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Publicação da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural

Edição 4 | ano 2 | setembro de 2017 | R$ 15,90

Ponte

Itapaiúna
Obra vital para destravar o trânsito na zona Sul paulistana,
venceu vários desafios em sua execução, desde as
fundações até o uso de balanços sucessivos mesclado
com apoio sobre cimbramento

ENTREVISTA
Indio da Costa fala da importância
do engenheiro de estruturas em
seus projetos

NOSSO CRAQUE
A experiência de Ernani Diaz em
inúmeros projetos de infraestrutura
ÍNDICE | REVISTA ESTRUTUR A

FOTO: DIVULGAÇÃO MAUBERTEC


PONTE
ITAPAIÚNA ÍNDICE
04 | EDITORIAL 49 | VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
ENGENHARIA, JUVENTUDE, INOVAÇÃO E O ENSINO DE SISTEMAS ESTRUTURAIS
PERSPECTIVAS NO CURSO DE ARQUITETURA

05 | PALAVRA DO PRESIDENTE 52 | NORMAS TÉCNICAS


CONVERSA DE BAR REVISÃO DA ABNT NBR 7187:2003 DEVERÁ
ESTAR CONCLUÍDA EM 2018

06 | NOSSO CRAQUE 54 | MUSEU DO PROJETO


UM MESTRE DA ESTRUTURA
EDIFÍCIO PEDRA GRANDE

10 | O QUE ELES QUEREM DE NÓS 56 | ENTREVISTA


AUMENTAR A PRODUTIVIDADE É O MAIOR ARQUITETURA E URBANISMO EM HARMONIA
DESAFIO DA CONSTRUÇÃO

58 | INOVAÇÃO
25 | ESPAÇO ABERTO OBRAS DE EXPANSÃO DO SHOPPING
CONSTRUÇÃO EM AÇO IGUATEMI DE FORTALEZA

26 | ESTRUTURAS METÁLICAS 64 | BOAS PRÁTICAS DE PROJETO


REFORÇO EM PONTE COM LAMINADO CÁLCULO MANUAL
CFRP PROTENDIDO NÃO ADERENTE
66 | APRENDENDO COM O ERRO
30 | ARTIGO TÉCNICO A FINALIDADE DA ATP
DIRETRIZES PARA INSPEÇÃO EM ESTRUTURAS DE
OBRAS PARALISADAS
68 | NOTAS E EVENTOS

PROJETO COMPLEXO E 71 | ACONTECE NAS REGIONAIS


38 | INDUSTRIALIZAÇÃO
DESAFIADOR PROJETO ESTRUTURAL DO TERMINAL 1 73 | JOGO DE SETE ERROS
DO COMPLEXO DO AÇU DESCUBRA AS FALHAS

12 44 | ARTIGO RETRÔ
VIBRAÇÕES
74 | AGENDA
CALENDÁRIO DE CURSOS

EXPEDIENTE
A Revista Estrutura é uma publicação da ABECE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ENGENHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL, dirigida aos escritórios de engenharia e
engenheiros projetistas, construtoras, arquitetos e demais profissionais do setor.
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03
EDITORIAL

ENGENHARIA,
JUVENTUDE, INOVAÇÃO E
PERSPECTIVAS

N
os últimos anos, o Brasil tem fato que agora temos a chance de colo-
experimentado uma série de car as coisas em ordem, fazer nossa lição
eventos políticos que afeta- de casa e, por que não, nosso mea culpa,
ram quase todos os setores pois, afinal de contas, não importamos
da sociedade. Não obstante, a área de políticos de Marte, eles também são fru-
engenharia é uma das que mais tem so- to de nossa sociedade e cultura. Se qui-
frido com as incertezas politicas, falta de sermos ver algo diferente e mudar nosso
confiança generalizada e retirada de in- país de forma
vestimentos dos setores imobiliário e de efetiva, preci-
infraestrutura. samos come-
Muito disso se deve ao sistema alta- çar a mudar
mente sofisticado de corrupção e pro- nossos pró-
pinas implantado no poder público, com prios hábitos e agir diferente ante as si-
auxílio (quem diria!?) das próprias cons- tuações irregulares e antiéticas. Afinal de
trutoras. Sistema esse que vemos ago- contas, não se pode esperar por resulta-
ra eviscerado pela Operação Lava Jato, dos diferentes fazendo sempre as coisas
onde as maiores empreiteiras do país da mesma forma.
financiaram um esquema bilionário de Acreditamos que a nova geração de
propinas a troco de obras públicas e fa- profissionais tem a chance de fazer o
vores do governo. novo, fazer melhor, fazer de fato a dife-
A perda de confiança do mercado é Entretanto, é na adversidade que se rença. Não só na engenharia, mas em
notória. E a falta de investimentos afe- descobre a oportunidade de inovar e todos os setores da sociedade, passando
tou substancialmente o segmento de crescer, pois em um país como o Brasil principalmente pela política, que em nos-
projetos, onde somos testemunhas da que, apesar de sua liderança regional na so país, é a área mais carente de pessoas
expressiva diminuição do tamanho dos América do Sul e de ter ostentado o sta- competentes e comprometidas com a
escritórios de engenharia e desempre- tus de sétima economia mundial durante Nação. A tempestade foi forte, ainda está
go de profissionais dos mais jovens aos a última década, ainda possuí um grande em curso, mas tende a acalmar e espere-
mais experientes. Uma situação que nos déficit habitacional, reservas minerais das mos a bonança de um novo e próspero
faz, mais uma vez, desperdiçar toda uma mais abundantes do mundo e um povo ciclo econômico para a engenharia.
geração de profissionais jovens, compe- com uma incrível capacidade de se rein-
tentes e cheios de garra e de sonhos que ventar em um curto espaço de tempo. Criado em outubro de 2010, o Grupo ABECE Ino-
vação tem como proposta reforçar as ações em-
agora buscam recolocação. Muitos, em Se há algo de positivo em toda essa ba- preendidas pela entidade, tendo como palavras de
setores fora da engenharia. gunça que estava sob nosso tapete, é o ordem: renovar, inovar e crescer.

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PAL AVR A DO PRESIDENTE | JEFFERSON DIAS DE SOUZ A JUNIOR

CONVERSA
DE BAR
Porque insisto em “Conversa de Bar”, Profissionais de todas as áreas estão
sim, com letras maiúsculas... mais propensos à negociação.
Por quê?!?!?! Fora isso, notícias nos dão conta de que
Porque no Brasil, a grande maioria dos parcela dos estoques das construtoras e
problemas é resolvida em uma mesa de incorporadoras já está sendo revertida
bar!!! em novos negócios e, aos poucos, fazendo
Garçom, mais uma cerveja, por favor!!! a máquina do setor da construção e dos
Que o papo é sério, precisamos resol- negócios imobiliários voltar a engrenar;
ver os Problemas do Brasil!!! contudo, agora com uma nova visão que a
Mas os Problemas do Brasil são gran- crise ensinou; talvez com mais parcimônia,
des, vamos ser mais modestos... cuidado e lucidez na tomada de decisões.
Que tal nos atermos aos Problemas da A mão de obra disponível está ávida
Construção Civil?!?? por trabalho, o que gera mais empenho
Boa!!! e zelo.
Já temos muito espaço para divagar- As estruturas das empresas estão mais
mos... enxutas, prontas para atuarem com mais
Mas a Construção Civil é uma área mui- vigor e eficiência.
to diversificada... Os agentes financeiros, em especial a
Que tal resolvermos os problemas das CEF, já estão contratando novamente,
construtoras e incorporadoras?!?! priorizando critérios técnicos mais rígi-
O mercado financeiro está em polvo- dos, o que não deixa de ser um indica-
rosa. dor altamente positivo para as empresas
Altamente volátil. A construção está represada. mais sérias e bem estruturadas.
O ano 2.018 está sob uma nuvem de Posso falar um pouco sobre o meu uni- A crise, de certa forma, selecionará em-
neblina. verso de clientes, construtoras de médio presas e profissionais e forçará uma saí-
As incertezas são muitas, a economia e pequeno porte. da que certamente exigirá conhecimento
brasileira atravessa o que alguns consi- Quem está investindo? e eficiência; receitas que precisam ser
deram uma crise sem precedentes. Preferencialmente três perfis: estudadas e reaprendidas.
Mas uma coisa não muda, não há 1- Os que foram agraciados com recur- Parcerias entre empresas para somar
nenhuma nebulosidade: sos institucionais; conhecimento e experiências e, ao mes-
• As pessoas se unem, casam, nascem, 2- Parcela de clientes que estão com mo tempo, reduzir custos, dividindo es-
a vida não para!!! caixa; paços, enxugando as estruturas;
As demandas continuam ascenden- 3- Clientes que atuam com algum gru- – reestudar projetos, eliminando ou
tes... po de investidores. substituindo materiais e serviços
O déficit  de moradia, em todas as ca- Para esses, o momento é bom, melhor – eficiência nas soluções evitando-se
madas sociais, cresce. dizendo, é ótimo. erros e retrabalho.
A necessidade de produção aumenta... Acreditam que tudo é uma questão de Talvez não tenhamos resolvido todos
Há menor oferta de financiamentos, tempo. os problemas das construtoras e incor-
tanto para as incorporadoras e constru- A mão de obra, escassa em outras épo- poradoras, mas acredito que estejam
toras para execução das obras, quanto cas é abundante hoje. bem encaminhados!
diretamente para o consumidor final rea- Os insumos estão com preços convida- Garçom, a saideira e a conta...
lizar a aquisição do imóvel. tivos. ...enquanto eu chamo um Uber...

05
NOSSO CR AQUE | BENJAMIN ERNANI DIA Z

UM MESTRE DA
ESTRUTURA
RESPEITADO COMO UM DOS MAIS CONCEITUADOS PROJETISTAS DE ESTRUTURAS DO PAÍS,
ERNANI DIAZ FOI RESPONSÁVEL PELA EXECUÇÃO DE ALGUMAS DAS MAIS IMPORTANTES
OBRAS DE INFRAESTRUTURA BRASILEIRAS DAS ÚLTIMAS DÉCADAS

E
m boa parte das grandes obras marcantes destas últimas décadas são
de infraestrutura erguidas no Bra- vários, mas podemos citar os mais im-
sil nas últimas quatro décadas, portantes, sem priorizar um único: a
o nome do engenheiro carioca possibilidade de podermos desenhar
Benjamin Ernani Diaz está sempre em de forma automática por programas
evidência, seja como chefe de projeto ou comerciais com a técnica de CAD; a ca-
como consultor de estruturas. Formado
pela Escola Politécnica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na tur-
ma de 1959, Ernani Diaz, hoje na casa dos
80 anos, é um dos maiores especialistas


brasileiros em projetos ligados ao con-
creto armado e protendido utilizados em
obras de infraestrutura. Suas habilidades
foram aprimoradas com especializações
e doutorado na Alemanha, onde também
O uso do CAD
atuou em diversas empresas. Na volta ao em toda as fases
Brasil, sua experiência foi fundamental
para a criação de um grupo de profissio- do projeto é a
nais responsável pelo projeto da ponte
BENJAMIN ERNANI DIAZ Rio-Niterói e de outro grupo encarrega-
diferença básica
do das estruturas da Central Nuclear de
Angra 2. Acompanhe na entrevista con-
entre a época de
cedida à revista ESTRUTURA, outros as- hoje e a em que
pectos da vida e da carreira profissional
de Ernani Diaz. me formei


ABECE – Com base em sua trajetória
profissional, quais as mais importan-
tes alterações ocorridas na forma de
elaborar projetos estruturais nas úl-
timas décadas?
ERNANI DIAZ – Nas últimas décadas,
o desenvolvimento da engenharia de
estruturas foi simplesmente fantásti- pacidade de analisarmos uma estrutu-
co. Comparando o que se podia fazer ra complexa por meio de programas de
em 1970 com o que fazemos hoje, as computador ricos em possibilidades;
possibilidades e a rapidez com que os o desenvolvimento de novos materiais
serviços de projeto podem ser feitos em todas as áreas (concreto, aços, pro-
são quase inacreditáveis. Os fatos mais tensão, epóxi, fibra de carbono) com

06 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


resistências muito elevadas; a possibili- Filho. Este foi o marco decisivo de tudo lhando os principais desafios venci-
dade de efetuarmos análises não linea- do que aconteceu depois na engenha- dos com sua realização?
res com o material solo (um desenvolvi- ria de estruturas. ERNANI DIAZ – Participei de grandes
mento recente); e também o fato de ser obras, entre elas a da Ponte Rio Niterói,
possível fazer dimensionamento com- ABECE – A seu ver, qual foi o mais na qual atuei como chefe de projeto da
putacional de estruturas sem necessi- significativo?  Quais as áreas da en- Noronha Engenharia. Concebemos uma
dade de nos atermos às simplificações genharia de estrutura onde houve obra capaz de trazer para o Brasil várias
restritivas de normas. maior evolução nas últimas décadas? tecnologias modernas de projeto e de
Soma-se a esses avanços, o uso de equi- ERNANI DIAZ – Em termos de projetos construção: uso maciço de computado-
pamentos sofisticados e poderosos para de estruturas dois grandes desenvolvi- res, pré-fabricação de estruturas, funda-
a construção de obras de estruturas mentos ocorreram na concepção de pro- ções em estacas escavadas até a rocha,
(equipamentos estes ainda de uso inci-
piente no Brasil em alguns casos); a mo-
dernização dos conceitos das teorias de
dimensionamento dos diversos materiais
utilizados; a possibilidade de obtermos
os dados tecnológicos de publicações e


de novas pesquisas em questão de se-
gundos pela Internet, sem esquecer da
elevada qualidade e elevada capacidade
de processamento dos computadores Uso de laje protendida sem
atualmente disponíveis para o projeto e,
finalmente, a facilidade em preparar os
apoios em vigas e utilização de
relatório de projeto em processadores pontes estaiadas de forma quase
de texto.
corriqueira foram dois dos
ABECE – Quais os principais avanços
registrados nesse campo da enge- grandes desenvolvimentos que
nharia brasileira desde em que o se-
ocorreram na concepção de projetos


nhor iniciou suas atividades profis-
sionais?
ERNANI DIAZ – Todos estes avanços
citados são válidos também no Brasil
em vista da facilidade de se trocar in-
formações e de participarmos também,
em âmbito internacional, dos organis-
mos internacionais de divulgação da
tecnologia avançada em estruturas.
O único desenvolvimento que deixa a jetos. Um foi o uso de lajes protendidas montagem de peças estruturais com
desejar no Brasil é o emprego de equi- sem necessidade dos apoios em vigas e o equipamentos especializados, colagem
pamentos de construção sofisticados, outro foi a utilização de pontes estaiadas de aduelas com epóxi, etc.
o que condiciona muitas vezes a con- de forma quase corriqueira. No caso da obra da Central Nuclear de An-
cepção de obras com projetos simpló- gra 2, atuando como chefe de projeto na
rios e dispendiosos. A diferença básica ABECE – Como avalia o atual momen- Promon Engenharia, usamos maciçamen-
de hoje em relação ao passado, como to da engenharia brasileira na área te o computador com a utilização da téc-
todos sabem, é o uso do computador estrutural, do ponto de vista técnico? nica de elementos finitos e conseguimos,
em todas as fases do projeto, da con- ERNANI DIAZ – O trabalho de projeto junto com Eduardo Thomaz, levar adiante
cepção até à construção. Mas o mais envolve engenheiros e projetistas com este projeto complexo e pioneiro no Bra-
importante é o uso da técnica do CAD experiência em CAD. No passado já so- sil. Na Ferrovia do Aço, como consultor
na preparação de desenhos e na facili- fremos hiato no desenvolvimento tecno- para a Engefer, resolvemos, junto com a
dade de analisar e dimensionar as es- lógico destes profissionais importantes. equipe da empresa e também da firma Fi-
truturas. Me formei em 1959, passei al- Vai haver sem dúvida nenhuma um outro gueiredo Ferraz, os inúmeros problemas
gum tempo no exterior e quando voltei hiato atual em que a formação destes de projeto e de construção. No caso das
e comecei a atuar no projeto da Ponte técnicos vai sofrer de novo uma interrup- pontes e viadutos conseguimos, atuando
Rio Niterói, em 1970, criamos o primei- ção importante. com vários projetistas, todos excelentes,
ro grupo de projeto com uso de com- obter obras seguras e que satisfizeram a
putadores no Brasil na firma Noronha ABECE – Poderia relacionar obras todos os envolvidos nos projetos. Atual-
Engenharia, com Antonio de Noronha marcantes da quais participou, deta- mente, estamos atuando, juntamente

07
NOSSO CR AQUE | BENJAMIN ERNANI DIA Z

com o Labgene – Laboratório de Geração ABECE – Que análise faz de alguns epi- ERNANI DIAZ – Além de engenheiro
de Energia Nucleoelétrica, em obras es- sódios recentes envolvendo colapsos civil o meu interesse é amplo com um
truturais da Marinha do Brasil que estão estruturais ocorridos no Brasil? leque que abrange várias especialida-
relacionadas a instalações nucleares, um ERNANI DIAZ – Os problemas ocorri- des: a botânica (publiquei um livro so-
trabalho em comum acordo com a CNEN dos poderiam simplesmente ser evita- bre Figueiras no Brasil), a arquitetura,
– Comissão Nacional de Energia Nuclear, dos com a atuação de revisores compe- a música (fui aluno do curso de violino
de modo a obter estruturas seguras e ao tentes de projeto. Uma firma importante na UFRJ), leitura de revistas científicas
mesmo tempo pioneiras. de construção chega a exigir dois revi- (Scientific American, Recherche, Science
sores quando um projeto começa a ficar et Vie), medicina (tenho inúmeros livros
ABECE – Relate um pouco sobre sua muito sofisticado. Alguns erros seriam de medicina de várias especialidades).
experiência internacional e qual a detectados por meio de uma verifica- Também sou vidrado em filmes e ope-
importância dela em sua carreira ção simples. A firma construtora só tem ras, que assisto sempre ao lado de mi-
profissional? a ganhar com a atuação destes reviso- nha mulher.
ERNANI DIAZ – Comecei a minha vida
profissional na Alemanha na Dyckerhoff
und Widmann atuando com o professor
Herbert Kupfer durante quatro anos.
Aprendi concreto protendido lá utilizan-
do o know how alemão. Trouxe para o Bra-


sil na época várias ideias novas criadas na
Alemanha e que agora são padrões aqui,
tais como: armadura de estribos verti-
cais, barras superiores e inferiores de O especialista em estruturas pode
flexão retas e cabos de protensão com
configuração retilínea, entre outras. atuar em todas as áreas da engenharia,
ABECE – Como avalia o atual estágio
pois ela é o ramo da engenharia
do ensino da engenharia de estrutu- civil que dá a melhor base
ras no Brasil? Pode comparar com a
praticada em países europeus ou nos para o profissional enfrentar
Estados Unidos?
qualquer desafio


ERNANI DIAZ – O curso de engenharia
civil praticado na UFRJ - Universidade
Federal do Rio de Janeiro tem um cará-
ter muito adequado adotando a espe-
cialização já na graduação. Os alunos
já saem com uma bagagem tecnológica
bem adequada nas várias áreas de es-
truturas, construção, mecânica dos so-
los, obras hidráulicas, transportes. Creio res. Por outro lado, alguns acidentes ABECE – Qual sua mensagem para jo-
que esta especialização da engenharia não seriam evitados com a atuação de vens que estejam pensando em iniciar
civil na UFRJ suplanta o ensino em ou- um revisor. Um exemplo clássico é o da o curso de engenharia civil? E, especi-
tras universidades estrangeiras. Já em ciclovia na avenida Niemeyer no Rio de ficamente, para quem pretende come-
outras universidades brasileiras o nível Janeiro. Nenhum engenheiro poderia çar na área de estruturas o que diria?
generalista do curso de engenharia civil imaginar que a construção de uma pla- ERNANI DIAZ – A crise brasileira vai passar.
não consegue acompanhar o desenvol- taforma inferior (para piqueniques) nas Os alunos precisam aproveitar a época de
vimento tecnológico existente na co- décadas passadas na encosta rochosa “vacas magras” e se preparar muito, para
munidade profissional. É praticamente poderia provocar uma onda que se pro- quando chegar a hora da euforia de de-
impossível poder ministrar disciplinas jetasse para cima derrubando o viaduto senvolvimento na indústria de construção,
que ao mesmo tempo pretendem dar pré-moldado. eles estarem aptos a enfrentar o desafio. Os
uma base tecnológica e ao mesmo tem- especialistas de estruturas podem atuar de
po conferir bagagem tecnológica para ABECE – Fora sua atuação na enge- forma adequada em todas as áreas da en-
acompanhar o que se faz na prática com nharia, quais são seus outros interes- genharia civil. É a atividade de projetista de
o volume de informação e desenvolvi- ses, hobbies ou atividades que prati- estrutura que dá uma melhor base para en-
mento existente. ca em horários de folga? frentar qualquer desafio na profissão.

08 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


9
O QUE ELES QUEREM DE NÓS | REPENSAR A FORMA DE ATUAR

AUMENTAR A
PRODUTIVIDADE É O
MAIOR DESAFIO DA
CONSTRUÇÃO
O AUMENTO DA PRODUTIVIDADE PASSA POR COLOCAR DO MESMO
LADO INCORPORADORES, CONSTRUTORAS, PROJETISTAS, INDÚSTRIA
E TRABALHADORES REPENSANDO A FORMA DE ATUAR

A “
POR: YORKI ESTEFAN 1 tualmente o grande desafio para
a construção civil é o aumento
da produtividade de todas as
etapas do processo construtivo.
Um projeto, mesmo
Para conseguirmos esse objetivo te-
mos de repensar a forma em que os di-
tecnicamente
versos elos da cadeia produtiva se rela- adequado,
cionam buscando uma maior integração
entre eles, assim como a eliminação de se não observar a
perdas nos diversos processos produti-
vos que formam o setor da construção.
construtibilidade,
A produtividade da atividade da cons-
trução civil no mundo é inferior à média
acarretará
mundial de todos os demais setores da em perdas de
economia.


No Brasil, temos um segundo delta qualidade
quando comparamos indicadores de
produtividade da construção civil brasi-
leira com a construção civil mundial.
Todos esses dados que dão respaldo a
essa analise estão disponíveis no relató- É impossível aumentar a produtividade
rio da McKinsey Global, que foi divulgado sem quebrar paradigmas e colocar de
em fevereiro de 2017. um mesmo lado todos os atores envolvi-
Muitas empresas, convencidas de que dos com o segmento da construção civil e
1 Yorki Oswaldo Estefan é engenheiro civil for-
mado pela Fundação Armando Álvares Pen- buscar o aumento da produtividade é o da engenharia de maneira geral. Incorpo-
teado (FAAP). Já atuou em diversas empre- único caminho para se tornarem pere- radores, construtoras, projetistas, indús-
sas e atualmente é diretor de Engenharia da
Conx Empreendimentos Imobiliários. Além nes, tem feito grande esforço para alterar trias e trabalhadores tem que repensar a
disso, é coordenador do Comitê de Tecnolo- seus processos baseadas em ferramen- sua forma de atuação.
gia e Qualidade do SindusCon-SP – Sindicato
da Indústria da Construção Civil do Estado
tas como lean construction e também em Os incorporadores precisam repensar
de São Paulo. informações de clientes e fornecedores. as suas alianças estratégicas e ter nas

10 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


construtoras parceiros na elaboração de
projetos com menor exposição a risco e


com lucratividade potencializada.
Cada construtora tem um perfil que
certamente será mais adequado a um tipo
de parceria que o incorporador busca. No nosso mercado não há mais espaço
Os construtores devem buscar proje-
tistas cientes de que um projeto, mesmo
para o improviso, as soluções devem
tecnicamente adequado, se não obser- ser previamente “engenheiradas” e o
var a construtibilidade, acarretará em
perdas de mão de obra ou “arranjos” no planejamento e logística integrados a


canteiro que fatalmente levarão a perdas
de qualidade. todas as etapas, do projeto à execução
Além da construtibilidade os projetos
devem observar que a construção civil
avança para se tornar uma indústria de
montagem.
Esse processo que se iniciou a algum As indústrias modernas há muito tem- O setor da construção civil precisa
tempo, tem agora a sua maior expressão po abandonaram o perfil de vendedoras aprender a valorizar mais as suas con-
nas empresas que atuam no mercado de de materiais para se tornarem verda- quistas e passar essa nova imagem aos
habitação popular, onde os kits de mon- deiros braços técnicos e de logística das consumidores finais.
tagem já são uma realidade sem volta. construtoras. Elas perceberam que o co- Estou otimista de que após esse mo-
No nosso mercado não existe mais espa- nhecimento mútuo das necessidades traz mento difícil em que a economia do Brasil
ço para o improviso, as soluções devem ser a sinergia e o ganho de competitividade. atravessa haverá um mercado forte para
previamente “engenheiradas” à exaustão e Mudamos muito nos últimos anos e a os que souberem fazer o trabalho diário
o planejamento e logística integrados a to- velocidade das mudanças só aumenta a de transformação necessário.
das as etapas, do projeto à execução. cada dia.

11
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PONTE ITAPAIÚNA

FOTO: ULMA CONSTRUCCIÓN


PROJETO COMPLEXO
E DESAFIADOR

A PONTE ITAPAIÚNA FAZ PARTE DE UMA AMPLA INTERVENÇÃO VIÁRIA NA


ZONA SUL PAULISTANA QUE DEMANDOU UM CONJUNTO ARROJADO DE SOLUÇÕES
DE ENGENHARIA PARA VENCER OS COMPLEXOS DESAFIOS DO PROJETO

POR: MAUBERTEC ENGENHARIA INTRODUÇÃO Realizações, na região. Assim, a descri-


E PROJETOS LTDA
Inicialmente, os projetos Básico e Exe- ção da obra é subdividida em duas par-
cutivo da ponte foram desenvolvidos tes: a primeira, referente ao desenvolvi-
pela Maubertec para a SPObras. Pos- mento dos projetos básico e executivo
teriormente, ainda na sua fase de im- para a SPObras, e a segunda, relativa ao
plantação, a ponte se tornou objeto de desenvolvimento do Projeto Executivo
contrapartida viária, por polo gerador, para o Consórcio Complexo Itapaiúna,
através da Lei Municipal 15.150 de 6 de que foi o efetivamente implantado.
maio de 2010, onde, se determinou a
execução desta obra, pela compensação DESCRIÇÃO DA OBRA
aos empreendimentos da Odebrecht
A: Primeira Parte:
Projeto para a SPOBras

Sistema Viário
A Ponte Itapaiúna , obra vencedora da
Categoria Infraestrutura da 14ª Edição
do Prêmio Talento Engenharia Estrutu-
ral, é composta por três ramos: Ramo
Ponte, Ramo 100 e Ramo 200. O Ramo
Ponte, que interliga a avenida Itapaiúna
com a pista local das Nações Unidas, é
acessado a partir da pista expressa da
Marginal Pinheiros por meio do Ramo
100 na altura do Apoio AP4, situado jun-
to à margem do Rio Pinheiros (ver Figura
FIGURA 1A – PLANTA GERAL 1a, 1b e 2 ).

