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Modernidade em Marx e Weber PDF
Modernidade em Marx e Weber PDF
Marcelo Cedro
INTRODUÇÃO
concepções de Modernidade em Karl Marx e Max Weber. Serão abordados aspectos que
O contexto em que viviam era a partir da 2ª metade do século XIX. Marx, mais
velho, viveu a herança das transformações do século anterior, enquanto que Weber
Desse modo, primeiramente será feita uma exposição acerca dos vários pontos de
vista, recorrendo a vários autores, sobre a Modernidade ao procurar entender sua gênese.
Tal intuito visa contribuir para a compreensão da época moderna ao relacionar suas várias
concepções e características.
à Modernidade. Como os autores pensam a época moderna? Eles a têm como objeto de
estudo? Quais os aspectos que a diferenciam e lhe dão especificidade em relação aos
Sendo assim, o objetivo central desse trabalho é encontrar elementos nas idéias de
Marx e Weber que os possam inserir na Modernidade, além de procurar saber o que eles
pensam a respeito dessa época, que é afinal a época vivida por eles.
3
DESENVOLVIMENTO
1- MODERNIDADE
trabalho.
Uma importante distinção é feita por Jurgen Habermas no que se refere aos termos
palavra foi introduzida nos anos 50 para se referir às mudanças e avanços no aspecto
estrutural:
Já o Modernismo foi empregado como ruptura aos padrões antigos nas artes durante
tem de ser estudada como algo mais amplo do que mudanças estruturais e artísticas: um
novo modo de pensar difundido pela humanidade. Não se pode falar em “uma
1
HABERMAS, Jürgen. O Discurso filosófico da Modernidade. Trad. Ana Maria Bernardo et al. Lisboa:
Dom Quixote, 1991.p.14
2
BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade. Trad. Teixeira Coelho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
Coleção Leitura, p.25
4
modernidade”, mas “as modernidades” como processos complexos que abrangeram vários
incorpora uma multiplicidade de conceitos. Vários autores expõem suas análises que às
Novo Mundo, Renascimento e Reforma Protestante do século XVI. Mas ele enfatiza que
pelo fato de se abrir ao futuro. O começo do novo repete-se e perpetua-se a cada momento
crítica, autonomia ao agir, reflexão da fé, soberania do Estado, declaração universal dos
processo de ruptura com o „velho‟, criando-se novos parâmetros, mas também continuando
e agarra-se à imanência, na qual ele existe enquanto homem, sem a interferência divina do
3
HEGEL, Georg F. Wilhelm. In: HABERMAS, Jürgen. Op.cit.p.18
4
Op.cit.p.18
5
Op.cit.p.27
6
BLUMENBERG, Hans. Naufrágio com espectador. Trad. Manuel Loureiro. Lisboa: Veja,1995.
5
Medievo. Todavia, ainda teme a Deus, vivendo assim, nesse dualismo conflitivo. O
homem passa a ser dinâmico, pois ele não se fixa mais à ruralidade e ao controle feudal e
sim, à liberdade, aventura, vontade de ganhar dinheiro, que ele encontra na mobilidade
urbana. Sua posição não é mais coletiva como na Idade Média, surgindo um
individualismo que o leva a crer em sua própria capacidade de fazer História. O homem
vive uma vida dupla, ou seja, o concreto e o abstrato se interpenetram, o primeiro inserido
em seu novo mundo cotidiano e o segundo enraizado nos seus sentimentos e emoções.
Modernidade se inicia no século XVI e vai até o final do século XVIII, na qual as pessoas
Todavia, as pessoas ainda não têm noção do que ocorre, ou seja, elas não têm com quem
século XIX, segundo Berman, não se chegava a ser moderno por inteiro, pois ainda havia
uma dualidade de idéias concernentes aos antigos preceitos. O autor fala que no século XX
Henri Lefebvre aponta uma outra visão ao dizer que a Modernidade nasceu no
ainda afirma que, nos períodos anteriores, a Modernidade se manifestou como uma perda
da ingenuidade e ilusão.8
7
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. 10ªed. Trad. Carlos Felipe Moisés, Ana Maria
Toriatti. São Paulo: Cia das Letras, 1986.p.16-27
8
LEFEBVRE, Henri. Introdução à Modernidade. Trad. J.C. Souza. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1962.p.265
6
Weber se preocuparam em estudar o capitalismo, uma questão atual na época deles. Desde
Moderna. O estudo desses dois sociólogos é baseado nos efeitos que o sistema capitalista
são aspectos abordados por eles que os fazem pensadores modernos. Já que, segundo
2-MARX E A MODERNIDADE
Ao contrário do Iluminismo que era político e o Liberalismo que era econômico, suas
sociedade comunitária.
