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Aos Leitores

Novo número da RAM, o 294.


Fechamos o primeiro semestre do ano com duas publicações apresentadas aos leitores e tal
fato diz muito das expectativas da equipe do Instituto.
Temos como objetivo manter a RAM com sua periodicidade assegurada e esta não é tarefa
corriqueira. Nossos autores são pessoas engajadas em seus campos de atuação, buscando fazer
com que teoria e prática estejam sempre em diálogo de forma ativa e, às vezes, não registrada em
textos. Há intensas experiências em sala de aula e em trabalhos de campo, e a revista do IBAM
é produzida com a perspectiva de buscar fixar metodologias e alternativas de intervenção em
artigos que possam ser instrumentos de troca de informação.
Três são os artigos que integram a publicação atual, girando em torno de temas que
promovem o debate sobre assuntos que interessam aos gestores públicos e à população dos vários
Municípios que acompanham a produção do IBAM.
No primeiro artigo, Bremaeker analisa os efeitos da proposta de reforma tributária em
tramitação no Congresso Nacional sobre as finanças municipais. O texto preparado pelo relator,
focado em dados globais, não passíveis de territorialização, evidencia que a proposta não atende
aos interesses dos Municípios. O artigo ora publicado, então, faz uma leitura crítica do documento
apresentado e poderá subsidiar discussões que instrumentalizem os governos locais na busca de
suas necessidades para bem implementar políticas públicas.
O segundo artigo - Iluminação pública, importante serviço público de interesse local - de
autoria de Carlos Magno Pereira, Luiz Rapini Neto e Roberto Vasques Wood, oferece alternativas
para a execução de projetos de modernização sustentáveis do parque de iluminação pública. A
atualidade do artigo é significativa, pois tem implicações para a melhoria da relação entre receita e
despesa municipais, uma vez que os gastos com iluminação só são superados por aqueles relativos
ao pagamento de pessoal.
O terceiro artigo, elaborado por Rosimere de Souza, aborda o novo sistema de planejamento
da Política de Assistência Social que, agora, observa a interação com as demais políticas sociais.
Traz, também, instrumentos e mecanismos que promovem a integração da Política de Assistência
Social com o planejamento governamental em sentido amplo, remetendo, portanto, à subjacente
discussão sobre o federalismo brasileiro e à distribuição de competências entre os seus entes.
Quanto aos pareceres, para este número foram selecionadas três consultas que, como
sempre, ilustram a gama de temas sobre os quais os Municípios associados ao IBAM trazem
suas dúvidas. Dois deles formulam questões também tratadas nos artigos: consumo energético e
finanças públicas, aqui em associação com a mobilidade urbana. O terceiro parecer versa sobre o
atendimento de saúde ao idoso, sob uma ótica instigante que traz à reflexão os tênues limites da
aplicação da lei para garantir direitos.
Tenham uma boa leitura e até o próximo número.

Revista de Administração Municipal - RAM 2


Índice
04 Os Municípios e a reforma tributária
François E. J. de Bremaeker
11 Iluminação pública, importante serviço público de interesse local
Carlos Magno Pereira, Luiz Rapini Neto, Roberto Vasques Wood
25 O novo sistema de planejamento da Política de Assistência Social
Rosimere de Souza

Pareceres

42 Etiqueta PBE Edifica: um desafio para a promoção de eficiência energética nas edificações
públicas municipais
45 O transporte privado individual por meio de aplicativos e a observância de
princípios constitucionais pelos Municípios na sua regulamentação e fiscalização
52 Impossibilidade de negativa de internação a idoso sem acompanhante. Direito legalmente
assegurado não pode prejudicar seu titular

Expediente
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Lilacs – América Latina e Caribe.

