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PESQUISA

,
TECNOLOGICA

estudo prático de argilas por


difratometria de raios - x

Luís Eduardo JVeves (*)

SINOPSE - Grande parte do conhecimento que se tem das· argilas de-


ve-se à difratometria de raios-X, que permite investigar a estrutura dos
minerais. Com esla técnica se define o tipo de retículo cristalino das
argilas pelas suas dimensões, grau de heterogeneidade e propriedades
de expansão ou retração, características dos grupos ou famílias mine-
ralógicas.
É no estudo de séries sedimentares e de solos que ainda mais im-
portante se faz o emprêgo da difratometria sôbre a fração argilosa, uma
vez que a reduzida dimensão das partículas e a íntima coexistência de
argilas de vários grupos e espécies aí presentes pouco deixam aos estudos
ópticos e químicos.

(*) Técnico do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CENPES) - PETROBRÁS

B. téc. PETROBRÁS, Rio de Janeiro, 11 (1): 123-135, jan.fmar. 1968

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1 _. INTRODUÇÃO arranjar-se tanto em forma de hexágonos como em
distribuição compacta, ilustradas na figo 1, (a) e (b),
No ciclo sedimentar os minerais de argila podem respectivamente. Quando as rêdes se compõem de
nascer, evoluir e degradar-se, adaptando-se às varia- íons OH- ou OH2 e OH- associadas, o arranjo é do
ções químicas e físicas dos ambientes em que se for- tipo compacto.
mam ou a que são transportados. Donde se eviden-
cia a importância de identificá-los.
Pelo fato de caber à difratometria de raios-X o o o o o o o o o o o o o o o
mérito de quase todo o conhecimento acumulado o o o o o o o o o o o
sôbre a estrutura dos cristais, e ante a dificuldade o o o o o o o o o o o o o O
de obtenção de elementos distintivos em estudo óptico o O o o o o o o o o o
de partículas muito finas, é indispensável o emprêgo o o o o o o o o o o o o o o
daquela técnica para uma perfeita identificação de o o o o o o o o o o o
material argiloso, cuja classificação se fundamenta (aI (b\
nas características estruturais dos cristais. Estudos Fig. 1 - Rêdes bidimensionais de íons: (a) em
térmico-diferenciais ou análises químicas, isolada- hexágonos, (b) em arranjo compacto
mente, não valem como armas para a identificação _
de argilas, por dupla razão: as semelhanças de Entre lUlla rêde em he:cágonos e uma rêde compacta
comportamento térn::ico e de composição· qlúmica formam-se espaços vazios definidos por quatro faces,
de tais minerais, por um lado, e, por outro, o mas- que chamamos poros tetraédricos. Por outro lado,
caramento destas características pela coexistência entre duas rêdes compactas formam-se poros octaé-
de dois ou mais tipos de argila numa rocha ou solo. chicos, ou seja, limitados no espaço por oito faces.
Tão simples é a determinação do tipo ou grupo O centro dos poros assim demarcados pode ser
de argila através das características estruturais dês- ocupado por catíons com coordenação 4 (nos tetra-
tes minerais, e tão proveitosos êstes dados para uma edros) ou 6 (nos octaedros). Por extensão, chama-se
interpretação geológica ou pedológica, que não se camada tetraédrica o conjunto
justifica estejam ausentes de trabalhos detalhados rêde de íons 0-2 em hexágonos
de estratigrafia ou petrografia sedimentar. catíons com coordenação 4
Esta contribuição traduz o empenho de um geó- rêde de íons 0-2 e OH- compacta,
logo de petróleo em propagar conhecinlentos sôbre e camada octaédrica o conjunto
matéria útil à prospecção, e, ao mesmo tempo, in- rêde de íons 0-2 e OI r compacta
teressar maior número de técnicos por um assunto catíons com coordenação 6 .
que parece pouco desenvolvido no Brasil. rêde de íons OH- compacta.
Cada um dêstes conjuntos ou camadas tem uma
espessura definida, da ordem de angstrons (10- 7 mm).
2 - ESTRUTURA CRISTALINA Ora, caracterizando-se cada grupo de minerais fili-
DAS ARGILAS tosos por lUll determinado número destas camadas
. (2, 3 ou 4), pode-se dizer que o primeiro elemento
Argilas são silicatos hidratados que comumente estrutural utilizado é a constituição do pacote uni-
mostram finas partículas em sua textura, desenvol- tário, de espessura definida.
vem plasticidade quando em contacto com certa
quantidade dágua, e, como as micas, fazem partc RÊDE DE I'ONS 0- 2 EM HEXÁGONOS

l
dos filossilicatos. A maior parte das argilas apre- íONS Si+ 4 NOS POROS TETRAÉDRICOS
l.T.]
senta-se com habitus lamelar ou tabular, .por RÊDE DE íONS 0- 2 E OH- COMPACTA P.U.

-
terem a estrutura cristalina sustentada por íons _
"w~1
íONS Al+3 NOS POROS OCTAÉDRICOS
RÊDE DE íONS OH- COMPACTA
l.O. E.U.

arranjados em rêdes superpostas planas, isto é, de-


Espaço interfaliar
senvolvidas em duas dimensões. O habitlls fibroso,
quando ocorre, reflete a disposição de alguns dos RÊDE DE íONS 0-2 EM HEXÁGONOS

íons formador:es do arcabouço ao longo de apenas íONS Si+4 _____ _ .,í


I
uma dimensão.
Fig. 2 - Esque~a mostrando os elementos es-
truturais de um mineral filitoso, simples, a dois
2.1 - ESTRUTURA DOS MINERAIS leitos: Kaolinita
FILITOSOS
Há também a considerar um espaço interfoliar exis-
A estrutura dos minerais filitosos é fundamental- tente entre os pacotes unitários; às vêzes, é êle ocu-
mente sustentada por rêdes planas, superpostas, de pado por catíons - hidratados ou não - e suscep-
íons 0- 2 e/ou OH-, os quais se ligam mais forte- tível de variar por aquecimento, expulsando água e
mente segundo apenas duas dimensões. Para cons- retraindo-se, e/oú por adsorção de moléculas estra-
tituírem tais rêdes bidimensionais, íons 0-2 podem nhas, alunentando de espessura.

