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LFG INTENSIVO II

DIREITO CONSTITUCIONAL

Material de Apoio - Direito e publica, ou seja, coisa do povo. O


Constitucional - Marcelo Novelino - poder não se concentra em apenas uma
01.pdf figura, e a soberania é detida pelo povo,
Material do Professor - Direito de forma que a república é o governo de
Constitucional - Marcelo Novelino - todos. Suas características essenciais:
1.pdf responsabilidade política dos
Material do Professor - Direito governantes, que podem praticar crimes
Constitucional - Marcelo Novelino - de responsabilidade; eletividade, relação
2.pdf de mandato, os governados elegem seus
Atualizações e questões de concursos governantes; e a temporariedade, ou
anteriores: seja, há alternância de poder.
94ec46086bea9de528efd87883ccb1f5.p
df 1.2. Sistemas de governo
4c325a9108cd595f4835fe24354908ee.p O critério é a forma de articulação
df dos Poderes políticos (Executivo e
Legislativo).
Existem três sistemas de governo:
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 1) parlamentarismo – mais antigo
dentre os sistemas de governo. Sua
1. Distinções preliminares origem se dá na Inglaterra no séc.
XVIII. Duas características desse
1.1. Formas de governo sistema de governo são: dualidade do
O critério para distinção são os Poder Executivo (que se divide na
tipos de instituições por meio das quais chefia de Estado – monarca ou
o Estado se organiza para regular a presidente da República – e na chefia de
disputa pelo poder político e o seu Governo – primeiro ministro, que
exercício. As duas espécies mais governa com ajuda do gabinete); e a
importantes são a monarquia e responsabilidade política do Chefe de
república. Governo perante o Parlamento, bem
A monarquia significa, de forma mais sensível que no Presidencialismo.
simplificada, o poder de um só, porque Espanha, Japão, Reino Unido
nela ele se concentra (ou se adotam a monarquia parlamentarista,
concentrava) na figura do monarca (rei, por exemplo; Alemanha, Áustria são
imperador, sultão), que era o titular da repúblicas parlamentaristas.
soberania (e não o povo, como O primeiro ministro é escolhido
atualmente). São três as características pelo Parlamento, e não tem mandato
fundamentais da monarquia que a fixo. Se o Parlamento realiza a moção
diferenciam da república como forma de desconfiança, pela qual se demonstra
de governo: irresponsabilidade política a falta de apoio ao chefe de Governo,
do monarca (i. é, o monarca não pratica sendo destituído juntamente com o
crime de responsabilidade); Gabinete, sendo escolhido outro Chefe
hereditariedade (a transmissão do poder de governo.
não se dá pelo voto, mas pela 2) presidencialismo – surgiu nos
descendência sanguínea); e vitaliciedade Estados Unidos com a C. de 1787,
(o poder do monarca não é periódico). primeira constituição escrita da
A república se contrapõe à História. Ela decorreu do fato de apenas
monarquia. O termo é composto de res existir parlamentarismo em países

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monarquistas. Como nos EUA não 1.3. Formas de Estado
existia um monarca, a figura criada para O critério para a classificação das
substituí-lo foi criado o Presidente da formas de Estado é a distribuição
República, que ocupa a chefia de Estado espacial do Poder político. Pode ser
e de Governo. unitário e composto.
No Brasil, desde a proclamação Estado unitário ou simples surgiu
da República este sistema é adotado. no Brasil com a C. de 1824, adotado até
Houve apenas um curto período no qual 15-11-1889. A característica do Estado
o sistema presidencialista não foi unitário é o monismo de poder. Em
adotado, entre 1961-63. termos espaciais, ele se concentra em
*Nos trabalhos da constituinte houve apenas um ente central. Existem
um grande esforço por uma corrente algumas subdivisões de estado unitário,
para implantar o parlamentarismo. Em que pode ser: a) puro – como o próprio
1993 foi definitivamente escolhido o nome já diz, há absoluta centralização
presidencialismo em plebiscito. Desse do Poder (trata-se de um fenômeno raro,
fato decorre a situação esdrúxula em pois apenas em estados muito pequenos,
que a CRFB/88, que serve a um sistema como o Vaticano, isso é possível. No
presidencialista, possuir dispositivos de Distrito Federal, por exemplo, existem
feição parlamentarista, como o caso das as cidades satélites para poder
medidas provisórias. implementar as ordens); b) com
No presidencialismo, o Poder descentralização administrativa – aquele
Executivo é exercido pelo Presidente da no qual o a execução das decisões
República, responsável tanto pela chefia políticas tomadas pelo governo central é
de estado quanto pela chefia de descentralizada (como ocorre nas sub-
governo. Para destituição do cargo antes regiões dos municípios, que possuem
do prazo final é necessária a capacidade apenas administrativa); c)
condenação tanto pela prática de um com descentralização político-
crime comum quanto por crime de administrativa – a dotada por exemplo
responsabilidade. na Espanha, Portugal e França, não só a
3) semiparlamentarismo ou execução, mas também a elaboração de
semipresidencialismo – criado pela C. leis é delegada pelo governo central.
francesa de 1958, que instituiu a V A diferença entre a
República. A chefia de estado e de descentralização político-administrativa
governo são executadas por pessoas do Estado Unitário e do Federal é que
distintas. Contudo, o PR, além de ser não é feita pelo Governo central, mas
diretamente eleito pelo povo, exerce pela Constituição.
funções políticas extremamente Estado composto. Os dois mais
relevantes, tais como nomear o Primeiro importantes são a confederação (a rigor
Ministro e dissolver o Parlamento. O não é nem um Estado, mas entra na
Primeiro Ministro continua dependendo discussão) e a federação (forma de
do apoio da maioria do Parlamento, Estado que a CRFB adotou, e adotada
tanto para ser investido quanto para no Brasil desde a proclamação da
manter-se no cargo. República).
*Cf. texto do Min. Luis Roberto A confederação a rigor não é uma
Barroso em que ele trabalha esse tema, forma de Estado porque seus Estados,
bem como outros sobre reformas que a compõe, são soberanos, que se
possíveis ao sistema político brasileiro. unem para criar um Estado maior para
É adotado em França, Colômbia, tratar de determinados assuntos,
Portugal, Finlândia e Polônia. principalmente os externos (como
comércio internacional, união

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monetária, segurança). Na federação, os
estados são apenas autônomos, mas não Material de Apoio - Direito
soberanos. Constitucional - Marcelo Novelino -
No passado, as confederações 02.pdf
possuíram uma união mais forte, como 2. Tipos de federalismo
ocorreu na Suíça e nos EUA. 2.1. Quanto ao surgimento ou origem
Atualmente, as confederações O critério é o tipo de movimento
aproximam-se de organizações responsável pela origem do Estado:
internacionais, como no caso da União i) federalismo por agregação –
Europeia. surge quando estados soberanos cedem
A Federação é uma expressão que uma parcela de sua soberania para
vem de foedus ou foederis, que significa formar um ente único. É o caso ocorrido
pacto, aliança, união. Nela, os Estados com os EUA (que inicialmente
abrem mão de sua soberania. formaram uma confederação e esta, não
CONFEDERAÇÃO FEDERAÇÃO produzindo os resultados almejados em
i) é pessoa jurídica de i) é estado; razão do direito de nulificação, evoluiu
direito público;
com a C. de 1787 para uma federação),
ii) em regra, são ii) os estados se unem
unidos por tratados através de uma bem como a Alemanha. Surgem os
internacionais; Constituição; Estados perfeitos, ou por associação ou
iii) membros mantêm iii) membros possuem por aglutinação. Neste caso, temos um
sua soberania; apenas autonomia; movimento centrípeto, onde o poder
iv) há direito de iv) não há direito de
vai das periferias para o ente central;
secessão; secessão*;
v) os membros v) as decisões ii) federalismo por segregação –
possuem o direito de tomadas pelos órgãos surgem com a descentralização política
nulificação**; centrais são do Estado unitário. Aqui estamos diante
vi) geralmente se obrigatórias; do oposto da agregação, já que o poder
unem para tratar de vi) tanto assuntos que era do ente central é repartido em
assuntos externos; externos quanto
vii) indivíduos são internos; vários domínios parcelares, ou seja, sai
cidadãos dos vii) a nacionalidade é do centro para as periferias. Nesse caso,
respectivos Estados; única teremos um movimento centrífugo. Os
viii) único órgão Estados resultantes são chamados de
comum é o congresso viii) o poder central é imperfeitos ou por dissociação
confederal; dividido em
Legislativo, (exemplos: Brasil e Áustria).
Executivo e
Judiciário. 2.2. Quanto à repartição de
*O princípio da indissolubilidade (na competências
verdade, uma regra) do pacto federativo i) federalismo dual/dualista –
veda o direito de secessão (art. 1º da caracteriza-se pela repartição horizontal
CRFB). Se algum ente intentar um de competências entre a União e os
processo de secessão, o art. 34, I prevê a Estados. Há uma repartição equilibrada,
hipótese de intervenção federal. de forma que não ocorre uma
**Direito de nulificação. Numa hierarquia entre essas esferas, mas uma
confederação, os membros mantêm seu relação de coordenação. Este tipo de
Poder Executivo e Judiciário, mas existe federação, clássico, foi primeiramente
um congresso confederal. Esse adotado nos EUA até 1929 quando, pela
parlamento elabora leis. Contudo, essas crise econômica, houve uma alteração
leis não são obrigatórias para todos os (funcionava bem em estados liberais e
membros da confederação, pois o mínimos, que se caracterizam pela
membro pode se abster de cumprir a lei abstenção, onde o Estado não intervêm
aprovada pelo congresso confederal. nas relações, como no estado de bem

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estar social, que demanda atuação jurídica entre entes federativos de
conjunta de todos entes federativos); mesmo grau:
ii) federalismo de integração – i) federalismo simétrico -
oposto do federalismo dual. caracteriza-se pelo equilíbrio
Caracteriza-se pela sujeição dos Estados constitucional na distribuição de
membros à União, materializada por competências entre entes da mesma
meio de uma repartição vertical de esfera federativa. Ou seja, a repartição
competências. de competência é simétrica/homogênea
Na C. de 1967/69, a repartição de (ex.: os estados são dotados com as
competências era vertical, de forma que mesmas competências). Exemplo:
o conflito entre lei federal e estadual, Estados Unidos, Brasil.
prevalecia a primeira. Há um ii) federalismo assimétrico – a
fortalecimento do poder central. constituição confere tratamento jurídico
iii) federalismo cooperativo – diferenciado aos entes federativos do
espécie intermediária. Surge a partir de mesmo grau, com o objetivo de
uma tentativa de reduzir as dificuldades respeitar ou reduzir desigualdades
advindas da distribuição de regionais e sociais. Exemplos: Canadá e
competências por meio de uma fórmula Suíça.
geral de cooperação entre os entes Observação. O professor
federativos na qual são adotadas classifica o Brasil como federalismo
repartições horizontais e verticais. simétrico, embora existam algumas
Trata-se de uma espécie mais regras que permitem a assimetria (como
recente, decorrente da transformação os artigos 3º, III; 43; 151, I; 159, I, c).
dos Estados liberais em sociais,
intervencionistas de bem estar social. É (aula 2)
uma formula intermediária entre o 2.4. Quanto às características
federalismo dual e o de integração. A C. dominantes do modelo
possui tanto competências sem Aqui adotamos um ponto de vista
hierarquia (horizontal) quanto a externo para designar a proximidade
competência vertical. entre o modelo federativo adotado pela
Exemplos na CRFB: os artigos c. e o modelo clássico (Raul Machado
22, 25, § 1º e 30 tratam de uma Horta):
competência horizontal; no art. 24, i) federalismo simétrico –
temos um exemplo de competência pressupõe a adoção de um modelo com
vertical (União estabelece normas características dominantes,
gerais, e o Estados especificam). frequentemente encontradas nesta forma
Exemplos de federalismo de estado, tais como: intervenção
cooperativo: CRFB/88; EUA após federal nos Estados, Poder Judiciário
1929; Alemanha. dual (apesar de ser nacional, tem órgãos
estaduais e federais), Poder Legislativo
2.3. Quanto à homogeneidade na bicameral e divisão do Poder
distribuição de competências Constituinte (Estado-nação) em
*Nesse ponto, há uma questão Originário e Decorrente (Estados-
importante para concursos, tendo em membros);
vista que a expressão federalismo ii) federalismo assimétrico – é
simétrico também será utilizado na aquele que rompe com as linhas
próxima classificação. tradicionais do federalismo clássico
O critério é do ponto de vista através da criação de regras estranhas ao
interno. Analisa a simetria fática e modelo tradicional.

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Alguns autores chamam o modelo São requisitos para a manutenção,
simétrico de homogêneo; o assimétrico e não se confundem com características
de heterogêneo. Estas outras essenciais. Eles servem para que a
denominações também são usados na federação não seja dissolvida, e não
classificação anterior. para caracterizá-la.
O fato de a CRFB consagrar os O primeiro é a rigidez
Municípios como entes federativos é constitucional, pois do contrário a
típico de um modelo assimétrico mesma nora que altera uma lei pode
(federalismo de terceiro grau). José alterar a constituição.
Tarcísio de Almeida Melo considera O outro requisito ainda mais forte
nosso federalismo assimétrico. Outros, é a forma federativa de estado como
como Kildare Carvalho, já entendem cláusula pétrea. Nem através de emenda
que nossa CRFB se filia ao federalismo é possível alterar essa característica. Só
simétrico com algumas concessões ao uma nova constituição pode alterá-la.
assimétrico. O terceiro requisito é a existência
de um órgão encarregado de exercer o
3. Características essenciais a uma controle da constitucionalidade.
federação
Essas características são 4. Soberania e autonomia
importantes para saber se estamos Soberania, classicamente, é
diante de um Estado unitário ou de definida como o Poder político supremo
outro, federativo, já que não é tão e independente. Supremo tendo em vista
simples diferencia-los, caso o Estado não estar limitado na ordem interna por
unitário seja com descentralização nenhum outro Poder. Independente é o
político-administrativa. poder que não tem que acatar, na ordem
Características da federação: internacional, regras que não sejam
1ª) descentralização político- voluntariamente aceitas e por estar em
administrativa fixada pela Constituição. pé de igualdade com os Poderes
Na federação, como as competências supremos de outros povos.
são distribuídas pela c., não é simples Atualmente, o conceito de
retirá-las, o que é bem menos rigoroso soberania vem sendo relativizado. Um
em Estados unitários que não a têm Estado dificilmente consegue manter
definida na constituição; uma economia forte se não se submeter
2ª) participação das vontades a determinadas normas, o que decorre
parciais na formação da vontade do processo de globalização.
nacional. José Afonso da Silva sustenta A União não é soberana, mas sim
que os Municípios não fazem parte da a República Federativa do Brasil. A
formação da vontade nacional, e por União é um ente federativo e goza de
isso não seria ente federativo; autonomia, como os Estados, DF e
3ª) princípio da autonomia, Municípios.
caracterizado pela capacidade de auto- Autonomia significa autos
organização conferida aos Estados- (próprio) e nomos (norma). Ou seja,
membros. Isso se dá por sua própria capacidade de elaboração de normas
constituição. próprias. Os Estados, DF e Municípios
Os municípios e o DF se têm capacidade auto-organização,
organizam através de Lei Orgânica. A autolegislação, autogoverno, e
natureza jurídica é a mesma. autoadministração.
No caso dos municípios, a lei
3.1. Requisitos para a manutenção da orgânica os estrutura, bem como DF
federação (mas neste, a LO têm natureza de

