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Políticas Públicas educacionais voltadas à terceira idade: um

comparativo entre Brasil e Portugal


Bianca Vince Lauria : UNESP/ Marília, Faculdade de Filosofia e Ciências - FFC, Relações
Internacionais, bvlauria@hotmail.com, bolsista PROEX, Gilsenir Maria Prevelato de Almeida Dátilo:
UNESP/Marília, Faculdade de Filosofia e Ciências – FFC, Departamento de Psicologia da Educação,
Coordenadora da UNATI de Marília, gdatilo@marilia.unesp.br.
Eixo: 1 - “Direitos, Responsabilidades e Expressões para o Exercício da Cidadania"

Resumo
O presente trabalho trata das políticas públicas
educacionais existentes no Brasil e em Portugal
Abstract:
voltadas para a Terceira Idade. Visto que o
This paper deals with the existing educational
envelhecimento populacional é uma realidade em
policies in Brazil and Portugal aimed at Elderly.
todo o mundo, políticas públicas direcionadas a
Since population aging is a reality worldwide, public
esse segmento da população são necessárias para
policies aimed at this segment of the population are
garantir os direitos delas. No que se refere à
needed to ensure the rights of these people. With
educação, esta tem um papel fundamental para
regard to education, it has a key role to an old age
uma velhice com qualidade de vida, uma vez que
with quality of life as it able older people to keep
permite aos idosos manterem suas mentes ativas,
their minds active, and remain embedded in social
além de permanecerem inseridos em contextos
contexts. Therefore, we tried to observe the
sociais. Assim, buscou-se observar as políticas
existing policies in this area in Brazil and in Portugal
existentes nesse âmbito tanto no Brasil como em
in order to perform a comparation able to contribute
Portugal a fim de realizar um comparativo que
to this debate.
possa contribuir para esse debate.
Keywords: Aging, Public Policy, Permanent Education.
Palavras Chave: Envelhecimento, Políticas Públicas,
Educação Permanente.

contribuindo para o envelhecimento da sua de


Introdução origem e rejuvenescendo a de destino (LEBRÃO,
O envelhecimento da população é um fenômeno 2007). Quando uma população que tem altos
que já é fato em diversas partes do mundo, tendo se índices de natalidade (número de nascidos vivos a
tornado objeto de estudos e de preocupação social cada mil habitantes) e de mortalidade (número de
ao longo dos anos. No Brasil, desde as décadas de mortes para casa mil habitantes) passa a ter esses
1950 e 1960, o segmento da população que tem mesmos índices baixos, esse acontecimento é
idade superior a 60 anos vem crescendo em maior chamado de transição demográfica. A forma como
velocidade do que o segmento de faixa etária essa transição se dá faz com que seja possível
inferior a essa, o que conceitua o envelhecimento de dividir os países entre três tipos: (1) os que ainda
uma população. De acordo com Silva (2003), em não iniciaram essa transição e, portanto, têm uma
termos mundiais, esse envelhecimento se dá devido estrutura de população ainda jovem, como é o caso
à industrialização e aos avanços tecnológicos, que dos países africanos, (2) os que tiveram uma
trouxeram consigo melhorias na medicina e iniciação tardia dessa transição, ou seja, o processo
saneamento básico. A urbanização e as mudanças de envelhecimento de suas populações começou há
no estilo de vida consequentes desses processos cerca de 50 anos, sendo esses os países da
favoreceram a redução da fecundidade (média do América Latina e Caribe e (3) os que tiveram
número de filhos por mulher) e da mortalidade e o iniciação precoce da transição, tendo sido iniciada
aumento da expectativa de vida. Outro fator há séculos, como ocorreu com países da Europa
importante nessa equação é o processo de ocidental (LEBRÃO, 2007). Como os fatores
migração, uma vez que é o segmento mais jovem associados aos processos de envelhecimento de
que geralmente se desloca para outra população, populações estão, por sua vez, relacionados com
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outras características políticas e econômicas de a Ciências e a Cultura). Quatro anos mais tarde
suas respectivas sociedades, é possível observar ocorreu a primeira Assembleia Mundial sobre o
desigualdades entre esses três grupos de países. Envelhecimento, em Viena (SILVA, 2008).
