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a
Divisão de Geologia do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
IPT Cidade Universitária, 05508 - 901 São Paulo - SP
b
Instituto de. Geociências e Ciências Exatas - Unesp/Rio Claro - SP
e-mail: jfmotta@ipt.br
1. Introdução e Objetivos
Em artigos anteriores foram apresentados o panorama filito, apresentam características plásticas menos pronun-
técnico-econômico do setor cerâmico e as características ciadas e fundência mais elevada, e serão abordados dentro
das massas cerâmicas básicas utilizadas19,20. No presente das matérias-primas não-plásticas, junto com os minerais
trabalho objetiva-se apresentar as características geológi- e rochas fundentes.
cas e tecnológicas das matérias-primas plásticas, sendo tra- O termo argila sensu lato é empregado para designar
tadas mais especificamente as argilas de queima um material inorgânico natural, de granulometria fina, com
avermelhada, que se referem às argilas quaternárias e argi- partículas de poucos micrômetros, que apresenta compor-
las de bacias sedimentares; e as argilas cauliníticas de quei- tamento plástico quando adicionada uma determinada
ma clara, que incluem as argilas plásticas e caulins. quantidade de água. Do ponto de vista sedimentológico e
Em artigo posterior serão enfocadas as matérias-pri- granulométrico, a fração argila corresponde ao conjunto
mas não-plásticas, como feldspato, quartzo e carbonatos, de partículas inferiores a 2 µm ou 4 µm, segundo as esca-
finalizando a série de trabalhos iniciada com o perfil das las de Attemberg e Wentworth, respectivamente.
indústrias cerâmicas brasileiras. Mineralogicamente, as argilas são constituídas predo-
minantemente de argilominerais (filossilicatos), e seus ti-
2. Generalidades pos mais comuns são formados de folhas tetraédricas (T)
As matérias-primas aqui abordadas referem-se basica- de silício e octaédricas (O) de alumínio, e, com menor fre-
mente às argilas e ao caulim, substâncias constituídas ma- qüência, de magnésio e/ou ferro. Constituem unidades
joritariamente de argilominerais, minerais do grupo dos estruturadas na proporção 1:1 (TO) ou 2:1 (TOT). Além
filossilicatos. Outros materiais deste grupo, como talco e do arranjo estrutural, o espaçamento basal dessas unida-
bientes geológicos principais, as argilas quaternárias e de em água ou sujeitas a inundações periódicas, que exercem
bacias sedimentares. influência no comportamento tecnológico do material. As
argilas quaternárias são a variedade que apresentam umi-
3.1. Argilas quaternárias dade alta e alta plasticidade, propiciando boa trabalha-
Na paisagem atual das áreas continentais, encontra-se bilidade para os processos cerâmicos de conformação plás-
uma série de ambientes propícios ao acúmulo de argilas tica, a exemplo dos produtos extrudados, tais como tijolos
detríticas. Nessas áreas emersas, dois locais são destaca- e telhas, até mesmo para a produção artesanal (olarias) ou
dos: a várzea, que é o ambiente mais tradicional acumula- com equipamentos de pequeno porte. Entretanto, argilas
dor de argila nas regiões interiores e a planície costeira, puras constituem bolsões dentro dos ambientes de várzea
junto às regiões litorâneas. Esses locais são zonas saturadas e da planície costeira, onde elas estão associados a argilas
Nota: P.F. Perda ao Fogo; * = média de 5 agrupamentos litológicos das Formação Corumbataí (Christofoletti 2003); ** = desvio padrão; K caulinita; I illita; E esmectita, I/E camada
Fonte Usos
1, 2a
tos para as argilas de queima avermelhada (várzeas de rios
1,2
2b
2b
ni
1
1
1
2
e, subordinadamente, nas planícies costeiras).
