras, nenhum funcio-
cilitaria em muitos casos o pro- nário cujas funções se pareçam
blema de recrutamento, dentro com as propostas, aqui, para
dos próprios quadros da admi- o administrador·chefe. Haveria,
nistração municipal, de uma porém, a vantagem apontada
pessoa para ser treinada para quanto à maior amplitude da
o novo cargo. Pelo menos uma área de recrutamento.
razão de ordem prática favo-
Recrutamento fora do servi-
receria a solução: a expenen-
ço - É fora de dúvida que uma
cia administrativa do secretário-
boa política de recrutamento de-
contador em virtude de seu co-
verá tirar vantagens das pos-
nhecimento do serviço público
sibilidades bem maiores que se
municipal através do cargo
apresentarão se a procura de
administrativo que ocupa e que candidatos não fôr limitada aos
é o mais importante nas pre- quadros da administração res-
feituras menores. Mesmo quan- pectiva. O recrutamento em ba-
do êsse funcionário não é no- ses positivas exige que tôdas as
meado em caráter efetivo, é co- possíveis fontes de candidatos
mum a sua permanência no car- sejam atingidas, não importa
go durante a gestão de vários quão heterodoxa essa orienta-
prefeitos, pois nem sempre é ção possa parecer diante das
fácil conseguir-se, no interior, práticas negativas que prevale·
um substituto com conhecimen- cem no serviço público brasilei-
tos de contabilidade pública ou ro. O recrutamento positivo re-
com experiência em administra- quer, ainda, que o órgão recru-
ção municipal. Embora seja tador não se limite a esperar os
raro o contador municipal for- efeitos casuais dos editais pu-
mado em contabilidade, o pouco blicados pela imprensa ou pelo
que uma pessoa soubesse sôbre rádio, mas exige que se entre
a matéria seria valioso para o em contacto direto com os pos-
seu futuro treinamento como síveis candidatos, onde quer que
administrador-chefe. êles se encontrem - no caso em
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 123

exame, tanto dentro como fora administrador-chefe de muitas


do município, nas escolas e uni- prefeituras do interior, princi·
versidades, na indústria, no co- palmente a falta de confôrto e
mércio ou dentre os profissio- de atrativos urbanos e a pos-
nais liberais. sibilidade de salários mais altos
nos quadros da administração
o êxito do recrutamento de- federal. Aliás, essa concorrên-
penderia também do nível de cia de salários já tem sido res-
salário a ser atribuído ao fu- ponsabilizada pela absorção do
turo administrador-chefe. Em- melhor pessoal pelas reparti-
bora seja notória a atração que ções federais, em detrimento
os cargos públicos exercem sô- das administrações locais. (182)
bre os brasileiros, como já obser- Tais fatôres deveriam, pois, ser
vou uma autoridade estrangeira levados em consideração na fi-
em administração do pessoal, xação dos vencimentos do admi-
(181) certos fatôres concorre- nistrador-chefe, a fim de que o
riam para desencorajar possí- cargo pudesse atrair pessoas tle
veis candidatos ao cargo de real capacídade.

lI. ONDE TREINAR

Felizmente, o movimento em planejando cursos de várias dis-


favor da educação e do treina- ciplinas de administração públi-
mento para o serviço pÚblko ca, tanto para pessoas que já
vem assumindo proporções de se acham no serviço pÚblico
penetração e de seriedade ver-
como para futuros servidores.
dadeiramente encorajadoras no
Em alguns casos a administra-
Brasil. Em vários pontos do
País - no sul e no leste parti- ção municipal chega mesmo a
cularmente - várias institui- constituir o objeto principal do
ções vêm ministrando ou estão ensino.

(181) HENRY REINING.JR., "'Department of Public Service of Brazil"·. Admi-·


nistration - The Art and Sciellce of Organization and Managemellt,
ALBERT LEPAWSKY (New York: ALFRED A. KNOPF. 1949). pp. 175-76.
(182) RÓM1:LO ALMEIDA. op. cit., p. 20.
124 CADERr\OS DE ADMlr\ISTRAÇAO PlJBLICA

A existência dessas institui- to privado, e entre seus objeti-


ções parece uma indicação fa- vos está a formação e o aper-
vorável de que seria possível feiçoamento de pessoal para a
treinar adequadamente nas téc- administração brasileira, quer
nicas da administração munici- pública, quer particular. Seus
paIos candidatos ao cargo de estudantes de administração pú-
administrador-chefe_ Eventual- blica são beneficiários de bôlsas
mente, poderiam ser organiza- concedidas pela própria Funda-
dos programas de treinamento ção ou são comissionados pelas
com êsse objetivo especifico_ respectivas entidades governa-
Nas próximas páginas serão mentais para fazer aquêles es-
feitos alguns comentários sôbce tudos.
essas instituições, suas realiza-
ções atuais, seus projetos para Fundada em 1951, sob os aus-
o futuro e as possibilidades na pícios das Nações Unidas, a Es-
área de educação e treinamen- cola Brasileira de Administra-
to para o serviço público_ ção Pública (EBAP) mantém
quatro cursos diferentes: For-
Escola Brasileira de Adminis- mação (quatro anos), Pós-gra-
tração Pública (183) - A mais duação (dois anos), Aperfei-
importante dentre tôdas as or- çoamento (dois anos) e os
ganizações brasileiras que se de- Cursos Especiais (um semes-
dicam à preparação e ao trei- tre) _ Os dois últimos têm o ca-
namento de indivíduos para o ráter de post-entry training,
serviço público é, sem dúvida, pois são especialmente destina-
a Escola Brasileira de Adminis- dos a quem já é funcionário pú-
tração Pública, órgão do Insti- blico.
tuto Brasileiro de Administra- É interessante notar que a
ção da Fundação Getúlio Var- EBAP se está tornando um cen-
gas, no Rio de Janeiro_ A Fun- tro de irradiação das técnicas
dação é uma entidade de direi- modernas da administração pú-

(183) BENEDICTO SILVA, Questionnaire About tlle Brazilian School Df Public


Administration (Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1953,
mimeo.), passim. BENEDICTO SIL\'A, Bmzilian School of Public Admlnls-
tration - A Report on lhe First Eighteen Montlls of lts Operation
(Fundação Getúlio Vargas, 1953), passim.
A MODER~A ADMI~ISTRAÇÃO MU~ICIPAL 125