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o espaço inierfoliar mantém separados os pacotes I
I
CAVIDADE CAVIDADE
nnitários. A espessura e variabilidade dêste espaço 4 tONS Si+ 4 J
são definidas para cada família de mineral filitoso, RÊDE DE {ONS 0- 2 EM HEXÁGONOS

de modo que a distância entre o tôpo de um pacote 4 (ONS Si+ 4 4 íONS Si+ 4
íONS 0-2,OH~OH.H CAVIDADE íONS 0-~OH-,0H.H
e o tôpo do pacote contíguo é definida, chamando-se
5 íONS Mg-2 ALONGADA, 5 íONS Mg-2
a isto espaçamento segnndo o eixo-C, on eqüidis-
tância unitária dos minerais filitosos. A constância
íONS 0-10H-,OH.H COM ÁGUA íONS O_2,OH -,OH.H
4 íONS Si t4 4 íONS Sit 4

destas eqüidistâncias confere ao mineral o poder de R ÊDE DE tONS 0- 2 EM HEX ÁGONOS
o 4 íONS Si+ 4
difratar. O difratograma obtido de uma montagem Foixo·C CAVI DADE CAVIDADE í
I
de cristais ou partículas tabulares orientados se-
gundo sua menor dimensão (eixo-C) revelará a eqüi- Fig. 3 - Esquema da estrutura de um mineral
distância unitária do mineral, como :êle se apresenta fibroso com cinco íons Mg-Z em posição octaé-
drica das fitas:_Palygorskita
na amostra. Registro de montagens tratadas com
calor e com atmosfera de etileno-glicol, comparados Considerando apenas uma parte do esquema, veri-
com o primeiro registro, indicarão se a eqüidistância ficamos que a constituição dos minerais fibrosos
é variável ou invariável em face de tais tratamentos. lembra a de filitosos a três camadas nos quais os
Independentemente do conceito de pacote unitário, tetraedros de Si da· camada inferior tivessem sido
válido para os minerais filitosos e referido à estru- invertidos.
tura mineral perpendicularmente ao eixo-C, deve-se 3 ELEMENTOS PARA A CARACTE-
ter em mente o de célula unitária de um cristal, que
é a menor porção dêste cristal capaz de mostrar a RIZAÇÃO DAS ARGILAS
composição e as propriedades do todo. Éste conceito Passadas por alto as propriedades ópticas e térmicas
versa sôbre a constituição atômica ou iônica de um das argilas, joga-se com cinco características para a
cristal segundo todos os seus· eixos. Na maioria das classificação dêstes minerais em grupos ou famílias:
argilas, a célula unitária contém só um pacote uni- a) o habitus, que pode ser tabular ou fibroso;
tário e um espaço interfolim', segundo o ei.'w-C. Há, b) o número de camadas componentes do pacote
porém, argilas que não possuem espaço inteljoliar 'unitário;
idêntico entre todos os pacotes. Em tais casos, a c) a possibilidade de substituições iônicas dentro
periodicidade se faz a cada dois ou mais pacotes, e das camadas;
a célula unitária obedecerá a esta periodicidade. d) a variabilidade ou estabilidade do espaço in-
Os esquemas das figuras 4 e 5, estampadas na terfoliar;
seção 3, mostram determinados números de Íons Si, e). a homogeneidade ou heterogeneidade de cons-
Mg, OH etc. Não significa isto que no plano per- tituição, pacote a pacote.
pendicular ao eixo-C haja interrupções: todos os Com exceção da terceira, a difratometria de raios-X
Íons formam ilimitadas rêdes segundo êste plano. revela estas características mediante análises feitas
Os números de Íons mencionados servem apenas para com o material devidamente preparado e orientado,
mostrar a proporção entre os diversos constituintes conforme se verá na parte final desta exposição.
e caracterizar a célnla unitária tridimensionalmente.
3.1 ~ HABITUS: TABULAR OU FIBROSO
É uma ilustração da fórmula química do mineral.
Minerais de argila ou minerais na fácies argilosa.
2.2 - ESTRUTURA DOS MINERAIS podem pertencer a dois grandes grupos de silicatos,
FIBROSOS cujas estruturas já ficaram descritas na seção 2:
os filitosos e os fibrosos. Apesar de diminutas as
Os minerais fibrosos são constitlúdos de rêdes con- partículas, seu habitus é uma característica fácil de
tínuas de Íons 0-2 em hexágonos, separadas por descobrir, pelo que se sabe de imediato quando se
fitas paralelas, duplas, formadas de Íons 0- 2 , OH-, trata de partículas tabulares ou fibrosas, e, conse-
e OH.H em arranjo compacto em duas camadas, qüentemente, de argilas filitosas ou fibrosas.
e que se desenvolvem segundo o eixo-C. Estas fitas
apresentam poros octaédricos onde se alojam catÍons 3.2 - O NúMERO DE CAMADAS COMPO-
Mg, enquanto no contacto das rêdes contínuas com NENTES DO PACOTE UNITÁRIO
as faces superior e inferior das fitas se formam poros O elemento fundamental para a caracterização das
tetraédricos contendo catíons Si. Como se percebe argilas filitosas é a quantidade de camadas compo-
no esquema da figo 3, as fitas se dispõem alternada- nentes do seu pacote unitário. A difratometria é o
mente quando observadas em corte transversal a método capaz de determinar· êsse número, pela
elas (eixo-C). Assim como as fitas, longas cavidades principal eqüidistância medida segundo o ei.'\:o-C ..
desenvolvem-se perpendicularmente ao esquema, ad- Assim, há minerais filitosos a duas, três e quatro
mitindo água higroscópica e zeolítica na proporção camadas, com o seguinte arranjo, perpendicular-
de quatro moléculas por célula unitária. mente ao eixo-C dos cristais:

