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Porque Jesus precisou de lama

para curar aquele cego?


Sábado
11 DE ABRIL DE 2012

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Uma suposta virtude curativa na saliva não foi a razão pela qual Jesus fez uso
dela, a menos que tenha sido simplesmente para fortalecer a fé do homem. O uso
da saliva é mencionado em dois outros milagres.

O relato está em João capítulo 9. “Caminhando Jesus, viu um homem cego de


nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais,
para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para
que se manifestem nele as obras de Deus. […] Dito isso, cuspiu na terra e, tendo feito
lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego, dizendo-lhe: Vai, lava-te no tanque de
Siloé (que quer dizer Enviado). Ele foi, lavou-se e voltou vendo” (João 9:1-7).

O milagre da cura ocorreu no dia de sábado (João 9:14), provavelmente no sábado


seguinte à Festa dos Tabernáculos. A cegueira proveniente de várias causas,
especialmente do tracoma, ainda é comum no Oriente. Vários milagres são
mencionados nos evangelhos, mas somente este é dito que a doença era congênita. A
pergunta dos discípulos, “Mestre, quem pecou, este ou seus pais?”, reflete o
pensamento judaico que ensinava que os sofrimentos desta vida eram um castigo divino
pelo pecado. De acordo com o Talmude, “não há morte sem pecado, e não há
sofrimento sem iniquidade” (Shabbath, 55.a, ed. Soncino, p. 255). “Um doente não se
recupera de sua doença antes que todos os seus pecados lhe sejam perdoados”
(Nedarim, 41a, ed. Soncino, p. 130).

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Esta parte da pergunta dos discípulos tinha pelo menos alguma base bíblica, pois a lei
declara que o Senhor visita “a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta
geração daqueles [que] … [O] aborrecem” (Êxodo 20:5). Os filhos, muitas vezes,
sofrem as consequências dos erros dos pais, mas não são punidos pela culpa dos
progenitores (Ezequiel 18:1, 2).  Os rabis haviam recebido de Satanás sua errônea
filosofia do sofrimento, pois ele, “o autor do pecado e de todas as suas consequências,
levara as pessoas a considerar a doença e a morte como procedentes de Deus — como
castigos arbitrariamente infligidos por causa do pecado”. Não haviam entendido a lição
do livro de Jó, que mostra que “o sofrimento é infligido por Satanás, mas Deus
predomina sobre ele para fins misericordiosos.”

Uma suposta virtude curativa na saliva não foi a razão pela qual Jesus fez uso dela, a
menos que tenha sido simplesmente para fortalecer a fé do homem. O uso da saliva é
mencionado em dois outros milagres (Marcos 7:33; cf. João 8:23). A preparação de
barro estava dentro das restrições das leis rabínicas com respeito ao sábado (João 9:14;
João 5:10, 16; 7:22-24). Misturar algo era especificamente proibido (Mishnah Shabbath,
7.2, ecl. Soncino, Talmude, p. 349). Por exemplo, era permitido que se colocasse água
no farelo para preparar comida para os animais, mas não lhes era permitido “misturá-lo”
(Mishnah Shabbath, 24.3, ed. Soncino, Talmude, p. 794; ver com. de Jo 5:16; 9:16).

Jesus untou com o lodo os olhos do cego. Aqui também Jesus transgrediu a tradição
rabínica, que permitia apenas a unção que era feita normalmente em outros dias.
Qualquer unção incomum era proibida. Por exemplo, os antigos usavam vinagre para
aliviar a dor de dente. Alguém com dor de dente não podia bochechar vinagre no
sábado, mas podia ingerir vinagre de maneira usual na hora da refeição e obter alívio
dessa forma (Mishnah Shabbath, 14.4, ed. Soncino, Talmude, p. 539).

Para os rabinos, uma vez que o caso do cego não era uma emergência, isto é, sua vida
não estava em perigo, a cura foi vista como uma violação da lei tradicional judaica
(João 7:22-24). Essas leis também proibiam a mistura do barro e a unção dos olhos
(João 9:6). Os judeus, supostos defensores da lei, entendiam de forma totalmente errada
a intenção e o propósito do sábado (Marcos 2:27, 28). Não compreendiam que o dia era
santificado para o bem físico, mental e espiritual do ser humano. A santificação do
sábado nunca teve o propósito de impedir obras necessárias e misericordiosas, em
harmonia com a energia criativa que ele comemora (Gênesis 2:1-3). Curar o homem
doente não era uma quebra da divina lei do sábado. Ao condenarem o Senhor por essa
suposta quebra, os judeus mostravam sua ignorância acerca da lei que professavam.1

Equipe Biblia.com.br

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