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COMERCIALIZAÇÃO DAS
BASES DE SERVIÇOS
Cooperativismo e Associativismo
LIVRO 2
Ilustrações
Aurélio Marcos de Macedo
Diagramação
Alissom Lazaro
Sumário
MÓDULO I – UNIDADES 1, 2, 3 E 4.................................................................................. 13
UNIDADE 1.............................................................................................................. 13
UNIDADE 2.............................................................................................................. 17
UNIDADE 3.............................................................................................................. 27
UNIDADE 4.............................................................................................................. 31
MÓDULO II......................................................................................................................... 41
UNIDADE 1.............................................................................................................. 41
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA.......................................................... 41
A) CAPACITAÇÃO........................................................................................... 42
B) VIABILIDADE ECONÔMICA....................................................................... 42
e) Investimentos..................................................................................... 42
f) Financiamentos................................................................................... 42
g) Orçamento de receitas....................................................................... 42
h) Condições de mercado...................................................................... 42
i) Viabilidade da cooperativa.................................................................. 42
O CAPITAL SOCIAL............................................................................... 43
e) Conselho Fiscal:................................................................................ 46
k) Reforma do estatuto:.......................................................................... 46
UNIDADE 1........................................................................................................................ 49
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS................................................................. 49
VALORES:....................................................................................................... 49
PRINCÍPIOS:................................................................................................... 49
UNIDADE 2........................................................................................................................ 55
1- Definição Legal:.................................................................................. 57
2- Objetivos:........................................................................................... 57
3- Amparo Legal:................................................................................... 57
8- Representação legal:......................................................................... 59
9- Área de atuação:................................................................................ 59
17- Fiscalização:..................................................................................... 61
UNIDADE 3........................................................................................................................ 63
1- Quanto à natureza:............................................................................ 63
c) Cooperativas de trabalho.............................................................. 64
a) Cooperativas unifuncionais........................................................... 64
b) Cooperativas multifuncionais........................................................ 64
c) Cooperativas integrais.................................................................. 64
c) Confederação de Cooperativas.................................................... 64
1- Cooperativas de Crédito..................................................................... 65
2- Cooperativas de Consumo................................................................ 65
4- Cooperativas de Pesca...................................................................... 66
5- Cooperativas Habitacionais............................................................... 66
7- Cooperativas de Mineração............................................................... 66
8- Cooperativas Escolares..................................................................... 67
9- Cooperativas-Escola ou Educacionais.............................................. 67
I - Cooperativas de Produção.......................................................................... 68
UNIDADE 4.............................................................................................................. 71
UNIDADE 1.............................................................................................................. 75
6 - Fatores críticos................................................................................. 77
7 - Cenários........................................................................................... 77
8 - Definições estratégicas..................................................................... 77
10 - Estratégias de ação........................................................................ 78
11 - Ações.............................................................................................. 78
12 - Distribuição de responsabilidades.................................................. 78
13 - Condições internas......................................................................... 78
B) MONITORAMENTO............................................................................................. 78
C ) AVALIAÇÃO........................................................................................................ 79
TERMOS DE REFERÊNCIA.............................................................................................. 79
INDICADORES........................................................................................................ 81
ENCAMINHAMENTOS................................................................................... 81
QUESTÕES TRIBUTÁRIAS............................................................................ 85
A) OS DIVERSOS TRIBUTOS................................................................................. 85
3 - INSS................................................................................................. 87
5 - CIDE – COMBUSTÍVEIS.................................................................. 88
7 - IPI..................................................................................................... 88
12 - ISS.................................................................................................. 89
13 - CONTRIBUIÇÃO SINDICAL........................................................... 89
14 - CONTRIBUIÇÃO COOPERATIVISTA............................................. 90
15 - TAXA ASSOCIATIVA....................................................................... 90
I - De responsabilidade da cooperativa:................................................. 90
QUESTÕES TRABALHISTAS................................................................ 92
Ícones Organizadores
DEFINIÇÃO
É utilizado ao definir conceitos e significados.
ATENÇÃO
Serão destacados conceitos, ideias e lembretes importantes.
Por isto, sempre que vir este destaque: ATENÇÃO!
SAIBA MAIS
Aprofundamento de ideias, curiosidades, links de sites e textos complementares.
AVALIAÇÃO
Momento de realizar exercícios e avaliações para consolidar o aprendizado.
REFLEXÃO
Momento para refletir sobre as questões apresentadas e aprofundar pontos relevantes.
COMENTÁRIOS GERAIS
É utilizado para sintetizar assuntos abordados a fim de,
facilitar a visão geral dos assuntos explorados.
EXEMPLO
Utilizado no momento em que exemplifica conteúdo ou ideias.
Apresentação
Compreender e praticar o cooperativismo significa, antes de tudo, conhecer o tema
(a partir da prática e do resgate histórico) e estabelecer o compromisso de lutar por justiça
social, por transformação da realidade.
As cooperativas foram pensadas e deveria ser o instrumento essencial para este ob-
jetivo, fazendo a síntese entre o benefício das pessoas e a construção de um novo ambiente
comunitário em que todos se sintam bem.
Infelizmente, foram apropriadas pelo sistema e, hoje, a grande luta é que sejam reto-
madas pela iniciativa social, especialmente pelos mais pobres.
Objetivo geral:
Objetivos específicos:
A Constituição
UNIDADE 1 Federal diz que “a lei
apoiará e estimulará o
cooperativismo e ou-
INTRODUÇÃO - NATUREZA tras formas de asso-
ciativismo” (Artigo 174,
GERAL DA COOPERATIVA § 2º). Ao reconhecer a
importância do tema, a
Constituição também
volta-se para o reco-
nhecimento da neces-
sidade do incentivo a uma das formas mais consis-
tentes de organização da atividade econômica com
perspectiva social. E coloca a cooperativa como a
principal e mais evidente estrutura do associativismo.
13
INTRODUÇÃO - NATUREZA GERAL DA COOPERATIVA
Isso significa que na cooperativa No entanto, por força da nossa Legislação Traba-
não há como separar a associa- lhista (representada principalmente pela Consolidação
ção da empresa. A associação das Leis do Trabalho – Decreto-Lei nº 5.452/1943), os
articula, mobiliza e estabelece trabalhadores foram excluídos da empresa. Observe-
o interesse social. A empresa -se que na definição clássica, os resultados deveriam
responde às necessidades ma- ser distribuídos com todas as pessoas que contribuem
teriais para alcançar estes obje- na produção e na distribuição.
tivos.
No entanto, com a separação do direito do tra-
No entanto, há aqui necessidade de abrir um pa- balho do direito da empresa, os trabalhadores foram
rênteses que enfrente a grande distorção relacionada retirados da distribuição dos resultados e passam a ter
ao sentido da empresa. tratamento específico da regulação do salário e alguns
outros benefícios.
a) A cooperativa deve ser autônoma e autoges- pendentemente de seu objeto, considera-se empre-
tionária nas decisões do seu coletivo, incluindo sária a sociedade por ações; e, simples, a coopera-
todas as pessoas envolvidas, inclusive quem tiva” (Parágrafo único do Artigo 982). No entanto,
realiza a produção, não se subordinando aos surpreendentemente, Resolução da CONCLA (Comis-
interesses do capital. são Nacional de Classificação, vinculada ao Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão) – nº 2 - de
b) Os trabalhadores da cooperativa (que rea-
2011, lançou as cooperativas no campo das Entidades
lizam os bens e serviços) são os donos da
Empresariais, não conseguindo, portanto, reconhecer
cooperativa e não empregados, tendo em
nem a especificidade da natureza jurídica das coope-
mãos o poder de decisão e respondendo por
seus resultados e também assumindo os ris- rativas, muito menos o que determina a lei e menos
cos empresariais. ainda compreendendo sua natureza de empresa não
capitalista.
c) O que norteia o funcionamento interno da
cooperativa como empresa é o “espírito de
Considerando que o
serviço” contrapondo-se à finalidade exclusi-
Código Civil, primeiro, clas-
va de lucro da empresa capitalista.
sificou as sociedades em
Isso tudo significa que, ao contrário da evolução iniciativas com “fins econô-
da empresa para o regime capitalista, a cooperativa micos”; depois colocou as
manteve a sua dimensão originária e, com isso, tornou-
cooperativas entre as so-
-se uma organização excepcional que, na classificação
ciedades simples e, final-
jurídica, foi sendo empurrada de um lado para outro
mente, ressalvou, no artigo
sem que se tenha encontrado efetivamente, na nossa
1.093, a legislação especial
regulação e classificação jurídica, um lugar consistente.
(ou seja a Lei nº 5.764/71) que, em seu artigo 3º define
Agravou a situação o fato de que muitas coope- a cooperativa como uma sociedade “sem objetivo de
rativas também abandonaram a dimensão clássica de lucro”, a classificação correta atual deverá ser de que
empresa para se aproximar perigosamente ou tendo a cooperativa é uma “Sociedade de fins econômicos e
mesmo capitulado ao interesse capitalista, pouco se sem fins lucrativos”, reconhecendo-lhe portanto a fina-
distinguindo do conceito empresarial mais selvagem e
lidade econômica empresarial, mas ressalvando-lhe a
explorador, especialmente dos seus trabalhadores e
finalidade social voltada para seus integrantes (todos
realizadores dos bens e serviços. Além de tentada per-
manentemente em direção à empresa capitalista ou eles, inclusive quem realiza a produção de bens ou
criando desconfianças, é pressionada também por ou- serviços) e vinculada à comunidade em que se insere.
tros setores da sociedade para que se aproxime mais
intensamente do aspecto associativo. Sobre este assunto, ressalte-se,
aliás, que é pacífica, na Doutrina
É verdade que a e na Jurisprudência, a classifica-
cooperativa também é ção da cooperativa como “socie-
uma associação, mas, dade sem fins lucrativos” e, mes-
mesmo assim, a coope- mo que muita gente não queira,
rativa é uma empresa e de viés não capitalista.
deve agir como tal, sendo,
no entanto, empresa não No Julgamento do Recurso Extraordinário –
capitalista, presente tan- RE 467173/DF (DJe-074 DIVULG 24/04/2008 PUBLIC
to no sistema capitalista
25/04/2008) a Ministra Carmen Lúcia do Supremo Tri-
como no socialista.
bunal Federal começa sua decisão dizendo: “As coo-
Este caráter híbrido, característico de associa- perativas são sociedades de pessoas, de natureza
ção/empresa, levou o Novo Código Civil (Lei 10.406 de civil, caracterizadas principalmente, pela mutualidade,
2002) a classificá-la como Sociedade Simples: “Inde- ausência de fins lucrativos e caráter empresarial,...
15
INTRODUÇÃO - NATUREZA GERAL DA COOPERATIVA
(gn)” e o Ministro Marco Aurélio em sua decisão no “associação autônoma”, caracteristicamente em-
Agravo de Instrumento – AI 448952/PR (DJ 23/06/2004 presarial, constituída por pessoas que se unem
PP-00019)também começa pelo seguinte: “ENTIDADE para a produção de bens e serviços e buscando
SEM FINS LUCRATIVOS. 1. Quanto às entidades beneficiar o conjunto de seus integrantes.
sem fins lucrativos, como as cooperativas”...(gn)
Essas pessoas
montam uma entidade
ou instituição de proprie-
dade conjunta (a coope-
rativa), que é controlada
por todos, de maneira
democrática. Os servi-
ços prestados podem
ser de natureza econô-
mica, financeira, social e
educativa, mas precisam
produzir resultados consistentes para a sua viabiliza-
ção.
2
De quem se preocupa com Justiça Social, democracia e dignidade hu-
mana para todos e todas.
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HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO
era que os trabalhadores se organizassem coletivamen- produção que eventualmente possuíssem e colocariam
te e assumissem inteiramente tanto a gestão como os na cooperativa os ganhos excedentes que conseguis-
resultados do empreendimento. No entanto, sem prepa- sem economizar. Sua atuação inspirou a criação de coo-
ração anterior, sem capacidade instalada de gestão e perativas de produção coletiva, integradas ao ramo do
negociação, sem condições efetivas de manter a unida- trabalho, com extensão de crédito, já a partir de 1832.
de do grupo, as fábricas entraram em falência. Entretan-
to, desta experiência resultaram os princípios válidos até Louis Blanc (1812-1882),
hoje de que a coesão e o entendimento no grupo que francês, também seguiu a linha
assume a cooperativa é essencial e que, as pessoas de inspiração socialista e influen-
que se associam à cooperativa devem se preparar para ciou também as ideias de Marx4.
o empreendimento, tanto na sua capacidade de atuar Blanc propunha que fossem cria-
em conjunto como no domínio dos mecanismos de ges- das associações profissionais de
tão e realização de negócios. Posteriormente, após bre- trabalhadores, de viés cooperati-
ve experiência nos Estados Unidos, Owen se dedicou vo, de um mesmo ramo de pro-
inteiramente ao cooperativismo na Inglaterra, promo- dução, as chamadas Oficinas
vendo uma rede de cooperativas e incentivando a atua- Nacionais, e estas seriam financiadas pelo Estado. O lu-
ção sindical dos trabalhadores. cro seria dividido entre o Estado, os associados e parte
deveria ser destinada para fins assistenciais. Propunha,
“O objetivo primordial e necessário de portanto, a organização econômica dos trabalhadores,
toda a existência deve ser a felicidade”, escre- mas com uma presença apoiadora mais incisiva do Es-
veu Owen, “mas a felicidade não pode ser obtida tado que ficaria a serviço destas organizações.
individualmente”3.
William King (1786-1865) na Inglaterra foi pro-
Na mesma linha de refle- motor especialmente de cooperativas de distribuição,
xão socialista, temos as expe- conhecidas atualmente como de consumo. A partir de
riências organizativas de traba- 1828, conseguiu incentivar a criação de mais de 300
lhadores do francês Charles cooperativas. Voltado na perspectiva de ajudar os po-
Fourier (1772-1837). Ele é o bres a superar suas dificuldades, acabou por ser asso-
inspirador das unidades de pro- ciado da famosa Cooperativa de Rochdale.
dução e consumo - as falanges
ou falanstérios - baseadas em Finalmente, entre os principais nomes, há de se
uma forma de cooperativismo integral e autossuficien- citar Ferdinand Lasalle (1825-1864), político e grande
te. Propunha também que as comunidades se organi- constitucionalista alemão, pai da Social Democracia,
zassem nos falanstérios, onde cada pessoa trabalharia que via nas cooperativas um instrumento de luta do
no que quisesse. Fourier influenciou a criação da Colô- operariado para superar a exploração do capital.
nia Cecília, no Paraná, em 1890.
Na época de Lasalle, Friedrich Engels5 vai mais
Mesclando a inspiração socialista com o cristia- adiante e propõe à população camponesa a necessi-
nismo, Philippe Buchez (1796-1865), também francês, dade de adotar um sistema de exploração coletiva da
propõe a reorganização da vida terra e dos meios de produção através da cooperativa
econômica da sociedade, que se para se constituir como sujeito político revolucionário:
constituiria num “Novo Cristianis- “Nosso dever para com o pequeno camponês e, em
mo”. Este se realizaria na coloca- primeiro lugar, o de fazer passar sua propriedade e
ção nas mãos da classe operária a sua exploração individual à exploração coopera-
a possibilidade de vencer por si tiva”. E, isso, segundo Engels era porque é “a explo-
mesma, excluindo a intervenção ração individual, condicionada pela propriedade in-
do Estado e também de iniciati- dividual, que conduz os camponeses à ruína. Se se
vas filantrópicas. Na perspectiva 4
Karl Marx (1818-1883), pensador e economista alemão, fez a análise do
de Buchez, os trabalhadores associados contribuiriam sistema capitalista, compilada na obra monumental “O Capital”, e propôs
alternativas aos trabalhadores, a partir de sua união e do processo de
com a cooperativa com o seu trabalho e os meios de conquista do poder, para construir sua hegemonia social e política.
5
Friedrich Engels, teórico e revolucionário Alemão (1820-1895), foi parceiro
3
HOBSBAWN, Eric.J. A era das Revoluções (1789-1948). Rio de Janeiro, de Marx em diversas publicações e no desenvolvimento das ideias do
Paz e Terra, 1981, pág.263. socialismo científico.