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MINERAIS A DUAS CAMADAS MINERAIS A TRÊS CAi\B.DAS MINERA.IS A QUATRO CAMADAS

camada octaédrica
camada tetraédrica camada tetraédrica camada tetraédrica
camada octaédrica camada octaédrica camada octaédrica
camada tetraédrica camada tetraédrica·

Na figo 4 se acham as fórmulas qtúmicas funda- Convém ter presente que, se fôr gerada uma di-
mentais correspondentes aos três tipos de argila. ferença de carga numa camada, em conseqüência
Pode-se notar que as rêdes planas mistas (40, 20H) de substituição iônica não-lrioctaédrica, automàtica-
pertencem às duas camadas contíguas, ao mesmo mente ocorrerá outra substituição numa camada
tempo. contígua do mesmo pacote, de modo a comr;ensar
A primeira fórmula d' z respeito à célula unitária a diferença; ou, ainda, no espaço inteljoliar serão
da Kaolinita, a segunda à da Pyrophyllita, enquanto admitidos Íons, para refazerem a neutralidade elé-
o esquema da terceira não corresponde a um mine- trica da célula unitária.
ral conhecido. O mais comum dos minerais a quatro
camadas é a CIo ri ta, em que íons Si e AI de Mdas
6 O
as camadas se mostram total ou parcialmente subs- Camada
oclae'drica (6·21)t.lg,2xAI
E. L O,25K
tituídos. 6 OH
6 O 6 O 6 O
Camada
lalraédrica 4 Si 3,75Si,O,25AI 14-2x)Si, 21A I
Camada 6 O 40,20H 4020H 40,20H
oclaédricd' 4 AI Camada
Espaço inlerfoliar oclacidrica 6 Mg 4 AI (4-I)Si,1 A I
6 OH 6 OH 40,20H 40,20H
6 O 6 O 6 O Camada
Camada telrall<lrlca 4 Si (4-x) Si,l A I
lelraédrica 4 Si 4 Si 4 Si 6 O 6 O
Camada 40,20H 40,20 H 40,20H
oclaédrica 4 Al 4 AI 4 Al (a) (b) (c)
Camada 6 OH 40,20 H 4O,20H
le Iraédrica 4 Si 4 Si Fig. 5 - Esquemas das composições de minerais,
6 O 6 O exemplificando variações (substituições iônicas)
,g
dos esquemas básicos de minerais a dois, três
MINERAIS a A. .1. Camadas e quatro leitos: (a) Antigorita, (b) lliita, (c)
(a) (b) (c) Clorita

Fig. 4 Esquemas das compOSlçoes qUlInlCaS Os exemplos da figo 5 ilustram variações dos es-
estruturais de minerais básicos a dois, três e quatro
leitos: (a) Kaolinita, (b) Pyrophyllita, (c) mineral quemas descritos na figo 4, e com êstes cumpre com-
desconhecido pará-los. O primeiro esquema (a) é da Antigorita,
em que 4 Íons AI da camada octaédrica ficam subs-
3.3 - A POSSIBILIDADE DE SUBSTITUI-
tittúdos por 6 Íons l\1g; em (b) está representada
ÇÕES IÔNICAS DENTRO DAS
uma célula unitária da Illita, na qual um Íon Si,
CAMADAS
em cada quatro células, é substituído por AI, e com-
Outro importante elemento para o estudo dos mi- pensado o déficit de carga pela admissão de um Íon
nerais de argila, e que vai definir com maior precisão K no espaço interioliar contíguo à célula em que hou-
as diferentes famílias ou mesmo espécies mineraló- ve substituição; em (c) vem a Clorita, onde l\1g subs-
gicas, é a possibilidade de substituições iônicas, quer titui parcial e totalmente AI nas duas camadas oc-
dizer, de variações em tôrno dos três esquémas bá- taédricas, e AI substitui Si nas camadas tetraédl'icas.
sicos expostos na figo 4.
Na camada octa~drica dos mineraif:l a duas, três 3.4- - A VARIABILIDADE OU ESTABILIDA-
e quatro camadas, Íons Al trivalentes podem ser DE DO ESPAÇO INTERFOLIAR
substituídos por Íons divalentes. Quando a substi- Outro conceito usado como característica na clas-
tuição se dá na razão de doistrivalentes para três sificação, e de fácil emprêgo na identificação dos mi-
divalentes, diz-se o mineral trioctaédrico. Quando a nerais de argila, é o da manutenção, ou não, da eqüi-
substituição não ocorre ou não guarda esta propor- distância unitária ou espaçamento segundo (00l) ,
ção, os minérais são denominados dioctaédricos. quando o mineral é submetido a aquecimento e a
Também na camada letraédrica podem produzir-se uma atmosfera de etileno-glicol. No primeiro caso
substituições -Si por um Íon trivalente -, e êste pode ocorrer uma retração, e no segundo, uma
fator é aplicado para subclassificar os minerais di expansão do espaço inleljoliar, fazendo variar a di-
e trioctaédricos. mensão do retículo segundo o eixo-C. Há, pois, mi-

