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METROLOGIA-2003 – Metrologia para a Vida

Sociedade Brasileira de Metrologia (SBM)


01 a 05 de setembro de 2003, Recife, Pernambuco - BRASIL

AVALIAÇÃO METROLÓGICA DA PRODUÇÃO DE ÁGUA TRATADA DE


ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA

Nilson Massami Taíra1 , Sandro de Almeida Motta1 , Marcos Tadeu Pereira1


1
Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo, Brasil

Resumo: As empresas de saneamento básico tem investido como sendo a diferença entre o Volume de água bruta
muito na obtenção de informações confiáveis sobre os Aduzida (VA) e o Volume de água tratada Produzida (VP):
índices de perdas (físicas e não físicas) dos sistemas de
distribuição e das estações de tratamento de água, as quais PTR = VA − VP (1)
estão no início da cadeia destes sistemas de distribuição. A avaliação da eficiência de uma ETA depende estritamente
Uma medição confiável dos volumes de água produzidos de uma boa medição de volumes de água aduzida VA (água
por uma estação de tratamento de água (ETA) é de suma bruta) e de água tratada produzida VP.
importância para a determinação das perdas na distribuição.
A ETA Guaraú pertence ao sistema de produção Cantareira
O Agrupamento de Vazão do IPT desenvolveu uma e tem capacidade para produzir água tratada a uma vazão
metodologia para avaliação da produção e eficiência de máxima de 40 m³/s. Atualmente vem operando com uma
ETA, que se baseia no fechamento de setores em volumes vazão nominal entre 28 e 33 m³/s.
de controle onde pode ser aplicado um balanço de massa e
ou volume. Esta metodologia foi aplicada na segunda maior
estação de tratamento de água do Brasil, a ETA Guaraú, 2. METODOLOGIA APLICADA
pertencente a SABESP (Compania de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo). A metodologia aplicada para avaliação da produção da ETA
foi o do balanço da vazão volumétrica através de três
Foram identificadas nos volumes de controle aplicados todas volumes de controle, considerando todas as entradas e saídas
as entradas e saídas, as quais ocorrem em escoamentos em de água pelas fronteiras destes volumes. A figura 1 mostra o
condutos forçados e canais abertos, onde foram utilizados fluxograma do processo da ETA detalhando todos os pontos
medidores específicos para cada um dos casos sendo que em a serem medidos.
condutos forçados foram avaliados o sistema de medição de
três medidores tipo tubo “Dall” (medidores de vazão por O objetivo principal dos ensaios realizados na ETA Guaraú
diferencial de pressão) com mais de 3 metros de diâmetro. A é calibrar e validar a calibração do medidor de vazão de
avaliação do sistema de medição engloba calibração dos água tratada e assim fechar um balanço que permita validar
elementos primários e secundários e também dos sistemas a medição dos macromedidores de água bruta, os quais
de aquisição de dados, sendo determinados seus desvios e devido às condições de instalação, não podem ser
incertezas de medição. calibrados.

O controle metrológico não se restringiu apenas a As calibrações de elementos primários de medidores de


instrumentação utilizada (malha de medição), e sim a uma vazão utilizados no balanço foram feitas por comparação
minuciosa análise dos efeitos da reservação e de transitórios com a vazão calculada pela metodologia de mapeamento do
na vazão durante o mapeamento do perfil de velocidades do perfil de velocidades utilizando tubo de Pitot tipo “Cole” em
escoamento, o que permitiu a aplicação de fatores de dois planos à 90º na seção transversal da tubulação,
correção e redução das incertezas de medição. seguindo recomendações da norma ISO 3966.

Palavras chave: metrologia, tratamento, água. Além de medição de vazão em condutos forçados foi
necessário também a medição de um ponto com escoamento
em canal aberto, utilizando um vertedouro projetado
1. INTRODUÇÃO conforme recomendações da norma ISO 1438.