3 Revista de Administração Municipal - RAM


OS MUNICÍPIOS E A REFORMA
TRIBUTÁRIA
François E. J. de Bremaeker*
Resumo: O artigo busca analisar os efeitos da proposta de reforma tributária em tramitação
no Congresso Nacional sobre as finanças municipais. O relator da proposta apresentou dados
globais que não permitem avaliar os efeitos em nível regional e estadual, o que foi realizado no
artigo e que serve de subsídio às discussões entre as entidades municipalistas e os membros
do Congresso. A avaliação feita no artigo é de que a proposta não atende aos interesses dos
Municípios.

Palavras-chave: Reforma tributária; Finanças municipais; Finanças públicas.

O governo federal pretendia discutir e em projeto que tramitava na Casa desde 2015.
aprovar em 2017 uma série de reformas
Em verdade, o teor da presente proposta não
estruturais: previdenciária, trabalhista, política
difere muito daquela apresentada pelo próprio
e tributária. Comentava-se que, se demorassem
relator em 1995.
a ser aprovadas e se estendessem até 2018,
correriam o risco de fracassarem, pois medidas O objetivo do relatório seria ajudar nos
duras não costumam ser tomadas em ano debates da Comissão e nas negociações com
eleitoral. os representantes dos governos federal,
estaduais e municipais, além de empresários e
Aos Municípios, o que interessa mais de
trabalhadores.
perto é a reforma tributária, cuja possibilidade
de tramitação sem grandes traumas no ano A proposta visaria simplificar o sistema
eleitoral é um fato, uma vez que ela é apresentada tributário, acabando com sua regressividade
como uma reforma político-econômica que (os mais pobres pagarem proporcionalmente
atende a anseios da sociedade. mais tributos que os mais ricos), complexidade,
burocracia e excesso de renúncias fiscais.
Em fevereiro do ano passado, um importante
ministro anunciava que a proposta em processo Para facilitar a aprovação do texto, o relator
de elaboração no governo deveria prever um disse que a proposta tem uma regra de ouro: a
aumento da tributação sobre a renda e os ganhos carga tributária não será reduzida para nenhum
de capital, e uma redução da tributação sobre ente nos primeiros cinco anos, que ele chamou
o consumo. Segundo ele, a proposta deveria de “fase de transição”. Durante esta fase, seriam
ser encaminhada ao Congresso Nacional no discutidos os novos critérios de partilha, que
primeiro semestre, mas nada aconteceu ainda.
Em fevereiro, o Portal da Câmara dos
Deputados noticiava que o Deputado Luiz
Carlos Hauly era o relator de uma proposta de * François E. J. de Bremaeker - Bacharel em economia e
bacharel e licenciado em geografia; Gestor do Observatório
reforma tributária que nortearia os trabalhos de Informações Municipais; Consultor de entidades
de uma Comissão Especial. A proposta se baseia municipalistas; Membro do Núcleo de Estudos Urbanos
da Associação Comercial de São Paulo; Presidente do
Conselho Municipal do Ambiente de Paraíba do Sul (RJ).
Endereço eletônico:bremaeker@gmail.com