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constituição); os Estados-membros (competência legislativa concorrente
organizam-se pelas constituições; e a entre U, E e DF);
União possui uma constituição própria - art. 25, § 2º (serviços “locais” de
dentro da Constituição Nacional. Essa gás canalizado, que induz a erro,
última diferença, entre Constituição competência do Estado);
Nacional e Constituição Federal utiliza- - art. 22, I e 24, XI (o primeiro
se do mesmo critério para diferenciar atribui competência à União para
leis nacionais e leis federais. A parte legislar sobre processo; no entanto,
que se refere a todos os entes da procedimento, é de iniciativa
Federação compõe a C. Nacional (ex.: concorrente);
artigos 19, 37 e assim por diante). A - art. 22, XI (trânsito e transporte,
parte que se refere apenas à União é a competência da União): importante ler a
Constituição Federal (exemplos: jurisprudência do STF sobre essa
processo legislativo, onde só há competência. Cf. no site do STF esse
referência aos órgãos federais, mas que tema.
devem ser seguidos pelos demais entes - art. 22, XXVII (licitação. Na
– artigos 59 e seguintes; normas que verdade, não é privativa da União, que
tratam de CPI, que também é norma de tem competência para estabelecer
observância obrigatória). normas gerais, e os demais entes podem
A autolegislação, i. é, criação de estabelecer normas específicas. Não
suas próprias leis, é atribuída a cada deveria constar no art. 22, então).
ente.
O autogoverno também é 5.1. Campos específicos
característica de cada ente, pois cada um (administrativas e legislativas)
elege seus governantes e representantes A Constituição enumera os
(o que na c. anterior não ocorria, pois poderes (“poderes enumerados”) para
havia os governadores biônicos). No a União (art. 21 – competências
caso de ser criado algum território, o administrativas; e art. 22 –
governador é nomeado. competências legislativas) e para os
A autoadministração é a Municípios (art. 30).
capacidade para execução de suas *parte da doutrina denomina de
próprias leis e negócios. Assim, temos a poderes indicativos, ao invés de
Administração Pública federal, estadual enumerados, os poderes dos
e municipal. Municípios.
Para os Estados membros, a C.
5. Repartição de competências dita poderes residuais (art. 25, § 1º).
A maioria das federações na Aqui não falamos, como nos EUA, que
atualidade contam com uma parte de tem uma federação por agregação, em
repartição de competências. O princípio competências reservadas (i. é,
guia dela é o da predominância do reservadas pelos Estados quando da
interesse. O interesse formação da federação), apesar de o
predominantemente geral, em regra, texto constitucional se referir a
gera competência da União; o regional, competências reservadas. Tudo que não
a competência do Estado; e o local, a for competência enumerada da União e
competência municipal. dos Municípios, e aquilo que não
Leitura, comparação e vedado, é competência dos Estados.
conhecimento obrigatório das Já o DF acumula as competências
competências: administrativas e legislativas dos
- art. 22, I (competências Municípios e Estados (cf. art. 32, § 1º).
exclusivas da União) e 24, I

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Todas as competências referidas VI - proteger o meio ambiente e
até aqui são referentes a uma repartição combater a poluição em qualquer de
suas formas;
horizontal. VII - preservar as florestas, a
fauna e a flora;
5.2. Possibilidade de delegação VIII - fomentar a produção
A competência da União é, sem, agropecuária e organizar o
dúvidas, a mais ampla. Contudo, a abastecimento alimentar;
IX - promover programas de
CRFB previu a possibilidade de construção de moradias e a melhoria
delegação das matérias do art. 22, que das condições habitacionais e de
deve ser veiculada por lei saneamento básico;
complementar, para os Estados e DF X - combater as causas da
(possibilidade implícita), cf. p. ú. pobreza e os fatores de marginalização,
promovendo a integração social dos
Perceba que, se houver a delegação de setores desfavorecidos;
alguma matéria do art. 22, ela deve XI - registrar, acompanhar e
fazê-lo de forma igual para todos, cf. fiscalizar as concessões de direitos de
art. 19, III. pesquisa e exploração de recursos
“Parágrafo único. Lei hídricos e minerais em seus territórios;
complementar poderá autorizar os XII - estabelecer e implantar
Estados [e Distrito Federal] a legislar política de educação para a segurança
sobre questões específicas das matérias do trânsito.
relacionadas neste artigo.” Parágrafo único. Lei
Além disso, não pode delegar complementar fixará normas para a
cooperação entre a União e os Estados,
todas as matérias, mas apenas questões
o Distrito Federal e os Municípios,
específicas das matérias ali tendo em vista o equilíbrio do
relacionadas. desenvolvimento e do bem-estar em
âmbito nacional.
5.3. Competências comuns Parágrafo único. Leis
“Art. 23. É competência complementares fixarão normas para a
comum da União, dos Estados, do cooperação entre a União e os Estados,
Distrito Federal e dos Municípios: o Distrito Federal e os Municípios,
I - zelar pela guarda da tendo em vista o equilíbrio do
Constituição, das leis e das instituições desenvolvimento e do bem-estar em
democráticas e conservar o patrimônio âmbito nacional. (Redação dada pela
público; Emenda Constitucional nº 53, de
II - cuidar da saúde e assistência 2006)”
pública, da proteção e garantia das Ou seja, o dispositivo trata de
pessoas portadoras de deficiência; competências administrativas comuns
III - proteger os documentos, as (se fossem legislativas, deveria ser
obras e outros bens de valor histórico,
expressa a determinação).
artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios Contudo, a atividade
arqueológicos; administrativa é sublegal, de forma que
IV - impedir a evasão, a deve haver lei para que elas sejam
destruição e a descaracterização de regulamentadas. Se a CRFB não trata de
obras de arte e de outros bens de valor quem tem a competência para legislar
histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de sobre o assunto, quem o terá será quem
acesso à cultura, à educação e à possui competência administrativa.
ciência; Assim o que se conclui é que a
V - proporcionar os meios de competência é diretamente
acesso à cultura, à educação, à ciência, administrativa e indiretamente
à tecnologia, à pesquisa e à inovação;
(Redação dada pela Emenda legislativa.
Constitucional nº 85, de 2015) Contudo, a diferença mais
importante entre essas competências
comuns e as concorrentes é que a CRFB
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não exclui qualquer ente daquelas exclui a competência suplementar dos
competências, inclusive os Municípios Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre
estão elencados. A competência normas gerais, os Estados exercerão a
concorrente, a seguir vista, não pode ser competência legislativa plena, para
exercida pelos Municípios. atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei
5.4. Competências concorrentes federal sobre normas gerais suspende a
“Art. 24. Compete à União, aos eficácia da lei estadual, no que lhe for
Estados e ao Distrito Federal legislar contrário.”
concorrentemente sobre: Aqui estamos diante de
I - direito tributário, financeiro, competência tipicamente legislativa.
penitenciário, econômico e urbanístico; Como adianto acima, trata-se de
II - orçamento; competência concorrente atribuída
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços apenas à U, E e DF, mas não aos
forenses; Municípios.
V - produção e consumo; Contudo, os municípios podem
VI - florestas, caça, pesca, legislar sobre as matérias do art. 24, em
fauna, conservação da natureza, defesa razão do quanto disposto no art. 30, II:
do solo e dos recursos naturais, “Art. 30. Compete aos
proteção do meio ambiente e controle Municípios:
da poluição; (...)
VII - proteção ao patrimônio II - suplementar a legislação
histórico, cultural, artístico, turístico e federal e a estadual no que couber;”
paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano
A competência suplementar dos
ao meio ambiente, ao consumidor, a municípios não é cabível em matérias
bens e direitos de valor artístico, de competência privativa ou exclusiva
estético, histórico, turístico e da União e dos Estados.
paisagístico; Repartição vertical. Trata-se de
IX - educação, cultura, ensino e
desporto;
um condomínio legislativo, cf. Horta.
IX - educação, cultura, ensino, Esta competência é não cumulativa, já
desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, que embora a União possa tratar de
desenvolvimento e inovação; normas gerais, os outros entes tratam de
(Redação dada pela Emenda aspectos específicos. Conforme o § 1º, o
Constitucional nº 85, de 2015)
X - criação, funcionamento e
interesse predominantemente geral é de
processo do juizado de pequenas competência legislativa da União;
causas; segundo o § 2º, temos a competência
XI - procedimentos em matéria suplementar dos E e DF; pelo § 3º se a
processual; União não legislar, os Estados exercem
XII - previdência social,
a capacidade legislativa plena; e, na
proteção e defesa da saúde;
XIII - assistência jurídica e superveniência da lei geral federal, a lei
Defensoria pública; estadual tem sua eficácia
XIV - proteção e integração automaticamente suspensa.
social das pessoas portadoras de Dessa forma, se outra lei federal
deficiência;
revogar a anterior lei federal, que havia
XV - proteção à infância e à
juventude; suspendido a estadual, opera-se um
XVI - organização, garantias, efeito repristinatório tácito quanto à
direitos e deveres das polícias civis. lei estadual, que tem sua eficácia
§ 1º No âmbito da legislação restaurada.
concorrente, a competência da União Observações:
limitar-se-á a estabelecer normas
gerais. 1) segundo parte da doutrina
§ 2º A competência da União (Alexandre de Moraes e André Ramos
para legislar sobre normas gerais não Tavares), a competência suplementar é

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gênero, cujas espécies são a Territórios Federais, mediante aprovação
complementar (aquela que depende da da população diretamente interessada,
através de plebiscito, e do Congresso
prévia existência de lei federal a ser Nacional, por lei complementar.
especificada – art. 24, § 2º) e supletiva § 4º A criação, a incorporação, a
(aquela que surge em virtude da inércia fusão e o desmembramento de
da União para estabelecer normas gerais Municípios preservarão a continuidade e
– art. 24, § 3º). a unidade histórico-cultural do ambiente
urbano, far-se-ão por lei estadual,
Essa distinção, existente na C. de obedecidos os requisitos previstos em
1967/69, é criticada por outros autores, Lei Complementar estadual, e
como JAS, já que teria perdido sentido dependerão de consulta prévia, mediante
com a promulgação da CRFB. plebiscito, às populações diretamente
2) competência privativa vs. interessadas.
§ 4º A criação, a incorporação, a
exclusiva – a competência exclusiva não fusão e o desmembramento de
admite delegação, enquanto a privativa Municípios, far-se-ão por lei estadual,
sim. Exclusiva “exclui” a possibilidade dentro do período determinado por Lei
de delegação”. Complementar Federal, e dependerão de
Na CRFB apenas o art. 22, p. ú. consulta prévia, mediante plebiscito, às
populações dos Municípios envolvidos,
(competências da União) e art. 84, p. ú.
após divulgação dos Estudos de
(atribuições do Presidente da República) Viabilidade Municipal, apresentados e
são competências legislativas privativas. publicados na forma da lei.(Redação
Mas há críticas, pois tanto Gilmar dada pela Emenda Constitucional nº 15,
mentes quanto a Professora ... não de 1996) Vide art. 96 - ADCT”
estabelece distinção entre as duas, tendo O art. 1º consagra o princípio da
em vista que a própria CRFB não faz indissolubilidade do pacto federativo.
essa distinção (as vezes a C. trata de Com isso, é vedado do direito de
competências privativas para secessão.
competências que não podem ser A organização prevista no art. 18
delegadas, e vice-versa). da Constituição Federal compreendendo
que a União, os Estados, o Distrito
6. Organização político-administrativa Federal e os Municípios têm autonomia.
do Estado brasileiro
Está essencialmente prevista no 6.1. Estados
art. 18 da CRFB (mas também no art. 1º Limites (que limitam as previsões
de forma simplificada). constitucionais dos Estados). São
“Art. 1º A República Federativa impostos por normas de observância
do Brasil, formada pela união obrigatória. Estes limites observam três
indissolúvel dos Estados e Municípios e principais tipos de princípios
do Distrito Federal...”
constitucionais (José Afonso da Silva):
“Art. 18. A organização político-
administrativa da República Federativa i) princípios sensíveis – são
do Brasil compreende a União, os aqueles que tratam da essência da
Estados, o Distrito Federal e os organização constitucional da federação
Municípios, todos autônomos, nos brasileira. Estão previstos no art. 34,
termos desta Constituição. VII e, se violados, podem ocasionar a
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
§ 2º Os Territórios Federais intervenção federal no Estado-membro,
integram a União, e sua criação, tal a importância a eles imprimida;
transformação em Estado ou reintegração ii) princípios extensíveis – são
ao Estado de origem serão reguladas em normas organizatórias da União,
lei complementar. extensíveis aos Estados, seja por normas
§ 3º Os Estados podem
incorporar-se entre si, subdividir-se ou expressas ou implícitas (princípio da
desmembrar-se para se anexarem a simetria). Art. 27, §§ 1º e 2º; 28; 55 são
outros, ou formarem novos Estados ou

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exemplos de expressos; art. 59 e do DF está muito mais próxima dos
seguintes (princípios básicos do Estados que dos Municípios, e daí
processo legislativo), art. 58, § 3º entendeu que a norma questionada era
(requisitos para criação de CPI), e constitucional.
normas relacionadas à separação de Competências. As competências
poderes são exemplos de normas atribuídas ao DF são híbridas, tanto
extensíveis implícitas. estaduais quanto municipais. Inclusive,
*Os exemplos de princípios extensivos a CRFB prevê a proibição de divisão do
implícitos derivam da jurisprudência do DF em Municípios. No entanto,
STF anterior à CRFB/88 que estavam algumas dessas competências são
expressos na C. de 1967/69. tuteladas pela União (contraprestação
iii) princípios estabelecidos – por estar ali sediado o Governo
encontram-se espalhados de forma Federal): é responsável pelo Poder
assistemática ao longo do texto Judiciário, Ministério Público, Polícia
constitucional (exemplo: CRFB, 37 – os Civil e Militar e Bombeiro Militar. Cf.
cinco princípios da AP). São regras CRFB, art. 21, XIII e XIV; 22, XVII; e
mandatórias, mandam que o Estado faça art. 48, IX.
alguma coisa. *Atenção! A Defensoria Pública, cf. EC
n. 69/2012, a competência foi retirada
Material de Apoio - Direito da União e ficou a cargo do próprio DF.
Constitucional - Marcelo Novelino -
03.pdf 6.3. Municípios
6.2. Distrito Federal Também foi objeto de bastante
O DF é a sede do Governo controvérsia quando dos debates
Federal. A intenção de criação de um constituintes. Antes da CRFB/88 os
distrito federal decorre da percepção de Municípios não eram considerados
que a sede do Governo Federal dentro entes federativos. Tratou-se de uma
de um dos entes federados não funciona inovação da CRFB, não observável em
bem, ou seja, é necessário ter um qualquer outro lugar do mundo. Ainda
território neutro para servir como sede há controvérsia sobre ser ou não ente
do Governo Federal. federativo o Município (JAS), mas é
Natureza jurídica do Distrito amplamente predominante que se trata
Federal. Na ADI 3756, o STF teve que de um ente autônomo.
enfrentar esta questão, já que foi Segundo José Afonso da Silva,
proposta pela Câmara Legislativa do duas razões o levam a entender que o
DF, que questionava um dispositivo da Município não pode ser considerado
Lei de Responsabilidade Fiscal, onde ente federativo: 1) não participar da
havia um limite mais rigoroso aos formação da vontade nacional; 2) não
Estados do que aos Municípios quanto existe federação formada por
ao gasto com pessoal (sua intenção era municípios. A federação caracteriza-se
declarar o dispositivo inconstitucional, pela descentralização político-
já que o DF não teria natureza de administrativa prevista na própria
Estado, e o limite de gasto deve ser o Constituição (não é delegação da
mesmo dos Municípios – mais brando). União); o princípio da autonomia (auto
O STF estabeleceu que o DF não é organização por constituição ou lei
Estado nem Município; trata-se de uma orgânica própria); e a participação das
unidade federada autônoma com vontades parciais na formação da
competências parcialmente tuteladas vontade nacional, que no caso dos
pela União. No caso, então, o STF Estados se dá pela figura dos senadores.
demonstrou que a arquitetura jurídica No caso do Município, ele não elege