12 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


O acesso do Ramo Ponte ao futuro pro- com uma plataforma para duas faixas de cas do traçado, o conforto do usuário e
longamento da Marginal Expressa do Rio rolamento de 3,50m e uma largura total a durabilidade da estrutura e, por outro,
Pinheiros, em direção a Interlagos, será de 8,96m, confinadas por guarda rodas às exigências dos gabaritos rodoviário,
feito por meio do Ramo 200, a partir do nas extremidades. Essa mesma configu- ferroviário e hidroviário, além de se com-
Apoio AP2 (ver Figura 2). ração foi definida para o Ramo 100 e para patibilizar com as interferências aérea e
O Ramo 200 será executado quando o futuro ramo 200. subterrânea das redes elétrica, drena-
da implantação do prolongamento da A partir da junção do Ramo Ponte com gem, gás, esgotamento sanitário, e com
Marginal Expressa. o Ramo 100, nas imediações do Apoio estruturas já existentes, todas sem pos-
A ponte tem a função de interligar o AP4, o tabuleiro converge para uma pla- sibilidades de remanejamento, à exceção
bairro do Morumbi, através da avenida taforma com três faixas de rolamento de da rede de alta tensão.
Itapaiúna, com a avenidas das Nações 3,50m e uma largura total de tabuleiro de Complementarmente a esse conjunto
Unidas na outra margem, e permitir, atra- 12,46 m. Os inúmeros movimentos ne- de exigências, a obra deveria, dentro do
vés do Ramo 100, o retorno do usuário cessários para atender aos diferentes flu- possível, apresentar o melhor proporcio-
que trafega pela Marginal Pinheiros. O xos exigiram uma geometria com vários namento de vãos e de alturas de constru-
Ramo 200, por sua vez, permitirá o aces- trechos curvos e com raios relativamente ção e agregar esteticamente ao entorno,
so da avenida Itapaiúna à futura pista do pequenos, da ordem de 100m. As pis- de forma marcante.
prolongamento da Marginal Expressa do tas possuem uma declividade constante A partir desse cenário buscaram-se so-
Pinheiros, no sentido de Interlagos. transversal de 3% no sentido radial, vol- luções e alternativas que resultaram nas
Trata-se de uma geometria complexa tada para o centro da curva. seguintes escolhas:
decorrente dos diversos movimentos a Os gabaritos mínimos que foram aten- • A geometria curva da obra e a con-
serem atendidos. didos são respectivamente de 5,50m vergência de ramos sugeriu a adoção
O Ramo Ponte, até seu encontro com o para a passagem de veículos, 7,00m para de uma estrutura em concreto pro-
Ramo 200 e com o Ramo 100, foi previsto a faixa sobre a ferrovia e de 13,00m x tendido, com altura de construção
40,00m sobre o rio Pi- variável no vão principal sobre o rio
nheiros. Não foi permitida e nos dois adjacentes. Nos demais
a implantação de pilares vãos a altura foi mantida constante.
no leito do rio em decor- • Sobre o rio estabeleceu-se um vão de
rência de navegação exis- 112,00m e para os adjacentes 78,91m
tente. Esta condicionante e 84,40m no Ramo Ponte, e 79,60m
exigiu um vão de 112,00m para o Ramo 100 (ver Figura 3).
sobre o rio. • A altura de construção nos apoios
do vão maior foi fixada em 6,00m (h/l
Concepção da =1:18,60) e no meio do vão em 3,00m
Superestrutura (h/l = 1:37,33). A altura de 3,00m foi
A concepção da su- assumida para o restante dos vãos.
perestrutura teve que • Após os ajustes com o viário inferior
atender, por um lado, as e a compatibilização com as inter-
FIGURA 1B – ACESSO AO RAMO PONTE ATRAVÉS DO RAMO 100
características geométri- ferências, chegou-se à seguinte dis-
posição dos encontros e dos apoios
(ver Fig. 1.a na página 12):
o Ramo Ponte:
– Encontro: E1: 42,15 m;
– Vãos: 45,00m; 55,00m; 27,30m;
78,91m; 112,00m; 84,40m e
61,60m;
– Encontro: E2: 100,51m;
– Comprimento do Ramo Ponte:
606,87m.
o Ramo 100:
FIGURA 2 – FUTURO RAMO 200
– Encontro: E3: 7,28 m;
– Vãos: 55,00m; 55,00m; 79,60m;
– Comprimento do Ramo 100:
196,88m.
o Ramo 200:
– Encontro: E4: 71,90 m;
– Vãos: 35,66m; 43,00m; 36,00m;
– Comprimento do Ramo
FIGURA 3 – ELEVAÇÃO – VÃO CENTRAL E ADJACENTES 200: 186,56m.

13
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PONTE ITAPAIÚNA

– Comprimento total da obra: A seção transversal do viaduto da ponte, desta, a seção bicelular propiciou, através
990,31m; adotada para os trechos com duas pistas, da alma interna, a fusão das almas das
– Área total de tabuleiro: foi a seção unicelular com dois balanços seções unicelulares no encontro do Ramo
10.284,95m2 de 2,00m (ver Figura 4). Esses trechos são: Ponte com o Ramo 100, mantendo a con-
Ramo Ponte até o tinuidade, e assim, favorecendo o lança-
Apoio AP4, Ramo mento dos cabos de protensão nas almas,
100 e Ramo 200. na região de transição (ver Figura 6).
Para o Ramo Pon- Objetivando dar maior conforto ao
te, entre o Apoio usuário e reduzir pontos de transição que
AP4 e o encontro demandam maior manutenção, optou-se
E2, a seção adota- por restringir a quantidade de juntas na
da foi a bicelular, superestrutura aos encontros, e a uma
mantendo-se os única junta no tabuleiro, no Apoio AP3.
balanços de 2,00m Em decorrência da geometria muito
(Ver Figura 5). curva e complexa da obra, foram neces-
Apesar de a lar- sários estudos cuidadosos para estabe-
gura da seção ser lecerem-se os pontos fixos da obra e o
FIGURA 4 – SEÇÃO TÍPICA - RAMO PONTE (ATÉ AP4), RAMO 100 E RAMO 200
relativamente mo- direcionamento dos aparelhos de apoio,
para minimizar a geração de esforços ho-
rizontais e deslocamentos significativos
nos encontros que pudessem provocar
desalinhamentos muito grandes da su-
perestrutura com os encontros.
Os aparelhos de apoio escolhidos fo-
ram do tipo Vasoflon fixos, unidirecionais
e multidirecionais.
Esses aparelhos, no geral, foram dispos-
tos em dupla na cabeça dos apoios, dando
condições para absorverem momentos
de torção. Apenas no Apoio AP3, onde
FIGURA 5 - SEÇÃO TÍPICA - RAMO PONTE (AP4 – E2) se localiza a junta de dilatação, optou-se
por utilizar um único aparelho, abrindo-se
mão de absorver o momento de torção
em decorrência da desproporção do vão
AP3 – AP2 em relação ao vão AP2 – AP1.
Essa desproporção foi condicionada pela
compatibilização com o viário inferior.
Também no Apoio AP5 optou-se por
um único aparelho por razões decor-
rentes da geometria, como se verá mais
adiante. As transversinas foram limitadas
aos apoios e às duas bifurcações decor-
rentes das junções das seções unicelula-
res, uma nas proximidades do Apoio AP2
(Ramo Ponte com Ramo 200) e outra do
Apoio AP4 (Ramo Ponte com Ramo 100).
FIGURA 6 – JUNÇÃO DOS RAMOS PONTE E 100 - UNIFICAÇÃO DAS LONGARINAS B E C Apesar da grande curvatura, a ausência
de transversinas intermediárias facilitou
bastante a execução.

Concepção dos Pilares


Os pilares foram concebidos em forma
de cálice convergindo para um fuste com
seção transversal circular para as cargas
menores, e com seção composta por um
trecho central retangular, concordando
nas suas extremidades com dois semi-
FIGURA 7A – FORMA DO PILAR AP5 FIGURA 7B – MODELO TRIDIMENSIONAL DO PILAR AP4 círculos, para as cargas maiores. Essa

14 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


A OPÇÃO PARA OS PILARES FOI DE ESTACAS ESCAVADAS, COM EXCEÇÃO DO APOIO AP4, ONDE SE USOU TUBULÃO A AR COMPRIMIDO

composição permitiu manter para todos antecipou à execução dos


os pilares a mesma forma curva do fuste, tubulões, esse fato permitiu
variando apenas o núcleo central retan- que se adotasse, também
gular, o que viabilizou uma otimização no no Apoio AP4, a solução de
reaproveitamento das formas dos pilares fundação com estacas es-
(ver Figura 7a e 7b). cavadas, ficando assim toda
a superestrutura sobre o
Escolha do Tipo de Fundação mesmo tipo de fundação.
e Configuração dos Blocos Para alguns apoios a dispo-
As características do perfil geotécnico sição das estacas escava-
junto aos apoios recomendaram dois ti- das teve que se adaptar à
pos de fundação: uma delas em tubulão presença das interferências
a ar comprimido e a outra em estacas es- citadas.
cavadas de grande diâmetro, variando de Nos casos em que os pi-
1,20m a 1,80m. lares ficaram sujeitos a mo-
A opção escolhida foi a de estacas es- mentos transversais signi-
cavadas para todos os pilares, com exce- ficativos devidos às cargas FIGURA 8 – BLOCO AP2 (CG DESLOCADO)
ção do apoio AP4 em que a solução ado- de peso próprio, portanto
tada foi a de tubulão a ar comprimido, com a resultante de peso próprio fora de construtivas, e do Apoio AP6 que tangen-
devido à interferência com a linha de alta seu eixo, procurou-se dispor o centro de ciou o interceptor de esgotos da Sabesp.
tensão da Eletropaulo que necessitaria gravidade do estaqueamento no centro Em sua maioria, os blocos tiveram uma
ser remanejada caso se adotasse a alter- de gravidade das resultantes das cargas de configuração usual paralelepipédica, com
nativa em estaca escavada. peso próprio, de forma a uniformizar, ao a face superior horizontal e o pilar locado
Para os encontros onde as cargas eram máximo, as cargas nas estacas para esse no eixo do bloco. Apenas os apoios men-
menores, a fundação escolhida foi em es- carregamento. cionados no item anterior, pelas razões ci-
taca raiz, quando profunda, ou em sapata Foram os casos das fundações dos tadas, fugiram a esse critério (ver Figura 8)
direta, quando rasa. A opção pela estaca apoios AP2, AP3, do Apoio AP4 que tan-
escavada foi decorrente da rapidez al- genciou uma ponte existente, do Apoio Encontros
cançada em sua implantação. Como o re- AP5 que interferiu com tubo de drenagem Os encontros foram concebidos em
manejamento da linha da Eletropaulo se e teve que atender às condições das fases forma de caixa, em que o tabuleiro se

15
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PONTE ITAPAIÚNA

apoia nas paredes, mantendo os mes- mizar espaço para seu


mos balanços da seção transversal da su- alojamento na estrutura.
perestrutura. As paredes, por sua vez, se A visualização da modela-
apoiam em estacas raiz ou em fundação gem é mostrada na Figu-
direta, conforme apresentado em corte ra 11 (a, b e c).
genérico na Figura 9. O concreto especificado
foi de fck = 40 MPa, refri-
Análise Estrutural gerado, para minimizar
Em função de sua grande curvatura, os riscos de fissuração
a obra foi inicialmente concebida como decorrentes do calor de
moldada “in loco”. hidratação.
As análises estruturais da fase de Pro- FIGURA 9 – ENCONTRO ESTAQUEADO
jeto Básico foram feitas a partir da simu-
lação da superestrutura na configura-
ção de barras, (ver Figura 10). Com essa
simulação foi possível realizarem-se o
pré-dimensionamento da estrutura e
uma avaliação da cablagem de proten-
são, além de se estudar a vinculação da
superestrutura aos pilares e os direcio- FIGURA 10 – MODELO TRIDIMENSIONAL EM ELEMENTOS DE BARRA
namentos dos aparelhos de apoio, de
forma a minimizar os esforços decorren-
tes das deformações devidas à tempera-
tura, às deformações elástica e lenta, e
à retração.
A
No Projeto Executivo, a complexidade
da geometria da superestrutura, acresci-
da da decisão de não se utilizar transver-
sinas intermediárias nos vãos, conduziu à
decisão de se fazer a modelagem integral
da estrutura por elementos planos e pro-
cessá-la por elementos finitos, utilizando
o software Sofistik.
Analogamente, a partir de processos
desenvolvidos internamente na Mau-
bertec, modelou-se a cablagem, cons-
tituída por cabos de alta capacidade,
de 27 cordoalhas, diâmetro de 15,2mm B C
e aço CP 190RB, com o objetivo de re-
duzir a quantidade de cabos e econo- FIGURA 11 (A, B E C) – MODELO TRIDIMENSIONAL ELABORADO NO SOFTWARE SOFISTIK

FOI USADO CONCRETO FCK = 40 MPA, REFRIGERADO PARA REDUZIR


RISCOS DE FISSURAÇÃO SOBRE O RIO PINHEIROS ESTABELECEU-SE UM VAO DE 112,00 METROS

16 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


FIGURA 12 – PONTES 1 E 2 FIGURA 13 – FRENTES DE TRABALHO E SEQUÊNCIA EXECUTIVA

B. Segunda Parte: Projeto FRENTE 1 – Constituída pelo Ramo 100 e – Introdução de balanços sucessivos a
para a Odebrecht pelo Ramo Ponte no trecho compreendido partir de estruturas cimbradas molda-
entre os apoios AP3 e AP4 e balanço partin- das “In loco”, nas Frentes 1 e 3;
Sequência Construtiva do do apoio AP4 até o meio do vão. A frente – Introdução de um duplo disparo em
e Métodos Construtivos foi dividida em quatro fases, sendo as três balanços sucessivos a partir do Apoio
da Superestrutura primeiras moldadas “in loco“ sobre cimbra- AP5 em um trecho curvo com raio de
Conforme apresentado anteriormente, mentos e a quarta fase executada em ba- 100,00m.
a implantação do Ramo 200 está condi- lanços sucessivos;
cionada à ampliação da via expressa da FRENTE 2 – Constituída por dois balan- Impactos no projeto
Marginal Pinheiros e, portanto, foi reme- ços partindo do apoio AP5, executados Os impactos dessas alterações no pro-
tida à outra fase que será implementada em duas fases: a primeira, constituída por jeto podem ser resumidos como segue:
posteriormente. um trecho moldado “in loco” sobre o pilar, – Na Ponte 1, a execução do Ramo 200
O Consórcio Complexo Itapaiúna, decide para alojamento das treliças, e a segunda, em fase futura exigiu o estudo des-
contratar o reprojeto da ponte, para melhor por dois balanços sucessivos disparados se trecho nas duas condições, sem
atender suas estratégias e metodologias de simultaneamente, com exceção das duas o Ramo 200 e com o Ramo 200, su-
construção, bem como considerar a situa- primeiras aduelas que foram executadas perpondo as duas situações no que
ção da implantação futura do Ramo 200. defasadas para viabilizar a montagem das tange ao comportamento estático às
O planejamento inicial seria de exe- treliças dos balanços sucessivos; deformações, bem como ao dimen-
cutar o vão sobre o rio em balanços su- FRENTE 3 – Constituída pelo vão entre o sionamento e à disposição da cabla-
cessivos, mantendo o restante da obra encontro E2 e o apoio AP6, moldada ”in gem e à viabilidade executiva;
apoiada sobre cimbramento. Porém, loco” sobre cimbramentos, denominada – Na execução dos trechos por vãos, a
para melhor adequação ao seu cronogra- Fase 1, e parte do vão entre o apoio AP6 e o estrutura sofreu uma mudança nos
ma e às interferências existentes, essa al- apoio AP5, denominada Fase 2, executada esforços solicitantes para cada fase
ternativa evoluiu para uma configuração em balanços sucessivos. executiva, o que requereu uma aná-
executiva em que os vãos entre os apoios Os fechamentos entre a Frente 1 e a lise da cablagem a ser determinada e
AP6 e AP5, e entre os apoios AP5 e AP4, Frente 2 e entre a Frente 2 e a Frente 3, compatibilizada, para atender a essas
seriam executados por balanços sucessi- deram-se por fases de protensão parcial diferentes situações;
vos e os demais, cimbrados. alternadas. – A introdução dos balanços sucessi-
A Ponte foi então dividida em duas su- A nova configuração executiva mudou vos a partir dos trechos cimbrados
perestruturas independentes, separadas profundamente o projeto da obra, intro- exigiu uma mudança do tipo de cabo
pela junta de dilatação sobre o pilar AP3. duzindo novos elementos estruturais para que teve sua capacidade reduzida
O trecho entre o encontro E1 e o apoio permitir sua viabilização. para se adequar à quantidade de
AP3 foi denominado Ponte 1 e o trecho As alterações em relação à solução origi- aduelas do balanço sucessivo e per-
compreendido entre o apoio AP3, e os nal, moldada “in loco” sobre cimbramento, mitir que em cada aduela houvesse,
encontros E2 e E3 foi denominado Ponte foram as seguintes: pelo menos, dois cabos ancorados.
2, conforme esquematizado na Figura 12. – Consideração da situação provisória Além disso, como de praxe, a cada
A Ponte 1 foi executada “in loco”, sobre decorrente da execução futura do avanço do balanço, toda a estrutura
cimbramentos e em uma única frente e Ramo 200, anteriormente previsto foi verificada em termos de esforços
uma única fase. Já a Ponte 2 foi subdivi- para ser executado juntamente com a solicitantes, bem como de deforma-
dida em três frentes de trabalho, e cada Ponte 1; ções, considerando os efeitos da de-
frente, por sua vez, em fases construtivas – Execução dos trechos moldados “in formação lenta no cálculo das con-
conforme descrito a seguir (ver Figura 13). loco” cimbrados, por vãos; traflechas.

17
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PONTE ITAPAIÚNA

– Foram adotados cabos de 27 cordoalhas de diâmetro 15,2mm e de


12 cordoalhas nos balanços sucessivos, todos montados com enfia-
ção posterior. A sequência de protensão nos balanços sucessivos
seguiu os avanços das aduelas e a dos trechos cimbrados seguiu
uma sequência obtida após análise dos impactos das fases de pro-
tensão no carregamento do cimbramento, bem como na própria su-
perestrutura. Com o estudo detalhado da sequência de protensão,
foram evitadas boa parte das sobrecargas nos cimbramentos que
em alguns casos poderiam chegar a 100% da carga original.
– Em decorrência do uso de cabos de alta capacidade e da ancora-
gem de vários deles em uma mesma seção e em seções consecu-
tivas, foram realizados estudos detalhados do fluxo e dos níveis de
tensões desenvolvidos nessas regiões de concentração de cargas.

Duplo disparo sobre o Pilar AP5 – Frente 2


A solução de duplo balanço a partir do apoio AP5 apresentou dois
problemas de estabilidade ao tombamento durante a fase de execu-
ção. O primeiro decorreu do fato de a superestrutura, na fase definiti-
va, se articular no pilar e não estar preparada para absorver qualquer
desequilíbrio longitudinal. Esse problema foi resolvido com a utiliza-
ção de quatro pilares provisórios, dimensionados para absorverem o
desequilíbrio provocado pela concretagem de um avanço, admitindo
que seu par estivesse defasado de um avanço. Em outras palavras, o
momento de desequilíbrio considerado correspondeu àquele provo-
cado pelo peso do concreto da aduela, acrescido pelo do momento FIGURA 14 – PILARES PROVISÓRIOS JUNTO AO AP5

FORAM USADOS CABOS DE 27 CORDOALHAS COM DIÂMETRO


15,2MM E 12 CORDOALHAS NOS BALANÇOS SUCESSIVOS

18 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


decorrente das diferenças de posições de avanço das treliças,
além do desequilíbrio provocado por uma carga acidental distri-
buída de 500 N/m2. Os pilares foram posicionados e solidariza-
dos nas faces inferiores das longarinas e apoiados no bloco do
apoio AP5, (ver Figura 14).
O segundo problema originou-se da instabilidade transversal
decorrente da curvatura da obra, de tal forma que, na situação
dos dois balanços finalizados, o centro de gravidade das cargas
da superestrutura situava-se fora do pilar, configurando uma si-
tuação de tombamento caso não se engastasse no pilar, ou alter-
nativamente, se não se criasse um pilar auxiliar, alinhado com o
eixo transversal do pilar definitivo, na direção da resultante das
cargas, e que auxiliasse a estabilidade transversal dos balanços
na fase executiva. Esta última alternativa foi a solução adotada.
A carga dos dois balanços foi absorvida pelo aparelho de apoio
definitivo do apoio AP5, nesse caso constituído de apenas uma
unidade, e por outro aparelho de apoio locado no pilar provisó-
rio. Para a superestrutura poder se apoiar no pilar provisório
foi necessário criar-se um console, também provisório, ligado à
transversina de apoio, por contato, por meio de uma superfície
dentada e por cabos de protensão não injetados. (ver Figura 15) FIGURA 15 – PILAR E CONSOLO PROVISÓRIO

A concepção inicial previa que no pilar


provisório fosse instalado um aparelho
tipo Vasoflon, análogo ao do pilar defini-
tivo, e a transferência de carga do apare-
lho provisório para o definitivo fosse rea-
lizada na última etapa executiva da obra,
pela desprotensão progressiva dos cabos
não injetados do console provisório, após
a superestrutura estar totalmente soli-
darizada. Essa proposta foi alterada por
sugestão da Protende, fornecedora dos
FIGURA 16 – APARELHO DE APOIO ESPECIAL
aparelhos de apoio e executora da pro-
tensão, que julgou complexa a operação
TABELA 1A – CARGAS NOS APOIOS APÓS A PROTENSÃO FINAL (KN) devido à localização dos cabos, tendo
AP5 PP1 PP2 PP3 PP4 PP5 sugerido que a transferência da carga se
Fases Total
Topo Topo Topo Topo Topo Topo desse através do aparelho de apoio pro-
PT Positiva visório, configurado especialmente para
-10070.8 -11193.2 -3971.8 -1561.4 -1314.4 2124.9 -25986.7
P4-P5-P6 essa finalidade. Esse aparelho especial foi
Retirada PP4 -10932 -11321 -3978 -829.7 1337 -25723.7 projetado em forma de bacia, com a pla-
ca superior apoiada em um leito de areia
Retirada PP5 -9361 -11079 -4346 -902.8 -25688.8
confinado pela bacia, para facilitar a fase
Retirada PP2 -9852 -12867 -2890 -25609.0
de transferência de carga (ver Figura 16).
Retirada PP3 -13604 -11973 -25577.0 Com essa configuração, constituída pelo
Retirada PP1 -24737 -24737,0 pilar definitivo com um único aparelho de
apoio e por cinco pilares às vezes funcio-
TABELA 1B – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA CARGA TOTAL NOS APOIOS APÓS A PROTENSÃO FINAL nando como tirantes, foi possível garantir a
AP5 PP1 PP2 PP3 PP4 PP5 estabilidade da fase de balanços sucessivos
Fases
Topo Topo Topo Topo Topo Topo com duplo disparo a partir do Apoio AP5.
PT Positiva Essa configuração permaneceu até a
39% 43% 15% 6% 5% -8%
P4-P5-P6 protensão completa e definitiva da obra.
Retirada PP4 42% 44% 15% 3% -5% Somente após essa fase é que se iniciou
Retirada PP5 36% 43% 17% 4% a demolição dos pilares e dos consoles pro-
Retirada PP2 38% 50% 11% visórios, na seguinte sequência: PP4, PP5,
PP2, PP3 e PP1.
Retirada PP3 53% 47%
A Tabela 1 (a e b) indica as cargas nos
Retirada PP1 100%
diversos apoios na fase logo após a pro-

19
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PONTE ITAPAIÚNA

FIGURA 18 – COMPORTAMENTO DOS SENSORES DE DESLOCAMENTO

tensão final (denominada PT positiva en- especificado na obra que consistia do uso
tre os apoios AP4, AP5 e AP6), bem como de água injetada pelas aberturas, já pre-
as cargas e respectivas participações vistas nas laterais da bacia do aparelho,
percentuais nos apoios remanescentes, para a retirada progressiva do colchão de
na medida em que os pilares provisórios areia que suportava a placa superior do
iam sendo eliminados. aparelho (ver Figura 17).
Para garantir uma transferência lenta de Os resultados dos ensaios mostraram
carga do pilar PP1 para o apoio definitivo que esse processo de retirada do colchão
AP5, por se tratar de carga muito elevada, de areia permitia um assentamento lento e
como se pode ver na Tabela 1, foram feitos sem impactos, o que se repetiu também na
FIGURA 17 – ENSAIO DO APARELHO ensaios em aparelhos de porte menor em obra, tendo sido realizada a transferência
ESPECIAL EM ESCALA REDUZIDA
laboratório, utilizando o mesmo processo da carga com pleno sucesso (ver Figura 18).