Os países que tiveram uma iniciação precoce de Dessa Assembleia Mundial, resultou o Plano de
transição demográfica já tinham atingido um nível Ação Internacional de Viena sobre o
alto de desenvolvimento econômico e social quando Envelhecimento, contendo 62 pontos e convidando
começaram a se deparar, gradativamente, com o os Estados-membro a elaborar ações em relação a
processo de envelhecimento de suas populações e assuntos como a saúde, nutrição, bem-estar social,
com os desafios que vieram com ele. No caso do segurança de emprego e renda, habitação e
grupo do qual o Brasil faz parte, os avanços educação dos e sobre as pessoas idosas.
médicos e sanitários tiveram impacto no Na década seguinte, em 1991, foi adotado o
envelhecimento populacional de forma que ele Princípio das Nações Unidas em Favor das Pessoas
ocorresse rapidamente. No entanto, esse processo Idosas, que reuniu em seu teor 18 direitos
tendo se dado em curto prazo não foi acompanhado relacionados à participação, independência,
por um desenvolvimento que garantisse melhorias cuidados, autorrealização e dignidade dessas
no padrão de vida em mesma velocidade, pessoas.
fortalecendo as desigualdades sociais e econômicas Uma Conferência Internacional sobre o
de forma a dificultar ainda mais o acesso aos Envelhecimento reuniu novamente os países em
recursos e serviços governamentais, tão 1992, para dar continuidade ao Plano de Ação antes
importantes para esse segmento populacional estabelecido. A Conferência deu origem à
(PALLONI; PELÁEZ, 2003 apud LEBRÃO, 2007). Proclamação do Envelhecimento e foi por sua
A identificação do fato de a população mundial estar recomendação que a ONU declarou 1999 o Ano
envelhecendo trouxe consigo a percepção também Internacional do Idoso.
dos desafios que acompanham esse fenômeno: Vinte anos depois da primeira, em 2002 aconteceu
como lidar com a demanda de investimento em Madri a Segunda Assembleia Mundial das
econômico desse segmento populacional Nações Unidas sobre o Envelhecimento, com o
paralelamente à queda do número de pessoas objetivo de desenvolver uma política internacional
consideradas economicamente ativas? Demanda sobre o tema para o século XXI. A partir dela, foram
essa que abrange principalmente as questões de adotados uma Declaração Política e o Plano de
saúde e de previdência social. Faz-se necessária, Ação Internacional sobre o Envelhecimento de
portanto, uma política que pense essas questões, Madri.
para que elabore e aplique políticas públicas Os foros internacionais criados para debater
relacionadas a elas. problemas em comum são acompanhados de
De acordo com Borges1 (2002, apud ROCHA, 2014, discussões e buscam por soluções internas dos
p. 18), política pública diz respeito a um conjunto de países participantes. Como esse tipo de reuniões
objetivos relacionados a um determinado programa origina documentos com os termos acordados entre
de ação governamental, condicionando sua ação. os países, é gerado um compromisso internacional
Atualmente, o termo política pública substitui o que de se buscar por melhorias nos âmbitos discutidos,
até a década de setenta era chamado de observando as mudanças jurídicas e políticas que
planejamento estatal. devem ser tomadas nacionalmente para que essas
No âmbito internacional, a temática do melhorias sejam possíveis.
envelhecimento ganhou força a partir de 1978, O Brasil começou sua tomada por iniciativas acerca
quando a Assembleia Geral da Organização das do envelhecimento no âmbito político pela
Nações Unidas (ONU) decidiu convocar uma preocupação com a previdência social, desde 1923,
Assembleia Mundial em 1982 que abarcasse a com a criação das Caixas de Aposentadoria e
elaboração de um plano de ação internacional para Pensões (CAPs). Foi só a partir da segunda metade
garantir a segurança social e econômica da pessoa do século XX que outros aspectos relacionados à
idosa. Antes disso, o tema era esboçado em população idosa começaram a ser valorizados e
debates de agências especializadas da ONU, como percebidos como uma demanda social que
a OMS (Organização Mundial da Saúde), OIT necessitava da atuação do Estado para além da
(Organização Internacional do Trabalho) e UNESCO questão previdenciária. Em 1982, atendendo a uma
(Organização das Nações Unidas para a Educação, proposição da ONU, instituiu o Ano Nacional do
Idoso, o “Dia do Idoso” (no âmbito estadual de São
1 BORGES, C. M. M. Gestão participativa em organizações de
Paulo) e criou uma Comissão Nacional para estudar
idosos: instrumento para a promoção da cidadania. In: FREITAS, E. V.
de. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara,
2002. Cap. 124, p. 1037-1041.
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a problemática do envelhecimento populacional. reconhecidos e assegurados por lei através da
(CORREA; FRANÇA; HASHIMOTO, 2010, p.224-7) formulação do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03).
De acordo com Correa, França, Hashimoto (2010), Nele, são oferecidas garantias contra discriminação,
os estudos realizados a partir da década de 1980 violência, crueldade e opressão e a favor, dentre
enfatizavam as responsabilidades da cultura outros, dos direitos à vida, à alimentação, à saúde, à
brasileira, do sistema econômico capitalista e do liberdade, à cidadania, à dignidade e à educação.
Estado pela desvalorização do idoso. É a partir daí A educação é um direito fundamental de todas as
que o modelo de assistência tradicional vai sendo pessoas. Direito esse reconhecido
modificado por políticas mais preocupadas com a internacionalmente desde 1948 pela Declaração
prevenção e a promoção daqueles que passam a Universal dos Direitos Humanos e respaldado no
ser referidos pela nova categoria de terceira idade. âmbito nacional pela Constituição Federal de 1988,
A promulgação da Constituição de 1988 introduz um em seu artigo 205, que inicia a sessão específica
conceito de proteção social mais abrangente e para o tema dentro da Constituição. Quando se trata
estabelece estruturas de caráter democrático como de pessoas idosas, ela tem um papel fundamental
Conselhos, Fóruns, Comissões e Conferências que no que se refere a sua qualidade de vida. Para
colaboram no processo de implementação de Oliveira, Oliveira, Scortegagna (2012, p.3), “A
projetos ou programas sociais. As pessoas idosas educação se constitui como direito fundamental do
são incluídas nos debates de garantias de direitos e idoso, e age como política, na medida em que
ganham espaço, sob o Capítulo VII da Constituição, propõe e possibilita meios para os avanços sociais,
para uma legislação apropriada. Ainda que os reconhecimento na velhice, preparação para o
artigos da Constituição tenham significado um envelhecimento, capacitação para enfrentar a
avanço, principalmente com a sua posterior globalização, formação para o mercado de trabalho,
regulamentação pela Lei Orgânica de Assistência enfim, permite que o idoso se considere capaz,
Social – LOAS, ainda é observada uma integrado e articulado, melhorando sua qualidade de
desresponsabilização por parte do Estado, que se vida.”
coloca em último plano, atribuindo grande parte A Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso
dessas responsabilidades à família e à sociedade. trouxeram propostas de melhorias para a educação
(SILVA, 2008) específica aos idosos, incluindo criação de
Na década seguinte, a Política Nacional do Idoso oportunidades de acesso do idoso à educação,
(Lei 8842/94), de 1994, regulamentada em 1996, criação de programas voltados ao idoso, adequação
marca as políticas voltadas a esse segmento de currículos, metodologias e material didático para
populacional, colocando que todos os direitos de esses programas, além da inclusão de temas sobre
cidadania devem ser assegurados aos idosos, o processo de envelhecimento e o respeito e
devendo o processo de envelhecimento dizer valorização da pessoa idosa aos currículos mínimos
respeito à sociedade no geral, a qual deve ter do ensino formal. As Conferências Nacionais dos
conhecimento e informação sobre ele, fortalecendo Direitos da Pessoa Idosa que começaram a ocorrer
o pressuposto de que nenhuma pessoa idosa deve em 2006, organizadas pelo Conselho Nacional dos
sofrer discriminação de qualquer natureza e que as Direitos do Idoso trataram também da questão da
diferenças econômicas, sociais, regionais e educação aos idosos, somando às propostas
relacionadas aos meios rural e urbano devem ser anteriores a promoção e inclusão tecnológica e
observadas na aplicação da lei. Um Plano Integrado digital para as pessoas idosas e a democratização
(Interministerial) de Ação Governamental é criado ao acesso às Universidades Abertas à Terceira
para alcançar as metas da Política Nacional do Idade.