Fontes: A = arquivo do autor; 1 = Vieira et al. (1998); 2 = Conceição Filho & Moreira (2001); 3 = Christofoletti (2003); 4 = Fernandes et al. (1998); 5 = Geremias (2003)
mista illita/esmectita, ni não identificado, X composição predominante, x composição secundária; Usos: 1 Tijolos, blocos e telhas, 2 Revestimentos a) via seca, b) via úmida.
Ocorrem na forma de lentes, geralmente de pequeno
A
A
1
2
3
5
2
porte, intercaladas em sedimentos arenosos, areno-argilo-
sos e orgânicos. Outras ocorrências de argilas cauliníticas
de queima branca podem estar associadas a sedimentos
pré-atuais (plio-leistocênicos), podendo estar mais alça-
semiquantitativa DRX
I/E
ni
ni
ni
ni
ni
ni
x
-
-
dos topograficamente em relação às várzeas. Nas bacias
Mineralogia
ni
E
x
-
-
se mais raros.
Os depósitos de alteração intempérica ou alterita (ALT)
ni
ni
X
x
x
I
-
constituem mantos de alteração in situ sobre rochas porta-
doras de minerais alumínio-silicáticos. Esses depósitos fo-
K
X
X
X
x
x
x
-
-
ram gerados sobretudo durante o período cenozóico e apre-
sentam forte controle geomorfológico na sua formação e
distribuição. Se as condições de lixiviação são excessivas,
formam-se também minerais como a gibbsita. Esses casos
10,0
10,0
5,68
7,28
6,29
4,37
P.F.
6.7
9,2
-
0,07
0.21
0,39
0,18
0,15
0,59
0,28
1,60
5,30
1,33
4,01
1,72
4,51
1,65
K2O
3.4
1,70
0,59
2,73
1,39
1,53
1,65
Tabela 2. Características químicas e mineralógicas de algumas argilas de queima avermelhada
2.8
um mesmo depósito.
CaO
0,20
0,07
0,13
0.07
0,36
0,25
0,61
0,19
0,85
1,50
1,37
0,62
1,05
0,58
0,57
1.2
-
0,8**
3,76
11,6
6,6
7,8
7.4
4,5
2,0
6,1
14,4*
1,1**
23,4
20,1
16.6
25,8
15,4
21,2
15,9
15,2
59.9
51,7
66,6
71,4
60,5
69,2
Patterson 197511,21,33.
Se por um lado a presença de matéria orgânica é muito
Bacia do Recôncavo (BA)
Taguá – Fm Corumbataí
Taguá – Fm Corumbataí
Tambaú (SP)
Campos RJ
41
Figura 3. Distribuição das principais ocorrências de argilas plásticas e caulins no Brasil.
País, mas dada à rigidez locacional – próximo às cerâmi- Florianópolis. Anais...ABC. (CD-ROM), 2001.
cas e aos centros urbanos – a mineração deste material 2. Biondi, J.C; Lopes, A.P.; Cury, L.F.; Canestraro, I.R.
está passando por uma adequação quanto ao Geologia e Petrologia do Minério para revestimento
disciplinamento e competição com outras formas de uso e cerâmico da Mina de Bateias (Cerâmica Porto Bello).
ocupação territorial. 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica. Florianópolis.
Anais...ABC. (CD-ROM), 2001.
Referências 3. CBPM - Companhia Baiana de Recursos Minerais.
1. Biondi, J.C; Santos, E.R.; Gianini, P.C. Modelo Geoló- 2003. Catálogo das metérias-primas cerâmicas da
gico e Geoquímico do Depósito de Caulim da Mina Bahia. Salvador: CBPM:IPT, p. 95, 2003.
Fazendinha, Mineração Tabatinga (Tijucas do Sul – 4. Conceição Filho, V.M.; Moreira, M.D. Depósitos de ar-
PR). 45º Congresso Brasileiro de Cerâmica. gila do Recôncavo Baiano – geologia e potencialidade
Figura 5. Perfil geológico-geomorfológico esquemático do Estado de São Paulo, com distribuição dos depósitos de argilas cauliníticas.