blica, não apenas para o Brasil cujos Cursos de Administração


como para tôda a América La· têm passado milhares de fun·
tina. Dos quatrocentos e oiten· cionários públicos federais e es·
ta e sete alunos que se matri· taduais. Embora até o presente
cularam entre 1951 e meados de não se tenha êsse Departamen·
1953, trezentos e oitenta e oito to interessado particularmente
representavam os vinte Estados pela preparação de pessoal para
da Federação, três territórios e a administração municipal, sua
o Distrito Federal, enquanto vasta experiência e seus gran·
que os restantes noventa e nove des recursos no setor de trei·
provinham de todos os demais namento para o serviço público
países latino-americanos, sem o indicam como uma das prin·
exceção. cipais organizações brasileiras
É, pois, fora de dúvida que onde se poderiam formar os
os governos dos Estados e dos administradores-chefes.
Territórios, valendo-se dessa
oportunidade para treinar os Departamento de Administra·
seus funcionários na Escola Bra· ção Pública da Universidade de
sileira de Administração públi· Minas Gerais - Em princípk.s
ca, estão formando, nas SU'lS de 1953 foi criado êsse deparo
respectivas jurisdições, uma e}i· tamento na Faculdade de Ciên·
te de administradores treinados, cias Econômicas da Universida·
que poderão combinar os seus de de Minas Gerais, Estado que
esforços para a constituição, em conta com trezentos e oitenta
cada Estado e em cada Terri· e oito municípios, (184) isto é,
tório, de centros de treinamento com mais de um quinto do total
para o pessoal das prefeituras dos municípios nacionais.
do interior. A criação do Departamento
de Administração Pública resul·
Departamento Administrativo tou dos esforços combinados da
do Serviço Público - Bastante Universidade e da Missão Nor·
conhecidas são as atividades de te-Americana no Brasil, através
treinamento do D. A. S. P ., por da Comissão Consultiva de

(184) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Anud,-;o Estatístico do


Brasil, Ano XIX, 1958, (Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística, 1958) p_ 441.
126 CADERNOS DE ADMlr-.:ISTRAÇÃO PlJBLICA

Administração Pública. (185) Um se destina, entre outras cousas,


currículo arrojado (186) prevê a a "contribuir para a organiza-
formação de bacharéis em Admi- ção racional dos serviços públi-
nistração Pública, depois de qua- cos municipais", a prestar "aos
tro anos de estudos, e represen- prefeitos e às câmaras munici-
ta o primeiro esfôrço para se pais a assistência técnica de que
dar autonomia ao estudo da ma- carecem" e a manter "cursos ele
téria na estrutura universitária administração com o objetivo
brasileira. As potencialidades do de preparar técnicos e profis-
Departamento como centro de sionais competentes." (188)
formação de administradores lo- É óbvia a relação entre os
cais não podem ser ignoradas. objetivos do IBAM e o assun-
Os administradores-chefes dos to que está sendo discutido nes-
municípios maiores talvez pu- tas páginas. Ademais, é de es-
dessem ser selecionados dentre perar-se venha o IBAM reali-
os diplomados por êsse Depar- zar, de fato, as finalidades que
tamento. se propõe, pois disso dependerá
a sobrevivência do movimento
Instituto Brasileiro de Admi- municipalista brasileiro, CUj0S
nistração Municipal - Velha objetivos imediatos já foram
aspiração dos municipalistas pràticamente atingidos e cujos
brasileiros, o IBAM foi final- esforços podem ser dirigidvs,
mente criado em 1952, no Rio agora, em favor do aperfeiçoa-
de Janeiro, a fim de servir mento dos serviços públicos mu·
como órgão executivo da Asso- nicipais.
ciação Brasileira dos Municí-
pios. (187) O Instituto, que é pa- Instituto Técnico de Adminis·
trocinado pela Organização das tração Municipal da Bahia -
Nações Unidas, pela Missão Nor- Essa entidade foi fundada em
te-Americana no Brasil (Ponto outubro de 1951, na cidade de
IV) e pelo Govêrno Brasileiro, Salvador, por um grupo de mu·

(185) Board of Ad"isors on Public Administration in Brazil. Note8 011


Ele-venth Meding, Oetoba, 19G3. (minwo.). p. 2.
OEG) Loc. eit.
(87) "Instituto Brasileiro de Administração Municipal". Revista Brasileira
dos Municípios, XIX (Juiho-Setembro, 1952), P. 489.
(188) Lor.. cito
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 127

nicipalistas baianos, e se desti- o que os prefeitos julgam ser


na ao ensino da Administração os problemas municipais mais
Municipal. (189) urgentes: elaboração e revisão
Muito poderá ser feito em fa- do orçamento anual, organiza-
vor das administrações munici- ção ou revisão da contabilidade
pais do Estado, se o Instituto municipal, construção de estra-
conseguir os recursos materiais das, elaboração de plantas ca-
e humanos para levar avante os dastrais, etc.
seus planos nos setores de edu- O Estado de Minas Gerais
cação e de treinamento para o parece ser uma exceção, pois
serviço público municipal. o seu Departamento de Assis-
tência aos Municípios tem esta-
Departamentos de Assistência do ativo em vários setores de
Técnica aos Municípios - Cêr- treinamento, inclusive na prepa-
ca de metade dos Estados bra- ração de manuais para os dife-
sileiros mantém um órgão es- rentes serviços municipais. (190)
pecializado que se destina à O Departamento de Assistên-
prestação de assistência técnica cia Técnica aos Municípios do
aos municípios. Essa assistên- Paraná também se tem dedi-
cia tem, às vêzes, tomado a cado ao treinamento do pessoal
forma de cursos de treinamen- das prefeituras. Em 1952 foi
to para os funcionários muni- ministrado um curso de Cen-
cipais. Contudo, parece que a tabilidade Municipal, com o obje-
falta de pessoal qualificado tivo de se promover a unifor-
para ministrar êsses cursos tem mização dos processos contá-
contribuído para que tão im- beis dos municípios do Estado e
portante atividade seja relega- de serem devidamente instruí-
da a plano secundário, pelos de- dos os contadores de trinta e
partamentos de assistência téc- nove novas comunas cuja ins-
nica aos municípios, que assim talação se deu no fim daquele
têm voltado suas atenções para ano. (191) O Departamento anun-

(189) "Instituto ·Técnico de Administração Municipal na Bahia". Revista


Brasileira dos MUI/icípios, XIX (Julho-Setembro. 1952). 412-15.
(190) CRISTIA";O I.IARTINS DA SILVA. op. cit., p. 417.
(191) Departamento de Assistência Técnica aos Municípios do Paraná. Bo-
letim dos Municípius VI (Fe·;ereiro. 1953). 12.
128 CADER~OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ciou, também, sua intenção de dades daqueles indivíduos, para


desenvolver os programas de que os seus serviços possam ser
treinamento. (192) prestados aos departamentos
Os departamentos de assistên- de assistência aos municípioE.
cia aos municipios poderão de- Mas, acima de tudo, é preci:lo
sempenhar papel da maior sigo que êsses órgãos formulem sua
nificação na preparação de ad- política de treinamento em têr-
ministradores profissionais para mos claros e precisos, a fim de
as comunas do país. Nenhuma que possam ser exploradas as
de suas funções de assistência vantagens e as possibilidades
técnica é mais legítima ou mais existentes. Entre estas, além da
importante do que essa. A pre· existência daquele grupo cres-
sença, em cada Estado bra~i­ cente de funcionários estaduais
leiro, de um número crescente treinados em administração pú-
de diplomados da Escola Bra· blica, deve-se contar a aproxi-
sileira de Administração Públi- mação dêsses departamentos
ca tornará possível a contribui· com as administrações munici-
ção de uma equipe de treina- pais e sua familiaridade com
mento em cada Estado, resol· os problemas dos municípios --
vendo·se, assim, o que tem sido fatôres da maior importância
certamentte um dos problemas para a orientação de programas
mais difíceis nesse setor. Será de treinamento destinados à
apenas necessário seja levada a formação de administradores-
efeito a coordenação das ativi- chefes.