Ramo Ponte

Carga
Apoio Id Nominal Tipo Direcionamento
(kN)

Esq 5500 Multidirecional


E1
Dir 5500 Multidirecional

Direcionado ao
Esq 11000 Unidirecional
AP1 aparelho fixo do AP2

Dir 11000 Multidirecional

Esq 17000 Fixo


AP2
Dir 17000 Multidirecional

Central 5500 Multidirecional


FIGURA 19 – VARIAÇÃO NO MOMENTO DE TORÇÃO DEVIDO À REMOÇÃO
DO PILAR PROVISÓRIO PP1 Paralelo ao
AP3 Esq 5500 Unidirecional
eixo da obra

Dir 5500 Multidirecional

Esq 40000 Fixo


AP4
Dir 40000 Multidirecional

Direcionado ao
Esq 45000 Unidirecional
AP5 aparelho fixo do AP4

Prov 25000 Multidirecional

Paralelo ao
Esq 25000 Unidirecional
AP6 eixo da obra

Dir 20000 Multidirecional


FIGURA 20 – VARIAÇÃO NO MOMENTO FLETOR DEVIDO Esq 8000 Multidirecional
À REMOÇÃO DO PILAR PROVISÓRIO PP1 (AZUL = MOMENTO POSITIVO; E2
VERMELHO = MOMENTO NEGATIVO) Dir 8000 Multidirecional

20 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


apoio (ver Figura apoios AP5 e AP3, de junta, que, no lado
Ramo 100
20). do vão entre os apoios AP3 e AP2, pos-
Carga Os diagramas a suem um único aparelho (Ver Figura 21).
Apoio Id Nominal Tipo Direcionamento
(kN) seguir foram obti- O resultado final dos estudos resultou a
dos da modelagem seguinte configuração:
Esq 5500 Multidirecional
E3 e simulação do fa-
Dir 5500 Multidirecional seamento constru- Juntas de Dilatação
paralelo ao tivo e apresentam A obra tem três juntas de extremidade
AP1 Esq 11000 Unidirecional as variações causa- nos encontros E1, E2, E3, e uma interme-
eixo da obra
R 100 das pela remoção diária sobre o apoio AP3 (ver Figura 22).
Dir 11000 Multidirecional
do Pilar Provisório Foi especificada a junta Jeene, ade-
AP2 Esqw 13000 Multidirecional PP1 no momento quando o tipo aos movimentos previstos
R 100 Dir 13000 Multidirecional de torção (Figura longitudinal e transversalmente.
19) e no momento A distribuição das juntas e os respecti-
fletor (Figura 20) vos deslocamentos longitudinais e trans-
Verificou-se, inclusive, que o desloca- versais resultaram os seguintes:
mento poderia ser controlado ao inter- Aparelhos de Apoio
romper a injeção d’água (patamares des- Por força das elevadas cargas e dos Desloc. Desloc.
Junta Tipo
Long. Transv.
tacados no gráfico). deslocamentos decorrentes dos efei-
Como a decisão foi de deixar apenas tos de deformação elástica, deforma- E1 JJ13090CP 8,00 cm 3,50 cm
um aparelho de apoio no AP5, ao se ção lenta, retração e temperatura, do E2 JJ170120CP 16,00 cm 7,00 cm
transferir a carga do PP1 para o apoio processo construtivo e da geometria E3 JJ170120CP 13,00 cm 6,00 cm
AP5 introduziu-se um momento de tor- complexa, utilizaram-se os aparelhos de AP3 JJ13090CP 6,00 cm 1.00 cm
ção que foi absorvido pela superestru- apoio do tipo Vasoflon fixo, unidirecional
tura e transmitido para os apoios AP6 e e multidirecional. Blocos de Fundação dos
AP4 (ver Fig. 20). Observe-se, ainda, que A configuração da disposição dos apa- apoios AP4, AP5 e AP6
a carga final, após a retirada do pilar PP1, relhos de apoio nas cabeças dos pilares l AP4
foi reduzida em relação à carga existen- foi normalmente composta pela combina- Dadas as restrições locais de implanta-
te antes dessa retirada, passando de ção de dois aparelhos, possibilitando a ab- ção da ponte, o bloco do apoio AP4 ficou
25.577 kN para 24.737 kN, indicando sorção do movimento de torção no pilar.
uma redução do momento negativo no Fogem a essa configuração os pilares dos

FIGURA 21 – DISPOSIÇÃO E DIRECIONAMENTO FIGURA 22 – DISPOSIÇÃO DAS JUNTAS DE


DOS APARELHOS DE APOIO DILATAÇÃO

FIGURA 24A – TUBULAÇÃO PASSANDO PELO


BLOCO AP5 – PLANTA

FIGURA 24B – TUBULAÇÃO PASSANDO PELO


FIGURA 23 – LOCAÇÃO DE ESTACAS, BLOCOS E PILAR BLOCO AP5 – CORTE

21
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PONTE ITAPAIÚNA

FIGURA 25A – BLOCO DO APOIO AP6 COM A LOCAÇÃO DO INTERCEPTOR


– PLANTA

tangente à ponte existente e ao córrego. A Figura 23 mostra a FIGURA 25B – BLOCO DO APOIO AP6 COM A LOCALIZAÇÃO DO
INTERCEPTOR – CORTE
disposição de estacas, bloco e pilar.

l AP5 assegurando, assim, que não houvesse qualquer possibilidade


A execução do bloco do apoio AP5 exigiu um aterro de ponta de interferência com o interceptor. A disposição em planta do es-
na margem do rio para permitir a execução das estacas escava- taqueamento foi determinada em função desta interferência e,
das e da vala necessária para a moldagem do bloco sobre a ca- por consequência, a forma do bloco (ver Figura 25).
beça das estacas. Na contenção da vala foram utilizadas estacas
prancha, preservando o tubo de drenagem que, dada a dificulda- l Encontro E1
de de remanejá-lo, foi incorporado ao bloco. O encontro E1, denominado “Caixa 1”, é composto por dois cai-
A Figura 24 (a e b) mostra o projeto da vala com o respectivo po- xões justapostos, com comprimentos de 16,08m e 23,83m, apoia-
sicionamento do duto. dos diretamente no solo por meio de uma sapata corrida associada,
de onde saem as duas paredes laterais verticais. Sobre essas pare-
l AP6 des se apoiam a laje superior, constituída pelos dois balanços de
Por sua vez, as estacas do apoio AP6 tangenciaram o intercep- 2,00m, que concordam com os balanços da seção celular da supe-
tor de esgotos da Sabesp, passando a uma distância mínima de restrutura, e pela laje interna, esta com vão de 4,66m entre os eixos
50 cm da face do túnel, após a execução de cuidadosos levanta- das paredes. Transversalmente, na extremidade de cada caixa há
mentos de campo e de documentação, para determinar com se- um septo transversal, (Figura 26). A estrutura foi moldada “in loco”.
gurança a posição do interceptor. Apesar disso, decidiu-se cravar
um tubo guia de maior diâmetro, 1,80m, cuja geratriz distasse l Encontro E2
50 cm do interceptor, até atingir uma profundidade superior à O encontro E2, denominado “Caixa 2”, foi concebido em cai-
de sua base. A estaca foi então escavada por dentro do tubo, xões em módulos de aproximadamente 32,0m, sequenciados e

FIGURA 26 – “CAIXA 1”

22 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


A OBRA TEVE DE CONVIVER COM TRÂNSITO, ALÉM DE OBSTÁCULOS COMO REDE DE ENERGIA ELÉTRICA E O LEITO DO RIO PINHEIROS

justapostos, perfazendo um comprimen- ciada, de onde partem as paredes late- O tabuleiro foi projetado em pré-mol-
to total de 97.58m. (ver Figura 27) Cada rais com mesma inclinação das almas da dado, com complementação “in loco”.
caixão tem três septos, sendo um inter- seção celular da superestrutura. A sapata Sobre as paredes laterais se apoiam os
mediário e os demais nas extremidades. tangencia e em alguns pontos se super- elementos pré-moldados com largura de
Cada módulo está apoiado em funda- põe transversalmente ao envelope de 2,00m, com seção transversal em ∏ entre
ção direta, em uma sapata corrida asso- duto da Comgás (ver Figura 28). as paredes de apoio e complementados
nas suas extremidades por duas lajes em
balanço com vãos de 2,00m que concor-
dam com os balanços da superestrutura
(ver Figura 29).
Os elementos pré-moldados são mon-
tados justapostos e nos apoios são liga-
dos às paredes por um pino. Posterior-
mente, são capeados por uma camada
complementar de concreto com 16,0 cm
de espessura.

l Encontro E3
O encontro E3 é composto pela viga
travessa que recebe os aparelhos de
apoio da superestrutura, e que se apoia
sobre duas estacas escavadas de Ø
1,50m (ver Figura 30). A partir da tra-
vessa saem duas paredes verticais dis-
tanciadas entre si de 4,71m e com vãos
de 6,65m, que se apoiam na outra ex-
FIGURA 27 – ELEVAÇÃO - ENCONTRO 2
tremidade em uma viga transversal com

23
ESTRUTUR A EM DESTAQUE | PONTE ITAPAIÚNA

trosamento das equipes de projeto e da


Construtora Odebrecht, chave do suces-
so do empreendimento.
Deseja-se agradecer inicialmente à
equipe da Maubertec pela dedicação e o
empenho no enfrentamento do desafio
de um projeto complexo, a partir de uma
metodologia nova com novos recursos de
softwares complementados por desenvol-
vimentos internos durante a elaboração do
projeto. O agradecimento estende-se tam-
bém às demais equipes que participaram
do empreendimento, pelo elevado espírito
profissional, dedicação, colaboração e inte-
gração manifestados durante os períodos
de projeto e de execução da obra.

FICHA TÉCNICA

Proprietário: Prefeitura do Município de


São Paulo / SIURB – Secretaria de Infraes-
trutura Urbana
Responsável: SPObras - São Paulo Obras
Empreendedora: Odebrecht Realizações
Imobiliárias
Executora: Construtora Norberto Ode-
brecht
FIGURA 28 – ENCONTRO 2 - SEÇÃO TRANSVERSAL
Projetista: Maubertec Engenharia e Projetos
Controle de Qualidade de Projeto (CQP):
comprimento igual à largura do tabulei- às paredes, as lajes em balanço dão con- EGT Engenharia
ro que, por sua vez, se apoia em duas tinuidade aos balanços que vêm da supe- Protensão e Aparelhos de Apoio: Protende
estacas raiz Ø 41,0m. Essas paredes restrutura. O encontro é todo moldado Formas e Escoramentos: ULMA Cons-
estão distanciadas entre si de 4,71m e “in loco”. truction
possuem vãos de 6,65m. Balanços Sucessivos: ConstruGomes /
O tabuleiro entre as paredes verticais CONCLUSÃO ULMA Construction
está estruturado transversalmente por Procurou-se abordar os aspectos mais Controle de contra-flechas: OUTEC Enge-
vigas espaçadas entre si de 1,00m e nas relevantes do projeto da Ponte Itapaiuna, nharia
extremidades, de 1,33m. Externamente cuja execução ocorreu em perfeito en- Juntas: Jeene Juntas e Impermeabilizações
Fundações: EMPA

FIGURA 29 – ELEMENTOS PRÉ-MOLDADOS FIGURA 30 – CAIXA 3

24 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


ESPAÇO ABERTO | CBCA

CONSTRUÇÃO
EM AÇO
PROJETO E CONTRATAÇÃO DE MONTAGEM
DE LAJES STEEL DECK CUJAS VANTAGENS SÃO:
MAIOR VELOCIDADE DE CONSTRUÇÃO,
QUALIDADE INDUSTRIAL E NÃO NECESSIDADE
DE ESCORAMENTO

APESAR DE SER MUITO ADOTADO PARA

P
ESTRUTURAS DE AÇO, O STEEL DECK
PODE SER USADO EM EDIFICAÇÕES
ublicada em outubro de 2015, tura que, desde o princípio, preveja o steel DE ESTRUTURA MISTA, DE CONCRETO
a norma específica para o steel deck e contemple suas características. ARMADO, ALVENARIA ESTRUTURAL,
deck, a ABNT NBR 16.421:2015 - Como em outros elementos estruturais, ENTRE OUTROS SISTEMAS
Telha-fôrma de aço colaborante o steel deck deve atender aos requisitos
para laje mista de aço e concreto - Requi- de resistência e serviço durante toda sua de paginação e fixação, feito em parceria
sitos Gerais, estabelece os requisitos e os vida útil, descritos na NBR 8.800. com o fornecedor.
ensaios aos quais devem atender a telha- O steel deck é bem versátil e suporta Um dos principais cuidados é garantir
-fôrma de aço colaborante para laje mista qualquer tipo de sobrecarga. “Caso ne- que a laje seja instalada do lado correto,
de aço e concreto, revestida, conformada cessário, é possível colocar armadura em que as mossas têm maior aderência
a frio, de seção transversal trapezoidal, adicional, aumentando sua capacida- com o concreto, para não comprometer
reentrante, retangular, ondulada, entre de resistente”, explica Humberto Bel- seu desempenho. Outros cuidados são
outras, com os seguintes tipos de reves- lei, membro da comissão executiva do a paginação, posição de instalação, ele-
timento: zincado por imersão a quente; CBCA e coordenador do projeto da NBR mentos de fixação (conectores e costu-
zincado por imersão a quente e revestido 16.421. ras) e também aos acessórios que permi-
por um processo de pintura. Alguns cuidados específicos devem tem a estanqueidade do sistema. “Todas
Lajes em steel deck estão sendo cada ser tomados. “Recomenda-se que a es- essas informações devem estar contidas
vez mais adotadas no Brasil por vanta- pessura nominal da chapa de aço não no projeto”, avisa Bellei.
gens como a não necessidade de escora- seja inferior a 0,8 mm, e o aço deve ter REFERÊNCIAS
mento, qualidade industrial, planicidade, qualificação estrutural e resistência ao NBR 8.800 – Projeto de Estruturas de Aço
boa relação custo–benefício, assertivi- escoamento nominal mínimo não inferior e de Estruturas Mistas de Aço e Con-
dade de custo, velocidade e facilidade de ao ZAR 280 MPa”, conta Bellei. Os vãos creto de Edifícios;
instalação, limpeza no canteiro, menor habituais deste tipo de laje ficam entre NBR 7008-3 – Chapas e bobinas de aço
fluxo de entrada de materiais e saída de 2,50 m e 3,50 m. revestidas com zinco ou liga zinco-fer-
resíduos. Em relação ao revestimento, o aço ro pelo processo contínuo de imersão
Apesar de serem muito adotadas em pode ser zincado por imersão a quen- a quente – Aços Estruturais;
prédios de estrutura em aço, também te e também ser revestido por pintura. NBR 7013 – Chapas e bobinas de aço
podem ser utilizadas em edificação de É fundamental que o fornecedor tenha revestidas pelo processo contínuo de
concreto armado, alvenaria estrutural, todos os ensaios e comprovações de de- imersão a quente – Requisitos gerais;
parede de concreto, madeira, entre ou- sempenho do seu produto. Comparati- NBR 14.323 – Dimensionamento de Es-
tros. Há elementos de fixação próprios vamente a outros sistemas estruturais, a truturas de Aço de Edifícios em Situa-
para os diversos sistemas construtivos. montagem do steel deck é simples e pode ção de Incêndio – Procedimentos
É preciso atentar, porém, que todos es- ser realizada pelo próprio fabricante ou NBR 16.421 - Telha-fôrma de aço colabo-
ses benefícios só se realizam se for feito pela construtora. Mas é preciso haver um rante para laje mista de aço e concreto
um bom projeto de engenharia e arquite- planejamento antecipado e detalhado Requisitos gerais

25
ESTRUTUR AS ME TÁLICAS | SISTEMA INOVADOR DE REFORÇO EM PONTE DE METAL

REFORÇO EM PONTE
COM LAMINADO
CFRP PROTENDIDO
NÃO ADERENTE
ESTUDO DA APLICAÇÃO DO SISTEMA DE REFORÇO À FADIGA DE PONTE METÁLICA
FERROVIÁRIA POR MEIO DE LAMINADOS CFRP PROTENDIDO NÃO ADERENTE

A
POR FILIPE DOURADO E JOANA PEREIRA
Ponte de Münchestein localiza- Em 1892 foi construída uma nova ponte,
-se perto da cidade de Basel, com vão único, para reestabelecer a liga-
sobre o Rio Birs e foi construída ção ferroviária. O tráfego normal diário
em 1875 por Gustav Eiffel. Em inclui trems de carga e passageiros.
1891, 15 anos após iniciada sua utilização, Os métodos de reparação e reforço
a ponte colapsou após a passagem de um tradicionais de pontes metálicas antigas
trem de passageiros. O acidente foi in- envolvem geralmente soluções pesadas
vestigado pelo Prof. L. Tetmajer, primeiro com elementos metálicos, também sus-
diretor do EMPA, que concluiu que a fór- ceptíveis à fadiga.
FILIPE DOURADO JOANA PEREIRA mula de Euler para a flambagem deveria Os materiais de reforço CFRP têm sin-
ser modificada para elementos esbeltos. do utilizados em muitas aplicações de

(A) PONTE SUJEITA


À AÇÃO DE TREM S3

(B) CONSTITUIÇÃO
DE 10 PAINÉIS COM
COMPRIMENTO TOTAL
DE 45.2 M, ALTURA DE
6.5 M E LARGURA DE
5 M, EM CONSTRUÇÃO
INCLINADA A 45º
FIG. 1 – PONTE DE MÜNCHESTEIN – EXTRAÍDO DE [5]

26 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


reforço por terem uma elevada taxa de
resistência x peso, elevada resistência
à corrosão e excelente performance à
fadiga. O recurso da protensão permi-
te utilizar maior capacidade resistente
do material, o que resulta no aumento
das tensões de escoamento e capacida-
de resistente dos elementos estruturais
reforçados.
Este estudo de caso apresenta um mé-
todo inovador de reforço com laminados
CFRP, que dispensa a preparação da su-
perfície, diminuindo o tempo de aplica-
ção do sistema em obra.
A ponte foi construída em ferro for-
jado (“batido”). De acordo com a do-
cumentação disponível, o módulo de
Young, tensão de escoamento e ten-
FIG 2 – SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO WIRELESS DO REFORÇO - EXTRAÍDO DE [5]
são última são 200 GPa, 220 MPa e 320
MPa, respectivamente. Os laminados
de carbono são do tipo S&P C-Lamina- gamento, de forma a estudar o compor- (N=1 200.000 com abertura de fissura).
te 150/2000 50/1.2 (50 mm de largura tamento estático e sob fadiga das vigas Constatou-se correspondência de resul-
e 1,2 mm de espessura) com E=167,2 metálicas [3]. Os ensaios foram realiza- tados entre os ensaios experimentais e
GPa e resistência à tração de 2710 MPa. dos de tal forma que o método analíti- a formulação analítica. Por questões de
Para medir a extensão dos laminados co desenvolvido fosse ensaiado experi- dispersão de resultados, foram ainda
foram colados vários extensômetros – mentalmente. Foram ensaiados um total ensaiadas mais duas vigas, com procedi-
um extensômetro na zona central de de seis vigas metálicas em duas etapas: mento idêntico ao descrito. Maior deta-
cada laminado tipo 6/120 LY16, com uma fase inicial de quatro vigas, e duas lhe sobre o plano de ensaios realizados
fator k=2,06±1 e resistência elétrica de adicionais em fase posterior. Todas as poderá ser consultado em [3].
120W±0,35%. Para medir a extensão vigas foram ensaiadas com um sistema No que se refere à estrutura da pon-
das vigas metálicas foram colocados ex- simétrico de quatro pontos de flexão e te metálica, as tensões na alma inferior
tensômetros magnéticos =0,544 na um vão de 5m. Em cada uma das vigas, das vigas foram determinadas por mo-
alma inferior das vigas do tipo FGMH-1 foram abertos dois pequenos orifícios delo em elementos finitos, consideran-
(CBF-6), k=2,02±2 e resistência elétrica no meio do vão do banzo inferior, para do as cargas permanentes e a sobre-
de 120W±0,5% [5]. criar zona de concentração de tensões carga do trem de carga D4 (ver Fig. 3),
Foi também instalada uma rede de e consequente abertura de fissuras por de acordo com as imposições do código
sensores wireless, que agrega os vários fadiga, bem como simular o efeito das Suíço SIA.
equipamentos de medição menciona- aberturas dos rebites das vigas. O método analítico desenvolvido tem
dos, bem como medidores de tempera- A viga de controle (não reforçada) foi como base o princípio de Constant Life
tura ambiente e umidade relativa. A rede ensaiada para uma carga cíclica de fadi- Diagram (CLD) e os critérios de fadiga de
de sensores wireless, que inclui senso- ga F entre 2,5 e 68 kN, tendo sido detec- Goodman e Johnson modificado. Estes
res de 8 canais e nós das estações base, tada uma fissura no ciclo N= 600 000 e critérios incorporam a variação de ten-
foi fornecida pela Decentlab GmbH [5] o ensaio paralisado. As outras três vigas sões, o nível médio de tensões e as pro-
– ver Fig 2. reforçadas foram ensaiadas com níveis priedades do material – Fig. 4. Com base
Previamente à aplicação do sistema de protensão de 30% (N=2 000 000 de nestes critérios foram determinados os
protendido não aderente na estrutura ciclos para carga similar à viga de con- níveis de protensão mínimos para pre-
da ponte, foram realizados ensaios la- trole), 22% (N= 4.000.000 sem abertu- venir o início do aparecimento de fissu-
boratoriais com diversos tipos de carre- ra de fissuras) e 14% respectivamente ras por fadiga.

(A) (B)
FIG. 3 – MODELO DE CARGA DE TREM DE PASSAGEIROS S3 (A) E DE TREM DE CARGA D4 (B) – EXTRAÍDO DE [5]

27
ESTRUTUR AS ME TÁLICAS | SISTEMA INOVADOR DE REFORÇO EM PONTE DE METAL

(A) ESQUEMA GENÉRICO (B) RESULTADOS OBTIDOS


FIG. 4 – CLD REPRESENTATIVO DO CRITÉRIO DE GOODMAN E DE JOHNSON MODIFICADO – EXTRAÍDO DE [5]

A força de protensão aplicada ao sis- determinar os níveis de tensão da viga elementos estruturais é constituída por
tema de reforço com laminados CFRP em análise. Concluiu-se que para um dois sistemas de placas de ancoragem
permite reduzir o nível médio de ten- fator de segurança de n=1,04 de acordo e duas barras de desvio. O sistema
sões, de forma que a estrutura metá- com o Critério de Johnson modificado, o dispensa a tradicional colagem, e por-
lica, inicialmente sujeita a níveis de ten- nível de protensão laminado de CFRP é tanto, não está limitado pela aderência
sões elevadas, passe para um regime da ordem de 35% [5]. do CFRP aos elementos metálicos – ver
de tensões seguro e tendencialmente A protensão nas vigas metálicas da Figs. 5 e 6.
sem fadiga. ponte é aplicada mecanicamente por Ao fixar as ancoragens por atrito, foi
De acordo com a metodologia analí- meio de um sistema temporário, e a li- observada uma excentricidade inicial
tica desenvolvida, foi também possível gação entre o sistema de reforço e os e pt =77mm. Para obter o nível de reforço
de portensão foi necessária uma excen-
tricidade ep = 142 mm [5]. A aplicação
do reforço foi realizada com recurso a
um macaco e a variação de tensões nos
elementos foi medida pelo sistema de
monitoração instalado. A operação de
aplicação de protensão ocorreu com
a estrutura em serviço por cerca de 30
minutos. A Fig. 7. ilustra as medições efe-
tuadas durante esta operação. Os picos
assinalados no gráfico referem-se à pas-
sagem de dois trens.
FIG. 5 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE VIGA REFORÇADA COM SISTEMA DE LAMINADOS O gráfico da Fig. 8 ilustra os níveis de
CFRP PROTENDIDO NÃO ADERENTE – EXTRAÍDO DE [5] tensão antes e depois da aplicação do

FIG. 6 – COMPONENTES DO SISTEMA DE REFORÇO – EXTRAÍDO DE [5]

28 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


FIG. 7 – MONITORAÇÃO DA APLICAÇÃO DA PROTENSÃO IN SITU – FIG. 8 – TENSÕES NA ZONA CRÍTICA DA VIGA N.º 5 SUJEITA À
EXTRAÍDO DE [5] AÇÃO DO TREM S3 – EXTRAÍDO DE [5]

sistema. Pode-se observar a passagem de


um estado de tensões de tração (antes da
aplicação do sistema de reforço) para um
estado de tensões de compressão.
A rede wireless de sensores colocada
na estrutura permitiu fazer a compara-
ção do nível de tensões obtido no mode-
lo de elementos finitos tridimensional, na
zona crítica da ponte – ver Fig. 9.
Em conclusão, foi desenvolvido e apli- FIG. 9 – COMPARAÇÃO DE TENSÕES DO MODELO DE ELEMENTOS FINITOS E TENSÕES MEDIDAS
NA ESTRUTURA DEVIDO À PASSAGEM DE UM TREM S3 - EXTRAÍDO DE [5]
cado um sistema de reforço à fadiga em
ponte metálica ferroviária com 120 anos
na Suíça, por meio de sistema de proten- senvolvido pela S&P. A S&P também ded and bonded prestressed CFRP
são não aderente de laminados CFRP. disponibiliza soluções de laminados plates, International Journal of Fatigue,
Esta solução permitiu a redução do nível CFRP protendidos colados usualmente 2012, 44, pp. 303 – 315.
médio de tensões na estrutura, e a tran- aplicadas em estruturas de concreto Ghafoori E., Schumacher A., Motavalli
sição de regime de fadiga para um estado armado. M., Fatigue behavior of notched steel
de tensões seguro e fora dos limites de Na realização deste projecto houve en- beams reinforced with bonded CFRP
fadiga. Foi desenvolvido um método ana- volvimento de várias entidades. plates: Determination of prestressing
lítico, com base no constant life diagram, Parceiros Industriais: level for crack arrest, Engineering
para determinar o nível mínimo de pro- • Swiss Comission for Technology and Structures, 2012, 45, pp. 270 – 283.
tensão que inibe a abertura de fissuras Innovation (CTI) Ghafoori E., Motavalli M., Nussbaumer
por fadiga na estrutura metálica da pon- • S&P Clever Reinforcement Company AG A., Herwig A., Prinz G.S., Fontana, M.,
te, e permite que esta tranforme de um • Swiss Federal Railways (SBB) Determination of minimum CFRP pre-
regime de vida limitado para um regime • Parceiros de investigação: -stress levels for fatigue crack preven-
infinito no que à fadiga diz respeito [5]. • EPFL, Swiss Federal Institute of Tech- tion in retrofitted metalic beams, Eng
Vantagens de aplicação deste sis- nology Lausanne, Steel Structures Struct 84, 2015, pp. 29 – 41.
tema: Laboratory (ICOM) Ghafoori E., Motavalli M., Normal, high
– Possibilidade de aplicação em su- • ETHZ, Swiss Federal Institute of Te- and ultra-high modulus carbon fi-
perfícies rugosas chnology Zürich, Institute of Structu- ber-reinforced polymer laminates for
– Rápida instalação ral Engineering (IBK) bonded and un-bonded strengthe-
– Fácil aplicação de protensão sem • EMPA, Swiss Federal Institute of Mate- ning of steel beams, Materials and de-
necessidade de recurso hidráulicos rial Science and Technology, Structural sign 67, 2015, pp. 232 – 243.
– Sem interrupção de tráfego Engineering Laboratory, Dübendorf Ghafoori E., Motavalli M., Nussbaumer
– Mínima intervenção estrutural (dis- A., Herwig A., Prinz G.S., Fontana, M.,
pensa preparação de superfície) REFERÊNCIAS Design criterion for fatigue strengthe-
– Fácil remoção do sistema ning of riveted beams in a 120-year-
– Nível de protensão ajustável Ghafoori E., Motavalli M., Botsis J., Her- -old railway metallic bridge using pre-
Nesta obra foram aplicados lami- wig A., Galli M., Fatigue strengthening -stressed CFRP plates, Composites:
nados e sistema de protensão de- of damaged steel beams using ubnon- Part B 68, 2015, pp. 1 – 13.