Revista de Administração Municipal - RAM 4


entrariam em vigor a partir do sexto ano e Com o objetivo de contribuir com o
seriam aplicados gradualmente por 15 ou 20 debate, o Observatório de Informações
anos. Esta é a grande diferença em relação à Municipais produziu dois estudos: um deles
proposta de 1995. analisa a importância do ISS e outro avalia as
transferências do ICMS e do FPM, uma vez que
Segundo o relator, a disputa em torno da
não está bem claro como os Municípios seriam
partilha da arrecadação foi o maior obstáculo
compensados com as alterações propostas.
para a aprovação de reformas no passado. De
fato, todos os entes governamentais eram a Simulações elaboradas pelo Observatório
favor da reforma desde que a sua participação de Informações Municipais dão conta de que
fosse ampliada. A sociedade, e aí diga-se o meio a proposta de reforma tributária é um mau
empresarial, lutou contra a proposta de reforma. negócio para os Municípios, tanto sob o aspecto
Por isso, hoje, se não se fala na redução da carga quantitativo quanto o qualitativo. São utilizados
tributária, fala-se em mudanças que diminuam os dados de 2015 para que sejam comparáveis
o custo das empresas na administração com as simulações agregadas apresentadas a
tributária. partir da proposta de reforma tributária.
O relator propõe a extinção do ICMS Em termos quantitativos, o aporte dos
(estadual), IPI e Cofins (federais), ISS (municipal) outros 50% do IPVA e mais o ITCD nem de
e Salário-Educação (partilhado entre os três longe compensam a perda do ISS. As perdas
entes). Em seu lugar, seriam representam 6,96% da receita
criados dois impostos: um orçamentária municipal na
sobre Valor Agregado (IVA), Região Sudeste; 5,05% no
de competência estadual; Simulações dão conta de Norte; 3,85% no Nordeste;
e um seletivo, destinado à 2,52% no Centro-oeste; e
União, que incidiria sobre que a proposta de reforma 1,59% no Sul. O déficit é da
energia elétrica, combustíveis, tributária é um mau ordem de R$ 28,352 bilhões
comunicação, minerais, em valores de 2015.
transportes, cigarros, bebidas, negócio para os Municípios.
Em termos qualitativos as
veículos, eletroeletrônico,
perdas podem se elevar mais
eletrodomésticos,
ainda, uma vez que o IPVA e
pneus e autopeças.
o ITCD são tributos de difícil
Além disso, seriam administração.
transferidos para os Municípios todos os
O IPVA apresenta alta rotatividade de
tributos sobre o patrimônio: IPTU (imóveis
propriedade dos veículos e a cobrança depende
urbanos), ITBI (transmissão de imóveis), IPVA
de complexas tabelas de modelos por ano de
(veículos), ITCMD (herança) e ITR (imóveis
fabricação, abrindo a brecha para uma feroz
rurais).
guerra fiscal entre Municípios.
Na prática, as discussões novamente não
O ITCD, que incide sobre a herança, está
começam pela construção do pacto federativo,
sujeito à demora na tramitação dos processos
onde se definiriam as responsabilidades de
no Judiciário e do controle nos cartórios,
cada ente federado para, posteriormente ,
inclusive no que diz respeito aos reais valores
efetuar a partilha dos recursos.
dos bens.
E o pior é que não existem simulações
Quanto à transferência do novo Imposto
detalhadas que deixem bem claro o que
sobre Valor Agregado em substituição ao ICMS,
realmente se produzirá como resultado
ainda mais considerando a mudança na forma
esperado para cada um dos entes federados.
de cobrança e da exclusão do IPI da base de

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cálculo do FPM, igualmente não há nenhuma cional. Neste caso, os valores são influenciados
referência de como se daria a compensação. pela maior arrecadação do IPTU.
Nestes casos, os procedimentos seriam mais
complexos, uma vez que, como mostram os Os 146 Municí�pios com população superior a
estudos do Observatório, os valores repassados 200 mil habitantes representam 2,62% dos Mu-
aos Municípios através do ICMS e do FPM nicí�pios e reúnem 44,93% da população, que se
diferem significativamente segundo o porte posiciona acima do valor per capita médio na-
demográfico e a região. cional e concentra nada menos que 75,59% de
toda a arrecadação do ISS.