19
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO
A primeira cooperativa de crédito, de caráter ur- pessoais, bem como conduzi-los à prática da auto-
bano, foi fundada em 1856 na cidade alemã de De- gestão democrática e à autoproteção contra os abu-
litzsch por Herman Schulze. Caracterizava-se por pre- sos do sistema financeiro. Preocupado em fortalecer
ver o retorno das sobras líquidas proporcionalmente as instituições cooperativistas e promover a unidade
ao capital, por ter área de atuação não-restrita e por do movimento, Desjardins empenhou-se em construir
remunerar seus dirigentes. Além disso, eram suas ca- um sistema federado, com um órgão centralizador que
racterísticas: embora adotando a ajuda mútua, admitia oferecesse a prestação de serviços de educação, assis-
auxílio de caráter filantrópico, o capital da sociedade tência técnica, divulgação das cooperativas de crédito e
era constituído de quotas-partes integralizadas pelos promovesse a estabilização econômica das cooperati-
associados, adotando o princípio de self-help (mútua vas mediante a constituição de uma Caixa Central.
ajuda), havia a constituição de fundo de reserva, ge-
ralmente limitado a dez por cento do capital subscrito, O modelo Desjardins teve rápida expansão em
distribuição dos ganhos entre os sócios sob a forma de todo o mundo. A caixa popular Central era vista como
dividendo e responsabilidade solidária e ilimitada dos uma sociedade cooperativa de poupança e de crédito,
sócios pelos negócios da entidade. com capital variável e responsabilidade limitada. Era
uma cooperativa porque reunia pessoas que juntavam
Observe-se que a abordagem da Raiffeisen foi suas poupanças em comum para se servirem mutua-
construída sobre muitos aspectos da Schulze’s, mas mente com crédito a juros baixos. Por isso, segundo
com modificações significativas que tiveram implica- Desjardins a primeira tarefa tinha a característica de
ções importantes para o microfinanciamento. Enquan- uma verdadeira maratona: educar as pessoas para a
to Schulze poderia utilizar, em grande medida, uma poupança sistematizada, para o crédito mútuo e para o
abordagem comercial, a visão de Raiffeisen enfrentou trabalho organizado.
o problema da pobreza das populações rurais, explo-
rando os fortes laços de solidariedade e profundos va- Charles Gide (1847-1932), francês, desen-
lores cristãos na aldeia típica (o que vai influenciar os volveu uma teoria sobre a organização integral da
nossos antigos fundos de mútuo). sociedade a partir das cooperativas de consumo.
Caso as cooperativas de consumo pudessem atender
Sob a inspiração das cooperativas Raiffeisen e todas as necessidades das pessoas, não haveria ne-
Schulze-Delistzsch, surgiram também outras coopera- cessidade da busca do lucro e, portanto, seria elimina-
tivas de crédito, entre as quais destacam-se as do tipo da a prática da exploração. A cooperativa coordenaria
Luzzatti, na Itália. As cooperativas do tipo Luzzatti, os a realização de atividades por outras empresas e as
chamados bancos populares, foram idealizadas por decisões seriam dos trabalhadores cooperativados. E
Luigi Luzzatti, político, escritor e professor universi- o Estado estaria encarregado apenas da planificação
tário. Adotavam o princípio do self-help, mas admi- da economia, de forma orientadora e não imperativa.
tiam ajuda estatal sob a forma de suporte, até que a
sociedade fosse capaz de assumir por sua própria O grupo de Gide constituiu o que veio se cha-
conta e risco todas as responsabilidades do negócio. mar de “Escola de Nimes”. Em 1889, numa conferência,
Gide se referiu às suas ideias como a proposição de
No início do século XX (no ano de 1900) surgiu, uma verdadeira “República Cooperativa”.
no Canadá, o cooperativismo de crédito Desjardins.
Idealizado por Alphonse Desjardins. Essa espécie de Diante desses nomes todos e de múltiplas
cooperativa de crédito foi inspirada nos modelos Raif- ideias, é essencial observar que as experiências
feisen, Schulze-Delitzsch e Luzzatti, na tradição dos cooperativadas na Europa e, posteriormente no Ca-
saving banks dos Estados Unidos e nos valores religio- nadá e Estados Unidos tinham a perspectiva de en-
sos vivenciados por seu idealizador. contrar soluções para as graves injustiças produzi-
das pelo domínio do capital sobre as pessoas, seja
O modelo criado por Desjardins unia as fun- na inter-ajuda entre os mais ricos com os mais po-
ções de poupança e de crédito popular com o intuito bres (Raiffeisen) ou na organização das comunida-
de, mediante o auxílio mútuo, criar nos cooperados des para resolver problemas comuns (Luzzatti) ou na
o hábito da economia sistemática para o atendi- possibilidade dos trabalhadores assumirem o pro-
mento de necessidades profissionais, familiares e cesso produtivo de forma autônoma (como propunha
21
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO
Owen e Gide, entre outros). No entanto, em momen- dez mais tarde o “Armazém de Rochdale” já contava
to algum estas cooperativas, com exceção principal- com 1.400 cooperantes e a cooperativa existe até hoje.
mente das experiências francesas no campo do coo-
perativismo do trabalho, tinham realmente como O grande interesse por esta cooperativa, no en-
perspectiva a superação do sistema capitalista ou a tanto, deve-se não apenas ao fato de que existe até
proposta de hegemonia da classe trabalhadora. hoje ou que teve sucesso efetivo, tendo sido inclusive
base para os debates na formação da Aliança Coope-
Esta preocu- rativa Internacional. No nosso ponto de vista, também
pação, voltada para a não se tornou símbolo por ter propiciado a um grupo de
viabilização da vida no pessoas especialmente pobres a superação de suas
limite do sistema, tam- dificuldades econômicas. Rochdale se tornou especial-
bém foi a que motivou mente célebre (a ponto de inúmeros livros e manuais
que, em 21 de dezem- falarem dela, equivocadamente, como a primeira coo-
bro de 1844, no bairro perativa do mundo) por dois motivos:
de Rochdale, em Man-
chester (Inglaterra), 27 tecelões e uma tecelã fundas- a) Porque a proposta dos cidadãos de Rochdale
sem a “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”, não era revolucionária. Ao contrário, eles não
considerada a primeira cooperativa formal da idade confrontaram o sistema capitalista, mas se
contemporânea, a partir da economia mensal de uma adequaram e mostraram a possibilidade de
libra de cada participante durante um ano. êxito do empreendimento, sem rompimentos
sociais ou políticos.
Tendo a pessoa como principal finalidade -
b) Porque os Pioneiros de Rochdale enquadra-
e não o lucro, os tecelões de Rochdale buscavam
ram as cooperativas em princípios formais, ale-
naquele momento uma alternativa econômica para
gremente assumidos pela Aliança Cooperativa
atuarem no mercado, frente ao capitalismo ganan-
Internacional e outras organizações e, inclu-
cioso que os submetiam a preços abusivos, explo- sive são repetidos em nossa Lei nº 5.764/71,
ração da jornada de trabalho de mulheres e crian- retirando de sua natureza o viés que contém
ças (que trabalhavam até 16h) e do desemprego uma proposta transformadora da sociedade.
crescente advindo da revolução industrial.
posta alternativa. Neste sentido, o pensamento associa- As de produção agrícola, mais notórias, foram
tivista e a prática cooperativa tentaram e procuraram se chamadas de “Kolkhozes” e se dividiam em comunas
desenvolver (lamentavelmente, com nem tanto sucesso, (os meios de produção e os bens de consumo são co-
afirme-se) como possibilidade autônoma tanto ao indivi- muns), artéis (associações de trabalho onde os meios
dualismo liberal quanto ao socialismo centralizado. de produção são comuns, mas os bens e resultados
do trabalho são familiares); e tozes (cooperativa de
O que ocorreu, na verdade, é que o cooperativis- trabalho, na qual os camponeses colocam em comum
mo mundial surgido em fins do Século XVIII não con- apenas os instrumentos de trabalho).
seguiu aplicar, manter ou garantir a sua característica
principal de servir às suas comunidades, às pessoas A forma predominante logo após a revolução
mais humildes, incapazes de atender às exigências do comunista foram as comunas. Depois, também toma-
capital ou das restrições aos seus empreendimentos. ram força os tozes, mas, considerando o período todo,
foram os artéis que se impuseram, ultrapassando o
Os pioneiros citados e outros entendiam que
número de 650.000, com milhões de membros. Na ver-
era preciso orientar as pessoas para a vida em gru-
dade, os artéis, que tinham como base a família e a
po, na ajuda mútua, em esforço coletivo, e para a
solidariedade entre os componentes, teve seu início de
formação de quadros que pudessem assumir efe-
implantação ainda no século XIX, sob o domínio dos
tivamente suas cooperativas. Porém, além de suas
czares, e isso talvez explique o porquê da sua expan-
funções econômicas, as cooperativas desempenha-
são e maior aceitação entre os camponeses.
vam o papel de sociedade beneficente, de sindicato e
até de universidade popular, muitas vezes ampliando
Na China, o sistema predominante no setor de
sua intervenção e, mesmo, conseguindo atuar em múl-
produção foi a comuna, só que com maior autonomia
tiplos setores da sociedade.
que na União Soviética. A remuneração da atividade
produtiva também era diferente. Enquanto na União
Em vários momentos, tornaram-se uma exce-
Soviética cada participante recebia segundo o seu
lente alternativa de organização popular. Em muitos
trabalho, na China a remuneração dos participantes
outros, foram apropriadas pelos setores dominantes
era segundo as necessidades básicas de cada um.
do capital ou pelo controle do Estado, como ocorreu
No entanto, na China, mais do que as cooperativas de
em muitos países do mundo. Perderem, com isso, fre-
produção, as que estiveram presentes em toda a parte
quentemente, sua possibilidade de ser instrumento de
foram as cooperativas de crédito rural que chegaram
transformação social pela opção apenas na direção da
a mais de 450.000, com pelo menos 200 milhões de
eficiência empresarial.
membros.
Talvez, por tudo isso, o Século XX tornou-se o pe-
Israel, mesmo sendo um país essencialmente
ríodo de maior consolidação do cooperativismo, saindo
capitalista, também implementou uma forma típica de
da Europa e chegando na América, na Ásia e na África.
cooperativa socialista, com os seus “Kibutz” (espécie
Na antiga União Soviética, principalmente após de cooperativa comunitária de produção agrícola) ou os
a revolução de 1917 e especificamente junto à popula- “moschav” (comunidade de agricultores na qual cada
ção do campo, dois tipos de cooperativas foram incen- um dirige sua granja, sendo o cooperativismo praticado
tivados: As cooperativas de consumo e as cooperati- nas operações de compra e venda), ou os” moschav
vas de produção agrícola. shituf” (com uma só empresa agrícola explorada em
comum por todos os habitantes de uma determinada
região e cujas rendas são distribuídas entre as famílias
segundo suas respectivas necessidades). A proprie-
dade da terra é do Estado e a cooperativa é pensada
como se fosse uma “aldeia”, com sua vida própria e suas
relações consolidadas. A forma da qual no Brasil se tem
mais notícia a respeito das cooperativas em Israel, é o
kibutz. É uma organização comunitária onde a produ-
ção e o consumo são totalmente comunitários e onde
tudo é partilhado, inclusive a habitação e a comida.
23
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO MUNDO
Outros países socialistas desenvolveram progra- nia entre as pessoas, seus interesses e necessidades,
mas cooperativados, mas sempre pesou, nos governos e a sociedade ou grupos), isso não acontecia, porque
de gestão centralizada, o problema da autonomia onde a concentração da riqueza e do poder e o uso da for-
as autoridades públicas perderiam o controle das deci- ça continuaram impondo um pequeno grupo sobre a
sões e encaminhamentos. Note-se, neste sentido, que maioria. Para suavizar esta dominação e injustiça, fór-
este não se constituiu problema apenas nos países de mulas foram elaboradas, teorias foram desenvolvidas,
experiência socialista, tendo sido preocupação central métodos foram oferecidos. Os socialistas por um lado,
inclusive dos nossos governantes brasileiros tanto em os liberais por outro, e os intervencionistas pela mar-
relação ao cooperativismo como em relação ao asso-
gem, propondo uma fórmula intermediária que poderia
ciativismo em geral e ao sindicalismo, com programas
ser o estado, a família, a igreja e, finalmente, a socie-
autoritários de controle, intervenção e unicidade cen-
dade cooperativa.
tralizada de representação.
No entanto, da
história, após a chega-
da dos colonizadores
portugueses e espa-
nhóis, que conhece-
mos, a primeira expe-
riência de cooperação
mútua, estabelecida
a partir de 1610, foi a
fundação das Reduções Jesuíticas no sul Brasil, com
a tentativa de construção de um estado cooperativo
em bases integrais. Por mais de 150 anos, esse mo-
delo que unia a contribuição de padres jesuítas com a
atuação das comunidades indígenas deu exemplo de
sociedade solidária, fundamentada no trabalho cole-
tivo, no princípio do auxílio mútuo, onde o bem-estar
das pessoas e da família se sobrepunha à acumula-
ção econômica da produção.
cupação social. Assim, as primeiras cooperativas inclui-las entre as pessoas jurídicas de direito privado,
formais no Brasil representavam especialmente a determina que as cooperativas poderão se constituir
busca da viabilização da pequena produção (caso sem prévia autorização, assim como os sindicatos. Para
emblemático é o da Colônia Cristina no Paraná, o Código Civil de então, as cooperativas eram socieda-
de 1886) ou as possibilidades de atender neces- des civis, mas a sua atuação mercantil estava regulada
sidades de consumo (empregados de empresas pelo Código Comercial de 1850. É essencial observar a
públicas em São Paulo), ou na linha da experiência respeito disso, que o Código Comercial tinha sido cons-
pioneira de Rochdale na Inglaterra, ou de crédito truído com visão patrimonialista e especificamente para
(por influência alemã no Rio Grande do Sul), e pou- a proteção e incentivo à concentração do capital (só
co depois de algumas cooperativas no Nordeste podia constituir uma empresa quem tivesse capital) e,
conduzidas e dominadas pelos fazendeiros com por isso, as cooperativas (de característica social e não
formação europeia. empresarial) passam a ser constituídas apenas se pu-
dessem estabelecer a base de um capital social próprio
Há de se observar que, no geral, se tratavam de (o que criava dificuldades, evidentemente), o que veio
iniciativas bastante informais, as quais tiveram pratica- a ser modificado apenas em 2002 com o Novo Código
mente a primeira atenção do Estado na Constituição de Civil. Esta linha, aliás, foi consolidada pelo Decreto nº
1891 que, em seu artigo 72, § 8°, se refere à possibilida- 1.637, de 5 de janeiro de 1.907, o qual, mesmo não es-
de de regulação da organização de sindicatos e coope- tabelecendo uma forma própria de constituição para as
rativas. Na verdade, nem se pode dizer que eram coope- cooperativas, definia o paralelo com as sociedades co-
rativas no sentido amplo da palavra, mas quando muito merciais, em nome coletivo, em comandita e anônima.
alternativas para a solução de problemas econômicos Referido Decreto mantinha, porém, a ampla liberdade
ou, no máximo, de inserção na modernidade liberal. de constituição e funcionamento, não havendo subordi-
nação a qualquer órgão estatal.
O grande e primeiro momento significativo do
cooperativismo no Brasil acontece no início do Século Este período dos 30 primeiros anos do Século
XX quando, fruto da ação de padres católicos e pasto- XX é um momento importante nas possibilidades do
res luteranos, começam a se estabelecer os chamados cooperativismo no Brasil, com o surgimento de muitas
“fundos de mútuo” paroquiais e as caixas rurais que evo- experiências que atenderam, principalmente, as ne-
luiriam posteriormente para as cooperativas de crédito, cessidades de produção e comercialização da peque-
sendo exemplo a primeira cooperativa de crédito de Nova na produção agrícola familiar.
Petrópolis no Rio Grande do Sul (fundada em 1902).