Segundo o DTA - Documento Técnico de Apoio D4 - Em alguns dos pontos considerados no fluxograma não foi
Redução de perdas e tratamento de lodo em ETA, de 1999, possível fazer as medições, como por exemplo a
do Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água contribuição da água de chuva captada pelo sistema. Nestes
PNCDA, pode-se avaliar a eficiência de uma ETA através casos estimativas foram feitas para avaliar o impacto destas
do índice de perdas físicas no tratamento (PTR), expresso no resultado final.
VC3 VC 1
Pitot03 Pitot03t
Q

RESERVATÓRIO DE
AT3
VC2

ÁGUA TRATADA
RAL 01 RAL 02 LINHA 03
Pitot02t
QAT2
LINHA 02
Pitot02
Pitot01t QAT1
QAP TGU TGU TGU TGU TGU TGU LINHA 01
10 11 06 07 04 05 CANAL DE ÁGUA TRATADA
QAT TGU-03 Pitot01

QAB3 VERTEDOURO QD
CANAL GUARAÚ

RECUPERAÇÃO DE ÁGUA DE
RESERVATÓRIO
48 47 32 31 16 15

LAVAGEM
FLOCULADOR 05

FLOCULADOR 04

FLOCULADOR 02
46 45 30 29 14 13
DECANTADOR DECANTADOR DECANTADOR
05 44 43 28 27 12 11 04 02
42 41 26 25 10 09

FILTROS TGU-09
40 39 24 23 08 07
FLOCULADOR 06

FLOCULADOR 03

FLOCULADOR 01
38 37 22 21 06 05

DECANTADOR 36 35 20 19 04 03 DECANTADOR DECANTADOR


06 03 01
34 33 18 17 02 01
QAC

TGU-01 TGU-02
PM-414
QAB1 QAB2 RECIRCULAÇÃO
QAR
∆V/∆
VC1: Q AT= Q AT1 + Q AT2 + Q AT3 + (∆ ∆ t)reservatório
QCO Bacia de
tranqüilização
VC2: Q AB1+ Q AB2+ Q AB3 + Q AP=Q AT+ Q D+ Q AR +Q CO + Σ perdas

VC3: Q AB1+Q AB2+Q AB3+Q AP-Q AR-QCO =Q AT1 +Q AT 2+Q AT3 + ( ∆V/∆
∆t) reservatório

