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EDUCAÇÃO MUSICAL
DA UNICAMP
EEMU 2020
INSS: 2447-7621
ANAIS
APOIO:
XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Reitor
Marcelo Knobel
Coordenador Geral
Teresa Dib ZambonAtvars
Pró-Reitor de Graduação
Eliana Martorano Amaral
Pró-Reitora de Pesquisa
Munir Salomão Skaf
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
INSTITUTO DE ARTES
Diretor
Prof. Dr. Paulo Adriano Ronqui
Instituto de Artes
Rua Elis Regina, 50
Cidade Universitária "Zeferino Vaz"
Barão Geraldo, Campinas-SP
CEP 13083-854
Fone: +55 (19) 3289-1510 / Fax: +55 (19) 3521-7827
www.iar.unicamp.br
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COMISSÃO ORGANIZADORA
Coordenação Geral
Profa. Dra. Adriana do Nascimento Araújo Mendes
Profa. Dra. Silvia Cordeiro Nassif
Coordenação Executiva
Ms. Fernando Vieira da Cruz
COMISSÃO DE APOIO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Coordenação
Profa. Dra. Silvia Cordeiro Nassif
Organização
Ms. Fernanda Gilberti
PARECERISTAS
APOIO
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Copyright © by organizadores, 2020
ISSN: 2447-7621
780.7
2020
ISSN: 2447-7621
XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...........................................................................................................................................2
A observação participante como método para pesquisa de campo em ensino coletivo de instrumentos
musicais ..........................................................................................................................................................43
Cindy Helenka Alves
Fernando Vago Santana
Apreciação e aprendizagem musical de idosos através do violão na era digital: um estudo sobre esta
experiência e seus desdobramentos no programa UniversIDADE da Unicamp......................................69
Gustavo Ramos Ferraz
Atividades rítmicas desenvolvidas pelo projeto PIBID na EMEF Elisa Franco de Oliveira .................86
Darlanne Santos Pereira
Ellen Dias Braun Soares
Mônica Nunes Ketle
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Canto coral como ferramenta de musicalização para adultos: um relato de experiência na Casa da
Cultura de Itupeva/SP.................................................................................................................................102
Juliana Freires Oliveira Silva
Estudo sobre o projeto político pedagógico e o guia didático do Projeto Guri para cordas
friccionadas ..................................................................................................................................................133
Daniele Salina Gonçalves Gomes
Adriana do Nascimento Araújo Mendes
How to use Basics: uma introdução à utilização dos exercícios contidos na obra de Simon
Fischer ..........................................................................................................................................................150
Emerson de Biaggi
Thayná Bonacorsi
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Livro de violão do Projeto Guri: Propostas para a promoção da educação musical através do ensino
coletivo de violão numa perspectiva pedagógica contemporânea.............................................................202
Vandersom Ricardo da Cruz
Música no novo ensino médio: as relações entre espaço escolar e um grupo auto-
organizado......................................................................................................................................................223
Tauini Mauê Santos Rosa
O ensino coletivo de violão no Curso Livre de Violão da UERN: um relato de experiência ................238
João Pedro Bezerra da Silva
Renan Colombo Simões
Relato de observações ativas realizadas em grupos de ensino de flauta doce através do Método
Suzuki.............................................................................................................................................................286
Gabrielle Alvarenga
Ilza Zenker Leme Joly
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XIII Encontro de Educação Musical
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Apresentação
uma página no facebook, onde as pessoas trocam informações, ao longo do ano, sobre cursos,
atividades e dicas para os alunos e professores, dando continuidade às discussões iniciadas no
Encontro.
A adaptação para o espaço virtual foi um grande aprendizado e um enorme desafio,
abraçado com entusiasmo pela comissão organizadora. Agradecemos imensamente a todos que
trabalharam muito para que este projeto se efetivasse, em especial aos nossos convidados e oficineiros,
que prontamente se dispuseram a adaptar suas palestras e oficinas ao formato virtual.
Finalizamos agradecendo também o apoio do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), da
Pró-Reitoria de Graduação da Unicamp, cujas bolsas oferecidas foram, e têm sido sempre, de grande
auxílio.
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XIII Encontro de Educação Musical
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amplia seus recursos de produção sonora, como balbucios e vocalizações, e passa aos poucos
a responder a voz da mãe, do pai ou cuidador e a explorar sua capacidade de produzir sons.
A relação entre a mãe e o bebê é constituída por fortes vínculos afetivos estabelecidos
ainda na gestação. Após o nascimento do bebê, salvo em condições adversas, esses vínculos
são intensificados pela constante interação entre a mãe e o bebê tanto através dos cuidados
necessários à sobrevivência, como a amamentação e a higiene, quanto através da integração
social que pontua as diferentes maneiras de comunicação com o bebê, como a fala, o toque, o
movimento de carregar ou ninar, as brincadeiras e o canto. Essa relação marcada pela
afetividade é imprescindível à sobrevivência e integração social do bebê, que em um curto
espaço de tempo se desenvolve e se torna capaz de interagir com o mundo à sua volta. Galvão
(2000, p. 60-61) afirma que entre o bebê e a mãe, além de outras pessoas próximas do
convívio, desenvolve-se uma intensa comunicação afetiva baseada em componentes corporais
e expressivos, possibilitando gradualmente que o bebê estabeleça ligações entre seus atos e os
do ambiente, tornando suas reações cada vez mais intencionais. Assim, as primeiras formas de
comunicação se dão através de interações afetivas com o bebê.
2. Afetividade e aprendizado
A afetividade desempenha um papel determinante nos processos de aprendizagem e,
consequentemente, no desenvolvimento (Leite, 2012). Com base na perspectiva histórico-
cultural de Vigotski, que relaciona a ideia de constituição sociocultural do indivíduo ao seu
desenvolvimento e aprendizado, podemos refletir sobre a relação afetiva entre a mãe e o bebê
nos processos de aprendizagem. Vigotski (2007) afirma que o indivíduo se constitui através
das relações que estabelece com outros indivíduos e com seu meio cultural em um processo
histórico. Considera também que esse contato entre o indivíduo e o mundo não se dá de forma
direta, mas essencialmente mediada por outros indivíduos e sistemas simbólicos, ou seja,
através da mediação social e da mediação semiótica. A interação social é colocada como um
aspecto central no desenvolvimento do indivíduo, pois é através dela que se dá o aprendizado
das formas de funcionamento e comportamento de um determinado grupo.
Nesse contexto, o contato do bebê com o universo sonoro e a música, assim como
outros sistemas semióticos como a linguagem, é mediado por outros indivíduos. As interações
sociais são determinantes no processo de internalização musical e é através delas que os
valores sociais culturalmente partilhados atribuídos à música e às diversas formas de
manifestação sonora são transmitidos. Assim como a linguagem, nessa perspectiva teórica o
processo de apropriação musical ocorre através das interações cotidianas do bebê com a
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XIII Encontro de Educação Musical
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música, além dos aprendizados sistematizados escolares. Desta maneira, a mãe, ao interagir
musicalmente com o bebê através de cantigas de ninar e brincadeiras musicais, entre outras
formas, está atuando como mediadora entre o bebê e o universo sonoro e musical.
O ambiente físico e social também desempenham um papel fundamental no
desenvolvimento do indivíduo, que se constitui de maneira única, não previsível e dinâmica
em uma relação dialética com seu ambiente sociocultural. Segundo Vigotski (2007), o contato
com o ambiente ou com outros indivíduos por si só não é capaz de promover o
desenvolvimento, pois este também depende da interação do indivíduo com o meio. Sendo
assim, o contexto social e o meio podem fornecer condições favoráveis ou não, definindo
potencialmente possibilidades ou limites para o desenvolvimento, mas este também é
condicionado à atuação do indivíduo. A subjetividade e a particularidade da interação de cada
indivíduo na construção das relações que estabelece com o mundo colocam o sujeito como
um ser ativo, que influencia seu ambiente sociocultural ao mesmo tempo em que é
influenciado por ele.
Assim, o bebê ao nascer em um ambiente onde a música é valorizada terá maiores
possibilidades de se desenvolver musicalmente. Em um meio onde a música é reconhecida
como um valor, provavelmente o bebê terá contato com um repertório variado, com a prática
e o uso da música como forma de interação, através da mãe e de outras pessoas afetivamente
ligadas a ele, além de ser estimulado através de brinquedos sonoros e instrumentos musicais.
Mas como coloca Nassif (2016, p.4) "Essas possibilidades, entretanto, não serão garantia de
um desenvolvimento musical, pois isso dependerá também da forma como ela (a criança)
usará esse meio”. A exposição de um indivíduo à linguagem musical ou sua imersão em um
ambiente musical por si só não gera condições suficientes para que se desencadeie um
processo espontâneo de aprendizagem desta linguagem. Para que isto ocorra é imprescindível
a intervenção de outros indivíduos na mediação entre a linguagem musical e o indivíduo.
Cada bebê vivencia a música de uma maneira única e particular, o que afeta
diretamente a constituição de sua musicalidade. Em sua teoria Vigotski (2010) aborda o
conceito de perejivanie (do russo), traduzido como vivência 1, que nos permite compreender o
papel e a influência do meio no desenvolvimento psíquico da criança. Segundo Vigotski, o
meio social é fonte de desenvolvimento e as relações entre o indivíduo e o meio se dão
através da perejivanie, ou vivência, de maneira única e pessoal (Veresov e Fleer, 2016). O
caráter individual dessas relações é determinado justamente pela perejivanie, que refrata
certos aspectos do meio em uma interação dialógica entre o indivíduo e o meio. Porém,
apenas os componentes do meio refratados pela perejivanie serão significativos para o
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XIII Encontro de Educação Musical
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desenvolvimento, que ocorre de forma diferente para cada indivíduo. Assim, podemos afirmar
que cada bebê irá vivenciar a música de uma maneira única e individual, estabelecendo
relações diferentes de outros bebês com as situações e o contexto, tanto físico quanto social,
que envolve as experiências musicais. Apenas determinados elementos serão significativos e
interpretados pela vivência do bebê, influenciando seu desenvolvimento musical de modo
singular.
Wallon destaca o papel do afeto no desenvolvimento do bebê. Assim como Vigotski,
trabalha com o pressuposto de que o desenvolvimento da criança está intimamente ligado à
relação que ela estabelece com o meio físico e social. Wallon (2007) descreve três campos
funcionais da atividade infantil: afetividade, motricidade e cognição. Vinculados entre si e
interagindo constantemente, o conjunto dos três campos integrados corresponde à pessoa, ou
um quarto campo. A teoria walloniana propõe estágios de desenvolvimento nos quais há a
predominância da afetividade ou da cognição alternadamente.
No estágio impulsivo emocional, que compreende a fase de 0 a 1 ano de idade, o afeto
predomina e orienta as interações do bebê com o meio. Segundo Galvão (2000, p.45), o
primeiro estágio é marcado por “uma afetividade impulsiva, emocional, que se nutre pelo
olhar, pelo contato físico e se expressa em gestos, mímica e posturas”. A indiferenciação
caracteriza esse primeiro período, no qual o recém-nascido percebe-se fundido nos objetos,
nas situações familiares e nos outros. É através da interação com o meio físico e social, que
nessa etapa se dá predominantemente pelo afeto, que o bebê irá pouco a pouco adquirir
consciência de si percebendo seus limites corporais, o mundo físico e o outro de maneira
diferenciada, construindo seu "eu corporal” e seu "eu psíquico”.
Podemos pensar a partir dos pressupostos de Wallon e Vigotski que a mãe, assim
como aqueles com os quais o bebê tem uma relação afetiva próxima, desempenha um papel
fundamental no desenvolvimento musical do bebê. Considerando o vínculo afetivo existente
entre a mãe e o bebê, o contato musical através da interação afetiva materna provavelmente
será determinante na relação que o bebê estabelecerá com a música e, consequentemente, na
constituição de sua musicalidade. Beyer (2003, 2008) destaca como a participação e o
interesse da mãe ou do cuidador influencia a forma de interação dos bebês com a música,
assim como seu desenvolvimento.
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XIII Encontro de Educação Musical
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fazer musical enquanto vivência e com o momento de interação entre a mãe e o bebê através
da música e dos sons. Desta maneira, os primeiros contatos musicais cotidianos se qualificam
como fonte de vivências e experimentações sonoras e musicais fundamentais para o
desenvolvimento musical do bebê.
4. Considerações preliminares
Considerando que o aprendizado musical se inicia em situações cotidianas e que o
afeto desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do bebê, torna-se necessário
refletir sobre a constituição da relação afetiva entre a mãe e o bebê enquanto uma forma
singular e privilegiada de entrada da música na vida do bebê. O contato com a música no
contexto familiar e não escolarizado através do vínculo materno propicia vivências únicas e
determinantes para o desenvolvimento musical do bebê devendo, portanto, ser valorizado e
estimulado.
Pesquisas apontam que atualmente as mães cantam menos para seus bebês,
acreditando que gravações ou o ensino formal de música possam contribuir mais para a
formação musical da criança (TREHUB, 2002). Porém, segundo Trehub, o contato com a
música através da interação com a mãe apresenta uma qualidade de respostas e atitudes do
bebê notadamente superiores em relação às gravações, revelando que as interações musicais
entre a mãe e o bebê têm uma qualidade humana e afetiva mais significativa para o processo
de aquisição musical e inserção na cultura do que gravações e outros suportes que excluem o
contato humano direto. Nesse sentido, a recuperação da atividade musical enquanto atividade
humana no cotidiano da mãe e do bebê deve ser incentivada, pois representa uma contribuição
determinante junto a outros estímulos musicais e experiências escolares para o
desenvolvimento musical da criança.
O estudo do desenvolvimento musical de bebês ainda é uma temática pouco
explorada, sendo que as pesquisas sobre o assunto focam principalmente na abordagem da
música e sua relevância enquanto uma ferramenta auxiliar para o desenvolvimento em outras
áreas. Conforme aponta Martinez (2017), diversas pesquisas destacam a música enquanto
uma atividade que contribui para o desenvolvimento cognitivo, motor e psicológico, como
Fonseca (2005) e Silva (2015), elencando diversos benefícios do aprendizado musical, como
por exemplo, para a linguagem ou o estímulo do desenvolvimento social e afetivo, além de
discutirem propostas de currículo, como Soares (2008), e a formação musical de professores,
como Mariano (2015) e Tormim (2014). Porém, apesar das contribuições dessas pesquisas
para o ensino, acreditamos que para promover maiores avanços na área de educação musical a
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XIII Encontro de Educação Musical
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música também deva ser pesquisada enquanto uma forma de desenvolvimento das
capacidades estéticas do indivíduo, considerando-se a relevância do desenvolvimento musical
e artístico na constituição do ser humano e indo, portanto, além das contribuições que o
contato com a música gera em outras áreas.
Outro aspecto comum às pesquisas relacionadas ao tema é o foco dos estudos no
desenvolvimento musical do bebê e não na relação com a mãe ou o cuidador. Apesar de
alguns estudos fazerem referência à mãe ou adulto próximo, como Amorim (2017), Stifft
(2008) e Stahlschmidt (2002), a relação entre o bebê e a mãe não é estudada como parte
intrínseca e determinante do processo de constituição musical do bebê. Dentro dessa
perspectiva, estudar como a relação afetiva entre a mãe e o bebê pode influenciar o
desenvolvimento musical da criança e contribuir de maneira significativa na ampliação das
discussões sobre educação musical a partir de outras abordagens.
Referências
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TREHUB, S. E. Mothers are musical mentors. Zero to Three, 23(1), p. 19-22, set. 2002.
______. Pensamento e Linguagem. Trad.: J. L. Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
______. Quarta aula: a questão do meio na pedologia. Psicologia USP, São Paulo, n. 21, p.
681-701, 2010. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/psicousp/article/view/42022/4569
0>. Acesso em: 05 jul 2019.
Notas
1
Prestes (2010, p.121) traduziu perejivanie como vivência por esta palavra ser a que mais se aproxima do
sentido original do termo em russo.
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Leandro Barsalini
Universidade Estadual de Campinas
lebar@unicamp.br
Resumo: O artigo traz um relato sobre o processo de configuração das aulas coletivas de instrumento
bateria no bacharelado em Música Popular da Unicamp, destacando aspectos metodológicos
empregados pelo docente responsável, evidenciando os benefícios que essas atividades coletivas
proporcionam à formação musical de cada indivíduo.
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sempre disponível à adoção e aplicação de diferentes materiais trazidos pelos próprios alunos
que, a partir da minha observação e análise, poderiam se tornar eficientes na solução das
demandas apresentadas.
Todo esse processo me levou a organizar os oito semestres da disciplina em módulos
que, embora constantemente passíveis de adaptações, estabelecem alguma base referencial
para o desenvolvimento do trabalho. Tais módulos se configuram a partir de requisitos
técnicos, interpretativos e de coordenação múltipla na bateria, além de gêneros e estilos
musicais, e são aplicados em ordem a ser definida juntamente a cada aluno, muitas vezes
conectados aos interesses e realidades musicais vivenciadas a cada semestre. Nesse esquema,
as avaliações se fundamentam principalmente em função do comportamento de cada aluno,
seu comprometimento semanal com o material elencado para estudo, e o cumprimento dos
objetivos traçados conjuntamente a cada início de semestre. Ao final do quarto semestre, os
alunos devem apresentar um recital comentado que reúna elementos trabalhados nas aulas,
cujo repertório deve ser contextualizado nesse sentido, formado em parte por material
diretamente referenciado a bateristas consagrados, através da execução de transcrições de
padrões de acompanhamento ou solos que proponham desafios técnicos compatíveis ao nível
do indivíduo. E ainda, no sétimo ou oitavo semestre, momento de conclusão da disciplina, os
alunos devem apresentar outro recital, dessa vez com repertório mais livre, cujo enfoque seja
dar luz às suas próprias expressividades performáticas.
Embora todo esquema descrito frutifique em resultados muito satisfatórios, ainda me
incomodava o fato de não desenvolver um trabalho coletivo com os alunos de bateria, e
entendi que isso se devia principalmente por minha dificuldade em acreditar na possibilidade
de gerar, desta maneira, algum trabalho eficaz. Ao me ancorar na valorização de uma
metodologia viva, dinâmica e aberta, base para um ensino personalizado, algo que continuo
me empenhando em aperfeiçoar, me questionava como seria possível equalizar os interesses
individuais dos alunos em uma prática coletiva. Aos poucos, acabei compreendendo que,
embora aparentemente paradoxal, o trabalho coletivo, entre tantos aspectos benéficos não
contemplados pelas aulas individuais, potencializariam as resoluções das questões específicas
a cada um dos alunos. E justamente os referidos recitais foram os disparadores para isso.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Foi assim que me dei conta de que a semente para uma atividade coletiva regular com
a classe de bateristas, gerada de maneira intuitiva, já dava seus frutos, e passei a formalizar
encontros regulares semanais, aulas de duas horas de duração, que reúnem todos os bateristas,
e funcionam como uma extensão da disciplina de instrumento.
Essas aulas coletivas não seguem uma ementa fixa, mas seu programa se configura a
cada semestre, basicamente determinado por temas sugeridos por mim e/ou pela colaboração
de pós-graduandos, mas sempre decidido previamente em discussões junto a todos da classe.
Objetivamente, ao final de cada semestre, sugiro possíveis ementas para o próximo,
delineadas a partir de assuntos de interesse geral, ou de minhas pesquisas pessoais, ou ainda
aproveitando a participação de algum orientando pós-graduando no PED (Programa de
Estágio Docente), discutindo com os alunos o que é de seu interesse maior. Em geral, quando
possível, estimulo a colaboração dos mestrandos e doutorandos, por se tratarem de
oportunidades de entrarmos em contato com diferentes materiais e pontos de vista, advindos
de experientes músicos; os assuntos abordados quase sempre se relacionam às respectivas
pesquisas em curso, o que, em contrapartida, também ajuda muito na organização e
desenvolvimento dos trabalhos dos pós-graduandos. Nesse esquema, no decorrer de sete anos
em que essa atividade coletiva está formalizada, tivemos a participação de seis pós-
graduandos como estagiários no PED. Em outros semestres, as atividades se distribuíram
entre temáticas que abordaram aspectos históricos da música popular, com enfoque nos
bateristas, além de apreciação de performances em diferentes gêneros e estilos interpretativos.
E ainda, trabalhamos na elaboração do “Caderno de Transcrições”, projeto de pesquisa que
desenvolvi, e que consiste na editoração de transcrições contextualizadas, seguidas de breves
análises musicais, de performances registradas por notórios bateristas brasileiros.
Tais experiências foram disparadoras para o estabelecimento de uma relação
comunitária e descentralizadora, de ajuda mútua, fortalecendo o elo entre os diferentes
indivíduos da classe de bateristas, justamente por evidenciarem que, acima das distinções
valorativas que se estabelecem em um primeiro contato, todos são em alguma medida alunos
e professores; cada um de nós apresenta lacunas de conhecimento em alguns pontos, que
podem ser preenchidas pelas vivências e observações de certo colega. Ainda que tacitamente,
entendemos que o projeto de um membro do grupo acaba afetando o projeto dos outros, ao
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XIII Encontro de Educação Musical
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Referências
CRUVINEL, Flavia Maria. Ensino Coletivo de Instrumento Musical: organização e
fortalecimento político dos educadores musicais que atuam a partir das metodologias de
ensino e aprendizagem em grupo. In: ENECIM - Encontro Nacional de Ensino Coletivo de
Instrumento Musical (VI), 2014, Salvador, Bahia. Anais... Salvador: Editora UFBA, 2014. 12-
20.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Resumo: Esta comunicação considera um relato de experiência vivenciado na Catedral das Assembleias de
Deus em Volta Redonda/RJ – CADEVRE. Observamos que a instituição se destaca por ser um espaço com
tradição histórica para o aprendizado musical por meio do ensino coletivo de música na região sul do estado do
Rio de Janeiro. Opera na formação musical de crianças, jovens e adultos estimulando o fazer musical e, apesar
de apresentar-se em um contexto não-formal, conduz muitos alunos a se especializarem em escolas
regulares nos cursos de licenciatura e bacharelado em Música. Nesse sentido, a CADEVRE se
distingue e a investigação desse processo se faz relevante e expressiva.
Palavras-chave: Ensino coletivo. Educação musical. Contexto não-formal. Catedral das Assembleias
de Deus em Volta Redonda.
1. Introdução
Na atualidade, o ensino de música no Brasil tem sido cenário importante nas
discussões que abrangem não apenas ambientes do ensino formal, mas pesquisas demonstram
um avanço pelo interesse do aprendizado musical nos espaços não-formais (FIGUEIREDO,
2014). Na Catedral das Assembleias de Deus – CADEVRE, igreja tradicional da cidade de
Volta Redonda, encontra-se uma ação significativa por meio do ensino coletivo para o
aprendizado musical da região sul fluminense: a Escola de Música da CADEVRE.
A Catedral das Assembleias de Deus é uma instituição religiosa denominada igreja
que segue a linha do protestantismo. É o maior templo da cidade de Volta Redonda com o
quantitativo de 16.000 membros, tendo espalhadas cerca de 100 congregações por todo o
município. Em outras 10 cidades do sul do estado fluminense e vale do Paraíba paulistano, há
igrejas filiadas à instituição. Estas funcionam como polos que também possuem estabelecido
o ensino de música e conjuntos musicais diversificados: corais, bandas e orquestras. Assim,
são multiplicadoras do processo de ensino musical instituído pela CADEVRE. As ações
construídas por meio do ensino coletivo de música acontecem desde 2017 com resultados
relevantes e proposta diferenciada para o aprendizado musical.
Dessa forma, este trabalho tem por objetivo contribuir com os processos que envolvem
os elementos que permeiam o ensino e o aprendizado da música por meio do ensino coletivo,
reconhecendo este fenômeno didático e pedagógico a partir da experiência da Escola de
Música da CADEVRE como possibilidade eficaz e dinâmica.
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FIGURA 1 – Templo Antigo e Volta Redonda – anos 50. Fonte: Arquivo da Orquestra da CADEVRE
Desde o início, o ensino de música da igreja em Volta Redonda esteve relacionado às práticas
musicais da cidade: esses atuavam em organizações distintas. Os músicos congregados eram
enxergados como privilegiados, isto devido ao processo de formação musical que resultava
em boas performances nas instituições do município. Assim, mesmo com o passar das
décadas, até hoje, busca-se manter as tradições de um ensino musical diferenciado, refletido
também pela construção histórica, repensando a necessidade para a continuidade, dialogando
com as transformações consideradas pela educação formal e não-formal compreendida,
solucionando questões do tempo presente. Nesse sentido, Fonterrada reflete:
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XIII Encontro de Educação Musical
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Nesse contexto, a música realizada na CADEVRE possui sua estrutura motivada por
dois caminhos principais: o primeiro é direcionado aos momentos litúrgicos.
Tradicionalmente, em diferentes momentos do culto, a música dialoga com os acontecimentos
que nela se formam. Como afirma Hustad, “A música na Igreja também é uma arte funcional”
(HUSTAD, 1981, p. 32). Como exemplos, temos os hinários executados no início do culto,
louvores avulsos e melodias jubilosas após o término da reunião. E, para que isto aconteça,
corais, bandas, orquestras e conjuntos musicais diversos se organizam em ensaios que
acontecem semanalmente, a fim de que as apresentações ocorram. Na figura 2, observa-se a
Banda de Música da CADEVRE no templo antigo (espaço físico antecessor a CADEVRE)
atuando em evento festivo da igreja.
O segundo, e não menos importante, está o ensino de música. As aulas são assistidas
por componentes da igreja, membros de outras denominações e por interessados que não
professam nenhum credo religioso. Deste modo, mantém sua tradição de formar músicos não
somente para atuar na igreja como também para formação de músicos para bandas de música
civis e militares1, para orquestras sinfônicas da região e da capital e para conjuntos musicais
diversos.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Vemos uma grande intenção dos alunos de música da CADEVRE que se interessam
em dar continuidade aos seus estudos musicais ingressando em cursos técnicos e em
universidades. Nesse relato, concebemos a Escola de Música da CADEVRE com mesmo
formato dos cursos livres de teoria e de instrumentos musicais. Desta forma, ainda que não
seja estabelecimento oficial de formação musical, se legitima ao contribuir para um
tradicional ensino de música. Portanto, detém função multiplicadora de músicos na cidade por
meio de um aprendizado que vai da musicalização à profissionalização.
O ensino coletivo de instrumento vem ganhando cada vez mais espaço entre os
educadores musicais no cenário nacional, [...]possibilitando o acesso de uma gama
maior de estudantes ao aprendizado musical no contexto escolar (OLIVEIRA, 2018,
p. 309).
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XIII Encontro de Educação Musical
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Quanto aos espaços para as aulas, a CADEVRE possui salas próprias que são
direcionadas para o curso. Ela possui ainda convênio com um amplo espaço escolar e com
estúdio de gravação de som e imagem que também dispõem de diversas salas. Ambos os
locais estão localizados ao lado da igreja e são utilizados para o ensino coletivo de música.
(Figura 6)
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XIII Encontro de Educação Musical
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FIGURA 6 – Quadro de figuras do curso de música da CADEVRE. Fonte: Arquivo da Orquestra da CADEVRE
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XIII Encontro de Educação Musical
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Grupo 1 – Corais
Formado por membros da igreja, inclusive aqueles que participam das aulas de
música, os corais têm como objetivo principal o desenvolvimento da música vocal. Na
CADEVRE há três corais específicos: o coral infantil, o juvenil e o da mocidade
(jovens).(Figura 7 e 8)
FIGURA 7 – Coral Infantil. Fonte: Arquivo da Orquestra FIGURA 8 – Coral da Mocidade. Fonte: Arquivo
da CADEVRE da Orquestra da CADEVRE
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XIII Encontro de Educação Musical
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5. Reflexões Finais
Profundas transformações no contexto atual vêm interferindo em tradições
perpetuadas. Com o passar dos anos, temos visto tradicionais instituições e formas de
expressões musicais se perderem. Formas culturais de comunidades diversas e específicas se
evaporam em meio à globalização, ao derrame midiático, à corrida tecnológica e aos novos
fenômenos da contemporaneidade. Assim constata Fonterrada:
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XIII Encontro de Educação Musical
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Referências
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HUSTAD, Donald P. A Música na Igreja. Tradução de Adiel Almeida de Oliveira. 2. ed. São
Paulo: Jubilate, 1991.
OLIVEIRA, Victor Matos de. O ensino coletivo de violão no Instituto Federal Fluminense.
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. In: Anais do V SIMPOM 2018
- Simpósio Brasileiro de Pós-graduandos em Música. 308-19, 2018.
SOUZA, Salvador de. História da Música Evangélica no Brasil. São Paulo: Ágape, 2011.
Notas
1
Referimo-nos às bandas da Marinha, Exército e Aeronáutica.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Resumo: Este trabalho pretende contribuir para o entendimento do papel da apreciação musical no
ensino do choro com base em uma discussão teórica do assunto e apresentação dos resultados
preliminares de uma pesquisa empírica em andamento. O referencial teórico escolhido é baseado no
pensamento do Círculo de Bakhtin e na apropriação da noção de dialogia para pensar a função da
escuta ativa no ensino musical. A pesquisa em curso investiga o uso de estratégias de apreciação no
“Curso de Choro” no Conservatório de Tatuí.
1. Apresentação
O objetivo deste texto é discutir a importância da apreciação musical no processo de
ensino. Para tanto, o objeto de estudo elegido é o Choro e, neste caso, a atenção é dirigida ao
desenvolvimento deste gênero no “Curso de Choro” do Conservatório Musical de Tatuí, o
qual adota este recurso como um essencial procedimento metodológico. Este trabalho faz
parte de uma pesquisa de mestrado em andamento que é aqui delimitada em torno do debate
teórico sobre qual o papel da apreciação no ensino musical, seguida de uma discussão
empírica sobre a sua relevância no referido curso.
A primeira parte deste trabalho introduz a abordagem teórica do Círculo de Bakhtin,
com ênfase na noção de dialogia, com o intuito de aproximar e estabelecer parâmetros
teóricos para uma compreensão da importância da apreciação no ensino musical. A segunda
parte descreve brevemente o âmbito a partir do qual será analisada a problemática acima, ou
seja, o objeto de pesquisa, o gênero Choro, e o campo de investigação, o conservatório
musical em questão, o qual será o cerne de observações e onde será aplicada a metodologia
para obtenção de dados. A terceira parte trata da apreciação no ambiente do Curso de Choro
de Tatuí, através de resultados obtidos em pesquisa anterior e das evidências preliminares de
uma nova investigação em andamento que circunscreve a questão específica da escuta
musical. Por fim, no mesmo item, exponho algumas considerações e descrevo sinteticamente
as próximas etapas da pesquisa.
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chamado atenção de alguns autores em torno do assunto para preencher esta lacuna, uma vez
que no ensino musical frequentemente são valorizadas outras dimensões do conhecimento. No
processo de ensino e aprendizagem musical que ocorre nas inúmeras instituições de instrução
musical do país, constata-se a ênfase principalmente em dois aspectos no ensino: o do “fazer”
musical, ou seja, a prática (instrumental e/ou vocal) e o de conteúdo teórico. Todavia, há uma
certa negligência de outro elemento importante e constituinte deste processo, que é a
apreciação.
Segundo Nassif e Schroeder, a escuta é fundamental para a apropriação consciente,
atribuição de sentido e uma atitude responsiva em relação à música, ainda assim, “a
apreciação ou escuta talvez seja a [dimensão do conhecimento musical] que menos atenção
tem recebido no campo educacional” (NASSIF; SCHROEDER, 2016, p.145). Estes autores
sustentam ainda possíveis conjecturas que explicariam tal fato: uma delas é a concepção da
música (e da arte em geral) como “evidência”, ou seja, a sua contemplação ou compreensão
seria evidente pelo mero contato com as obras, não sendo,assim, necessária a sistematização
da aprendizagem da escuta. Outra provável causa seria a crença na auto-suficiência da teoria
musical como fonte de conhecimento. O estudo teórico levaria ao aprimoramento natural da
escuta musical, sendo esta então um “efeito colateral” deste saber, o qual teria um papel ativo
no processo de apreensão musical. E há ainda uma terceira hipótese, que seria a
supervalorização do “fazer musical”, que, embora vinculada às dimensões teóricas e de
apreciação, se sobressai a estas, destacando-se assim como “princípio ativo”, conduzindo
novamente a apreciação para o “efeito colateral” na apropriação da linguagem musical.
Este modelo de ensino musical priorizando as dimensões citadas acima (a do “fazer” e
a teórica) acaba por afetar e põe em detrimento e de maneira muito passiva a
apreciação/escuta, pois
as propostas de ensino de música no campo da apreciação... seja numa linha mais
contextual, seja mais técnica, geralmente trabalham de modo bastante passivo,
fazendo com que o aluno receba informações prontas e acabadas, desconsiderando
este aspecto responsivo e ativo da compreensão (SCHROEDER, 2012, p .2403).
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vivência total” e como uma das técnicas subsidiárias para isso podem ser “a audição ao vivo e
as gravações” (FILHO, 1971, p. 55).
O presente trabalho pretende estudar a importância da apreciação na educação musical
com base no referencial teórico do Círculo de Bakhtin. Para isso, o objeto escolhido foi um
gênero musical que apenas recentemente foi inserido nas escolas de ensino sistematizado: o
Choro.3
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também induz tal percurso aos seus alunos (ibidem, p.31). Outro professor do curso que
também valorizou a estratégia de ensino em questão foi o de cavaquinho, Marcelo Cândido, o
qual certifica: “a apreciação sempre! Desde o primeiro dia, desde a primeira aula” (ibidem,
p.54).
A atenção para a questão da apreciação é grande, pois o professor Bauab acredita que
“geralmente não se escolhe o que ouvir, apenas é aceito o que a grande mídia impõe” (ibidem,
p.54). E como normalmente o Choro não é contemplado em divulgação na maior parte da
mídia, é preciso estar atento às referências que o aluno tem, dado que, para se tocar Choro é
necessário se familiarizar com o gênero.
Vários exemplos coletados até o presente momento sugerem que no CDMCC a
palavra-chave em termos didáticos é a apreciação, pois é a partir da ênfase dada aos processos
desta que se desenvolve grande parte dos procedimentos trabalhados durante o curso, visto
que a apreciação possibilita a análise, a percepção e a compreensão dos elementos essenciais
no âmbito da aprendizagem e do desenvolvimento musical. Ela está atrelada tanto à análise,
entendimento e exame crítico dos elementos musicais técnicos como também os de dimensões
expressivas e estruturais de forma geral.
5. Considerações finais
Conforme observado neste texto e de acordo com a bibliografia consultada, a
apreciação musical se mostra como um recurso importante no processo de ensino do Curso de
Choro em Tatuí. O moderado foco destinado a este tema em pesquisas acadêmicas contrasta,
entretanto, com o espaço ocupado por esse meio utilizado pelos professores do conservatório
destacado neste trabalho e por outras escolas musicais que também se dedicam ao gênero 7.
Com o intuito de aprimorar e ampliar o conhecimento no assunto, o qual pode ser de grande
valia para a educação musical de forma geral e, em especial, ao Choro, somada à escassez do
tema, é que proponho circunscrever um estudo específico em torno da escuta musical na
relação de ensino e aprendizagem do gênero.
Na investigação de campo atualmente em curso, realizarei novas observações,
questionários com alunos e entrevistas semiestruturadas com professores do CDMCC,
focando especificamente acerca do papel da apreciação musical no ensino do Choro,
buscando o entendimento de, em que medida, além da valorização deste recurso didático, é
possível perceber o interesse em se desenvolver uma apreciação/escuta ativa, tal como
sugerem os trabalhos de Nassif e Schroeder, baseados no pensamento do Círculo de Bakhtin.
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Referências
AJEJ, Mônica. Prefácio. In: STATERI, José J. Aprendizagem e apreciação Musical.
Indaiatuba: E.D.I., 2011.
BASTIÃO, Zuraida Abud. Apreciação Musical Expressiva: uma abordagem para a formação
de professores de música da educação básica. Salvador: EDUFBA, 2014.
BAUAB, Alexandre. 23 de abril: dia nacional do choro. Ensaio Magazine. Tatuí, ano IV,
nº48, p.02, abril de 2009.
FIORUSSI, Eduardo Roda de Choro: processos educativos na convivência entre músicos. 130
f. Dissertação de mestrado.Universidade Federal de São Carlos, 2012.
SANDRONI, Carlos. Uma roda de choro concentrada: reflexões sobre o ensino de músicas
populares nas escolas. In: ENCONTRO DA ABEM, IX, 2000, Belém. Anais do IX Encontro
Anual da ABEM, Belém: ABEM, 2000, p. 19-26.
SCHROEDER, Silvia; SCHROEDER, Jorge. Música como discurso: uma perspectiva a partir
da filosofia do círculo de Bakhtin. Música em Perspectiva, v. 4, n. 2, pp. 128-153, Set., 2011.
TEIXEIRA, João Gabriel Lima Cruz. A Escola Brasileira de Choro Raphael Rabelo: um
estudo de caso e de preservação musical bem sucedida. In: Congresso Brasileiro de
Sociologia, 12º, Recife, 2007.
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Notas
1
Grupo de pensadores russos do início do século XX que tem como um dos integrantes mais conhecido o
filósofo Mikhail Bakhtin. Ver: Schroeder e Schroeder (2011) e Nassif e Schroeder (2016).
2
De acordo com o pensamento bakhtiniano, o uso da língua se dá em forma de enunciados, proferidos por
falantes em diferentes situações. Esses enunciados dão origem aos discursos (levando em conta o contexto
cultural e social). O enunciado deve ser tomado como ponto de partida para qualquer reflexão ou análise da
linguagem, pois ele é “a unidade real da comunicação verbal” (BAKHTIN, 2000, p.287, apud NASSIF, 2012,
p.2399). Fazendo uma analogia desta perspectiva da linguagem (verbal/escrita) com a música, segundo
Schroeder (2012), pode-se dizer que também são as obras (ou “enunciados musicais”) que permitem a
apreciação e compreensão por parte das pessoas.
3
Na educação musical há a predominância do ensino sistematizado da chamada música erudita de tradição
europeia (PENNA, 2008, p.32). Por outro lado, desde alguns anos até o presente momento, tem havido uma
justificável tendência mundial por parte de educadores em incorporar nas escolas de música e em escolas
formais, temas relativos às culturas populares (SANDRONI, 2000). Diante deste contexto, o Choro foi se
inserindo nestas escolas.
4
Cf. Teixeira, 2007.
5
BAUAB, Alexandre. 23 de abril: dia nacional do choro. Ensaio Magazine. Tatuí-SP. Ano IV, nº48, p. 02, abril
de 2009.
6
Entrevista concedida pelo professor de violão sete cordas e coordenador da Área de Choro do Conservatório
Musical de Tatuí, Alexandre Bauab a Guilherme Soares, como material anexo a seu Trabalho de Conclusão de
Curso de Jornalismo da entidade UNESP, intitulado “Bauru Redescobre o Choro: registro fotográfico de um
movimento cultural”, apresentado no ano de 2009.
7
Há por exemplo, uma disciplina na Escola Portátil de Música, do Rio de Janeiro (a qual é dedicada
exclusivamente ao Choro e seu ensino), denominada “Apreciação Musical” (SOUZA, 2010, p. 90).
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1. Introdução
Dentre as possibilidades metodológicas de desenho da pesquisa qualitativa sobre
ensino coletivo de instrumentos musicais, deve-se considerar a observação participante como
uma opção viável.
Este trabalho constitui parte da pesquisa de Mestrado de um dos autores, que tem sido
desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Investiga as relações de transmissão e aquisição de conhecimentos
musicais que acontecem nos ensaios (aulas) de uma banda vinculada ao projeto Bandas nas
Escolas, do Governo do Estado do Espírito Santo.
A pesquisa foi estruturada em duas etapas principais. A primeira consiste em uma
ampla revisão de literatura relacionada ao ensino coletivo de instrumentos musicais, com
especial ênfase nas produções que circundam o método Da Capo, de Joel Barbosa, haja vista
sua proximidade ao ensino coletivo de instrumentos de sopro. Esse dado é importante já que o
ambiente de educação musical a ser investigado será uma banda de sopros.
A segunda etapa da pesquisa será realizada no primeiro semestre de 2020, e consistirá
em uma pesquisa de campo na qual um dos autores estará presente nos ensaios de uma banda
de sopros vinculada ao projeto, observando os mecanismos de ensino-aprendizagem utilizados
naquele ambiente. A proposta é relatar as estratégias eficazes, diagnosticar os elementos que
precisam de aperfeiçoamento e, ao final do processo de pesquisa, propor um plano de ação
para o grupo. No projeto de pesquisa, consta que a proposta é oferecer um plano de ação que
tenha como referência os conteúdos do método Da Capo, de Joel Barbosa.
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responsável pela banda escolhida pedindo autorização para frequentar os ensaios, observá-los,
descrever o que acontece no ambiente, pontuar elementos positivos e limitações e oferecer um
plano de ação para melhoria. A proposta é que o plano de ação utilize conteúdos do método
Da Capo, de Joel Barbosa.
Sobre a natureza da observação, espera-se frequentar os ensaios entre março e junho
de 2020, totalizando 16 ensaios. Cada ensaio tem a duração média de duas horas. Um dos
pesquisadores dedicará quatro ensaios a uma observação não participativa, no intuito de
conhecer o funcionamento dos ensaios sem a sua intervenção direta. A partir do quinto ensaio,
com autorização do regente (professor), um dos pesquisadores participará de maneira direta
nos ensaios, como instrumentista. A ideia é sentir o ambiente de dentro, participando dos
ensaios diretamente, sem ter a pretensão de ser confundido com um dos alunos, mas ainda
conservando sua natureza de pesquisador.
Em cada ensaio, espera-se que os alunos, o regente (professor) e um dos pesquisadores
avaliem as atividades desenvolvidas, por meio de um questionário simples. Esses
instrumentos de pesquisa serão utilizados para diagnosticar possíveis problemas enfrentados
pela banda, e possibilitarão o desenvolvimento de um plano de ação a ser aplicado pelo grupo
após o término da pesquisa.
