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(veios estriados)
Informações gerais
As peças para as ligações por veios e cubos canelados têm vasta aplicação e
são produzidas em massa. A produção destas peças requer processos que permitem
obter boa precisão de fabricação. Comummente, usam-se processos como
brochamento, mandrilagem e rectificação.
Os dentes das ligações por veios e cubos canelados podem ter diversos perfis:
com flancos paralelos, de evolvente e triangular. A última forma não é muito popular
para transmissão de cargas e por isso não será analisada.
Nas ligações com dentes de flancos paralelos, as estrias têm flancos rectos. É
através destes flancos que se transmite a carga do veio ao cubo. Usam-se três tipos
de centragem:
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- pelo diâmetro externo D (fig. 2 - b)
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As ligações com flancos de perfil evolvente usam-se para peças com grandes
diâmetros, para os quais é prático produzir os dentes internos. O perfil de evolvente é
mais caro que o de flancos paralelos. Este tipo de construção é muito similar à
construção de rodas dentadas com dentes rectos comuns. Uma das diferenças é que
nas rodas dentadas o dente é alto (mais de 2⋅m) enquanto que nas ligações por veios
e cubos canelados a altura do dente é de apenas (0,9 ... 1)⋅ m, onde m é o módulo [O
módulo é a relação entre o diâmetro de referência e o número de dentes, mas é
definido como a relação entre o passo circular e π. É uma das características
dimensionais mais importantes das rodas dentadas]. A outra diferença é que o ângulo
de inclinação da linha em que a força se faz sentir aumenta de 20º para cerca de 30º.
A centragem entre o cubo e o veio tanto pode ser feita pelos flancos [fig. 3- a),
que é a opção mais popular] como pelo diâmetro externo D. [fig. 3 – b)]. As ligações
com dentes de perfil de evolvente tanto podem ser fixas como móveis.
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fig.4-Surgimento de momentos flectores que
podem causar micro-deslocamentos
A figura 4 mostra uma ligação em que a força normal no engrenamento de uma roda
dentada Fn = Ft 2 + Fr2 está descentrada relativamente à secção média do cubo. Para
além disso, existe uma força axial Fa descentrada relativamente ao eixo do cubo, no
mesmo engrenamento. Assim, identificam-se os seguintes momentos flectores:
dw
M rot1 = Fn ⋅ e ; M rot 2 = Fa ⋅
2
Cálculo da ligação
2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ] (chav 5)
K irr ⋅ d m ⋅ z ⋅ h ⋅
onde:
[σesm] – é o valor admissível da tensão de esmagamento, em MPa.
T – é o momento torsor (torque) nominal no veio, em N⋅mm;
Kirr – é o coeficiente de irregularidade de distribuição da carga pelos dentes:
Kirr = 0,7 ... 0,8;
z – é o número de dentes (ou estrias) das peças da ligação;
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- é o comprimento de trabalho dos dentes, i.e., comprimento das superfícies
de contacto entre o veio e o cubo, em mm;
dm – diâmetro médio da ligação, i.e., diâmetro médio das superfícies de contacto
entre o veio e o cubo, em mm;
h – é a altura de trabalho dos dentes, i.e., altura das superfícies de contacto
entre o veio e o cubo, em mm;
onde:
D – é o diâmetro externo do veio, i.e., diâmetro das cristas das saliências;
d – é o diâmetro interno do veio, i.e., diâmetro dos fundos das estrias;
f – é a altura do chanfro.
h ≈ m; dm = m⋅z
onde:
m – é o módulo dos dentes;
A tensão admissível [σesm] pode ser seleccionada da tabela 6.1 para maquinaria
geral e para máquinas de elevação e transporte. Para máquinas-ferramentas, os
valores de [σesm] são reduzidos. Recomendam-se:
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b) Cálculo ao esmagamento
2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ] (chav 6)
dm ⋅ z ⋅ h ⋅
mas a tensão admissível é calculada usando a fórmula:
σe
[σ esm ] = (chav 7)
s ⋅ K irr ⋅ K ⋅ K erro ⋅ K d
onde:
s – é o coeficiente de segurança da resistência: s = 1,25 ... 1,4; os menores
valores são para superfícies não temperadas e os maiores para
superfícies temperadas;
Kirr – é o coeficiente de irregularidade da distribuição da carga (tabela 6.2, onde
F ⋅d
ψ = n m ; para ligações por cubos canelados que suportam uma
2 ⋅T
dm
engrenagem ψ = ; note-se que dm é parâmetro da ligação
d w ⋅ cos α w
por veio e cubo canelados e dw é o dirâmetro da engrenagem; α é o
ângulo de pressão da engrenagem, tipicamente próximo de 20º).
K – é o coeficiente de longevidade: K = Kc + Ke - 1 ;
Kc – coeficiente de concentração das tensões de torção do veio (tabela 6.3);
Ke – coeficiente de concentração das tensões por assimetria da disposição da
M
coroa relativamente ao cubo (fig. 6) em função do parâmetro ε = rot (fig.