29
ARTIGO TÉCNICO | INSPEÇÃO EM ESTRUTUR AS DE OBR AS PAR ALISADAS

DIRETRIZES PARA
INSPEÇÃO EM
ESTRUTURAS DE OBRAS
PARALISADAS

POR ALEXANDRE TOMAZELI E PAULO HELENE 1 - INTRODUÇÃO


Inúmeras cidades brasileiras possuem
ou possuirão um dia em seu histórico uma
estrutura de concreto armado inacabada
ou uma obra paralisada, da qual foram
extraviados a documentação de controle
de aceitação do concreto. Quando da re-
tomada dessas obras, dúvidas ocorrerão
quanto às condições de resistência, dura-
bilidade e qualidade do concreto estrutu-
ALEXANDRE TOMAZELI
ral, resultando em incertezas sobre como
retomar e concluir o projeto.
Esta dúvida é mais complexa quan-
do não há históricos e documentações
técnicas que comprovem a qualidade
do concreto empregado na execução
destas estruturas, no que se referem à
conformidade da resistência mecânica
à compressão especificada no projeto
estrutural. A situação se agrava em face
PAULO HELENE das ações agressivas do meio onde a es-
trutura ficou inserida ao longo dos anos,
e devido também às eventuais falhas
construtivas ocorridas durante a fase de
construção, que poderão reduzir signifi-
cativamente seu desempenho.
O presente trabalho propõe diretrizes FOTO 1 - VISTA DE OBRA PARALISADA COM
e critérios que podem ser empregados ESTRUTURA À VISTA.
nas inspeções, nos registros das princi- FONTE: ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR
(TOMAZELI, 2004, P. 05)
pais falhas construtivas eventualmente

30 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


encontradas, nos ensaios tecnológicos QUADRO 1 – PRINCIPAIS MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO
que podem ser adotados para a obten- Agressividade do ambiente Consequências sobre a estrutura
ção das resistências mecânicas à com-
Alterações inicias
pressão dos concretos e na durabilidade, Natureza do Condições
na superfície Efeitos a longo prazo
de modo a buscar atender os principais processo particulares
do concreto
requisitos de qualidade de toda estrutu- Redução do pH,
ra: capacidade resistente, desempenho Carbonatação UR 60% a 85% Imperceptível corrosão de armaduras,
em serviço e durabilidade. fissuração superficial
Redução do pH,
Atmosfera ácida, Eflorescências,
Lixiviação corrosão de armaduras,
2 – CONHECIMENTO DOS águas puras manchas brancas
desagregação superficial
FENÔMENOS PATOLÓGICOS Umedecimento
NAS ESTRUTURAS DE Retração
e secagem,
Fissuras
Fissuração,
ausência de cura, corrosão de armaduras
CONCRETO UR baixa (<50%)
Partículas ácidas
O concreto armado ou as estruturas Manchas escuras
em suspensão na Redução do pH,
executadas com este material devem se Fuligem por deposição
atmosfera urbana corrosão de armaduras
manter duráveis ao longo dos anos, des- sobre a estrutura
e industrial
de que projetadas e construídas dentro Colônias ácidas Redução do pH,
dos padrões de qualidade determinados Fungos e em temperaturas Manchas escuras desagregação
por normas técnicas e também das boas mofos (>20°C e <50°C) e esverdeadas superficial,
práticas construtivas, em concordância com UR >75% corrosão de armaduras
com o meio em que se encontra e aten- Concentração Atmosfera marinha Despassivação e
Imperceptível
dendo às manutenções preventivas es- salina, CI- e industrial corrosão de armaduras
pecificadas no Manual de Uso e Opera- Expansão-fissuras,
ções do Proprietário. Esgoto e águas desagregação
Sulfatos Fissuras
servidas do concreto,
Por sua vez, quando ocorrerem falhas
corrosão de armaduras
em alguma de suas fases ou ao longo
Composição do Expansão-fissuras,
de sua vida útil operacional (projeto, Fissuras,
Álcali- concreto, desagregação
execução e manutenção), a estrutura gel ao redor do
agregado agregados reativos, do concreto,
padecerá de males e doenças, denomi- agregado graúdo
umidade, UR>95% corrosão de armaduras
nadas ou caracterizadas por manifesta- Fonte: Andrade, Medeiros e Helene (2011, p. 784)
ções patológicas.
As estruturas e os materiais constituin-
tes do concreto armado ou do concreto Por sua vez, a ABNT NBR 6118:2014
protendido, assim como as criaturas hu- (ABNT, 2014, p.15) descreve no item 6.3 os
manas, podem padecer de males congêni- principais mecanismos de envelhecimento
tos e adquiridos, bem como sofrer aciden- e deterioração da estrutura de concreto:
tes durante a vida (Noronha, 1980, p.04). a) Mecanismos de envelhecimento e
Segundo o autor, tais falhas são geralmen- deterioração
te causadas por projetos inadequados a.1) Mecanismos preponderantes
ou impraticáveis; métodos deficientes de na deterioração do concreto:
execução; cargas excessivas; choques; in- a.1.1) Lixiviação: percolação de água
cêndios; e mão de obra incompetente ou através do concreto ou na sua su-
não devidamente qualificada. perfície, carreando os compostos
Cumpre notar que um acidente ou cimentícios por ação de águas pu-
mesmo muitos sintomas patológicos po- ras, carbônicas agressivas, ácidas e
dem ocorrer por deficiências originadas outras:
em várias etapas do processo de cons- a.1.2) Expansão: decorrente do ataque
trução e uso, ou seja, em geral acidentes por águas ou solos que contenham
FOTO 2 - AUMENTO DA POROSIDADE DO
estruturais raramente ocorrem devido a ou que estejam contaminados por CONCRETO EXPOSTO
uma única razão. sulfatos, resultando em reações ex- FONTE: ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR
Por sua vez, Andrade, Medeiros e He- pansivas e deletérias para a pasta (TOMAZELI, 2012, P. 83)
lene (2011, p.784) apresentam uma visão de cimento hidratado. As reações
geral dos principais mecanismos físico- expansivas podem resultar tam- térmicas aceleradas ou calor de hi-
-químicos de deterioração das estrutu- bém de efeitos deletérios da tem- dratação do cimento.
ras de concreto armado e protendido, peratura do concreto quando esta a.1.3) Reação álcali-agregado (RAA):
conforme mostrado no quadro I. supera os 65o C por conta de curas segundo Hasparyk (2011, p. 940), é

31
ARTIGO TÉCNICO | INSPEÇÃO EM ESTRUTUR AS DE OBR AS PAR ALISADAS

um termo geral utilizado para des- A agressividade do meio ambiente está O pH do concreto é altamente alcalino
crever vários tipos de reações quí- relacionada às ações físicas e químicas (11< pH <13), o que restringe a capacida-
micas que podem ocorrer interna- que atuam sobre as estruturas de concre- de do micro-organismo de crescer e de
mente no concreto, envolvendo to, independentemente das ações mecâ- se desenvolver. No entanto, quando o
alguns componentes mineralógi- nicas, das variações volumétricas de ori- concreto está exposto a condições am-
cos presentes em rochas e agrega- gens térmicas, da retração hidráulica e de bientais como poluentes atmosféricos e
dos reativos usados em concreto outras previstas no dimensionamento das o dióxido de carbono, estes reduzem seu
e álcalis do cimento presentes na estruturas (ABNT NBR 6.118:2014, p.16). pH e aumentam a biorreceptividade do
solução dos poros. Como resulta- material, formando-se uma película que
do da reação, são formados pro- 3 – DEMAIS CONSIDERAÇÕES se chama biofilme sobre um substrato.
dutos que, na presença de umida- Após a instalação do biofilme há a fixa-
de, em sua maioria, são capazes de QUE DEVEM SER AVALIADAS ção de outros micro-organismos e partícu-
expandir e causar tensões inter- EM ESTRUTURAS DE las do meio na superfície do concreto, for-
nas, fissurações e deslocamentos CONCRETO PARALISADAS: mando manchas e pátinas biológicas que
(conforme foto 3), podendo levar descaracterizam o material. Esse fenôme-
a um comprometimento da dura- Além dos fenômenos patológicos rela- no pode ser chamado de biodeterioração
bilidade. Como sempre, para que cionados simplificadamente no item 2.0, estética, tal como ilustrado na foto 4:
ocorram reações químicas deleté- deve-se também levar em consideração,
rias, há necessidade da presença numa inspeção, o que segue:
de umidade e água. 3.1 – Manchas escuras de fuligem
e a formação do
gel da proliferação
de micro-
organismos no
concreto exposto:
O concreto armado
aparente de estruturas
em obras paralisadas
por longos anos, por
efeito da deposição da
fuligem presente na
poluição atmosférica FOTO 4 - MANCHAS ESCURAS DA
IMPREGNAÇÃO DE FULIGENS E PROLIFERAÇÃO
oriunda dos combustí-
DE MICRO-ORGANISMOS NA SUPERFÍCIE
FOTO 3 - BLOCO DE FUNDAÇÃO COM REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO veis de veículos e indús- DO CONCRETO APARENTE DA ESTRUTURA
FONTE: ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR (TOMAZELI, 2015, P. 34) trias que utilizam estes INACABADA EM OBRA NA CIDADE DE SÃO PAULO
materiais ou carvão no FONTE: ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR
(TOMAZELI, 2015, P. 145)
seu processo produtivo,
a.2) Mecanismos preponderantes de apresenta manchas escuras em sua super-
deterioração relativos à armadura: fície, principalmente nos últimos andares. 3.2 – Aspectos geométricos da
a.2.1) Despassivação por carbonata- Aliada a este problema, também ocor- estrutura de concreto armado
ção: é a despassivação do aço da re, ao longo dos anos, o ataque de micro- Nas inspeções de campo devem ser
armadura por ação do gás carbôni- -organismos tais como fungos e bolores, verificadas as condições dos aspectos
co da atmosfera sobre o concreto. resultando em um gel ácido que causa geométricos da estrutura de concreto
a.2.2) Despassivação por ação de clo- manchas de cores esverdeada a preta armado.
retos: Consiste na ruptura local da no concreto. A ação desses agentes pode Repette (1991, p. 14) descreve que o não
camada de passivação do aço da proporcionar a deterioração precoce do cumprimento das especificações de pro-
armadura, causada por elevada material, reduzindo a sua durabilidade, jeto, como por exemplo erros na confec-
concentração de íons-cloreto. seu desempenho e sua vida útil. Esse ção das fôrmas acarretando desvios nas
a.3) Mecanismos de deterioração mecanismo de deterioração, envolvendo locações e alterações nas dimensões das
da estrutura propriamente dita: a ação do agente biológico, pode ser de- peças estruturais, são tidos como falhas
São todos aqueles relacionados às nominado de biodeterioração (Pinheiro e eminentemente construtivas e muitas
ações mecânicas (tais como fissuras e Silvia, 2011, p. 1067), também conhecido vezes são detectados já mesmo durante
deformações excessivas), movimenta- em engenharia de concreto por lixiviação. as operações de acabamento das edifica-
ções de origem térmica, impactos, ações Um fator muito importante para a de- ções. As principais mencionadas pelo au-
cíclicas, retração, fluência e relaxação, terioração da estrutura de concreto é o tor que se devem ser verificadas são:
bem como as diversas ações que atuam tempo, que proporciona a instalação e o a) Prumo de pilares ou peças lineares:
sobre as estruturas. crescimento dos micro-organismos sobre Deve-se neste caso verificar se o de-
b) Agressividade do meio ambiente: a superfície, acelerando sua deterioração. saprumo atende aos limites estabe-

32 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


lecidos no item 9.2.4 da ABNT NBR FLUXOGRAMA 1 – CRITÉRIO PROPOSTO DE ATUAÇÃO PARA ANÁLISE DE ESTRUTURA DE CONCRETO
14.931:2014 (ABNT, 2014, p. 23);
b) Verificação da excentricidade de
pilares: A ABNT NBR 14.931:2014
(ABNT, 2014, p. 23) prescreve que na
verificação deve ser respeitada uma
tolerância de +/- 5 mm entre eixos
de pilares em relação ao projeto;
c) Nível e flechas de lajes e vigas: Es-
tas deformações mencionadas nos
itens c e d anteriores, por sua vez,
devem respeitar os limites estabe-
lecidos na tabela 13.2 do item 13.3
da ABNT NBR 6.118:2014 – Projeto
de estruturas de concreto armado
– Procedimento (p. 71).

4 – CRITÉRIOS PARA A
INSPEÇÃO DE ESTRUTURAS
FONTE: ELABORADO PELO AUTOR (TOMAZELI, 2017)
DE CONCRETO ARMADO
As estruturas de concreto devem ser
inspecionadas nos seus mais diversos Pode-se compreender basicamente e certificação de pessoal – Requisitos.
aspectos (itens), de forma que a verifica- no fluxograma 1 o critério de inspeção e Estas inspeções também deverão ser
ção da sua segurança seja feita com base avaliação proposto por este autor, para a realizadas por empresa capacitada ou
em dados os mais próximos possíveis da avaliação do desempenho de superestru- especializada, segundo a ABNT NBR
realidade e, sendo assim, ser possível a turas de concreto paralisadas. Feitas as 5.674:2012 – Manutenção de edificações
adoção de uma conduta de intervenção. devidas análises, cabe ao engenheiro civil, – Requisitos para o sistema de gestão de
No sentido de atingir o objetivo propos- após as necessárias avaliações e conclu- manutenção.
to no presente item, primeiramente de- sões finais, emitir um parecer técnico. Partindo por esta ótica, poderá ser
ve-se ter o conhecimento das seguintes Cumpre frisar que, por sua vez, a adotado o seguinte critério:
considerações: equipe técnica de inspeção de campo a) Elaboração de novas plantas de fôr-
a) Critérios de vistoria em superes- deverá ser treinada como estabelece a mas para o registro dos fenômenos
truturas de concreto armado de ABNT NBR 16.230:2013 – Inspeção de patológicos detectados na fase de
edifícios; estruturas de concreto – Qualificação inspeção, devidamente legendados
b) As tipologias e as frequências das (figura 02);
anomalias e deteriorações das su- b) As inspeções poderão ocorrer da co-
perestruturas de concreto arma- bertura ao último andar (térreo ou
do e do próprio material concreto, último subsolo), e adotar um único
além dos diagnósticos das origens sentido de inspeção da estrutura,
destas anomalias; c) Elaboração dos ensaios tecnológi-
c) Os critérios para a avaliação e acei- cos para a determinação das ori-
tação da resistência do concreto gens da corrosão de armadura e a
para fins de durabilidade e desem- determinação da resistência mecâ-
penho. nica potencial estimada (fck,pot,est);
O processo então se encerra com a FOTO 5 – VIGA COM CORROSÃO DE d) As fotografias das manifestações
execução dos serviços descritivos, ou ARMADURAS patológicas nas peças estruturais
seja, na emissão do laudo técnico (termo deverão ser obtidas de uma dis-
usado somente por Perito Judicial) ou do tância adequada, onde seja pos-
parecer técnico (termo usado por qual- sível uma visualização adequada
quer assistente técnico de causa judicial do conjunto estrutural (figura 05).
ou qualquer engenheiro para relatar uma Também se faz necessário fotogra-
opinião ou avaliação), que por sua vez é far a ocorrência em detalhe, como
feito com a finalidade de manter formali- ilustra a figura 06:
zada a história da obra e suas condições e) Na fase de inspeção de campo deve-
físicas atuais, para possíveis intervenções rão também ser coletadas as amos-
futuras que se fizerem necessárias para o tras de concreto para os ensaios de
FOTO 6 – DETALHE DA PATOLOGIA DA FOTO 5
seu restabelecimento. determinação do teor de íons clore-

33
ARTIGO TÉCNICO | INSPEÇÃO EM ESTRUTUR AS DE OBR AS PAR ALISADAS

to sobre a massa de cimento (smc), situadas dentro dos retângulos tra- Esta resistência mecânica estimada
geralmente pilares ou vigas das fa- cejados na cor azul: (fck,pot,est) pode ser determinada por meio
ces voltadas para as fachadas: de ensaios à compressão dos testemu-
5 – DETERMINAÇÃO DA nhos, extraídos de alguns pilares pré-deter-
minados desta estrutura que representam
CORRELAÇÃO ENTRE OS uma propriedade mecânica do concreto, e
ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS de ensaios de esclerometria, obtendo-se
E DESTRUTIVOS PARA A um índice esclerométrico que representa
uma propriedade física deste concreto.
OBTENÇÃO DA RESISTÊNCIA Usualmente procede-se um número
À COMPRESSÃO POTENCIAL maior de lotes de ensaios esclerométricos
ESTIMADA DO CONCRETO do que a extração das amostras de con-
creto que, de algum modo, pode afetar a
(FCK,POT,EST ) integridade do elemento estrutural ensaia-
FOTO 7 – FUROS COM BROCA E FURADEIRA Nesta fase da análise da resistência do, além de representar um ensaio muito
NO PILAR PARA COLETA DAS AMOSTRAS
à compressão potencial estimada do mais oneroso. Como quantidade mínima
concreto (fck,pot,est) da estrutura, deverão de extrações pode-se atender às imposi-
ser adotadas as diretrizes preconizadas ções da tabela 1 da ABNT NBR 7680-1:2015
neste item, que envolverão a determi- (ABNT, 2015, p. 4) quanto à amostragem
nação dos lotes, o número de testemu- parcial, adotando-se um plano de concre-
nhos a serem extraídos dos concretos, tagem, limitado entre 6 a 8 metros cúbicos
os lotes de ensaios esclerométricos para de concreto consumido nos pilares, e ao
a obtenção do índice esclerométrico e a longo dos pavimentos fazendo-se um rodí-
obtenção dos valores finais de resistên- zio destes pilares, tanto para as extrações
cia. Como os pilares são as peças estru- como para os ensaios de dureza superfi-
FOTO 8 – FUROS COM BROCA E FURADEIRA turais que mais dependem da resistên- cial, que deverão ser, no mínimo, o dobro
NO PILAR PARA COLETA DAS AMOSTRAS cia à compressão do concreto para que das amostras dos testemunhos extraídos,
qualquer estrutura de concreto armado como indicado a seguir:
Os locais de coletas das amostras de- se mantenha estável. Suas resistências,
vem ser indicados nas plantas de fôrmas por sua vez, deverão atender às especi-
de cada pavimento. ficações do projeto estrutural.
f) O registro da localização das foto- No presente item, aborda-se o critério
grafias deverá ser executado du- sugerido para se obter a resistência à
rante as inspeções nas plantas de compressão potencial estimada do con-
fôrmas da estrutura, como indica- creto (fck,pot,est).
do na planta da figura 1, nas setas
5.1 - Curva de
correlação entre
resistência
mecânica e índice
FIGURA 2 – ESQUEMA HIPOTÉTICO NA
esclerométricos: DETERMINAÇÃO DOS LOTES EM FUNÇÃO DO
Partindo do prin- VOLUME DO CONCRETO REPRESENTADAS
cípio de que o di- PELAS CORES
mensionamento do
projeto estrutural da
edificação esteja cor-
reto, deve-se então
determinar as resis-
tências mecânicas
estimadas dos con-
cretos à compressão
(fck,est) de uma estru-
tura já executada em
qualquer idade em
que ela se encontre FIGURA 3 – PLANTA DA ESTRUTURA
FIGURA 1 – REGISTRO DA LOCALIZAÇÃO DAS FOTOGRAFIAS E ou de uma estrutura DOS PILARES ONDE SERÃO EXTRAÍDOS
FENÔMENOS PATOLÓGICOS EM PLANTAS em andamento ou TESTEMUNHOS DE CONCRETO
FONTE: FIGURA ELABORADA PELO AUTOR (TOMAZELI, 2017) REPRESENTATIVOS DOS LOTES
paralisada.

34 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


TABELA 1 – REPRESENTAÇÃO FINAL DAS RESISTÊNCIAS ESTIMADAS COM BASE NA CURVA DE
CORRELAÇÃO DO LOTE DE CONCRETO ANALISADO

FIGURA 4 – PLANTA DA ESTRUTURA DOS


PILARES ONDE SERÃO EXECUTADOS
ENSAIOS ESCLEROMÉTRICOS E EXTRAÇÃO
DE TESTEMUNHOS

Com base nos resultados dos ensaios


dos corpos de prova extraídos (ou seja,
na determinação da resistência à com-
pressão axial) e dos respectivos resulta-
dos dos índices esclerométricos (deter-
minação das suas durezas superficiais)
nos mesmos elementos estruturais e Esta equação representa a reta média b) Determinação da resistência pela
locais onde se executarão as devidas ex- entre a interpolação dos resultados em ABNT NBR 12655:2015: Esta norma
trações de testemunhos, determina-se a um gráfico X e Y, onde X representa todos considera dois tipos de controle de
curva de correlação linear entre os valo- os valores obtidos nos ensaios de dureza resistência: o controle estatístico do
res dos dois resultados de ensaios dis- superficial e Y, os valores obtidos nos en- concreto por amostragem parcial e
tintos destes concretos ensaiados para saios de ruptura à compressão axial dos o controle do concreto por amos-
uma determinada obra executada em testemunhos extraídos e rompidos na tragem total. Para o controle por
qualquer período ou data. A expressão prensa hidráulica. amostragem parcial é prevista uma
que relaciona a resistência à compres- Com esta equação, estimam-se valores forma de cálculo do valor estimado
são com a dureza superficial do con- de resistência mecânica à compressão da resistência característica (fck,pot,
creto é a regressão linear de uma reta, em pilares onde somente foram procedi- est) do lote de concreto em estudo.

como segue a figura 5 e representada dos ensaios esclerométricos, pois enten- Obs.: As quantidades de corpos de
pela equação que segue: de-se que a concretagem dos pavimentos prova e ensaios do índice de dureza
foi executada com concreto distintos em superficial poderão ser aumenta-
datas diferentes. A tabela 1 indica exem- das, conforme forem se obtendo os
plos de valores hipotéticos, onde em azul resultados de ruptura dos testemu-
são os valores obtidos das resistências nhos do laboratório, ou seja, se os
estimadas dos pilares com base na equa- resultados forem não conformes,
ção de correlação, onde foram somente se faz necessária a extração de
executados os ensaios de esclerometria mais corpos de prova, com o aval
e a equação da curva de correlação linear do projetista estrutural, dos pilares
do pavimento analisado; e em vermelho mais solicitados.
FIGURA 5 – ILUSTRAÇÃO ESQUEMÁTICA DA são os valores de fck,pot,est obtidos da cor-
CURVA DE CORRELAÇÃO LINEAR relação linear entre o índice e o fck,pot,ext. 5.2 – Considerações
FONTE: GRÁFICO ELABORADO PELO AUTOR Aceitação do concreto e obtenção do quanto aos aspectos de
(TOMAZELI, 2015, P. 38)
fck,pot,est pode ser obtido por dois meios, segurança na estrutura:
como indicado na tabela 1, sendo eles: Os resultados fck,pot,est obtidos dos con-
Y = A + B * X, onde: a) Distribuição normal denominada cretos extraídos de uma estrutura são
como Gauss: A distribuição nor- muito mais representativos do que os
Y = Valor da resistência característi- mal ou de Gauss é um modelo resultados obtidos dos corpos de prova
ca mecânica estimada (ensaio me- matemático que pode represen- moldados e rompidos que representam
cânico); tar de maneira satisfatória a dis- o concreto lançado em uma estrutura,
X = Valor do índice esclerométrico tribuição das resistências à com- que podem, durante as moldagens, so-
obtido no ensaio (ensaio físico); pressão do concreto sempre que frer falhas ao não serem exatamente
A = Constante calculada; o coeficiente de variação (vc %) os que potencialmente foram lançados,
B = Constante calculada. observado seja igual ou menor a adensados e curados na estrutura em
30% (Vieira, 2007, p. 68). condições que não são 100% de pleno

35
ARTIGO TÉCNICO | INSPEÇÃO EM ESTRUTUR AS DE OBR AS PAR ALISADAS

conhecimento por parte do engenheiro Quadro 2 – Tópicos dos laudos e pareceres técnicos
de campo e muito menos por parte do
Item Conteúdo
tecnologista de concreto.
Helene (2011, p. 39) relata que, por Identificação do solicitante ou contratante
essa razão, é possível reduzir o fck por Classificação do objeto da vistoria: tipologia construtiva,
dispor-se de um resultado que abarca sistema construtivo, nomes dos setores, objeto, documentação
maior conhecimento dos “desconheci- Localização da obra com mapa e foto aérea (fonte Google)
mentos”, ou seja, uma vez que é melhor Data de vistoria e relação da equipe técnica
conhecido aquilo que foi executado, pois de inspeção e responsável
Introdução
a amostra extraída vem dele (do execu-
Fotografias da obra em várias vistas das
tado). Na prática, significa majorar de fachadas e áreas internas gerais
algo o resultado do extraído. As normas
Anamnese
existentes e consagradas divergem sobre
essa “majoração”, a saber: Relação das normas consultadas
a) o item 12.4.1 da NBR 6.118 (ABNT, Listagem dos anexos
2014) com base na segurança: Descrição técnica do objeto da vistoria
fck = 1.1 ▪ fck,est
Nível de verificação da estrutura
Onde:
aceitando uma redução de γc em Critério e metodologia de inspeção adotados
nome da maior representatividade Descrição dos elementos construtivos vistoriados,
de fc,ext em relação a fck,ef Desenvolvimento a localização e seus fenômenos patológicos
b) o ACI 318:2005 Building Code Re- do corpo Classificação, análise das anomalias e grau de risco
quirements for Structural Concre- do laudo
Descrição dos ensaios tecnológicos elaborados
te, nos itens 9.3 e 20.2, recomenda: em campo e a conclusão destes resultados
fck = 1.06 a 1.22 ▪ fck,est,eq
Planilhas com os resultados dos ensaios que
c) o EUROCODE II. EN 1992. Dec.
determinaram a resistência fck,pot,est da estrutura
2004. Design of Concrete Structu-
res. General Rules for Buildings. Observações pertinentes às inspeções de campo
Annex A item A.2.3 – EN 13791 As- Analise de não conformidades
sesment of Concrete Compressive Orientações técnicas preventivas
Strength in Structures or in Structural
Lista de prioridades das falhas e anomalias, definição dos
Elements. p. 200, recomenda para aspectos restritivos e indicação de ensaios complementares
revisão da segurança: Corpo do laudo
Fornecimento de especificações referentes aos métodos
c.1) estrutura bem executada revi-
construtivos e materiais que podem ser empregados
sar a segurança adotando: nas obras de recuperação e/ou reforços estruturais
γs = 1.05 (ao invés de 1.15)
Data, assinaturas dos responsáveis e validade do laudo
γc = 1.35 (ao invés de 1.50)
c.2) a partir de testemunhos extraí- Conclusão Conclusões e considerações finais da segurança da estrutura
dos, revisar adotando: Fotografias, ARTs, plantas, certificados de ensaios
Anexos
fcj = 1,18 * fc,ext,j tecnológicos, tabelas de cálculos e outros documentos

Fonte: Adaptado pelo autor com base no Decreto Federal no 6.795 (2009, p. 25-26)
Para ser conservador e estar em con-
formidade com a NBR 6.118 (ABNT, 2014),
deve-se majorar em apenas 10%, apesar leira da ABNT específica para a inspeção d) e conter um prognóstico de ocor-
de que esse coeficiente de correção é de fenômenos patológicos em estruturas rências”.
muito conservador e francamente a fa- de concreto armado, sugere-se adotar o A adaptação com mais tópicos para a
vor da segurança e contra a economia, se que prescreve o item 4.2.2 da ABNT NBR emissão de laudos sugerido no Decreto
comparado a valores de outras normas 5.674:2012 (ABNT, 2012, p. 2), que descre- Federal no 10.671 (2009, p. 25-26) é o que
consagradas. ve um conteúdo básico do relatório de mais se assemelha ao que este autor en-
inspeção, como segue: tende como adequado, como ilustrado
6 – CONSIDERAÇÕES a) “descrever a degradação de cada no quadro 2 acima:
sistema, subsistema, elemento ou Esse trabalho procurou fornecer sub-
FINAIS componente e equipamento da sídios análise de estruturas de concreto
De posse da coleta de dados e das in- edificação; de edifícios paralisadas, e assim como
formações da estrutura mencionadas an- b) apontar e, sempre que possível, es- sugestões para uma futura metodologia
teriormente, parte-se para a elaboração timar a perda do seu desempenho; brasileira específica para análise, pro-
do Parecer Técnico de entrega ao contra- c) recomendar ações para minimizar os teção e recuperação de estruturas de
tante. Como não existe uma norma brasi- serviços de manutenção corretiva; edifícios residenciais ou comerciais em

36 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


concreto armado abandonadas ou para- - Procedimento. 1 ed. Rio de Janeiro, estruturas. São Paulo: Fdte/epusp/
lisadas, que deveria conter: 2015. 23 p. ipt, 1980. (Apostila do curso de Patolo-
a) nomenclaturas e glossários a se- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS gia das Construções de Concreto).
rem adotados; TÉCNICAS. ABNT NBR 14931:2004 - PINHEIRO, Sayonara Maria de Moraes;
b) classificação do tipo de estrutura a Execução de estruturas de concreto SILVA, Moema Ribas. Concreto: Ciên-
ser inspecionada ou analisada; - Procedimento. 2 ed. Rio de Janeiro: cia e Tecnologia - Volume II: Ações
c) níveis de inspeção; Abnt, 2004. 54 p. de Agentes Biológicos no Concreto. São
d) definição de modelos ou sistemas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Paulo: IBRACON. Ipsis Gráfica e Editora,
de registros, tais como legendas, TÉCNICAS. ABNT NBR 5674: Manuten- 2011. 933 p. (V. 2: 978-85-98576-20-6).
plantas, tabelas, registros fotográ- ção de edificações - Requisitos para o REPETTE, Wellington Longuini. Contri-
ficos etc.; sistema de gestão de manutenção. 1 buição à inspeção e avaliação da
e) roteiro de inspeção das estruturas; ed. Rio de Janeiro: Abnt, 2012. 25 p. segurança de estruturas acaba-
f) fornecimento da lista dos princi- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS das de concreto armado. 1991. 169
pais fenômenos patológicos que TÉCNICAS. ABNT NBR 6118: Projeto f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
poderão ser encontrados durante de estruturas de concreto - Proce- Pós-graduação em Engenharia Civil,
a inspeção de estruturas existen- dimento. terceira ed. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande
tes paralisadas, como apresentado 2014. 238 p. do Sul, Porto Alegre, 1991.
no anexo I; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TOMAZELI, Alexandre; GONÇALVES, Gui-
g) definições quanto aos ensaios tec- TÉCNICAS. ABNT NBR 7584: Concre- lherme de Castro. Laudo técnico de
nológicos e quanto aos critérios de to endurecido - Avaliação da dureza avaliação e recuperação das estru-
adoção dos mesmos; superficial pelo escleromêtro de refle- turas de concreto armado das tor-
h) caracterização dos níveis de inter- xão - Método de ensaio. 2 ed. Rio de res do condomínio: Relatório Final_
venção estrutural para a garantia Janeior, 2013. 10 p. RE0508/15_REV_00. São Paulo: Toten,
do restabelecimento da sua ca- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 2015. 422 p.
pacidade de resistência mecânica TÉCNICAS. NBR 16230:2013 - Inspe- TOMAZELI, Alexandre. Diretrizes para
e durabilidade, atendendo tanto ção de estruturas de concreto — Qua- inspeção, análise e aceitação de supe-
quanto possível as prescrições das lificação e certificação de pessoal — restruturas em concreto armado de
normas brasileiras, principalmen- Requisitos. Rio de Janeiro, 2013. 19 p. edifícios habitacionais com obras pa-
te as ABNT NBR 7680; NBR 6.118, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS ralisadas. 223p. Dissertação (Mestrado
NBR 12.655, NBR 15.575-1 e NBR TÉNICAS. ABNT NBR 7680-1: Con- em Habitação: Planejamento e Tecno-
15.575-2; creto - Extração, preparo, ensaio e logia) - Instituto de Pesquisas Tecnoló-
i) sugestão de roteiro para a elabo- análise de testemunhos de estrutu- gicas do Estado de São Paulo. Área de
ração do relatório final descritivo, ras de concreto Parte 1: Resistência à concentração: Tecnologia em Constru-
no sentido de criar-se um padrão compressão axial. 1 ed. Rio de Janeiro, ção de Edifícios. São Paulo, 2017.
de entrega incluindo seus anexos, 2015. 24 p. VIEIRA FILHO, José Orlando. Avaliação
como sugerido pelo autor no item Decreto Federal nº 10671, de 16 de maio da resistência à compressão do
5.5 anterior. de 2009. Regulamenta o art. 23 do Es- concreto através de testemunhos
tatuto do Torcedor, Lei nº 10.671. Ela- extraídos: contribuição à estima-
REFERÊNCIAS boração de Laudo de Vistoria de tiva do coeficiente de correção de-
Engenharia Substituem Integral-
BIBLIOGRÁFICAS vido aos efeitos do broqueamento.
mente As Diretrizes Básicas Para 2007. 217 f. Tese (Doutorado) - Curso
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI Elaboração de Relatórios de Inspe- de Engenharia Civil, Escola Politécnica
COMMITTEE 318-05: Building Code ção Predial em Estádios de Futebol. da Universidade de São Paulo, Univer-
Requirements for Structural Concrete Distrito Federal, DF, 16 maio 2009. sidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
and Commentary. 1 ed. Farmington EUROPEAN STANDARD. EUROCODE
Hills, 2005. II 1992 1-2: EUROPEAN STANDARD. * Este artigo apresenta um resumo do estu-
do desenvolvido na dissertação de mestra-
ANDRADE, Jairo José de Oliveira; MEDEI- Brussels, 2004. 99 p. do de Alexandre Tomazeli, no Programa de
ROS, Marcelo Henrique Farias de; HE- HASPARYK, Nicole Pagan. Concreto: Mestrado Profissional em Habitação, do IPT,
concluída em abril de 2017, intitulada Dire-
LENE, Paulo. Concreto: Ciência e Tec- Ciência e Tecnologia-v.1: Reação Ál-
trizes para a inspeção, análise e aceitação
nologia - Volume II: Durabilidade e cali-Agregado no Concreto. São Paulo: de superestruturas em concreto armado de
Vida Útil das Estruturas de Concre- Ibracon, 2011. 931 p. edifícios habitacionais com obras paralisa-
das. Agradecimentos especiais ao orienta-
to. São Paulo: IBRACON. Ipsis Gráfica HELENE, Paulo.Análise da resistência dor Profo Dro Paulo Roberto do Lago Helene,
e Editora, 2011. 969 p. (V. 2: 978-85- do concreto em estruturas exis- para a banca o Profo Dro Ércio Thomaz do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Esta-
98576-20-6). tentes para fins de avaliação da se-
do de São Paulo – IPT e Profo Dro Luiz Antô-
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS gurança. São Paulo: PhD Engenharia, nio Melgaço N. BRANCO da Universidade Fe-
TÉCNICAS. ABNT NBR 12655: Con- www.phd.eng.br, 2011. 40 p. deral de Minas Gerais – UFMG e a saudosa
(“in memorian” ) Profa Enga Maria Aparecida
creto de cimento Portland - Preparo, NORONHA, Maria Aparecida de Azevedo. de Azevedo Noronha da Universidade Pau-
controle, recebimento e aceitação Diagnóstico dos Males e terapia das lista – UNIP.