Idoso, que incorporou novas ações como a As Universidades Abertas à Terceira Idade (UNATI)
readequação do sistema de saúde e assistência surgem no Brasil em 1982, através da Universidade
para o atendimento integral ao idoso e a Federal de Santa Catarina e inspiradas na iniciativa
reformulação dos currículos universitários visando francesa da década anterior. Elas consistem em
melhorar a atuação dos profissionais no trato dos programas de extensão universitária de educação
idosos. (ROCHA, 2014) permanente a idosos, aproximando-os do universo
Em maio de 2002, um Conselho Nacional dos acadêmico e lhes proporcionando espaço para o
Direitos do Idoso (CNDI) também é criado e toma aprendizado e convívio social. Nesse sentido, elas
providências no sentido de substituir os asilos por são um importante exemplo de ação educacional
centros de convivência e estimular a assistência para a população idosa.
ambulatorial e domiciliar (SILVA,2008). No ano Procurando traçar um comparativo com outra
seguinte, todos os direitos e deveres dos idosos são realidade, nosso trabalho buscou revisar a partir

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daqui as políticas públicas existentes em outro país, idosa, que apenas pode participar (mas não o faz
escolhendo Portugal pela proximidade cultural em número significativo) de programas criados para
paralela às diferenças institucionais por se situar em a educação de adultos, que visam à qualificação da
outro continente, economicamente mais mão-de-obra portuguesa. Esse foco para os
desenvolvido. programas é preocupante na medida em que exclui
Através dos trabalhos de Esmeraldina Veloso (2008 a população que não é economicamente ativa, logo,
e 2011), se observam momentos distintos na a população idosa. A educação para idosos se vê,
elaboração de políticas para a terceira idade em então, fora das preocupações públicas e estatais,
Portugal. No século XIX a velhice não era uma sendo dificilmente concebida como um direito pelo
categoria social, nem uma categoria de ação qual se deve lutar (VELOSO, 2011).
política, sendo os problemas relativos a essa faixa Quando falamos em universidades para a terceira
da população tratados no âmbito familiar. A atuação idade, no entanto, o fato contrastante é de que
do Estado no que diz respeito à proteção social era Portugal tem a maior rede de universidade seniores
de natureza assistencialista e se dava de forma do mundo. A explicação para esse contraste se dá
precária. Os asilos eram a resposta ao problema de baseada no fato de que, paralelamente ao programa
idosos que não tinham apoio familiar ou meios de permanência domiciliar, ainda preocupado com a
próprios para cuidarem de si. É apenas na segunda contenção de despesas, o Estado português se
metade do século XX que a ação do Estado passa a empenha em envolver outros parceiros na
ser mais presente, sendo a generalização do prossecução da política para a terceira idade. As
sistema de aposentadorias, que se dá na década Instituições Particulares de Solidariedade Social
em 1970 em Portugal, um marco importante para os (IPSS) são defendidas desde 1976 e fazem parte
idosos. É a partir daí que se deixa de associar esse delas as instituições que mais se preocupam com a
segmento da população à incapacidade para o melhoria da qualidade de vida dos idosos em
trabalho e passam a corresponder a uma inatividade Portugal, trazendo melhorias para os demais direitos
pensionada. Em 1976, a velhice aparece pela dessa população que não os relacionados à saúde e
primeira vez como categoria social, na Constituição assistência social.