Todas as observações de um dos pesquisadores serão anotadas em um diário de
campo, imediatamente ou logo após o ensaio, para que seja possível uma descrição clara do
ambiente de ensino-aprendizagem musical, bem como o diagnóstico de problemas
observados.
Um dos pesquisadores fará uma descrição detalhada do ambiente em que acontecem
os ensaios, tanto do espaço físico, quanto dos sujeitos envolvidos, professor e alunos.
Interessa conhecer quem é esse professor, qual sua formação, qual o motivo por ele estar à
frente desse projeto, quais são suas dificuldades de trabalho nesse ambiente. Interessa saber se
sua formação musical prévia o capacitou para exercer essa função, ou se seria necessário um
treinamento. Interessa ainda saber sobre sua familiaridade com metodologias como o Da Capo
e seu grau de abertura para implementar um material dessa natureza no ambiente de ensaios.
Os alunos também precisam ser descritos. Quem são esses alunos? Qual sua condição
socioeconômica? O que os leva a estarem ali naquele projeto, tocando instrumento de sopro?
Algum deles tem pretensões de ser músico profissional? Do que eles gostam nos ambientes de
ensaio ou o que gostariam que fosse melhorado?
Não se espera nessa pesquisa um papel de distanciamento, mas sim de inclusão. A
proposta é que um dos pesquisadores conheça de perto seus sujeitos pesquisados, interaja com
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eles e proponha soluções viáveis para aquele contexto de ensaios, que se constitui em um
ambiente de educação musical não-formal.
Outro aspecto relevante consiste na observação e descrição minuciosa sobre o que
funciona e não funciona no ensaio. Por se tratar de um ambiente da educação musical, ainda
que de natureza não-formal, é preciso considerar até que ponto a transmissão de
conhecimentos ocorre de maneira satisfatória. Por um lado, para entender estratégias
realmente eficazes que possam ser aproveitadas em outros contextos; e por outro lado para
observar elementos que podem ser aperfeiçoados e, para estes, oferecer um plano de ação.
Neste ponto serão descritos todos os elementos que possam, de alguma forma,
contribuir ou obstaculizar o processo de transmissão e aquisição de conhecimentos. A sala é
adequada? A infraestrutura favorece? Quantos alunos participam? O professor é bem
remunerado para exercer sua atividade? Os alunos são disciplinados? Quais conteúdos são
abordados? Em síntese: quais aspectos desses ensaios são dignos de elogio e quais podem ser
beneficiados por contribuições retiradas do método Da Capo, de Joel Barbosa?
Mais um aspecto essencial será observar, descrever e avaliar como acontece a
educação musical nesse ambiente. Quais são os conteúdos musicais trabalhados e mediante
quais tipos de abordagens? Existem metodologias ativas ou se trata de um ensaio nos moldes
tradicionais? Qual o grau de envolvimento dos alunos? Por meio das entrevistas com os
alunos, será possível determinar o que eles aprenderam ao final de cada ensaio. Assim os
pesquisadores terão uma ideia clara se os conteúdos estão sendo absorvidos e se aquele
ambiente está realmente propiciando um crescimento musical para os alunos.
Finalmente, a pesquisa prevê a entrega de sugestões de aperfeiçoamento, por meio de
um plano de ação, que pode ser no formato de um relatório indicativo de pontos que podem
ser aperfeiçoados nos ensaios. Por opção metodológica, as propostas de melhoria envolverão
o uso do método Da Capo.
Ao se deslocar para o seu campo de pesquisa, nesse contexto os ensaios de uma banda
vinculada ao projeto Bandas nas Escolas, espera-se compreender quais têm sido as estratégias
utilizadas pelos educadores para promover o ensino coletivo de instrumentos de sopro.
Interessam aspectos relacionados à dinâmica de ensaios, materiais didáticos utilizados, formas
de interação do regente com os instrumentistas, repertório adotado, ambiente em que os
ensaios são desenvolvidos, dentre outros aspectos.
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3. Conclusão
Após concluir a revisão de literatura relacionada ao método de pesquisa, observou-se a
viabilidade da observação participante para as pesquisas em ensino coletivo de instrumentos
musicais. Espera-se que a literatura levantada permita a outros autores o estudo desta técnica e
sua aplicação na pesquisa qualitativa em ensino coletivo de instrumentos musicais.
Futuros trabalhos poderiam utilizar o método da observação participante para
descrever outros tipos de ambiente em que ocorre ensino e aprendizagem de Música. Estudos
desta natureza orientam a prática dos educadores e permitem uma autorreflexão crítica sobre a
prática, permitindo um aperfeiçoamento contínuo e uma constante vigilância sobre as
estratégias didáticas empregadas nas aulas.
Referências
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Resumo: Apesar dos avanços dos jogos eletrônicos como forma de atividade lúdica e didática, são
ainda raros aqueles desenvolvidos para a educação musical. Este trabalho propõe o desenvolvimento
de um (AA) audiogame acusmático (cujas fontes sonoras não são visíveis) – ou seja, desprovido de
imagens, vídeos ou textos – para dispositivos móveis e com entrada de dados por comandos de voz.
Este AA será do gênero RPG (roleplaying game, ou jogo de interpretação de papéis), contará com o
recurso de áudio dinâmico e irá gerar relatórios sobre as decisões tomadas pelo jogador para que seja
possível mensurar e analisar seus comportamentos. Além de oferecer testes de percepção musical, este
AA também irá promover a acessibilidade a deficientes visuais.
1. Introdução
Jogos eletrônicos são um tipo de mídia interativa, em quase toda a sua totalidade,
audiovisual (sendo mais dependente da imagem do que do som). Foram inicialmente
desenvolvidos nos anos 1970, mas se expandiram muito com os avanços das TIC (Tecnologias
de Informação e Comunicação), e desde então vêm recebendo cada vez mais atenção por parte
do público, da crítica, da mídia, do mercado e dos pesquisadores acadêmicos, por conta não
somente de sua crescente popularização,1 mas também pela sua alta gama de possibilidades
enquanto entretenimento, comunicação, ensino, expressão artística e educacional (SALEN;
ZIMMERMAN, 2012a). Existem estudos que comprovam seu potencial para o
desenvolvimento de capacidades cognitivas (BAVELIER, 2012) e para a promoção de
mudanças sociais (McGONIGAL, 2010). Assim, é natural que os games (como são
normalmente chamados) evoluam, tanto em sua tecnologia quanto em seu conteúdo, para
atender às expectativas do público crescente (jogadores, indústria, pesquisadores) e prosseguir
com seu desenvolvimento enquanto comunicação multimodal interativa, em termos de áudio,
imagem, e recentemente também, tátil, com a inclusão de sensores e atuadores digitais nas
interfaces dos games com o usuário. Muitas experimentações têm sido realizadas com games
(SCHELL, 2011), seja em relação aos gráficos, às animações, à narrativa, à jogabilidade (um
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dos principais pontos de atenção do game design) ou ao áudio, que é o aspecto que nos interessa
neste trabalho.
Diante de tanta popularização, a indústria busca obter o máximo de sucesso comercial, e
para isso, recorre à utilização de gráficos complexos e os mais realistas possíveis. Assim, a
distribuição orçamentária acaba relegando outros aspectos do jogo, em games cuja ênfase recai
sobre os gráficos em detrimento do roteiro (games com ótima qualidade gráfica e narrativas
pobres e triviais), da jogabilidade (games bonitos e muito interativos, mas tediosos de se jogar) ou
do áudio (trilhas musicais e efeitos sonoros que se repetem e sequer compatibilizam em qualidade
com o nível dos gráficos, chegando até a causar estranhamento por tão óbvia discrepância).
Na contramão da direção que normalmente segue a indústria de games, nossa proposta
aqui apresentada visa ao desenvolvimento de um jogo constituído exclusivamente por
recursos de áudio (músicas, efeitos sonoros e narração voice over) para que o foco recaia por
completo nas músicas e nos efeitos sonoros, com vistas a avaliar e analisar o potencial
narrativo, interativo e artístico dos recursos sonoros em um jogo eletrônico com a criação
computacional de uma paisagem sonora virtual (conforme descrita adiante). Assim, propõe-se
aqui a criação de um audiogame acusmático2 (AA) com vistas a avaliar e analisar o seu
potencial narrativo, interativo e artístico em um game sem quaisquer recursos visuais
(imagens, textos, vídeos), diferentemente do que ocorre em outros audiogames.
Tem-se aqui a preocupação de não incorrer ao notório erro de compor trilhas sonoras
para games como é feito para o cinema, pois há grandes distinções entre ambas as mídias,
especialmente no que tange à interação, a qual o cinema é desprovido, e isso pode prejudicar a
imersão do jogador pelo excesso de repetição das músicas e não levar em conta o potencial
narrativo do áudio em uma mídia interativa (CAMARGO, 2018, p. 6).
Portanto, para evitar o erro de tornar a trilha sonora monótona para o jogador, será
utilizado o recurso de áudio dinâmico, “que significa que a construção do discurso sonoro é
influenciada pela não linearidade que o altera dinamicamente durante o processo de interação
com a mídia” (CAMARGO, 2018, p. 134). Isso evita que as músicas sejam repetidas de
maneira exaustiva e causem fadiga auditiva, pois é possível fazer pequenas alterações
significativas nas músicas e nos efeitos sonoros para que não fiquem repetitivos.
Para tornar possível que este AA seja jogado em meio a outros afazeres (por exemplo,
numa caminhada, no transporte público, enquanto se cozinha, durante a refeição etc.), sem
requerer qualquer atenção visual e nem a utilização de gestos, será necessário que os dados de
entrada (inputs, comandos dados pelo jogador) que controlam o processo computacional sejam
realizados exclusivamente por comando de voz. Para isso, o audiogame proposto será
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desenvolvido para dispositivos móveis, já que todos os smartphones, além de portáteis, possuem
alto-falantes e microfone embutido – e também são comuns os fones de ouvido com microfone
integrado, que geralmente já vem de fábrica junto com o aparelho – e capacidade de
processamento mais do que suficiente para rodar o jogo proposto, o que permite comutar o
processo entre escuta e resposta sonora, evitando assim retroalimentação do processamento de
áudio com o comando sonoro.
Para que este AA proporcione uma boa experiência de jogabilidade, seja lúdico e com
potencial narrativo,3 optou-se pelo gênero RPG,4 aos moldes dos “RPGs de mesa”, ou seja,
aqueles que podem ser jogados apenas oralmente. A narração do tipo voice over deste jogo
cumprirá o papel do mestre,5 e o jogador realizará ações por meio de comandos simples de
voz, como “esquerda”, “direita”, “recuar”, “atacar” etc., limitados a opções pontuais de
acordo com as situações específicas do jogo. Para tal, será necessário um algoritmo de
reconhecimento de voz, que é facilmente encontrado na internet.
É intenção compreender, por meio de relatórios de feedback6 gerados pelo próprio AA,
como o jogador reage a determinados comportamentos musicais (escalas, dissonâncias, ritmo,
modulações, timbres etc.) e de áudio (panning, equalização, reverberação, volume etc.) e se estes
influenciam nas decisões do jogador, e caso o façam, de que maneira isto ocorre. Será possível
analisar se os recursos de música e áudio surtiram o efeito esperado, e caso necessário, permitir
que sejam feitas alterações em busca dos melhores resultados. Além disso, podem gerar insumos
para profissionais da indústria de áudio e pesquisadores de cognição musical. A proposta é, por
exemplo, mudar a localização do áudio (por meio do panning) quando o jogador precisa decidir
se entra numa porta virtual da esquerda ou da direita do ambiente do audiogame e verificar se
isso influencia em sua decisão. Se a trilha sonora do audiogame estiver, por exemplo, tocando no
alto-falante da direita, será que o jogador escolherá a porta da direita? Será que o jogador
demoraria menos tempo para tomar uma decisão se o ritmo da música fosse acelerado? Estas e
outras questões relacionadas à cognição musical poderão ser estudadas pelos relatórios de
feedback.
Desse modo será possível utilizar este AA para finalidades didáticas, como a educação
musical, treinamentos de percepção musical e sonora e acessibilidade musical. Uma possibilidade
seria uma aventura de RPG em que o jogador tenha, por exemplo, que diferenciar escalas maiores
de menores, tríades de tétrades, reverberação de delay, nota X da nota Y, se o som está mais para
a esquerda ou para a direita, se foram cortadas as frequências agudas ou médias ou graves etc.
A promoção de acessibilidade à música e ao universo dos games para pessoas com
deficiência visual é particularmente relevante neste estudo, bem como de interesse social, já
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que este AA será constituído exclusivamente por recursos de áudio (inclusive os dados de
entrada), sem quaisquer recursos visuais ou gestuais, como é de se esperar de um game que se
propõe a ser acessível a este público:
[…] os audiogames voltados para o público com deficiência visual são construções
de games com propósito acessível que reforçam as soluções em áudio para garantir a
interação. […] A característica principal dos audiogames acessíveis é o tratamento
das rotinas e narrativas do jogo através de recursos sonoros como áudio gravados ou
uso de técnicas de TTS (text-to-speech) sobre informações textuais. É também
característica desse tipo de game que o jogador tenha a capacidade e o
favorecimento de diferenciar em tempo hábil vários padrões de áudio distintos
(ARAÚJO; FAÇANHA; DARIN, 2015, p. 611).
Para a composição da trilha sonora deste AA, a fundamentação teórica virá dos autores
Arnold Schoenberg (1996), Michael Hewitt (2008; 2009; 2011) e Ney Carrasco (1993; 2003).
Para a criação das ambiências e efeitos sonoros com critérios de localização espacial
das fontes sonoras, serão utilizados os conceitos de paisagem sonora (soundscape), de Schafer
(2001), e de representação visual de imagens e de equipamentos de estúdio (visual
representations of imaging and studio equipment), de Gibson (1997).
Serão utilizados conceitos de psicoacústica e cognição musical para a análise dos
relatórios de feedbacks gerados pelo jogo sobre as reações deliberadas e espontâneas do
jogador em relação aos recursos de música e áudio. A autora Diana Deutsch (2013), com seu
livro The Psychology of Music, será um dos principais fundamentos teóricos neste sentido.
Serão também estudados os autores basilares em game design Katie Salen & Eric
Zimmerman (2012a; 2012b; 2012c, 2012d), Jesse Schell (2011), Jesper Juul (1999; 2001) e Karen
Collins (2007; 2008), que serão referenciados para o conceito e o desenvolvimento do audiogame.
E vamos recorrer a autores que se debruçam sobre a pesquisa de áudio para games e, mais
especificamente, sobre áudio dinâmico, como Sander Huiberts (2010; 2011), Aaron Marks
(2009), Winifred Phillips (2014), Lucas Meneguette (2011; 2017), Michael Sweet (2015), entre
outros.
E por fim, serão realizadas consultas a autores relacionados à narratologia (Boris
Eikhenbaum & os Formalistas Russos, 1973), à diegese (Gérard Genette, 1982) e ao som
transdiegético (Kristine Jørgensen, 2007a; 2007b) para a criação do roteiro do jogo com
melhor sinergia entre enredo, diálogos, narração, música e efeitos sonoros.
Este trabalho tem como principal objetivo o desenvolvimento de um AA (audiogame
acusmático) do gênero RPG (roleplaying game), que não utilize quaisquer recursos visuais
(imagens, textos, vídeo) e seja composto única e exclusivamente por recursos de áudio. Além
deste objetivo do desenvolvimento do AA per se, objetiva-se também:
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2. Metodologia
Para o desenvolvimento do AA aqui proposto, há a possibilidade de uso do
Scratch,7uma linguagem de programação criada em 2007 pelo Media Lab do MIT, e que
desde 2013 está disponível on-line como um aplicativo gratuito. Por não exigir o
conhecimento prévio de outras linguagens de programação, é ideal para iniciantes em
programação. Porém, como o Scratch possui recursos bastante limitados por conta de seu uso
facilitado, cogita-se a utilização da engine (software específico para a criação de games)
Construct 2,8 que possui versões gratuita e paga para desenvolvimento de games para
console, desktop e mobile e permite a criação de jogos de maneira rápida, já que utiliza
somente a lógica de programação e não requer a escrita de códigos. Porém, como se propõe a
utilização do recurso de áudio dinâmico, é provável que a engine utilizada seja a Unity, 9 que
permite integração com o Fmod, um middleware10 próprio para a programação de áudio
dinâmico, que viabiliza resultados mais satisfatórios neste sentido.
Para a composição das músicas e criação dos efeitos sonoros, será utilizada a DAW
(digital audio workstation)11 Ableton Live, 12 além de plugins que serão utilizados no decorrer
das composições e dos processos de finalização (mixagem e masterização) do áudio.
Este trabalho tem cunho qualiquantitativo, do tipo de estudo de exploração
experimental, que empregará a análise dos dados gerados por um protótipo do AA, visando
apontar e caracterizar as reações deliberadas e espontâneas do jogador diante dos recursos de
música e áudio. As categorias de análise serão: música (andamento, ritmo, melodia, harmonia,
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<https://www.ted.com/talks/jane_mcgonigal_gaming_can_make_a_better_world>. Acesso
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Campinas, 1995. 105 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Faculdade de
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PAVÃO, Andréa. Aventura da leitura e da escrita entre mestres de roleplaying game (RPG).
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<http://www.anped.org.br/sites/default/files/gt_10_02.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2019.
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SCHELL, Jesse. A arte de game design: o livro original. Trad. Edson Furmankiewicz. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2011.
SWEET, Michael. Writing interactive music for video games. Nova York: Pearson, 2015.
Notas
1
A indústria dos games já é a mais rentável de todas no segmento de entretenimento. Ver mais em:
<https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/industria-dos-videogames-bate-recordes-nos-eua-e-fatura-us-43-bilhoes/>
e <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/que-industria-fatura-mais-do-cinema-da-musica-ou-dos-games/>.
2
Acusmático: refere-se a algo cuja fonte sonora não é visível, sons cuja proveniência se desconhece.
3
A tese de doutorado da CPG/DM/IA/Unicamp, intitulada Interatividade e narratividade sonora nos games, de
Fernando Emboaba de Camargo (2018), traz um amplo e pertinente estudo acerca da narratividade das trilhas
sonoras em jogos eletrônicos. Este trabalho será de grande relevância para o desenvolvimento do presente
projeto, pois também abarca outros conceitos aqui propostos, como áudio dinâmico, diegese, som transdiegético
e paisagem sonora.
4
“RPGs (roleplaying games) de mesa são jogos analógicos que envolvem interpretação de papéis e sistemas de
regras, geralmente mediados por dados. […] Os jogadores assumem o papel de personagens criados por eles
mesmos dentro de uma narrativa colaborativa” (PEIXOTO FILHO; ALBUQUERQUE, 2018, p. 1574).
5
“O mestre mestra (para utilizar o jargão do grupo) a aventura, descrevendo uma situação inicial que funciona
como um ‘chamado para aventura’. A partir desta descrição, os jogadores começam a inserir seus personagens
no jogo e o mestre vai conduzindo os caminhos do desenrolar da história a partir das ações dos mesmos, muitas
vezes com o auxílio de dados – cujo resultado arbitra se a ação empenhada pelo jogador será bem-sucedida ou
não – ou simplesmente pela observação da ficha do personagem, de suas habilidades para o desempenho de tal
ação, além da força interpretativa do jogador ao desenvolver a ação” (PAVÃO, 2000, p. 16).
6
Dados fornecidos pelo jogo, de acordo com a programação desenvolvida, com o intuito de revelar o que o
jogador fez em trechos pré-determinados, por exemplo, se ele entrou na porta da esquerda ou da direita, se
atacou ou se defendeu, se avançou ou recuou, quanto tempo demorou para tomar uma decisão, etc.
7
Website oficial do Scratch: https://scratch.mit.edu/.
8
Website oficial do Construct 2: https://www.scirra.com/construct2.
9
Website oficial do Unity: https://unity.com/pt.
59
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10
Um middleware é um software de computador que fornece serviços para aplicativos além daqueles disponíveis
pelo sistema operacional.
11
Estação de trabalho de áudio digital, é um software/sequenciador que tem a finalidade de gravar, editar e
reproduzir áudio digital.
12
Website oficial do Ableton Live: https://www.ableton.com/en/live/.
13
Baseada em NOVO JR. (1995).
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Resumo: A pesquisa em andamento tem por objetivo criar as especificações de um Ambiente Virtual
de Aprendizagem que contribua com a formação e a formação continuada de regentes corais e com os
aspectos de aprendizagem musical de coros no campo da Educação Musical. O referencial teórico é o
modelo do Conhecimento Tecnológico Pedagógico e de Conteúdo (TPACK) e os procedimentos
consistem em revisão de literatura e de um estudo misto de abordagens qualitativas e quantitativas.
Pretende-se fazer um levantamento (survey) a partir de entrevistas com 10 regentes profissionais e da
aplicação de questionários com o intuito de investigar adultos que façam parte de coros.
1. Introdução
O surgimento das tecnologias digitais que abrangem os equipamentos físicos, como os
smartphones, laptops e impressoras, os programas de computador com suas diferentes
finalidades e a rede mundial de computadores Internet que envolve serviços, tais como correio
eletrônico, redes sociais, download de programas, entre outros, possibilitou modificações nas
mais diversas áreas do conhecimento. A disseminação da Internet e das Tecnologias da
Informação e Comunicação tem permitido aos indivíduos o acesso a um imenso universo de
informações e à comunicação de forma globalizada. Na atualidade percebe-se que “as
ferramentas tecnológicas estão se impondo veloz e compulsoriamente na nova geração,
tornando-se parte do dia a dia” (DEMO, 2011, p. 15).
Em relação à prática coral, os levantamentos bibliográficos realizados em Mateiro et
al. (2014), Clemente e Figueiredo (2014) e Santos (2014) na Revista da ABEM1 e na revista
OPUS, bem como nos anais de congressos da ABEM e da ANPPOM 2 e no portal da CAPES3
mostram que as pesquisas têm desenvolvido temas como repertório, técnica vocal, regência
coral, entre outros, no entanto, existe uma lacuna de estudos que contemplem a aplicação de
tecnologias digitais no Canto Coral.
O presente trabalho em andamento tem por objetivo elaborar o levantamento dos
requisitos artísticos, pedagógicos e tecnológicos para o desenvolvimento de Ambientes
Virtuais de Aprendizagem voltados para a música, e em particular para a Música Coral. Como
objetivo específico pretende-se desenvolver um Ambiente Virtual de Aprendizagem que
contribua com a divulgação da música coral, a formação e a formação continuada de regentes
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Um coro amador, principalmente os que não têm teste vocal ou musical prévio, pode
receber indivíduos com diferentes vivências musicais. Existem integrantes que participam de
atividades musicais em igrejas, escolas, ambientes familiares e eventos sociais, cantando ou
tocando instrumentos musicais. Cada indivíduo pode trazer para o grupo as vivências
advindas das comunidades de práticas nas quais estão inseridos e promover a troca de
experiências na comunidade coral. Em outras situações, diferentes grupos corais ou
instrumentais podem se reunir com o objetivo de interagir, de fazer uma apresentação
conjunta em um festival ou de aprender novos conhecimentos em workshops. De Quadros
(2012, p. 1) ressalta que em todo o mundo existem muitos coros e que o repertório se tornou
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global. Além disso, a colaboração internacional de diferentes tipos, tais como festivais,
competições e simpósios tem possibilitado perspectivas de aprendizagem, de parcerias e de
desenvolvimento sem precedentes6.
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4. Considerações finais
A partir da pesquisa bibliográfica, das entrevistas semiestruturadas com os regentes
profissionais e da aplicação do survey com jovens e adultos que se relacionem com a prática
coral, pretende-se elaborar a análise dos dados, bem como desenvolver as especificações do
Ambiente Virtual de Aprendizagem coral e estabelecer a implementação, o teste e a avaliação
de um dos módulos. A organização da análise dos dados, bem como sua interpretação será
realizada em três fases: “pré-análise, exploração do material e o tratamento dos resultados, a
inferência e a interpretação” (BARDIN , 2016, p. 125).
Quanto ao conceito de comunidade de prática e os aspectos de coletividade, uma das
formas de organização para a análise dos dados poderia ser baseada nas três dimensões de
Wenger (1998): engajamento, empreendimento mútuo e repertório compartilhado. De
maneira a otimizar a análise mista dos dados, possivelmente será utilizado um software, como
por exemplo o NVivo, o MAXQDA ou o webQDA.
De acordo com Pressman e Maxim (2016), “projeto é a única maneira pela qual
podemos transformar precisamente os requisitos dos envolvidos em um produto ou sistema de
software finalizado” (PRESSMAN e MAXIM, 2016, p. 227). Do ponto de vista da
engenharia para Web, segundo Pressman e Maxim (2016) trazendo as ideias de Kaiser (2002),
os objetivos de um projeto web devem ser simplicidade, consistência, identidade, robustez,
navegabilidade, apelo visual e compatibilidade. Quanto ao teste e avaliação do módulo, esse
poderá ser feito com alguns indivíduos da população de regentes profissionais, estudantes da
graduação e coristas.
Em síntese, o objetivo da proposta é fazer um levantamento de dados para construir
um Ambiente Virtual de Aprendizagem e verificar um de seus módulos. O critério qualitativo
seria retirado das entrevistas semiestruturadas com os regentes e o critério quantitativo dos
questionários. O resultado musical esperado seria a divulgação da música coral e a proposta
de um ambiente de aprendizagem musical que poderia contribuir com a ampliação do
universo musical de pessoas envolvidas em corais. Como resultado pedagógico tendo em
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Referências
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v. 17, n. 22, p. 87-96, 2009.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução: Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro.
São Paulo: Edições 70, 2016.
COHEN, Sara. Bubbles, tracks, borders and lines: Mapping music and urban
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DEMO, Pedro. Olhar do educador e novas tecnologias. Boletim Técnico do Senac: A R. Educ.
Prof., Rio de Janeiro, v. 37, n. 2, p. 15-26, 2011.
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PRESSMAN, Roger, and Bruce MAXIM. Engenharia de Software-8ª Edição. Porto Alegre:
McGraw Hill, 2016.
SANTOS, Bruno Silva. O canto coral na educação musical: análise e catalogação a partir
das publicações nos anais da ABEM e da ANPPOM, e na Revista da ABEM e Revista OPUS
(2009 a 2013). Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2014.
Notas
1
Associação Brasileira de Educação Musical.
2
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música.
3
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
4
https://wenger-trayner.com/introduction-to-communities-of-practice/
5
Mutual engagement, a joint enterprise, a shared repertoire.
6
All over the world, choirs abound and repertoire has become global [...] international collaboration of all kinds
– festivals, competitions, symposia – have offered unprecedent prospects for learning, partnerships, and
development.
7
Cyberinfrastructure including participatory technologies (which in essence equate to refer to as Web 2.0
technologies).
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Resumo: Este trabalho estuda o desenvolvimento musical de idosos nas oficinas “Violão – apreciação
e aula” ministradas pelo pesquisador principal, semestralmente, no UniversIDADE: um programa para
a longevidade, da UNICAMP; e avaliar os resultados decorrentes deste tipo de atividade, a saber:
prática coletiva de ensino de violão, tendo como suporte tecnologias digitais. Além de refletir sobre as
práticas que já vem sendo adotadas nestas oficinas, abordaremos também o escopo que vem sendo
formado na pesquisa de mestrado sobre este tema em 2020, iniciada em 2020.
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XIII Encontro de Educação Musical
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ações, tanto para promoção da saúde e prevenção das doenças quanto para promover – de
modo mais geral – a qualidade de vida dessas pessoas (MIRANDA, 2006).
Neste sentido, a musicalização desponta como uma ótima opção no processo da
senescência saudável (SILVA, 2007). A atividade musical auxilia nos movimentos das
articulações, além de estimular o cérebro, exercitando a área motora e retardando o processo
de envelhecimento. O exercício musical incentiva o aumento da produção de hormônios,
reduzindo a prevalência de morbidades e incapacidades (SILVA, 2007). Estudos comprovam
que a atividade muscular, a respiração, a pressão sanguínea, a pulsação cardíaca, o humor e o
metabolismo são afetados pela música e pelos sons. Desse modo, a educação musical pode ser
uma ferramenta muito importante e pode efetivamente transformar a realidade do idoso, de
forma que ele se sinta um agente ativo na sociedade.
Neste contexto, estão inseridas as oficinas “Violão – apreciação e aula” ministradas no
UniversIDADE, com o objetivo de oferecer para o idoso ensino de música como ferramenta
para a promoção de sua qualidade de vida. Neste sentido, é importante ressaltar algumas
características do ensino musical para a terceira idade, que deve trazer uma perspectiva
diferenciada para o educador, de forma que este realize um trabalho consciente das
necessidades do grupo, bem como das práticas musicais a serem adotadas. Este trabalho deve
valorizar a prática sobre a teoria, buscando um aprendizado musical que dê acesso a todos,
através de uma concepção que privilegie o desenvolvimento humano e a sensibilização e não
apenas o domínio técnico do instrumento (SOUZA; LEÃO, 2006). De outro modo –
conforme Maura Penna, procuramos utilizar a musicalização nas oficinas como ferramenta
para promover a participação mais ampla das pessoas na cultura musical socialmente
produzida, assim como para utilizar a música como material de um processo educativo e
formativo mais amplo, tendo em vista o pleno desenvolvimento do indivíduo (PENNA, 2012,
p. 47).
O UniversIDADE: um programa para a longevidade, ligado à Pró-Reitoria de
Extensão e Cultura da Unicamp foi criado em 2014 e teve suas primeiras atividades iniciadas
em março do ano seguinte para 259 alunos em 59 atividades gratuitas diferentes. De lá para
cá, o número de matriculados no programa mais que quadruplicou, atingindo a marca de 1068
alunos no primeiro semestre de 2019 e mais de 100 atividades – das áreas de arte e cultura,
esporte e lazer, saúde física e mental, sociocultural e geração de renda. O programa é voltado
para pessoas da meia idade e da terceira idade - definidas pela idade mínima de 50 anos – da
comunidade da Unicamp, de Campinas-SP e região, proporcionando a elas – de modo geral –
condições para uma melhor qualidade de vida (UniversIDADE, 2019).
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Primeiro porque a grande maioria dos alunos estava com o violão em mãos (a presença do
violão não era obrigatória nas oficinas) e segundo porque quis variar um pouco a abordagem
com relação à primeira oficina. Fizemos, portanto, uma oficina mais voltada à prática de
tocar, cantar e solar no violão. O objetivo final foi saber tocar, cantar e solar a música
Parabéns a Você. Para isso, tive de passar exercícios básicos de técnica, utilizando novamente
o WhatsApp para enviar o áudio do ritmo de valsa, materiais de apoio (exercícios, desenhos
de acordes, tablatura do solo da música) em pdf, também para tirar dúvidas, interagir etc.
Resolvi fazer desse modo também por ter mais tempo entre uma aula e outra (15 dias)
podendo assim o aluno treinar mais. Contudo, este intervalo de tempo maior entre uma aula e
outra também serviu para muitos alunos se dispersarem, não adotando a prática que eu
esperava que adotassem.
De maneira geral, a oficina foi muito positiva. Também mantenho contato com os
alunos através do grupo do WhatsApp e alguns ainda acompanham mais de perto o meu
trabalho. Uma das alunas me deu uma dica valiosa no último dia de oficina. Ela realmente
elogiou a didática que adotei simples e direta, mas ainda sugeriu que eu ensinasse uma música
ainda mais simples, talvez de dois acordes apenas – contra os 4 que usei na Parabéns a Você
– nem tanto por ela, que aprendeu tocar, cantar e solar, mas pensando naqueles outros que
estavam com mais dificuldade. Levo muito em conta sugestões desse tipo, tendo em vista que
meu objetivo é transmitir a música para essas pessoas de forma cada vez mais simples,
acessível, objetiva e alegre.
No primeiro semestre de 2020, por conta da pandemia mundial do COVID-19 as aulas
presenciais das oficinas do programa universIDADE foram suspensas, inclusive a minha, que
começaria em 17 de março. Buscando formas de continuar prestando serviço para este
público, percebi a oportunidade de ampliar o uso das tecnologias digitais, fazendo aulas
semanais ao vivo no Youtube desde o dia 7 de abril, especialmente para maiores de 50 anos,
deixando-as disponíveis também no Facebook no próprio site do programa UniversIDADE,
estimulando inclusive a participação e interação dos alunos. A reposta tem sido
expressivamente positiva, alcançando inclusive pessoas desta faixa etária de outras partes do
país. A ideia dessas aulas online é conectar as pessoas através do entendimento da música
como uma ferramenta de qualidade de vida, como oportunidade de aprendizado e
desenvolvimento pessoal. Tais ações estão diretamente relacionadas com o objetivo da minha
pesquisa de mestrado – que é estudar o aprendizado e apreciação musical de idosos na era
digital.
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Além disso, como referencial teórico para a pesquisa, estou me valendo de alguns
elementos da teoria social cognitiva, de Albert Bandura. Alinhado com a ideia de que a teoria
social cognitiva é uma teoria sobre o ser humano, para compreender melhor o ser humano e
tornar sua vida plena de realizações, os conceitos-chave de agência humana, motivação e auto
eficácia podem ser usados como norteadores do processo de educação musical para idosos na
era digital. De modo geral, apresentando um resumo dessas ideias, podemos citar o próprio
autor:
A teoria social cognitiva adota a perspectiva da agência para o autodesenvolvimento,
a adaptação e a mudança. Ser agente significa influenciar o próprio funcionamento e
as circunstâncias de vida de modo intencional. Segundo essa visão, as pessoas são
auto organizadas, proativas, autorreguladas e auto reflexivas, contribuindo para as
circunstâncias de suas vidas, não sendo apenas produtos dessas condições
(BANDURA, 2008, p. 15).
A ênfase no papel da agência pessoal nos permite compreender que uma situação não
é fácil nem difícil – mas depende de como a pessoa enfrenta a situação e esse enfrentamento é
o responsável pela consecução do objetivo. Por isso também a importância da motivação
neste processo e para a realização das tarefas e dos objetivos da vida. Essa motivação vem da
crença que a pessoa tem sobre si mesma, crença na capacidade de realizar uma ação que
produza bom resultado. Neste sentido, é muito importante adotar crenças positivas de auto
eficácia para obter e construir sucesso na vida ou em determinada atividade – ou seja, adotar
um julgamento positivo da própria capacidade pessoal (Bandura, 2008, p. 32).
Este tipo de abordagem é muito interessante para lidarmos com adultos maduros e
idosos, no contexto de apreciação e aprendizagem de música na era das tecnologias digitais.
Muitos deles carregam crenças negativas sobre sua incapacidade de aprender música, apesar
da vontade que trazem consigo de tocar e cantar, por exemplo. Pretendemos, portanto, estudar
esses conceitos na perspectiva do educador musical frente aos idosos, investigando também o
papel do professor como motivador dessas pessoas, postura que venho procurando adotar
nestas oficinas, aulas online ao vivo e em textos que tenho escrito num blog e redes sociais
para este público.
Quanto à abordagem prática da pesquisa, estamos estudando metodologias de estudos
similares, como o realizado pela pesquisadora da UFMG, Andréa Cristina Cirino (CIRINO,
2015). A autora realizou um trabalho de abordagem qualitativa de etnografia escolar usando
uma amostra de 4 homens e 4 mulheres entre 50 e 64 anos que participaram do curso de
extensão Apreciação e Musicalização na Maturidade (UFMG), em 2009. Ela coletou os dados
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Por fim, poder relatar as experiências musicais vivenciadas nas duas oficinas de 2019,
nas plataformas digitais em 2020 e apontar reflexões sobre o desdobramento delas na pesquisa
de mestrado que se iniciou neste ano são de grande importância e aprendizado para que
possamos realmente fundamentar as bases deste trabalho, de modo que ele possa resultar,
dentro do possível, numa melhor prestação de serviço para este público, numa contribuição
acadêmica dentro da temática e também enquanto via para se assegurar ao mesmo tempo
inclusão digital, acessibilidade e suporte de ensino para estas pessoas interessadas em apreciar
e aprender música através do violão – levando em conta os benefícios da música para a
qualidade de vida.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
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Resumo: Este trabalho apresenta a análise de um episódio interativo em uma aula de Piano em Grupo
para crianças, com a finalidade de identificar os processos de aprendizagem nas interações sociais. Foi
considerada a singularidade de cada sujeito participante, o modo como aprenderam e os modos de
funcionamento cultural, que definem o que é e como acontecem os atos de aprender. Para além do
registro e descrição dos dados, o enfoque envolveu, também, o compromisso com a interpretação
teórica, metodológica e intersubjetiva dos dados registrados e reconstruídos na pesquisa, sob uma
abordagem histórico-cultural.
Introdução
A aprendizagem de um instrumento musical pode ser compreendida a partir de uma
série de fatores: o contato com o instrumento desde a infância, passando pelo incentivo ao
uso, à brincadeira, até o questionamento sobre habilidades inatas ou adquiridas. Entender
como essa aprendizagem possivelmente acontece pode partir de diferentes pressupostos e,
neste trabalho – fruto de uma pesquisa de mestrado – busca-se apontar alguns dos processos
de aprendizagem destacando a música e a fala.
No Brasil, o ensino de piano cresceu a partir do Segundo Império com a chegada de
dois virtuoses: o português Arthur Napoleão dos Santos e o italiano Luigi Chiaffarelli, que
atuaram no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente (AMATO, 2007). Nas últimas
décadas do século XIX, a imigração europeia influenciou o Brasil com seus hábitos e cultura,
e a prática pianística acabou se inserindo na cultura das classes dominantes. Segundo Amato
(2007), o valor atribuído ao piano gerou o surgimento de professores imigrantes particulares,
recitais de piano, lojas de música e a criação de conservatórios de música, seguindo a tradição
de ensinar piano no modelo de um aluno por vez, tendo como foco o repertório e a técnica –
Piano Individual (PI).
Por outro lado, o ensino de Piano em Grupo (PG) é caracterizado por dois ou mais
alunos que recebem instruções simultaneamente, tendo como foco proporcionar o aprendizado
da linguagem musical, desenvolvendo habilidades funcionais, e não apenas a execução no
instrumento (RICHARDS, 1962). Teve início no século XIX, com sua primeira ocorrência em
Dublin, Irlanda, por volta de 1815, pelo músico alemão Johann Bernhard Logier (1777-1846).
Ele argumentou que esta modalidade era ideal para introduzir conceitos da teoria musical e
aplicá-los posteriormente ao teclado, desenvolvendo também habilidades funcionais
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a 18 anos. As aulas têm duração de uma hora e são oferecidas duas vezes por semana.
Quando realizada a pesquisa, elas constavam com aulas de teclado/piano no Projeto
Guri por sete meses sob minha mediação, e o conteúdo programático – exigido pelo Guri –
neste percurso abordou: alongamentos e relaxamentos básicos de membros superiores e
inferiores; sensibilização da consciência corporal e do equilíbrio muscular; postura corporal;
memória; movimentos corporais; notação não convencional (gráficos, pontos, curvas, etc.)
relacionada com a exploração sonora; improvisação e composição; leitura e escrita como
meio de representação da música; leitura à primeira vista de obras ou fragmentos simples de
obras do repertório em execução; improvisação livre e dirigida (baseados nos conteúdos
trabalhados); composição, a partir da utilização de materiais presentes nas aulas; repertório
popular, folclórico e erudito; execução de músicas a duas, três e quatro vozes, baseadas nas
texturas de pergunta e resposta; estrutura homofônica, heterofônica, polifônica, cânones a três
ou quatro vozes.
Nessas condições, foi realizada uma aula de PG de uma hora que foi vídeo-gravada. A
pesquisa realizou-se inspirada nos moldes de um trabalho qualitativo e participante, no qual a
interpretação dos processos educativos ocorreu mediante trabalho de atuação direta e
observação participante com o grupo envolvido da pesquisa. Para além do registro e descrição
dos dados, o enfoque envolveu, também, o compromisso com a interpretação teórica,
metodológica e intersubjetiva dos dados registrados e reconstruídos na pesquisa. Os registros
dos dados ocorreram por meio de diário de campo e de vídeo-gravação transcrita, e as análises
foram realizadas fundamentando nos estudos sobre educação vinculados à perspectiva
histórico-cultual.
A análise desse episódio interativo e específico configurou o modo de pesquisar dos
processos do desenvolvimento humano que se conseguiu identificar. Considerou-se a
singularidade de cada sujeito participante, o modo como aprenderam e os modos de
funcionamento cultural que definem o que é e como acontecem os atos de aprender: “[isso]
leva-nos a considerar a inter-constituição entre o processo teórico e empírico de investigação
deste trabalho e o que podemos definir como percurso metodológico de pesquisa”
(ANDRADE, 2008, p. 83).
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética, Plataforma Brasil, pelo registro
97098518.7.0000.5390.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
1. Bianca: agora a gente vai fazer o acorde, que a gente chama de “acompanhamento”, e a mão direita a
gente chama de? Quem lembra?
2. Yuja: melodia?
3. Bianca: parabéns, Yuja! Melodia!
4. Nina: aqui, professora (e toca o acorde com a melodia)
5. Bianca: então mão esquerda é o...?
6. Yuja: acorde
7. Bianca que é o...?
8. Yuja: acompanhamento
9. X: e a direita é a...?
10. Yuja e Chiquinha: melodia
11. Bianca: ou seja?
12. Chiquinha: que vai na frente
13. Bianca: que vai na frente? É o canto, né?
14. Nina: professora, assim? (e toca)
15. Bianca: mas sem fazer “escorregador” na mãozinha. E esse pé? Olha a postura!
16. Todas arrumam a postura
17. Bianca: prontas? Alguém dá a regência?
18. Chiquinha: posso dar?
19. Bianca: pode ser!
20. Chiquinha: pode ser, meninas?
21. Unânime: sim!
22. Clara: professora, a gente começa com essa mão aqui (menção para a mão direita) junto com essa aqui
(menção para a mão esquerda)?