No entanto, em 1932, já sob governo de Getúlio
Assim, a partir disso, o cooperativismo, como o Vargas, é apresentada a primeira lei especifica do coo-
sindicalismo, de viés aberto e espontâneo, começa a perativismo brasileiro que, apesar de diretamente vol-
se expandir e a se fazer presente especialmente nos tada para o cooperativismo de trabalho, enquadra as
estados do sul. cooperativas nos princípios formais compilados pela
experiência de Rochdale, e estabelece claramente um
Mesmo que profundamente influenciado pelas controle mais específico do Estado sobre as mesmas.
ideias do cooperativismo conservador europeu, o nos-
so cooperativismo, com exceção das cooperativas vin- Com o Decreto nº 22.239 de 19 de dezembro de
culadas a órgãos públicos ou empresas estatais (espe- 1932, começa uma longa trajetória de aprofundamento
cialmente de consumo) e as cooperativas promovidas da tutela do Estado sobre as sociedades cooperativas.
por fazendeiros liberais do Nordeste, vinha na linha de A principal preocupação está relacionada às iniciativas
se constituir como um movimento de organizações dos das camadas trabalhadoras, partindo do pressuposto,
trabalhadores e pequenos produtores agrícolas e, se consolidado em 1941 pela CLT, de que os trabalhado-
não tinha claro viés político e social, constituía-se numa res não têm condições de constituir iniciativas autôno-
semente de construção da sua autonomia. Neste senti- mas (devem ser empregados) e que somente os gran-
do, a falta de regulação acabava por ser muito positiva. des produtores ou grandes industriais podem pensar
em empreendimentos próprios, gerando e consolidan-
Em 1916, o Código Civil, apesar de não con- do os papéis de patrões (que detém o capital e que
ter um tratamento específico das cooperativas e nem mandam) e dos empregados pobres (que trabalham e
28
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL
obedecem), na linha desastrada e discriminatória de força com o apoio do então Presidente João Goulart. Na
uma série de outras iniciativas até os dias atuais, que mesma linha de preocupação é a primeira lei geral das
não conseguem acreditar na capacidade organizativa cooperativas - o Decreto-Lei nº 59 de 1966 (que criou o
e de decisão autônoma dos setores populares. Conselho Nacional do Cooperativismo), o qual consolida
amplamente o controle direto e a intervenção do Estado.
Em 1945, o novo Governo pós Getúlio cria um Em 1968, temos o Decreto-Lei n° 406 (determinando a
programa de incentivo ao cooperativismo e institui um incidência de ICMS nas operações das cooperativas de
crédito) e, finalmente, a lei cooperativista ainda em vigor.
primeiro organismo de apoio no Ministério de Agricul-
tura. As cooperativas que haviam se recolhido no pe-
A Lei n° 5.764 de 16 de dezembro 1971 nasceu
ríodo da Ditadura Vargas retomam sua trajetória de ex-
como decorrência da intervenção autoritária da ditadu-
pansão, mesmo que bem modesta, com algum apoio
até o Golpe Militar ocorrido em 1964. ra militar sobre as organizações de representação coo-
perativista no Congresso realizado em Belo Horizonte
Como se pode ver, nos períodos de desregula- em dezembro de 1969. Ela reflete a trajetória das legis-
mentação e baixa dos controles específicos governa- lações anteriores, pós 64 e explicita o interesse do Es-
mentais, o cooperativismo ressurge e se amplia. tado de então controlar e manifestar as possibilidades
de atuação política das cooperativas. O seu conteúdo
Entramos em 1964 com uma quantidade em está marcado profundamente pelo viés utilitarista (coo-
torno de 4.500 cooperativas, com aproximadamente 2 perativas como auxiliares no processo de expansão
milhões de associados. capitalista especialmente no campo, por isso também
o privilegiamento da dimensão agropecuária do coope-
rativismo) e pelo viés intervencionista autoritário (única
Porém, o Golpe Militar foi profundamente negati-
representação, controle na sua constituição e no seu
vo ao cooperativismo no Brasil.
funcionamento), sendo profundamente coerente com
as linhas políticas das ditaduras militares brasileiras:
Começamos Controle, imposição, limitação. Tecnicamente ela per-
meados do ano com a manece em vigor, mesmo que muito modificada pela
Lei nº 4.380 de 21 de ocorrência de determinações da Constituição Federal
agosto de 1964 (que de 1988 e do Novo Código Civil.
tirou a autonomia das
cooperativas habita- Aparentemente, após a lei geral de 1971, o Es-
cionais e as subme- tado Brasileiro parece que se desinteressou das coo-
teu ao Sistema Finan- perativas. Havia uma supervisão rígida do INCRA, do
ceiro de Habitação, BNH, do Conselho Nacional de Cooperativismo e do
controlado pelo Governo), seguiu com um arremedo de Banco Central. As organizações autônomas de coope-
cooperativismo latifundista com o Estatuto da Terra – rativas haviam sido esmagadas em 1969 e reinava en-
Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964 (as coopera- tão, compondo politicamente com o regime autoritário,
tivas integrais de Reforma Agrária que eram entregues a Organização das Cooperativas Brasileiras.
a grandes proprietários de terra para gerenciamento e
implantação dos programas, sem participação alguma Trata-se de um novo período terrível para o
dos agricultores deslocados para regiões de fronteira) e cooperativismo brasileiro. De em torno de 4.500 coo-
terminando o ano com a Lei nº 4.595 de 31 de dezem- perativas em 1964, saímos da ditadura militar, em
bro de 1064 (que, atendendo as reivindicações de um 1985, com em torno de 3.200 cooperativas e, em
poderoso lobby bancário, regula a vida das instituições sua maioria, perfeitamente enquadradas no papel de
financeiras, entre as quais as Cooperativas de Crédito, braço auxiliar de políticas governamentais ou dos in-
tirando-lhes a autonomia e estabelecendo um controle teresses do capital (Em 1981, os dados do INCRA,
rígido que permanece quase até hoje). BNH e Banco Central indicavam a existência de
3.833 cooperativas em todo o Brasil).
O que se constata é que a preocupação da Dita-
dura era a de inviabilizar as possibilidades organizativas Foi somente com a nova Constituição Federal,
e de apropriação de recursos econômicos da classe tra- de 1988 que retomamos a expansão e que se pode
balhadora que, em 1963, havia demonstrado sinais de falar na construção de um novo cooperativismo.
29
HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL
Algumas referências muito positivas puderam que foi utilizado posteriormente, de forma criminosa,
ser inseridas na letra e espírito constitucional e as para criar pseudo cooperativas de fachada por prepos-
mesmas trouxeram, sem dúvida, alento ao movimento tos de fazendeiros ou empresários, negando os direitos
e acenaram para novas perspectivas, propondo rom- dos trabalhadores que, na verdade, eram claramente
per em parte com a política intensiva de intervenção empregados subordinados das mesmas).
e controle. Observe-se que, em relação a este ponto,
a Nova Constituição Federal derrubou também a obri- No entanto, vista na perspectiva da legislação,
gatoriedade da filiação das cooperativas em instâncias esta última década do Século XX foi ruim para a organi-
de representação, mesmo a oficial (modificando des-
zação cooperativista popular, com a supressão de diver-
ta maneira a Lei nº 5.764/71 e tornando efetivamen-
sos benefícios tributários (o cancelamento da isenção
te inconstitucionais as leis estaduais que o exigem),
do PIS e COFINS sobre os resultados das cooperativas,
e vetou a possibilidade da licença prévia de organis-
a liquidação das cooperativas de consumo, equiparan-
mos de representação para a sua constituição, o que,
aliás, algumas Juntas Comerciais em alguns estados do-as às empresas comerciais – Lei nº 9.532/97).
conservadores continuam insistindo em exigir, mesmo
Somente no fim
afrontando o que diz a Constituição e indo contra as
instruções normativas neste sentido do Departamento do Século XX é que o
Nacional de Registro de Comércio. tema do cooperativismo
adquire maior força em
No fim da década de 80 ocorreram alguns tê- nosso país com a explo-
são do desemprego e,
nues movimentos em relação ao debate sobre uma
principalmente, do mer-
nova regulação para as cooperativas. No entanto, com
cado informal, o que vai
o poder nas mãos dos setores conservadores, a regu-
produzir uma expansão
lação direta do cooperativismo pouco avançou, mesmo
do interesse e iniciativas de cooperativismo de trabalho
na década seguinte, deixando claro que o Estado Bra- e, a partir de 2000, com a desregulamentação do mo-
sileiro (e também parte da sociedade, por motivos vin- nopólio bancário para a área financeira, a ampliação
culados ao controle do Estado e ao domínio de dire- do número de cooperativas de crédito.
ções impostas, arbitrárias e profundamente
conservadoras) tinha desconfianças, reticências e má Em 2002, o novo Código Civil (Lei 10.406/02)
vontade em relação ao assunto. É que os setores con- destinou alguns artigos ao assunto, classificando as
servadores viam a cooperativa como possibilidade de cooperativas como sociedades simples e incorporan-
contestação e construção de poder autônomo que po- do a determinação de que o número mínimo de asso-
deria colocar em risco seus privilégios. ciados na sua fundação seja o suficiente para preen-
cher todos os cargos da administração e do Conselho
No entanto, a dé- Fiscal e que haja a possibilidade de constituir coope-
cada de 90 é o início do rativa sem a existência de capital social. Estas novas
período de explosão no medidas do Código Civil influenciaram positivamente a
surgimento de novas coo- constituição de novas cooperativas.
perativas, muitas delas
formadas de forma precá- Atualmente é bastante difícil dizer quantas coo-
ria. O que vai se expandir, perativas existem no Brasil. É que, com a possibilidade
na contramão da rigidez de constituição de cooperativas sem a autorização de
da legislação retrógrada, organismos do estado, o controle do número de coo-
nesta década, são experi- perativas não foi realizado e, por isso, provavelmente,
mentos, muitos informais, são bem mais do que se supõe. Talvez em torno de 20
no campo do cooperativismo do trabalho, da habita- a 25 mil. Mas ainda com um número total de associa-
ção, da produção, da Economia Solidária, o que foi be- dos muito pequeno em relação ao total da população
neficiado em parte pela aprovação do Parágrafo Único e que, provavelmente não deve ultrapassar 4% do to-
do Artigo 442 da CLT (afastando a relação de traba- tal dos habitantes no Brasil, o que é pouquíssimo em
lho entre associados e cooperativa e os tomadores de comparação com outros países e é, principalmente,
seus serviços), o qual autorizou inclusive a experiência pouco pela importância do instrumento na superação
da cooperativa de produção comunitária no Brasil (mas da miséria e na luta por Justiça Social.
30
MÓDULO I REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO
NO BRASIL
UNIDADE 4
Apesar das mais importantes experiências
brasileiras na área do cooperativismo do início do
PRIMEIRA PARTE século XX terem sido influenciadas principalmente
– HISTÓRICO E pela experiência alemã de Raiffeisen (as caixas ru-
rais) e a experiência importante do italiano Luzzati
INSTITUCIONALIDADE
(fundos comunitários de auto-ajuda), baseados es-
sencialmente na ajuda mútua, foi o modelo forma-
REGULAÇÃO DO lista e conservador inglês que norteou a regulação
COOPERATIVISMO NO cooperativista em nosso país. Nossa tradição le-
as cooperativas um ser engessado e com dificuldades senciais para as cooperativas como as relacionadas à
de contribuir efetivamente na transformação da realida- questão tributária e à dinâmica trabalhista que marcam
de e em instrumento, como deveria ser de afirmação e até hoje os seus problemas principais. Criou, é verda-
participação democrática dos mais pobres, das popu- de, a figura do “ato cooperativo”, aspecto desconhecido
lações que enfrentam dificuldades de sobreviver e de nas legislações europeias, mas não lhe deu vantagens
exercer seus direitos de cidadania. Com isso, estamos efetivas que pudessem criar um espaço confortável
perdendo a oportunidade de inserir na história brasi- para as cooperativas (com exceção, talvez, das agro-
leira a possibilidade de setores sociais em situação de
pecuárias) frente às obrigações atuais.
desvantagem econômica de se afirmarem como agen-
tes produtivos autônomos e superar o seu destino de 2ª – Constituição Federal
apenas poderem sonhar em serem subordinados ao
interesse do capital monopolizado. Com a nova
Constituição Federal,
O aparato jurídico das cooperativas no Brasil, de 1988 temos breves
atualmente em vigor, tem como referências principais e significativas referên-
(com exceção das regulações específicas), três fontes cias a um novo coope-
legais (seguindo a ordem cronológica e não de impor- rativismo que poderia
tância): se constituir em instru-
mento apropriado por
1ª - A Lei nº 5.764 de 1971
mais pessoas do país.
Há de se destacar da
Esta lei, lamentavelmente em vigor até hoje
Nova Constituição Federal o item XVIII do artigo 5° (“A
(mesmo que com mudanças importantes introduzidas
criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
pela nova Constituição Federal de 1988 e pelo Novo
perativas independem de autorização, sendo vedada
Código Civil Brasileiro), continua sendo a regulação
a interferência estatal em seu funcionamento”), o item
específica das cooperativas. Preparada e aprovada no
XX do artigo 5° (“ninguém poderá ser compelido a as-
período mais difícil e violento da ditadura militar, sob
sociar-se ou a permanecer associado”) e o Parágrafo
o Ato Institucional nº 5, voltou-se fundamentalmen-
2° do artigo 174 (“A lei apoiará e estimulará o coopera-
te para as cooperativas agropecuárias (maioria na
época) e estabeleceu uma estrutura muito rígida tivismo e outras formas de associativismo”).
na organização das cooperativas e, ao contrário de
permitir o desenvolvimento do modelo cooperati- Em poucas palavras, poderíamos ter aí as pos-
vista no Brasil, acabou por impor tantos limites e sibilidades de retomar o fortalecimento do cooperati-
sugestões de concentração que tornaram difícil a vismo no Brasil. Especialmente no Item XVIII do artigo
sua constituição e funcionamento. 5º está a posição que poderia fundamentar a nova au-
tonomia das cooperativas e o parágrafo 2º do artigo
Esta lei entra em detalhes desnecessários, defi- 174 poderia abrir caminho que para a luta do movimen-
nindo nuances que deveriam estar no estatuto da enti- to cooperativista pudesse consolidar as possibilidades
dade, colocando entraves nas decisões democráticas
democráticas e de afirmação do seu papel social para
internas das cooperativas e construindo um mundo
o futuro.
tutelado e exclusivo. A impressão que passa, numa
análise da lei, é que a preocupação estava em limitar
Mas, a Constituição Federal depende de regula-
o avanço do cooperativismo (reservando-o para pou-
cos) que contribuir para a sua expansão e para que mentação. E isso estará a cargo da renovação da Lei
ocupasse o seu papel essencial nos processos de de- específica. Sobre isso, permanece no Senado, já há 12
senvolvimento. anos, projeto de lei que deveria trazer novas perspecti-
vas para o cooperativismo nacional. A Constituição deu
Agrava o fato de que a lei não conseguiu (por- o impulso inicial da renovação. Cabe à sociedade e ao
que também não era este o foco) resolver questões es- Parlamento seguir em frente.
32
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL
Sociais (em destaque o veto à possibilidade deste tipo dos técnicos agrícolas espalhados pelo Brasil.
de cooperativa ser classificada como entidade de fins A agricultura familiar precisa caminhar urgen-
filantrópicos). Com isso, a lei não manteve mecanis- temente para modelos agro ecológicos, tendo
mos eficientes de integração das pessoas em situação para isso o apoio da assistência técnica.
desfavorável, especificamente os oriundos do sistema
prisional e dos setores de tratamento mental, o que só e) A assistência técnica precisaria ser subme-
tida ao controle social, com ampla participa-
foi possível em parte pela ação isolada e recente de al-
ção das organizações da agricultura familiar
guns setores do Judiciário e de empresas e autarquias
e do correspondente movimento sindical na
públicas.
prestação dos serviços.
