Você está na página 1de 102

FORMAÇÃO DE AGENTES DE

COMERCIALIZAÇÃO DAS
BASES DE SERVIÇOS

Cooperativismo e Associativismo

LIVRO 2

INSTITUTO NOVAS FRONTEIRAS DA COOPERAÇÃO - INFC


PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Equipe de Produção
Coordenação de Produção do Material Pedagógico
Presidente da República Avante Brasil Informática e Treinamentos Ltda.
Dilma Rousseff
Diretor de Planejamento
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO Carlos Henrique Ferraz de Vasconcelos

Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário – Diretor Comercial


MDA Rômulo Moura Afonso
Pepe Vargas
Gerente de Projetos
Secretário de Desenvolvimento Territorial – SDT Ricardo Cassemiro
Jerônimo Rodrigues Souza
Conteudista
Instituto Novas Fronteiras da Cooperação Daniel Rech
Presidente
Luiz Antônio Design Instrucional Coordenadora da Equipe
de Produção do Material Pedagógico
Gislene do Carmo Braz Alves

Design Instrucional Material Impresso


Silvane Friebel

Design Instrucional Telas Web


Gislene do Carmo Braz Alves

Ilustrações
Aurélio Marcos de Macedo

Capa - Projeto Gráfico


Aurélio Marcos de Macedo

Diagramação
Alissom Lazaro
Sumário
MÓDULO I – UNIDADES 1, 2, 3 E 4.................................................................................. 13

UNIDADE 1.............................................................................................................. 13

INTRODUÇÃO - NATUREZA GERAL DA COOPERATIVA............................. 13

UNIDADE 2.............................................................................................................. 17

PRIMEIRA PARTE – HISTÓRICO E INSTITUCIONALIDADE........................ 17

HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO........................................ 17

UNIDADE 3.............................................................................................................. 27

PRIMEIRA PARTE – HISTÓRICO E INSTITUCIONALIDADE........................ 27

HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL........................................ 27

UNIDADE 4.............................................................................................................. 31

PRIMEIRA PARTE – HISTÓRICO E INSTITUCIONALIDADE........................ 31

REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL...................................... 31

1 - Projeto de Lei das Cooperativas de Trabalho


(Projeto de Lei nº 4622)..................................................................... 36

2 - Projeto de Lei Geral das sociedades cooperativas........................... 36

3 - Projetos de Lei Tributária................................................................... 36

4 - Projeto de Lei dos Empreendimentos de Economia Solidária.......... 37

5 - Novas leis estatuais e municipais de incentivo................................. 38

MÓDULO II......................................................................................................................... 41

UNIDADE 1.............................................................................................................. 41

PRIMEIRA PARTE – HISTÓRICO E INSTITUCIONALIDADE........................ 41

A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA.......................................................... 41

Primeiro passo - Reunião de pessoas com objetivo comum................. 41

Segundo passo - Processo preparatório................................................ 41

A) CAPACITAÇÃO........................................................................................... 42

B) VIABILIDADE ECONÔMICA....................................................................... 42

a) Levantamento da realidade da região................................................ 42

b) Definir os objetivos da cooperativa.................................................... 42


c) Dados sobre a viabilidade da produção............................................. 42

d) Orçamento dos gastos....................................................................... 42

e) Investimentos..................................................................................... 42

f) Financiamentos................................................................................... 42

g) Orçamento de receitas....................................................................... 42

h) Condições de mercado...................................................................... 42

i) Viabilidade da cooperativa.................................................................. 42

Terceiro passo - A fundação................................................................... 43

Quarto passo - O registro...................................................................... 43

O CAPITAL SOCIAL............................................................................... 43

PONTOS ESSENCIAIS NO ESTATUTO SOCIAL.............................................................. 44

a) Nome da cooperativa, prazo de duração, objetivos e área de atuação,


sede e foro:........................................................................................ 44

b) Entrada e saída, direitos e deveres dos associados e associadas:... 44

c) Capital Social mínimo (formação, distribuição e


condições de retirada):....................................................................... 45

d) Assembleia geral, estrutura diretiva e quem responde


juridicamente: .................................................................................... 45

e) Conselho Fiscal:................................................................................ 46

f) Forma do rateio entre os associados das despesas,


perdas e prejuízos............................................................................. 46

g) Retorno das sobras líquidas do exercício, proporcional


às operações..................................................................................... 46

h) Casos e formas de dissolução:.......................................................... 46

i) Modo e processo de alienação ou oneração de bens imóveis:.......... 46

j) Definição do exercício social e do balanço geral:............................... 46

k) Reforma do estatuto:.......................................................................... 46

l) Destino do patrimônio em caso de dissolução.................................... 46

m) Quando o estatuto entra em vigor.................................................... 46

A ATA DA ASSEMBLEIA GERAL DE CONSTITUIÇÃO DEVERÁ CONTER:.. 46


MÓDULO III - UNIDADES 1, 2, 3 E 4................................................................................ 49

UNIDADE 1........................................................................................................................ 49

SEGUNDA PARTE – CARACTERIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS.................................... 49

PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS................................................................. 49

VALORES:....................................................................................................... 49

PRINCÍPIOS:................................................................................................... 49

Primeiro Princípio: Livre acesso e adesão voluntária...................................... 49

Segundo Princípio: Controle, organização e gestão democrática................... 50

Terceiro Princípio: Participação econômica dos seus associados.................. 50

Quarto Princípio: Autonomia e independência................................................ 51

Quinto Princípio: Educação, capacitação e informação.................................. 51

Sexto Princípio: Cooperação entre as cooperativas........................................ 52

Sétimo Princípio: Compromisso com a comunidade....................................... 52

A) Compras e vendas à vista.......................................................................... 52

B) Controle da pureza, qualidade e exatidão nos pesos e nas medidas dos


produtos...................................................................................................... 52

C) Realização de operações preferencialmente com associados................... 52

D) Venda a preços correntes ou de mercado.................................................. 52

E) Destino comum dos benefícios de operações com terceiros .................... 53

UNIDADE 2........................................................................................................................ 55

AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COO-


PERATIVA....................................................................................................... 55

CARACTERÍSTICAS DAS ORGANIZAÇÕES:................................................ 57

1- Definição Legal:.................................................................................. 57

2- Objetivos:........................................................................................... 57

3- Amparo Legal:................................................................................... 57

4- Número mínimo de pessoas para instituição e funcionamento:........ 57

5- Indicações para constituição e registro:............................................. 57

6- Pontos essenciais no estatuto ou no contrato social:........................ 58


7- Formação do patrimônio:................................................................... 59

8- Representação legal:......................................................................... 59

9- Área de atuação:................................................................................ 59

10- Atividades mercantis:....................................................................... 59

11- Operações financeiras:..................................................................... 59

12- Responsabilidade dos associados:.................................................. 60

13- Remuneração dos e das dirigentes:................................................ 60

14- Destino do resultado financeiro:....................................................... 60

15- Escrituração contábil:....................................................................... 60

16- Obrigações fiscais e tributárias:....................................................... 61

17- Fiscalização:..................................................................................... 61

18- Estruturas de representação:........................................................... 61

19- Dissolução e liquidação da entidade:.............................................. 61

20- Destino do Patrimônio, caso haja o fim da entidade:....................... 62

21- Possibilidades de controle:............................................................... 62

UNIDADE 3........................................................................................................................ 63

CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS............................................. 63

A) NATUREZA, FUNÇÃO E ESTRUTURA:..................................................... 63

1- Quanto à natureza:............................................................................ 63

a) Cooperativas de distribuição ou serviços..................................... 63

b) Cooperativas de colocação da produção...................................... 63

c) Cooperativas de trabalho.............................................................. 64

2 - Quanto à variedade de funções:....................................................... 64

a) Cooperativas unifuncionais........................................................... 64

b) Cooperativas multifuncionais........................................................ 64

c) Cooperativas integrais.................................................................. 64

3- Quanto ao nível de organização:....................................................... 64


a) Cooperativas singulares............................................................... 64

b) Cooperativas Centrais ou Federações de Cooperativas.............. 64

c) Confederação de Cooperativas.................................................... 64

B) RAMOS DE COOPERATIVAS MAIS CONHECIDOS.................................................... 65

1- Cooperativas de Crédito..................................................................... 65

2- Cooperativas de Consumo................................................................ 65

3- Cooperativas Agrárias ou Agropecuárias.......................................... 65

4- Cooperativas de Pesca...................................................................... 66

5- Cooperativas Habitacionais............................................................... 66

6- Cooperativas de Eletrificação Rural.................................................. 66

7- Cooperativas de Mineração............................................................... 66

8- Cooperativas Escolares..................................................................... 67

9- Cooperativas-Escola ou Educacionais.............................................. 67

10- Cooperativas de Transporte Rodoviário de Cargas e de Transporte de


Passageiros....................................................................................... 67

11- Cooperativas de Corretores de Seguros........................................... 67

12- Cooperativas Sociais....................................................................... 67

13- Cooperativas de Serviços de Saúde................................................ 68

14- Cooperativas de Trabalho................................................................ 68

I - Cooperativas de Produção.......................................................................... 68

II - Cooperativas Comunitárias de Trabalho.................................................... 69

III - Cooperativas de Trabalho propriamente ditas........................................... 69

MÓDULO III ....................................................................................................................... 71

UNIDADE 4.............................................................................................................. 71

COOPERATIVISMO E AGRICULTURA FAMILIAR......................................... 71

MÓDULO IV – UNIDADES 1 E 2........................................................................................ 75

UNIDADE 1.............................................................................................................. 75

TERCEIRA PARTE – FUNCIONAMENTO DAS COOPERATIVAS................. 75

GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA.................................................. 75


A) O PLANEJAMENTO............................................................................................ 75

1 - Declaração da missão: .................................................................... 76

2 - Visão de negócio da cooperativa...................................................... 76

3 - Análise do entorno onde atuará a cooperativa................................. 76

4 - Análise da realidade do público vinculado à cooperativa................. 76

5 - Diagnóstico da situação da organização.......................................... 76

6 - Fatores críticos................................................................................. 77

7 - Cenários........................................................................................... 77

8 - Definições estratégicas..................................................................... 77

9 - Formulação dos objetivos................................................................. 78

10 - Estratégias de ação........................................................................ 78

11 - Ações.............................................................................................. 78

12 - Distribuição de responsabilidades.................................................. 78

13 - Condições internas......................................................................... 78

14 - Análise do desempenho e de resultados........................................ 78

B) MONITORAMENTO............................................................................................. 78

C ) AVALIAÇÃO........................................................................................................ 79

TERMOS DE REFERÊNCIA.............................................................................................. 79

I - QUESTÕES RELACIONADAS AO DESENVOLVIMENTO HUMANO........ 79

II - QUESTÕES RELACIONADAS À ADAPTAÇÃO AO MEIO......................... 79

III - QUESTÕES RELACIONADAS À EFICIÊNCIA EMPRESARIAL.............. 80

IV - QUESTÕES SOBRE PLANEJAMENTO, OBJETIVOS E RESULTADOS.80

V - QUESTÕES REFERENTES À ESTRUTURA ORGANIZACIONAL .......... 80

VI - QUESTÕES SOBRE O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO............... 81

INDICADORES........................................................................................................ 81

ENCAMINHAMENTOS................................................................................... 81

ESTRUTURA DE PODER E GESTÃO ........................................................... 82

MÓDULO IV – UNIDADES 1 E 2........................................................................................ 85


UNIDADE 2.............................................................................................................. 85

SEGUNDA PARTE – CARACTERIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS................. 85

OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA......... 85

QUESTÕES TRIBUTÁRIAS............................................................................ 85

A) OS DIVERSOS TRIBUTOS................................................................................. 85

1 - IMPOSTO DE RENDA – PESSOA JURÍDICA.................................. 85

2 - IMPOSTO DE RENDA NA FONTE................................................... 86

3 - INSS................................................................................................. 87

4 - CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO (CSLL)..................... 88

5 - CIDE – COMBUSTÍVEIS.................................................................. 88

7 - IPI..................................................................................................... 88

8 - PIS – IN SRF 635/06........................................................................ 88

9 - COFINS – IN SRF 635/06................................................................ 88

10 - PIS E COFINS – EXCLUSÕES DA BASE DE CÁLCULO.............. 88

11 - RETENÇÕES DA LEI 10.833/2003................................................. 89

12 - ISS.................................................................................................. 89

13 - CONTRIBUIÇÃO SINDICAL........................................................... 89

14 - CONTRIBUIÇÃO COOPERATIVISTA............................................. 90

15 - TAXA ASSOCIATIVA....................................................................... 90

TRIBUTAÇÃO POR RESPONSABILIDADE.................................................... 90

I - De responsabilidade da cooperativa:................................................. 90

II - Pagos pela cooperativa em função dos Empregados:...................... 90

III - De responsabilidade do cooperado:................................................ 91

QUESTÕES TRABALHISTAS................................................................ 92
Ícones Organizadores

DEFINIÇÃO
É utilizado ao definir conceitos e significados.

ATENÇÃO
Serão destacados conceitos, ideias e lembretes importantes.
Por isto, sempre que vir este destaque: ATENÇÃO!

SAIBA MAIS
Aprofundamento de ideias, curiosidades, links de sites e textos complementares.

AVALIAÇÃO
Momento de realizar exercícios e avaliações para consolidar o aprendizado.

REFLEXÃO
Momento para refletir sobre as questões apresentadas e aprofundar pontos relevantes.

COMENTÁRIOS GERAIS
É utilizado para sintetizar assuntos abordados a fim de,
facilitar a visão geral dos assuntos explorados.

EXEMPLO
Utilizado no momento em que exemplifica conteúdo ou ideias.
Apresentação
Compreender e praticar o cooperativismo significa, antes de tudo, conhecer o tema
(a partir da prática e do resgate histórico) e estabelecer o compromisso de lutar por justiça
social, por transformação da realidade.

Desde milênios, a humanidade busca encontrar o ponto de equilíbrio entre a felicida-


de individual e familiar e a ação e convivência social.

As cooperativas foram pensadas e deveria ser o instrumento essencial para este ob-
jetivo, fazendo a síntese entre o benefício das pessoas e a construção de um novo ambiente
comunitário em que todos se sintam bem.

Infelizmente, foram apropriadas pelo sistema e, hoje, a grande luta é que sejam reto-
madas pela iniciativa social, especialmente pelos mais pobres.

As finalidades deste trabalho sobre cooperativismo estão situadas, pois, em primeiro


lugar, na compreensão do que é realmente uma cooperativa (empresa associativa que be-
neficia a todas as pessoas que as integram e a comunidade em que está inserida) e suas
características mais nobres na superação da desigualdade social, possibilitando o pleno
exercício de todos da cidadania e da democracia. E, em segundo lugar, reconstruir sua
trajetória emancipadora numa realidade brasileira adversa, marcada pelo predomínio da
ganância e concentração do capital e do poder político em detrimento dos que realizam a
atividade produtiva, dos que produzem a riqueza e bens pelo seu trabalho.

Objetivo geral:

Conhecimento, afirmação e resgate de um cooperativismo solidário, comprometido


com a Justiça Social, contribuindo com o exercício da democracia e cidadania para todos e
todas e a transformação da realidade brasileira.

Objetivos específicos:

1. As pessoas participantes do processo de formação cooperativista conhecendo a


importância e as verdadeiras características do cooperativismo solidário.

2. As pessoas participantes do processo de formação cooperativista se envolvendo


decisivamente no esforço de construção e resgate do cooperativismo como instru-
mento de transformação social.

3. Os agentes públicos envolvidos neste debate assumindo sua responsabilidade


e se empenhando na afirmação de um novo cooperativismo solidário, visando a
liberdade, justiça social e autonomia das camadas populares no Brasil.
Sobre o Autor
Daniel Rech, advogado, licenciado em História, com pós-graduação em
Cooperativismo pela Universidade do Vale do Rio de Sinos/RS, assessor na-
cional da Comissão Pastoral da Terra e membro do Movimento Nacional de Di-
reitos Humanos de 1977 a 1988, integrante da coordenação do Instituto Apoio
Jurídico Popular e coordenador do curso continuado de formação: “Advogados
para um Novo Direito” - AJUP ‑ Rio de Janeiro – de 1988 a 1992, coordenador
da Conferência Internacional - “Terra, Ecologia e Direitos Humanos” - Vitória
– 1992, chefe de departamento e assessor do CERIS (Centro de Estatística
Religiosa e Investigações Sociais), de 1992 a 2007, Secretário Executivo do
Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais de 2007 a 2009, consultor
e assessor de associações, cooperativas de pequenos produtores, movimento
sindical e ONGs sobre direitos humanos e legislação societária brasileira, organização
de associações e cooperativas, planejamento e avaliação de projetos sociais.

Foi professor convidado do CEDOPE da Universidade Federal do Ceará para a


disciplina “Legislação Cooperativista” e “Tópicos Avançados em Cooperativismo” nos
cursos de Pós-Graduação em Cooperativismo e Associativismo e da Universidade Fe-
deral Rural de Pernambuco para a disciplina “Legislação Cooperativista” para o Curso
de Pós Graduação em Associativismo e Cooperativismo.

Assessor jurídico da UNICAFES (União Nacional das Cooperativas da Agricul-


tura Familiar e Economia Solidária) e consultor na elaboração e tramitação de projetos
de Lei relacionados ao tema das Sociedades Cooperativas na Câmara dos Deputados
e Senado Federal. Desde 1996 é consultor externo em metodologia da Organização
Católica Alemã Misereor no Brasil e, atualmente, consultor externo da SDT/MDA.

Gaúcho de Caxias do Sul, mora em Brasília/DF e é autor, entre outros textos, de


“Cooperativas – Uma Alternativa de Organização Popular”. Edição revista e ampliada.
Rio de Janeiro: FASE/DP&A, 2000; “Associações – Como constituir sociedades civis
sem fins lucrativos”, com Sandra Mayrink Veiga. Rio de Janeiro, FASE/DP&A, 2001; “A
organização de pessoas jurídicas no novo Código Civil e as relações de trabalho na le-
gislação brasileira”. Brasília: CONTAG, 2003; organizador, com Cláudio Moser, do Livro
“Direitos Humanos no Brasil – Desafios e Perspectivas”, Rio de Janeiro, CERIS/MAUAD/
MISEREOR, 2003; “Os direitos e a função pública dos catadores e das catadoras de
material reciclável”, in KEMP, Valéria Heloísa; CRIVELLARI, Helena Maria. Catadores
na Cena Urbana – construção de políticas socioambientais. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2008.
Daniel Rech
rechdaniel@hotmail.com
MÓDULO I – UNIDADES INTRODUÇÃO - NATUREZA GERAL
1, 2, 3 E 4 DA COOPERATIVA

A Constituição
UNIDADE 1 Federal diz que “a lei
apoiará e estimulará o
cooperativismo e ou-
INTRODUÇÃO - NATUREZA tras formas de asso-
ciativismo” (Artigo 174,
GERAL DA COOPERATIVA § 2º). Ao reconhecer a
importância do tema, a
Constituição também
volta-se para o reco-
nhecimento da neces-
sidade do incentivo a uma das formas mais consis-
tentes de organização da atividade econômica com
perspectiva social. E coloca a cooperativa como a
principal e mais evidente estrutura do associativismo.

Mas, o que é realmente uma


cooperativa?

Sempre houve muita polêmica sobre as dimen-


sões finalísticas da cooperativa e, em vários momen-
tos ela foi e ainda é confundida quase que como uma
entidade assistencial e, em outros muitos momentos,
ela foi e é considerada com uma simples empresa.
Em ambos os casos, efetivamente, havia razões para
isso pela sua prática, pelas distorções da atuação,
pela incompreensão de sua natureza. O que motivou
tanto desconfianças de uns quanto práticas irregula-
res e muitas vezes ilegais de outros. No entanto, a
cooperativa não é uma organização assistencial
ou beneficente e também não é exclusivamente
uma empresa.

O cooperativismo, de que fala a Constituição


Federal, representa uma iniciativa em que ocorre uma
composição harmônica entre o conceito mais puro do
que é uma associação e o que é uma verdadeira em-
presa não capitalista.

A interpretação desta composição é a que vê


a associação como a superestrutura que estabelece
os fins a serem alcançados pela iniciativa (interesses
dos seus associados) e os meios adequados para
tanto que são fornecidos pela infraestrutura de base
que é a empresa.

13
INTRODUÇÃO - NATUREZA GERAL DA COOPERATIVA

Isso significa que na cooperativa No entanto, por força da nossa Legislação Traba-
não há como separar a associa- lhista (representada principalmente pela Consolidação
ção da empresa. A associação das Leis do Trabalho – Decreto-Lei nº 5.452/1943), os
articula, mobiliza e estabelece trabalhadores foram excluídos da empresa. Observe-
o interesse social. A empresa -se que na definição clássica, os resultados deveriam
responde às necessidades ma- ser distribuídos com todas as pessoas que contribuem
teriais para alcançar estes obje- na produção e na distribuição.
tivos.
No entanto, com a separação do direito do tra-
No entanto, há aqui necessidade de abrir um pa- balho do direito da empresa, os trabalhadores foram
rênteses que enfrente a grande distorção relacionada retirados da distribuição dos resultados e passam a ter
ao sentido da empresa. tratamento específico da regulação do salário e alguns
outros benefícios.

No conceito clássico de em-


Com a “providência” citada acima, a repartição
presa, esta se constitui dos resultados das operações da empresa ficou restri-
como “serviço” para “satis- ta aos donos do capital e não aos responsáveis diretos
fazer as necessidades hu- pela produção, transformando a empresa em “empresa
capitalista”. E a única resistência efetiva frente a este
manas”. Na perspectiva do
processo de consolidação da dimensão capitalista da
serviço, a empresa não bus-
empresa acabou sendo a da cooperativa.
ca o “bem comum das pes-
soas que a integram”, mas Seria como dizer que a cooperativa representa
o modelo clássico de definição da empresa, incorpo-
sim a realização econômica
rando as pessoas que realizam a produção não ape-
da produção com o atendi-
nas em beneficiários dos resultados econômicos como
mento da demanda e este é também em donos da empresa. E, com isso, incorpora
o campo efetivo da coopera- em si, no limite da legalidade brasileira, não devendo e
tiva como empresa. não podendo ser unicamente uma empresa capitalista,
a associação.

Outro fator que vem distinguir a cooperativa da


empresa capitalista é que, sendo esta diretamente vin-
No que se refere a esta perspectiva, é correta
culada aos interesses do capital aportado, o seu obje-
a definição presente em nossa regulação jurídica, de
tivo ultrapassa apenas o atendimento da demanda do
que é empresário “quem exerce profissionalmente
mercado para se dirigir fortemente em direção à maxi-
atividade econômica organizada para a produção
mização dos lucros, dos ganhos, afastando-a do inte-
ou a circulação de bens ou de serviços” (artigo 966
resse social da comunidade que com ela se relaciona.
do Código Civil Brasileiro). E isso é confirmado pelo
A cooperativa, porém, pela sua dimensão associa-
artigo 981 do Código Civil que afirma: “Celebram con-
tiva, precisa manter o vínculo social com a comuni-
trato de sociedade as pessoas que reciprocamente
dade e, por isso, precisa também dosar seu ganho
se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para
mediante o estabelecimento do preço justo e ga-
o exercício de atividade econômica” e acrescenta-
rantindo a justa proporção entre os gastos de pro-
do: “a partilha, entre si, dos resultados”.
dução e os ganhos na comercialização.

Teoricamente, portanto, a empresa, para repe-


Outras características
tir, no nosso ordenamento jurídico tem como finalidade
afastam a cooperativa da em-
a organização da produção de bens e serviços para presa capitalista e a aproxi-
atender à demanda do mercado, repartindo os resul- mam do sentido originário da
tados entre os seus integrantes. E este é o limite da empresa (ou da mescla entre
empresa, mas também a sua “obrigação”. empresa e associação):
14
INTRODUÇÃO - NATUREZA GERAL DA COOPERATIVA

a) A cooperativa deve ser autônoma e autoges- pendentemente de seu objeto, considera-se empre-
tionária nas decisões do seu coletivo, incluindo sária a sociedade por ações; e, simples, a coopera-
todas as pessoas envolvidas, inclusive quem tiva” (Parágrafo único do Artigo 982). No entanto,
realiza a produção, não se subordinando aos surpreendentemente, Resolução da CONCLA (Comis-
interesses do capital. são Nacional de Classificação, vinculada ao Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão) – nº 2 - de
b) Os trabalhadores da cooperativa (que rea-
2011, lançou as cooperativas no campo das Entidades
lizam os bens e serviços) são os donos da
Empresariais, não conseguindo, portanto, reconhecer
cooperativa e não empregados, tendo em
nem a especificidade da natureza jurídica das coope-
mãos o poder de decisão e respondendo por
seus resultados e também assumindo os ris- rativas, muito menos o que determina a lei e menos
cos empresariais. ainda compreendendo sua natureza de empresa não
capitalista.
c) O que norteia o funcionamento interno da
cooperativa como empresa é o “espírito de
Considerando que o
serviço” contrapondo-se à finalidade exclusi-
Código Civil, primeiro, clas-
va de lucro da empresa capitalista.
sificou as sociedades em
Isso tudo significa que, ao contrário da evolução iniciativas com “fins econô-
da empresa para o regime capitalista, a cooperativa micos”; depois colocou as
manteve a sua dimensão originária e, com isso, tornou-
cooperativas entre as so-
-se uma organização excepcional que, na classificação
ciedades simples e, final-
jurídica, foi sendo empurrada de um lado para outro
mente, ressalvou, no artigo
sem que se tenha encontrado efetivamente, na nossa
1.093, a legislação especial
regulação e classificação jurídica, um lugar consistente.
(ou seja a Lei nº 5.764/71) que, em seu artigo 3º define

Agravou a situação o fato de que muitas coope- a cooperativa como uma sociedade “sem objetivo de
rativas também abandonaram a dimensão clássica de lucro”, a classificação correta atual deverá ser de que
empresa para se aproximar perigosamente ou tendo a cooperativa é uma “Sociedade de fins econômicos e
mesmo capitulado ao interesse capitalista, pouco se sem fins lucrativos”, reconhecendo-lhe portanto a fina-
distinguindo do conceito empresarial mais selvagem e
lidade econômica empresarial, mas ressalvando-lhe a
explorador, especialmente dos seus trabalhadores e
finalidade social voltada para seus integrantes (todos
realizadores dos bens e serviços. Além de tentada per-
manentemente em direção à empresa capitalista ou eles, inclusive quem realiza a produção de bens ou
criando desconfianças, é pressionada também por ou- serviços) e vinculada à comunidade em que se insere.
tros setores da sociedade para que se aproxime mais
intensamente do aspecto associativo. Sobre este assunto, ressalte-se,
aliás, que é pacífica, na Doutrina
É verdade que a e na Jurisprudência, a classifica-
cooperativa também é ção da cooperativa como “socie-
uma associação, mas, dade sem fins lucrativos” e, mes-
mesmo assim, a coope- mo que muita gente não queira,
rativa é uma empresa e de viés não capitalista.
deve agir como tal, sendo,
no entanto, empresa não No Julgamento do Recurso Extraordinário –
capitalista, presente tan- RE 467173/DF (DJe-074 DIVULG 24/04/2008 PUBLIC
to no sistema capitalista
25/04/2008) a Ministra Carmen Lúcia do Supremo Tri-
como no socialista.
bunal Federal começa sua decisão dizendo: “As coo-

Este caráter híbrido, característico de associa- perativas são sociedades de pessoas, de natureza
ção/empresa, levou o Novo Código Civil (Lei 10.406 de civil, caracterizadas principalmente, pela mutualidade,
2002) a classificá-la como Sociedade Simples: “Inde- ausência de fins lucrativos e caráter empresarial,...
15
INTRODUÇÃO - NATUREZA GERAL DA COOPERATIVA

(gn)” e o Ministro Marco Aurélio em sua decisão no “associação autônoma”, caracteristicamente em-
Agravo de Instrumento – AI 448952/PR (DJ 23/06/2004 presarial, constituída por pessoas que se unem
PP-00019)também começa pelo seguinte: “ENTIDADE para a produção de bens e serviços e buscando
SEM FINS LUCRATIVOS. 1. Quanto às entidades beneficiar o conjunto de seus integrantes.
sem fins lucrativos, como as cooperativas”...(gn)
Essas pessoas
montam uma entidade
ou instituição de proprie-
dade conjunta (a coope-
rativa), que é controlada
por todos, de maneira
democrática. Os servi-
ços prestados podem
ser de natureza econô-
mica, financeira, social e
educativa, mas precisam
produzir resultados consistentes para a sua viabiliza-
ção.

De acordo com a Organiza-


Ricardo Sordi Marchi diz que: “Mesmo (o Novo ção Internacional do Traba-
lho, cooperativa pode ser
Código Civil) deixando de mencionar as cooperativas,
entendida: “Como uma as-
também por conta da disposição contida na legislação
sociação autônoma de pes-
especial (art. 3º da Lei nº 5.764/71), estas continuam
soas unidas voluntariamen-
sendo consideradas como sociedades sem fins
te para satisfazer suas
lucrativos, mas sempre com fins econômicos (...)
necessidades e aspirações
As Cooperativas, ao final de cada exercício social, efe-
econômicas, sociais e cultu-
tuam a apuração de seus resultados em balanço e, por
rais em comum através da
se tratarem de sociedades sem fins lucrativos, distri-
criação de uma empresa de
buem aos seus associados, a título de sobras líquidas, propriedade conjunta e geri-
o resultado positivo apurado. da de forma democrática”.
(Recomendação sobre a
Isso trata-se na verdade, de devolução dos valo- Promoção das Cooperati-
res adiantados ou retidos para fazer face às despesas vas, de 2002).
operacionais e que não restaram utilizados” (gn)1.

Um equívoco usual, ao se contemplar as coope-


Este apoio, segundo diz a OIT
rativas, é confundi-las (não sem razão, já que muitas
na mesma recomendação, é mo-
agem assim mesmo) com empresas capitalistas (com
tivado e justificado pelo fato de
donos e empregados), não lhes reconhecendo sua di-
que “as cooperativas, em suas di-
mensão associativa e, com isso, misturar o que sejam
versas formas, promovem a mais
“sobras” (característica específica das cooperativas,
completa participação em toda a
retornadas aos que realizam a produção) e o que se-
população no desenvolvimento
jam “lucros” (das sociedades com fins lucrativos, de-
econômico e social”.
correntes do resultado da produção e distribuídas na
proporção da participação no capital da empresa).
No entanto, temos de enfrentar a nossa realida-
de e essa nos indica que há um longo caminho a ser
No entanto, mesmo ocorrendo distorções, a
trilhado para se reconstruir em nosso país o verdadeiro
Cooperativa é (e não deveria ser diferente!), uma
sentido e missão do cooperativismo e recuperar a ver-
1
MARCHI, Ricardo Sordi. Cooperativa no Código Civil de 2002. Revista de dadeira natureza da cooperativa.
Estudos Tributários n° 29, jan/fev/2003, pág. 153.
16
MÓDULO I HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO
NO MUNDO
UNIDADE 2
Partimos do princí-
pio de que é nossa tarefa2
PRIMEIRA PARTE fortalecer o movimento
social e contribuir com
– HISTÓRICO E
os trabalhadores e traba-
INSTITUCIONALIDADE lhadoras na formação da
consciência de classe e
na formulação de alterna-
HISTÓRICO DO
tivas e formas econômi-
COOPERATIVISMO NO cas concretas, que sejam
ao mesmo tempo emancipatórias e viáveis, para a
MUNDO
transformação de sua realidade e a construção de
um mundo justo e solidário. A perseguição desses
ideais mobilizou iniciativas ao longo da história da hu-
manidade, desde a era mais antiga e quase sempre
buscaram auxílio nas mais variadas formas de coo-
peração.

As primeiras notícias de práticas da coopera-


ção são do Antigo Egito (grêmios), da Grécia (orglo-
nas), de Roma (colégios), os “ágapes” dos primeiros
cristãos (citados nos Atos dos Apóstolos da Bíblia),
os “ayllus” dos incas e os “calpulli” dos astecas, na
América.

Todas as iniciativas tinham como característi-


ca a ação conjunta, a busca coletiva da superação
dos problemas das pessoas e a integração a um em-
preendimento que pudesse trazer benefícios para
toda a comunidade.