23. Bianca: juntinhas, exatamente. Então: “dó-ré-dó” (fazendo a pulsação da entrada de cada mão)
24. Nina: assim, professora? (e toca o que foi proposto)
25. Bianca: isso, mas o “ré” é dedo 2
26. Yuja aponta para Nina o dedo. Não feito, ela sai do seu lugar e arruma o dedilhado da mão da Nina
27. Alice rege a entrada, no entanto, não tocaram conforme o proposto
28. Chiquinha: toda vez que tiver no [tempo] 1 toca?
29. Bianca: só toca no [tempo] 1
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Neste episódio, os sentidos foram percebidos como construídos nas interações sociais,
em um processo de convivência, no qual o educar se manifestou de maneira recíproca. Em um
ambiente de contexto social comum, apontamos que é por meio da interação entre as crianças
que estudamos as possibilidades de conhecimento apontadas pelos sentidos ditos nas palavras,
nos gestos, nas entonações, na afetividade etc.: os signos fazem sentido quando os indivíduos
os constituem quando estão socialmente organizados. A construção do aprendizado se deu,
dessa forma, pela experiência, pela memória, pelo outro, pela linguagem, no encontro com o
outro. Esse é um sentido importante quando destacamos para a análise um episódio em que o
objetivo de construir o objeto de estudo esbarra nas diversas formas de conceber e de falar
sentidos, possibilitando, ao interagir, significar.
Ao analisar este episódio, a fala foi um dos destaques, e isso ajuda a compreender a
relação das crianças com o meio. Nisto, destaca-se a obschenie (VIGOTSKI, 1984): algo que
une ou unifica as pessoas; uma atividade que estabelece uma união de relação comum por
meio da fala (PRESTES, 2018). Para isso, no entanto, ressalta-se que os sujeitos envolvidos
devem estar em um contexto comum para que haja compreensão de uns com os outros. Essa
comunicação provoca, impulsiona o desenvolvimento infantil; ela permite, ainda, estabelecer
a relação entre as pessoas e suas responsabilidades de ajudar ao próximo (SOBRIN;
KLIMOVA apud PRESTES, 2018).
Nas tentativas de tocar ao piano o que foi proposto, ressalta-se a diversidade dos
modos de participação, no esforço de cada uma, no intuito de comunicar e construir
conhecimento. Nesse episódio, construíram uma prática musical pela troca e partilha;
educaram-se umas com as outras de maneira colaborativa, na comunicação entre os sujeitos.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Nesse encontro percebemos uma aceitação “do outro” para se abrirem ao diálogo, pois
somente quando se aceita o outro é que pode escutar e confiar em sua palavra. E, a partir
dessa compreensão, foi percebido o modo de significar de diversas formas: quando os
sentidos do corpo se confundiam, o discurso dialógico esclarecia; quando o discurso dialógico
confundia, os sentidos do corpo ajudavam a significar.
Na tarefa desenvolvida, havia o objetivo de aprender uma música que aprenderam com
movimentos corporais sendo passadas, neste episódio, para o instrumento piano. A atividade
humana de integrar-se, de fazer coletivamente, auxiliando uma à outra é destacada, antes de
tudo, como uma experiência social. É um sujeito que experiencia pelo discurso, pela audição,
pela visão, pelo tocar piano, pela experiência de si e do outro, em prol da obschenie.
As significações dadas pelas meninas para ajudar a colega foram construídas na
diversidade das relações eu-outro. A integração de diferentes modos de representar o
raciocínio, os processos e as descobertas, com a finalidade de que Clara se apropriasse do
significado dos conceitos, conforme foram compreendendo as diferentes formas
representacionais de fazer a atividade, muito contribuiu para que o processo de aprendizagem
da Clara tivesse significado. Essa estrutura conceitual criou recursos de participação na
dinâmica das interações sociais. Como afirma Oliveira (1992), os conceitos têm grande
importância ao atuarem tanto como meios de acumulação de nosso conhecimento sobre as
coisas, como por agirem de forma a filtrar possibilidades para nossas interpretações.
No episódio apresentado percebemos que, além das diversas conformações conceituais
que existiam ali, tanto por parte da pesquisadora quanto das crianças, existiam também muitos
outros modos de funcionamento da linguagem operando ao mesmo tempo naquele contexto
de interação. Yuja representou a atividade de “melodia acompanhada” em gestos (linha 32),
Chiquinha em palavras (linha 34), Nina fazendo ao piano (linha 33), além da minha mediação
(linha 36). Ressalta-se que, para enfatizar as falas, fizeram uso dos gestos, a fim de levar
confiabilidade em suas representações (AIZAWA, 2016). O que vemos, então, é a linguagem
em funcionamento na sua multiplicidade de formas, e o conceito, mesmo considerado o seu
papel fundamental, tornou-se uma dentre muitas formas de funcionamento da linguagem.
Como afirma Vigotski (2007), as crianças resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala,
assim como dos olhos e das mãos. A unidade de percepção, fala e ação, que provoca a
internalização, constitui a análise da origem das formas humanas de comportamento.
Em nosso entendimento, o processo de significação nas relações de aprendizagem
configurou-se como a trama vivenciada nas relações sociais e, como tal, “os esforços e as
interpretações na busca de sentido vão sendo elaborados no âmago mesmo das práticas
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XIII Encontro de Educação Musical
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2. Considerações finais
Em uma aula de Piano em um ambiente coletivo, o aprendizado em pares se torna
muito efetivo para os processos de aprendizagem. “Numa aula de grupo, frequentemente os
alunos podem aprender uns com os outros, tanto ou mais do que com o professor. O estilo
mestre-aprendiz é substituído por um que encoraja o apoio dos pares e desenvolve a
aprendizagem autônoma” (LEY, 2004, p. 7). A troca de representações faz com que certos
tratamentos sejam efetuados de maneira muito mais simples e mais potente do que outros.
A importância das diferentes representações por diversos sujeitos está em se conseguir
apresentar maneiras diferentes de aprender daquela representação dada inicialmente –
geralmente pelo professor. No episódio apresentado, foram quatro representações diferentes
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XIII Encontro de Educação Musical
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para que Clara encontrasse o seu melhor meio para compreender a prática. Em uma aula de
Piano Individual, haveria apenas um tipo de representação – a do professor.
Numa aula individual, devido à assimetria que normalmente há entre o professor e o
aluno, esse exercício [de partilha sobre como conceber a prática] é quase impossível,
pois as situações mais comuns são: o professor manda/o aluno obedece ou o aluno
faz/o professor concorda ou discorda (neste último caso, o aluno segue a orientação
do professor) (SCHROEDER, 2009, p. 49-50).
Referências
AMATO, Rita Cássia Fucci. O piano no Brasil: uma perspectiva histórico-sociológica. In:
Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música. Anais... São
Paulo: ANPPOM, 2007, p. 01-11.
EZPELETA, Justa; ROCKWELL, Elsie. Pesquisa participante. São Paulo: Cortez: Autores
Associados, 1986.
FISHER, Christopher. Teaching piano in groups. New York: Oxford University Press, 2010.
LEY, Brian. The dynamics of group teaching. In: All together! Teaching music in groups.
Londres: The associated board of the royal schools of music. 2004, p. 4-23.
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XIII Encontro de Educação Musical
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OLIVEIRA, Marta Kohl. Grandes educadores: Lev Vygotsky. Atta mídia e educação. DVD
(45 min.), português. São Paulo: Editora Paullus, 2006.
PINO, Angel. O social e o cultural da obra de Vigotski. Educação & Sociedade, ano XXI, n.
71, p. 45-78, 2000.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
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Resumo: A musicalidade de uma criança pode ser desenvolvida desde a tenra idade, e ela possui
capacidades para perceber e recordar ritmos. Por meio deste relato, iremos apresentar a música como
um veículo de aprendizagem para crianças que não têm oportunidade fora do contexto escolar. Nosso
objetivo foi contribuir com o desenvolvimento silábico e a psicomotricidade através de atividades
rítmicas. Observamos que os estudos e as práticas em sala de aula apontam para atividades
relacionadas de música e movimento e apresentam eficiência nos resultados apresentados pelos
alunos.
1. Introdução
A musicalidade de uma criança pode ser desenvolvida desde a tenra idade, mas precisa
ser estimulada da forma correta e contínua. Sousa (2003) fala que a criança possui
capacidades para perceber e recordar ritmos. Esse processo de estímulo leva tempo, sendo
assim, quanto antes for iniciado mais entendimento musical essa criança terá. As crianças que
compõem o grupo do qual iremos falar, em sua maioria, não receberam esse estímulo no
tempo certo. Algumas só participam de uma experiência verdadeira com a música na sala de
aula. O estímulo rítmico esteve presente em todas as aulas. As atividades rítmicas
desenvolvem na criança diversos aspectos, como: auditivo, cognitivo, rítmico, psicomotor,
expressivo entre outros, que serão aqui expostos.
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) é uma proposta de
valorização dos futuros docentes durante seu processo de formação. Tendo como objetivo o
aperfeiçoamento da formação de professores para a educação básica, e a melhoria de
qualidade da educação pública brasileira, iniciamos um projeto de musicalização infantil na
EMEF Eliza Franco no município de Engenheiro Coelho. Participamos do Subprojeto
"Musicalizando o Alfabeto" com os graduandos de licenciatura em música do UNASP
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3. Resultados obtidos
Os objetivos foram alcançados: através das atividades rítmicas os alunos
desenvolveram a coordenação motora, aprimoraram a psicomotricidade e melhoraram a
separação de sílabas. Durante cada mês pudemos observar o crescimento musical e motor dos
alunos. No início do ano de 2019 foi elaborado um teste diagnóstico para verificar o
conhecimento musical e de alfabetização deles. A grande maioria dos alunos tinha dificuldade
em manter a pulsação e bater palmas com as parlendas. Paulatinamente, aprenderam as
subdivisões de tempo e metade, conseguiram bater palmas e estão conseguindo afinar quando
cantam.
Foi trabalhada a questão de sons curtos e longos e ensinado o gestual de mãos para
cada nota, a manossolfa. No mês de abril eles aprenderam sobre os timbres dos instrumentos e
os instrumentos da orquestra. Neste mês observamos uma melhora significativa na
coordenação deles, bem como na expressividade dos movimentos corporais. Na atividade que
levamos de separação de sílabas com a pulsação da música eles demonstraram compreensão,
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XIII Encontro de Educação Musical
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XIII Encontro de Educação Musical
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Referências
MAFFIOLETTI, Leda. O que se aprende com a Música? In. IGLE, Gilberto (org.). Pedagogia
da Arte: entre lugares da escola. 1 ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Rafael Cardoso
Universidade Estadual de Campinas
rafaelcardosoviolao@gmail.com
Resumo: Este trabalho discute o papel do repertório das bandas de música no cotidiano artístico e
pedagógico dos grupos. Para tanto, apresentamos nossas percepções de como determinados gêneros
musicais vêm sendo incorporados aos repertórios dos grupos desde o fim do século XVIII. Além da
apropriação, nos atentamos para o modo como as bandas de música “pronunciam” tais gêneros
musicais. Esta forma própria de performance se mostra ligada ao modo como a música é significada
neste espaço artístico e, por isso, é discutida como uma possibilidade de potencializar o ensino de
música nas bandas.
1. Introdução
A banda de música é, recorrentemente, apontada como uma manifestação cultural de
forte identificação com as comunidades das cidades interioranas brasileiras (LANGE, 1968 e
1998). Em sua diversificada atuação frente à sociedade, destacam-se as interações com as
manifestações religiosas, militares, políticas e de entretenimento (PEREIRA, 1999 e
BINDER, 2006). Além disso, o aspecto pedagógico das bandas de música brasileiras tem
especial espaço e vem sendo amplamente pesquisado, citamos Benedito (2011), Silva (2010)
e Barbosa (2009) dentre outros.
Em recente pesquisa de mestrado (CRUZ, 2019) averiguamos que a atuação
diversificada das bandas nas comunidades vem gerando uma atuação musical também
diversificada quanto aos gêneros musicais do seu repertório. Verificamos ainda que esta
dinâmica é histórica e contínua e está intrinsecamente relacionada à continuação das
atividades das bandas e ao desenvolvimento musical dos grupos e seus componentes. Assim,
a banda vem (re)construindo sua identidade enquanto manifestação cultural baseada na
diversidade. Ao nosso ver, esta dinâmica potencializa a significação e o aprendizado musical
no ambiente de banda.
Neste trabalho, pretendemos apresentar um recorte da atual pesquisa em
desenvolvimento que olha para este processo de incorporação de repertório como uma
possibilidade de potencializar o ensino musical intencional nas bandas (aulas e ensaios).
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XIII Encontro de Educação Musical
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Portanto, este trabalho segue com uma discussão sobre a forma como as bandas de
música brasileiras se apropriaram de diversos gêneros musicais desde o final do século XIX,
segue apontando como este movimento de constante apropriação se relaciona com a
continuação do grupo e o desenvolvimento musical dos seus integrantes e, por fim, traz
algumas considerações de como tais dinâmicas podem apontar para novas práticas
pedagógicas nas bandas.
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incorporação de repertório e de atuação das bandas frente à sociedade. Duas leituras nos
pareceram esclarecedoras quanto à dialética que vimos discutindo sobre a tradição e a
inovação presentes na banda de música, este é o tema central da discussão feita por Barbosa
(2009). A outra é a de Daniel Gohn (2015), que discute as a presença dos jogos eletrônicos,
das redes sociais e a mediação da educação pelas tecnologias presentes no cotidiano musical
dos jovens.
A dialética de tradição e inovação também é uma realidade quanto aos processos
pedagógicos adotados nas bandas. Durante muito tempo, o modelo tradicional de ensino,
fortemente influenciado pelo modelo conservatorial, foi predominante nas bandas brasileiras.
Barbosa (2009) divide este modelo em três fases, a saber: a primeira fase de estudos teóricos e
aprendizado da leitura rítmica de partitura; a segunda fase de execução instrumental com
leitura através de métodos tradicionais com predominância de exercícios técnicos; e na
terceira fase, após aproximadamente 2 a 3 anos nas fases anteriores, o aluno passava a
frequentar os ensaios e ter contato com o repertório da banda. O primeiro movimento de
inovação no ensino promovido nas bandas ocorre pelo advento dos métodos coletivos, o autor
relata uma experiência com estes métodos de origem estadunidense na década de 1990 na
região de Sumaré/SP, sendo que nos próximos anos o próprio pesquisador viria a publicar o
“Da Capo método elementar para o ensino coletivo ou individual de instrumentos de banda”
(BARBOSA, 1994).
Os avanços apontados por Barbosa (1996 e 2009) com a utilização dos métodos
coletivos são a prática coletiva predominante, o reforço do pertencimento dos alunos com o
grupo, desenvolvimento da técnica instrumental, percepção, leitura e contato com melodias
conhecidas (sobretudo com cantigas de roda brasileiras no caso do método publicado pelo
próprio autor), simultâneos desde o início. Hoje, a metodologia de ensino coletivo nos parece
predominante nas bandas, sobretudo nas bandas escolas e até em bandas históricas que já
tenham passado por algum processo de reestruturação organizacional e renovação de
componentes (este é o caso da banda estudada durante a pesquisa de mestrado, por exemplo).
Porém, o modelo de ensino tradicional ainda é notoriamente presente em muitas bandas
tradicionais (como é o caso da banda sendo estudada na pesquisa de doutorado).
De fato, os dois modelos de ensino partem de perspectivas opostas, porém, coexistem
em algumas situações. Mesmo o autor principal deste texto ouviu do próprio pesquisador Joel
Barbosa, em uma palestra, que é muito comum ver seu método coletivo sendo utilizado a
partir de práticas de ensino tradicionais ignorando a coletividade, a valorização máxima da
experiência com menor ênfase na leitura e na teoria e etc. O que inferimos desta situação é
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XIII Encontro de Educação Musical
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Considerações
Considerando a constante reconstrução identitária das bandas e do seu repertório como
processos ligados ao desenvolvimento musical dos grupos e dos músicos das bandas,
apontamos a necessidade de uma constante reconstrução/renovação dos processos de ensino
intencionais que ocorrem nos grupos. Esta renovação pedagógica deve acompanhar a
dinâmica da renovação do repertório, as novas tecnologias da informação e redes sociais de
compartilhamento de conteúdos que, concomitantemente, apontam para uma nova realidade
sociocultural na qual as crianças e adolescentes estão imersos quanto a sua vivência musical
cotidiana (GOHN, 2015). Acreditamos que, da mesma forma que os novos repertórios que
vêm sendo atrelados às bandas de música não suplantam o repertório tradicional, as novas
possibilidades pedagógicas que intencionamos não têm a pretensão de invalidar ou substituir
as práticas pedagógicas em voga atualmente nas bandas de música. Porém, assim como a
banda de música se mantém como uma manifestação viva na sociedade atual por sua
capacidade de adaptação às novas realidades, é necessário abrir espaço para novas práticas
contextualizadas com estas novas realidades, sobretudo quanto às novas tecnologias e redes
de compartilhamento. Assim como os métodos tradicionais de ensino conservatorial abriram
espaço para os métodos coletivos desde o início do século XX (BARBOSA, 2009), ainda é
preciso considerar a utilização de ferramentas que extrapolem os livros de partituras e
playbacks fornecidos em CDs, como as redes sociais de compartilhamento, jogos eletrônicos,
aplicativos e softwares interativos etc. Estamos intencionando uma prática pedagógica viva
em relação às novas dinâmicas de vivências musicais cotidianas perpassadas por tais
ferramentas. A descentralização da leitura de partituras pode ainda se estender a uma abertura
que comungue o repertório tradicional de bandas, as já “tradicionais” cantigas de roda e
músicas da infância com o repertório da cultura pop tão presente no cotidiano mediado pelas
novas tecnologias da informação, jogos eletrônicos e redes sociais. Assim como nossa
perspectiva teórica aponta para a necessidade de extrapolar a escrita e estruturas teóricas
como principais referências para a significação e ensino musical (COOK, 2013), a busca por
novas ferramentas de compartilhamento e experiências musicais vão além de possibilidades e
figuram, para nós, como necessidades. De modo inicial, buscaremos apresentar as primeiras
atitudes pedagógicas sobre as quais pudemos refletir durante o minicurso a ser realizado neste
evento, o XIII Encontro de Educação Musical da Unicamp.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Referências
BINDER, F. P. Bandas Militares no Brasil: Difusão e Organização entre 1808 e 1889 (Vol.
1). São Paulo: Editora da Unesp, 2006.
COOK, N. Beyond the Score: Music as Performance. New York: Oxford University Press,
2013.
LAUTZENHEINSER, T., RIGGINS, J., MENGHINI, C., LAVENDER, P., RHODES, T., &
BIERSCHENK, D. Essential Elements 2000 (Vol. book 1). Winona: Hal Leonard, 1999.
LIMA, N. C. Imagens de Teresina (PI) do século XIX - XX: Sentimentos, desejos, tramas
urbanas e práticas jornalísticas. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, pp.
01 - 15. Julho de 2011.
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XIII Encontro de Educação Musical
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PEREIRA, J. A. A Banda de Música: Retratos Sonoros Brasileiros. São Paulo: UNESP, 1999.
1
A nossa base teórica é construída sobre a Teoria do Discurso de Mikhail Bakhtin (2017) aplicada à música por
Schroeder (2005). Para um entendimento breve destas ideias recomendamos a leitura de Cruz (2018), e, para um
entendimento mais aprofundado de como construímos nossa base teórica recomendamos ainda a leitura de Cruz
(2019), Schroeder (2005) e Bakhtin (2017). Consideramos ainda algumas aproximações e contribuições das
ideias de Cook (2013) sobre a significação musical pela performance.
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Resumo: Este trabalho tem por objetivo relatar a implementação da prática do canto coral no
município de Itupeva na modalidade adulto, bem como estudar seus avanços ao longo dos meses sob
olhar da educação musical. Para atingir tais objetivos serão analisados os registros manuscritos,
audiovisuais e observações feitos por esta autora, que também é a professora regente, e os
depoimentos colhidos dos próprios alunos, participantes ativos da ação.
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A primeira música, que visava estimular o contato com a escala musical ascendente e
descendente, o nome das notas, bem como sua afinação foi “Minha canção” do musical “Os
saltimbancos”.
Mesmo sem lerem partitura, foi entregue a cada participante uma cópia a fim de irem
se familiarizando com o novo contexto. De forma leve e prática, aos poucos a simples
visualização das vozes na partitura passou a ser ferramenta e guia de aprendizagem.
Os questionamentos em relação à escrita e leitura musical se tornaram alvo de
interesse e passaram a ser abordados nas aulas.
Com o passar dos meses e à medida que o repertório se consolidava, o plano de aula
seguiu mais ou menos um mesmo padrão, o que conferiu maior unidade do grupo bem como
seu amadurecimento musical.
Cada aula era minuciosamente preparada e registrada num caderno pela
professora/regente.
Inicialmente as aulas tinham duração de 1h30, mas, com o desenvolvimento do grupo
e a necessidade de aperfeiçoamento de algumas peças, chegou a ter 2 horas de duração, uma
vez por semana.
Abaixo segue tabela com esquema aproximado das aulas:
Alongamento 5 min
Exercício rítmico 10 min
Exercício de respiração 5 min
Exercícios vocais 20 min
Solfejo / teoria musical 10 min
Repertório 30 min
Desaquecimento vocal 5 min
Para fixar o repertório, gravações dos naipes eram compartilhadas no grupo de recados
do coral, assim os alunos tinham a possibilidade de estudar além do dia da aula.
Essa prática teve efeito muito positivo, já que garantia um maior avanço musical em
relação ao pouco tempo de aula.
Alguns ensaios de naipes eram feitos, porém em menor escala, já que a regente
mantinha funções múltiplas na aula. Sendo assim, alguns alunos com maior facilidade
algumas vezes desempenhavam o papel de líder do naipe vocal.
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XIII Encontro de Educação Musical
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A definição feita pelo regente e professor Mário Assef a respeito dos coros amadores,
aos quais dedicou muitos anos de sua vida musical, retrata bem a realidade dos cantores
participantes da oficina de canto coral da Casa da Cultura de Itupeva, quando diz que se refere
a “amadores” menos por habilidades dos cantores e mais pela única razão pelas quais eles
cantam: um verdadeiro amor pela atividade de canto em grupo.
3. Conclusão
Segundo Junker (2013, p. 21) “todo regente carrega consigo a tarefa de agir como
educador musical nas diversas atividades que desempenha enquanto profissional, sejam
ensaios, apresentações, concertos, participação em seminários, festivais, concursos, etc”.
Por se tratar de uma oficina, o coral da Casa da Cultura de Itupeva constantemente
vem sofrendo mutações, porém como os objetivos, valores, metas e principalmente propósitos
são claros e compartilhados com os alunos, os resultados alcançados se mostram satisfatórios
aula a aula.
Através dos registros de aulas e recursos audiovisuais das apresentações, pode-se
constatar o crescente desenvolvimento musical do grupo. Os alunos também são testemunhas
do crescimento musical do grupo e principalmente do seu próprio.
Embora haja rotatividade de integrantes pelo fato de ser uma oficina oferecida à
população semestralmente, pode-se observar como a qualidade da base musical desenvolvida
desde o início e o minucioso cuidado com as particularidades de cada indivíduo fizeram da
experiência de cantar em grupo uma excelente maneira de entreter, musicalizar e criar laços
de amizades que extrapolaram as paredes da sala de aula.
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Referências
MARSOLA, Mônica. BAÊ, Tutti. Canto: uma expressão – princípios básicos de técnica
vocal. São Paulo: Irmãos Vitale, 2001.
PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. 2ª edição. Porto Alegre: Sulina, 2010.
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Resumo: O presente trabalho relata a experiência dos autores no ensino coletivo de cordas e clarineta
na comunidade de Santo Antônio de Leverger-MT durante os anos de 2014 e 2015. A partir da
parceria entre o Departamento de Artes da Universidade do Estado de Mato Grosso (UFMT) e a
Associação Arte Cidadã daquela cidade, propôs-se a estruturação de um projeto de extensão para o
ensino de instrumentos musicais com crianças e adolescentes integrantes dos corais já existentes na
Associação. O relato descreve brevemente como se deu a estrutura das aulas de instrumentos,
objetivos propostos e alcançados com o projeto e alguns desafios enfrentados pelos autores neste
período.
1. Introdução
A organização e estruturação de projetos sociais como alternativa para o acesso a
diferentes contextos sociais tornou-se uma prática agora já consolidada, após algumas décadas
de investimento público e privado (KLEBER, 2014, p. 27). Encontrar formas de oportunizar
melhorias na qualidade de vida em diversas realidades sociais onde a falta de condições
básicas de saúde, educação, segurança são a regra pode significar acolher e alimentar pessoas
com a esperança de uma vida mais digna e mais humana, além de oferecer conhecimento e
aperfeiçoamento pessoal.
A música e suas múltiplas facetas tem sido amplamente usada como ferramenta
altamente potente em projetos de democratização do conhecimento e de ressocialização.
Através dela se ressignifica a oportunidade e o acesso a elementos fundamentais como
interação social, colaboração e empatia, desenvolvimento de faculdades psicossociais,
expressão de sentimentos, de movimento e autoconhecimento. Além das inúmeras
possibilidades que ela pode proporcionar do ponto de vista físico-motor, cognitivos e
comportamentais (ALVES, VIEIRA & SERRANO, 2010; BOAL-PALHEIROS, 2014;
ILARI, 2013, p.14; CSIKSZENTMIHALYI,1990 apud ILARI, 2005).
A partir desse entendimento, mecanismos efetivos de realização de tais projetos
podem ser idealizados e realizados. O aqui utilizado para este relato de experiência foi o
projeto de extensão proposto por professores do Departamento de Artes da Universidade
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Federal de Mato Grosso (UFMT) em parceria com a Associação Arte Cidadã, na cidade de
Santo Antônio do Leverger-MT. A partir deste convênio, foi possível levar até a comunidade
aulas de música no formato de aulas de instrumentos musicais, sendo aqui clarineta, violino e
viola, além do trabalho com canto coral que a Associação já vinha realizando com crianças e
adolescentes em suas dependências desde 2003.
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I para Violino e Viola de Schinischi Suzuki (1983). É importante destacar aqui que não foi
aplicado o método e nem a filosofia Suzuki de maneira integral, considerando que isso
incluiria uma série de elementos fundamentais, como a audição das gravações das músicas
dos métodos, a participação ativa dos pais nas aulas e no acompanhamento dos alunos em
seus estudos diários (SUZUKI, 1983), o que se mostrou inviável durante o desenvolvimento
do projeto. Sendo assim, ressaltamos que os livros eram utilizados apenas como referências
para o repertório dos alunos, uma vez que as músicas são pensadas e organizadas por grau de
dificuldade. A introdução da mão direita se deu de maneira muito semelhante à mão esquerda,
iniciando com a postura e colocação dos dedos no arco, postura do braço e arco no
instrumento, ativação e projeção do som nas cordas soltas e por último a junção das mãos
esquerda e direita.
Além dos materiais citados acima, outros conteúdos de leitura musical foram sendo
incluídos aos poucos, bem como a continuidade de elementos fundamentais para o estudo dos
instrumentos como escalas maiores de uma oitava. Também foram utilizadas práticas
pedagógicas que envolveram a voz, movimentos corporais, sensoriais, percepção rítmica e
auditiva, coordenação e motricidade fina tendo como referências outras pedagogias da
educação musical como Orff, Dalcroze e Kodaly.
A dinâmica das aulas coletivas se ajustou muito bem à realidade do projeto, uma vez
que as crianças se sentiam motivadas e animadas com o compartilhamento de conhecimento,
de dificuldades e de conquistas junto com seus colegas. Eram, sobretudo, amigos de escola e
se viam todos os dias tanto em sala de aula como nas atividades da Associação, o que
desenvolveu cumplicidade e parceria entre todos se sobrepondo a muitas dificuldades
enfrentadas em suas realidades sociais. Por outro lado, a dificuldade inerente ao aprendizado
dos instrumentos de corda foi um obstáculo no desenvolvimento artístico musical dos alunos.
A falta de participação dos pais e familiares, tanto na rotina de estudos em casa quanto no
acompanhamento das aulas, indicou uma compreensão limitada sobre os processos e
vivências musicais tão necessárias aos objetivos educacionais do Projeto.
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musicalmente parece ser uma forma de contornar os problemas vividos por um dado contexto
ou local, e isso é em grande parte realidade. Mas o professor de instrumento atuando sozinho
num local com tantas carências é exigir demais desse profissional e essa foi a percepção dos
autores.
Não obstante as dificuldades encontradas, e apesar disso tudo, o projeto teve êxitos
memoráveis, a maior parte deles perceptíveis apenas para os que acompanharam o seu
desenvolvimento. Crianças e adolescentes aparentemente apáticos no início se demonstraram
bastante comunicativos, e acabaram por sugerir músicas, alguns tirando-as de ouvido e
apresentando em público. Outros se descobriram em sua afetividade e sensibilidade. E apesar
do projeto ter sido descontinuado, muitos desses alunos seguem estudando com outros
professores em outros locais, alguns fazendo a graduação em música. E a sensação que ficou
em todos, nos comentários que os autores receberam e recebem, foi de um trabalho que ficou
na memória afetiva de pais e alunos e é ternamente lembrado por todos.
Referências
ALVES, N.A; VIEIRA, M.H. & SERRANO, A.M. Educação Musical na Intervenção
Precoce. In: Revista Inclusão, Nº10, 2010, pp. 29-38.
BARBOSA, Joel. Da Capo: Método elementar para o ensino coletivo e/ou individual de
instrumentos de banda. Jundiaí: Keyboard Editora Musical, 2004.
KLEBER, Magali. Música e Projetos Sociais. In: Carneiro, J. (ed.). Música, Educação e
Projetos Sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2014, 27-51.
PENNA, Maura. Educação Musical com Função Social: Qualquer prática vale? Revista
ABEM, Londrina, v. 20, n. 27, 65-78, 2012.
SUZUKI, Schinichi. Educação é amor: o método clássico da Educação do talento. 3ª ed. Santa
Maria/RS: Gráfica Editora Pallotti, 2008.
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Resumo: Este relato de experiência se propõe a apresentar uma proposta teórico-prática identificando
as contribuições do ensino de música, desenvolvido no componente curricular Artes, através do ensino
coletivo de um instrumento musical: a flauta doce, no processo de ensino e aprendizagem de jovens no
período escolar matutino no Ensino Médio. A experiência que visou também a democratização do
ensino de música se fundamentou em considerações de alguns autores da área, e tem apresentado
resultados bastante satisfatórios.
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XIII Encontro de Educação Musical
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apenas ouvindo a música, mas sim identificando os elementos que a compõem e avaliando
aquilo que se ouve, independentemente do gosto.
Muitos autores da área acreditam e defendem que todos devam ter acesso ao fazer e ao
conhecer musical na escola (FIGUEIREDO, 2011; PENNA, 2008; QUEIROZ, 2009); e
argumentam de maneira especifica o que deve ser contemplado como conteúdo de música na
escola:
“(...) entre outras coisas, auxiliar crianças, adolescentes e jovens no processo de
apropriação, transmissão e criação de práticas músico-culturais como parte da
construção da cidadania” (HENTSCHE e DEL BEM, 200, p.181)
“a educação musical deve ampliar o universo musical do estudante através da
democratização no acesso à arte e à cultura” (PENNA, 2008)
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) da área de Arte, especificamente para a
proposta para música, um dos blocos de conteúdos denominado Apreciação significativa em
Música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical, contempla que pode-se
trabalhar essa apreciação significativa a partir do ensino coletivo de um instrumento. Sobre o
ensino coletivo de instrumentos, autores como Flávia Maria Cruvinel, Ana Cristina Tourinho,
Joel Barbosa e outros legitimam este método de ensino através de suas publicações e afirmam
que o mesmo poderá possibilitar a democratização do ensino de música.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
3. A experiência
Após selecionar duas turmas para realizar a pesquisa, iniciamos as atividades
musicais, durante as duas aulas semanais, dentro da grade curricular do componente Artes,
levando em consideração algumas questões-problema que conduziram o processo de
planejamento, implementação e avaliação do ensino coletivo da flauta doce: 1) Que recursos
ou ferramentas devem ser utilizados na estrutura desse planejamento, de maneira a favorecer
interações entre professora e alunos, considerando as possibilidades do contexto em estudo?
2) Como estruturar o planejamento no sentido de favorecer a autonomia dos alunos,
promovendo um nível satisfatório de diálogo e outras interações como o uso das TIC’s através
do Google Sala de Aula 1 (principalmente com postagens de arquivos de áudio e vídeo
contendo partes da aula e performance musical) para o contexto em que se trabalha? 3) De
que maneira trabalhar com o aluno(a) que não se sentir atraído ou com habilidade para
executar a flauta doce, sem atrapalhar o grupo envolvido neste processo? 4) Qual a melhor
metodologia para iniciar este estudo coletivo da flauta doce com alunos que desconhecem
tanto o instrumento como a grafia musical? Tais questões nortearam a presente pesquisa, que
visa adaptar o ensino coletivo da flauta doce, na série inicial do Ensino Médio, como uma
proposta de conteúdo a ser trabalhado no componente curricular Artes, atendendo a
especificidade Música.
A flauta doce é um instrumento muito utilizado para musicalização em contextos
escolares e não escolares, sendo considerada como um “instrumento musical facilmente
adaptável a projetos de introdução à leitura e à grafia musical” (CUERVO, 2009, p. 24). A
utilização da flauta doce na musicalização e nas experiências musicais configura-se como um
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XIII Encontro de Educação Musical
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Figura 1: Boa tarde, meus meninos * Caderno de flauta doce soprano – Yamaha Sopro Novo
A canção acima foi reescrita usando a pauta progressiva, onde vai se acrescentando as linhas à medida que se
trabalha a digitação nas notas.
O trabalho realizado com a flauta doce foi muito interessante: inicialmente ao explanar
como seria a experiência, houve certa rejeição de alguns alunos, que na medida em que os
demais colegas iam conseguindo melhorar o sopro e tocar as primeiras canções apresentadas,
passaram a pedir para tocar também. Mas como toda regra tem exceção, nem todos se
sentiram confortáveis ou entusiasmados “em tocar” e para que estes cinco alunos (2 no 1º Ano
E e 3 no 1º Ano D) não ficassem totalmente de fora da experiência, na segunda aula foi
combinado de que a participação deles seria de observadores(as) e ao término de cada aula
deveriam entregar um relatório com todas as ações realizadas. Este relatório foi e tem sido
119
XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
muito importante, pois funciona como um parâmetro que avalia o desempenho da turma,
através de “outros olhares”, que significativamente vão relatando os avanços da turma.
Após pesquisar muito qual metodologia mais adequada para realizar a pesquisa com
êxito, fiz a opção pela “posição aberta” - metodologia em que fui iniciada na flauta doce ainda
na adolescência - iniciando pela nota SI. Muitos autores defendem como melhor a
metodologia considerada “posição fechada”, que começa com a nota RÉ, utilizando ambas as
mãos. No caso da pesquisa, na qual utilizamos a pauta progressiva que torna mais simples a
aquisição do conhecimento musical, já teríamos que usar a pauta convencional, caso fosse
escolhida esta posição. Nos primeiros momentos, não houve preocupação com a grafia e sim
com a produção do som, com o equilíbrio do instrumento e com o movimento das mãos e
dedos no instrumento, para estabelecer o uso da “posição aberta” na condução da nossa
proposta.
Ao analisar os resultados obtidos nas primeiras aulas, observamos que a maioria dos
alunos teve certa facilidade para a execução das notas Sol, Lá e Si. E foi importante criar um
vínculo a um conhecimento prévio para dar significado à nova informação, pois “é a partir do
que o aluno já aprendeu que todas as experiências acontecerão e todas as aprendizagens
propostas pelo professor poderão ser adquiridas” (LINS, 2004, p. 632).
Para desenvolvimento da pesquisa foram utilizadas canções do método “Aprendendo a
Ler Música”, de autoria de Cristal Velloso e que faz parte do programa Sopro Novo da
Yamaha Musical do Brasil, editado em 2006. Trabalhamos muitas canções pequenas
utilizando apenas as três notas, sempre filmando as aulas e enviando para todos os alunos
através da Google Sala de Aula, para que pudessem verificar os avanços realizados, e registrar
seu posicionamento, trocando informações na nossa sala de aula virtual, e levando em
consideração sempre a proposta da técnica de trabalho que:
[...] consiste em fazer com que todos participem todo o tempo da aula. Assim, no
início de cada encontro existe uma parte de aquecimento, sempre feita de forma
coletiva. Procura-se estabelecer uma ligação muito estreita entre a técnica trabalhada
e o repertório que está sendo estudado, com exercícios que envolvem revisão do
conteúdo aprendido na semana anterior (TOURINHO, 1995, p.45).
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Figura 2: Salas de Aula virtual – cada aluno recebe, em seu email institucional, um código para acessar a sala
virtual e poder realizar todas as atividades postadas.
4. Considerações finais
Conforme as semanas foram se passando, o estudo se apresentou de maneira
progressiva e contínua e os alunos com curiosidade aguçada e vontade de ultrapassar os
limites. Observamos que vários se lançam ao desafio de tocar a música proposta de forma
integral, e o que mais chamou a atenção foi o crescente entusiasmo dos alunos diante do
progresso alcançado, bem como o domínio das habilidades motoras, em sala de aula e na sala
de aula virtual, ao assistirem os vídeos postados, sugerindo modificações, elogiando os
colegas, deixando suas impressões sobre o processo .
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Referências
BRASIL. Lei n. 11.769, de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do
ensino da música na educação básica. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF 19 ago. 2008. Seção 1, p. 1.
FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. Educação Musical Escolar. Introdução. Salto para
o futuro. Educação musical escolar. Ano XXI Boletim 08. Jun. 2011.
HENTSCHKE, L. DEL BEN, L. (Orgs.) Ensino de música: propostas para pensar e agir em
sala de aula. São Paulo: Ed. Moderna.
LINS, M.J.S.C. Avaliando o processo de aprendizagem. Revista Ensaio. Rio de Janeiro, v.12,
n.42, p.623 – 636, 2004.
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XIII Encontro de Educação Musical
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QUEIROZ, Luis Ricardo. Música nas escolas: uma análise do Projeto de Resolução das
Diretrizes Nacionais para operacionalização do ensino de Música na Educação Básica.
ABEM- Associação Brasileira de Educação Musical, 2014. Disponível em:
<http://abemeducacaomusical.com.br>.
YAMAHA, Sopro Novo. Caderno de flauta doce soprano. Rio de Janeiro: Irmãos Vitale,
2006
Anexos
Figura 3: Alunos do 1º Ano D e E do Colégio XXX navegando no Google Sala de Aula: ferramenta que foi
amplamente usada durante a pesquisa.
Notas
1
Ferramenta que permite criar um ambiente/sala virtual onde o professor possa compartilhar com os alunos
materiais, bem como criar e receber tarefas e trocar informações através de e-mail e mensagens instantâneas,
através de um e-mail criado pela SEC/BA e designado para cada aluno.
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XIII Encontro de Educação Musical
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2
Pauta progressiva é uma forma alternativa para introduzir a escrita musical através da progressão das linhas,
iniciando com uma linha e processualmente vai acrescentando linhas horizontais até chegar a pauta convencional
com 5 linhas e quatro espaços.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Resumo: O presente artigo visa abordar a metodologia do educador musical Émile Jaques-Dalcroze
como estratégia de ensino em aulas coletivas de violão, tendo como material musical norteador a peça
Dona Maria (Região de Sobradinho – BA). É uma pesquisa-ação, cuja pesquisa in loco foi estruturada
em um planejamento de oito aulas, em que foram realizadas atividades musicais e corporais, cujo
objetivo é a compreensão do discurso musical e apresentar a importância do corpo no processo ensino-
aprendizagem, buscando o aprendizado ativo e global do indivíduo. Através dos resultados
apresentados, pudemos constatar uma assimilação efetiva dos conceitos musicais aprendidos nas
vivências musicais, na composição coletiva de um arranjo e na performance.
Palavras-chave: Educação musical. Émile Jaques-Dalcroze. Ensino coletivo. Violão. Projeto social.
1. Introdução
Partindo da premissa de que o aluno é um ser ativo no processo de ensino-
aprendizagem, ele deve construir seu próprio conhecimento, mediado pelo professor, em
busca de sua autonomia e independência. Esta concepção justifica uma educação musical
contrária a uma prática pedagógica tecnicista, que neste âmbito técnico, se dá de maneira
teórica, sendo construída de fora para dentro, sendo que o aluno – agente passivo – é
primeiramente apresentado a conceitos que refletem uma reprodução, na maioria das vezes,
dos saberes já construídos pelos próprios professores e não partindo das suas descobertas,
experimentos e criações devido a sua vivência musical.
Émile-Jaques Dalcroze, assim como seus contemporâneos e mais tarde educadores da
segunda geração, compreende a educação musical como a relação da vivência musical e seu
aprendizado a partir da experiência; na qual o aluno compreende, e, compreendendo,
externaliza. Seu sistema, “Rythimique” (Rítmica), condensa todo seu pensamento, baseado
em suas experiências e observações, relacionando diretamente à educação geral e fornecendo
instrumentos para o desenvolvimento integral da pessoa, por meio da música e do movimento;
desenvolvendo a escuta ativa, a voz cantada, o movimento corporal e o uso do espaço. Porém,
a Rítmica é um meio de se estabelecer compreensões e não a finalidade do método. A
finalidade da Rítmica “[...] é permitir que os alunos, ao final de seus estudos, digam não
apenas eu sei, mas eu sinto'' (JAQUES-DALCROZE, 1917, p.viii, apud MADUREIRA, 2012,
p.5).
125
XIII Encontro de Educação Musical
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2. Desenvolvimento
Dialogando com os principais educadores musicais das duas gerações, o Projeto Guri,
projeto sociocultural no qual a pesquisa foi realizada, é mantido pela Secretaria de Cultura e
Economia Criativa do Estado de São Paulo, e está estabelecida no estado há 24 anos. Oferece,
nos períodos de contra turno escolar, aulas coletivas de música para crianças e adolescentes
entre 6 e 18 anos. Especificamente, o Projeto tem como cerne da base pedagógica-musical o
teórico/educador Keith Swanwick e seu modelo CLA(S)P.