37
INDUSTRIALIZ AÇÃO | USO INTENSIVO DE PEÇAS PRÉ-MOLDADAS

PROJETO ESTRUTURAL
DO TERMINAL 1
DO COMPLEXO DO AÇU

POR TECTON ENGENHARIA


1 – INFORMAÇÕES GERAIS rência com 170m de comprimento, um
píer para exportação de minério de fer-
AUTORES: AUGUSTO CLÁUDIO PAIVA E SILVA
E OSWALDO MARQUES HORTA BARBOSA SOBRE O TERMINAL ro com cerca de 450m de comprimen-
(RESPONSÁVEIS PELO PROJETO)
OFFSHORE (T1) DO PORTO DO to e que permite a acostagem simultâ-
AÇU, NO LITORAL DO RIO DE nea de dois graneleiros de 220.000TPB
(Cape Size), uma ponte de acesso ao
JANEIRO quebra-mar, um quebra-mar com três
O T1 é um terminal offshore que tem pontos de acostagem para navios VLCC,
atualmente a seguinte configuração: canal de acesso e bacia de evolução.
uma ponte de acesso com cerca de 3km Excetuando-se o quebra-mar, todas as
de extensão, uma plataforma com um demais estruturas e fundações foram
píer de rebocadores e casas de transfe- projetadas pela TECTON.

AUGUSTO CLÁUDIO PAIVA


E SILVA

OSWALDO MARQUES
HORTA BARBOSA

38 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


Para entender todo o processo de 1.4 – Ponte de Acesso
manuseio do minério desde a mina até Principal e Píeres / Resumo
o navio graneleiro no T1 confira o vídeo: geral de quantidades
https://youtu.be/mHIjFi9k5AQ Um outro conjunto de dados que mos-
Carreta de transporte de placas side- tra a monumentalidade das construções
1.1 – Ponte de Acesso rúrgicas com carga total de 1.585kN. projetadas pela TECTON no T1 do Açu
Principal / Dimensões gerais (Pontes de Acesso Principal, Píeres e Pon-
/ Monumentalidade Na verdade, a Ponte de Acesso do T1 te de Acesso ao Quebra-mar) é apresen-
Existem no Brasil três grandes ter- do Açu foi projetada para uma situação tado no quadro resumo abaixo:
minais offshore construídos em mar de acidente ainda mais desfavorável,
Quantidade Total
aberto, isto é, em condições não abri- com uma carreta carregada, porem es- (un) 1.406
de Estacas
gadas. O Terminal T1 do Porto do Açu tacionada, sendo ultrapassada por outra
Comprimento
é um deles. A seguir, apresenta-se um também carregada, situação muito mais (m) 58.000
Total de Estacas
quadro comparativo entre eles e tam- grave do que a prevista na ABNT NBR
bém os dois maiores terminais abriga- 7188. Outras situações de cargas muito Volume Total
de Concreto (m³) 60.700
dos no Brasil. desfavoráveis de acidentes com derra- (estruturas+estacas)

Maiores Terminais Portuários no Brasil com Ponte de Acesso Massa Total Aço CA50
(kg) 13.000.000
(estruturas+estacas)
Condições Comprim. da Largura da Área da
Terminal
Ambientais Ponte (m) Ponte (m) Ponte (m2)
Açu T1 Mar Aberto 2.900 26,5 76.850
2 – CONCEPÇÃO
Pecem Mar Aberto 2.502 19,5 (média) 48.745
ESTRUTURAL E PROCESSOS
Sergipe Mar Aberto 2.400 6,6 (pista) 15.840
TKCSA Abrigado 3.825 17,6 67.397
CONSTRUTIVOS
Quando se constrói uma obra por-
Abrigado tuária num local abrigado, com ondas e
Píer 4 (Vale) 1.570 22,0 34.540
para ondas
correntes fracas, é possível usar balsas
e flutuantes para montar sobre elas um
mamento de minério no tabuleiro da equipamento ou guindaste para cravar
ponte também foram consideradas. as estacas e montar a superestrutu-
ra. Numa construção em mar aberto é
1.3 – Ponte de Acesso comum usar um “cantitraveller” (“can-
Principal / Prova de carga / tilever” + “traveller”) que é um equi-
Seção da Ponte de Acesso do Terminal Deformabilidade Elástica pamento de aço sofisticado projetado
1 do Porto do Açu Ao final da construção foi realizada uma especificamente para cada obra e que
prova de carga na Ponte de Acesso pelo IPT vai cravando as estacas e montando a
1.2 – Ponte de Acesso de São Paulo e o comportamento foi exce- próxima travessa do vão à frente usan-
Principal / Carga do lente, tanto quanto à resistência e a integri- do um dispositivo em balanço e em se-
veículo especial / dade da estrutura e fundações quanto às guida “viaja” no alto sobre o estaquea-
Cargas excepcionais deformações residuais que resultaram em mento já cravado sem sofrer a ação das
As pontes de acesso aos píeres em valores desprezíveis. A estrutura apresen- ondas. A Foto 2 mostra um “cantitravel-
geral e também as pontes das rodovias tou comportamento elástico. ler” utilizado no T1 do Açu.
brasileiras são normalmente projeta-
das para o tráfego da maior carga mó-
vel rodoviária padrão prevista na ABNT
NBR 7188 que é o TB450 com 3 eixos de
150kN distantes de 1,5m entre si e car-
ga total de 450kN. A Ponte de Acesso do
T1 do Açu foi projetada para a carga es-
pecial de uma carreta de transporte de
placas siderúrgicas com carga total de
1.585kN com 4 eixos de 350kN puxada
por um cavalo mecânico com 3 eixos,
sendo 2 eixos de 75kN e um eixo de
35kN, distantes conforme o croqui abai-
xo. A carga total do conjunto “carreta +
cavalo mecânico” é cerca de 3,5 vezes FOTO 1 – DA PROVA DE CARGA COM A CARRETA DE PLACAS SIDERÚRGICAS COM MAIS DE
1600KN E OITO RODAS POR EIXO.
maior que a do TB450.

39
INDUSTRIALIZ AÇÃO | USO INTENSIVO DE PEÇAS PRÉ-MOLDADAS

FOTO 2 – “CANTITRAVELLER” DO T1 DO AÇU NO INÍCIO DA EXECUÇÃO DO TRECHO NO MAR DA


PONTE DE ACESSO PRINCIPAL.

Outra característica importante terra. Este canal pode também supor-


dos projetos de estruturas portuárias tar outras tubulações (32kN/m).
deste tipo é o uso intensivo de peças O vão de 18m foi otimizado levando-se Seções transversais típicas da Ponte de
pré-moldadas de modo a reduzir ao em conta todas as cargas que atuam de- Acesso em terra e no mar entre os eixos
máximo as concretagens no local, eli- pois que a ponte está pronta e também 37 e 132 com as estacas.
minando-se também formas e escora- as cargas que atuam nas fases construti-
mentos sobre o mar. vas. Em muitos casos, as cargas do “can- As elevações da Ponte de Acesso foram
titraveller” associadas às cargas ambien- definidas levando em conta a batimetria,
2.1 – Ponte de Acesso tais (corrente, onda e vento) produziram o nível máximo da preamar de sizígia
Principal situações mais desfavoráveis para as es- NAmax=+1,50m, a altura significativa de
onda Hs=4,1m e altura máxima de onda:
Hmax=7,79m.
O tabuleiro da Ponte de Acesso foi con-
cebido de modo a eliminar qualquer tipo
de escoramento, maximizando o uso de
pré-moldados e minimizando o volume
de concreto “in loco” e o uso de formas.
Ele é composto de 10 vigas pré-molda-
das protendidas com seção em “T” com
FOTO 3 – A PONTE DE ACESSO TEM 2.880M DE COMPRIMENTO, COM 160 VÃOS DE 18M, JUNTAS 180cm de altura total, alma com espessu-
DE DILATAÇÃO A CADA 144M E LARGURA TOTAL DE 26,5M. ESTRUTURA COM ELEGÂNCIA ra variável de 25cm a 30cm e mesa com
ESTÉTICA E ESBELTEZ APESAR DAS CARGAS EXCEPCIONAIS. 175cm de largura e 20cm de espessura.
As mesas destas vigas pré-moldadas
O tabuleiro desta ponte foi projetado tacas e travessas durante a construção são unidas por trechos de laje de 70cm
para receber uma pista com 9,20m de do que as cargas finais. Portanto o vão concretados no local. Na extremidade
largura e com 2 faixas de tráfego com de 18m é um vão ótimo para uma ponte Norte do tabuleiro corre uma viga canal
4m de largura cada uma, para carre- com estas características ambientais e pré-moldada protendida com 180cm de
tas de placas siderúrgicas (1.585kN em de cargas, levando-se em conta as fases altura total e 200cm de largura e 25cm
cada faixa simultaneamente). Ao lado construtiva e de operação. de espessura.
desta pista foi prevista uma faixa de A Ponte de Acesso tem um trecho em O volume de concreto moldado no lo-
12,95m para receber até 3 transporta- terra (praia) com cerca de 500m com a cal é apenas cerca de 13% do volume to-
dores de correia, sendo 2 para minério elevação do topo do tabuleiro varian- tal de concreto do tabuleiro!
(30kN/m) e 1 para carvão (20kN/m). Na do de +6,00 a +10,04m. No trecho em No trecho em terra, as fundações são
extremidade Sul do tabuleiro corre uma mar a Ponte tem também a elevação do com estacas feitas de perfis de aço de
tubovia e bandejas de cabos elétricos topo do tabuleiro variável. Da região da aba larga (HP310x125). Em cada eixo, os 4
(18kN/m). Na extremidade Norte corre praia (eixo 32) até o eixo 137 a elevação blocos, 2 cintas e 4 pilares são de concre-
um canal com 2m de largura para reco- é +10,04. Depois varia caindo uniforme- to armado moldado no local. As traves-
lher toda a água contaminada com óleo mente até +8,04 no eixo 150 e depois sas são pré-moldadas maciças, transpor-
e “pellet feed” que cai sobre as estrutu- mantem-se em +8,04 até a sua chega- tadas em 2 partes e tornadas monolíticas
ras portuárias, conduzindo-a para uma da ao Píer de Rebocadores e Casas de por concretagem no local. As vigas do
Estação de Tratamento de Efluentes em Transferência. tabuleiro têm abas transversais pré-mol-

40 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


dadas nas extremidades que servem de com 80cm de diâmetro, parede de 15cm de 800mm x 16mm. O uso deste prolon-
forma para a concretagem da parte supe- de espessura e comprimento de 48m. gamento em aço, aumentando o compri-
rior da travessa que torna a estrutura do Aonde necessário, as estacas tiveram o mento sem aumentar muito o peso mos-
tabuleiro contínua sobre a travessa. seu comprimento aumentado soldando- tra o uso adequado de materiais neste
No trecho no mar, em cada eixo, as 5 -se, no anel de aço da extremidade infe- projeto. As estacas foram projetadas para
estacas são pré-moldadas protendidas rior da estaca pré-moldada, tubos de aço cargas máximas em serviço de 3.500kN.

FOTO 4 – VISTA DO PÁTIO DE PRÉ-MOLDADOS COM AS PISTAS DE PROTENSÃO DE ESTACAS E VIGAS LONGARINAS. AMPLIE PARA DETALHES.

As estacas e as vigas do tabuleiro foram


protendidas em pistas no canteiro e esto-
cadas no retro-porto. Fotos 4 e 5.
Num trecho de cerca de 300m (entre
eixos 82 e 98) encontra-se, paralelo à
costa, um antigo leito do Rio Paraíba do
Sul preenchido de argila (Vale de Argila).
Nesta região foi necessário usar estacas
de tubo de aço preenchidas parcialmen-
te com concreto armado que chegaram a
ter cerca de 100m de comprimento.
A sequência construtiva da Ponte pode
FOTO 5 – ESTACA COM 48M DE TUBO DE CONCRETO PROTENDIDO EM PISTA + 12M DE TUBO DE
AÇO, SENDO TRANSPORTADA NA PONTE / USO ADEQUADO DOS MATERIAIS / ESTACA LONGA COM ser observada na foto 6. As estacas estão
PESO MENOR DO TUBO DE AÇO E ECONOMIA DO TUBO DE CONCRETO. sendo cravadas no eixo “zero” guiadas e
suportadas pelo balanço do Cantitravel-
ler que se apoia nas travessas dos eixos
“-1”, “-2” e “-3”. Em seguida são posicio-
nados 3 elementos pré-moldados da
travessa do eixo “zero” e feita uma con-
cretagem de solidarização. As carretas
trazem de terra as estacas e as vigas pré-
-moldadas até o eixo “-6” e os dois pórti-
cos as trazem até o eixo “-3”. As vigas são
posicionadas entre os eixos “-4”e “-5” e a
concretagem de solidarização do tabu-
leiro é feita entre os eixos “-5” e “-6”. As
FOTO 6 – OS OPERÁRIOS COM UNIFORME LARANJA SERVEM COMO REFERÊNCIA PARA AS vigas traseiras do carro do Cantitraveller
DIMENSÕES. A EMPREITEIRA DA PONTE (CONSÓRCIO ARG / CIVILPORT) ATINGIU A MARCA passam para o vão entre os eixos “zero”
RECORDE DA CONSTRUÇÃO DE UM VÃO COMPLETO DE 18M E 26,5M DE LARGURA A CADA 3 DIAS e “-1” e o carro do Cantitraveller avança,
DE TRABALHO. ESTE PROCESSO CONSTRUTIVO MOSTROU-SE MUITO ECONÔMICO E VELOZ.
reiniciando o processo. Foto 6.

41
INDUSTRIALIZ AÇÃO | USO INTENSIVO DE PEÇAS PRÉ-MOLDADAS

2.2 – Píer de Rebocadores e


das Casas de Transferência
Este píer tem cerca de 170m de com-
primento, sem juntas, 53m de largura
e vãos de 9m. Ele permite a atracação
dos rebocadores e suporta as casas de
transferência, uma subestação e diver-
sos prédios de controle e operacionais.
A plataforma principal fica na elevação
+8,00 e a plataforma dos rebocado-
res na elevação +3,75. Além das cargas
que atuam na Ponte de Acesso (carre- FOTO 7 – PÍER DE REBOCADORES E CASAS DE TRANSFERÊNCIA DURANTE A FASE CONSTRUTIVA.
OBSERVAR OS BRAÇOS PRÉ-MOLDADOS DE SUPORTE DA PLATAFORMA INFERIOR DOS
tas, transportadores, tubovias, cargas
REBOCADORES QUE FORAM FIXADOS EM BALANÇO NAS TRAVESSAS DO TABULEIRO.
ambientais, Cantitraveller, etc), foram
consideradas as cargas das edificações,
equipamentos fixos, as de atracação e dos, reduzir a concretagem no local e as estruturais mais baixas (Plataforma dos
amarração dos rebocadores e principal- formas e eliminando os escoramentos. Rebocadores) sofreram a ação de for-
mente as grandes cargas horizontais de Este Píer foi também construído sem tes ondas e correntes durante a fase
ancoragem dos transportadores de cor- a proteção do quebra-mar e as partes construtiva.
reia. A carga horizontal de ancoragem
de um único transportador de correia
movimentando minério por mais de 3km
chega a cerca de 2100kN e atua a cerca
de 6m de altura em relação ao tabulei-
ro. As estacas são como as da Ponte de
Acesso pré-moldadas protendidas com
48m, alongadas com pontas de tubos de
aço de 800mm de diâmetro. As traves-
sas pré-moldadas são semelhantes às
da Ponte de Acesso. As vigas longarinas
são de concreto armado, pré-molda-
das, com vão de 9m, tem seção em “T” Seção transversal típica da plataforma
com 95cm de altura, solidarizadas por dos rebocadores e da parte Norte do
uma sobre-laje de 20cm. A sequência tabuleiro principal. Observe os braços
construtiva é semelhante à da Ponte de de suporte da plataforma inferior dos
Acesso e foi usado o mesmo Cantitravel- rebocadores e à direita a foto da coloca-
ler. Foto 7. ção de um pré-moldado de suporte da
Todas estas estruturas deste Píer defensa que se ajusta nos braços que
foram também concebidas de modo a descem da plataforma e que o suportam
usar ao máximo elementos pré-molda- sem escoramento.

FOTO 8 – TERMINAL T1 COM O GRANELEIRO KEY LIGHT SENDO CARREGADO NO PÍER DE MINÉRIOS EM OUTUBRO DE 2014.

42 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


2.3 – Píer de Minérios – Foto 8
Este píer tem cerca de 450m de com-
primento, sem juntas, 25,4m de largura
e vãos de 10m. Ele permite a acosta-
gem simultânea de dois graneleiros de
220.000TPB (Cape Size). A plataforma
fica na elevação +8,00 e a dragagem foi
a -21m. As principais cargas são as am-
bientais (vento, correntes e ondas), as de
atracação e amarração dos graneleiros,
carregador de navios, transportadores
de correia e TB450. As estacas são como
as da Ponte de Acesso, pré-moldadas
protendidas com 48m, alongadas com
pontas de tubos de aço de 800mm de
diâmetro. Em cada eixo, a cada 10m, são
cravadas 6 estacas, sendo 4 verticais (2
em cada extremidade da travessa) e 2
inclinadas transversalmente, a partir do
centro, formando um cavalete transver-
sal e passando entre as estacas verticais
nas extremidades. As travessas são com-
postas por 2 pré-moldados solidarizados Seção transversal do Píer de Minérios e que ser reprojetado e construído sem pro-
sobre as estacas centrais. O tabuleiro é vista durante a construção com Cantitra- teção para as ondas. A solução original
composto de 10 vigas pré-moldadas em veller e 2 pórticos. proposta pela TECTON para enfrentar esta
concreto armado, com vão de 10m e com situação foi a de adotar vigas dispostas
95cm de altura, sendo 8 com seção em A sequência construtiva é semelhan- longitudinalmente ao eixo do píer e uma
“T” com mesa de 1,9m de largura e 2 com te à da Ponte de Acesso Principal e foi estrutura muito resistente e rígida trans-
seção retangular com 1,5m de largura, usado o mesmo Cantitraveller, que girou versalmente em cada eixo a cada 10m.
para apoio do carregador de navios. Em em planta 90 graus no final do Píer de Isto foi possível com o estaqueamento
cada extremidade transversal do tabu- Rebocadores para iniciar a construção formando um cavalete transversal de 2 es-
leiro existe uma viga calha pré-moldada do Píer de Minérios. tacas associado a mais 4 estacas verticais
em “U” sendo uma para cabos elétricos Construção Segura em Mar Aberto: em cada travessa. Desta forma passamos
e tubulações e a outra para drenagem Um dos grandes diferenciais desta solu- a ter um grande “bloco” muito resistente
do tabuleiro. Todos estes pré-moldados ção estrutural foi permitir a construção e rígido transversalmente a cada 10m e
são solidarizados por cima com uma so- segura de um píer de 450m de compri- o Cantitraveller pode “caminhar” sobre as
bre-laje de 20cm de espessura e sobre as mento em mar aberto, com fundo dragado ondas com segurança. A construção com
travessas pré-moldadas, gerando a conti- a -21m, com ondas com altura significati- o Cantitraveller e 2 pórticos, semelhante
nuidade dos vãos. A cada 30m são mon- va de 4,1m incidindo transversamente ao à usada na Ponte de Acesso, deu grande
tados nas laterais da plataforma os pré- píer, sem qualquer proteção de um que- velocidade à obra e o consórcio construtor
-moldados que suportam as defensas. A bra-mar e imprimindo grande velocidade bateu recordes em velocidade de constru-
viga calha recolhe as águas de chuva e de à obra. A concepção estrutural tradicional ção de píer em mar aberto.
limpeza das áreas dos píeres e da ponte dos píeres é com as vigas pré-moldadas do Construindo como num brinquedo
que podem ter óleos e sólidos de “pellet tabuleiro dispostas transversalmente ao Lego: Quanto à concepção estrutural, ori-
feed” em suspensão, conduzindo-as para eixo do píer apoiadas em 2 ou 3 vigas lon- ginalidade e inovação em processos cons-
uma estação de tratamento de efluentes gitudinais. E esta foi a concepção da em- trutivos, o outro diferencial deste projeto
em terra, respeitando o ambiente. presa projetista (terceiros) que preparou o foi a filosofia de levar aos limites da viabili-
projeto básico para dade a ideia de eliminar totalmente os es-
a concorrência da coramentos e as formas nas concretagens
construção e consi- “in loco”. Isto foi possível através do uso
derou a existência intensivo de softwares em 3D que permi-
de um quebra-mar tiram analisar as sequências construtivas
abrigando a região e o projeto dos pré-moldados, de tal for-
quando fosse cons- ma que cada peça pré-moldada colocada
truído o píer. Entre- na estrutura servisse de apoio e de forma
tanto a construção para as peças seguintes e para as concre-
do quebra-mar tagens de solidarização. A imagem abaixo
atrasou e o píer teve ilustra esta filosofia de projeto.

43
ARTIGO RE TRÔ | REVISTA 47 - 1962

VIBRAÇÕES

MAURO PEREIRA LOPES


Com forma de rememorar alguns dos importantes temas tratados pela predecessora
da revista Estrutura, vamos reeditar alguns artigos publicado no passado. A ideia é
revisitar assuntos e conceitos técnicos, de forma a que o leitor possa ter uma noção da
situação existente no passado e também perceber as alterações ocorridas ao longo do
tempo. Vale observar que os conteúdos técnicos já sofreram alterações significativas ao
longo do tempo.