UI. OBJETIVOS DO TREINAMENTO

Ao invés da elaboração de e imediatos de tal programa de


um programa de ensino desti- ensino em face das necessidades
nado à preparação profissional
dos municípios brasileiros e das
do administrador-chefe, a fina-
lidade desta secção é definir e tendências da administração de-
ressaltar os objetivos mediatos mocrá tica moderna.

(192) Loc. cito


A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 129

Objetivos imediatos - Como cas fundamentais para a admi-


ficou evidenciado pela exposi- nistraçko municipal. A contabi-
ção feita no Capítulo IV, algu- lidade e a administração do or-
mas das deficiências mais gra- çamento ficariam pràticament~
ves encontradas no funciona· sob sua inteira responsabilida-
mento da administração muni- de nas pequenas prefeituras,
cipal brasileira podem ser dire- mas mesmo que suas funções,
tamente atribuidas à falta de naqueles setores, fôssem limi-
conhecimentos adequados, pe- tadas à supervisão geral da se~­
los administradores locais, de ção de contabilidade e à con-
certas técnicas administrativas, solidação das estimativas orça-
como contabilidade e orçamen- mentárias departamentais, ain-
to, pesquisa e relações huma- da assim precisaria êle de estar
nas. Em conseqüência de tais familiarizado com ambas aquf!-
deficiências, a administração las técnicas, a fim de poder usá-
municipal se torna quase sem- las como instrumento importan-
pre confusa, obsoleta e auto· tíssimo de contrôle administrati-
crática e carece, ainda, de con- vo que são.
trôles apropriados, de inventivi· A pesquisa e a análise admi-
dade criadora e de dados e in- nistrativas requerem o desen-
formações de natureza adminis- volvimento de uma atitude obje-
trativa s'ôbre os quais possam tiva e critica sem a qual não
os prefeitos e demais adminis- será possível ao administrador
tradores municipais basear suas
basear suas decisões em fatos
decisões. devidamente medidos e observa-
~sses são problemas imedia- dos em vez de baseá-las em
tos que o administrador-chefe "palpites" e meras suposições.
teria de enfrentar no desempe- Torna-se, assim, essencial seja
nho de seu papel como renova- inculcado nas pessoas que estão
dor das práticas administrati· sendo preparadas para o exer-
vas e na sua qualidade de cicio de altos cargos administra-
administrador treinado para o tivos o valor da pesquisa como
cargo. Seu treinamento, por fundamento para as decisões do
conseguinte, deveria ter como administrador. A pesquisa aqut
objetivo imediato, equipá·lo com considerada não é a pesquisa
o conhecimento daquelas técni· básica - trabalho complexo

10 - Cat!o At!m. Mtmicipal - 41'


130 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

para especialistas na matéria fórça promotora das prá tiCd5


- mas a pesquisa no seu aspec- de governo democrático_
to mais simples de procura e
de análise dos dados e dos fa- Objeti1.:os mediatos Em
tos ao alcance do administrador, face da posição prevista pelO
para que a solução dos proble· plano, para o administrador-
mas administrativos seja dada chefe, nos quadros da alta admi-
à luz de tais informações_ nistração municipal, podem· se
Hoje não mais se admite com- distinguir, desde logo, dois obje-
patibilidade entre govêrno de- tivos que deverão ser atingidos
mocrático e administração au- pelo administrador-chefe na sua
tocrática: (193) daí o interêsse vida profissional e para os quais
pelos problemas de relações hu- deve prepará-lo o seu trein<;.-
manas, que caracteriza a tendên- mento_ O primeiro é que êsse
cia atual da administração pú- alto funcionário deve tornar-se
blica em alguns países, princi- um líder civico da comunidade.
palmente nos Estados Unidos, O segundo é que êle deve man-
onde se tem procurado aumen- ter a todo custo o caráter pro-
tar a eficiêrlCia da administra- fissional de seu cargo_
ção através da democratizaçãlJ Existe, ainda, no Brasil, um
e da humanização dos procei'- grande hiato entre o governo
sos administrativos_ Em paíse3 e o cidadão, devido, em parte,
como o Brasil, em que os pró- às formas rígidas da democra-
prios processos de democrac1a cia representativa brasileira e,
política precisam ser fortaleci- em parte, a certo grau de apa-
dos e aperfeiçoados, parece opor- tia cívica por parte do povo. As
tuno verificar se as técnicas das cousas de govêrno raramente
relações humanas não poderiam interessam aos cidadãos, a não
ser usadas como instrumento de ser nos dias de eleição, pois ao
propagação dos ideais democrá- ato de escolher seus represen-
ticos_ Assim sendo, o treinamen- tantes se resume, pràticamente,
to do administrador-chefe deve- sua participação no governo. As
ria refletir as novas tendências, práticas da democracia semi-
para que pudesse atuar como direta, como o referendum, o

(193) JOHN M. Prnrl'NER e R. VANCE PRESTHUS, Public Administration (New


York: The Ronald Press Co., 1953; 3.' edição) pp. 158-62.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 131

recall e a iniciativa popular, são Ao administrador-chefe se de-


inexistentes. As comissões con- veria, pois, ensinar como apro-
sultivas de cidadãos para auxi- ximar do povo a administração
liar o govêrno, principalmente e como fazer os cidadãos parti-
o municipal, tão comuns em ciparem de atividades cívicas.
outros países, são pràticamen- Dever-Ihe-iam ser ensinados o:;
te desconhecidas no Brasil. Não meios pelos quais pudesse ê1~
costumam as câmaras nem os explorar a capacidade de coope-
administradores promover audi· ração que existe, latente, no
ências públicas sôbre determina- corpo social da comunidade,
dos problemas de interêsse ge- assim como as diferentes ma-
ral nem se permite a participa- neiras de se beneficiar dessa
ção dos cidadãos nos debates cooperação. Do mesmo modo,
das câmaras de vereadores. São dever-Ihe-ia ser mostrado o pa-
raras as associaçôes de caráter pel das relações públicas na sua.
cívico e as associações profi:;- mais profunda significação, isto
sionais não gostam de promo- é, como expressão do próprio
ver movimentos cívicos nem de processo democrático e não ape-
participar dêles. Por su~ vez, as nas como instrumento de publi-
sociedades e clubes recreativos cidade ou de informação.
não demonstram, geralmente, o
mínimo interêsse pelas cousas O segundo objetivo - a ma-
do govêrno, a não ser quandtJ nutenção e a salvaguarda do
se trata de conseguir alguma caráter profissional do cargo --
subvenção ou outro favor qual- seria a medida final do êxito
quer dos poderes públicos. tanto do treinamento ministra.-
do ao administrador-chefe come
Por outro lado, os adminis- do próprio funcíonamento do
plano. Por isso seria de suma
tradores brasileiros parecem
importância que o treinamento
ignorar ou não compreender as fôsse dirigido para êsse objeti-
vantagens da cooperação dos ci- vo. Isso só poderia ser conse-
dadãos com os órgãos governa- guido ressaltando-se a natureza
mentais: do contrário não se técnico-profissional do cargo, a
explica como se deixam de lado objetividade e a imparcialida-
tantas oportunidades para essa de que deveriam guiar as ações
cooperação. do administrador-chefe, e a com-
132 CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA

petência e a neutralidade poli- ria sempre demonstrar no exer-


tica que êsse funcionário deve- cício de suas funções_

IV. SUMÁRIO

O exame da aplicabilidade di> tário, com cursos tanto de for-


plano do administrador-chefe mação como de treinamento de
aos municIpios brasileiros re- funcionários. De nível univer-
quer a investigação dos meios sitário são a Escola Brasileira
práticos que poderiam ser utili- de Administração Pública da
zados para o treinamento de Fundação Getúlio Vargas, no
pessoas para o cargo. Rio de Janeiro, e o Departa-
O recrutamento de candidatos mento de Administração Públi-
poderia ser feito quer dentro ca da Faculdade de Ciência&
quer fora dos próprios quadros Econômicas da Universidade de
do serviço público. Nas munici- Minas Gerais, em Belo Hori-
palidades menores, o secretário- zonte. Dentre as instituições
contador seria um candidato na- entre cujos objetivos se desta-
tural em virtude de sua expe- ca o treinamento de funcioná-
riência, enquanto que uma po- rios, estão, além da própria Es-
litica de recrutamento positivo, cola Brasileira de Administra-
que procurasse candidatos tan- ção Pública, que mantém dois
to dentro como fora dos qua- cursos com aquêle caráter, o
dros da administração, estaria Departamento Administrati vo
mais de acôrdo com princípios do Serviço Público (DASP) , de
de administração do pessoal. longa tradição nesse setor, além
Quanto às instituições em qu~ do Instituto Brasileiro de Admi-
se pudesse ministrar o treina- niáitração Municipal, órgão exe-
mento, há a considerar o inte· cutivo da Associação Brasileira
rêsse que se tem verificado no de Municípios, e do Instituto
país, nos últimos tempos, pela Técnico de Administração Mu-
criação, em diferentes pontos, de nicipal da Bahia, entidades para
estabelecimentos destinados ao as quais os seus diretores anun-
ensino da administração públi- ciaram planos mais ou menos
ca, inclusive de nível univer:;i- especIficos de treinamento para
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 133

o serviço público municipal. Pa- parar o administrador-chefe


pel importantíssimo poderá seI para enfrentar certos proble-
lesempenhado, ainda, pelos di· mas fundamentais e cotidianos
versos departamentos estaduais da administração, seu treina-
de assistência técnica aos muni· mento deveria ressaltar o estu-
cípios, de cujas possibilidades do da contabilidade pública e
tem dado mostras aquêle de- da técnica orçamentária, da aná-
partamento no Estado de Minas lise administrativa e das reh-
Gerais. ções humanas. Em suma, po-
A eficiência do programa de rém, o administrador-chefe de-
treinamento e o êxito do plano veria ser preparado para atual'
como instrumento capaz de pro- como lider cívico da comunida-
fissionalizar e racionalizar a de, líder capaz de despertar o
administração municipal brasi· espírito cívico dos cidadãos e de
leira, dependeria da realização servir à administração municí-
dE:: certos objetivos, alguns dI: paI como um profiSSional que
caráter imediato e outros que possa comandar para o cargo
deverão ser atingidos com o a autoridade técnica que lhe é
correr do tempo. A fim de pre- atribuída pelo plano.
CAPITULO VII

SUMÁRIO E CONCLUSÕES
I. SUMARIO

o problema - O presente res-chefes e outras autoridades


estudo procurou examinar, atra- municipais norte-americanas e,
vés da análise da literatura sô- finalmente, por meio de corres-
bre a matéria e de fontes ori- pondência com autoridades mu-
ginais, a aplicabilidade do pla- nicipais brasileiras_
no do administrador-chefe aos
municípios brasileiros. Procurou- As entrevistas tiveram por
se saber quais as característi- fim saber como o administra-
cas do plano, tal como êsse tem dor-chefe, na qualidade de agen-
sido usado nos Estados Unidos, te da câmara ou do prefeito, en-
especialmente no Estado da Ca- cara suas funções e como o seu
lifórnia, e quais as possib!lida- modo de ver o cargo se reflete
des de ser o mesmo adaptado sôbre sua autoridade como exe-
ao regime municipal hrasileiro, cutor da política do govêrno
como solução para o problema municipaL Em outras palavras,
da falta de orientação técnico- a questão era saber se o admi-
profissional que se verifica nistrador-chefe acha que o pla-
como regra da administração no lhe dá plena independência
municipal no Brasil. da câmara para exercer suas
funções administrativas da ma-
Método de estudo - O estu- neira que lhe parecer melhor,
do foi feito de três modos di- ou se o plano admite a interfe-
ferentes: pela consulta à lite- rência da câmara em matéria
ratura sÔbre o plano do admi- administrativa_ O objetivo últi-
nistrador-chefe e sôbre os vá- mo da questão era verificar
rios aspectos da vida municipal como o plano difere, nesse res-
brasileira; através de entrevis- peito, do plano de câmara-e-ge-
tas pessoais com administrado- rente, do qual um dos princi-
138 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

pios é a não interferência da o presente estudo foi empre-


câmara em matéria de admi- endido na esperança de que as
nistração. pesquisas realizadas .udessem
Depois de realizadas as pri- indicar a existência de diferen-
meiras entrevistas com adminis- ças fundamentais entre o pla-
tradores-chefes, ficou claro que no do administrador-chefe e o
a pergunta era difícil e delica- de câmara-e-gerente, tanto nos
da e que as respostas indicavam seus aspectos legais como do
certa relutância, por parte do ponto de vista de seu funciona-
entrevistado, em admitir, no seu mento_ Animou o Autor, igual-
caso particular, qualquer inge- mente, a esperança de que se
rência da câmara nas ativida- pudesse verificar se havia, no
des administrativas do municí-
Brasil, condições legais, cultu-
pio. O fato de ser sempre feita
rais e de ordem prática que per-
tal referência ao caso particular
mitissem a adaptação do pla-
de cada um e, ainda, a menção
de um acôrdo pessoal com a no do administrador-chefe às
câmara naquele sentido, pare- instituições municipais brasilei-
ciam uma evasiva dos entrevis- ras, a fim de que, verificada a
tados para não admitirem ex- presença dessas condições, pu-
pressamente a possibilidade da- dessem ser apresentadas conclu-
quela interferência, possível, sões e sugestões no sentido de
aliás, em face do conceito legal se pôr o plano a serviço do aper-
do administrador-chefe como feiçoamento da administração
mero agente da câmara. Revela- municipal brasileira_ Os resulta-
va essa atitude um problema de dos dêste trabalho são apresen-
amor-próprio profissional mal tados neste capítulo e se acham
disfarçado pela relutância do divididos em quatro partes: 1)
administrador-chefe em se jul- - conclusões sôbre a evolução,
gar diferente de um gerente de o conceito e a caracterização do
cidade_ Por isso deu-se preferên- plano do administrador-chefe
cia à entrevista pessoal, pois re- tal como o mesmo funciona nos
ceiava-se que o processo do ques- Estados Unidos; 2) - conclu-
tionário não permitisse a cap- sões sôbre o panorama da admi-
tação de tôdas as reações do nistração municipal brasileira;
entrevistado. 3) - conclusões sôbre a ada~-
--------------------------------------------------------------- ------