O polo de ensino escolhido para realização das atividades está localizado no município
de Brodowski, gerido pela Regional1 de Ribeirão Preto. A classe que definimos para realizar
as práticas musicais é a turma A (turma que inicia o aprendizado do instrumento) do curso de
violão, no qual sou educadora; nela estão matriculados dez 2 alunos com idades entre 9 e 13
anos.
A escolha da peça Dona Maria - inserida no livro de coletânea de canções de
Ermelinda Paz, intitulado: 500 canções brasileiras - deu-se pela necessidade de ensinar e
promover o aprendizado musical e técnico do instrumento que esta música apresenta: a leitura
musical tradicional (partitura) de melodias, fazendo com que o aluno reconheça graus
conjuntos, saltos; assim como reconhecimento e leitura de figuras rítmicas como colcheias,
pausa de colcheia, compasso acéfalo, anacruse e ligadura de duração, de maneira orgânica;
além da compreensão de pulso, compasso binário, modo mixolídio, frase musical e anacruse.
A proposta e realização das atividades musicais teve como objetivo final a leitura
musical de maneira que o aluno vivenciasse e internalizasse os conhecimentos,
proporcionando um aprendizado com consciência corporal, sem causar tensão durante o
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XIII Encontro de Educação Musical
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3. As atividades
Elencamos quatro atividades baseadas em parâmetros que achamos importantes para
proporcionar a sensibilização do indivíduo, a vivência, o entendimento e a prática musical
para a performance da peça Dona Maria. São eles: pulso, criação, aspecto modal, leitura,
tempo – contratempo e escalas – arpejos.
127
XIII Encontro de Educação Musical
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corpo é uma forma de conscientização corporal. O aluno precisa compreender seu corpo,
como se movimenta, quais suas potencialidades. Segundo Rodrigues, a Rítmica tem grande
importância, pois através da música “se pode chegar à realização da tarefa mais importante na
educação musical da criança, que é sentir seu corpo” (RODRIGUES, s/a, p.49).
Para a prática no instrumento desta atividade, foi proposto que eles tocassem três
acordes que já eram de conhecimento geral. O resultado foi o esperado, eles facilmente
associaram os movimentos corporais com a mudança de pulso e o toque de polegar nos
acordes. Iramar Rodrigues nos elucida sobre a importância de o educando ter consciência de
seu corpo e do espaço que ocupa:
Se a criança é bem orientada em seu próprio corpo, e se orienta bem no espaço, terá
menos dificuldades na aprendizagem de leituras e da escrita. Alguns problemas
escolares neste sentido, são devidos, às vezes, a problemas relacionados com
percepção espacial e temporal (RODRIGUES, s/a, p.44).
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Com as frases compostas, no início de cada aula a educadora tocava uma harmonia
com o ritmo do baião fazendo a chamada dos alunos, eles ouviam o tempo musical para
iniciarem sua frase resposta. Para além da atividade de criação e de conhecimento de uma
escala modal, é possível ser explanado sobre frases pergunta-resposta, sendo a chamada
exemplo desta prática.
Sendo a improvisação um dos pilares da pedagogia de Dalcroze, ele ressalta a
importância da prática para proporcionar ao aluno “pensamentos musicais próprios”
(MARIANI, 2012, p.40).
Me parece que a faculdade de improvisar deveria ser cultivada desde o início dos
estudos musicais. Parece inútil ensinar uma técnica a alguém que não tenha o desejo
de se servir da mesma para um fim pessoal. É muito belo saber exprimir as ideias
dos outros, mas é preciso mesmo assim saber exprimir de tempos em tempos as suas
próprias ideias (DALCROZE, 1948, p.114, apud. MARIANI, 2012, p.45).
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XIII Encontro de Educação Musical
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3.4 Enrolar - desenrolar. Salto para frente e salto para trás: arpejo e escala
Objetivos: Desenvolver a percepção musical e identificar auditivamente quando uma
sequência melódica é uma escala ou arpejo, ascendente ou descendente.
Conteúdos: escalas, arpejos, percepção musical e coordenação.
Procedimentos metodológicos: Iniciar a atividade tocando algumas vezes sequências
de arpejos e grau conjunto para que os alunos identifiquem cada uma delas auditivamente.
Propor que façam gestos com as mãos, mostrando a direção da sequência melódica,
ascendente ou descendente e se ocorreu saltos ou grau conjunto. Terceiro momento: aplicar os
movimentos para todo o corpo: ao ouvir uma sequência os alunos devem identificar a altura e
a relação intervalar (escala/arpejo). Escala descendente é representada pelo enrolar o corpo da
postura inicial para baixo, e ascendente desenrolar o corpo da postura inicial até os braços
esticarem para cima. O arpejo ascendente é representado com saltos para frente, o
descendente com saltos para trás.
Terminada atividade, pede-se para que os alunos identifiquem tocando o trecho da
música que estão aprendendo – Dona Maria -, dizendo quais trechos há arpejo e quais há
escala. Ao tocarem, chamei a atenção para o salto de cordas no violão, que normalmente
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XIII Encontro de Educação Musical
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acontece quando temos a realização de arpejos. Para a última etapa, pode-se pedir aos alunos
que façam desenhos das sequências presentes na peça (de maneira gráfica, como eles
imaginam um som descendo e subindo), passando da linguagem corporal – enrolar, desenrolar
e saltos – para a linguagem gráfica; visualizando o movimento melódico que aparecerá
posteriormente, quando tiverem contato com a partitura.
Percepção não é uma atividade de fácil desempenho, mas é de grande importância para
o músico e para o estudante de música, portanto, sua prática deve ser constante, de maneira a
sensibilizar o indivíduo para a escuta. Mantovani (2009) aponta a importância da escuta e sua
externalização a partir do movimento nas práticas de Dalcroze:
Santos, apud Mariani (2012), faz uma análise acerca das propostas pedagógicas de
Dalcroze, que nos faz refletir sobre a prática desta atividade:
Dalcroze tem como premissa a ideia de uma memória corporal, realizada por outras
partes do corpo, além do ouvido, numa espécie de sinestesia. (...) Ele traz para uma
discussão atual a transversalidade de Dalcroze numa prática “tátil-cinestésico-visual-
auditiva” (SANTOS, apud. MARIANI, 2012, p.32).
Sendo assim, percebemos que as relações feitas entre corpo e escuta auxiliaram na
memorização e na compreensão dos elementos estudados. Por meio da rítmica é possível,
então, “um refinamento dos sentidos por meio de uma escuta atenta e de atuação do corpo
como uma unidade, os quais, através da sensorialidade e da sensibilidade, conduz a uma
consciência auditiva” (MARIANI, 2012, p.29).
4. Considerações Finais
Com a prática das atividades propostas e, consequentemente, com uma aula mais
dinâmica, é possível afirmar que os alunos mostraram ser mais proativos e confiantes;
impacto positivo e elemento fundamental na busca da autonomia. É possível relacionar este
comportamento de sentirem seguros ao fato de que eles tinham certeza do que haviam
aprendido. O processo de realização do arranjo coletivo proporcionou aos alunos além de
criação, diálogo e respeito às ideias dos colegas.
Como parte do processo, para a compreensão dos elementos musicais apresentados, na
última aula foi distribuída aos alunos a partitura integral da canção Dona Maria como
131
XIII Encontro de Educação Musical
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proposta de uma peça desafio para tocarem e o resultado foi positivo: leram e compreenderam
o discurso musical ali apresentado. Este resultado em sala foi também observado na
performance da turma ao se apresentarem na audição de final de semestre mostrando
excelência.
Referências
PAZ, Ermelinda Azevedo. Quinhentas Canções Brasileiras. 2. ed. rev. Brasília: Musimed,
2010.
RODRIGUES. Iramar. A Rítmica de: Emile Jaques-Dalcroze. Uma educação por e para a
música. Instituto Jaques-Dalcroze – Genebra. Apostila de curso ofertado pela Universidade de
Ribeirão Preto – UNAERP. Ribeirão Preto. jun. 2018. Não publicado.
Notas
1
Regionais são unidades descentralizadas de atendimento administrativo, social e educativo-musical.
2
O número máximo permitido para matrícula de alunos em uma classe de violão é de 12 alunos.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Estudo sobre o projeto político pedagógico e o guia didático do Projeto Guri para cordas
friccionadas
Resumo: O presente trabalho é uma pesquisa documental sobre o projeto político pedagógico e o guia
didático do Projeto Guri. O Guia Didático Para Cordas Friccionadas - Guia do Educador é baseado nos
parâmetros e propósitos especificados no projeto político pedagógico de 2015/2016. Além do estudo
dos documentos citados, nos baseamos nos trabalhos de Cruvinel (2008), Tourinho (2017), Hikiji
(2006), Ying (2007) para a fundamentação teórica. Este trabalho de conclusão de curso pretende
contribuir para as pesquisas sobre ensino coletivo de cordas em projetos sociais.
1. Introdução
Este artigo tem como objetivo geral estudar um material didático para o ensino
coletivo de cordas friccionadas que é oferecido em projetos sociais. Durante a nossa pesquisa
verificamos a necessidade de estudar o projeto político pedagógico da organização social
responsável pelo material a fim de compreender os parâmetros e propósitos que fundamentam
a existência tanto dos livros didáticos, quanto das aulas. Escolhemos o Projeto Guri para o
nosso estudo, pois é um projeto com mais de 20 anos de existência que atende um público
amplo, além de disponibilizar um grande acervo de informações sobre o seu funcionamento
(PPP, 2010; PROJETO GURI, 2019).
Um desses materiais é o Guia Didático Para Cordas Friccionadas - Guia do Educador,
que faz parte de uma coletânea de livros feitos exclusivamente para o Projeto Guri. De acordo
com o site do Projeto onde podem ser baixados:
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XIII Encontro de Educação Musical
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dos guris, tendo em vista a diversidade de faixa etária, gostos musicais, rotina e
realidade de cada curso oferecido (PROJETO GURI, 2019).
2. O Projeto Guri
O Projeto Guri é uma organização não governamental (ONG) que atua no ensino de
música para crianças e adolescentes desde 1995 e que tem como objetivo promover inclusão
social através da arte (PPP, 2010). O Projeto “atende por ano mais de 50 mil alunos em quase
400 polos de ensino, distribuídos por todo o Estado de São Paulo” (PROJETO GURI, 2019).
A maior parte dos polos tanto no interior quanto no litoral, incluindo os da Fundação CASA,
são administrados pela Associação Amigos do Projeto Guri (AAPG), enquanto o controle dos
polos da capital paulista e Grande São Paulo fica por conta da Associação Santa Marcelina
Cultura, qualificada como Organização Social de Cultura pelo Governo do Estado de São
Paulo, por meio da Secretaria de Estado da Cultura. A AAPG também é mantida pela
Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Além disso, conta com
apoio financeiro de prefeituras, organizações sociais, empresas e pessoas físicas (SANTA
MARCELINA, 2019; PROJETO GURI, 2019).
Neste trabalho, em específico, trataremos somente dos cursos oferecidos através da
gestão da AAPG, devido ao acesso que tivemos ao material didático e à disponibilização do
Projeto Político-pedagógico (PPP) do Projeto Guri através de contato feito por email com a
coordenação do projeto. O documento foi enviado por Valéria Zeidan, gerente pedagógica da
AAPG, que autorizou o uso para estudo deste trabalho.
Atualmente o Projeto Guri atende crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos. Os cursos
oferecidos são de instrumentos de cordas dedilhadas, cordas friccionadas, sopros, teclado e
percussão, além de cursos de iniciação musical, luteria, canto coral, tecnologia e tecnologia
em música (PROJETO GURI, 2019).
Em 1995 seu primeiro polo foi aberto na “Oficina Cultural Amacio Mazzaropi, com o
objetivo de transformar a cultura e a arte em instrumento de inclusão sociocultural” (PPP,
2010, p. 7). Um ano depois foi aberto o primeiro polo na Fundação CASA (antiga FEBEM),
“passando a ser desde então um dos principais projetos parceiros na política de reinserção
social de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas de privação de
liberdade” (PPP, 2010, p. 7). Em 2004 a AAPG “foi classificada como uma Organização
Social de Cultura e no mesmo ano foi firmado o primeiro contrato de gestão com a Secretaria
de Estado da Cultura para que se tornasse a administradora do Projeto Guri” (PROJETO
GURI, 2019). Três anos depois, em 2007, após mudança da diretoria, foram firmadas novas
134
XIII Encontro de Educação Musical
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XIII Encontro de Educação Musical
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Deve-se aqui enfatizar que a instrução nos instrumentos nesse início era quase
inteiramente individual e particular, mesmo que proveniente do regente da orquestra
da escola. No início, o ensino instrumental era feito por professores que dedicavam
apenas parte de seu tempo a essa atividade; gradualmente isso passou a ser feito por
professores que dedicavam integralmente seu tempo ao ensino. É esse o pano de
fundo do inicio das classes da música vocal e instrumental, que conduziram ao que
poderia ser entendido como uma produção em massa, ou como era nominalmente
chamado ensino coletivo instrumental (YING apud WASSEL, 2007, p.12).
Ainda sobre a possibilidade de colocar muitos alunos numa mesma sala, Ying (2007,
p. 8) afirma:
O ensino coletivo de instrumentos, como metodologia, mostrou-se bastante eficaz ao
longo dos anos de seu emprego, como forma de atingir um público maior no início
de seu aprendizado musical, além de propiciar interação social, despertar maior
interesse nos alunos iniciantes e incentivo para a continuação dos estudos através da
dinâmica estimulante de classe de aula.
Em seu livro A música e o risco (2006) sobre a etnografia do fazer musical dos alunos
no Projeto Guri, Hikiji fala sobre a performance musical e sobre a iniciação no instrumento
dentro do Projeto:
A introdução musical dá-se principalmente por meio da formação de orquestras
didáticas e corais, nos quais os alunos têm contato com repertório erudito e popular,
em aulas em grupo, bem como ensaios gerais com maestros, visando a apresentações
externas (HIKIJI, 2010, p. 103).
Sobre as estratégias utilizadas pelo Projeto Guri, o próprio fazer musical em conjunto
é uma destas estratégias de alcançar não só um resultado musical, mas cumprir a premissa de
atender as necessidades sociais de convivência dos alunos:
A vivência musical desenvolvida no Projeto Guri considera a prática de conjunto
como espaço essencial de aprendizagem e aprimoramento, a partir do qual nossos
alunos têm a oportunidade de desenvolver atitudes de pertencimento a um grupo,
socialização, tolerância, percepção de si e dos outros, e respeito mútuo nas relações
sociais (PPP, 2010, p. 18).
As bases conceituais que definem toda a prática de instrumento no Projeto Guri têm:
[...] uma concepção de educação que inclui as dimensões afetiva, intelectual,
estética, ética e social do conhecimento. Assim, reafirmando o potencial
transformador do conhecimento, com ênfase na aprendizagem musical, o projeto
pretende contribuir para a formação de sujeitos integrados positivamente na
sociedade (PPP, 2010, p. 13).
Para alcançar tais objetivos, o Projeto Guri utiliza-se do modelo C(L)A(S)P (1979) do
educador musical inglês Keith Swanwick articulado em seu livro A Basis for Music
Education. Este educador aponta três princípios para o desenvolvimento musical integral
(Swanwick, 2003 apud PPP, 2010); Primeiro princípio: considerar a música como um
discurso; Segundo princípio: considerar o discurso musical dos alunos; Terceiro princípio:
136
XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
fluência musical durante toda a aula. Portanto, estes princípios aliados à execução musical, à
composição (entendida aqui como qualquer forma de criação e improvisação) e à apreciação
musical (escuta ativa e crítica de uma execução musical ao vivo ou em gravações, assim
como escutar colegas e professores tocando) compõem o modelo C(L)A(S)P de Swanwick.
Para conseguir o propósito de ensinar um instrumento musical através do aprendizado
coletivo e com isso cumprir o papel de formação social do indivíduo, o Projeto Guri
estabeleceu o uso de três eixos norteadores: “ o Domínio dos Instrumentos, Prática de
Conjunto e Apresentação. Estes eixos se desenvolvem de modo integrado, contínuo e
ascendente” (PPP, 2010, pág. 18). Já o modelo C(L)A(S)P deve ser utilizado através dos três
eixos, “ou seja: em cada um deles é possível realizar atividades de execução, composição e
apreciação, e ainda de técnica (skills) e literatura, com maior ou menor ênfase de acordo com
as necessidades de cada momento” (PPP, 2010, p.18).
137
XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
pensar sobre o processo de solucionar a sua dúvida e refletir criticamente sobre o que
aprende.
● Imitação é um recurso de aprendizagem que deve ser utilizado nas aulas. Repetição
também, mas em excesso pode cansar ou prejudicar fisicamente o aluno.
● Os alunos devem ser motivados com diferentes estratégias de ensino, encorajamento,
apoio, inspirando sempre a estabelecer objetivos razoáveis, pois a habilidade de tocar
bem um instrumento depende principalmente dos processos em que essa habilidade é
construída e seguida.
● As aulas devem ter conexão com a vida e cultura dos alunos. Podem e devem conter
materiais novos, mas isso deve ser dosado para que crie laços efetivos de apropriação
por parte dos estudantes.
● O Guia trata-se, como o próprio nome já diz, de um guia, ele permite ser adaptado de
acordo com o repertório de estratégias e ensino do professor, do material de apoio
disponível no polo de atuação (livro, Cds etc), e da composição da turma, inclusive se
houver alunos com deficiência.
O Guia Didático é dividido em 10 unidades, nas quais são trabalhadas: postura do
instrumento, como segurar o arco, golpes de arco, dedilhados com 1º, 2º, 3º e 4º dedo; escalas
diatônicas como lá, ré e sol maior além de seus respectivos arpejos; leitura de figuras rítmicas
e localização de notas no pentagrama, ainda de forma inicial. A leitura é feita a partir do
padrão de dedos ensinado em cada corda e de melodia de peças conhecidas, como Brilha
Brilha Estrelinha e Marcha Soldado. O Guia foi elaborado tendo como premissa o livro All for
strings: comprehensive string method - Book 1, dos autores Gerald E. Anderson e Robert S.
Frost, edição de 1986. Para melhor análise das técnicas sugeridas no Guia, seria necessário
analisar também o livro All for strings (COELHO, 2011).
Os exercícios e sugestões distribuídos no livro permeiam os conceitos de composição,
execução e apreciação em suas 10 unidades. No início de cada unidade é especificado o
objetivo geral, objetivos específicos, conteúdos e recursos necessários para executar as
atividades propostas. Diferentemente do que é visto em ensinos tradicionais, o Guia Didático
utiliza-se de recursos de mediação em detrimento da transmissão direta da informação para
aquisição da técnica específica do instrumento. Por exemplo, na Unidade 1 - atividade 1.5, é
sugerido que o professor providencie no polo de ensino uma bolinha de apertar para mostrar
ao aluno como os dedos da mão direita devem estar com as falanges relaxadas e ligeiramente
dobradas para segurar o arco. O aluno experimenta a sensação que é segurar o arco de uma
forma diferente, em um objeto que talvez já tenha visto ou segurado mais vezes que o arco.
138
XIII Encontro de Educação Musical
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5. Considerações Finais
O Guia Didático é um dos poucos materiais feitos com base em propósitos
estabelecidos e específicos de seu local de atuação, feito com base em todas as
particularidades de estudantes de uma organização social. Trata-se de um material com
estratégias de ensino, recomendações e sugestões de como ensinar os conteúdos necessários
para tocar em conjunto. Diversas questões podem ser feitas com relação à escolha de um livro
de suporte como o All for strings, que tem também o propósito de tocar em conjunto, porém
que foi confeccionado sob uma cultura diferente (o livro foi feito nos EUA), em uma época
diferente (1986), e sem o mesmo viés de formação social e cultural do Projeto Guri.
A pesquisa sobre o Guia de forma mais detalhada necessita de um estudo à parte.
Entretanto acredito que este trabalho é enriquecedor tanto para a minha realização acadêmica
e profissional quanto para aquele que o lê, principalmente um professor que está, assim como
eu, no ínicio de sua carreira e à procura de material que o inspire a dar aulas em diferentes
ambientes, com alunos com diferentes histórias. Cabe reforçar que o papel do professor vai
além da sala de aula. É necessário discutir novos métodos, novas estratégias, novos
parâmetros de ensino. Penso, então, que o ensino de instrumento deve acompanhar essas
tendências de mudança.
Referências
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Notas
1
O termo “ensino tutorial” refere-se ao ensino tradicional individual, no qual há um aluno por professor. Ensino
que ocorre ainda hoje, principalmente em conservatórios musicais (TOURINHO, 2007, p. 1-2).
140
XIII Encontro de Educação Musical
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Resumo: Amalgamando educação musical e estudos de gênero, analisamos parte da trajetória musical
e da vida da violeira, cantora e compositora Helena Meirelles (1924-2005). Nisto, constituímos
visibilidade a esta personalidade, assim como descrevemos e explicamos como a formação musical
dela constitui modos generificados nas relações de ensino-aprendizagem musical. Foram analisados os
materiais disponíveis nas redes digitais e os trabalhos acadêmicos que versam sobre esta artista, isto no
intuito de situar nossas reflexões.
1. Palavras iniciais
Tomamos aqui parte da trajetória pessoal e musical da violeira, cantora e compositora
Helena Meirelles (1924-2005) em um exercício de visibilidade e como uma fonte importante
de análise educacional musical que nos permite compreender as relações de gênero presentes
nos processos de educação musical, em específico, nos meios musicais populares.
Trabalhamos estas dimensões de modo conjunto explicitando os valores e significados, muitas
vezes contraditórios, que se constituem na trajetória desta artista e que, de certo modo, podem
ser estendidas para uma reflexão mais ampla musicalmente falando.
Nascida em 13 de agosto de 1924 na cidade de Bataguassu, no Estado de Mato Grosso
do Sul, Helena Pereira da Silva Meirelles mostrou desde cedo um interesse pela música, em
especial pela viola tocada por seus tios. Aos nove anos de idade, surpreendendo o tio violeiro
ao pedir para tocar com ele (e sendo ameaçada de “levar uma surra” caso tocasse mal),
comprovou sua vocação tocando melhor do que muitos peões, segundo a opinião do mesmo
tio. Seguiu sua atividade musical acompanhando seu irmão em apresentações pelas cidades da
região1. Tornou-se (inter)nacionalmente conhecida em 1993 quando foi eleita pela revista
estadunidense Guitar Player como revelação do ano. Ao longo de sua vida casou-se três
vezes, teve onze filhos, trabalhou em prostíbulos. Assim, tornou-se violeira, cantora e
compositora, construindo e desconstruindo em seu próprio corpo, os estereótipos que a
colocavam em uma tênue linha de aceitação e marginalização (SIMÕES, 2009).
Os empecilhos em sua carreira musical foram muitos. Casada aos dezesseis anos, para
“sair de casa e pra mim poder tocar violão à vontade”, o que, por sua vez, também não
ocorreu: “o marido era ciumento, não deixava eu tocar, não deixava eu dançar, não deixava
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nada...falei: quer saber de uma coisa, sentei o pé na bunda dele e mandei ele pastar capim...” 2.
Aqui já é possível observar uma grande energia e ímpeto musical que permitiram um triplo
afastamento de pessoas próximas; primeiro da família, depois, do primeiro marido
“ciumento” e também de quase todos os filhos3, isto, em busca de sua prática musical.
Violeira caipira, Helena Meireles dedicou-se ao gênero musical denominado “música
sertaneja”, isto, a partir de outros gêneros, como a polca paraguaia (e suas derivações), o
chamamé e o rasqueado. A “polca paraguaia” é uma fusão de ritmos indígenas guaranis,
remanescentes da colonização, como a dança de salão europeia do século XIX. O “chamamé”
designa um gênero originado da polca paraguaia com compasso binário composto sobre uma
base ternária e acompanhamento de acordeom, na região de Corrientes no norte da Argentina.
O “rasqueado” (de origem cuiabana) é outra variação da polca paraguaia e deve-se à forma de
puxar todas as cordas ao mesmo tempo, com as costas dos dedos, rasqueando a viola 4.
As vivências de Helena Meirelles naquilo que diz respeito ao intercruzamento entre
sua formação musical e ao fato de ser ela uma mulher brasileira latino-americana, nos permite
consubstancializar (HIRATA, 2014) uma intencionada generalização: a formação musical dos
sujeitos tem materialidade no gênero (MOREIRA, 2012), assim como em outras categorias,
como raça, classe, regionalidade etc. Focando-nos, colocamos que o gênero e a música não
apresentam um simples efeito de complementaridade, adicionalidade ou contiguidade, nem o
gênero é uma mera particularidade na música. Gênero e música estão em relação metonímica,
de imbricamentos situados não disruptivamente, produzidos simultaneamente naquilo que
reiteram e escapam das normas sociais que atravessam os saberes musicais e as formas de
apreender e performatizar o gênero (BUTLER, 2003) em determinada sociedade.
Deste modo, dizemos que Helena Meirelles, vista sobre a égide dos estudos de gênero,
em sua trajetória pessoal e musical, nos permite, no presente, fazer um exercício analítico-
reflexivo acerca das vivências sociomusicais, uma observação sobre como os sujeitos
históricos constroem e desconstroem em si, em meio à diversidade, em vivências pautadas em
possibilidades estabelecidas nos padrões histórico-culturais de uma dada sociedade (SIMÕES,
2009).
142
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Referências
BESSA, Karla Adriana Martins. “Como cheguei a ser o que sou”? Uma estética da torção em
filmes das décadas de 60 e 70. Rev. Estud. Fem. [online]. 2017, vol.25, n.1 [cited 2019-08-
21], p. 291-313.
BRAH, Avtar. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu (26), jan.-jun. de 2006,
p. 329-376.
CANCLINI, Néstor García. A socialização da arte: teoria e prática na América Latina. São
Paulo: Cultrix, 1980.
MEDAETS, Chantal Victória. Tu Garante?: Transmission and Learning Practices Along the
Tapajós River. Childhoods Today, v. 8, p. 1-24, 2014.
MURGEL, Ana Carolina Arruda de Toledo. Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Tetê Espíndola e
Ná Ozzetti: produção musical feminina na Vanguarda Paulista. 262p. Dissertação (Mestrado
em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de
Campinas, SP. 2005.
PENNA, Maura. Música(s) e seu Ensino. 2° ed. rev. e ampl. Porto Alegre – RS: Sulina, 2018.
QUEIROZ, Luis Ricardo Silva. Escola, cultura, diversidade e educação musical: diálogos da
contemporaneidade. Revista Intermeio, Campo Grande, v. 19, p. 95-124, jan./jun. 2013.
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Notas
1
Essas informações podem ser conferidas no documentário Helena Meirelles: A dama da viola doc. Biografia
(parte 1), a partir dos 9m25s. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=4_vr4PXFzxw>. Acesso em:
21 nov. 2029. Helena Meirelles: a dama da viola Doc. Biografia (parte 1). Dur: 30m11s
2
Mesmo documentário a partir dos 14m41s.
3
Cabe observar que provavelmente seus filhos estiveram inseridos dentro uma lógica da “circulação de
crianças”, prática comum entre indígenas e “brancos”, mas também em outras culturas, em diversas regiões do
país, tanto em sua época, quanto ainda hoje. Tal prática consiste em a mãe deixar seus filhos com mulheres de
confiança, pais, pais adotivos ou com famílias próximas da genitora (MEDAETS, 2014).
4
Disponível em < http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa452025/helena-meirelles > Acesso em 10/06/20.
5
In SIMÕES, Julian, 2009.
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How to use Basics: uma introdução à utilização dos exercícios contidos na obra de
Simon Fischer
Emerson de Biaggi
Universidade Estadual de Campinas
emersondebiaggi@gmail.com
Thayná Bonacorsi
Universidade Estadual de Campinas
t187517@dac.unicamp.br
1. Introdução
Durante muitos séculos, a transmissão do conhecimento se deu pela relação
mestre/aprendiz. Entretanto, após a Revolução Francesa, com o surgimento de Conservatórios
por toda a Europa, o ensino de Música a partir de métodos ocupa um lugar de extrema
importância, com o anseio de embasar a profissionalização numa trajetória específica que
garantisse o êxito na cada vez mais competitiva vida profissional (SANTOS, 2011, p. 21).
Nessa nova configuração, a dicotomia entre a música teórica e a prática se estendeu
por anos como centro de disputas valorativas (SANTOS, 2011, p. 22). Buscando uma resposta
para essa separação e visando juntar os aspectos do fazer musical, três grandes pedagogos
violinistas se destacam: Carl Flesch1, Ivan Galamian2 e Simon Fischer. Cada um,
respectivamente, na primeira metade do século XX, na segunda metade do século XX e
próximo à virada do século XX para o século XXI, publicou obras teóricas visando fins
práticos, o aprendizado do instrumento e a performance como um todo.
2. Apresentação do Livro
Simon Fischer, violinista proeminente da atualidade que abarca tanto a área da
performance como a de educador, publicou durante os anos de 1991 a 2014 artigos na revista
The Strad, nos quais discutia acerca de questões desde as mais iniciantes (como segurar o
instrumento, como empunhar o arco etc) até questões específicas de manutenção de técnica
avançada (interpretação de peças de acordo com seu estilo, dedilhados clássicos etc).
150
XIII Encontro de Educação Musical
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Basics (1997) é fruto das experiências do autor com seus professores e a prática
de escrever para a revista. Ao constatar que a grande dificuldade de se tocar violino (e aqui
cabe citar a viola também) é a imensa quantidade de técnicas que se fazem necessárias para
tocar uma simples frase ou uma peça inteira, o Basics se dispõe a ser um grande compilado de
exercícios que subdividem a complexa técnica violinística geral em técnicas menores e
individuais (FISCHER, 1997, p. VI).
A origem dos exercícios da obra é deixada em aberto, uma vez que são passados a
muitas gerações de profissionais, mas Fischer faz menções diretas a Ivan Galamian (produção
de som); Carl Flesch (digitação e dedilhados), Otakar Sevcik 3 (padrões de dedos) e Demetrius
C. Dounis4 (mudança/ação de dedos), por serem referências em suas áreas, e a professora
Dorothy DeLay (1917 - 2002), que foi sua orientadora durante sua passagem por Nova York
(FISCHER, 1997, p. VII).
Consideramos importante descrever, mesmo que de forma sintetizada, a
genealogia violinística de Simon Fischer, que foi aluno de Yfrah Neaman, (1923 - 2003) -
este, por sua vez, foi aluno de Jacques Thibaud (1880 - 1953) no Conservatório de Paris;
prosseguiu seus estudos com Max Rostal (1905 - 1991) e fez sua pós-graduação na Julliard
School Of Music em Nova York sob a orientação de Dorothy DeLay, discípula e assistente de
Ivan Galamian. Essa genealogia, que remete a diversos autores renomados da técnica
violinística (Baillot, Flesch e Galamian), comprova que, ao passar das gerações, as
ascendências tornam-se cada vez mais complexas e diversas (PEREIRA, 2019, no prelo).
3. Proposta do livro
Basics não é um livro para se ler de capa a capa ou ainda como um grande tratado
filosófico do fazer violinístico; o próprio Simon Fischer revela que, para ele, Basics é uma
coleção de métodos práticos e exercícios, portanto deverá ser usado na prática e não como um
livro puramente teórico 3* (FISCHER, 1997).
A sugestão dada logo na introdução da obra é que o instrumentista (ou professor)
deverá selecionar uma área (que no livro é dividido em sete seções) e trabalhar questões
específicas dentro dessa seção (FISCHER, 1997, p. VIII).
A abrangência do Basics se assemelha aos grandes livros sobre técnica violinística
de nomes como Carl Flesch e Ivan Galamian, com suas obras The Art of Violin Playing
(1924); e Principles of Violin Playing and Teaching (1962), respectivamente (PEREIRA,
2019, no prelo).
151
XIII Encontro de Educação Musical
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4. Estrutura da Obra
De acordo com Santos (2011), no que tange à proposta de criação de um método,
sua estrutura seria como um caminho que demonstra todos os estágios da formação musical
de modo específico, com uma forma progressiva, abrangente e clara, mesmo que não
definitiva. Assim, a proposta de Fischer não se encaixaria como um método, mas sim uma
fonte de referências, que muda de acordo com os pontos técnicos que se desejar trabalhar.
A Tabela 1 ilustra a estrutura geral e a disposição dos exercícios na obra:
Tabela 1: Estrutura o Índice do livro e explicita quantos exercícios contém cada seção.
Como Basics é uma obra muito extensa - trata-se uma coletânea de trezentos
exercícios para técnica - os preceitos referentes a cada um dos elementos técnicos abordados
são apresentados esparsamente, o que dificulta a utilização do método em rotinas de estudo
para iniciantes no instrumento (PEREIRA, 2019, no prelo).
Além disso, a estrutura do índice, a organização dos tópicos e o formato da obra
diferem de suas precedentes (no caso, as obras de Flesch e Galamian), o que, novamente,
requer uma preparação para um uso otimizado da obra e de todas as suas possibilidades
(PEREIRA, 2019, no prelo), mesmo para aqueles que já conhecem/utilizam as obras
anteriores.
É importante lembrarmos que Basics não tem uma versão em português, assim, como
é mencionado por Borges-Scoggin, a diferença de línguas pode gerar um fator de
desmotivação do aluno iniciante brasileiro, uma vez que a origem da maioria dos livros de
estudo para os instrumentos de cordas utilizados no Brasil é estrangeira (1993, p. 142).
Como uma das propostas de ação do nosso projeto de pesquisa é a criação de um
índice mais claro sobre o que cada exercício abarca e com possibilidades de outras
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classificações, fez-se necessário pensar sobre a estrutura proposta por Fischer e formas de
reorganizar seus conteúdos.
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Diagrama 1: Imagem índice que ilustra a divisão dos exercícios por área de enfoque.
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decorrer do comprimento do arco, consideramos que este seria um exemplo ideal de que como
Fischer enfoca em cada aspecto durante a obra.
Já o exercício 284, que trabalha principalmente a questão do vibrato (deixando em
aberto a escolha entre vibrato de pulso ou vibrato de braço), acaba por exigir a correlação,
uma vez que a nota do vibrato tem altura definida, pede uma utilização consciente do
movimento do polegar esquerdo, utiliza um golpe de arco específico e sugere uma variação de
cordas utilizando os mesmos princípios.
Assim, sabendo que as técnicas se combinam no fazer musical, o diagrama não anula
as possíveis - e presentes - junções de técnicas no fazer instrumental.
Realçamos que, apesar da obra original ser voltada para técnica violinística, os
violistas podem ter um contato muito frutífero com Simon Fischer, uma vez que a
transposição de suas ideias não é excludente. A aplicação dos exercícios na viola requer que
sejam consideradas as diferenças entre ela e o violino, pensar as suas especificidades,
principalmente com relação aos exercícios intervalares e nas indicações acerca do repertório
complementar.
6. Conclusão
Como vimos, Fischer empreendeu um caminho importante para a literatura da
pedagogia do instrumento no final do século XX, lançando, entre diversas outras obras de sua
autoria, Basics (1997).
O propósito e intuito da nossa pesquisa é facilitar um primeiro contato ou ainda
orientar usos da obra em sua rotina de estudo, o que, no que se entende ao ler a introdução da
obra original, sempre foi a vontade de Fischer (FISCHER, 1997, p. III).
Não pretendemos acabar aqui a discussão sobre a inegável importância de Fischer no
cenário da pedagogia do instrumento, nem concluir terminantemente nossas intervenções
155
XIII Encontro de Educação Musical
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sobre a obra Basics, mas sim introduzir de uma maneira que acreditamos ser eficiente as
ideias e sugestões práticas dos exercícios sugeridos por Simon Fischer.
Referências
FISCHER, Simon. Basics: 300 exercises and practice routines for the violin. Edition Peters,
1997.
FLESCH, C. The art of violin playing. New York: Carl Fischer, v. 1, 2000.
GALAMIAN, Ivan; GREEN, Elizabeth A.H. Principles of violin playing & teaching. 2. ed.
New Jersey: Prentice Hall, c 1985.
SANTOS, Luís Otávio et al. A chave do artesão: um olhar sobre o paradoxo da relação
mestre/aprendiz e o ensino metodizado do violino barroco. 2011.
Notas
1
Carl Flesch (1873 - 1944), violinista e professor húngaro.
2
Ivan Galamian (1903 - 1981), nascido no Irã mas viveu grande de sua vida parte nos Estados Unidos.
3
No original: “Basics is a collection of practice methods and exercises, and belongs on the music stand, not on
the bookshelf” (Tradução nossa)
4
Diagrama 1 foi criado no site draw.io, levando em consideração o foco de cada exercício e se utilizando do
template de coordenadas de Veen. Acessado em: 04 de dez. de 2019.
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Resumo: Este trabalho objetiva relatar a experiência de implementação das novas diretrizes da
extensão universitária no Curso Livre de Violão, projeto de extensão do curso de Licenciatura em
Música da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), em Mossoró (RN). O trabalho é
fundamentado em Martins et al (2015), Paula (2013), Rodrigues et al (2013), Nogueira (2013) e nas
legislações vigentes.
1. Introdução
A extensão é tida como uma das bases da universidade pública e pode ser conceituada
como uma ação da universidade voltada para a comunidade externa, com a finalidade de
compartilhar o conhecimento adquirido dentro da universidade.
A extensão universitária é um processo importante na formação dos estudantes e, em
muitos momentos, é através dela que o universitário coloca em prática o que foi visto em sala
de aula (MARTINS et al, 2015, p. 194).
Um dos espaços que os alunos do curso de Licenciatura em Música da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) têm para realizar a prática da extensão é o Curso
Livre de Violão, idealizado e coordenado por um professor especialista na área de Violão,
segundo autor deste artigo, cujo objetivo consiste em vivências musicais em torno do violão e
sua prática de conjunto com outros instrumentos e com o canto. Os alunos da graduação
podem participar como bolsistas, estagiários ou colaboradores, e atuam tanto em aulas
coletivas quanto individuais, de acordo com a demanda de alunos do projeto.
O MEC, por meio da Portaria nº 1.350 de 14 de dezembro de 2018, passou a
regulamentar as atividades acadêmicas de extensão dos cursos de graduação, na forma de
componentes curriculares, determinando, para este fim, o mínimo de 10% da carga horária
curricular estudantil dos cursos de graduação. Por ter iniciado recentemente (2019.1), o curso
de Licenciatura em Música do turno noturno foi um dos primeiros da UERN a contemplar, em
seu Projeto Político Pedagógico (PPP), essa nova resolução, e o primeiro da instituição a
157
XIII Encontro de Educação Musical
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implementá-lo na prática. Para tal, foram disponibilizadas vagas para dois projetos de
extensão que estavam em andamento, dentre estes, o Curso Livre de Violão.
Este trabalho consiste em um relato da experiência da implantação das novas diretrizes
da extensão universitária no Curso Livre de Violão, projeto de extensão do curso de
Licenciatura em Música da UERN (Mossoró/RN); a descrição dessa experiência poderá
contribuir com projetos de extensão que visam abrir vagas para alunos da graduação, a partir
das Unidades Curriculares de Extensão (UCEs), neste novo panorama de curricularização da
extensão.
2. Referencial Teórico
a) Importância da extensão para a graduação
Os primeiros relatos de concepções de extensão universitária no Brasil são datados de
1911 e 1917, na Universidade Livre de São Paulo, e tinham como proposta inicial a promoção
de conferências, cursos e semanas abertas de estudos (MARTINS et al, 2015, p. 195).
Das três dimensões constitutivas da universidade, Paula (2013) aponta que a extensão
foi a última a surgir, em grande parte devido a sua natureza intrinsecamente interdisciplinar.
O autor continua:
De fato, as dificuldades conceituais e práticas da justa compreensão e implementação
da extensão universitária decorrem, em grande parte, do fato de a extensão se colocar
questões complexas, seja por suas implicações político-sociais, seja por exigir postura
intelectual aberta à inter e à transdisciplinaridade, que valorize o diálogo e a
alteridade. Para dizer de forma simples, a extensão universitária é o que permanente e
sistematicamente convoca a universidade para o aprofundamento de seu papel como
instituição comprometida com a transformação social, que aproxima a produção e a
transmissão de conhecimento de seus efetivos destinatários, cuidando de corrigir,
nesse processo, as interdições e bloqueios, que fazem com que seja assimétrica e
desigual a apropriação social do conhecimento, das ciências, das tecnologias
(PAULA, 2013, p. 6).
Consoante com essas ideias, Martins et al (2015, p. 197) afirmam que a extensão
universitária atende, em especial, às necessidades de uma comunidade, e deve supor uma
efetiva preparação tecnológica e ética para lidar com essas diversas necessidades. Os autores
ainda comentam que, na extensão, a prática deve estar presente no agir e no pensar
criticamente, superando problemas comunitários existentes, e que as transformações da
concepção da extensão universitária já apresentam características de mudanças e
reformulações.
O fortalecimento da relação sociedade/universidade, que se dá através do rompimento
das barreiras da sala de aula, proporcionam melhorias na qualidade de vida do cidadão. Dessa
forma, a troca de informações acontece entre aquele que está na condição universitária e
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3. Metodologia
O Projeto Pedagógico do curso de Licenciatura em Música da UERN, turno noturno,
apresenta a obrigatoriedade da prática da extensão em 10% da carga horária total do curso. Os
componentes Unidades Curriculares de Extensão (UCEs) encontram-se distribuídos entre o
1º, 3º e 4º períodos, nos quais o aluno se matricula em um dos projetos de extensão
disponíveis para aquele semestre. Em 2019.1, foram disponibilizadas vagas para dois projetos
de extensão: Vozes da UERN e Curso Livre de Violão.
A UCE compreendia três diferentes atividades: encontro entre todos os alunos e
professor, para discussão das atividades (que aconteciam nas segundas, de 20h40 às 21h30);
prática docente, na qual os alunos/instrutores ministravam aulas de violão para os alunos da
comunidade externa matriculados no projeto, compreendendo dois encontros semanais, cada
qual em um nível de conhecimento diferente (Iniciante e Intermediário).
