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Capítulo 5: Ligações por veios e cubos canelados

(veios estriados)

Informações gerais

As ligações por veios e cubos canelados ou veios estriados são ligações em


que se usa um veio cilíndrico com dentes longos, que se encaixam em ranhuras
executadas em cubos.

As estrias das ligações por veios e cubos


canelados estão uniformemente
distribuídas ao longo da superfície externa
do veio e superfície interna do cubo. Este
tipo de ligações tem dimensões e
ajustamentos normalizados
fig. 1 - Veios e cubos canelados

As ligações por veios e cubos canelados constituem um extensão das ligações


chavetadas, podendo ser concebidas como ligações chavetadas com muitas chavetas
soldadas sobre o veio. Usam-se em substituição das ligações chavetadas comuns
quando as ligações por chavetas não conferem a capacidade de carga (ou resistência)
requerida. As ligações por veios e cubos canelados têm maior capacidade de carga
que as ligações chavetadas, graças às multiplicidade das superfícies que transmitem a
carga e menor grau de fragilização do veio.

As peças para as ligações por veios e cubos canelados têm vasta aplicação e
são produzidas em massa. A produção destas peças requer processos que permitem
obter boa precisão de fabricação. Comummente, usam-se processos como
brochamento, mandrilagem e rectificação.

Segundo as normas, existem 3 séries de ligações: ligeira, média e pesada.


Estas séries distinguem-se no número e profundidade das estrias. O número de
estrias pode variar de 6 a 20.

Os dentes das ligações por veios e cubos canelados podem ter diversos perfis:
com flancos paralelos, de evolvente e triangular. A última forma não é muito popular
para transmissão de cargas e por isso não será analisada.

Ligações com dentes de flancos paralelos

Nas ligações com dentes de flancos paralelos, as estrias têm flancos rectos. É
através destes flancos que se transmite a carga do veio ao cubo. Usam-se três tipos
de centragem:

- pelos flancos (fig. 2 - a)

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- pelo diâmetro externo D (fig. 2 - b)

- pelo diâmetro interno d (fig. 2 - c)

A centragem pelos diâmetros é aconselhável quando se exige boa centragem


entre o cubo e o veio.

fig. 2-Centragem do veio sobre o cubo

Centragem pelo diâmetro interno d: é conveniente nos casos em que o cubo é


muito duro e o seu brochamento é, portanto, difícil. Assim, em vez de se brochar o
diâmetro externo no cubo, procede-se à rectificação circular do diâmetro interno d do
cubo e também se rectificam os fundos das estrias do veio, longitudinalmente. Não é
prático rectificar as estrias do cubo na direcção longitudinal por haver falta de espaço
para o deslocamento da ferramenta e seu suporte dentro do furo do cubo. Esta
restrição não se coloca no veio pois as dimensões são exteriores em vez das interiores
no cubo. Este tipo de centragem também se usa quando o tratamento térmico pode
levar ao empenamento longitudinal do veio.

Centragem pelo diâmetro externo D: é económica e precisa, mas só se usa


quando o cubo não tem muito alta dureza e pode, portanto, ser calibrado depois do
tratamento térmico por meio de uma brocha. O veio é rectificado usando o simples
procedimento para rectificação de superfícies cilíndricas externas. A dureza máxima
recomendada para utilização deste tipo de centragem é HB 350. A centragem pelo
diâmetro externo pode ser usada para ligações fixas e móveis.

Centragem pelos flancos (faces laterais): é conveniente quando se requer baixa


folga lateral ou quando se pretende uma boa distribuição de carga pelos dentes da
ligação. Por isso, é conveniente usar este tipo de centragem para peças com carga
reversível. Este tipo de centragem não garante tão grande precisão quanto a
centragem pelos diâmetros.