Fomento às Atividades Produtivas Rurais. Busca-se Este projeto (no momento em que escrevemos
com a lei, em sua primeira parte, estabelecer incen- este texto), já praticamente aprovado (depende apenas
tivos à defesa do meio ambiente e também destinar de manifestação do Plenário da Câmara, sem possibi-
recursos para os agricultores de baixa renda que se lidades de alterações de mérito), será profundamente
dedicarem a esta tarefa essencial para o futuro do pla- positivo ao conseguir superar tanto as dúvidas em rela-
neta que habitamos. A segunda parte trata do Fomento ção à situação dos associados das cooperativas de tra-
às Atividades Produtivas Rurais e praticamente se re- balho e consolidando o seu status efetivo de empreen-
fere à transferência de uma bolsa para os agricultores dimento social e econômico, resolvendo as pendências
em situação de extrema pobreza ou em dificuldades de de interpretação quanto à presença das características
desenvolver as atividades produtivas básicas. Lamen- do contrato de trabalho e superando inúmeros proces-
tavelmente, em nenhum momento se observou que a sos trabalhistas atualmente existentes contra as coo-
afirmação dos pequenos agricultores em dificuldade perativas. No entanto, há de se destacar que, lamenta-
passa antes do crédito para a organização e articula- velmente, o projeto acaba por estabelecer obrigações
ção do processo produtivo e pela necessidade da orga- que efetivamente ultrapassam o espírito cooperativista
nização cooperativada, a qual poderia criar condições da autonomia dos associados das cooperativas e cria
muito melhores que apenas distribuir dinheiro indivi- obrigações trabalhistas que mais estão no âmbito da
dualmente, isolando os agricultores em seu mundo relação capital e trabalho que entre participantes de um
particular e, com isso, aprofundando a dependência e empreendimento cooperativado. O projeto beneficiará
as dificuldades de construir autonomia. A terceira parte cooperativas estabilizadas e poderá criar obstáculos
desta lei trata do Programa de Aquisição de Alimentos intransponíveis para setores da população mais fragi-
– PAA, estabelecido pela Lei nº 10.696, de 2 de julho lizados que eventualmente queiram entrar no campo
de 2003 (que trataremos adiante). da prestação de serviços e que mereceriam condições
mais facilitadas para superar a situação atual em que
Como se pode ver, apesar de vários aspectos estão submetidos a condições muitas vezes degradan-
positivos, em relação ao assunto, vivemos atualmente tes em empresas de terceirização.
uma crise regulatória e uma apatia de múltiplos setores
da sociedade e do Estado no que se refere à defesa 2– Projeto de Lei Geral das sociedades
dos seus instrumentos organizativos e fortalecimento cooperativas
do instrumental cooperativo. Não estamos conseguin-
do construir uma legislação cooperativista que apoie Os projetos relacionados à Lei Geral das So-
as organizações autônomas dos trabalhadores e tra- ciedades Cooperativas foram compilados e reunidos
balhadoras do campo e da cidade, parecendo que te- num único substitutivo que tramita atualmente (projeto
remos de assistir a permanente dependência dos mais nº 003/2007) na Comissão de Agricultura e Reforma
pobres, condenados à subordinação, ao arbítrio dos Agrária do Senado, após ter conseguido sair da pri-
senhores e às limitações que estes engendraram e meira comissão (Comissão de Constituição e Justiça),
engendram na construção e promulgações de leis, de- fruto de uma luta de 13 anos.
cretos, portarias, instruções que muito mais focam em
seus privilégios, sempre em nome de uma não sufi- Em princípio, o projeto de lei representa a visão
cientemente explicada estabilidade institucional. do conjunto de organizações representativas do coo-
perativismo, havendo pequenos problemas a ser supe-
O que temos pelo frente no cam- rados e que estão relacionados ao sistema de registro
po da regulação cooperativa são das cooperativas e à forma de rompimento da unicida-
projetos de lei que deverão me- de de representação.
recer o esforço do movimento no
seu aprimoramento e aprovação.
3– Projetos de Lei Tributária
Dentre os muitos projetos exis-
tentes, destacamos:
Dois projetos de lei, uma complementar (nº
271/2005 e 386/2008 – atualmente na Comissão de Tri-
1– Projeto de Lei das Cooperativas de butação e Finanças) e a outra ordinária (nº 3723/2008,
Trabalho (Projeto de Lei nº 4622) na Comissão de Agricultura), tramitam na Câmara dos
Deputados tratando da questão tributária das socieda-
36
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL
des cooperativas. Após longas negociações, o Gover- I. nas cooperativas de venda em comum, a dis-
no Federal aprimorou o Projeto de Lei Complementar, ponibilização de bens, produtos ou serviços
que define o ato cooperativo e estabeleceu algumas dos associados internamente ou no merca-
possibilidades de desoneração tributária, com a trans-
do, em consonância com o objeto social;
ferência de obrigações. É verdade que não consegui-
mos chegar a um tratamento tributário diferenciado,
II. nas cooperativas de compra em comum, a
mas ao menos avançou-se na perspectiva da facilita-
ção da vida das cooperativas em relação a este as- aquisição de bens, produtos ou serviços pe-
pecto que cria imensas dificuldades de gestão. Dois los associados.
pontos foram centrais nas negociações deste assunto:
a) A necessidade de que a cooperativa tenha melhores III. nas cooperativas que operam produtos e
condições de cumprir a agenda tributária, transferindo serviços no mercado financeiro, toda a re-
as obrigações ou ao associado ou ao consumidor, seja lação financeira mantida em proveito ou
de produtos, sejam de serviços. É importante observar com a finalidade de administrar os recursos
de que não se pretende criar uma gama de privilégios
dos associados por meio da utilização de
para as cooperativas, mas sim apenas que seja reco-
produtos ou serviços do Sistema Financei-
nhecido o seu papel de instrumento de transformação
social e, portanto, com finalidade positiva para a socie- ro Nacional;
dade como um todo. E, por isso, necessárias de apoio.
b) Encontrar uma fórmula que pudesse reconhecer as IV. nas relações praticadas entre as coopera-
diferenças entre cooperativas (grandes e pequenas), tivas singulares e as centrais, federações e
fortalecendo as pequenas e criando oportunidades confederações entre si, quando associadas”.
para que pessoas economicamente mais frágeis pu-
dessem levar adiante seus empreendimentos econô- Em relação a este tema tributário, temos a la-
micos. Isso parece ter sido alcançado na medida em
mentar o fato de que as cooperativas de consumo não
que a incidência de tributos ocorrerá nos ganhos dos
estão sendo reabilitadas, seguindo sendo tratadas
associados, fazendo com que, quando a cooperativa
distribui maiores resultados, o tributo seja pago pelo como empresas e, portando, na prática, inviabilizadas.
associado, ou pelos consumidores ou tomadores dos
serviços e não pela cooperativa. 4– Projeto de Lei dos
Empreendimentos de Economia
Concretamente, ficou estabelecido na proposta
em tramitação que: I.A cooperativa não estará subme- Solidária
tida à incidência de tributos na realização de atos coo-
perativos, não estando, porém, excluída a responsabi- Já está em processo de mobilização, para ser
lidade pelo eventual recolhimento do tributo na fonte. II. apresentado como um projeto de iniciativa popular,
Todo o tributo devido, ocorrendo a incidência, será de
a proposta que visa dispor sobre os empreendimen-
responsabilidade ou do associado, ou do tomador do
serviço ou do consumidor. III. As operações que com- tos e a Política Nacional de Economia Solidária.
plementam e constituem o ato cooperativo serão con- Trata-se de uma proposta bem-vinda porque ainda
sideradas equiparadas ao mesmo para fins tributários. na nossa legislação este tema não foi adequada-
mente tratado.
Existe um princípio de acordo para que a defini-
ção de ATO COOPERATIVO seja a seguinte: O projeto faz um
esforço positivo para
definir o âmbito da
“O ato cooperativo é o negó-
atuação da Economia
cio jurídico decorrente do
Solidária. E tem suces-
objeto social, praticado por
so na definição geral
cooperativa de qualquer
do artigo 2º:
grau, em proveito de seus
associados, caracterizado
nas seguintes modalidades:
37
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL
38
REGULAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL
Com o auxilio dos textos do Módulo I e também com base em seus conhecimentos, jul-
gue os itens em certo C e errado E.
2. A cooperativa, não tendo sua dimensão associativa, não precisa manter o vínculo
social com a comunidade e, por isso, também não precisa dosar seu ganho mediante
o estabelecimento do preço.
3. Em 2002, o novo Código Civil (Lei 10.406/02) destinou alguns artigos ao assunto,
classificando as cooperativas como sociedades simples e incorporando a determi-
nação de que o número mínimo de associados na sua fundação seja o suficiente
para preencher todos os cargos da administração e do Conselho Fiscal e que haja a
possibilidade de constituir cooperativa sem a existência de capital social.
5. O aparato jurídico das cooperativas no Brasil, atualmente em vigor, tem como referên-
cias principais, com exceção das regulações específicas, três fontes legais seguindo
a ordem cronológica e não de importância: Lei nº 5.764 de 1971, Constituição Federal
e Código Civil Brasileiro.
39
40
MÓDULO II A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA
Juntar um grupo
de pessoas até que é
fácil, principalmente se
a iniciativa acenar so-
bre a sua capacidade
de encontrar soluções
aos múltiplos proble-
mas que envolvem a
sobrevivência das pes-
soas e suas famílias.
No entanto, ao longo do tempo, quando o esforço e o
empenho são mais necessários, dificuldades insolú-
veis vão se apresentando porque as pessoas não têm
muita persistência em continuar num empreendimen-
to. Na cooperativa, qualquer coisa que aconteça, as
pessoas vão embora, se afastam, passam a não mais
acreditar nas possibilidades de levar adiante o que
anteriormente consideravam como essencial.
41
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA
É bom ter presente que este resultado pertence legacia da Receita Federal. A partir daí, a Cooperativa
aos associados ou como resultados de comercializa- já existe juridicamente. Ela tem 90 dias para começar a
ção ou como SOBRAS. funcionar, sendo que para as cooperativas de crédito
este prazo é de 30 dias. Nesse tempo, ela deve provi-
Se for, pela Assembleia, considerado “resulta- denciar a regularização frente aos demais órgãos aos
dos de comercialização”, os mesmos são distribuídos quais vai se relacionar em suas operações, como
imediatamente aos associados, na proporção da en- INSS, Prefeitura, Secretaria da Fazenda, etc.
trega da produção: Quem entregou mais produção ga-
nha mais, quem entregou menos, ganha menos. Se for A nova Cooperativa deve-
considerado “sobras”, as mesmas são transferidas ao rá manter uma série de livros:
patrimônio da cooperativa para serem apuradas no fim
do ano como resultado do exercício financeiro. Lá, a Livro de Matrículas onde
Assembleia decidirá como será feita a distribuição: são inscritos os associados e
associadas pela ordem de ad-
a) Aos associados, em dinheiro, ou em quotas, missão, vindo os fundadores e
sempre na proporção da entrega da produ- fundadoras em primeiro lugar. Os dados que devem
ção. constar são: nome, estado civil, nacionalidade, profis-
são e residência; data de admissão e, quando houver,
b) À cooperativa, como patrimônio imobilizado, demissão ou exclusão; e a conta-corrente das suas
ou ao fundo de reserva ou a qualquer outro quotas no capital social. Livro de atas de reuniões
fundo, ou, finalmente, como empréstimo dos dos órgãos de administração; Livro de atas do Con-
associados, para a sua capitalização ou no- selho Fiscal; Livro de presença dos cooperados nas
vos investimentos. Assembleias; e Livros fiscais, contábeis e traba-
lhistas obrigatórios.
Terceiro passo - A fundação
É bom lembrar também que as
O processo de fundação será realizado mediante cooperativas de crédito deverão
uma assembleia. Nela deverá ser aprovado o estatuto antes do registro proceder uma
social, definidos os associados fundadores e eleitas as inscrição especial no Banco
pessoas para os cargos estabelecidos no estatuto. Central do Brasil e as cooperati-
vas- escola, depois, na respecti-
Não é mais obrigatório o núme- va Secretaria de Educação, para
ro mínimo de 20 pessoas físicas funcionamento.
para fundar uma cooperativa. O
Novo Código Civil determina que O CAPITAL SOCIAL
o número mínimo será o neces-
sário para preencher todos os Mesmo que o fundamental das
cargos da administração e do cooperativas sejam os associa-
Conselho Fiscal previstos no dos e associadas e não o capital
estatuto social, sendo que o nú- (e o Novo Código Civil Brasileiro
mero mínimo de pessoas para o faculta às cooperativas consti-
Conselho Fiscal deverá ser de tuir ou não capital social), este
seis. é importante para que se tornem
possíveis as suas atividades e
Quarto passo - O registro se alcancem os seus objetivos.
As cooperativas são registradas apenas na Jun- Para a cooperativa começar a funcionar, ela
ta Comercial de cada Estado. Após o registro é também precisa de um patrimônio inicial que pode vir de con-
é necessário encaminhar os formulários (se isso não tribuição ou investimento externos, mas o normal é
for feito pela Junta) e obter a inscrição no Cadastro Na- que venha dos associados cooperativados. Esta parti-
cional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) na respectiva De- cipação dos associados e associadas na constituição
43
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA
e manutenção da cooperativa é feita através da subs- O capital social não deve ser imo-
crição (quando alguém se associa a uma cooperativa bilizado em construções, por exem-
preenche um cadastro e diz quantas quotas vai assu- plo, porque a finalidade do capital
mir) e integralização (o associado ou associada paga social é, normalmente, a de servir
as quotas que subscreveu) de quotas. de capital de giro. Quando for feita
uma construção, a cooperativa po-
A cooperativa pode também, para melhorar a derá mobilizar os seus associados
sua capitalização, reter parte das sobras resultantes e associadas e efetuar um “chama-
das operações econômicas, por decisão da assem- mento de capital” especialmente
bleia, no decorrer de suas operações e ao final dos para tal fim. De modo geral, sugere-
exercícios financeiros. Por outro lado, nos momentos -se às cooperativa evitar o financia-
mento bancário que compromete
em que os exercícios demonstram prejuízos que preci-
o patrimônio e é sempre de difícil
sam ser cobertos, para a continuidade das atividades,
pagamento.
a cooperativa pode buscar nos associados novas con-
tribuições financeiras.
PONTOS ESSENCIAIS NO ESTATUTO SO-
CIAL
Tudo isso vai garantir a operacionalidade e a
competitividade da cooperativa. Se ela não tem condi-
Existem muitos modelos de estatuto social. An-
ções para levar adiante seus negócios, em pé de igual-
tes, a estrutura oficial impunha um modelo padrão de
dade com outras organizações que também atuam no
estatutos determinado pela lei Cooperativista de 1971.
mercado, a capitalização rapidamente será reduzida e
Agora, no entanto, a partir da Constituição Federal de
com ela os serviços prestados, até a sua total invia-
1988 e do Novo Código Civil Brasileiro são as assem-
bilização. Claro que uma rígida política de custos e
bleias das cooperativas que definem o seu estatuto. De
uma política de preços para todas as operações que
qualquer maneira, as leis em vigor determinam que al-
a cooperativa realiza - seja com os associados, seja
guns itens devem obrigatoriamente constar no mesmo:
com terceiros - também são essenciais para o êxito da
entidade.
a) Nome da cooperativa, prazo de
O montante do capital básico necessário para duração, objetivos e área de atua-
a cooperativa é dividido em quotas - sempre em valor ção, sede e foro:
inferior ao salário mínimo em vigor no país - e cada O nome não pode ser igual ao de outra já
associado e sócia adquire uma ou mais até completar existente e a sua escolha deve ser aprovada
o total do capital determinado. No entanto, a lei proíbe pelos associados e associadas da coopera-
que um associado compre mais que 1/3 (um terço) do tiva. A sede e o foro são os nomes do muni-
total das quotas para impedir que, de imediato, uma cípio e da comarca em que ela vai funcionar.
pessoa se torne dona da cooperativa. A área de atuação deverá dizer se ela se de-
dicará a apenas um produto ou a uma única
No decorrer da vida da cooperativa, esse capital atividade ou se será mista e qual a abran-
social poderá ser aumentado e isso será feito através gência territorial (11). Os objetivos devem ser
de subscrições de novas quotas pelos associados e tema central da discussão do grupo que vai
associadas, contribuições externas ou retenções de fundar a cooperativa. Aqui vai ter de ser ex-
sobras para capitalização. Tudo discutido e definido plicitado onde a cooperativa pretende chegar.
pela Assembleia.
b) Entrada e saída, direitos e deveres
Do ponto de vista contábil, o capital social cor- dos associados e associadas:
responde às quotas subscritas pelos associados e as- Os mecanismos de entrada e saída devem
sociadas, menos o montante que ainda não foi integra- ser muito claros e os mais fáceis possível,
lizado. Este capital estará compondo o chamado
“patrimônio líquido” da cooperativa, do qual também 11
Ao contrário do que se tem propagado em alguns lugares, não mais exis-
tem restrições quanto a haver mais de uma cooperativa numa mesma
fazem parte as reservas, as doações o os eventuais base territorial. A partir de 1986, há liberdade de se constituir quantas
cooperativas se considerar necessário. O que não pode ter é o mesmo
lucros obtidos de operações com terceiros. nome.