da República. Existem muitas Universidades da Terceira Idade
A partir de 1976, surge uma política para a então (UTI’s, em Portugal) em Portugal e elas possuem
considerada terceira idade, que procura romper com desde 2005 uma associação que as representa –
uma imagem depreciativa da velhice relacionada à Associação Rede de Universidades da Terceira
idosos em asilos, promovendo a representação de Idade, RUTIS. A RUTIS possui 250 membros e é ela
uma velhice autônoma e mais ativa. Nesse sentido, própria uma IPSS. Dessa forma, se observa uma
são criados serviços de apoio a domicílio para os atuação no sentido de educação permanente para
idosos, além de Centros de Dia e Centros de idosos e promoção de um envelhecimento ativo e
Convívio para substituírem os asilos. Veloso (2008) com qualidade de vida que acontece, porém não
salienta as motivações do Estado de diminuir os parte do Estado. Essas instituições são por ele
gastos altos que tinha com os asilos a partir da amparadas, mas as soluções buscadas e
permanência dos idosos em seus domicílios. encontradas seria não ficam a seu cargo. Nesse
Em 1994, é criado o Programa de Apoio Integrado sentido, é interessante observar que em 2013, no
ao Idoso (PAII) que promoveu projetos de serviço de Congresso das Academias e Universidades
tele-alarmes, apoio domiciliário, passes para a Seniores, o então presidente da RUTIS, Luís Jacob,
terceira idade, formação de recursos humanos, apelou ao governo para que fosse criado um
saúde e termalismo e turismo sênior. Três anos enquadramento legislativo para esse tipo de
mais tarde, surge o Programa Idosos no Lar instituição.
(PILAR), que aumentou a oferta de lugares em lares
e criou a opção de alojamentos temporários. Após Objetivos
esse ano, são criados outros programas e medidas Esse trabalho tem como objetivo traçar um
que garantissem a continuação dos anteriores e comparativo entre as políticas públicas educacionais
atendesse melhor as populações com nível de voltadas para a terceira idade no Brasil e em
pobreza elevada e situação física e mental mais Portugal, através de uma revisão bibliográfica sobre
comprometida, podendo-se evidenciar que as áreas as mesmas.
privilegiadas de intervenção não se alteram, sendo
sempre a da saúde e ação social (VELOSO, 2011). Material e Métodos
No que diz respeito à educação, não se observam
políticas públicas específicas para a população O método utilizado é o de revisão bibliográfica,
através da consulta de livros e artigos sobre a
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terceira idade e políticas públicas relacionadas à mesma pelos dois países. O Brasil possui
educação destinadas a esse público. No que se programas públicos voltados para a educação
refere às políticas públicas portuguesas, utilizamos permanente especifica para o público idoso, sendo
trabalhos da Professora Doutora Esmeraldina Costa as Universidades Abertas à Terceira Idade o maior
Veloso, da Universidade do Minho. exemplo deles. Elas são vinculadas a Universidades
Públicas e, portanto, garantem esse serviço à
Resultados e Discussão comunidade de forma aberta e gratuita. Em
O levantamento das políticas públicas voltadas à Portugal, como vimos, essas universidades não são
população idosa no Brasil e em Portugal nos originadas de iniciativas estatais. Segundo Osório
possibilita encontrar algumas semelhanças entre as (2007, p. 25) “no que se apelida de Universidades
medidas idealizadas e implementadas pelos dois da Terceira Idade (ou Universidade Sénior ou,
países. Primeiramente, é possível perceber que em então, Academia Sénior) [e] se propõe um programa
ambos os países (assim como em vários outros) […] destinado aos maiores de cinquenta anos com
houve grande demora em reconhecerem por lei os base em atividades preferencialmente de carácter
direitos de seus idosos, visto que somente em 1982 não formal e informal, a característica mais
o assunto toma importância internacional, quando a particular é que no caso de Portugal não foi o
Assembleia Geral das Nações Unidas convoca a Estado (tal como no caso de Espanha e de outros
primeira Assembleia Mundial sobre o
países) quem tomou a iniciativa de criar estes
Envelhecimento, em Viena, da qual resultou o Plano
de Ação Internacional sobre o Envelhecimento espaços de formação, mas sim a própria
(ONU, 1982). No Brasil, o próprio fato de terem sido comunidade e os próprios utentes”.