Ligações com dentes de perfil de evolvente

fig.3-Flancos de perfil envolvente

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As ligações com flancos de perfil evolvente usam-se para peças com grandes
diâmetros, para os quais é prático produzir os dentes internos. O perfil de evolvente é
mais caro que o de flancos paralelos. Este tipo de construção é muito similar à
construção de rodas dentadas com dentes rectos comuns. Uma das diferenças é que
nas rodas dentadas o dente é alto (mais de 2⋅m) enquanto que nas ligações por veios
e cubos canelados a altura do dente é de apenas (0,9 ... 1)⋅ m, onde m é o módulo [O
módulo é a relação entre o diâmetro de referência e o número de dentes, mas é
definido como a relação entre o passo circular e π. É uma das características
dimensionais mais importantes das rodas dentadas]. A outra diferença é que o ângulo
de inclinação da linha em que a força se faz sentir aumenta de 20º para cerca de 30º.

O grau de debilitação do veio nas ligações com dentes de perfil de evolvente é


menor que nas ligações por meio de dentes com flancos paralelos porque o raio de
curvatura na concordância entre superfícies no fundo da ranhura é muito maior
naquelas.

A centragem entre o cubo e o veio tanto pode ser feita pelos flancos [fig. 3- a),
que é a opção mais popular] como pelo diâmetro externo D. [fig. 3 – b)]. As ligações
com dentes de perfil de evolvente tanto podem ser fixas como móveis.

Critérios de capacidade de trabalho


Os critérios de capacidade de trabalho das ligações por veios e cubos
canelados são:

1. Resistência das superfícies activas ao esmagamento

A resistência ao esmagamento expressa a capacidade das peças resistirem às


pressões geradas nas superfícies de contacto. É usada como base para quase todos
os cálculos, mesmo quando se tem em vista outro tipo de danificação. A carga que
causa o esmagamento é considerada estática.

2. Resistência à danificação por desgaste corrosivo do tipo "fretting" .

A resistência ao desgaste corrosivo expressa a capacidade das peças resistirem


ao desgaste provocado por pequenas oscilações relativas das superfícies em contacto,
na presença de elementos corrosivos tais como óxidos. É um fenómeno que pode ser
notado em estruturas que vibram e estão pouco apertadas. Nas ligações por veios e
cubos canelados, este fenómeno pode ser associado a oscilações causadas por
momentos flectores de sentido constante em ligações giratórias. Estes momentos
flectores podem dever-se a forças axiais nas engrenagens, forças unidireccionais em
consola nas polias, rodas estreladas, etc. A característica destas cargas é que são
cíclicas e podem causar desgaste localizado mesmo quando os deslocamentos são de
pequena magnitude.

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fig.4-Surgimento de momentos flectores que
podem causar micro-deslocamentos

A figura 4 mostra uma ligação em que a força normal no engrenamento de uma roda
dentada Fn = Ft 2 + Fr2 está descentrada relativamente à secção média do cubo. Para
além disso, existe uma força axial Fa descentrada relativamente ao eixo do cubo, no
mesmo engrenamento. Assim, identificam-se os seguintes momentos flectores:

dw
M rot1 = Fn ⋅ e ; M rot 2 = Fa ⋅
2

O momento flector resultante depende da coincidência dos sentidos dos


momentos das forças normal e axial, podendo ser expresso por:

M rot = M rot1 ± M rot 2

Este momento causa concentração de tensões em determinados pontos da


ligação e as tensões que se verificam são cíclicas. As diferenças nas deformações do
cubo e do veio devidas ao momento resultante provocam micro-deslocamentos
relativos entre as superfícies da ligação por veio e cubo canelados, com o risco de
surgimento de desgaste.

Cálculo da ligação

a) cálculo simplificado, pelo critério generalizado

O cálculo pelo critério generalizado é feito para limitar a tensão de


esmagamento. A fórmula é similar à das ligações chavetadas:

2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ] (chav 5)
K irr ⋅ d m ⋅ z ⋅ h ⋅
onde:
[σesm] – é o valor admissível da tensão de esmagamento, em MPa.
T – é o momento torsor (torque) nominal no veio, em N⋅mm;
Kirr – é o coeficiente de irregularidade de distribuição da carga pelos dentes:
Kirr = 0,7 ... 0,8;
z – é o número de dentes (ou estrias) das peças da ligação;

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- é o comprimento de trabalho dos dentes, i.e., comprimento das superfícies
de contacto entre o veio e o cubo, em mm;
dm – diâmetro médio da ligação, i.e., diâmetro médio das superfícies de contacto
entre o veio e o cubo, em mm;
h – é a altura de trabalho dos dentes, i.e., altura das superfícies de contacto
entre o veio e o cubo, em mm;

h = 0,5⋅(D-d) - 2⋅f ; dm = 0,5⋅(D+d)

fig.5-Dentes de flancos rectos (paralelos)

onde:
D – é o diâmetro externo do veio, i.e., diâmetro das cristas das saliências;
d – é o diâmetro interno do veio, i.e., diâmetro dos fundos das estrias;
f – é a altura do chanfro.