44
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA
mas a cooperativa deve se precaver para do capital social, ou a distribuição das quotas
que não entre qualquer pessoa que possa somente podem ser realizadas por aprova-
trazer problemas para a organização ou que ção dos associados e associadas da coope-
grupos específicos tomem conta da entidade. rativa. O estatuto deve conter mais: O valor
O Novo Código Civil determina que a entrada unitário das quotas (que deve ser menor que
de novos associados e associadas seja apro- o salário mínimo – a maioria das coopera-
vada pelos demais. Além disso, alguns meca- tivas adota a unidade da moeda nacional:
nismos devem ser colocados para que, por R$ 1,00). O mínimo e o máximo de quotas
exemplo, grupos não se retirem da coopera- que podem ser subscritas pelos associados
tiva apenas para criar problemas para deter- e associadas individualmente e os modos
minada administração; ou que a exclusão de oferecidos para a sua integralização. Como
uma pessoa que a maioria não quer seja tão podem ser integralizadas as quotas através
difícil que nunca aconteça. Quanto aos direi- de serviços e os mecanismos de atualização
tos, não há necessidade de citar todos, uma do capital social
vez que é bom ter presente que os direitos
consagrados na Constituição valem mes- d) Assembleia geral, estrutura direti-
mo que não sejam nomeados pelo estatuto. va e quem responde juridicamen-
Quanto aos deveres, observamos em muitas
te:
oportunidades que a tendência é criar meca-
A Assembleia deve
nismos exagerados, que mais jogam os as-
ser convocada com
sociados numa prisão do que numa coopera-
boa antecipação e
tiva que se pretende seja livre e participativa.
divulgação para que
Alguns, bem claros e prontos. A assembleia
todos possam se
deverá definir se a responsabilidade dos as-
preparar e dela parti-
sociados e associadas é limitada ou ilimitada
cipar. No que se refere ao seu funcionamen-
na cooperativa. Quando a responsabilidade é
to, o estatuto deve sempre definir um quorum
limitada, em caso de dívidas, o associado ou
para a instalação e para votação. Evitar que a
associada responde apenas com o montante
assembleia seja instalada com qualquer nú-
correspondente às suas quotas. Se é ilimita-
mero de associados (sempre definir um quo-
da, caso haja necessidade de cobrir dívidas
rum mínimo) e evitar que a assembleia possa
ou outros encargos, o associado e associada
tomar decisões através de um número muito
respondem com todos os seus bens, estando
pequeno de votos: A democracia é também
apenas fora a propriedade familiar (quando
representada pela maior participação possí-
única) e bens essenciais para a sobrevivên-
vel. Dessa maneira, somente instalar a as-
cia que são protegidos pela Constituição.
sembleia com pelo menos 1/3 dos associa-
dos e, nesse caso, apenas aprovar propostas
c) Capital Social mínimo (formação, com pelo menos 2/3 dos votos, o que pode
distribuição e condições de retira- ser uma garantia de que as decisões não se-
da): jam tomadas apenas servindo ao interesse
É importante que, mesmo que o capital possa de um pequeno grupo. No entanto, no que
ser suprido de outra maneira, os associados se refere às decisões das Assembleias que
e associadas tenham uma participação fi- contemplam modificações no estatuto social
nanceira inicial na cooperativa, porque assim e destituição de administradores, a decisão
eles se sentem mais responsáveis pela orga- obrigatoriamente terá de ser tomada por 2/3
nização. Além disso, o estatuto deverá definir dos associados e associadas presentes na
critérios de valorização das quotas, quando é Assembleia e em dia com suas obrigações
possível transferir de um para outro associa- sociais. É obrigatório que haja uma pessoa
do ou associada (a transferência para não- que responda pela entidade, “ativa e passi-
-associado não deve ser permitida) e como vamente, em juízo e fora dele”. É muito bom
se realizam as retiradas das quotas em caso que os dirigentes não se perpetuem em
de saída ou exclusão. A eventual modificação seus cargos, mas que ocorram no máximo
45
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA
a cada quatro anos, substituições. Isso per- contra a cooperativa. Lembramos que a dis-
mite que novas pessoas se integrem e que solução somente poderá ocorrer se não hou-
novas ideias renovem a própria cooperativa. ver um número mínimo de associados que
Eventuais modificações na estrutura diretiva preencham os cargos da Administração e do
e nas suas competências também precisam Conselho Fiscal dispostos a continuar e as-
ser aprovadas por 2/3 dos associados e as- sumir a cooperativa.
sociadas da cooperativa.
i) Modo e processo de alienação ou
e) Conselho Fiscal: oneração de bens imóveis:
O Conselho Fiscal, que tem de ser inteira- Isso é para impedir que uma Diretoria, por
mente independente da Diretoria, deverá ser exemplo, possa vender ou dar em garantia
eleito pela Assembleia Geral e renovado pe- para dívidas bens imóveis da cooperativa. O
riodicamente. Ele tem como função maior o estatuto deve devem dizer como, quando e
de fiscalizar as atividades gerais da Diretoria em que condições isso pode ocorrer.
ou do Conselho de Administração e transmi-
tir seus pareceres à Assembleia. O Conselho j) Definição do exercício social e do
Fiscal não deve limitar o seu acompanha-
balanço geral:
mento às contas ou finanças da cooperativa,
Quando começa e quando termina o exercí-
mas a todas as suas operações e atividades.
cio fiscal, podendo ser de julho a julho, de
Suas reuniões devem ser frequentes e a sua
dezembro a dezembro e quando é realizado
composição deve incluir pessoas com capa-
o balanço da entidade.
cidade específica para suas funções.
k) Reforma do estatuto:
f) Forma do rateio entre os associa-
a. Que deve ser aprovada sempre por 2/3
dos das despesas, perdas e prejuí- das pessoas associadas presentes em
zos Assembleia especialmente convocada
Como serão rateadas as despesas (caso o para este fim.
fundo de reserva não consiga cobrir), as per-
das (iguais entre os associados) e os prejuí-
l) Destino do patrimônio em caso de
zos (proporcional à produção). Modificações
na forma de rateio das perdas ou prejuízos da dissolução.
cooperativa entre os associados e associadas Cumpridas as obrigações, o destino do patri-
deverá ser aprovada em assembleia geral. mônio restante deverá ser sempre para uma
entidade afim, podendo ser outra cooperati-
g) Retorno das sobras líquidas do va, central, ou mesmo uma associação.
exercício, proporcional às opera-
ções m) Quando o estatuto entra em vigor
Modificações na forma de rateio das sobras
prevista no estatuto da cooperativa entre os
associados e associadas deverá ser aprova- A ATA DA ASSEMBLEIA GERAL DE
da em assembleia geral. CONSTITUIÇÃO DEVERÁ CONTER:
h) Casos e formas de dissolução: a) local, hora, dia, mês e ano de sua realização;
Definir aqui em que casos e de que forma a
cooperativa pode ser dissolvida, isto é, como b) composição da mesa: nome completo do
fazer e em que condições se pode acabar presidente e secretário;
com ela. É obrigatório que isso só possa ser
feito em assembleia geral e que a decisão c) nome, nacionalidade, idade, estado civil, do-
seja tomada por um quorum bem alto (2/3), cumento de identidade, seu número e órgão
para que não ocorra que o fim da entidade expedidor, nº do C.P.F., profissão, domicílio e
seja decidido por um pequeno grupo que é residência dos associados;
46
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA
i) visto de advogado.
47
A CONSTITUIÇÃO DA COOPERATIVA
Com o auxilio dos textos do Módulo II e também com base em seus conhecimentos,
julgue os itens em certo C e errado E.
3. O Conselho Fiscal, que tem de ser inteiramente independente da Diretoria, deverá ser
eleito pela Assembleia Geral e renovado periodicamente.
5. O processo de fundação será realizado mediante uma assembleia. Nela deverá ser
aprovado o estatuto social, definidos os associados fundadores e eleitas as pessoas
para os cargos estabelecidos no estatuto.
48
MÓDULO III - UNIDADES PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS
1, 2, 3 E 4 Os Pioneiros
de Rochdale, ao fun-
UNIDADE 1 darem a sua coope-
rativa de consumo
em 1844, decidiram
SEGUNDA PARTE – compilar um con-
CARACTERIZAÇÃO DAS junto de princípios,
buscados em múlti-
COOPERATIVAS plos precursores do
cooperativismo, para servirem de base para o seu
PRINCÍPIOS funcionamento. Posteriormente, os Congressos e As-
sembleias da Aliança Cooperativa Internacional em
COOPERATIVISTAS Paris (1932), Viena (1966), Tókio (1992) e Manches-
ter (1995) os reafirmaram, realizaram modificações e
acrescentaram outros. Podemos nos valer deles para
entender as proposições de funcionamento da coope-
rativa, mas também precisamos manter uma postura
crítica sobre os seus limites e implicações. Tradicio-
nalmente, costuma-se dizer que foram seis os prin-
cípios originalmente compilados. Outros dois foram
acrescentados posteriormente. E um foi excluído.
VALORES:
PRINCÍPIOS:
12
As citações entre aspas após os princípios correspondem às formula-
ções definidas no Congresso da ACI de Manchester.
49
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS
sem discriminação de gênero, raça, classe social, po- cipam ativamente da definição de suas políticas e na
sição política ou religiosa”. tomada de decisões. Os homens e mulheres, eleitos
para representar a sua cooperativa, respondem por
Este princípio define a necessidade suas responsabilidades, frente aos associados. Nas
das cooperativas serem suficien- cooperativas de base, os associados têm igual direito
temente abertas para que as pes- de voto (um associado, um voto), sendo que as coope-
soas - que queiram delas participar rativas de outros níveis também devem ser organizar
- possam entrar ou sair sem maio- com procedimentos democráticos”.
res dificuldades. É um princípio de
duas faces muitas vezes conflitan- A iniciativa mais concreta deste princípio é de
tes. Do ponto de vista da demo- que cada associado tem um único voto, seja qual for
cracia, ele é um princípio muito a sua posição ou, mesmo, o número de quotas-partes.
interessante, mas isso em socie-
dades igualitárias. Aqui está uma das importantes diferenças entre
as cooperativas e as sociedades comerciais, uma vez
Na nossa sociedade, tremendamente dividida que nestas últimas as pessoas exercem seu direito de
em extremos de privilegiados e multidões de excluídos, participação de acordo com o capital investido (quanto
o princípio camufla a divisão de classes e nivela por mais capital, mais poder).
cima a participação de ricos e pobres, sem considerar
que, neste caso, pelo poder econômico, quem acaba Nada indica, no entanto, que apenas este princí-
mandando sempre será o pequeno grupo dos mais pio, vindo sozinho, com todas as suas boas intenções,
abastados. Este foi o mal que transformou muitas coo- possa garantir a democracia interna da cooperativa.
perativas brasileiras, nas últimas décadas, em espaço Ele deve vir acompanhado pela possibilidade de todos
privilegiado de grandes fazendeiros ou comerciantes. os sócios manterem uma posição de igualdade em
Os pequenos produtores foram marginalizados quando termos de apropriação dos poderes políticos e econô-
não tiveram de se auto excluir. micos, estar em condições de serem eleitos para qual-
quer cargo de direção e da possibilidade de usufruir
A liberdade de entrar e sair deve existir (afinal, de todos os benefícios que a cooperativa pode prestar.
é garantida pela nossa Constituição no seu Artigo 5º -
Item XX: “Ninguém poderá ser compelido a associar-se Este princípio da organização democrática leva
ou a permanecer associado”), mas as pessoas devem em conta também a necessidade das cooperativas
estabelecer mecanismos internos para terem autono- manterem a sua autonomia frente ao Estado, o que
mia coletiva de decidir se querem que uma determi- aliás também é garantido pela atual Constituição Fe-
nada pessoa entre ou não. Afinal, esta possibilidade deral nos itens XVI a XX do artigo 5º.
também faz parte da autodeterminação democrática
das pessoas organizadas. Terceiro Princípio: Participação
econômica dos seus associados
Assim, ao mesmo tempo que defendemos firme-
mente o princípio de que a adesão seja voluntária, en- “Os associados contribuem de maneira equita-
tendemos que o livre acesso deve ter critérios. Por isso, tiva e controlam de maneira democrática o capital da
sugerimos que o estatuto social da cooperativa preve- cooperativa. Pelo menos uma parte desse capital é
jam mecanismos de entrada e saída para preservar a propriedade comum da cooperativa. Usualmente, rece-
possibilidade de manter, por exemplo, uma cooperativa bem uma compensação limitada, se for possível, sobre
apenas com pequenos produtores rurais ou trabalha- o capital subscrito como condição de fazer parte da
dores urbanos. cooperativa. Os associados contribuem com a coope-
rativa, distribuindo as sobras existentes prioritariamen-
Segundo Princípio: Controle, te da seguinte maneira:
organização e gestão democrática
1. no desenvolvimento da cooperativa através
“As cooperativas são organizações democráti- da criação de reservas, as quais, pelo menos
cas controladas pelos seus membros, os quais parti- uma parte, deve ser indivisível;
50
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS
Mas, como sempre são muito grandes as dife- O Novo Código Civil Brasileiro, em vigor a
renças de preços entre o produtor e o consumidor, a partir de 11 de janeiro de 2003, em seu Artigo 1.094,
cooperativa, que neste caso assume o papel do inter- inovou em relação aos princípios básicos das coo-
mediário ou facilitador do negócio, pode ter algum ga- perativas, excluiu a “neutralidade política” e, fazen-
nho e, além disso, oferecer especificamente aos seus do uma mescla de múltiplas influências, definiu as
sócios preços mais em conta. seguintes características:
I. Variabilidade, ou dispensa do capital so-
E) Destino comum dos benefícios de
cial.
operações com terceiros
II. Concurso de sócios em número mínimo
Todos os resultados obtidos com as operações
necessário a compor a administração da
com não sócios devem ser destinados para o
sociedade, sem limitação de número má-
benefício da cooperativa como um todo, seja
ximo.
na capitalização, seja para cobrir perdas ou
prejuízos. O que é ganho com estas operações III. Limitação do valor da soma de quotas do
integra o patrimônio comum da cooperativa e capital social que cada sócio poderá to-
mar.
não é distribuído entre os associados.
IV. Intransferibilidade das quotas do capital
Outro princípio, criado em Rochdale e até pre- a terceiros estranhos à sociedade, ainda
sente em nossa Lei nº 5.764/71, foi o da Neutralida- que por herança.
de Política e Religiosa. No entanto, por decisão do V. Quorum, para a assembleia geral funcio-
Congresso da ACI em Viena, o mesmo foi abandonado. nar e deliberar, fundado no número de só-
O termo correto em lugar de “neutralidade” seria “não cios presentes à reunião, e não no capital
social representado.
discriminação”, ou seja que não pode haver nenhum
tipo de discriminação, seja social, sexual, política, ra- VI. Direito de cada sócio a um só voto nas
cial ou religiosa, em relação ao ingresso ou presença deliberações, tenha ou não capital a so-
ciedade e qualquer que seja o valor de
ou tratamento aos associados na cooperativa (o que foi
sua participação.
ressaltado no Congresso da ACI de Manchester).
VII. Distribuição de resultados, proporcional-
Além da não discriminação (as pessoas não po- mente ao valor das operações efetuadas
dem ter tratamento diferente porque são brancas ou pelo sócio com a sociedade, podendo ser
negras, católicas ou protestantes, de um partido ou atribuído juro fixo ao capital realizado.
de outro, homem ou mulher, homossexuais ou hete- VIII. Indivisibilidade do fundo de reserva entre
rossexuais, etc.), discute-se a questão da vinculação os sócios, ainda que em caso de dissolu-
a partidos políticos, o que, quando assumida oficial- ção da sociedade.
mente pelas cooperativas e outras associações sem
Há um último princípio a ser destacado neste
fins lucrativos, poderá trazer problemas nas relações
rol. Mesmo não tendo sido capitulado neste sentido tão
internas, ou criar dependência, ou mesmo desvirtuar
diretamente pelos Congressos da ACI ou pelos Pionei-
as finalidades da entidade.
ros de Rochdale, ele é fundamental: “A prioridade da
cooperativa são os associados e associadas”.