A importância do ISS A compensação pela perda do ISS


O ISS foi responsável, em 2015, por 54,06% Segundo o Observatório de Informações
do montante da receita tributária municipal. A Municipais, as simulações agregadas apresen-
importância da participação relativa da receita tadas na proposta de reforma tributária, além
do ISS em relação à receita tributária situa-se de não detalharem as recomposições de receita
em torno da média nacional para todos os gru- dos Municí�pios, apresentam números que são
pos de habitantes, destacando-se o grupo de diferentes daqueles apresentados através da
população superior a cinco milhões de habitan- Consolidação das Contas Públicas, apresenta-
tes, cuja participação se eleva a 60,26%. do pela Secretaria do Tesouro Nacional e por
estudos elaborados pelo próprio Observatório
No que diz respeito à receita per capita do (dados de 2015).
ISS, o seu valor cresce à medida em que aumen-
ta o porte demográfico dos Municí�pios, sendo Quanto à receita tributária municipal, a com-
que a média nacional é ultrapassada apenas pensação da perda do ISS pela incorporação do
pelo grupo de Municí�pios com população supe- IPVA e ITCD, não atende o objetivo de evitar
rior a 200 mil habitantes. perda de arrecadação por parte dos Municí�-
pios. Isto não acontece em nenhuma região do
Dos R$ 52,807 bilhões arrecadados em 2015 paí�s e em nenhum estado. A perda em relação à
com o ISS, nada menos que 65,45% do imposto receita orçamentária municipal, como já citado
está concentrado na Região Sudeste. A segunda anteriormente, é de 6,96% na Região Sudeste,
região em importância é a Nordeste, onde foi ar- de 5,05% no Norte, de 3,85% no Nordeste, de
recadado 13,55% de todo o ISS do paí�s, seguin- 2,52% no Centro-oeste e de 1,59% no Sul.
do-se em importância a Região Sul (11,52%)
e bem abaixo as Regiões Norte (4,96%) e Cen- A distribuição segundo os Estados mostra
tro-oeste (4,52%), observando-se que não são que as perdas em relação à receita orçamentá-
computados os dados referentes a Brasí�lia (Dis- ria acontecem em todos eles:
trito Federal).

As Regiões Norte e Nordeste são as que apre-


sentam maior participação do ISS na arrecada-
ção tributária municipal. Isto se deve ao fato de
que a arrecadação dos demais impostos é rela-
tivamente baixa, principalmente o IPTU. A Re-
gião Sudeste apresenta uma participação muito
próxima da média nacional e as demais Regiões
apresentam participações abaixo da média na-

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Perdas em relação à Os efeitos sobre as transferências
receita Estados
orçamentária No que diz respeito ao FPM, transferência
11,01% Rio de Janeiro que representa a principal fonte de recursos de
mais de 80% dos Municí�pios, principalmente os
7,68% São Paulo de menor porte demográfico, em princí�pio, não
há com o que se preocupar.
6,57% Espí�rito Santo
6,01% Pará O que antes representava a transferência de
5,93% Amazonas 24,5% do Imposto de Renda e do Imposto sobre
Produtos Industrializados passa a ser substituí�-
5,01% Sergipe
do por um percentual, maior ou menor sobre a
4,66% Pernambuco nova base de incidência, que resulte em igual
4,63% Bahia valor do FPM anterior, tendo por base o Impos-
to de Renda e o Imposto Seletivo (percentual de
4,39% Amapá repasse em 2015).
4,07% Rondônia
4,01% Maranhão Quanto à transferência do IVA, manter o va-
lor equivalente ao extinto ICMS nos cinco pri-
3,81% Rio Grande do Norte
meiros anos parece problemático, uma vez que
3,58% Mato Grosso parte substancial da base de tributação estaria
3,29% Ceará sendo deslocada para o Imposto Seletivo fede-
ral. Pode ser que exista uma compensação fe-
3,10% Acre
deral para os estados que tivessem arrecadação
3,03% Roraima menor, embora não haja uma declaração explí�-
2,72% Paraí�ba cita.
2,66% Mato Grosso do Sul
Mas nos anos seguintes, em que passaria
2,25% Alagoas a vigorar a regra da incidência do imposto no
2,08% Santa Catarina destino, não há mais garantia de eventuais per-
2,02% Tocantins das por parte dos Municí�pios. A alegação seria
que a arrecadação caiu, como poderia ter caí�do
1,95% Paraná
antes. Mas seria apenas o que se pode chamar
1,88% Goiás de “desculpa esfarrapada”.
0,95% Rio Grande do Sul
E neste caso, se for comparada a participa-
0,74% Minas Gerais
ção da transferência do ICMS (imposto sobre
o consumo) com a da distribuição da renda da
Verifica-se que, ao se efetuar um mí�nimo de população, que é fator primordial para a deter-
detalhamento dos dados, as “promessas” de minação do consumo, a possibilidade de perda
neutralidade da reforma e de garantia de ma- existe nas Regiões Norte (0,92%), Centro-oes-
nutenção do ní�vel de receita dos entes federa- te (0,84%) e Sul (0,33%). Os ganhos acontece-
dos, em especial dos Municí�pios, não está nem riam nas Regiões Sudeste (1,23%) e Nordeste
de longe garantida. (0,86%).