Para dentes com perfil de evolvente:

h ≈ m; dm = m⋅z
onde:
m – é o módulo dos dentes;

A tensão admissível [σesm] pode ser seleccionada da tabela 6.1 para maquinaria
geral e para máquinas de elevação e transporte. Para máquinas-ferramentas, os
valores de [σesm] são reduzidos. Recomendam-se:

[σesm] = 12 ... 20 MPa, para ligações fixas e


[σesm] = 4 ... 7 MPa para ligações móveis sem carga.

Para aligeirar a construção de aviões, podem ser usados os valores:

[σesm] = 50 ... 100 MPa.


2 ⋅T
Nas fórmulas para o cálculo da resistência a relação representa a força
dm
tangencial total no veio e o produto h ⋅ representa a área de contacto de uma estria.

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b) Cálculo ao esmagamento

O cálculo ao esmagamento é feito para evitar deformações plásticas das


superfícies de trabalho dos dentes. Neste cálculo, a fórmula para cálculo pelo critério
generalizado (chav 5) é simplificada para:

2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ] (chav 6)
dm ⋅ z ⋅ h ⋅
mas a tensão admissível é calculada usando a fórmula:

σe
[σ esm ] = (chav 7)
s ⋅ K irr ⋅ K ⋅ K erro ⋅ K d
onde:
s – é o coeficiente de segurança da resistência: s = 1,25 ... 1,4; os menores
valores são para superfícies não temperadas e os maiores para
superfícies temperadas;
Kirr – é o coeficiente de irregularidade da distribuição da carga (tabela 6.2, onde
F ⋅d
ψ = n m ; para ligações por cubos canelados que suportam uma
2 ⋅T
dm
engrenagem ψ = ; note-se que dm é parâmetro da ligação
d w ⋅ cos α w
por veio e cubo canelados e dw é o dirâmetro da engrenagem; α é o
ângulo de pressão da engrenagem, tipicamente próximo de 20º).

fig.6-Diagrama para escolha de Ke

K – é o coeficiente de longevidade: K = Kc + Ke - 1 ;
Kc – coeficiente de concentração das tensões de torção do veio (tabela 6.3);
Ke – coeficiente de concentração das tensões por assimetria da disposição da
M
coroa relativamente ao cubo (fig. 6) em função do parâmetro ε = rot (fig.
Fn ⋅
6); para ligações com roda dentada de dentes rectos entre o cubo dentado
e
e o veio tem-se ε = e para uma roda dentada com dentes inclinados

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e
ε= ; o sinal “+” usa-se quando Mrot1 e Mrot2 têm os
dm
± 0,5 ⋅ ⋅ tgβ ⋅ cos α w

mesmos sentidos; quando só há torção Ke = 1; recorda-se que:


d
M rot1 = Fn ⋅ e ; M rot 2 = Fa ⋅ w
2

Kerro – coeficiente de concentração das tensões devido a erros de fabricação:


quando os erros no passo e no paralelismo são menores que 0,02 mm
Kerro = 1,1 ... 1,2; em casos de pior precisão de fabricação usa-se
Kerro = 1,3 ... 1,6; depois do amaciamento (ou assentamento) o coeficiente
Kerro = 1; porém, o amaciamento só é possível quando a dureza das
superfícies de contacto de pelo menos uma das peças da ligação não é
superior a HB 350 ou HRC 35.
Kd – coeficiente de carga dinâmica – para carga alternada sistemática
(reversível mas sem choques) Kd ≈ 2, para carga pouco reversível;
Kd ≈ 2,5 para o cálculo ao esmagamento de superfícies não temperadas;
se os picos de carga forem raros deve-se diminuir o valor Kd ; quando só
se verificam sobrecargas de arranque o coeficiente de carga dinâmica é
Kd = Tarr/Tnom = 1,4 ... 1,6, onde Tarr e Tnom são os momentos de arranque
e nominal do motor eléctrico.