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-., o!
nel'ais a duas, três e quatro camadas estáveis, variá-
veis com um e com os dois tratamep.tos, '" o
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08
o ESPAÇ O INTERFOLIAR
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3.5 - A HOMOGENEIDADE OU HETEROGE- - ---
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z AO CALOR AO Et-GUCCl.
PACOTE A PACOTE KAOLlNITA
C/)
2 HALLOYSITA
etw
w·...J
A técnica de difratometria de raios-X no estudo za. I LLI TA
da evolução dos minerais de argila trouxe à luz a <W::E
C!)_ 3 MONTMORILLONITA ,
o C/)
VERMICULlTA
existência de sucessões regulares ou irregulares de a: ::E CLORITA
eqüidistâncias 1.mitárias diversas. oz CLORITAS
et ::I:- 4
::E EXPANOivEIS
Assim, ao lado de minerais de constituição homo-
...J C/) MONTMO RILLO NI TA
gênea, chamados minerais simples, podem ocorrer VERMICUUTAI
et°
o o

interestratificações de pacotes a três camadas, com ::> Wet MONTMORILLONITA


z~
espaço inteljoliar estável, e pacotes a três camadas, co <W U.
3e3 ILLI TA
com espaço interfoliar variável; ou, ainda, interes- C!)i= ILLlTA
et oet
a: VERMICULlT~
tratificações de pacotes a três camadas, com espaços a: I-
inte1joliares de um ou outro tipo, e pacotes a quatro C/) ILLlTA
I- WW
I-a: CLORITA
camadas. Tais interestratificações podem ser regu- W
wl- VERMICULITA
lares, quando formadas de um número fixo de eqüi- ::I:~ 3e4 CLORI TA
distâncias de um tipo, com lUll número fixo de eqüi- z MONTMO R1ILLON ITA
distâncias de outro, ou irregulares, quando números ::E CLORITA
variáveis de eqüidistâncias diversas se empilham de- C/) N~ de (ons Mg
sordenadamente. As regulares mereceram o nome de 00 nas fitas, por M I N E R A IS
C/) C/) célula unitária
minerais (exemplo: Rectorita, com eqüidistâncias do 00
a:
tipo Illita alternando com eqüidistâncias do tipo Ver- a:aJ 9 SEPIOLITA 12,1 Â sego (110)
aJ u.
miculita. Para as interestratificações irregulares PALYGORSKITA 10,S!
LUCAS (1963) propôs a denominação de edifícios in- u.Z 5
- (ATT APULGITA) segundo tllO)
terestl'atificados, por se tratar de séries limitadas por l;'l~
um mineral simples, de um lado, e por outro mineral Fig. 6 - Classifica~ão prática das argilas de
acôrdo com os elementos citados nas subseções
simples, de outro lado. 3.1, 3.2, 3.4 e 3.5

4.1 - MINERAIS SIMPLES


4 - CLASSIFICAÇÃO PRÁTICA DAS
CAILLERE e HÉNIN agrupam as espécies de argilas
ARGILAS: PRINCIPAIS TIPOS em familias, de acôrdo com o número de camadas do
SIMPLES, INTERESTRATIFI- pacote unitário, com a natureza das substituições
CADOS E FIBROSOS iônicas que têm lugar nas camadas octaédrica (mi-
nerais di e trioctaédricos) e tetraédrica, e com a va-
riabilidade do espaço interfoliar.
Uma perfeita classificação dos minerais de argila,
No grupo dos minerais simples a duas camadas
como a que publicaram CAILLERE e HÉNIN na obra
descrevem êles as famílias dos minerais Kaolinita,
citada em referência bibliográfica, leva em consi-
Halloysita, Antigorita e Berthierita; do grupo a três
deração a totalidade dos fatôres que acabamos de
camadas fazem parte as famílias da Pyrophyllita,
examinar, mas só é exeqüível quando se dispõe de
lVIontmorillonita, Illita, Beidelita, Talco, Stevensita-
equipamento para análise química quantitativa e
-Hectorita, Saponita e Vermiculita; no grupo de
quando se está lidando com minerais isolados.
minerais a quatro camadas estão as Cloritas verda-
Em estudos práticos, geralmente se lançoa mão ape- deiras e as Cloritas expandiveis, ou Pseudocloritas.
nas da difratometria de raios-X, bem como dos Nós destacaremos somente os minerais mai!3 comuns,
tratamentos por contacto com atmosfera de etileno- aquêles que correspondem aos tipos caracterizáveis
-glicol (glicolagem) e por aquecimento a 500°C (ver pela difratometria de raios-X.
seção 6). a) KAOLINIT A, lUll mineral a duas camadas e
Daí, não se chegar, a rigor, à determinação de que tem apenas um pacote por célula unitária.
espécies mineralógicas, mas apenas à indicação do Sua composição está descrita na subseção B.2.
que aqui chamamos tipos de argila, subordinados Não apresenta substituições iônicas, sendo,
aos três grandes grupos (simples, interestratificados portanto, um mineral dioctaédrico. Espaço in-
e fibrosos) enumerados nas figs. 6 e 7. terfoliar vazio, e a eqüidistância unitária de