A MODERNA ADMINISTRAÇAO MUNICIPAL 139

tabilidade do plano ao Brasil e adaptação e implementação do


4) - recomendações sôbre a plano.

lI. CONCLUSõES

II - Conclusões s6bre a evo· aquêle funcionário age como co-


lução, o conceito e a caracteri- ordenador das atividades dos di-
zação do plano do administra- ferentes departamentos e ser-
dor-chefe. viços, funcionando, portanto,
como elemento de ligação entre
1. O aparecimento e o poste- os chefes de departamento e a
rior desenvolvimento do plano câmara ou o prefeito; no outro,
do administrador-chefe resulta- as funções do administrador-
ram do desejo deliberado de chefe se limitam às do princi-
muitas comunidades norte-ame- pal assistente administrativo da
ricanas integrar e profissionali- câmara ou do prefeito.
nar sua administração sem ser
preciso recorrer ao sistema de 5. O último arranjo é o ado-
câmara-e-gerente. tado pela cidade de Los Ange-
les, onde o administrador-chefe
2. O conceito do administra- funciona como principal assis-
dor-chefe é bàsicamente o do tente administrativo do pre-
feito.
agente administrativo.
6. Em regra, os deveres atri-
3. O administrador-chefe ser-
buídos ao cargo do administra-
ve sob a autoridade e a respon- dor-chefe recaem nas seguintes
sabilidade da câmara ou do pre- categorías: supervisão gerai da
feito, como seu agente para a administração; análise contínua
execução da política do respec- das funções administrativas de
tivo govêrno. govêrno; recomendações sôbre
matéria de pessoal, especialmen-
4. O cargo de administrador- te no que se refere à fusão
chefe tem aparecido sob dois ou extinção de cargos; análise
arranjos distintos: num dêles e consolidação das estimativas
140 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

orçamentárias departamentais; pode funcionar sob o sistema de


administração do orçamento; câmara -e-prefeito.
administração dos serviços do-
mésticos; relações públicas e 11. A capacidade do plano do
serviços de secretaria. administrador-chefe em coman-
dar, para o cargo, o respeito da
7. O contrôle da execução hierarquia administrativa pare-
orçamentária tem constituído o ce perfeitamente ilustrada pelo
fator mais importante para que
caso da cidade de Los Angeles,
o administrador-chefe exerça
onde, a despeito de atritos po-
uma autoridade de fato bem
líticos e dificuldades diversas, o
maior do que aquela que lhe é
administrador da cidade se im-
formalmente atribuída.
pôs graças à autoridade de sua
8. Ainda que haja grandes competência profissional.
semelhanças, quer na prática
quer na teoria, entre o plano 12. Embora ainda pareça
do administrador-chefe e o sis- cedo para se concluir se o pla-
tema de câmara-e-gerente, a au- no é, de fato, uma nova forma
toridade conferida ao adminis- de govêrno local ou se consti-
tardor-chefe em matéria de pes- tui apenas um estágio transitó-
soal e do orçamento tem sido, rio para a posterior implanta-
geralmente, mais restrita que a ção do sistema gerencial, o fato
atribuída aos gerentes de cidade. de haver sido adotado por vá-
rias comunidades que antes ex-
9. Igualmente fundamental perimentaram o sistema de câ-
para a distinção entre os dois mara-e-gerente fala a favor de
planos é a falta de autoridade sua autonomia e de seu caráter
administrativa própria do admi- definitivo_
nistrador-chefe, cujo conceito
implica uma estreita subordina- 13_ Finalmente, a aceitação
ção dêsse funcionário à câmara do plano tem crescido constan-
ou ao prefeito em matéria de temente na Califórnia e já se
administração. tem verificado em outros Esta-
dos, tendo o esquema sido ado-
10. Uma terceira diferença tado por Nova Orleans (Lousia-
entre os dois esquemas é que o na), St. Cloud (Minnesota) e
plano do administrador-chefe pela cidade de Ne~ York.
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 141

Conclusões s6bre o panorama de govêrno - federal, estadual


da administração municipal e municipal - vindo a consti-
brasileira. tuir uma peculiaridade do siste-
ma federal brasileiro_
1. Durante o período colo-
nial os municípios brasileiros
careceram de qualquer impor- 4. Após o recesso constitucio-
tância como unidades eficientes nal de 1937 a 1945, a Constitui-
de govêrno. O contrôle de sua ção de 1946 reestabeleceu e for-
política e de suas finanças pelos taleceu ainda mais o princípio
governos regionais e central re- da autonomia municipal. Ade-
duziu ao mínimo sua participa- mais, como resultado da inten-
ção no desenvolvimento do país. sa campanha municipalista, a
Constituição aumentou conside-
2. Durante o Império, e mes- ràvelmente os recursos dos go-
mo durante a República, até vêrnos locais, reservando novas
1934, sua situação financeira fontes de renda para os muni-
permaneceu extremamente pre- cípios e fazendo-os participar de
cária, por lhes faltarem poderes certos impostos federais e es-
adequados de imposição e por taduais.
causa das condições de subde-
senvolvimento peculiares à sua 5. A uniformidade tem cons-
maioria, embora tivesse havido tituído uma característica das
algum progresso quanto à sua instituições de govêrno local no
autonomia e à sua conceituação Brasil e tem resultado mais da
como órgãos de govêrno local. tradição e da imitação do que
de imposições legais. Quase to-
3. A Constituição de 1934 pro- dos os dois mil e quinhentos
curou fortalecer as instituições municípios brasileiros têm prà-
municipais, decretando a auto- ticamente a mesma forma de
nomia do município em tudo govêrno, que consiste de uma
que dissesse respeito ao seu pe- câmara de vereadores e um pre-
culiar interêsse e reservando- feito escolhidos por eleição di-
lhes certas fontes de renda. O reta para um período de quatro
regime que assim se inaugura- anos, sendo proibida a reeleição
va estabelecia na verdade uma do prefeito para o período se-
divisão tripartida da competên- guinte. Em regra, os vereado-
cia nacional pelos três níveis res recebem apenas uma ajuda
r~--~~-------------------