A distribuição da renda da população de


cada Municí�pio passaria a ter um peso maior na

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distribuição do IVA, uma vez que é da sua dis- desta sistemática.
tribuição que dependerá a capacidade de con-
sumo local. Quanto ao ITCD, que incide sobre a heran-
ça e doação, está sujeito à demora da tramita-
A distribuição da renda das pessoas e da ção dos processos no Judiciário e do controle
transferência do ICMS distribuí�do aos Municí�- nos cartórios, inclusive no que diz respeito aos
pios por estado mostra que, em 13 deles a par- reais valores dos bens.
ticipação da renda das pessoas é maior e nos
outros 13 é menor. Esta distribuição pode in-
fluir na futura distribuição do IVA. Conclusão
No caso dos Municí�pios, principalmente na- As entidades municipalistas e, principal-
queles chamados de produtores, onde se locali- mente, os Municí�pios que possuem elevadas
zam polos petroquí�micos, distritos industriais, arrecadações de ISS e de transferência do ICMS,
usinas hidrelétricas e outros tipos de atividades geralmente aqueles de maior porte demográfi-
econômicas, estes perderiam parte substancial co, deverão estar atentos à tramitação da pro-
da sua transferência, ao se deslocar o eixo da posta de reforma tributária, que parece ino-
tributação da origem para o destino. É� o caso cente, mas que pode lhes trazer significativos
dos Municí�pios com elevada transferência de prejuí�zos.
ICMS.

Todos os “esforços” empreendidos por esta-


dos e Municí�pios através de guerra fiscal para
a atração de atividades econômicas cairia por
terra, restando os ônus da concessão de bene-
fí�cios, principalmente com o IPTU, no caso dos
Municí�pios.

Em termos qualitativos, as perdas podem


se elevar ainda mais, uma vez que tanto o IPVA
quanto o ITCD são tributos de administração
relativamente complexa. Esta é a opinião de fis-
cais de tributos municipais que já militaram na
esfera estadual.

Segundo relatos destes técnicos que traba-


lharam no setor de arrecadação do IPVA, re-
gistra-se uma alta rotatividade na mudança de
propriedade dos veí�culos, sem falar que a co-
brança depende de complexas tabelas de mo-
delos por ano de fabricação.

Estas tabelas e as alí�quotas poderão variar


entre os Municí�pios, que não necessariamente
adotariam as tabelas utilizadas pelos estados,
abrindo uma brecha para uma feroz guerra
fiscal entre Municí�pios, o que poderia resultar,
também, numa perda de arrecadação através

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Referências Bibliográficas
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9 Revista de Administração Municipal - RAM


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ma-tributaria-diz-estudo-1.506886>. Acesso em: 25 jun. 2018.

Revista de Administração Municipal - RAM 10


Iluminação pública, importante
serviço público de interesse local
Carlos Magno Pereira* , Luiz Rapini Neto** e Roberto
Vasques Wood***

Resumo: O presente artigo apresenta aspectos da Gestão Energética Municipal levando-se


em conta, principalmente, a iluminação pública dos 5.570 Municípios brasileiros, os esforços
envolvidos na busca da eficiência energética com suas barreiras e lacunas e ações futuras que
permitam a execução de projetos de modernização sustentáveis do parque de iluminação pública.

Palavras-chave: Iluminação Pública; Gestão Energética Municipal; Eficiência Energética; CIP/


COSIP.