c) Cálculo ao desgaste

O cálculo ao desgaste destina-se a prevenir a ocorrência de desgaste nos casos


em que se verificam deslocamentos relativos entre as peças ligadas. Na essência, a
limitação do desgaste é feita escolhendo convenientemente a tensão admissível de
esmagamento, pelo que a fórmula utilizada ainda é a (chav. 6):

2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ]desg (chav 8)
dm ⋅ z ⋅ h ⋅

mas a tensão admissível é calculada usando a fórmula:

[σ esm ]cond
[σ esm ]desg = (chav 9)
K ´
irr ⋅ K ⋅ K var ⋅ K cic ⋅ K lub ⋅ K ax

onde:
[σesm]cond. – é tensão de esmagamento condicional, para 108 ciclos de
carregamento, sob regime constante, cujo valor pode ser extraido da
tabela 6.5;

´
K irr - é o coeficiente de irregularidade da carga para o cálculo ao desgaste
(tabela 6.2);

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K – é o coeficiente de longevidade, que considera a concentração de
tensões, tal como para o cálculo ao esmagamento;
Kvar – é o coeficiente de variação da carga (tabela 6.4); é um coeficiente de
regime Kr ;
Kcic – coeficiente do número de ciclos de micro-deslocamentos:

N
K cic = 3 (Chav 10);
10 8
N – é o número de ciclos de micro-deslocamentos: N = 60⋅t⋅n ;
t – é o tempo de vida projectado, em horas;
n – é a frequência de rotações, em rpm;

Klub – é o coeficiente de lubrificação:


- Klub = 0,7 - para lubrificação sem contaminação;
- Klub = 1,0 - para lubrificação em condições médias;
- Klub = 1,4 - para lubrificação com contaminação;
Kax – é o coeficiente de movimento axial:
- Kax = 1 para ligações fixas;
- Kax = 1,25 para ligações móveis sem carga;
- Kax = 3 para ligações móveis sob carga;

Tabela 6.1 - Tensões admissíveis para veios e cubos estriados

Condições [σ esm ], em MPa


de
Tipo de ligação ≤HB350 ≥HB350
exploração
Fixa a 30...50 40...70
b 60...100 100...140
c 80...120 120...200
Móvel sem carga (por a 15...20 20...30
exemplo, caixa de b 20...30 30...60
velocidades)
c 25...40 40...70
Móvel, sob carga (por a _ 3...10
exemplo, veio de b _ 5...15
transmissão do camião)
c _ 10...20
NOTAS: a - Condições de exploração pesadas - carga muito variável e choques;
vibrações com altas frequência e amplitude; nas condições de lubrificação
grosseira
b - Condições de exploração medianas
c - Boas condições de exploração: para regime de funcionamento médio
(tabela 6.4)

Os menores valores são para regimes ligeiros (mais leves).

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Tabela 6.2 - Coeficientes de irregularidade da distribuição da carga

ψ 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75

K irr 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0 2,1 2,2 2,4 2,7 3,0
K ´irr 1,1 1,2 1,4 1,6 1,9 2,2 2,5 3,0 3,7 4,5

´
Para ligações carregadas apenas por um torque K irr = K irr

Tabela 6.3 - Coeficientes de concentração de tensões

Diâmetro Valor de Kc, para l/D

Série da D. mm
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Ligação

até 26 1,3/1,1 1,7/1,2 2,2/1,4 2,3/1,5 3,2/1,7


Ligeira 30 ...50 1,5/1,2 2,0/1,3 2,6/1,5 3,3/1,8 3,9/1,9
58...120 1,8/1,3 2,6/1,4 3,4/1,7 4,2/2,0 5,1/2,2

até 19 1,6/1,2 2,1/1,3 2,8/1,5 3,5/1,7 4,1/1,9


20...30 1,7/1,2 2,3/1,4 3,0/1,6 3,8/1,9 4,5/2,1
Média 32...50 1,9/1,3 2,8/1,5 3,7/1,8 4,6/2,1 5,5/2,3
54...112 2,4/1,4 3,5/1,7 4,8/2,1 5,8/2,4 7,0/2,8
> 112 2,8/1,5 4,1/1,9 5,5/2,5 6,8/2,7 8,2/3,1