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o
7,l-7,2A - índice (001). Um importante pico dágua que ocorre de dois em dois pacotes,
o donde ter a principal difração do mineral -
secundário é o de índice (002) a 3,58A. O o
aquecimento a 500°C faz desaparecerem tô- 14,2A - o índice (002). A glicolagem não
das as difrações, por destruição· da estru- provoca a expansão da célula, mas o aque-
tura. A glicolagem não provoca alterações. cimento a 500°C faz com que esta fique com
o
b) HALLO YSITA , outro mineral a duas cama- lOA.
c f) CLORITA, mineral a quatro camadas, mas de
das, porém com eqüidistância unitdria de lO,lA,
estrutura comparável à estrutura de um mi-
porque entre seus pacotes há uma dupla ca-
neral a três camadas no qual as substituições
mada de moléculas dágua que pode ser ex-
tivessem causado um déficit de carga que, ao
pulsa por aquecimento a 400°C, sobrevindo
o invés de compensado pela admissão de catíons
diminuição da eqüidistância para 7,2A. A gli- interfoliares num leito dágua, sê-Io-á por
colagem pode aumentar a eqüidistância até outra camada octaédrica; esta, por sua vez,
o
de 3A. pode sofrer substitúições, adaptando-se às
c) MONTMORILLONITA, um mineral a três variações de cargas do pacote. a três camadas
camadas, no qual Mg substitui AI em propor- subjacente. Neste mineral, íons Mg estão
ção diferente de 3: 2, de modo que ocorre pres~ntes na camada octaédrica extra (chama-
um déficit de carga para ser compensado pela da brucítica, pela semelhança de constituição
admissão de catíons hidratados entre os pa- com o mineral Brucita) e no pacote principal
cotes, formando um leito dágua que os separa. (chamado mica, pela semelhança de consti-
Como não é constante a espessura dêstes tuição com o pacote a três camadas da Illita
leitos dágua, ou seja, o grau de hidratação ou da :NIuscovita), enquanto nas camadas te-
do mineral, a difração principal da Montmo- traédricas íons AI substituem Si. Uma Clorita
. o o
rillonita, de 12 a 14A, oferece geralmente mostra difrações a 14,3 - 7 - 4,7 e 3,5A, e
aparência difusa, num pico largo que lembra não experimenta variações por aquecimento ou
os minerais interestratificados. Uma difração glicolagem, uma vez que seu espaço interjoliar
o .
é tomado por um leito rígido, a camada bru-
entre 4,6 e 4,5A é a mais importante depois
cítica.
da difusa. o
d) ILLITA, mineral também a três camadas, g) Grupo das Pseudocloritas: minerais com 14A
dioctaédrico, em que um Si em cada quatro cé- de eqüidistância unitdria, resistentes ao aque-
lulas [ver esquema da Pyrophyllita e da Illita cimento, mas susceptíveis de expandir, como
nas figs. 4, (b) e 5, (b)] é substituído por AI, a Montmorillonita. Presume-se neutra a ca-
ficando o déficit de carga, então gerado, com- mada brucítica dêstes minerais, sendo as di-
pensado pela admissão de íons K no espaço ferenças de carga compensadas por catíons
interfoliar. Note-se que na Illita se opera tal trocáveis. Admite-se também que a camada
substituição em apenas uma de cada quatro brucítica das Pseudocloritas seja descontínua.
células, enquanto na :NIuscovita, de estrutura
4.2 - MINERAIS INTERESTRATIFICADOS
semelhante, ela tem lugar em tôdas as células,
isto é, em um para cada quatro íons Si da Por sua grande importância no estudo da evolu-
camada tetraédrica superior; êste mineral con- ção das argilas, no sentido tanto da agradação como
tém, pois, quatro vêzes mais potássio no es- da degradação, é oportuno que nos detenhamos um
paço interfoliar do que a Illita, donde a' di- pouco nestes minerais.
ferença no grau de coesão de um p~ra outro Excluída a participação de eqüidistâncias perten-
mineral. As principais difrações da Illita são centes a pacotes de duas camadas (tipo Kaolinita) na
o
a 10 (001), a 5 (002) e a 3,33A (003), inva- constituição dos edifícios interestratijicados, resta-nos
riáveis com glicolagem ou aquecimento. A somente a combinação de pacotes de três camadas dOR
Glauconita é um mineral do mesmo tipo, vários tipo·s, entre si, e dêstes com pacotes a quatro
onde AI é substituído por Fe+ 3• camadas (Clorita verdadeira). Para efeitos práticos,
e) VERMICULITA, que igualmente apresenta contam-se três tipos de eqüidistâncias de minerais a
.AI na camada tetraédrica. Na camada octaé- três camadas:
drica entram também catíons divalentes ou a) eqüidistância invariável com o calor e com o
o
trivalentes: Mg, Fe+ 2 e Fe+ 3 • CatÍons hi- tratamento ao etileno-glicol: tipo Illita, 10A,
dratados compensam as diferenças de carga denominação proposta por LUCAS - "10));
não compensadas pelas substituições na cama- h) eqüidistância variável com o calor e invariável
da octaédrica. ltstes catÍons interfoliares fa- com o etileno-glicol: tipo Vermiculita, HÁ,
zem parte de uma duplacaÍnada de moléculas denominação "14v));