2
De quem se preocupa com Justiça Social, democracia e dignidade hu-
mana para todos e todas.
17
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO

Pouco se sabe a respeito das possibilidades As experiências desses pioneiros cooperativis-


de regimes de trabalho coletivo da Idade Média, me- tas visavam constituir grupos articulados de trabalha-
diados pela relação senhor do castelo e servo da dores que pudessem resolver os graves problemas da
gleba e pela total dependência deste, seja econômi- dominação e exploração desenfreada do capital e, ao
ca, seja política ou social. No entanto, entrando na mesmo tempo, constituir uma força social que acenas-
Idade Moderna, no processo de transformação mun- se para a melhoria de suas condições de vida.
dial do mercantilismo, uma nova classe se constitui a
partir da própria dependência do senhor do castelo: A orientação ideológica tem base em duas
Os burgueses. Estes eram os habitantes dos bur- vertentes:
gos, aglomerações urbanas mantidas ao redor dos
castelos, cujos habitantes eram serviçais que exe-
a) A vertente socialista que produzirá pensa-
cutavam tarefas diretas da necessidade do senhor,
dores chamados de socialistas utópicos,
seja em relação ao trabalho no campo, ou seja, prin-
preocupados em encontrar soluções para a
cipalmente, nas atividades de produção industrial
classe trabalhadora e a busca de alternativas
(armas, equipamentos). Com o fortalecimento da
ao sistema capitalista. Conhecedores das
capacidade de produção o estabelecimento de uma
mazelas do capitalismo desde a sua origem,
relação de comércio com os senhores dos castelos,
os burgueses partem para a organização conjunta e envolvidos em manifestações acirradas da
(os ofícios, precursores dos atuais sindicatos), se classe operária, especialmente na Inglaterra
apropriam do valor do seu trabalho e acabam por e na França, os socialistas viam na coope-
se impor economicamente aos senhores, tomando o rativa um embrião de uma nova sociedade,
seu lugar (a apropriação do poder político ocorrerá onde as pessoas poderiam trabalhar conjun-
simbolicamente na Revolução Americana de 1776 e, tamente, libertando-se do jugo do capital e
principalmente, na Revolução Francesa de 1789). suprindo interesses pessoais e coletivos. E
as cooperativas poderiam ser uma etapa ou
Com a chegada da burguesia ao poder, se insta- passo em direção à conquista de um novo
la na sociedade também o predomínio do capital seja sistema socialista.
nas relações de comércio como nas relações de traba-
lho e os antigos camponeses (expulsos da terra pelo b) A vertente cristã, formada especialmente por
cercamento das propriedades rurais) e os servos das pastores evangélicos, sacerdotes católicos, pro-
cidades passam a se tornar dependentes da burguesia fessores, magistrados e pensadores que se fun-
que os submete a condições de exploração extrema. damentavam no princípio do amor ao próximo e
que, portanto, se colocavam a necessidade de
Com isso se instaura um novo sistema, o capi- socorrer caritativamente os sofredores e explora-
talista, onde o capital se impõe e o trabalha se torna dos da época.
escravizado e muito explorado.
No campo da vertente so-
A separação social cria uma leva imensa de mi- cialista, um dos mais importan-
seráveis, disponíveis para a subordinação aos novos tes precursores do cooperativis-
senhores gananciosos de lucros e de apropriação de mo de que se têm notícias a
bens e produz índices de miséria nunca vistos na his- pensar e propor alternativas à
tória da humanidade. dominação ao capital foi um em-
presário no ramo de têxteis, Ro-
Frente a isso, a partir do Século XVIII, diversas bert Owen (1771-1858) que de-
pessoas passam a refletir e a se preocupar com os ma- sejava entregar suas fábricas
lefícios e descalabros do mercantilismo e do capitalismo aos trabalhadores. Grande empresário e socialista utó-
e começam a debater possibilidades de organização pico, Owen influenciou o pensamento de Marx poste-
que tanto resolvesse os problemas dos trabalhadores riormente. Tomou a si a tarefa de encontrar uma solução
explorados como pudesse ser base para a construção para a exploração do trabalho, considerando que os tra-
de uma nova sociedade. Destaca-se aqui, no campo do balhadores deveriam assumir a indústria e se beneficiar
nosso interesse, a presença dos que se constituíram do seu esforço. Suas primeiras experiências, por volta
nos chamados “precursores ou pais do cooperativismo”. de 1817 a 1822, resultaram em fracassos. A proposta
18
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO

era que os trabalhadores se organizassem coletivamen- produção que eventualmente possuíssem e colocariam
te e assumissem inteiramente tanto a gestão como os na cooperativa os ganhos excedentes que conseguis-
resultados do empreendimento. No entanto, sem prepa- sem economizar. Sua atuação inspirou a criação de coo-
ração anterior, sem capacidade instalada de gestão e perativas de produção coletiva, integradas ao ramo do
negociação, sem condições efetivas de manter a unida- trabalho, com extensão de crédito, já a partir de 1832.
de do grupo, as fábricas entraram em falência. Entretan-
to, desta experiência resultaram os princípios válidos até Louis Blanc (1812-1882),
hoje de que a coesão e o entendimento no grupo que francês, também seguiu a linha
assume a cooperativa é essencial e que, as pessoas de inspiração socialista e influen-
que se associam à cooperativa devem se preparar para ciou também as ideias de Marx4.
o empreendimento, tanto na sua capacidade de atuar Blanc propunha que fossem cria-
em conjunto como no domínio dos mecanismos de ges- das associações profissionais de
tão e realização de negócios. Posteriormente, após bre- trabalhadores, de viés cooperati-
ve experiência nos Estados Unidos, Owen se dedicou vo, de um mesmo ramo de pro-
inteiramente ao cooperativismo na Inglaterra, promo- dução, as chamadas Oficinas
vendo uma rede de cooperativas e incentivando a atua- Nacionais, e estas seriam financiadas pelo Estado. O lu-
ção sindical dos trabalhadores. cro seria dividido entre o Estado, os associados e parte
deveria ser destinada para fins assistenciais. Propunha,
“O objetivo primordial e necessário de portanto, a organização econômica dos trabalhadores,
toda a existência deve ser a felicidade”, escre- mas com uma presença apoiadora mais incisiva do Es-
veu Owen, “mas a felicidade não pode ser obtida tado que ficaria a serviço destas organizações.
individualmente”3.
William King (1786-1865) na Inglaterra foi pro-
Na mesma linha de refle- motor especialmente de cooperativas de distribuição,
xão socialista, temos as expe- conhecidas atualmente como de consumo. A partir de
riências organizativas de traba- 1828, conseguiu incentivar a criação de mais de 300
lhadores do francês Charles cooperativas. Voltado na perspectiva de ajudar os po-
Fourier (1772-1837). Ele é o bres a superar suas dificuldades, acabou por ser asso-
inspirador das unidades de pro- ciado da famosa Cooperativa de Rochdale.
dução e consumo - as falanges
ou falanstérios - baseadas em Finalmente, entre os principais nomes, há de se
uma forma de cooperativismo integral e autossuficien- citar Ferdinand Lasalle (1825-1864), político e grande
te. Propunha também que as comunidades se organi- constitucionalista alemão, pai da Social Democracia,
zassem nos falanstérios, onde cada pessoa trabalharia que via nas cooperativas um instrumento de luta do
no que quisesse. Fourier influenciou a criação da Colô- operariado para superar a exploração do capital.
nia Cecília, no Paraná, em 1890.
Na época de Lasalle, Friedrich Engels5 vai mais
Mesclando a inspiração socialista com o cristia- adiante e propõe à população camponesa a necessi-
nismo, Philippe Buchez (1796-1865), também francês, dade de adotar um sistema de exploração coletiva da
propõe a reorganização da vida terra e dos meios de produção através da cooperativa
econômica da sociedade, que se para se constituir como sujeito político revolucionário:
constituiria num “Novo Cristianis- “Nosso dever para com o pequeno camponês e, em
mo”. Este se realizaria na coloca- primeiro lugar, o de fazer passar sua propriedade e
ção nas mãos da classe operária a sua exploração individual à exploração coopera-
a possibilidade de vencer por si tiva”. E, isso, segundo Engels era porque é “a explo-
mesma, excluindo a intervenção ração individual, condicionada pela propriedade in-
do Estado e também de iniciati- dividual, que conduz os camponeses à ruína. Se se
vas filantrópicas. Na perspectiva 4
Karl Marx (1818-1883), pensador e economista alemão, fez a análise do
de Buchez, os trabalhadores associados contribuiriam sistema capitalista, compilada na obra monumental “O Capital”, e propôs
alternativas aos trabalhadores, a partir de sua união e do processo de
com a cooperativa com o seu trabalho e os meios de conquista do poder, para construir sua hegemonia social e política.
5
Friedrich Engels, teórico e revolucionário Alemão (1820-1895), foi parceiro
3
HOBSBAWN, Eric.J. A era das Revoluções (1789-1948). Rio de Janeiro, de Marx em diversas publicações e no desenvolvimento das ideias do
Paz e Terra, 1981, pág.263. socialismo científico.
19
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO

aferrarem à exploração individual, serão inevitavel- As comunidades rurais na Alemanha enfrenta-


mente desalojados de suas casas e de suas terras e vam uma severa escassez de instituições financeiras.
seu método antiquado de produção será substituí- As Cooperativas eram muito pequenas com sazonali-
do pela grande exploração capitalista”. A alternativa, dade dos fluxos de caixa e limitados recursos huma-
segundo Engels, é que “eles mesmos implantem a nos. Os membros das cooperativas de Raiffeisen eram
grande exploração, não por conta do capitalista, se- geralmente mais pobres do que seus contemporâneos
não por sua própria conta, coletivamente”6. urbanos. Muitos eram ex-servos, libertados em diver-
sas partes da Alemanha entre 1800 e 1848. Assim, as
As propostas socialistas para a organização dos primeiras iniciativas Raiffeisen foram desencadeadas
trabalhadores em cooperativas eram realmente muito entre os anos de 1847 e 1848 como sociedades de
atraentes, considerando os contratos de trabalho abu- auxílio-mútuo para atender às necessidades dos agri-
sivos, a exploração da mão-de-obra e os salários mi- cultores da região de Flammersfeld, Alemanha. Em
seráveis. Vinham efetivamente de encontro aos seus 1854, Raiffeisen fundou outras sociedades dessa na-
sonhos mais acalentados a respeito do seu futuro e, tureza em Heddesford, que depois foram substituídas
ao mesmo tempo, explicitavam concretamente formas
por cooperativas de crédito.
de luta de resistência contra a opressão da exploração
capitalista e uma crítica aos seus valores e práticas.
As cooperativas Raiffeisen tinham responsa-
bilidade solidária e ilimitada quanto aos negócios
Eric J. Hobsbawn, falando do período em seu
realizados pela sociedade, grande valorização da
livro “A Era das Revoluções”, afirma:
formação moral dos associados, não remunera-
ção dos dirigentes da sociedade, não distribuição
“... a própria novidade e a rapidez da mudança
de retorno, guardado em fundo, defesa da ideia de
social que os envolvia, encorajava os trabalhadores
organização de um banco central para atender às
a pensar em termos de uma sociedade totalmen-
necessidades das cooperativas de crédito.
te diversa, baseada na sua experiência e em suas
ideias em oposição às de seus opressores. Seria
Os métodos organizacionais de Raiffeisen cria-
cooperativa e não competitiva, coletivista e não in-
ram o hoje conhecido capital social, tornando uma ca-
dividualista. Seria “socialista”, e representaria não
racterística marcante da identidade das cooperativas
o eterno sonho da sociedade livre, que os pobres
de crédito. Para contornar as pequenas e irregulares
sempre levam no recôndito de suas mentes, mas na
disponibilidades de dinheiro nas comunidades rurais,
qual só pensam em raras ocasiões de revolução so-
as cooperativas Raiffeisen esperavam de seus admi-
cial generalizada, e sim uma alternativa praticável e
permanente para o sistema em vigor”7. nistradores o trabalho voluntário, com apenas os cai-
xas recebendo um pequeno pagamento. Sacerdotes,
De viés mais cristão, temos as experiências professores e demais moradores foram instruídos a
de sucesso no campo das cooperativas de crédito de servir voluntariamente, muitas vezes inspirados pelos
Friedrich Raiffeisen (1818-1888) e Shultze-Delitzsch valores cooperativistas do movimento de Raiffeisen.
(1808-1883), na Alemanha, na Itália com Luigi Luzzat-
ti (1841-1947) e Alphonse Desjardins, no Canadá e As cooperativas de crédito Schulze-Delitzsch
a proposta inovadora para a época da “República Coo- surgiram por volta do ano 1849. Foram idealizadas
perativista” do francês Charles Gide. por Hermann Schulze (1808-1883), magistrado nas-
cido em Delitzsch, que fundou bancos populares
As primeiras cooperativas de crédito rural surgi- entre os artesãos e foi o autor do projeto que ser-
ram na Alemanha, por iniciativa de Friedrich Wilhelm viu de base à elaboração do primeiro Código Coo-
Raiffeisen (filho de lavrador e depois prefeito), que fun- perativo, promulgado em 27 de março de 1867, na
dou as “Caixas de Crédito Raiffeisen”. A primeira destas Alemanha.
cooperativas de crédito, fundada em 1864, chamava-
-se Heddesdorfer Darlehnskassenveirein (Associação Schulze não tinha uma proposta revolucionária
de Caixas de Empréstimo de Heddesdorf). (como, aliás, nem Raiffeisen) e entendia que a associa-
ção é o meio encontrado pela sociedade para atuar de
6
Cit. in A questão agrária – org. de José Graziano da Silva e Verena Stolcke
– trad. de Edgard Afonso Malagodi, Sandra Brizolla e José Bonifácio de S. forma eficaz em setores que o Estado não consegue
Amaral Filho – São Paulo: Editora Brasiliense, 1981, págs. 74 e 75.
7
HOBSBAWN. Eric. Op. Cit. Idem, ibidem. Págs. 230/231. atingir.
20
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO

A primeira cooperativa de crédito, de caráter ur- pessoais, bem como conduzi-los à prática da auto-
bano, foi fundada em 1856 na cidade alemã de De- gestão democrática e à autoproteção contra os abu-
litzsch por Herman Schulze. Caracterizava-se por pre- sos do sistema financeiro. Preocupado em fortalecer
ver o retorno das sobras líquidas proporcionalmente as instituições cooperativistas e promover a unidade
ao capital, por ter área de atuação não-restrita e por do movimento, Desjardins empenhou-se em construir
remunerar seus dirigentes. Além disso, eram suas ca- um sistema federado, com um órgão centralizador que
racterísticas: embora adotando a ajuda mútua, admitia oferecesse a prestação de serviços de educação, assis-
auxílio de caráter filantrópico, o capital da sociedade tência técnica, divulgação das cooperativas de crédito e
era constituído de quotas-partes integralizadas pelos promovesse a estabilização econômica das cooperati-
associados, adotando o princípio de self-help (mútua vas mediante a constituição de uma Caixa Central.
ajuda), havia a constituição de fundo de reserva, ge-
ralmente limitado a dez por cento do capital subscrito, O modelo Desjardins teve rápida expansão em
distribuição dos ganhos entre os sócios sob a forma de todo o mundo. A caixa popular Central era vista como
dividendo e responsabilidade solidária e ilimitada dos uma sociedade cooperativa de poupança e de crédito,
sócios pelos negócios da entidade. com capital variável e responsabilidade limitada. Era
uma cooperativa porque reunia pessoas que juntavam
Observe-se que a abordagem da Raiffeisen foi suas poupanças em comum para se servirem mutua-
construída sobre muitos aspectos da Schulze’s, mas mente com crédito a juros baixos. Por isso, segundo
com modificações significativas que tiveram implica- Desjardins a primeira tarefa tinha a característica de
ções importantes para o microfinanciamento. Enquan- uma verdadeira maratona: educar as pessoas para a
to Schulze poderia utilizar, em grande medida, uma poupança sistematizada, para o crédito mútuo e para o
abordagem comercial, a visão de Raiffeisen enfrentou trabalho organizado.
o problema da pobreza das populações rurais, explo-
rando os fortes laços de solidariedade e profundos va- Charles Gide (1847-1932), francês, desen-
lores cristãos na aldeia típica (o que vai influenciar os volveu uma teoria sobre a organização integral da
nossos antigos fundos de mútuo). sociedade a partir das cooperativas de consumo.
Caso as cooperativas de consumo pudessem atender
Sob a inspiração das cooperativas Raiffeisen e todas as necessidades das pessoas, não haveria ne-
Schulze-Delistzsch, surgiram também outras coopera- cessidade da busca do lucro e, portanto, seria elimina-
tivas de crédito, entre as quais destacam-se as do tipo da a prática da exploração. A cooperativa coordenaria
Luzzatti, na Itália. As cooperativas do tipo Luzzatti, os a realização de atividades por outras empresas e as
chamados bancos populares, foram idealizadas por decisões seriam dos trabalhadores cooperativados. E
Luigi Luzzatti, político, escritor e professor universi- o Estado estaria encarregado apenas da planificação
tário. Adotavam o princípio do self-help, mas admi- da economia, de forma orientadora e não imperativa.
tiam ajuda estatal sob a forma de suporte, até que a
sociedade fosse capaz de assumir por sua própria O grupo de Gide constituiu o que veio se cha-
conta e risco todas as responsabilidades do negócio. mar de “Escola de Nimes”. Em 1889, numa conferência,
Gide se referiu às suas ideias como a proposição de
No início do século XX (no ano de 1900) surgiu, uma verdadeira “República Cooperativa”.
no Canadá, o cooperativismo de crédito Desjardins.
Idealizado por Alphonse Desjardins. Essa espécie de Diante desses nomes todos e de múltiplas
cooperativa de crédito foi inspirada nos modelos Raif- ideias, é essencial observar que as experiências
feisen, Schulze-Delitzsch e Luzzatti, na tradição dos cooperativadas na Europa e, posteriormente no Ca-
saving banks dos Estados Unidos e nos valores religio- nadá e Estados Unidos tinham a perspectiva de en-
sos vivenciados por seu idealizador. contrar soluções para as graves injustiças produzi-
das pelo domínio do capital sobre as pessoas, seja
O modelo criado por Desjardins unia as fun- na inter-ajuda entre os mais ricos com os mais po-
ções de poupança e de crédito popular com o intuito bres (Raiffeisen) ou na organização das comunida-
de, mediante o auxílio mútuo, criar nos cooperados des para resolver problemas comuns (Luzzatti) ou na
o hábito da economia sistemática para o atendi- possibilidade dos trabalhadores assumirem o pro-
mento de necessidades profissionais, familiares e cesso produtivo de forma autônoma (como propunha
21
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO

Owen e Gide, entre outros). No entanto, em momen- dez mais tarde o “Armazém de Rochdale” já contava
to algum estas cooperativas, com exceção principal- com 1.400 cooperantes e a cooperativa existe até hoje.
mente das experiências francesas no campo do coo-
perativismo do trabalho, tinham realmente como O grande interesse por esta cooperativa, no en-
perspectiva a superação do sistema capitalista ou a tanto, deve-se não apenas ao fato de que existe até
proposta de hegemonia da classe trabalhadora. hoje ou que teve sucesso efetivo, tendo sido inclusive
base para os debates na formação da Aliança Coope-
Esta preocu- rativa Internacional. No nosso ponto de vista, também
pação, voltada para a não se tornou símbolo por ter propiciado a um grupo de
viabilização da vida no pessoas especialmente pobres a superação de suas
limite do sistema, tam- dificuldades econômicas. Rochdale se tornou especial-
bém foi a que motivou mente célebre (a ponto de inúmeros livros e manuais
que, em 21 de dezem- falarem dela, equivocadamente, como a primeira coo-
bro de 1844, no bairro perativa do mundo) por dois motivos:
de Rochdale, em Man-
chester (Inglaterra), 27 tecelões e uma tecelã fundas- a) Porque a proposta dos cidadãos de Rochdale
sem a “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”, não era revolucionária. Ao contrário, eles não
considerada a primeira cooperativa formal da idade confrontaram o sistema capitalista, mas se
contemporânea, a partir da economia mensal de uma adequaram e mostraram a possibilidade de
libra de cada participante durante um ano. êxito do empreendimento, sem rompimentos
sociais ou políticos.
Tendo a pessoa como principal finalidade -
b) Porque os Pioneiros de Rochdale enquadra-
e não o lucro, os tecelões de Rochdale buscavam
ram as cooperativas em princípios formais, ale-
naquele momento uma alternativa econômica para
gremente assumidos pela Aliança Cooperativa
atuarem no mercado, frente ao capitalismo ganan-
Internacional e outras organizações e, inclu-
cioso que os submetiam a preços abusivos, explo- sive são repetidos em nossa Lei nº 5.764/71,
ração da jornada de trabalho de mulheres e crian- retirando de sua natureza o viés que contém
ças (que trabalhavam até 16h) e do desemprego uma proposta transformadora da sociedade.
crescente advindo da revolução industrial.

Com sede em San José,


na Costa Rica, a ACI Amé-
ricas tem o objetivo prin-
cipal de promover o repo-
sicionamento do modelo
de cooperação em novas
organizações econômicas,
políticas, sociais e comer-
ciais e apoiar os membros
da ACI Américas na divulga-
ção e defesa da identidade
cooperativa, a promoção de
negócios e desenvolvimen-
to de recursos humanos.

A constituição de uma pequena cooperativa de


consumo no então chamado “Beco do Sapo” (Toad No geral, considerando o conjunto da história
Lane) sistematizou a mudança de padrões econômi- do cooperativismo moderno e contemporâneo, mesmo
cos da época e deu origem, mesmo havendo inúmeras com nuances diferenciadas, o cooperativismo tentou es-
cooperativas fundadas anteriormente, ao movimento tabelecer, e isso talvez seja uma grande virtude sua, um
cooperativista moderno e formal. A iniciativa foi motivo meio termo entre a supremacia do capital na sociedade
de deboche por parte dos comerciantes, mas cerca de e o que os socialistas tentavam formular como sua pro-
22
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO

posta alternativa. Neste sentido, o pensamento associa- As de produção agrícola, mais notórias, foram
tivista e a prática cooperativa tentaram e procuraram se chamadas de “Kolkhozes” e se dividiam em comunas
desenvolver (lamentavelmente, com nem tanto sucesso, (os meios de produção e os bens de consumo são co-
afirme-se) como possibilidade autônoma tanto ao indivi- muns), artéis (associações de trabalho onde os meios
dualismo liberal quanto ao socialismo centralizado. de produção são comuns, mas os bens e resultados
do trabalho são familiares); e tozes (cooperativa de
O que ocorreu, na verdade, é que o cooperativis- trabalho, na qual os camponeses colocam em comum
mo mundial surgido em fins do Século XVIII não con- apenas os instrumentos de trabalho).
seguiu aplicar, manter ou garantir a sua característica
principal de servir às suas comunidades, às pessoas A forma predominante logo após a revolução
mais humildes, incapazes de atender às exigências do comunista foram as comunas. Depois, também toma-
capital ou das restrições aos seus empreendimentos. ram força os tozes, mas, considerando o período todo,
foram os artéis que se impuseram, ultrapassando o
Os pioneiros citados e outros entendiam que
número de 650.000, com milhões de membros. Na ver-
era preciso orientar as pessoas para a vida em gru-
dade, os artéis, que tinham como base a família e a
po, na ajuda mútua, em esforço coletivo, e para a
solidariedade entre os componentes, teve seu início de
formação de quadros que pudessem assumir efe-
implantação ainda no século XIX, sob o domínio dos
tivamente suas cooperativas. Porém, além de suas
czares, e isso talvez explique o porquê da sua expan-
funções econômicas, as cooperativas desempenha-
são e maior aceitação entre os camponeses.
vam o papel de sociedade beneficente, de sindicato e
até de universidade popular, muitas vezes ampliando
Na China, o sistema predominante no setor de
sua intervenção e, mesmo, conseguindo atuar em múl-
produção foi a comuna, só que com maior autonomia
tiplos setores da sociedade.
que na União Soviética. A remuneração da atividade
produtiva também era diferente. Enquanto na União
Em vários momentos, tornaram-se uma exce-
Soviética cada participante recebia segundo o seu
lente alternativa de organização popular. Em muitos
trabalho, na China a remuneração dos participantes
outros, foram apropriadas pelos setores dominantes
era segundo as necessidades básicas de cada um.
do capital ou pelo controle do Estado, como ocorreu
No entanto, na China, mais do que as cooperativas de
em muitos países do mundo. Perderem, com isso, fre-
produção, as que estiveram presentes em toda a parte
quentemente, sua possibilidade de ser instrumento de
foram as cooperativas de crédito rural que chegaram
transformação social pela opção apenas na direção da
a mais de 450.000, com pelo menos 200 milhões de
eficiência empresarial.
membros.
Talvez, por tudo isso, o Século XX tornou-se o pe-
Israel, mesmo sendo um país essencialmente
ríodo de maior consolidação do cooperativismo, saindo
capitalista, também implementou uma forma típica de
da Europa e chegando na América, na Ásia e na África.
cooperativa socialista, com os seus “Kibutz” (espécie
Na antiga União Soviética, principalmente após de cooperativa comunitária de produção agrícola) ou os
a revolução de 1917 e especificamente junto à popula- “moschav” (comunidade de agricultores na qual cada
ção do campo, dois tipos de cooperativas foram incen- um dirige sua granja, sendo o cooperativismo praticado
tivados: As cooperativas de consumo e as cooperati- nas operações de compra e venda), ou os” moschav
vas de produção agrícola. shituf” (com uma só empresa agrícola explorada em
comum por todos os habitantes de uma determinada
região e cujas rendas são distribuídas entre as famílias
segundo suas respectivas necessidades). A proprie-
dade da terra é do Estado e a cooperativa é pensada
como se fosse uma “aldeia”, com sua vida própria e suas
relações consolidadas. A forma da qual no Brasil se tem
mais notícia a respeito das cooperativas em Israel, é o
kibutz. É uma organização comunitária onde a produ-
ção e o consumo são totalmente comunitários e onde
tudo é partilhado, inclusive a habitação e a comida.
23
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO

Outros países socialistas desenvolveram progra- nia entre as pessoas, seus interesses e necessidades,
mas cooperativados, mas sempre pesou, nos governos e a sociedade ou grupos), isso não acontecia, porque
de gestão centralizada, o problema da autonomia onde a concentração da riqueza e do poder e o uso da for-
as autoridades públicas perderiam o controle das deci- ça continuaram impondo um pequeno grupo sobre a
sões e encaminhamentos. Note-se, neste sentido, que maioria. Para suavizar esta dominação e injustiça, fór-
este não se constituiu problema apenas nos países de mulas foram elaboradas, teorias foram desenvolvidas,
experiência socialista, tendo sido preocupação central métodos foram oferecidos. Os socialistas por um lado,
inclusive dos nossos governantes brasileiros tanto em os liberais por outro, e os intervencionistas pela mar-
relação ao cooperativismo como em relação ao asso-
gem, propondo uma fórmula intermediária que poderia
ciativismo em geral e ao sindicalismo, com programas
ser o estado, a família, a igreja e, finalmente, a socie-
autoritários de controle, intervenção e unicidade cen-
dade cooperativa.
tralizada de representação.

Por isso é que, nas primeiras experiências de


No entanto, a história do cooperativismo, seja
cooperativa - entre as quais se situam os pioneiros de
sob uma perspectiva socialista ou capitalista, fica a de-
Rochdale -, imediatamente foi assumida a proposta
ver ainda a retomada do modelo original de cooperati- da eliminação do lucro ( com a retenção do excedente
va proposto por Robert Owen. Esta lição que explicita e retorno apenas de sobras) e, depois, o fim da con-
a verdadeira dimensão do que seria “autonomia” (não corrência interna e a simplificação da repartição dos
apenas produzir, mas também conhecer e ter condi- ganhos mesmo que, inclusive em Rochdale, continue
ções de conduzir) e que fornece os elementos básicos presente a individualização da participação no capital
para o sucesso da iniciativa cooperativista, continua da cooperativa.
sendo a base mais importante da reflexão social em
relação ao uso do instrumento chamado ‘cooperativa’. Foi na Europa que esta perspectiva de correção
do sistema capitalista tomou mais fôlego. As coopera-
No grupo das experiências de inspiração cristã, tivas logo progrediram e nos países do norte europeu,
profundamente alinhada com o pensamento liberal e 60% da população era cooperativada em 1965. Atual-
fisiocrata capitalista, as cooperativas sempre foram vis- mente, as cooperativas de produção são responsáveis
tas, como já dissemos, como um instrumento de corre-
pela colocação da maior parte dos produtos agrícolas
ção de alguns defeitos do sistema capitalista.
no mercado, especialmente na Suécia, Dinamarca,
Finlândia e Noruega; e na Inglaterra e Suécia, cerca
Esta perspectiva, um tanto romântica e conve-
de 50% das famílias estão vinculadas a cooperativas
niente, foi, na verdade, a assumida nos países capita-
listas e tornou-se a base da nossa legislação e política de consumo.
cooperativista. Neste caso, a cooperativa viria apenas
atenuar as características egoísticas e concentradoras Nos Estados Unidos, apesar das iniciativas de
de capital do sistema vigente. Esta foi uma das preocu- cooperação terem partido sempre de imigrantes euro-
pações de múltiplas experiências pela mundo e tam- peus, nas últimas décadas expandiram-se em todo o
bém é a base ideológica da estrutura cooperativa bra- país as cooperativas de crédito, tendo inclusive mon-
sileira atual. tado um imenso esquema bancário que, na última dé-
cada, entrou em crise devido a problemas de liquidez.
O grande dilema histórico apresentado no capi- Além disso, 98% das propriedades rurais daquele país
talismo em relação à atividade econômica era de que o são atendidas por eficientes cooperativas de eletrifica-
contrato do trabalho e dos negócios, teoricamente fun- ção. No global, 22% da população estado-unidense é
dado na livre decisão entre as partes, acabava sendo cooperativada.
unilateral e produzia gradativamente uma escravidão
absoluta dos mais fracos. Na França, 25% da população é cooperativada,
na Argentina, 20% e na Índia, 10%.
Mesmo que os economistas clássicos e fisiocra-
tas dos Séculos XVIII e XIX (e muitos dos atuais tam- No entanto, que tipo de coopera-
bém) defendessem com unhas e dentes a excelência tivismo estas cooperativas exer-
do novo sistema capitalista (onde haveria uma harmo- cem?
24
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO

No geral, são quando muito o reflexo atenuado


na organização empresarial quando não são empre-
sas capitalistas totais. Isso foi decorrente do fato de
que a absorção da ideia cooperativa pelo sistema ca-
pitalista inviabilizou as possibilidades da cooperação
total e, com exceção de algumas experiências em paí-
ses com tradição cultural coletivista, as cooperativas
capitularam quase sempre ao predomínio do capital
e acabaram por pender muito mais em direção a em-
presas com características profundamente comerciais
e pouco se importando com os interesses dos seus
associados.

Além disso, a permanente pressão e necessi-


dade de enfrentamento da concorrência provocaram,
em quase todos os países capitalistas, dificuldades de
relacionamento no conjunto do movimento cooperati-
vista. Isto desencadeou, em determinados momentos,
verdadeiras lutas para a conquista e manutenção de
espaços comerciais e mercados (caso típico é o tra-
tamento dado às cooperativa de consumo no Brasil a
partir de 1997), colocando cada uma isolada na luta
pela própria sobrevivência e afastando a possibilidade
de que se pudesse pensar o cooperativismo como em-
brião de uma sociedade mais solidária.

Outro problema se refere à questão do lucro, já


que, mesmo tendo o nome de sobras, nem sempre o
espírito inicial de “não buscá-lo” se mantém nas opera-
ções de compras, vendas e retorno aos sócios8. Final-
mente, nas relações internas, na estrutura das coope-
rativas ocorrem, também, problemas com promoções
pessoais à custa de outros, criando disparidades de
capitalização e concentração de poder, além de sérios
arranhões na democracia.

Mas, isso não significa que a proposta não con-


tinue sendo interessante e possa ser um valioso instru-
mento para a superação dos atuais problemas pelos
quais passam os trabalhadores. Para isso, no entanto,
será necessário apostar na sua capacidade de assu-
mir formas de produção autônoma (superando o jugo
do contrato de trabalho e a perspectiva do emprego
subordinado) dos trabalhadores e nas possibilidades
de gestão econômico-financeira de forma coletiva. Tal-
vez isso seja um passo demasiado grande para muita
gente mas, sem dúvida nenhuma, será o nosso maior
e mais importante desafio para o futuro.
8
Na Itália, para que a cooperativa seja beneficiada pela não incidência de
tributos, adota-se o princípio do “mutualismo”, em que não há distribuição
de sobras, mas os resultados financeiros positivos são aplicados nas fina-
lidades da cooperativa e em processos de capitalização e financiamento
dela ou de seus associados.
25
26
MÓDULO I HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO
NO BRASIL
UNIDADE 3
Provavelmente, o
cooperativismo no Brasil
PRIMEIRA PARTE – HISTÓRICO já existia antes mesmo
do próprio descobrimen-
E INSTITUCIONALIDADE
to em 1.500, com as
ações coletivas das co-
HISTÓRICO DO munidades indígenas in-
tegradas a uma proposta
COOPERATIVISMO NO BRASIL
de sobrevivência e ma-
nutenção da natureza
para todas as pessoas.

No entanto, da
história, após a chega-
da dos colonizadores
portugueses e espa-
nhóis, que conhece-
mos, a primeira expe-
riência de cooperação
mútua, estabelecida
a partir de 1610, foi a
fundação das Reduções Jesuíticas no sul Brasil, com
a tentativa de construção de um estado cooperativo
em bases integrais. Por mais de 150 anos, esse mo-
delo que unia a contribuição de padres jesuítas com a
atuação das comunidades indígenas deu exemplo de
sociedade solidária, fundamentada no trabalho cole-
tivo, no princípio do auxílio mútuo, onde o bem-estar
das pessoas e da família se sobrepunha à acumula-
ção econômica da produção.

A experiência das reduções foi destruída pe-


los interesses dos estados colonizadores do Brasil,
preocupados com a formação de um poder popular
decorrente da organização econômica. E partir daí
percorremos uma longa história posterior do horror
escravocrata até quase o fim do Século XIX. Neste
período, as breves iniciativas de organização social e
apropriação de valor econômico foram esmagadas e
a nossa legislação seguiu seu caminho de privilegia-
mento dos “amigos do rei” e detentores do capital e
impedimento a qualquer iniciativa autônoma dos tra-
balhadores e setores da população pobre.