No entanto, esta questão da neutralidade polí-
tica, a gente tem de discutir muito claramente. É cer- Não há como desmerecer a vonta-
to que posições político-partidárias são complicadas de e as necessidades dos associa-
quando assumidas pelas entidades tipo cooperativas dos e associadas quanto à busca
(a militância dos sócios é outro assunto e deve ser in- de benefícios específicos para si,
centivada). No entanto, uma atuação política, entendida suas famílias, seu futuro. Isso faz
como uma participação na transformação da socieda- parte das perspectivas de autono-
de atual para uma melhor, mais justa, mais igualitária, mia que são essenciais numa so-
é fundamental. Neste caso, a gente não pode ficar na ciedade como a cooperativista. Ou,
neutralidade. Os que são contra esta participação são senão, qual seria o papel desem-
os que querem a preservação dos privilégios, da explo- penhado pelos mesmos dentro
ração, da desigualdade. da cooperativa?
53
PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS
Esta discussão sobre o papel e a Mesmo nos casos em que se possa dizer que os
importância do elemento humano trabalhadores da cooperativa têm efetiva participação
associado, torna-se essencial, do democrática, os modelos que transferem todo o contro-
ponto de vista político, inclusive le do desenvolvimento da atividade produtiva da parti-
para resolver uma série de proble- cipação dos associados e associadas para uma ins-
tância centralizadora de poder restrito, os transforma
mas que dizem respeito à própria
em meras partes da grande roda dentada que move o
identidade e natureza da coopera-
processo. Não seriam assim agentes autônomos, por-
tiva e, ao mesmo tempo, permite
que estão estariam submetidos a uma máquina inani-
fazer com que se possa alcançar
mada chamada cooperativa.
um conjunto social que, efetiva-
mente, tenha harmonia e unidade. É sempre muito possível que o entusiasmo pela
proposta e pelo andamento das atividades acabe pu-
“A ideia de co-atividade, de mutualidade, de xando a priorização da estrutura da sociedade, minimi-
igualdade e de justiça distributiva é o fermento que a zando o objetivo central da mesma que é o atendimen-
anima na sua vida interior, presidindo as relações entre to das necessidades dos integrantes.
os membros e a sociedade. E é esse fermento interior,
consubstanciado na cooperação dos sócios, que per- Não desejamos ser interpretados como defen-
mite a tradução desta ideia em atos objetivos e inte- sores de uma perspectiva que não valorize o aspecto
resse comum. Temos assim, no caso concreto, numa funcional da iniciativa. O que desejamos apresentar é
realização objetiva e subjetiva da ideia de obra e de um ponto de vista que tenta conciliar o fortalecimento
empresa, a Instituição de HARIOU, REINARD e BUR- do empreendimento com a satisfação e felicidade dos
DEAU, vivendo e atuando em favor dos seus membros, seus participantes. E a base essencial da preservação
sob as vestes jurídicas da sociedade cooperativa”13. e implementação deste segundo aspecto é a consolida-
ção da autonomia efetiva dos associados e associadas.
Não se pode pois esquecer que a centralidade
da iniciativa são as pessoas que a compõem. Elas, “O passo mais importante e, certa-
suas necessidades e aspirações é que devem motivar mente, o mais difícil será o de levar
o corpo de associados (ou futuros
o esforço do empreendimento e a conquista de novos
associados) a formular uma ideolo-
espaços que o consolidem, sem o que a cooperativa
gia cooperativista calcada na auto-
como “cooperativa” não existe.
nomia criativa”15.
Para melhor ter presente as características das • Transformar bens, atuando em nível de
formas de organização atual no campo econômico, na mercado.
produção de bens e serviços, vamos apresentar um • Armazenar e comercializar.
quadro comparativo que busca estabelecer as diferen-
• Dar assistência técnica e educacional aos
ças entre associações, cooperativas e empresas (na
associados e associadas.
regulação atual) e possibilitar que as pessoas tenham
condições de optar por uma delas quando decidirem
c) Microempresa:
constituir uma iniciativa, individual ou coletiva que seja
• Realizar atividades mercantis, de comér-
instrumento de atuação legalizada no campo do de- cio ou indústria, de interesse dos seus só-
senvolvimento rural sustentável. cios e sócias.
c) Microempresa: b) Cooperativa:
• Preencher formulário de busca. • Nome, tipo de entidade, sede e foro.
• 3 vias do Contrato social. • Área de atuação.
• Preencher ficha de cadastro nacional. • Definição do exercício social e do balanço
• Preencher DARF para recolhimento fede- geral.
ral.
• Objetivos sociais.
• Preencher formulário de solicitação de re-
gistro. • Entrada e saída dos associados e asso-
• Anexar cópia da carteira de identidade e ciadas.
CPF dos sócios e sócias. • Responsabilidade limitada ou ilimitada
• Ir à Secretaria da Fazenda com toda do- dos associados.
cumentação registrada.
• Formação, distribuição e condições de re-
• Preencher Ficha de Atualização Cadas- tirada do capital social.
tral, com diversos anexos.
• Assembleias, estrutura diretiva e quem
• Na prefeitura, apresentar toda a docu-
mentação registrada na Junta Comercial, responde juridicamente.
nova fotocópia do CPF e RG dos sócios • Prazo do mandato dos dirigentes, do con-
e fotocópia da situação atual do IPTU, re- selho fiscal e processo de substituição.
querendo alvará de funcionamento.
• Convocação e funcionamento da assem-
• Lembrar que antes é necessário ter a li-
bleia geral.
cença do Corpo de Bombeiros.
• Distribuição das sobras e rateio dos pre-
6- Pontos essenciais no estatuto ou no
juízos.
contrato social21:
• Casos e formas de dissolução.
a) Associação:
• Processo de liquidação.
21
De acordo com o artigo 46 do Novo Código Civil Brasileiro, devem constar
em todos os estatutos e contratos das pessoas jurídicas, os seguintes
• Modo e processo de alienação ou onera-
itens: a) Denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo ção de bens imóveis.
social, quando houver; b) o nome e a individualização dos fundadores ou
instituidores, e dos diretores (na associação e na cooperativa isso consta-
rá em ata); c) O modo como se administra e representa, ativa e passiva-
• Reforma dos estatutos.
mente, judicial e extrajudicialmente; d) Se o ato constitutivo é reformável
no tocante à administração e de que modo; e) Se os membros respondem • Destino do patrimônio na dissolução ou
ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; e f) As condições da
extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, neste caso.
liquidação.
58
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA
b) Cooperativa: c) Microempresa:
• Pode ou não possuir capital social, o qual, • Tem como finalidades realizar atividades
mercantis.
somado ao imobilizado (fundos, bens mó-
veis e imóveis) facilita a obtenção de cré- 11- Operações financeiras:
dito junto às instituições financeiras. a) Associação:
• Pode realizar operações financeiras e
• O capital social é constituído por aportes
bancárias usuais, mas não tem como fi-
dos associados e associadas (quotas) ou,
nalidade e nem realiza operações de em-
em parte, como o restante do patrimônio,
préstimos ou aquisições com o governo
pode ser constituído por doações, em-
federal.
préstimos e processos de capitalização.
• Não é beneficiária de crédito rural
c) Microempresa:
• Seu capital social é constituído pela parti- 22
Não tendo objetivo de lucro e na busca da implementação de seus ob-
jetivos, a associação pode efetuar transações comerciais, desde que
cipação financeira, mobiliária e imobiliária as mesmas não componham a sua principal finalidade e desde que o
eventual resultado financeiro não seja distribuído para os associados e
dos sócios e sócias, doações, emprésti- associadas, mas integralmente aplicado em suas finalidades. Havendo
mos e financiamentos, além da capitaliza- a atividade da comercialização, ela deve estar prevista nos estatutos e a
associação deverá se inscrever na Fazenda Estadual para o devido reco-
ção nas operações mercantis. lhimento do ICMS e, assim, será considerada equivalente a uma empresa.
59
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA
b) Cooperativa: c) Microempresa:
• Realiza operações financeiras e bancá- • Os sócios e as sócias integrantes da di-
rias usuais e pode realizar operações de reção da microempresa realizam retiradas
EGF (empréstimos do governo federal) mensais “pró-labore” pelo exercício do
e AGF (aquisições do governo federal), cargo.
as quais facilitam as suas operações de
aquisições de produtos do quadro social. 14- Destino do resultado financeiro:
• As cooperativas de produtores rurais são a) Associação:
beneficiárias do crédito rural. • Não há rateio de sobras das operações fi-
nanceiras entre os associados e associa-
c) Microempresa:
das. Qualquer superavit financeiro deve
• Realiza operações financeiras e bancá-
ser aplicado em suas finalidades.
rias usuais.
b) Cooperativa:
12- Responsabilidade dos associados: • Há rateio das sobras obtidas no exercício
a) Associação: financeiro, devendo antes a assembleia
Os administradores e as administradoras po- destinar parte aos fundos de reserva e
dem ser responsabilizados por seus atos que educacional (retenção obrigatória de 10%
comprometem a vida da entidade. e 5% respectivamente). As demais sobras
podem ser destinadas a outros fundos de
Os associados e as associadas não respondem capitalização ou diretamente aos associa-
pelas obrigações assumidas pela entidade. dos e associadas de acordo com a quan-
tidade de operações que cada um deles/
b) Cooperativa: uma delas teve com a cooperativa.
A responsabilidade dos associados e asso-
c) Microempresa:
ciadas está limitada ao montante de suas
• A instância de decisão da microempresa,
respectivas quotas, a não ser que o estatuto
formada pelos sócios e sócias, define a
social determine diferentemente. Quando o
destinação do resultado financeiro.
estatuto social determina a responsabilidade
“ilimitada”, os associados e associadas po- • O montante destinado aos sócios e sócias
dem responder com o seu patrimônio pes- é distribuído de acordo com os percentual
soal. de participação de cada um/cada uma na
constituição do capital da empresa.
c) Microempresa:
Os sócios e sócias respondem no limite de 15- Escrituração contábil:
sua participação no capital da microempresa, a) Associação:
a não ser que o contrato determine diferente- • Escrituração contábil simplificada e objeti-
mente ou nos casos de fraude ou dolo. va.
b) Cooperativa: c) Microempresa:
• Os/as dirigentes são remunerados/as • A escrituração contábil é muito simplifica-
através de retiradas mensais “pró-labore”, da, o mesmo ocorrendo quanto às obriga-
definidas pela assembleia. ções previdenciárias e trabalhistas.
60
AS MULTIPLAS FORMAS ORGANIZATIVAS E A ESPECIFICIDADE DA COOPERATIVA
• Pode ter o cancelamento do seu registro mais capital ou faz alianças de capital en-
por perda de condição de Microempresa tre sócios e sócias, formando percentuais
(neste caso, continua como qualquer ou- majoritários, manda na empresa.
tra sociedade comercial).
Apesar de muitos programas go-
• Pode ter decretada falência por decisão
vernamentais atuais (como por
judicial.
exemplo, PNAE, PAA e fundos de
microcrédito) terem incentivado,
20- Destino do Patrimônio, caso haja o
de certo modo, que as iniciativas
fim da entidade: econômicas se realizem no campo
a) Associação: da associação, do ponto de vista
• Os bens remanescentes na dissolução da regulação existente, levando em
ou liquidação deverão ser destinados, por conta os aspectos tributários e tra-
decisão de Assembleia a entidades afins. balhistas, as cooperativas são as
b) Cooperativa: opções mais adequadas.
• Os bens remanescentes, cobertas as dí-
vidas e os montantes correspondentes às Já que se pressupõe que uma associação que
quotas dos associados e associadas, de- atua no campo comercial é vista pela lei como uma em-
verão ser destinados a entidades afins. presa. Especificamente em relação à empresa, cabe
lembrar que é uma sociedade de capital e não de pes-
• Em caso de liquidação, os associados e
soas, onde é aquele que mando e não o coletivo social.
associadas são responsáveis, limitada ou
Esta observação final é também importante para não
ilimitadamente (conforme os estatutos)
parecer que neste texto poderíamos estar efetivamente
pelas dívidas.
sugerindo a adoção da forma empresarial em lugar da
c) Microempresa: cooperativa.
• Supridas as obrigações, os bens rema-
nescentes são distribuídos aos sócios e
às sócias de acordo com a sua respectiva
participação no capital.
b) Cooperativa:
• Na cooperativa, é um voto por pessoa,
mas a possibilidade de acumular muitas
quotas por parte de algumas pessoas que
tem mais operações com a mesma, faz
com que um grupo ou uma pessoa pas-
sem a ter muito mais poder (econômico)
que os demais.
c) Microempresa:
• Aqui quem manda é o capital. Quem tem
62
MÓDULO III CLASSIFICAÇÃO E RAMOS
COOPERATIVOS
UNIDADE 3
Existem as mais variadas classificações e tipos
de cooperativas. Cada autor tem a sua. De nossa par-
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS te, procuramos simplificar a questão e adotamos as
classificações mais comuns, tomando como base o
COOPERATIVOS
uso e também a proposta de projeto de lei do Execu-
tivo, que trata da questão tributária (projeto de Lei nº
3.723/2008) sem, no entanto, concordar inteiramente
com ele.
1- Quanto à natureza:
Trata-se de distinguir as cooperativas de acor-
do com as atividades que desenvolvem em relação
aos seus associados. Podemos distribuir três gran-
des grupos:
a) Cooperativas de distribuição ou
serviços
São as que colocam à disposi-
ção de seus associados bens e
serviços, de acordo com suas ne-
cessidades, dentro das melhores
condições de qualidade e preços.
Podemos citar as de consumo,
crédito, habitacionais, escola-
res e de eletrificação.
b) Cooperativas de colocação da
produção
63
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS
c) Confederação de Cooperativas
É constituída por, pelo menos, três Centrais
ou Federações de Cooperativas.
trabalhadores, instituiu o sindicado dos patrões (o que dos casos, trata-se de iniciativas de consumidores
se constitui numa insanidade institucional no campo urbanos que se organizam para fazerem compras co-
das relações contratuais do trabalho) e em segundo munitárias diretamente junto aos produtores rurais,
lugar porque é necessário que se restaure claramen- evitando o intermediário (cooperativas abertas). Mui-
te a liberdade de participar ou não nos sindicatos e, tas grandes empresas também mantêm cooperativas
principalmente, que a sua constituição seja resultado de consumo para os seus funcionários (cooperativas
da iniciativa autônoma das pessoas e das sociedades. fechadas) e isso tanto pode se tornar uma vantagem
Especificamente em relação às cooperativas, que as (quando os preços são compensadores e é possível
mesmas possam participar e constituir suas instâncias apenas pagar no recebimento do salário) como pode
de representação a partir dos interesses dos seus as- se constituir numa dependência do empregado, caso
sociados, implementando-se efetivamente o princípio seja obrigado a realizar as suas compras naquele local.
constitucional da representação livre a partir das bases
Com o seu auge a partir da década de 60, as
e não de cima para baixo, por imposição legal.