Introdução - Energia, meio ambiente e áreas, muitas vezes produtivas.


eficiência energética
Outro impacto relaciona-se àquele
A produção de energia gera impactos no proveniente dos resíduos, como o vinhoto,
meio ambiente e entre os principais aspectos altamente poluente, para a produção do álcool
se identificam: a ocupação do solo, o destino ou os resíduos produzidos na geração nuclear.
dos resíduos e a geração do efeito estufa. Na Quanto à geração do efeito estufa, este se
ocupação do solo as barragens destinadas à relaciona à emissão de CO2 derivado da queima
produção de energia hidráulica alagam imensas de combustíveis fósseis.

* Engenheiro de Operação em Eletrônica pela UFRJ/RJ (1969), Mestre em Educação Tecnológica pela Oklahoma State
University – Oklahoma/USA (1974). Experiência como gerente de projetos do Ministério de Educação / Banco Mundial.
Professor do CEFET/RJ (Professor e Coordenador do Curso de Eletrotécnica – nível técnico 2º grau e do Curso de Pós-
Graduação – Mestrado de Educação Tecnológica). Coordenador de Programas de Qualidade Total do CEFET/RJ e demais
unidades da Rede Federal de Ensino. Consultor, tendo como principais clientes o SEBRAE/RJ e o Instituto Nacional de
Tecnologia (INT). Consultor do IBAM e Multiplicador certificado na Metodologia de Elaboração de Planos Municipais de
Gestão da Energia Elétrica – PLAMGEs. Conteudista do Curso de Gestão do Sistema de Iluminação Pública (Presencial e
EAD) do IBAM. Endereço eletrônico: energiabrasil999@hotmail.com
** Eletricista pela Fundação Educacional de Bauru – atual UNESP Bauru/SP (1976), pós-graduado em Perícias de
Engenharia e Avaliações pela UNISANTA – Santos/SP (1998). Profissional com mais de 30 anos de experiência no
setor elétrico, atuando em concessionária de distribuição de energia elétrica. Experiência na coordenação de projetos
(PROCEL Reluz, Luz na Terra, Luz no Campo e Luz para Todos), eficiência energética e relações institucionais. Consultor
do IBAM e Multiplicador certificado na Metodologia de Elaboração de Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica
– PLAMGEs. Conteudista do Curso de Gestão do Sistema de Iluminação Pública (Presencial e EAD) do IBAM. Endereço
eletrônico: lrapini@terra.com.br
*** Engenheiro Eletricista pela Fundação Educacional de Barretos (1975), pós-graduado em Engenharia de
Planejamento de Sistemas de Distribuição, Gerenciamento de Sistemas de Distribuição Engenharia da Qualidade. Possui
34 anos de experiência profissional na área de distribuição de energia no setor elétrico, atuando em projeto, construção,
manutenção, comercialização, gestão de serviços técnicos e comerciais. Consultor do IBAM e Multiplicador certificado
na Metodologia de Elaboração de Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica – PLAMGEs. Conteudista do Curso de
Gestão do Sistema de Iluminação Pública (Presencial e EAD) do IBAM. Endereço eletrônico: rwood@terra.com.br

11 Revista de Administração Municipal - RAM


Importante frisar também que, através e a preservação do meio ambiente é dever de
dos tempos, a geração de energia e a busca todos, com a incessante busca pela eficiência
de matérias-primas aniquilaram alguns energética.
ecossistemas.

Considerando que o desenvolvimento de um


país relaciona-se diretamente com o crescimento
econômico, que demanda necessariamente
o consumo de energia elétrica, o Brasil é um
país em desenvolvimento e seu consumo vem
oscilando e acompanhando o Produto Interno
Bruto (PIB). Para a retomada do crescimento do
PIB, a exigência por energia elétrica será alta.
O crescimento da economia e a consequente
ascensão das classes menos favorecidas – que
passaram a ter acesso à luz elétrica, chuveiro e
equipamentos eletroeletrônicos - turbinaram
o consumo per capita de eletricidade no Brasil.

