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Material Complementar - Resenha do Livro “Na Raça”

por Maria Luíza Filgueiras extraído do site:


https://tc.com.br/tc-school/livros/livro-na-raca-historia-xp-
investimentos/

Um início difícil
Quando olhamos, hoje, para a XP Investimentos, e vemos uma das maiores
empresas de investimentos do país, oferecendo diversos produtos e serviços
financeiros, talvez não passe pela nossa cabeça que essa empresa quase faliu
diversas vezes, e que começou muito, mas muito pequena.

O nascimento da empresa e os percalços pelos quais passou até chegar aqui são
detalhados pela jornalista Maria Luíza Filgueiras em um livro muito bem escrito, de
leitura simples e cativante.

O livro conta a história da XP, mas também narra muitos momentos importantes da
vida de um dos seus sócios-fundadores, Guilherme Benchimol. Conforme fica claro
na leitura, em muitos momentos a empresa reflete o espírito do seu principal sócio,
sua personalidade, suas características. XP e Guilherme parecem, em muitos
momentos, um só.

A XP Investimentos nasceu em 2001 na cidade de Porto Alegre/RS, muito longe do


epicentro das finanças do país (eixo “Leblon/Faria Lima”) em uma salinha de 25m²,
empregando computadores de segunda mão adquiridos de uma Lan House
chamada Monkey (tanto é que o fundo de tela dos computadores, por muito tempo,
tinha o desenho de um macaco, herança dos tempos de jogos on-line dos PCs). Ou
seja, um jeito não muito glamouroso para se iniciar uma empresa, não é mesmo?
Porém, toda grande empresa, por mais gloriosa que possa ser, seguramente teve
seus dias de xepa, e com a XP não foi diferente.

Atirando para todos os lados: a necessidade de sobrevivência


da XP
Ocorre que, em 2001, o brasileiro ainda não tinha despertado para o mundo do
investimento. A bolsa tinha, aproximadamente, 80 mil CPFs cadastrados, e as
pessoas não sabiam investir.

Essa conjunção de fatores fez com que o início da XP fosse trágico, e nem uma nem
duas vezes a empresa estivesse perto de fechar as portas por dificuldades de
manter suas operações.

Ora, como ganhar dinheiro com investimento se as pessoas não sabem investir?
Era necessário educar financeiramente as pessoas, e foi isso que Guilherme e
Marcelo Maisonnave (o outro sócio fundador da XP) fizeram, no início da empresa,
para manter suas atividades em pé.
Eles criaram cursos sobre investimentos em bolsa de valores e iam panfletar na
frente das faculdades de Porto Alegre divulgando-os. A grana desses cursos
contribuiu para que, no início, a XP não fosse à falência.

Após a entrada de outros sócios na empresa, a XP foi se firmando e expandindo


suas operações, até a criação de uma gestora de recursos. Aqui o livro narra mais
uma história muito legal. Nessa fase inicial, sem analistas e sem equipe para
promover suas próprias análises, a XP copiava as recomendações de uma gestora
chamada Dynamo para replicar na sua carteira, um jeito, digamos, perigoso de
gestão de ativos, não!? É meus amigos, para sobreviver vale tudo.

E assim foi o início da empresa, que até intermediou a venda de vale-refeição para
auferir uma comissãozinha em cima dele, com objetivo de não fechar as portas.
Após muitos percalços, detalhados no livro, a empresa se consolidou no Sul do país,
conseguindo, ao menos, obter uma operação consistente, que garantisse sua
sobrevivência, ainda que a conta-gotas.

A criação do shopping financeiro e a virada de chave


Com o passar do tempo, algumas dificuldades foram deixadas para trás, e novos
desafios foram surgindo. Novos sócios foram chegando, um fundo investiu na XP
dando um bom alívio financeiro para a empresa, que passou a atuar com alguma
segurança.