Figura 1. Esquematização do processo da ETA Guaraú e detalhamento dos volumes de controle (VC 1, VC 2 e VC3) e suas entradas e
saídas
Os pontos considerados nos volumes de controle aplicados VC2 Volume de controle em torno da ETA Guaraú;
no processo da ETA foram:
VC3 Volume de controle em torno da ETA Guaraú,
QAB1 Vazão de Água Bruta no medidor TGU-01; incluindo as estações pitométricas de referência.
QAB2 Vazão de Água Bruta no medidor TGU-02; Na aplicação do modelo de balanço de fronteira para os
volumes de controle definidos, algumas hipóteses básicas
QAB3 Vazão de Água Bruta no vertedouro do canal do
foram assumidas:
Guaraú;
§ O volume de água de consumo e da administração é
QAP Vazão de Água de Precipitação pluvial;
inexpressivo frente aos volumes de água de afluente (água
QAT Vazão de Água Tratada no medidor TGU-03; bruta) e efluente (água tratada);
QAR Vazão de Água de Recuperação de lavagem de § Pelo mesmo motivo, os volumes de água de diluição de
filtros; coagulante e de descarga do lodo dos decantadores também
não são considerados dentro do volume de controle;
QD Vazão de Água de Descarga do canal do Guaraú;
§ O volume de água devido a precipitação pluvial e
QAC Vazão de Água de Consumo para o processo;
evaporação não serão considerados, tendo como base para
QCO Vazão de Água de diluição de coagulante; formulação desta hipótese os dados fornecidos pela
SABESP AANG (pluviômetros e área de decantadores e
QAT1 Vazão de Água Tratada na linha 01 Guaraú – Água filtros);
Branca;
§ Volume de água de descarga não será considerado;
QAT2 Vazão de Água Tratada na linha 02 Guaraú –
Consolação; § Pressupõem-se que não há perdas no proces so e na
reservação e adução da água tratada.
QAT3 Vazão de Água Tratada na linha 03 Guaraú – Móoca;
Consideradas estas hipóteses, equações de balanço nos
VC1 Volume de controle em estação de macromedição de volumes de controle se resumem as seguintes expressões:
água tratada;
VC1 : VAT = VAT1 + VAT2 + VAT3 + ∆VReservatório (2) aquisitado por data-logger, seis estações pitométricas
(medição e testemunha), sendo três dotadas de dois taps à
VC2 : VAT = VAB1 + VAB2 + VAB3 – VAR (3) 90º e três com apenas um tap posicionado na vertical.
VC3 : VAT1 +VAT2 +VAT3 =VAB1 +VAB2 +VAB3 –VAR+ ∆VReservatório Cada linha de saída da ETA para distribuição possuía duas
(4) estações pitométricas, uma para o mapeamento dos perfis de
velocidade e a outra servindo como testemunha, com seus
respectivos transmissores de pressão diferencial e data-
3. CONTROLE METROLÓGICO DA loggers.
INSTRUMENTAÇÃO UTILIZADA
Toda instrumentação utilizada nas estações pitométricas,
Todas as medições de vazão em condutos fechados, tanto na inclusive os tubos de Pitot tipo “Cole” foram previamente
calibração de elementos primários de medidores de vazão calibrados em laboratório.
utilizados no balanço quanto no fechamento do balanço
propriamente dito, foram executadas utilizando tubos de O ensaio de mapeamento do perfil de velocidades foi
Pitot “Cole”, transmissores de pressão diferencial e sistemas executado em duas vazões (28 e 33 m³/s) paras os dois
de aquisição de dados (data-loggers) previamente calibrados traverses, vide figura 3, nas três linhas simultaneamente.
em laboratório, com suas respectivos coeficientes de D E

calibração, desvios e incertezas de medição.


direita esquerda
Também foram feitas medições de nível utilizando sensor de
nível ultra-sônico para medição da vazão no vertedouro do
canal Guaraú e do nível de reservatório de água tratada. E D

Assim como os elementos primários dos medidores tipo


Figura 3. Posicionamento dos taps na seção pitométrica
Tubo Dall (água tratada e água bruta) e dos medidores tipo
Venturi inserido de lavagem de filtros e de água de Nesta condição de montagem experimental, a qual era a
recuperação, na medição do volume das câmaras do única disponível, algumas considerações e correções
reservatório de água tratada (R1 e R2), foram utilizados os deveriam ser feitas para se obter a constante de calibração
sensores ultra-sônicos da malha de medição da ETA, com do medidor de vazão em teste.
seus sinais de saída (4-20 mA) sendo aquisitados por um
data-logger de dois canais.
3.2 Efeitos de reservação

3.1 Calibração do medidor de vazão de água tratada Durante os ensaios não foi possível a manutenção dos níveis
das câmaras R1 e R2 constantes, como pode ser observado
A calibração do elemento primário do medidor tubo Dall foi na figura 4. Ocorreu uma variação de cerca 1100 m³,
feita por comparação com a vazão calculada pelo somente no reservatório R2, durante um período de
mapeamento do perfil de velocidades em dois traverses à aproximadamente 45 minutos.
90º na mesma seção transversal, em duas linhas de diâmetro
2000 mm e uma linha de 2500 mm. A figura 2 apresenta em Se forem considerados as duas câmaras, ocorreu uma
detalhes a esquematização da montagem experimental. variação de vazão de aproximadamente +1,6 m³/s na
fronteira do reservatório, onde o sinal “+” indica que a
vazão total nas saídas foi maior que a de entrada dos
VC 1 QAT3 reservatórios, para uma vazão operacional de 28 m³/s.
LINHA 02

Pitot03t 16400
Pitot02t

LINHA 03
Pitot02

Pitot03 16200
volume (m³)