transformações do séc. XVIII (Iluminismo e Rev. Industrial). Aquele século foi marcado
onde este se desenvolveu em primeiro lugar. A partir da realidade inglesa foi criada a
teoria.
9
GIDDENS, Antony. Conseqüências da Modernidade. Trad. Raul Fixer. São Paulo: Unesp, 1991.p.11
7
O Marxismo quis ter uma estatura científica, por isso ele era filho de seu tempo, de
suas relações (troca, produção, mais-valia, mercadoria, divisão do trabalho etc.), para
capitalismo e a Modernidade, para Marx, caminhavam lado a lado, como mostra Giddens:
época moderna.11 Uma característica moderna no modo de pensar de Marx é quando ele
proletariado), ao passo que em épocas anteriores a concepção divina tomava esse lugar.
Desse modo, Marx usa uma metodologia moderna a partir do materialismo histórico ao
inserir o ser humano no processo histórico, valorizando a História como força motriz do
desenvolvimento econômico.
10
Op.cit. p.20
11
Op.cit.p.17
8
Assim como o capitalismo é inerente à época moderna, as classes advindas dele são
burguesia e do proletariado. A primeira, segundo ele, foi a que gerou as mais profundas
romper com o Antigo Regime reacionário. A burguesia acabou com as relações feudais
navegação e indústria.
12
MARX. Karl, ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. Trad. Maria Lúcia Como. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1996. Col. Leitura.p.14
9
sociedade moderna. O modo econômico instaurado pela burguesia exige que haja
obrigados a procurar sempre novidades para que possam competir com os seus
semelhantes burgueses. Aquele que tiver melhores idéias e possuir melhor tecnologia
partir de uma época. Assim como afirma Giddens, “um contraste com a tradição é inerente
à idéia de modernidade.”13 O que é antigo e tradicional não mais interessa, mas sim a
deixando de haver padrões permanentes. O que é novo dura até que se descubra uma outra
forma mais nova ainda. Assim quando ele fala que „tudo que é sólido desmancha no ar‟,
ele se refere a todos os preceitos antigos que perduraram por várias gerações, frutos da
Houve a dessacralização do mundo, na qual os homens podem conduzir suas vidas por si
mesmos. “Um mercado mundial que a tudo abarca, em crescente expansão, capaz de um
regime feudal, ela instituiu outro tipo de exploração: o trabalho industrial Ao mesmo
tempo que a classe burguesa foi, e é, revolucionária, ela também explora. Através da
exista a outra classe para produzi-lo, o proletariado, sendo este uma necessidade da própria
13
GIDDENS, Antony.op.cit.p.43
14
BERMAN, Marshall.op.cit.p.18
10
homem ao trabalho repetitivo e estafante. Desse modo, Marx tem a consciência de sua
época e para que haja a supressão dos dilemas da Modernidade, uma classe moderna deve
classes.