142 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

de custo pelo exercício de suas e o l'ecall, exceto nos Estados


funções. do Rio Grande do Sul e de San-
ta Catarina, onde é adotada a
6. O princípio da separação iniciativa popular para leis mu-
de poderes é adotado pelos go- nicipais.
vernos municipais. O prefeito,
como chefe do executivo, é in- 10. A definição abaixo foi
vestido de funções administra- considerada como uma defini-
tivas. De acôrdo com as tradi- ção objetiva da autonomia mu-
ções presidencialistas brasilei- nicipal, em face do direito po-
ras, são-lhe conferidos: a fa- sitivo escrito brasileiro:
culdade de iniciar as leis e o ... , a autonomia do Mu-
poder de veto. A câmara tem mClplO brasileiro consiste
apenas função deliberativa. na capacidade para eleger
o prefeito e os vereadores,
7. A integração administra-
bem como na administração
tiva é outra característica do
própria, no que concerne à
govêrno municipal brasileiro,
decretação e arrecadação
desde que os únicos cargos ele-
dos tributos da sua compe-
tivos são os de vereador e o de
tência, à aplicação de suas
prefeito, e desde que êste tem
rendas, à organização dos
inteira responsabilidade pelo
serviços que a Constituição
ramo administrativo do go-
do Estado ou a Lei Orgâni-
vêrno.
ca por êste promulgada con-
8. A estrutura legal do go- sidere de natureza local,
vêrno municipal é estabelecida como a tudo que a citada
pela Constituição Federal, pelas Constituição, ou Lei Orgâ-
cúnstituições estaduais e pelas nica, definir como de seu
leis orgânicas municipais vota- peculiar interêsse.
das pelos Estados, e pelas leis
11. As leis orgânicas muni-
locais. Sômente no Rio Grande
cipais têm prescrito, em geral,
do Sul pode cada municipio vo-
todos os detalhes importantes
tar sua própria lei orgânica.
da organização municipal, tal
9_ São desconhecidas as prá- como a remuneração do prefei-
ticas da democracia semidireta, to e dos vereadores, e as atri-
como a iniciativa, o referendum buiçies da câmara e do prefei-
A MODERr-.:A ADMIr-.:ISTRAÇÃO MUNICIPAL 143

to. O número, as funções e a pelos tribunais. A inobservân·


organização dos departamentos cia da Constituiçâo Federal a
administrativos são, entretanto, êsse respeito tem geralmente
estabelecidos pelas leis locais. constado do seguinte: contrôle
da conveniência ou da oportuni·
12. O princípio da autonomia dade de certos atos financeiros
municipal é garantido pela in· dos municípios; limitações da
tervenção federal no Estado, ao receita municipal; estabeleci·
mesmo tempo que a Constitui- mento de limites para as des·
ção Federal limita a interven- pesas com o pessoal; imposição
ção do Estado nos municípios ao de despesas obrigatórias, espe·
caso em que fôr necessária a cialmente para fins de educa·
reorganização das finanças mu- ção, e atribuição às assembléias
nicipais. legislativas do direito de anular
13. Se bem que aos Estados ou suspender leis municípais e
seja assegurado o direito de fis- de se manifestar sôbre certos
calizar as finanças municipais, assuntos da economia interna
somente num Estado, o do Pará, dos municípios, como seja limi·
é êsse direito exercido, cabendo te de impostos, empréstimos in·
a fiscalização ao Tribunal de ternos, desapropriação, conces·
Contas do Estado. A fiscaliza- são de isenções fiscais, perdão
ção financeira do município é, de dívidas e venda, hipoteca e
portanto, feita pelas próprias aforamento de bens municipais.
câmaras municipais, em alguns
15. A estrutura financeira do
casos com a colaboração de
município é constituída das se-
outro órgão estadual, como a
guintes rendas: 1) - dos cin-
Assembléia Legislativa, o Tri-
co impostos que lhe são espe-
bunal de Cont~ou o Departa-
cificamente reservados (impôs-
mento de As4ência Técnica
to predial e territorial urbanos,
aos Municípios.
de licença, de indústrias e pro-
14. Certas limitações ao prin- fissões, sôbre diversões públicas
cípio da autonomia municipal e sôbre os atos de sua economia
pelos Estados e, até mesmo, ou assunto de sua competên-
certas violações dessa autono- cia); 2) - taxas, contribuições
mia têm sido apontadas por di- de melhoria e quaisquer outras
versos autores e reconhecidas rendas que possam resultar do
144 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

exercicio de suas atribuições e crescente dos gastos que com


da utilização de seus bens e ser. as mesmas foram efetuados no
viços e 3) - das cotas de par. exercício de 1950: serviços de
ticipação em certos impostos fe- utilidade pública, administração
derais ou estaduais_ geral, educação, serviços indus-
triais, saúde pública, segurança
16_ A finalidade dessa parti- pública e assistência social, e
cipação nas rendas da União e fomento agrícola e industrial.
dos Estados é o fortalecimento
da situação financeira dos mu- 19. Os serviços de bombeiros,
nicípios do interior, isto é, dos de policia e de trânsito estão
que não são capital de estado, geralmente afetos ao Estado.
e a promoção da solidariedade Certos mumClplOS, entretanto,
nacional através duma distribui- mantêm alguns dêsses serviços.
ção mais eqüitativa dos dinhei- 20. O predomínio dos interês-
ros públicos. A mais importan· ses urbanos sôbre os das zonas
te das cotas de participação é rurais tem sido de tal monta
a de dez por cento do impôsto que é considerado uma das prin-
sôbre a renda, distribuída em cipais causas do grave desequi-
partes iguais por todos os mu- líbrio nacional que se verifica
nicípios do interior. no Brasil, país essencialmente
17. Os orçamentos de todos agrícola. É a sede do município
os municípios do país obedecem que determina o tamanho e a
a normas uniformes estabeleci- importância do govêrno muni·
das pelo govêrno federal. Toda- cipal e não a área, a população
via, a administração financeira e as necessidades do município
e orçamentária dos municípios como um todo, isto é, como en·
carece, em geral, de qualquer tidade urbana e rural ao mes·
outra racionalização e de técni· mo tempo. A subdivisão admi·
cas eficientes de análise e de nistrativa dos municípios em
pesquisa, o que se reflete sôbre distritos é deficiente, pois não
a produtividade dos tributos e atende ao desenvolvimento das
sôbre a eficiência do govêrno zonas rurais.
municipal em geral.
·21. O município tipico bra-
18. São as seguintes as fun- sileiro tem fraca densidade de-
ções ml.81icipais, pela ordem de· mográfica; é cultural, econômi-
A MODERNA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL 145