10
ninguém para participar da formação da Natureza. São meras autarquias
vontade nacional. O segundo ou descentralizações administrativo-
argumento, de que não existe em lugar territoriais, pertencentes à União.
nenhum do mundo, federação de Não há eleições: o governador do
municípios. Se o município for um Território será nomeado pelo Presidente
membro, ele se torna na verdade um da República (uma das espécies de
Estado. eleição indireta prevista na CRFB, cf.
Este último argumento de JAS é art. 84, XIV).
mais frágil, pois a C. pode inovar, Se for criado um território, ele
fugindo do federalismo clássico. elegerá quatro deputados,
A maioria entende que o independentemente do tamanho da
Município é ente federativo e, o população do Território, cf. art. 45, § 2º.
fundamento, são dois artigos da CRFB: Os Territórios não elegem Senadores,
art. 1º e o art. 18. já que não é ente federativo.
“Art. 1º A República Federativa
do Brasil, formada pela união 7. Criação de Estados e Municípios
indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em
Estado Democrático de Direito e tem 7.1. Estados
como fundamentos:” CRFB, art. 18, § 3º,
“Art. 18. A organização político- regulamentado pela Lei n. 9.709/98. São
administrativa da República Federativa dois requisitos cumulativos a serem
do Brasil compreende a União, os
Estados, o Distrito Federal e os
observados.
Municípios, todos autônomos, nos Deve ser obtida a aprovação 1) da
termos desta Constituição.” população diretamente interessada
Além desses dois dispositivos, a (através de plebiscito); e 2) aprovação
própria atribuição de competências do Congresso Nacional, através da
realizada pela CRFB demonstram a edição de uma Lei Complementar.
plenitude dos Municípios como São três as possibilidades de
verdadeiros entes federativos. criação de um novo Estado:
Em determinada prova do CESPE, i) incorporação – ocorre uma
foi apresentada uma classificação fusão entre dois ou mais Estados dando
específica: “A constituição de 88 adotou origem a formação de um novo Estado;
um federalismo de terceiro grau.” ii) subdivisão – ocorre uma cisão
Significa que o federalismo brasileiro do Estado originário em novos Estados;
possui três esferas de competência iii) desmembramento – que pode
distintas: nacional, regional e local. O ser para anexação ou para formação.
DF não significa um quarto grau, já que Pode ocorrer em três situações:
ele apenas titulariza competência de anexação da parte desmembrada a outro
Estado e de Município. estado, sem a criação de um novo ente
Para o Professor Manoel federativo (a população diretamente
Gonçalves Ferreira Filho, o federalismo interessada é toda a população do
brasileiro é de segundo grau, pois os Estado que será desmembrado, e
municípios estão subordinados ao também a daquele que receberá o
Estado. acréscimo – Lei n. 9709/98, art. 7º);
para a formação de um novo Estado ou
6.4. Territórios formação de um Território (na ADI
Atualmente não possuímos mais 2650, o STF decidiu que a população
nenhum território, mas há possibilidade diretamente interessada é toda a
de criação. população do Estado, tanto da área a ser
desmembrada, quanto da remanescente).

11
Procedimento. Convocação do municípios criados, já consolidados,
plebiscito (art. 3º da Lei), por decreto deveriam permanecer.
legislativo. Depois, há consulta à Na EC 57/2008 houve a
população diretamente interessada introdução do art. 96 no ADCT,
(condição de procedibilidade). Por fim, consolidando a criação dos municípios
ocorre análise do Congresso Nacional até então irregularmente implantados
para aprovação de Lei Complementar, por falta da lei complementar.
no caso de consulta favorável, após ii) criação de uma lei ordinária
oitiva das respectivas Assembleias federal contendo a divulgação dos
Legislativas (ou seja, o resultado do estudos de viabilidade municipal;
Plebiscito não é vinculante para o iii) plebiscito convocado pela
Congresso Nacional em caso favorável; Assembleia Legislativa, no qual a
mas se foi contrário, o Congresso não população total do(s) município(s)
pode dar continuidade. O parecer das devem ser consultadas;
Assembleias Legislativas é apenas iv) criação de uma lei ordinária
opinativo, ou seja, também não vincula estadual, criando o novo município
a decisão do Congresso). dentro do período previsto na lei
“Art. 18. (...) complementar federal.
§ 3º Os Estados podem
incorporar-se entre si, subdividir-se ou
desmembrar-se para se anexarem a
8. Intervenção
outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação 8.1. Intervenção federal
da população diretamente interessada, A intervenção pode ser definida
através de plebiscito, e do Congresso como uma medida excepcional, de
Nacional, por lei complementar.”
natureza política, consistente na
possibilidade de afastamento
7.2. Municípios
“§ 4º A criação, a incorporação,
temporário da autonomia de um ente
a fusão e o desmembramento de federativo quando verificadas as
Municípios, far-se-ão por lei estadual, hipóteses taxativamente previstas na
dentro do período determinado por Lei CRFB. Pode ocorrer sobre Estados,
Complementar Federal, e dependerão Distrito Federal e municípios em
de consulta prévia, mediante plebiscito,
às populações dos Municípios
Territórios.
envolvidos, após divulgação dos Pressupostos:
Estudos de Viabilidade Municipal, i) materiais – a intervenção pode
apresentados e publicados na forma da ter por finalidade a defesa do Estado (i.
lei. (Redação dada pela Emenda é, Estado-nação brasileiro), do princípio
Constitucional nº 15, de 1996) Vide
federativo, das finanças estaduais, e da
art. 96 - ADCT”
A EC n. 16/96 teve a intenção de ordem constitucional;
conter a quantidade exagerada de ii) formais – competência do
municípios que vinham sendo criados Presidente da República (art. 84, X); e
de forma indiscriminada por motivos decreto especificando a amplitude, o
meramente eleitoreiros. prazo, as condições de execução e, se
São requisitos: for o caso, nomeando interventor (art.
i) lei complementar federal – é 36, § 1º).
“CAPÍTULO VI
necessária para estabelecer o período DA INTERVENÇÃO
dentro do qual os municípios poderão Art. 34. A União não intervirá
ser criados; nos Estados nem no Distrito Federal,
Na ADI 3682 o STF entendeu que exceto para:
I - manter a integridade
se trata de norma de eficácia limitada,
nacional;
mas o STF acabou reconhecendo que os

12
II - repelir invasão estrangeira seja, a solicitação não vincula o
ou de uma unidade da Federação em Presidente da República;
outra;
III - pôr termo a grave
iii) intervenção requisitada –
comprometimento da ordem pública; depende da requisição do Poder
IV - garantir o livre exercício de Judiciário (art. 36, I, segunda parte, II e
qualquer dos Poderes nas unidades da III). Nesta espécie de intervenção, o
Federação; Presidente da República está vinculado,
V - reorganizar as finanças da
unidade da Federação que:
sob pena de crime de responsabilidade,
a) suspender o pagamento da cf. Lei n. 1079/50, art. 12, 3.
dívida fundada por mais de dois anos “Art. 36. A decretação da
consecutivos, salvo motivo de força intervenção dependerá:
maior; I - no caso do art. 34, IV, de
b) deixar de entregar aos solicitação do Poder Legislativo ou do
Municípios receitas tributárias fixadas Poder Executivo coacto ou impedido,
nesta Constituição, dentro dos prazos ou de requisição do Supremo Tribunal
estabelecidos em lei; Federal, se a coação for exercida contra
VI - prover a execução de lei o Poder Judiciário;
federal, ordem ou decisão judicial; II - no caso de desobediência a
VII - assegurar a observância ordem ou decisão judiciária, de
dos seguintes princípios requisição do Supremo Tribunal
constitucionais: Federal, do Superior Tribunal de
a) forma republicana, sistema Justiça ou do Tribunal Superior
representativo e regime democrático; Eleitoral;
b) direitos da pessoa humana; III -- de provimento, pelo
c) autonomia municipal; Supremo Tribunal Federal, de
d) prestação de contas da representação do Procurador-Geral da
administração pública, direta e indireta. República, na hipótese do art. 34, VII;
e) aplicação do mínimo exigido III - de provimento, pelo
da receita resultante de impostos Supremo Tribunal Federal, de
estaduais, compreendida a proveniente representação do Procurador-Geral da
de transferências, na manutenção e República, na hipótese do art. 34, VII,
desenvolvimento do ensino. e no caso de recusa à execução de lei
(Incluída pela Emenda Constitucional federal. (Redação dada pela
nº 14, de 1996) Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
e) aplicação do mínimo exigido IV - de provimento, pelo
da receita resultante de impostos Superior Tribunal de Justiça, de
estaduais, compreendida a proveniente representação do Procurador-Geral da
de transferências, na manutenção e República, no caso de recusa à
desenvolvimento do ensino e nas ações execução de lei federal. (Revogado
e serviços públicos de saúde. (Redação pela Emenda Constitucional nº 45, de
dada pela Emenda Constitucional nº 2004)
29, de 2000)” § 1º O decreto de intervenção,
Há três espécies de intervenção que especificará a amplitude, o prazo e
as condições de execução e que, se
federal nos Estados: couber, nomeará o interventor, será
i) intervenção espontânea – a submetido à apreciação do Congresso
decretação depende apenas da Nacional ou da Assembléia Legislativa
ocorrência dos motivos que a autorizam do Estado, no prazo de vinte e quatro
(art. 34, I, II, III e V); horas.
§ 2º Se não estiver funcionando
ii) intervenção solicitada – a o Congresso Nacional ou a Assembléia
decretação depende de solicitação do Legislativa, far-se-á convocação
Poder Legislativo (art. 36, I) ou do extraordinária, no mesmo prazo de
Executivo estadual (cf. art. 34, IV), para vinte e quatro horas.
garantia do livre exercício de qualquer § 3º Nos casos do art. 34, VI e
VII, ou do art. 35, IV, dispensada a
dos Poderes nas unidades da federação. apreciação pelo Congresso Nacional ou
Nesse caso, o ato é discricionário, ou pela Assembléia Legislativa, o decreto

13
limitar-se-á a suspender a execução do C. de 1934 já figurou o controle
ato impugnado, se essa medida bastar concentrado concreto.
ao restabelecimento da normalidade.
§ 4º Cessados os motivos da
intervenção, as autoridades afastadas 8.3.1. Representação interventiva
de seus cargos a estes voltarão, salvo federal (CRFB, 36, III)
impedimento legal.” Legitimação ativa. O único
Controle. A intervenção está legitimado é o Procurador Geral da
sujeita a dois tipos de controle: político República. Ele atua como substituto
(art. 36, §§ 1º e 2º), realizado pelo processual do interesse da sociedade.
Congresso Nacional; e jurisdicional. Parâmetro. Caberá representação
Quando ocorre a requisição do interventiva em relação aos princípios
STF (recusa a observância de Lei constitucionais sensíveis (art. 34, VII)
federal ou dos princípios sensíveis), ou, então, recusa à execução de Lei
como o judiciário já fez o controle, não Federal.
é feito novo controle pelo Poder Decisão. A decisão prolatada pelo
Legislativo. STF tem natureza político
O controle jurisdicional está administrativa. Este é o entendimento
previsto no art. 36, I a III. Não é um do próprio STF, cf. AI 343461-AGR.
controle do mérito da intervenção – o Se o STF der provimento à
Poder Judiciário não pode substituir o representação interventiva, o Presidente
Executivo –, mas pode analisar a da República estará obrigado a realizar
presença de alguns requisitos (v. g., se a intervenção.
tratar de intervenção solicitada pelo Efeitos. Art. 11 da Lei n.
Legislativo ou pelo Executivo, ou se for 12562/2011.
uma hipótese de intervenção requisitada Não cabe ação rescisória nestas
pelo Judiciário, pode o próprio poder representações interventiva, e as
Judiciário analisar se esses requisitos – decisões são irrecorríveis.
solicitação ou requisição – foram Medida liminar. Historicamente, o
atendidos. É uma análise formal). STF não admitia, mas com a Lei n.
12562/2011 passou a caber liminar na
8.2. Intervenção estadual representação interventiva.
Pressupostos: A decisão deve ser
i) materiais – CRFB, 35; obrigatoriamente observada pelo
ii) formais – autoridade Presidente, sob pena de crime de
competente deixa de ser o PR e passa a responsabilidade.
ser o Governador (art. 36, §§ 1º e 4º). Neste caso, como já se disse, não
há controle político pelo parlamento
8.3. Representação interventiva (CRFB, 36, § 3º).
Gilmar Mendes utiliza o termo
ADI interventiva. Está regulamentada 8.3.2. Representação interventiva
na Lei n. 12.562/2011. Ela foi prevista a estadual
primeira vez na C. de 1934, e trata-se de Sua lógica é a mesma da
uma ação de controle concentrado representação interventiva federal, com
concreto, de competência apenas do as seguintes alterações:
STF, e foi ela que inaugurou o controle - a legitimidade ativa é atribuída
concentrado no Brasil. ao Procurador Geral de Justiça
*Assim o controle concentrado não (autoridade correspondente), cf. STF,
surgiu com a emenda 16/65. Ali surgiu 614 (Somente o Procurador-Geral da
o controle concentrado abstrato, pois na Justiça tem legitimidade para propor
ação direta interventiva por

14
inconstitucionalidade de Lei O poder é uno e indivisível, já que
Municipal.); emana do povo. O que ocorre é a
- a competência é reservada ao separação de órgãos e funções
Tribunal de Justiça; (separação de “poderes”)
- o parâmetro está previsto no art.
35, IV: princípios da constituição 1. Finalidades
estadual, recusa ao cumprimento de lei, A primeira finalidade é limitar o
e recusa ao cumprimento de ordem ou exercício do Poder para garantir a
decisão judicial. liberdade dos indivíduos. Esse tema já
“IV - o Tribunal de Justiça der foi tratada em constitucionalismo, que
provimento a representação para possui duas ideias básicas: limitação do
assegurar a observância de princípios
indicados na Constituição Estadual
Poder e garantia dos direitos. A
[princípios sensíveis repetidos na CE], limitação do Poder, no
ou para prover a execução de lei constitucionalismo, é feita através da
[previsão também simétrica à federal], separação de Poderes, já que no
de ordem ou de decisão judicial. [neste absolutismo o monarca detém todos os
último ponto, acaba sendo mais
abrangente que a previsão da
poderes: legislar, administrar e julgar.
representação interventiva federal]” A separação de poderes é que cria
- decisão: como ela tem natureza o controle recíproco entre os Poderes.
político administrativa, também não Segundo Aristóteles, criador dessa
cabe recurso extraordinário para o STF tripartição de Poderes, desenvolvida
(cf. STF, 637: “Não cabe recurso depois por Montesquieu, através dos
extraordinário contra acórdão de sistemas de freios e contrapesos é que
Tribunal de Justiça que defere pedido se pode alcançar o controle do poder
de intervenção estadual em pelo poder. Todo aquele que detém o
Município.”). poder e não encontra limites tende a
Não cabe, por fim, controle dele abusar, fazendo parte da própria
político pela Assembleia Legislativa natureza do ser humano.
(CRFB, 36, § 3º). Dentro dessa ideia de tripartição
Da mesma forma que no âmbito de poderes, é necessário lembrar que
federal, o Governador está vinculado à exercem funções típicas/próprias e
decisão que deu provimento à atípicas/impróprias. O Poder Legislativo
representação interventiva. Se houve tem duas finalidades típicas, que são
indeferimento, o Governador também legislar e fiscalizar as atividades do
não pode decretar a intervenção. Poder Executivo (Governo e
***** Administração Pública), mas também
exerce funções atípicas, como julgar
(processo de impeachment) e
administrar (férias e licenças a seus
Material de Apoio - Direito servidores, concursos públicos etc.).
Constitucional - Marcelo Novelino - A segunda finalidade é legitimar e
Aula 01 (II).pdf melhorar o desempenho do Poder
Material do Professor - Direito estatal. Está ligado às capacidades
Constitucional - Marcelo Novelino - institucionais (muito citada por alguns
Aula 1 (II)- Complementar.pdf Ministros do STF), já que temos uma
divisão de órgãos que possuem suas
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES expertise para tratar de determinados
temas. Esta capacidade institucional
deve ser levada em consideração
quando o STF vai decidir. Exemplos:

15
uma questão técnica envolvendo uma
regulamentação da aviação civil, de Espécies de CPI (federal,
forma que nessas matérias há estadual e municipal).
capacidade institucional da ANAC; da
mesma forma, quem tem expetise para 1.1. Comissão parlamentar de inquérito
julgar causas é o Judiciário; e para federal
elaborar leis o Legislativo. Quando um Quanto à formação, podem ser
juiz vai dar uma decisão isso deve ser exclusivas (da CD ou do SF) ou mistas
levado em conta, pois o conhecimento (membros do SF e da CD, que formam
técnico exige uma maior deferência. uma CPMI – comissão parlamentar
***** mista de inquérito). CRFB, 58, § 1º trata
do princípio da representação
proporcional dos partidos e blocos
partidários:
PODER LEGISLATIVO “§ 1º Na constituição das Mesas e
de cada Comissão, é assegurada, tanto
quanto possível, a representação
proporcional dos partidos ou dos blocos
1) Comissões parlamentares de parlamentares que participam da
inquérito respectiva Casa.”
A CRFB/88 valorizou as A ressalva “tanto quanto
comissões do Congresso Nacional (não possível” é compreensível, já que alguns
só as CPI), basicamente porque: 1) em partidos ou blocos podem não possuir
razão da grande diversidade de matérias número suficiente de membros para que
tratadas pelo CN; 2) necessidade de participem de todas comissões. Nesse
ordem prática, pois é inviável que todos caso, há representação efetiva (presença
os membros do CN tratem de todos os do parlamentar, fazer parte
temas (se assim fosse, o trabalho já pessoalmente), ao invés de
tramitaria bem mais morosamente que o proporcional.
que já acontece).
As CPI possuem três objetivos: 1.1.1. Requisitos
1) ajudar na tarefa legiferante – Tratam-se de normas de
as informações por ela obtida observância obrigatória também para
configuram manancial rico para a Estados e Municípios.
elaboração de leis eficientes, de melhor “§ 3º As comissões parlamentares
qualidade, que consigam de fato atingir de inquérito, que terão poderes de
investigação próprios das autoridades
sua finalidade; judiciais, além de outros previstos nos
2) servir de instrumento de regimentos das respectivas Casas, serão
fiscalização do Governo e da criadas pela Câmara dos Deputados e
Administração Pública – está pelo Senado Federal, em conjunto ou
relacionado à função típica de fiscalizar. separadamente, mediante requerimento
de um terço de seus membros, para a
Uma das maneiras mais eficientes de apuração de fato determinado e por prazo
fiscalizar as atividades do Executivo são certo, sendo suas conclusões, se for o
as próprias CPI; caso, encaminhadas ao Ministério
3) informar a opinião pública – Público, para que promova a
uma frase diz que a CPI são os olhos e responsabilidade civil ou criminal dos
infratores.”
os ouvidos da opinião pública, para que
possa ter o conhecimento mais A) Exige-se a aprovação de no
aprofundado de determinados fatos. Ex.: mínimo 1/3 dos membros, não podendo
CPI dos Correios que depois levou ao as demais esferas modificarem para
Mensalão. mais ou menos este requisito. Na
CPMI, o 1/3 exigido é 1/3 dos

16
membros dos 513 Deputados mais 1/3 C) Prazo certo. Quanto à duração,
dos 81 Senadores, e não 1/3 dos as comissões em geral podem ser
membros do CN. permanentes (=permanece por mais de
Esse requerimento significa que uma legislatura, cf. art. 44, p. ú, período
foi consagrado no Brasil a CPI como de 4 anos coincidente com o mandato
direito das minorias, mesmo adotado dos deputados) ou temporárias (=são
pela C. de Weimar. Existem países que aquelas que se extinguem com fim de
exigem a maioria. seus trabalhos ou do prazo estipulado ou
Há casos em que, muitas vezes, o da legislatura). A comissão temporária
requerimento é feito e, através de não ultrapassa o prazo da legislatura,
pressões, legítimas ou não, o Governo mesmo se tratando de CPI.
consegue a retirada de assinaturas. O Na CD, elas podem durar 120
RICD prevê que esta exigência deve dias, prorrogável pela metade (total 180,
ser examinada no momento do RI, 185, § 3º); no SF o RI não fixa
protocolo do pedido perante a mesa prazo, mas apenas que o prazo a ser
da Casa (MS 26441); O RISF estabelece observado deve ser aquele previsto no
um outro momento para contagem requerimento (RI, 145, § 1º). Tratando-
dessas assinaturas, que permite que os se de uma CPMI, o RICN não fala nada
Senadores retirem a assinatura até a do prazo e assim aplica-se o art. 5º da
meia noite do dia em que o Lei n. 1.579/72, que prevê o fim da CPI
requerimento for lido em plenário. com o fim da sessão legislativa (cf.
B) Apuração de fato determinado. CRFB, 57, que é o período anual).
A CPI não pode ser criada para
investigar fato que não esteja bem 1.1.2) Poderes e limites
definido no requerimento. Tem que ser Embora tenha amplos poderes
uma apuração específica. investigatórios, a CPI tem sua atuação
Deve ser algum fato de interesse limitada pelos direitos e garantias
público, i. é, fato relacionado à gestão individuais.
da coisa pública ou que envolva Natureza dos poderes da CPI: o
dinheiro, bens ou valores públicos. poder da CPI é de caráter instrumental,
Exemplo: repasse de dinheiro público a ou seja, não é um poder autônomo, fim
entidades privadas. em si mesmo, mas meio para se atingir
Além disso o fato deve ser de determinados fins (de ajudar na tarefa
interesse da União ou de interesse geral. legiferante, fiscalização do Governo e
Isso em razão do princípio federativo, da Administração Pública e informar a
não podendo investigar fatos de opinião pública).
interesse exclusivo do Estado ou de um De acordo com a CRFB, a CPI
Município. tem dois tipos de poderes: os previstos
Por fim, a CPI pode investigar no RI (da CD, do SF e do CN) e os
fatos novos e fatos conexos com o próprios de autoridade judicial.
principal. A CPI tem início por um Essa última espécie de poder
requerimento e, se descobrirem fatos decorre da origem portuguesa do
novos ou conexos, basta o aditamento instituto, onde existem os juízos de
da inicial. Em tese, se o fato não for instrução, tratando-se de importação
conexo com o objeto inicial de canhestra ao nosso sistema. Assim, o
apuração, deve ser exigido novo que se deve entender é que, ao
requerimento de 1/3, mas se trata de um investigar, a CPI pode se valer de
juízo político feito no âmbito da Casa poderes próprios de autoridade judicial.
ou do CN. Que medidas, próprias de
autoridade judicial são estas? São

17
apenas poderes instrutórios. A CPI não *Não confundir quebra dos sigilos com
possui o poder geral de cautela. interceptação telefônica. A quebra do
Portanto, CPI não pode: sigilo de dados telefônicos é relativo ao
- formular acusações nem punir registro do histórico das ligações
delitos (cf. MS 23452); telefônica, i. é, pedir os dados
- decretar indisponibilidade de relacionados à conta de um determinado
bens; indivíduo, realizado após o diálogo. A
- prisão; interceptação telefônica só pode ser
- proibição de ausentar-se do País; determinada pelos membros do PJ, já
- arresto, sequestro ou hipoteca que se trata de tema sujeito à cláusula
judiciária. da reserva de jurisdição (cf. MS 23452);
“§ 3º As comissões parlamentares b) busca e apreensão de
de inquérito, que terão poderes de documentos e equipamentos (cf. HC
investigação próprios das autoridades
judiciais, além de outros previstos nos
71039). Neste caso, temos o limite da
regimentos das respectivas Casas, serão inviolabilidade do domicílio, prevista
criadas pela Câmara dos Deputados e no art. 5º, XI, ou seja, a CPI pode
pelo Senado Federal, em conjunto ou determinar a busca e apreensão de
separadamente, mediante requerimento documentos e equipamentos que não
de um terço de seus membros, para a
apuração de fato determinado e por
estejam em domicílio. Se localizados
prazo certo, sendo suas conclusões, se em tais locais reservado, a busca e
for o caso, encaminhadas ao Ministério apreensão só pode ocorrer se houver
Público, para que promova a autorização do morador ou, fora desse
responsabilidade civil ou criminal dos caso, mediante ordem judicial, por
infratores.”
causa também da cláusula de reserva de
Exercício dos poderes próprios de
jurisdição (CRFB, 5º, XI);
autoridade judicial. Para exercer esses
c) condução coercitiva - se a CPI
poderes, ela deve fundamentar o seu
convocar alguém para ir prestar
ato. Um dos poderes mais preciosos é a
depoimento e ela não comparecer, a CPI
quebra de sigilo, devendo fundamentar
pode determinar que ela seja conduzida
seu ato. A fundamentação deve ser:
coercitivamente (para tanto, requisita
i) contemporânea – ou seja, as
força policial).
razões para adoção daquela medida
Existe uma ressalva relacionada
devem ser expostas no momento da
aos Parlamentares na CRFB, 53, § 6º:
deliberação; “§ 6º Os Deputados e Senadores
ii) adequada – isto é, deve possuir não serão obrigados a testemunhar sobre
um suporte fático idôneo, vale dizer, informações recebidas ou prestadas em
deve conter a indicação concreta da razão do exercício do mandato, nem
causa provável. sobre as pessoas que lhes confiaram ou
deles receberam informações. (Redação
Contudo, a fundamentação a ser dada pela Emenda Constitucional nº 35,
trabalhada pela CPI não deve, de 2001)”
necessariamente, atingir o nível de Interessante caso foi o relacionado
precisão e sofisticação típica daquela a condução coercitiva de índio. No HC
realizada pelo Poder Judiciário. 80240 o STF deferiu a medida, de
Alguns dos poderes da CPI: forma que o CN não poderia conduzir
a) quebra dos sigilos bancário, coercitivamente o membro da tribo, pois
fiscal, dados informáticos e dados a forma correta seria a oitiva do índio
telefônicos. Estas informações fazem em seu habitat natural, sob a tutela da
parte da vida privada, ou intimidade do FUNAI.
indivíduo e, por isso, são protegidas Apesar de não se poder furtar ao
(art. 5º, X da CRFB). Por todos, cf. MS comparecimento, há limite no que diz
25688; respeito ao direito a não
18
autoincriminação, cf. art. 5º, LXIII duração. O fato determinado deve ser de
(direito ao silêncio). Cf. HC 100200. competência do Estado, e nunca do
d) realização de exames periciais. Município ou da União.
Há outros limites aos poderes Poderes. São os mesmos da CPI
investigatórios da CPI: federal. Quanto à quebra do sigilo
- já mencionada, a cláusula de bancário, cf. ACO 730.
reserva de jurisdição – inviolabilidade Atenção: a competência para
de domicílio (CRFB, 5º, X); julgar HC e MS impetrado contra
interceptação telefônica (CRFB, 5º, autoridade coatora em CPI estadual é do
XII); prisão (CRFB, 5º, LXIII); e sigilo respectivo Tribunal de Justiça.
imposto a processos judiciais (art. 5º, X
e LX e art. 93; cf. tb. MS 27483 – CPI 1.3. Comissão parlamentar de inquérito
dos grampos); municipal (próxima aula).
*A Lei da CPI acima mencionada, há
previsão de possibilidade de prisão por Material de Apoio - Direito
elas determinadas, mas se trata de Constitucional - Marcelo Novelino -
dispositivo não recepcionado. Aula 02 (II).pdf
- autonomia federativa; Ela pode ser instaurada com base
- separação de Poderes: impede no princípio da simetria. Os requisitos
que um chefe do Poder Executivo seja previstos no art. 58, § 3º são de
obrigado a comparecer para prestar observância obrigatória também no
depoimento (MS 31689). Isso não quer âmbito municipal.
dizer que tais autoridades não possam - requerimento de pelo menos 1/3
ser investigadas, mas apenas que não dos membros;
estão obrigados a comparecer. - para apuração de fato
Atenção: a competência para determinado;
processar e julgar MS e HC contra ato - prazo certo de duração. Não
das CPI é do STF. pode ultrapassar a legislatura em que foi
criada, como qualquer outra comissão
1.2) CPI estadual temporária.
Investigados. O STJ tem um Quanto aos poderes, a CPI
precedente importante que trata desse municipal não os possui como a federal
tema. Ela estava investigando um e a estadual, havendo diferença
membro de TCE, mas a competência substancial. As CPI têm os poderes
para julgá-los em crimes comuns é do previstos nos regimentos internos ou
STJ. Daí se levou ao STJ essa questão, leis orgânicas, bem como os próprios de
se poderiam ser investigadas essas atividade judicial (condução coercitiva,
autoridades em CPI estadual (PET 161– quebra de sigilo, busca e apreensão de
AGR). O entendimento é que CPI documentos e equipamentos). Contudo,
estadual não tem competência para os Municípios não possuem Poder
investigar autoridades com prerrogativa Judiciário e, portanto, não podem as
de foro federal. O que a CPI estadual CPI municipais receber os poderes
não pode fazer a rigor é utilizar de próprios de autoridade judicial, pois isso
poderes próprios de autoridade judicial significaria ampliação de competências
não conferidos ao Poder Judiciário do municipais que não têm previsão no
Estado. texto constitucional. Assim, por não ter,
Requisitos. São os mesmos o Município, nenhum órgão do Poder
daqueles previstos na CRFB, 53, § 3: Judiciário, prevalece o entendimento de
requerimento de 1/3, para apuração de que as CPI municipais não pode ter
fato determinado com prazo certo de poderes próprios de autoridade judicial.

19
No RE 96049 j. 1983, anterior à garantias podem ser suspensas, sendo
CRFB, o STF, trata do tema e está de necessário o voto de 2/3 dos membros
acordo com a doutrina majoritária. No da Casa, em relação a atos praticados
TJMG, houve uma ADI (Município de fora do Parlamento e que sejam
Três Corações), em que a Lei Orgânica incompatíveis com as medidas adotadas
previa a possibilidade de quebra de durante o estado de sítio. Cf. art. 53, §
sigilos, sendo declarado inconstitucional 8º:
pelo Tribunal. “§ 8º As imunidades de
Esse raciocínio é o mesmo Deputados ou Senadores subsistirão
durante o estado de sítio, só podendo ser
relacionado ao entendimento que a CPI suspensas mediante o voto de dois terços
estadual não pode investigar pessoas dos membros da Casa respectiva, nos
com prerrogativa de foro em Tribunais casos de atos praticados fora do recinto
Federais, pois o TJ e o juiz de direito do Congresso Nacional, que sejam
não podem investigar essas autoridades. incompatíveis com a execução da
medida. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 35, de 2001)”
2. Garantias do Poder Legislativo A CRFB não trata do estado de
É o chamado estatuto dos defesa em relação à suspensão das
congressistas, o conjunto de normas imunidades. A regra é a manutenção das
que se aplicam exclusivamente ao Poder imunidades, e a exceção a suspensão
Legislativo com vistas à proteção de sua delas durante o estado de sítio. As
atuação, a liberdade funcional, frente a normas constitucionais de exceção
influências indevidas. Têm por devem ser interpretadas restritivamente,
finalidade assegurar a liberdade de forma que a suspensão aplicável ao
funcional dos parlamentares para caso do estado de sítio, como não houve
garantir a independência do Legislativo. previsão na CRFB, não pode haver
Exemplo: uma das funções típicas do extensão da regra para abarcar o estado
parlamentar é fiscalizar e, se não de defesa. O estado de sítio é mais
possuíssem a imunidade criminal, não grave que o estado de defesa (tanto que
haveria a liberdade de denúncia, por quando o estado de defesa não funciona,
conta do crime de calúnia. pode ser decretado o estado de sítio).
Essas garantias são irrenunciáveis. E quanto aos suplentes? Eles
Elas não são garantias pessoais, mas possuem imunidades e prerrogativa de
institucionais do Poder Legislativo. foro que são aplicáveis ao titular?
Com relação ao afastamento dos Segundo Sepúlveda Pertence, “não
parlamentares, caso estejam exercendo existe senador suplente, deputado
outro cargo, não mantêm a imunidade, suplente, nem vereador suplente. O que
pois não faz sentido alguém que não há é suplente de senador, de deputado e
esteja na função de legislador se de vereador”. Assim, o suplente não é
proteger nas garantias do Poder parlamentar.
Legislativo. A STF, 4 foi cancelada.
Assim, o parlamentar afastado têm 2.1) Senadores e deputados federais
suas imunidades suspensas, mas Há três garantias fundamentais:
permanece com foro por prerrogativa prerrogativa de foro; imunidade
de função. material; e imunidade formal
No estado de defesa e estado de (incoercibilidade pessoal relativa).
sítio (períodos de legalidade
extraordinária), a regra é a manutenção 2.1.1) Prerrogativa de foro
dessas garantias. Mas há uma exceção a CRFB, 53, § 1º c/c 102:
essa regra, para o estado de sítio, “Art. 53. (...)
durante o qual excepcionalmente essas