Os alunos matriculados nesta UCE participaram, inicialmente, do processo seletivo
para alunos do curso Intermediário, que consistiu em uma conversa com cada candidato, e
estes tocaram uma música de livre escolha, a fim de avaliarmos sua experiência ao violão. A
participação dos alunos/instrutores neste processo foi importante para vivenciar um processo
de seleção, mesmo sendo somente classificatório – organização de diferentes níveis de
Intermediário. Todo o processo foi conduzido pelo coordenador do projeto.
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5. Considerações Finais
A extensão universitária permite ao aluno vivenciar questões abordadas em sala de
aula, bem como exercer atividades que só se aprimoram com a prática junto à comunidade
externa. A curricularização da extensão abre novos horizontes para os alunos da graduação,
inserindo-os de forma mais efetiva nos projetos e/ou programas de extensão promovidos pelos
departamentos. A primeira turma do curso de Licenciatura em Música a cursar o componente
UCE no projeto de extensão Curso Livre de Violão atingiu seus objetivos de forma
satisfatória, tanto em sua atuação no ensino coletivo quanto no individual.
Referências
BRASIL. Lei 9.394/1996. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-
publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 28 nov. 2019.
PAULA, João Antônio de. A extensão universitária: história, conceito e propostas. Interfaces
- Revista de Extensão da UFMG, v. 1, n. 1, p. 05-23, jul./nov. 2013.
RODRIGUES, Andréia Lilian Lima; PRATA, Michelle Santana; BATALHA, Taila Beatriz
Silva; COSTA, Carmen Lúcia Neves do Amaral; PASSOS NETO, Irazano de Figueiredo.
Contribuições da extensão universitária na sociedade. Cadernos de graduação - Ciências
Humanas e Sociais, Aracaju, v. 1, n.16, p. 141-148, mar. 2013.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 17. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
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Manuel Falleiros
ELM/CIDDIC/COCEN/UNICAMP
mfall@unicamp.br
José Fornari
NICS/CIDDIC/COCEN/UNICAMP
fornari@unicamp.br
Resumen: El presente artículo utiliza la práctica musical de la Libre Improvisación (FI) como práctica
pedagógica. Este estudio parte como un estudio de caso en el que se abordó a lo largo de 4 sesiones en
los alumnos de la Orquesta de saxofones de la ELM-CIDDIC1. La metodología usa fue investigación
acción y los datos recogidos a través de cuestionarios que los alumnos rellenaron al término de 3
sesiones. Los resultados apuntaron mejoras en la calidad musical del grupo, mayores posibilidades del
instrumento, así como una mayor cohesión y sociabilidad debido al uso de estas prácticas pedagógicas.
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espontáneas, exposición y de riesgo. Para este autor, en momentos como estos, citados
anteriormente, es cuando el profesor contempla progresivamente actividades lúdicas con
mayor grado de imprecisión e indeterminación en las que se favorecen a que se tenga
posicionar, argumentar y tomar decisiones (KATER, 2017, p.158).
Uno de los principales autores especialistas del asunto en Brasil, Rogério Costa (2016,
p.84), apunta que la FI siendo vista como estrategia pedagógica se puede utilizar para
proporcionar la construcción de conocimiento y habilidades como la escucha, aspectos
fundamentales para construcción musical debido a que pone en marcha su acción,
pensamiento (mente y cuerpo de forma integrada) percibiendo, en un amplio sentido del
término, un flujo sonoro de acontecimientos musicales dinámicos que se encajan dentro de
esta práctica musical.
Es importante mencionar una investigación llevada a cabo recientemente por Brietzke
(2018), en la que en se buscó investigar en la implementación de modelos de juego de
improvisación para la iniciación colectiva del violoncelo, en tres instituciones diferentes de
São Paulo, obteniendo resultados a través de una metodología investigación acción. Los
resultados apuntaron a través de los relatos de estudiantes que estos, se sintieron cómodos,
además de haber reconocido construcciones de narrativas musicales en las actividades, mayor
integración con los compañeros además de aproximación narrativas musicales
contemporáneas. Los profesores involucrados en la investigación indicaron el desarrollo de la
creatividad y mejora en el proceso de enseñanza aprendizaje, aunque apuntaron la necesidad
de contextualizar las propuestas dentro de un modelo de enseñanza tradicional.
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con aquello que habían escuchado usando la creatividad y las técnicas extendidas. Al término
de esta sesión bajo mi punto de vista, cuando se interpretó el repertorio tradicional no hubo
cambios aparentes, aunque sí que hubo más intención a la hora de escuchar sobre todo a la
hora de realizar ejercicios que fomentan la escucha, por ejemplo, en vez de realizar un
semicírculo en la formación dispensar a los alumnos por la sala para tocar en grupo, se
apreció más atención y más responsabilidad por parte de los alumnos a la hora de llevar a
cabo la interpretación.
La segunda sesión comenzó con la muestra aprendizajes y de interés por parte de los
alumnos comenzaron exponiendo las grabaciones e interpretándolas de forma creativas. El
balance general fue muy positivo y el interés por parte de los alumnos en indagar y descubrir
posibilidades en el instrumento fue presente. Muchos alumnos realizaron grandes diseños
sonoros, utilizando algunas técnicas extendidas como juegos de llaves, slap, multifónicos. La
clase continuó, donde el profesor, mostró, comentó, debatió con los alumnos varios ejemplos
de improvisación, mostrando problemáticas de clichés interpretativos usado en la
improvisación creando un debate entre improvisación e imitación. A continuación, se
pusieron en marcha algunos ejercicios en los que se diferenciaron los términos para la
creación de música dentro de la práctica musical FI. El término integrarse (colocar algo
nuevo, apoyar algo sobre lo que la otra persona estaba creando), hesitar (mostrar desinterés a
lo que el otro improvisador está creando), opuesto (tocar justamente lo contrario, si toca forte
yo toco piano), diferente (analizar y contribuir a la improvisación con algo espontáneo)
(GLOBOKAR, 1970). Posteriormente se realizaron ruedas con padrones en las que se
pusieron en práctica los términos primero de forma individual y posteriormente mezclando
todo, fomentando la escucha e intentando favorecer el respeto por la homogeneidad sonora.
En este ejercicio se realizó por parejas en la que uno inventaba el otro podía responderle
contribuyendo, hesitando, contrariando o haciendo algo diferente, posteriormente un tercer
miembro entraba realizando una síntesis interpretativa sobre aquello que estaba escuchando.
Estos dúos se interpretaron de forma repetida entre los integrantes de la orquesta de
saxofones. Al término de esta sesión cuando trabajamos el repertorio tradicional hubo
cambios sustanciales en el aspecto de respecto en la jerarquía de las voces, así como la calidad
de afinación sonora. Hubo una mejora en la escucha lo que posibilitó que los alumnos tocasen
con una mejor calidad, aunque fue por poco tiempo ya que pude percibir gran cansancio por
parte de los alumnos debido al esfuerzo cognitivo y creativo que habían implementado en las
actividades anteriores.
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En la tercera sesión hubo una introducción teórica sobre estilos y cómo una misma
pieza musical puede interpretarse de una forma dependiendo del estilo, en esta actividad los
alumnos participaron de forma activa señalando lo que se mantenía dependiente y lo que
permanecía en las diferentes obras que se mostraron. También hubo contacto con la
importancia de la partitura, como representación, y no como una forma sonora interpretativa.
Partiendo para la FI en la que se da más énfasis a la parte interpretativa, debido a que no hay
la necesidad de uso de la partitura. Posteriormente se realizaron actividades relacionadas con
el simbolismo sonoro relacionado con la investigación llevada a cabo por Wolfgang Kohler 2
“kiki” o “bouba” en la que se presentan dos figuras una muy puntiaguda y la otra con curvas
redondas las personas tienen que nombrar las dos figuras. Se pidió a los alumnos que
interpretasen libremente tanto una como otra llamándolas en esta ocasión de “takete” y
“maluma”. Normalmente en la interpretación de “takete” aparecieron notas agudas, con
mucha densidad (eventos que acontecen por tiempo), muy fuerte, sin embargo, en la
interpretación de “maluma” los alumnos la relacionaron con una melodía homogénea, ligera,
agradable en la realizaron una improvisación muy homogénea. Después se realizaron
variaciones en las que produjeron transiciones pasando de “takete” para “maluma” y
viceversa, fomentando la creatividad en conjunto, así como la musicalidad sonora de la
orquesta. En esta actividad hubo dificultad para mantener el ritmo, negociarlo y mantenerlo.
También se trabajaron ejercicios en los que se englobaron la práctica metronómica y que hizo
con se mejorase el ataque musical en el repertorio tradicional. La actividad consistió en
colocar el metrónomo y en una rueda cada alumno tenía que realizar una “firma” que consistía
un ataque característico en el que había que usar alguna técnica extendida del instrumento
realizando diferentes variantes (mucha densidad, poca densidad, forte, piano). Por último, en
esta sesión fueron definidos aspectos esenciales de la práctica musical FI como la densidad,
ritmo, tesitura (usando notas agudas, graves, todo el registro), volumen realizándose
diferentes experiencias musicales englobando estos términos produciendo una performance
del FI.
A lo largo de la última sesión se llevó a cabo la utilización de juego musicales
utilizando la FI. En esta sesión se destaca el juego “Sombras” que consiste en que un
improvisador realiza sonoramente las intenciones y gestos del profesor que no tocará como
tal, aunque sí digita su instrumento y realiza gestos de performance. Por último, se llevó a
cabo el juego Game-game33 que tuvo como objetivo investigar las interacciones musicales,
teniendo el jugador que adivinar los parámetros musicales que los músicos habían quedado
antes de haber terminado el juego.
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4. Resultados
Los resultados desde el punto de vista del profesor a través del uso de la metodología
acción y notas recogidas durante la clase pude observar una mejora significativa en la
performance grupal de la orquesta. Los alumnos con el pasar de las sesiones se sintieron más
motivados y mejoraron sustancialmente los aspectos sociales de la orquesta, así como la
escucha y el respeto en la jerarquía de voces a la hora de interpretar los repertorios
tradicionales.
A seguir se comparan algunas de las respuestas a una de las preguntas formuladas de
forma similar a lo largo de los tres cuestionarios rellenados por los alumnos.
En referencia a si sintieron diferencias sonoras en la orquesta en el cuestionario 1
aplicado al término de la segunda sesión se preguntó: ¿Cuánto piensas que el grupo mejoró
después de las actividades aplicadas? Siendo 1 muy poco y 5 mucho (Fig.1). Los resultados
apuntaron que en este primer contacto con la dinámica los alumnos no se sintieron muy
identificados con el tema y no percibieron muchos cambios. Según el punto de vista del
profesor, estos datos se corroboran debido a que los alumnos se encontraban sin entender las
cosas muy bien además de agotados mentalmente por la aplicación de las actividades que
pueden haber sido muy distantes a lo que ellos estaban acostumbrados. En relación a este
tema en el cuestionario 2 aplicado al término de la tercera sesión se preguntó: ¿Cuánto crees
que la sincronía del grupo mejoró? Siendo 1 muy poco y 5 mucho (Fig.2). Los resultados se
muestran clarividentes debido a que de 14 alumnos 3 dijeron que mucho y 4 que bastante
habiendo apenas 1 alumno que indicó que no mejoró nada y otro diciendo que muy poco. En
este aspecto siguiendo las notas de clases del profesor, hubo un cambio positivo en la
dinámica de la orquesta, los alumnos estaban más juntos en líneas melódicas, los ataques
iniciales eran más exactos y la escucha había mejorado mucho. En relación a este tema en el
cuestionario 3 aplicado al término de la cuarta sesión se preguntó: ¿Después de las actividades
crees que la sonoridad de la orquesta mejoró en el repertorio tradicional? En una escala en la
que 1 se corresponde a muy poco y 5 a mucho (Fig.3). En esta ocasión hubo presente 11
alumnos en los 8 indicaron que la orquesta mejoró mucho y 2 bastante, resaltando el dato que
solamente un alumno no sintió mejora en nada sobre la mejora de la calidad sonora de la
orquesta.
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Figura 1: Resultado de una pregunta del cuestionario realiza después de la conclusión de la segunda sesión de FI.
Figura 2: Resultado de una pregunta del cuestionario realiza después de la conclusión de la tercera sesión de FI.
Figura 3: Resultado de una pregunta del cuestionario realiza después de la conclusión de la cuarta sesión de FI.
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5. Conclusión
El presente trabajo tuvo como objetivo el uso y experiencia introductorio de la FI en
una orquesta de saxofones, con la implementación de juego de improvisación, trabajo de
escucha, con el objetivo de que los alumnos mejorasen de forma grupal, así como
aproximarlos a las prácticas interpretativas modernas y uso de técnicas avanzadas en el
instrumento (CLEMENTE, FALLEIROS, FORNARI, 2019). Las sesiones ocurrieron con
diferentes alumnos pues hubo algunas faltas en los días que se trabajó FI. La FI, por lo tanto,
parece indicarnos un camino próspero que permite al alumno la liberación de los clichés
tradicionales además del fomento de las capacidades creativas para la mejora de estas en pro
de una mejora interpretativa, como también beneficios en la escucha y conocimiento del
propio instrumento (FALLEIROS, 2018). En cuestión a esta investigación será llevada a cabo
para el estudio de doctorado llevado a cabo por el doctorando Ms. Miguel Clemente para
comprobar la musicalidad de los alumnos, con la hipótesis de si esta puede ser medidas, así
como la creación y aplicación de actividades basada en la FI para conocer la mejora de las
capacidades musicales de los alumnos pretendiendo extraer más conclusiones y resultados
sobre las posibilidades y límites de la utilización pedagógica de la FI en la educación musical.
Referências
BRITO, M. T. Música na educação infantil: propostas para a formação integral das crianças.
São Paulo: Editora Peirópolis, 2003.
COSTA, R. M. Música errante: o jogo da improvisação livre. São Paulo: Perspectiva: Fapesp,
2016.
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KOELLREUTTER, Hans-Joachin. Encontro com H.J. Koellreutter. In: KATER, Carlos (org).
Cadernos de estudo: Educação musical no 6. Belo Horizonte: Através, 1997.
SARATH, E. A New Approach to Musicianship Training. New York and London: Routlegde,
2009.
Notas
1
Parte de CIDDIC (Centro de Integración, Documentación e Difusión Cultural), uno de los centros y núcleos
interdisciplinares da COCEN (Coordinador de Centros e Núcleos) de la UNICAMP.
2
Disponible en: < https://www.bbc.com/portuguese/geral-39685606 >. Acceso: 22 nov. 2019.
3
Nombre original “Aventura” trae una propuesta que combina la actuación musical con interacción con un
elemento visual. En esta propuesta, diseñada para investigar las interacciones musicales, existe una relación en
tiempo real con un elemento visual y las posibilidades de cada participante, a través de un conjunto de
parámetros previamente propuestos. Disponible en: < http://manufalleiros.com/wp-content/uploads/2018/07/As-
Cidades-Programa2.pdf>. Acceso: 22 nov. 2019.
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1. Introdução
O presente artigo é resultado da conclusão de uma disciplina de pós-graduação
(Mestrado) finalizada numa determinada universidade no Estado de São Paulo. Tais estudos
foram realizados com o objetivo de compreender como as pessoas se educam em coletividade,
tanto na escola como em outras práticas sociais, no decorrer de suas vidas.
Práticas sociais decorrem de e geram interações entre indivíduos e entre eles e os
ambientes naturais, social e cultural em que vivem (OLIVEIRA et al., 2014a). Desenvolvem-
se no interior de grupos, de instituições, com o propósito de produzir bens, transferir valores,
significados, ensinar a viver e a controlar o viver, podendo enraizar ou desenraizar, criando
novas raízes.
Em todas as sociedades, ao longo da história, as práticas sociais permitem o
desencadeamento de aspectos essenciais para a formação da vida na sociedade, denominados
processos educativos, compreendidos pelo conjunto de aprendizagens que se dão a partir da
convivência nos mais variados aspectos que surgem nas oportunidades de festas, concertos,
podendo ser de natureza humana, cultural e musical (JOLY, 2011).
Para realizar pesquisas junto às pessoas e grupos, é fundamental uma inserção
cuidadosa e paciente dos pesquisadores, entre os colaboradores e grupos, assumindo o lugar
de um integrante, participando com a intenção de compreender e não de julgamento, pois
durante o período de pesquisa sua visão de mundo e ideias serão expostas, podendo ser
expandidas, reconstruídas e também desconstruídas.
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A pesquisa foi realizada na aula de percussão, numa turma composta de por 7 alunos
com idade entre 10 e 12 anos (frisamos que, estes alunos têm seus nomes omitidos, sendo
identificados por meio de números). Compreendendo a possibilidade do surgimento de
aprendizagens como resultado das relações entre os alunos e o professor, apresentamos a
seguinte questão: Quais os processos educativos são decorrentes da prática musical coletiva
durante a aula de percussão no Projeto Guri-Polo Regional Ribeirão Preto/SP? A partir desta
questão, propomos os seguintes objetivos: identificar e compreender os processos educativos
decorrentes da prática musical coletiva durante as aulas de percussão e nos momentos que
antecedem a entrada na sala de aula; analisar os processos de aprendizagem musical e
extramusical que emergem da convivência entre professor e alunos.
[...] em ter fé, confiança, amor e esperança, que somente com o outro é possível um
processo de construção de conhecimento que seja firmado no compartilhamento de
visões de mundo e de experiências de vida que contribua para a valorização do ser
humano como sujeito histórico, para a construção de conhecimento crítico da
realidade e para o enfrentamento das injustiças (FREIRE apud OLIVEIRA et al.,
2014a, p. 127).
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e não se trata de “ação” na medida em que os grupos investigados não são mobilizados em
torno de objetivos específicos e sim deixados às suas atividades comuns (THIOLLENT,
1999).
O instrumento usado para coleta de dados foram os registros de campo (também
conhecidos como notas ou diários de campo), que consiste num instrumento de anotações,
comentários e reflexões, para uso individual e intrasferível do investigador no seu dia-a-dia.
Não há um receituário pré-definido, mas é exigido que neles sejam escritas todas as
observações de fatos concretos, acontecimentos, relações verificadas, experiências pessoais
do investigador. Para ser um recurso metodológico efetivo as autoras destacam que:
Inserção 1:
C.O.: 1Ao chegar na sala apresentei-me aos alunos: Sou educadora de flauta
transversal aqui no Guri e estava ali para participar da aula e aprender um pouco de
percussão com eles. Na sala havia os alunos 1,2, 3, 4 e 5. O aluno 2 logo fala: “Prof.
se ela veio aqui aprender, você tem que ir em outro instrumento aprender também”.
Todos começam a sorrir. Aluno 2 pergunta: “Qual instrumento você toca?”
Respondi: “Flauta transversal.” Aluno 2 comenta: “Ah eu não tenha esta delicadeza
para tocar flauta. Minha irmã toca viola, mas eu gosto de tocar algo mais agitado”.
Todos começam a rir.
O prof. chama os alunos para a roda. Sento na cadeira onde estava o caxixi. Aluno 2
toca bongô. Aluno 4 meia lua. Aluno 1 toca o pandeiro. Aluno 5 toca o triângulo.
Aluno 3 toca os teclados. Todos juntos tocando e o professor improvisa uma
melodia na guitarra. “Eu não sei tocar caxixi”, falo para o aluno 2. Ele me ensina.
“Faça o seguinte movimento: mão para baixo, mão para cima e de uma viradinha!”
O professor me observa e faz sinal que está correto. Todos tocam. Eu tento
acompanhar. “Mudem de instrumento, fala o Prof.”. Cada um escolhe outro. Eu vou
para bongô. Me sinto muito perdida. Ajuda. Aluno1 fala: “Base, ponta, base, mão
direita bate (começo com mão esquerda). De novo professora. Base, ponta, base,
mão direita bate”. Eu continuo. E começo a errar. O aluno 2 me dá sinal que está
errado. E fala bem alto: “Base ponta base mão direita”. Enquanto ele toca o
triângulo.
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Inserção 2:
C.O.: Nesta aula o professor levou um objeto diferente e pergunta o que poderia ser.
O aluno 1 responde: “É uma arcada de burro”. Aluno 2 responde: “É uma arcada de
boi”. Hoje temos a aluna 6 que ausentou-se em algumas aulas, e logo responde:
“Acho que é uma arcada de búfalo”. O professor senta explicando que é uma arcada
de burro. Que foi trabalhada em produtos químicos que a conservam, e foi um amigo
dele que trouxe do Peru. Aluno 4 pergunta: “Nossa o que burro come”? O aluno 2
responde: “acho que come sapo e mosquitos”. E todos dão risadas. O professor
continua explicando que este instrumento foi usado na música “Disparada”
interpretada pelo cantor Jair Rodrigues. Disse que atualmente há o instrumento
queixada, mas num formato atual. Aluno 4 pergunta: “Se tirar a ponta irá soar”?
Professor responde: “Não”.
O professor passa a queixada para todos tocarem. O aluno 1adora tocar. Aluno 2:
“Nossa quantos dentes”! O aluno 7 toca, mas não faz comentários. Quando chega na
vez do aluno 5, o professor e o aluno 7 ajudam- no tocar. O aluno 4 toca e se diverte.
O aluno 3 toca, olhando todos os detalhes. O aluno 7 não quis experimentar. Eu
toquei e achei muito interessante. Agora passa instrumento queixada atual. Todos
tocam.
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Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não é possível o
diálogo. Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no
outro, nunca em mim? Como posso dialogar, se me admito como um homem
diferente, virtuoso por herança, diante dos outros, meros “isto”, quem não reconheço
outros eu? (FREIRE, 2017, p.111).
O diálogo entre os alunos só acontece devido ao respeito mútuo promovido entre eles.
Todos participam expondo suas ideias e não há palavras discriminatórias, não havendo um
sentimento de autossuficiência, mas há um muito respeito e ajuda na aula e na elaboração das
atividades. Há o que Freire (2017) ensina, “há homens que, em comunhão, buscam saber
mais”.
4. Conclusão
Ninguém escapa da educação. O educador Brandão (1982), apresenta num de seus
trabalhos, que não há uma forma única, nem um único modelo de educação; a escola não é o
único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única
prática o professor não é o seu único participante.
Compreendemos que a educação existe em todos os lugares, em mundos diversos ela
estará presente, em sociedades camponesas, em mundos sociais sem classe, de classes, com
este ou aquele tipo de conflito entre suas classes. “Ela existe em cada povo, ou entre povos
que se encontram. Existe entre povos que se submetem e dominam outros povos, usando-a
como recurso a mais de sua dominação” (BRANDÃO, 1982). O mesmo autor ainda disserta
que, “a educação pode existir livre, e entre todos; mas pode ser imposta por um sistema
centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a
desigualdade entre os homens”.
Nesta perspectiva é possível afirmar que os conhecimentos são construídos em
práticas sociais, das quais participamos, quando se integram às críticas que deles fazemos,
orientam nossas ações, formando-nos. O contato com pessoas de diferentes gêneros, crenças,
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Referências
LOPES, D. L.; LIMA, H. S.; COSTA, S. A.; RIBEIRO, V. O diário de campo e a memória do
pesquisador. In: WHITAKER, D. C. A. (Org.) Sociologia rural: questões metodológicas
emergentes. Presidente Venceslau: Letras à margem, 2002. p. 131-134.
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Notas
1
C.O.: Comentário do observador
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Resumo: Este trabalho apresenta um relato de experiência que tem como objetivo apresentar cinco
jogos de improvisação musical aplicados em dois contextos de ensino, relacionados a aulas de
instrumento em grupo e aulas experimentais de práticas criativas. Baseado em diversos autores
(DELALANDE, 1984; FONTERRADA, 2015; HUIZINGA, 1966; SWANWICK, 2011), nota-se,
como um dos resultados da aplicação, o desenvolvimento discente de variadas habilidades
influenciado por um processo de ensino e aprendizado instrumental facilitado.
1. Introdução
A prática docente do ensino coletivo de instrumentos musicais apresenta desafios
múltiplos. A pluralidade de vozes, interesses, demandas e a velocidade de troca e assimilação
de informações, diferenciada para cada indivíduo e grupo, intensifica a complexidade do
processo de ensino-aprendizagem, ao qual nos colocamos como mediadores. Para tanto, as
estratégias de ensino a serem desenvolvidas no contexto da aprendizagem coletiva precisam
ser pensadas de acordo com esta realidade.
Buscando maior conexão entre as diferentes dimensões desse processo, apresentamos
neste artigo cinco jogos de improvisação musical a serem desenvolvidos no ensino coletivo de
instrumentos musicais. Os jogos foram desenvolvidos em diferentes contextos de ensino,
turmas da disciplina Teclado II da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e a
turma da disciplina Práticas Experimentais de Criação Musical II da Universidade de São
Paulo (USP). Para a apresentação dos jogos, refletimos sobre os objetivos da pedagogia
musical, ao enfatizar a discussão sobre estratégias de ensino e sobre o papel dos jogos e das
práticas criativas no desenvolvimento musical discente. Delinearemos assim algumas
perspectivas para a elaboração de atividades a serem trabalhadas em contextos coletivos do
ensino de instrumentos musicais.
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[...] Além das habilidades técnicas o improvisador deve ser habilidoso para perceber
as intervenções propostas pelos componentes e pelo ambiente sonoro e gerar as suas.
Esse comportamento cria um fluxo de energia sonora que garante o “sucesso” da
improvisação, transformando-a em uma experiência única tanto para quem ouve
quanto para quem participa. Esse seria o ambiente favorável para a prática
improvisatória.
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Desenvolver a memória
musical.
Exemplo 3: Tabela 3 (Tab.) – Jogo Reconhecendo os modos
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Interagir com os
outros participantes
Exemplo 5: Tabela 5 – Jogo Diálogo rítmico
4. Resultados alcançados
Da aplicação dos jogos que buscaram desenvolver e aperfeiçoar a execução de um
determinado instrumento, notou-se significativa aproximação dos estudantes com
instrumentos de teclas. Em se tratando de um segundo instrumento a ser ofertado em um
curso de licenciatura, essa aproximação favoreceu maior contato com o mesmo, ao gerar
habilidades técnicas musicais para a sua execução. Outro aspecto notado, que contribuiu para
a execução consciente e segura no instrumento, foi o conhecimento aprofundado das peças
modais, executadas sobretudo por meio do reconhecimento de elementos musicais, como a
identificação dos modos, a estrutura, os acordes e a progressão harmônica. Esse conhecimento
apreendido possibilitou a criação discente de novos e interessantes materiais modais a serem
executados no instrumento. Incentivada a partir dos jogos, a interação entre os estudantes
favoreceu com que os mesmos apresentassem suas criações de forma segura, desprovida de
medo ou timidez.
A realização dos jogos para práticas criativas que procuraram estabelecer roteiros de
improvisação musical sinalou a relevância dessas atividades ao promover interação e
engajamento, resultando em feedback positivo dos participantes. Os jogos propiciaram o
estabelecimento de um ambiente de debate e construção coletiva, no qual cada rodada foi
seguida de uma discussão sobre a performance realizada, conduzindo um processo de auto-
avaliação individual e coletiva. A dinâmica da sua realização levou a um movimento de co-
criação no qual as sugestões e críticas dos participantes foram incorporadas às rodadas
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subsequentes e aos próprios roteiros dos jogos, promovendo maior eficiência em sua
realização. Outro ponto a se destacar é que, em relação ao caráter plural e heterogêneo da
turma, com alunos de diferentes backgrounds e áreas de especialização, os jogos mostraram-
se uma estratégia pedagógica pertinente, facilitando que estudantes acessassem seus saberes e
conhecimentos particulares e alcançassem o fim da criação. Ao serem solicitados a
desenvolver um trabalho criativo experimental, os estudantes apresentaram composições,
peças improvisadas, roteiros de performance e jogos de improvisação, indicando a
assimilação da proposta.
5. Considerações finais
A partir das experiências relatadas, conclui-se que a relação entre o jogo e a música,
tem muito a contribuir para o ensino coletivo de instrumentos musicais. Ao ter como
referência a concepção de Huizinga (1966) quanto à presença do lúdico e sua relação com o
desenvolvimento humano, a ludicidade pode propiciar o que Hargreaves (1986) define como
ambiente favorável para o desenvolvimento musical discente através do uso de jogos. E em se
tratando de uma prática instrumental realizada coletivamente, torna-se significativo
desenvolver estratégias pedagógicas que reforcem a interação entre os estudantes, a exemplo
do uso dos jogos. Essa interação tanto aproxima os estudantes entre si como também funciona
como um elemento motivador (VEBER; ROSA, 2012).
Por sua vez, jogos que fomentem a improvisação favorecem o desenvolvimento de
diversas habilidades, não apenas relacionadas a questões motoras e técnicas dirigidas a um
instrumento, mas às habilidades relacionadas à escuta, à observação, à análise, à criticidade,
ao permitir um processo de ensino-aprendizado instrumental facilitado. Assim, ao fazer uso
das categorias desenvolvidas por Delalande (1984), nota-se que as mesmas foram
referenciadas nos jogos apresentados. Sendo que os jogos sensório-motores possibilitaram o
desenvolvimento de habilidades motoras a partir da execução instrumental realizada de
maneiras diferentes (SWANWICK, 1994); os jogos simbólicos proporcionaram uma escuta
atenta, assim como explorar a criação no instrumento musical; e a partir de jogos com regras a
execução instrumental foi aperfeiçoada, através de um alto grau de conhecimento discente de
estruturas e elementos musicais intrínsecos na obra.
192
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Referências
BASTIEN, James W. How to Teach Piano Successfully. 3 ed. San Diego: Neil A. Kjos Music
Company, 1995.
DELALANDE, François. La musique est um jeu d’enfant. Paris: INA – Buchet/Chastel, 1984.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: a study of the play-element in culture. Fifth edition,
Boston, Beacon Press, 1966.
VEBER, Andreia; ROSA, Tiago Brizolara da. Jogos digitais online e ensino de música:
propostas para a prática musical em grupo. Música na Educação Básica. Londrina, v.4, n.4,
novembro de 2012.
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Patrícia Degasperi
UFSCar
patideg@gmail.com
MarianaBarbosa Ament
UFSCar
marianabament@gmail.com
Resumo: O objetivo desse estudo foi contribuir para que a música nas escolas, através de jogos e
brincadeiras, seja vista de maneira significativa e importante para o crescimento do aluno. Através de
análise de textos, foi feito um estudo sobre educadores musicais e posteriormente um levantamento de
jogos e brincadeiras musicais, suas características e habilidades. Considerando o estudo realizado,
acredita-se que esse tipo de atividade contribui para a valorização da música em sala de aula, de modo
que há um reconhecimento da educação musical como parte da educação escolar das crianças,
construindo, através dela, indivíduos mais humanos, criativos e felizes.
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transformador, em que a criança possa conhecer-se mais e melhor e que experimente mais o
trabalho em grupo, aprendendo a cooperar e socializar.
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como uma aliada para a construção de relações da criança consigo mesma; com o seu próprio
corpo; com o outro; com o grupo; como auxiliar para organizar a tão valorizada rotina”.
E assim a música acaba tornando-se um suporte para se chegar a um objetivo: seja na
construção da rotina, apresentações de final de ano ou apoio para o desenvolvimento de um
conteúdo.
Entretanto, através da educação musical, é possível ter outras abordagens. A criança
pode se sentir mais pertencente a um grupo, a uma cultura, além de ser um modo de se
reinventar. Ela permite que o indivíduo vivencie momentos em que possa criar, experimentar,
analisar criticamente e transformar, por meio das paisagens sonoras, da improvisação, do
canto, da dança, da construção de materiais sonoros, entre outros. “A música é movimento,
aventura, criação, sensação” (BRITO, 2010, p. 92).
Mediante brincadeiras em que a criança utilize os sons vocais e/ou corporais e descubra
novos sons, podemos observar a sua concentração para escutar e fazer, para criar e repetir a
bagagem musical que ela já traz consigo, o senso rítmico e melódico, dentre muitos outros
elementos. Dessa forma, ela constrói o conhecimento, permitindo trocas consigo própria, com
o outro e com o ambiente.
É significativa a incorporação da educação musical no cotidiano escolar, com a
formação continuada na área (e também nas demais áreas que integram as artes), elaboração
de ações e conhecimentos, desenvolvimento de ferramentas e atividades didático –
pedagógicas em apoio à música, proposta de trabalho, bem como fóruns de discussões em
torno da prática musical escolar (MIRANDA, 2010).
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XIIIEncontro de Educação Musical
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Letra
Puxa o rabo do tatu,
Quem saiu foi tu.
Puxa o rabo do pneu,
Quem saiu fui eu.
Puxa o rabo da panela,
Quem saiu foi ela.
Como brincar: As crianças se organizam em duas rodas uma de frente para a outra. Na
roda de dentro as crianças tocam flauta e na de fora cada criança tem à sua frente um copo
plástico (Pode-se variar a brincadeira utilizando ao invés dos copos, os sons do corpo, como
por exemplo, bater palmas). Enquanto cantam a música, as crianças acompanham com os
copos, batendo-os no chão, arrastando, batendo palmas, conforme o ritmo cantado. Na roda de
dentro, toca-se a flauta, de acordo com a célula rítmica. A forma de executar a música é
combinada pelo grupo que vai alternando a parte falada com o acompanhamento dos copos e
a flauta doce. Acelera-se o andamento a cada repetição (BEINEKE, 2011).
Habilidades desenvolvidas: Considerando uma análise pautada no aporte teórico deste
artigo, esta atividade pode promover o desenvolvimento da criatividade, dinâmica,
andamento, interação social, criação musical, sonoridade, como descrito anteriormente.
Através de brincadeiras em que a criança utilize os sons vocais e/ou corporais e descubra
novos sons, podemos observar a sua concentração para escutar e fazer, para criar e repetir a
bagagem musical que ela já traz consigo, o senso rítmico e melódico, dentre outros elementos.
Dessa forma, ela constrói o conhecimento, permitindo trocas consigo própria, com o outro e
com o ambiente (NATERA, 2008). Essa brincadeira é considerada uma brincadeira
tradicional, de modo que é transmitida de modo oral e de geração para geração. Brito (2003)
ressalta que as parlendas são brincadeiras rítmico – musicais, com rima e sem música, que é o
caso do rabo do tatu. A incorporação da flauta, dos copos e da percussão corporal, desenvolve
a musicalização da parlenda e a possibilidade de criar sons, inventar outras rimas e células
rítmicas torna a atividade não mecanizada, incentivando a criatividade e o desafio.
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XIIIEncontro de Educação Musical
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O trem de ferro
Quando sai de Pernambuco
Vai fazendo fuco-fuco
Até chegar no Ceará
Rebola, bola
Você diz que dá e dá
Você diz que dá na bola
Na bola você não dá.
Como brincar: Imitando um trem as crianças usam chocalhos, ganzás para sonorizar o
seu movimento; apitos ou a voz para fazer o som da máquina; utilizam o corpo para fazer o
movimento do trem, que se inicia lentamente e vai aumentando a velocidade e conforme vai
chegando ao seu destino, vai diminuindo novamente.
Habilidades desenvolvidas: Com base na análise realizada no aporte teórico desse
artigo, a atividade descrita desenvolve as habilidades de velocidade, dinâmica, ritmo, timbre.
A criança relaciona movimentos de um meio de transporte, possibilitando a criação e
representação. Ela desenvolve o escutar, identifica a importância dos sons e do silêncio,
integrando ou dissociando corpo e mente, emoção e razão, intelecto e sensibilidade, intuição e
raciocínio lógico, ação e reflexão (BRITO, 2010).
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4. Considerações finais
O brincar por vezes é visto como atividade somente da educação infantil. Seja na
brincadeira na sala de aula ou no brincar espontâneo, a atividade é importante para o
desenvolvimento saudável da criança.
As brincadeiras e jogos descritos nesse trabalho foram selecionados a partir de critérios
estabelecidos buscando trazer atividades que abordassem diferentes conceitos e trouxessem
reflexões singulares.
Como visto nos jogos e brincadeiras descritos acima, na música o lúdico também
transforma a aula, deixando–a significativa e desenvolvendo ricas habilidades. Por meio de
brincadeiras musicais também é possível vivenciar as manifestações culturais do Brasil, algo
muito importante para a construção da identidade das crianças (FONTERRADA, 2008).
As brincadeiras e jogos apresentados nesse artigo possuem um caráter estético. As
atividades desenvolvem conteúdos, habilidades e também trazem uma produção musical.
Acredito que, através desse estudo, foi possível perceber que a educação musical por
meio dos jogos e brincadeiras é uma ferramenta para se ampliar habilidades musicais como
ritmo, pulso, andamento, altura; e sociais, como cooperação, comunicação, respeito,
concentração. Identifica-se nos jogos e brincadeiras analisados a importância do trabalho
coletivo, bem como da individualidade da criança, contribuindo para sua autonomia e
socialização.
Portanto, esse artigo analisou atividades musicais que podem ser desenvolvidas com
crianças do ensino fundamental I. Deseja-se que tal estudo contribua para o reconhecimento
da música nas salas de aula, valorizando diferentes conhecimentos e relações.
Considerando o estudo realizado sobre os jogos e brincadeiras musicais, é interessante
que as escolas tragam essas atividades para a vida dos alunos, pois como visto, além de
desenvolver diversas habilidades, elas contribuem com a alegria e diversão para as aulas,
formando pessoas reflexivas, críticas e felizes.
Referências
AMATO, R. de. C. F. Breve retrospectiva histórica e desafios do ensino de música na
educação básica brasileira. Revista Opus, v.12, 2006.
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BRITO, T. A.A barca virou: o jogo musical das crianças. Revista Música na Educação
Básica. Porto Alegre, v. 1, n. 1, outubro de 2009.
JEANDOT, N. Explorando o universo da música. 2 ed. São Paulo: Scipione, 2006. 176p.
Notas
1
Encontra-se a variante com o nome “O trem maluco”.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Resumo: Acreditando na urgência de romper com a hegemonia das práticas tradicionalistas que
subjulgam o aprendizado musical a aquisição de um conjunto de técnicas e saberes voltados à
execução musical mecânica, o presente trabalho apresentará os fundamentos que subsidiaram a
elaboração do livro didático de violão do Projeto Guri, que foi elaborado numa perspectiva pedagógica
que insere o aluno com centralidade do processo, respeitado em sua subjetividade, estimulado a
ampliar seu domínio de saberes, habilidades e competências garantindo-lhe a participação ativa,
crítica, criativa e reflexiva, bem como a descrição crítica de atividades que foram elaboradas com
vistas à promoção de tais objetivos.
202
XIII Encontro de Educação Musical
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Não é preciso ensinar nada que o aluno possa resolver sozinho. É preciso aproveitar
o tempo para fazer música, improvisar, experimentar, discutir, debater. O mais
importante é – sempre – o debate e, nesse sentido, os problemas que surgem no
decorrer do trabalho interessam mais do que as soluções (KOELLREUTTER apud
BRITO, 2001 p. 32).
203
XIII Encontro de Educação Musical
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2. Reflexão crítica a partir de uma atividade do livro didático de violão do Projeto Guri
Visando ilustrar os relatos descritos até aqui referente ao livro de violão do Projeto
Guri apresentaremos a seguir uma breve reflexão crítica a partir de uma das atividades que
contempla o livro intitulado de Assinaturas Musicais.
A proposta da atividade Assinaturas Musicais se encontra na unidade dois do livro.
Segundo o autor, o objetivo desta unidade consiste em “Promover a acolhida e a integração da
turma e possibilitar o desenvolvimento das primeiras atividades de criação e escuta do
ambiente” (CRUZ, 2017, p.20).
De forma prática a atividade propõe que o educador estimule os educandos a explorar
as possibilidades sonoras do violão, tanto em âmbito de técnica convencional quanto de
técnica estendida sem diretividade do educador.
Na sequência, os alunos são orientados a compor pequenos fragmentos musicais,
valendo-se de seu discurso musical inicial, que servirá como sua assinatura musical.
Para dar continuidade à atividade o grupo é conduzido pelo educador a eleger um
regente compositor, que terá a incumbência de examinar atentamente as assinaturas musicais
dos colegas e, colocando-se à frete do grupo com regente, criar uma composição a partir da
combinação das possibilidades sonoras que lhes serão oferecidas pelas assinaturas musicais.
Esta atividade foi concebida segundo as perspectivas da abordagem pedagógica
contemporânea de educação musical, abordagem esta defendida por autores como Delalande e
Paynter, que considera em seus principais pré-supostos norteadores a estética da música pós-
tonal como base para a promoção da educação musical e a atividade de criação subsidiando o
aprendizado musical desde os primórdios do processo de ensino/aprendizagem.
204
XIII Encontro de Educação Musical
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Nesta perspectiva, o conceito de música é ampliado para além dos limiares da música
tonal e, como defende Delalande, este conceito pode ser evidenciado na prática de qualquer
músico em que, quer seja executando ou apreciando, busca desenvolver suas atividades
musicais imprimindo a esta um nível de sensibilidade sonora, representação simbólica e
engendramento às regras que subsidiam a estética musical em questão.
Você notará por outra parte que, nesta analise de três níveis da prática musical, não
separo o que se relaciona com a produção da música e o que concerne a sua
apreciação. Parece-me que os músicos,quer façam, quer apreciem, tem em comum
estas três grandes capacidades: ser sensíveis aos sons, encontrar neles um
significado e gozar de sua organização (DELALANDE, 1985, p. s/n; tradução
nossa).
Caberá ao aluno regente a escuta atenta de cada uma das assinaturas musicais
elaboradas pelos seus colegas e a proposição, por meios gestuais de comando, da composição
da obra tendo liberdade de inserção ou exclusão destas assinaturas, tanto em âmbito
sequencial quanto textural e de dinâmica, quando terá a possibilidade de estabelecer a
organização da obra quanto à sistematização, textura, dinâmica, duração etc.