necessárias novas legislações para a garantia de
direitos fundamentais que já estavam previstos na Conclusões
Constituição Federal indica uma contradição. De A partir do levantamento e análise das políticas
acordo com Rocha (2014, p.26) “No tocante à
públicas educacionais voltadas aos idosos, no Brasil
eficácia, pode-se dizer que quando necessitamos de
e em Portugal, podemos concluir que elas ainda
leis que garantam direitos trazidos na Constituição
estamos até certo ponto desrespeitando a mesma, e precisam ser melhor desenvolvidas e divulgadas.
que fundamentalmente estamos um passo atrás do Apesar do Estados brasileiro e português garantirem
que nossa Carta Magna traz em seu teor”. A direitos, principalmente no que diz respeito à saúde
problemática das leis escritas e sua aplicação na e à assistência social, a educação para esse
prática também é evidente no Brasil. Apesar dos segmento populacional não é suficientemente
avanços no campo da legislação e dos esforços abordada. É importante ressaltar que as políticas
para implementação das políticas propostas, na públicas voltadas para esse segmento populacional
prática os progressos ainda deixam muito a desejar. preocupam mais os Estados no sentido da
A burocracia, escassez de recursos e falta de resolução do problema da diminuição do contingente
vontade política levam à existência de ações economicamente ativo e da forma como isso afeta
elementares e isoladas. Há exemplos também de
as contas públicas pelo aumento de aposentados,
desrespeito às leis estipuladas, como é o caso da
falta da temática do envelhecimento nos Parâmetros de forma que outros direitos fundamentais acabam
Curriculares Nacionais (PCN), mesmo esses tendo ficando em segundo plano. Em termos de
sido elaborados após a Política Nacional do Idoso e comparação, a política educacional brasileira para
do Benefício da Prestação Continuada, que, apesar os idosos ainda conta com a iniciativa estatal em
do Estatuto do Idoso determinar a idade de 60 anos relação às UNATIs, o que consideramos um ponto
para se considerar uma pessoa idosa, é concedida positivo se tivermos em conta que em Portugal elas
apenas para pessoas acima de 65 anos. (SILVA, tenham um caráter privado ou particular.
2008, OLIVEIRA; OLIVEIRA; SCOTEGAGNA, Salientamos no Brasil, a importante contribuição da
2012). UNESP, com suas Universidades Abertas da
A educação de adultos possui leis próprias tanto no Terceira Idade, as quais possibilitam a inserção do
Brasil como em Portugal, no entanto em ambos os
idoso no contexto acadêmico, estimulando-a a
casos essa tem uma característica mais formal e é
novas aprendizagens, convívio social e o exercício
dirigida a jovens e adultos ainda em idade
economicamente ativa. Desta forma, mesmo que de sua cidadania.
existam pessoas com idade superior a 60 anos Os trabalhos em prol das políticas de educação
inscritos nos cursos, são em números muito permanente para a terceira idade devem continuar,
menores e sua didática e temática não são de forma que se possibilite o atendimento a um
especializadas para um público idoso. maior número de pessoas idosas e outros
Quando abordamos educação permanente, segmentos da população tenham contato com as
podemos observar a principal diferença no trato da questões trazidas pelo envelhecimento populacional.
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http://iduc.uc.pt/index.php/rppedagogia/article/view/1206/654> Acesso
Agradeço a professora doutora Gilsenir Dátilo pelo em: 14 ago 2015.
PORTUGAL tem a maior rede de universidades seniores do mundo.
apoio dedicado a esse trabalho e pelos esforços Universidade Sénior de Setíubal, 08 mar. 2013. Disponível em: <
exercidos como coordenadora da UNATI da UNESP https://uniseti.wordpress.com/2013/03/08/portugal-tem-a-maior-rede-
de Marília. Agradeço também a PROEX por de-universidades-seniores-do-mundo/>. Acesso em: 03 ago. 2015.
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UNATI e por eu poder participar dele pessoalmente. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão da
Sou grata também à professora doutora Maria Organização Pública)- Universidade Estadual da Paraíba, Campina
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Custódia Rocha pela indicação de bibliografia <http://dspace.bc.uepb.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/
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