QAT2 16000
RESERVATÓRIO DE 15800
ÁGUA TRATADA QAT1 15600
15400 DESCIDA

QAT TGU-03 SUBIDA


Pitot01t
Pitot01

15200
LINHA 01

15000
0 2 4 6 8 10 12

posição do pitot
Pitometria em 1 traverse

Pitometria em 2 traverses Figura 4. Variação do volume de água no reservatório R2


durante um dos ensaios de pitometria
∆ V)/(∆
VC1 Q AT= Q AT1+ Q AT2+ Q AT3 + (∆ ∆ t)Reservatório
Para se corrigir este efeito foi criado um modelo para as
Figura 2. Esquematização da montagem experimental para câmaras R1 e R2, e este modelo foi incluído na expressão
calibração do medidor de água tratada (2) obtida para o volume de controle VC 1.
A instrumentação da montagem experimental era constituída As câmaras R1 e R2 foram consideradas como sendo
do medidor em teste, um tubo Dall de 3700 mm de diâmetro volumes de controle de fronteira móvel, vide figura 5.
com transmissor de pressão diferencial com sinal de saída
configuração da instalação isto não seria possível devido ao
VC1 reservatório existente entre o medidor em teste e a estação
pitométrica que funciona como um filtro atenuando estes
R1 R2 transitórios.
QAT
Por este motivo optou-se pela instalação de uma segunda
estação pitométrica com um tap vertical onde foi instalado
um tubo de Pitot “Cole” que foi posicionado no centro da
h tubulação, e este Pitot foi denominado de Pitot testemunha.
O problema foi modelado matematicamente chegando a uma
correção para a velocidade média obtida do mapeamento do
Q AT1 Q AT2 QAT3 perfil de velocidades, expressa por:

Figura 5. Modelo de volume de controle de fronteira variável ÄP


aplicados ao reservatório de água tratada (câmaras R1 e R2) uc = u (8)
ÄPt
Para o modelo acima aplica-se no volume de controle VC 1 a
equação da continuidade, para fluído incompressível, Onde:
resultando em:
û c: velocidade média corrigida;
∆V R1 ∆ VR 2
+ − Q AT + QAT 1 + QAT 2 + Q AT 3 = 0 (5) û: velocidade média para uma amostra de 60 pontos em
∆t ∆t para um ponto do traverse;
onde: ∆P: diferencial de pressão médio para uma amostra de 60
∆VR1 Variação do volume de água na câmara R1 no pontos para um ponto do traverse;
intervalo de ∆t (duração do ensaio); ∆Pt : diferencial de pressão médio para uma amostra de 60
∆VR2 Variação do volume de água na câmara R2 no pontos no Pitot de testemunha.
intervalo de ∆t (duração do ensaio); A figura 6 apresenta a variação do nível do reservatório
durante a execução dos traverses.
QAT Vazão de Água Tratada no Venturi de saída;
QAT1 Vazão de Água Tratada na linha 1 da saída do
3.4 Correção do efeito de blocagem do tubo de Pitot
reservatório (Guaraú-Água Branca);
QAT2 Vazão de Água Tratada na linha 2 da saída do Denomina-se por blocagem o efeito provocado na
reservatório (Guaraú-Consolação); velocidade pela redução de área gerada pela presença física
do instrumento de medição, no caso o tubo de Pitot “Cole”.
QAT3 Vazão de Água Tratada na linha 3 da saída do Existe uma tabela de correção para a velocidade quando da
reservatório (Guaraú-Móoca); utilização de um Pitot “Cole” standard.
∆ V R1 = ∆h1 ⋅ AB1 (6) No caso do ensaio de mapeamento do perfil de velocidades
nas três linhas de saída de água tratada da ETA Guaraú, não
∆ VR 2 = ∆ h2 ⋅ AB 2 (7) é possível, devido as altas cargas dinâmicas que
provocariam a flexão da haste, a utilização de um tubo de
A B1 : Área da base da câmara R1; Pitot standard.
A B2: Área da base da câmara R2; O tubo de Pitot “Cole” que foi utilizado nos ensaios é uma
Estas áreas foram calculadas com base nos desenhos de adaptação para a utilização em linhas de grandes diâmetros e
projeto do reservatório. se diferencia pela existência de um reforço no comprimento
disponível.
3.3 Efeitos de transitório de vazão nas linhas de O tubo de Pitot “Cole” reforçado utiliza uma haste cilíndrica
pitometria de 1” de diâmetro com um comprimento de metade do
comprimento livre do Pitot, sendo que a outra metade do
Um grave problema que ocorre nos ensaios de calibração de comprimento livre utiliza a haste standard.
macromedidores em situ é a não estabilidade da vazão
durante a execução do mapeamento do perfil de velocidades. Este reforço proporciona maior resistência a flexão do tubo
Estes transitórios geralmente são provocados por variação conforme o Pitot vai sendo posicionado na tubulação
no consumo, operações e manobras no sistema e por aumentando assim a resistência a flexão, provocada pela
variação no nível dos reservatórios quando o escoamento se carga dinâmica gerada pelo escoamento do fluído sobre a
ocorre por gravidade. área frontal. A diferença entre a área frontal de um Pitot
standard e o Pitot reforçado pode chegar até 1% para a
Estes efeitos podem ser corrigidos utilizando o próprio posição mais próxima da geratriz inferior da tubulação.
medidor em teste como testemunha, entretanto na
Figura 6. Variação do nível das câmaras do reservatório de água tratada