até 23 2,0/1,3 3,0/1,6 4,0/1,9 5,0/2,2 6,0/2,5


23...32 2,4/1,4 3,5/1,8 4,7/2,1 5,7/2,4 7,0/2,8
Pesada 35...65 2,7/1,5 4,1/1,9 5,3/2,2 6,8/2,7 8,0/3,1
72...102 2,9/1,6 3,4/2,0 5,5/2,4 7,0/2,8 8,5/3,3
> 102 3,1/1,7 4,7/2,1 6,2/2,5 7,8/3,0 9,3/3,6

Notas: 1. No numerador estão indicados os valores para cálculo ao esmagamento de


uniões com superfícies de trabalho sem amaciamento, cuja dureza é maior
que HRC 40 (após a têmpera e cementação).
2. No denominador estão indicados os valores para cálculo ao esmagamento e
desgaste de uniões com amaciamento das superfícies de trabalho, cuja
dureza é menor que HRC 35 (após o melhoramento), mesmo que tal dureza
se verifique só numa das peças da ligação, sob carga variável; no cálculo ao
esmagamento para carga constante, quando as superfícies sofrem
amaciamento, Kc = 1.
3. No cálculo ao desgaste em regime de carga constante, para qualquer dureza,
Kc = 1.

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Tabela 6.4 - Coeficiente de variação da carga (Kvar) ou coeficiente de regime (Kr)

Coeficiente de
Designação do
Regime típico de carregamento regime Kr
regime
(Kvar)

• Carga nominal constante 0 1,0

• Funcionamento com carga nominal durante a I 0,77


maior parte do tempo
• Funcionamento com cargas de valores muito II 0,63
variáveis (altas e baixas) durante todo o tempo
• Funcionamento com cargas médias durante a
maior parte do tempo III 0,57
• Funcionamento a baixas cargas durante a maior
parte do tempo IV 0,43
Nota: a explicação destes tipos de regimes está na figura 8.42

Tabela 6.5 – Tratamento térmico e dureza média da superfície


Sem Cementação
Melhoramento Têmpera
tratamento ou azotação
térmico HB 270 HRC 40 HRC 45 HRC 52 HRC 60
Pressão máxima [σesm]cond , em MPa
95 110 135 170 185 205

Para funcionamento com grande reversão recomenda-se a redução em 20 ... 25%

Exemplos de designação de veios e cubos canelados:

a) Centragem pelo diâmetro interno d, com ajustamento de centragem H7/e8:


(d=36; D=40; b=7; 8 dentes)

d - 8 x 36 H7/e8 x 40H12/a11 x 7 D9/f8

b) Centragem pelos diâmetros externo D)

D - 8 x 36 x 40 H8/h7 x 7F10/h9

c) Centragem pelo flancos dos dentes ou largura "b"

b - 8 x 36 x 40 H12/a 11 x 7D9/h8

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Problema:

1 - Uma ligação de uma caixa de velocidades é feita por veios e cubos


canelados. A ligação é móvel sem carga e suporta uma roda dentada cilíndrica
com dentes rectos, cuja disposição é assimétrica relativamente ao centro do
cubo. A roda dentada situa-se numa das extremidades do cubo canelado (fig.
4). A roda dentada gira a 1600 rpm e transmite uma potência de 30 kW. Espera-
se que a caixa de velocidades funcione durante 12000 horas. O regime de
funcionamento tem cargas muito variáveis, mas não tem muitos choques. As
condições de trabalho são médias e a lubrificação é boa, embora com ligeiro
risco de contaminação do óleo. A precisão de produção da ligação é média e o
material das superfícies de trabalho é aço 40 X, sujeito ao melhoramento, com
uma dureza superficial de HB 270. O limite de escoamento do material é σe =
700 MPa. A roda dentada tem 20 dentes de módulo 4 mm e ângulo de pressão
de 20º. A largura da coroa dentada é b = 20 mm.
Sabendo que a tensão tangencial admissível para o material do veio é de
20 MPa, calcule:

a) o diâmetro do veio liso considerando só o torque;


b) a ligação chavetada correspondente, com chaveta prismática;
c) a ligação por veios e cubos canelados (cálculo de projecto e de controle).
Compare os resultados obtidos.