20
§ 1º Os Deputados e Senadores, julgar as ações quando ocorre alguma
desde a expedição do diploma, serão das três situações acima:
submetidos a julgamento perante o
Supremo Tribunal Federal. (Redação
1) quando o julgamento já tiver
dada pela Emenda Constitucional nº 35, sido iniciado pelo STF (INQ 2295);
de 2001)” *O contrário não acontece. Se houve a
“Art. 102. Compete ao Supremo diplomação quando o processo já estava
Tribunal Federal, precipuamente, a sendo julgado na instância originária,
guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar
não ocorre prorrogação da competência,
(...) e o processo é imediatamente enviado
b) nas infrações penais comuns, ao STF (cf. AP 634). Cuidado, pois o
o Presidente da República, o Vice- professor fez a anotação sobre a
Presidente, os membros do Congresso divergência entre a ementa e o que
Nacional, seus próprios Ministros e o
Procurador-Geral da República;”
constava do informativo onde constou o
A prerrogativa de foro não é para resumo desse caso.
toda e qualquer causa, mas apenas para 2) nos casos de “abuso de direito”.
causas penais. Exemplo: improbidade É a renúncia com o nítido propósito de
administrativa não é julgada pelo STF. afastar a competência do STF. O caso
Bem assim causas tributárias, cíveis etc. emblemático foi a AP 396.
Cf. PET 3067. Exceção da verdade. Hipótese
A expressão “infrações penais prevista no crime de calúnia em que o
comuns” abrange os crimes em geral réu pode comprovar que aquilo que está
(inclusive crimes dolosos contra a vida, imputando é um fato verdadeiro. A
delitos eleitorais e as contravenções exceção da verdade é de competência
penais), cf. RCL 511. Nos crimes do mesmo juiz competente para julgar o
dolosos contra a vida, a competência do processo de calúnia. Contudo, quando a
STF prevalece porque se trata de uma exceção da verdade é oposta contra
norma especial em face da geral. alguém que tem prerrogativa de foro,
Em relação aos inquéritos em tese o STF deveria julgá-la. No
policiais, segundo o STF (na PET 3825- entanto, como isso demanda uma
QO), NÃO PODEM SER dilação probatória, o STF adota um
INSTAURADOS DE OFÍCIO PELA entendimento diferente. A exceção da
POLÍCIA FEDERAL. É necessária a verdade oposta contra autoridade com
iniciativa do Procurador Geral da prerrogativa de foro no STF é apenas
República sob a supervisão do Ministro julgada por este tribunal. A
relator do STF. Não é necessária a admissibilidade e o processamento são
autorização prévia da respectiva Casa. de competência da instância ordinária.
Esta prerrogativa de foro começa O STF assim o faz para evitar a dilação
a partir da diplomação. Ou seja, ocorre probatória (AP 602).
antes da posse. Esta prerrogativa de foro Desmembramento. Quando há
termina com o mandato, ou seja, com o inquérito policial ou ação penal, a regra
fim da legislatura ou, se for cassado é que aqueles investigados/réus que não
antes, com a cassação ou, ainda, se possuem foro especial sofram o
renunciar, com a renúncia. Os processos desmembramento. Contudo, há
que estavam no STF são enviados à exceção: nos casos em que os fatos
instância ordinária (se já estava em relevantes estejam de tal forma
trâmite antes da diplomação, é relacionados que o julgamento em
devolvido para o mesmo juízo). separado possa causar prejuízo à
Contudo, há duas hipóteses em prestação jurisdicional (cf. INQ 3515-
que o STF continua competente para AGR). Segundo a STF, 704, mesmo nos
casos de conexão e continência, não é

21
necessário o desmembramento: “Não entendiam que não é típico, outros
viola as garantias do juiz natural, da entendem que não é ilícito, outros que
ampla defesa e do devido processo não é culpável). No INQ 2273 e na
legal a atração por continência ou PET 4934 o STF considera como
conexão do processo do co-réu ao foro sendo causa excludente de tipicidade.
por prerrogativa de função de um dos No AI 401600, o STF entendeu
denunciados.” que o veículo de informação (jornal,
revista), i. é, o fato coberto pela
2.1.2. Imunidade material inviolabilidade e divulgado pela
Em inglês é utilizada a expressão imprensa também impede a
freedom of speach que em tradução responsabilização do meio de
literal seria liberdade da palavra, comunicação. Ou seja, não seria justo o
liberdade de discurso. parlamentar ter o direito de realizar as
Na CRFB o termo utilizado para denúncias e elas não poderem ser
identificar a imunidade material é a repercutidas à opinião publica sem
inviolabilidade. intermediação da imprensa.
“Art. 53. Os Deputados e Se, durante uma CPI, uma
Senadores são invioláveis, civil e testemunha ou informante rebate uma
penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos. (Redação
acusação de um Deputado (que tem
dada pela Emenda Constitucional nº 35, imunidade), no calor de uma discussão
de 2001)” dessas? Segundo o STF (INQ 1247),
Contudo, apesar de a própria entende-se que a resposta imediata à
CRFB não o fazer, a jurisprudência do injúria perpetrada por parlamentar e
STF passou a diferenciar as opiniões, acobertada pela inviolabilidade também
palavras e votos proferidas no deve ficar imune.
Parlamento ou fora dele. Quando
proferidos fora do recinto parlamentar, 2.1. Imunidade formal
devem guardar conexão com o cargo; Conhecida com freedom from
quando proferidos dentro do arrest, que seria “liberdade em relação à
Parlamento, independem de conexão, prisão”. Também costuma ser
sendo que eventuais abusos devem ser denominada na jurisprudência do STF
coibidos pela respectiva Casa. de incoercibilidade pessoal relativa.
Apesar da CRFB tratar apenas da Segundo a STF, 245, “A
inviolabilidade civil e criminal, parte da imunidade parlamentar não se estende
doutrina também entende que há ao co-réu sem essa prerrogativa”. Ela
inviolabilidade no âmbito não tem sentido em relação à imunidade
administrativo e político. material, porque esta é causa excludente
A CRFB não diz se o início da de tipicidade, de forma que o
inviolabilidade é desde a posse ou desde parlamentar não pode ser réu. Assim,
a expedição do diploma. Embora não essa súmula se aplica penas à imunidade
haja previsão expressa, não há qualquer formal ou incoercibilidade pessoal
justificativa para diferencia-la do início relativa.
da prerrogativa de foro, que se dá pela A imunidade formal pode ser de
expedição do diploma. Mas há duas espécies:
divergências sobre esse tema, e ainda i) em relação à prisão (art. 53, §
não há manifestação do STF sobre essa 2º);
situação. “§ 2º Desde a expedição do
Há divergência da natureza da diploma, os membros do Congresso
Nacional não poderão ser presos, salvo
imunidade material segundo os em flagrante de crime inafiançável.
autores de processo penal (alguns Nesse caso, os autos serão remetidos

22
dentro de vinte e quatro horas à Casa Mesa recebe a solicitação do partido
respectiva, para que, pelo voto da político, em 45 dias deve ser votada a
maioria de seus membros, resolva sobre
a prisão. (Redação dada pela Emenda
proposta de suspensão do processo, que
Constitucional nº 35, de 2001)” deve se dar pela maioria absoluta.
A prisão de que trata o dispositivo Admitida a suspensão do processo,
é a prisão penal cautelar. A prisão suspende-se também a contagem da
decorrente de condenação definitiva não prescrição.
pode ser suspensa pela respectiva Casa. “Art. 53 (...)
§ 3º Recebida a denúncia contra o
*No caso do Senador Delcídio do Senador ou Deputado, por crime
Amaral se configurou uma situação de ocorrido após a diplomação, o Supremo
derrotabilidade da regra para aplicação Tribunal Federal dará ciência à Casa
de outros princípios constitucionais, respectiva, que, por iniciativa de partido
dada a circunstância especial de extrema político nela representado e pelo voto da
maioria de seus membros, poderá, até a
gravidade. Em circunstâncias normais a decisão final [ou seja, se houver a
regra não pode ser suplantada pelo condenação, não pode haver sustação da
princípio, tendo em vista que a própria execução], sustar o andamento da ação.
regra é a consolidação de diversos (Redação dada pela Emenda
princípios. Constitucional nº 35, de 2001)
§ 4º O pedido de sustação será
Quanto à prisão civil, no caso de apreciado pela Casa respectiva no prazo
devedor de alimentos, temos uma improrrogável de quarenta e cinco dias
grande divergência aberta na doutrina. do seu recebimento pela Mesa Diretora.
Paulo Gustavo Gonet Branco sustenta (Redação dada pela Emenda
que não pode haver a prisão do Constitucional nº 35, de 2001)
§ 5º A sustação do processo
parlamentar. Já Uadi Lamego Bullos suspende a prescrição, enquanto durar
entende justamente o contrário. Cf. STJ, o mandato. (Redação dada pela Emenda
HC 332246 (decisão monocrática), em Constitucional nº 35, de 2001)”
que se admitiu a prisão civil por dívida Se o parlamentar já respondia a
de parlamentar, mas o tema ainda não processos de crimes anteriores à
foi discutido a fundo. diplomação, não é possível a suspensão.
ii) em relação ao processo – esta Caso o parlamentar seja reeleito
imunidade passa a operar apenas após a para a legislatura seguinte àquela em
expedição do diploma. Ela protege o que houve a suspensão pelo crime
parlamentar de ser processado. O cometido no mandato, temos um crime
princípio era o da improcessabilidade anterior à segunda diplomação, de
antes da EC n. 35/2001, exigindo-se forma que não pode haver a suspensão
autorização da Casa respectiva para o no segundo mandato. Cf. AC 700-AGR.
parlamentar ser processado. Gerava-se Segundo o STF, mesmo sem
uma grande impunidade, pois o STF previsão expressa antes da EC 31, já se
dependida dessa autorização. Em 2001 aplicava a suspensão da prescrição.
houve uma reforma nesta parte,
substituindo a improcessabilidade pelo Material de Apoio - Direito
princípio da processabilidade. Constitucional - Marcelo Novelino -
Atualmente, o STF recebe a Aula 03 (II).pdf
denúncia e apenas dá ciência à 2.2. Deputados estaduais
respectiva Casa do parlamentar. Se os CRFB, 27, § 1º: as mesmas
membros da Casa entenderem que há garantias atribuídas aos deputados
uma perseguição política, qualquer federais (simetria).
partido político com representação “Art. 27.
naquela Casa pode requerer a suspensão (...)
§ 1º Será de quatro anos o
do processo. A partir do momento que a
mandato dos Deputados Estaduais,

23
aplicando- sê-lhes as regras desta Tribunal do Júri, temos a previsão da
Constituição sobre sistema eleitoral, SV, 45: “A competência constitucional
inviolabilidade [imunidade material],
imunidades [expressão que tem sentido
do Tribunal do Júri prevalece sobre o
amplo, cf. abaixo explicado], foro por prerrogativa de função
remuneração, perda de mandato, licença, estabelecido exclusivamente pela
impedimentos e incorporação às Forças constituição estadual.” Veja, ambas
Armadas.” normas - competência por prerrogativa
Atenção! Segundo o STF, quando de foro quanto aos deputados estaduais
a CRFB se refere a imunidades, ela se e a do Tribunal do Júri – são de mesma
refere tanto à imunidade formal (prisão hierarquia, de forma que utilizamos o
e processo) e também prerrogativa de critério da especialidade (a norma
foro. especial, da competência do STF,
Aos parlamentares estaduais prevalece sobre a competência do
aplicam-se integralmente as regras dos Tribunal do Júri). Por isso é que a
parlamentares federais. As constituições própria súmula ressalva da competência
estaduais não podem ser mais rigorosas, por prerrogativa de foro
nem mais generosas. “exclusivamente” estabelecida pela C.
Até a EC n. 35, vigia a estadual, que não é o casos dos
improcessabilidade, ou seja, era parlamentares estaduais. Assim, por
necessária autorização prévia da Casa estar a prerrogativa de forro dos
respectiva para que o parlamentar fosse deputados estaduais contemplada
processado. Atualmente, não é mais também na CRFB (art. 27, § 1º -
necessária a autorização, mas possível a “imunidades”, em sentido amplo), esta
sustação. Assim, as Constituições prevalece sobre a competência do
estaduais necessitaram ser modificadas, Tribunal do Júri, não se aplicando a SV,
mas a CRFB aplica-se, de regra, integral 45. Daí que os deputados estaduais, em
e imediatamente (=qualquer qualquer tipo de crime, serão julgados
modificação feita na CRFB não é pelos TJ. Atenção! Se o deputado
necessário aguardar a modificação das estadual praticar crimes contra bens,
C. estaduais, de forma que os Estados serviços ou interesses da União, suas
passaram a seguir a nova previsão autarquias, fundações ou empresas
constitucional). públicas federais, a competência será
*A STF, 3 (“A imunidade concedida a dos TRF. E, da mesma forma, se
deputados estaduais é restrita à justiça praticar um crime eleitoral, a
do Estado.”) já esta superada. Isto competência será do TRE.
porque a C. da época de edição da O mesmo tratamento dispensado
súmula não previa a imunidade dos aos deputados estaduais é aplicado aos
deputados estaduais. Então, já é distritais (cf. CRFB, 32, § 3º).
superada, tendo em vista que a própria “§ 3º Aos Deputados Distritais e à
CRFB já ressalva a imunidade dos Câmara Legislativa aplica-se o disposto
parlamentares estaduais. no art. 27..”
Prerrogativa de foro. Embora a
CRFB não preveja quem é o órgão 2.3. Vereadores
competente para julgar parlamentares Cf. CRFB, 29, VIII:
estaduais em caso de prática de crimes, “VIII - inviolabilidade dos
Vereadores por suas opiniões, palavras
as imunidades (em sentido amplo, e votos no exercício do mandato e na
incluindo a prerrogativa de foro) do circunscrição do Município;
parlamentar federal aplicam-se aos (Renumerado do inciso VI, pela Emenda
estaduais. Constitucional nº 1, de 1992)”
Contudo, quanto ao crime doloso A CRFB prevê apenas a
contra a vida, i. é, a competência do inviolabilidade (imunidade material)