Para o tubo de Pitot reforçado, a correção da velocidade


devido ao efeito de blocagem é feita para cada um dos 3.5 Calibração da instrumentação secundária e dos
pontos do mapeamento do perfil de velocidades pela sistemas de aquisição de dados
seguinte relação:
Toda a instrumentação utilizada nos ensaios foi previamente
(A S − A B ) calibrada nas instalações do Agrupamento de Vazão do IPT.
FC B = 1 − (9)
AS Os tubos de Pitot foram calibrados em túnel de vento
Onde: obtendo-se uma curva de calibração de coeficiente de
descarga (Cd ) em função do número de Reynolds.
FCB: fator de correção da velocidade devido ao efeito de
blocagem do tubo de Pitot; Os transmissores de pressão diferencial foram programados
em faixas adequadas de zero e span adequadas as faixas de
A S: área da seção transversal da tubulação na estação operação dos medidores onde estes seriam utilizados. Após
pitométrica; a definição do span os transmissores foram calibrados
A B: área frontal de bloqueio calculada para cada posição contra um padrão de pressão em função da saída analógica
do mapeamento do perfil de velocidades. (4-20 mA), ajustando linearmente os resultados de
calibração.
Na figura 7 pode-se observar o detalhe do reforço e da haste
de um tubo de Pitot “Cole” reforçado. Os data-loggers foram calibrados por um procedimento
semelhante, sendo que o cabo de sinal utilizado para
aquisição possui um resistor de shunt para aquisição de
haste tensão. A calibração foi feita contra um gerador de sinal
padrão, onde foi obtida como resultado da calibração uma
relação linear de corrente (mA) em função da tensão (mV).

reforço
4. BALAÇO DOS VOLUMES DE CONTROLE VC2 E
VC3
Além do medidor de vazão de água tratada, tamb ém foram
calibrados os medidores de vazão de água de recuperação de
Tomadas de lavagem de filtros e os medidores de água de lavagem de
pressão filtros de contracorrente e superficial, todos estes medidores
são do tipo Venturi inserido.