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c) eqüidistância variável com o calor e com o eti- espaçamento interplanar segundo (llO) , e não segundo
leno-glicol: tipo Montmorillonita-12 ou Mont- (OOl) , à maneira dos minerais filitosos. Como se
morillonita-14, 12 ou 14Á, denominação "12" sabe, minerais filitosos orientam-se com o eixo-C
ou "141,/', paralelo à direção das fibras.
Para os mesmos efeitos, considera-se a Clorita o Família da Sepiolita - principal difração a
único mineral a quatro camadas que ocorre em in- 12,1Á. Íons Mg estão presentes nos poros octa-
terestratificações: édricos das fibras. No Xilotilo, íons Fe+ a substi-
- eqüidistância invariável com o calor e com o tuem Mg nas fitas, e, eventualmente, Si dos te-
etileno-glicol: tipo Clorita, 14Á, denominação traedros. São também comuns Sepiolitas niquelíferas.
"140 ". Família da Palygorskita - principais difrações a
São, pois, cinco os elementos (10 - 14v - 12 - 10,4, 3,23 e 2,61Á. É outro mineral que apresenta
14M e 140) que, combinados dois a dois, podem Mg em tôdas as posições octaédricas. Na literatura
formar interestratificações de dez tipos diferentes: americana preferem o nome Attapulgita para os mi-
nerais de tal tipo. As variedades mais correntes
10 - 12 12 14v
possuem AI tanto em posição octaédrica como em
10 - 14M 12 140
posição tetraédrica.
10 - 14v 14111 14v
10 - 140 14111 140
12 - 14M 14v - 140'
5- TÉCNICA DE PREPARAÇÃO DE
Interestratificações do tipo 12-14M confundem-se,
virtualmente, com o próprio mineral simples Mont-
ARGILAS PARA ANÁLISE
morillonita -lUna sucessão de pacotes a três camadas, DIFRATOMÉTRICA
com espaços interfoliares hidratados em diferentes
graus, donde resulta nem sempre serem constantes . Os primeiros passos na preparação do mineral
suas eqüidistâncias 1lnitdrias. para estudo são idênticos aos de qualquer método
de análise: numeração, catalogação e descrição su-
A supracitada designação, proposta por LUCAS e
mária.
baseada na nomenclatura usual I-M (Illita-Mont-
morillonita), I-V (Illita-Vermiculita) etc., tenta des- Se a amostra fôr constituída de material incon-
fazer o equívoco de aos pacotes formadores .de in- sistente, pode-se proceder a uma quarteação ime-
terestratificados dar nomes de minerais simples as- diata; se de rocha, submetê-la alUna britagem
sociados, quando na realidade não se trata dêstes prévia, para a quarteação. O objetivo é obter de
minera.is, mas, sim, de eqüidistâncias semelhantes às 20 a 30 g de material representativo, se êle tiver
dos minerais simples conhecidos - Illita, Clorita etc. granulação bem fina, ou cêrca de 40 g, quando vem
Podemos qualificar os três minerais interestrati- associado muito silte ou material mais grosseiro. A
ficados regulares conhecidos seguir, fazer a desagregação por moagem em gral
- Rectorita: 10 - 14v de aço polido, e depositar em 60 a 100 g de água
- Allevardita: 10 - 14M destilada o pó resultante. Usar misturadores me-
- Corrensita: 140 - 14M cânicos (shakers) , para sair uma suspensão homo-
como casos especiais de interestratificações irregula- gênea.
res, êstes muitíssimo mais freqüentes. A regula- . Passa-se agora à fase dos ataques químicos, para
ridade das sucessões dá ensejo à periodicidade dos mais completa desagregação e purificação do ma-
espaços interfoliares de um e outro tipo, fornecendo terial argiloso, por meio de:
difrações a 24 ou 28Á (10 + 14 ou 14 + 14Á); isto a) ácido clorídrico, se houver carbonatos em ci-
não acontece nos interestratificados irregulares, cujas mento ou em grãos - deitar pouco a pouco
propriedades. difratométricas, expostas na figo 7, o ácido diluído 1 : 5, até parar a efervescên-
podem ser consideradas intermediárias entre as pro- cia, com agitação contínua e contrôle do pH,
priedades dos minerais simples de iguais eqüidis- o que evitará excesso;
tâncias.
b) ácido o;r;álico, se houver ferro férrico - sob
4.3 - MINERAIS FIBROSOS a forma de uma solução normal adicionada
à suspensão na proporção de 10% do volume
A classificação, em duas famílias, dos minerais desta, levando-se então o frasco ao banho-
fibrosos assenta na largura das fibras a que se refere -maria a 100°C, até a amostra mudar do ama-
a seção 2 - Estrutura cristalina das argilas. Esta relo ou vermelho para o cinza ou esverdeado;
largura reflete o número de íons O, OH e OH.H, c) água oxigenada, se. houver matéria orgânica
e, conseqüentemente, de íons .Si e Mg alojados (amostra de côr escura, presença de -restos
dentro e na superfície das fibras; é medida pelo vegetais etc.) - fazer o ataque com H 20 2 a

