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Editorial

Caro leitor,
Luciano Lannes
Você sente MEDO? Editor
Aquele que apavora, que perturba, que paralisa, que incomoda, que faz suar,
que inibe, que impede, que atravanca e que não te permite ser quem quer
ser ou ter o que quer ter?
Pois é, bem vindo ao clube dos humanos!
Somos a única espécie no planeta que se pergunta: “Qual o sentido da minha
vida?” e “Qual a vida que vale a pena ser vivida?”.

Assim, nos deparamos com um mar de possibilidades de atuação, de papéis


a serem desempenhados, de opções de ser e estar. Para cada uma destas
possibilidades vamos enfrentar desafios, novos mares, desconhecidos, e
que nossa mente, bem imaginativa, pode povoar com lindas figuras míticas,
um pôr do sol tranquilo ao lado da pessoa amada, ou rechear de monstros,
os mais apavorantes possíveis. E o mais interessante de tudo é que toda esta
cena se passa exclusivamente dentro de nossas mentes.
Pode-se dizer então, que por datrás de toda limitação existe um medo?
Creio que sim.

O medo pode alertar para um risco eminente que nos compromete a


integridade, sendo nosso melhor amigo. Também pode se tornar nosso
maior limitador caso deleguemos a ele, mais poder e autoridade do que
deve ter. Visto assim, parece muito simples então. Re-alocamos o poder
interno, colocamos o medo no seu devido lugar e viveremos uma vida plena.
Bom seria...

Existe uma frase muito famosa que diz “A ação cura o medo”. Será mesmo?
Para discutir e trazer mais luz sobre esta questão convidamos um belo time.
Mônica Teixeira, Renato Ricci, Carlla D’ Zanna e Silvana Rangel. Eles analisam
as múltiplas facetas do medo e o que acontece com ele quando começamos
a agir, quando saimos da paralisia na qual o medo nos atira.

Venha também conhecer Epicuro, um fantástico filósofo que dizia que a vida
é boa quando é prazerosa. Falando nisto, como está sua vida?

Tenha uma excelente leitura,

Luciano Lannes
Editor

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6 Um Outro Olhar - Káritas Ribas
8 Dossiê - Quero agir - medo, medo, medo - Mônica Teixeira
14 Dossiê - Medo - entender antes de agir - Renato Ricci
18 Dossiê - O comportamento transforma a emoção ou a emoção
conduz o comportamento? - Carlla D’Zanna
22 Dossiê - A anatomia do medo - Silvana Rangel
28 Para refletir - Certezas e convicções - Yara Leal de Carvalho
32 Coaching e Filosofia - Epicuro, o coach da simplicidade,
não tem iPods, não precisa de iPads e está feliz com seu aipim...- Marcello Árias Danucalov
38 Eu, Cada Vez Melhor - Presta atenção menino - Carlos Legal
42 Como comecei - Sempre aprendendo com Coaching - Marcia Yokota
44 Para mim foi assim - Natalia Martinez

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Carlla D’ Zanna
Senior Coach
Dossie “A coragem de agir é o medo vencido”
carlazanna@transfromacaoconsultoria.com.br

O comportamento transforma a
emoção ou a emoção conduz o
comportamento?
A ação cura o medo
“Não temos por que esconder nossas emoções. Elas são nossa própria
vida, uma espécie de linguagem na qual expressamos percepções internas
... são fortes, intensas, mas não imutáveis” (Bock,2002).

Para começar farei uma breve bi o convite para escrever este isso mesmo, são as estruturas
introdução com o objetivo úni- artigo a primeira pergunta que do Sistema Límbico (sistema
co de clarificar o que, para mim, me veio a cabeça foi: e o que é das emoções) que conectadas
comportamento e emoção sig- medo? aos circuitos neurais respon-
nificam. dem pelas nossas mais diversas
Comportamento é a forma Medo é uma emoção e como tal emoções. Em especial, a relação
como uma pessoa age frente a constitui um aspecto complexo entre a amígdala (pequena es-
estímulos sociais, sentimentos presente nos seres humanos. trutura em forma de amêndoa,
e necessidades (ou uma combi- Muitas são as teorias e hipóte- responsável pela detecção, ge-
nação entre eles). ses sobre ele, mas meu objetivo ração e manutenção das emo-
Emoção é uma resposta quími- aqui é mais simples, quero ape- ções relacionadas ao medo) e o
ca e neural que estabelece um nas descobrir se somos capa- hipotálamo (pequena e impor-
padrão de comportamento di- zes, através de nossas ações, de tante parte do cérebro ligada
ferente (Damásio, 2000). superar e vencer nossos medos. ao sistema endócrino que atua
sobre o sistema nervoso autô-
Dito isto, compartilharei com Estudando descobri que as nomo e sistema límbico) estão
vocês minhas inquietações e emoções, incluindo o medo, intimamente ligadas às sensa-
descobertas, pois quando rece- são produzidas no cérebro, ções de medo e raiva.