Interessante observar alguns dos objetivos com potencialidade de serem promovidos a
partir da experiência para o aluno regente: desenvolver uma escuta ativa, selecionar e decidir
quais os elementos, bem como a sistematização e textura em que estes elementos serão
engendrados, analisar se suas decisões estão proporcionando a elaboração de uma obra de
valor estético e exercer de forma responsável e autônoma a função de líder do grupo.
205
XIII Encontro de Educação Musical
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Destacamos que com esta proposta o docente poderá incluir de forma efetiva alunos
de diferentes realidades, seja em aspectos de domínio técnico, faixa etária, diversidade
cultural e mesmo casos de inclusão de pessoas com deficiência.
Esta atividade tem sido amplamente aplicada nos pólos do Projeto Guri no curso de
violão para um público diverso de alunos e, pelos relatos que temos recebido, podemos
constatar que esta atividade tem proporcionado resultados interessantes, bem como se
mostrado um opção positiva para a promoção inicial de atividades de composição com alunos
iniciantes, os quais comprovam nossas expectativas prévias bem como testificam os relatos
descritos até aqui.
3. Considerações finais
Em análise conclusiva podemos dizer que o presente trabalho buscou evidências que
pudessem sustentar a hipótese de que aqueles que promovem a educação musical,
principalmente por meio de instrumentos musicais, precisam apropriar-se dos conhecimentos
acumulados ao longo dos séculos de forma mais aprofundada, objetivando superar as práticas
tradicionalistas que subjugam a educação musical restritamente a aquisição de um conjunto
de técnicas e saberes vinculado ao repertório clássico.
Sabemos que a prática musical pode despertar e potencializar em seus praticantes o
desenvolvimento pleno de suas capacidades, bem como contribuir significativamente para a
formação de cidadãos autônomos, críticos e criativos, motivo pelo qual consideramos
indispensável que a abordagem pedagógica adotada durante o processo garanta aos alunos a
oportunidade de investigação, de tomada de decisão, motivados a aprender criativamente.
Apresentamos algumas concepções contidas no livro didático de violão do Projeto
Guri, que foi elaborado dentro de uma perspectiva pedagógica que considera o aluno como
centralidade do processo didático, respeitado em sua subjetividade, estimulado a ampliar seu
domínio de saberes, habilidades e competências numa abordagem que lhe garante a
participação ativa, crítica, criativa e reflexiva, constituindo-se assim como um relato de
experiência.
Esperamos que este trabalho possa de alguma forma provocar uma reflexão sobre as
problemáticas evidenciadas aqui bem como oferecer subsídios para a promoção de um
ensino/aprendizado musical cada vez mais adequado aos anseios da sociedade
contemporânea.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Referências
BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: o humano como objetivo da educação
musical. São Paulo: Editora Peirópolis, 2001.
CRUZ, Vandersom, Livro do educador do Projeto Guri. São Paulo: Evidência, 2017.
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XIIIEncontro de Educação Musical
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Resumo: O presente trabalho é um projeto de iniciação científica, em que se teve como objetivos
produzir e analisar a eficiência pedagógica de um material didático que possa ser utilizado para o
ensino coletivo de instrumentos de sopro e tem como eixo central da elaboração desse material o
método TECLA de Keith Swanwick, em que se propôs a adaptação dessa metodologia de ensino para
o ensino coletivo de instrumentos de sopro.
1. Introdução
O presente projeto visa contribuir com a produção de um material didático para o
ensino coletivo de instrumentos de sopro tendo como eixo central o método CLASP de Keith
Swanwick. No Brasil, esse processo originalmente designado como CLASP ficou conhecido
como TECLA: T de técnica, E de execução, C de composição, L de literatura e A de
apreciação.
Este projeto procurou investigar os processos de produção de material didático, assim
como propôs adaptar o método TECLA para o ensino de instrumentos de sopro.
Como a referente pesquisa envolve elaboração de material para ensino coletivo, optou-
se por começar a buscar por produções acadêmicas que eventualmente possam ter sido
produzidas no Brasil, ou também sobre metodologias específicas para essa situação de ensino.
O levantamento, então, mostrou um ponto observado na justificativa para a construção
deste projeto de pesquisa. Encontrou uma produção expressiva em torno do tema abordado,
tratando de 22 relatos de experiências, relacionados ao ensino coletivo, também com 31
produções científicas voltadas ao ensino coletivo de instrumento, sendo que desses, 8 são
voltados à prática de ensino de teclado ou piano, 9 para ensino de violão, 12 para o ensino de
instrumentos de sopro e 2 para o ensino coletivo de música na área da musicoterapia.
Para esse levantamento foi feita uma busca em bases virtuais de pesquisa utilizando o
Google, Google acadêmico, portal SciELO, buscando por artigos que tivessem por tema o
ensino coletivo, ensino coletivo de sopros, ensino coletivo de instrumento.
Através do levantamento bibliográfico foram analisados para efeito dessa pesquisa os
anais da ENECIM (Encontro nacional de ensino coletivo de instrumento musical) que
também contribuíram para a obtenção dos dados acima.
208
XIIIEncontro de Educação Musical
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Com esses dados obtidos até o momento foi possível obter uma base relevante para a
escrita desse projeto, observando que dentre o total dos 53 artigos acadêmicos encontrados
verificou-se que havia um contendo exercícios práticos para teclado e dois com exercícios
coletivos para instrumentos de sopro.
Os dados reforçam o que já foi descrito por Fernandes, apud Nascimento (2006), sobre
a produção voltada aos instrumentos de bandas, orquestras entre outras formações
instrumentais.
Observa-se também que, como a maioria dos artigos obtidos trata de relatos de
experiência e não traz material de apoio para as práticas, há uma defasagem de produção
destinada a ser utilizada nos momentos de prática de ensino coletivo.
No levantamento também se buscou por literatura bibliográfica que possa ser utilizada
como base para o pensamento do educador Keith Swanwick, e procurando por pesquisas que
fizessem um paralelo entre a sua visão de educação musical no modelo CLASP e o ensino
instrumental.
No modelo CLASP cada letra da sigla tem um significado para ser utilizada na
aprendizagem musical seguindo assim o significado descrito por Knies e Vasques:
C – Composição ou criação
(L) – Literatura
A – Audição ou Apreciação
(S) – Habilidade técnica
P – Performance
Também observado durante o levantamento, foi possível entender que a proposta de
aprendizagem equilibrada fundamentada por Swanwick requer três princípios: “considerar a
música como discurso, o discurso musical dos alunos, e a fluência no início e no final”
(KNIES; VASQUES, 2006, p.1).
Com isso pretende-se abordar o modelo CLASP da seguinte forma neste projeto:
C: Composição ou criação, que deverá ser feita de maneira livre para os alunos ao
seguirem sugestões de temas dados pelo professor ou pelos próprios alunos.
209
XIIIEncontro de Educação Musical
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2. Metodologia
Dentre os procedimentos metodológicos, foi feito um levantamento de referências
bibliográficas. Para tanto buscou-se encontrar material que trouxesse, além da carga literária,
exemplos práticos para o ensino coletivo, sendo que neste momento também se procurou por
referências relativas à metodologia de Keith Swanwick no Brasil no contexto de ensino de
instrumento.
O levantamento foi feito em portais e banco de dados virtuais como o Google
acadêmico, Scielo, bibliotecas virtuais entre outros.
Após o levantamento bibliográfico se deu a pesquisa aplicada, momento em que a
investigação e a intervenção se desenvolveram no trabalho de campo, situação oportuna para
a sondagem dos exercícios adaptados.
As abordagens pedagógicas utilizadas nos momentos em aula foram feitas conforme a
descrição deste presente trabalho. Teve como procedimento de coleta de dados para análise, a
gravação das execuções dos alunos presentes durante os momentos práticos.
210
XIIIEncontro de Educação Musical
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Nos moldes deste projeto o modelo espiral vem a ser entendido e colocado nos
seguintes critérios em cada estágio:
No nível material o aluno começa a ter contato com o instrumento, e procura fazer
execuções de modo a ainda estar atento ao domínio básico do instrumento, no caso dos naipes
escolhidos para a pesquisa, que são os de saxofones, o de flauta transversal e o de clarineta.
Na fase inicial os alunos ainda se concentram em conseguir produzir som com o instrumento,
formando sua embocadura, procurando ter uma digitação clara do instrumento, e articula a
relação com o seu instrumento de maneira bem rudimentar.
Para o nível da expressão, o aluno começa a ter mais domínio técnico do instrumento,
consegue emitir som com mais facilidade, e começa a procurar ter melhores resultados
performáticos, tendo nuanças interpretativas.
Estando então no estágio da forma, o aluno já tem domínio do instrumento, consegue
ter uma performance clara quanto a sua execução, e consegue ter percepção da sua execução
em tempo real.
Chegando então ao estágio do valor, o aluno domina todas as relações anteriores de
forma totalmente clara, e já faz as suas metáforas, criando um laço pessoal e cultural com a
sua execução e escuta musical, trazendo sua personalidade individual ao fazer musical.
211
XIIIEncontro de Educação Musical
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Swanwick entende que a troca de estágio não é vista de forma clara, mas o estágio em
que o aluno está pode ser observável pelo professor. “Os saltos psicológicos estão escondidos
da vista, mas os lugares de chegada podem ser observados pelo que fazemos e falamos”
(SWANWICK, 2003, p.85).
4. Avaliação
O processo de avaliação variou de acordo com o módulo abordado dentro desse
projeto, no entanto foi constituído principalmente a partir de um processo de avaliação
continuada em que os alunos tiveram seus momentos de fazer prático gravados, transcritos e
avaliados, de acordo com a espiral de Swanwick.
Pois é sugerido por Swanwick que neste molde de avaliação o foco de avaliar-se
musicalmente alcance maior efetividade.
Sugiro que não ficaremos sem rumo se nos aproximarmos da ideia de música como
metáfora e nos concentrarmos nas camadas externas visiveis em ambos os lados de
cada transformação metafórica. Os saltos psicológicos estão escondidos da vista,
mas os lugares de chegada podem ser observados pelo que fazemos e falamos
(Swanwick, 2003, p.85).
212
XIIIEncontro de Educação Musical
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e, por parte do aplicador, foram elaboradas perguntas guias para direcionar o assunto quando
necessário.
As questões foram:
Para você, o exercício feito era fácil ou difícil?
Ao receber o exercício, ficou claro o que você teria que fazer?
Caso não tenha ficado, o instrutor conseguiu esclarecer de maneira concisa a questão?
Você acha que o exercício ajudou no seu desenvolvimento musical?
Aproximadamente quantas horas por semana você treinava com seu instrumento em
momentos extra-aula?
A opinião sobre os exercícios era optativa e foi feita em uma roda de conversa ao fim
de cada aula.
Com recorrência, algumas observações foram notadas. Segundo os participantes, a
forma de aprendizagem tinha uma abordagem muito diferente do que eles esperavam ou já
haviam vivenciado em aulas de música.
Os relatos mais recorrentes destacaram que o conjunto de exercícios de criação era
algo que eles não esperavam e também que esses exercícios eram quase sempre o momento de
maior descontração nas aulas, mesmo que fossem difíceis de serem executados.
6. Conclusões
Os resultados obtidos demonstraram que, na aplicação do modelo TECLA e na busca
pela aprendizagem musical equilibrada, alguns pontos não se nivelaram dentro do modelo.
Observou-se que mesmo buscando o equilíbrio durante as aulas, os alunos tiveram
resultados variados em cada um dos tópicos do TECLA.
O resultado demostrou que, para o processo de passagem aos próximos estágios da
espiral, seria necessário mais tempo de trabalho em campo, além de mais adaptações de
exercícios da pratica de Keith Swanwick para o ensino de sopros.
A pesquisa demostrou também que a adaptação da metodologia de Swanwick para o
ensino coletivo de sopros requer mais tempo de preparação e pesquisa empírica sobre o tema,
já que a adaptação acaba sendo feita a partir de modelos teóricos que não são os mesmos que
se pretendia nesse projeto.
Referências
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XIIIEncontro de Educação Musical
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SOUZA, R.; ALVARES. T.; FREIRE. J; Ensino coletivo de música em escolas regulares e
espaços não-formais. Anais do 14º Colóquio de Pesquisa do PPGM/UFRJ – Vol. 1 –
Educação Musical e Musicologia, 2016.
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XIII Encontro de Educação Musical
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1. Introdução
O presente artigo se dedica a refletir sobre a relevância das brincadeiras e cantigas
populares brasileiras para o trabalho pedagógico na educação infantil. Tal reflexão se torna
uma tarefa essencial aos professores e professoras. Atualmente a tecnologia tem modificado a
vivência da infância com celulares, tablets, computadores e as crianças têm sido muito
influenciadas pelo que a mídia apresenta, necessitando cada vez mais de professores
curadores do conhecimento para que saibam assimilar e apreender novas práticas salutares
sem ignorar o rico repertório cultural do Brasil.
Conforme estabelecido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil - DCNEI (BRASIL, 2010), a aproximação com as multimídias garante o direito das
crianças ao acesso e uso dos diferentes recursos tecnológicos e midiáticos e amplia suas
possibilidades de expressão. Neste sentido, um dos papeis das educadoras e dos educadores é
o de potencializar a produção de culturas infantis, tendo a escuta apurada e sensível na gestão
do seu cotidiano com os bebês e as crianças pequenas, além de serem defensores das várias
formas de ser criança e viver as infâncias. Experiências nas quais bebês e crianças pintam
desenhos prontos, brincam com jogos carregados de estereótipos e sem sentido ou assistem a
215
XIII Encontro de Educação Musical
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filmes e desenhos com vistas ao silenciamento de seus corpos pouco contribuem para a sua
formação integral.
Lydia Hortélio, referência na área da educação musical, dedica-se ao estudo e difusão
de brincadeiras e cantigas tradicionais de diferentes regiões brasileiras, reafirmando assim a
importância da pesquisa com essa temática. Essas brincadeiras e cantigas, muitas vezes, são
transmitidas de geração em geração e ainda são preservadas até hoje na memória daqueles que
as conhecem, mas precisam fazer parte do contexto escolar para que sejam inseridas de
maneira mais consistente na vida das crianças.
É preciso enfatizar que a infância é um período muito importante da vida do ser
humano, fase em que ocorre o desenvolvimento da motricidade, da afetividade, da linguagem.
Nesse período, a principal atividade é o brincar. Na educação infantil, as crianças estão no
início da construção de sua identidade, de sua formação moral, do desenvolvimento da
coordenação motora, da socialização, da alteridade, das noções musicais. É por meio do
brincar que ela se expressa, se relaciona e se desenvolve.
Na brincadeira, a criança se reconhece como parte de um grupo, desenvolvendo
também a identidade pessoal e coletiva. Através dessa socialização, desenvolve
potencialidades, aprende a manifestar suas necessidades e a respeitar o outro com suas
diferenças e similaridades.
Brincar nem sempre traz apenas aspectos prazerosos, pois é na brincadeira que a
criança lida com frustrações, desafios e tristezas. De acordo com Vigotsky (2006), ao brincar
a criança lida com conflitos como ganhar e/ou perder, além de regras que lhe são impostas
desafiando-a a cumpri-las. Dessa forma, também é possível demonstrar as próprias
fragilidades e individualidades.
Assim, tal prática contribui para o desenvolvimento integral da criança. Nesse sentido,
Kishimoto (1999) afirma que é necessário a criança aprender a brincar para assim se expressar
e se comunicar. A escola, especialmente a educação infantil, é um espaço privilegiado em que
diversas crianças se reúnem para brincar e aprender. A mesma autora também considera a
escola como o lugar ideal para proporcionar o acesso à cultura popular brasileira.
Considerando os elementos apontados, este estudo procura apresentar a importância e
a relevância do trabalho docente com as brincadeiras e cantigas populares brasileiras para a
musicalização na educação infantil a partir da contribuição de grandes autoras da área da
educação musical, como Brito (2003), Hortélio (2016; s/d.a.b), Tomich (2015), Lino (2014) e
Silva (s/d).
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natureza e uns com os outros. Nisso entraria o papel da escola como ponte entre o passado e o
presente, como espaço de brincar, de aprender, de vivenciar, de conviver (HORTÉLIO, s/d.a).
Teca Alencar de Brito (2003), por outro lado, observa alguns pontos positivos da
modernidade e das novas tecnologias. Segundo a pesquisadora, as transformações
tecnológicas ampliaram os meios para o fazer musical por conta da introdução de
instrumentos eletrônicos e equipamentos como sintetizadores e computadores. Além disso,
novas formas de música (como a concreta 1 e a eletrônica 2 ) desenvolvidas recentemente
provocaram mudanças (que ainda não cessaram) em todos os gêneros e estilos musicais. Isso
tudo teria uma influência já nas crianças pequenas e, portanto, são elementos que não podem
ser ignorados.
Indo ao encontro do pensamento de Hortélio, Brito (2003) também coloca a criança
como protagonista do processo de aprendizado. Considera que um trabalho pedagógico
musical deve acontecer em contextos educativos que compreendam a relação da música com
o perceber, o sentir, o experimentar, o imitar, o criar e o refletir. Nesse sentido, a criança,
como sujeito da experiência, é a prioridade, e não a música. A autora ainda considera que “a
educação musical não deve visar à formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à
formação integral das crianças de hoje” (BRITO, 2003, p. 46).
De acordo com Brito (2003) e pela experiência docente das autoras deste artigo, a
música – em especial, a canção – tem sido utilizada para diversos propósitos na educação
infantil brasileira. Em geral, ela é colocada como meio para o trabalho com outros conteúdos,
para o ensino de hábitos, atitudes e disciplina, como marca dos momentos da rotina e é usada
em datas comemorativas. Por conta de novas abordagens pedagógicas e mudanças na
compreensão e atuação de profissionais da educação infantil, é possível notar avanços rumo a
uma transformação conceitual em relação ao trabalho com a linguagem musical, mas isso tem
acontecido de maneira lenta.
Por ser uma linguagem, o conhecimento musical precisa ser construído baseado em
vivências e reflexões orientadas, tendo seu foco sempre em promover o ser humano de
maneira integral (BRITO, 2003). Portanto, todos os alunos devem estar incluídos – nesse
sentido, as crianças com alguma necessidade especial também devem ser consideradas.
Na educação infantil, a música deve ter lugar especial. As crianças gostam muito de
atividades musicais e, claro, gostam muito de brincar. Nada impede que a música seja usada
para determinados fins como marcar momentos da rotina e o ensino de outros conteúdos, mas
também precisa estar em momentos em que ela seja o foco, o fim. Conteúdos musicais
precisam ser ensinados, a música precisa ser apreciada, vivenciada, experimentada, criada.
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XIII Encontro de Educação Musical
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O mesmo ocorre com as brincadeiras. Elas podem ser usadas com fins pedagógicos,
podem ser feitos jogos e brincadeiras para ensino de diversos conteúdos, mas é fundamental
que as crianças tenham tempo de brincar livremente, de brincar por brincar, de vivenciar e
experimentar as brincadeiras coletivamente, sem a preocupação de aprender algo específico
(apesar de que, com certeza, aprenderão muitas coisas).
O professor deve transmitir conhecimento, mas também precisa dar espaço às crianças
para que vivenciem livremente, experimentem seus conhecimentos e produzam cultura ao
mesmo tempo em que vivenciam a cultura de seu país. Segundo Hortélio, “o adulto pode e
deve passar seu conhecimento às crianças, mas deve, também, deixá-las experimentar seus
conhecimentos entre elas mesmas” (TOMICH, 2015, p. 117).
Forquin (1993) explica a relação entre educação e cultura de maneira interessante:
Sendo assim, pode-se lembrar a afirmação de Silva (s/d) dizendo que o substrato da
educação musical deve ser a música tradicional da infância. Corroborando essa ideia, Tomich
conclui:
3. Considerações finais
Como foi abordado neste artigo, os avanços tecnológicos e os aparelhos midiáticos
têm trazido grandes mudanças para a vivência da infância. Apesar de diversos pontos
positivos, podem ser observados aspectos prejudiciais, especialmente no que diz respeito ao
desenvolvimento integral das crianças (uma vez que brincam e se entretêm muito mais com
aparelhos que quase não lhe exigem o uso do corpo) e ao contato com a natureza. Além disso,
essas novas formas de brincar têm, de certa maneira, deixado de lado elementos culturais,
causando até certa homogeneização da infância.
Portanto, é necessário que a escola, especialmente a educação infantil, compreenda a
importância da brincadeira e da cultura popular para a formação das crianças. E, assim,
promova momentos prazerosos de brincadeiras tradicionais livres e dirigidas. Professores e
professoras têm papel crucial de planejar esses momentos. Os chamados Brinquedos de
Criança deveriam também ser o cerne da educação musical infantil (TOMICH, 2015).
220
XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Devido ao forte envolvimento entre bebês e crianças com o universo sonoro, Brito
(2003) afirma que o processo de musicalização acontece quase que intuitivamente, de forma
espontânea. Cantigas de roda, de ninar, parlendas são importantes para o desenvolvimento não
apenas musical, mas integral da criança. Um contexto pedagógico-musical deve entender a
música como instrumento na construção do saber que envolve o sentir, experimentar, criar,
perceber, imitar.
Conforme afirma Lino (2014), em entrevista com Lydia Hortélio, o trabalho musical
realizado principalmente na infância deve valorizar o brincar com o corpo, com os sons, além
de valorizar a alegria do convívio das crianças entre elas mesmas. A experiência de vivência
musical deve ir além das cobranças referentes ao processo de ensino-aprendizagem. O
conhecimento musical precisa ser construído em vivências e reflexões orientadas. Desta
forma, o educador deve ser atento, alegre, desafiador e pesquisador.
Por meio das brincadeiras e cantigas populares, a criança compreende o mundo à sua
volta, desenvolve a linguagem e aprende regras e princípios básicos como a cooperação, a
liderança, o compartilhar. É importante assegurar a toda criança o direito de brincar. Toda
brincadeira e cantiga traz um aprendizado, seja ele pela convivência, pela musicalidade, pelos
movimentos, pelo texto ou pela simples alegria do brincar.
Além disso, o trabalho com brincadeiras e cantigas populares envolve questões
históricas, culturais e geracionais, uma vez que, como foi dito, elas contribuem para a
construção de um “espírito de brasilidade”. As crianças se apropriam, vivem e transformam a
cultura do Brasil ao brincar. Tendo em vista que, hoje em dia, muitas crianças passam grande
parte do tempo de seu dia nas escolas e creches, deve-se refletir sobre o que, de fato, a escola
proporciona de vivência cultural e musical.
Há ainda diversas reflexões a serem feitas e que podem se desdobrar dessa
investigação, como a problematização dos efeitos a longo prazo que a grande exposição às
tecnologias midiáticas causa e suas relações com as brincadeiras tradicionais brasileiras. Ou
então sobre como as escolas têm lidado com essas tecnologias e o espaço que a cultura
popular brasileira ocupa nelas. Outro assunto bastante importante a ser abordado é a formação
dos profissionais da educação infantil, que precisam diariamente lidar com tantas atribuições e
ainda dar conta de planejar e desenvolver atividades visando à formação integral das crianças
pequenas.
Fato é que as crianças precisam brincar, cantar, movimentar-se, desenvolver-se, criar e
viver sua própria cultura e ter espaço de natureza para isso. Assim, as autoras acreditam que
os profissionais da educação infantil devem proporcionar esses momentos amplamente
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Referências
BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Petrópolis, 2003.
HORTÉLIO, Lydia. Música da cultura infantil no Brasil. Textos Casa Amarela. Maio. 2016.
Disponível em:
https://www.casaamarelafestas.com.br/textos/musica_da_cultura_infantil_no_brasil.pdf.
Acesso em: fev. 2020.
HORTÉLIO, Lydia. (s/d.b) Lydia Hortélio. Sessão home, outros mestres. Mapa do Brincar.
Disponível em: <http://mapadobrincar.folha.com.br/mestres/lydiahortelio/>. Acesso em:
16/05/2019.
LINO, Dulcimarta Lemos. Música tradicional da infância: Entrevista com Lydia Hortélio, por
Dulcimarta Lemos Lino. Reflexão & Ação, Vol. 22, nº. 1, 2014.
KISHIMOTO, T. (org). Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. 3º Ed. São Paulo: Cortez,
1999.
SILVA, Lucilene. Lucilene Silva. Sessão home – outros mestres. Mapa do brincar. s/d.
Disponível em: <http://mapadobrincar.folha.com.br/mestres/lucilenesilva/>. Acesso em:
16/05/2019.
TOMICH, Ana Luiza Lemos. Lydia Hortélio, uma menina do sertão: educação musical na
cultura da criança. 2015. 133 f. Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-graduação em
Música), Universidade Federal da Bahia, Escola de Música, Salvador, 2015.
Notas
1
Música concreta é aquela composta a partir de sons naturais e/ou artificiais. Pode conter partes completas ou
fragmentos de sons do ambiente ou de qualquer ruído (inclusive de instrumentos musicais).
2
A música eletrônica é aquela criada ou alterada por meio de equipamentos e instrumentos eletrônicos.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Música no novo ensino médio: as relações entre espaço escolar e um grupo auto-
organizado
Resumo: Este artigo consiste em discutir os processos de aprendizagem musical que acontecem
durante a interação entre membros de um grupo vocal auto-organizado em uma escola pública de
tempo integral no município de Belo Horizonte. A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma
abordagem etnográfica, sob uma observação participante de ensaios do grupo, na qual procurei
dialogar com os autores Almeida, André, Arroyo, Kraemer e Green. Este trabalho é um recorte da
minha pesquisa de mestrado, portanto, ainda se encontra em andamento.
1. Introdução
Ao tentar identificar os processos de aprendizagem musical que acontecem em um
espaço escolar, muitas vezes ficamos delimitados a olhar para a prática centrada na sala de
aula e na figura do professor, principalmente quando trata-se de um contexto em que há aula
de música. Nesse sentido, ao considerarmos o fato de que o espaço escolar é repleto de
significados, singularidades e um espaço plural, devemos considerar os outros processos de
aprendizagem musical que acontecem além da sala de aula. É a partir desse ponto de vista que
este trabalho se desenvolve, descrevendo um recorte de cenas que mostram os caminhos para
se fazer música em um tempo não curricular em uma escola estadual no município de Belo
Horizonte.
O campo de trabalho que escolhi fazer esse recorte é a Escola Estadual Governador
Milton Campos, localizada na região centro-sul de Belo Horizonte. Essa instituição oferta
vagas exclusivamente para o segmento Ensino Médio e tem como principal característica ser
uma escola na qual há uma diversidade de alunos de diferentes contextos sociais e regiões de
Belo Horizonte. É uma escola que valoriza as linguagens artísticas, mostrando apoio por parte
da direção e coordenação ao disponibilizar espaços para apresentações, festival de inverno e
outros momentos de performances. A escolha desse local se deve ao fato de ser a escola em
que trabalho há quase dois anos, e desde que estive presente nessa instituição como
professora, muito me chamou atenção os grupos que foram formados para fazer música
juntos, dentre eles, um quarteto de alunas e um violonista.
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XIII Encontro de Educação Musical
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2. Educação Integral
O atual cenário da Escola Estadual Governador Milton Campos segue a Lei nº
13.415/2017, (BRASIL, 2017) que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e
estabeleceu uma mudança na estrutura do ensino médio, ampliando o tempo mínimo do
estudante na escola de 800 horas para 1.000 horas anuais (até 2022) e definindo uma nova
organização curricular, mais flexível, que contemple uma Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) e a oferta de diferentes possibilidades de escolhas aos estudantes, os itinerários
formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional.
§ 1o A proposta pedagógica das escolas de ensino médio em tempo integral terá por
base a ampliação da jornada escolar e a formação integral e integrada do estudante,
tanto nos aspectos cognitivos quanto nos aspectos socioemocionais, observados os
seguintes pilares: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser (BRASIL, 2016,
p.41).
3. Etnografia Escolar
Para investigar os processos de aprendizagem musical que acontece em grupo
específico em um espaço escolar, a abordagem etnográfica é uma ferramenta metodológica
que pode nos aproximar desse objeto de estudo e, a partir das observações, entender como
esses indivíduos compreendem e estruturam o seu dia a dia nesse espaço escolar, como
constroem a realidade que os cerca, as práticas cotidianas, as atividades rotineiras que
envolvem as práticas musicais.
De acordo com André (1998) em seu trabalho sobre etnografia escolar, a principal
preocupação na etnografia é com o significado que têm as ações e os eventos para as pessoas
ou os grupos estudados. Esses sistemas de significado constituem a sua cultura. A autora
dialoga com a ideia de Spradley (1979) ao afirmar que em toda sociedade as pessoas usam
sistemas complexos de significado para organizar seu comportamento, para entender a sua
própria pessoa e os outros e para dar sentido ao mundo em que vivem.
224
XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Dessa forma, escolhi fazer uma abordagem etnográfica para compreender como
acontece o processo de aprendizagem musical durante a interação entre os participantes de um
grupo auto-organizado. Além disso, a etnografia escolar adequa-se ao investigar um contexto
no qual eu estou inserida em seu dia a dia.
Conhecer a escola mais de perto significa colocar uma lente de aumento na dinâmica
das relações e interações que constituem o seu dia a dia, apreendendo as forças que a
impulsionam ou que a retêm, identificando as estruturas de poder e os modos de
organização do trabalho escolar e compreendendo o papel e a atuação de cada
sujeito nesse complexo interacional onde ações, relações, conteúdos são construídos,
negados, reconstruídos ou modificados (ANDRE, 1998, p. 31).
4. Banda Central
A banda teve início no segundo semestre de 2018, a partir da iniciativa de um aluno do
primeiro ano, pianista e cantor. A ideia inicial era fazer um grande grupo musical de forma
que tivesse a participação de todos os alunos da escola que gostariam de compartilhar
experiências musicais, aprimorar os conhecimentos e fazer apresentações.
O grupo tinha no início cerca de sete pessoas, sendo que o aluno incentivador foi
intitulado como uma figura de liderança da banda. A partir de então, este passou a organizar e
negociar possíveis espaços e horários para os ensaios. Os primeiros ensaios aconteciam
durante o almoço na sala de música da escola, uma sala de aula comum, porém havia apenas
cadeiras, violões e o quadro branco fixado. Os participantes da banda levavam os próprios
instrumentos e não havia uma formação definida, cada um levava o que sabia tocar. As
músicas eram escolhidas de acordo com as sugestões dos cantores e grau de dificuldade para
os instrumentistas.
Houve uma audição no primeiro semestre de 2019, na qual alguns integrantes
escolheram quais seriam os critérios para entrar na banda e fizeram uma banca com juris. O
critério para passar no teste era saber cantar ou tocar uma música inteira, para um pequeno
público que estava lá. Como consequência, o grupo passou a ensaiar no auditório da escola,
pois o número de integrantes triplicou, o que fez com que a banda perdesse o controle de
organização e passou a ser dividida por pequenos grupos que executavam músicas diferentes
em um mesmo espaço, causando muita bagunça. Apesar disso, a banda conseguiu seguir com
os ensaios e fazer apresentações frequentes em eventos da escola.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
termos técnicos da música para diferenciar os naipes de vozes, identificar tonalidade, nem
parâmetros sonoros, no entanto, elas sabem as regiões para cantar que mais se sentem
confortáveis e conhecem os seus limites.
A trajetória do grupo é marcada pelo encontro e afinidade das alunas Andressa e Lara
que compartilhavam o mesmo transporte escolar e cantavam durante os trajetos das idas e
voltas da escola. A identificação musical uma com a outra foi o principal motivo de
aproximação entre elas. Em uma entrevista as integrantes do quarteto contam como se
conheceram:
Andressa: Primeiro de tudo foi eu e a Lara. A gente tava andando, só que, tipo
assim, como a gente é do mesmo escolar a gente já sabia que uma cantava, porque
a gente cantava as músicas no escolar. Na época tinha a banda do C., e aí, tipo
assim, a gente já tinha visto a Thatá e a Thatá é da sala da Lara. Então, tipo, a
gente encontrou ela. Ela foi beber água ou foi na cozinha? (perguta para Lara)
Lara: A gente, tipo assim, eu fui buscar alguma coisa na sala e a Thatá tava na sala
e falou assim “aonde cê vai?” eu falei que provavelmente vai ter ensaio da banda aí
ela “nossa eu vou com você”, aí a gente chegou aqui em baixo e não tinha ensaio.
Aí a gente falou “vamo cantar”, só que a gente não tinha lugar pra cantar então a
gente falou “hm, vamo pro estacionamento. Aí a gente ficou la sentada, nós três.
Andressa: Só que aí a gente começou a cantar umas músicas que começou a
encaixar muito bem, só que a Tatá falou assim “Nossa gente, sabe uma música que
eu sempre quis fazer?” e mostrou aquela música “Believer”, que foi até a música
que a gente apresentou depois e começou a fazer tipo o arranjo que ela queria
fazer, só que nunca tinha gente suficiente. Aí eu e a Lara começou a pegar os trem,
geralmente eu pego rápido, e a Lara..
Lara: A Lara é tipo “vai”, todo mundo pegou e a lata só vai” (risos)
Andressa: E aí começou a cantar nós três. Gente, nossa isso é muito nostálgico.
Lara: É muito legal pensar
Thalita: eu lembro que a primeira música foi aquela “Dont let me down”, que a
gente tentou pegar pra cantar, mas tinha a outra pessoa
Andressa: A gente começou a tentar ensaiar nós três quando a gente tinha
oportunidade, até mesmo com a banda
Ana: Isso foi engraçado porque a Andressa chegou pra mim falando “nossa foi uma
conexão muito legal, ficou incrível”
Andressa: E aí teve um dia que a Thalita foi ensaiar com a gente e a Ana tava perto
e a Ana foi também, e, como a Ana também canta a Thatá ficou apaixonada com a
voz da Ana, e aí foi quando elas foram cantar uma música juntas, “Perdoa”, né?
De acordo com as integrantes, ideia inicial era fazer um grupo vocal apenas com
vozes. Após se juntarem passaram pela banda central, tentaram se adaptar ao grupo, mas
decidiram seguir como um grupo independente.
A expressão feat usada nesta pesquisa significa uma participação especial, que
também é usada sua versão em inglês Featuring e suas abreviações (Feat. ou Ft.). É uma
terminologia usada para informar a “participação de”, “apresentando”, “em parceria com” ou
“participando” (WIZARD, 2017). A escolha de usar essa expressão no nome do quarteto faz
parte do processo de construção de identidade do grupo, assim como as atribuições das
funções. Percebe-se que essa identidade ainda não foi estabelecida, pois há convergência nos
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
discursos, por exemplo, o Emerson afirma que eles se identificam mais como um quarteto e
ele, por ele ter uma função diferente (instrumentista). Em outra afirmação, Thalita diz que se
identificam como um grupo, no qual Emerson faz parte. No entanto, o nome que criaram para
o grupo não condiz com o discurso de Thalita, pois, o uso do “feat” significa que a presença
de Emerson é de fato uma participação.
Em uma conversa informal, Emerson usa o nome de um filme para explicar qual é a
sua função no grupo: Quarteto Fantástico e o surfista prateado. O nome do filme serviu de
exemplo para ele explicar como se o quarteto fosse o principal e ele em segundo plano,
diferente do significado que damos para um acompanhador ou co-repetidor em um coral.
Ao analisar o discurso da identidade do grupo, encontro outra convergência. A função
do instrumentista acompanhador neste contexto aqui tratado não se trata da mesma atribuição
que damos ao conceito de co-repetidor ou colaborador, pois, esses termos são utilizados para
instrumentistas com conhecimento de técnica vocal, respiração, correção de melodias,
desempenhando o ofício de ensaiador. Diante disso, o papel que Emerson exerce no grupo se
encaixa nas características de um acompanhador, pois tem a habilidade de transpor e sabe
identificar, através do ouvido, se determinado tom fica em uma região confortável para as
meninas, executa fielmente os arranjos que elas criam e tem uma habilidade enorme de tirar
as músicas de ouvido.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Exemplo 1: sala do grêmio estudantil no início de um ensaio do grupo À Capella feat. Emerson
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negociações do grupo observado como modos de estruturação auto organizativas, nos quais os
próprios integrantes definem o caminho para alcançar os seus objetivos, seja pela troca de
opiniões, compartilhamento de ideias sobre as respectivas criações e interpretações, bem
como nos ajustes dos ritmos ou melodias das canções.
7. Considerações finais
Durante as observações pude perceber que o grupo aqui retratado se encaixa nas
principais características de uma aprendizagem informal. Como professores de música,
podemos olhar para as práticas musicais que ocorrem em um grupo auto-organizado a partir
de uma perspectiva de uma complementação do que é feito em sala de aula, afinal, a educação
musical fora desse espaço é um caminho para a ampliação do processo criativo e artístico,
propiciando o desenvolvimento do conhecimento musical. Ao fazer isso, nós também
disponibilizamos uma nova riqueza de respostas não só à música, mas aos significados
sociais, culturais, políticos e ideológicos que a música carrega.
Referências
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. [S.l: s.n.], 2009.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefi a para assuntos jurídicos. Lei nº
9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Brasília, 1996.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Lei nº
9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Brasília, 1996.
GREEN, L. How popular musicians learn: A way ahead for music education. London:
Ashgate Press, 2002.
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XIIIEncontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Resumo: A pesquisa foi elaborada na EMEF Elisa Franco e teve como objetivo descrever uma
iniciativa de incluir os aspectos culturais brasileiros em aulas de música e apresentar quais foram os
resultados conquistados em aula. Foram salientados aspectos da nossa cultura, quais os costumes e
povos que influenciaram o folclore que está presente em nossa sociedade e de que forma foram sendo
inseridos em nosso país.
1. Introdução
Nas escolas, a abordagem do folclore na educação infantil permite que as crianças
resgatem a memória de um movimento sem idade declarada, com o objetivo de manter viva a
história cultural do Brasil e de enfatizar a riqueza da nossa cultura. As cantigas, as lendas, as
festas populares e os jogos coletivos são as características mais fortes presentes no estudo do
folclore nacional, segundo a Comissão Nacional do Folclore Brasileiro. Em sua “Carta do
Folclore Brasileiro”, a comissão destaca que os aspectos ensinados do folclore ajudam a
entender como se construiu a nossa cultura, nos mostra que, como professores de música,
somos um dos “educadores de diferentes matérias em torno do folclore, considerando-o um
amplo campo de ação para os estudos e a prática da multidisciplinaridade” (1995, p. 2). As
cantigas e brincadeiras são parte desse conjunto cultural folclórico e constituem herança
linguística, pois fazem parte da história da humanidade. Portanto, o folclore é conceituado
como:
conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições
expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social.
Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação
coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. Ressaltamos que
entendemos folclore e cultura popular como equivalentes, em sintonia com o que
preconiza a UNESCO. A expressão cultura popular manter-se-á no singular, embora
entendendo-se que existem tantas culturas quantos sejam os grupos que as produzem
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Estudar sobre a cultura brasileira significa despertar nas crianças uma curiosidade
genuína sobre os antepassados, os conhecimentos construídos, estimular seu interesse pela
riqueza cultural de cada região do país, e esse deve ser o objetivo principal ao introduzir o
assunto na educação infantil.
A música, ao longo da história, sempre desempenhou, um importante papel no
desenvolvimento do ser humano, seja no aspecto religioso, moral e social, o que
contribuiu para a aquisição de hábitos e valores indispensáveis ao exercício de sua
cidadania (LOUREIRO, 2003, p. 33).
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do conteúdo, então, para que não houvesse exorbitante disparidade, optamos em aplicarmos
a mesma aula, porém de formas mais acessíveis às suas distintas realidades.
Tratando-se de musicalização infantil não poderíamos excluir aspectos teóricos da
música, então trabalhamos com eles as propriedades do som (altura, timbre, duração e
intensidade), ritmo, pulsação e afinação. Para efetuarmos esses conhecimentos, usamos
músicas da região abordada. Nelas marcamos pulso e ritmo por meio de clavas,
instrumentos de banda infantil, com palmas, instrumentos criados, pés e outras maneiras.
Depois de realizar isso, dividimos a turma em duas, para que parte dela fizesse a marcação
de pulso e a outra de ritmo. Depois intercalamos. Algumas vezes utilizamos essas mesmas
músicas para empregar a propriedade de intensidade. Elas poderiam ser cantadas, o que já
auxiliava na afinação e desenvolvimento do ouvido musical, ou tocadas. Buscou-se variar as
atividades e proporcionar maior enriquecimento musical.
Ainda na abordagem dessas questões, fizemos jogos com as notas musicais,
ensinamos as figuras de semínima, colcheia e semicolcheia por meio do método de ensino
de Zóltan Kodaly, que faz uso de sílabas ( “vou”, “ vou e “ e “ vou correndo”) e palavras
para facilitar o entendimento do tempo de cada nota, além do uso da popular manossolfa.
Tudo isso respaldado nos aspectos culturais das regiões brasileiras (FONTERRADA, 2005).
5. Considerações Finais
Diante das oito aulas dadas no período de Agosto a Outubro de 2019 nas classes 3º B,
3º D, 3º G e 3º I, nós “pibidianos” pudemos constatar uma evolução gradativa das turmas,
cada uma numa cadência específica. No início das aplicações das aulas, nos deparamos com
alunos introspectivos no que se refere aos assuntos abordados, boa parte com dificuldade em
ritmo, pulso, coordenação, disciplina, concentração, participação e criatividade. Observamos a
falta de familiaridade dos alunos quanto a diversidade cultural nos costumes, raça, sotaque,
expressões e afins. Diante dessas manifestações, nós pudemos intervir instigando o
conhecimento e o desenvolvimento do respeito mútuo pela diversidade que nosso país carrega
na sua trajetória e permanência.
Durante as aulas, os alunos ficaram mais atentos, empolgados para as aulas,
participativos, disciplinados, dedicados e mais tolerantes com a diversidade. Também
mantiveram na memória os registros dos conteúdos já estudados. Notou-se um envolvimento
maior dos alunos mais tímidos, aumento na criatividade de cada um, quando ações que antes
eram copiadas ganharam singularidade retratada nas expressões corporais, nas falas, nas
ritmizações improvisadas e outros. Oriundo dos conhecimentos voltados para as regiões e
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Artesanato Mosaico - ES
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7. Referências
LEMOS, Renato de Lyra. Antes de ser Brasileiro eu sou preto: representações de África no
imaginário da música popular brasileira. Monografia. Universidade Federal de
Pernambuco:2013.