A cooperação que era uma inovação, progrediu até a manufatura. Na primeira ainda não
trabalho; o trabalhador ainda pode ser dono de seus meios de produção, embora suas
tarefas sejam parciais. Marx aborda a divisão do trabalho como aquela que mudou as
relações produtivas e humanas. Para ele, a essência da natureza humana era manifestada no
trabalho. Através deste, o homem expressava toda a sua humanidade e com o trabalho
somente uma parte do trabalho que anteriormente ele fazia por completo. Há a separação
trabalho como um todo. Uns vão planejar aquele produto e outros vão ser orientados a
hierarquia também. Essa transição da perda do controle dos meios de produção acontece no
mercadorias, daí a necessidade da divisão das tarefas e a separação dos meios de produção
burguesa. Através dele, a burguesia tira o seu lucro. Marx analisou o funcionamento do
valia, ou seja as horas trabalhadas que não eram remuneradas. A variação da mais-valia
A instituição das máquinas contribuiu ainda mais para quebrar com antigos padrões. Um
rapidamente treinada, já que realizaria tarefas fáceis e repetitivas. Desse modo, com o
serviço de fácil aprendizagem, era comum que nas fábricas empregassem mulheres e
crianças que poderiam executar o mesmo trabalho dos homens, recebendo um salário
inferior. Assim, havia uma ruptura da tradição doméstica, em que antes, os homens saíam
ao trabalho e as mulheres tomavam conta dos filhos. Com a maquinofatura, toda a família
Um outro aspecto, abordado por Marx, exclusivo da Modernidade é quando ele fala
seu valor diante dos consumidores. A modernização capitalista faz com que as pessoas que
12
consomem se tornem dependentes daquelas que produzem, porém são indiferentes com as
consumidores. O consumo é feito pela imagem do produto e pela propaganda e não pelo
trabalho humano contido naquela mercadoria. Essa forma de pensar adotada por Marx no
século XIX continua atual cem anos depois, por isso é indiscutível a possibilidade de
rotular esse autor como um pensador moderno. “O termo moderno volta freqüentemente
3-WEBER E A MODERNIDADE
apresentam a mesma base de análise que é a época moderna. Se, para Marx, a força que
contexto, o final do século XIX, apresenta as tensões da época moderna que culminariam
existiu no decorrer dos tempos, assim também ao impulso e desejo de acumular, sendo este
diferente do capitalismo. O que difere, no que ele chama de capitalismo moderno, é a ação
15
LEFEBVRE, Henri. Op.cit.p.199
13
associa sua origem junto com o capitalismo (já que, para ele sempre existiu), mas sim com
uma nova organização industrial racional. Ele fala de um capitalismo moderno (divide o
capitalismo em antigo e moderno) que instituiu uma nova organização voltada para o
mercado, como também o cálculo exato e que separou a empresa do trabalho doméstico.
Essa contabilidade racional, para Weber, só poderia existir se houvesse o trabalho livre,
desenvolvimento econômico.
então, Weber salienta a enorme importância do Estado como condutor da era moderna.
16
WEBER, Max. A ética protestante o espírito do capitalismo. 12ª ed. Trad. M. Irene Szmrecsányi e Tamás
Szmrecsányi. São Paulo: Pioneira, 1997.p.7
14
Esse ponto de vista diverge de Marx, já que este atribuiu um papel secundário do Estado
em relação ao econômico e social. Para ele, o Estado servia à classe dominante. Já para
“Em um Estado moderno, o verdadeiro poder está necessária e inevitavelmente nas mãos
da burocracia, e não se exerce por meio de discursos parlamentares nem por falas de
Para Weber a era moderna se inicia após a Reforma Protestante na qual houve uma
racionalização na conduta dos indivíduos. O autor, através de seu estudo acerca da „ética
protestante‟ procura provar que a conduta religiosa pode determinar a sociedade moderna,
assim como suas relações, e não apenas derivadas do aspecto econômico como pensava
Marx.
Weber faz questão de mencionar que sua idéia não significa que o capitalismo vai
se originar com a reforma, mas uma conduta religiosa baseada em ações racionais foi um
dos fatores que ajudaram o seu desenvolvimento. A religião protestante, nesse caso, é uma
capitalista. Para explicar melhor, Weber recorre ao calvinismo a partir de sua doutrina da
predestinados. Todavia, não havia como saber, em vida, se ele era ou não predestinado.
17
GIDDENS. Antony.op.cit.p.21
15
Somente após a morte seria feito o encaminhamento daqueles que iriam ao céu ou ao
Ele não podia demonstrar sua dúvida, assim estaria se entregando. Daí, como
mostrar sua posição, como agradar a Deus? Como considerar-se escolhido e combater as
como meio mais adequado. Ela, e apenas ela, afugenta as dúvidas religiosas e dá a certeza
da graça.”19 Como identificar a fé verdadeira? Uma conduta cristã para aumentar a glória
de Deus. Como? Através do trabalho. Aqui, Weber afirma que a Reforma, através da
Nos séculos XVI/XVII esse era um dilema do homem moderno. O conflito barroco
desprovido de ilusões referentes aos dogmas tradicionais católicos. Ele segue uma conduta
racional para chegar à salvação. Desde então, Weber associa a divisão do trabalho como
18
WEBER, Max. Parlamentarismo e governo numa Alemanha reconstruída. In textos escolhidos.