Figura 7. Perfil geológico-geomorfológico esquemático do Nordeste (PE/PB/RN), com distribuição dos depósitos de argilas cauliníticas.
econômica. Companhia Baiana de Pesquisa Mineral. UNESP), Rio Claro, p. 187, 2003.
Salvador. CBPM. Série Arquivos Abertos, 15, p. 46, 7. Deens, T. F.; Vincent, T. Ball clay development in the
2001. Americas. Mining Engineering. Feb. 97. p. 30-33,
5. Conceição Filho, V.M. Projeto Argilas do Sul da Bahia. 1997.
Salvador: CBPM, 2001. 8. Facincani, E. Tecnologia ceramica – I laterizi. Gruppo
6. Christofoletti, S.R. Um modelo de Classificação Geo- Editoriale Faenza Editrice. Faenza. Italia. Seconda
lógico-Tecnológica das argilas da Formação edizione, p. 267, 1992.
Corumbataí utilizadas nas indústrias do Pólo Cerâmico 9. Fernandes, D. M. de P., Berg, E. A. T., Arroyo, I. K.
de Santa Gertrudes. (Tese de Doutoramento – IGCE/ Estudo de folhelhos visando a obtenção de grês para
Nota: M= morfologia: L = Lamelar- apenas caulinita, T = Tubular – com halloisita; Mineralogia: K = caulinita, Mi = mica, F = feldspato, Q = quartzo; tr = traços; Locais/
10
1998.
11
nr
nr
Q
tr
tr
7
1
1
1
2
-
10. Geremias, M.L. Características das Argilas da Ba-
Mineral
nr
nr
nr
nr
nr
nr
nr
nr
F
9
-
-
-
na fabricação de pisos cerâmicos. (Tese de
Doutoramento - EPUSP), São Paulo, CD-ROM,
Mi
17
15
nr
nr
tr
2
6
6
4
7
7
-
2003.
11. Holdridge, D.A. Ball clay and their properties. Brit.
93
71
89
97
99
93
94
96
90
82
85
K
13.7
15,8
14.0
13.6
13.0
12.1
11,0
13.1
11.1
P.F.
0.07
0.06
0.08
0,11
0.08
0,05
0,70
0.12
0.43
0.12
0.08
0.18
0.54
0.28
1.20
0,16
0,15
0.21
0.74
1.25
2.40
1.10
CaO MgO K2O
Composição Química (% em Peso)
p. 120-127, 2003.
15. Millot. G. Geology of clay: weathering, sedimentology,
geochemistry. New York: Springer-Verlag, p. 429, 1970.
0.03
1,55 <0,01 0,34
0.21
0.26
1,23 <0,05 0,51
0,02
0.05
0.12
0.16
0.44
0.11
0.9
0.05
0.03
0.05
0.05
0.05
0.07
0.04
0,03
0.24
0.02
0.01
0.01
0.14
0.05
0.01
0.74
0.25
0,45
0.05
0.26
0.36
1.40
0.71
0.34
2,20
1,35
1,25
0.53
0.98
2, p. 158-173, 1993.
18. Motta, J.F.M. Tanno, L.C., Zaine, J.E., Valarelli, J.V.
Diagnóstico da produção de argila para cerâmica no Mu-
Fonte: Wilson et al. (1998); 1,2,3 Conceição Filho & Moreira (2001).
Al2O3
39,2
37
39
39
39
39
35
40
34
36
34
30
39,9
45
46
46
46
46
49
45
51
45
52
57
M. Pascoal (BA) 3
Jundiapeba (SP)
S. Bento (SC) 4
S. Bento (SC) 5
Piracaia (SP)
LocalL/Tipo
Junco (PB)
Embu (SP)
T
L
L
L
L
T
T
T
T
T
T
Anortosito
Pegmatito
Vulcânica
Argilito,
Siltito
Mãe
Mestrado). São Paulo, p. 141, 1991. Catarina. Cerâmica Industrial. São Paulo:, v. 8, n. 4,
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