A partir de meados do século XIX, com a che-


gada de novos migrantes, especialmente alemães,
poloneses e italianos, e com o costume dos filhos
dos fazendeiros de ir estudar na Europa e voltando
com formação liberal, começa a chegar também a
ideia cooperativista ao Brasil, mas sem maior preo-
27
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

cupação social. Assim, as primeiras cooperativas inclui-las entre as pessoas jurídicas de direito privado,
formais no Brasil representavam especialmente a determina que as cooperativas poderão se constituir
busca da viabilização da pequena produção (caso sem prévia autorização, assim como os sindicatos. Para
emblemático é o da Colônia Cristina no Paraná, o Código Civil de então, as cooperativas eram socieda-
de 1886) ou as possibilidades de atender neces- des civis, mas a sua atuação mercantil estava regulada
sidades de consumo (empregados de empresas pelo Código Comercial de 1850. É essencial observar a
públicas em São Paulo), ou na linha da experiência respeito disso, que o Código Comercial tinha sido cons-
pioneira de Rochdale na Inglaterra, ou de crédito truído com visão patrimonialista e especificamente para
(por influência alemã no Rio Grande do Sul), e pou- a proteção e incentivo à concentração do capital (só
co depois de algumas cooperativas no Nordeste podia constituir uma empresa quem tivesse capital) e,
conduzidas e dominadas pelos fazendeiros com por isso, as cooperativas (de característica social e não
formação europeia. empresarial) passam a ser constituídas apenas se pu-
dessem estabelecer a base de um capital social próprio
Há de se observar que, no geral, se tratavam de (o que criava dificuldades, evidentemente), o que veio
iniciativas bastante informais, as quais tiveram pratica- a ser modificado apenas em 2002 com o Novo Código
mente a primeira atenção do Estado na Constituição de Civil. Esta linha, aliás, foi consolidada pelo Decreto nº
1891 que, em seu artigo 72, § 8°, se refere à possibilida- 1.637, de 5 de janeiro de 1.907, o qual, mesmo não es-
de de regulação da organização de sindicatos e coope- tabelecendo uma forma própria de constituição para as
rativas. Na verdade, nem se pode dizer que eram coope- cooperativas, definia o paralelo com as sociedades co-
rativas no sentido amplo da palavra, mas quando muito merciais, em nome coletivo, em comandita e anônima.
alternativas para a solução de problemas econômicos Referido Decreto mantinha, porém, a ampla liberdade
ou, no máximo, de inserção na modernidade liberal. de constituição e funcionamento, não havendo subordi-
nação a qualquer órgão estatal.
O grande e primeiro momento significativo do
cooperativismo no Brasil acontece no início do Século Este período dos 30 primeiros anos do Século
XX quando, fruto da ação de padres católicos e pasto- XX é um momento importante nas possibilidades do
res luteranos, começam a se estabelecer os chamados cooperativismo no Brasil, com o surgimento de muitas
“fundos de mútuo” paroquiais e as caixas rurais que evo- experiências que atenderam, principalmente, as ne-
luiriam posteriormente para as cooperativas de crédito, cessidades de produção e comercialização da peque-
sendo exemplo a primeira cooperativa de crédito de Nova na produção agrícola familiar.
Petrópolis no Rio Grande do Sul (fundada em 1902).
No entanto, em 1932, já sob governo de Getúlio
Assim, a partir disso, o cooperativismo, como o Vargas, é apresentada a primeira lei especifica do coo-
sindicalismo, de viés aberto e espontâneo, começa a perativismo brasileiro que, apesar de diretamente vol-
se expandir e a se fazer presente especialmente nos tada para o cooperativismo de trabalho, enquadra as
estados do sul. cooperativas nos princípios formais compilados pela
experiência de Rochdale, e estabelece claramente um
Mesmo que profundamente influenciado pelas controle mais específico do Estado sobre as mesmas.
ideias do cooperativismo conservador europeu, o nos-
so cooperativismo, com exceção das cooperativas vin- Com o Decreto nº 22.239 de 19 de dezembro de
culadas a órgãos públicos ou empresas estatais (espe- 1932, começa uma longa trajetória de aprofundamento
cialmente de consumo) e as cooperativas promovidas da tutela do Estado sobre as sociedades cooperativas.
por fazendeiros liberais do Nordeste, vinha na linha de A principal preocupação está relacionada às iniciativas
se constituir como um movimento de organizações dos das camadas trabalhadoras, partindo do pressuposto,
trabalhadores e pequenos produtores agrícolas e, se consolidado em 1941 pela CLT, de que os trabalhado-
não tinha claro viés político e social, constituía-se numa res não têm condições de constituir iniciativas autôno-
semente de construção da sua autonomia. Neste senti- mas (devem ser empregados) e que somente os gran-
do, a falta de regulação acabava por ser muito positiva. des produtores ou grandes industriais podem pensar
em empreendimentos próprios, gerando e consolidan-
Em 1916, o Código Civil, apesar de não con- do os papéis de patrões (que detém o capital e que
ter um tratamento específico das cooperativas e nem mandam) e dos empregados pobres (que trabalham e
28
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

obedecem), na linha desastrada e discriminatória de força com o apoio do então Presidente João Goulart. Na
uma série de outras iniciativas até os dias atuais, que mesma linha de preocupação é a primeira lei geral das
não conseguem acreditar na capacidade organizativa cooperativas - o Decreto-Lei nº 59 de 1966 (que criou o
e de decisão autônoma dos setores populares. Conselho Nacional do Cooperativismo), o qual consolida
amplamente o controle direto e a intervenção do Estado.
Em 1945, o novo Governo pós Getúlio cria um Em 1968, temos o Decreto-Lei n° 406 (determinando a
programa de incentivo ao cooperativismo e institui um incidência de ICMS nas operações das cooperativas de
crédito) e, finalmente, a lei cooperativista ainda em vigor.
primeiro organismo de apoio no Ministério de Agricul-
tura. As cooperativas que haviam se recolhido no pe-
A Lei n° 5.764 de 16 de dezembro 1971 nasceu
ríodo da Ditadura Vargas retomam sua trajetória de ex-
como decorrência da intervenção autoritária da ditadu-
pansão, mesmo que bem modesta, com algum apoio
até o Golpe Militar ocorrido em 1964. ra militar sobre as organizações de representação coo-
perativista no Congresso realizado em Belo Horizonte
Como se pode ver, nos períodos de desregula- em dezembro de 1969. Ela reflete a trajetória das legis-
mentação e baixa dos controles específicos governa- lações anteriores, pós 64 e explicita o interesse do Es-
mentais, o cooperativismo ressurge e se amplia. tado de então controlar e manifestar as possibilidades
de atuação política das cooperativas. O seu conteúdo
Entramos em 1964 com uma quantidade em está marcado profundamente pelo viés utilitarista (coo-
torno de 4.500 cooperativas, com aproximadamente 2 perativas como auxiliares no processo de expansão
milhões de associados. capitalista especialmente no campo, por isso também
o privilegiamento da dimensão agropecuária do coope-
rativismo) e pelo viés intervencionista autoritário (única
Porém, o Golpe Militar foi profundamente negati-
representação, controle na sua constituição e no seu
vo ao cooperativismo no Brasil.
funcionamento), sendo profundamente coerente com
as linhas políticas das ditaduras militares brasileiras:
Começamos Controle, imposição, limitação. Tecnicamente ela per-
meados do ano com a manece em vigor, mesmo que muito modificada pela
Lei nº 4.380 de 21 de ocorrência de determinações da Constituição Federal
agosto de 1964 (que de 1988 e do Novo Código Civil.
tirou a autonomia das
cooperativas habita- Aparentemente, após a lei geral de 1971, o Es-
cionais e as subme- tado Brasileiro parece que se desinteressou das coo-
teu ao Sistema Finan- perativas. Havia uma supervisão rígida do INCRA, do
ceiro de Habitação, BNH, do Conselho Nacional de Cooperativismo e do
controlado pelo Governo), seguiu com um arremedo de Banco Central. As organizações autônomas de coope-
cooperativismo latifundista com o Estatuto da Terra – rativas haviam sido esmagadas em 1969 e reinava en-
Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964 (as coopera- tão, compondo politicamente com o regime autoritário,
tivas integrais de Reforma Agrária que eram entregues a Organização das Cooperativas Brasileiras.
a grandes proprietários de terra para gerenciamento e
implantação dos programas, sem participação alguma Trata-se de um novo período terrível para o
dos agricultores deslocados para regiões de fronteira) e cooperativismo brasileiro. De em torno de 4.500 coo-
terminando o ano com a Lei nº 4.595 de 31 de dezem- perativas em 1964, saímos da ditadura militar, em
bro de 1064 (que, atendendo as reivindicações de um 1985, com em torno de 3.200 cooperativas e, em
poderoso lobby bancário, regula a vida das instituições sua maioria, perfeitamente enquadradas no papel de
financeiras, entre as quais as Cooperativas de Crédito, braço auxiliar de políticas governamentais ou dos in-
tirando-lhes a autonomia e estabelecendo um controle teresses do capital (Em 1981, os dados do INCRA,
rígido que permanece quase até hoje). BNH e Banco Central indicavam a existência de
3.833 cooperativas em todo o Brasil).
O que se constata é que a preocupação da Dita-
dura era a de inviabilizar as possibilidades organizativas Foi somente com a nova Constituição Federal,
e de apropriação de recursos econômicos da classe tra- de 1988 que retomamos a expansão e que se pode
balhadora que, em 1963, havia demonstrado sinais de falar na construção de um novo cooperativismo.
29
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

Algumas referências muito positivas puderam que foi utilizado posteriormente, de forma criminosa,
ser inseridas na letra e espírito constitucional e as para criar pseudo cooperativas de fachada por prepos-
mesmas trouxeram, sem dúvida, alento ao movimento tos de fazendeiros ou empresários, negando os direitos
e acenaram para novas perspectivas, propondo rom- dos trabalhadores que, na verdade, eram claramente
per em parte com a política intensiva de intervenção empregados subordinados das mesmas).
e controle. Observe-se que, em relação a este ponto,
a Nova Constituição Federal derrubou também a obri- No entanto, vista na perspectiva da legislação,
gatoriedade da filiação das cooperativas em instâncias esta última década do Século XX foi ruim para a organi-
de representação, mesmo a oficial (modificando des-
zação cooperativista popular, com a supressão de diver-
ta maneira a Lei nº 5.764/71 e tornando efetivamen-
sos benefícios tributários (o cancelamento da isenção
te inconstitucionais as leis estaduais que o exigem),
do PIS e COFINS sobre os resultados das cooperativas,
e vetou a possibilidade da licença prévia de organis-
a liquidação das cooperativas de consumo, equiparan-
mos de representação para a sua constituição, o que,
aliás, algumas Juntas Comerciais em alguns estados do-as às empresas comerciais – Lei nº 9.532/97).
conservadores continuam insistindo em exigir, mesmo
Somente no fim
afrontando o que diz a Constituição e indo contra as
instruções normativas neste sentido do Departamento do Século XX é que o
Nacional de Registro de Comércio. tema do cooperativismo
adquire maior força em
No fim da década de 80 ocorreram alguns tê- nosso país com a explo-
são do desemprego e,
nues movimentos em relação ao debate sobre uma
principalmente, do mer-
nova regulação para as cooperativas. No entanto, com
cado informal, o que vai
o poder nas mãos dos setores conservadores, a regu-
produzir uma expansão
lação direta do cooperativismo pouco avançou, mesmo
do interesse e iniciativas de cooperativismo de trabalho
na década seguinte, deixando claro que o Estado Bra- e, a partir de 2000, com a desregulamentação do mo-
sileiro (e também parte da sociedade, por motivos vin- nopólio bancário para a área financeira, a ampliação
culados ao controle do Estado e ao domínio de dire- do número de cooperativas de crédito.
ções impostas, arbitrárias e profundamente
conservadoras) tinha desconfianças, reticências e má Em 2002, o novo Código Civil (Lei 10.406/02)
vontade em relação ao assunto. É que os setores con- destinou alguns artigos ao assunto, classificando as
servadores viam a cooperativa como possibilidade de cooperativas como sociedades simples e incorporan-
contestação e construção de poder autônomo que po- do a determinação de que o número mínimo de asso-
deria colocar em risco seus privilégios. ciados na sua fundação seja o suficiente para preen-
cher todos os cargos da administração e do Conselho
No entanto, a dé- Fiscal e que haja a possibilidade de constituir coope-
cada de 90 é o início do rativa sem a existência de capital social. Estas novas
período de explosão no medidas do Código Civil influenciaram positivamente a
surgimento de novas coo- constituição de novas cooperativas.
perativas, muitas delas
formadas de forma precá- Atualmente é bastante difícil dizer quantas coo-
ria. O que vai se expandir, perativas existem no Brasil. É que, com a possibilidade
na contramão da rigidez de constituição de cooperativas sem a autorização de
da legislação retrógrada, organismos do estado, o controle do número de coo-
nesta década, são experi- perativas não foi realizado e, por isso, provavelmente,
mentos, muitos informais, são bem mais do que se supõe. Talvez em torno de 20
no campo do cooperativismo do trabalho, da habita- a 25 mil. Mas ainda com um número total de associa-
ção, da produção, da Economia Solidária, o que foi be- dos muito pequeno em relação ao total da população
neficiado em parte pela aprovação do Parágrafo Único e que, provavelmente não deve ultrapassar 4% do to-
do Artigo 442 da CLT (afastando a relação de traba- tal dos habitantes no Brasil, o que é pouquíssimo em
lho entre associados e cooperativa e os tomadores de comparação com outros países e é, principalmente,
seus serviços), o qual autorizou inclusive a experiência pouco pela importância do instrumento na superação
da cooperativa de produção comunitária no Brasil (mas da miséria e na luta por Justiça Social.
30
MÓDULO I REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO
NO BRASIL
UNIDADE 4
Apesar das mais importantes experiências
brasileiras na área do cooperativismo do início do
PRIMEIRA PARTE século XX terem sido influenciadas principalmente
– HISTÓRICO E pela experiência alemã de Raiffeisen (as caixas ru-
rais) e a experiência importante do italiano Luzzati
INSTITUCIONALIDADE
(fundos comunitários de auto-ajuda), baseados es-
sencialmente na ajuda mútua, foi o modelo forma-
REGULAÇÃO DO lista e conservador inglês que norteou a regulação
COOPERATIVISMO NO cooperativista em nosso país. Nossa tradição le-

BRASIL galista foi consolidando a forma atual de coopera-


tiva, balizada pelo intervencionismo governamental
centralizador, paternalista na perspectiva de Getú-
lio Vargas (governou de 1930 a 1945 e de 1950 a
1954), brutal e anacrônico a partir de 1964 com a
ditadura militar, controlado e centralizador a partir
da interferência do INCRA (ao qual as cooperativas,
com exceção das de crédito e habitacionais deveria
se submeter).

Novos ventos, é verdade, arejaram o ambiente a


partir da Constituição Federal de 1988, permitindo uma
retomada da perspectiva cooperativista para o país.
Mas a legislação específica precisa, com urgência, de
uma renovada e uma adequação e estes novos tempos.

O problema é que, tanto a nossa doutrina como


a legislação cooperativista pouco bebeu das saudá-
veis contribuições sobre as possibilidades de cons-
truir comunidades felizes de Robert Owen, nem dos
sentimentos humanistas de Friedrich Raiffeisen ou
populares de Luzzati e muito menos das propostas de
cooperação comunitária de Philippe Buchez e Louis
Blanc. Passamos longe dos “falanstérios” (organiza-
ções comunitárias) de Charles Fourier e das coopera-
tivas de trabalho de Ferdinand Lassalle.

Não chegamos nem


perto do formalismo da Esco-
la de Nimes, sonhando com
a possibilidade da “República
Cooperativa” defendida por
Charles Gide e, ao final das
contas, principalmente com a
legislação das décadas de 60
e 70, consolidamos o modelo
mais conservador, tornando
31
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

as cooperativas um ser engessado e com dificuldades senciais para as cooperativas como as relacionadas à
de contribuir efetivamente na transformação da realida- questão tributária e à dinâmica trabalhista que marcam
de e em instrumento, como deveria ser de afirmação e até hoje os seus problemas principais. Criou, é verda-
participação democrática dos mais pobres, das popu- de, a figura do “ato cooperativo”, aspecto desconhecido
lações que enfrentam dificuldades de sobreviver e de nas legislações europeias, mas não lhe deu vantagens
exercer seus direitos de cidadania. Com isso, estamos efetivas que pudessem criar um espaço confortável
perdendo a oportunidade de inserir na história brasi- para as cooperativas (com exceção, talvez, das agro-
leira a possibilidade de setores sociais em situação de
pecuárias) frente às obrigações atuais.
desvantagem econômica de se afirmarem como agen-
tes produtivos autônomos e superar o seu destino de 2ª – Constituição Federal
apenas poderem sonhar em serem subordinados ao
interesse do capital monopolizado. Com a nova
Constituição Federal,
O aparato jurídico das cooperativas no Brasil, de 1988 temos breves
atualmente em vigor, tem como referências principais e significativas referên-
(com exceção das regulações específicas), três fontes cias a um novo coope-
legais (seguindo a ordem cronológica e não de impor- rativismo que poderia
tância): se constituir em instru-
mento apropriado por
1ª - A Lei nº 5.764 de 1971
mais pessoas do país.
Há de se destacar da
Esta lei, lamentavelmente em vigor até hoje
Nova Constituição Federal o item XVIII do artigo 5° (“A
(mesmo que com mudanças importantes introduzidas
criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
pela nova Constituição Federal de 1988 e pelo Novo
perativas independem de autorização, sendo vedada
Código Civil Brasileiro), continua sendo a regulação
a interferência estatal em seu funcionamento”), o item
específica das cooperativas. Preparada e aprovada no
XX do artigo 5° (“ninguém poderá ser compelido a as-
período mais difícil e violento da ditadura militar, sob
sociar-se ou a permanecer associado”) e o Parágrafo
o Ato Institucional nº 5, voltou-se fundamentalmen-
2° do artigo 174 (“A lei apoiará e estimulará o coopera-
te para as cooperativas agropecuárias (maioria na
época) e estabeleceu uma estrutura muito rígida tivismo e outras formas de associativismo”).
na organização das cooperativas e, ao contrário de
permitir o desenvolvimento do modelo cooperati- Em poucas palavras, poderíamos ter aí as pos-

vista no Brasil, acabou por impor tantos limites e sibilidades de retomar o fortalecimento do cooperati-
sugestões de concentração que tornaram difícil a vismo no Brasil. Especialmente no Item XVIII do artigo
sua constituição e funcionamento. 5º está a posição que poderia fundamentar a nova au-
tonomia das cooperativas e o parágrafo 2º do artigo
Esta lei entra em detalhes desnecessários, defi- 174 poderia abrir caminho que para a luta do movimen-
nindo nuances que deveriam estar no estatuto da enti- to cooperativista pudesse consolidar as possibilidades
dade, colocando entraves nas decisões democráticas
democráticas e de afirmação do seu papel social para
internas das cooperativas e construindo um mundo
o futuro.
tutelado e exclusivo. A impressão que passa, numa
análise da lei, é que a preocupação estava em limitar
Mas, a Constituição Federal depende de regula-
o avanço do cooperativismo (reservando-o para pou-
cos) que contribuir para a sua expansão e para que mentação. E isso estará a cargo da renovação da Lei
ocupasse o seu papel essencial nos processos de de- específica. Sobre isso, permanece no Senado, já há 12
senvolvimento. anos, projeto de lei que deveria trazer novas perspecti-
vas para o cooperativismo nacional. A Constituição deu
Agrava o fato de que a lei não conseguiu (por- o impulso inicial da renovação. Cabe à sociedade e ao
que também não era este o foco) resolver questões es- Parlamento seguir em frente.
32
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

3ª – Código Civil Brasileiro 1 - Lei da Agricultura Familiar (Lei n°


11.326/2006) – Apesar de não ser uma lei específica do
A Lei nº 10.406 de 10 de cooperativismo, há de saudar como muito importante a
janeiro de 2002 – Novo Código
aprovação da lei que reconheceu institucionalmente
Civil – reclassificou as coo-
a agricultura familiar no país. Mesmo que ainda pre-
perativas, mantendo sua na-
tureza de sem fins lucrativos, cise de regulamentação, é sem dúvida um importante
mas com fins econômicos, e marco legal que poderá não apenas fortalecer a agri-
trouxe alguns avanços como cultura familiar, mas também incentivar e abrir espaços
a dispensa de capital e o fim fundamentais para as suas organizações e, de modo
da exigência mínima de vinte particular, para as cooperativas do setor em sua atua-
pessoas para a sua constituição, sendo necessário ção no meio rural, reservando-lhes atuação específica.
apenas o número mínimo de pessoas, na funda-
ção, que preencha os cargos existentes no estatuto 2 – Lei do Cooperativismo do Estado da Ba-
para a administração (especialmente quem respon- hia - Trata-se de um marco significativo esta lei esta-
de juridicamente pela entidade) e conselho fiscal.
dual (Lei nº 11.362 de 26 de janeiro de 2009) que per-
mite implementação de um programa de
Especificamente em relação ao tema da reclas-
sificação, o Código Civil tentou resolver a questão da cooperativismo na Bahia, incentivando as cooperati-
atividade econômica das cooperativas, colocando-as vas e criando mecanismos para a sua atuação e pre-
no bloco das sociedades e dentro do que se chamou sença no desenvolvimento econômico e político do
de “Sociedades Simples”. A vantagem desta providên- Estado.
cia é que reconheceu a dimensão econômica da coo-
perativa (o que estava dúbia no Código Civil anterior) 3 - O Decreto nº
9
e, com a ressalva da observação do artigo 3º da Lei 3.000 de 26 de março de
nº 5.764/7110, manteve a sua natureza de “sociedades 1999, que regulamenta o
sem fins lucrativos”, o que se constitui como base legal
Imposto de Renda. Em
para lutar por nova regulação tributária e, inclusive, na
relação às cooperativas,
revisão da classificação da personalidade jurídica, reti-
rando as cooperativas do bloco 2 da Resolução da Co- diz o Artigo 182: “As so-
missão Nacional de Classificação, e na qual se baseia ciedades cooperativas
a classificação da pessoa jurídica feita pela Receita que obedecerem ao dis-
Federal. Busca-se assim uma classificação própria, es- posto na legislação es-
pecífica, como aliás é intenção do Código Civil, sendo pecífica não terão incidência do imposto sobre
as cooperativas uma “Sociedade de fins Econômicos e
suas atividades econômicas, de proveito comum,
Sem Fins Lucrativos”, não se misturando nem com as
sem objetivo de lucro (Lei nº 5.764, de 16 de dezem-
sociedades empresariais e nem com as associações,
mas mantendo sua identidade própria e mista. bro de 1971, art. 3º, e Lei nº 9.532, de 1997, art. 69)”.
Com isso, ficam as cooperativas em situação de “não
Outras regulações correspondem à vida das incidência” do IRPJ e CSLL sobre os resultados das
cooperativas e poderiam ser classificadas em positivas operações com associados (atos cooperativos).
e negativas, facilitando a sua vida e, outras, criando
maiores dificuldades. 4 - A Lei Com-
plementar nº 130 de
Entre as regulações que podem ser vistas
17 de abril de 2009
como positivas, também seguindo a ordem crono-
que reconhece as
lógica, desejamos destacar a seguir:
cooperativas de cré-
9
O artigo 981 da Lei nº 10.406/2002 estabelece a definição das sociedades
introduzindo a caracterização da atividade econômica como finalidade.
dito como instituições
Após isso, no artigo 982, classifica as sociedades dividindo-as em em-
presárias (atividade própria de empresário) e simples. E o seu parágrafo
financeiras e admite a
único afirma que as cooperativas são sociedades simples. possibilidade, mesmo que ainda não consolidada,
10
O artigo Art. 1.093 do Código Civil diz que “A sociedade cooperativa reger-
-se-á pelo disposto no presente Capítulo, ressalvada a legislação espe- de acesso aos recursos públicos sem necessidade
cial”.
33
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

de um banco intermediário. metam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competiti-


vo, inclusive nos casos de sociedades cooperativas, e
O Cooperativismo de Crédito brasileiro passou estabeleçam preferências ou distinções em razão da
por um período bastante difícil entre os anos de 1964 naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de
(Lei 4.595/64) e o início dos anos 80. Neste período, as qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevan-
principais funções das Cooperativas de Crédito foram te para o específico objeto do contrato, ressalvado o
atribuídas às Instituições Financeiras Estatais e inúme- disposto nos §§ 5o a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei
ras restrições operacionais reduziram a quantidade de no 8.248, de 23 de outubro de 1991”.
Cooperativas de Crédito no país. Com esta nova lei,
agora, as cooperativas de crédito podem atuar em nome Em outros momentos, a Lei de Licitações tam-
e por conta de outras instituições, com vista à prestação bém foi modificada para facilitar a vida das cooperati-
de serviços financeiros e afins a associados e a não vas. Lembramos a dispensa de licitação para compras
associados. Aspecto eventualmente negativo a destacar da Agricultura Familiar destinadas à Alimentação Esco-
é que ainda não compõem um sistema autônomo, mas lar, o que foi feito pelo Parágrafo 1º do Artigo 14 da Lei
continuam a ser submetidas às regulações bancárias nº 11.947 de 16 de junho de 2009. Depois, por meio do
brasileiras que possuem características concentradoras artigo 27 da Lei nº 12.188 de 11 de janeiro de 2010 que
e as afastam inevitavelmente dos compromissos com a trata da Assistência Técnica para a Agricultura Familiar,
vida social brasileira. E na medida em que as cooperati- nos casos de contratação de entidade pública ou priva-
vas de crédito vão se transformando em bancos, ocorre da para a prestação de serviços de assistência técnica
muita dificuldade em manter ou implementar mecanis- e extensão rural para o Programa Nacional de Assis-
mos de ação solidária ou comunitária. tência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Fami-
liar e na Reforma Agrária. E finalmente, a dispensa de
licitação na contratação de cooperativas ou de outras
Talvez esta conquista da síntese entre a
formas de associação de catadores de materiais reuti-
regulação bancária focada na eficiência lizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de
e a atuação e compromisso social seja baixa renda, conforme determinou o parágrafo 2º do
o principal desafio atual dos sistemas artigo 36 da Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010 que
vinculados à economia solidária e à agri- instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
cultura familiar.
Entre as regulações profundamente negati-
vas para as cooperativas, desejamos destacar en-
5 - Lei da Alimen- tre outras:
tação Escolar – Lei nº
11.947 de 16 de junho de 1 - A Lei nº 9.532 de 10 de dezembro de 1997
2009 que dispõe sobre que trata da regulação tributária federal e que, no
Alimentação Escolar. A seu artigo 69 equiparou as cooperativas de consumo,
destacar a exigência do de forma absolutamente injusta, às demais sociedades
artigo 14 que determi- empresariais, praticamente inviabilizando a sua manu-
na a obrigatoriedade da tenção e vetando as possibilidades da relação positiva
aquisição de no mínimo 30% dos alimentos proce- e necessária entre pequenos produtores e consumido-
dentes da Agricultura Familiar (assunto que tratare- res.
mos adiante).
2 - Com o art. 23 da Medida Provisória n.º
6 – Modificação da Lei nº 8.666/93, acrescen- 1.858-6, de 29 de junho de 1999, foram revogadas as
tando-se, com a Lei nº 12.349 de 15 de dezembro isenções do PIS e COFINS das cooperativas, previstas
de 2010, a proibição de criar dificuldades à partici- nos incisos I e III do art. 6º da LC n.º 70/91, revogação
pação das cooperativas nos processos licitatórios. esta mantida pela Medida Provisória 66/02 e recepcio-
O parágrafo 1º do artigo 3º da referida lei ficou redigi- nada pela Lei 10.637/02.
do da seguinte maneira: “§ 1o É vedado aos agentes
públicos: I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos 3 – Os vetos à Lei nº 9.867 de 10 de novembro
de convocação, cláusulas ou condições que compro- de 1999 que criou a modalidade das Cooperativas
34
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

Sociais (em destaque o veto à possibilidade deste tipo dos técnicos agrícolas espalhados pelo Brasil.
de cooperativa ser classificada como entidade de fins A agricultura familiar precisa caminhar urgen-
filantrópicos). Com isso, a lei não manteve mecanis- temente para modelos agro ecológicos, tendo
mos eficientes de integração das pessoas em situação para isso o apoio da assistência técnica.
desfavorável, especificamente os oriundos do sistema
prisional e dos setores de tratamento mental, o que só e) A assistência técnica precisaria ser subme-
tida ao controle social, com ampla participa-
foi possível em parte pela ação isolada e recente de al-
ção das organizações da agricultura familiar
guns setores do Judiciário e de empresas e autarquias
e do correspondente movimento sindical na
públicas.
prestação dos serviços.

4 - Lei da Assistência Técnica à Agricultura


Ainda no campo negativo, mesmo que a Consti-
Familiar - Mesmo que tivesse tudo para ser o contrá-
tuição Federal tenha consolidado a liberdade das coo-
rio, chegamos a uma formulação capenga tanto da Lei
perativas e que a regulação de sua constituição seja
nº 12.188 de 11 de janeiro de 2010 como especialmen-
exclusiva da União, ocorrem exemplos em que a pre-
te do Decreto nº 7.215 de 15 de junho de 2010 que tra-
sença de resquícios do regime autoritário no controle
tam da Assistência Técnica à Agricultura Familiar, sem
das cooperativas permanece e propiciou regulações
atender às reivindicações das cooperativas de asses-
soria técnica e sem enfrentar os principais problemas estaduais do cooperativismo, onde se destacam:
levantados pelo setor do cooperativismo popular como:
as leis de São Paulo e Goiás, e
a) A assistência técnica deve estar a serviço também, em parte, a do Rio Gran-
dos trabalhadores e das trabalhadoras e não de do Sul e Espírito Santo.
apenas algo externo que é imposto de fora,
com modelos pré-estabelecidos, como o que Destacamos que, em base a estas leis, os es-
ocorre em muitos caso da ação da ATER Ofi- tados acabam por incentivar o estabelecimento de di-
cial que foi privilegiada pela lei e pelo decre- ficuldades não previstas em lei no registro das coope-
to. rativas nas Juntas Comerciais e, em alguns estados,
apresentando ameaças veladas ou abertas, afrontando
b) A assistência técnica deveria considerar di- o direito constitucional de constituição e funcionamen-
versidades regionais e também integrar ca- to sem interferência estatal, para-estatal ou privada.
racterísticas próprias de cada bioma existen-
te no país, para que um modelo único não Destacamos no campo da regulação, conci-
continue sendo imposto, com resultados ca- liando aspectos positivos e negativos:
tastróficos em regiões em que não seja ade-
quado. 1 – Instrução Normativa nº 971 – RFB, de 13
de novembro de 2009. A Instrução estabelece os cri-
c) A assistência técnica deveria promover a térios e normas relacionados às contribuições destina-
agricultura familiar, com suas especificidades das à Previdência Social de pessoas físicas e jurídicas,
e características, especialmente as que se entre as quais as cooperativas. Trata-se de um referen-
referem à produção diversificada de alimen- cial importante, mesmo que em determinados momen-
tos, e não buscar, como ocorre em muitos tos muito confuso. A destacar os diversos elementos
lugares, levar a agricultura familiar a se tor- da contribuição previdenciária das cooperativas, dos
nar ou se inserir no modelo do agronegócio cooperados e suas operações. Deixa claras, inclusive,
empresarial. quais as condições que fazem com que associados de
uma cooperativa podem perder ou manter sua condi-
d) A assistência técnica deveria se tornar um ção de segurados especiais, o que tem se constituído
instrumento de preservação ambiental. Este em debate importante nos últimos anos.
desafio enfrenta o dado de que o país é o pri-
meiro do mundo em utilização de agrotóxicos 2 - No dia 14 do mês de outubro de 2011 foi
e, sem dúvida, esta utilização contou com a publicada a Lei nº 12.512 que trata do Programa de
aprovação, quando não da recomendação, Apoio à Conservação Ambiental e o Programa de
35
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

Fomento às Atividades Produtivas Rurais. Busca-se Este projeto (no momento em que escrevemos
com a lei, em sua primeira parte, estabelecer incen- este texto), já praticamente aprovado (depende apenas
tivos à defesa do meio ambiente e também destinar de manifestação do Plenário da Câmara, sem possibi-
recursos para os agricultores de baixa renda que se lidades de alterações de mérito), será profundamente
dedicarem a esta tarefa essencial para o futuro do pla- positivo ao conseguir superar tanto as dúvidas em rela-
neta que habitamos. A segunda parte trata do Fomento ção à situação dos associados das cooperativas de tra-
às Atividades Produtivas Rurais e praticamente se re- balho e consolidando o seu status efetivo de empreen-
fere à transferência de uma bolsa para os agricultores dimento social e econômico, resolvendo as pendências
em situação de extrema pobreza ou em dificuldades de de interpretação quanto à presença das características
desenvolver as atividades produtivas básicas. Lamen- do contrato de trabalho e superando inúmeros proces-
tavelmente, em nenhum momento se observou que a sos trabalhistas atualmente existentes contra as coo-
afirmação dos pequenos agricultores em dificuldade perativas. No entanto, há de se destacar que, lamenta-
passa antes do crédito para a organização e articula- velmente, o projeto acaba por estabelecer obrigações
ção do processo produtivo e pela necessidade da orga- que efetivamente ultrapassam o espírito cooperativista
nização cooperativada, a qual poderia criar condições da autonomia dos associados das cooperativas e cria
muito melhores que apenas distribuir dinheiro indivi- obrigações trabalhistas que mais estão no âmbito da
dualmente, isolando os agricultores em seu mundo relação capital e trabalho que entre participantes de um
particular e, com isso, aprofundando a dependência e empreendimento cooperativado. O projeto beneficiará
as dificuldades de construir autonomia. A terceira parte cooperativas estabilizadas e poderá criar obstáculos
desta lei trata do Programa de Aquisição de Alimentos intransponíveis para setores da população mais fragi-
– PAA, estabelecido pela Lei nº 10.696, de 2 de julho lizados que eventualmente queiram entrar no campo
de 2003 (que trataremos adiante). da prestação de serviços e que mereceriam condições
mais facilitadas para superar a situação atual em que
Como se pode ver, apesar de vários aspectos estão submetidos a condições muitas vezes degradan-
positivos, em relação ao assunto, vivemos atualmente tes em empresas de terceirização.
uma crise regulatória e uma apatia de múltiplos setores
da sociedade e do Estado no que se refere à defesa 2– Projeto de Lei Geral das sociedades
dos seus instrumentos organizativos e fortalecimento cooperativas
do instrumental cooperativo. Não estamos conseguin-
do construir uma legislação cooperativista que apoie Os projetos relacionados à Lei Geral das So-
as organizações autônomas dos trabalhadores e tra- ciedades Cooperativas foram compilados e reunidos
balhadoras do campo e da cidade, parecendo que te- num único substitutivo que tramita atualmente (projeto
remos de assistir a permanente dependência dos mais nº 003/2007) na Comissão de Agricultura e Reforma
pobres, condenados à subordinação, ao arbítrio dos Agrária do Senado, após ter conseguido sair da pri-
senhores e às limitações que estes engendraram e meira comissão (Comissão de Constituição e Justiça),
engendram na construção e promulgações de leis, de- fruto de uma luta de 13 anos.
cretos, portarias, instruções que muito mais focam em
seus privilégios, sempre em nome de uma não sufi- Em princípio, o projeto de lei representa a visão
cientemente explicada estabilidade institucional. do conjunto de organizações representativas do coo-
perativismo, havendo pequenos problemas a ser supe-
O que temos pelo frente no cam- rados e que estão relacionados ao sistema de registro
po da regulação cooperativa são das cooperativas e à forma de rompimento da unicida-
projetos de lei que deverão me- de de representação.
recer o esforço do movimento no
seu aprimoramento e aprovação.
3– Projetos de Lei Tributária
Dentre os muitos projetos exis-
tentes, destacamos:
Dois projetos de lei, uma complementar (nº
271/2005 e 386/2008 – atualmente na Comissão de Tri-
1– Projeto de Lei das Cooperativas de butação e Finanças) e a outra ordinária (nº 3723/2008,
Trabalho (Projeto de Lei nº 4622) na Comissão de Agricultura), tramitam na Câmara dos
Deputados tratando da questão tributária das socieda-
36
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

des cooperativas. Após longas negociações, o Gover- I. nas cooperativas de venda em comum, a dis-
no Federal aprimorou o Projeto de Lei Complementar, ponibilização de bens, produtos ou serviços
que define o ato cooperativo e estabeleceu algumas dos associados internamente ou no merca-
possibilidades de desoneração tributária, com a trans-
do, em consonância com o objeto social;
ferência de obrigações. É verdade que não consegui-
mos chegar a um tratamento tributário diferenciado,
II. nas cooperativas de compra em comum, a
mas ao menos avançou-se na perspectiva da facilita-
ção da vida das cooperativas em relação a este as- aquisição de bens, produtos ou serviços pe-
pecto que cria imensas dificuldades de gestão. Dois los associados.
pontos foram centrais nas negociações deste assunto:
a) A necessidade de que a cooperativa tenha melhores III. nas cooperativas que operam produtos e
condições de cumprir a agenda tributária, transferindo serviços no mercado financeiro, toda a re-
as obrigações ou ao associado ou ao consumidor, seja lação financeira mantida em proveito ou
de produtos, sejam de serviços. É importante observar com a finalidade de administrar os recursos
de que não se pretende criar uma gama de privilégios
dos associados por meio da utilização de
para as cooperativas, mas sim apenas que seja reco-
produtos ou serviços do Sistema Financei-
nhecido o seu papel de instrumento de transformação
social e, portanto, com finalidade positiva para a socie- ro Nacional;
dade como um todo. E, por isso, necessárias de apoio.
b) Encontrar uma fórmula que pudesse reconhecer as IV. nas relações praticadas entre as coopera-
diferenças entre cooperativas (grandes e pequenas), tivas singulares e as centrais, federações e
fortalecendo as pequenas e criando oportunidades confederações entre si, quando associadas”.
para que pessoas economicamente mais frágeis pu-
dessem levar adiante seus empreendimentos econô- Em relação a este tema tributário, temos a la-
micos. Isso parece ter sido alcançado na medida em
mentar o fato de que as cooperativas de consumo não
que a incidência de tributos ocorrerá nos ganhos dos
estão sendo reabilitadas, seguindo sendo tratadas
associados, fazendo com que, quando a cooperativa
distribui maiores resultados, o tributo seja pago pelo como empresas e, portando, na prática, inviabilizadas.
associado, ou pelos consumidores ou tomadores dos
serviços e não pela cooperativa. 4– Projeto de Lei dos
Empreendimentos de Economia
Concretamente, ficou estabelecido na proposta
em tramitação que: I.A cooperativa não estará subme- Solidária
tida à incidência de tributos na realização de atos coo-
perativos, não estando, porém, excluída a responsabi- Já está em processo de mobilização, para ser
lidade pelo eventual recolhimento do tributo na fonte. II. apresentado como um projeto de iniciativa popular,
Todo o tributo devido, ocorrendo a incidência, será de
a proposta que visa dispor sobre os empreendimen-
responsabilidade ou do associado, ou do tomador do
serviço ou do consumidor. III. As operações que com- tos e a Política Nacional de Economia Solidária.
plementam e constituem o ato cooperativo serão con- Trata-se de uma proposta bem-vinda porque ainda
sideradas equiparadas ao mesmo para fins tributários. na nossa legislação este tema não foi adequada-
mente tratado.
Existe um princípio de acordo para que a defini-
ção de ATO COOPERATIVO seja a seguinte: O projeto faz um
esforço positivo para
definir o âmbito da
“O ato cooperativo é o negó-
atuação da Economia
cio jurídico decorrente do
Solidária. E tem suces-
objeto social, praticado por
so na definição geral
cooperativa de qualquer
do artigo 2º:
grau, em proveito de seus
associados, caracterizado
nas seguintes modalidades:
37
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

“A Economia Solidária cons-


titui-se em toda forma de or-
ganizar a produção de bens
e de serviços, a distribuição,
o consumo e o crédito, que
tenha por base os princí-
pios da autogestão, da coo-
peração e da solidariedade,
visando a gestão democrá-
tica, a distribuição equitati-
va das riquezas produzidas
coletivamente, o desenvol-
vimento local e territorial in-
tegrado e sustentável, o res-
peito ao equilíbrio dos
ecossistemas, a valorização
do ser humano e do traba-
lho e o estabelecimento de
relações igualitárias entre
homens e mulheres”.