1 – DEFINIÇÕES Os Sistemas contínuos são aqueles que


Um conjunto de partículas propagan- possuem infinitos graus de liberdade. De
do-se em movimento concordante atra- uma forma geral, todos os sistemas são
vés de um meio é chamado de onda. Pe- contínuos. Usamos às vezes discretizá-
ríodo é o tempo necessário para o movi -los como forma de constituir um modelo
mento completar um ciclo; o seu inverso, matemático de fácil resolução e cujos re-
ou seja, a freqüência, é o número de ve- sultados apresentem razoável aproxima-
zes que o movi mento se repete na uni- ção, comparados com a solução exata.
dade de tempo. Sistema é um conjunto A resolução de modelos matemáticos
de elementos interdependentes, cujas de sistemas livres ou vinculados é o prin-
propriedades representamos em um cipal objetivo da Análise Dinâmica, a qual
esquema, o qual designamos de modelo obteve notável desenvolvimento a partir
matemático. do advento dos computadores e dos en-
Todo sistema, ao ser excitado, apre- saios em modelos reduzidos.
senta um certo comportamento deno-
minado resposta. A tendência contrária 2 – EFEITO NOCIVO DAS
ao movimento no sentido de conduzir o
sistema a sua posição de repouso cha- VIBRAÇÕES
mamos de força de restituição. Chegam até nós a cada instante vários
Quando a relação entre a resposta do tipos de ondas, as quais em determinado
sistema e as forças de restituição obede- nível de percepção mudam nosso com-
ce à lei de Hooke, dizemos que o sistema portamento.
é linear. As construções de um modo geral são
Um sistema diz-se discreto, quando também afetadas pelas vibrações pro-
é constituído por um número finito de vocadas pelo vento, explosões, sismos,
graus de liberdade, os quais são caracte- tráfego de veículos e maquinaria. As má-
rizados pelo número de coordenadas ge- quinas e aparelhos sofrem também desa-
neralizadas, necessárias à configuração justes quando expostos a determinado
do sistema. nível de vibrações, provocados pelo des-

44 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


gaste de seus componentes mecânicos, A tentativa de uma classificação dos efei- Nossas normas não exigem que as estru-
ou por excitações externas propagadas tos das vibrações sobre as pessoas tem turas sejam analisadas sob o aspecto de
através do solo ou da própria estrutura sido objeto de estudo por vários pesquisa- Terremotos. Entretanto, algumas obras
de suporte. dores. Buzdugan (1) mostra os resultados de caráter especial, como, por exemplo,
obtidos por Dieckmann, Solimam, Reiher- Centrais Atômicas, a consideração anti-
3 – CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO -Meister, entre outros, onde se nota gran- -sísmica é obrigatória. O grande proble-
de divergência nos valores propostos. ma que aparece em tais casos é definir
Os efeitos das vibrações sobre o ho- A posição da pessoa, sentada, deitada os valores das ações, pois as mesmas
mem são de ordem fisiológica, os efeitos ou de pé, aliada à diferente sensibilidade são aleatórias, obrigando uso de dados
significativos sobre as construções têm de cada indivíduo a vibrações, forma a cau- estatísticos para conseguir-se estabele-
início onde as vibrações tornam-se insu- sa principal da diferença dos resultados. cer valores razoáveis dos possíveis efei-
portáveis às pessoas. Os efeitos sobre as Assim, a mesma pessoa sente sensação tos das vibrações. O efeito do vento já
máquinas e aparelhos são de ordem fun- diversa em posições diferentes, quando foi anteriormente abordado pelo autor
cional, ou seja, mecânicos. exposta à mesma intensidade de vibração. (6), enquanto que o tráfego de veículos
Devido à grande variedade de efeitos, Numa grande parte dos estudos efe- somente causa danos a construções an-
tornou-se necessária a tentativa de se tuados foram usadas as três grandezas tigas, ou muito próximas a vias férreas
estabelecer um critério para avaliação específicas do movimento, aceleração, onde o isolamento tipo trincheira, cujas
dos danos provocados pelas vibrações. velocidade, amplitude, ou ainda grande- dimensões são estabelecidas em função
zas compostas, intensidade de vibração, do comprimento da onda, pode alcançar
4 – EFEITOS SOBRE AS energia unitária de vibração e energia bons resultados. De maior interesse são
cinética, para estabelecer os critérios de os efeitos causados pelas máquinas e pe-
PESSOAS conforto ou de danos. las explosões.
O corpo humano é o mais completo Modernamente, tenta-se relacionar
e complexo dos sistemas. Os estudos quase que exclusivamente os efeitos das 6 – EFEITO DAS EXPLOSÕES
desenvolvidos até o momento sobre a vibrações em função da velocidade das
atividade elétrica do cérebro mostram, partículas, pois esta engloba a amplitude Torna-se cada dia mais freqüente o
através de eletroencefalogramas, quatro e a freqüência. emprego de explosivos nos diversos ra-
tipos de ondas principais denominadas A tabela nº 1 foi baseada na obser- mos da engenha ria, na tentativa de redu-
DELTA, THETA, ALFHA e BETA, nas res- vação de autores diversos e nas expe- ção de custos e prazos.
pectivas freqüências de (O a 4), (4 a 7), (7 riências vividas pelo autor em centenas No passado, as explosões eram usadas
a 14) e (14 a 40) ciclos por segundo. de projetos de fundação de máquinas e quase que exclusivamente no campo mi-
O nível DELTA corresponde ao sono equipamentos nos últimos quinze anos. litar e nas minas, sendo que atualmente
profundo e até o momento permanece devido aos novos explosivos,
indecifrável. TABELA Nº 1 acessórios, maior facilidade
As alucinações se manifestam no início RESPOSTA HUMANA A VIBRAÇÕES e segurança de manuseio, as
de THETA em torno da freqüência de 5Hz. Vm m/s RESPOSTA HUMANA TRABALHO explosões são usadas em to-
Cirurgias sem anestesia podem ser reali- dos os lugares onde qualquer
0,3 a 0,5 quase imperceptível não afetado
zadas em torno de 6Hz, onde não temos outro recurso técnico teria
consciência de tempo nem espaço. 0,5 a 1,0 perceptível não afetado menor rendimento.
As visões e estados criativos aconte- 1,0 a 2,5 nítida pouco afetado Em contrapartida, as ex-
cem entre 6 e 9Hz. O nível ALFHA cor- 2,5 a 5,0 suportável afetado plosões, além do barulho e
responde ao estado de relaxamento 5,0 a 10 incômoda muito afetado pressão de ar, provocam in-
ou sono controlado e é também usado desejáveis vibrações as quais
10 a 20 desagradável quase impossível
como tratamento de certas doenças. O se propagam através do solo
nível consciente exterior, BETA, corres- 20 a 35 perturbadora impossível podendo causar danos ge-
ponde ao mundo físico. Com a ajuda de 35 a 50 insuportável impossível neralizados às construções
aparelhos eletrônicos e algumas sema- próximas e desconforto às
nas de treinamento, certas pessoas con- Vibrações com velocidade abaixo de pessoas. Surge, assim, a necessidade do
seguem alcança r perfeito controle sobre 0,3 mm/s podem ser percebidas com as controle das vi brações provocadas por
o organismo alterando a freqüência do pontas dos dedos, enquanto que para explosões, um problema aparentemente
corpo para facilitar determinadas tarefas. leituras acima de 50 mm/s são necessá- simples, mas, até o momento, sem uma
As excitações externas modificam a rios equipamentos especiais. solução teórica satisfatória.
freqüência humana e, em determinados
níveis, tornam o trabalho ou qualquer ou- 5 – EFEITO SOBRE AS 7 – QUANTIDADE DE
tra tarefa impraticável.
Irritações, tonteiras e vômitos, caracte- CONSTRUÇÕES EXPLOSIVOS
rizam a resposta humana inicial à nocivi- O Brasil está situado numa zona ter- ários critérios já foram apresentados na
dade de certas vibrações. restre considerada de baixa sismicidade. tentativa da predeterminação da quanti-

45
ARTIGO RE TRÔ | REVISTA 47 - 1962

dade ideal de explosivos, a qual pudesse 8 – CONTROLE DOS DANOS Para este caso, o critério da CRANDELL
ser usada sem contra indicações. Uma é também um critério de velocidade, pois
análise mais refinada do problema mostra O problema da segurança nas cons- a2 = kf 2 = 4π2 f 2 v2 sendo V = k/47π2.
que em certas situações somente através truções próximas a obras nas quais é Substituindo K pelos limites de CRAN-
de critérios estatísticos se consegue, não feito o uso de explosivos, torna-se tam- DELL, temos:
uma solução ideal, mas condições de ris- bém de grande interesse para as Com- V1 = 3/4π2 = 0.2756 ft/sec = 8,4 cm/s
co controlado, ou seja, a probabilidade de panhias de Seguros. V 2 = 6/4π2 = 0.3898 ft/sec = 11,9 cm/s
falha existe, cabendo ao responsável a es- A Liberty Mutual Insurance Co. Nota-se que o limite estabelecido por
colha da porcentagem de risco. (CRANDELL) (2) realizou vasto estudo Edwards e Northwood é praticamente
Certas condições podem indicar ainda sobre o assunto. igual ao de CRANDELL.
o uso de explosivos até um certo ponto, Inúmeras residências, edifícios, es- Para túneis sem revestimento escava-
usando-se processos mecânicos comple- colas e igrejas foram verificadas antes dos em rocha, Langefors e Kilhstrom su-
mentares. e depois de testes com explosivos. gerem uma velocidade de 30 cm/s como
Hendron (4), baseado em experiências CRANDELL, na impossibilidade de cal- início de desintegração e 60 cm/s para
de campo feitas em 1953 pelo Engineering cular a massa do solo em vibração, re- formação de maiores fissuras.
Research Associates e estudos de Devine e lacionou todo seu estudo em função A tabela (3) mostra as amplitudes limi-
Duval (1963), Devine (1966), Langefors, Bol- do índice de energia cinética, definido tes em microns, para as construções afe-
linger, além de outros, apresentou em 1968 por ele como o quadrado da aceleração tadas por explosões, usando-se o critério
um critério para determinação do peso de máxima (a2) (ft/s2)2 sobre o quadrado de CRANDELL adaptado para o sistema
explosivos em função do efeito causado a da freqüência (Hz) 2. As leituras para o métrico.
certa distância. Voltando a rever o assunto cálculo do índice de energia (1EC) po-
em 1975, Hendron (3) compara os resulta- dem ser obtidas através de um aceleró- TABELA Nº 3
dos de seu critério com os de Oriard (1972), grafo ou um sismógrafo. CRANDELL
não há danos prováveis danos
mostrando que para distâncias relativas estabeleceu ainda os seguintes limites CRITÉRIO
(D/W1/3) entre 20 e 100 (ft/Qb1/3) os dois cri- para controle das vibrações DE a2 ft a2 ft
térios apresentam diferenças pouco signi- IEC < 3 mínimo de risco para as cons- CRANDELL ––– = 3 (––– ) 2 ––– = 6 (––– ) 2
f2 s f2 s
a 2
ficativas. A tabela nº 2 mostra o critério de truções IEC = –––
f 2
a 2
m a 2
m
Hendron adaptado para o sistema métrico. 3 < IEC < 6 prováveis danos (cuidado) ––– = 0.2788 (––– )2 ––– = 0.5576 (––– )2
f2 s f2 s
O peso de explosivo foi deduzido das se- IEC > 6 danos consideráveis (perigo)
guintes fórmulas originais: Segundo Edwards e Northwood, o limi- 0,2788
––––––––
0,5576
––––––––
V = 106 V = 106
V = 6000 in/sec (D/W1/3) - 2 • 8 para te perigoso é quando a velocidade atinge V (µ/ s) 4π2 4π2
D/W1/3 (ft/Qb1/3) < 10,43 valores acima de 11,5 cm/s. 13373 13373
A (µ) A = –––––––– A = 2 ––––––––
V = 360 in/sec (D/W1/3) - 1• 6 para No caso de movimento harmônico, f f
D/W1/3 (ft/Qb1/3) 10,43 existem as seguintes relações entre as
3 4458 6304
grandezas cinemáticas:
FREQUÊNCIA DE EXCITAÇÃO

Portanto, para uma distância relativa amax = 2πf .Vmax 5 2675 3782
igual a 10,43 (ft/Qb113), as duas fórmulas V max = 2 πf. Amax 10 1337 1891
fornecem velocidades idênticas. a max = 4 π2f 2 f 2 Amax
15 892 1261
(HZ)

TABELA Nº 2 20 669 946

PESO DE EXPLOSIVO POR RETARDO (kg) 25 535 756

V . D 1,6 V . D 2,8 30 446 630


W= (–––––––––– ) 1,875 (kg) W= (–––––––––– ) 1,0715 (kg)
CRITÉRIO DE

208 1145
HENDRON

50 267 378
V 21,4 (cm/s) V 21,4 (cm/s)
60 223 315
D/W1/3 4,14 (m/kg1/3) D/W1/3 4,14 (m/kg1/3)
V=1145 (D/W1/3) –2,8 (cm/s) V=208 (D/W1/3) –1,6 (cm/s) Duval e Fogelson fizeram uma análi-
D V 5 10 15 20 25 30 50 60 se estatística das correlações feitas por
Edwards e Northwood, Langefors, Tho-
5 0,12 0,42 0,90 1,55 2,08 2,53 4,37 5,31
emem e Windes e demonstraram que,
10 0,92 3,38 7,22 12,4 16,6 20,2 34,9 42,5
para uma velocidade de partícula igual a
15 3,11 11,4 24,4 41,8 56,1 68,2 117,9 143,3 7.6 in/sec, a probabilidade de sérios da-
20 7,37 27,0 57,8 99,1 133,0 161,6 279,4 339,7 nos é de 50%. A probabilidade para leves
25 14,4 52,8 112,9 193,6 259,7 315,7 545,8 663,6 danos é pouco maior do que 50% para
30 24,9 91,2 195,1 334,5 448,8 545,6 943,2 1147 velocidades de 5,4 in/sec.
Em 124 casos analisados não foram
50 115,1 422,2 903,1 1549 2078 2526 4367 5309
registrados danos quando a velocidade
60 198,9 729,6 1560 2676 3591 4366 7547 9175
foi abaixo de 2 in/sec, ou seja, do limite

46 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


inferior estabelecido por Edwards e Nor- 9 – EFEITO DAS MÁQUINAS TABELA Nº 4
thwoods . Frequência Amplitude Velocidade Aceleração
Ao nosso ver, é fundamental o co- As máquinas podem ser assentadas mm mm/s mm/s2
H Z C.P.M.
nheci mento das fundações suportes diretamente sobre a estrutura das cons-
3 180 0,133 2,500 47, 124
das construções próximas, antes da truções, ou sobre bases especialmente
escolha do peso de explosivo por retar- projetadas e isoladas do com plexo in- 5 300 0,080 2,500 78,540
do. Uma construção sobre fundações dustrial. 10 600 0,040 2,500 157,080
apoiadas em camadas moles tem um O projeto mecânico deve indicar to- 15 900 0,027 2,500 235,619
comportamento dinâmico inteiramente dos os dados necessários ao desenvol- 20 1200 0,020 2,500 314, 159
diferente de outra apoiada sobre cama- vimento do projeto civil, assim como as
25 1500 0,016 2,500 392,699
das firmes. tolerâncias permitidas para o assenta-
Mesmo que as estruturas das duas mento e perfeito funcionamento das 30 1800 0,013 2,500 471,239
construções sejam idênticas, uma intera- máquinas. 40 2400 0,010 2,500 628,319
ção dinâmica solo-estrutura vai mostrar Somente a indicação do carregamen- 50 3000 0,008 2,500 785,398
valores diferentes para as freqüências to dinâmico não basta para a elaboração 60 3600 0,007 2,500 942,477
das duas construções. de um projeto seguro e eficiente.
80 4800 0,005 2,500 1256,637
Caso as mesmas estejam no mesmo A freqüência da máquina e a amplitu-
raio de ação em relação à fonte de vibra- de limite para o seu perfeito funciona- 100 6000 0,004 2,500 1570,796
ções, elas terão amplitudes diferentes. mento são dados fundamentais.
Cabe salientar ainda que as amplitudes Caso a amplitude seja um dado em culadas para uma velocidade constante
maiores serão na direção onde as fre- aberto ou mesmo omitido por falta de de 2,5 m m/s.
qüências da estrutura e de excitação informações do fabricante da máquina, Tal velocidade é o limite mínimo de con-
tenham valores próximos, independente a tabela nº4 fornece para diferentes fre- forto humano para construções sujeitas
da posição da fonte. qüências, os valores das amplitudes cal- a vibrações, estabelecido na tabela nº 1.
ARTIGO RE TRÔ | REVISTA 47 - 1962

Fig. 1 H JT MASSA COORD I (2) provocou uma redução nas freqüên-


cias naturais da estrutura em relação à
ts2 /m m m2
ω = 23,04 rad/s 1 41,38 24,50 situação (1), resultando na aproximação
(1) 3,80 da freqüência do 2º modo (4,202 Hz),
f = 3,667 Hz 2 53,42 20,00 da freqüência de excitação (3,667 Hz).
c1 = 6% (2) 3,80 Comparando-se os demais resultados
3 53,42 15,50
c2 = 12% (3) 3,80 do aproveitamento puro e simples de um
Θ1 = 2,8 . 10 -8 4 54,70 11,00 projeto elaborado para um tipo de solo e
(4) 3,80 posteriormente colocado em outro.
Θ2 = 4,2 . 10 -7 22t senωt 5 87,54 6,00
Usando-se o critério proposto confor-
(5) 15,20
0,00 me a tabela nº1, podemos melhor visuali-
E = 3000000 t/m2 zar o exposto através do quadro da fig. 2.

Velocidades maiores somente deverão Quando o sistema é carregado ex- S FREQUÊNCIAS DE VIBRACÃO (Hz)
ser usadas nos casos de fundações iso- centricamente, a fundação experimenta Ne 1º modo 2º modo 3º modo 4º modo 5º modo
ladas. Entretanto, não se recomendam certa rotação, reduzindo os valores das
(1) 1 ,099 5,826 14,445 27,378 43,850
valores superiores a V = 5 mm/s. frequências naturais, podendo alguma
As referências (1 e 5) mostram vários delas ficar próxima da freqüência de ex- (2) 0,732 4,202 12,381 26,038 43,363
gráficos elaborados pela Associação dos citação. Em casos assim, a matriz dinâ-
Aceleração Velocidade Amplitude Restituição
Engenheiros Alemães (VDI), para o controle mica é variável e há necessidade da de- s JT
a (mm/s)2 V (mm/s) A (mm) R (t)
de vibrações em fundações de máquinas. terminação dos limites correspondentes
1 -53,197 -2,308 -0,100 -2,205
Segundo a VDI, algumas máquinas po- ao sistema carregado e descarregado.
dem trabalhar sobre suportes com velo- No caso de a freqüência de excitação fi- 2 -8,962 -0,389 -0,016 -0,482
cidade eficaz (Vef= V/2 ) de até 18 mm /s. car situada entre os limites, inevitavelmente (1) 3 25,573 1,109 0,048 1,343
Entretanto, em várias visitas de inspeção o sistema entrará em ressonância quando
4 40,297 1,749 0,075 2,176
realizadas em instalações industriais, nas carregado ou descarregado, gerando es-
5 27,483 1,192 0,051 24,379
quais constatamos velocidades em torno forços cujos valores serão função direta do
de 25 mm s, notamos a impraticabilidade amortecimento do sistema e das velocida- 1 -257,374 -11,170 -0,484 -9,780
de qualquer tarefa no local, tornando-se des do carregamento e descarregamento. 2 - 47,150 -2,046 -0,088 -2,439
precária até a instalação dos aparelhos Determinada insta lação, em perfei- (2) 3 119,847 5,201 0,225 5 ,590
de medida. to funcionamento em certo local, pode
4 197,445 8,569 0,371 9,617
No caso de vibrações horizontais, con- apresentar problemas com a sua trans-
seguimos recentemente medições com ferência para outro em que as condições 5 149,292 6,479 0,281 33,734
velocidades em torno de 43 mm/s na fre- do solo são diferentes. Fig. 2
qüência de 200 cpm, resultando · ampli- A título de ilustração mostraremos u
tudes de 2 mm. m exemplo simples em que a fundação 12 – PRINCIPAIS
O leitor por certo pode achar estra- do sistema sofre rotações diferentes em
REFERENCIAS
nho o fato de uma amplitude de tal or- função das condições do solo, alterando
dem provocar uma resposta insuportá- os valores da matriz de rigidez. BIBLIOGRÁFICAS
vel às pessoas. Entretanto, lembramos 1. Buzdugan, G. - Dynamique Des Foun-
que o desconforto não é função so- 10 – EXEMPLO NUMÉRICO dations de Machines - Editions Eyrolles
mente da amplitude, mas sobretudo da - Paris - 1972
direção do movimento e da freqüência A fig.Nº1 mostra o modelo matemático 2. Crandell, F.J. - Ground Vibration Due To
de excitação. para as duas situações criadas pela supo- Blasting And lts Effect Upon Structures
Alguns exemplos mostrados em livros sição de solos diferentes, onde nota-se - J. Boston Soc. Civil Engrs., 36 num2 -
de Análise Dinâmica não levam em conta que as diferenças entre os dois casos são 1949
o problema das deformações. a rotação (θ) e o índice de amortecimen- 3. Hendron, Jr., A. J. - Structural And Geo-
A simples determinação das forças de to (c), considerado igual para todos os technical Mechanics Prentice - Hall, lnc.
restituição com as quais determinamos modos. - 1977
os esforços não é suficiente para a solu- A resolução dos modelos apresentou, 4. Hendron, Jr., A. J. - Stagg-Zienkiewicz -
ção do problema dinâmico, o qual exige entre outros, os resultados indicados na Rock Mechanics In Engineering Pratice
deformações adequadas ao conforto hu- Figura 2. John Wiley Sons - London - 1968
mano e compatíveis com a freqüência de 5. Major Alexander - Dynamics in Civil En-
excitação. 11 – ANÁLISE DOS gineering - Akademiai Kiadó - Budapest
A interação solo-estrutura não pode - 1980
ser desprezada, principalmente nos ca- RESULTADOS 6. Pereira Lopes, Mauro - Estabilidade
sos de sistemas com fundações excêntri- Como pode ser visto nos quadros da das Construções de Grande Altura -
cas e com matriz de massa variável. fig. (2), a rotação maior dada a situação Estrutura nº 86 - 1979

48 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


VALORIZ AÇÃO PROFISSIONAL | AS ESTRUTUR AS E O ARQUITETO

O ENSINO DE SISTEMAS
ESTRUTURAIS NO CURSO
DE ARQUITETURA
O CURSO DEVERIA PRIVILEGIAR O CONHECIMENTO DAS ESTRUTURAS,
POIS SE TRATA DE FATOR FUNDAMENTAL PARA O BOM EXERCÍCIO DA PROFISSÃO,
ALÉM DE FACILITAR O RELACIONAMENTO COM O PROJETISTA

P
POR JUSTINO VIEIRA arece bastante claro que o ar- tos, não conhecem suas necessidades e
quiteto deve dominar suficiente- carências por não conhecer seu proces-
mente os aspectos estruturais do so de trabalho.
projeto arquitetônico. De fato, ele Costumo fazer uma analogia: provi-
cria formas e divide espaços, tornando- denciar um professor de estrutura para
-se completamente comprometido com o curso de arquitetura é como contratar
a viabilização de uma estrutura que pro- um professor para ensinar português no
porcione tais pretensões e sustente as Japão. Não basta, obviamente, que o can-
cargas daí advindas. didato seja um mestre na língua portu-
O que, entretanto, resulta numa ques- guesa. Se ele não souber também, ainda
tão sobremaneira intrigante e desafiado- que um tanto superficialmente, o japonês,
ra é o que seria um conhecimento estru- o curso será totalmente inviável. Resumin-
tural adequado e suficiente e como deve do: creio ser fundamental que o professor
o ensino do mesmo ser ministrado nas tenha fluência, tanto da linguagem da en-
escolas de arquitetura. genharia quanto a da arquitetura.
A consulta pessoal a um número ele- O segundo aspecto problemático é
vado de arquitetos e estudantes de ar- mais profundo e conceitual. Vou começar
quitetura me indicou, majoritariamente, definindo como vejo a atuação de arqui-
descontentamento com o curso que tetos e engenheiros. Enquanto este é um
tiveram na área estrutural e uma sen- profissional de análise, que visa conhecer
sação de frustração em relação ao re- em detalhe determinado assunto, o arqui-
sultado esperado. Creio que a primeira teto é um profissional de síntese, que deve
causa deste problema é a inadequação ter conhecimentos mais difusos, porém
do professor de estrutura designado extremamente abrangentes, de inúmeros
para tal função. Na sua quase totalida- tópicos ligados ao fazer arquitetônico.
de, os professores destas disciplinas Apelando novamente para uma analo-
são engenheiros que, independente da gia, compararia o arquiteto a um maestro
titularidade acadêmica e do grau de co- e o engenheiro a um músico, digamos,
nhecimento que possuem do assunto um trompista. Provavelmente poucos
estrutura, não tem vivência com arquite- maestros sabem tocar trompa, entretan-

49
VALORIZ AÇÃO PROFISSIONAL | AS ESTRUTUR AS E O ARQUITETO

to sabem exatamente o que desejam da teressava ele sabia avaliar perfeitamente. acho isso espantoso, tal como tam-
trompa sob sua batuta: como deve soar, Tenho certeza que também conhecia os bém o aluno não ter a menor ideia do
se está afinada, se atende as exigências da índices equivalentes de instalações, ar preço aproximado pelo qual os apar-
partitura, se entrou no compasso exato. condicionado, custos, etc. tamentos do seu projeto serão ven-
Assim sendo, creio que o ensino de Dentro desta visão, creio que o ensino, didos e, consequentemente, o perfil
estrutura para arquitetos deve, funda- ao longo de quantas sejam as cadeiras sócio econômico do ocupante de sua
mentalmente, dar-lhe condições de diá- dedicadas a este assunto, deveria ter o edificação!
logo com o especialista e nunca assumir seguinte perfil: – Cálculo de Esforços: Esta parte do
seu papel na orquestra. Este objetivo – Introdução: Um conhecimento ex- currículo abrangeria inúmeras ca-
remete inteiramente à necessidade de tremamente vasto, o mais abran- deiras do curso de engenharia, tais
conhecer o dia a dia do arquiteto, seu gente possível, abusando mesmo do como estática, hiperestática e resis-
trabalho, seus desafios e responsabili- conceito de “enciclopédico”, dos prin- tência dos materiais. Não cabe aqui
dades profissionais. cipais tipos de edificações e obras de detalhar o currículo de tal cadeira,
Costumo citar um incidente profissio- construção (prédios, pontes, silos, mas creio que a ênfase deveria ser
nal que ilustra perfeitamente este ponto: hangares, fábricas, etc), bem como em passar a percepção intuitiva e
há alguns anos estava desenvolvendo um dos respectivos materiais (concreto sensível das deformações e dos es-
projeto que tinha certas peculiaridades armado e protendido, aço, madeira) forços que atuam nas peças estru-
estruturais um tanto inusitadas e o tra- e processos executivos (pré-fabri- turais, tais como flexão, compressão,
balho era coordenado por determinado cação, alvenaria portante, execução tração, torção, flambagem, etc. Insis-
arquiteto. Antes da primeira reunião co- convencional, etc). to: a ênfase é muito mais na qualifica-
meçar, informalmente, ele me perguntou Creio que esta seria a “grande” cadei- ção e identificação do esforço do que
o volume de concreto que eu imaginava ra do curso em termos de estrutura, na sua mensuração e quantificação,
gastar. Achei a pergunta muito precoce uma vez que se enquadra totalmente tal como ocorre nos cursos de enge-
para o ponto do trabalho em que estáva- no conceito generalista que atribuí nharia. Uma importante contribuição
mos e, talvez, tivesse ainda subestimado acima ao arquiteto. a tal estudo seria o emprego do mo-
sua capacidade de avaliar este aspecto Vou dar um exemplo de sua impor- delo de estrutura com molas, atual-
mente comercializado.
– Madeira e Metálica: esta discipli-
na – que tem a mesma abrangência
e designação no curso de engenharia
– deveria focar substancialmente na
parte da morfologia destas estrutu-


ras. Vejo, seguidamente no ateliê, os
alunos preocupados em saber como
“a viga encaixa no pilar”. Entendo per-
O conhecimento das estruturas feitamente a preocupação deles. Reu-
nindo nesta cadeira os ensinamentos
por parte do arquiteto é fator advindos da cadeira anterior (cálculo
de esforços) e mantendo o mesmo en-
fundamental para o bom quadramento sensível e espontâneo,

exercício da profissão e facilita o creio que o objetivo seria alcançado.