24
para os vereadores, não havendo houver a consagração da prerrogativa de
competência por prerrogativa de foro e foro, contudo, ela não pode suplantar a
imunidade formal. competência do Tribunal do Júri para
Além disso, a inviolabilidade é julgar os vereadores nos crimes dolosos
mais restrita que a dos Deputados contra a vida, cf. SV, 45 acima
Federais e Estaduais: no exercício do estudada.
mandado e na circunscrição do
município. O STF tem interpretado esse 3. Perda de mandato
dispositivo de maneira mais restrita: a
imunidade material dos vereadores só é 3.1. Cassação do mandato.
aplicável quando houver conexão entre É decidida (votação) pela maioria
a manifestação do parlamentar e o absoluta dos membros da respectiva
exercício do mandato, Casa (senadores, 41votos; deputados,
independentemente do local (dentro ou 257 votos). Essa votação, com a EC n.
fora do parlamento), que tenha ocorrido 76/2013, deixou de ser secreta, ou seja,
(cf. STF, RE 600063-RG). escrutínio aberto.
Para que as manifestações dos Temos três hipóteses de cassação:
parlamentares municipais tenham i) incompatibilidades – cf. CRFB,
proteção pela imunidade, elas devem 54. Impedem, após a posse ou
ocorrer dentro dos limites territoriais do diplomação, a prática de determinados
Município (JAS, Gilmar Mendes atos pelo eleito, ou o exercício
seguem esse entendimento – cf. HC simultâneo de cargos, empregos ou
74201 –, mas não se trata de tema funções públicos remunerados.
pacífico na doutrina). Essas incompatibilidades não se
Não há previsão de imunidade aplicam aos suplentes (não são
formal na CRFB para os vereadores. parlamentares), mas abrangem os
Mas a C. estadual ou a Lei orgânica parlamentares licenciados, cf. CRFB,
municipal consagrarem imunidade 56.
formal para os vereadores? Segundo o Essas incompatibilidades se
STF, NÃO: a imunidade formal não estendem aos deputados estaduais e
pode ser estendida aos vereadores pelas vereadores (norma de observância
constituições estaduais. Cf. ADI 558, obrigatória pelas C. estaduais e Leis
sobre os vereadores do RJ, declarando- orgânicas municipais). Cf. ADI 2461 e
se inconstitucional o dispositivo da ADI 3208.
Constituição do RJ que previa
imunidade formal para os vereadores. ii) quebra decoro parlamentar – a
Assim como não pode estender a C. CRFB prevê três hipóteses: abuso das
estadual, também não o pode a lei prerrogativas asseguradas aos membros
orgânica do município. do Congresso Nacional; percepção de
Prerrogativa de foro. A CRFB vantagem indevida; nos casos previstos
não trata desse tema. Mas pode a C. no regimento interno.
estadual estabelecer esse tipo de Nestes casos, se estiver
prerrogativa, ou assim como ocorre com licenciado, o parlamentar não perde o
a imunidade formal, ela não poderia vínculo com a Casa e, portanto,
tratar desse tema? Na verdade, a C. praticando um ato incompatível com a
estadual tem certa autonomia para função parlamentar, está sujeito à perda
estabelecer a competência do juízes de do cargo por quebra de decoro. Cf. STF,
direito e dos TJ, e então ela pode, ao MS 25579.
repartir essa competência, estabelecer a Quanto aos atos praticados
prerrogativa de foro. Atenção! Se anteriormente à sua eleição, segundo o

25
STF, MS 23388, o parlamentar ainda I - que infringir qualquer das
pode ter seu mandato caçado. proibições estabelecidas no artigo
anterior;
II - cujo procedimento for
iii) condenação criminal – após a declarado incompatível com o decoro
condenação criminal, a perda do parlamentar;
mandato não e automática, sendo ainda (...)
necessária uma decisão da Casa VI - que sofrer condenação
criminal em sentença transitada em
respectiva. Apesar de parecer ser uma julgado.
previsão paradoxal, tem razão de ser e § 1º - É incompatível com o
consta da Constituição (exemplo: em decoro parlamentar, além dos casos
algumas condenações, não seria definidos no regimento interno, o
razoável a perda do mandato, além do abuso das prerrogativas asseguradas a
membro do Congresso Nacional ou a
que pode ser verificada pela Casa percepção de vantagens indevidas.
respectiva a existência de algum § 2º Nos casos dos incisos I, II e
processo de perseguição política, VI, a perda do mandato será decidida
fazendo-se valer a independência dos pela Câmara dos Deputados ou pelo
Poderes). Cf. AP 565/RO. Senado Federal, por voto secreto e
maioria absoluta, mediante provocação
Esta regra vale para os deputados
da respectiva Mesa ou de partido
estaduais (CRFB, 27, § 1º), mas não se político representado no Congresso
aplica aos vereadores (cf. STF, SL 864). Nacional, assegurada ampla defesa.
“Art. 54. Os Deputados e § 2º Nos casos dos incisos I, II e
Senadores não poderão: VI, a perda do mandato será decidida
I - desde a expedição do pela Câmara dos Deputados ou pelo
diploma: Senado Federal, por maioria absoluta,
a) firmar ou manter contrato mediante provocação da respectiva
com pessoa jurídica de direito público, Mesa ou de partido político
autarquia, empresa pública, sociedade representado no Congresso Nacional,
de economia mista ou empresa assegurada ampla defesa. (Redação
concessionária de serviço público, dada pela Emenda Constitucional nº
salvo quando o contrato obedecer a 76, de 2013)
cláusulas uniformes; (...)”
b) aceitar ou exercer cargo,
função ou emprego remunerado,
3.2. Extinção do mandato
inclusive os de que sejam demissíveis
"ad nutum", nas entidades constantes Nesse caso não há decisão, mas
da alínea anterior; mera declaração da extinção, ou seja,
II - desde a posse: ocorrendo a hipótese prevista na CRFB,
a) ser proprietários, há obrigação de que seja declarada pela
controladores ou diretores de empresa Casa respectiva.
que goze de favor decorrente de
contrato com pessoa jurídica de direito A declaração pode ser feita de
público, ou nela exercer função ofício, pela mesa, ou através de
remunerada; provocação. É uma ato vinculado. São
b) ocupar cargo ou função de três hipóteses, cf. CRFB, 56, § 3º:
que sejam demissíveis "ad nutum", nas “III - que deixar de comparecer,
entidades referidas no inciso I, "a"; em cada sessão legislativa, à terça parte
c) patrocinar causa em que seja das sessões ordinárias da Casa a que
interessada qualquer das entidades a pertencer, salvo licença ou missão por
que se refere o inciso I, "a"; esta autorizada;
d) ser titulares de mais de um IV - que perder ou tiver suspensos
cargo ou mandato público eletivo. os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça
Art. 55. Perderá o mandato o Eleitoral, nos casos previstos nesta
Deputado ou Senador: Constituição;
(...)

26
§ 3º Nos casos previstos nos
incisos III a V, a perda será declarada
pela Mesa da Casa respectiva, de ofício
ou mediante provocação de qualquer de
1. Aspectos introdutórios
seus membros, ou de partido político - conceito. É o conjunto de
representado no Congresso Nacional, normas que regulam a produção dos
assegurada ampla defesa.” atos normativos primários. Normas que
i) perda ou suspensão dos direitos tratam da produção de outras normas.
políticos – cf. CRFB, 56, § 3º: - atos normativos primários, termo
*Este dispositivo foi utilizado por kelseniano, significa aquele que possui
alguns Ministros vencidos do STF sobre fundamento de validade imediato na
os efeitos da condenação criminal com Constituição. Já os atos normativos
trânsito em julgado, pois se no caso da secundários são os que tem seu
perda ou suspensão dos direitos fundamento de validade em atos
políticos há mera declaração, a normativos primários.
condenação criminal também gera a - Objeto. CRFB, 59:
suspensão dos direitos políticos, de “SEÇÃO VIII
forma que não seria caso de decisão da DO PROCESSO LEGISLATIVO
respectiva Casa, mas mera declaração SUBSEÇÃO I
DISPOSIÇÃO GERAL
da perda do mandato. O problema deste Art. 59. O processo legislativo
argumento é que há previsão clara da compreende a elaboração de:
CRFB no caso de condenação criminal I - emendas à Constituição;
definitiva. O conflito aparente de II - leis complementares;
normas, então, deverá ser resolvido pelo III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
critério da especialidade. V - medidas provisórias;
ii) em caso de decisão da Justiça VI - decretos legislativos
Eleitoral decretando a perda do [Congresso Nacional];
mandato; VII – resoluções [do Congresso
iii) não comparecimento a pelo Nacional, do Senado Federal ou Câmara
dos Deputados. Este dispositivo não se
menos 1/3 das cessões ordinárias. refere às resoluções de Tribunais, CNJ e
CNMP, mas sim nos regimentos internos
Tanto no caso de cassação, quanto de cada um desses órgãos].
no de extinção (ato vinculado), deve Parágrafo único. Lei
assegurar-se ao parlamentar a ampla complementar disporá sobre a
elaboração, redação, alteração e
defesa. O STF não pode entrar no consolidação das leis.”
mérito, mas as questões formais Em relação às medidas
relativas ao procedimento é plenamente provisórias, há uma ressalva, tendo em
possível. vista que elas são editadas diretamente
Se o parlamentar renunciar, não pelo Presidente da República. O
haverá suspensão do processo, cf. art. processo que existe é de conversão da
55, § 4º: MP em lei. JAS é bastante crítico a essa
“§ 4º A renúncia de parlamentar
submetido a processo que vise ou possa previsão.
levar à perda do mandato, nos termos - Princípios e regras básicos. São
deste artigo, terá seus efeitos suspensos de observância obrigatória pelos
até as deliberações finais de que tratam Estados e Municípios.
os §§ 2º e 3º. (Incluído pela Emenda - Os parlamentares têm o direito
Constitucional de Revisão nº 6, de
1994)” público subjetivo ao devido processo
***** legislativo constitucional (já visto em
controle preventivo judicial, quando um
parlamentar impetra um MS com base
PROCESSO LEGISLATIVO em seu direito líquido e certo ao devido

27
processo legislativo constitucional). Senado Federal não se manifestarem,
Somente parlamentares da Casa onde cada qual, sucessivamente, em até
quarenta e cinco dias, sobre a
tramita o projeto de lei têm esse direito. proposição, será esta incluída na ordem
Para que o MS possa ser impetrado, do dia, sobrestando-se a deliberação
deve ser com base em uma regra quanto aos demais assuntos, para que se
prevista na CRFB, não se admitindo ultime a votação.
regra prevista em regimento interno. O § 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara
dos Deputados e o Senado Federal não se
exemplo clássico é a proposta de manifestarem sobre a proposição, cada
emenda à C. que viole o art. 60, § 4º, qual sucessivamente, em até quarenta e
que prevê “não será objeto de cinco dias, sobrestar-se-ão todas as
deliberação”. demais deliberações legislativas da
- Quanto à forma de organização respectiva Casa, com exceção das que
tenham prazo constitucional
política, o processo legislativo é indireto determinado, até que se ultime a
ou representativo. Indireto, porque os votação. (Redação dada pela Emenda
parlamentares tem ampla liberdade para Constitucional nº 32, de 2001)
votar o tema, mesmo que o eleitorado § 3º A apreciação das emendas do
seja contrário. Senado Federal pela Câmara dos
Deputados far-se-á no prazo de dez dias,
observado quanto ao mais o disposto no
2. Espécies de processos legislativos parágrafo anterior.
§ 4º Os prazos do § 2º não correm
2.1. Processo legislativo ordinário nos períodos de recesso do Congresso
Nada mais é do que o processo Nacional, nem se aplicam aos projetos de
código.”
legislativo de criação das leis ordinárias,
que é a base do processo legislativo, i. Só existe processo legislativo
é, sua regra geral. sumário se o Presidente da República
tomar essa iniciativa (pedido de
2.2. Processo legislativo sumário urgência). O projeto de lei deve ter sido
CRFB, 64. O procedimento é iniciado por ele, PR.
basicamente o mesmo, mas no sumário Quando pede urgência, a CD deve
os prazos são menores, sob pena de apreciar o projeto em 45, sob pena de
trancar a pauta do Congresso. ser trancada a pauta.
Só não tranca a pauta para
2.3. Processos legislativos especiais deliberação de medidas provisórias e
Propostas de emenda à C., outras espécies legislativas que tenham
projetos de lei complementar, projetos prazo constitucionalmente previsto.
de lei delegada, projetos de decretos Chegando ao Senado este tem 45
legislativos, projetos de resoluções, dias para apreciar o projeto de lei com
projeto de conversão da medida solicitação de urgência, sob pena de
provisória em lei. trancamento da pauta.
Em caso de emendas ao projeto de
Processo legislativo sumário. lei, o projeto deve voltar à Câmara dos
“Art. 64. A discussão e votação Deputados, onde deve ser novamente
dos projetos de lei de iniciativa do apreciado em dez dias, sob pena de
Presidente da República, do Supremo novamente trancar a pauta.
Tribunal Federal e dos Tribunais Em duas hipóteses esses prazos
Superiores terão início na Câmara dos
não se aplicam: nos projetos de Código,
Deputados.
§ 1º - O Presidente da República nem em períodos de recesso do
poderá solicitar urgência para Congresso Nacional.
apreciação de projetos de sua iniciativa.
§ 2º Se, no caso do parágrafo 3. Fases do processo legislativo
anterior, a Câmara dos Deputados e o

28
O processo legislativo possui três atualmente não se entende mais haver
fases: introdutória (iniciativa), superioridade das leis complementares,
constitutiva (deliberação e aprovação), e mas apenas campos específicos,
a complementar. matérias reservadas. Assim, tanto STF
(RE 377457), quanto o STJ, entendem
3.1. Fase introdutória não haver hierarquia entre leis
Existem dois tipos de iniciativa: complementares e leis ordinárias, as
comum ou geral ou concorrente, e quais possuem campos materiais
reservada ou exclusiva ou privativa. distintos;
i) iniciativa comum, geral ou - diferenças: 1) as matérias que
concorrente – aquela atribuída a mais de cada uma delas pode tratar, pois a LC só
um legitimado. Trata-se da regra geral pode tratar de matérias reservadas pela
da iniciativa. V. g., normas de direito C. (apenas quando ocorre a expressão
tributário são de iniciativa comum, tanto “complementar”. A expressão
do Poder Executivo quanto do “específica” repele qualquer outro
Legislativo; assunto, não se confundindo com
ii) iniciativa reservada ou “complementar”); a lei ordinária possui
exclusiva ou privativa – esta iniciativa é competência residual; 2) quanto ao
a exceção e estabelecida de modo quórum de aprovação, tendo em vista
taxativo, numeros clausus. Não podem que, se para a lei complementar exige-se
ser ampliadas por lei, muito menos o maioria absoluta, para lei ordinária
intérprete. Exemplo: matérias apenas maioria simples (=relativa).
orçamentárias, de iniciativa exclusiva Assim, tanto LC quanto LO possuem o
do PR (CRFB, 165); art. 61, § 1º - mesmo quórum (maioria absoluta).
iniciativa exclusiva do PR, que nos Veja, o quórum de aprovação é que é
âmbitos Estadual e Municipal devem diferente: para lei complementar,
ser atribuídas ao Governador e ao maioria absoluta (art. 69); para lei
Prefeito; art. 51, IV – iniciativa da ordinária, maioria simples (art. 47).
Câmara; art. 52, XIII – iniciativa do “Art. 69. As leis complementares
Senado Federal; artigos 93 e 96, II, “b” serão aprovadas por maioria absoluta.”
e 99, § 2º – iniciativa dos Tribunais; e “Art. 47. Salvo disposição
art. 127, § 2º – iniciativa do Procurador constitucional em contrário, as
Geral da República. deliberações de cada Casa e de suas
Comissões serão tomadas por maioria
dos votos, presente a maioria absoluta de
seus membros.”
Material de Apoio - Direito
Constitucional - Marcelo Novelino -
Aula 04 (II).pdf
(...)
Comparação entre leis ordinárias
e complementares.
- pontos em comum: 1)
legitimados para a iniciativa, cf. CRFB,
61; 2) hierarquia, tendo em vista que
- Legitimação:
Quadro para memorização:
P.E. P.L. P.J. MP Outros
LO/L PR Qq membro ou STF e P.G.R Cidadãos – 1% do
C comissão da CD Tribunais eleitorado nacional
Art. 61 ou do SF ou do Superiores dividos em pelos menos
CN cinco Estados, com pelo

29
menos 3/10 dos eleitores
de cada um deles.
EC
Art. 1/3 dos membros Não tem Não tem
PR Não existe previsão.
60, I a da CD ou do SF legitimidade legitimidade
III