E deverá viabilizar, espera-se, a construção de


um novo ambiente organizativo, tributário e participati-
vo dos empreendimentos de Economia Solidária.

5- Novas leis estatuais e municipais de


incentivo

Finalmente, a destacar o esforço positivo de al-


guns estados em debater e aprovar leis de incentivo ao
cooperativismo. Muito interessante neste sentido o pro-
cesso atual de debate no Estado de Rondônia, Ceará
e Pernambuco. E o envolvimento de municípios na pro-
moção do cooperativismo local e a sua inserção nas
dinâmicas municipais de desenvolvimento sustentável.

38
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL

Com o auxilio dos textos do Módulo I e também com base em seus conhecimentos, jul-
gue os itens em certo C e errado E.

1. O cooperativismo, de que fala a Constituição Federal, representa uma iniciativa em


que ocorre uma composição harmônica entre o conceito mais puro do que é uma
associação e o que é uma verdadeira empresa não capitalista.

2. A cooperativa, não tendo sua dimensão associativa, não precisa manter o vínculo
social com a comunidade e, por isso, também não precisa dosar seu ganho mediante
o estabelecimento do preço.

3. Em 2002, o novo Código Civil (Lei 10.406/02) destinou alguns artigos ao assunto,
classificando as cooperativas como sociedades simples e incorporando a determi-
nação de que o número mínimo de associados na sua fundação seja o suficiente
para preencher todos os cargos da administração e do Conselho Fiscal e que haja a
possibilidade de constituir cooperativa sem a existência de capital social.

4. A Economia Solidária constitui-se em toda forma de organizar a produção de bens e


de serviços, a distribuição, o consumo e o crédito, que tenha por base os princípios
da autogestão, da cooperação e da solidariedade, visando a gestão democrática,
a distribuição equitativa das riquezas produzidas coletivamente, o desenvolvimento
local e territorial integrado e sustentável, o respeito ao equilíbrio dos ecossistemas, a
valorização do ser humano e do trabalho e o estabelecimento de relações igualitária.

5. O aparato jurídico das cooperativas no Brasil, atualmente em vigor, tem como referên-
cias principais, com exceção das regulações específicas, três fontes legais seguindo
a ordem cronológica e não de importância: Lei nº 5.764 de 1971, Constituição Federal
e Código Civil Brasileiro.

39
40
MÓDULO II A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA

O que aqui abordaremos são as indicações ge-


UNIDADE 1 rais de constituição das cooperativas, lembrando que,
independentemente da regulação geral, há algumas
PRIMEIRA PARTE regras específicas para a constituição das cooperati-
– HISTÓRICO E vas de crédito e as Cooperativas-Escola.

INSTITUCIONALIDADE Isso posto, vamos aos passos da constituição


da Cooperativa.
A CONSTITUIÇÃO DA
Primeiro passo - Reunião de pessoas
COOPERATIVA
com objetivo comum

Juntar um grupo
de pessoas até que é
fácil, principalmente se
a iniciativa acenar so-
bre a sua capacidade
de encontrar soluções
aos múltiplos proble-
mas que envolvem a
sobrevivência das pes-
soas e suas famílias.
No entanto, ao longo do tempo, quando o esforço e o
empenho são mais necessários, dificuldades insolú-
veis vão se apresentando porque as pessoas não têm
muita persistência em continuar num empreendimen-
to. Na cooperativa, qualquer coisa que aconteça, as
pessoas vão embora, se afastam, passam a não mais
acreditar nas possibilidades de levar adiante o que
anteriormente consideravam como essencial.

Por isso que o primeiro passo é,


sem dúvida, realizar um esforço
imenso para fazer funcionar
mecanismos que efetivamente
compreendam as relações hu-
manas e consigam fazer com-
portamento pessoal, à subjeti-
vidade, às diferenças existentes
entre as pessoas para constituir
uma iniciativa coletiva sólida.

Segundo passo - Processo preparatório


Vamos dividir este processo em duas partes:

41
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA

A) CAPACITAÇÃO c) Dados sobre a viabilidade da pro-


dução
Trata-se da capa- Fazer um levantamento sobre a produção da
citação do grupo sobre região e sobre a disponibilidade de produtos
o que seja uma coope- ou a capacidade de produzir bens ou servi-
rativa, como funciona, ços por parte das pessoas que serão os as-
como organizar. Será sociados.
necessário que haja
pessoas em condições Como já se sabe, a cooperativa
de entender de adminis- vai depender da atividade pro-
tração, de contabilidade. dutiva dos associados e asso-
São atividades de capacitação cooperativista. E deve ciadas. Se ela existir, tudo bem.
ser criada uma comissão que prepare uma proposta de Se não for suficiente, então não
estatuto social, para ser discutida pelos interessados, adianta fundar a cooperativa.
antecipadamente. Além disso, preços, custos, difi-
culdades, necessidades tecnoló-
B) VIABILIDADE ECONÔMICA gicas.

Diz respeito à análise das possibilidades eco- d) Orçamento dos gastos


nômicas de sobrevivência da cooperativa. Onde se faz um levantamento sobre todos os
possíveis gastos que ocorrerão para o fun-
O objetivo desse estudo é fazer cionamento da cooperativa.
um levantamento sobre a reali-
dade da região, a disponibilida-
e) Investimentos
de produtiva dos associados, os
São os gastos de instalação da cooperativa
custos da cooperativa, as pos-
que precisam ser cobertos já no início.
sibilidades de comercialização
dos produtos (no caso de uma
f) Financiamentos
cooperativa de produtores), para
Um levantamento sobre as fontes de recur-
ver se uma cooperativa teria con-
sos para saber de onde vem o capital para
dições de se manter, sobreviver,
instalação e funcionamento da cooperativa.
ir adiante.

Uma proposta de referenciais básicos para o g) Orçamento de receitas


estudo de viabilidade econômica de uma coopera- É importante fazer uma projeção em núme-
tiva poderia se apresentar da seguinte maneira: ros sobre quais seriam todas as fontes de
recursos da futura cooperativa.
a) Levantamento da realidade da
região h) Condições de mercado
Conhecer a situação das pessoas que se Ver se os produtos da cooperativa serão bem
envolverão com a iniciativa, sua capacidade aceitos no mercado e se há facilidades con-
produtiva, de suas famílias, as possibilidades sistentes de colocação e venda.
e a capacidade de entrosamento e trabalho
conjunto. i) Viabilidade da cooperativa
Onde se obtém os dados para se ver se a coo-
b) Definir os objetivos da cooperati- perativa pode ser economicamente viável.
va
A viabilidade da cooperativa é
Definir claramente o que se quer com a fun-
calculada a partir do resultado
dação da entidade. Onde ser quer chegar. O
positivo (mínimo de 20%) da re-
que a cooperativa vai fazer em benefício dos
lação entre gastos e ganhos.
seus associados.
42
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA

É bom ter presente que este resultado pertence legacia da Receita Federal. A partir daí, a Cooperativa
aos associados ou como resultados de comercializa- já existe juridicamente. Ela tem 90 dias para começar a
ção ou como SOBRAS. funcionar, sendo que para as cooperativas de crédito
este prazo é de 30 dias. Nesse tempo, ela deve provi-
Se for, pela Assembleia, considerado “resulta- denciar a regularização frente aos demais órgãos aos
dos de comercialização”, os mesmos são distribuídos quais vai se relacionar em suas operações, como
imediatamente aos associados, na proporção da en- INSS, Prefeitura, Secretaria da Fazenda, etc.
trega da produção: Quem entregou mais produção ga-
nha mais, quem entregou menos, ganha menos. Se for A nova Cooperativa deve-
considerado “sobras”, as mesmas são transferidas ao rá manter uma série de livros:
patrimônio da cooperativa para serem apuradas no fim
do ano como resultado do exercício financeiro. Lá, a Livro de Matrículas onde
Assembleia decidirá como será feita a distribuição: são inscritos os associados e
associadas pela ordem de ad-
a) Aos associados, em dinheiro, ou em quotas, missão, vindo os fundadores e
sempre na proporção da entrega da produ- fundadoras em primeiro lugar. Os dados que devem
ção. constar são: nome, estado civil, nacionalidade, profis-
são e residência; data de admissão e, quando houver,
b) À cooperativa, como patrimônio imobilizado, demissão ou exclusão; e a conta-corrente das suas
ou ao fundo de reserva ou a qualquer outro quotas no capital social. Livro de atas de reuniões
fundo, ou, finalmente, como empréstimo dos dos órgãos de administração; Livro de atas do Con-
associados, para a sua capitalização ou no- selho Fiscal; Livro de presença dos cooperados nas
vos investimentos. Assembleias; e Livros fiscais, contábeis e traba-
lhistas obrigatórios.
Terceiro passo - A fundação
É bom lembrar também que as
O processo de fundação será realizado mediante cooperativas de crédito deverão
uma assembleia. Nela deverá ser aprovado o estatuto antes do registro proceder uma
social, definidos os associados fundadores e eleitas as inscrição especial no Banco
pessoas para os cargos estabelecidos no estatuto. Central do Brasil e as cooperati-
vas- escola, depois, na respecti-
Não é mais obrigatório o núme- va Secretaria de Educação, para
ro mínimo de 20 pessoas físicas funcionamento.
para fundar uma cooperativa. O
Novo Código Civil determina que O CAPITAL SOCIAL
o número mínimo será o neces-
sário para preencher todos os Mesmo que o fundamental das
cargos da administração e do cooperativas sejam os associa-
Conselho Fiscal previstos no dos e associadas e não o capital
estatuto social, sendo que o nú- (e o Novo Código Civil Brasileiro
mero mínimo de pessoas para o faculta às cooperativas consti-
Conselho Fiscal deverá ser de tuir ou não capital social), este
seis. é importante para que se tornem
possíveis as suas atividades e
Quarto passo - O registro se alcancem os seus objetivos.

As cooperativas são registradas apenas na Jun- Para a cooperativa começar a funcionar, ela
ta Comercial de cada Estado. Após o registro é também precisa de um patrimônio inicial que pode vir de con-
é necessário encaminhar os formulários (se isso não tribuição ou investimento externos, mas o normal é
for feito pela Junta) e obter a inscrição no Cadastro Na- que venha dos associados cooperativados. Esta parti-
cional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) na respectiva De- cipação dos associados e associadas na constituição
43
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA

e manutenção da cooperativa é feita através da subs- O capital social não deve ser imo-
crição (quando alguém se associa a uma cooperativa bilizado em construções, por exem-
preenche um cadastro e diz quantas quotas vai assu- plo, porque a finalidade do capital
mir) e integralização (o associado ou associada paga social é, normalmente, a de servir
as quotas que subscreveu) de quotas. de capital de giro. Quando for feita
uma construção, a cooperativa po-
A cooperativa pode também, para melhorar a derá mobilizar os seus associados
sua capitalização, reter parte das sobras resultantes e associadas e efetuar um “chama-
das operações econômicas, por decisão da assem- mento de capital” especialmente
bleia, no decorrer de suas operações e ao final dos para tal fim. De modo geral, sugere-
exercícios financeiros. Por outro lado, nos momentos -se às cooperativa evitar o financia-
mento bancário que compromete
em que os exercícios demonstram prejuízos que preci-
o patrimônio e é sempre de difícil
sam ser cobertos, para a continuidade das atividades,
pagamento.
a cooperativa pode buscar nos associados novas con-
tribuições financeiras.
PONTOS ESSENCIAIS NO ESTATUTO SO-
CIAL
Tudo isso vai garantir a operacionalidade e a
competitividade da cooperativa. Se ela não tem condi-
Existem muitos modelos de estatuto social. An-
ções para levar adiante seus negócios, em pé de igual-
tes, a estrutura oficial impunha um modelo padrão de
dade com outras organizações que também atuam no
estatutos determinado pela lei Cooperativista de 1971.
mercado, a capitalização rapidamente será reduzida e
Agora, no entanto, a partir da Constituição Federal de
com ela os serviços prestados, até a sua total invia-
1988 e do Novo Código Civil Brasileiro são as assem-
bilização. Claro que uma rígida política de custos e
bleias das cooperativas que definem o seu estatuto. De
uma política de preços para todas as operações que
qualquer maneira, as leis em vigor determinam que al-
a cooperativa realiza - seja com os associados, seja
guns itens devem obrigatoriamente constar no mesmo:
com terceiros - também são essenciais para o êxito da
entidade.
a) Nome da cooperativa, prazo de
O montante do capital básico necessário para duração, objetivos e área de atua-
a cooperativa é dividido em quotas - sempre em valor ção, sede e foro:
inferior ao salário mínimo em vigor no país - e cada O nome não pode ser igual ao de outra já
associado e sócia adquire uma ou mais até completar existente e a sua escolha deve ser aprovada
o total do capital determinado. No entanto, a lei proíbe pelos associados e associadas da coopera-
que um associado compre mais que 1/3 (um terço) do tiva. A sede e o foro são os nomes do muni-
total das quotas para impedir que, de imediato, uma cípio e da comarca em que ela vai funcionar.
pessoa se torne dona da cooperativa. A área de atuação deverá dizer se ela se de-
dicará a apenas um produto ou a uma única
No decorrer da vida da cooperativa, esse capital atividade ou se será mista e qual a abran-
social poderá ser aumentado e isso será feito através gência territorial (11). Os objetivos devem ser
de subscrições de novas quotas pelos associados e tema central da discussão do grupo que vai
associadas, contribuições externas ou retenções de fundar a cooperativa. Aqui vai ter de ser ex-
sobras para capitalização. Tudo discutido e definido plicitado onde a cooperativa pretende chegar.
pela Assembleia.
b) Entrada e saída, direitos e deveres
Do ponto de vista contábil, o capital social cor- dos associados e associadas:
responde às quotas subscritas pelos associados e as- Os mecanismos de entrada e saída devem
sociadas, menos o montante que ainda não foi integra- ser muito claros e os mais fáceis possível,
lizado. Este capital estará compondo o chamado
“patrimônio líquido” da cooperativa, do qual também 11
Ao contrário do que se tem propagado em alguns lugares, não mais exis-
tem restrições quanto a haver mais de uma cooperativa numa mesma
fazem parte as reservas, as doações o os eventuais base territorial. A partir de 1986, há liberdade de se constituir quantas
cooperativas se considerar necessário. O que não pode ter é o mesmo
lucros obtidos de operações com terceiros. nome.
44
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA

mas a cooperativa deve se precaver para do capital social, ou a distribuição das quotas
que não entre qualquer pessoa que possa somente podem ser realizadas por aprova-
trazer problemas para a organização ou que ção dos associados e associadas da coope-
grupos específicos tomem conta da entidade. rativa. O estatuto deve conter mais: O valor
O Novo Código Civil determina que a entrada unitário das quotas (que deve ser menor que
de novos associados e associadas seja apro- o salário mínimo – a maioria das coopera-
vada pelos demais. Além disso, alguns meca- tivas adota a unidade da moeda nacional:
nismos devem ser colocados para que, por R$ 1,00). O mínimo e o máximo de quotas
exemplo, grupos não se retirem da coopera- que podem ser subscritas pelos associados
tiva apenas para criar problemas para deter- e associadas individualmente e os modos
minada administração; ou que a exclusão de oferecidos para a sua integralização. Como
uma pessoa que a maioria não quer seja tão podem ser integralizadas as quotas através
difícil que nunca aconteça. Quanto aos direi- de serviços e os mecanismos de atualização
tos, não há necessidade de citar todos, uma do capital social
vez que é bom ter presente que os direitos
consagrados na Constituição valem mes- d) Assembleia geral, estrutura direti-
mo que não sejam nomeados pelo estatuto. va e quem responde juridicamen-
Quanto aos deveres, observamos em muitas
te:
oportunidades que a tendência é criar meca-
A Assembleia deve
nismos exagerados, que mais jogam os as-
ser convocada com
sociados numa prisão do que numa coopera-
boa antecipação e
tiva que se pretende seja livre e participativa.
divulgação para que
Alguns, bem claros e prontos. A assembleia
todos possam se
deverá definir se a responsabilidade dos as-
preparar e dela parti-
sociados e associadas é limitada ou ilimitada
cipar. No que se refere ao seu funcionamen-
na cooperativa. Quando a responsabilidade é
to, o estatuto deve sempre definir um quorum
limitada, em caso de dívidas, o associado ou
para a instalação e para votação. Evitar que a
associada responde apenas com o montante
assembleia seja instalada com qualquer nú-
correspondente às suas quotas. Se é ilimita-
mero de associados (sempre definir um quo-
da, caso haja necessidade de cobrir dívidas
rum mínimo) e evitar que a assembleia possa
ou outros encargos, o associado e associada
tomar decisões através de um número muito
respondem com todos os seus bens, estando
pequeno de votos: A democracia é também
apenas fora a propriedade familiar (quando
representada pela maior participação possí-
única) e bens essenciais para a sobrevivên-
vel. Dessa maneira, somente instalar a as-
cia que são protegidos pela Constituição.
sembleia com pelo menos 1/3 dos associa-
dos e, nesse caso, apenas aprovar propostas
c) Capital Social mínimo (formação, com pelo menos 2/3 dos votos, o que pode
distribuição e condições de retira- ser uma garantia de que as decisões não se-
da): jam tomadas apenas servindo ao interesse
É importante que, mesmo que o capital possa de um pequeno grupo. No entanto, no que
ser suprido de outra maneira, os associados se refere às decisões das Assembleias que
e associadas tenham uma participação fi- contemplam modificações no estatuto social
nanceira inicial na cooperativa, porque assim e destituição de administradores, a decisão
eles se sentem mais responsáveis pela orga- obrigatoriamente terá de ser tomada por 2/3
nização. Além disso, o estatuto deverá definir dos associados e associadas presentes na
critérios de valorização das quotas, quando é Assembleia e em dia com suas obrigações
possível transferir de um para outro associa- sociais. É obrigatório que haja uma pessoa
do ou associada (a transferência para não- que responda pela entidade, “ativa e passi-
-associado não deve ser permitida) e como vamente, em juízo e fora dele”. É muito bom
se realizam as retiradas das quotas em caso que os dirigentes não se perpetuem em
de saída ou exclusão. A eventual modificação seus cargos, mas que ocorram no máximo
45
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA

a cada quatro anos, substituições. Isso per- contra a cooperativa. Lembramos que a dis-
mite que novas pessoas se integrem e que solução somente poderá ocorrer se não hou-
novas ideias renovem a própria cooperativa. ver um número mínimo de associados que
Eventuais modificações na estrutura diretiva preencham os cargos da Administração e do
e nas suas competências também precisam Conselho Fiscal dispostos a continuar e as-
ser aprovadas por 2/3 dos associados e as- sumir a cooperativa.
sociadas da cooperativa.
i) Modo e processo de alienação ou
e) Conselho Fiscal: oneração de bens imóveis:
O Conselho Fiscal, que tem de ser inteira- Isso é para impedir que uma Diretoria, por
mente independente da Diretoria, deverá ser exemplo, possa vender ou dar em garantia
eleito pela Assembleia Geral e renovado pe- para dívidas bens imóveis da cooperativa. O
riodicamente. Ele tem como função maior o estatuto deve devem dizer como, quando e
de fiscalizar as atividades gerais da Diretoria em que condições isso pode ocorrer.
ou do Conselho de Administração e transmi-
tir seus pareceres à Assembleia. O Conselho j) Definição do exercício social e do
Fiscal não deve limitar o seu acompanha-
balanço geral:
mento às contas ou finanças da cooperativa,
Quando começa e quando termina o exercí-
mas a todas as suas operações e atividades.
cio fiscal, podendo ser de julho a julho, de
Suas reuniões devem ser frequentes e a sua
dezembro a dezembro e quando é realizado
composição deve incluir pessoas com capa-
o balanço da entidade.
cidade específica para suas funções.

k) Reforma do estatuto:
f) Forma do rateio entre os associa-
a. Que deve ser aprovada sempre por 2/3
dos das despesas, perdas e prejuí- das pessoas associadas presentes em
zos Assembleia especialmente convocada
Como serão rateadas as despesas (caso o para este fim.
fundo de reserva não consiga cobrir), as per-
das (iguais entre os associados) e os prejuí-
l) Destino do patrimônio em caso de
zos (proporcional à produção). Modificações
na forma de rateio das perdas ou prejuízos da dissolução.
cooperativa entre os associados e associadas Cumpridas as obrigações, o destino do patri-
deverá ser aprovada em assembleia geral. mônio restante deverá ser sempre para uma
entidade afim, podendo ser outra cooperati-
g) Retorno das sobras líquidas do va, central, ou mesmo uma associação.
exercício, proporcional às opera-
ções m) Quando o estatuto entra em vigor
Modificações na forma de rateio das sobras
prevista no estatuto da cooperativa entre os
associados e associadas deverá ser aprova- A ATA DA ASSEMBLEIA GERAL DE
da em assembleia geral. CONSTITUIÇÃO DEVERÁ CONTER:

h) Casos e formas de dissolução: a) local, hora, dia, mês e ano de sua realização;
Definir aqui em que casos e de que forma a
cooperativa pode ser dissolvida, isto é, como b) composição da mesa: nome completo do
fazer e em que condições se pode acabar presidente e secretário;
com ela. É obrigatório que isso só possa ser
feito em assembleia geral e que a decisão c) nome, nacionalidade, idade, estado civil, do-
seja tomada por um quorum bem alto (2/3), cumento de identidade, seu número e órgão
para que não ocorra que o fim da entidade expedidor, nº do C.P.F., profissão, domicílio e
seja decidido por um pequeno grupo que é residência dos associados;
46
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA

d) aprovação do estatuto social informando que


o mesmo é apresentado à parte;

e) declaração de constituição da sociedade, in-


dicando a denominação, a endereço comple-
to da sede (caso não estiver no Estatuto) e o
objeto de funcionamento;

f) valor e número de quotas-parte de cada coo-


perado, quando existir capital, forma e pra-
zo de integralização (o total do capital social
deve coincidir com o que consta no estatuto);

g) nome completo, dos associados eleitos para


os órgãos de administração, fiscalização e
outros (qualificação completa dos dirigentes,
se já não estiver anteriormente ou não for
apresentado à parte);

h) fechamento da ata, assinatura identificada de


todos os fundadores, com as respectivas ru-
bricas nas demais folhas.

i) visto de advogado.

47
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA

Com o auxilio dos textos do Módulo II e também com base em seus conhecimentos,
julgue os itens em certo C e errado E.

1. Viabilidade econômica é fazer um levantamento sobre a realidade da região, a dispo-


nibilidade produtiva dos associados, os custos da cooperativa, as possibilidades de
comercialização dos produtos (no caso de uma cooperativa de produtores), para ver
se uma cooperativa teria condições de se manter, sobreviver, ir adiante.

2. Do ponto de vista contábil, o capital social corresponde às quotas subscritas pelos


associados e associadas e o montante integralizado.

3. O Conselho Fiscal, que tem de ser inteiramente independente da Diretoria, deverá ser
eleito pela Assembleia Geral e renovado periodicamente.

4. Para a cooperativa começar a funcionar, ela não precisa necessariamente de um


patrimônio inicial, mas a expectativa de contribuição.

5. O processo de fundação será realizado mediante uma assembleia. Nela deverá ser
aprovado o estatuto social, definidos os associados fundadores e eleitas as pessoas
para os cargos estabelecidos no estatuto.

48
MÓDULO III - UNIDADES PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS
1, 2, 3 E 4 Os Pioneiros
de Rochdale, ao fun-
UNIDADE 1 darem a sua coope-
rativa de consumo
em 1844, decidiram
SEGUNDA PARTE – compilar um con-
CARACTERIZAÇÃO DAS junto de princípios,
buscados em múlti-
COOPERATIVAS plos precursores do
cooperativismo, para servirem de base para o seu
PRINCÍPIOS funcionamento. Posteriormente, os Congressos e As-
sembleias da Aliança Cooperativa Internacional em
COOPERATIVISTAS Paris (1932), Viena (1966), Tókio (1992) e Manches-
ter (1995) os reafirmaram, realizaram modificações e
acrescentaram outros. Podemos nos valer deles para
entender as proposições de funcionamento da coope-
rativa, mas também precisamos manter uma postura
crítica sobre os seus limites e implicações. Tradicio-
nalmente, costuma-se dizer que foram seis os prin-
cípios originalmente compilados. Outros dois foram
acrescentados posteriormente. E um foi excluído.

Na consolidação proposta no Congresso da


ACI de Manchester (1995), houve uma revisão des-
ses princípios. O resultado obtido naquele congresso
foi, primeiramente uma declaração a respeito dos va-
lores e a definição de sete princípios cooperativistas12.

VALORES:

“As cooperativas se baseiam nos valores de


ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igual-
dade, equidade e solidariedade. Seguindo a tradição
de seus fundadores, seus membros acreditam nos
valores éticos da honestidade, transparência, respon-
sabilidade social e preocupação pelos demais inte-
grantes”.

PRINCÍPIOS:

Primeiro Princípio: Livre acesso e


adesão voluntária

“As cooperativas são organizações voluntárias


abertas para todas aquelas pessoas dispostas a utili-
zar os seus serviços e dispostas e aceitar as respon-
sabilidades inerentes à sua condição de associado,

12
As citações entre aspas após os princípios correspondem às formula-
ções definidas no Congresso da ACI de Manchester.
49
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS

sem discriminação de gênero, raça, classe social, po- cipam ativamente da definição de suas políticas e na
sição política ou religiosa”. tomada de decisões. Os homens e mulheres, eleitos
para representar a sua cooperativa, respondem por
Este princípio define a necessidade suas responsabilidades, frente aos associados. Nas
das cooperativas serem suficien- cooperativas de base, os associados têm igual direito
temente abertas para que as pes- de voto (um associado, um voto), sendo que as coope-
soas - que queiram delas participar rativas de outros níveis também devem ser organizar
- possam entrar ou sair sem maio- com procedimentos democráticos”.
res dificuldades. É um princípio de
duas faces muitas vezes conflitan- A iniciativa mais concreta deste princípio é de
tes. Do ponto de vista da demo- que cada associado tem um único voto, seja qual for
cracia, ele é um princípio muito a sua posição ou, mesmo, o número de quotas-partes.
interessante, mas isso em socie-
dades igualitárias. Aqui está uma das importantes diferenças entre
as cooperativas e as sociedades comerciais, uma vez
Na nossa sociedade, tremendamente dividida que nestas últimas as pessoas exercem seu direito de
em extremos de privilegiados e multidões de excluídos, participação de acordo com o capital investido (quanto
o princípio camufla a divisão de classes e nivela por mais capital, mais poder).
cima a participação de ricos e pobres, sem considerar
que, neste caso, pelo poder econômico, quem acaba Nada indica, no entanto, que apenas este princí-
mandando sempre será o pequeno grupo dos mais pio, vindo sozinho, com todas as suas boas intenções,
abastados. Este foi o mal que transformou muitas coo- possa garantir a democracia interna da cooperativa.
perativas brasileiras, nas últimas décadas, em espaço Ele deve vir acompanhado pela possibilidade de todos
privilegiado de grandes fazendeiros ou comerciantes. os sócios manterem uma posição de igualdade em
Os pequenos produtores foram marginalizados quando termos de apropriação dos poderes políticos e econô-
não tiveram de se auto excluir. micos, estar em condições de serem eleitos para qual-
quer cargo de direção e da possibilidade de usufruir
A liberdade de entrar e sair deve existir (afinal, de todos os benefícios que a cooperativa pode prestar.
é garantida pela nossa Constituição no seu Artigo 5º -
Item XX: “Ninguém poderá ser compelido a associar-se Este princípio da organização democrática leva
ou a permanecer associado”), mas as pessoas devem em conta também a necessidade das cooperativas
estabelecer mecanismos internos para terem autono- manterem a sua autonomia frente ao Estado, o que
mia coletiva de decidir se querem que uma determi- aliás também é garantido pela atual Constituição Fe-
nada pessoa entre ou não. Afinal, esta possibilidade deral nos itens XVI a XX do artigo 5º.
também faz parte da autodeterminação democrática
das pessoas organizadas. Terceiro Princípio: Participação
econômica dos seus associados
Assim, ao mesmo tempo que defendemos firme-
mente o princípio de que a adesão seja voluntária, en- “Os associados contribuem de maneira equita-
tendemos que o livre acesso deve ter critérios. Por isso, tiva e controlam de maneira democrática o capital da
sugerimos que o estatuto social da cooperativa preve- cooperativa. Pelo menos uma parte desse capital é
jam mecanismos de entrada e saída para preservar a propriedade comum da cooperativa. Usualmente, rece-
possibilidade de manter, por exemplo, uma cooperativa bem uma compensação limitada, se for possível, sobre
apenas com pequenos produtores rurais ou trabalha- o capital subscrito como condição de fazer parte da
dores urbanos. cooperativa. Os associados contribuem com a coope-
rativa, distribuindo as sobras existentes prioritariamen-
Segundo Princípio: Controle, te da seguinte maneira:
organização e gestão democrática
1. no desenvolvimento da cooperativa através
“As cooperativas são organizações democráti- da criação de reservas, as quais, pelo menos
cas controladas pelos seus membros, os quais parti- uma parte, deve ser indivisível;
50
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS

2. beneficiando os associados em proporção às estatais ou para-estatais, ou do Ministério Público do


suas transações com a cooperativa; e Trabalho (cabendo a este poder de fiscalização e defe-
3. no apoio a outras atividades da cooperativa, sa de direitos sobre eventuais relações trabalhistas de
segundo decisão da assembleia dos asso- subordinação) ou privados.
ciados”.
Segundo a OIT, os governos nacionais “deve-
As cooperativas necessitam, para começar a riam estabelecer uma política e um marco jurídico fa-
voráveis às cooperativas e compatíveis com sua natu-
funcionar, que os sócios entrem com um capital inicial
reza e função, com vistas a:
que é dividido em quotas-partes. Além disso, na medida
em que a cooperativa vai crescendo, ela não só pode a) Estabelecer um marco institucional que per-
mita proceder ao registro das cooperativas
(e deve) captar mais recursos para a sua capitalização
da maneira mais rápida, simples, econômica
e ampliação de atividades, mas deve também esperar e eficaz possível.
que os associados contribuam com ela para melhorar e
b) Promover políticas destinadas a permitir a
aumentar a sua atuação. Por outro lado, não pode reter
criação de reservas apropriadas, que em
todos os excedentes e nada distribuir aos associados. parte pelo menos poderiam ser indivisíveis,
assim como fundos de solidariedade, nas
O equilíbrio entre a capitalização e o benefício cooperativas.
aos associados sempre será um desafio para o melhor
c) Prever a adoção de medidas de supervisão das
desempenho das cooperativas e também marca a coo-
cooperativas que sejam de acordo com a sua
perativa como uma sociedade sem fins lucrativos, ape-
natureza e funções, que respeitem sua autono-
sar de desenvolver atividades comerciais.
mia e estejam de conformidade com a legisla-
ção e práticas nacionais e não menos favorá-
Quarto Princípio: Autonomia e veis que as medidas aplicáveis a outras formas
independência de empresa e organização social”. Nesta linha
temos ainda um longo caminho a percorrer.
“As cooperativas
são organizações autô-
Quinto Princípio: Educação, capacitação
nomas, de ajuda mútua,
e informação
controladas por seus as-
sociados. Caso entrem “As cooperativas
em acordo com outras devem oferecer educa-
organizações (inclusive ção e capacitação aos
governos) ou buscam ca- seus associados, a seus
pital de fontes externas, dirigentes eleitos, geren-
devem realizar estas iniciativas somente na medida tes e empregados, de tal
em que possa ser assegurado o controle democrático maneira que contribuam
por parte dos associados, mantendo a autonomia da eficazmente no desen-
cooperativa”. volvimento de suas cooperativas. As cooperativas in-
formam também ao público em geral - principalmente
As cooperativas devem poder se constituir e aos jovens e aos criadores de opinião - sobre a nature-
funcionar com liberdade e desenvolver as suas fina- za e os benefícios do cooperativismo”.
lidades sem ter que se submeter nem ao Estado ou a
outras instituições, bem como sempre buscar não se A Cooperativa deve investir obrigatoriamente
tornarem reféns de financiadores ou contribuidores de parte de seu excedente sobre operações para a edu-
capital. cação, assistência técnica e social dos seus associa-
dos e suas famílias. Nisso ela deve aplicar pelo menos
Em outras palavras, cumpridos os requisitos 5% das sobras líquidas do exercício financeiro. Além
da lei, são as assembleias das cooperativas que de- disso, é sempre importante que mais pessoas, sejam
vem conduzir autonomamente a sua vida e gestão. associados ou não associados, especialmente os jo-
Está também proibida a obrigatoriedade de filiação em vens, compreendam e adiram à ideia cooperativista,
qualquer instância de representação oficial ou extra- fortalecendo a cooperativa e expandindo o movimento
-oficial e a interferência de organismos externos, sejam na sociedade em geral.
51
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS

Sexto Princípio: Cooperação entre as so e equilíbrio para evitar problemas de admi-


cooperativas nistração e não comprometer inteiramente a
disponibilidade de capital. Quanto a insistir nas
“As cooperativas servem os seus associados e
vendas “à vista”, além de garantir a liquidez e a
fortalecem o movimento cooperativista trabalhando de saúde da cooperativa, pode trazer benefícios
maneira conjunta por meio de estruturas locais (cen- aos próprios associados: lembrando-os a que
trais), regionais (federações), nacionais (confedera- não exagerem nas compras e planejando o
ções) e internacionais”. seu orçamento familiar; fazendo com que pes-
quisem preços que melhor convierem, tendo
A cooperativa busca a integração com outras prudência ou resistindo em relação a vanta-
cooperativas visando o fortalecimento do movimento e gens (que depois criam dificuldades insaná-
procurando se fortalecer para intervir da melhor forma veis) provindas da disponibilidade de crédito;
na transformação da sociedade. É bom lembrar que o e finalmente garantindo a todos os associa-
dos a clareza da verdadeira situação de sua
objetivo principal da cooperativa é o de beneficiar os
cooperativa, sem dívidas a vencer, sem altos
seus associados, mas sempre numa perspectiva de montantes a receber que, como se sabe, em
melhorar as condições de toda a comunidade. Assim, grande parte, acabam nunca sendo recebidos.
atuando em conjunto com outras cooperativas em nível
B) Controle da pureza, qualidade e
mais amplo poderá obter melhor sucesso na constru-
exatidão nos pesos e nas medidas
ção de uma sociedade melhor.
dos produtos
Sétimo Princípio: Compromisso com a A cooperativa deve garantir, para os seus só-
cios ou outras pessoas que compram seus
comunidade
produtos, a sua absoluta honestidade nos
“A cooperativa trabalha para o desenvolvimen- pesos, medidas e qualidade, para preservar
to sustentável da sua comunidade através de políticas os princípios da confiança e da moralidade
definidas por seus associados”. entre as pessoas envolvidas e a cooperativa.
C) Realização de operações preferen-
A cooperativa sempre deve ter uma relação mui-
cialmente com associados
to próxima com a comunidade em que se encontra.
Ela, ao mesmo tempo que tem como centro, o bene- Como se trata de uma associação de inte-
resse comum dos sócios, é natural que a
fício dos seus sócios, deve irradiar o seu princípio da
cooperativa os privilegie em suas operações.
cooperação para que a sociedade que ela propõe - da
No entanto, quando a assembleia considerar
participação, da igualdade e da justiça - também esteja
que é benéfico para a cooperativa trabalhar
presente e disponível para todos.
com não-sócios, o mesmo poderá ser feito,
mas não na medida em que as transações
Até aqui os princípios definidos no Congresso
com os não-sócios superem as dos sócios,
da ACI em Manchester.
porque neste momento a cooperativa perde
sua natureza e passa a ser uma simples em-
Tradicionalmente, além dos princípios, algumas
presa comercial ou, pior, vira atravessadora
normas técnicas costumam ser apresentadas como
com ganhos exorbitantes.
fundamentais desde os tempos da criação da coopera-
tiva de Rochdale: D) Venda a preços correntes ou de
mercado
A) Compras e vendas à vista As vendas que a cooperativa faz, nas ope-
Esta norma nos interessa principalmente em rações de consumo, devem estar próximas
relação às vendas a prazo vinculadas a um ao preço de mercado para: não destruir a
dos grandes males das pequenas iniciativas concorrência que normalmente é formada
precárias que é o que se chama de “venda a por pequenos comerciantes, os quais sobre-
fiado” ou seja sem garantia. vivem em dificuldades com o seu comércio;
Em relação às demais vendas a prazo (com e não se descapitalizar e assim, depois, não
garantias) o gerenciamento deve ter bom sen- ter dinheiro suficiente para levar adiante as
suas operações.
52
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS

Mas, como sempre são muito grandes as dife- O Novo Código Civil Brasileiro, em vigor a
renças de preços entre o produtor e o consumidor, a partir de 11 de janeiro de 2003, em seu Artigo 1.094,
cooperativa, que neste caso assume o papel do inter- inovou em relação aos princípios básicos das coo-
mediário ou facilitador do negócio, pode ter algum ga- perativas, excluiu a “neutralidade política” e, fazen-
nho e, além disso, oferecer especificamente aos seus do uma mescla de múltiplas influências, definiu as
sócios preços mais em conta. seguintes características:
I. Variabilidade, ou dispensa do capital so-
E) Destino comum dos benefícios de
cial.
operações com terceiros
II. Concurso de sócios em número mínimo
Todos os resultados obtidos com as operações
necessário a compor a administração da
com não sócios devem ser destinados para o
sociedade, sem limitação de número má-
benefício da cooperativa como um todo, seja
ximo.
na capitalização, seja para cobrir perdas ou
prejuízos. O que é ganho com estas operações III. Limitação do valor da soma de quotas do
integra o patrimônio comum da cooperativa e capital social que cada sócio poderá to-
mar.
não é distribuído entre os associados.
IV. Intransferibilidade das quotas do capital
Outro princípio, criado em Rochdale e até pre- a terceiros estranhos à sociedade, ainda
sente em nossa Lei nº 5.764/71, foi o da Neutralida- que por herança.
de Política e Religiosa. No entanto, por decisão do V. Quorum, para a assembleia geral funcio-
Congresso da ACI em Viena, o mesmo foi abandonado. nar e deliberar, fundado no número de só-
O termo correto em lugar de “neutralidade” seria “não cios presentes à reunião, e não no capital
social representado.
discriminação”, ou seja que não pode haver nenhum
tipo de discriminação, seja social, sexual, política, ra- VI. Direito de cada sócio a um só voto nas
cial ou religiosa, em relação ao ingresso ou presença deliberações, tenha ou não capital a so-
ciedade e qualquer que seja o valor de
ou tratamento aos associados na cooperativa (o que foi
sua participação.
ressaltado no Congresso da ACI de Manchester).
VII. Distribuição de resultados, proporcional-
Além da não discriminação (as pessoas não po- mente ao valor das operações efetuadas
dem ter tratamento diferente porque são brancas ou pelo sócio com a sociedade, podendo ser
negras, católicas ou protestantes, de um partido ou atribuído juro fixo ao capital realizado.
de outro, homem ou mulher, homossexuais ou hete- VIII. Indivisibilidade do fundo de reserva entre
rossexuais, etc.), discute-se a questão da vinculação os sócios, ainda que em caso de dissolu-
a partidos políticos, o que, quando assumida oficial- ção da sociedade.
mente pelas cooperativas e outras associações sem
Há um último princípio a ser destacado neste
fins lucrativos, poderá trazer problemas nas relações
rol. Mesmo não tendo sido capitulado neste sentido tão
internas, ou criar dependência, ou mesmo desvirtuar
diretamente pelos Congressos da ACI ou pelos Pionei-
as finalidades da entidade.
ros de Rochdale, ele é fundamental: “A prioridade da
cooperativa são os associados e associadas”.
No entanto, esta questão da neutralidade polí-
tica, a gente tem de discutir muito claramente. É cer- Não há como desmerecer a vonta-
to que posições político-partidárias são complicadas de e as necessidades dos associa-
quando assumidas pelas entidades tipo cooperativas dos e associadas quanto à busca
(a militância dos sócios é outro assunto e deve ser in- de benefícios específicos para si,
centivada). No entanto, uma atuação política, entendida suas famílias, seu futuro. Isso faz
como uma participação na transformação da socieda- parte das perspectivas de autono-
de atual para uma melhor, mais justa, mais igualitária, mia que são essenciais numa so-
é fundamental. Neste caso, a gente não pode ficar na ciedade como a cooperativista. Ou,
neutralidade. Os que são contra esta participação são senão, qual seria o papel desem-
os que querem a preservação dos privilégios, da explo- penhado pelos mesmos dentro
ração, da desigualdade. da cooperativa?
53
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS

Esta discussão sobre o papel e a Mesmo nos casos em que se possa dizer que os
importância do elemento humano trabalhadores da cooperativa têm efetiva participação
associado, torna-se essencial, do democrática, os modelos que transferem todo o contro-
ponto de vista político, inclusive le do desenvolvimento da atividade produtiva da parti-
para resolver uma série de proble- cipação dos associados e associadas para uma ins-
tância centralizadora de poder restrito, os transforma
mas que dizem respeito à própria
em meras partes da grande roda dentada que move o
identidade e natureza da coopera-
processo. Não seriam assim agentes autônomos, por-
tiva e, ao mesmo tempo, permite
que estão estariam submetidos a uma máquina inani-
fazer com que se possa alcançar
mada chamada cooperativa.
um conjunto social que, efetiva-
mente, tenha harmonia e unidade. É sempre muito possível que o entusiasmo pela
proposta e pelo andamento das atividades acabe pu-
“A ideia de co-atividade, de mutualidade, de xando a priorização da estrutura da sociedade, minimi-
igualdade e de justiça distributiva é o fermento que a zando o objetivo central da mesma que é o atendimen-
anima na sua vida interior, presidindo as relações entre to das necessidades dos integrantes.
os membros e a sociedade. E é esse fermento interior,
consubstanciado na cooperação dos sócios, que per- Não desejamos ser interpretados como defen-
mite a tradução desta ideia em atos objetivos e inte- sores de uma perspectiva que não valorize o aspecto
resse comum. Temos assim, no caso concreto, numa funcional da iniciativa. O que desejamos apresentar é
realização objetiva e subjetiva da ideia de obra e de um ponto de vista que tenta conciliar o fortalecimento
empresa, a Instituição de HARIOU, REINARD e BUR- do empreendimento com a satisfação e felicidade dos
DEAU, vivendo e atuando em favor dos seus membros, seus participantes. E a base essencial da preservação
sob as vestes jurídicas da sociedade cooperativa”13. e implementação deste segundo aspecto é a consolida-
ção da autonomia efetiva dos associados e associadas.
Não se pode pois esquecer que a centralidade
da iniciativa são as pessoas que a compõem. Elas, “O passo mais importante e, certa-
suas necessidades e aspirações é que devem motivar mente, o mais difícil será o de levar
o corpo de associados (ou futuros
o esforço do empreendimento e a conquista de novos
associados) a formular uma ideolo-
espaços que o consolidem, sem o que a cooperativa
gia cooperativista calcada na auto-
como “cooperativa” não existe.
nomia criativa”15.

“A cooperativa, ao mesmo tempo que racio-


E, frente a isso, o primeiro grande passo possí-
naliza a comercialização, influi na racionalização da
vel para a transformação da cooperativa numa iniciati-
atividade produtiva do agricultor (através da assistên- va ideal é o da autogestão.
cia técnica, do fornecimento de insumos, etc.) e con-
tribui para elevar a produtividade e baixar os custos ”O processo cooperativista come-
de produção, deve atuar fundamentalmente sobre as ça a atingir o seu ideal na medi-
pessoas, convertendo-as para fora do jugo do capital; da em que desemboca na auto-
atuando, pois, no sentido da autonomia econômica e gestão, isto é: Na medida em que
sociocultural; o que, por sua vez, tem função integra- o trabalho assumir a hegemonia
dora da pessoa como uma ser global e da comunida- sobre o capital. O sistema de au-
de como um todo, alcançando-se em ponto de apoio togestão contém uma significativa
e estímulo de promoção com o intuito de uma integra- superação do modo de produção
ção cada vez maior no processo de desenvolvimento e de pensar capitalista pois, ape-
sar de não abolir a propriedade
global da sociedade toda” 14.
privada do capital e de permitir
uma remuneração adequada ao
A priorização dos sócios e sócias na cooperativa
esforço de poupança da socieda-
nos remete à dimensão da sua autonomia na gestão e
de, garante total autonomia ao tra-
participação. balhador para utilizar o capital em
13
FRANKE, Walmor. Direito das Sociedades Cooperativas. São Paulo, Sa- função da promoção da classe”16.
raiva/USP, 1973. Pág.63.
14
FOLLMAN, José Ivo. Participação Cooperativa e Mudança Social, in
Perspectiva Econômica, vol. 10, nº 27, Sãoo Leopoldo, UNISINOS, 1980, 15
FOLMANN. José Ivo. Op. Cit. Idem, Ibidem. Pág. 65.
pág.71. 16
Idem, Ibidem. Pág. 70.
54
MÓDULO III AS MULTIPLAS FORMAS
ORGANIZATIVAS E A
UNIDADE 2 ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA

Pela nossa tradição organizativa, optamos


AS MULTIPLAS FORMAS quase sempre pelas associações.
ORGANIZATIVAS E A
Mesmo que, em momentos va-
ESPECIFICIDADE DA riados, outras formas de atuação
COOPERATIVA coletiva e esforço comum tenham
sido adotadas no Brasil, como,
por exemplo, os fundos de mú-
tuo, os mutirões, os fundos de
pasto, os fachinais, os quilom-
bos, estas sempre foram muito
delimitadas e não conseguiram
reconhecimento tão consisten-
te quanto as associações.

Os fundos de mútuo evoluíram, em alguns ca-


sos, para as cooperativas de crédito, os mutirões per-
maneceram informais e bastante utilizados, os fundos
de pasto e os fachinais foram formalmente reconhe-
cidos em alguns estados, e os quilombos tiveram re-
conhecimento tardio e enfrentam a incompreensão
opressora dos escravocratas remanescentes na nos-
sa história.

No entanto, o processo de regulação do con-


junto de inciativas coletivas de organização acabou
por ser canalizado para o âmbito das associações,
anteriormente chamadas e ainda conhecidas como
“sociedades civis sem fins lucrativos”.

Contribuiu muito para isso tanto o processo


equivocado das cooperativas no Brasil, de que já fa-
lamos, como outros dois fatores importantes a ser
destacados:

a) A prática reiterada dos organismos gover-


namentais promovendo a orientação em
direção às associações como solução de
todos os problemas relacionados à pro-
dução de bens e serviços. Até hoje temos
políticas no âmbito produtivo que, mesmo
com a limitação das associações no cam-
po do comércio, continuam a orientar a sua
constituição, preparando o terreno para
problemas futuros que, evidentemente, o
agente público orientador não irá assumir
ou enfrentar. Quase todos os programas de
55
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA

desenvolvimento do Nordeste, durante déca- O histórico do cooperativismo no Brasil é bas-


das, foram desenvolvidos na perspectiva de tante negativo. Dominadas por empresários, cooperati-
participação de associações. A orientação vas enganaram pequenos produtores. Outras manipu-
era: “Constitua uma associação” para rece- laram os seus associados em função de um pequeno
ber recursos, equipamentos, etc... grupo hegemônico. A estrutura cooperativista foi sub-
serviente com as ditaduras. Muitas cooperativas não
Apesar do novo Código Civil ter excluído as as- conseguiram resistir à concorrência predadora das
sociações da área de atuação no campo econômico, grandes corporações, prejudicando principalmente os
apesar de parecer da Receita Federal contrário à autori- pequenos.
zação de utilização das associações para operações de
mercado, apesar de muitos estados, cumprindo a lei, se E muito mais. No entanto, cabem as seguintes
negarem a autorizar a emissão de Bloco de Notas para perguntas:
as associações, ainda há uma insistência de que as as-
sociações sejam convidadas a integrar e participar de 1. Por que não resgatarmos para a
programas que envolvem operações de mercado, cons- gente este instrumento de organi-
tituindo-se, inclusive, em contrainformação ao processo zação e conseguir que os traba-
cooperativo e levando-o ao enfraquecimento. lhadores assumam o seu gerencia-
mento e pratiquem efetivamente a
b) No Brasil, apesar de inúmeras experiências sua capacidade de direção e pro-
que são fruto de iniciativas de trabalhadores dução de forma autônoma, desen-
volvam a sua criatividade em seu
que buscam saídas para a crise do emprego
próprio benefício, reservando para
ou às condições de subordinação e buscam
si os ganhos, e aprendam a assu-
também melhorar as suas condições de vida,
mir a gestão da sua economia, su-
continua, a resistência de setores mais pro-
perando a dominação dos patrões
gressistas (quanto mais dos retrógrados!),
e do capital?
seja na área sindical como na político-par-
tidária, talvez por total desconhecimento ou,
2. Não estaremos acomodados com
em outras circunstâncias por não consegui-
as associações (que foram um bom
rem pensar o desenvolvimento do país sem a
instrumento até agora mas que são
tutela e as decisões centralizadas do Estado,
limitadas do ponto de vista econô-
tanto em relação às cooperativas como em
mico) e, por isso, não queremos
relação à iniciativa empresarial.
experimentar outras e novas alter-
nativas organizativas, mesmo que
tenham dado certo em inúmeros
outros países no mundo?

http://www.cooperativismopopular.ufrj.br Por isso, o que defendemos é que deveríamos


lutar contra a atual situação.

As resistências havidas em relação às coope-


Seja a empresa17, seja a cooperativa, ambos
rativas e às empresas capitalistas, temos de admitir,
adequados para as atividades de ação econômica, de-
se baseiam muitas vezes em razões fortes e merecem
veriam ambos ser instrumentais que promovem a par-
atenção. Nosso histórico, tanto num como no outro
ticipação e o benefício de todas as pessoas envolvidas
caso, fazem com que as restrições sejam motivadas
e não apenas procurar, o que ocorreu em quase to-
por práticas de exploração, enganação, manipulação,
dos os lugares, o ganho insensível de uns poucos que
tornando os trabalhadores e as trabalhadoras despre-
detém o capital e exploram o trabalho. Mas, é o que
zados e marginalizados do processo econômico. Por
temos atualmente. E é em base a esta plataforma de
isso, talvez, que as soluções propostas para este as-
restrição legal, pouco afeita à inovação, à criatividade
sunto seja ou o refúgio na associação ou, senão, na
e à liberdade de organização que temos de trabalhar.
aceitação do trabalho subordinado, em base a direitos,
em muitos casos questionáveis. 17
No conceito desenvolvido no capítulo I desta apostila.
56
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA

Para melhor ter presente as características das • Transformar bens, atuando em nível de
formas de organização atual no campo econômico, na mercado.
produção de bens e serviços, vamos apresentar um • Armazenar e comercializar.
quadro comparativo que busca estabelecer as diferen-
• Dar assistência técnica e educacional aos
ças entre associações, cooperativas e empresas (na
associados e associadas.
regulação atual) e possibilitar que as pessoas tenham
condições de optar por uma delas quando decidirem
c) Microempresa:
constituir uma iniciativa, individual ou coletiva que seja
• Realizar atividades mercantis, de comér-
instrumento de atuação legalizada no campo do de- cio ou indústria, de interesse dos seus só-
senvolvimento rural sustentável. cios e sócias.

Observamos que decidimos apresentar também 3- Amparo Legal:


a empresa que, apesar de poder se constituir por uma a) Associação:
só pessoa, é também forma organizativa coletiva, mes- • Constituição Federal (Art. 5º) e Novo Có-
mo que, no nosso caso, de viés capitalista. Neste caso, digo Civil.
optamos pela microempresa por estar mais próxima do
campo econômico das comunidades e público vincula- b) Cooperativa:
do à agricultura familiar. • Constituição Federal (Art. 5º), Novo Códi-
go Civil e Lei nº 5.764/71.
CARACTERÍSTICAS DAS
c) Microempresa:
ORGANIZAÇÕES:
• Novo Código Civil, Código Comercial e
Lei Complementar nº 123/2006.
1- Definição Legal:
a) Associação18: 4- Número mínimo de pessoas para
• Associação, sem fins econômicos e sem
instituição e funcionamento:
fins lucrativos.
a) Associação:
• Mínimo de duas pessoas.
b) Cooperativa:
• Sociedade simples, com fins econômicos, b) Cooperativa:
mas sem fins lucrativos. • Número mínimo necessário para preen-
cher os cargos da sua administração e do
c) Microempresa: Conselho Fiscal.
• Sociedade empresária, de fins econômi- c) Microempresa:
cos, com receita bruta anual igual ou infe- • ,Uma pessoa19.
rior a 360 mil reais.
5- Indicações para constituição e
2- Objetivos: registro20:
a) Associação: a) Associação:
• Promover a implementação e a defesa • Discussão e elaboração dos Estatutos.
dos interesses dos seus associados e as- Aprovação.
sociadas. • Eleição da Diretoria.
• Incentivar a melhoria técnica, profissional • Ata de Constituição.
e cultural dos seus integrantes.
• Registro dos estatutos e ata no Cartório
de Registro de Pessoas Jurídicas da Co-
b) Cooperativa:
marca.
• Viabilizar e desenvolver a atividade pro-
dutiva dos seus associados e associadas. • CNPJ na Receita Federal.
19
Apesar da possibilidade da constituição por uma única pessoa, a suges-
tão é que tenha a forma coletiva e que possa ser um eventual estágio para
18
A Associação é a fórmula adotada para iniciativas chamadas de movi- chegar à cooperativa.
mentos, entidades sociais, grupos comunitários, cantinas, núcleos, muti- 20
É obrigatório o acompanhamento do registro por parte de um Técnico em
rões, círculo de máquinas etc., que tenham decidido se legalizar e não a Contabilidade e a assinatura de Advogado na associação e na cooperati-
dotam, para a atividade econômica, a forma jurídica da cooperativa. va.
57
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA

• Abertura de Livros: Ata e Caixa. • A denominação, os fins, o tempo de dura-


ção e a sede da associação.
• Registro no INSS e Ministério do Trabalho.
• Os requisitos para admissão, demissão e
• Alvará de funcionamento.
exclusão dos associados.
b) Cooperativa: • Os direitos e deveres dos associados e
• Discussão e Elaboração do estatuto so- se os associados respondem subsidiaria-
cial, com a sua aprovação, eleição da Di- mente, pelas obrigações da associação.
retoria e do Conselho Fiscal, subscrição
• As fontes de recursos para a sua manu-
das Quotas.
tenção.
• Encaminhamento da documentação à • O modo de constituição e funcionamento
Junta Comercial do Estado.
dos órgãos da administração.
• Abertura de livros: Caixa e associados e • Quem responde juridicamente pela enti-
associadas. dade.
• Encaminhamento do pedido de CNPJ. • As condições para a alteração das dispo-
• Abertura de conta bancária e outras provi- sições estatutárias e para a sua dissolu-
dências: ção.

 INSS - Ministério do Trabalho - Alvará • Destino do patrimônio em caso de disso-


da Prefeitura. lução.

c) Microempresa: b) Cooperativa:
• Preencher formulário de busca. • Nome, tipo de entidade, sede e foro.
• 3 vias do Contrato social. • Área de atuação.
• Preencher ficha de cadastro nacional. • Definição do exercício social e do balanço
• Preencher DARF para recolhimento fede- geral.
ral.
• Objetivos sociais.
• Preencher formulário de solicitação de re-
gistro. • Entrada e saída dos associados e asso-
• Anexar cópia da carteira de identidade e ciadas.
CPF dos sócios e sócias. • Responsabilidade limitada ou ilimitada
• Ir à Secretaria da Fazenda com toda do- dos associados.
cumentação registrada.
• Formação, distribuição e condições de re-
• Preencher Ficha de Atualização Cadas- tirada do capital social.
tral, com diversos anexos.
• Assembleias, estrutura diretiva e quem
• Na prefeitura, apresentar toda a docu-
mentação registrada na Junta Comercial, responde juridicamente.
nova fotocópia do CPF e RG dos sócios • Prazo do mandato dos dirigentes, do con-
e fotocópia da situação atual do IPTU, re- selho fiscal e processo de substituição.
querendo alvará de funcionamento.
• Convocação e funcionamento da assem-
• Lembrar que antes é necessário ter a li-
bleia geral.
cença do Corpo de Bombeiros.
• Distribuição das sobras e rateio dos pre-
6- Pontos essenciais no estatuto ou no
juízos.
contrato social21:
• Casos e formas de dissolução.
a) Associação:
• Processo de liquidação.
21
De acordo com o artigo 46 do Novo Código Civil Brasileiro, devem constar
em todos os estatutos e contratos das pessoas jurídicas, os seguintes
• Modo e processo de alienação ou onera-
itens: a) Denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo ção de bens imóveis.
social, quando houver; b) o nome e a individualização dos fundadores ou
instituidores, e dos diretores (na associação e na cooperativa isso consta-
rá em ata); c) O modo como se administra e representa, ativa e passiva-
• Reforma dos estatutos.
mente, judicial e extrajudicialmente; d) Se o ato constitutivo é reformável
no tocante à administração e de que modo; e) Se os membros respondem • Destino do patrimônio na dissolução ou
ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; e f) As condições da
extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, neste caso.
liquidação.
58
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA

c) Microempresa: 8- Representação legal:


• Não possui estatutos. a) Associação:
• O seu registro é feito através de formulário • Pode representar os associados e asso-
padrão para firma individual ou de contra- ciadas em ações coletivas de interesse
to social quando há mais de uma pessoa dos mesmos e das mesmas.
na sociedade. b) Cooperativa:
• O contrato social (quando constituída por • Pode representar os associados e asso-
mais de uma pessoa física ou jurídica) de- ciadas em ações coletivas de interesse
verá obrigatoriamente conter: dos mesmos e das mesmas.

 Nome e identificação da empresa e c) Microempresa:


dos seus sócios (ao final do nome da • O detentor ou detentora do maior capital
microempresa, acrescentar ME). ou o eleito/eleita entre os seus integrantes
representa a sociedade, mas não os de-
 Participação financeira na constituição mais sócios/sócias individualmente, a não
do capital social. ser que instrumento legal o autorize.
 A sede e foro da empresa.
9- Área de atuação:
 Objetivos. a) Associação:
 Duração. • Sua área de atuação é apenas limitada
pelos seus objetivos.
 Entrada e saída de sócios.
b) Cooperativa:
 Responsabilidades dos sócios e modo
• Sua área de atuação é apenas limitada
de administrar.
pelos seus objetivos.
 Distribuição dos lucros.
c) Microempresa:
 Forma de dissolução. • Sua área de atuação é apenas limitada
pelo âmbito de suas atividades.
7- Formação do patrimônio:
a) Associação: 10- Atividades mercantis:
• Não possui capital social. Seu patrimônio a) Associação:
• Pode ou não comercializar22
é formado por doações, fundos e reser-
vas. A inexistência de capital social consti- b) Cooperativa:
tuído dificulta a obtenção de financiamen- • Realiza atividades de comércio direta-
tos. mente.

b) Cooperativa: c) Microempresa:
• Pode ou não possuir capital social, o qual, • Tem como finalidades realizar atividades
mercantis.
somado ao imobilizado (fundos, bens mó-
veis e imóveis) facilita a obtenção de cré- 11- Operações financeiras:
dito junto às instituições financeiras. a) Associação:
• Pode realizar operações financeiras e
• O capital social é constituído por aportes
bancárias usuais, mas não tem como fi-
dos associados e associadas (quotas) ou,
nalidade e nem realiza operações de em-
em parte, como o restante do patrimônio,
préstimos ou aquisições com o governo
pode ser constituído por doações, em-
federal.
préstimos e processos de capitalização.
• Não é beneficiária de crédito rural
c) Microempresa:
• Seu capital social é constituído pela parti- 22
Não tendo objetivo de lucro e na busca da implementação de seus ob-
jetivos, a associação pode efetuar transações comerciais, desde que
cipação financeira, mobiliária e imobiliária as mesmas não componham a sua principal finalidade e desde que o
eventual resultado financeiro não seja distribuído para os associados e
dos sócios e sócias, doações, emprésti- associadas, mas integralmente aplicado em suas finalidades. Havendo
mos e financiamentos, além da capitaliza- a atividade da comercialização, ela deve estar prevista nos estatutos e a
associação deverá se inscrever na Fazenda Estadual para o devido reco-
ção nas operações mercantis. lhimento do ICMS e, assim, será considerada equivalente a uma empresa.
59
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA

b) Cooperativa: c) Microempresa:
• Realiza operações financeiras e bancá- • Os sócios e as sócias integrantes da di-
rias usuais e pode realizar operações de reção da microempresa realizam retiradas
EGF (empréstimos do governo federal) mensais “pró-labore” pelo exercício do
e AGF (aquisições do governo federal), cargo.
as quais facilitam as suas operações de
aquisições de produtos do quadro social. 14- Destino do resultado financeiro:
• As cooperativas de produtores rurais são a) Associação:
beneficiárias do crédito rural. • Não há rateio de sobras das operações fi-
nanceiras entre os associados e associa-
c) Microempresa:
das. Qualquer superavit financeiro deve
• Realiza operações financeiras e bancá-
ser aplicado em suas finalidades.
rias usuais.
b) Cooperativa:
12- Responsabilidade dos associados: • Há rateio das sobras obtidas no exercício
a) Associação: financeiro, devendo antes a assembleia
Os administradores e as administradoras po- destinar parte aos fundos de reserva e
dem ser responsabilizados por seus atos que educacional (retenção obrigatória de 10%
comprometem a vida da entidade. e 5% respectivamente). As demais sobras
podem ser destinadas a outros fundos de
Os associados e as associadas não respondem capitalização ou diretamente aos associa-
pelas obrigações assumidas pela entidade. dos e associadas de acordo com a quan-
tidade de operações que cada um deles/
b) Cooperativa: uma delas teve com a cooperativa.
A responsabilidade dos associados e asso-
c) Microempresa:
ciadas está limitada ao montante de suas
• A instância de decisão da microempresa,
respectivas quotas, a não ser que o estatuto
formada pelos sócios e sócias, define a
social determine diferentemente. Quando o
destinação do resultado financeiro.
estatuto social determina a responsabilidade
“ilimitada”, os associados e associadas po- • O montante destinado aos sócios e sócias
dem responder com o seu patrimônio pes- é distribuído de acordo com os percentual
soal. de participação de cada um/cada uma na
constituição do capital da empresa.
c) Microempresa:
Os sócios e sócias respondem no limite de 15- Escrituração contábil:
sua participação no capital da microempresa, a) Associação:
a não ser que o contrato determine diferente- • Escrituração contábil simplificada e objeti-
mente ou nos casos de fraude ou dolo. va.

13- Remuneração dos e das dirigentes: b) Cooperativa:


a) Associação: • A escrituração contábil é específica e
• Os e as dirigentes não são remunerados/ mais complicada pela exigência de con-
as pelo exercício de suas funções, rece- trole de cada conta-capital dos associa-
bendo apenas reembolso de suas des- dos e associadas e devido a caracte-
pesas realizadas no desempenho do seu rísticas especiais para operações com
cargo. não-associados.

b) Cooperativa: c) Microempresa:
• Os/as dirigentes são remunerados/as • A escrituração contábil é muito simplifica-
através de retiradas mensais “pró-labore”, da, o mesmo ocorrendo quanto às obriga-
definidas pela assembleia. ções previdenciárias e trabalhistas.
60
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA

16- Obrigações fiscais e tributárias: c) Microempresa:


a) Associação: • Igual à associação.
• Não paga Imposto de renda (recolhe IR
na fonte) devendo fazer a declaração de 18- Estruturas de representação:
isenção todo a ano. a) Associação:
• Não está imune, podendo ser isentada, • Pode constituir órgãos de representação
dos demais impostos e taxas23. e defesa, não havendo atualmente nenhu-
ma estrutura que faça isso em nível nacio-
• Se realizar operações de comércio, deve- nal.
rá recolher ICMS.
b) Cooperativa:
b) Cooperativa24: • Pode constituir órgãos de representação
• Não paga imposto de renda e nem CSLL e defesa dos seus interesses e direitos,
sobre as suas operações com os asso- havendo atualmente um órgão oficial de
ciados e associadas. No entanto, deve representação (sistema OCB), ao qual as
recolher, sempre que couber imposto de cooperativas não são mais obrigadas a se
renda na fonte e o imposto de renda sobre filiar e outras organizações de represen-
operações com terceiros. tação autônomas como UNICAFES, UNI-
• Está teoricamente imune (não deveria pa- SOL e CONCRAB.
gar) do ICMS nas operações com os as-
sociados e associadas (ato cooperativo), c) Microempresa:
mas os estados têm assim mesmo cobrado • Existem estruturas de representação (da
aquele imposto, devido à sua autonomia. Micro e Média Empresa) às quais podem
se filiar.
• Paga as demais taxas e impostos.
• Em nível federal, com o objetivo de apoio,
c) Microempresa: existe o Serviço de Apoio às Micro e Pe-
• Pode ser beneficiária de políticas de re- quenas Empresas ao qual as microem-
dução tributária. No geral, caso adira ao presas não se filiam, mas podem recorrer
sistema “SUPER-SIMPLES”, pagará ape- para assessoria e suporte de suas ativi-
nas 5% sobre a renda bruta acumulada dades.
no exercício do ano.
19- Dissolução e liquidação da
• Para aderir ao Super-simples, no entan-
to, terá de ficar abaixo do limite de fatura- entidade:
a) Associação:
mento e estar no âmbito de uma relação
• A dissolução é definida pela Assembleia
circunstanciada de atuação econômica
Geral.
prevista em lei.
• Pode ocorrer também a liquidação, me-
diante processo judicial e intervenção
17- Fiscalização:
realizada por representante do Ministério
a) Associação:
Público.
• Poderá ser fiscalizada pela Prefeitura (Al-
vará/ISS/IPTU), Fazenda Estadual (nas
b) Cooperativa:
operações de comércio), INSS, Ministério • A dissolução é definida pela Assembleia.
do Trabalho e Receita Federal (Imposto
• Pode ocorrer também a liquidação da en-
de Renda).
tidade por processo judicial. Neste caso, o
b) Cooperativa: juiz nomeia uma pessoa como liquidante.
• Igual à associação.
c) Microempresa:
23
As associações podem ser liberadas do recolhimento da contribuição pa- • Pode ser cancelada, distratada ou dissol-
tronal do INSS, caso sejam inscritas no Conselho Nacional de Serviço So-
cial e cumprimento de uma série de normas específicas. As associações vida (pedido de baixa) por decisão dos
também não recolhem a contribuição sindical patronal.
24
Conferir capítulo que trata deste assunto adiante. seus sócios e sócias.
61
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA

• Pode ter o cancelamento do seu registro mais capital ou faz alianças de capital en-
por perda de condição de Microempresa tre sócios e sócias, formando percentuais
(neste caso, continua como qualquer ou- majoritários, manda na empresa.
tra sociedade comercial).
Apesar de muitos programas go-
• Pode ter decretada falência por decisão
vernamentais atuais (como por
judicial.
exemplo, PNAE, PAA e fundos de
microcrédito) terem incentivado,
20- Destino do Patrimônio, caso haja o
de certo modo, que as iniciativas
fim da entidade: econômicas se realizem no campo
a) Associação: da associação, do ponto de vista
• Os bens remanescentes na dissolução da regulação existente, levando em
ou liquidação deverão ser destinados, por conta os aspectos tributários e tra-
decisão de Assembleia a entidades afins. balhistas, as cooperativas são as
b) Cooperativa: opções mais adequadas.
• Os bens remanescentes, cobertas as dí-
vidas e os montantes correspondentes às Já que se pressupõe que uma associação que
quotas dos associados e associadas, de- atua no campo comercial é vista pela lei como uma em-
verão ser destinados a entidades afins. presa. Especificamente em relação à empresa, cabe
lembrar que é uma sociedade de capital e não de pes-
• Em caso de liquidação, os associados e
soas, onde é aquele que mando e não o coletivo social.
associadas são responsáveis, limitada ou
Esta observação final é também importante para não
ilimitadamente (conforme os estatutos)
parecer que neste texto poderíamos estar efetivamente
pelas dívidas.
sugerindo a adoção da forma empresarial em lugar da
c) Microempresa: cooperativa.
• Supridas as obrigações, os bens rema-
nescentes são distribuídos aos sócios e
às sócias de acordo com a sua respectiva
participação no capital.