2.420 cooperativas de consumo existentes na época
passaram a enfrentar sérios problemas com a repenti-
B) RAMOS DE COOPERATIVAS MAIS
na supressão das isenções tributárias, especialmente
CONHECIDOS
o ICM, e a falta de dinheiro para a compra de novas
As classificações acima apresentadas são as mercadorias, por causa da inflação. E, na década de
consideradas técnicas. Na atividade comum das 70, as cooperativas de consumo tiveram de enfrentar
cooperativas, os ramos mais conhecidos do públi- a concorrência dos supermercados. Com estes, nor-
co em geral são: malmente estão perdendo a briga por dois motivos
principais: - A dificuldade de capitalização para poder
1- Cooperativas de Crédito realizar as mesmas operações e ter a mesma diversi-
dade de produtos do supermercado; e - a dificuldade
Uma cooperativa de crédito presta praticamen- de renovação e substituição do estoque para ter sem-
te os mesmos serviços de um banco: Financia a pro- pre produtos não vencidos.
dução e os investimentos, fornece talão de cheques,
presta outros serviços de cobrança, cartões de crédito, A pá de cal sobre as cooperativas de consumo
cheque especial e mantém opções de aplicações, seja foi lançada pela Lei 9.532/97 que as equiparou aos de-
em fundos de investimentos como também em cader- mais empreendimentos comerciais quanto à questão
neta de poupança. tributária. A ausência de vantagens e a dificuldade de
investimento para novas tecnologias e circulação rá-
O Banco Central estabeleceu a obrigatorieda- pida de estoques, ou transformou as cooperativas em
de da constituição de um capital social básico para a meras sociedades empresárias ou inviabilizou a sua
sua constituição e o seu registro específico, com um existência.
controle maior que em relação às demais cooperativas
mesmo porque elas se prestam a gerenciar economias 3- Cooperativas Agrárias ou
dos associados e para isso precisam apresentar ga- Agropecuárias
rantias de gerenciamento e transparência.
O projeto de lei do Executivo as classificou como
O registro da Cooperativa de Crédito está subor- Cooperativas de Produção Agropecuária e Agroindus-
dinado à aprovação (antes da sua constituição legal) trial, e a de Venda em Comum de Bens de Produção.
do Banco Central do Brasil, que tem exigências especí- São muito comuns no Brasil e têm como objetivo or-
ficas previstas atualmente na Resolução n° 3.859/2010. ganizar as atividades econômicas e sociais dos seus
associados, produtores rurais, integrando-as, orien-
2- Cooperativas de Consumo tando-as e colocando à disposição deles uma série de
serviços. Dedicam-se mais frequentemente a: - vender
São as que se ocupam em distribuir produtos ou em comum a produção entregue pelos associados. No
serviços aos seus associados, buscando as melhores processo da venda, a cooperativa pode se encarregar
condições, os melhores preços e a melhor qualidade. de classificar, padronizar, manter em depósito ou ar-
Existem diversas espalhadas pelo Brasil. Na maioria mazenamento, beneficiar ou industrializar os produtos
65
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS
recebidos, sempre visando encontrar e obter os me- No Brasil, existem exemplos dos três tipos,
lhores preços de mercado; - distribuir aos associados especialmente do segundo, e estão se ex-
bens de produção e utilidades necessárias às suas ati- pandindo muito nos últimos tempos.
vidades agropecuárias, bem como intermediar o abas-
tecimento de gêneros alimentícios, roupas e outros 6- Cooperativas de Eletrificação Rural
produtos para a casa e a família; - oferecer serviços
na área da produção, pesquisa, assistência técnica, Esta forma de cooperativa visa reunir pessoas
administrativa, social e educacional; e - promover a in- que estejam interessadas em conseguir meios para
tegração entre os associados e suas famílias e a inter- produzir energia elétrica para as suas propriedades ru-
-relação com a comunidade em que estão inseridos. rais ou implantar extensões de redes para ligação nos
sistemas de produção estatal.
De modo geral, as grandes cooperativas que se
mantêm hoje em dia são as que passaram da situa-
ção de cooperação pura para a de grandes empresas,
onde as características da cooperação foram substi-
tuídas por administrações centralizadas, exercício de
poder capitalizado e intervenção no mercado de forma
agressiva. As que se mantêm no âmbito cooperativado
tradicional são as vinculadas à agricultura familiar.
4- Cooperativas de Pesca
Entre os principais desafios para uma coope- rado nas ideias de dois dos seus maiores precursores:
rativa de trabalho estão: Philippe BUCHEZ e Louis BLANC. A fórmula do seu
a) Desenvolver a capacidade dos trabalhadores funcionamento é muito simples, segundo o francês E.
em organizar e reorganizar as condições de THALLER: “Alguns operários, chapeleiros, artesões, vi-
trabalho, substituindo estruturas hierárqui- ram seus próprios patrões. Eles põem em sociedade o
cas, através de decisões democráticas, pela seu trabalho, elegem um gerente responsável e repar-
combinação e soma direta dos seus conheci- tem entre si os benefícios”26.
mentos e competência.
25
DRIMER, Alícia Kaplan de; DRIMER, Bernardo. Las cooperativas. Interco-
b) Responder aos problemas da gestão de uma op, Buenos Aires, 1981, págs.179/180.
unidade de produção.
26
Citado por: BULGARELLI, Waldírio. Estudos e pareceres de direito em-
presarial. Ed. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1980, pág. 349.
68
CLASSIFICAÇÃO E RAMOS COOPERATIVOS
Exemplos concretos são as “Coo- a Previdência Social) pela lei brasileira. Alguns autores
pératives ouvrières de production” brasileiros e o próprio projeto de lei nº 4.622 as cha-
da França; as “Productive Societies” mam de Cooperativas de Prestação de Serviços.
da Inglaterra, as Cooperativas de
Mondragón da Espanha. No Brasil “Cooperativa de prestação de serviços pro-
existem alguns exemplos principal- fissionais visa contratar esses serviços impessoal-
mente na área urbana, dedicadas à mente, distribuindo-os, equitativamente, a seus
atividade industrial, informática, associados para execução individual, assegurando
etc.. O projeto de Lei tributário do assim uniformidade de trabalho e remuneração”27.
Executivo as retirou do campo do
trabalho para criar um ramo especí- E as chamadas “Cooperativas de
fico chamado de “Cooperativas de mão-de-obra”?
produção industrial”, mas a doutrina
e tradição cooperativista colocam Não existem “cooperativas especificamente de
estas cooperativas no ramo do tra- mão de obra”.
balho, o que corretamente ocorreu
As que existem são empresas comerciais que,
no projeto nº 4.622 que regulará as
dedicadas a atividades específicas, como trabalho bra-
cooperativas de trabalho.
çal, limpeza, têm os trabalhadores como empregados,
mesmo que aparentemente sejam apresentados como
II - Cooperativas Comunitárias de
“associados”, da autodenominada “cooperativa”.
Trabalho
Esta forma de empreendimento sub-contratante
Têm algumas das características das de pro- tem se constituído num meio de burlar a legislação tra-
dução, mas a propriedade e posse dos meios de
balhista: As empresas, necessitadas de mão de obra,
produção é coletiva. Seus produtos se destinam mais
e não querendo pagar as obrigações trabalhistas, con-
ao consumo interno, não excluindo, no entanto, a co-
mercialização dos excedentes. Caracterizam-se ainda tratam empresas que são registradas como cooperati-
pela busca do aprofundamento dos vínculos econômi- va, e que são criadas, na maioria das vezes, por pes-
cos e sociais entre os trabalhadores. soas da própria empresa ou por grandes produtores
rurais. Por isso, mesmo apresentando-se sob o manto
São exemplos as “Communautés cooperativista, são na verdade, empresas comerciais
de Travail” na França e os “Kibutz” como todas as outras.
de Israel. Não são de nosso conhe-
cimento exemplos claros deste tipo Na história do cooperativismo de
de cooperativa no Brasil, mesmo trabalho, mesmo com diversas
porque a nossa legislação é resis- faces ou características, não há
tente às formas coletivas de pro- a alternativa de cooperativismo
priedade. Lembro que, neste senti- como típico “agenciador de mão
do, toda a nossa tradição legal tem de obra”. É necessário entender
a sua base ideológica no princípio que, para as cooperativas de tra-
da absolutização da propriedade balho, o centro das atenções são
privada individualizada. os associados (e sua produção),
que devem ser autônomos, assu-
III - Cooperativas de Trabalho mindo o empreendimento como
“donos” do mesmo, e não serem
propriamente ditas
subordinados a empreiteiros de
São as que, com um grupo de trabalhado- serviços. As pseudo-coopera-
res associados, contratam serviços com outras tivas violam a lei assumindo o
empresas ou com terceiros. Cada associado detém nome de cooperativas, violam as
a propriedade individual dos meios de produção, po- leis trabalhistas negando os di-
dendo exercer posse coletiva dos meios pertencentes reitos dos trabalhadores quando
à cooperativa. São muito comuns no Brasil. Exemplos a assalariados e negam aos traba-
serem citados são as cooperativas de médicos, de se- lhadores o direito de serem do-
cretárias, de taxistas de assistência técnica. Seus traba- nos de sua própria iniciativa.
lhadores, que são também seus associados, são classi-
27
FRANKE, Walmor. Doutrina e aplicação do direito cooperativo. Ed. Do
ficados como autônomos (contribuintes individuais para Autor, Porto Alegre, 1983, pág.96
69
70
MÓDULO III COOPERATIVISMO E AGRICULTURA
FAMILIAR
UNIDADE 4 A nossa agricultura familiar, estruturada, tem
formação recente na História do Brasil. Praticamente,
SEGUNDA PARTE – é em meados do Século XIX que se formam as peque-
nas unidades familiares autônomas no campo brasilei-
CARACTERIZAÇÃO DAS ro, dominado pelas concessões de Portugal e depois
do Império para grandes proprietários e dificultadas
COOPERATIVAS
pela legislação restritiva da cidadania e de acesso ao
uso da terra. A colonização estrangeira consolida es-
COOPERATIVISMO E tas novas pequenas propriedades normalmente em re-
giões difíceis e sem interesse para os latifundiários. Só
AGRICULTURA FAMILIAR
desta forma é que surgiram as possibilidades de uma
agricultura familiar autônoma, sem o mesmo destino
das demais populações camponesas lançadas perma-
nentemente ao campo da subordinação. Tendo como
base a formação cristã, esses novos agricultores, sub-
metidos a imensas dificuldades de sobrevivência, pas-
sam a implementar medidas de articulação produtiva e
de mutirão entre vizinhos que permitiram o surgimento
de um movimento cooperativista independente e que
respondeu às necessidades imediatas de comerciali-
zação e abastecimento.
Esta situação começa a se esgarçar, especial- res e as práticas capitalistas, seja pela adoção do
mente em meados do Século XX, na medida em que modelo de produção e tecnológico dominante, pelo
o agricultor familiar passa a ter dificuldades de resol- arrendamento de parte de suas terras e ou pelos
ver seus problemas de forma coletiva e depende muito contratos de produção firmados com as empresas
mais da política econômica nacional e das interven- capitalistas, maior e mais intensa se torna a subal-
ções externas na produção (condições específicas ternidade camponesa”.
vinculadas ao produto, licenças, regulações) e na co-
mercialização (tributos, políticas, reservas de mercado, Nas regiões onde foi possível superar alguns des-
condições sanitárias, etc.), bem como das obrigações ses aspectos da subordinação camponesa com o apoio
decorrentes dos contratos onde o agricultor familiar é e envolvimento, seja de agentes das Igrejas considera-
parte individualizada. das progressistas, seja de políticos locais conhecedores
da situação da agricultura familiar, onde o sindicalismo
Outro motivo do esgotamento do modelo origi- teve suporte para ser efetivamente uma representação
nário da agricultura familiar foi também o enfraqueci- de classe e não um mero instrumento de atenuação dos
mento do movimento sindical dos trabalhadores. En- conflitos da relação capital e trabalho e onde, por uma
volvido com outras obrigações, além da mobilização série de fatores, grupos consistentes de agricultores fa-
e representação, e submetido a limitações legais, o miliares puderam se manter unidos, o cooperativismo
sindicalismo abandona praticamente as iniciativas eco- pode surgir como alternativa e assumir um novo papel
nômicas camponesas e leva a organização produtiva fundamental no fortalecimento de classe.
cooperativada da agricultura familiar a ficar sem repre-
sentação política consistente, o que, infelizmente, não De modo particular, há de se destacar neste
foi suprido, como se esperava a partir da ciência social, sentido, nas regiões onde estão presentes os elemen-
pelo partido político. tos básicos do sucesso da agricultura familiar (crédito,
assistência técnica, organização e articulação social e
Finalmente, as próprias iniciativas cooperati- consolidação de processos produtivos e de comercia-
vistas foram tomadas de assalto pelo golpe militar de lização, com base fundiária consistente), está sendo
1964 que liquidou a representação autônoma impondo possível resistir. Nas outras regiões onde estes ele-
uma representação oficial que se voltou principalmente mentos não estão presentes ou são frágeis, haverá
para o fortalecimento das grandes corporações coope- necessidade de reconstruir as bases da luta política da
rativadas, incentivando o controle, a fusão e a incorpo- agricultura familiar e a constituição de um novo poder
ração, dificultando sobremaneira as possibilidades de que possa garantir a sua autonomia.
autonomia da organização coletiva familiar e pregando
a integração ao capital. “Os camponeses já dispõem de ciência, tec-
nologia e saberes historicamente constituídos,
Sem uma organização sindical que cumpra o como a agroecologia, a agricultura ecológica, or-
seu papel articulador e representativo da força políti- gânica, etc., que lhes permitem romper com a de-
ca da população agrícola familiar, sem uma resposta pendência tecnológica e organizacional perante o
efetiva do partido político que se voltou muito mais capital. Já vivenciaram, nas mais distintas circuns-
para o exercício das atribuições do Estado e não para tâncias econômicas, sociais e políticas, formas di-
a preocupação de transformar o Estado a serviço dos versas de ajuda mútua e de cooperação, de bene-
interesses da cidadania, a agricultura familiar e a po- ficiamento de seus produtos e de comercialização,
pulação camponesa foram perdendo papel e capaci- facilitando encontrar caminhos menos difíceis de
dade de afirmação efetiva no campo brasileiro, sendo inserção nos mercados controlados pelos oligopó-
empurradas gradativamente para o campo da integra- lios capitalistas”.
ção e se tornando refém da agroindústria ou forçadas
a migrar para os grandes centros urbanos ou regiões Frente ao quadro vivido pelos
de fronteira. agricultores familiares no Bra-
sil, observa-se a urgente ne-
“Os camponeses na sua ampla diversida- cessidade de investir em alter-
de (...) têm sido considerados pela concepção de nativas que possam apoiar sua
mundo capitalista como povos sem destino, por capacidade de construir possi-
considerarem que estão com seus dias contados, bilidades de superação das con-
com suas histórias interrompidas pelo progresso dições difíceis, evitando tam-
e a modernidade burguesa (...)”. “Quanto mais in- bém o risco de acabarem por
tegrados estiverem os camponeses com os valo- se subordinar aos interesses e
72
COOPERATIVISMO E AGRICULTURA FAMILIAR
exploração do grande capital. cer uma nova sociedade igualitária a partir da orga-
Por isso, nada mais importante, nização consistente e da apropriação dos resultados
neste momento, que retomar os econômicos de forma autônoma para, em base a isto,
antigos ideais dos pioneiros e poder construir um novo poder popular hegemônico.
colocar à disposição da popula-
ção camponesa um instrumento No entanto, para colocar o cooperativismo à
fundamental de organização e disposição das populações mais pobres e apostan-
de apropriação do valor do tra- do no instrumental como meio mais adequado na
balho e da produção desenvol- construção de sua inserção produtiva e na busca
vida pelas próprias pessoas em
de desenvolvimento territorial rural sustentável que
ritmo coletivo.
beneficie a todas as pessoas, há muito que fazer:
Com o auxilio dos textos do Módulo III e também com base em seus conhecimentos,
julgue os itens em certo C e errado E.
74
MÓDULO IV – UNIDADES GESTÃO E GOVERNANÇA
COOPERATIVA
1E2
Estamos ainda engatinhando em relação ao
UNIDADE 1 tema da gestão e governança cooperativa. As coo-
perativas que mais avançaram foram as de crédito e
principalmente devido aos debates e encaminhamen-
TERCEIRA PARTE –
tos realizados no âmbito do Banco Central, regulando
FUNCIONAMENTO DAS as condicionantes de sua constituição e funciona-
COOPERATIVAS mento.
A) Metodologia de Planejamento
B) Monitoramento
C) Avaliação
A – O PLANEJAMENTO
1- Declaração da missão:
5- Diagnóstico da situação da
A missão define as responsabilidades e pre- organização
tensões da organização junto ao seu público e
define qual é a sua especificidade, delimitando o O diagnóstico voltado para a cooperativa poderá
ambiente de atuação. Na verdade, a missão define o seguir duas etapas:
projeto político e o “para que serve” a cooperativa em
função de seus associados e o seu público. • Em primeiro lugar definir as nossas compe-
tências e especificidades: O que vamos fa-
2- Visão de negócio da cooperativa zer, a que vamos nos dedicar e qual o campo
de abrangência da atuação.