Fn ⋅
6); para ligações com roda dentada de dentes rectos entre o cubo dentado
e
e o veio tem-se ε = e para uma roda dentada com dentes inclinados
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e
ε= ; o sinal “+” usa-se quando Mrot1 e Mrot2 têm os
dm
± 0,5 ⋅ ⋅ tgβ ⋅ cos α w
c) Cálculo ao desgaste
2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ]desg (chav 8)
dm ⋅ z ⋅ h ⋅
[σ esm ]cond
[σ esm ]desg = (chav 9)
K ´
irr ⋅ K ⋅ K var ⋅ K cic ⋅ K lub ⋅ K ax
onde:
[σesm]cond. – é tensão de esmagamento condicional, para 108 ciclos de
carregamento, sob regime constante, cujo valor pode ser extraido da
tabela 6.5;
´
K irr - é o coeficiente de irregularidade da carga para o cálculo ao desgaste
(tabela 6.2);
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K – é o coeficiente de longevidade, que considera a concentração de
tensões, tal como para o cálculo ao esmagamento;
Kvar – é o coeficiente de variação da carga (tabela 6.4); é um coeficiente de
regime Kr ;
Kcic – coeficiente do número de ciclos de micro-deslocamentos:
N
K cic = 3 (Chav 10);
10 8
N – é o número de ciclos de micro-deslocamentos: N = 60⋅t⋅n ;
t – é o tempo de vida projectado, em horas;
n – é a frequência de rotações, em rpm;
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Tabela 6.2 - Coeficientes de irregularidade da distribuição da carga
ψ 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75
K irr 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0 2,1 2,2 2,4 2,7 3,0
K ´irr 1,1 1,2 1,4 1,6 1,9 2,2 2,5 3,0 3,7 4,5
´
Para ligações carregadas apenas por um torque K irr = K irr
Série da D. mm
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Ligação
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Tabela 6.4 - Coeficiente de variação da carga (Kvar) ou coeficiente de regime (Kr)
Coeficiente de
Designação do
Regime típico de carregamento regime Kr
regime
(Kvar)
D - 8 x 36 x 40 H8/h7 x 7F10/h9
b - 8 x 36 x 40 H12/a 11 x 7D9/h8
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Problema:
Resolução:
T
τ= ≤ [τ ]
Wp
onde:
P 30 ⋅ P 30 ⋅ 30 ⋅ 10 3
T= = = = 179 ⋅ 10 3 N ⋅ mm
ω π .n π ⋅ 1600
e
π ⋅d3
Wp = ≈ 0,2 ⋅ d 3
16
Portanto:
T 179 ⋅ 10 3 T 179
d ≥3 =3 = 35.5 mm ou d ≥ 3 =3 = 0,0355 m
0.2 ⋅ [τ ] 0.2 ⋅ 20 0.2 ⋅ [τ ] 0.2 ⋅ 20 ⋅ 10 6
Adopta-se d = 36 mm
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b) Cálculo da ligação chavetada
4 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ]
h⋅ c ⋅d
acha-se:
4 ⋅T 4 ⋅ 179 ⋅ 10 3
≥ = = 99,4 mm
h ⋅ [σ esm ] ⋅ d
c
8 ⋅ 25 ⋅ 36
para o mesmo diâmetro do núcleo do veio (36 mm), escolhe-se uma ligação da
série ligeira, por exemplo: d 8 × 36H7/e8 × 40H12/a11 × 7D9/f8, cujos
parâmetros são: d = 36 mm; D = 40 mm; b = 7 mm. Caso esta não tenha
resistência suficiente, escolher-se-á uma ligação de outra série.
onde:
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Então:
2 ⋅T 2 ⋅ 179 ⋅ 10 3
≥ = = 65,4 mm ; adopta-se l = 66 mm;
K irr ⋅ d m ⋅ z ⋅ h ⋅ [σ esm ] 0,75 ⋅ 38 ⋅ 8 ⋅ 1,2 ⋅ 20
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Obtido o valor da tensão admissível, emprega-se a fórmula (6):
2 ⋅T 2 ⋅ 179 ⋅ 10 3
σ esm = = = 14,9 MPa < [σ esm ] = 65 MPa
dm ⋅ z ⋅ h ⋅ 38 ⋅ 8 ⋅ 1,2 ⋅ 66
2 ⋅T
σ esm = ≤ [σ esm ]desg
dm ⋅ z ⋅ h ⋅
onde:
[σ esm ]cond
[σ esm ]desg =
K ´
irr ⋅ K ⋅ K var ⋅ K cic ⋅ K lub ⋅ K ax
e:
Assim:
[σ esm ]cond 110
[σ esm ]desg = = = 15,8 MPa
K ´
irr ⋅ K ⋅ K var ⋅ K cic ⋅ K lub ⋅ K ax 1,9 ⋅ 2,06 ⋅ 0,63 ⋅ 2,26 ⋅ 1,0 ⋅ 1,25
2 ⋅T 2 ⋅ 179 ⋅ 10 3
σ esm = = = 14,9 MPa < [σ esm ]desg = 15,8 MPa
dm ⋅ z ⋅ h ⋅ 38 ⋅ 8 ⋅ 1,2 ⋅ 66
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Caso a resistência da ligação não se verificasse segundo qualquer dos critérios seria
necessário aumentar o comprimento do cubo e/ou usar uma série com maior
capacidade de carga (média ou pesada) ou aumentar deliberadamente o diâmetro da
ligação. Cada solução deve ser ponderada de forma a satisfazer os requisitos de
dimensões, peso, custos e outros aspectos relevantes.
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