21- Possibilidades de controle:


a) Associação:
• Na associação, é um voto por pessoa. O
controle pode ocorrer por força política de
um grupo.

b) Cooperativa:
• Na cooperativa, é um voto por pessoa,
mas a possibilidade de acumular muitas
quotas por parte de algumas pessoas que
tem mais operações com a mesma, faz
com que um grupo ou uma pessoa pas-
sem a ter muito mais poder (econômico)
que os demais.

• Quando os associados e associadas es-


tão em igualdade do ponto de vista eco-
nômico, o controle pode ocorrer pela força
política de um grupo.

c) Microempresa:
• Aqui quem manda é o capital. Quem tem
62
MÓDULO III CLASSIFICAÇÃO E RAMOS
COOPERATIVOS
UNIDADE 3
Existem as mais variadas classificações e tipos
de cooperativas. Cada autor tem a sua. De nossa par-
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS te, procuramos simplificar a questão e adotamos as
classificações mais comuns, tomando como base o
COOPERATIVOS
uso e também a proposta de projeto de lei do Execu-
tivo, que trata da questão tributária (projeto de Lei nº
3.723/2008) sem, no entanto, concordar inteiramente
com ele.

Tradicionalmente, tem-se classificado as coo-


perativas quanto à natureza, quanto à variedade de
funções, quanto ao nível de organização e quanto aos
ramos.

A) NATUREZA, FUNÇÃO E ESTRUTURA:

1- Quanto à natureza:
Trata-se de distinguir as cooperativas de acor-
do com as atividades que desenvolvem em relação
aos seus associados. Podemos distribuir três gran-
des grupos:

a) Cooperativas de distribuição ou
serviços
São as que colocam à disposi-
ção de seus associados bens e
serviços, de acordo com suas ne-
cessidades, dentro das melhores
condições de qualidade e preços.
Podemos citar as de consumo,
crédito, habitacionais, escola-
res e de eletrificação.

b) Cooperativas de colocação da
produção

São as que se dedicam à


colocação da produção
dos seus associados den-
tro das melhores condi-
ções possíveis de preços,
regularidade e segurança.
Entre elas, destacamos as
agropecuárias, as tritíco-
las, de soja, café, etc...

63
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS

c) Cooperativas de trabalho c) Cooperativas integrais

São as que agrupam asso- São as que procuram res-


ciados com uma mesma pro- ponder a todas as necessi-
fissão e que organizam e dades sociais e econômicas
vendem em comum o seu dos seus associados. São
trabalho, buscando fontes conhecidas como coopera-
de ocupação estáveis e mais tivas utópicas e exemplos
compensadoras. Destaca- delas são raros na história
mos as de médicos, taxistas, do cooperativismo. A Coo-
metalúrgicos, as de assis- perativa de Mondragón, na
tência técnica, etc... Espanha, poderia ser citada
como tentativa de coopera-
tiva integral.
2- Quanto à variedade de funções:
Trata-se de distinguir as cooperativas de acordo
com a quantidade de setores ou produtos a que se de- 3- Quanto ao nível de organização:
dicam. Existem três tipos:
Esta é mais uma definição prevista em lei. Visa
permitir uma estrutura de atuação cooperativista. Nes-
a) Cooperativas unifuncionais
te sentido, a organização seria concretizada assim:

São as que se dedicam a


a) Cooperativas singulares
uma única função ou a um
Constituídas por pessoas físicas e jurídicas.
único serviço especializa-
do, como as cooperativas
b) Cooperativas Centrais ou Federa-
de consumo, de seguro, de
crédito, de habitação. ções de Cooperativas
São as constituídas de, pelo menos, três coo-
perativas singulares.

c) Confederação de Cooperativas
É constituída por, pelo menos, três Centrais
ou Federações de Cooperativas.

A atual Constituição Federal au-


toriza que as cooperativas se or-
ganizem da forma que quiserem,
não sendo obrigatória a vincula-
b) Cooperativas multifuncionais ção com essa ou aquela organi-
zação superior.

São as que se dedicam a di-


Recentemente, está ocorrendo uma movimen-
versas funções ou ativida-
tação no sentido de constituir sindicatos e federações
des. Exemplo concreto, são
sindicais de cooperativas, havendo inclusive uma con-
as cooperativas mistas que
federação (Confederação Nacional de Cooperativas).
podem se dedicar tanto à
Esta situação é resultante de uma Lei esdrúxula e que
colocação da produção
necessita urgentemente ser substituída. Trata-se do
como a atividades de forne-
Decreto-Lei n° 5453 de 1943, a chamada Consolida-
cer insumos, sementes, ou
ção das Leis do Trabalho. Em primeiro lugar, porque
serviços aos seus associa-
referida lei, ao revés do bom senso e das caracterís-
dos.
ticas sindical que visava a defesa e organização dos
64
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS

trabalhadores, instituiu o sindicado dos patrões (o que dos casos, trata-se de iniciativas de consumidores
se constitui numa insanidade institucional no campo urbanos que se organizam para fazerem compras co-
das relações contratuais do trabalho) e em segundo munitárias diretamente junto aos produtores rurais,
lugar porque é necessário que se restaure claramen- evitando o intermediário (cooperativas abertas). Mui-
te a liberdade de participar ou não nos sindicatos e, tas grandes empresas também mantêm cooperativas
principalmente, que a sua constituição seja resultado de consumo para os seus funcionários (cooperativas
da iniciativa autônoma das pessoas e das sociedades. fechadas) e isso tanto pode se tornar uma vantagem
Especificamente em relação às cooperativas, que as (quando os preços são compensadores e é possível
mesmas possam participar e constituir suas instâncias apenas pagar no recebimento do salário) como pode
de representação a partir dos interesses dos seus as- se constituir numa dependência do empregado, caso
sociados, implementando-se efetivamente o princípio seja obrigado a realizar as suas compras naquele local.
constitucional da representação livre a partir das bases
Com o seu auge a partir da década de 60, as
e não de cima para baixo, por imposição legal.
2.420 cooperativas de consumo existentes na época
passaram a enfrentar sérios problemas com a repenti-
B) RAMOS DE COOPERATIVAS MAIS
na supressão das isenções tributárias, especialmente
CONHECIDOS
o ICM, e a falta de dinheiro para a compra de novas
As classificações acima apresentadas são as mercadorias, por causa da inflação. E, na década de
consideradas técnicas. Na atividade comum das 70, as cooperativas de consumo tiveram de enfrentar
cooperativas, os ramos mais conhecidos do públi- a concorrência dos supermercados. Com estes, nor-
co em geral são: malmente estão perdendo a briga por dois motivos
principais: - A dificuldade de capitalização para poder
1- Cooperativas de Crédito realizar as mesmas operações e ter a mesma diversi-
dade de produtos do supermercado; e - a dificuldade
Uma cooperativa de crédito presta praticamen- de renovação e substituição do estoque para ter sem-
te os mesmos serviços de um banco: Financia a pro- pre produtos não vencidos.
dução e os investimentos, fornece talão de cheques,
presta outros serviços de cobrança, cartões de crédito, A pá de cal sobre as cooperativas de consumo
cheque especial e mantém opções de aplicações, seja foi lançada pela Lei 9.532/97 que as equiparou aos de-
em fundos de investimentos como também em cader- mais empreendimentos comerciais quanto à questão
neta de poupança. tributária. A ausência de vantagens e a dificuldade de
investimento para novas tecnologias e circulação rá-
O Banco Central estabeleceu a obrigatorieda- pida de estoques, ou transformou as cooperativas em
de da constituição de um capital social básico para a meras sociedades empresárias ou inviabilizou a sua
sua constituição e o seu registro específico, com um existência.
controle maior que em relação às demais cooperativas
mesmo porque elas se prestam a gerenciar economias 3- Cooperativas Agrárias ou
dos associados e para isso precisam apresentar ga- Agropecuárias
rantias de gerenciamento e transparência.
O projeto de lei do Executivo as classificou como
O registro da Cooperativa de Crédito está subor- Cooperativas de Produção Agropecuária e Agroindus-
dinado à aprovação (antes da sua constituição legal) trial, e a de Venda em Comum de Bens de Produção.
do Banco Central do Brasil, que tem exigências especí- São muito comuns no Brasil e têm como objetivo or-
ficas previstas atualmente na Resolução n° 3.859/2010. ganizar as atividades econômicas e sociais dos seus
associados, produtores rurais, integrando-as, orien-
2- Cooperativas de Consumo tando-as e colocando à disposição deles uma série de
serviços. Dedicam-se mais frequentemente a: - vender
São as que se ocupam em distribuir produtos ou em comum a produção entregue pelos associados. No
serviços aos seus associados, buscando as melhores processo da venda, a cooperativa pode se encarregar
condições, os melhores preços e a melhor qualidade. de classificar, padronizar, manter em depósito ou ar-
Existem diversas espalhadas pelo Brasil. Na maioria mazenamento, beneficiar ou industrializar os produtos
65
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS

recebidos, sempre visando encontrar e obter os me- No Brasil, existem exemplos dos três tipos,
lhores preços de mercado; - distribuir aos associados especialmente do segundo, e estão se ex-
bens de produção e utilidades necessárias às suas ati- pandindo muito nos últimos tempos.
vidades agropecuárias, bem como intermediar o abas-
tecimento de gêneros alimentícios, roupas e outros 6- Cooperativas de Eletrificação Rural
produtos para a casa e a família; - oferecer serviços
na área da produção, pesquisa, assistência técnica, Esta forma de cooperativa visa reunir pessoas
administrativa, social e educacional; e - promover a in- que estejam interessadas em conseguir meios para
tegração entre os associados e suas famílias e a inter- produzir energia elétrica para as suas propriedades ru-
-relação com a comunidade em que estão inseridos. rais ou implantar extensões de redes para ligação nos
sistemas de produção estatal.
De modo geral, as grandes cooperativas que se
mantêm hoje em dia são as que passaram da situa-
ção de cooperação pura para a de grandes empresas,
onde as características da cooperação foram substi-
tuídas por administrações centralizadas, exercício de
poder capitalizado e intervenção no mercado de forma
agressiva. As que se mantêm no âmbito cooperativado
tradicional são as vinculadas à agricultura familiar.

4- Cooperativas de Pesca

Ocorrem quando um grupo de pescadores or-


ganiza em comum as suas atividades produtivas ou
desenvolve funções coletivas de colocação da pesca
ou para disponibilidade de material necessário para o
seu trabalho. A cooperativa de pesca seria uma alter-
nativa para os pescadores se livrarem do domínio das
Além das possibilidades dos rurais terem aces-
grandes empresas que impõem condições, dominam
o mercado e marginalizam os pequenos. Este tipo de so aos benefícios que acompanham o uso da energia
cooperativa é classificado pelo projeto de lei do Gover- elétrica, a proposta de eletrificação rural foi sacra-
no como inserido no ramo anterior. mentada no Estatuto da Terra, tendo como pers-
pectiva a modernização da agricultura e a criação
de possibilidades para permanência do homem na
5- Cooperativas Habitacionais
terra, evitando o êxodo rural.
Existem três tipos de cooperativas habitacio-
nais: 7- Cooperativas de Mineração

a) as que são integradas por pessoas que se São as cooperati-


reúnem com o objetivo de, em mutirão, cons- vas oriundas do esforço
truir as casas para os seus associados. Têm coletivo desenvolvido
duração determinada, apenas até todos te- na exploração princi-
rem sua casa; palmente de ouro e que
exerceu poderoso lobby
b) as que são constituídas por grupos de pro- nos trabalhos da Cons-
fissionais, técnicos e trabalhadores da cons- tituinte em 1988. Neste
trução civil que se dedicam à construção de caso específico, as van-
casas para si e para o público em geral; e tagens foram canalizadas
para os “donos” das cooperativas, constituindo-se em
c) as que se dedicam ao financiamento da pouco proveito para os demais participantes. De modo
construção de casas, seja para associados, geral, não há como vinculá-las a propostas de desen-
seja para outras pessoas que o desejarem. volvimento sustentável.
66
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS

8- Cooperativas Escolares o que fornece à cooperativa adequação às


suas necessidades, agilidade de gestão e di-
Trata-se de associações de alunos do ensino de minuição de custos.
1º ou 2º graus. Sua finalidade é o desenvolvimen-
to de atividades associado-econômicas por parte As Cooperativas-Escola, após serem constituí-
dos alunos em caráter de pequena empresa. Suas
das, devem obter a respectiva autorização para fun-
atividades são desenvolvidas dentro da própria escola
cionamento, cumprindo as determinações de Lei n°
e a gestão é dos próprios alunos associados. Não é
9.394/96 que estabelece as diretrizes e bases da edu-
um modelo muito difundido no Brasil e foi desenvol-
cação nacional.
vido especialmente no âmbito das antigas Escolas
Técnicas Federais que mantinham campos de produ-
ção experimental. A manutenção dessa cooperativa é 10- Cooperativas de Transporte
obtida da sua própria produção e a comercialização é Rodoviário de Cargas e de
gerenciada pelos alunos, com o acompanhamento de
Transporte de Passageiros
professores. Não são constituídas de forma autônoma
e utilizam o registro legal da escola para as obrigações Por um motivo não
fiscais e tributárias.
bem explicado, a não ser
no que se refere a uma
9- Cooperativas-Escola ou
regulação específica, o
Educacionais projeto de lei do governo
estabeleceu dois novos
O projeto de lei do Governo as denominou de
Cooperativas de Produção Educacional. ramos (de transporte de cargas e de transporte de
passageiros) que deveriam estar no campo do coo-
Formadas por professores e pais de alunos, perativismo do trabalho, já que, na verdade, são de
tem a finalidade de manter uma escola formal. Tive- prestação de serviços.
ram bom incentivo na década de 60, entrando em difi-
culdades com a reforma do ensino. Atualmente, devido 11- Cooperativas de Corretores de
à ganância de donos de colégios particulares que co-
Seguros
bram caro e pagam mal os professores, a ideia retoma
fôlego e pode-se encontrar iniciativas em todo o Brasil.
Outro ramo criado sem sentido algum pelo pro-
As grandes vantagens da cooperativa-escola são:
jeto de lei, já que também deveria estar no campo do
a) As mensalidades (pagas pelos pais ou alu- cooperativismo do trabalho, foi este de corretores de
nos) são calculadas a partir da real necessi- seguros, também devido a uma regulação própria para
dade da escola e, por isso, podem ser bem a atuação dos mesmos.
mais baixas que nas escolas particulares.
12- Cooperativas Sociais
b) Os pais definem os métodos de ensino em
conjunto com os professores, escolhendo os Trata-se de um ramo
mais adequados para as finalidades da ini- muito específico formado por
ciativa. cooperativas de egressos
do sistema penitenciário e
c) Os ganhos são inteiramente aplicados na do sistema de saúde men-
sua manutenção e rateados entre os profes-
tal. Por ser um público sem-
sores, não havendo lucro a ser arrancado por
pre discriminado, busca-se
dono algum da mesma.
criar características específi-
d) Um conselho coletivo formado por pais e cas para estas cooperativas,
professores decide a respeito de todas as inclusive garantindo vantagens e outros benefícios
pendências administrativas e pedagógicas, para a sua consolidação.
67
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS

13- Cooperativas de Serviços de Saúde c) Escolher corretamente os investimentos e re-


investimentos.
Mais um grupo
de cooperativas aqui d) Mudar a tecnologia nas suas relações com
separadas pelo projeto os mercados de aprovisionamento e de es-
de lei do Executivo por
coamento da empresa, e na implementação
ter uma regulação mui-
de programas permanentes de qualificação e
to própria na área do
reorganização das condições de trabalho.
atendimento à saúde,
mas que tecnicamente deveriam estar situadas tam-
e) Decidir sobre a destinação dos excedentes,
bém no bloco das cooperativas de trabalho.
os quais podem ser distribuídos para a ca-
pitalização da cooperativa e/ou serem repar-
14- Cooperativas de Trabalho
tidos entre os associados na proporção do
O cooperativismo de trabalho vem se consti- trabalho de cada um.
tuindo como um valioso instrumento de organiza-
DRIMER, no livro “Las Cooperativas”25, nos
ção e produção autônoma dos trabalhadores, em
oferece uma boa classificação das Cooperativas de
múltiplos países, desde o início do século passa-
Trabalho e é em base à mesma que apresentamos
do. Seu suporte político-ideológico é o da supera-
os tipos a seguir:
ção da subordinação do trabalho ao contrato, pela
iniciativa produtivo-gerencial autônoma dos seus
participantes, desenvolvendo a sua capacidade de I- Cooperativas de Produção
encontrar e construir alternativas.
Nestas cooperativas, os associados são os
A experiência do cooperativismo de trabalho pa- seus donos, através da propriedade individual do
rece se consolidar principalmente nos momentos de capital social. Eles também retêm a propriedade indi-
crise econômica em que as possibilidades de emprego vidual ou coletiva e a posse coletiva dos meios de pro-
vão se esgotando. É significativa a sua presença na dução (instalações, insumos, etc.). Assumem os riscos
Europa dos séculos XIX (na crise da revolução indus- da atividade desenvolvida e a participação no montan-
trial) e XX e tende a se tornar grande alternativa de te do capital social está muito relacionada com ativida-
subsistência nos países em reconstrução e que bus- des provenientes, ou mesmo aportes, de mão de obra.
cam desenvolvimento. É que são os próprios associados os que trabalham
no âmbito da cooperativa, desenvolvendo atividades
As cooperativas de trabalho em geral agrupam produtivas conjuntamente. Os produtos produzidos por
trabalhadores manuais ou intelectuais (operários, téc-
esta cooperativa se destinam fundamentalmente ao
nicos, profissionais liberais, trabalhadores rurais) e a
mercado.
sua proposta é o desenvolvimento em comum de ativi-
dades produtivas, fortalecendo o grupo e desenvolven-
Foi este tipo de cooperativa que, praticamente,
do uma ideologia de atuação solidária.
deu início ao movimento cooperativista francês, inspi-

Entre os principais desafios para uma coope- rado nas ideias de dois dos seus maiores precursores:
rativa de trabalho estão: Philippe BUCHEZ e Louis BLANC. A fórmula do seu
a) Desenvolver a capacidade dos trabalhadores funcionamento é muito simples, segundo o francês E.
em organizar e reorganizar as condições de THALLER: “Alguns operários, chapeleiros, artesões, vi-
trabalho, substituindo estruturas hierárqui- ram seus próprios patrões. Eles põem em sociedade o
cas, através de decisões democráticas, pela seu trabalho, elegem um gerente responsável e repar-
combinação e soma direta dos seus conheci- tem entre si os benefícios”26.
mentos e competência.

25
DRIMER, Alícia Kaplan de; DRIMER, Bernardo. Las cooperativas. Interco-
b) Responder aos problemas da gestão de uma op, Buenos Aires, 1981, págs.179/180.
unidade de produção.
26
Citado por: BULGARELLI, Waldírio. Estudos e pareceres de direito em-
presarial. Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1980, pág. 349.
68
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS

Exemplos concretos são as “Coo- a Previdência Social) pela lei brasileira. Alguns autores
pératives ouvrières de production” brasileiros e o próprio projeto de lei nº 4.622 as cha-
da França; as “Productive Societies” mam de Cooperativas de Prestação de Serviços.
da Inglaterra, as Cooperativas de
Mondragón da Espanha. No Brasil “Cooperativa de prestação de serviços pro-
existem alguns exemplos principal- fissionais visa contratar esses serviços impessoal-
mente na área urbana, dedicadas à mente, distribuindo-os, equitativamente, a seus
atividade industrial, informática, associados para execução individual, assegurando
etc.. O projeto de Lei tributário do assim uniformidade de trabalho e remuneração”27.
Executivo as retirou do campo do
trabalho para criar um ramo especí- E as chamadas “Cooperativas de
fico chamado de “Cooperativas de mão-de-obra”?
produção industrial”, mas a doutrina
e tradição cooperativista colocam Não existem “cooperativas especificamente de
estas cooperativas no ramo do tra- mão de obra”.
balho, o que corretamente ocorreu
As que existem são empresas comerciais que,
no projeto nº 4.622 que regulará as
dedicadas a atividades específicas, como trabalho bra-
cooperativas de trabalho.
çal, limpeza, têm os trabalhadores como empregados,
mesmo que aparentemente sejam apresentados como
II - Cooperativas Comunitárias de
“associados”, da autodenominada “cooperativa”.
Trabalho
Esta forma de empreendimento sub-contratante
Têm algumas das características das de pro- tem se constituído num meio de burlar a legislação tra-
dução, mas a propriedade e posse dos meios de
balhista: As empresas, necessitadas de mão de obra,
produção é coletiva. Seus produtos se destinam mais
e não querendo pagar as obrigações trabalhistas, con-
ao consumo interno, não excluindo, no entanto, a co-
mercialização dos excedentes. Caracterizam-se ainda tratam empresas que são registradas como cooperati-
pela busca do aprofundamento dos vínculos econômi- va, e que são criadas, na maioria das vezes, por pes-
cos e sociais entre os trabalhadores. soas da própria empresa ou por grandes produtores
rurais. Por isso, mesmo apresentando-se sob o manto
São exemplos as “Communautés cooperativista, são na verdade, empresas comerciais
de Travail” na França e os “Kibutz” como todas as outras.
de Israel. Não são de nosso conhe-
cimento exemplos claros deste tipo Na história do cooperativismo de
de cooperativa no Brasil, mesmo trabalho, mesmo com diversas
porque a nossa legislação é resis- faces ou características, não há
tente às formas coletivas de pro- a alternativa de cooperativismo
priedade. Lembro que, neste senti- como típico “agenciador de mão
do, toda a nossa tradição legal tem de obra”. É necessário entender
a sua base ideológica no princípio que, para as cooperativas de tra-
da absolutização da propriedade balho, o centro das atenções são
privada individualizada. os associados (e sua produção),
que devem ser autônomos, assu-
III - Cooperativas de Trabalho mindo o empreendimento como
“donos” do mesmo, e não serem
propriamente ditas
subordinados a empreiteiros de
São as que, com um grupo de trabalhado- serviços. As pseudo-coopera-
res associados, contratam serviços com outras tivas violam a lei assumindo o
empresas ou com terceiros. Cada associado detém nome de cooperativas, violam as
a propriedade individual dos meios de produção, po- leis trabalhistas negando os di-
dendo exercer posse coletiva dos meios pertencentes reitos dos trabalhadores quando
à cooperativa. São muito comuns no Brasil. Exemplos a assalariados e negam aos traba-
serem citados são as cooperativas de médicos, de se- lhadores o direito de serem do-
cretárias, de taxistas de assistência técnica. Seus traba- nos de sua própria iniciativa.
lhadores, que são também seus associados, são classi-
27
FRANKE, Walmor. Doutrina e aplicação do direito cooperativo. Ed. Do
ficados como autônomos (contribuintes individuais para Autor, Porto Alegre, 1983, pág.96
69
70
MÓDULO III COOPERATIVISMO E AGRICULTURA
FAMILIAR
UNIDADE 4 A nossa agricultura familiar, estruturada, tem
formação recente na História do Brasil. Praticamente,
SEGUNDA PARTE – é em meados do Século XIX que se formam as peque-
nas unidades familiares autônomas no campo brasilei-
CARACTERIZAÇÃO DAS ro, dominado pelas concessões de Portugal e depois
do Império para grandes proprietários e dificultadas
COOPERATIVAS
pela legislação restritiva da cidadania e de acesso ao
uso da terra. A colonização estrangeira consolida es-
COOPERATIVISMO E tas novas pequenas propriedades normalmente em re-
giões difíceis e sem interesse para os latifundiários. Só
AGRICULTURA FAMILIAR
desta forma é que surgiram as possibilidades de uma
agricultura familiar autônoma, sem o mesmo destino
das demais populações camponesas lançadas perma-
nentemente ao campo da subordinação. Tendo como
base a formação cristã, esses novos agricultores, sub-
metidos a imensas dificuldades de sobrevivência, pas-
sam a implementar medidas de articulação produtiva e
de mutirão entre vizinhos que permitiram o surgimento
de um movimento cooperativista independente e que
respondeu às necessidades imediatas de comerciali-
zação e abastecimento.

É senso comum, pelo menos no sul do Brasil


onde o cooperativismo mais responde às necessi-
dades da agricultura familiar, que sem os fundos de
mútuo, base originária do cooperativismo de crédito,
e sem as cooperativas de comercialização e de con-
sumo, a possibilidade de sobrevivência como grupo
produtivo autônomo seria muito limitada.

Para complementar a capacidade de luta do


agricultor familiar, bem cedo também foi entendida a
lição da necessidade de constituir uma possibilidade
de representação política que foi assumida pelos Sin-
dicatos Rurais. Desta maneira, somou-se a dimensão
da representação política com a capacidade de apro-
priação do valor econômico e aprimoramento qualita-
tivo da pequena produção, garantindo que a agricul-
tura familiar se tornasse viável.

Desta maneira, o agricultor fa-


miliar é aquele que, a partir da
produção familiar individuali-
zada, articulada a outras pro-
duções familiares individuali-
zadas, constrói a força política
necessária para garantir que ele
não se torne refém nem do lati-
fundiário e nem do agronegócio
capitalista.
71
COOPERATIVISMO E AGRICULTURA FAMILIAR

Esta situação começa a se esgarçar, especial- res e as práticas capitalistas, seja pela adoção do
mente em meados do Século XX, na medida em que modelo de produção e tecnológico dominante, pelo
o agricultor familiar passa a ter dificuldades de resol- arrendamento de parte de suas terras e ou pelos
ver seus problemas de forma coletiva e depende muito contratos de produção firmados com as empresas
mais da política econômica nacional e das interven- capitalistas, maior e mais intensa se torna a subal-
ções externas na produção (condições específicas ternidade camponesa”.
vinculadas ao produto, licenças, regulações) e na co-
mercialização (tributos, políticas, reservas de mercado, Nas regiões onde foi possível superar alguns des-
condições sanitárias, etc.), bem como das obrigações ses aspectos da subordinação camponesa com o apoio
decorrentes dos contratos onde o agricultor familiar é e envolvimento, seja de agentes das Igrejas considera-
parte individualizada. das progressistas, seja de políticos locais conhecedores
da situação da agricultura familiar, onde o sindicalismo
Outro motivo do esgotamento do modelo origi- teve suporte para ser efetivamente uma representação
nário da agricultura familiar foi também o enfraqueci- de classe e não um mero instrumento de atenuação dos
mento do movimento sindical dos trabalhadores. En- conflitos da relação capital e trabalho e onde, por uma
volvido com outras obrigações, além da mobilização série de fatores, grupos consistentes de agricultores fa-
e representação, e submetido a limitações legais, o miliares puderam se manter unidos, o cooperativismo
sindicalismo abandona praticamente as iniciativas eco- pode surgir como alternativa e assumir um novo papel
nômicas camponesas e leva a organização produtiva fundamental no fortalecimento de classe.
cooperativada da agricultura familiar a ficar sem repre-
sentação política consistente, o que, infelizmente, não De modo particular, há de se destacar neste
foi suprido, como se esperava a partir da ciência social, sentido, nas regiões onde estão presentes os elemen-
pelo partido político. tos básicos do sucesso da agricultura familiar (crédito,
assistência técnica, organização e articulação social e
Finalmente, as próprias iniciativas cooperati- consolidação de processos produtivos e de comercia-
vistas foram tomadas de assalto pelo golpe militar de lização, com base fundiária consistente), está sendo
1964 que liquidou a representação autônoma impondo possível resistir. Nas outras regiões onde estes ele-
uma representação oficial que se voltou principalmente mentos não estão presentes ou são frágeis, haverá
para o fortalecimento das grandes corporações coope- necessidade de reconstruir as bases da luta política da
rativadas, incentivando o controle, a fusão e a incorpo- agricultura familiar e a constituição de um novo poder
ração, dificultando sobremaneira as possibilidades de que possa garantir a sua autonomia.
autonomia da organização coletiva familiar e pregando
a integração ao capital. “Os camponeses já dispõem de ciência, tec-
nologia e saberes historicamente constituídos,
Sem uma organização sindical que cumpra o como a agroecologia, a agricultura ecológica, or-
seu papel articulador e representativo da força políti- gânica, etc., que lhes permitem romper com a de-
ca da população agrícola familiar, sem uma resposta pendência tecnológica e organizacional perante o
efetiva do partido político que se voltou muito mais capital. Já vivenciaram, nas mais distintas circuns-
para o exercício das atribuições do Estado e não para tâncias econômicas, sociais e políticas, formas di-
a preocupação de transformar o Estado a serviço dos versas de ajuda mútua e de cooperação, de bene-
interesses da cidadania, a agricultura familiar e a po- ficiamento de seus produtos e de comercialização,
pulação camponesa foram perdendo papel e capaci- facilitando encontrar caminhos menos difíceis de
dade de afirmação efetiva no campo brasileiro, sendo inserção nos mercados controlados pelos oligopó-
empurradas gradativamente para o campo da integra- lios capitalistas”.
ção e se tornando refém da agroindústria ou forçadas
a migrar para os grandes centros urbanos ou regiões Frente ao quadro vivido pelos
de fronteira. agricultores familiares no Bra-
sil, observa-se a urgente ne-
“Os camponeses na sua ampla diversida- cessidade de investir em alter-
de (...) têm sido considerados pela concepção de nativas que possam apoiar sua
mundo capitalista como povos sem destino, por capacidade de construir possi-
considerarem que estão com seus dias contados, bilidades de superação das con-
com suas histórias interrompidas pelo progresso dições difíceis, evitando tam-
e a modernidade burguesa (...)”. “Quanto mais in- bém o risco de acabarem por
tegrados estiverem os camponeses com os valo- se subordinar aos interesses e
72
COOPERATIVISMO E AGRICULTURA FAMILIAR

exploração do grande capital. cer uma nova sociedade igualitária a partir da orga-
Por isso, nada mais importante, nização consistente e da apropriação dos resultados
neste momento, que retomar os econômicos de forma autônoma para, em base a isto,
antigos ideais dos pioneiros e poder construir um novo poder popular hegemônico.
colocar à disposição da popula-
ção camponesa um instrumento No entanto, para colocar o cooperativismo à
fundamental de organização e disposição das populações mais pobres e apostan-
de apropriação do valor do tra- do no instrumental como meio mais adequado na
balho e da produção desenvol- construção de sua inserção produtiva e na busca
vida pelas próprias pessoas em
de desenvolvimento territorial rural sustentável que
ritmo coletivo.
beneficie a todas as pessoas, há muito que fazer:

A cooperativa torna-se, pois, por ser coleti-


I. Apoiar e incentivar, com políticas e apro-
va e adequada, a possibilidade para a construção
de uma nova autonomia da classe trabalhadora e fundamento das parcerias a expansão do
para que pequenos produtores e produtoras, com número e da participação das cooperativas
capacidade de criar economicamente, possam se na vida nacional, fazendo com que a expe-
integrar efetivamente e participar da vida econô- riência chegue a mais pessoas e que elas
mica e social do país. O que norteia esta possibili- sintam a importância e o valor da experiên-
dade é o pensamento de que os trabalhadores, caso cia cooperativada.
trabalhem em conjunto, são capazes de criar condi-
ções próprias de melhorar a sua vida, sem depen- II. Redução das limitações existentes atual-
der eternamente ou do Estado ou de “bons” patrões, mente quanto à constituição das coopera-
avançando tanto na formação da consciência de tivas, permitindo o seu pleno desenvolvi-
classe como na formulação de alternativas e formas mento, para fazer com que as pessoas se
econômicas concretas que sejam ao mesmo tempo
sintam autônomas e assumam o destino de
emancipatórias e viáveis.
suas histórias nas próprias mãos.

Mesmo que tenha-


III. Simplificação tributária, contábil e fiscal
mos de admitir que as alter-
nativas atuais das popula- para permitir que pessoas possam acessar
ções excluídas terão de se à experiência e novas cooperativas surjam
situar e sobreviver no âmbito em todos os lugares do Brasil.
do capitalismo, há de se in-
vestir na construção, a partir IV. Organização de iniciativas em redes para
da base, de novo modelo constituir força política de atuação social,
de desenvolvimento basea- seja em centrais, federações e confedera-
do na igualdade, na prote- ções, bem como em instâncias de represen-
ção do meio ambiente e em formas de sociabilidade tação autônoma.
e solidariedade anticapitalista. E com isso, alcançar a
transformação gradual da economia atual para formas V. Transformação de nossas cooperativas em
de produção, intercâmbio e consumo não capitalistas, empreendimentos com viés social, sem es-
superando a desigualdade econômica e de poder en- quecer o fortalecimento econômico, com o
avanço da dimensão da solidariedade em
tre as classes sociais.
que seus integrantes se preocupam com os
demais associados na cooperativa e com a
Tudo isso significará superar as formas de so-
própria comunidade e a sociedade do en-
ciabilidade empobrecidas, baseadas no benefício pes-
torno para que possa ser construída uma
soal, substituindo-as com novas formas coletivas de
nova realidade justa e igualitária para todas
solidariedade e justiça social. Sabemos que as alter-
as pessoas.
nativas para os pequenos é não se isolar em si pró-
prios , mas se unir no âmbito dos territórios, de suas
VI. Ampliação dos programas de produção e
comunidades e assim garantir que possam prosperar
de comercialização das cooperativas, con-
e trazer benefícios para todos. Para isso, é essencial
avançar no sentido da compreensão da importância do solidando seu papel central nos programas
instrumental cooperativista como base para estabele- de combate à miséria no país.
73
COOPERATIVISMO E AGRICULTURA FAMILIAR

Com o auxilio dos textos do Módulo III e também com base em seus conhecimentos,
julgue os itens em certo C e errado E.

1. As cooperativas são organizações democráticas controladas pelos seus membros, os


quais participam ativamente da definição de suas políticas e na tomada de decisões.
Os homens e mulheres, eleitos para representar a sua cooperativa, respondem por
suas responsabilidades, frente aos associados.

2. O principio Livre acesso e adesão voluntária define a necessidade das cooperativas


serem suficientemente abertas para que as pessoas - que queiram delas participar -
possam entrar ou sair sem maiores dificuldades.

3. A atual Constituição Federal não autoriza que as cooperativas se organizem da forma


que quiserem, sendo obrigatória a vinculação com essa ou aquela organização supe-
rior.

4. O agricultor familiar é aquele que, a partir da produção familiar individualizada, articu-


lada a outras produções familiares individualizadas, constrói a força política necessá-
ria para garantir que ele não se torne refém nem do latifundiário e nem do agronegó-
cio capitalista.

74
MÓDULO IV – UNIDADES GESTÃO E GOVERNANÇA
COOPERATIVA
1E2
Estamos ainda engatinhando em relação ao
UNIDADE 1 tema da gestão e governança cooperativa. As coo-
perativas que mais avançaram foram as de crédito e
principalmente devido aos debates e encaminhamen-
TERCEIRA PARTE –
tos realizados no âmbito do Banco Central, regulando
FUNCIONAMENTO DAS as condicionantes de sua constituição e funciona-

COOPERATIVAS mento.