Vinculada à missão, a cooperativa deve desde
já definir qual a sua visão do negócio no futuro. Esta • Em segundo lugar, devem ser levados em
visão pode ser explicitada na missão ou vir em sepa- conta:
76
GESTÃO E GOVERNANÇA COOPERATIVA
a) Os possíveis apoios que a nossa organiza- como não temos segurança a respeito do futuro, te-
ção detém ou precisa conseguir. remos de imaginar diversas alternativas que são pos-
síveis de ocorrer e nos prepararmos para cada uma
b) Como está constituída a composição do pes- delas da melhor maneira possível.
soal interno, condições, capacidade instala-
da, especializações. A composição dos cenários considera ten-
dências históricas, comportamentos políticos, eco-
c) A estrutura de poder interno, a tomada de nômicos, sociais, culturais, os possíveis caminhos
decisão, a funcionalidade e integração das que a realidade poderá tomar se houver uma de-
diversas instâncias que definem o que deve terminada situação e os outros caminhos em caso
ou não ser feito. de outra situação prevista e também o nosso com-
portamento em relação a estas situações diversas.
d) Os equipamento e instalações, sua funciona-
lidade e adequação. A formulação de cenários é fun-
damental para a tomada de deci-
e) As relações internas entre o quadro de pes- sões. Quanto mais levarmos em
soal, entre os associados. conta as possibilidades futuras
mais conseguiremos acertar e
f) As relações com o público atendido, a capa-
produzir bons resultados.
cidade de diálogo e compreensão dos pro-
blemas colocados.
8– Definições estratégicas
6- Fatores críticos
Levando em conta as nossas potencialidades,
Nesta parte consideramos dois aspectos: antes de definir os objetivos, há necessidade de es-
colher elementos básicos que orientam o rumo da
a) O que é mais problemático e que precisa ser nossa atuação.
enfrentado de imediato para que não seja co-
locado em risco o sucesso da iniciativa. Nes- Perguntas poderiam ser coloca-
se aspecto levamos em conta as fragilidades das e deveriam ser respondidas,
e as ameaças detectadas tanto na realidade como por exemplo:
como em nossa organização.
a) Devemos focar e priorizar a competência
b) O que é prioritário para a organização, que profissional, a divulgação do nosso trabalho,
deve merecer maior esforço para ser alcan- a diferenciação qualitativa dos nossos produ-
çado. Aqui nos preocupamos com os pontos tos, a relação custo-benefício?
centrais de nossa atuação, levando em conta
demandas e possibilidades de sucesso futu- b) Teremos uma linha de intervenção focando
ro. Seria como que os campos de atuação nos clientes, nas suas demandas ou nos
que nós decidimos apostar e que, na nossa preocupamos mais com um serviço de quali-
visão, nos levarão a bons resultados. dade que os atraia à nossa cooperativa?
das estratégias, as novas dificuldades enfrentadas e A construção dos termos de referência é res-
aponta para os ajustes que devem ser implementados. ponsabilidade de todos os integrantes da organização
cooperativa. É evidente que existem aspectos que nos
O monitoramento constitui-se numa interessam mais e outros menos, mas pode ocorrer
espécie de “avaliação do caminho que a gente não dê atenção a alguns aspectos fun-
que está sendo percorrido” e, dessa damentais e aí a cooperativa começa a ter problemas
maneira, acaba por ser uma “ponte” exatamente em relação a estes pontos e às vezes aí,
entre o planejamento e a avaliação. se não os prevemos com antecedência podem produ-
zir situações incontornáveis.
Os critérios básicos que devem nortear o moni-
toramento são os seguintes: Apresentamos a seguir relação limitada de ter-
mos de referência28. Os integrantes da cooperativa
a) Relevância do projeto (o projeto conse- deverão de comum acordo, revê-los e eventualmente
guiu superar o problema proposto pela criar outros.
análise do diagnóstico e pelo objetivo?).
I- QUESTÕES RELACIONADAS AO
b) Eficácia (o projeto foi adequado e está
DESENVOLVIMENTO HUMANO
conseguindo alcançar o que se propu-
nha?) 1. Os associados estão identificados com as
finalidades da cooperativa?
c) Eficiência (o projeto conseguiu realizar
seus objetivos com um mínimo de recur- 2. Há fidelidade da administração com o que
sos?) é definido pela Assembleia?
C – AVALIAÇÃO
7. Qual o índice de margem de garantia (re- 10. Como ocorre a distribuição dos benefí-
lação entre o ativo real (disponível + rea-
cios?
lizável + imobilizado) com o passivo real
exigível + não exigível)?
V- QUESTÕES REFERENTES À
8. Qual o índice de rentabilidade do ativo ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
(relação entre sobra operacional e ativo
total)? 1. Como está a distribuição de tarefas no
âmbito interno da cooperativa?
9. Qual o índice de lucratividade (relação en-
tre a sobra operacional e a receita opera-
2. Como é exercida a autoridade e como são
cional)?
cobradas as responsabilidades?
10. A mão de obra necessária à cooperativa
está disponível, é competente e eficiente? 3. Como está a qualificação do pessoal, se-
jam ao nível administrativo, seja ao nível
11. Temos tecnologia adequada? social?
A) OS DIVERSOS TRIBUTOS
vando-se que a parcela tributável corresponderá a (Lei O agricultor familiar é classificado em relação à
7.713/88, art. 9º, incorporado ao art. 629 do RIR/99): Previdência como Produtor Rural e a base de cálculo
40% (quarenta por cento) do rendimento decorrente do das contribuições sociais devidas é o valor da receita
transporte de carga e de prestação de serviços com
bruta proveniente da comercialização da sua produção
trator, máquina de terraplenagem, colheitadeira e as-
e dos subprodutos e resíduos, na alíquota de 2,3%
semelhados; 60% (sessenta por cento) do rendimento
decorrente do transporte de passageiros. que, no caso de associado, deverá ser recolhido pela
própria cooperativa.
Os resultados oriundos das operações de atos
não cooperativos, que são tributadas pelo IRPJ e A cooperativa pagará INSS normal sobre os
CSLL, não se sujeitam a qualquer retenção na fonte
seus funcionários. Caso a cooperativa remunere autô-
e também não integrarão o lucro tributável dos asso-
nomos ou dirigentes não empregados ou cooperados,
ciados porque devem ser destinados integralmente ao
incidirá sobre respectiva remuneração o valor para o
Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social –
FATES. INSS de 20%. No entanto, a cooperativa de trabalho
não está sujeita á contribuição INSS (20%) em relação
As importâncias pagas ou creditadas pelas pes- aos valores pagos aos respectivos cooperados, a título
soas jurídicas a cooperativas de trabalho, relativas a de serviços prestados a empresas. Observe que esta
serviços pessoais que lhes forem prestados por asso- isenção não abrange valores relativos à remuneração
ciados destas ou colocados à disposição estão sujeitos de empregados e de dirigentes, cujo INSS será nor-
à retenção do imposto de renda na fonte pela alíquota mal. Para as cooperativas de trabalho, a contribuição
de 1,5% (Lei 8.981/95, art. 64). Este valor será com- INSS a cargo da empresa contratante é de 15% sobre
pensado com o imposto que tiver que ser retido pela o valor bruto da nota fiscal, relativamente aos serviços
cooperativa, por ocasião do pagamento ao associado.
prestados por cooperativas de trabalho (item IV do art.
22 da Lei 8.212/1991). Como se trata de uma despesa
Os juros de 12% sobre o capital social, pagos ou
da empresa contratante, não há que se falar em conta-
creditados aos cooperados, sujeitam-se à tributação
como rendimentos de aplicações financeiras de renda bilização do respectivo valor do INSS, pela cooperativa
fixa. Portanto, estão sujeitos à retenção do imposto de de trabalho.
renda na fonte (art. 16 da IN SRF 25/2001).
A cooperativa de trabalho é obri-
Fica dispensada a retenção do imposto de renda gada a arrecadar a contribuição
na fonte sobre os rendimentos em aplicações financei- previdenciária do contribuinte in-
ras realizadas pelas cooperativas de crédito em outras
dividual a seu serviço, mediante
instituições financeiras, não cooperativas. Mas, estão
desconto na remuneração paga,
sujeitos à retenção na fonte os rendimentos decorren-
tes de aplicações financeiras de renda fixa e de renda devida ou creditada a este segu-
variável, pagos ou creditados por cooperativas de cré- rado.
dito a seus associados, em função de aplicações nas
mesmas (conforme IN SRF 333/2003). As alíquotas são de 11% (onze por cento) do va-
lor da parte distribuída ao cooperado por serviços por
3. INSS ele prestados, por seu intermédio, a empresas e 20%
(vinte por cento) em relação aos serviços prestados a
Cada cooperado deverá ter sua própria matrí- pessoas físicas (conforme § 31 do artigo 216 do De-
cula no INSS, recolhendo a contribuição pela GPS creto 3.048/99). Finalmente, as Cooperativas recolhem
individual. A cooperativa de trabalho e a pessoa ju- ao Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperati-
rídica são obrigadas a efetuar a inscrição no Instituto
vismo – SESCOOP, 2,5% (dois vírgula cinco por cen-
Nacional do Seguro Social - INSS dos seus coopera-
to), incidente sobre o montante da remuneração paga
dos ou contribuintes individuais contratados, respecti-
vamente, caso estes não comprovem sua inscrição na a todos os empregados, em substituição a contribuição
data da admissão na cooperativa ou da contratação até então efetuada para SENAR, SENAI, SESI, SESC,
pela empresa. SENAC, SEST, SENAT.
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
e) As receitas financeiras decorrentes de repas- dito, seleção e riscos, administração de contas a pagar
se de empréstimos rurais contraídos junto a e a receber, bem como pela remuneração de serviços
instituições financeiras, até o limite dos en- profissionais, estão sujeitos à retenção na fonte da
cargos a estas devidos. CSLL, da COFINS e do PIS.
A contribuição sindical patronal consiste numa 7.6% e as de crédito, 4,0% sobre a receita
importância proporcional ao seu capital social, confor- mensal.
me o registro nas respectivas Juntas Comerciais, me-
diante aplicação de determinadas alíquotas, de confor- b) PIS – 0,65% sobre a receita mensal e mais
midade com o disposto no art. 580, inciso III, da CLT, 1% sobre a folha de pagamento dos empre-
devendo ser recolhida no mês de janeiro de cada ano.
gados. As cooperativas agropecuárias e as
As empresas estabelecidas após o mês de janeiro pa-
de consumo contribuem com 1,65% sobre a
gam a aludida contribuição no mês em que apresen-
tarem o requerimento da licença para funcionamento. receita mensal.
A mesma Lei n° 5.764/71 – artigo 107 - estabe- Ramo Transporte utilizará base de cálculo
leceu a obrigatoriedade da filiação das cooperativas à reduzida para o recolhimento do respectivo
estrutura da Organização das Cooperativas Brasileiras, INSS.
OCB, e estabeleceu o pagamento de uma taxa de 10%
(dez por cento) do salário mínimo vigente, se a soma II – Pagos pela cooperativa em função
do respectivo capital integralizado e fundos não exceder
dos Empregados:
de 250 (duzentos e cinquenta) salários mínimos, e 50%
(cinquenta por cento) se aquele montante for superior. a) INSS - 20% sobre a folha de pagamento de
Como o referido artigo da Lei contraria determinação
funcionários, mais 1%, 2% ou 3% dependen-
da Constituição Federal, a filiação à OCB não mais é
do do grau de incidência da capacidade labo-
obrigatória. Por isso, o pagamento desta taxa somente
é devido às cooperativas que optarem filiação à OCB. rativa, mais 5,8% devido a outras entidades,
se não tiver convênio com o salário educa-
ção.
http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L5764.htm b) FGTS – A alíquota de 8% sobre a folha de
empregados.
Com o auxilio dos textos do Módulo IV e também com base em seus conhecimentos,
julgue os itens em certo C e errado E.
1. O Planejamento nos ajuda a definir onde desejamos atuar, o que desejamos alcan-
çar/ mudar, como e quem vai atuar no processo de atuação, quais ações serão de-
senvolvidas, de que modo e com quais condições tudo isso será realizado.
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
4. Por que o cooperativismo pode ser importante e é necessário para a agricultura fami-
liar?
b) Constituição Federal
7. Entre as regulações das cooperativas que podem ser vistas como positivas, julgue os
itens CERTOS:
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
c) Lei da Agricultura Familiar (Lei n° 11.326/2006) – Apesar de não ser uma lei es-
pecífica do cooperativismo, há de saudar como muito importante a aprovação da
lei que reconheceu institucionalmente a agricultura familiar no país.
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
b) Processo preparatório
c) A fundação
d) O registro
( ) O primeiro passo é, sem dúvida, realizar um esforço imenso para fazer fun-
cionar mecanismos que efetivamente compreendam as relações humanas
e consigam fazer comportamento pessoal, à subjetividade, às diferenças
existentes entre as pessoas para constituir uma iniciativa coletiva sólida.
( ) Será realizado mediante uma assembleia. Nela deverá ser aprovado o es-
tatuto social, definidos os associados fundadores e eleitas as pessoas para
os cargos estabelecidos no estatuto.
11. De acordo com o re speito dos valores e a definição dos princípios cooperativistas,
julgue os itens em certo C e errado E.
As cooperativas:
( ) se baseiam nos valores de ajuda mútua, responsabilidade, democracia,
igualdade, equidade e solidariedade.
( ) são organizações onde não há democracia, onde seus membros não tem
voz ativa, portanto não participam ativamente da definição de suas políticas
e na tomada de decisões.
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
c) Cooperativas de trabalho
( ) São as que agrupam associados com uma mesma profissão e que orga-
nizam e vendem em comum o seu trabalho, buscando fontes de ocupação
estáveis e mais compensadoras.
a) Cooperativas unifuncionais
b) Cooperativas multifuncionais
c) Cooperativas integrais
15. De acordo com os ramos mais comuns na atividade comum das cooperativas, julgue
os itens em certo C e errado E.
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
16. O Planejamento nos ajuda a definir onde desejamos atuar, o que desejamos alcan-
çar/ mudar, como e quem vai atuar no processo de atuação, quais ações serão de-
senvolvidas, de que modo e com quais condições tudo isso será realizado. Conside-
rando a assertiva, relacione as colunas:
a) Declaração da missão
d) Cenários
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
( ) Formular objetivos é descer para o plano tático e busca, para cada objetivo,
como concretizar a ação levando em conta as oportunidades, as fraquezas, as
ameaças e as forças existentes no ambiente em que situa a nossa organização.
( ) A Constituição Federal diz em seu artigo 146, III, “c” que uma Lei Complementar
deverá estabelecer normas sobre o “adequado tratamento tributário ao ato coo-
perativo praticado pelas sociedades cooperativas”.
( ) Deixa claro, quais as condições que fazem com que associados de uma
cooperativa podem perder ou manter sua condição de segurados especiais,
o que tem se constituído em debate importante nos últimos anos.
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
20. Viabilidade econômica, diz respeito à análise das possibilidades econômicas de so-
brevivência da cooperativa. De acordo com o assunto, relacione a 1ª coluna de acor-
do com a 2ª:
d) Condições de mercado
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OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS E TRABALHISTAS DA COOPERATIVA
Referências Bibliográficas
ARANZADI, Dionísio. Cooperativismo industrial como sistema, empresa y experiência. Bilbao: Univ.
de Deusto, 1976.
DRIMER, Alícia Kaplan de; DRIMER, Bernando. Las Cooperativas. Buenos Aires: Intercoop, 1981.
SANTOS, Boaventura de Souza. Produzir para viver: Os caminhos da produção não capitalista. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
RECH, Daniel. Cooperativas: Uma alternativa de Organização Popular. Rio de Janeiro: FASE, 1995.
RECH, Daniel. Análise das diversas regulações (leis, decretos e projetos de lei) relacionadas ao in-
teresse das entidades cooperativas no âmbito solidário, especialmente no que tange a aspectos de
constituição, promoção, controle e funcionamento. Brasília: IICA, 2012.
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