trad.Maurício Tragtenberg. São Paulo: Nova Cultural, 1997. Os Economistas.p.39
19
WEBER, Max. A Ética protestante Op.cit.p.77
20
Op.cit.p.72
16
indivíduo em que ele poderia desenvolver sua vocação. Assim, ele estaria agradando a
racional nas tarefas diárias, não permitindo o ócio e o desperdício de tempo, condições
Portanto, para Weber, a ética protestante adquire uma peculiaridade ao instituir uma
maneira de ver o trabalho, mas também instituiu novas relações de convívio entre os
“Muda , portanto, uma forma de perceber e encarar o mundo, muda a forma como
a cultura ocidental se vê, a sua especificidade em relação a todas as outras culturas e
civilizações. Para usar a linguagem de Weber, constitui-se o seu racionalismo específico:
o racionalismo de dominação do mundo. O racionalismo de dominação do mundo é a
entronização da razão instrumental como princípio básico e fundador da sociedade
ocidental moderna”.21
21
SOUZA, Jessé. Homem, cidadão: ética e modernidade em Weber. Lua Nova (33) São Paulo, 1994. P.137
17
CONSIDERAÇÕES FINAIS
convergentes acerca do capitalismo são mais amplas do que as mencionadas neste trabalho,
contudo, o objetivo aqui proposto foi demonstrar o espírito moderno presente nos dois
pensadores: novas idéias, até então inéditas, preocuparam em distinguir a época moderna
que presenciaram.
uma hora para outra, mas através de contradições inseridas em um processo histórico.
Marx inovou ao falar de classes sociais como regentes do processo histórico. Estudou o
exploração.
análise como decorrente de um processo histórico. ele comparava as ações modernas com
22
ARON, Raymond. As Etapas do pensamento sociológico. Trad. Sérgio Bath. São Paulo: Marins Fontes,
1999.p.531
18
aspecto econômico. A economia não é mais importante do que a religião e nem vice-versa.
Para Weber não é a vida material que determina a sociedade, a política ou a cultura, assim
como dissera Marx. O capitalismo pode ser influenciado pela religião ou outros valores
éticos que agem na conduta dos homens. Weber atribuiu um papel ao Estado como
antiga e tradicional, a ciência, política, direito, religião eram pertencentes a uma única
racionalidade.
Um elemento que não foi aqui abordado pelo fato de que poderia desvencilhar e
alongar ao tema aqui proposto é as formas de dominação propostas por Weber. Todavia,
Portanto, apesar de haver equívocos em alguns aspectos na obra dos autores e que
não cabem aqui ser abordados, ambos concordam em um ponto: o ceticismo do homem
material era obtido apenas à custa de uma expansão da burocracia que esmagava a
23
HARVEY, David. Condição pós-moderna. 8ª ed. trad.:Adail Ubirajara, Maria Stela. São Paulo: Loyola,
1999.p.107
24
GIDDENS, Antony. Op.cit. p.17
25
ARON, Raymond. Op.cit. p.502
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARON, Raymond (1999), As etapas do pensamento sociológico. Trad. Sérgio Bath. São
Paulo: Martins Fontes
BENDIX, Reinhard (1986), Max Weber, um perfil intelectual. Trad. Elisabeth Hann e José
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GIDDENS, Antony (1991), Conseqüências da Modernidade. Trad. Raul Fixer. São Paulo:
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HARVEY, David (1999), Condição pós-moderna. 8ª ed. Trad. Adail Ubirajara, Maria
Stela. São Paulo: Loyola
LEFEBVRE, Henri (1962), Introdução à Modernidade. trad. J.C. Souza. Rio de Janeiro:
Paz e Terra
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Como. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Col. Leitura
MELLO, Alex Fiuza (1999), Marx e a globalização, São Paulo: Boitempo Editorial
SOUZA, Jessé (1994), “Homem, cidadão: ética e modernidade em Weber”. Lua Nova (33)
134-143. São Paulo
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