ca e socialmente subdesenvolvi- feitor, algumas professôras e o


do, ressentindo-se suas comuni- pessoal jornaleiro encarregado
dades urbanas da falta de ser- de certos serviços braçais.
viços essenciais, como calçamen-
to, ãgua encanada, coleta de 24. As relações entre o mu·
lixo, esgotos, mercados e pro- nicipio, de um lado, e os go-
teção contra incêndios. vernos federal e estadual, de
outro, se processam de maneira
22. Entre os principais pro- mais ou menos anãrquica, no
blemas bãsicos dos municipios que se refere à assistência da-
do interior brasileiro estão: fal- quelas esferas superiores de go-
ta de crédito rural; reforma vêrno às administrações locais.
agrãria; processos agrícolas ru- Não hã nenhum programa de
dimentares; falta de assistência auxilios e subvenções que se pa-
ao trabalhador rural; falta de reça com os programas de
transportes; analfabetismo; do- grants-in-aid de outros paises.
enças e endemias; cultura poU- Alguns Estados mantêm um
tica rudimentar de seus habitan- órgão de assistência técnica aos
tes; mãquina administrativa municipios, mas as possibilida-
ineficiente e primitiva e, como des dêsses órgãos como instru-
conseqüência de tudo isso, o mento capaz de elevar o nivel
êxodo em larga escala das po- técnico-profissional das admi-
pulações rurais para as cidades, nistrações locais têm sido ape-
principalmente para os grandes nas levemente exploradas.
centros, em detrimento da pro-
dução agricola, sôbre cujas ba- Conclusões s6bre a adaptabi-
ses repousa a economia na- lidade do plano ao Brasil.
cional. 1. Notam-se em diversos se-
tores da vida pública brasileira
23. O papel insignificante das crescentes sinais de reconheci-
atividades governamentais de mento da necessidade de admi-
uma prefeitura brasileira tipica nistradores municipais devida-
é revelado pela mera descrição mente treinados.
do seu funcionalismo, que con-
siste de um secretãrio-contador, 2. Tem-se sugerido, como so-
um tesoureiro-Iançador, alguns lução para o problema da pro-
fiscais, um mestre-de-obras ou fissionalização da administração

,11 - Clt/. A"",. Mllnicipllr - 46


146 CADERl\OS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

municipal brasileira, a criação feito, como seu principal auxi-


de prefeitos de carreira, os liar administrativo, já que ne-
quais seriam nomeados pelo go- nhum princípio legal seria vio-
vernador do Estado, ou a cria- lado e visto parecer existirem
ção de um corpo de assistentes- condições favoráveis à experi-
técnicos de administração, que mentação do plano.
seriam nomeados pelo governa-
dor para os municípios, e que 5. Finalmente, a adoção do
os prefeitos "tolerariam" como plano seria uma solução para
seus assistentes-administrativos. o problema de profissionaliza-
Tais propostas são, entretanto, ção e racionalização da admi-
contrárias ao princípio da auto- nistração municipal.
nomia municipal garantido pela
Constituição e estão em desa- Recomendações s6brt'l a adap-
côrdo com as tendências auto- tação e a implementação do
nomistas do movimento munici- plano.
palista brasileiro.
1. O cargo de administrador-
3. As circunstâncias e o am- chefe deveria ser subordinado
biente que condicionam o fun- diretamente ao prefeito e àque-
cionamento das instituições lo- le deveria ser conferida a au-
cais no Brasil exigem que o pre- toridade para coordenar, em no-
feito seja mais líder político que me dêste, tôdas as atividades
administrador, fato que não se administrativas do govêrno mu-
pode fàcilmente condenar, e que nicipal.
tende a perdurar enquanto não 2. O administrador-chefe de-
forem efetuadas certas refor- veria ser nomeado em comissão,
mas no sistema eleitoral brasi- mas o ato de sua nomeação de-
leiro e enquanto não fôr racio- veria conter a cláusula de que
nalizado o sistema de auxilios exerceria êle o cargo enquanto
e subvenções da União e dos bem servisse. A causa de sua
Estados aos Municípios. demissão deveria ser declarada
por escrito e ser razoàvelmente
4. O plano do administrador- comprovada.
chefe seria aplicável ao Brasil,
se êsse funcionário ficasse su- 3. A neutralidade política do
bordinado diretamente ao pre- cargo deveria ser ressaltada no
A MODER~A ADMINISTRAÇÃO MC~ICIPAL 147

instrumento legal que criasse çamento; 7) - contrôle do pa-


o cargo, e deveria ser estrita- trimônio do municipio; 8) - re-
mente observada na prática_ lações públicas e elaboração de
Tanto o prefeito como o admi- relatórios; 9) - treinamento do
nistrador-chefe deveriam enca- pessoal elO) - contabilidade
rar o cargo como um pôsto téc- e funções de secretaria nas pe-
nico-profissional, a fim de que quenas municipalidades_
se pudesse respeitar a sua neu-
tralidade_ 6_ Os deveres, a autoridade
e a responsabilidade do admi-
4_ O prefeito continuaria com nistrador-chefe deveriam ser
tôdas as suas prerrogativas de claramente definidos no instru-
chefe do executivo municipal e mento legal da criação do cargo_
como o líder político da comuni-
dade, cabendo-lhe, ainda, a res- 7. O administrador-chefe de-
ponsabilidade final pelos atos veria ser especialmente treina-
do administrador-chefe, seu prin- do para o cargo, podendo êsse
cipal auxiliar na administração_ treinamento ser ministrado pela
Escola Brasileira de Adminis-
5_ A enumeração dos deve- tração Pública (EBAP), pelo De-
res do administrador-chefe in- partamento Administrativo do
cluiria o seguinte: 1) - pres- Serviço Público (DASP) , pelo
tação de orientação técnica ao Departamento de Administra-
prefeito; 2) - elaboração de ção da Universidade de Minas
projetos de lei a serem enca- Gerais, pelo Instituto Brasilei-
minhados à câmara pelo prefei- ro de Administração e outras
to; 3) - supervisão geral das entidades congêneres, e pelos
atividades administrativas do órgãos de assistência técnica aos
município; 4) - análise contí- municípios mantidos pelos Es-
nua das operações e serviços da tados.
administração; 5) - contrôle
das atividades relacionadas com 8. Se bem que, em muitos
o pessoal, inclusive apresenta- casos, fôsse conveniente treinar
ção de recomendações sôbre a o secretário-contador para o
nomeação e demissão dos che- cargo de administrador-chefe,
fes de departamento; 6) - ela- deveria ser preferencialmente
boração e administração do or- seguida uma política positiva
148 CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO PüBLlCA

de recrutamento, que procurasse orçamentária, relações huma-


os candidatos para o cargo onde nas e análise administrativa_
quer que os mesmos se encon- Para que êsse treinamento pu-
trassem. desse fazer do administrador-
chefe um verdadeiro administra-
dor profissional e um líder cívico
9. A fim de melhor preparar
da comunidade, necessário seria
o administrador·chefe para en-
torná-lo suficientemente compe-
frentar os problemas adminis- tente para comandar o respeito
trativos imediatos do município de todos para o seu cargo e en-
típico brasileiro, seu treinamen- sinar-lhe como aproximar a
to deveria concentrar-se nos se- administração da comunidade e
tores de contabilidade e técnica dos seus cidadãos_
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000042010
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OBRAS PUBLICADAS

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Técnica de Administração Municipal - Associação Intemacionai
de Administradores M!lnicipais
A Arte de Administração - Ordway Tead
Introdução à Administração Pública - Pedro Mtliíoz Amato
Introdução ao Planejamento Democrático - Joh" R. P. Friedmal1ll