Porém, a verdadeira virada de chave da XP, conforme narra o livro, foi a decisão de
transformar a empresa em um shopping financeiro, copiando, literalmente, a
atuação da Schwab, uma corretora norte-americana.

Tanto é que a atuação da XP, até hoje, se amolda ao conceito de shopping


financeiro. Ou seja, o CTRL+C CTRL+V que a XP fez na Schwab é que iniciou a
revolução no mercado financeiro brasileiro.

Até então, investir era visto como “coisa de gente rica”. Produtos financeiros hoje
comuns e acessíveis a qualquer pessoa eram um monopólio dos grandes bancos,
com um grau de concentração muito grande. Investimento em ações e produtos de
renda variável era algo inimaginável para o cliente comum. O assunto era tratado
pelos bancões como produtos especializados e para um público muito seleto.

A XP (e outras empresas também) contribuiu (e contribui até hoje) para uma virada
completa nesse cenário, com oferecimento de uma gama de produtos financeiros a
qualquer interessado, o que aumenta o leque de alternativas de investimentos. Essa
maior facilidade no acesso a produtos fez com que mais pessoas se interessassem
pelo assunto, o que proporcionou mais gente produzindo conteúdos sobre
investimentos. Mais pessoas estudando, mais gente se qualificando. Enfim, é um
verdadeiro ciclo virtuoso.

XP: a empresa é o espelho do dono


No livro, ao sermos apresentados à história da XP, conhecemos muito da história
de Guilherme Benchimol pois, como dito, em muitos momentos as histórias se
confundem.

O livro conta um pouco da cultura da empresa no sentido de que seus executivos


não tem reembolso de despesas pessoais, andam de avião em classe executiva,
tem um forte apego à meritocracia, reconhecendo o esforço daqueles que
apresentam os melhores resultados, enfim, a cultura da empresa, apresentada no
livro, está muito relacionada com características pessoais de Benchimol, também
apresentadas ao leitor ao longo da história.

Uma história de empreendedorismo e resiliência


O livro é uma verdadeira aula de empreendedorismo, e reforça o quão importante é
ser resiliente ao fazer qualquer atividade da vida, em especial nos negócios. Nunca
nos será dado nada, cada conquista na vida é árdua, e ser persistente é
fundamental. A história não é construída por aqueles que desistem no meio do
caminho. A história da XP é uma história com esse roteiro. Não faltaram
oportunidades para desistir, para abandonar o projeto e tentar outra coisa.

Porém, como todo bom empreendedor, Benchimol persistiu e tornou a pequena


empresa criada em uma salinha de 25m² em uma gigante brasileira no segmento de
investimentos. Portanto, a XP faz jus ao nome do livro: “Na Raça”.

No próprio livro são apresentados outros casos de empresas com atividades


similares que também ajudam nessa revolução do mercado e que contribuem para
que o brasileiro invista melhor. O nosso querido TradersClub está lá no rol de
empresas inovadoras na área de finanças citada pela autora do livro (vide página
227).

Conclusão
O livro ainda trata de diversas questões legais, como a infância e adolescência de
Guilherme Benchimol, os motivos que o levaram a querer estudar economia, a vida
com os pais separados e alguns conflitos com a figura paterna, os diversos conflitos
com sócios da XP e o “desfazimento do clube dos amigos” com a saída da maioria
deles, a forma como a empresa enfrentou todas as crises desde sua criação, os
aportes financeiros que recebeu, a venda para o Itaú (esta parte é narrada com
riqueza de detalhes!) enfim, não quero dar muitos spoilers, e para o texto não ficar
muito grande vou deixar que tudo isso seja esclarecido por vocês na leitura.

É um ótimo livro, nota 10. Leitura fácil e rápida. Biografias são um dos gêneros
literários que mais gosto, pois sempre aprendemos muito com pessoas que
chegaram lá, que realizaram e que fizeram coisas grandiosas. O livro com a história
da XP e do Benchimol tem muito a nos ensinar. Leitura mais que recomendada. Vale
muito a pena. Boa leitura a todos!

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