– Concreto Armado e Protendido:
relacionamento com o projetista teria basicamente o mesmo formato


das cadeiras anteriores. Gostaria, en-
tretanto, de salientar alguns pontos.
Estudo da compressão: creio que é ex-
tremamente útil ao arquiteto ser capaz
de pré-dimensionar um pilar, já que
– apesar de ser uma tarefa simples –
esta informação é vital para a Arquite-
tura que ele está desenvolvendo. Por
devido à especificidade do projeto. Para tância. Frequentemente atendo alu- outro lado, não vejo o menor sentido
minha surpresa ele sugeriu um valor (ex- nos no Ateliê fazendo projetos de em ensiná-lo a calcular um pilar objeti-
presso adequadamente sob a forma de edificação urbana que optam por fa- vando obter a respectiva armação. Os
índice) que era absolutamente acertado ze-las em estrutura metálica. Sempre casos que a Norma Brasileira admite
e pertinente. Ele não saberia calcular pergunto o porquê desta opção e, de dimensionamento simplificado de
uma estrutura, por mais modesta que quase invariavelmente, não obtenho pilares são extremamente limitados e
fosse, mas o número “grande” que o in- qualquer resposta consistente. Eu o cálculo exato, com elaboração das

50 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


respectivas curvas Momento-Curvatu- trabalhando com arquitetos, eu nunca acho vital que conheça o fenômeno do
ra, são de uma complexidade imensa e tenha visto um único deles calculando puncionamento e como a existência
inviáveis sem auxílio computacional. E a armação de um pilar... de aberturas ao lado do pilar pode ser
mais: esse tal pilar que o arquiteto es- Estudo da flexão: com o mesmo grave para estas estruturas.
taria dimensionando, saiu de onde? De raciocínio acima, não vejo interesse – Ateliê: por fim, esta é a atividade que
que estrutura? Submetida a que mo- no cálculo de armação de flexão e permite colocar em prática tudo que
mentos de engastamento elástico e de de cisalhamento (de onde vieram os foi apresentado acima. Creio que a
flambagens global, local e localizada? esforços??). Mas acho fundamental o prática do Ateliê é a grande oportuni-
Talvez por isto, ao longo de décadas arquiteto saber que, caso pretenda dade do estudante de arquitetura se
pleitear a mudança de determina- exercitar na prática do diálogo com o
da seção inicialmente proposta para professor que vai assessorá-lo a en-
uma viga, a capacidade resistente dela contrar a estrutura mais adequada
varia linearmente com a largura e ex- – técnica e economicamente – a via-


ponencialmente (quadrado) com a al- bilizar sua proposta arquitetônica.
tura, como também acho importante Conclusão: o conhecimento das es-
ele saber que a redução da altura das truturas, de modo sensível e adequa-
Apelando para vigas de um teto, resultaria a grosso do, por parte do arquiteto é fator fun-
modo um aumento de armação (e res- damental para o bom exercício de sua
uma analogia, pectivo custo) na mesma proporção. profissão e elemento facilitador para um

compararia o Não creio ainda que seja importante


saber dimensionar uma laje lisa, mas
relacionamento proveitoso com o proje-
tista estrutural.
arquiteto a um
maestro e o
engenheiro a um
músico, digamos,
um trompista

51
NORMAS TÉCNICAS | NBR 7187

REVISÃO DA ABNT
NBR 7187:2003
DEVERÁ ESTAR
CONCLUÍDA EM 2018
AÇÃO DE TEMPERATURA DO CONCRETO E CARGAS FERROVIÁRIAS FORAM ALGUNS DOS
PONTOS QUE MERECERAM ATENÇÃO DA COMISSÃO ENCARREGADA DA REVISÃO

S
e tudo correr conforme o crono- visão da norma ficariam encarregados de
grama, até o primeiro semestre buscar subsídios em normas internacio-
de 2018 estará concluída a revi- nais e também em literatura sobre o tema,
são da ABNT NBR 7187:2003 – para propor uma redação mais atualizada
Projeto de Pontes, Viadutos e Passa- a respeito”, informa.
relas de Concreto. Pelo menos essa é a Outro ponto que deve merecer aten-
expectativa dos integrantes da CEE-231, ção especial dos integrantes da Comis-
Comissão de Estudo criada para fazer a são é o referente a cargas ferroviárias.
revisão e que tem como coordenador o Segundo o secretário da CE-231, esse tó-
engenheiro Julio Timerman. Após essa pico das cargas ferroviárias, importantís-
etapa, o texto resultante das reuniões simo em projetos de pontes, não estava
periódicas realizadas na sede da ABECE, contemplado em nenhuma norma. “Deci-
em São Paulo, será remetido para a ABNT dimos então, incluir um anexo específico
– Associação Brasileira de Normas Técni- sobre cargas ferroviárias na ABNT NBR
cas, onde será formatado e colocado em 7187”, explica o engenheiro Iberê.
consulta pública antes da publicação. Os integrantes da Comissão que revisa
No momento, a CEE-231 finaliza uma lei- a ABNT NBR 7187:2003 realizam uma re-
tura geral da norma e já foram detectados união mensal e dela participam, em mé-
pontos que merecem complemento ou dia, 14 pessoas. São projetistas e outros
uma nova redação baseada nas mudan- profissionais ligados à área de engenharia,
ças e avanços registrados nesse campo além de representantes de algumas uni-
da engenharia desde que a norma foi redi- versidades, como a Federal do Rio de Ja-
gida. “Notamos, por exemplo, que na nor- neiro e a USP de São Carlos, e também de
ma em vigência, a ação de temperatura do alguns órgãos ligados a obras de infraes-
concreto é um tema que estava redigido truturas como rodovias e ferrovias, que
de forma superficial”, explica o engenheiro incluem pontes. Participam ainda dos en-
Iberê Martins da Silva, secretário da CEE- contros profissionais autônomos, repre-
231. “Foi decidido então que alguns dos sentantes de concessionárias de rodovias
profissionais que estão auxiliando na re- e alguns fornecedores de materiais.

52 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


PAPEL DA ABECE NA RENOVAÇÃO DAS NORMAS TÉCNICAS
Além da revisão da ABNT NBR 7187:2003, outras normas de revisão é o vice-presidente de Relacionamento da ABECE,
técnicas relacionadas com projetos estruturais estão em engenheiro João Alberto Vendramini, cabendo a secreta-
análise por profissionais do setor da engenharia, num traba- ria dos trabalhos ao engenheiro civil Odinir Klein Júnior. As
lho que conta com a coordenação da ABECE. Outro exemplo ações já estão bem adiantadas e a expectativa é de que a
desse empenho da entidade na estratégia da ABNT de reno- revisão entre em consulta pública até o final de 2017, com
var constantemente as normas técnicas é a revisão da ABNT previsão de publicação, pela ABNT, em 2018.
NBR 6122:2010 – Projeto e Execução de Fundações. Na reu- Os dirigentes da ABECE também se ocupam de ações para
nião do dia 27 de julho da CE-002:152.08 – Comissão de Es- a elaboração de novas normas. Uma delas é a que deverá
tudo de Obras Geotécnicas e de Fundações, que analisa as regulamentar projetos com chumbadores químicos. O gru-
ações em torno dessa revisão, o presidente da ABECE, Jeffer- po de trabalho formado para estudar o assunto, que ainda
son Dias de Souza Júnior, que também é um dos integrantes não possui uma norma específica no Brasil, foi constituído
da Comissão, apresentou estudo dos esforços de primeira no final de 2015 e desde então já realizou 20 reuniões. “Pre-
e segunda ordem nas fundações gerados pelas cargas ver- tendemos ter uma recomendação sobre o tema até o fim de
ticais devido ao vento, que contribuiu para os avanços das 2017”, informa o engenheiro Tiago Carmona, coordenador
propostas já em andamento para a atualização da norma. do Comitê Técnico de Estudos sobre Fixações, criado pela
A Comissão, que faz parte da ABNT/CB-002 – Comitê Bra- ABECE para debater um texto base da futura norma.
sileira da Construção Civil, tem como coordenador o enge- Segundo o coordenador dos trabalhos, até o momento fo-
nheiro Frederico Falconi e, como secretária, a engenheira ram analisados a conceituação geral da futura norma, os me-
Fernanda Nabão. Segundo os integrantes da Comissão, a canismos de falhas, verificações, além de futuros trabalhos
ABNT NBR 6122:2010 é fundamental para a engenharia es- relativos à determinação de propriedades mecânicas dos
trutural, pois trata dos critérios gerais que regem o projeto adesivos por meio de ensaios de laboratório. “Na sequência,
e a execução de fundações de todas as estruturas conven- serão elaboradas recomendações para dimensionamento
cionais da engenharia civil, compreendendo residências, de chumbadores mecânicos pós-instalados e outro sobre
edifícios de uso geral, pontes, viadutos, etc. Obras especiais, pinos com cabeça pré-instalados”, explica Carmona. Outros
como plataformas offshore, linhas de transmissão de ener- grupos da ABECE estão trabalhando em propostas de revi-
gia, entre outras, também são regidas por ela. são de normas brasileiras, tendo como foco os processos
Outra norma que tem merecido atenção dos dirigentes da de protensão e também a atualização da ABNT NBR 8800
ABECE é a ABNT NBR 6120 – Cargas para Cálculo de Estrutu- – Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço
ras de Edificações. Nesse caso, o coordenador da comissão e concreto de edifícios.

53
MUSEU DO PROJE TO | EDIFÍCIO PEDR A GR ANDE

EDIFÍCIO
PEDRA GRANDE

O
POR MARIO FRANCO, projeto arquitetônico, de au- soas que após 1964 foram cassadas pelo
DA JKMF ENGENHEIROS CIVIS
toria do arquiteto Pedro Paulo regime militar, como os arquitetos Vila-
de Mello Saraiva, consistia ori- nova Artigas e Carlos Cascaldi. O projeto,
ginalmente de 14 andares com no entanto, foi alterado para escritórios,
um apartamento por andar, mais térreo mantendo-se, no entanto, a estrutura ini-
com lojas e subsolo de garagens. Alguns cialmente definida.
apartamentos eram destinados a pes- O andar tipo tem planta retangular
de 10m x 25m. Sua estrutura é formada
por 17 pórticos de 2 pilares, e vão de ~
10m, distanciados entre si de 1,55m. Os
17 pilares de cada fachada têm seção
trapezoidal com altura de 40cm e ba-
ses de 10cm e 20cm respectivamente.
As vigas têm 12x40cm, alargando para
20cm em suas extremidades. As lajes

54 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


entre pórticos têm 7cm de espessura. seção transversal de 50x100cm, suporta- te), havia uma solução exata dada pela
Resulta assim uma estrutura eficiente, da por 4 grandes pilares de seção variável: teoria da elasticidade. Foi através dessa
de grande vão, porém, muito leve: a 20x47cm na base e 50x300cm logo abaixo teoria, portanto que foram determinadas
espessura média do andar tipo (lajes+- da viga. Um elemento cônico, com base as tensões internas nos “pilones”, e tam-
vigas+pilares) é de apenas 12,5cm. Di- de Ø – 64cm opera a transição da seção bém, muito importante, a distribuição
mensionada para os esforços combina- retangular para a seção circular Ø – 69cm das reações de apoio das vigas ao longo
dos de gravidade e do vento, tem taxa dos pilares subjacentes do subsolo. da extensão de 3m logo abaixo delas. Foi
de armadura de 100 kg/m³. Utilizou-se O grande desafio estrutural do projeto a partir dessa distribuição que foi possí-
aço “Torsima”, com limite de escoamen- foi a determinação dos esforços internos vel determinar os momentos fletores e as
to de 5.000kgf/cm². Os pilares, pouco tanto nos grandes “pilones”, quanto na forças cortantes nos trechos da viga de
espaçados, são salientes nas fachadas viga de transição. Na época, a análise por transição solidários aos pilares.
e, além de sua função estrutural, são elementos finitos estava na mente de au- O cálculo dessa complexa estrutura foi
também “brise-soleil”. tores como Zinkiewicz e outros. Mas para realizado com as ferramentas disponíveis
No 1º andar, os 17 pilares de cada facha- estrutura triangular com cargas aplica- na época, que eram: régua de cálculo e
da apoiam-se numa viga de transição com das no vértice de base (normal e cortan- calculadora elétrica.

55
MCA ESTÚDIO
ENTRE VISTA | LUIZ EDUARDO INDIO DA COSTA

ARQUITETURA E D
esde que iniciou sua carreira
profissional no Rio de Janeiro,
nos anos 60, o arquiteto Luiz
Eduardo Indio da Costa, tem

URBANISMO EM
pautado seu trabalho por uma intensa
interação da arquitetura com o urbanis-
mo. Autor de dezenas de projetos, como
o do Centro de Atividade do Sesc de Nova
Iguaçu/RJ e da sede do Inmetro Instituto

HARMONIA
de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial, em Duque de Caxias/RJ, Indio
da Costa também projetou inúmeras re-
sidências espalhadas por todo o estado
do Rio. Além disso, teve uma passagem
pela área pública como secretário de Ur-
INDIO DA COSTA, UM DOS NOMES MAIS RENOMADOS DA banismo da capital carioca.
Prestes a entrar na casa dos 80 anos,
ARQUITETURA BRASILEIRA, FAZ QUESTÃO DE DESTACAR Índio da Costa assegura que, em todas
A IMPORTÂNCIA VITAL DOS CALCULISTAS PARA as suas inúmeras atividades, sempre se
CONCILIAR ROBUSTEZ ESTRUTURAL COM A LEVEZA guiou pela inovação. “Como sou bastante
interessado pelo novo e por diferentes
PRESENTE NOS SEUS PROJETOS desafios, acredito que isto se reflita tam-
bém na minha arquitetura. Gosto, sem-
pre que possível, de inovar em relação ao
que foi feito anteriormente”, afirma. As-
segura que isso também envolveu a área
de design, incorporada às atividades do
estúdio montado por ele em Botafogo,
quando seu filho, Guto Indio da Costa,

56 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


se juntou a ele. Para o arquiteto, a leveza ABECE – Como analisa a exigência são antenados, tem hoje uma enorme
presente nos seus projetos só é possível para que os arquitetos projetem pen- vantagem sobre os recém-formados da
“graças ao auxílio dos calculistas, que são sando na segurança contra incêndio? minha geração, pois tem a internet e um
parceiros importantes”. Na entrevista a Indio da Costa – Acho esta exigência instrumental muito maior à sua dispo-
seguir, Indio da Costa fala mais sobre sua importante e lastimo que não exista esta sição, para saber e acompanhar tudo
vida e carreira: disciplina nas faculdades. o que está acontecendo no mundo da
ABECE – Como vê a chegada do BIM arquitetura.
ABECE – Quando e em que circunstân- nos projetos de engenharia? ABECE – Qual sua orientação a jovens
cia optou pela arquitetura?  Indio da Costa – Com grande alegria, pois estudantes que estejam pensando
Indio da Costa – A escolha foi um pouco em cursar arquitetura?
por intuição e também por exclusão. Eu Indio da Costa – O mais importante, na
sabia que lidar com arte era uma voca- minha opinião é que os jovens se apaixo-
ção natural e não me sentia atraído pelas nem pela profissão. Não há bom profis-
profissões convencionais que existiam sional, em qualquer área, que consiga um


nos anos 60: medicina, engenharia, direi- bom resultado, sem muita paixão e esfor-
to e semelhantes. ço. Além disso, acho que para uma boa ar-
ABECE – Quando decidiu que iria agre-
gar urbanismo e design à sua ativida-
Em todo projeto, quitetura, é muito importante uma visão
mais ampla e renascentista do mundo,
de de arquiteto? o engenheiro onde o contexto social, cultural e artístico,
Indio da Costa – Urbanismo sempre fez se mostre presente na obra arquitetônica.
parte do meu trabalho. Iniciei minha tra- agrega ABECE – Considerando que sem es-
jetória profissional estagiando no escri- trutura não existe forma possível,
tório Saturnino de Brito, uma referência conhecimento concorda que, em última análise, é o
em urbanismo e essa bagagem eu trago
até hoje para meus projetos. O design,
tecnológico arquiteto quem concebe a estrutura?
Nesse sentido, como situa sua produ-
só realmente entrou no nosso escritório, específico ção arquitetônica em relação a inte-
quando o meu filho, Guto, designer de ração forma-estrutura?
produto, veio agregar esta área ao nosso além de prática Indio da Costa – Na maior parte do meu


trabalho. Aprendi a ver a arquitetura e o trabalho, a estrutura nasce com o proje-
urbanismo do ponto de vista coletivo e a construtiva to arquitetônico, mas o trabalho em con-
me preocupar mais com a inserção corre- junto com o Engenheiro de estruturas, é
ta do objeto arquitetônico, na paisagem. fundamental em todo o processo. Isso
ABECE – Qual a importância de uma serve também, para as relações entre as
atuação harmônica entre arquitetos demais áreas que se complementam no
e engenheiros para o bom andamen- todo de uma obra arquitetônica, desde
to de uma obra? a criação até a realização. Há projetos,
Indio da Costa – É uma parceria impor- é um instrumento que nos auxilia enorme- entretanto, em que a estrutura não de-
tante e complementar, pois todo projeto mente e nos possibilita projetos de melhor fine a forma, mas ao contrário, a forma
depende de uma correta execução e o qualidade, com antevisão de espaços mais termina definindo a estrutura. Com o au-
engenheiro, agrega conhecimento tecno- clara e com detalhes mais bem desenvolvi- xílio dos Engenheiros de estruturas, que
lógico específico e prática construtiva. dos. Além disso, o Revit, que faz parte do são parceiros importantes, nos meus
ABECE – Qual sua avaliação sobre o sistema Bim, facilita o diálogo com os lei- projetos, consigo conciliar a leveza das
atual estágio da arquitetura brasilei- gos, por conta da visão em 3D. minhas criações com estruturas sólidas
ra em comparação com a de outros ABECE – Como é sua implementação fundamentais em qualquer obra.
países? num escritório de arquitetura? ABECE – Qual sua visão crítica da
Indio da Costa – Estamos atrasados em Indio da Costa – Cada vez maior. É um precedência da estrutura sob a for-
relação a outros países ditos do primei- caminho sem volta e em constante evo- ma na criação arquitetônica, como
ro mundo, sobretudo em temos de tec- lução. A nova ferramenta ainda não está no exemplo do Museu de Arte Mo-
nologia. Não me parece que falte cria- completamente popularizada entre os ar- derna do Rio?
tividade aos arquitetos brasileiros, mas quitetos, mas cada vez mais os escritórios Indio da Costa – Quando o resultado
sim, uma engenharia avançada e opor- estão conscientes da sua importância. final tem valor considerável, acredito
tunidade para projetos mais ousados e ABECE – Qual sua análise sobre o ní- que são apenas métodos diferentes de
vanguardistas. Nosso maior desafio é vel de competência dos jovens arqui- se trabalhar, mas não necessariamente
não perder, mas reforçar nossa identi- tetos recém-formados que chegam vejo como algo ruim. Cada profissional
dade cultural, num mundo globalizado, hoje ao mercado de trabalho? tem a sua linguagem e estas diferenças
onde as influências externas têm de ser Indio da Costa – Não acho que as fa- não criam escalas diferenciadas de valor,
filtradas para a nossa realidade sócio culdades estejam funcionando como mas enriquecem a profissão, com maior
econômica e cultural. deveriam, entretanto, os jovens que diversidade.

57
INOVAÇÃO | SHOPPING CENTER IGUATEMI FORTALE Z A

OBRAS DE EXPANSÃO
DO IGUATEMI DE
FORTALEZA
SOLUÇÕES ESTRUTURAIS CONTEMPLARAM, ENTRE OUTRAS MEDIDAS,
PLANTAS COM MUITAS CURVAS E GRANDES VÃOS, USO DE LAJES NERVURADAS,
ALÉM DE LAJE DE SUBPRESSÃO EM TODO O SUBSOLO

POR MARCELO SILVEIRA, DENISE SILVEIRA e


ALEXANDRE TEIXEIRA 1 – INTRODUÇÃO Em 2001 foi construído o primeiro edi-
fício garagem com 5 pisos, em estrutura
O Shopping Center Iguatemi Fortaleza, pré-moldada em concreto.
foi inaugurado em 2 de abril de 1982, ten- Em 2003 uma nova grande expansão foi
do sido o primeiro grande shopping a ser construída com dois níveis de lojas e uma
instalado na cidade de Fortaleza. área de 5.300m² destinada a 12 salas de ci-
A sua localização está em um ponto nema com capacidade para 3.300 lugares.
estratégico da cidade, pois situa-se na Todas estas etapas tiveram suas estruturas
Avenida Eng. Santana Junior, que é um projetadas pelo escritório Hugo A. Mota.
corredor que liga a zona central com a Em 2015, foi inaugurada a sexta expan-
MARCELO SILVEIRA zona leste, que nos últimos anos viu a são em dois pisos de lojas e um segundo
cidade se expandir, na direção do litoral edifício garagem com seis pisos, onde o
leste, de Aquiraz e Eusébio, importantes projeto estrutural foi de responsabilida-
municípios da Região Metropolitana de de do nosso escritório, MD Engenheiros
Fortaleza. Associados, e que neste ano foi vencedor
Em 1992 sofreu a primeira grande am- do Prêmio Talento Engenharia Estrutural
pliação onde dobrou o número de lojas 2015 na categoria “Construção Industria-
DENISE SILVEIRA em um novo corredor com dois pisos, lizada”. O projeto das estruturas metálicas
pois a configuração inicial tinha somente ficou a cargo do Eng. Raimundo Calixto.
o piso térreo. Este artigo trata desta sexta expan-
Em 1995 sofreu uma nova ampliação são, onde procuraremos detalhar o par-
para a implantação da C&A. tido arquitetônico adotado e as soluções
Em 1999 foi construído o Supermerca- estruturais que foram usadas com o ob-
do Extra e mais duas áreas de estaciona- jetivo de resolver os diversos desafios
mento descoberto. apresentados.
ALEXANDRE TEIXEIRA

58 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


2 – O PROJETO DE
ARQUITETURA
A sexta expansão do Shopping Center
Iguatemi foi concebida pelo escritório
de arquitetura Laguarda Low, do arqui-
teto Pablo Laguarda, com sede em New
York, EUA e desenvolvido pelo escritório
Nélson Serra Arquitetos Associados, de
Fortaleza.
O projeto de arquitetura é bastante FIGURA 2.1 – VISTA GERAL AÉREA - PROJETO
peculiar, pois apesar de manter uma mo-
dulação de pilares no padrão de 8,0 x 8,0
metros, tem plantas com muitas curvas
e muitos pilares que deveriam se situar
nos módulos, deixam de existir consti-
tuindo grandes vãos que acontecem em
múltiplos de 8 metros, chegando a 40,0
metros.
O edifício garagem mantém a modu-
lação de 8,0 x 16,0 (equivalente à dois
módulos de 8,0 metros), sendo que uma
das fachadas é curva o que provoca
em alguns casos vãos superiores a 16,0
metros. Este edifício se conecta com o
restante do shopping nos níveis -3,50 e FIGURA 2.2 – PLANTA DO NÍVEL +0.00
-6,00, que compõem o subsolo, destina-
do a garagens e às docas. Acima do nível
0,00, este edifício é distinto das demais
áreas do shopping se ligando a este por
intermédio de uma passarela metálica no
nível +6,00.
O edifício de lojas é composto por dois
pisos com pés direitos de 6,0 metros e
uma cobertura destinada à área de re-
serva técnica descoberta.

FIGURA 2.3 – PLANTA DO NÍVEL +6,00

59
INOVAÇÃO | SHOPPING CENTER IGUATEMI FORTALE Z A

FIGURA 2.4 – SEÇÃO DA ÁREA COM ESTRUTURA DE MADEIRA FIGURA 2.5 – ÁREA DE CONVIVENCIA CENTRAL

Uma grande área de convivencia situa-


se no centro da área de ampliação onde
uma estrutura de madeira monumental
apoia a cobertura deste trecho.
Um cubo e um cilindro de vidro situam-
-se na parte central da área de convivência
abrigando lojas e servindo de apoio das
passarelas que traspassam todo o espaço.
A interligação desta expansão com as
áreas existentes do shopping, foram fei-
tas de maneira que os corredores de cir-
culação se comunicam em três pontos e
nos locais onde se situam duas lojas de
departamento que funcionam como ân-
coras do empreendimento.

FOTO 2.1 – IMAGEM DA ÁREA CENTRAL DE CONVIVÊNCIA

FOTO 2.2 – IMAGEM DA ÁREA CENTRAL DE CONVIVÊNCIA

FIGURA 2.6 – PONTO DE LIGAÇÃO ENTRE EXPANSÃO 6 E ETAPA 1 FIGURA 2.7 – PONTO DE LIGAÇÃO ENTRE EXPANSÃO 6 E ETAPA 4

60 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


3 – O PROJETO ESTRUTURAL
O projeto estrutural é composto por uma
estrutura predominantemente em concre-
to formada por lajes nervuradas com di-
reção principal protendida por cordoalhas
engraxadas que se apoiam da direção per-
pendicular em faixas também em concreto
protendido com cordoalhas engraxadas.
A escolha pelo sistema estrutural em con-
creto moldado “in loco” deveu-se à grande
quantidade de curvas do projeto de arquite- FOTO 3.1 – MONTAGEM DAS LAJES NERVURADAS PROTENDIDAS COM FAIXAS
tura e, apesar de existir uma modulação bá-
sica de 8,0 x 8,0 metros, muitas vezes ocor- docas para permitir a manobra de cami- bertura com vãos de 24,0 metros, onde fo-
reu a necessidade de subtrair-se pilares da nhões para carga e descarga, foi concebi- ram pendurados tirantes que apoiaram os
malha padrão para atender à arquitetura, e da uma estrutura híbrida concreto – aço. níveis 0,00, +6,00 e o próprio nível +12,00.
que quebrou a padronização de vãos. A falta de altura necessária para a cria- Neste retângulo de 24,0 x 40,0 metros,
A cobertura, que foi projetada para piso ção de vigas de transição que permitissem o piso foi estruturado em lajes do tipo
também tem o mesmo tipo de estrutura, os pilares voltarem para sua modulação steel deck com complemento em concre-
exceto nas áreas de iluminação e nas en- de 8,0 x 8,0 metros, foi solucionada com to apoiado sobre vigas metálicas de 8,00
tradas principais que são em estrutura a criação de grande vigas metálicas na co- metros de vão (ver Fotos 3.3 e 3.4).
metálica.
Devido à necessidade de um vão de
40,0 x 24,0 no subsolo na região das

FOTO 3.2 – ASPECTO DAS LAJES


NERVURADAS PROTENDIDAS

FOTO 3.3 – ASPECTO DAS LAJES NERVURADAS PROTENDIDAS

FOTO 3.5 – MONTAGEM DAS VIGAS METÁLICAS


DA COBERTURA PARA APOIO DOS TIRANTES

FOTO 3.4 – VIGA METÁLICA DA COBERTURA PARA APOIO DOS TIRANTES

61
INOVAÇÃO | SHOPPING CENTER IGUATEMI FORTALEZ A

O edifício garagem, teve sua modula-


ção em 8,0 x 16,0 metros, exigiu que as vi-
gas da direção transversal tivessem altu-
ra de 60 cm, mantendo a altura das lajes
nervuradas, incluindo a capa, de 33 cm.
As rampas de acesso tem pequeno ân-
gulo de inclinação sendo utilizadas como
estacionamento, pois tem a largura do
módulo de 16,0 metros.
Ligando o 3º piso ao térreo, existe a
rampa expressa que tem sentido único e
serve para agilizar a descida dos veículos
mais rapidamente.
Por causa do nível do lençol freático
FOTO 3.6 – EDIFÍCIO GARAGEM
ser muito alto, foi necessário a criação
de laje de subpressão em toda a área do
subsolo.
As fundações foram profundas em es-
tacas do tipo hélice continua monitorada,
coroadas por blocos em concreto armado.
O fck das fundações foi 35 MPa e da es-
trutura, 30 MPa. FOTO 3.7 – EDIFÍCIO GARAGEM

FIGURA 3.1 – FORMA NÍVEL 6 – EDIFÍCIO GARAGEM – SETOR A FIGURA 3.2 – FORMA NÍVEL 6 – SETOR B

FIGURA 3.3 – FORMA NÍVEL 6 – SETOR C FIGURA 3.4 – FORMA NÍVEL 6 – SETOR D

62 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


FOTO 5.1 – VISTA AÉREA

Para o desenvolvimento do cálculo es- O escoramento rece-


trutural, foram utilizados os softwares SAP beu outra atenção es-
2.000, TQS e Adapt Pt, além de programas pecial pelo fato de que
específicos desenvolvidos pela MD. os pés-direitos serem
da ordem de 6,00 me-
4 – CUIDADOS NA EXECUÇÃO tros, exigindo torres de
escoramento.
DA ESTRUTURA Foram utilizadas duas
Vários aspectos mereceram atenção gruas na obra para mo-
na execução da estrutura do Shopping vimentação de materiais.
Center Iguatemi. Para a montagem da
Para a execução dos blocos de coroa- estrutura de madeira,
mento das estacas, devido suas grandes foi necessário a criação
dimensões, foram tomados cuidados es- de fundações especiais
peciais no controle da temperatura do para a patolagem do
concreto para evitar problemas de retra- guindaste, pois o solo
ção e de formação de etringita tardia. de baixa capacidade de FOTO 5.1 – ENTRADA OESTE E VISTA DO EDIFÍCIO GARAGEM
A laje de subpressão, com espessura de suporte não teria segu-
40 cm, mereceu atenção especial na esco- rança para a operação
lha correta da dosagem do concreto a ser do equipamento. o que determinadas soluções, tais como
utilizado e no tratamento das juntas de no trecho das docas e as fachadas inclina-
construção para que pudesse ser cons- 5 – CONCLUSÃO das, não haveria como resolver. O software
truída de forma a manter sua estanquei- TQS foi fundamental na modelagem da es-
dade e cumprir sua finalidade principal. O projeto estrutural da Expansão 6 do trutura e no uso da plataforma BIM.
A estrutura foi subdividida em 4 seto- Shopping Center Iguatemi Fortaleza, utili- Estas novas ferramentas são fundamen-
res separados por juntas de dilatação zou ferramentas modernas de projeto que tais para o desenvolvimento de projetos
que também funcionaram como juntas possibilitou a comunicação com as outras de alta complexidade, trazendo resultados
de construção. especialidades. O projeto de arquitetura confiáveis e rápidos, visto que é permitido
A protensão foi aplicada em uma única utilizou plataforma BIM, assim como o pro- a antecipação de problemas diversos de
etapa dentro de cada setor, na maneira jeto de estrutura metálica que foi intima- interferência entre as várias especialidades
em que o avanço da obra se dava. mente ligado à estrutura de concreto, sem que somente eram detectadas na obra.