Figura 7. Vista de frente de um tubo de Pitot “Cole” reforçado


Com os resultados das calibrações destes medidores de 5.1 Resultados da calibração do medidor de água
vazão pode-se iniciar os balanços nos volumes de controle tratada – volume de controle VC1
VC2 e VC3, feitos pelo monitoramento nos pontos de
Para monitoramento da vazão nas três linhas de saída da
entrada e saída de água através das respectivas fronteiras.
ETA Guaraú, foi necessário, primeiramente, a obtenção dos
Além do monitoramento do medidor de vazão de água perfis de velocidade nas três linhas em dois planos à 90°
tratada, foram também monitorados os sinais dos medidores (dois traverses).
de água bruta, de água de recuperação de lavagem de filtros,
O fator de velocidades calculado para cada uma das estações
dos tubos de Pitot “Cole” de testemunha, e dos sensores de
pitométricas foi utilizado, com as devidas correções, na
nível ultra-sônicos do vertedouro do canal Guaraú e das
determinação da vazão na estação de testemunha e por
câmaras do reservatório de água tratada.
integração o volume totalizado nas três linhas durante o
Toda instrumentação utilizada nos monitoramentos de vazão período de fechamento de balanço.
e nível foi calibrada previamente em laboratório.
Os fatores de velocidade calculados para as estações
O sensor de nível utilizado na medição de vazão do pitométricas de referência são apresentados na tabela 1.
vertedouro do canal do Guaraú teve o span alterado
Pode-se assim fechar o balanço para o volume de controle
seguindo recomendações de nível mínimo e máximo da
VC1 e calcular os desvios entre os volumes totalizados pelo
norma ISO 1438.
medidor de água tratada e os volumes totalizados nas
Os dados lidos dos data-loggers foram tratados, processados estações pitométricas de testemunha.
e integrados obtendo-se assim os volumes de água
Os volumes totalizados pelo medidor de água tratada foram
totalizados diariamente.
obtidos pela integração da vazão utilizando a constante K
programada no transmissor de pressão e a constante K de
projeto do medidor. Os resultados estão apresentados nas
5. RESULTADOS DOS BALANÇOS
tabelas 2 e 3.
Os resultados foram obtidos primeiramente para o volume
de controle VC 1 utilizado na calibração do medidor de água
tratada, na seqüência pode-se fechar os balanços nos
volumes de controle VC 2 e VC3 .

Tabela 1. Fatores de velocidade (FV) calculados para as estações pitométricas de referência

FV calculado para os Tubos Pitot de


Vazão referência
LOCAL
ajustada Média
Esquerdo Direito
ponderada
Linha 01 - Guaraú-Água Branca 0.895 0.882 0.889
Linha 02 - Guaraú-Consolação 28 m³/s 0.944 0.930 0.937
Linha 03 - Guaraú-Moóca 1.000 0.980 0.990

FV calculado para os Tubos Pitot de


Vazão referência
LOCAL
ajustada Média
Esquerdo Direito
ponderada
Linha 01 - Guaraú-Água Branca 0.901 0.919 0.910
Linha 02 - Guaraú-Consolação 34 m³/s 0.957 0.920 0.938
Linha 03 - Guaraú-Moóca 0.966 0.957 0.961

FV médio para os Tubos Pitot de referência


Linha 01 - Guaraú-Água Branca 0.899 ± 1.2%
Linha 02 - Guaraú-Consolação 0.938 ± 0.1%
Linha 03 - Guaraú-Moóca 0.976 ± 1.5%
Tabela 2. Resultados obtidos do balanço em VC 1 utilizando a constante K nominal (programada no secundário)

VOLUME (m³)
Água Tratada ∆V Diferença Desvio
Período ATT AT** Reservatório (m³) (%)
AT1+AT2+AT3 tubo Dall F-03
12.12.2002 3020022 2806776 -3095 210152 -7.6%
13.12.2002 3083777 2908837 -3020 171919 -6.0%
14.12.2002 3046701 2848605 10888 208984 -7.0%
15.12.2002 2941934 2732366 -2685 206883 -7.7%
16.12.2002 2995152 2759023 -8531 227598 -8.6%
17.12.2002 3095964 2883818 8084 220230 -7.4%
18.12.2002 3061384 2819196 -4258 237930 -8.6%
Médias 3034991 2822660 -374 211956 -7.5%

Tabela 3. Resultados obtidos do balanço em VC 1 utilizando a constante K de projeto do medidor

