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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MCP PROCESSO Nº 31.752/17


ACÓRDÃO

B/P “MARIANA III”. Morte de pescador, ocorrido durante pescaria enquanto


o barco estava fundeado em mar aberto, na costa do município de Paracuru -
CE, sem ocorrência de danos materiais, tampouco registro de poluição ao
meio ambiente hídrico. Imprudência da própria vítima. Arquivamento.

Vistos os presentes autos.


Tratam os presentes autos de inquérito instaurado pela Capitania dos Portos
do Ceará, por força da Portaria nº 4/CPCE, de 26 de janeiro de 2017, para apurar as
circunstâncias do fato da navegação, tipificado no artigo, 15, alínea “e”, da Lei Orgânica
deste Tribunal (Lei nº 2.180/54), caracterizado com a morte do Sr. Crisanto Figueiredo
dos Santos, pescador no barco “MARIANA III”, com 9,74m de comprimento, 7.8 AB,
registrado, sob o nº da 161006399-6 no Porto do Ceará, classificado para atividade de
pesca, em área de navegação mar aberto - cabotagem, ocorrido em 22 de janeiro de 2017,
enquanto o navio estava fundeado em mar aberto, na costa do município de Paracuru -
CE. Com pedido de arquivamento pela D. Procuradoria Especial da Marinha - PEM (fls.
80 a 82), pelos seguintes fatos e fundamentos.
Consoante aos autos, que no dia 17 de janeiro de 2017, o B/P “MARIANA
III” suspendeu da Praia do Farol, no município de Paracuru - CE com destino a área de
pesca, estavam a bordo o Sr. José Alves da Costa, mestre do B/P; o Sr. Auricelio Lopes
Dantas, pescador tripulante; o Sr. José Rocha Oliveira de Souza, pescador tripulante, e o
Sr. Crisanto Figueiredo dos Santos, conhecido como “GROSSO” pescador tripulante e
vítima.
No quinto dia de mar, ou seja dia 22 de janeiro de 2017, o B/P encontrava-se
fundeado com a sua tripulação descansando, quando por volta das 18h, o mestre da
embarcação acordou e se dirigiu à cabine de comando. Quando lá chegou encontrou o
pescador Crisanto que ao vê-lo, menciona que estava vendo um homem e que, inclusive,
esse homem estava ao lado do mestre, após um breve diálogo entre os dois, o pescador
Crisanto sai da cabine de comando e pula no mar.
Ao perceber que o pescador havia pulado no mar, o Sr. José Alves dá o
alarme de homem ao mar e determina que fosse jogada uma boia (boia de isopor
amarrada a um cabo). Em seguida o Sr. Auricelio pula no mar, alcança a vítima que já