Resolução:

a) O diâmetro do veio calcula-se de:

T
τ= ≤ [τ ]
Wp
onde:
P 30 ⋅ P 30 ⋅ 30 ⋅ 10 3
T= = = = 179 ⋅ 10 3 N ⋅ mm
ω π .n π ⋅ 1600
e
π ⋅d3
Wp = ≈ 0,2 ⋅ d 3
16
Portanto:

T 179 ⋅ 10 3 T 179
d ≥3 =3 = 35.5 mm ou d ≥ 3 =3 = 0,0355 m
0.2 ⋅ [τ ] 0.2 ⋅ 20 0.2 ⋅ [τ ] 0.2 ⋅ 20 ⋅ 10 6

Adopta-se d = 36 mm

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b) Cálculo da ligação chavetada

O cálculo inicia com a escolha da secção transversal da chaveta, das tabelas


com secções normalizadas. Para um veio com diâmetro de 36 mm escolhe-se
uma chaveta com secção b×h = 10×8. Para uma ligação móvel o valor da
tensão admissível de esmagamento está nos limites 20 ... 30 MPa. Escolhe-se
[σesm] = 25 MPa. Da fórmula (1):

4 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ]
h⋅ c ⋅d
acha-se:
4 ⋅T 4 ⋅ 179 ⋅ 10 3
≥ = = 99,4 mm
h ⋅ [σ esm ] ⋅ d
c
8 ⋅ 25 ⋅ 36

Adopta-se o comprimento c = 100 mm .

c) Cálculo da ligação por veios e cubos canelados

para o mesmo diâmetro do núcleo do veio (36 mm), escolhe-se uma ligação da
série ligeira, por exemplo: d 8 × 36H7/e8 × 40H12/a11 × 7D9/f8, cujos
parâmetros são: d = 36 mm; D = 40 mm; b = 7 mm. Caso esta não tenha
resistência suficiente, escolher-se-á uma ligação de outra série.

c.1) Cálculo pelo critério generalizado

Assumindo um chanfro de 0,4 mm, determinam-se todos os componentes da


fórmula (5):
2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ]
K irr ⋅ d m ⋅ z ⋅ h ⋅

onde:

Kirr ≈ 0,75 (valor médio das recomendações dadas)


Dm = 0,5⋅ (D +d) = 0,5 ⋅ (40+36) = 38 mm
z = 8 dentes (z, D e d sãos dados na designação da ligação)
h = 0,5⋅ (D - d) - 2⋅f = 0,5 ⋅ (40-36) - 2⋅0,4 = 1,2 mm
[σesm] = 20 MPa – das recomendações da tabela 6.1 para condições
medianas de exploração

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Então:

2 ⋅T 2 ⋅ 179 ⋅ 10 3
≥ = = 65,4 mm ; adopta-se l = 66 mm;
K irr ⋅ d m ⋅ z ⋅ h ⋅ [σ esm ] 0,75 ⋅ 38 ⋅ 8 ⋅ 1,2 ⋅ 20

Vê-se que o comprimento do cubo da ligação canelada é apenas 2/3 do da


chaveta prismática equivalente.

c.2) Cálculo de controle ao esmagamento

Para o cálculo ao esmagamento usa-se a fórmula (6):


2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ]
dm ⋅ z ⋅ h ⋅
onde:
σe 700
[σ esm ] = = = 65,3 MPa
s ⋅ K irr ⋅ K ⋅ K erro ⋅ K d 1,3 ⋅ 2 ⋅ 2,06 ⋅ 1 ⋅ 2
Nesta fórmula foram usados os valores:

s = 1,3 – valor médio recomendado do coeficiente de segurança


Kirr ≈ 2 – coeficiente de irregularidade da distribuição da carga, da tabela 6.2
para ψ ≈0,5, já que:
dm 38
ψ= = = 0,505
d w ⋅ cos α w (4 ⋅ 20) ⋅ cos(20 )
onde m = 4 (dado), z = 20 (dado) e αw = 20º (dado);
K – é o coeficiente de longevidade: K = Kc + Ke - 1 ;
Kc – coeficiente de concentração das tensões de torção do veio; da tabela 6.3,
para a relação l/D =66/40=1,65, escolhe-se o valor Kc ≈ 1,36
(interpolado), para série ligeira e D = 40 mm, dureza menor que HRC
35;
Ke – coeficiente de concentração das tensões por assimetria da disposição da
e
coroa relativamente ao cubo; da figura 6, para ε = = 0,35 e ψ ≈0,5

escolhe-se Ke ≈ 1,7; o valor de e e l são:

e = 0,5 ⋅ l − 0,5 ⋅ b = 0,5 ⋅ (66 − 20) = 23 mm


l = 66 mm - do cálculo simplificado, pelo critério generalizado
Assim: K = Kc + Ke – 1 = 1,36 + 1,7 –1 = 2,06
Kerro – coeficiente de concentração das tensões devido a erros de fabricação: como as
superfícies têm dureza menor que HB 350 e, portanto, têm amaciamento
usa-se Kerro = 1;
Kd – coeficiente de carga dinâmica – para carga alternada sistemática, reversível mas
sem muitos choques Kd ≈ 2,

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Obtido o valor da tensão admissível, emprega-se a fórmula (6):

2 ⋅T 2 ⋅ 179 ⋅ 10 3
σ esm = = = 14,9 MPa < [σ esm ] = 65 MPa
dm ⋅ z ⋅ h ⋅ 38 ⋅ 8 ⋅ 1,2 ⋅ 66

Nota-se que a tensão real de esmagamento é muito menor que a


admissível, segundo o critério de resistência ao esmagamento, o que
significa que a condição de resistência é folgadamente cumprida.

c.3) Cálculo de controle ao desgaste

Para o cálculo ao desgaste usa-se a fórmula (8):

2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ]desg
dm ⋅ z ⋅ h ⋅
onde:

[σ esm ]cond
[σ esm ]desg =
K ´
irr ⋅ K ⋅ K var ⋅ K cic ⋅ K lub ⋅ K ax
e:

[σesm]cond. – é tensão de esmagamento condicional; da tabela 6.5, [σesm]cond. = 110


MPa, para dureza HB 270;
´ ´
K irr - é o coeficiente de irregularidade da carga; da tabela 6.2 K irr = 1,9, para ψ ≈0,5
K – é o coeficiente de longevidade, já calculado: K = 2,06
Kvar – é o coeficiente de variação da carga ou de regime; Kvar = 0,63 (tabela 6.4);
N 60 ⋅ t ⋅ n 3 60 ⋅ 12000 ⋅ 1600
Kcic – coeficiente do número de ciclos: K cic = 3 8 = 3 = = 2,26 ;
10 10 8 10 8
Klub – é o coeficiente de lubrificação: Klub = 1,0, para condições médias de
lubrificação.
Kax – é o coeficiente de movimento axial: Kax = 1,25, para ligações móveis sem carga

Assim:
[σ esm ]cond 110
[σ esm ]desg = = = 15,8 MPa
K ´
irr ⋅ K ⋅ K var ⋅ K cic ⋅ K lub ⋅ K ax 1,9 ⋅ 2,06 ⋅ 0,63 ⋅ 2,26 ⋅ 1,0 ⋅ 1,25

Do cálculo anterior, já é sabido que a tensão real é:

2 ⋅T 2 ⋅ 179 ⋅ 10 3
σ esm = = = 14,9 MPa < [σ esm ]desg = 15,8 MPa
dm ⋅ z ⋅ h ⋅ 38 ⋅ 8 ⋅ 1,2 ⋅ 66

ou seja, a condição de resistência o desgaste verifica-se, embora com uma margem


pequena.

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Caso a resistência da ligação não se verificasse segundo qualquer dos critérios seria
necessário aumentar o comprimento do cubo e/ou usar uma série com maior
capacidade de carga (média ou pesada) ou aumentar deliberadamente o diâmetro da
ligação. Cada solução deve ser ponderada de forma a satisfazer os requisitos de
dimensões, peso, custos e outros aspectos relevantes.

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