MARIZ, Vasco. História da música no Brasil. 6ª Edição. Rio de Janeiro, SP, Editora Nova
Fronteira, 2005.
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Resumo: Este trabalho busca descrever nossa experiência no projeto de extensão Curso Livre de
Violão da UERN (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte), entre os semestres 2018.1 e
2018.2. Para isso, planejamos e realizamos aulas que proporcionaram a formação musical básica dos
alunos e a ampliação de seus repertórios, por meio do ensino coletivo de violão. A metodologia
utilizada foi a pesquisa-ação, caracterizada pelo papel ativo do pesquisador na realidade analisada. Os
resultados da pesquisa revelaram que a proposta metodológica desenvolvida contemplou tanto
aspectos relacionados à formação musical técnica quanto à formação artística e cultural dos alunos
envolvidos no projeto.
1. Introdução
No campo da Didática, diferentes educadores musicais buscam construir métodos e
propostas de ensino-aprendizagem que objetivam facilitar o aprendizado musical dos alunos.
Gainza (2011, apud SÁ, 2017) aponta que, a partir do século XX, houve uma revolução na
educação, influenciada diretamente pelos estudos da Psicologia e das ciências humanas. Esses
novos estudos contribuíram para o surgimento de vários questionamentos acerca das antigas
abordagens metodológicas do século XIX. Nesse contexto, começam a surgir as pedagogias
ativas, e a partir daí nasce a perspectiva de considerar a educação como algo mais contínuo, ou
seja, um processo de vida e não mais apenas como uma preparação para a vida futura. Segundo
Gainza (2011 apud SÁ, 2017):
Em meados dos anos quarenta, na Europa e nos Estados Unidos, a Educação Musical
adere aos princípios dos ensinamentos ativos. A partir da figura pioneira do suíço-
alemão Emile Jaques-Dalcroze que introduziu o movimento corporal na aula de música,
vai acontecer, quase sem interrupção, as contribuições dos grandes pedagogos musicais
(Willems, Martenot, Kodaly, Orff, Suzuki etc.) que revolucionam a Educação Musical,
especialmente no nível inicial, em todo o mundo ocidental, incluindo a nossa América
Latina nos anos cinquenta (GAINZA, 2011 apud SÁ, 2017, p. 2).
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2. Metodologia
Optamos, neste trabalho, pela metodologia da pesquisa-ação, que busca ferramentas para
investigar e aprimorar a prática pedagógica. Segundo Thiollent (2002), a pesquisa-ação
possibilita que pesquisadores da Educação tenham condições para produzir conhecimentos mais
efetivos, a nível pedagógico. Foram empregadas diferentes técnicas para a coleta de dados, como
registro de vídeos, fotos e áudios, e observação e análise contínua.
Os dados coletados durante a pesquisa nos possibilitaram identificar duas categorias para
serem entendidas como critérios de análise: (1) Técnica e (2) Execução, que serviram de base
para analisar e discutir os dados. A sistematização da proposta metodológica/pedagógica foi
realizada, principalmente, através da construção do repertório dos grupos, construídos a fim de
contemplar os seguintes objetivos: (1) implementar questões idiomáticas ao violão; (2) motivar
os alunos aluno; e (3) ser eficaz no aprendizado da técnica violonística, da leitura musical por
cifras e tablaturas e das levadas rítmicas utilizadas pelo violão na música popular.
Como material didático, foram utilizados recortes de algumas apostilas direcionadas ao
ensino de cordas dedilhadas, como Faria (1999) e Pinto (2005). Utilizamos também, durante a
pesquisa, o livro Pedagogias em Educação Musical, que serviu como base para utilizar alguns
princípios das metodologias ativas no ensino da música, principalmente na parte de rítmica,
através de movimentos corporais na aula de música. Eventualmente, também foram utilizadas
abordagens baseadas no método de Ciavatta (2003).
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5. Considerações Finais
Neste trabalho, descrevemos nossa experiência no projeto de extensão Curso Livre de
Violão da UERN, através da metodologia da pesquisa-ação. Desta forma, utilizamos a
metodologia da pesquisa-ação, para delinear o processo de planejamento e realização dessas
aulas, e como a prática fundamenta novas perspectivas pedagógicas. Empregamos diferentes
técnicas para a coleta de dados, como registros em vídeo, foto e áudio.
Nas aulas, trabalhos aspectos técnicos direcionados ao fazer musical, como exercícios de
consciência e identificação rítmica, independência dos dedos de ambas as mãos, formas
adequadas para posicionar as mãos, postura, toques com e sem apoio, alternância de dedos,
escalas e fórmulas de arpejo. Constatamos que grande parte dos alunos assimilou de forma
bastante satisfatória esses fundamentos, e ressaltamos também que o acompanhamento
harmônico por cifras e tablaturas favoreceu o processo de memorização e ampliou a compreensão
dos alunos em torno das funções básicas do sistema tonal. Percebemos, por fim, que a prática
musical proporcionou uma maior concentração, expectativa e satisfação do grupo, o que é
observado também por Tourinho (2003).
Esperamos que esse trabalho, um breve relato de experiência sobre nossa experiência no
Curso Livre de Violão da UERN, fomente a produção acadêmica sobre o Ensino Coletivo de
Instrumentos Musicais (ECIM), mais especificamente sobre o violão.
Referências
FARIA, Nelson. Acordes, arpejos e escalas. São Paulo: Irmãos Vitale, 1999.
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XIII Encontro de Educação Musical
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MATEIRO, Teresa; ILARI, Beatriz Senoi. Pedagogias em educação musical. Curitiba: Ibpex,
2011.
SÁ, Fábio Amaral da Silva; LEÃO, Eliane. Ensino Coletivo de Violão: uma proposta
metodológica para escolas de educação básica. In: CONGRESSO NACIONAL DA ABEM,
XXIII, 2017, Manaus (AM). Anais... Manaus: Associação Brasileira de Educação Musical,
2017, 1-19.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Resumo: Neste artigo me proponho a apresentar propostas teóricas e práticas, de ordem pedagógica,
com o objetivo de estimular a formação de grupos instrumentais em escolas de educação básica, ou a
manutenção de grupos já existentes, através da existência da figura de liderança de um professor de
música que atuará como regente do grupo musical. Focando especialmente em trabalhos que tenham
como objetivo principal o fazer musical, como apontado pelo educador H. J. Koellreutter (1915-2005),
e uma visão educativa do processo de direção musical de um grupo de música instrumental.
1. Introdução: Objetivos e filosofias de educação musical por trás do fazer musical com
um grupo instrumental
O ato de fazer música em conjunto por livre e espontânea vontade traz consigo o
desenvolvimento de diversas capacidades extramusicais que vão além da educação musical
em si. Por essa razão as escolas de educação básicas, que têm o objetivo de promover uma
cultura de cooperação, inclusão e de resolução de conflitos através de atividades
extracurriculares, podem encontrar no ensino de música em grupo um recurso extremamente
eficaz para a concretização desses resultados.
Uma dessas possibilidades dentro da área da música seria a criação de um grupo de
música instrumental heterogêneo, ou então de um grupo de canto coral. Se compararmos esses
dois tipos de grupo, em termos de investimento financeiro, o trabalho com um coral é muito
mais barato do que um grupo de música instrumental, principalmente pela questão da
aquisição dos instrumentos que pode ser inexistente na formação de um coral. Essa questão é
apontada por Barbosa (1996) como um dos maiores empecilhos para a realização de um grupo
instrumental heterogêneo, frente à música vocal.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Neste caso, é preciso que exista uma pessoa responsável por viabilizar diversas
estratégias para implementação de um grupo instrumental dentro da escola de educação
básica. Essa figura que, somente por essa função, já seria um líder do grupo, quer ele tenha
consciência disso ou não, em muitos casos também assume a direção musical desses grupos,
sendo nomeado de regente ou maestro pelos outros integrantes.
Nesse artigo um dos principais objetivos, além de fomentar melhor essa área
científica - música instrumental dentro de escolas de educação básica - que é menos
favorecida do que a música coral dentro do ambiente escolar, é oferecer justificativas
pedagógicas e sociais para a inclusão de um trabalho como esse dentro da escola de educação
básica. Para concretizar tal objetivo, utilizei principalmente do pensamento koellreutteriano,
principal fonte teórica e filosófica para o desenvolvimento de um trabalho musical com
qualquer tipo de grupo musical para mim. Para Koellreutter, o fazer música com os alunos
sempre será uma forma de educação extremamente valiosa que instiga os alunos a irem além
da educação musical, trazendo aprendizados que podem ser utilizados posteriormente em suas
vidas, segundo as palavras do próprio Koellreutter transcritas por Brito: “ ‘Eu faço música
com ele. A gente se auto educa coletivamente por meio do debate, do diálogo.’ Completava,
sinalizando um modo de pensar e viver a educação (...)” (BRITO, 2012, p. 102).
O mesmo pensamento de Koellreutter, da música como instrumento de socialização e
humanização, está presente em um dos projetos do maestro argentino Daniel Barenboim, a
East-Western Divan Orchestra, que reúne jovens músicos palestinos e israelenses para
tocarem juntos em uma orquestra com o objetivo de promover um momento de trégua e paz
entre ambos os povos que vivem uma situação constante de conflito há tanto tempo. Ao
conduzir esse trabalho com esse grupo, Barenboim coloca que ao longo dos anos foi
percebendo que a música servia como um ótimo instrumento de mediação de conflitos e de
desenvolvimento da cultura da paz, assim como Koellreutter. Nas palavras de Barenboim:
A música não é separada do mundo; ela pode nos ajudar a esquecer e, ao mesmo
tempo, a compreender nós mesmos. No diálogo entre duas pessoas, cada uma espera
até que a outra tenha terminado de falar, antes de responder ou fazer um comentário.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Sendo o objetivo maior deste tipo de orquestra a abordagem didática, pensamos que
também no ensaio deverão ser utilizadas técnicas de preparação que servem tanto à
orquestra quanto à obra, tais como: afinação, por famílias e em tutti; ataques,
dinâmica e precisão de conjunto; articulações (ROCHA, 2004, p. 92).
Isso porque, na minha visão, um grupo instrumental que faz parte do ambiente
escolar, deve levar em conta a educação musical, conforme as sugestões apontadas acima por
Rocha (2004), mas, além dos aspectos técnicos e musicais que podem ser trabalhados em
grupo, o regente deve ter consciência de um dos objetivos mais nobres da educação,
principalmente dentro do ambiente escolar, a socialização. Tal objetivo é destacado pela
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XIII Encontro de Educação Musical
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Nesse caso, é importante ressaltar também que o regente do grupo deve ter
consciência que a atividade musical com o grupo instrumental deve ter como prioridade a
geração de conhecimento musical, ou seja, promover para o aluno um maior conhecimento
dos diferentes elementos que constituem a rica linguagem musical. Para isso, o regente poderá
utilizar problemas musicais para propiciar ideias de exercícios ou atividades, visando
principalmente a educação musical daqueles que participam do grupo, conforme apontado por
Rocha (2004).
É importante destacar esse aspecto porque muitas vezes em certos grupos formados
dentro do ambiente escolar “o aprendizado dos elementos da linguagem musical não constitui
prioridade, considerando que as apresentações são constantes e os ensaios não são suficientes
para privilegiar teoria e prática” (CAMPOS, 2008, p. 108).
Essa razão apresentada por Campos (2008) acontece muitas vezes por conta da pressão
imposta pela escola para a realização de apresentações que funcionam como uma espécie de
justificativa para o investimento em uma atividade extracurricular que é relativamente cara, se
compararmos com a formação de um grupo coral, por exemplo. Normalmente, um coro
necessita da aquisição de apenas um instrumento musical e a remuneração de apenas uma
pessoa, enquanto um grupo instrumental, seja ele uma orquestra, banda ou até mesmo um
pequeno grupo instrumental, devido a sua maior complexidade, necessita de muito mais
recursos, conforme já apontado anteriormente nesse artigo por Barbosa (1996).
248
XIII Encontro de Educação Musical
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enquanto professor de música dentro do ambiente escolar, como o líder do grupo instrumental
que será formado.
O regente de um grupo instrumental dentro do ambiente escolar deve levar em conta
que ele é antes do líder artístico do grupo, um educador musical, e, portanto, deve prezar por
um fazer musical que está focado não na formação de talentos individuais, mas,
Em outras palavras, ele deve ter consciência do processo educacional como um todo,
como um processo que agrega valores e transforma o ser humano para além da educação
musical. Já que através da educação musical é possível promover processos de conhecimento
que extrapolam a vivência musical e contribuem para a vida social como um todo. Tal fato
também é apontado por Joly e Joly (2011) no artigo em que as autoras relatam diversos
aspectos educativos presentes na Orquestra Experimental da UFSCAR, uma orquestra
comunitária que também se encaixa na definição proposta por esse artigo, apesar de se tratar
de um grupo numeroso. As autoras relatam que:
249
XIII Encontro de Educação Musical
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Por essa razão, é importante que o regente, como líder musical e educacional do
grupo, saiba negociar com a escola um calendário de apresentações adequado, principalmente
porque muitas apresentações podem acarretar numa sobrecarga de atividades e numa perda de
qualidade em relação à aprendizagem musical do grupo, como destacado por Campos (2008).
Também é essencial conscientizar a escola do trabalho de formação musical que será
realizado no grupo, e que as apresentações são possíveis, porém não devem ser exigidas com
muita frequência e nem devem ter duração alongada para que o tempo disponível também seja
utilizado para a aplicação de estratégias que promovam a aprendizagem musical em diversos
aspectos.
Um dos conhecimentos que mais podem ajudar ao tentar equilibrar o objetivo de
realizar as apresentações com o de educar musicalmente na minha experiência é o repertório.
Isso pode ocorrer se ele for usado para ajudar na tarefa de educar musicalmente, tanto na
escolha de algum método, na composição original ou na adaptação de músicas através de
arranjos.
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XIII Encontro de Educação Musical
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desafios técnicos que estejam ao alcance das habilidades no tempo em que o repertório em
questão será preparado. Esse ponto também é destacado por Joly e Joly (2011) na experiência
a frente da Orquestra Experimental da UFSCAR:
Além disso, levando em conta que teremos um grupo instrumental que contará
possivelmente com iniciantes, a breve sistematização proposta por Barbosa (1996) em seu
artigo pode ajudar muito no planejamento dos tipos de exercícios que devem ser executados
durante a etapa inicial do trabalho com o grupo. Barbosa (1996) propõe três fases iniciais de
aprendizado que devem ser divididas internamente. Segue o relato do autor:
Quando vencida essa etapa inicial, a adaptação do repertório terá condições de atender
tanto as demandas artísticas, como didáticas que um grupo com as características que
proponho necessitam, ajudando para a concretização de um trabalho que considera o fator da
educação musical como prioridade. Cabe ao regente, caso o mesmo não seja o
arranjador/compositor, detalhar as capacidades técnicas das seções e famílias para que isso
seja levado em consideração e o objetivo alcançado.
Outro fator que considero importante é abrir parte do repertório para que os alunos
escolham, tal decisão é significativa pois também ajudará na motivação dos estudantes em
alcançar os objetivos propostos pelo regente de maneira que a evolução seja mais prazerosa
para todos que participam do grupo. Assim como colocado por Joly e Joly (2011), a busca
por um repertório pode se transformar em algo significativo para os integrantes do grupo, já
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XIII Encontro de Educação Musical
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3. Conclusão
As possibilidades de condução de um trabalho frente a um grupo instrumental dentro
da educação básica são vastas, por isso tentei neste trabalho me limitar a alguns pontos
específicos que considero de grande valor para o sucesso de tais iniciativas sem entrar em
questões específicas como o formato da criação destes grupos, e se seriam formados dentro do
ensino regular, durante as aulas de música, ou em caráter de oficinas no contra turno. Um dos
principais objetivos da implementação de um grupo instrumental dentro da escola de
educação básica é, principalmente, o oferecimento da disciplina música dentro do currículo
escolar de uma forma que infelizmente ainda não é tão presente no ensino básico brasileiro,
muito devido a seu custo, como já citado na introdução desse trabalho.
Ainda pensando num grupo que faz parte da educação básica, é importante que o
mesmo integre o ambiente escolar de diversas formas, como, por exemplo, através de projetos
interdisciplinares, mas principalmente que a proposta seja condizente com o projeto político
pedagógico da escola em que está inserida. Desta forma, é possível integrar os aspectos da
educação musical com a cultura escolar, significando o grupo dentro da própria comunidade
escolar.
Referências
ALLUCCI, Renata R.; JORDÃO, Gisele; MOLINA, Sérgio; TERAHATA, Adriana M. (org.).
A Música na escola. São Paulo: Allucci & Associados Comunicações, 2012.
BARENBOIM, Daniel. A música desperta o tempo. Tradução de Eni Rodrigues. São Paulo:
Martins, 2009.
JOLY, Maria Carolina Leme; JOLY, Ilza Zenker Leme. Práticas musicais coletivas: um olhar
para a convivência em uma orquestra comunitária. Revista da ABEM, Londria, v.19, n. 26,
pag. 79-91. Dezembro de 2011.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
ROCHA, Ricardo. Regência: uma arte complexa – técnicas e reflexões sobre a direção de
orquestras e corais. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2004.
SANTOS, Carla Pereira dos. Ensinar música na escola: um estudo de caso com uma
orquestra escolar. 281f. Mestrado em Música. Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
SILVA, Mariana Galon da. Criação musical coletiva com crianças: possíveis contribuições
para processos de educação humanizadora. 146f. Mestrado em educação. Centro de educação
e ciências humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2015.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Paulo Salmaci
salmaci@gmail.com
Resumo: Este trabalho trata dos timbres de instrumentos musicais feitos com materiais recicláveis,
sob a perspectiva da percepção e cognição musical. A motivação desta investigação vem da grande
utilização de tais materiais para atividades lúdico-didáticas, como é o caso da educação musical e
conscientização ambiental. Serão aqui apresentados trabalhos referentes a aspectos sinestésicos
musicais. Com os argumentos levantados pretende-se demonstrar o potencial sonoro resultante da
luteria com materiais de descarte, para o ensino da música e suas transversalidades.
Palavras chave: Luteria. Materiais recicláveis. Timbre musical. Percepção. Sinestesia.
1. Introdução
As palavras (adjetivos) normalmente utilizados para se descrever determinadas
características de um som são geralmente baseadas em sensações de outros sentidos que não a
audição (FORNARI, 2013, p.1), por exemplo: um som ‘brilhante’ ou ‘áspero’. Isso nos
remete à ideia de que, pelo menos em teoria, a mente humana seria capaz de ver, degustar ou
até mesmo tatear uma onda sonora. Baseado nisso, propõe-se aqui uma investigação a respeito
das propriedades sonoras de instrumentos musicais construídos com materiais recicláveis e/ou
reaproveitáveis, desenvolvidos de acordo com a percepção sensorial de todos os principais
sentidos humanos e suas respectivas estéticas.
A construção dos instrumentos musicais em questão faz parte de uma tendência
contemporânea de atividade criativa em ascensão: a reutilização artística de materiais
recicláveis com fins lúdico-educacionais. Essa ação tem sido muito valorizada por ser
considerada uma ferramenta economicamente viável, especialmente para alunos de baixa
renda, além de ser uma alternativa interessante para a educação musical, ao estimular nos
alunos a criatividade e consciência ambiental. Essa ação, aqui chamada de luteria reutilizável,
também tem sido empregada não apenas em salas de aula como também em ambientes de
ensino não convencionais por meio de oficinas, enquadrando-se como um “método ativo” de
educação musical ao servir de ferramenta e atividade prática para o aprendizado
(FONTERRADA, 2005, p.177). Especialmente para o público infantil, o caráter lúdico
presente nessa oficina criativa é fundamental, uma vez que brincar faz parte do modo de
aprendizado natural das crianças e, conforme observado pela autora (2005, p.246), é dessa
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
maneira que elas interagem com o mundo, interpretando a realidade e estabelecendo hipóteses
para o que vivencia ou presencia.
No entanto, para que haja uma real interação dessas oficinas no âmbito musical,
Cecília Cavalieri França (2011, p.37) defende a idéia de que sejam trabalhadas a criação
musical e a performance, atentando-se para a sonoridade e o resultado expressivo, e não
apenas à técnica de construção, para que a oficina não se configure somente como uma
atividade plástica de reutilização de materiais descartados. Na prática, o aluno passa a
compreender melhor o funcionamento mecânico de um instrumento, o que ajuda diretamente
no domínio técnico e no entendimento da sonoridade musical por este gerada. As oficinas
também auxiliam psicologicamente no fortalecimento da auto-estima dos alunos,
especialmente daqueles que não podem comprar ou que acreditam ter dificuldades maiores
em aprender um instrumento musical convencional (GARCIA, 2013, p.95), pois esta
atividade estimula o auto conhecimento do aluno ao promover a transformação de um objeto
não musical para um efetivo instrumento musical.
O jogo criativo que se aborda ao construir uma nova função para o objeto,
modificando-o e combinado-o com outros, faz com que a pessoa transforme o significado do
material manipulado e assim se apodere do conhecimento, modificando sua visão de mundo e
sua interação com a sociedade (MOURÃO; MORAES, 2016, p.5). “Para Peirce, os signos que
realmente importam são aqueles que são externalizados, pois, ao se corporificarem, adquirem
mais permanência, livrando-se do caráter evanescente dos signos mentais” (SANTAELLA,
2008, p.99). Assim, a ação de transformar um objeto comum ao cotidiano, em um outro
objeto livre de seu contexto original e agora voltado a gerar sons musicais, faz com que a
pessoa que experiencie tal transformação passe a ter uma relação mais profunda com esse
novo objeto e com os conceitos musicais inerentes a esse processo.
Além da função educativa relacionada à área musical, a produção de tais artefatos
musicais também carrega o signo de uma ação sustentável especificamente ligada ao descarte
daquilo que a princípio não tem mais utilidade. Produtos com curta vida comercialmente útil
se tornam cada vez mais presentes ao cotidiano urbano e são protagonistas de uma grande
problemática ambiental das sociedades contemporâneas. A fabricação de embalagens, por
exemplo, teve sua maior abundância proporcionada a partir do surgimento dos supermercados
nos Estados Unidos na década de 1930 e no Brasil na década de 1950 (ALBACH; RAZERA;
ALVES, 2016, p.46). Os materiais utilizados para transporte desses produtos ocuparam
grande espaço no ambiente urbano ao serem descartados. Paralelamente, outro acontecimento
que contribuiu muito para esse problema foi a invenção e desenvolvimento do plástico
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temporais são reconhecidas como andamento, pulsação e ritmo. De acordo com Shimoda
(2013, p.1), timbre é “aquele que mais impõe dificuldades à descrição e análise”, sendo uma
grandeza psicoacústica multidimensional, que depende da variação e distribuição dinâmica
dos parciais e harmônicos sonoros. Ainda, segundo Fornari (2013, p.3), o timbre é também
uma experiência sensorial pessoal, pois tem haver com cognição e afeto musical. Desse modo,
o timbre demonstra ser em parte uma qualidade sonora passível de ser interpretada de maneira
subjetiva e com particularidades entre indivíduos, podendo gerar sensações e relatos distintos
para uma mesma amostra sonora.
O entendimento do signo sonoro requer a interpretação de externalizações pessoais de
sensações auditivas resultantes de um conjunto complexo de processos físicos e psíquicos, ou
seja, a relação entre todo o sistema que abrange o receptor do estímulo, a capacidade
cognitiva e a maneira com que o indivíduo interage logicamente com a informação, podendo
ser confirmado com a afirmação de Bragança (2008, p. 27): “o estudo das sensações abarca a
forma como os estímulos chegam até nós, provocam reações em nossos órgãos dos sentidos e
são processados no cérebro. A percepção é a construção de representações mentais do mundo
que nos chega por meio das sensações”. Assim sendo, é importante considerar também as
experiências de vida do indivíduo, para de certa forma entender as possíveis variantes que
podem influenciar na escuta, no processamento da informação e no relato da experiência
sensitiva.
Para que haja o relato da sensação, esta tem que se tornar um pensamento, ou seja, o
estímulo sonoro deve se tornar algo cognoscível e descritível. Todo pensamento pode ser
interpretado, sob a visão da semiótica, como sendo conduzido em signos que são, na maioria,
da mesma estrutura geral das palavras; aqueles que não são assim, são daquela natureza de
signos dos quais nós, aqui e ali, em nossas conversas com outros, necessitamos para lidar com
as imperfeições das palavras ou símbolos (PEIRCE 4.6 e 6.338, apud SANTAELLA, 2006,
p.96). Termos como agudo ou grave poderiam ser utilizados para descrever amostras sonoras,
porém, “quando nos referimos ao timbre, geralmente recorremos a metáforas sinestésicas”
(BRAGANÇA, 2008, p. 64), e isso ocorre independentemente de a pessoa ter experiência na
área musical ou não. É muito comum, por exemplo, um músico se referir a um timbre como
‘brilhante’ ou ‘fosco’, ao invés de dizer se há ou não uma grande quantidade e concentração
de harmônicos e parciais superiores na região aguda.
A idéia de sinestesia nos leva a refletir de maneira particular sobre a percepção. As
diferentes modalidades perceptivas do ser humano estão inter-relacionadas por uma
série de fatores, e, do diálogo entre as modalidades, depende, por exemplo, a
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XIII Encontro de Educação Musical
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3. Metodologia
A descrição sinestésica e sua utilização na luteria reutilizável tem sido o objeto central
de análise da pesquisa teórica e empírica do autor principal, a qual é aqui apresentada na
forma deste artigo. Por meio de método exploratório, busca-se reunir informações relevantes
acerca de timbre, sinestesia e signo, de modo a poder relacionar o instrumento musical de
material reciclável com a sua efetiva utilização para a prática da educação musical e seus
temas transversais, não se resumindo apenas à facilidade de acesso, mas também, e
principalmente, pela sua potencialidade sonora. Tal levantamento possibilitará, em um outro
momento, a realização de pesquisas-ação e análise computacional, acerca dos timbres
proporcionados pelos materiais de descarte. Pesquisas a respeito de descrições sinestésicas de
timbres de instrumentos musicais foram publicadas por diversos autores, tais como Hunt
(2006) e colegas, no artigo Timbral description of musical instruments, ou em A classificação
timbrística através de seus aspectos sinestésicos, de Fornari (2013). Nesses trabalhos foram
realizadas experiências descritivas a respeito das sonoridades de instrumentos musicais
convencionais, sendo que no segundo, certas amostras sonoras foram comparadas com suas
respectivas representações gráficas por meio de análises computacionais.
Para averiguar as relações existentes entre luteria e educação musical, utilizamos
pressupostos de importantes estudiosos dos métodos pedagógicos ativos, por meio de fontes
secundárias, os quais transpõem as teorias cognitivas para a área musical. Também têm sido
analisadas pesquisas qualitativas realizadas em campo, como as apresentadas no artigo A
luteria como proposta pedagógica para o ensino da música, de Mourão e Morais (2016) e na
dissertação de mestrado Som e vida após a lata: construção de instrumentos musicais com
materiais alternativos, de Garcia (2013). Esses trabalhos trazem relatos de experiência de
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XIII Encontro de Educação Musical
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Referências
ALBACH, Dulce; RAZERA, Dalton Luiz; ALVES, Jorge Lino. Design para a
sustentabilidade e a relação histórica das embalagens com questões ambientais. MIX
Sustentável, [S.l.], v. 2, n. 1, p. 45-52, maio 2016. ISSN 24473073.
_________, José. Percepção, Cognição e Afeto Musical. Capítulo do livro da Anppom: Título
do Livro: Criação Musical e Tecnologias: Teoria e Prática Interdisciplinar. ISBN:978-85-
63046-01-7. http://www.anppom.com.br/ebooks/index.php/pmb/catalog/book/2 . 2010.
260
XIII Encontro de Educação Musical
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GARCIA, Daniele Munhoz. Som e vida após a lata: construção de instrumentos musicais
com material alternativo. UNESP, Instituto de Artes, São Paulo, 2013.
GEYER, Roland; JAMBECK, Jenna; LAW, Kara Lavender. Production, use, and fate of all
plastics ever made. Science Advances, American Association for the Advancement of
Science. Vol. 3, no. 7, e1700782, 2017.
MOURÃO, Srilis L.; MORAIS, Ronan Gil de . A luteria como proposta pedagógica para
ensinar música. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, v. 9, p. 242-262, 2016.
PIATTI, Tânia Maria. Plásticos: características, usos, produção e impactos ambientais / Tânia
Maria Piatti, Reinaldo Augusto Ferreira Rodrigues. - Maceió : EDUFAL, 2005. 51p.
SCARASSATTI, Marco Antonio Farias. Retorno ao futuro: Smetak e suas plásticas sonoras.
2001. 128 p. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes,
Campinas, SP.
Notas
1
Apesar de ser largamente empregado para definir instrumentos feitos com materiais de descarte, o termo
reciclado não é utilizado de maneira correta, pois reciclar significa refazer o ciclo, ou seja, fazer o material em
questão perder sua forma atual para se produzir um novo objeto, podendo ser reestruturado na sua forma
anterior, ou não. Para a grande maioria desses materiais utilizados na luteria artesanal pode-se utilizar o termo
reciclável.
2
O termo bricolagem se refere às atividades que você mesmo faz sem a ajuda de um profissional, podendo-se
também fazer uso do que se tem à disposição no momento, combinando os objetos entre si, mesmo com uma
aparente disparidade entre eles (AVERSA, 2011, p.1046).
3
Documentário que conta a história do professor de música Favio Chavez e a sua Orquestra de Reciclados de
Cateura, situada em um aterro próximo a Assunção no Paraguai. Seu trailer pode ser conferido no próprio site da
orquestra: <https://www.recycledorchestracateura.com/>
261
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1. Introdução
Durante o primeiro semestre de 2019, a equipe de bolsistas do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) das áreas da Música e da Matemática da
Universidade Federal de São Carlos, atuantes na EMEB Carmine Botta1, optou por trabalhar
com a temática da cultura indígena. Tal opção se deveu ao fato de que essa equipe participou
do planejamento da escola, realizado no início do ano letivo, e ouviu o relato de professores
dessa instituição que expressaram sua dificuldade em trabalhar com esse tema. O objetivo
desse projeto interdisciplinar desenvolvido foi o de possibilitar uma vivência reflexiva,
apresentando e discutindo conteúdos da temática indígena.
O projeto foi dividido em três blocos de atividades ofertadas para todos os alunos do
ensino fundamental 1 e 2 ao longo do mês de Abril: 1) Levantamento do conhecimento prévio
dos e das estudantes da escola acerca da cultura indígena, jogo de palavras indígenas e
exposição de características e informações das etnias Kalapalo, Guarani M’bya, Guarani
Kaiowá e Xavante, introduzindo ao tema; 2) Reflexão sobre as funcionalidades da música
indígena, através da relação cultura-sociedade, e a percepção do tempo sob o olhar da cultura
indígena e seu calendário próprio; 3) Conjunto de oficinas constituídas de vivências práticas
de pintura corporal, canto, contação de história, construção de brinquedos e uma roda de
conversa com convidados indígenas de diversos estados brasileiros. Para cada um destes
blocos, foram feitos planejamentos separados para melhor relacionar os conteúdos e
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da Unicamp - 2020
Seguindo a linha da educadora Ana Mae Barbosa, o desafio que se coloca ainda é
fazer o debate das questões étnico-raciais sem cair no mito da democracia racial ou no
exotismo dos povos: “A cultura indígena só é tolerada na escola sob a forma de folclore, de
curiosidade e de esoterismo; sempre como uma cultura de segunda categoria” (BARBOSA,
1998, p. 13). Ainda segundo Munduruku (2009), “Se na escola tivermos referências positivas
sobre outras culturas, certamente desenvolveremos ideias positivas dessas culturas”.
A cultura é um processo interativo de construção, compreendendo atividades (práticas
culturais) e significados (interpretações) partilhados, que possibilitam a criação de uma
identidade cultural: “(...) cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo.
Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas
das coisas” (BENEDICT, 1972 apud LARAIA, 2001, p. 67). No livro “Cantos da Floresta”,
as autoras ressaltam, por exemplo, como “Durante os séculos, os indígenas foram
invisibilizados pela sociedade brasileira, o que dificultou uma aproximação com suas culturas
e suas maneiras de ver o mundo” (PUCCI; ALMEIDA, 2019, p. 13).
É fundamental compreender a cultura como algo dinâmico, que está num processo
frequente de transformação, num conflito constante entre a tradição e a inovação. Assim
reforçam Magda e Almeida: “Enquanto ainda se acredita que os indígenas vivem nus nas
aldeias, sem conhecer os meios de comunicação atuais, muitos deles estão vivendo na cidade
e, mesmo destituídos de suas terras, mantém vivas suas práticas rituais” (PUCCI; ALMEIDA
2017, p. 22).
É importante flexibilizar as ideias para encontrar um limiar entre a tradição e a
inovação, considerar as particularidades dos sujeitos, o pluralismo de culturas, e o contexto
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
em que estão inseridos. Existem mais de 200 povos indígenas no Brasil, e cada comunidade
indígena preserva sua própria cultura, portanto, os indígenas carregam em suas práticas
cotidianas uma diversidade cultural muito grande, desde a organização social até a sua língua.
Sendo o reconhecimento dessa diversidade um grande desafio no processo educativo e na
desconstrução do imaginário hegemônico da sociedade brasileira:
[...] eu sou um indígena Munduruku e com isso quero afirmar meu pertencimento a
uma tradição específica com todo o lado positivo e o negativo que essa tradição
carrega e deixar claro que a generalização é uma forma grotesca de chamar alguém,
pois empobrece a experiência de humanidade que o grupo fez e faz. É desqualificar
o modus vivendis dos povos indígenas e isso não é justo e saudável
(MUNDURUKU2).
Pucci e Almeida (2017) também comentam sobre o quão a cultura indígena está
presente no cotidiano, nas palavras, nos lugares, na alimentação, nos hábitos, na vestimenta e
acessórios. No entanto, pouco se sabe sobre as origens desses nomes e práticas adotadas. No
processo de formação do PIBID para abordar esse assunto, foi necessário mergulhar um
pouco nesse universo, se despindo de pré-conceitos e imagens condicionadas.
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XIII Encontro de Educação Musical
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latifundiário. Foi feito um jogo de palavras indígenas e selecionadas imagens de quatro etnias
para discutir numa roda de conversa com os alunos. A partir da comparação entre as
diferenças e semelhanças dos povos indígenas dessas etnias, procurou-se estimular a
observação dos alunos sobre onde estavam presentes, nas cidades, no litoral ou no interior, se
usavam mais ou menos roupas, se tinham como hábito realizar pinturas corporais, quais eram
os tipos de rituais e artesanatos produzidos, qual era a dimensão das suas populações, além de
abordoar questões referentes às pressões ligadas à saúde e saneamento básico, à demarcação
de terras, perda de identidade e suicídio.
Neste momento, cabe a discussão sobre o papel da pesquisa no processo de ensino-
aprendizagem:
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram
um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino
porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar,
constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que
ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p.14).
Segundo Freire (1996) “não há docência sem discência”, pois o educador que educa
também se educa, e é educado na relação com o outro. Ensinar exige sair da zona de conforto
do pensamento estereotipado da sociedade brasileira e se colocar à disposição de se aproximar
da visão de mundo desses povos, discutir a realidade concreta, confrontar a experiência social
do educando com essa realidade, e para isso ou se convive com esses povos ou se estuda, se
pesquisa sobre eles, buscando principalmente suas próprias referências e representações: “A
convivência significa então: ler, ver, ouvir, manipular... em síntese, familiarizar-se com
formas variadas de representação. E se a representação está ligada aos sentidos, à memória, ao
pensamento e à imaginação, ela é um dado culturalmente situado” (TOURINHO, 1995, p.
114).
Durante o processo de planejamento, alguns bolsistas participaram da recepção de
calouros, organizada pelo Centro de Cultura Indígena – CCI, na exibição de um documentário
“Terras Indígenas”. O filme aborda o conflito de terras entre indígenas e produtores rurais,
mostrando o histórico de expulsão dos indígenas de seu território de origem depois da guerra
do Paraguai, a ocupação da região centro-oeste durante a ditadura, a delimitação de reservas
para os povos, a conquista de direitos indígenas com a constituição de 88, o marco temporal
como critério de delimitação, a atual condição das aldeias indígenas no Mato Grosso do Sul.
O debate da demarcação das terras indígenas no Brasil tem se tornado cada vez mais
importante diante de um governo que vem negando políticas públicas voltadas aos indígenas,
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XIII Encontro de Educação Musical
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propondo mudanças arbitrárias sobre órgãos que regulamentam a demarcação de terras (da
FUNAI - Fundação Nacional do Índio para o Ministério da Agricultura), e fazendo
declarações que só intensificam o conflito de terras entre fazendeiros, garimpeiros,
mineradoras, madeireiras e indígenas. Diante dessa situação, e a partir das questões trazidas
pelo documentário assistido, percebemos que se torna inviável separar o debate da cultura
indígena da demarcação de terras indígenas:
[...] é preciso reconhecer que os sobreviventes das populações originárias daqui vão
estar sempre na situação difícil de testemunhas de um processo de invasão, de
ocupação de seus territórios. E isso vai durar, ao menos enquanto nossas relações
não forem orientadas para a convivência dentro de novos parâmetros, iluminada pelo
reconhecimento e aceitação das nossas diferenças (KRENAK, 2001, p. 72).
A partir das pesquisas e dos novos aprendizados adquiridos sobre as culturas indígenas
brasileiras, pôde-se perceber as diferenças musicais destes povos com os produtos difundidos
pelos veículos de mídia e consumidos pela sociedade não-indígena. Segundo Pucci e Almeida
(2017), os atos de ouvir e fazer música assumem uma importância afastada do simples
entretenimento e prazer, pois outros propósitos para a música caracterizam seu papel dentro
da cultura indígena: rituais de passagem para a fase adulta do homem, cerimônias de colheita,
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Figura 1: Apresentação das etnias trabalhadas em grupos separados; Fixação das imagens utilizadas no corredor
da escola; Ensino de uma canção indígena; Jogo de palavras indígenas e seus significados; Roda de conversa
com indígenas alunos da UFSCar dentro da escola; Oficina de brinquedo indígena; Oficina de pintura corporal.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Referências
KRENAK, Aílton. Uma visita inesperada. In: GRUPIONI, Luís D. B.; VIDAL, Lux B.; &
FISCHMANN, Roseli. Povos indígenas e tolerância: construindo práticas de respeito e
solidariedade. São Paulo: Editora USP, 2001.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editora, 2001.
___________. Usando a palavra certa pra doutor não reclamar. Série Mundurukando três.
Blog Daniel Munduruku. Disponível em: <http://danielmunduruku.blogspot.com/p/cronicas-
e-opinioes.html> Acesso em: 03/11/2019.
PUCCI, Magda & ALMEIDA, Berenice. Cantos da Floresta. São Paulo: Petrópolis, 2017.
TOURINHO, Irene. Temas sobre arte e educação. Educação e Filosofia v. 09, n.18, p. 105-
122, 1995.
Notas
1
A EMEB Carmine Botta se localiza no bairro Jardim Beatriz, na cidade de São Carlos-SP. Trata-se de uma
escola municipal que atende estudantes tanto dos anos iniciais quanto dos anos finais do Ensino Fundamental
durante os períodos da manhã e tarde, e ainda oferta a modalidade de EJA no período noturno.
2
Texto extraído do blog do indígena Daniel Munduruku. O título da publicação é Usando a palavra certa pra
doutor não reclamar. Não há indicação de data. Disponível em:
http://danielmunduruku.blogspot.com/p/cronicas-e-opinioes.html. Acesso em: 03 nov. 2019.
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Resumo: Este trabalho é um relato de meu projeto de estágio que foi realizado sob a orientação de
Adriana Mendes do Instituto de Artes, e sob supervisão de Mestre Topete, da Escola de capoeira
Angola Resistência. O trabalho foi realizado em espaço aberto da Unicamp, tendo como tema a
musicalidade da Capoeira. Dentro de um território histórico e social conflituoso em que está a
Capoeira, busquei apresentar no meu trabalho algumas reflexões sobre ser um educador na Capoeira, e
sobre como administrei o meu estágio no ano de 2019.
1. Histórico da Capoeira
Uma arte que não é música e não é dança, nem cultura nem luta marcial, não é
filosofia e não é esporte, como poeticamente indefine o grande Mestre:
Capoeira angola, mandinga de escravo em ânsia da liberdade. Seu princípio não tem
método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista. Capoeira é amorosa,
não é perversa. Ela é um hábito cortês que criamos dentro de nós, uma coisa
vagabunda (MESTRE PASTINHA).
A Capoeira é uma arte milenar, que veio com os negros da África, e foi reinventada no
Brasil com a incorporação de elementos indígenas e portugueses. A Capoeira não se encerra
em uma única definição, ela está em plena expansão e aperfeiçoamento, ela está em diferentes
discursos em diversas realidades e usada de infinitas maneiras e finalidades.
A Capoeira é tecnologia negra de luta contra os maus tratos e a exploração dos
brancos sobre os negros no período da escravidão, ela resguardou a população negra desde
séculos até os dias de hoje. Após a abolição da escravatura, houve uma forte perseguição às
práticas e à cultura de matriz africana, o que na verdade sempre foi o projeto de genocídio
negro, vigente de diversas formas até hoje. Neste momento, a Capoeira era um mecanismo de
autodefesa dos negros, como sempre foi, porém num contexto diferente. As cidades onde se
iniciaram os principais movimentos de capoeira, segundo Nestor Capoeira, foram: Salvador,
Santos, Rio de Janeiro e Recife eram cidades portuárias, e a Capoeira andava com os
estivadores, as prostitutas, os marginais da sociedade, uma vez que, após a abolição, o negro
nunca teve um lugar para si na sociedade. As comunidades eram organizadas em maltas em
um sistema de proteção em bando tanto por parte da perseguição política, executada pela
polícia, quanto com relação à inimizade entre outras maltas.