Em outros lugares do mundo o tema foi muito


GESTÃO E GOVERNANÇA mais aprofundado.
COOPERATIVA
Mesmo que possamos ir buscar na governança
corporativa alguns requisitos para as cooperativas, há
de se considerar que estas possuem suas caracterís-
ticas próprias e, por isso, não é o caso de transferên-
cias, mas sim de construir capacidades e estruturas
adequadas que respondam ao desafio das mesmas.
Usualmente, no entanto, compreende-se que os ele-
mentos básicos da gestão e governança cooperati-
vas, se distribuem em quatro grandes blocos:

A) Metodologia de Planejamento

B) Monitoramento

C) Avaliação

D) Estrutura de poder e gestão interna.

A – O PLANEJAMENTO

O Planejamento nos ajuda a definir onde de-


sejamos atuar, o que desejamos alcançar/ mudar,
como e quem vai atuar no processo de atuação,
quais ações serão desenvolvidas, de que modo e
com quais condições tudo isso será realizado.

Para se alcançar isso, precisa-se:

a) conhecer muito bem os problemas, a situa-


ção da cooperativa e do entorno onde ela
se encontra,

b) observar tanto a sua força como as possibi-


lidades de mudança,

c) delinear claramente o horizonte a ser alcan-


çado,
75
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA

d) desenvolver uma estratégia, rado. Enquanto a missão representa a intervenção na


realidade em que cooperativa vai atuar, a visão de ne-
e) confrontar-se com os impasses da realidade gócio representa a explicitação de que como será
com instrumentos adequados que viabilizem (como deseja ser) no futuro a nossa cooperativa.
a empreitada,
3- Análise do entorno onde atuará a
f) articular o planejamento com a cultura local cooperativa
para que, de fato, a proposta faça parte das
práticas sociais da organização. Estuda-se aqui o ambiente que
será a base de atuação da coo-
No entanto, planejar não pode perativa, considerando questões
ser entendido como um ato iso- demográficas (concentração da po-
lado ou puramente técnico, mas pulação, por exemplo), econômi-
precisa ser encarado como um cas (poder aquisitivo, concorrentes
processo coletivo. Um processo etc..), políticas (apoios e alianças
não só de conhecimento e capa- etc..), legais (condições de instala-
citação/aprendizagem. É tam- ção etc..), tecnológicas, associado-
bém um exercício de poder ao -culturais etc...
decidir como deveria ser o futuro
da nossa organização e da pró- Há de se considerar com muito cuidado as
pria sociedade em que se vive. oportunidades possíveis de serem aproveitadas no
entorno em que se situará a cooperativa e também
No planejamento, deve-se identificar clara- as possíveis ameaças que surgirão e que poderão
mente o caminho a percorrer para alcançar o que colocar em risco a concretização da missão, do ne-
se propõe. Precisamos detalhar esse caminho, mas gócio e dos objetivos propostos.
sempre obedecendo a uma proposta pré-definida so-
bre o interesse de construir uma nova realidade com 4- Análise da realidade do público
melhores condições de vida para todas as pessoas
vinculado à cooperativa
com as quais atuamos. Na medida em que o caminho
vai sendo percorrido, vai-se redefinindo, reorientando e Complementando o diagnóstico do ambiente,
complementando o plano de ação proposto. Isso torna é importante compreender, com profundidade, a rea-
o planejamento dinâmico e não estático ou definitivo lidade do nosso público. Desejos, possibilidades, com-
como se fosse uma camisa de força. portamentos, valores, visões culturais, costumes, para
que possamos estabelecer uma relação consistente e
Para realizar um bom processo do planeja-
possamos adequar o nosso produto ou serviço às suas
mento dever-se-á considerar:
necessidades.

1- Declaração da missão:
5- Diagnóstico da situação da
A missão define as responsabilidades e pre- organização
tensões da organização junto ao seu público e
define qual é a sua especificidade, delimitando o O diagnóstico voltado para a cooperativa poderá
ambiente de atuação. Na verdade, a missão define o seguir duas etapas:
projeto político e o “para que serve” a cooperativa em
função de seus associados e o seu público. • Em primeiro lugar definir as nossas compe-
tências e especificidades: O que vamos fa-
2- Visão de negócio da cooperativa zer, a que vamos nos dedicar e qual o campo
de abrangência da atuação.
Vinculada à missão, a cooperativa deve desde
já definir qual a sua visão do negócio no futuro. Esta • Em segundo lugar, devem ser levados em
visão pode ser explicitada na missão ou vir em sepa- conta:
76
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA

a) Os possíveis apoios que a nossa organiza- como não temos segurança a respeito do futuro, te-
ção detém ou precisa conseguir. remos de imaginar diversas alternativas que são pos-
síveis de ocorrer e nos prepararmos para cada uma
b) Como está constituída a composição do pes- delas da melhor maneira possível.
soal interno, condições, capacidade instala-
da, especializações. A composição dos cenários considera ten-
dências históricas, comportamentos políticos, eco-
c) A estrutura de poder interno, a tomada de nômicos, sociais, culturais, os possíveis caminhos
decisão, a funcionalidade e integração das que a realidade poderá tomar se houver uma de-
diversas instâncias que definem o que deve terminada situação e os outros caminhos em caso
ou não ser feito. de outra situação prevista e também o nosso com-
portamento em relação a estas situações diversas.
d) Os equipamento e instalações, sua funciona-
lidade e adequação. A formulação de cenários é fun-
damental para a tomada de deci-
e) As relações internas entre o quadro de pes- sões. Quanto mais levarmos em
soal, entre os associados. conta as possibilidades futuras
mais conseguiremos acertar e
f) As relações com o público atendido, a capa-
produzir bons resultados.
cidade de diálogo e compreensão dos pro-
blemas colocados.
8– Definições estratégicas
6- Fatores críticos
Levando em conta as nossas potencialidades,

Nesta parte consideramos dois aspectos: antes de definir os objetivos, há necessidade de es-
colher elementos básicos que orientam o rumo da
a) O que é mais problemático e que precisa ser nossa atuação.
enfrentado de imediato para que não seja co-
locado em risco o sucesso da iniciativa. Nes- Perguntas poderiam ser coloca-
se aspecto levamos em conta as fragilidades das e deveriam ser respondidas,
e as ameaças detectadas tanto na realidade como por exemplo:
como em nossa organização.
a) Devemos focar e priorizar a competência
b) O que é prioritário para a organização, que profissional, a divulgação do nosso trabalho,
deve merecer maior esforço para ser alcan- a diferenciação qualitativa dos nossos produ-
çado. Aqui nos preocupamos com os pontos tos, a relação custo-benefício?
centrais de nossa atuação, levando em conta
demandas e possibilidades de sucesso futu- b) Teremos uma linha de intervenção focando
ro. Seria como que os campos de atuação nos clientes, nas suas demandas ou nos
que nós decidimos apostar e que, na nossa preocupamos mais com um serviço de quali-
visão, nos levarão a bons resultados. dade que os atraia à nossa cooperativa?

7– Cenários c) Mudamos permanentemente a nossa forma


de atuar, reinventando os serviços ou passa-
Definir cenários re-
remos a imagem da estabilidade e da garan-
fere-se ao exercício de
tia de que nada muda e tudo está perfeita-
imaginar possibilidades
mente estável?
futuras. Não se trata do
que “gostaríamos que fosse”, d) Nós vamos cair como leões sobre a concor-
mas sim o que nos parece rência ou vamos conviver com ela ou mesmo
que “poderá ser”. No entanto, realizar alianças e parcerias?
77
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA

9– Formulação dos objetivos • Investir na autoestima e vontade do quadro


de pessoal para maior inventividade e parti-
Os objetivos respondem às nossas perspectivas cipação na busca de soluções?
frente tanto aos problemas existentes como frente aos
sonhos que temos quanto ao nosso futuro. Na verdade, 11 – Ações
os objetivos explicitam como desejamos que a nossa
realidade seja no futuro. Por isso, os objetivos devem As atividades deverão ser suficientes, não
sempre indicar horizontes ideais a ser alcançados mais e nem menos, para que consigamos alcançar
a médio ou a longo prazo. as metas e os objetivos. Devemos lembrar que não
devemos despender esforços, tempo e recursos com
atividades que não contribuem com o avanço em dire-
Existem objetivos que se referem à organização
ção aos objetivos. Para cada atividade deve haver uma
como um todo e, por isso, são conhecidos como objeti-
pessoa responsável. Deve haver também uma data pro-
vos gerais ou mesmo estratégicos. Outros objetivos es-
vável para ser realizada ou pelo menos um prazo e tam-
tão relacionados a setores ou a um tema que faz parte bém deverão estar previstos os respectivos recursos.
da atuação da organização e, por isso, são conhecidos
como objetivos específicos. Finalmente, determinados
12 – Distribuição de responsabilidades
objetivos são muito diretos, operacionais e são para
ser alcançados em curto prazo. São mais conhecidos Aqui é necessário definir claramente a quem
como metas e devem sempre conter em si a definição compete coordenar o esforço conjunto para alcan-
da quantidade, tempo e onde se deseja chegar: “Em çar cada um dos objetivos. E de que forma são or-
dois anos alcançaremos o número de 200 associados” ganizadas as estruturas de poder e de execução no
ou “em um ano, a nossa cooperativa terá uma reserva âmbito da cooperativa. Para que, ao chegar ao final
de R$ 500.000,00”. do período, o que foi combinado tenha sido executado.

Os objetivos podem e devem ser revistos no


13 – Condições internas
decorrer da atuação da organização (para isso existe
o monitoramento), mas precisam ser alcançados. Ne- Frente ao nosso planejamento, teremos de pen-
nhuma organização define objetivos que não possam sar no que dispomos internamente. Qual a nossa ca-
ou não são alcançáveis. pacidade instalada, se é adequada, capacitada. Se
não for adequada teremos de buscar outras contribui-
10 – Estratégias de ação ções externas ou fazer um programa de capacitação
interna para que possamos suprir os desafios apresen-
Enquanto no item 8 definimos as grandes linhas tados pela nossa atuação frente aos objetivos.
de atuação, agora descemos para o plano tático e
buscamos, para cada objetivo, como concretizar a 14 – Análise do desempenho e de
ação levando em conta as oportunidades, as fra- resultados
quezas, as ameaças e as forças existentes no am-
biente em que situa a nossa organização: Apesar de que este item faz parte do monito-
ramento e da avaliação, ele precisa estar presente
no planejamento para que possa acompanhar a sua
• Uso da comunicação seria o mais adequa-
implementação e assim já desde o seu início poder
do?
propor mudanças e ajustes que nos levem efetiva-
• Visitar as pessoas para convencê-las dos mente a alcançar tudo o que desejamos e temos
nossos produtos e serviços? condições de conseguir.

• Realizar festas de autopromoção, convidan- B– MONITORAMENTO


do toda a comunidade local?
Entendemos por monitoramento um processo
de observação para verificar se estamos ou não atin-
• Atrair as autoridades?
gindo o que foi planejado e se estamos cumprindo
o programa de ação estabelecido. Além disso, deverá
• Aliar-se com o vigário e com o gerente do
oferecer informações e orientações sobre a adequação
banco?
78
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA

das estratégias, as novas dificuldades enfrentadas e A construção dos termos de referência é res-
aponta para os ajustes que devem ser implementados. ponsabilidade de todos os integrantes da organização
cooperativa. É evidente que existem aspectos que nos
O monitoramento constitui-se numa interessam mais e outros menos, mas pode ocorrer
espécie de “avaliação do caminho que a gente não dê atenção a alguns aspectos fun-
que está sendo percorrido” e, dessa damentais e aí a cooperativa começa a ter problemas
maneira, acaba por ser uma “ponte” exatamente em relação a estes pontos e às vezes aí,
entre o planejamento e a avaliação. se não os prevemos com antecedência podem produ-
zir situações incontornáveis.
Os critérios básicos que devem nortear o moni-
toramento são os seguintes: Apresentamos a seguir relação limitada de ter-
mos de referência28. Os integrantes da cooperativa
a) Relevância do projeto (o projeto conse- deverão de comum acordo, revê-los e eventualmente
guiu superar o problema proposto pela criar outros.
análise do diagnóstico e pelo objetivo?).
I- QUESTÕES RELACIONADAS AO
b) Eficácia (o projeto foi adequado e está
DESENVOLVIMENTO HUMANO
conseguindo alcançar o que se propu-
nha?) 1. Os associados estão identificados com as
finalidades da cooperativa?
c) Eficiência (o projeto conseguiu realizar
seus objetivos com um mínimo de recur- 2. Há fidelidade da administração com o que
sos?) é definido pela Assembleia?

d) Sustentabilidade (as soluções são dura- 3. Os associados se sentem seguros em


douras ou desaparecem ao final do proje- sua atividade produtiva, prestigiados e
to?). consideram estar financeiramente bem
retribuídos?
A partir da reflexão sobre estes critérios, o mo-
nitoramento proporá as modificações necessárias para 4. Os associados marcam presença nas re-
que se possa chegar aos objetivos propostos. uniões e assembleias?

C – AVALIAÇÃO

A avaliação é suporte e instrumento funda-


mental para o planejamento. O processo avaliativo II - QUESTÕES RELACIONADAS À
se inicia no próprio planejamento e se encerra em ADAPTAÇÃO AO MEIO
um determinado período quando se inicia um novo
planejamento. A parte básica da avaliação está relacio- 1. Como está o apoio político e econômico
nada à comparação entre a situação do início do plane- externo, na comunidade, nos poderes pú-
jamento com a situação ao seu final. Por isso, para se blicos, nas demais entidades, à Coopera-
poder observar com precisão o que está ocorrendo em tiva?
diversas frentes da cooperativa, é fundamental que itens
de observação sejam pré-definidos no planejamento. A 2. Como está a nossa relação com as ins-
estes itens damos o nome de termos de referência. tituições governamentais, políticas, sindi-
cais, financeiras, com os clientes, forne-
TERMOS DE REFERÊNCIA cedores e a comunidade?

Os termos de referência devem ser amplos,


abordar todos os aspectos da cooperativa. Só as- 28
Este roteiro foi elaborado e adaptado a partir das ideias desen-
sim detemos condições de realizar um bom diag- volvidas no texto “O desempenho das cooperativas rurais: Um
nóstico da situação e propor um melhor planeja- modelo de avaliação” de autoria de Zung Che Yee e Otto G. Kon-
zen, publicado na Revista Perspectiva Econômica - da UNISI-
mento na continuidade de nossas ações. NOS – RS.
79
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA

III - QUESTÕES RELACIONADAS À IV - QUESTÕES SOBRE


EFICIÊNCIA EMPRESARIAL PLANEJAMENTO, OBJETIVOS E
RESULTADOS
1. Como está a disponibilidade de recursos?
1. Como estamos em termos de níveis de
2. O Capital Social é suficiente (em relação produção?
ao levantamento de custos necessários
para o funcionamento da cooperativa) e 2. Como está a qualidade dos produtos ou
está disponível (já foi integralizado)? serviços?

3. Qual o índice de liquidez imediata (dispo- 3. Estamos incorporando novas tecnolo-


nível (dinheiro em caixa e nos bancos) + gias?
Créditos a curto prazo (a receber) + bens
de venda (mercadorias ou serviços), rela-
4. Estamos utilizando bem os recursos que
cionado ao valor das dívidas existentes)?
dispomos?

4. Qual o índice de liquidez geral (Relação


5. Qual o montante de vendas ou contratos?
entre o ativo circulante mais realizável a
longo prazo e o exigível a curto e longo
6. Qual a taxa de retorno dos investimentos?
prazo)?

5. Qual o grau de solvência (Relação entre o 7. Quais os ganhos e quais as perdas?


ativo total (disponível + realizável + mais
imobilizado + pendente de ativo) com o 8. Como está a quantidade de clientes
exigível a curto e a longo prazo)? (expandindo-se, mantendo-se nos mes-
mos)?
6. Qual o índice de autonomia financeira (re-
lação entre capital próprio e ativo total)? 9. Como estamos no controle de custos?

7. Qual o índice de margem de garantia (re- 10. Como ocorre a distribuição dos benefí-
lação entre o ativo real (disponível + rea-
cios?
lizável + imobilizado) com o passivo real
exigível + não exigível)?
V- QUESTÕES REFERENTES À
8. Qual o índice de rentabilidade do ativo ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
(relação entre sobra operacional e ativo
total)? 1. Como está a distribuição de tarefas no
âmbito interno da cooperativa?
9. Qual o índice de lucratividade (relação en-
tre a sobra operacional e a receita opera-
2. Como é exercida a autoridade e como são
cional)?
cobradas as responsabilidades?
10. A mão de obra necessária à cooperativa
está disponível, é competente e eficiente? 3. Como está a qualificação do pessoal, se-
jam ao nível administrativo, seja ao nível
11. Temos tecnologia adequada? social?

12. Como está a disponibilidade da matéria 4. Como funciona o nosso planejamento de


prima para a atuação de comercializa- atividades?
ção?
5. Como estão os canais de comunicação,
13. Qual o domínio que temos do mercado seja no nível interno, seja com os associa-
para os nossos produtos? dos?
80
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA

VI - QUESTÕES SOBRE O vem serviços vinculados à coopera-


PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO tiva, envolvem-se com as iniciativas
programadas (este seria um parâ-
1. Como ocorre a tomada de decisões (em metro razoável para o bom funcio-
nível de planejamento, em nível de dire- namento da cooperativa, mesmo
ção, em nível operativo)? que o ideal fosse a identificação de
100 %). Fonte: Análise dos registros
2. Como é a participação nas decisões (em- de participação nas assembleias e
pregados, associados, diretores)?
dedicação à produção e fortaleci-
mento da cooperativa.
3. Como ocorre a supervisão da administra-
ção sobre a gerência?
Outros exemplos de indicadores:
4. Há possibilidades de serem recebidas crí-
Qual o índice de autonomia finan-
ticas e sugestões?
ceira? Indicador: Patrimônio líqui-
do/ativo total > 0,5. Qual o índice
5. Como funcionam os controles internos de
supervisão? de rentabilidade do ativo? Indica-
dor: Sobra/ativo total > 0,2. Como
6. Como funciona o Conselho Fiscal? está a qualidade dos produtos?
Indicador: Os produtos têm acei-
7. Como são usados os dados de controle tação rápida e não há ocorrência
(produtividade, custos e outros índices)? de reclamações. Como estamos no
controle de custos? Indicador: As
8. Existe transparência na atuação da admi- despesas estão exatamente den-
nistração e na prestação de contas? tro do orçamento previsto. Temos
tecnologia adequada? Indicador:
Definidos os termos de referência, há de se es- Os equipamentos disponíveis pos-
tabelecer indicadores para os mesmos. sibilitam a execução do serviço de
maneira eficiente e competitiva.
INDICADORES Como é o comportamento diretivo
do gerente? Indicador: Comporta-
O indicador (parâmetro comparativo) corres- mento democrático, incentivando e
ponde a uma situação ideal (possível ou razoável) contribuindo para o aproveitamento
para a resposta à pergunta formulada nos termos da criatividade e aumento da pro-
de referência a fim de que possamos comparar a dutividade dos associados.
correspondente resposta (proveniente da análise
da realidade da cooperativa) ao indicador e ver se ENCAMINHAMENTOS
estamos bem ou mal e se temos de tomar determi-
As perguntas formuladas na primeira etapa de-
nadas medidas de ajuste. Os indicadores não são
vem ser respondidas com detalhes e as respostas de-
definitivos. Precisam ser acordados no âmbito da orga- vem ser comparadas com o que estabelece o indicador
nização e revistos permanentemente. No entanto, de- formulado.
vem ser estabelecidos a partir de consenso e ter base
científica para serem consistentes. A cada indicador, Como está a situação?
deverá aparecer uma fonte de comprovação.
Estamos próximos ou longe da
Termo de referência: Os asso- situação ideal?
ciados e associadas estão iden-
tificados com as finalidades de Para balizar e ter referências nos encaminha-
cooperativa? Indicador: Dos 150 mentos, adotamos a integração a determinados graus
associados e associadas da coo- de resposta. Os graus propostos poderão ser os se-
perativa, 120 participam, desenvol- guintes:
81
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA

• Situação péssima f) Propostas de novos sistemas administrativos


com políticas e procedimentos.
• Situação ruim
Tudo isso para conseguir que a
• Situação regular cooperativa apresente os me-
lhores resultados e as pessoas
• Situação boa e envolvidas sejam efetivamente
beneficiadas.
• Situação excelente.
ESTRUTURA DE PODER E GESTÃO
Para cada um desses graus corresponderão
as seguintes recomendações: Em relação à estrutura de poder interno, as
cooperativas baseiam a participação dos associa-
• Péssimo = Exige mudanças radicais. Quais? dos e associadas na Assembleia geral onde cada
pessoa tem um voto.
• Ruim = Exige mudanças importantes. Quais?
A realização da assembleia, periodicamente, e a
• Regular = Deve-se melhorar bastante. Em participação efetiva dos associados na mesma é essen-
que? cial para que os interesses do coletivo sejam preserva-
dos, que os benefícios dos resultados da cooperativa
• Bom = Pode-se melhorar um pouco mais. sejam partilhados e que o grupo como um todo assuma
Onde? as responsabilidades e a condução efetiva da entidade.

• Ótimo = Não há necessidade de mudanças. No entanto, nem sempre há possibilidades de


realizar assembleias frequentes ou porque há um gran-
Em todos os casos em que mudanças são exigí- de número de associados ou porque eles se encontram
veis ou necessárias, haverá necessidade de determi- distantes da sede, ou mesmo porque estão envolvidos
nar metas, com definição de quantidades e de espaço com tantas atividades. Pesquisa do Banco Central nas
de tempo para serem alcançadas. Além disso, para al- cooperativas de crédito indica o distanciamento dos
cançar as metas, nos casos da situação péssimo, ruim associados nas cooperativas, ou porque confiam nos
e regular, provavelmente haverá a necessidade de mu-
dirigentes ou porque consideram que não têm de opi-
dar as respectivas estratégias, o que remete, portanto,
nar ou contribuir nos debates e tomadas de decisão.
à reformulação do planejamento.
Isso quando não ocorre que as próprias assembleias
são realizadas de forma a criar obstáculos para uma
A reformulação do planejamento poderá tam-
efetiva participação.
bém exigir:

Diante disso é que se vem sugerindo que quem


a) Mudança na política de instalações.
deverá assumir o acompanhamento direto da coopera-
tiva, em nome do conjunto dos associados, é o Conse-
b) Reestruturação do espaço físico.
lho de Administração.

c) Adoção de novas tecnologias.


O Conselho de Administração re-
presenta o interesse dos associa-
d) Evolução nos recursos humanos: substitui-
dos e é nessa perspectiva que ele
ção de pessoal, seleção de novos quadros, deve atuar.
pesquisa, estudo e treinamento e redefinição
de funções e atividades. Apesar de que, na maioria das vezes, o Conse-
lho de Administração acaba por se envolver muito mais
e) Alterações na estrutura da entidade com no- na viabilidade da cooperativa, não deve ele perder de
vos fluxos de comunicação e redistribuição vista que o seu papel é buscar beneficiar a quem ele
de cargos e responsabilidades. representa, sem no entanto reduzir a sua responsabili-
82
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA

dade com o sucesso da cooperativa, mas não porque


é ela que tem de ter sucesso, mas porque são os asso-
ciados que devem tê-lo.

Com os olhos focados no sucesso da cooperati-


va está a chamada Diretoria Executiva.

Na maioria das cooperativas


existentes no Brasil a Diretoria
Executiva é oriunda dos quadros
do Conselho de Administração
e este é um erro que precisa ser
sanado.

Tanto na sua dimensão empresarial como na


associativa, a cooperativa existe para satisfazer as ex-
pectativas dos associados. Por isso, o foco estará como
já dissemos anteriormente, nos associados. Mas, para
que isso aconteça, evidentemente, a cooperativa pre-
cisa ter sucesso. No entanto, quando o Conselho de
Administração assume a tarefa de viabilizar plenamen-
te a cooperativa, por si própria e também porque as
pessoas do mesmo serão beneficiadas com os bons
resultados, ele poderá esquecer os demais associados
gradativamente e com isso se esvaem as característi-
cas mais importantes da cooperativa.

O Banco Central do Brasil, ao tratar da gover-


nança cooperativa, tem insistido sobre a importância
de que o Conselho de Administração seja separado da
Diretoria Executiva, fazendo com que as duas instân-
cias tenham responsabilidades diferentes. Seria como o
Conselho de Administração cuidando do aspecto asso-
ciativo de olho no empresarial, e a Diretoria Executiva
cuidando do empresarial para atender ao associativo.

Isso remete ao fato que o Conselho de Admi-


nistração deve ser muito representativo da realidade e
diversidades dos associados e associadas (lembrar a
importância da participação das mulheres e jovens) e a
Diretoria Executiva terá de ser profissional e dominar os
mecanismos de gestão e desenvolvimento de negócios.

O Conselho Fiscal faz a ponte entre associa-


dos e associadas, o Conselho de Administração e a
Diretoria Executiva. Com isso, o Conselho Fiscal ad-
quire uma importância muito maior do que a que lhe foi
atribuída seja pela prática ou mesmo pela legislação
atual, preocupando-se tanto que sejam atendidas as
aspirações dos associados como que haja ótima ges-
tão e ótimos resultados da cooperativa.
83
84
MÓDULO IV OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E
TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
UNIDADE 2
QUESTÕES TRIBUTÁRIAS

SEGUNDA PARTE – A Constituição


CARACTERIZAÇÃO DAS Federal diz em seu
artigo 146, III, “c” que
COOPERATIVAS
uma Lei Complemen-
tar deverá estabelecer
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS normas sobre o “ade-
E TRABALHISTAS DA quado tratamento tri-
butário ao ato coope-
COOPERATIVA rativo praticado pelas
sociedades cooperati-
QUESTÕES TRIBUTÁRIAS vas”. Porém, como esta Lei Complementar específi-
ca ainda não existe, as cooperativas estão inseridas
na legislação geral tributária e regulações esparsas,
além de ter de seguir normas que às vezes são con-
flituosas ou mesmo dependem de interpretação de
Instruções ou Portarias de setores que nem sempre
compreendem o que são cooperativas.

O que apresentaremos é um resgate do trata-


mento tributário das cooperativas em relação a diver-
sos tributos e tentaremos esclarecer quais as obri-
gações atualmente incidem sobre suas operações,
sendo que é bom lembrar que há uma distinção entre
o que é ato cooperativo (excluído de vários tributos)
do ato não cooperativo (equiparado às operações das
empresas).

Espera-se que a questão acima da tributação


seja resolvida através de novas leis, criando um am-
biente mais favorável e estabelecendo vantagens
pelo menos em relação às empresas, as quais quan-
do pequenas são beneficiadas por uma sistemática
de simplificação tributária, fiscal e contábil que as
cooperativas não têm acesso.

A) OS DIVERSOS TRIBUTOS

1. IMPOSTO DE RENDA – PESSOA


JURÍDICA

As cooperativas, desde que não se enquadrem


nas condições de obrigatoriedade de apuração do lu-
cro real (artigo 14 da Lei n° 9.718/98) – receita total
no ano superior a R$ 48.000.000,00 -, poderão op-
85
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

tar pela tributação com base no lucro presumido29. As


cooperativas de crédito, cuja atividade está sob contro- "Incide o imposto de renda sobre o resul-
le do Banco Central do Brasil, são obrigatoriamente tri- tado das aplicações financeiras realiza-
butadas pelo lucro real, conforme Lei 9.718/98, art. 14, das pelas cooperativas". Assim, as apli-
cações, inclusive as de Crédito, em outras
Inciso II. A base de cálculo será determinada segundo
instituições financeiras, não cooperativas,
a escrituração que apresenta destaque das receitas
não se caracterizam como atos coopera-
tributáveis e dos correspondentes custos, despesas e tivos, incidindo o imposto de renda sobre
encargos. Se não houver este destaque o lucro será o resultado obtido pela cooperativa nes-
arbitrado pela Receita. sas aplicações.

Os resultados positivos (sobras)


Porém, é admissível a dedução
decorrentes dos atos cooperati-
vos e a prestação por associa- na parcela do imposto devido pe-
dos de serviços oferecidos por las cooperativas das aplicações
cooperativa, não são tributáveis em investimentos (tipo FINAM,
pelo IRPJ. FINOR). São também dedutíveis
os encargos relativos a juros pa-
Todos os demais resultados, decorrentes de gos pelas cooperativas a seus
atos não-cooperativos são tributáveis, integralmente.
associados, de até doze por cen-
Mas, as sociedades cooperativas de consumo, que te-
to ao ano sobre o capital integra-
nham por objeto a compra e fornecimento de bens aos
lizado.
consumidores, sujeitam-se às mesmas normas de in-
cidência dos impostos e contribuições de competência
Além disso, eventual prejuízo fiscal sofrido pela
da União, aplicáveis às demais pessoas jurídicas, mes-
mo que suas vendas sejam efetuadas integralmente a cooperativa que corresponder às operações com não
associados (art. 69 da Lei 9.532/97). associados poderá ser compensado nas operações tri-
butáveis futuras, dentro do limite de 30%.
Não é permitido às cooperativas distribuírem
qualquer espécie de benefício às quotas-partes do As cooperativas poderão deduzir do IRPJ a pa-
capital ou estabelecer outras vantagens ou privilégios, gar, o imposto retido na fonte sobre receitas de aplica-
financeiros ou não, em favor de quaisquer associados ções financeiras computadas na base de cálculo do
ou terceiros, excetuados os juros até o máximo de doze lucro tributável.
por cento ao ano, atribuídos ao capital integralizado.
A inobservância do disposto importará tributação inte-
2. IMPOSTO DE RENDA NA FONTE
gral dos resultados. Além disso, as seguintes receitas
decorrem de atos não cooperativos e, por isso, são Os pagamentos
tributáveis: aluguéis recebidos, ganhos de capital na
de rendimentos a as-
alienação de bens do ativo e quaisquer outros alheios
sociados, decorrentes
ao objeto social, além dos rendimentos de aplicações
financeiras. de serviços prestados,
estão sujeitos á tribu-
A 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) tação pela tabela do
aprovou, em 25/04/2002, por unanimidade, a edição Imposto de Renda na
da Súmula no 262, com o seguinte teor: Fonte. No caso de pres-
tação de serviços pes-
soais de transporte de
29
Lucro Presumido é uma forma de tributação simplificada para carga ou de passageiros, com a utilização de veículo
determinação da base de cálculo do imposto de renda e da
CSLL das pessoas jurídicas que não estiverem obrigadas, no próprio, locado ou adquirido com reserva de domínio
ano-calendário, à apuração do lucro real. As alíquotas dos tribu- ou alienação fiduciária, a importância relativa à remu-
tos são aplicadas sobre um lucro que se presume, que constitui
a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Para as empresas de neração desse serviço deverá, ainda, ser discriminada
prestação de serviços, de modo geral, a base de cálculo do Lu-
cro Presumido é de 32% do faturamento mensal.
em parcela tributável e parcela não-tributável, obser-
86
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

vando-se que a parcela tributável corresponderá a (Lei O agricultor familiar é classificado em relação à
7.713/88, art. 9º, incorporado ao art. 629 do RIR/99): Previdência como Produtor Rural e a base de cálculo
40% (quarenta por cento) do rendimento decorrente do das contribuições sociais devidas é o valor da receita
transporte de carga e de prestação de serviços com
bruta proveniente da comercialização da sua produção
trator, máquina de terraplenagem, colheitadeira e as-
e dos subprodutos e resíduos, na alíquota de 2,3%
semelhados; 60% (sessenta por cento) do rendimento
decorrente do transporte de passageiros. que, no caso de associado, deverá ser recolhido pela
própria cooperativa.
Os resultados oriundos das operações de atos
não cooperativos, que são tributadas pelo IRPJ e A cooperativa pagará INSS normal sobre os
CSLL, não se sujeitam a qualquer retenção na fonte
seus funcionários. Caso a cooperativa remunere autô-
e também não integrarão o lucro tributável dos asso-
nomos ou dirigentes não empregados ou cooperados,
ciados porque devem ser destinados integralmente ao
incidirá sobre respectiva remuneração o valor para o
Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social –
FATES. INSS de 20%. No entanto, a cooperativa de trabalho
não está sujeita á contribuição INSS (20%) em relação
As importâncias pagas ou creditadas pelas pes- aos valores pagos aos respectivos cooperados, a título
soas jurídicas a cooperativas de trabalho, relativas a de serviços prestados a empresas. Observe que esta
serviços pessoais que lhes forem prestados por asso- isenção não abrange valores relativos à remuneração
ciados destas ou colocados à disposição estão sujeitos de empregados e de dirigentes, cujo INSS será nor-
à retenção do imposto de renda na fonte pela alíquota mal. Para as cooperativas de trabalho, a contribuição
de 1,5% (Lei 8.981/95, art. 64). Este valor será com- INSS a cargo da empresa contratante é de 15% sobre
pensado com o imposto que tiver que ser retido pela o valor bruto da nota fiscal, relativamente aos serviços
cooperativa, por ocasião do pagamento ao associado.
prestados por cooperativas de trabalho (item IV do art.
22 da Lei 8.212/1991). Como se trata de uma despesa
Os juros de 12% sobre o capital social, pagos ou
da empresa contratante, não há que se falar em conta-
creditados aos cooperados, sujeitam-se à tributação
como rendimentos de aplicações financeiras de renda bilização do respectivo valor do INSS, pela cooperativa
fixa. Portanto, estão sujeitos à retenção do imposto de de trabalho.
renda na fonte (art. 16 da IN SRF 25/2001).
A cooperativa de trabalho é obri-
Fica dispensada a retenção do imposto de renda gada a arrecadar a contribuição
na fonte sobre os rendimentos em aplicações financei- previdenciária do contribuinte in-
ras realizadas pelas cooperativas de crédito em outras
dividual a seu serviço, mediante
instituições financeiras, não cooperativas. Mas, estão
desconto na remuneração paga,
sujeitos à retenção na fonte os rendimentos decorren-
tes de aplicações financeiras de renda fixa e de renda devida ou creditada a este segu-
variável, pagos ou creditados por cooperativas de cré- rado.
dito a seus associados, em função de aplicações nas
mesmas (conforme IN SRF 333/2003). As alíquotas são de 11% (onze por cento) do va-
lor da parte distribuída ao cooperado por serviços por
3. INSS ele prestados, por seu intermédio, a empresas e 20%
(vinte por cento) em relação aos serviços prestados a
Cada cooperado deverá ter sua própria matrí- pessoas físicas (conforme § 31 do artigo 216 do De-
cula no INSS, recolhendo a contribuição pela GPS creto 3.048/99). Finalmente, as Cooperativas recolhem
individual. A cooperativa de trabalho e a pessoa ju- ao Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperati-
rídica são obrigadas a efetuar a inscrição no Instituto
vismo – SESCOOP, 2,5% (dois vírgula cinco por cen-
Nacional do Seguro Social - INSS dos seus coopera-
to), incidente sobre o montante da remuneração paga
dos ou contribuintes individuais contratados, respecti-
vamente, caso estes não comprovem sua inscrição na a todos os empregados, em substituição a contribuição
data da admissão na cooperativa ou da contratação até então efetuada para SENAR, SENAI, SESI, SESC,
pela empresa. SENAC, SEST, SENAT.
87
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

4. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O Suas disposições estão regulamentadas pelo


LUCRO (CSLL) Decreto 4.544 de 2002. A cooperativa é considerada
estabelecimento industrial quando executa qual-
As sociedades cooperativas, no que se refere quer das operações consideradas como industria-
aos atos cooperativos, ficam não incidentes da Contri- lização. Neste caso, deverá recolher o IPI correspon-
buição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL. Esta não dente á alíquota aplicável a seus produtos.

incidência não alcança as sociedades cooperativas de


consumo (artigo 39 da Lei 10.865/04). 8. PIS – IN SRF 635/06

Quanto ao PIS, estão as cooperativas sujeitas


5. CIDE – COMBUSTÍVEIS ao pagamento deste tributo de duas formas:

As sociedades cooperativas que se dedicam a a) SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTO, me-


vendas em comum, e que recebam para comercializa- diante a aplicação de alíquota de 1% so-
ção a produção de seus associados, são responsáveis bre a folha de pagamento mensal a seus
pelo recolhimento da Contribuição de Intervenção no empregados, excluindo-se o salário-famí-
Domínio Econômico – CIDE, incidente sobre a comer- lia e o aviso-prévio indenizado.
cialização de álcool etílico combustível.
b) SOBRE A RECEITA BRUTA, calculada à
alíquota de 0,65%, mediante as exclusões
Observe as normas esta- da base de cálculo abaixo.
belecidas na Lei no 10.336,
de 19 de dezembro de 2001,
9. COFINS – IN SRF 635/06
acessando: www.receita.
fazenda.gov.br/legislacao/ As cooperativas recolhem o valor de 3% sobre
leis/2001/lei10336.htm o faturamento mensal, qual seja, sobre a receita bruta
mensal da cooperativa, a título de COFINS, com as
exclusões abaixo. As cooperativas de crédito recolhem
6. ICMS o valor de 4%.