Apesar do crescimento, o gasto de energia


por habitante no Brasil ainda permanece abaixo Foto: Josh Klute
da média mundial. O Brasil perde até mesmo
para os vizinhos Argentina, Chile, Uruguai e Gestão Energética Municipal
Venezuela.
A Constituição de 1988 aumentou a res-
Neste contexto, a eficiência energética é ponsabilidade dos Municí�pios. O artigo
um grande aliado da sustentabilidade e do 30 estabelece as seguintes competências:
retorno ao crescimento do país, pois reduz os
investimentos proporcionais ao aumento de “legislar sobre assunto de interesse social, su-
plementar a legislação federal e estadual no que lhe
demanda. couber, instituir e arrecadar tributos de sua compe-
tência, bem como aplicar suas rendas; criar, orga-
Apesar dos grandes benefícios que as ações e nizar e suprimir distritos, observada a legislação
atitudes voltadas à eficiência energética podem estadual; organizar e prestar, diretamente ou sob
trazer, algumas barreiras ainda impedem a sua regime de concessão ou permissão os serviços públi-
cos de interesse local e que tenham caráter essencial.”
disseminação plena. Um grande exemplo são
os Municípios que, de maneira geral, não têm
controle efetivo sobre o consumo e os gastos de Nestas condições, para a gestão satisfatória
energia elétrica, restringindo-se basicamente a do consumo e pagamentos municipais, passa
consumir. a ser um imperativo o melhor conhecimento
possí�vel das condições reais de uso da ener-
Mas esta tendência pode mudar com a gia elétrica com o estabelecimento de uma
adoção de políticas de Gestão Energética Gestão Energética Municipal (GEM), atuan-
Municipal, abrindo, inclusive, a oportunidade do no levantamento destes dados em prédios
para que alguns Municípios, em função de suas públicos, como as instalações das diversas
características, possam atuar até mesmo como secretarias municipais, iluminação pública e
produtores de energia. outros consumos. A GEM tem a finalidade de
sensibilizar os Municí�pios por meio dos téc-
Conciliar o aumento da demanda por energia nicos municipais para a questão energética e
motivar a adoção de uma postura permanen-

Revista de Administração Municipal - RAM 12


te na busca da eficiência energética, através blicidade.
da criação de uma unidade fí�sica, a Unida-
de de Gestão Energética Municipal – UGEM. A ANEEL, autarquia vinculada ao Ministério
de Minas e Energia, que foi criada para regular o
Iluminação pública – Titularidade setor elétrico brasileiro, iniciou suas atividades
em 1997, tendo como principais atribuições: (i)
A titularidade desse serviço público essen- regular a geração (produção), transmissão, dis-
cial – de interesse predominantemente local tribuição e comercialização de energia elétrica;
– é dos Municí�pios, conforme estabelecido, ain- (ii) fiscalizar concessões, permissões e os ser-
da que implicitamente, no art. 30, inciso V, da viços de energia elétrica; (iii) implementar po-
Constituição Federal de 1988 – CF/88: lí�ticas e diretrizes do governo federal relativas
à exploração da energia elétrica e ao aproveita-
Art. 30. Compete aos Municí�pios: mento dos potenciais energéticos; e (iv) estabe-
lecer tarifas, entre outras ações.
V – Organizar e prestar, diretamente ou sob re-
gime de concessão ou permissão, os serviços públicos Serviço de iluminação pública
de interesse local, incluído o de transporte coletivo,
que tem caráter essencial.
Historicamente, a iluminação pública de rua
De igual forma, o art. 149-A da Constituição, começou baseada em conceitos de segurança
ao prever fonte de recursos especí�ficos para os individual e da propriedade, e na identificação
Municí�pios custearem o serviço, não deixa dú- do cidadão.
vidas a respeito de sua titularidade.
Até o século XVIII, não existia iluminação
Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal pública. No século XIX, algumas cidades brasi-
poderão instituir contribuição, na forma das respecti- leiras passaram a ser iluminadas com lâmpadas
vas leis, para o custeio do serviço de iluminação públi- de óleo de baleia, tipo de iluminação mantido
ca, observado o disposto no art. 150, I e III. e custeado por iniciativa particular, sem que
houvesse até então qualquer participação dos
Definição de iluminação pública governantes.