Quanto à iniciativa popular d) organização do Ministério


implícita para emendas constitucionais, Público e da Defensoria Pública da
União, bem como normas gerais para a
temos dois entendimentos: 1º) por ser o organização do Ministério Público e da
art. 60 uma exceção à regra geral do art. Defensoria Pública dos Estados, do
61, a interpretação deve ser restritiva, de Distrito Federal e dos Territórios;
modo a excluir a iniciativa popular (tido e) criação, estruturação e
com o entendimento majoritário dentre atribuições dos Ministérios e órgãos da
administração pública;
os autores que tratam do tema); 2º) para e) criação e extinção de
JAS, deve ser feita uma interpretação Ministérios e órgãos da administração
sistemática da C., a fim de que o pública, observado o disposto no art. 84,
disposto no art. 61, § 2º seja aplicado VI; (Redação dada pela Emenda
por analogia às propostas de Emenda à Constitucional nº 32, de 2001)
f) militares das Forças Armadas,
Constituição (entendimento isolado). seu regime jurídico, provimento de
“SUBSEÇÃO III
cargos, promoções, estabilidade,
DAS LEIS
remuneração, reforma e transferência
Art. 61. A iniciativa das leis
para a reserva. (Incluída pela
complementares e ordinárias cabe a
Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
qualquer membro ou Comissão da
§ 2º A iniciativa popular pode
Câmara dos Deputados, do Senado
ser exercida pela apresentação à Câmara
Federal ou do Congresso Nacional, ao
dos Deputados de projeto de lei subscrito
Presidente da República, ao Supremo
por, no mínimo, um por cento do
Tribunal Federal, aos Tribunais
eleitorado nacional, distribuído pelo
Superiores, ao Procurador-Geral da
menos por cinco Estados, com não
República e aos cidadãos, na forma e nos
menos de três décimos por cento dos
casos previstos nesta Constituição.
eleitores de cada um deles.”
§ 1º São de iniciativa privativa do
Presidente da República as leis que:
I - fixem ou modifiquem os Ainda, segundo o STF, o vício de
efetivos das Forças Armadas; iniciativa é insanável, não é suprido
II - disponham sobre: pela sanção do presidente, entendimento
a) criação de cargos, funções ou que passou a trilhar após o advento da
empregos públicos na administração
direta e autárquica ou aumento de sua CRFB. Dessa forma, a STF, 5 está
remuneração; superada (“”).
b) organização administrativa e
judiciária, matéria tributária e 3.2. Fase constitutiva
orçamentária, serviços públicos e pessoal Tem várias etapas:
da administração dos Territórios;
c) servidores públicos da União e i) discussão – primeira fase após
Territórios, seu regime jurídico, apresentação do projeto de Lei. Essa
provimento de cargos, estabilidade e discussão ocorre em dois locais
aposentadoria de civis, reforma e distintos: tanto dentro das comissões
transferência de militares para a (comissão de constituição e Justiça e
inatividade;
c) servidores públicos da União e
nas comissões temáticas – como meio-
Territórios, seu regime jurídico, ambiente, energia, transporte, etc.
provimento de cargos, estabilidade e correspondendo mais ou menos aos
aposentadoria; (Redação dada pela Ministérios); e depois, no Plenário das
Emenda Constitucional nº 18, de 1998) Casas;

30
ii) votação – aqui, temos que - nos projetos de iniciativa
destacar: exclusiva, em dois casos não pode haver
1) o quórum – número mínimo de emenda parlamentar: quando houver
parlamentares que devem estar aumento de despesa em projetos de
presentes para possibilitar a votação, da iniciativa do Presidente da República
maioria absoluta: (salvo leis orçamentárias) e de
“Art. 47. Salvo disposição organização e serviços administrativos
constitucional em contrário, as da Câmara, do Senado, de Tribunais
deliberações de cada Casa e de suas
Comissões serão tomadas por maioria
Federais e do Ministério Público:
dos votos, presente a maioria absoluta de “Art. 63. Não será admitido
seus membros.” aumento da despesa [emendas que não
aumentam despesa podem ser realizadas
Esse quórum é a regra geral (v. g., nesses casos] prevista:
será utilizado para autorização I - nos projetos de iniciativa
delegação de lei ao Presidente da exclusiva do Presidente da República,
República, projeto de conversão de MP ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e §
em lei, aprovação de uma determinada 4º;
II - nos projetos sobre
Resolução, Decreto Legislativo e assim organização dos serviços administrativos
por diante). da Câmara dos Deputados, do Senado
Na Câmara dos Deputados, então, Federal, dos Tribunais Federais e do
é necessária a presença de 257 Ministério Público.”
membros; e no Senado Federal, 41 - existência de pertinência
membros, para que seja possível a temática. Nos projetos de iniciativa
votação. exclusiva, as emendas devem guardar
2) votação pelas comissões - em uma conexão com o conteúdo do
regra, os projetos de Lei, ordinária e projeto de iniciativa exclusiva
complementar, são votados no Plenário. apresentado. São as chamadas caudas
Mas há uma exceção, pois determinados legislativa ou contrabando legislativo.
projetos de Lei podem ser votados na
própria Comissão, não passando pelos iii) aprovação do projeto – possui
Plenários das Casas, cf. art. 58, § 2º, I: um quórum diferente para cada espécie
“SEÇÃO VII de lei: para leis ordinárias, o quórum é
DAS COMISSÕES de maioria relativa, i. é, mais da metade
Art. 58. O Congresso Nacional e dos presentes, o que redundaria, no
suas Casas terão comissões permanentes
e temporárias, constituídas na forma e mínimo, em 129 votos na CD, e 21 no
com as atribuições previstas no SF (art. 47); nas leis complementares,
respectivo regimento ou no ato de que maioria absoluta, i. é, mais da metade
resultar sua criação. dos membros, ou seja, 257 votos na CD,
(...) e 41 no SF (art. 69); nas EC, maioria
§ 2º Às comissões, em razão da
matéria de sua competência, cabe:
qualificada, de 3/5 dos membros, i. é,
I - discutir e votar projeto de lei no mínimo 308 votos na CD, e 48 votos
que dispensar, na forma do regimento, a no SF (art. 60, § 2º);
competência do Plenário, salvo se houver *O termo maioria qualificada é um
recurso de um décimo dos membros da gênero, no qual se incluem todos os
Casa; (...)”
quóruns diferentes da maioria relativa.
3) emendas – mesmo nos projetos
iv) rejeição – em caso de leis
de Lei de iniciativa exclusiva, o Poder
ordinárias e complementares, se a
Legislativo por seus parlamentares
matéria for rejeitada em uma sessão
podem fazer alterações (apresentar
legislativa, só pode ser reapresentada
emendas). Todavia, existem algumas
dentro da mesma sessão (art. 57) se na
restrições:
nova apresentação for por maioria

31
absoluta dos membros, ou da Câmara, ou expressão, desde que não desvirtue o
ou do Senado, cf. art. 67: sentido do que vai permanecer válido.
“Art. 67. A matéria constante de Não confundir as duas situações!
projeto de lei rejeitado somente poderá O veto também pode ser político
constituir objeto de novo projeto, na
mesma sessão legislativa, mediante
ou jurídico. Pode vetar o projeto de lei
proposta da maioria absoluta dos quando o entenda contrário ao interesse
membros de qualquer das Casas do público, quando há análise política do
Congresso Nacional.” projeto de lei, ou quando o entender
Já no caso da emenda à inconstitucional, caso em que estaremos
Constituição, há vedação no art. 60, § diante do veto de natureza jurídica (cf.
5º, a reapresentação dentro da mesma art. 66, § 1º supra).
sessão legislativa: Atenção! O vento, contudo, não é
“§ 5º A matéria constante de absoluto, mas relativo, podendo ser
proposta de emenda rejeitada ou havida
por prejudicada não pode ser objeto de
derrubado pelo CN:
“§ 4º O veto será apreciado em
nova proposta na mesma sessão
sessão conjunta, dentro de trinta dias a
legislativa.”
contar de seu recebimento, só podendo
ser rejeitado pelo voto da maioria
v) sanção e veto – representa a absoluta dos Deputados [ou seja, 257
aquiescência do Presidente da deputados] e Senadores [ou seja, 41
República ao projeto de Lei. Ela pode Senadoras]. (Redação dada pela
ser expressa, caso se manifeste dentro Emenda Constitucional nº 76, de 2013)”
[Sessão conjunta não é o mesmo que
do prazo de quinze dias úteis, sessão unicameral, sendo que o único
contados do recebimento. Se não se caso em que esta foi realizada está
manifestar, o projeto de lei será previsto no art. 3º do ADCT, das
tacitamente sancionado (sanção tácita), emendas de revisão]
cf. art. 66, § 1º e 3º: Com a EC n. 76/2013 acabou a
“Art. 66. A Casa na qual tenha derrubada do veto por voto escrutínio
sido concluída a votação enviará o secreto.
projeto de lei ao Presidente da República,
que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º Se o Presidente da República
3.3. Fase complementar
considerar o projeto, no todo ou em São duas etapas:
parte, inconstitucional ou contrário ao i) promulgação – é o ato do PR
interesse público, vetá-lo-á total ou que atesta a existência da Lei,
parcialmente, no prazo de quinze dias conferindo-lhe executoriedade. Quando
úteis, contados da data do recebimento, e
comunicará, dentro de quarenta e oito
o projeto de lei vem do CN, o PR pode
horas, ao Presidente do Senado Federal vetá-lo ou sancioná-lo. Sancionado ou
os motivos do veto. derrubado o veto, a promulgação atesta
(...) a existência da lei, tornando-a
§ 3º Decorrido o prazo de quinze executável, ainda que não possa ser
dias, o silêncio do Presidente da
República importará sanção.”
obrigatória, face a ausência de
O veto e a sanção podem ser total publicação. Geralmente, o PR sanciona,
ou parcial. Não existe veto tácito, só promulga e publica no DOU no mesmo
existe o veto expresso. momento.
Quanto ao veto parcial, a previsão Se o projeto de Lei foi vetado,
o art. 66, § 2º: mas este foi derrubado, ou quando
“§ 2º O veto parcial somente ocorre a sanção tácita, a promulgação
abrangerá texto integral de artigo, de ainda sim cabe ao PR, dentro do prazo
parágrafo, de inciso ou de alínea” de 48 horas. SE não o fizer, cf. art. 66, §
*A declaração de inconstitucionalidade 7º, caberá ao Presidente do Senado ou
parcial pode incidir sobre uma palavra ao Vice-Presidente do Senado:

32
“§ 7º Se a lei não for promulgada decurso de prazo. (Incluído pela Emenda
dentro de quarenta e oito horas pelo Constitucional nº 32, de 2001)”
Presidente da República, nos casos dos § Atenção! em concursos públicos
3º e § 5º, o Presidente do Senado a não existe muito rigor técnico entre as
promulgará, e, se este não o fizer em
igual prazo, caberá ao Vice-Presidente
expressões “prorrogação” com
do Senado fazê-lo.” “reedição”. O candidato deve prestar
Atenção! No caso de PEC, quem bastante atenção porque talvez a troca
promulga e publica são as Mesas da de um termo por outro não levará à
Câmara dos Deputados e do Senado anulação da questão, devendo ser
Federal, não existindo sanção, cf. art. analisada a assertiva globalmente.
60, § 3º:
“§ 3º A emenda à Constituição será 4.2. Regime de urgência
promulgada pelas Mesas da Câmara dos CRFB, 62, § 6º:
Deputados e do Senado Federal, com o
“§ 6º Se a medida provisória não
respectivo número de ordem.”
for apreciada em até quarenta e cinco
ii) publicação – é o ato que dias contados de sua publicação, entrará
confere obrigatoriedade à Lei, podendo em regime de urgência,
haver o vacatio legis, para que as subseqüentemente, em cada uma das
pessoas possam entrar em contato com a Casas do Congresso Nacional, ficando
lei e tomar conhecimento do seu sobrestadas, até que se ultime a votação,
todas as demais deliberações
conteúdo, reservado a leis de grande legislativas da Casa em que estiver
repercussão. tramitando. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 32, de 2001)”
4. Medidas provisórias A MP nessa situação tranca a
pauta do Congresso Nacional, que não
4.1. Prazo de vigência pode mais votar nenhuma outra matéria
Antes da CRFB/88, existia o residual enquanto não votar aquela
decreto-lei, que era editado pelo PR e medida provisória.
não produzia efeitos imediatamente, Michel Temer, quando Presidente
mas apenas após aprovado pelo CN que, da Câmara, adotou um artifício: medida
se não apreciasse em determinado provisória só pode tratar de matéria de
prazo, era considerado tacitamente lei ordinária, matérias residuais; essas
aprovado. matérias só podem ser votadas em
Com a EC n. 32/2001, houve uma sessões ordinárias, pois o CN não vota
grande alteração do regime jurídico das tais matérias em sessões extraordinárias;
medidas provisórias. assim, a MP provisória só tranca a pauta
Atualmente, a MP deve ser de matérias relativas a leis ordinárias,
aprovada em 60 dias. Caso não o seja, é não o fazendo para leis
automaticamente prorrogada por complementares, resoluções e emendas
mais 60 dias (ou seja, não precisa de constitucionais, que não tratam de
pedido de prorrogação, nem ser matérias não residuais, que são votadas
novamente editada). Contudo, não pode em sessões extraordinárias. Essa saída,
ser prorrogada mais de uma vez. na verdade, entra em conflito com o
A prorrogação não se confunde quanto disposto na CRFB, 62, § 6º, mas
com a reedição. A MP pode ser acabou prevalecendo.
reeditada, desde que não seja na mesma
sessão legislativa, cf. CRFB, 62, § 10: 4.2. Trâmite
“§ 10. É vedada a reedição, na 1) análise da MP pela Comissão
mesma sessão legislativa, de medida Mista, formada de deputados e
provisória que tenha sido rejeitada ou
que tenha perdido sua eficácia por senadores, que emitirá um parecer sobre
a mesma;

33
*No julgamento da ADI 4029, o STF o Congresso Nacional disciplinar, por
analisou a falta desse requisito, frente a decreto legislativo, as relações jurídicas
delas decorrentes. (Incluído pela Emenda
uma previsão de delegação dessa Constitucional nº 32, de 2001)”
atividade da Comissão Mista para um “§ 11. Não editado o decreto
parlamentar. O min. Luis Fux entendeu legislativo a que se refere o § 3º até
que o dispositivo é inconstitucional, sessenta dias após a rejeição ou perda de
seguido pela maioria dos demais eficácia de medida provisória, as
relações jurídicas constituídas e
Ministros. Mas o STF foi obrigado a decorrentes de atos praticados durante
modular os efeitos, pois inclusive a MP sua vigência conservar-se-ão por ela
do Bolsa Família possuía o mesmo regidas. (Incluído pela Emenda
vício. Constitucional nº 32, de 2001)”
Depois da Comissão Mista, a
Câmara dos Deputados é sempre a Se o CN não converter, i. é,
iniciadora, que verifica os requisitos rejeitar, a MP, como ficam as relações
constitucionais do art. 60, § 5º estão jurídicas regidas pelas normas da MP,
presentes: tendo em vista que a Lei anterior, que
“§ 5º A deliberação de cada uma regia tais relações jurídicas, teve a
das Casas do Congresso Nacional sobre eficácia suspensa?
o mérito das medidas provisórias A primeira possibilidade é o CN,
dependerá de juízo prévio sobre o dentro do prazo de 60 dias, editar um
atendimento de seus pressupostos
constitucionais. (Incluído pela decreto legislativo, regulamentando
Emenda Constitucional nº 32, de 2001)” como as relações jurídicas ocorridas no
“Art. 62. Em caso de relevância e prazo de vigência da MP. SE não for
urgência, o Presidente da República editado, as medidas continuam sendo
poderá adotar medidas provisórias, com tratadas pela MP. Ou seja, serão dois
força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional. tratamentos: o tratamento na Lei
(Redação dada pela Emenda suspensa, e outro pela MP, o que
Constitucional nº 32, de 2001)” obviamente não é situação muito
Se a CD verificar a presença dos adequada.
requisitos, então aprovam a MP e a Com dito, a MP não revoga a Lei,
enviam para o SF, que também realiza a apenas suspende a sua eficácia. Razão
mesma atividade. pela qual, se a MP for rejeitada, haverá
Uma MP pode ser emendada? um efeito repristinatório tácito em
SIM, tanto na Câmara quanto no relação à lei anterior.
Senado, exigindo-se a pertinência “§ 12. Aprovado projeto de lei de
temática. conversão alterando o texto original da
medida provisória, esta manter-se-á
*Há uma decisão recente do STF que integralmente em vigor até que seja
corroborou a necessidade de pertinência sancionado ou vetado o projeto.
temática. Foi objeto da questão na prova (Incluído pela Emenda Constitucional nº
do MP/GO. 32, de 2001)”
A sanção do PR só é necessária se
houver emenda ao texto da MP. As 4.4. Limitações materiais
alterações feitas por emenda só terão i) direitos fundamentais – direitos
validade após sanção, promulgação e de nacionalidade (“cidadania”) e
publicação, e a MP continua valendo direitos políticos. Já outros direitos
com seu texto original. individuais e sociais podem ser objeto
“§ 3º As medidas provisórias, de medida provisória;
ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 ii) matéria penal e processual
perderão eficácia, desde a edição, se não (penal e civil) – no caso do processo
forem convertidas em lei no prazo de
sessenta dias, prorrogável, nos termos do civil, a questão foram as constantes
§ 7º, uma vez por igual período, devendo medidas provisórias para favorecer a