VOLUME (m³)
Água Tratada ∆V Diferença* Desvio
Período ATT ATc** Reservatório (m³) (%)
AT1+AT2+AT3 tubo Dall F-03
12.12.2002 3020022 2920358 -3095 96569 -3.4%
13.12.2002 3083777 3026550 -3020 54207 -1.9%
14.12.2002 3046701 2963880 10888 93709 -2.8%
15.12.2002 2941934 2842937 -2685 96312 -3.5%
16.12.2002 2995152 2870673 -8531 115948 -4.3%
17.12.2002 3095964 3000518 8084 103530 -3.2%
18.12.2002 3061384 2933281 -4258 123845 -4.4%
Médias 3034991 2936885 -374 97731 -3.4%

* Balanço: AT = ATT + ∆ V, conforme modelo do VC1 onde Diferença = ATT + ∆ V - ATc


** ATc: volume totalizado corrigido para o fator K de projeto do medidor
** AT: volume totalizado para o fator K programado no secundário do medidor (nominal)
Desvio = (ATc - ATT - DV) / ATT * 1 0 0 ( % )

Onde:
5.2 Resultados dos balanços nos volumes de controle
AT1: volume totalizado na linha 01; VC1 e VC2
AT2: volume totalizado na linha 02; São apresentados na tabela 4 os resultados obtidos nas
medições das entradas e saídas no volume de controle VC 2 e
AT3: volume totalizado na linha 03;
os desvios encontrados neste balanço, para a constante K de
ATT: soma dos volumes totalizados nas três linhas de saída projeto do medidor de água tratada.
da ETA Guaraú;
Os volumes totalizados de água de recuperação (ARc) foram
AT: volume totalizado pelo medidor de vazão de água corrigidos devido ao desvio significativo observado entre a
tratada(TGU-03) utilizando o fator K nominal; constante K programada no secundário e a constante K
obtida da calibração do medidor.
ATc: volume totalizado pelo medidor de vazão de água
tratada(TGU-03) utilizando o fator K de projeto; Os desvios calculados para o balanço no volume de controle
VC3 estão apresentados na tabela 5 e se referem aos valores
∆V: variação do volume do reservatório durante o corrigidos do volume de água de recuperação.
intervalo de monitoramento.
Tabela 4. Resultado para o balanço por fronteira - Volume de Controle VC 2

VOLUME (m³)
Período AB1 AB2 AB3 AT** AR DIFERENÇA* DESVIO
F-01 F-02 Vertedouro F-03 PM-414 (m³) (%)
12.12.2002 869001 1891161 6658 2806776 67416 107371 -3.8%
13.12.2002 915943 1957277 7484 2908837 62444 90578 -3.1%
14.12.2002 889138 1925885 7319 2848605 70409 96673 -3.4%
15.12.2002 860293 1823825 7635 2732366 77403 118015 -4.3%
16.12.2002 882762 1850971 13175 2759023 73937 86052 -3.1%
17.12.2002 935138 1920754 10023 2883818 69534 87436 -3.0%
18.12.2002 900924 1911717 7748 2819196 74621 73427 -2.6%
Média 893314 1897370 8577 2822660 70823 94222 -3.3%

Balanço: AB1 + AB2 + AB3 - AR = AT, conforme modelo do VC2, onde DIFERENÇA = AT + AR - AB1 - AB2 - AB3
Desvio = (AB1 + AB2 + AB3 - AR - AT) / AT * 100 (%)

Tabela 5. Resultado para o balanço por fronteira - Volume de Controle VC3

VOLUME (m³)
Desvio
Período ABT ATT Diferença*
(%)
12.12.2002 2711772 3020022 308250 -10.2%
13.12.2002 2829715 3083777 254062 -8.2%
14.12.2002 2764849 3046701 281853 -9.3%
15.12.2002 2628550 2941934 313383 -10.7%
16.12.2002 2686535 2995152 308617 -10.3%
17.12.2002 2809137 3095964 286827 -9.3%
18.12.2002 2759458 3061384 301926 -9.9%
Médias 2728438 3034991 293560 -9.7%

