Naquele tempo, não havia rei naquelas terras. Já tinham
passado uns bons quinze anos, desde que Andrúzio morrera e, a partir dessa altura, não existia outra lei, além daquela a que costumam chamar a lei do mais forte. Quer isto dizer que, quem tinha força, fazia o que lhe apetecia, mesmo que isso contrariasse a mais elementar justiça. Os poderosos eram certos senhores, cheios de ambição e vazios de bons sentimentos. Juntavam, nas suas terras, grandes grupos de homens armados e percorriam o país roubando e espalhando a destruição. Os fracos, como sempre, eram os pobres, os doentes e aqueles que não tinham jeito ou feitio para usar armas. Andrúzio tinha governado o país com bondade e sabedoria, durante vinte anos, mas morrera sem ter deixado filhos. Na verdade, tivera um filho, um belo rapaz, a quem dera o nome de Eric. Eric, se fosse vivo, teria dezassete anos e, decerto, seria valente e sábio como o pai. Alguns dos homens da aldeia de Sangibana lembram-se de o terem visto, em dias de festa, ao lado do rei e da rainha e recordam, apesar de ter passado tanto tempo, como o seu desaparecimento esteve envolvido em mistério.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino De. "De Araribóia A Martim Afonso - Lideranças Indígenas, Mestiçagens Étnico-Culturais e Hierarquias Sociais Na Colônia"