X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.

BENEFÍCIOS AMBIENTAIS DA RECICLAGEM DO ÓLEO DE

COZINHA COM A PRODUÇÃO DE SABÃO EM AULAS PRÁTICAS
DE BIOQUÍMICA

Priscila Alexsandra de Aguiar Freitas ¹, Aline Ferreira da Silva Mariano2 ,Janaína de Albuquerque Couto3


Introdução Diferentemente da grande maioria dos resíduos, os

óleos exauridos, de origem animal ou vegetal, possuem
positivo valor na economia, por serem aproveitados
Atualmente, o problema dos resíduos das atividades
também no processo de saponificação [6]. Este processo
humanas de origem doméstica ou industrial tornou-se
é obtido através de uma reação entre óleos e álcalis,
extremamente sério. Apesar de ser considerado um
submetidos à pressão e a um moderado aquecimento,
problema antigo, este mudou bruscamente de escala
que origina além do glicerol, ácidos graxos na forma de
devido à intensificação das atividades do homem
sabões, que são sais alcalinos.
moderno [1]. Diante de todos os prejuízos causados,
A saponificação corresponde a uma propriedade
observa-se que os referentes à poluição hídrica no
química dos ácidos graxos, tema trabalhado nas aulas
planeta constituem um dos mais preocupantes, pois a
práticas de Bioquímica, na qual os ácidos graxos e seus
água é de fundamental importância para a manutenção
ésteres podem reagir com bases fortes, tais como
da vida de todas as espécies existentes.
hidróxido de sódio ou de potássio, para formar sais,
Então, a necessidade de uma reflexão a respeito das
genericamente chamados de sabões [2], conforme
práticas sociais não se dá apenas por esse motivo, mas
representado na figura 1. Por terem extremidades
também por outros que envolve os impactos sofridos
carboxílicas altamente polares, estes sabões tendem a se
pelo ambiente. Esta reflexão necessita de uma
dissolverem na água, minimizando desta forma o
articulação com a Educação Ambiental (EA), a qual
impacto na natureza em comparação com o óleo que
apresenta entre seus objetivos o estímulo e o
não passou por tal processo.
fortalecimento de uma consciência crítica sobre a
Neste contexto, a aula prática teve como objetivo a
problemática social e do ambiente [3].
reciclagem de óleo de cozinha, a qual se enquadra
Utilizando esta consciência adquirida, sabe-se que o
como uma estratégia para trabalhar conceitos da
desenvolvimento sustentável abrange a reciclagem dos
bioquímica referentes a propriedades dos lipídeos, bem
resíduos, representando à possibilidade de mudanças
como discutir questões relativas à sustentabilidade.
sociopolíticas, que não se limita a problemática
ecológica, mas também a viabilidade econômica e
social[4]. Material e métodos
Dentre os resíduos existentes, o óleo de cozinha,
formado por misturas de triglicerídeos são lançados na
O experimento foi realizado no Laboratório de
rede de esgoto, o que causa por sua vez entupimento do
Bioquímica e Biofísica, pertencente ao Departamento
mesmo e mau funcionamento de suas estações de
de Morfologia e Fisiologia Animal da Universidade
tratamento. Isso, conseqüentemente, traz prejuízo à
Federal Rural de Pernambuco. Nessa atividade, alunos
entrada de luz e oxigenação da água, comprometendo a
do curso de Licenciatura e Bacharelado em Biologia
base da cadeia alimentar aquática: os fitoplânctons.
foram divididos em equipes de cinco integrantes. Para
Para desobstruir estes locais, são utilizados produtos
cada aluno, foi entregue no início da aula um protocolo,
químicos tóxicos nas tubulações. Quando este mesmo
o qual continha os procedimentos a serem seguidos,
óleo é descartado de forma indevida no solo, causa uma
com uma breve explanação teórica. Os discentes foram
impermeabilização do mesmo, dificultando o
acompanhados durante todo o experimento, onde para a
escoamento da água das chuvas, tornando-se propício
realização deste utilizou-se: cinco litros de óleo de
para as enchentes [5].
fritura e um quilo de soda cáustica (NaOH).