B. téc. PETROBRÁS, Rio de Janeiro, 11 (1): 123-135, jan.fmar. 1968

129
20 volumes, aplicando mn quinto do volume 6 - TÉCNICA DE IDENTIFICAÇÃO
da suspensão e levando ao banho-maria a 70°C. DE ARGILAS POR DIFRATOME-
Ao ataque efetuado, de qualquer tipo, deve suce- TRIA DE RAIOS-X
der imediatamente uma lavagem, que consiste em
substituir por água destilada o líquido no qual a Esta técnica permite a determinação das eqüidis-
amostra se encontra suspensa. O emprêgo de cen- No caso dos minerais filitosos,
tâncias unitárias.
trifugadores com cápsulas de boa capacidade (80- emprega-se o método do material orientado, no qual
as partículas de mineral ou de rocha filitosa ficam
-100 g) facilita a operação, pois se consegue em poucos
minutos a deposição de quase todo o material, e o orientadas segundo sua menor dimensão (eixo-C).
líquido fica límpido. O passo subseqüente é despe- Os minerais fibrosos, para estudos cristalogl:áficos,
jar com cuidado o líquido e em seu lugar pôr água são orientados segundo a direção de suas fibras, o
destilada. Agitando-se o tubo com violência, o ma- que produz diagramas de fibra em registro foto-
terial volta a entrar em suspensão, e nova centrifu- gráfico. Para identificação em difratômetros a lei-
gação o faz depositar. Geralmente, quatro lavagens tura direta, os minerais fibrosos são submetidos a
são necessárias depois dos ataques com ácido. Após exame pelo método do pó, com as partículas. deso-
a segunda, já se pode observar que uma pequena rientadas. O difratograma de l.una montagem nor-
porção do material mais fino se mantém em suspen- mal deve abranger dos 2 aos 28° (ângulo 28}. A
são; o fenômeno significa já estar o líquido quase interpretação tem início com êste registro, identi-
livre do ácido que provocou a floculação das partí- ficando-se primeiro os picos, isto é, escrevendo-se
culas. Pode-se também usar centrifugador domés- no tôpo dêstes as eqüidistâncias d a que cOlTesponde
tico provido de papel-filtro, mas neste caso deve':se cada um.
começar com maior quantidade de material, para Considerados somente os minerais simples, temos
compensação das perdas. os picos segundo (OOl):
a 7Á, da Kaofu:uta [coincidindo com o de ordem 2
Segundo a lei de STOKES, uma partícula com den- (002) da Clórita];
sidade 2,5 e diâmetro supéior a dois mícrons tom-
a lOÁ, da Illita e da Halloysita;
bará na água com uma velocidade acima de 1,2
cmJh. Para recolher a quantidade de material ne- a 12Á, da Montmorillonita-12;
cessário para a análise, mergulhar um centímetro a 14Á, da Vermiculita, Montmorillonita-14 e da
na suspensão a ponta da agulha de uma seringa Clorita.
de injeção, com a qual se aspira um centímetro Minerais fibrosos dão picos segtmdo (ZZO):
cúbico, depois de deixada a suspensão em repouso a 1O,5Á, da Palygorskita (Attapulgita);
por uma hora. a 12, lÁ, da Sepiolita.
O próximo passo é a montagem das lâminas, Como se vê, a reflexão principal, só, não é suficiente
feitas de Vidro capaz de resistir à temperatura de para a interpretação ou identificação dos t1:pOS de
500°C, no formato 50 x 25 DlDl. É importante que. argila. Precisamos lançar mão de picos secundários.
estejam rigorosamente limpas; obtém-se o conveni- Assim, por exemplo, o pico de 14Á da Clorita· se
ente grau de limpeza lavando-as com detergente e faz acompanhar de outros à 7Á e, mais significativo,
deixando-as imersas em solução sulfocrômica, por a 3,5Á. A Kaolinita, além do pico a 7,lÁ, tem outro
algumas horas. Enxaguadas com água destilada, a 3,58Á. A Montmorillonita (14Á) apresenta picos
sem o contacto das mãos em suas faces, podem elas secundários a 5,1 e a 3,05Á, enquanto a Sepiolita
ser postas a secar mun suporte. tem um secundário a 7,6Á.
Gôta a gôta, deitar a suspensão sôbre as lâminas, O caso dos edifícios interestratificados irregulares
cobrindo-lhes o têrço médio. Da limpeza das lâ- é mais complexo e, também, mais commn. No
minas dependerá a aderência da argila após a se- quadro da figo 7 as propriedades difratométricas
cagem. :Montam-se três lâminas de cada amostra, dêstes minerais estão especificadas com maior obje-
que são levadas a secar em forno a 60°C, com umi- tividade. Sua principal característica se encontra
dade controlada. na falta de agudeza dos picos, lembrando verda-
Uma das lâminas será passada no difratômetro deu'as bandas de difração, que podem abranger o
depois da secagem; a segunda, introduzida mun espaço correspondente a 2 ou mais angstrons nO re-
forno a 500°C, durante duas horas; e a terceira, gistro.
submetida a luna atmosfera de etileno-glicol, pelo São, porém, os recursos do aquecimento e da gli-
espaço de quatro horas. Obtém-se a atmosfera de colagem que vão facilitar a identificação dos tipos
etileno-glicol fazendo o vácuo mun dessecado r, ém minerais, puros ou coexistentes numa rocha, sim-
cuja parte inferior se deita o poliálcool. Após êstes ples ou interestratificados. O aquecimento a tem':
tratamentos, as duas lâminas serão também passa- peratura entre 49Q e 500°C, por duas horas) pro-
das no difratômetro. voca a expulsão de moléculas dágua porventura exis-

B. téc. PETROBRÁS, Rio de Janeu'o, 11 (1): 123-135, jan.jmar; 1968

130
tentes entre os pacotes de alguns minerais, ou des- altura dos picos não significa somente qüantidade de
truindo a estrutura, como sucede com a Kaolinita. matéria difratora, mas também grau de cristalinidade
A expulsão da água determina a retração das e grau de orientação das partículas na montagem.
eqüidistâncias uni!árias da Montmorillonita e da As tentativas de calcular percentagens sempre levam
Vermiculita para 10Ã. O pico a 14A da Clorita, em consideração, também, a largura ou área dos
por ser um mineral a quatro camadas, não se desloca picos..
com o aquecip1ento. As figs. 8, 9 e 10 trazem exemplos, devidamente
O tratamento com os poliálcoois (etileno-glicol ou interpretados, de difrato gramas de amostras de ar-
glicerol) baseia-se na grande afinidade dêstes pro- gila em montagens normal, glicolada e aquecida.
dutos com a água, e consiste em sujeitar a amostra
(lâmina pronta) a uma atmosfera de um qualquer
dos referidos poliálcoois, durante algumas horas. O
PICO PRINCIPAL OUTROS
efeito é forçar a expansão dos minerais que podem
admitir moléculas dêstes compostos, aumentando as
TI P O S 1 8 1~
1
14 12 10 IA PICOS
S I M P L E S
eqüidistâncias segundo (00l). Tal acontece, por
exemplo, com a J\10ntmorillonita, a qual passa de
12 'ou. 14A para quase 18A, e assim se distingue
KAOLI N I TA
~ 3,58

da Vermiculita, que mantém o afastamento a 14Á.