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De acordo com a neurociência, medos: enfrentando-os. curo, medo de um animal, de
medo é uma sensação que pro- Sendo assim, faz todo sentido gente, de multidão, de confli-
porciona um estado de alerta afirmar que: AGIR CURA O MEDO! to, de enriquecer, da fama, da
demonstrado pelo receio de rejeição, de palhaço, de errar,
fazer alguma coisa, geralmente Mas ainda há a segunda e in- do sucesso, de morrer, de não
por se sentir ameaçado, tanto quietante questão que apare- dar conta, das armadilhas da
física quanto psicologicamen- ceu na minha mente: devemos vida, das mentiras, de expres-
te. Complementando, a neu- mesmo nos “curar” de nossos sar sentimentos, da visibili-
rociência afirma que o medo é medos? Afinal, ter medo é algo dade, do poder, dos próprios
uma reação obtida a partir do muito importante e valioso, comportamentos, medo de
contato com algum estimulo provavelmente se não tivésse- sentir medo...
físico ou mental (interpreta- mos medo não sobreviveríamos
ção, imaginação, crença) que a primeira infância. Compreendi que de fato, não
gera uma resposta de alerta O medo nos protege! importa a espécie ou a quali-
ao organismo, que libera hor- Verdade! Entretanto, esse mes- ficação do medo, pois o medo
mônios (adrenalina, cortisol) mo medo que protege, também em si é algo interno a nossa
que preparam o individuo para é capaz de bloquear, de impedir mente, não é algo real ou con-
lutar ou fugir. E a resposta ime- realizações, de nos prejudicar por creto que você possa ver ou
diatamente anterior ao medo é não nos permitir fazer algo, por tocar. Com já foi dito acima,
denominada ansiedade. isso torna-se importante a “cura”. nossos medos são produtos
mentais As pessoas podem
Caramba, e quem hoje em dia Existem muitos tipos de apresentar medos reais, como
não é ansioso??? medo, por isso a terceira, por exemplo, o medo de ser
Então todos somos medrosos? quarta, quinta e mais ques- picado por um animal peço-
Receio que sim, pois o medo é um tões pipocaram como num nhento perigoso ou pode ter
sentimento natural com a qual já carrinho na frente do cine- medos absolutamente intan-
nascemos, pois está atrelado ao ma... De quais medos estamos gíveis, como por exemplo, o
instinto de sobrevivência. falando? Medos racionais ou medo de não ser amado.
irracionais? Será que esse tipo Existem também os medos
Os estudiosos da psique hu- de qualificação está correta? culturais e os medos aprendi-
mana dizem que só existe uma Quais serão os medos que dos, sim você aprende a sentir
forma de ultrapassar nossos nos paralisam? Medo do es- medo.