________________
1
Graduanda do curso de licenciatura em ciências biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, S/n- Dois
Irmãos- CEP: 52171-900- Recife/PE. E-mail:priscilabiologicas@gmail.com
2
Graduanda do curso de licenciatura em ciências biológicas, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, S/n- Dois
Irmãos- CEP: 52171-900- Recife/PE.
3
Professora assistente do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros,
S/n- Dois Irmãos- CEP: 52171-900- Recife/PE. E-mail: jnn.farma@gmail.com
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Na primeira etapa, preparamos uma solução de soda
cáustica 10%, e paralelamente filtramos o óleo de
cozinha para remoção das impurezas. Os alunos
adicionaram o óleo filtrado, seguido da solução de soda
cáustica, em um Becker e agitaram com auxílio de um
bastão de vidro durante aproximadamente 30 minutos.
Ao término do procedimento obteve-se uma “pasta”
com características e propriedades de sabão. Esta pasta
foi colocada em formas, para a obtenção, após 24 horas,
do sabão em barra.
A etapa final da aula compreendeu a realização de
um debate sobre a importância do processo de
saponificação do óleo para o Meio Ambiente e com a
formação de novas idéias sobre o tema abordado.
Resultados e discussões
As atividades realizadas nas aulas práticas de
bioquímica proporcionaram aos discentes uma
sensibilização a respeito dos danos que vêm ocorrendo
com o Meio Ambiente mediante o descarte inadequado
do óleo de cozinha, tais como poluição dos recursos
hídricos, comprometimento do solo e extinção de
espécies animais, habitantes desses ecossistemas.
A análise do aprendizado dos alunos com relação ao
tema abordado se deu através de um breve debate,
realizado ao término da aula, bem como mediante a
entrega de um relatório, os quais foram corrigidos junto
ao docente responsável pela disciplina.
Ao questionarmos os alunos sobre a reação que
ocorria no processo de saponificação do óleo, a grande
maioria mostrou ter domínio a respeito das etapas de
sua realização e também propuseram sugestões com
relação a novas atitudes que poderiam ser adotadas para
minimizar os danos ambientais [7]. A simplicidade da
técnica e o seu baixo custo possibilitam a sua realização
por pessoas de baixa renda, refletindo bastante interesse
por parte dos alunos em adotar a prática em questão no
âmbito doméstico, como também em suas comunidades.
Os relatórios mostraram-se favoráveis com relação
ao aprendizado dos discentes, pois os mesmos soberam
aliar o conhecimento bioquímico, como etapas do
processo de saponificação estudado em sala de aula,
com questões ambientais cotidianas.
O espaço dedicado as questões ambientais foram
sempre com a articulação com o conhecimento
químico, o que demonstra a consolidação do
conhecimento, sendo este de forma interdisciplinar.
Portanto, observa-se através desse trabalho que a
reflexão sobre a complexidade ambiental em
instituições de ensino superior, estimula oportunidade
para compreender a gestação de novos atores sociais
que se mobilizam para apropriação da natureza, para
um processo educativo articulado e compromissado
com a sustentabilidade e a participação, apoiado numa
lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de
diferentes áreas do saber [4].
Logo, este trabalho mostrou ser viável, por articular
o conhecimento químico e também por apresentar a
possibilidade de ser aplicado em outras instituições de
ensino, tanto de ensino superior quanto da educação
básica propagando-se desta forma práticas que
beneficiam a natureza aliado aos conhecimentos
moleculares vistos em sala de aula.
Agradecimentos
Os agradecimentos a Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE), em especial ao Departamento de
Morfologia e Fisiologia Animal, onde se localiza o
laboratório utilizado para a realização desta prática e
aos alunos, que participaram ativamente desta aula.
Referências
[1] DORST,J. 2001. Antes que a natureza morra. 1. Ed. São Paulo:
Edgard Blücher LTDA, p. 227-241
[2] OLIVEIRA, C. L.O. 2007 Bioquímica, 7. ed. Curitiba: Ed. UFPR.
188p.
[3] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. LEI No 9.795, DE 27 DE
ABRIL DE 1999 [online]. Homepage:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795.htm.
[4] JACOBI,P. 2003. Educação Ambiental, Cidadania e
Sustentabilidade. Caderno de Pesquisa, São Paulo, n.118, p. 189-
205, março/. [online]. Homepage:
http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16834.pdf.
[5] ALBERICI, R. M.; PONTES, F. F. F. 2004. Reciclagem de óleo
comestível usado através da fabricação de sabão. Eng.ambient,
Espírito Santo do Pinhal, v.1, n.1, p.73-76, jan./dez., [online].
Homepage: http://metaquimica.biz/artigos/sabao.pdf
[6] CELLA, R.F.C; REGITANO-D’ ARCE, M.A.B; SPOTO,
M.H.F.2002. Compotyamento do óleo de soja refinado utilizado
em fritura por imersão com alimentos de origem vegetal.
Campinas, p. 111-116, [online]. Homepage:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
20612002000200002
[7] OLIVEIRA, J. A., LUZ, J. A. M, FERREIRA, E. E. 2006. Grau
da saponificação de óleos vegetais na flotação seletiva de apatita
de minério carbonatítico. Ouro Preto, p.385-390, [online].
Homepage: http://www.scielo.br/pdf/rem/v59n4/v59n4a062.pdf.
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Figura 1. Fabricação de sabão a partir da reciclagem do óleo de cozinha usado. A: óleo usado; B: mistura do (NaOH)
ao óleo; C: sabão em forma líquida; D: sabão totalmente formado, pronto para o uso.