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estava agarrado a boia, e ambos são puxados para próximo ao barco, porém quando o
Crisanto foi resgatado e colocado no convés já estava desfalecido sem apresentar nenhum
sinal vital, conforme relato das testemunhas.
Não obstante a ausência de sinais vitais, a tripulação imediatamente tomou
iniciativa de aplicar massagem cardíaca e respiração boca a boca, porém não obtiveram
êxito em reanimar o Sr. Crisanto.
A embarcação suspendeu da posição em que se encontrava em direção a área
das plataformas do campo petrolífero do Ceará. Chegando nas proximidades de uma das
plataformas que estava localizada cerca de 6MN do local onde ocorreu o fato, o corpo da
vítima foi transferido para bordo de uma embarcação de apoio marítimo, que o
transportou até o cais do Terminal Petrolífero de Paracuru, onde em seguida foi
encaminhado ao Instituto Médico Legal.
Os Peritos em Laudo de Exame Pericial, (fls. 51 a 56), ilustrado com fotos
atestaram que embarcação apresentava estado de conservação bom, no que diz respeito as
condições de navegabilidade, inclusive com o seu material de salvatagem completo.
Constataram durante as entrevistas com os outros tripulantes, que a vítima
quando embarcou não apresentava nenhum sinal de transtorno mental ou orgânico, porém
no decorrer da viagem, especialmente no dia 22 de janeiro, em alguns momentos
apresentava sinal de que estava acometido de algum problema psicológico, pois alegava
ver outras pessoas a bordo além daquelas que efetivamente compunham a tripulação.
Concluíram que o fator humano contribuiu para o acidente pois a vítima,
conforme relato dos demais pescadores, no dia do acidente apresentou sinais claros de
algum tipo de perturbação psíquica. E apontam como a causa determinante do óbito do
Sr. Crisanto Figueiredo dos Santos, a asfixia provocada por afogamento motivada pela
própria atitude da vítima quando decidiu se jogar ao mar por vontade própria. No entanto
ressaltam que de acordo com indícios, a vítima estava acometida de alguma perturbação
mental.
Inobstante o óbito do Sr. Crisanto Figueiredo dos Santos, inexistiram danos
materiais e tampouco registro de poluição hídrica no ambiente marinho.
No relatório (fls. 65 a 72), o encarregado do inquérito após descrever,
características da embarcação, analisar e transcrever resultado da perícia, resumir o
depoimento, sequência e consequências do fato, em uniformidade de entendimento com
os peritos concluiu que a causa do acidente que vitimou o pescador Crisanto Figueiredo
dos Santos foi asfixia provocada por afogamento decorrente da própria atitude da vítima

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de pular no mar. E em que pese os evidentes indícios de que o pescador estava passando
por um momento de perturbação mental, constata-se que o fato ocorreu em decorrência
de imprevidência da própria vítima quando, por vontade própria, resolveu pular no mar.
Juntados aos autos documentos de praxe, inclusive CD com as principais
peças do IAFN.
Após análise dos autos, a D. Procuradoria Especial da Marinha em
manifestação (fls. 80 a 82) requereu o arquivamento dos presentes autos, com
entendimento que “figura do laudo pericial que a vítima estava acometida de alguma
perturbação mental, razão pela qual, é possível afirmar, também, que mesmo a vítima
tendo pulado no mar por vontade própria, no momento da ação encontrava-se alheia aos
riscos que poderiam advir da sua atitude.
Diante do exposto, verifica-se que o presente incidente decorreu de culpa
exclusiva da própria vítima fatal, tendo sido a sua punibilidade extinta em razão do
óbito”.
Publicada nota de arquivamento, os prazos foram preclusos sem que
interessados se manifestassem.
Decide-se.
De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e
extensão do fato da navegação sob análise, tipificado no art. 15, alínea “e” da Lei nº
2.180/54, caracterizadas como morte de pescador, ocorrido durante pescaria enquanto o
barco estava fundeado em mar aberto, na costa do município de Paracuru - CE. E que as
provas colhidas em sede de inquérito e não destruídas por prova contrária dão conta de
demonstrar que a causa determinante para o evento foi a provável culpa exclusiva da
própria vítima, o senhor Crisanto Figueiredo dos Santos pela atitude de pular no mar. E
em que pese os evidentes indícios de que a vítima estava passando por um momento de
perturbação mental, constata-se que o fato ocorreu em decorrência de imprevidência da
própria vítima quando, por vontade própria, resolveu pular no mar.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: morte de pescador, ocorrido durante pescaria
enquanto o barco estava fundeado em mar aberto, na costa do município de Paracuru -
CE, sem ocorrência de danos materiais, tampouco registro de poluição ao meio ambiente
hídrico; b) quanto à causa determinante: imprudência da própria vítima; c) decisão: julgar
o fato da navegação, previsto no art. 15, alínea “e” da Lei nº 2.180/54, como imprudência

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da própria vítima, mandando arquivar os autos, conforme requerido pela D. Procuradoria
Especial da Marinha - PEM, em sua promoção de fls. 80 a 82.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 13 de junho de 2019.

MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA


Juíza Relatora

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.

Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA
MARINHA
Dados: 2019.10.02 10:46:42 -03'00'

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