34
Fazendo Pública (exemplo: prazo em § 2º Medida provisória que
dobro para a ação rescisória; também implique instituição ou majoração de
impostos, exceto os previstos nos arts.
houve uma questão sobre a proteção 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá
contra liminares em desfavor da efeitos no exercício financeiro seguinte
Fazenda Pública). se houver sido convertida em lei até o
No caso da matéria penal, antes da último dia daquele em que foi editada.
EC n. 32/2001, o STF vedava MP sobre (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 32, de 2001)”
norma penal incriminadoras em suas
jurisprudência, mas eram admitidas
outras questões penais; no RE 254818,
imediatamente anterior à EC n.
Material de Apoio - Direito
32/2001, sintetiza tal entendimento.
Constitucional - Marcelo Novelino -
LFG sustenta que matéria penal
Aula 05 (II).pdf
benéfica podem ser tratadas por MP (cf.
RE 768494), sendo ponto de
Material de Apoio - Direito
controvérsia na doutrina, quando a
Constitucional - Marcelo Novelino -
maioria não admite qualquer MP sobre
Aula 06 (II).pdf
matéria penal.
“§ 1º É vedada a edição de
medidas provisórias sobre matéria: Material de Apoio - Direito
(Incluído pela Emenda Constitucional Constitucional - Marcelo Novelino -
nº 32, de 2001) Aula 01 (II) - Online.pdf
I - relativa a: (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
a) nacionalidade, cidadania, PODER JUDICIÁRIO (continuação)
direitos políticos, partidos políticos e
direito eleitoral; (Incluído pela Emenda . Reclamação
Constitucional nº 32, de 2001) Está prevista no art. 103-A, § 3º,
b) direito penal, processual quanto à sumula vinculante, bem como
penal e processual civil; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
no art. 102, I, l, para o STF, e 105, I, f,
c) organização do Poder para o STJ.
Judiciário e do Ministério Público, a O CPC/2015 também tratou do
carreira e a garantia de seus membros; tema nos artigos 988 e seguintes.
(Incluído pela Emenda Constitucional Foi a jurisprudência que deu
nº 32, de 2001)
d) planos plurianuais, diretrizes
origem a este instituto, com base na
orçamentárias, orçamento e créditos teoria implied powers ou poderes
adicionais e suplementares, ressalvado implícitos, i. é, a jurisprudência adotou
o previsto no art. 167, § 3º; o entendimento de que, se a CRFB
(Incluído pela Emenda Constitucional expressamente a autorizava a emitir
nº 32, de 2001)
II - que vise a detenção ou
determinadas decisões, também devem
seqüestro de bens, de poupança popular ser atribuídos os poderes de fazer valer
ou qualquer outro ativo financeiro; aquela decisão. Com a CRFB/88, a
(Incluído pela Emenda Constitucional reclamação foi expressamente prevista.
nº 32, de 2001)
III - reservada a lei
3.1. Natureza jurídica da reclamação
complementar; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 32, de 2001) Sempre foi objeto de muita
IV - já disciplinada em projeto divergência na doutrina.
de lei aprovado pelo Congresso Predominantemente, a visão de Pontes
Nacional e pendente de sanção ou veto de Miranda a reclamação é uma ação
do Presidente da República.
propriamente dita. Não é um recurso.
(Incluído pela Emenda Constitucional
nº 32, de 2001) Ao lado do entendimento de
Pontes de Miranda, na jurisprudência do

35
STF adotou-se a posição de que se trata III - garantir a observância de
de um instituto de natureza processual decisão do Supremo Tribunal Federal em
controle concentrado de
constitucional situado no âmbito do constitucionalidade;
direito de petição (cf. ADI 2212). III – garantir a observância de
Atualmente também se assentou enunciado de súmula vinculante e de
que a reclamação é medida judicial, e decisão do Supremo Tribunal Federal em
não administrativa (como o foi a controle concentrado de
constitucionalidade;(Redação dada pela
correição parcial). Lei nº 13.256, de 2016) [novidades do
CPC]
3.2. Objeto IV - garantir a observância de
A reclamação possui uma dupla enunciado de súmula vinculante e de
função, de ordem jurídico-política: precedente proferido em julgamento de
casos repetitivos ou em incidente de
1) preservar a competência do assunção de competência.
Tribunal (exemplo: na propositura de IV – garantir a observância de
uma ação civil pública com pedido de acórdão proferido em julgamento de
declaração de inconstitucionalidade de incidente de resolução de demandas
lei há usurpação da competência do STF repetitivas ou de incidente de assunção
de competência; (Redação dada pela Lei
para o controle concentrado, cabendo
nº 13.256, de 2016)” [incidentes voltados
reclamação; ou, em um conflito à fixação do significado da norma]
federativo entre a União e um Estado, STF, 734: “Não cabe reclamação
que deve ser resolvido pelo STF, a ação quando já houver transitado em julgado
tiver sido proposta em outro Tribunal; o ato judicial que se alega tenha
em casos de prerrogativa de foro desrespeitado decisão do Supremo
quando um juiz de primeiro grau Tribunal Federal”. Nesse caso, teria
determinada uma medida contra a cabimento ação rescisória, e a
autoridade com tal prerrogativa); reclamação não pode servir de
2) garantir a autoridade de suas sucedâneo nesse caso.
decisões. Aqui, temos duas situações Se a decisão também foi proferida
distintas: antes da decisão do STF, não caberá
a) quando a decisão é prolatada reclamação, ou seja, a decisão judicial
em uma ação de controle concentrado, deve ser posterior à decisão do
tem efeito contra todos; qualquer pessoa Supremo, pois não haverá desrespeito à
que tenha um direito ferido pela decisão do STF quando foi anterior.
inobservância daquilo que foi RCL 644-AGR
assentado, poderá impetrar a Não cabe, também, reclamação
reclamação; com caráter preventivo. Cf. RCL 4058-
b) caso a decisão tenha sido AGR.
proferida em sede de controle A inobservância de súmula
concentrado, apenas a parte naquele comum não dá ensejo o ajuizamento de
processo pode propor a reclamação para reclamação. Esta é, justamente, a
fazer valer o julgado. diferença entre as duas espécies de
No CPC: súmula. CF. RCL 3284-AGR.
“CAPÍTULO IX
A reclamação só cabe, tb., nas
DA RECLAMAÇÃO
Art. 988. Caberá reclamação da hipóteses mencionadas no CPC. Em
parte interessada ou do Ministério casos como julgamento de um RE em
Público para: sede de repercussão geral (que possuem
I - preservar a competência do eficácia obrigatória, ou eficácia
tribunal; [já previsto na CRFB] expansiva) não caberá reclamação. Seria
II - garantir a autoridade das
decisões do tribunal; [tb. já previsto na uma reclamação per saltum, ou seja,
CRFB] não se pode saltar da decisão de juiz de

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primeira instância para a competência § 1º A competência dos tribunais
do STF, pois caberá ao tribunal local será definida na Constituição do Estado,
sendo a lei de organização judiciária de
rever a decisão do juiz de primeiro grau iniciativa do Tribunal de Justiça.
em sede e apelação, sob pena de § 2º Cabe aos Estados a
supressão de instância. Cf. RCL 10793. instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos
3.3. Legitimidade ativa normativos estaduais ou municipais
em face da Constituição Estadual,
Cf. CPC, 988, a legitimidade ativa vedada a atribuição da legitimação
é conferida à parte interessada ou ao para agir a um único órgão.”
Ministério Público, como fiscal da A expressão representação de
ordem Jurídica. inconstitucionalidade é um resquício do
Parte interessada é qualquer texto constitucional revogado pela
cidadão afetado por uma decisão CRFB/88, mas representa a própria ADI
contrária ao entendimento adotado pelo estadual (são expressões equivalentes).
tribunal, em uma ação de controle Esta ADI será criada pelas
abstrato ou em um processo subjetivo constituições estaduais, que deverão
do qual tenha sido parte. observar alguns padrões.

3.4. Competência 4.1. Legitimidade ativa


A CRFB, prevê a competência A CRFB não definiu quem será
para o STF e para o STJ. Todavia, com investido de atribuição para propor ADI
o CPC/2015 essa competência foi estadual. Apenas vedou que seja
ampliada, cf. art. 988, § 1º: atribuía a apenas um agente. Isso
“§ 1º A reclamação pode ser porque a experiência constitucional
proposta perante qualquer tribunal, e seu
julgamento compete ao órgão anterior demonstrou que apenas um
jurisdicional cuja competência se busca legitimado acabava restringindo o
preservar ou cuja autoridade se pretenda controle de constitucionalidade. Sabe-se
garantir.” que no sistema anterior o único órgão
legitimado para agir era o Procurador
3.5. Efeitos Geral da República, amesquinhando o
Art. 992 do CPC: controle de constitucionalidade.
“Art. 992. Julgando procedente a O art. 103 da CRFB deve ser
reclamação, o tribunal cassará a decisão
exorbitante de seu julgado ou observado no âmbito do Estado? A
determinará medida adequada à solução jurisprudência do STF não exige essa
da controvérsia.” simetria, não sendo de observância
Ou seja, há cassação da decisão obrigatória, ou seja, as constituições
reclamada, e a determinação da medida estaduais não precisam ser simétricas
adequada para a solução da quanto à legitimidade. A maioria das
controvérsia, à luz da decisão que serviu Constituição Estaduais é simétrica, mas
como paradigma. isso por liberalidade dos entes estaduais.

4. ADI estadual 4. 2. Competência


Esta prevista no art. 125, § 2º da Apenas o Tribunal de Justiça do
CRFB: respectivo estado tem essa competência.
“SEÇÃO VIII Nem mesmo o STF, já que a c. estadual
DOS TRIBUNAIS não pode estabelecer uma competência
E JUÍZES DOS ESTADOS
Art. 125. Os Estados organizarão
para o STF (cf. ADI 717 e ADI 1669).
sua Justiça, observados os princípios
estabelecidos nesta Constituição. 4.3. Parâmetro

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O parâmetro é apenas a norma pode declarar, de ofício a
constitucional estadual. Não se admite inconstitucionalidade do parâmetro
que a c. estadual preveja como invocado. Veja que é um controle
parâmetro de controle de incidental de ofício realizado dentro de
constitucionalidade a CRFB (ADI 508), um controle concentrado. Dessa decisão
nem lei orgânica municipal (RE cabe RE para o STF, posto que a
175087). Só a Constituição Estadual questão já passou para outro nível,
serve de parâmetro na representação de posto que o parâmetro deixou de ser a
inconstitucionalidade. C. estadual, e resvalou para o parâmetro
Atenção! Nas c. estaduais, temos na CRFB. Assim, trata-se de uma
as normas remissivas, as de questão prejudicial de mérito. Toda vez
observância obrigatória e aquelas de que o TJ vai analisar uma lei estadual
mera repetição. ou municipal, ele deve analisar se o
Norma remissiva é aquela que parâmetro da C. estadual é compatível
faz referência ao conteúdo de outra com a CRFB. Cf. STF, RCL 383526.
norma. Ou seja, ela não tem um
conteúdo próprio. Exemplo: na C. do 4.4. Objeto
Piauí há previsão de que naquele estado É a lei ou ato normativo, estadual
estão assegurados os direitos ou municipal.
fundamentais previstos no art. 5º da Nesse ponto, tudo o que foi
CRFB; no art. 149 da C. da Bahia há estudado para ADI federal, cabe para a
previsão de que o sistema tributário estadual.
daquele estado obedecerá ao sistema Apenas um detalhe: a lei estadual
tributário previsto na CRFB. pode ser objeto de ADI em face da C.
Pode ser proposta uma estadual, bem como da federal.
representação de inconstitucionalidade Caso uma lei estadual tenha sido
tendo como parâmetro uma norma objeto de duas ADI. Uma proposta pelo
remissiva? Sim, cf. STF. PGR perante o STF, e outra pelo PGJ,
A norma de observância perante o TJ. Nesse caso, temos um
obrigatória estabelece um modelo a ser simultaneus processus. Nesse caso, a
obrigatoriamente observado pelos ADI proposta perante o TJ fica suspensa
Estados e Municípios. Elas também aguardando o julgamento do STF.
servem de parâmetro de controle de Se a decisão do STF for
constitucionalidade pelos TJ. improcedente, é possível que a do TJ
As normas de mera repetição, seja procedente? Ou seja, é possível que
aquelas reproduzidas voluntariamente o STF declare uma lei constitucional, e
pelas constituições estaduais. Também que o TJ a repute inconstitucional? Sim,
servem de parâmetro de controle. já que os parâmetros são diferentes.
Assim, todas as normas presentes E o inverso, é possível? O STF
na c. estadual podem ser invocadas dizer que a norma é inconstitucional, e o
como parâmetro de controle de TJ dizer que não é? Nesse caso, não há
constitucionalidade (cf. STF, RCL utilidade em ser compatível com a C.
4375; RCL 4432; RCL 383). estadual, e não com a federal. A ação
Pode ser que, em um determinado que estava tramitando perante o TJ
caso, uma lei municipal seja perde seu objeto.
questionada em face da constituição
estadual. Contudo, na análise do caso, o 4.5. Decisões
TJ percebe que o parâmetro da ADI, i. Toda decisão proferida em
é, a norma presente na C. estadual é que controle abstrato, necessariamente, tem
é inconstitucional. Nesse caso, o TJ

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efeito erga omnes, que lhe é inerente,
não sendo necessário previsão expressa.
No caso do estado da Bahia, em
que havia a previsão de comunicação à
Assembleia Legislativa para realizar
suspensão dos efeitos, essa previsão
passou a ser lida apenas como para dar
publicidade.
Há duas hipóteses de cabimento
de RE para o STF: quando o parâmetro
for inconstitucional, i. é, o próprio
dispositivo da C. estadual é que viola a
C. federal e, declarada incidentalmente
a inconstitucionalidade, cabe o RE.
O segundo caso ocorre quando a
norma da C. estadual invocada como
parâmetro deve ter sido interpretada
contrariamente ao sentido de norma de
observância obrigatória.
Nesses casos, qual o efeito da
decisão proferida pelo STF no RE? São
efeitos erga omnes no âmbito estadual,
na decisão do TJ, enquanto a decisão
tem efeito erga omnes nacional para as
situações de outros estados que
possuam a mesma questão.

4.6. Observações finais


1) ADO no âmbito estadual.
Diversas C. estaduais têm a previsão de
ADO no âmbito estadual. O STF já
declarou constitucional esse tipo de
previsão no âmbito estadual. Cf. RE
148283. (00:9)

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