O ICMS (imposto sobre operações relativas à


10. PIS E COFINS – EXCLUSÕES DA
circulação de mercadorias e sobre prestações de ser-
BASE DE CÁLCULO
viços de transporte interestadual, intermunicipal e de
comunicação) é de competência dos Estados e do Dis- As sociedades cooperativas poderão excluir
trito Federal. da base de cálculo da COFINS e do PIS/PASEP:

Apesar de, em muitos casos, se a) Os valores repassados aos associados, de-


tratar de ato cooperativo, haven- correntes da comercialização de produto por
do circulação de mercadorias ou eles entregue à cooperativa.
prestação de serviços tributá-
veis, a cooperativa estará sujeita b) As receitas de venda de bens e mercadorias
a associados.
ao ICMS, de acordo com a legis-
lação estadual em que efetuar as
c) As receitas decorrentes da prestação, aos
operações.
associados, de serviços especializados, apli-
cáveis na atividade rural, relativos a assistên-
7. IPI cia técnica, extensão rural, formação profis-
sional e assemelhadas.
É o imposto sobre produtos indus-
trializados (IPI) incide sobre pro-
d) As receitas decorrentes do beneficiamento,
dutos industrializados, nacionais e
armazenamento e industrialização de produ-
estrangeiros.
ção do associado.
88
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

e) As receitas financeiras decorrentes de repas- dito, seleção e riscos, administração de contas a pagar
se de empréstimos rurais contraídos junto a e a receber, bem como pela remuneração de serviços
instituições financeiras, até o limite dos en- profissionais, estão sujeitos à retenção na fonte da
cargos a estas devidos. CSLL, da COFINS e do PIS.

f) Vendas canceladas e descontos concedidos. A obrigação de retenção aplica-se inclusive


aos pagamentos efetuados por:
g) Nas cooperativas agropecuárias e de consu-
mo, as sobras apuradas na Demonstração a) Associações, inclusive entidades sindicais,
do Resultado do Exercício, antes da destina- federações, confederações, centrais sindi-
ção para a constituição do Fundo de Reserva cais e serviços sociais autônomos.
e do Fundo de Assistência Técnica, Educa-
cional e Social. b) Sociedades simples, inclusive sociedades
cooperativas.
h) As cooperativas de crédito poderão deduzir
da receita bruta mensal os valores corres- c) Fundações de direito privado.
pondentes às despesas incorridas nas ope-
rações de intermediação financeira e as de d) Condomínios de edifícios.
obrigações por empréstimos, para repasse,
de recursos de instituições financeiras, as Por força do art. 21 da Lei 10.865/04 não mais
perdas com títulos de renda fixa e variável, será exigida a retenção da parcela da CSLL sobre pa-
exceto com ações e as perdas com ativos
gamentos ás cooperativas. Isso porque, as cooperati-
financeiros e mercadorias, em operação de
vas, exceto as de consumo, estarão isentas da CSLL
hedge.
sobre os atos cooperativos. Observe-se que continua a
exigência de retenção da COFINS e do PIS.
Decisão do Superior Tribunal de
Justiça (Resp. 476.510-SC/2003)
reconheceu a ilegalidade da co- 12. ISS
brança do PIS e COFINS para as
Será contribuinte do ISS somente se prestar a
cooperativas. No entanto, tal de-
cisão somente beneficia as coo- terceiros serviços tributados pelo referido imposto. A
perativas partes da ação judicial. prestação de serviços a cooperados não caracteriza
operação tributável pelo ISS.
As exportações de produtos para o exterior são
isentas de PIS e COFINS. A Instrução Normativa nº 13. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL
358/2003 – da SRF excluiu da base de cálculo do PIS/
COFINS as operações das cooperativas agropecuá- O art. 548 da Consolidação das Leis do Traba-
rias e de eletrificação rural. Em 09 de dezembro de lho – CLT estabelece que constituem o patrimônio das
2008, a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal associações sindicais, dentre outras receitas, as con-
de Justiça (STJ), proferiu um novo voto sobre a tributa- tribuições devidas aos sindicatos pelos que participem
ção de cooperativas de trabalho, afastando a incidên- das categorias econômicas (empresas) ou profissio-
cia da COFINS. nais (empregados), ou das profissões liberais repre-
sentadas pelas referidas entidades, sob a denomina-

11. RETENÇÕES DA LEI 10.833/2003 ção de contribuição sindical, pagas e arrecadadas na


forma que a lei determina.
Os pagamentos efetuados pelas pessoas jurídi-
cas a outras pessoas jurídicas de direito privado, pela Assim, em cumprimento a um dispositi-
prestação de serviços de limpeza, conservação, ma- vo legal, todas as empresas brasileiras, inclusive
nutenção, segurança, vigilância, transporte de valores cooperativas, são obrigadas a contribuir para os
e locação de mão-de-obra, pela prestação de serviços respectivos sindicatos, com exceção das microem-
de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de cré- presas sem empregados.
89
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

A contribuição sindical patronal consiste numa 7.6% e as de crédito, 4,0% sobre a receita
importância proporcional ao seu capital social, confor- mensal.
me o registro nas respectivas Juntas Comerciais, me-
diante aplicação de determinadas alíquotas, de confor- b) PIS – 0,65% sobre a receita mensal e mais
midade com o disposto no art. 580, inciso III, da CLT, 1% sobre a folha de pagamento dos empre-
devendo ser recolhida no mês de janeiro de cada ano.
gados. As cooperativas agropecuárias e as
As empresas estabelecidas após o mês de janeiro pa-
de consumo contribuem com 1,65% sobre a
gam a aludida contribuição no mês em que apresen-
tarem o requerimento da licença para funcionamento. receita mensal.

c) ICMS – média de 17% (depende de cada Es-


14. CONTRIBUIÇÃO COOPERATIVISTA
tado e do tipo de produto).
A contribuição cooperativista foi instituída pela
Lei n° 5.764 – Artigo 108 – e teria a tarefa de ser uma d) INSS – 20% sobre a folha de pagamentos
espécie de Contribuição Sindical Patronal para as coo- dos cooperados e 20% sobre o valor das
perativas e recolhida para a OCB. No entanto, apesar remunerações dos Diretores e Conselheiros
de ter se tornado compulsória por força da lei espe-
Fiscais.
cífica, sempre houve dúvidas sobre esta questão e
compreende-se que, não sendo compulsória a filiação,
a contribuição não é devida. e) ISSQN – Depende da atuação de cada coo-
perativa e dos municípios.
A orientação é que as coopera-
tivas na agricultura familiar não Observações:
recolham a contribuição coope- a) As cooperativas de consumo devem reco-
rativista, mas apenas a Contri- lher, das sobras, mais 15% para o IRPJ e 9%
buição Sindical Patronal.
para a CSLL.

15. TAXA ASSOCIATIVA b) O tomador do serviço da cooperativa do

A mesma Lei n° 5.764/71 – artigo 107 - estabe- Ramo Transporte utilizará base de cálculo
leceu a obrigatoriedade da filiação das cooperativas à reduzida para o recolhimento do respectivo
estrutura da Organização das Cooperativas Brasileiras, INSS.
OCB, e estabeleceu o pagamento de uma taxa de 10%
(dez por cento) do salário mínimo vigente, se a soma II – Pagos pela cooperativa em função
do respectivo capital integralizado e fundos não exceder
dos Empregados:
de 250 (duzentos e cinquenta) salários mínimos, e 50%
(cinquenta por cento) se aquele montante for superior. a) INSS - 20% sobre a folha de pagamento de
Como o referido artigo da Lei contraria determinação
funcionários, mais 1%, 2% ou 3% dependen-
da Constituição Federal, a filiação à OCB não mais é
do do grau de incidência da capacidade labo-
obrigatória. Por isso, o pagamento desta taxa somente
é devido às cooperativas que optarem filiação à OCB. rativa, mais 5,8% devido a outras entidades,
se não tiver convênio com o salário educa-
ção.
http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L5764.htm b) FGTS – A alíquota de 8% sobre a folha de
empregados.

TRIBUTAÇÃO POR RESPONSABILIDADE Observação:

I– De responsabilidade da cooperativa: a) As cooperativas de infraestrutura e as do


Ramo Transporte, que adotarem exclusões
a) COFINS – 3% sobre a receita mensal. No permitidas para calcular o PIS sobre fatura-
entanto as cooperativas agropecuárias con- mento, deverão recolher também 1% sobre a
tribuem com 7,6%, as de consumo também folha de pagamento dos empregados.
90
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

III – De responsabilidade do cooperado: g) Nas cooperativas do Ramo Transporte, o cál-


culo do IRRF terá sua base de cálculo redu-
a) INSS - Diretores e Conselheiros Fiscais – Se zida em 60% para o transporte de cargas e
receberem cédula de presença e/ou honorários
40% no transporte de pessoas, desde que o
deverão pagar sobre esse valor 11% de INSS.
cooperado seja proprietário do veículo.
Observações:
a) Nas cooperativas agropecuárias, o reco- Uma análise geral da situação tributária das
lhimento da contribuição de 2,3% sobre a cooperativas remete ao problema que está relacionado
comercialização dos produtos rurais será ao não tratamento diferenciado das pequenas coope-
efetuada pelo próprio produtor rural pessoa rativas, considerando a sua situação e, especialmente,
física, sobre o preço dos produtos, somente
a sua atuação junto às populações economicamente
quando a comercialização for realizada com
mais frágeis ou carentes, tornando difícil a competição
outro produtor rural pessoa física ou consu-
com as grandes cooperativas e também a sua sobrevi-
midor ou quando o destinatário da comercia-
vência em relação às pequenas empresas. Neste sen-
lização for incerto. Atenção: Isso não o torna
assalariado e ele continua tendo o direito à tido, um comparativo entre o que onera as peque-
aposentadoria por tempo de serviço como nas cooperativas e, por exemplo, a situação das
segurado especial. empresas inseridas no Simples Nacional é muito
elucidativo:
b) Nas cooperativas de crédito, a cooperativa
reterá e recolherá o IRRF sobre os rendimen- Tomando como exemplo peque-
tos das aplicações. nas cooperativas com faturamento
de até R$ 360.000,00 anuais, os
c) As cooperativas de crédito também deverão tributos federais IRPJ (cooperati-
reter um adicional de 0,38% de IOF sobre as vas = 0,00% - Simples Nacional
aplicações realizadas na cooperativa. = 0,27%), CSLL (cooperativas
= 0,00% - Simples Nacional =
d) Nas cooperativas de professores, do Ramo
0,31%), PIS (cooperativas = 0,65%
Educacional, nas cooperativas do Ramo
Saúde e nas cooperativas do Ramo Trabalho, - Simples Nacional = 0,23%) e CO-
a cooperativa deverá reter e recolher o IRRF FINS (cooperativas = 3,00% - Sim-
sobre transferências aos associados. Além ples Nacional= 0,95%), vemos que
disso, os associados destas cooperativas as cooperativas são obrigadas a re-
também contribuirão para o INSS com 11% colher 3,65% sobre o faturamento,
quando a prestação dos serviços for para enquanto que as empresas inseri-
pessoa jurídica e 20%, quando a prestação das no Simples Nacional, apenas
dos serviços for para a pessoa física, sobre de 1,76%, ou seja: Cooperativas
as remunerações.
= R$ 13.140,00 e as empresas =
R$ 6.336,00, numa diferença de
e) Nas cooperativas do ramo de infra-estrutura,
o associado deverá assumir a alíquota de 0, R$ 6.804,00. Em relação à contri-
12, 18 ou 25% (depende do consumo) para o buição ao INSS, uma cooperativa
ICMS sobre os produtos recebidos. O tributo de produção, com 20 associados
estará embutido no preço pago Nas coope- e faturamento anual na faixa de
rativas de produção, o associado assumirá o R$ 360.000,00, que pretenda pa-
pagamento de 11% sobre a sua remuneração
gar uma média de R$ 950,00 ao
para o INSS e estará submetido ao IRRF.
mês a cada associado, pagará R$
2.974,00 a mais que uma empresa
f) Nas cooperativas do Ramo Transporte, sobre
o valor recebido pelo cooperado será multi- nas mesmas condições. (Estudo
plicado o percentual de20%. Do resultado feito pela contabilidade da UNISOL
serão retidos 13,5%$ para o INSS. - 2009).
91
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

QUESTÕES TRABALHISTAS Esta situação de autonomia caracteriza a coo-


perativa.
Talvez seja difícil de entender, mas
a cooperativa e seus associados Infelizmente, o que ocorre é que não pensa as-
estão fora do âmbito da regula- sim, na maioria das vezes, a Justiça do Trabalho, ou
ção trabalhista, porque, naquela, o Ministério Público do Trabalho ou, mesmo os seto-
não há a relação entre capital e res governamentais do Ministério do Trabalho. Para
trabalho, entre patrão e empre-
estes, usualmente, o padrão é que pessoas, quando
gado. Isso não significa que não
são de baixa renda ou de restrita formação, são ine-
possam ocorrer relações trabalhis-
vitavelmente empregados e o seu destino é o traba-
tas na cooperativa, porque quando
lho dependente e subordinado, esperando encontrar
se cumprem os requisitos básicos
um “bom patrão” que lhes pague um salário e outros
da relação de emprego (subordina-
limitados benefícios, mesmo que, trabalhando 30, 50
ção, periodicidade, pessoalidade e
anos, jamais se torne dono de tudo o que construiu ou
remuneração – artigo 3º da CLT) há
mesmo dos resultados do seu esforço.
o contrato de trabalho e, desta ma-
neira, quando esta situação ocorre
Para quem se formou no limite da
com um associado, ele é também
legislação trabalhista, pensar um
empregado.
trabalhador ou uma trabalhado-
ra em situação de decidir por si
Para conhecer um pouco próprio, sem depender de patrão,
mais sobre a CLT – Consoli- parece ser algo inimaginável. No
dação das Leis Trabalhistas entanto, esta possibilidade deve
acesse: ser afirmada e principalmente con-
solidada.
http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/decreto-lei/
É verdade que temos uma legislação adversa
del5452.htm e nossa fiscalização é usualmente incapaz de pensar
numa situação nova e diferente. Uma situação em que
os trabalhadores são efetivamente donos da sua ativi-
Neste sentido, aliás, recomenda-
dade econômica. Com as atuais limitações existentes
-se incisivamente que as coope-
e com a compreensão marcada pelo contrato de traba-
rativas tenham presente que so-
lho, fica difícil pensar e encaminhar um cooperativismo
luções precárias relacionadas à
que seja um instrumento consistente de construção da
execução de tarefas intermediá-
autonomia e no estabelecimento de bases que possam
rias como de operação de máqui-
levar à possibilidade de chegar a uma nova hegemonia
nas, limpeza, consertos, separa-
da classe trabalhadora no Brasil.
ção ou transporte de produtos
ou outras tarefas que não estão
Brasília, 15 de abril de 2012.
relacionadas ao produto próprio
Daniel Rech – Assessor Jurídico da UNICAFES
do associado (trabalhando para
os demais), podem criar situa-
ções em que evidentemente está
presente a relação trabalhista e,
assim, deverão ser cumpridas as
obrigações concernentes.

No entanto, é necessário avançar no sentido de


que os trabalhadores e trabalhadoras possam se orga-
nizar e então instituir uma organização cooperativa que
seja um instrumento de atuação econômica e da busca
de resultados econômicos para si e suas famílias.
92
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

Com o auxilio dos textos do Módulo IV e também com base em seus conhecimentos,
julgue os itens em certo C e errado E.

1. O Planejamento nos ajuda a definir onde desejamos atuar, o que desejamos alcan-
çar/ mudar, como e quem vai atuar no processo de atuação, quais ações serão de-
senvolvidas, de que modo e com quais condições tudo isso será realizado.

2. A formulação de cenários é fundamental para a tomada de decisões. Quanto mais


levarmos em conta as possibilidades futuras mais conseguiremos acertar e produzir
bons resultados.

3. O monitoramento é suporte e instrumento fundamental para o planejamento. O pro-


cesso avaliativo se inicia no próprio planejamento e se encerra em um determinado
período quando se inicia um novo planejamento.

4. Levando em consideração o item IMPOSTO DE RENDA – PESSOA JURÍDICA, os


resultados positivos (sobras) decorrentes dos atos cooperativos e a prestação por
associados de serviços oferecidos por cooperativa, não são tributáveis pelo IRPJ.

5. A cooperativa de trabalho é obrigada a arrecadar a contribuição previdenciária do


contribuinte individual a seu serviço, mediante desconto na remuneração paga, devi-
da ou creditada a este segurado.

93
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

Avaliação Final Parabéns! Você concluiu os estudos do livro Nº 2. Agora vamos


prosseguir com a avaliação final.

1. Quais as motivações centrais que levaram ao desenvolvimento da ideia cooperativis-


ta no mundo?

2. Quais os princípios referenciais que nortearam a formulação das regulações coope-


rativistas no Brasil?

3. Quais as diferenças mais importantes da cooperativa em relação à associação e à


empresa capitalista?

4. Por que o cooperativismo pode ser importante e é necessário para a agricultura fami-
liar?

5. Quais as sugestões e medidas necessárias para o fortalecimento e expansão do


cooperativismo no Brasil?

6. De acordo com o aparato jurídico das cooperativas no Brasil, atualmente em vigor,


relacione a 2ª coluna de acordo com a 1ª.

a) Lei nº 5.764 de 1971

b) Constituição Federal

c) Código Civil Brasileiro

( ) Reclassificou as cooperativas, mantendo sua natureza de sem fins lucrati-


vos, mas com fins econômicos, e trouxe alguns avanços como a dispensa
de capital e o fim da exigência mínima de vinte pessoas para a sua consti-
tuição.

( ) Voltou-se fundamentalmente para as cooperativas agropecuárias (maioria


na época) e estabeleceu uma estrutura muito rígida na organização das
cooperativas e, ao contrário de permitir o desenvolvimento do modelo co-
operativista no Brasil, acabou por impor tantos limites e sugestões de con-
centração que tornaram difícil a sua constituição e funcionamento.

( ) Através dela temos breves e significativas referências a um novo cooperati-


vismo que poderia se constituir em instrumento apropriado por mais pesso-
as do país.

7. Entre as regulações das cooperativas que podem ser vistas como positivas, julgue os
itens CERTOS:

a) Lei Complementar nº 130 de 17 de abril de 2009 que reconhece as cooperativas


de crédito como instituições financeiras e admite a possibilidade, mesmo que
ainda não consolidada, de acesso aos recursos públicos sem necessidade de
um banco intermediário.

b) Decreto nº 3.000 de 26 de março de 1999, que regulamenta o Imposto de Renda.

94
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

c) Lei da Agricultura Familiar (Lei n° 11.326/2006) – Apesar de não ser uma lei es-
pecífica do cooperativismo, há de saudar como muito importante a aprovação da
lei que reconheceu institucionalmente a agricultura familiar no país.

d) Decreto nº 3.000 de 26 de março de 1999 - reconhece as cooperativas de crédito


como instituições financeiras e admite a possibilidade, mesmo que ainda não
consolidada, de acesso aos recursos públicos sem necessidade de um banco
intermediário.

8. Levando em consideração as regulações das cooperativas, relacione a 2ª coluna de


acordo com a 1ª:

a) Lei nº 11.947 de 16 de junho de 2009

b) Lei nº 11.362 de 26 de janeiro de 2009

c) Lei nº 8.666/93, acrescentado, com a Lei nº 12.349 de 15 de dezembro de 2010

( ) Dispõe sobre a Alimentação Escolar.

( ) Permitiu a implementação de um programa de cooperativismo na Bahia,


incentivando as cooperativas e criando mecanismos para a sua atuação e
presença no desenvolvimento econômico e político do Estado.

( ) Proibi a criação de dificuldades à participação das cooperativas nos proces-


sos licitatórios.

( ) Destaca a exigência do artigo 14 que determina a obrigatoriedade da aqui-


sição de no mínimo 30% dos alimentos procedentes da Agricultura Familiar

Considerando as regulações profundamente negativas para as cooperativas,


relacione as colunas:
a) Lei nº 9.532 de 10 de dezembro de 1997

b) Medida Provisória n.º 1.858-6, de 29 de junho de 1999

c) Lei nº 9.867 de 10 de novembro de 1999

d) Lei da Assistência Técnica à Agricultura Familiar

( ) Com os vetos dessa lei criou-se a modalidade das Cooperativas Sociais


(em destaque o veto à possibilidade deste tipo de cooperativa ser classifi-
cada como entidade de fins filantrópicos).

( ) Foram revogadas as isenções do PIS e COFINS das cooperativas, previstas


nos incisos I e III do art. 6º da LC n.º 70/91, revogação esta mantida pela
Medida Provisória 66/02 e recepcionada pela Lei 10.637/02.

( ) Trata da regulação tributária federal e que, no seu artigo 69 equiparou as


cooperativas de consumo, de forma absolutamente injusta, às demais so-
ciedades empresariais, praticamente inviabilizando a sua manutenção e

95
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

vetando as possibilidades da relação positiva e necessária entre pequenos


produtores e consumidores.

( ) Aborda da Assistência Técnica à Agricultura Familiar, sem atender às reivin-


dicações das cooperativas de assessoria técnica e sem enfrentar os princi-
pais problemas levantados pelo setor do cooperativismo popular.

9. De acordo com a Lei da Assistência Técnica à Agricultura Familiar, regulação


negativa para as cooperativas, julgue os itens em certo C e errado E.

a) A assistência técnica deve estar a serviço dos trabalhadores e das trabalhadoras


e não apenas algo externo que é imposto de fora, com modelos pré-estabeleci-
dos, como o que ocorre em muitos caso da ação da ATER Oficial que foi privile-
giada pela lei e pelo decreto.

b) A assistência técnica precisaria ser submetida ao controle social, com ampla


participação das organizações da agricultura familiar e do correspondente movi-
mento sindical na prestação dos serviços.

c) A assistência técnica não deveria considerar diversidades regionais e nem tam-


pouco integrar características próprias de cada bioma existente no país.

d) A assistência técnica deveria promover a agricultura familiar, com suas especifi-


cidades e características, especialmente as que se referem à produção diversifi-
cada de alimentos, e não buscar, como ocorre em muitos lugares, levar a agricul-
tura familiar a se tornar ou se inserir no modelo do agronegócio empresarial.

10. Considerando as indicações gerais de constituição das cooperativas, relacione as


colunas:

a) Reunião de pessoas com objetivo comum

b) Processo preparatório

c) A fundação

d) O registro

( ) O primeiro passo é, sem dúvida, realizar um esforço imenso para fazer fun-
cionar mecanismos que efetivamente compreendam as relações humanas
e consigam fazer comportamento pessoal, à subjetividade, às diferenças
existentes entre as pessoas para constituir uma iniciativa coletiva sólida.

( ) Será realizado mediante uma assembleia. Nela deverá ser aprovado o es-
tatuto social, definidos os associados fundadores e eleitas as pessoas para
os cargos estabelecidos no estatuto.

( ) Trata-se da capacitação do grupo sobre o que seja uma cooperativa, como


funciona, como organizar.

( ) Dentre os documentos obrigatórios deverá conter o Livro de Matrículas e o


Livro de atas de reuniões dos órgãos de administração.
96
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

11. De acordo com o re speito dos valores e a definição dos princípios cooperativistas,
julgue os itens em certo C e errado E.

As cooperativas:
( ) se baseiam nos valores de ajuda mútua, responsabilidade, democracia,
igualdade, equidade e solidariedade.

( ) são organizações voluntárias abertas para todas aquelas pessoas dispos-


tas a utilizar os seus serviços e dispostas e aceitar as responsabilidades
inerentes à sua condição de associado, sem discriminação de gênero, raça,
classe social, posição política ou religiosos.

( ) são organizações onde não há democracia, onde seus membros não tem
voz ativa, portanto não participam ativamente da definição de suas políticas
e na tomada de decisões.

( ) são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas por seus asso-


ciados.

12. Considerando o respeito dos valores e a definição dos princípios cooperativistas,


relacione as colunas:

a) Participação econômica dos seus associados

b) Cooperação entre as cooperativas

c) Educação, capacitação e informação

d) Compromisso com a comunidade

( ) A cooperativa trabalha para o desenvolvimento sustentável da sua comuni-


dade através de políticas definidas por seus associados.

( ) As cooperativas devem oferecer educação e capacitação aos seus associa-


dos, a seus dirigentes eleitos, gerentes e empregados, de tal maneira que
contribuam eficazmente no desenvolvimento de suas cooperativas.

( ) As cooperativas servem os seus associados e fortalecem o movimento co-


operativista trabalhando de maneira conjunta por meio de estruturas locais
(centrais), regionais (federações), nacionais (confederações) e internacio-
nais.

( ) Os associados contribuem de maneira equitativa e controlam de maneira


democrática o capital da cooperativa. Pelo menos uma parte desse capital
é propriedade comum da cooperativa.

13. As cooperativas são distinguidas de acordo com as atividades que desenvolvem em


relação aos seus associados. Considerando a natureza das cooperativas, relacione
a 2ª coluna de acordo com a 1ª:

a) Cooperativas de distribuição ou serviços

97
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

b) Cooperativas de colocação da produção

c) Cooperativas de trabalho

( ) São as que colocam à disposição de seus associados bens e serviços, de


acordo com suas necessidades, dentro das melhores condições de qualida-
de e preços.

( ) São as que agrupam associados com uma mesma profissão e que orga-
nizam e vendem em comum o seu trabalho, buscando fontes de ocupação
estáveis e mais compensadoras.

( ) São as que se dedicam à colocação da produção dos seus associados den-


tro das melhores condições possíveis de preços, regularidade e segurança.

14. As cooperativas são distinguidas pela quantidade de setores ou produtos a que se


dedicam. De acordo com à variedade de funções, relacione a 2ª coluna de acordo
com a 1ª:

a) Cooperativas unifuncionais

b) Cooperativas multifuncionais

c) Cooperativas integrais

( ) São as cooperativas mistas que podem se dedicar tanto à colocação da


produção como a atividades de fornecer insumos, sementes, ou serviços
aos seus associados.

( ) São as que procuram responder a todas as necessidades sociais e econô-


micas dos seus associados. São conhecidas como cooperativas utópicas.

( ) São as que se dedicam a uma única função ou a um único serviço especia-


lizado, como as cooperativas de consumo, de seguro, de crédito, de habita-
ção.

15. De acordo com os ramos mais comuns na atividade comum das cooperativas, julgue
os itens em certo C e errado E.

( ) Cooperativas de Crédito, são as que se ocupam em distribuir produtos ou servi-


ços aos seus associados, buscando as melhores condições, os melhores preços
e a melhor qualidade.

( ) Cooperativas Agrárias ou Agropecuárias, são muito comuns no Brasil e têm


como objetivo organizar as atividades econômicas e sociais dos seus associa-
dos, produtores rurais, integrando-as, orientando-as e colocando à disposição
deles uma série de serviços.

98
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

( ) Cooperativas de Consumo, são as que se ocupam em distribuir produtos ou


serviços aos seus associados, buscando as melhores condições, os melhores
preços e a melhor qualidade.

( ) Cooperativas de Pesca, ocorrem quando um grupo de pescadores organiza em


comum as suas atividades produtivas ou desenvolve funções coletivas de co-
locação da pesca ou para disponibilidade de material necessário para o seu
trabalho.

16. O Planejamento nos ajuda a definir onde desejamos atuar, o que desejamos alcan-
çar/ mudar, como e quem vai atuar no processo de atuação, quais ações serão de-
senvolvidas, de que modo e com quais condições tudo isso será realizado. Conside-
rando a assertiva, relacione as colunas:

a) Declaração da missão

b) Visão de negócio da cooperativa

c) Análise do entorno onde atuará a cooperativa

d) Cenários

( ) Estuda o ambiente que será a base de atuação da cooperativa, conside-


rando questões demográficas, econômicas, políticas, legais, tecnológicas,
associado-culturais etc.

( ) Refere-se ao exercício de imaginar possibilidades futuras. Não se trata do


que “gostaríamos que fosse”, mas sim o que nos parece que “poderá ser”.

( ) Vinculada à missão, a cooperativa deve desde já definir qual a sua visão do


negócio no futuro.

( ) Define as responsabilidades e pretensões da organização junto ao seu pú-


blico e define qual é a sua especificidade, delimitando o ambiente de atua-
ção.

17. Julgue os itens em certo C e errado E.

( ) O agricultor familiar é aquele que, a partir da produção familiar individualizada,


articulada a outras produções familiares individualizadas, constrói a força polí-
tica necessária para garantir que ele não se torne refém nem do latifundiário e
nem do agronegócio capitalista.

( ) A análise da realidade do público vinculado à cooperativa complementa o diag-


nóstico do ambiente, é importante compreender, com profundidade, a realida-
de do nosso público. Desejos, possibilidades, comportamentos, valores, visões
culturais, costumes, para que possamos estabelecer uma relação consistente e
possamos adequar o nosso produto ou serviço às suas necessidades.

99
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

( ) Formular objetivos é descer para o plano tático e busca, para cada objetivo,
como concretizar a ação levando em conta as oportunidades, as fraquezas, as
ameaças e as forças existentes no ambiente em que situa a nossa organização.

( ) Análise do desempenho e de resultados, faz parte do monitoramento e da ava-


liação, ele precisa estar presente no planejamento para que possa acompanhar
a sua implementação e assim já desde o seu início poder propor mudanças e
ajustes que nos levem efetivamente a alcançar tudo o que desejamos e temos
condições de conseguir.

18. Julgue os itens em certo C e errado E.

( ) Não é permitido às cooperativas distribuírem qualquer espécie de benefício às


quotas-partes do capital ou estabelecer outras vantagens ou privilégios, finan-
ceiros ou não, em favor de quaisquer associados ou terceiros, excetuados os
juros até o máximo de doze por cento ao ano, atribuídos ao capital integralizado.

( ) As cooperativas, que se enquadrem nas condições de obrigatoriedade de apu-


ração do lucro real (artigo 14 da Lei n° 9.718/98) – receita total no ano superior
a R$ 48.000.000,00 -, poderão optar pela tributação com base no lucro presumi-
do.

( ) Os resultados positivos (sobras) decorrentes dos atos cooperativos e a presta-


ção por associados de serviços oferecidos por cooperativa, são tributáveis pelo
IRPJ.

( ) A Constituição Federal diz em seu artigo 146, III, “c” que uma Lei Complementar
deverá estabelecer normas sobre o “adequado tratamento tributário ao ato coo-
perativo praticado pelas sociedades cooperativas”.

19. Considerando o campo da regulação das cooperativas, conciliando aspectos positi-


vos e negativos, relacione as colunas:

a) Instrução Normativa nº 971 – RFB, de 13 de novembro de 2009

b) Lei nº 12.512 - trata do Programa de Apoio à Conservação Ambiental e o Progra-


ma de Fomento às Atividades Produtivas Rurais.

( ) Estabelece os critérios e normas relacionados às contribuições destinadas


à Previdência Social de pessoas físicas e jurídicas, entre as quais as coope-
rativas. Trata-se de um referencial importante, mesmo que em determinados
momentos muito confuso.

( ) A segunda parte praticamente se refere à transferência de uma bolsa para


os agricultores em situação de extrema pobreza ou em dificuldades de de-
senvolver as atividades produtivas básicas.

( ) Deixa claro, quais as condições que fazem com que associados de uma
cooperativa podem perder ou manter sua condição de segurados especiais,
o que tem se constituído em debate importante nos últimos anos.

100
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

( ) Busca-se com a lei, em sua primeira parte, estabelecer incentivos à defesa


do meio ambiente e também destinar recursos para os agricultores de baixa
renda que se dedicarem a esta tarefa essencial para o futuro do planeta que
habitamos.

20. Viabilidade econômica, diz respeito à análise das possibilidades econômicas de so-
brevivência da cooperativa. De acordo com o assunto, relacione a 1ª coluna de acor-
do com a 2ª:

a) Levantamento da realidade da região

b) Definir os objetivos da cooperativa

c) Dados sobre a viabilidade da produção

d) Condições de mercado

( ) Ver se os produtos da cooperativa serão bem aceitos no mercado e se há


facilidades consistentes de colocação e venda.

( ) Fazer um levantamento sobre a produção da região e sobre a disponibilida-


de de produtos ou a capacidade de produzir bens ou serviços por parte das
pessoas que serão os associados.

( ) Definir claramente o que se quer com a fundação da entidade. Onde ser


quer chegar. O que a cooperativa vai fazer em benefício dos seus associa-
dos.

( ) Conhecer a situação das pessoas que se envolverão com a iniciativa, sua


capacidade produtiva, de suas famílias, as possibilidades e a capacidade
de entrosamento e trabalho conjunto.

101
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA

Referências Bibliográficas
ARANZADI, Dionísio. Cooperativismo industrial como sistema, empresa y experiência. Bilbao: Univ.
de Deusto, 1976.

DRIMER, Alícia Kaplan de; DRIMER, Bernando. Las Cooperativas. Buenos Aires: Intercoop, 1981.

SANTOS, Boaventura de Souza. Produzir para viver: Os caminhos da produção não capitalista. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

RECH, Daniel. Cooperativas: Uma alternativa de Organização Popular. Rio de Janeiro: FASE, 1995.

RECH, Daniel. Análise das diversas regulações (leis, decretos e projetos de lei) relacionadas ao in-
teresse das entidades cooperativas no âmbito solidário, especialmente no que tange a aspectos de
constituição, promoção, controle e funcionamento. Brasília: IICA, 2012.

RECH, Daniel. Planejamento e Avaliação de Cooperativas. Brasília: UNICAFES, 2011.

RECH, Daniel. Obrigações tributárias das Cooperativas. Brasília: IICA, 2009.

102

Você também pode gostar