271
XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Após sua descriminalização, em 1940, a Capoeira cresceu muito e está em quase todos
os países do mundo.
Após da criação da Lei: 10639/03, que torna obrigatório o ensino de história e culturas
de matrizes africanas nas escolas, a Capoeira também passou a ocupar as escolas, e abranger
mais um campo, o da educação, sistematizando alguns de seus métodos e também buscando
recursos da pedagogia para tanto
3. Didática da Capoeira
A Capoeira não é somente um jogo, ou uma disciplina dentro da escola da vida, ela é
todo um código, toda uma forma de olhar e agir no mundo, ela é um refúgio, ela é um espaço
não-físico onde as regras se invertem, onde os status sociais não tem importância, onde tudo o
que é repressor não tem força. A capoeira é o espaço do encontro onde cada detalhe significa,
onde cada olhar fala mais do que palavras, onde o bom entendedor entende até meia palavra.
Para jogar a Capoeira é preciso cautela, é preciso saber se orientar em cada novo lugar que
chegar, é preciso saber ler os espaços, as relações, e saber se adaptar com respeito às regras da
casa onde se chega sem ao menos perguntar.
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
Na história da Capoeira antiga não existia aula de capoeira, nem academias onde se
ensinava, não havia ensino. O aprendizado era ativo por meio da “Oitiva”. Como descreve
Abre, (2003), a palavra “oitiva”, significa olho ativo, e era através desse olho ativo que as
pessoas aprendiam umas com as outras, sem ninguém ter que explicar nada. Nessa dinâmica,
o mestre “deixava escapar” o aprendizado, quase que em códigos e charadas, e o aprendiz
deveria sempre ser ativo em seu processo de ensino-aprendizagem, e estar sempre de
prontidão para o momento em que o Mestre deixasse escapar mais alguma informação
valiosa, mais um golpe mais difícil etc. O Mestre estava sempre observando o aluno e
dosando sua aprendizagem conforme a sua maturidade e evolução.
Com a expansão da educação, das pedagogias, com a ampla divulgação da capoeira,
sua entrada nas escolas, um novo público aderiu à Capoeira, e, com ele, novas demandas,
outras necessidades foram complementando a didática tradicional na Capoeira.
Devido ao seu histórico pedagógico, com relação à oitiva, criou-se uma mística com
relação à capacidade do aluno de fazer música, pois como não havia um ensino, foi atribuído
ao dom divino a capacidade de um tocar e cantar e outro não. O que, na verdade, é altamente
prejudicial, pois uma pessoa que não sabe, pode aprender, superar seus bloqueios e se tornar
um músico ou uma musicista, sem dúvida. É um pouco cruel esperar que uma criança ou
alguém que não tenha nenhuma referência musical cante lindamente e afinada, desinibida,
sem nunca ter aprendido nada sobre música.
A Pesquisadora, interessada pelo potencial que tem esse encontro entre conhecimento
formal de música e teoria musical, junto com pedagogias novas de educação musical, realizou
seu estágio voltando o olhar para esse terreno fértil, e encontrou ótimos resultados em
pequenas práticas de condução de afinação, exercícios de rítmica e solfejo buscando afinação
entre as vozes e os berimbaus.
4. Apresentação do Estágio
Este estágio foi realizado no Ciclo Básico II da Unicamp, às segundas-feiras, em
eventos da Escola de Capoeira Angola Resistência, sob a orientação de Adriana Mendes e
supervisão de Mestre Topete da Escola de Capoeira Angola Resistência. Durante o segundo
semestre de 2020 foram realizadas oficinas abertas de Capoeira com enfoque na musicalidade.
O público alvo não foi definido nem em idade ou grau de formação (na capoeira).
Além de algumas referências importantes como o Livro: “o Beabá do Berimbau” de
Márcio Folha, que apresenta uma história em quadrinhos ilustrada de um menino e um velho
que o ensina e tem os saberes místicos e físicos da Capoeira. Em seus diálogos o mestre
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XIII Encontro de Educação Musical
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ensina o aluno sobre muitos fundamentos da Capoeira. Ao final, é feita uma análise do livro e
apresentadas propostas pedagógicas para o ensino das disciplinas tradicionais do ensino
formal com o uso do livro. Também foi utilizada como referência o livro: “A Cartilha do
Samba Chula” de Katharina Doring, que conta a história de muitos sambadores do recôncavo;
apresenta algumas partituras dos instrumentos usados nas rodas; junto da história de seu
compositor, apresentam as cantigas cantadas por ele, que podem ser escutadas no Cd que vem
anexo. Essas, entre muitas outras referências sobre o histórico da Capoeira, e outras leituras
pesquisadas pela estagiária durante seus 8 anos de pesquisa na Capoeira, tanto em livros,
como através da presença e do ensinamento do Mestre Topete na Escola de Capoeira Angola
Resistência.
Os conteúdos e o programa das aulas foram criados a partir da instrumentação
tradicional da roda de Capoeira e seus ritmos tradicionais. O Berimbau Gunga, Médio e Viola,
2 pandeiros, agogô, reco-reco e atabaque eram revezados, permitindo que, em um único
toque, pudesse ser experimentada uma diversidade de claves e motivos rítmicos. O Toque de
Cavalaria, Iúna, São Bento Grande e São Bento Pequeno, Angola, Samba de Roda e Congo de
Ouro foram os ritmos utilizados nas oficinas de música.
O fato de o público alvo não ter sido pré-definido, formou uma turma de idade
heterogênea que gerou um desafio para a estagiária de entreter crianças, jovens e adultos num
mesmo espaço. Enquanto uma atividade despertava a atenção das crianças, os adultos se
distraíam e vice-versa. Sendo assim, a estagiária foi buscando soluções para essa dinâmica
não convencional no ensino formal, mas muito comum na Capoeira. A estagiária optou por
dividir a aula em alguns momentos e juntar em outros, propondo intervalos para as crianças
enquanto passava movimentos avançados para os mais velhos, e retomando com as crianças
em duplas mais tarde. Na hora das atividades musiciais todos estavam mais ou menos na
mesma faixa de aprendizagem, então a idade não era algo que destoava no processo de ensino
aprendizagem, e os mais velhos se sentiam motivados a ajudar as crianças. Este fato começou
como uma dificuldade e um desafio, mas depois tornou-se uma dinâmica gostosa que unia o
grupo que despertava o interesse nos adultos pelas crianças.
5. Exercícios trabalhados
5.1 Afinação: a desafinação soa como algo estranho ao nossos ouvidos, sendo assim, a
estragiária procurou trabalhar a afinação por meio da dinâmica pergunta e resposta, comum
no canto da Capoeira onde há um puxador (pergunta) e o coro (resposta). Quando muda o
puxador, a tonalidade toda muda e, portanto, há que se ter uma boa escuta para perceber, e um
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XIII Encontro de Educação Musical
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bom repertório para se adaptar e modular as melodias já conhecidas para esse novo tom na
resposta do coro, especialmente quando o puxador muda de um homem para uma mulher ou
criança. Nesse momento, a estragiária propunha pausas, pedia para os alunos solfejarem a
nota fundamental do tom cantado em uníssono para percebermos a sensação de afinação.
Percebi que as pausas alternadas com o deixar fluir criavam uma dinâmica leve, para que
aquilo que não se compreende, mas se sente, possa aflorar por outros meios que não somente
o racional, mas tampouco o instintivo somente, trazendo à luz a atenção que se deve dar nas
modulações naturais, e a escuta atenta que deve se ter para com o canto, onde tudo é
improvisado e novo, e não há nunca um repertório combinado como é a prática da música em
bandas e orquestras.
5.2 Improviso: O papel do puxador é manter a estrutura da música e narrar os fatos
ocorridos na roda ou complementar com informações históricas e saberes o que acontece no
agora. É puro improviso, é um estudo de rítmica e métrica, é um estudo de linguagem e
expressividade. Além de improvisar, o puxador também tem que ser um tipo de DJ da roda, e
cantar diversas músicas que se encaixem no contexto conforme seu senso. Ao colocar um
aluno como puxador, é muito comum que o nervosismo e a falta de repertório o tome de
sopetão e o emudeça, porém nas situações da vida e no jogo da Capoeira, há que se saber
improvisar e lidar com as fortes emoções que nos invadem ao cantar em público, ao expor
suas ideias e seus sentimentos. Portanto esse exercício de colocar os alunos como puxadores
do canto também funcionou na medida em que houve progressos significativos no quesito
improviso.
5.3 Ritmo e Corpo: A Corporeidade da Capoeira é toda baseada no ritmo, o capoeirista
se movimenta conforme a música, há que se ter atenção ao que está sendo cantado, ao mesmo
tempo em que em seu oponente no jogo dá rasteiras. O ritmo é um aspecto da música que
mais se desenvolve corporalmente, entre outros (melodia e harmonia), portanto o treino da
capoeira em si funcionou como exercício de ritmo desenvolvendo uma escuta atenta e uma
pulsação interna que alicerçaram o aprendizado do ritmo da Capoeira.
5.4 Toques e instrumentos: A partir de matrizes dos ritmos da Capoeira, foram
introduzidas pequenas células rítmicas tocadas pelos instrumentos que fazem parte da bateria
tradicional de Angola na linhagem da escola pesquisada: agogô, reco-reco, atabaque, pandeiro
e berimbau Gunga Médio e viola (diferentes afinações e funções). Por meio de solfejos
rítmicos os alunos facilmente pegavam as entradas e o toque. Um dos alunos, Mateus, 8 anos,
se desenvolveu muito rapidamente e com facilidade foi do pandeiro para o berimbau em
nossas oficinas.
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Referências
ABIB, P. R. J. Capoeira Angola: cultura popular e o jogo dos saberes na roda. Resgate:
Revista Interdisciplinar de Cultura, v. 12, n. 1, p. 171-176, 11.
FOLHA, Marcio. Histórias de Tio Alípio e Kauê: O Beabá do Berimbau. Editora Ciclo
Contínuo, 2018. São Paulo – SP.
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Foto 4: João, Leo, Clara, Rafaela, Edjer e Mateus na roda de comemoração a uma das integrantes do grupo.
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Resumo: O presente trabalho relata a experiência de uma oficina teórico-prática sobre Maracatu de
Baque Virado, ministrada em Santiago do Chile no ano de 2019. Utilizando aspectos da tradição oral
como base da metodologia de ensino e aprendizagem, sobretudo com enfoque na utilização do corpo e
voz como recurso para compreensão das matrizes rítmicas do maracatu, o texto retrata os meios pelos
quais o "oficineiro" organizou o conteúdo desenvolvido durante a oficina, até culminar na prática
musical em grupo.
Corroborando Oliveira Pinto (1999), para José Alexandre Carvalho (2010) a bagagem
cultural intrínseca nesse povo recém-chegado é fator culminante para o desenvolvimento e
formação de uma nova cultura, que a princípio se fortalece a partir das ocultas práticas que
aconteciam nos quilombos, e que passam a se evidenciar somente após o término da
escravidão, no final do século XIX.
Apesar de que o contato com o negro recém-chegado da África já tenha em fins do
século XIX praticamente acabado, e levando-se em conta que a gênese da totalidade
dos importantes gêneros da música popular ter ocorrido após o fim da escravidão,
mesmo em países de abolição tardia como o Brasil, acredito que muitas
características e gestos musicais africanos tenham permanecido quase intactos na
nova música popular que surgiu (CARVALHO, 2010, p. 787).
279
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A relação do corpo com a música remete-se porém à própria gênese desta, sendo
anterior a treinamentos, códigos e sistemas. Podemos imaginar a manifestação
musical no âmbito das primeiras performances e rituais humanos, envolvendo sons e
movimentos, tendo o corpo como o principal condutor da ação e do processo de
criação (STOROLLI, 2011, p. 132).
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a dia. O instituto onde ministrei a oficina, por mais equipado que fosse, não dispunha do
instrumental percussivo tradicionalmente utilizado na prática do Maracatu, no entanto, é
importante termos a consciência de que podemos improvisar e utilizar da melhor forma o
material que nos é fornecido. Ainda sobre o instrumental, o instituto disponibilizou uma
bateria (bumbo, caixa, tom, surdo) que utilizei adaptando os tambores de acordo com o
timbre, ainda assim, tive a felicidade de contar com a participação especial de um músico
brasileiro, Jhoamy Lins, pernambucano radicado em Santiago do Chile, que gentilmente levou
alguns instrumentos (alfaia, abê e gonguê) e participou efetivamente da oficina.
Figura 2: Registro fotográfico da oficina de Maracatu de Baque Virado realizada no dia 24 de setembro de 2019
no Projazz Instituto Profesional em Santiago do Chile. https://www.youtube.com/watch?v=aFX3dbVMa0U.
Acesso em 27 de novembro de 2019.
Considerações finais
A experiência vivenciada nesta oficina em Santiago do Chile culminou numa série de
reflexões acerca da prática docente, sobretudo a relevância da cultura regional brasileira para
com a educação musical. Olhares atentos, o respeito para com a música e a cultura brasileira,
foram alguns aspectos que me chamaram a atenção e, evidentemente abriram a janela para o
universo de possibilidades que dispomos para a prática docente em seus diversos níveis.
Referências
SANTOS, Climério de O.; RESENDE, Tarcísio S. Maracatu Batuque Book. Recife: Edição
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do autor, 2005.
OLIVEIRA PINTO, Tiago de. As cores do som: estruturas sonoras e concepção estética na
musica afro-brasileira. Africa: Revista do centro de estudos africanos. USP, São Paulo, 22-23,
p. 87-109, 1999/2000/2001.
1
SANTOS, Climério de O.; RESENDE, Tarcísio S. Maracatu Batuque Book. Recife: Edição do autor, 2005, p.
27.
2
"mineiro Idiof. sac., s. M., pl. = 'mineiros’ – Ver “guaiá” (Brasil)". (FRUNGILLO, 2002, p. 212). "Guaiá Idiof.
sac., s. m., = 'guaiás – Tipo de “ganzá" feito com dois cones de metal unidos por um tubo que serve como
empunhadeira. É conhecido como "angóia", "ingóia" ou “mineiro”. (FRUNGILLO, 2002, p. 144).
3
Gongué ou gonguê é corruptela de ngonge, palavra de procedência banto. Designa o instrumento que consta de
duas chapas de ferro fundido com aço e ligadas entre si. De um dos lados sai um cabo do mesmo material, por
onde o musico o segura para executar. (GUERRA-PEIXE, 1956 p. 58).
4
A bateria de Cleber Almeida: adaptação de gêneros musicais nordestinos para o contexto da música do Trio
Curupira. Disponível em http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/335897
5
Músico (baterista, percussionista e compositor), educador e pesquisador.
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Resumo: Este trabalho busca relatar a observação realizada, durante dois anos, em grupos de ensino
de flauta doce através do Método Suzuki. A metodologia utilizada foi a de observação participante e
pode-se notar que muitos dos aspectos ressaltados pela Filosofia Suzuki – em que o Método se baseia-,
estiveram presentes em tais aulas e no comportamento dos alunos, por exemplo, na técnica do
instrumento e na formação global do ser.
1. Introdução
Este trabalho tem como objetivo relatar uma experiência como aluna de um curso de
Licenciatura em Música, em uma escola de música que tem como premissa a utilização da
Metodologia Suzuki e sua filosofia para o ensino de flauta doce. Minha participação se deu
como estagiária de quatro turmas de aulas coletivas de flauta doce, podendo observar e ao
mesmo tempo participar de atividades. Desse modo, a metodologia utilizada foi a observação
participante.
O Método Suzuki, tal como é chamado, foi criado por Shinichi Suzuki na metade do
Século XX, após a Segunda Guerra Mundial, sendo que ele próprio construiu o método para
violino e a filosofia na qual a metodologia se baseia. Na verdade, sua filosofia tem por base o
trabalho prático que ele desenvolveu no Japão logo após a Segunda Guerra Mundial. O único
livro de sua autoria, traduzido no Brasil é “Educação é amor: o método clássico da educação
do talento” que tem sido o norteador para toda a construção de sua metodologia em nosso
país. Nesse livro, ele relata suas observações feitas sobre o processo de aprendizagem de
crianças e bebês, já que percebeu que eles aprendem com facilidade sua língua materna – “as
crianças japonesas sabem falar o japonês” (SUZUKI, 1994, p. 9) - constatando que isso
ocorria por meio da interação com os membros da família (SUZUKI, 1994). Com isso, Suzuki
chegou à conclusão de que a maioria das pessoas é capaz de adquirir habilidades através de
repetição, do ambiente musical, do estímulo e do encorajamento familiar, sendo esses os
princípios da Filosofia Suzuki, além do tripé aluno, professor e pais (ASSOCIAÇÃO
MUSICAL SUZUKI, 2019).
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A Filosofia criada por Suzuki, que acredita na participação dos pais para a formação
global do aluno como ponto essencial, é a base para a construção da metodologia. Através dos
laços familiares é possível realizar um ensino significativo do aluno, diz Suzuki. Em conjunto
com o professor, é possível construir o tripé essencial para o ensino: pais, alunos e professor,
sendo esse responsável por realizar um ensino humanizado que visa não somente construir
conhecimentos intelectuais, mas de construção de caráter (MONTANARI, 2019). Os pais,
nesse sentido, devem incentivar o estudo do aluno em casa, reforçar o que foi dito pelo
professor, proporcionar um ambiente estimulante que propicie a aprendizagem do aluno.
Sendo assim, a filosofia que é base para o ensino através do Método Suzuki o torna diferente
de demais Métodos de ensino de flauta doce, como o Monkemeyer, por exemplo, por se
preocupar com a forma pela qual os alunos irão aprender a técnica de seu instrumento, mas
também na formação do caráter desse aluno.
Para a flauta doce, o método foi adaptado por Katherine White, que estudou a filosofia
de Suzuki e foi até o Japão para que o próprio idealizador do método pudesse supervisionar
sua construção. White é formada em Educação Musical pela Quincy College, situada em
Massachusetts, EUA, e é professora certificada pelo Instituto da Educação do Talento no
Japão, além de ser Teacher Trainer reconhecida pela Associação Internacional Suzuki. Além
dela, existem mais quatro Teacher Trainers de flauta doce reconhecidos pela Associação,
sendo elas Mary Waldo (EUA), Kathleen Schoen (Canadá), Nancy Daly (Inglaterra) e Renata
Pereira (Brasil) (QUINTA ESSENTIA, 2015). Recentemente foi capacitado mais um Teacher
Trainer na Holanda, Jaap Delver.
Além da participação dos pais na aprendizagem do aluno – tanto em aula como ao
incentivar a prática regular em casa -, outro ponto que sustenta a Metodologia Suzuki são as
aulas em grupo. Por conta de todos os estudantes de um instrumento passarem pelas mesmas
etapas de ensino, utilizando a sequência de músicas ordenadas no Método, todos os alunos
sabem tocar o mesmo repertório. Utilizando a flauta doce como exemplo, todos os alunos
aprenderam a tocar “One Bird”, sendo essa a primeira música ensinada no livro 1 do
instrumento; consequentemente, um estudante do livro 3 saberá tocar “One Bird” e poderá
realizar aulas em grupos com o estudante que iniciou seu estudo no instrumento recentemente.
O professor é que deve se preocupar com a organização dos grupos, de modo a conduzi-los
sempre com motivação e com possibilidades de tocar um repertório estimulante.
Para o Método Suzuki, as aulas em grupo são oportunidades para que os alunos mais
avançados revisem peças antigas de seu repertório (sendo esse outro ponto importante para
formação musical), além de relembrar como as músicas, que agora são simples, já foram
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XIII Encontro de Educação Musical
da Unicamp - 2020
difíceis e ajudar seus colegas iniciantes, o que corrobora para a colaboração entre os alunos.
Nesses momentos coletivos, também é possível realizar momentos nos quais cada aluno possa
realizar pequenas apresentações para seus colegas e responsáveis, criando situações de
exposição segura para os alunos. Conforme aborda Tourinho (2006), que resgata Tourinho e
Barreto (2003), as aulas em grupos também colaboram para o aprendizado do aluno iniciante
que, nessa situação, tem como referência seus colegas mais avançados, além de ser um bom
ambiente onde o professor pode trabalhar competências coletivas (TOURINHO, 2006;
BARRETO; TOURINHO, 2003).
2. Metodologia
O relato de experiência no presente trabalho se baseia na observação participante de
uma aluna de Licenciatura em Música da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). As
observações ocorreram no decorrer de dois anos (2018 e 2019), sendo acompanhadas quatro
turmas de aulas coletivas de flauta doce.
A princípio, as aulas de flauta ocorreram como uma atividade de extensão vinculada
ao Laboratório de Musicalização da universidade, porém, após seis meses de aulas nesse
espaço, os grupos migraram para uma escola particular na cidade de São Carlos.
Desde o início das aulas, a metodologia utilizada era a Suzuki, sendo que a professora
responsável é uma professora capacitada pela Associação Suzuki das Américas (SAA). As
aulas tinham duração de uma hora, sendo realizadas uma vez na semana. As quatro turmas
observadas tinham diferentes faixas etárias: a turma 1 era composta por alunos de dez a treze
anos; a turma 2 era formada pela faixa etária entre oito e onze anos; a turma 3 era formada por
crianças de cinco a oito anos; a turma 4 era composta apenas de adultos. Ao todo, as turmas
reuniam 21 alunos. Dessas quatro turmas, somente uma iniciou o livro no ano em que passei a
realizar as observações no projeto, sendo assim, pude acompanhar diversos momentos e
dificuldades dos alunos no processo de aprendizagem.
Considerando que o projeto teve início como uma atividade de extensão, não foi
possível realizar aulas individuais e em grupo com os alunos como prevê a Metodologia
Suzuki, porém, após a migração dos grupos para uma escola particular, começou-se a realizar
aulas individuais com os estudantes. Alguns poucos estudantes não puderam se organizar para
aulas individuais ainda, portanto, esses alunos participaram só das aulas em grupo.
Além dos grupos de flauta doce, foi possível acompanhar algumas aulas individuais de
alunos que participam dos grupos de flauta doce. Durante as observações das aulas, não
realizei a atividade somente de observação, mas também participei das aulas ativamente,
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Para essa pesquisa foram utilizados registros em vídeos e muitas fotos, que serviram
como recurso de memória e muitas reflexões com a professora coordenadora do projeto, na
tentativa de compreensão e aprofundamento das questões vivenciadas em aula.
Finalmente as autoras apontam que,
após a coleta dos dados, passa-se à terceira fase, na qual é preciso sistematizar e
organizar os dados, o que corresponde a uma etapa difícil e delicada. A análise dos
dados deve informar ao pesquisador a situação real do grupo e sobre a percepção
que este possui de seu estado (QUEIROZ et al 2007, p. 279).
3. Resultados
Após dois anos de observação das aulas em grupos e individual, foi possível notar o
desenvolvimento musical e pessoal dos alunos participantes dos grupos de flauta doce. Em
relação aos conhecimentos musicais, foi observada a construção do conhecimento técnico
sobre a flauta doce, como o dedilhado das notas, uma boa sonoridade, diferentes articulações
e elementos de interpretação e ornamentação, tão fundamentais na flauta doce.
Uma dificuldade encontrada em muitos alunos de flauta doce é a sonoridade das notas
graves, porém, foi possível observar que nos alunos que iniciam seus estudos do instrumento
a partir da Metodologia Suzuki não se verificou essa dificuldade. Acredita-se que essa
dificuldade não seja encontrada nos alunos Suzuki em função de que as primeiras notas
aprendidas na flauta doce são as notas Ré, Mi e Fá#, ou seja, as notas graves. Percebeu-se
uma facilidade na sonoridade dos alunos tanto nas notas graves – que precisam de mais ar-
quanto nas notas agudas – que precisam de menos ar do que as graves. Com isso, acredita-se
que o início da aprendizagem do instrumento a partir das notas graves resolve alguns
problemas futuros referentes à sonoridade.
Outro ponto observado é a articulação dos alunos, sendo que a primeira articulação
aprendida é a consonante “t” com staccato, que reforça a maneira na qual deve-se tocar a
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flauta doce. Com isso, percebe-se que a maioria dos alunos desenvolve uma facilidade no
aprendizado de outras articulações, como as consoantes “d” e “r”. Além disso, as ligaduras e
trinados são realizados pelos alunos com segurança e familiaridade. No livro 2 os alunos já
aprendem a articulação dupla (“tk” e “dg”).
Conforme dito anteriormente, no Método Suzuki há um repertório a ser seguido, sendo
possível perceber que enquanto os alunos esperam para começar as aulas em grupos, eles
tocam as músicas recentemente aprendidas nas aulas individuais e, muitas vezes, na semana
seguinte, o aluno que observou a “apresentação” do colega chega na aula sabendo tocar a peça
completa ou mesmo pedaços da peça, pedindo ajuda para descobrir novas notas que ainda não
aprendeu. Nesses momentos, pode-se verificar que os alunos mais avançados se organizavam
como “tutores” desses alunos com dúvidas, e sempre tocavam as músicas em comum e novas.
Isso constata a colaboração dos alunos entre si, como Suzuki já havia ressaltado a importância
no processo de aprendizagem dos alunos e na formação global do cidadão.
Uma das críticas a essa metodologia é a abordagem de um repertório erudito europeu,
mas é preciso dizer que os professores brasileiros, assim como professores de outros países,
têm tido o cuidado de introduzir um repertório nacional, regional e local, correspondente à
técnica que o aluno domina. Dessa forma, músicas do folclore brasileiro e de compositores
como Vilani Cortes, Eduardo Gramani, Villa Lobos, Pixinguinha e outros compositores
costumam ser trazidos para o repertório Suzuki de flauta doce.
4. Discussão final
Neste trabalho buscou-se realizar um relato de experiência, através da observação
participante, sobre aulas de flauta doce que ocorrem em um projeto de aulas em grupo
utilizando da Metodologia Suzuki.
Pode-se verificar que muitos aspectos considerados como fundamentais pela Filosofia
Suzuki, tanto nas aulas individuais – que trabalham dificuldades e aprendizagens individuais
dos alunos –, quanto as aulas em grupos – dedicadas aos aspectos sociais e colaborativos –,
mostram-se efetivos na progressão do aprendizado musical e da relação interpessoal, em que
se destacam momentos de colaboração e diálogo.
Nas observações, constatou-se que a Metodologia Suzuki obtém grande sucesso na
aprendizagem de instrumentos musicais, no caso específico, a flauta doce. Durante os dois
anos de observação, foi possível perceber o amadurecimento de técnicas musicais com
articulação, fraseado, sonoridade, dentre vários outros aspetos.
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Referências
ASSOCIAÇÃO SUZUKI. Disponível em: <http://www.associacaomusicalsuzuki.com.br/
metodologia-suzuki/>. Acesso em: 28 de nov. de 2019. Metodologia Suzuki. Texto veiculado
pelo sitio eletrônico da Associação Suzuki, s/d.
FINO, Carlos Manuel Nogueira. FAQs, etnografia e observação participante. SEE – Revista
Europeia de Etnografia da Educação. n. 3, 2003. Disponível em: <https://digituma.uma.pt/
handle/10400.13/806>. Acesso em: 28 de nov. 2019.
QUEIROZ, Danielle Teixeira; VALL, Janaina; ALVES E SOUZA, Ângela Maria, VIEIRA,
Neiva Francenely Cunha. Observação participante na pesquisa qualitativa: conceitos e
aplicações na área da saúde. Revista Enfermagem UERJ. Rio de Janeiro, v. 15, n. 2. p. 276-
283. Disponível em: <http://www.facenf.uerj.br/v15n2/v15n2a19.pdf>. Acesso em: 27 nov.
2019.
SUZUKI, Shinichi. Educação é amor: um novo método de educação. 2. Santa Maria: Editora
Pallotti, 1994. 101 p.
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da Unicamp - 2020
Introducción
“Recursos Tecnológicos para estímulo a la creatividad musical” es un proyecto de
iniciación científica para alumnos de educación media, dentro del contexto del “Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação Científica - Ensino Médio” (PIBIC-EM) de la Universidad
Estadual de Campinas (UNICAMP). Tiene como propósito investigar juegos y aplicaciones
en internet que puedan ser utilizados para educación musical, detectando si estos juegos
pueden estimular la creatividad de los usuarios, para finalmente organizar un archivo digital
con juegos y aplicaciones que puedan ser útiles para profesores de música. En él, participaron
tres alumnos, dos mujeres y un hombre, de dos escuelas públicas diferentes de la ciudad de
Campinas: “Escola Estadual Professor Francisco Alvares” e “Escola Estadual Carlos Gomes”,
y tres monitores/profesores que guían el proyecto bajo la coordinación de la profesora
Adriana Mendes. Fue realizada, a través de internet, una investigación de sitios web,
aplicaciones y software disponibles para música y educación musical.
Además de investigar juegos y aplicaciones en internet para crear el archivo digital,
durante el proyecto ha sido necesario realizar algunas clases de conceptos musicales, teoría y
lectura musical ya que los alumnos nunca han tenido clases de música en sus respectivas
escuelas. Todas las actividades han sido realizadas en el Laboratorio de Licenciatura en
Música del Instituto de Artes de la UNICAMP, en encuentros de tres horas dos veces por
semana, con utilización de tres computadores proporcionados por el programa PIBIC-EM.
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partir de análisis de composiciones musicales de niños entre 3 y 15 años, para dividir niveles
de desarrollo musical basados en la teoría de desarrollo cognitivo de Piaget. El modelo
C(L)A(S)P — Composición, Literatura musical, Apreciación, Técnica (skill acquisition) y
Performance — nos presenta la importancia de un aprendizaje musical basado en la vivencia
de todos los parámetros de la música, sin centrarse únicamente en el aprendizaje de conceptos
musicales abstractos, ampliando el aspecto creativo en la educación musical y dejando de lado
la idea de que el profesor actúe como un transmisor de información. Permitiendo, con esto, al
alumno relacionarse con la música de una forma más completa e inmersiva.
Seguidamente serán expuestas tres software o aplicaciones educativas musicales y
cómo estas pueden relacionarse con la creatividad musical, para introducirla en la educación
musical de una forma lúdica y espontánea. Estas actividades siempre son pensadas como un
complemento a la educación musical en sala de clases.
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XIII Encontro de Educação Musical
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Fig. 1. Secuencia melódica en colores y rítmica en figuras geométricas en el secuenciador Song Maker de
Chrome Music Lab.
Los comentarios de los alumnos sobre este recurso fueron positivos, destacando la
importancia de escoger diversos timbres, y la modificación del tempo, ya que esto podría
permitirles utilizar la secuencia creada en diferentes contextos musicales. Para los alumnos,
este recurso fue el más completo y estimulante para creación musical por su simplicidad y
utilización de colores y figuras. Esto último ayuda a la estimulación creativa ya que posibilita
la asociación de características y elementos musicales desde nuevas perspectivas.
Los comentarios de los alumnos sobre este secuenciador fueron positivos también,
destacando que permite libertad para crear secuencias melódicas y que la visualización simple
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del secuenciador permite tener una idea más literal de lo que se está creando. Music Blox
posibilita que el alumno modifique altura y duración de los sonidos y los visualice de forma
inmediata, realizando una libre creación de secuencias melódicas. Además de esto, permite la
inserción y visualización de sonidos simultáneos entregando una aproximación a los
conceptos de armonía. A través del estímulo visual, amplía la comprensión de los alumnos
con respecto a los parâmetros de altura y duración.
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XIII Encontro de Educação Musical
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exclusivamente las notas de la escala pentatónica de Do Mayor, que fue presentada a los
alumnos en una clase teórica anterior.
Fig. 3. Creación del gráfico interactivo en Pure Data. A la izquierda se muestra la programación. A la derecha se
muestra el gráfico interactivo.
Como los alumnos no han tenido clases de música en sus escuelas durante toda su
trayectoria estudiantil, esta actividad pudo permitir una aproximación de los conceptos de
melodía y armonía, de una forma lúdica y creativa, colectiva e individualmente, diferente de
las clases teóricas proporcionadas dentro del proyecto. Como ejemplo, en la figura 4 se puede
observar el resultado de la actividad de uno de los alumnos.
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XIII Encontro de Educação Musical
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escala pentatónica, la preocupación por hacer algo que “suene bien” no es tan grande, y que es
interesante para tener una noción inicial sobre lo que es armonía y melodía. En general
reaccionaron con sorpresa por el hecho de sentir la escritura de partituras más simplificada a
partir de la actividad realizada. Expresaron, también, que la actividad visualmente parecía un
poco complicada por tener la programación del gráfico interactivo en la misma pantalla, lo
que hacia la actividad un poco confusa sin guia de la profesora.
3. Consideraciones finales
El presente trabajo presenta una propuesta de enseñanza inicial de música,
específicamente de los conceptos de melodía, armonía y lectura de partitura, con un enfoque
creativo, lúdico y desde la práctica. Las posibilidades de construcción de aplicaciones y las
posibilidades de utilidades que permiten los software PD y Musescore son múltiples, lo que
produce efectividad en la utilización de ellos.
La experiencia de crear musicalmente en un ambiente lúdico puede ser relevante para
los alumnos, y puede traer muchos beneficios para el aprendizaje musical. Posibilitar la
libertad de escoger sonidos para crear una melodía en un secuenciador, permite un interés y
una aproximación mayor a los contenidos musicales, además de esto, la utilización de colores
y figuras geométricas permite una asociación más profunda de los conceptos musicales.
Empíricamente fue posible observar un entendimiento más rápido de los símbolos
musicales en la partitura, o, equivalentemente, una asociación más rápida entre sonidos y
símbolos. Además hubo una diferencia notoria en la motivación de los alumnos al trabajar
estos conceptos a través de recursos tecnológicos.
Con esto, un trabajo futuro importante sería realizar esta actividad más veces
utilizando una herramienta de evaluación para determinar cuantitativamente las mejoras que
producen el uso de estas herramientas en la comprensión de los elementos musicales y en la
creatividad.
Referências
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KRÜGER, Susana Ester. Educação musical apoiada pelas novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC): pesquisas, práticas e formação de docentes. Revista da Abem, Porto
Alegre, v. 14, p. 75-89, 2014.
SWANWICK, Keith. A Basis for Music Education. 9º Ed. London: The NFER-NELSON
Publishing Company Ltd., 1991.
SWANWICK, Keith. Music, mind, and education. New York: Routledge, 1988.
Notas
______________________
1
[...] transformar nossos conceitos educacionais, nossas perspectivas didáticas, nos constrangem a rever e
complementar nossa formação, nos levam a refletir sobre as novas possibilidades e exigências quanto às
interações com nossos alunos e colegas.
2
https://musiclab.chromeexperiments.com/
3
MIDI es la sigla para Musical Instrument Digital Interface. Es un lenguaje de comunicación digital que permite
que diferentes hardware y software se comuniquen entre sí.
4
http://www.games.do/games/music_blox
5
Adobe Flash Player es un programa que funciona como reproductor multimedia.
6
Palabra en inglés que se traduce directamente al español como bucle o ciclo. Es un proceso, sistema o
estructura circular y cíclica, la cual se repite y termina donde comienza.
300
XIII Encontro de Educação Musical
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Vilson Zattera
UNICAMP
vilson.zattera@gmail.com
José Fornari
UNICAMP
fornari@unicamp.br
Resumo: Grande parte da produção acadêmica que trata da inclusão de alunos ou intérpretes com
deficiência visual considera a musicografia braille como um fator indispensável na formação musical
dos mesmos. No entanto, pouco estudam ou sequer comentam sobre as possibilidades de utilização de
novas tecnologias em um contexto inclusivo. Este artigo trata da utilização do Lilypond, uma
ferramenta computacional de edição de notação musical bastante conhecida e utilizada por estudantes
e/ou músicos profissionais, devido à sua versatilidade e, neste contexto, sua acessibilidade aos
deficientes visuais
1. Introdução
Se compararmos a variedade de recursos gráficos disponíveis para representar os
símbolos musicais em pauta impressa com seu equivalente, em musicografia braille, podemos
observar que esta forma de escrita é limitada para representar todos os símbolos da notação
musical impressa, como partituras, songbooks etc. Além disso, entre outros motivos que
corroboram para a grande escassez de materiais transcritos em braille, tem-se o fato do alto
custo que envolve a edição e a produção de partituras impressas em braille, dificultando à
PCDV (pessoa com deficiência visual) o acesso a um estudo mais sistematizado da Música e
as relações de ensino e aprendizagem entre aluno e professor.
Na figura 1 tem-se um exemplo de musicografia braille:
Figura 1: Exemplo de Musicografia braille, onde as notas são descritas através do alfabeto Braille. Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Musicografia_Braille#/media/Ficheiro:Braillemusicsummary.gif.
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Figura 2: Exemplo de um trecho melódico em notação musical (abaixo) e musicografia braille (acima). Fonte:
NOVO MANUAL INTERNACIONAL DE MUSICOGRAFIA BRAILLE. Recompilado por Bettye Krolick.
Brasília 2004. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/musicabraile.pdf (página 20).
Figura 3: Exemplo de um trecho harmônico em notação musical (abaixo) e musicografia braille (acima). Fonte:
NOVO MANUAL INTERNACIONAL DE MUSICOGRAFIA BRAILLE. Recompilado por Bettye Krolick.
Brasília 2004. http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/musicabraile.pdf (página 38).
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quanto a partitura impressa para o músico PCDV. O interesse desta pesquisa é criar uma
ponte de acessibilidade mútua entre músicos videntes e cegos, utilizando softwares livres que
permitam formar este caminho de mão dupla, o que é chamado de acessibilidade recíproca
(PENTEADO, 2017.)
3. Metodologia
Baseado na ideia de explorar possibilidades dos softwares livres com acessibilidade
recíproca (PENTEADO, 2017), a pesquisa vem procurando softwares que tenham uma
interface acessível e que correspondam à ideia de desenho universal (CALETTO;
CAMBIAGHI, 2008), possibilitando que músicos PCDVs tenham autonomia para ler e
escrever partituras em notação musical tradicional, e que assim possam interagir
musicalmente com quaisquer tipos de músicos (videntes ou não).
Nos softwares em avaliação, estão sendo testados a interação com algumas tecnologias
de comunicação e informação, as TIC (Santos, 2015) , principalmente leitores de tela, como o
JAWS (https://www.freedomscientific.com/products/software/jaws/), o NVDA
(http://www.nvda.pt/pt-pt) e o equipamento Braille Display (ou Linha Braille), uma interface
que pode ser conectada ao computador ou ao smartphone por USB ou sem-fio (via protocolo
Bluetooth) e que trabalha em conjunto com leitores de tela, permitindo ao usuário acesso à
escrita e leitura da tela convertida para braille e das informações em texto das linhas contidas
na tela do computador, isto torna o acesso computacional para o PCDV rápido e intuitivo,
porém não recíproco.
Dentro dos parâmetros propostos, muitos dos softwares pesquisados foram descartados
e o mais promissor até o momento foi o Lilypond por apresentar uma linguagem textual mais
próxima à convencional, porém com a possibilidade de acesso à partitura através de comandos
em texto, que o torna acessível aos leitores de tela, possibilitando, assim, a troca musical
recíproca entre os alunos com e sem deficiência visual. Desta maneira, descrevemos com mais
detalhes o software livre Lilypond, tentando esclarecer como este pode se tornar uma
ferramenta efetiva de acessibilidade e inclusão musical recíproca.
O Lilypond é um software livre de criação e edição de partituras a partir de texto. A
maioria dos softwares de edição de partituras usados tradicionalmente para a escrita musical
tem suas interfaces predominantemente gráficas (Graphical user interface- GUI) e usam o
mouse como recurso principal de interação para inserção de elementos na partitura, o que é
completamente inacessível às PCDV. Estes softwares geram uma partitura que não consegue
ser lida pelos leitores de tela usados por PCDV. Tais leitores transmitem ao usuário toda a
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informação escrita, mas não conseguem decodificar imagens e gráficos, tornando os softwares
de edição de interface gráfica, e consequentemente as partituras escritas neles, inacessíveis às
PCDV, que necessitam do leitor de tela para ter acesso à informação digital. O Lilypond, por
usar somente texto para a inserção de símbolos e notações musicais, possibilita a leitura e a
escrita da partitura convencional (não apenas daquela em musicografia braille) para a PCDV a
partir do leitor de tela e do teclado convencional do computador.
Além disso, o Lilypond usa os mesmos caracteres da musicografia tradicional para a
inserção de elementos à partitura escrita, deixando a linguagem bastante intuitiva para o
músico. Assim, para a inserção de alturas serão usados “a” para a nota Lá, “b” para a nota Si e
assim por diante. Para a inserção de figuras rítmicas são usados os números sendo
1=semibreve, 2=mínima, 4=semínima, etc. Na figura 4 tem-se um exemplo simples da
programação textual de uma partitura em Lilypond:
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4. Considerações finais
Este artigo, bem como a pesquisa de iniciação científica a qual este descreve, não
buscam substituir a musicografia Braille no estudo de música inclusivo da PCDV, apenas
almejam explorar possibilidades de ferramentas tecnológicas alternativas - principalmente
buscando integrar ao máximo pessoas que possuam visão normal e deficiência visual - além
auxiliar no estudo de música escrita por pessoas que necessitam de leitores de tela.
Também é o objetivo da pesquisa procurar opções para além da musicografia braille,
aumentando a independência do aluno com DV e possibilitando pensar na ideia de desenho
universal, buscando uma forma de escrita que seja mais próxima à escrita convencional para
que haja uma maior comunicação e troca de materiais escritos entre os músicos -,
independentemente de necessitarem ou não de leitura de tela.
Dessa forma, o Lilypond se torna um software promissor pelas diversas possibilidades
de gerar e importar de arquivos de entrada e de saída (input e output), além de possuir uma
linguagem que aproxima-se da codificação padrão, tornando o estudo mais abrangente e
possibilitando a interação com outros softwares. Assim, o Lilypond pode ser uma saída viável
à falta de formação de professores em musicografia Braille.
Referências
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