ATT = AT1 + AT2 + AT3


AB T = AB1 + AB2 + AB3 - ARc
Balanço: ATT = AB T, conforme volume de controle VC3, onde Diferença = ATT - AB T
Desvio = [(AB T - ATT) / AT] * 100 (%)

Onde: u
FV = (10)
AB1: volume totalizado de água bruta pelo medidor TGU- uc
01;
AB2: volume totalizado de água bruta pelo medidor TGU- Uma vez que foram executados dois traverses em duas
vazões, temos então quatro medidas de FV, permitindo
02;
assim a determinação de um FV médio para cada uma das
AB3: volume totalizado de água bruta pelo vertedouro de linhas de saída com sua respectiva incerteza.
entrada do canal Guaraú;
ATc: volume totalizado pelo medidor de vazão de água
tratada(TGU-03) utilizando o fator K de projeto; 6. CONCLUSÕES

ARc: volume totalizado pelo medidor de água de Os resultados obtidos nos balanços causaram grande
recuperação (SRAL). impacto dentro da empresa, uma vez que a ETA Guaraú é
maior estação de tratamento de água da compania e uma
subavaliação na produção gera um aumento do índice de
5.3 Incerteza da medição perdas da empresa, que do ponto de vista operacional e de
gestão é ruim.
O desvio padrão do fator de velocidades FV foi considerado
como sendo uma estimativa da incerteza da calibração do Alguns pontos ficaram pendentes, dentre estes a medição da
medidor tubo Dall de água tratada. vazão do canal de descarga e incorporações de água de
chuva ao processo através do sistema de recuperação de
O fator de velocidades FV é uma relação admensional entre água de lavagem de filtros.
a velocidade média calculada para um traverse e a
velocidade no centro na tubulação: O impacto do resultado foi ainda maior pois o controle da
ETA utiliza apenas os medidores de água bruta para controle
e estimativa da produção. O desvio médio observado entre
os volumes de água bruta e os de água tratada medidos pelos
tubos de Pitot “Cole” foi de -9.7%, desvio maior do que o
observado entre os tubos de Pitot de testemunha e o medidor
de água tratada (desvios de –7.4% para constante K
“nominal” e –3.5% para constante K de projeto).
Deve-se considerar que os medidores de água bruta
praticamente não possuem trechos retos nem a montante
nem a jusantes estando instalados em condições inadequadas
para a utilização da constante K de projeto.
A instalação inadequada também não permite a calibração
em situ utilizando mapeamento do perfil de velocidades, já
que não existe condições físicas para instalação de taps com
condições adequadas, impossibilitando a determinação da
constante K dos medidores para as condições de instalação.
A solução para avaliação destes medidores pode estar em
estudos de simulação numérica, combinados com ensaios
com modelos em escala reduzida e em condições
semelhantes de instalação e também mediante aplicação de
tecnologia de ultra-som (tomografia do perfil de
velocidades) e o fechamento completo de um balanço de
entradas e saídas através das fronteiras do volume de
controle VC 2 .
A conclusão final das medições permitiu a proposição de
algumas medidas para as avaliações da produção da ETA
Guaraú e também a eficiência da ETA, utilizando o volume
de controle VC 2 .
Avaliações rotineiras do medidor de água tratada podem ser
feitas pela aplicação do volume de controle VC 1 , permitindo
assim a execução de um controle histórico da variação da
constante K deste medidor ao longo do tempo.
Alterações das constantes de calibração dos medidores de
água tratada e de água de recuperação de lavagem de filtros
foram propostas para a medição consistente destes volumes.

6. REFERÊNCIAS
• ISO 5167 Measurement of fluid flow in circular cross-
section conduits running full using pressure differential
devices, Part 1: General and Part 2: Orifice plates,
2000.

• ISO 3966 – Measurement of fluid flow in closed


conduits – Velocity area methods using static pitot
tubes, 1977.

• ISO 1438 – Water flow measurement in open channels


using weirs and venturi flumes, Part 1 : Thin-plate
weirs; 1980

• ISO-GUM – Guide to the Expression of Uncertainty in


Measurement; 1993

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