Já o pico de 7A da Kaolinita, que desaparece com
I L L I TA tt
A
5,0 3,33

o aquecimento, permanece em 7A após êste tra-


tamento. As setas indicam na tabela da figo 7 a
migração das difrações ou picos principais.
Corno a determinação de um tipo mineral rara-
CLORITA

CLOR ITA,
G~
1
V'Y
!1!.

idem
4,7 ~

mente merece fé sem o recurso dêstes dois ataques, EXPANOIVEL


nunca se deixa de efetuá-los nos trabalbos de iden- A
~~
tificação de argila. MONTMORILLON IT A
12 ou 14
G1S 5,1 3,05
As montagens glicoladas e aquecidas são passadas

~"
no difratômetro só dos 2 aos 14° (ângulo 28), corres-
VERMICULITA
pondendo a valores de 44 a 6A, conforme exempli-
ficam os difratogramas das figs. 8, 9 elO. J l"~~.
INTERESTRATIFICAOOS
A presença de minerais interestratificados é mar-
cada pela presença de picos achatados, largos. Quan- 1'\1 -14V G-N- I-A.r
do estão em causa edifícios contendo eqüidistâncias
do tipo 12 ou 14M , o difratograma da montagem
12M - 14 V G-- N r-A-.t:
I.
glicolada registrará um pico ainda mais largo que
o da montagem normal. Se há pacotes invariáveis,
14M - 14C q--r--1
do tipo 10A, junto com os expandíveis, o pico, no 12 M -10
:rIJ-W-A
.i ]
difrato grama da montagem gHcolada,· não deixará de
começar em lOA, mas deverá aparecer mais baixo.
14
M
-10 G-N-A
O próprio mineral simples Montmorillonita, por 12
M -14C G ~
N ra
constituir-se de eqüidis ·âncias com maior ou menor
~iI
q~
espaço interfoliar (grau de hidratação), geralmente 14V -10
mostra-se também num pico largo, que a glicolagem
faz migrar todo em direção às grandes eqüidistâncias.
Na figo 7, as letras N, G e A indicam, respectiva-
14C -lO IJ
~
mente, as posições ocupadas pelo pico principal de ~il
cada mineral nos difratogramas das montagens nor-
mal, glicolada e aquecida. Trata-se de difrações basais,
ou seja, segundo (OOl), para os minerais simples e
14C - 14 V

F I 8 R
1\ O S O S

interestratificados, e segundo (hkO), para os fibrosos.


Os picos secundários dos minerais filitosos são os
SEPIO LlTA
~~ 7,6 4,49
-
harmônicos do (001) : (002), (003) etc.; reparar que /VI
PALYGORSKITA

~
as difrações secundárias de ordem par, como (002) 6,44 4,49
. (ATTAPULGITA)
e (004), são mais fortes.
Casos há de coexistirem até cinco tipos de argila
na mesma amostra; torna-se então difícil a deter- Fig. 7 • Quadro para identificação de Minerais
de Argila, proposto por LUCAS, CAMEZ e MILLOT
minação precisa das proporções, uma vez que a (1959)

B. téc. PETROBRÁS, Rio de Janeiro, 11 (1): 123-135, jan./mar. 1968

131
lo-! Fig. 8 _. Difratogramas de partículas orientadas segundo·o eixo-C da M0l1tmorillonita-12, em montagens normal, glicolada e aquecida
~
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17,1
MON TMORI LLON ITA -12

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~ Fig. 9 - Difratogramas de partículas orientadas segundo o eixo-C da llIita e n:aolinita; em montagens normal, glicolada e aquecida
Fig. 10 - Difrlltogramas de partículas orientadus segundo o eixo-C de interestratificados' do tipo 10 - 14nr, lllita e Clorita
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2° 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 282° 4 6 8 10 12 142° 4 6 8 10 12 14
OBRAS CONSULTADAS

BRINDLEY, G. W. et alii - The X-ray identljic- LUCAS, J. - La transformation des minéraux argi-
ation and crystal structures of clay minerals. leux dans la sédimentation; études S1l1' les argiles
London, G. Brown, 1961.
du Trias. Strasbourg, Université, 1962. 202 p.
CAILLERE, S. & RÉNIN, S. - Minéralogie des
argües. Paris, Masson, 1963. (Strasbourg. Université. Mémoires du Ser'Vice
GRIM, R. E. - Clay mineralogy. New York, de la Carte Géologique d' Alsace et de Lorraine,
McGraw RiU, 1953. n, 23).

SYNOPSIS - A. great deal of the knOll'ledge we have on clays is due to


X-ray dijjractomet1'y, which permits to investigate the struclllre of minerais.
TVith this techniqlle one can define the type of crystalline network of clays
throllgh its dimen.sions, grade of heterogeneity, and expanding ar shrinking
properlies, characleristics of the mineral grOllps.
lt' s in the stlldy of sedimentary series and soils that one needs more
the use of dijjractometry ave r the argillaceous fraction, since lhe redllced
dimension of particles and the intimate coexistence of clays of severa I groups
and species there present leave little to the aplicai and chemical st1tdies.

(Originais recebidos em 17-VllI-67.)

B. téc. PETROBRÁS, Rio de Janeiro, 11 (1): 123-135, jan./mar. 1968

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