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Vou contar uma breve história transpirando gelado, como se Queria muito se livrar dessa he-
que ilustra isso: fosse morrer mesmo. Deram a rança e passou a pensar em alter-
Certa vez, trabalhando com ela toda assistência e tiveram nativas que pudessem permitir a
uma coachee, questões de su- que prender os gatos para que ela ressignificar sua relação com
peração, eu pedi que ela lem- a visita inicial pudesse transcor- os esses animaizinhos. Como
brasse de uma situação onde rer. Contudo, sua sogra deixou queria se livrar do seu medo de-
tivesse superado os próprios claro que não faria isso sempre, cidiu agir, fazer algo na direção
limites com sucesso, uma situ- “afinal os gatos eram parte da pretendida e passou a estudar
ação onde tivesse conseguido família”. A pobre passou a ter e ampliar seu conhecimento so-
alcançar o que queria usando o pavor de ir a casa do namorado, bre gatos, seus hábitos, carac-
máximo de seus recursos pes- mas eles se gostavam muito e terísticas e outros. Aos poucos,
soais, uma situação onde en- a convivência seria inevitável. começou a lidar com eles de uma
controu alternativas para ven- Cada vez mais o relacionamento forma diferente. Primeiro confir-
cer seus medos. ficava sério e, cada vez mais ela mando, de maneira racional, a si
Não demorou para ela lembrar queria não sentir aquele pavor, mesma que os gatos não fariam
de uma história muito interes- então foi procurar ajuda espe- mal a ela todas as vezes que se
sante, a qual vou compartilhar cializada, pois nem ao menos sa- encontrava com um, ou seja, pas-
com vocês agora. bia por que sentia tanta repulsa sou a fixar uma nova crença so-
pelos bichanos. Ela jamais havia bre gatos. Depois experimentou
DCZ contou que tinha muito tido nenhum episódio desagra- passar a mão no pelo de um de-
medo de gatos, que chegava dável com algum felino, por isso les e gostou da sensação, então
a ser apavorante estar em um não tinha a menor ideia de onde ela já pensava algo diferente so-
lugar e um gato aparecer. Ela poderia vir aquela sensação. De- bre gatos e passou a sentir algo
conviveu com isso durante sua cidiu buscar ajuda e descobriu diferente também. Foi assim,
infância, adolescência e inicio em um trabalho psicoterapêu- passo a passo, vencendo cada
da vida adulta, até os 22 anos de tico, que seu medo havia sido pequeno e importante desafio,
idade. Disse que quando tinha “herdado” da sua mãe (essa sim que ela passou a se comportar
20 anos ela conheceu um rapaz com pavor de gatos por ter sido de uma maneira diferente. Isso
e começou a namorar, o relacio- atacada por um persa quando permitiu que ela estabelecesse
namento foi ficando cada vez menina). Disse que aprendeu um novo padrão até que passou
mais sólido e eles resolveram a ter medo de gatos ao ver sua a conviver em harmonia com os
envolver suas famílias. No dia mãe passando mal quando se bichanos.
em que ela foi pela primeira vez deparava com um e ouvindo Até hoje ela não é amante de
na casa do rapaz quase morreu sempre que ela, a mãe, odiava gatos, mas o medo apavoran-
de pavor, pois sua futura sogra os gatos, que eles eram animais te foi removido quando ela
possuía oito gatos. Ela passou traiçoeiros, malvados e mais uma decidiu fazer algo na direção
mal, teve taquicardia, ficou série de coisas ruins sobre eles. pretendida.

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Já sei, os mais curiosos devem escolhas colocando foco naqui-
estar se perguntando se ela se lo que desejamos obter (ao in-
casou e ganhou como sogra a vés de iluminar o problema va-
dona dos oito gatos, certo? Sim, mos iluminar as possibilidades
ela se casou e frequenta com de solução) e finalmente agir.
regularidade a casa da sogra.
Creio que acabo de falar de
Essa história ilustra nossa capa- Coaching, afinal nos propo-
cidade de reprogramar nosso mos justamente a apoiar nos-
cérebro para que ele crie novas sos clientes para que ampliem
conexões, e a boa noticia é que, a consciência sobre si mesmos
para identificar, reconhecer e e seu entorno, os desafiamos
enfrentar nossos medos, temos a buscar caminhos alternati-
a nossa disposição um vasto vos que os levem onde pre-
conjunto de alternativas que tendem chegar, incentivamos
nos ajudam a lidar com eles ou que olhem para o futuro ilu-
até removê-los. minando seu pódio pessoal e
estimulamos que se compro-
Entretanto isso significa mudar metam com ações concretas
e a maioria das pessoas tem que solidifiquem o novo pa-
medo do novo e, em geral, ele drão almejado. Acreditamos
está associado a um medo mais que os pensamentos acionam
profundo que é o medo de fra- as emoções e estas, materiali-
cassar. Sendo assim, ao querer zam as ações.
superar um medo podemos nos
deparar com outro ainda maior, Fazer acontecer é a chave mes-
por isso torna-se imperativo o tra da transformação que que-
uso da coragem (cuore –cora- remos ver em nós.
ção + agis – ação) que é, em sua
essência a capacidade do ser E você o que pensa sobre tudo
humano agir em acordo com o isso? Identifique alguns dos
que acredita, em acordo com seus medos, encare-os, enfren-
seus valores. É necessário cora- te-os e não deixe que eles te
gem para dar o primeiro passo. controlem, você é muito maior
Nossos medos podem ser con- e muito mais poderoso do que
trolados e removidos quando seus medos. Estabeleça, agora
além da coragem, também so- mesmo, um compromisso con-
mos autoconfiantes. Um bom sigo, pense numa estratégia e
caminho para isso é a amplia- coloque-a em ação. Acredito
ção da consciência sobre nós e que sua vida irá se tornar muito
do que queremos, é fazer boas mais saborosa.

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