63
BOAS PR ÁTICAS DE PROJE TO | CÁLCULO MANUAL

EXEMPLO DE
CÁLCULO MANUAL
MANUSCRITO COM EXEMPLO DE CÁLCULO MANUAL DE ARMADURA ATIVA
E PASSIVA DE UMA VIGA PROTENDIDA DE CONCRETO

MATERIAL CEDIDO POR: LUIZ CHOLFE

64 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


65
APRENDENDO COM O ERRO | A FINALIDADE DA ATP

AVALIAÇÃO TÉCNICA DE
PROJETO É NECESSÁRIA?
ATP DEVE SER REALIZADA, DE PREFERÊNCIA, JUNTO COM A FASE DE PROJETO,
REQUER UM PROFISSIONAL HABILITADO E É UMA GARANTIA DE MENOS FISSSURAS,
DEFORMAÇÕES E COLAPSOS NAS OBRAS

“Uma pessoa inteligente aprende com os cientes de que uma experiência adquirida, Os coautores impõem seu próprio estilo
seus erros, uma pessoa sábia aprende com os se partilhada por muitos colegas, elevará a de linguagem, de narrativa e diversificam
erros dos outros”, escreveu o psiquiatra e escri- competência coletiva de sua profissão. o formato do texto, impedindo assim que
tor Augusto Cury, contrapondo-se ao pensa- São ao todo 27 coautores engenheiros a a leitura se torne monótona ao passar de
mento de Otto van Bismarck: “Os tolos dizem relatar 50 casos distintos, que pontificam, um caso para outro.
que aprendem com os seus próprios erros; eu justamente, por sua diversidade de assun- Todos os coautores desejam que essa
prefiro aprender com os erros dos outros”. tos e de estilos. Os assuntos permeiam por coletânea de casos, rica em ensinamen-
Ambos, no entanto, reconhecem que os erros em diversas áreas de conhecimento: tos, tenha divulgação tão ampla quanto
erros cometidos, por nós mesmos ou por geotecnia, concreto armado, concreto pro- as virtudes que contém. Essa divulgação
outros, podem nos servir de proveitosa li- tendido, estruturas de aço, patologia das é livre, mas deverá ser sempre gratuita.
ção. A condição necessária para que isso estruturas. Abordam problemas de estru- Se alguma instituição desejar editar esse
aconteça é que nos aproximemos deles com turas sob ações estáticas, dinâmicas e si- trabalho, está autorizada a fazer, desde
humildade, convencidos de que errar é hu- tuações de incêndio. Falam das edificações, que mantenha integralmente a coletânea
mano e, por isso, eles estão sempre presen- das pontes, das adutoras, dos reservató- como está e sem auferir benefícios finan-
tes em todas as nossas atividades. rios, da chaminé de equilíbrio, dos muros, ceiros. Se alguém desejar divulgar casos
Os engenheiros que se uniram para es- da proteção costeira. Os casos referem-se isolados que o faça, desde que forneça a
crever essa coletânea de casos, em que à fissuração exagerada, à deformações in- referência.
aprendemos com erros dos outros, não são convenientes, à corrosão, à vibrações ex-
nem sábios nem tolos, mas apenas cons- cessivas e ao colapso. Boa leitura e bom aprendizado.

T
POR EDUARDO BARROS MILLEN emos vivido nos últimos quinze construtoras, nos laboratórios, nas fisca-
ou vinte anos uma oscilação sig- lizadoras de obras, nos fornecedores de
nificativa no mercado da enge- materiais. Faltava pessoal especializado,
nharia civil. com experiência e conhecimento. Depois
Passamos por uma fase de pouco traba- novo pequeno período de recessão, em
lho, com perda de mão de obra, engenhei- seguida retomada do crescimento e ago-
ros se formando para trabalhar em áreas ra, nos últimos três anos, convivemos com
financeiras e fuga dos jovens da atividade uma crise significativa.
de engenharia civil. A fase passou e muda- A ABECE, para atender demanda de
mos para uma situação de pleno trabalho, seus associados, criou em 2010 um cur-
com carência de mão de obra especializa- so de pós-graduação, lato sensu, para
da em todos os segmentos da cadeia da formação de engenheiros projetistas
construção civil – engenheiros, arquitetos, estruturais.
projetistas, desenhistas, técnicos, oficiais A situação de falta de pessoal resultou
de obras e muito mais, ocasionando falta que os projetos, obras e demais serviços
de pessoal nos escritórios de projetos de começaram a ser delegados a recém-for-
estruturas, arquitetura, instalações, nas mados, com pouca ou nenhuma expe-

66 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


riência e até a estagiários, e profissionais
de outras áreas.
ALGUNS EXEMPLOS
Não adianta ter uma Ferrari se o piloto
não sabe nem dar a partida. Não adianta
termos excelentes softwares se o enge- PORQUE CAIU O
nheiro não conhece as normas. EDIFÍCIO REAL
O que aconteceu, sabemos: insuces- CLASS EM BELÉM
sos, colapsos de estruturas e o mais gra- NO PARÁ EM 2011?
ve, mortes de pessoas.
Caros amigos leitores, essas e várias
outras obras que poderíamos relembrar
e enumerar, ruíram, principalmente, por
falhas de projeto: PORQUE CAIU O
Falha da consideração de cálculo ade- SHOPPING TERESINA
quada do efeito do vento, falha no dimen- EM 2013?
sionamento e no detalhamento adequa-
dos na punção de lajes, falhas de cálculo
e de detalhamento da armação do bloco
de fundação.
Essas falhas poderiam ter sido evitadas?
Vidas poderiam não ter sido ceifadas?
Resposta: Sim. PORQUE CAIU
Como? O VIADUTO EM
BH EM 2014?
Me responda você, caro leitor.
A comissão de revisão da norma ABNT
NBR 6118:2014, numa decisão sensata e
pensando nas vidas humanas, alterou o
item da norma de 2003 que previa a ve-
rificação de projetos estruturais somente
para “obras de grande porte”, retirando fesa do Consumidor”, está sujeito a 8. Armaduras mínimas em geral.
essas palavras do texto. processos judiciais em casos de insu- No caso de estruturas pré-moldadas,
Assim o capítulo 5 em seu parágrafo cessos de obras, que podem ter tido acaba de ser publicada a versão 2017 da
5.3 que fala sobre a avaliação da confor- outra causa, mas se o projetista es- ABNT NBR 9062, com muitas alterações
midade de projeto, diz que a ATP “deve trutural não estiver estritamente de em relação à norma de 2006, que deve-
ser realizada por profissional habilitado” acordo com as normas um advogado rão ser consideradas nos novos projetos,
e também que “deve ser realizada antes esperto, pode induzir o juiz a conde- além das exigências já obrigatórias. Para
da fase de construção e, de preferência, nar o projetista, como já ocorreu. essas estruturas é importante conside-
simultaneamente com a fase de projeto”. Por isso, mesmo escritórios renoma- rar, entre outras coisas:
Com isso, diferentemente da versão de dos, estão sujeitos a pequenas não 1. Fases transitórias da estrutura.
2003 da norma, a ATP deve ser feita conformidades, por estarem acos- 2. Especificações nas fases de fa-
para todo tipo de projeto estrutural. tumados a um certo tipo de deta- bricação, desforma, estocagem,
Uma edícula de uma casa, se ruir, pode lhamento há anos e não se aperce- transporte.
matar alguém que esteja dentro dela. beram que a norma mudou. 3. Posição das alças ou furos para ma-
É muito importante numa ATP a postura Exemplos: nuseio de peças pré-moldadas.
ética do avaliador. Sobre este assun- 1. Armadura mínima transversal de 4. Alças não podem usar aço CA25,
to e outros relacionados à ATP, reco- pilares. CA50, CA60.
mendo o texto de Recomendações 2. Armadura mínima transversal nas 5. Espessura de capeamento mínimo
ABECE 002:2015 – Avaliação, Técnica emendas por transpasse em pilares. de 5 cm.
do Projeto de Estruturas de Concre- 3. Armadura de distribuição sob ar- 6. Critérios para ligações articuladas,
to, disponível para download no site maduras negativas de lajes. semi-rígidas e rígidas.
da ABECE (www.abece.com.br). Vá- 4. Armadura inferiores de blocos de 7. Critérios de resistência ao fogo.
rios escritórios dos mais notáveis da fundação na direção das estacas. A ATP não é uma exclusividade brasi-
engenharia estrutural brasileira, tem 5. Armadura de pele nos blocos de leira. Inúmeros outros países de primeiro
passado pela ATP e o comentário fundação. mundo já praticam essa atividade há algu-
que se houve é que a ATP foi positiva, 6. Armadura superiores nos blocos mas décadas. E nossos contratantes terão
sempre agregando algo ao trabalho. de fundação. maiores garantias de haver menos fissu-
O projetista estrutural, hoje em dia, de- 7. Armadura negativa em bordas de ras, deformações, colapsos, refazimentos
pois do advento do ”Código de De- lajes. e futuras onerosas manutenções.

67
NOTAS E E VENTOS

ENECE 2017: DUAS


DÉCADAS ESTIMULANDO
O CONHECIMENTO NA
ENGENHARIA BRASILEIRA
O
ENECE – Encontro Nacional Prêmio Talento Engenharia Estrutural, re- Engenharia Estrutural Brasileira em Angola,
de Engenharia e Consultoria velando os vencedores desta edição. Am- com os desafios para a construção de edi-
Estrutural, evento promovido bos os eventos estão programados para o fício misto em aço e concreto erguido na
anualmente pela ABECE, com- dia 28 de setembro de 2017 no Milenium capital de Angola; Valorização dos Projetos,
pleta, neste ano, duas décadas de ativi- Centro de Convenções, em São Paulo. Gerenciamento e Industrialização da Cons-
dade. Nesse tempo todo, o encontro se A palestra que abrirá o ENECE tem como trução Civil; além de uma palestra sobre o
consolidou com um dos mais importantes tema Edifícios Sem Juntas e será proferida tema Fundação – Interação Solo Estruturas.
fóruns de análise das recentes inovações pelo professor Antonio Carlos Reis Laran- Haverá ainda uma palestra internacional
introduzidas no universo da engenharia jeiras. Na sequência serão proferidas as sobre Ligações e Utilização de Concreto Pré-
estrutural. Além do tradicional ciclo de seguintes palestras: O Projeto Estrutural do -moldado em Edifícios Altos, com foco nas
palestras com especialistas em projetos Edifício Sky Tower – Um Estudo de Caso, que conexões e estabilidade em estruturas
estruturais, o evento deste ano, que tem apresenta as soluções estruturais ado- pré-moldadas.
como tema central “A Arte da Engenharia tadas no edifício localizado no Balneário
Estrutural” e inclui ainda a entrega do 15º Camboriu (SC); Luanda Towers – A Arte da WORKSHOP FIB
MODEL CODE 2020
A edição comemorativa do ENECE des-
te ano conta com um evento extra, o Wor-
kshop fib Model Code 2020, programado
para ser realizado no dia 29 de setembro,
na sequência dos debates do ENECE. Or-
ganizado pela fib (International Federa-
tion of Structural Concrete), em conjun-
to com a ABECE e a ABCIC – Associação
Brasileira da Construção Industrializada
de Concreto, o Workshop está sendo
coordenado pelo líder da Delegação Bra-
sileira, professor Fernando Stucchi, que
representa a América latina no grupo de
desenvolvimento do Model Code.
O código modelo é considerado, no
âmbito internacional, como o documen-
to pré-normativo mais importante da
engenharia do concreto estrutural, pois

68 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


incorpora os principais avanços, inovações e descobertas
relacionados ao concreto estrutural. A realização do Wor-
kshop pela primeira vez na América Latina representa uma
grande oportunidade para que os profissionais brasileiros
tenham contato com o conhecimento trazido pelos mais
renomados profissionais internacionais e nacionais en-
volvidos com a questão. Além de profissionais do Brasil,
estão programadas palestras de representantes da Holan-
da, Alemanha, Itália, Suíça, Japão, Hungria, Chile e Uruguai.
Veja ao lado e abaixo a programação dos eventos. Para ins-
crições, acesse o hot-site do ENECE:
http://www.abece.com.br/enece2017/

69
NOTAS E E VENTOS

I SEMINÁRIO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL DA


BA HOMENAGEIA PROFESSOR LARANJEIRAS

C
om a presença de renomados Desafios e Perspectivas para o Futu- outros. O professor Laranjeiras foi ho-
profissionais da área de enge- ro. Promovido pela UFBA em conjunto menageado no final do evento e João
nharia estrutural do país, foi com a diretoria regional do IBRACON, o Alberto Vendramini, vice-Presidente da
realizado nos dias 29 e 30 de evento, que teve o apoio da ABECE, con- Relacionamento da ABECE ministrou
agosto, na Escola Politécnica da Uni- tou com as presenças dos engenheiros uma palestra sobre a Revisão da NBR
versidade Federal da Bahia, o I Seminá- Bruno Contarini, Julio Timerman, Anto- 5120 e as perspectivas da Engenharia
rio de Engenharia Estrutural da Bahia: nio Laranjeiras e João Vendramini entre Estrutural.

PUBLICAÇÕES

DISSERTAÇÃO SOBRE DIMENSIONAMENTO DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO


EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO
RESUMO – As vigas de concreto arma-
do perdem capacidade resistente quan-
do em situação de incêndio. A ferramen-
ta mais prática para o dimensionamento
dessas peças é o método tabular, apre-
sentado na ABNT NBR 15200:2012, em
que a partir do tempo requerido de re-
sistência ao fogo (TRRF) se encontram
a largura mínima da seção transversal
e a menor distância admissível entre o
centro geométrico da armadura e a face

http://www.sinduscondf.org.br
aquecida. Contudo, apesar de simples,
ele limita os cálculos a poucos valores
tabelados, não permitindo ao engenhei-
ro buscar soluções diferentes. Por isso,
nesta Dissertação, desenvolveu-se um
método alternativo, com o auxílio do
programa de computador sueco Super
Tempcalc. A priori, definiu-se o campo de
temperaturas de vigas sob lajes sujeitas
TESTES SÃO FUNDAMENTAIS PARA MEDIR RESISTÊNCIA DAS ESTRUTURAS AO CALOR
ao incêndio-padrão ISO 834 (1999), em
função do tempo. Em seguida, consi-
derando-se a redução das resistências
do concreto e do aço, calculou-se o mo- râmetro µ, relação entre o momento fle- A dissertação recebeu a premiação
mento fletor resistente para os diferen- tor solicitante em situação de incêndio de Mestrado no Congresso Brasilei-
tes casos estudados. e o momento fletor resistente à tempe- ro do Concreto - Ibracon de 2013 e foi
Foram analisadas térmica e estrutu- ratura ambiente, ao tempo de resistên- transformada no livro:  Albuquerque, G.
ralmente vigas com diversas larguras, cia ao fogo (TRF), para cada situação de B. M. L. Reinforced concrete beams fire
alturas, cobrimentos, diâmetros e dis- interesse. Esses gráficos, que envolvem design. Standardized and alternative
posições de armaduras. Os momentos tanto armaduras positivas quanto ne- methods. Saarbrücken: LAP Lambert
resistentes em situação de incêndio gativas, também permitem levar em Academic Publishing, 2014. 288p.
derivados do programa foram compa- conta a redistribuição de momentos, o Para download: http://www.teses.
rados a valores provindos de métodos que conduzirá à otimização na solução usp.br/teses/disponiveis/3/3144/tde-
simplificados, propostos pelas normas encontrada. Nos exemplos de aplicação 09022013-135226/pt-br.php
brasileira e europeia (Eurocode 2 parte realizados, os resultados obtidos a par-
1-2, 2004) e, ainda, a um método mais tir do método gráfico se mostraram, em Autora: Gabriela Bandeira de Melo
avançado. Após a validação dos dados, geral, mais econômicos, quando compa- Lins de Albuquerque
criaram-se gráficos que associam o pa- rados aos do método tabular. Orientador: Valdir Pignatta e Silva

70 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


REGIONAIS ABECE | ACONTECE NAS REGIONAIS

REGIONAL MINAS GERAIS

CURSO FORNECE BASE TEÓRICA E PRÁTICA SOBRE DANOS, CORREÇÕES E REFORÇOS EM ESTRUTURA DE CONCRETO

NOVA TURMA DO CURSO DE PROJETO DE REFORÇO DE ESTRUTURA EM CONCRETO ARMADO

U
ma nova turma concluiu o cur- ser implementados nas estruturas de que envolveu conceituação, dimensiona-
so de Projeto de Reforço de concreto. mento de reforço para Momento Fletor e
Estrutura de Concreto Arma- Ministrado pelos engenheiros Tiago Força Cortante; reforço de pilares, além
do, realizado nos dias 17 e 18 Garcia Carmona e Thomas Garcia Carmo- de diversos exemplos práticos de aplica-
de agosto, em Contagem (MG), na sede na, o curso reuniu 30 participantes e fo- ção de cada um dos temas descritos.
da BBA – Belgo Bekaert Arames. Desen- ram abordados e detalhados temas como Ao final do curso, foi feita uma breve
volvido pela ABECE e realizado pela Dire- reforços estruturais usando as técnicas apresentação do livro “Engenharia Estru-
toria Regional de Minas Gerais, o curso de aumento de seção, chapas de aço tural – Portfólio”, editado pela Regional
tem como objetivo principal fornecer aderidas ao concreto, protensão e fibra da ABECE de Minas Gerais e que descre-
base teórica e prática sobre os tipos de de carbono. Todos esses tópicos foram ve uma série de projetos elaborados e
danos, correções e reforços que podem aprofundados por meio de abordagem executados na capital mineira.

CARTILHA SOBRE AS CADEIAS


PRODUTIVAS DE MINAS INCLUI
CONSTRUÇÃO CIVIL

O
s engenheiros Leonardo Braga Passos, dire-
tor da ABECE, e Hélio Chumbinho, diretor da
Regional da entidade em Minas Gerais, repre-
sentaram a associação no Simpósio Gestão
de Ativos – A Conquista da Excelência Empresarial e
Operacional, promovido no dia 28 de junho, pelo Crea-
-Minas e Associação Brasileira de Manutenção e Gestão
de Ativos (ABRAMAN), em Belo Horizonte. Além de pro-
mover uma discussão técnica sobre gestão de ativos e
apresentação de estudos de casos, foi lançada também
a Cartilha da Cadeia Produtiva Mineira, um documento
que faz uma radiografia de vários segmentos da econo-
mia mineira, incluindo a atividade da construção civil e
cujo conteúdo foi validado por diversas entidades, in-
clusive a ABECE.

71
REGIONAIS ABECE | ACONTECE NAS REGIONAIS

REGIONAL SÃO PAULO

IMPORTÂNCIA DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA É DESTACADA NO CURSO DA ABECE

C
om carga horária de 12 ho- engenheiro Cabral, atualmente, os
ras, foi promovido nos dias apoios são considerados indeslo-
30 de junho e 1º de julho, cáveis, apoiados sobre uma super-
na sede da ABECE, em São fície rígida indeformável. Na práti-
Paulo, o curso Interação Solo-es- ca, porém, segundo ele, o que se
trutura: Conceitos e Aplicações em verifica é que os solo de apoio da
Projetos Estruturais. Ministrado fundação se deforma, provocando
pelo engenheiro Eduardo Vidal Ca- uma alteração no fluxo das cargas,
bral, o curso contou com a presença resultando em uma redistribuição
do presidente da ABECE, Jefferson dos esforços solicitantes nas diver-
Dias de Souza Junior e seu objetivo sas peças estruturais do edifício,
principal é orientar os profissionais podendo provocar o aparecimento
da área de estrutura sobre a impor- de patologias na estrutura. Portan-
tância de se considerar a interação CURSO CAPACITA PROFISSIONAIS PARA DOMINAR MELHOR to, o desempenho estrutural de
solo-estrutura como procedimen- A INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA um edifício é função da interação
to de projeto. Além disso, o curso entre seus elementos e o maciço
ainda detalha os procedimentos de O curso também apresenta os resul- de solo que compõe a fundação,
cálculos sob o ponto de vista geotécnico tados de modelagens matemáticas em tornando-se necessário, portanto, prever
para determinação dos recalques das fun- edifícios considerando a técnica de inte- o comportamento da estrutura sob o as-
dações rasas e profundas. ração solo-estrutura. De acordo com o pecto global estrutura x fundação x solo.

CURSO APROFUNDA CONHECIMENTO SOBRE DIMENSIONAMENTO DE VIGAS PROTENDIDAS

C
om a presença de 30 participantes, foi promovido nos
dias 4 e 5 de agosto, na sede da ABECE, em São Paulo o
curso Dimensionamento de Vigas Protendidas. Ministra-
do pelo engenheiro Fábio Albino de Souza, o curso atraiu
a atenção de muitos profissionais interessados em aprimorar
seus conhecimentos. Entre outros tópicos, o curso tratou e deta-
lhou Estado-Limite de Serviço (ELS), Estado-Limite Último (ELU),
além de durabilidade. Foram abordados ainda Valores-Limite por
ocasião da operação de protensão; coeficiente de ponderação;
armadura protendida aderente e não aderente; protensão par-
cial, limitada e completa; deformações de pré-alongamento; dia-
grama tensão x deformação do aço; módulo de elasticidade do
concreto; combinações últimas e de serviço; resistência à tração TÓPICOS DO CURSO ATRAIRAM O INTERESSE DE MUITOS
do concreto; além de exercícios numéricos. PROFISSIONAIS DA ÁREA DE ESTRUTURA

PALESTRA SOBRE ESTABILIDADE EM TORRES ALTAS É DESTAQUE NO ENCONTRO MENSAL DA ABECE

C
oncepção de projeto estrutural e Ronaldo C. Battista em palestra proferida e h=112,0 m), destinada a testes de elevado-
estabilidade aerodinâmica de tor- no dia 9 de agosto, em São Paulo, no encon- res de grande velocidade para prédios altos.
res de concreto de grande altura e tro mensal promovido pela regional de São O engenheiro também tratou dos modelos
esbeltez, com ênfase em aspectos Paulo da ABECE, em parceria com a divisão de túnel de vento, da análise aerodinâmica
projetivos de construtivos, em análise esta- de Estruturas do Instituto de engenharia. da estrutura sob a ação do vento em es-
tiva da estrutura sob a ação do vento com A palestra atraiu um público de 70 pro- coamento suave e turbulento. Demonstrou
foco nos procedimentos e normas de pro- fissionais da área de estrutura, além de ter ainda a avaliação do desempenho e da es-
jeto, além de modelagem computacional sido acompanhada, via web, por aproxima- tabilidade aerodinâmica do sistema estrutu-
3D para análise dinâmica da interação ven- damente 160 pessoas. O palestrante fez sua ral, destacando o sistema de controle para
to-estrutura-fundação. Esses foram alguns análise partindo do caso de uma torre de melhoria do comportamento e do desem-
dos temas apresentados pelo engenheiro C.A. (com seção quadrada 12,0 m x 11,0 m penho estrutural no ELS e no ELU.

72 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017


73
RESPOSTAS
1 – Cobrimento da armadura igual a 15 às seguintes condições: acordo com 17.3.5.2.3, deve ser disposta de modo
mm: - Se Vd ≤ 0,67 Vrd2, então Smáx = 0,6 D ≤300mm; que o afastamento entre as barras não ultrapasse
Comentário: segundo a tabela 7.2 da NBR - Se Vd > 0,67 Vrd2, então Smáx = 0,3 D ≤200mm.” D/3 e 20 cm”.
6118:2014, o menor cobrimento nominal da armadu- 4 – Espaçamento livre entre as faces das 6 – Armadura de pele com armadura míni-
ra para vigas deve ser de 25 mm podendo ser reduzi- barras longitudinais positivas igual a 12 mm: ma em cada face da alma da viga com 1 cm2:
do em 5 mm em algumas situações. Comentário: segundo o item 18.3.2.2 da NBR Comentário: segundo o item 17.3.5.2.3 da NBR
2 – Furo que atravessa a viga na direção da 6118:2014, “o espaçamento mínimo livre entre as 6118:2014, “a mínima armadura lateral deve ser
altura com dimensão de 15 cm paralela a lar- faces das barras longitudinais, medido no plano 0,10% Ac,alma em cada face da viga e composta por
gura da viga: da seção transversal, deve ser igual ou superior barras de CA-50 ou CA-60....”.
Comentário: segundo o item 21.3.3 da NBR ao maior dos seguintes valores: 7 – Armadura positiva sem traspasse e/ou
6118:2014, “as aberturas em vigas, contidas no A) Na direção horizontal (ah)”: sem indicação de emenda:
seu plano principal, como furos para passagem - 20 mm; Comentário: para traspasse e emendas ver
de tubulação vertical nas edificações (ver figura - Diâmetro da barra, do feixe ou da luva; item 9.5 da NBR 6118:2014.
21.5), não podem ter diâmetros superiores a 1/3 - 1,2 vezes a dimensão máxima característi- Observação: como se trata de um exemplo e
da largura dessas vigas nas regiões desses furos”. ca do agregado graúdo; “ não um projeto completo, diversos outros itens
3 – Espaçamento entre barras de estribo 5 – Armadura de pele com espaçamento de (carimbo, notas mais completas, legendas, etc...).
igual a 40 cm: 32 cm entre as barras: E desenhos (cortes, detalhes construtivos, etc...).
Comentário: segundo o item 18.3.3.2 da NBR Comentário: segundo o item 18.3.5 da NBR Devem fazer parte de um projeto estrutural ade-
6118:2014, “o espaçamento máximo deve atender 6118:2014, “a armadura de pele, calculada de quado as normas técnicas.
DIRETOR DA ABECE
POR LEONARDO BRAGA PASSOS
FALHAS
DESCUBRA AS
JOGO DE SE TE ERROS
AGENDA

CALENDÁRIO DE
CURSOS
6 e 7 OUTUBRO
PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO COM AUXÍLIO DE
MODELOS DE BIELAS E TIRANTES
Local: Fortaleza/CE

PROJETO DE LAJES PROTENDIDAS


EM EDIFÍCIOS

Local: Recife/PE

20 e 21 OUTUBRO PROJETO DE LAJES PROTENDIDAS EM EDIFÍCIOS


Local: Chapecó/SP

27 E 28 OUTUBRO RADIER – PROJETO E EXECUÇÃO


Local: Aracaju/SE

9 E 10 NOVEMBRO
PROJETO DE REFORÇO DE ESTRUTURAS DE
CONCRETO ARMADO
Local: Porto Alegre/RS

10 E 11 NOVEMBRO RADIER – PROJETO E EXECUÇÃO


Local: Recife/PE

10 E 11 NOVEMBRO CÁLCULO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO


Local: Campo Grande/MS

24 E 25 NOVEMBRO CÁLCULO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO


Local: Manaus/AM

RADIER – CÁLCULO DE VIGAS


MISTAS DE AÇO E CONCRETO
SEGUNDO A NBR 8800:2008
Local: Porto Alegre/RS

1 E 2 DE DEZEMBRO PROJETO DE LAJES PROTENDIDAS EM EDIFÍCIOS


Local: Brasília/DF

Outras informações: http://site.abece.com.br/index.php/eventos | abece@abece.com.br | (11) 3938-9400

74 RE VISTA ESTRUTUR A | SETEMBRO • 2017

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