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INTERAÇÕES
Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 3, N. 4, p. 9-16, Mar. 2002.
10 Denis Maillat
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Globalização, meio inovador e sistemas territoriais de produção 11
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Situação C
Presença de
relações de troca
na região
Ausência de
relações de troca
na região
Situação B
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Globalização, meio inovador e sistemas territoriais de produção 13
Evolução dos sistemas territoriais de suas sucursais a tecer relações do tipo hori-
produção zontal. Passamos então do caso A ao caso B.
Do mesmo modo, uma grande empresa,
A tipologia da figura 1 aparesenta correspondente ao caso B, pode se interessar
quatro tipos de sistemas territoriais de por externalizar algumas de suas atividades
produção. Os sistemas se articulam, como e estabelecer relações com outras empresas
temos observado, em torno de duas lógicas, da região. Desse modo, sustenta-se pela
uma funcional e outra territorial. As empre- externalização de atividades, ao mesmo
sas que funcionam segundo a lógica fun- tempo em que a criação de “spin-off” permite
cional (caso A e B) são organizadas de modo reduzir os riscos relacionados ao desloca-
hierárquico, vertical (tudo se decide no nível mento. Mesmo assim, para que os parceiros
de uma direção central). Nesses sistemas, as escapem ao empreendimento da grande
empresas mantém relações com o exterior, grande empresa, é necessário que o meio se
mas no nível local, elas tecem pouco ou então desenvolva. Passamos, assim, do caso B para
não tecem relações com os outros atores. De o caso C.
fato, a lógica funcional prima sobre a lógica Se a grande firma do caso C, parcial-
territorial. Não existe complementaridade mente integrada verticalmente, integra-se
entre as empresas, e os recursos específicos com vantagens, tanto pela aquisição de seus
não são ativados. A capacidade de desenvol- concorrentes, como pela absorção ou desapa-
vimento vem do exterior do sistema recimento de seus sub-contratados, passamos
(desenvolvimento exógeno). ao caso B. O efeito meio corre o risco de
Em troca, os sistemas territoriais de desaparecer levando a região novamente a
produção que privilegiam os tipos C e D uma situação de dependência em relação à
funcionam principalmente segundo a lógica grande empresa que, de um dia para o outro,
territorial. Com efeito, as empresas têm uma poderá se deslocar para outro local. Trata-se,
ligação forte com o território. Elas são organi- portanto,de evitar que a grande empresa não
zadas em rede e estabelecem entre elas lidere sozinha todas as funções da cadeia de
relações do tipo horizontal. O meio constitui valor agregado.
o princípio organizador do sistema (Maillat, No caso D, o sistema dispõe de uma
1994 e 1998). Existem numerosas cooperações organização do tipo meio. Entretanto, em
em parceria. O sistema funciona graças a uma razão do porte das empresas, as ligações com
multiplicidade de atores complementares e os mercados são freqüentemente deficientes.
interdependentes movidos por mecanismos A evolução desejável para esse tipo de sistema
endógenos de desenvolvimento. Os sistemas territorial de produção é a passagem para
são muito mais autônomos que os dois prece- uma situação intermediária entre C e D, em
dentes, pois as empresas estão ancoradas no que, graças a algumas outras empresas, as
território. É, portanto, a partir da lógica conexões com os mercados são melhor
territorial que os laços ou as redes são criadas asseguradas.
com o exterior e que a inserção na globali- Evidentemente que essas evoluções não
zação manifesta-se. se operam automaticamente. Em certos casos,
Não se pode, entretanto, considerar a é possível pilotá-las. Tudo depende da
posição dos diferentes sistemas de produção capacidade de ação dos atores regionais e de
de maneira estática. Os sistemas acionados aprendizagens que eles realizaram ou que
por uma lógica territorial podem passar a eles são capazes de adquirir (Maillat e Kébir,
uma lógica funcional e inversamente. 2001). É aqui que intervém o meio.
Tomemos alguns exemplos. As sucur- Meio e capacidade de desenvolvimento
sais das grandes empresas do caso A não são, dos sistemas territoriais de produção
evidentemente, territorializadas, uma vez que Os sistemas territoriais de produção
não mantêm relações com outras empresas animados pelo meio, e freqüentemente consti-
da região. Entretanto, as circunstâncias tuídos de PME, são particularmente bem
podem mudar e algumas grandes empresas integrados na globalização, em função de
à procura de novas competências ou de novas certas características de organização: intera-
sinergias podem ser levadas a impulsionar ção entre os atores e dinâmica de aprendi-
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Globalização, meio inovador e sistemas territoriais de produção 15
Neste artigo, mostramos que existem CASTELLS, M. The information economy and the new
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COLLETIS, G.; COURLET, C.; PECQUEUR, B. Les
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por uma lógica territorial e por um meio, que COURLET, C. Continuité et reproductibilité des
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CREVOISIER, O.; MAILLAT, D. Milieu, organisation
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lógicas funcionais e territoriais agem, às vezes, cas paradigmatique de développement endogène. In:
no sentido do reforço de sua coerência, às vezes BENKO, G.; LIPIETZ, A. (ed.). Les régions qui gagnent.
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no sentido da desarticulação. A análise dessas
duas dimensões permitem, assim, às autori- GILLY, J. P. Espace productifs locaux, politique
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