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jurldica de direito privado, vIsando os problemas da organiza(io racioaaJ do trabalho, espe-
cia~nte DOS seus aspectns administrativo e social, e a conformidade de seus m&odos 1s
coodiçoo do meio brasileiro, lerá como objetivo: I - provrr à formaçlo, à epecializaçãb e
ao aperfeiçoamento de pessnal para empreendimentos públicOl ou privados; 11 - prornovrr
estudo! e ~"isas DOS domínios das atividades públicas ou privadas; 111 - conatituir-se em
centro de documentação para sistematizar e divulgar conhecimentOl tknicos; IV - iDClaDbir-se
do planejamento e da organização de serviços ou empreendimentos, tomar o encargo e exe-
cutá·los, ou prestar· lhes a assistência técnica necessária; V - concorrer para melhor com-
preensão dos problemas de administração, propiciando o seu estudo e debate

PRESIDENTE DA FUNDAÇAO

LUIZ SIMÕES LOPES

DIRETOR EXECUTIVO

RAFAEL DA SILVA XAVIER

CONSELHO DIRETOR

Presidente - LUIZ SIMõES LOPES

Vice-Presidente - GUILHERME GUINLE

VOGAIS: Eug~nio Gudin, João Carlos Vital e José Joaquim de Sá Freire Alvim
SUPLENTES: .Alberto Sá Souza de Brito Pereira, Jorge Oscar de Mello Flôres e Rubens
D' Almada Horta Pôrto

CONSELHO CURADOR

Presidente - Enbaixador MAURICIO NABUCO


Vice.Presidente - ALBERTO PIRES AMARANTE

MEMBROS: Antônio Garcia de Miranda Neto, Antônio Ribeiro França Filho, ApoloDio Jorge
Faria SaUes, Ary Frederico Torres, Brasílio Machado Neto, Carlos Alberto Alves de Carvalho
Pinto, Cezar Reis de Cantanhede e Almeida, Celso TimpoDi, Francisco Montojos, Heitor
Campelo Duarte, Henrique Bianc de Freitas, Henrique Domingos Ribeiro Barbosa, Joaquim
Bertinho de Moraes Carvalho, José Nazartth Teixeira Dias, Jurandir Lodi, Mário Pinto de
Brito, Moacyr R. Alvaro e Paulo de Tarso Leal

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Caixa Postal: 4081 - Telefone: 46·4010
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CADERNOS DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA
ADMINISTRAÇÃO GERAL
2 - Planejamento do Desenvolvimento Econômico de Pai
ses Su!xlC$eOvol.. id05 - ROBERTO DE OLNEIRA
CAMPOS
8 - Confronto entre a Administraçio Pública e a Admi·
nistração Particular - BENEDICTO SILVA
9 - RtlaçÕ<s Humanas na Indústria -E.DAYA
11 - lU corporaçlia P6blicu na Grã·Bretanha - GUSTAVO LESSA
I~ - A Justiça Administratift na França - FRANÇOlS GAZIER
16 - O Estudo ela Administraçio - WOODROW WILSON
19 - A Era do Administrador Profissional - BENEDIc:TO SILVA
21 - Assistlacia T6cnic:a em Administraçio P6blica - BENEDICTO SILVA
2} - lDtroduçio l Teoria Geral ck Admjnistração P6blica - PEDRO MURnz AMATO
2~ - A Justiça Administratift DO Bruil - J. GUILHERME DE
ARAGI.O
29 - O CooIelbo ck BRado Frands - FRANÇOIS GAZIER
JO - Prof...~rafia eSQ Administrador - EMILIO MIRA Y LOPEZ
J1 - A AmblCftte da Administração P6blica - ROSCOE MARTIN
H - PlaDejamento - PEDRO MUOOZ AMATO
H - Eacudo Planejada - HARLOW S. PERSON
J~ - <Amo Dirigir Rtunilia - EUGENE RAtJ1)SEPP
J7 - Contr61e dos GuIoc Eleitorais - GERALDO WILSON
NUNAN
~8 - Proced~to para "forçar" Ae6rdo - IRVING ,. LEE
~9 - Rtlaç6es Humanas nas AtiYidades Modemu - ROBERT WOOD JOHNSON
40 - O Gcw!roo Estadual DOI Estados Unidos - GEORGE W. BEMIS
4~ - O assessoramento ela Presid!ncia da República - a.EANiHO P. LEITI!
45 - A Administraçio CiYil na Mobilizado ~lica - BENEDICTO SILVA
49 - G~nesis do Ensino ck Administraçio Pública DO Brasil - BF.NEDICTO SILVA
51 - Introdução ao PIaoejamento ReaionaJ - JOHN R. P. PRIEDMANN
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL
5 - Alguns ~ do Treinamento - A. FONSBCA PIMENTEL
7 - Pequena Blbliocrafia I6bre Treinammto - A. FONSECA PIMENTEL
12 - lU funçlia da Administração ck Pessoal no Se"iço
Público - HENRY REINING ]R.
I~ - Dois Pqrarnas ck AdministraçÃo ck Paoo&!
21 - a_ificaçio ck Cargos - J. DE NAZAR« T. DIAS
J6 - Em lIusca de 1!ncuti..os para Cargos ck Direçio Geral - ROBERT N. MAC MUUAY
ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAL
14 - Centralização de Compras para o SerYiço Público - JOHN L SIMPSON
ADMINISTRAÇI.O MUNlaPAL
17 - Teoria elas funçlia Municipais - BENEDICTO SILVA
18 - Curso de AdminiJtração Municipal - pqrama e
Justificação - DIOGO LOJ.DEllO DB
MELLO
26 - PUlorama da Admjnistração Munici~ Bruileira - DIOGO LORDELLO DB
MELLO
46 - A Modema Administração Munici~ - DIOGO LORDELLO DB
MELLO
ORGAN~Çl.O E M«TODOS
4 - Teoria dos Dep&rtamelllol de Oientela - BENEDICTO liILV A
10 - A Dep.dametotalização no Nlnl MiniItIeria1 _ GUSTAVO LJ!.O:SA
20 - O a: M na Administração IlIIlba - JOHN R. SIMPSON
22 - O a: M na Admioistraçio Sueca - T ARRAS SLALLPORS
28 - Principais p _ de Orpnização e Dileçio - CATHERYN SECKLEIl..
HUDSON
.. - U_ Aúlile elas Teoriaa de Orpni2ação - BEATRIZ M. DB SOUZA
WARHUCH
ULAÇOES POBUCAS
I - llelaç6es P6blicu. Dm.Ipção e Propquda - BENEDICTO SILVA
~ - Pablicidade Administratm - BENEDICTO SILVA
24 - hlaç6es P6blicu nO Gcw~roo Municipal -L. C. HILL
ORÇAMENTO B FINANÇAS POBUCAS
,- o. PriAclpiol Orçamentirios - SEBASTIl.O SANT ANNA
E SILVA
52 - laItltaiçlia Orçamentúiaa Fun~taia - NEWTON COHIA
RAMALHO
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Autor: Mello, Diogo Lordello de,
Título: A moderna administração municipal.

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AB
=2010
N" Pat.:AB6I89

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