A Resolução Normativa ANEEL (Agência Na- Com a invenção do automóvel, a ilumina-


cional de Energia Elétrica) nº 456/2000 define ção pública veio contribuir para a sinalização e
que a iluminação pública é o serviço que tem orientação do tráfego automobilí�stico. Em 1883
por objetivo prover de luz ou claridade artifi- foi inaugurado, em Campos dos Goytacazes
cial, no perí�odo noturno ou nos escurecimentos (RJ), o primeiro serviço de iluminação pública
diurnos ocasionais. Incluem-se nesse conceito municipal da América do Sul.
os logradouros públicos que necessitam de ilu-
minação permanente no perí�odo diurno. Esse Consumo de energia elétrica e legisla-
serviço compreende fornecimento de energia ção básica
elétrica para iluminação de ruas, praças, ave-
nidas, túneis, passagens subterrâneas, jardins,
As cidades estão entre os maiores consumi-
vias, estradas, passarelas, abrigos de usuários
dores de energia elétrica no mundo, respon-
de transportes coletivos. Inclui-se à ilumina-
dendo por dois terços de todo o consumo e por
ção de monumentos, fachadas, fontes lumino-
mais de 70% das emissões globais de gases de
sas e obras de arte de valor histórico, cultural
efeito estufa. No ambiente urbano, em geral, as
ou ambiental, localizados em áreas públicas e
redes de iluminação constituem uma impor-
definidas. Exclui-se o fornecimento de energia
tante fonte de consumo de energia. De fato, no
elétrica a qualquer forma de propaganda ou pu-

13 Revista de Administração Municipal - RAM


Brasil, a iluminação pública representa mais Com o risco de escassez de energia para os
de 4% do consumo total de energia do paí�s, e próximos anos em função do baixo potencial
o custo de energia para iluminação pública já hí�drico e os consequentes aumentos na tarifa,
representa o segundo maior item orçamentá- o caminho a seguir é a economia e a eficientiza-
rio de grande parte dos Municí�pios, superado ção de energia em todos os setores de consumo,
apenas pelos gastos com a folha de pagamento. do residencial ao industrial, passando pelo Po-
Portanto, projetos de eficiência energética no der Público.
setor de iluminação pública tem um papel im-
portante para a redução de emissões de cidade, Um dos grandes problemas das prefeituras
além de oferecer benefí�cios para o orçamento municipais é equilibrar suas contas. As receitas
municipal. não crescem na mesma proporção das despe-
A energia é gerada nas usinas hidrelétricas, sas, o que se agrava com o ganho de novas com-
termoelétricas e eólicas, quase sempre distan- petências, como, por exemplo, a responsabili-
tes dos grandes centros de consumo. Por este dade pela manutenção da iluminação pública,
motivo, ela percorre grandes distâncias por em um grande número de Municí�pios do paí�s.
meio da rede de transmissão, passando por di-
versas subestações que servem para adequar O custo da energia elétrica é crescente e a
às necessidades indispensá- segunda maior despesa do
veis. Municí�pio, sendo a primei-
ra, recursos humanos, pois
A energia elétrica é um além da iluminação pública
insumo caro em qualquer Instabili­
dade nos custos e das ruas avenidas, praças e
parte do mundo. Instabili- jardins, existe ainda, e não
dade nos custos e eventuais eventuais cortes de energia menos importante, o con-
cortes de energia são som- são som­bras que persistem no sumo dos prédios públicos,
bras que persistem no ho- onde estão instaladas as se-
rizonte energético mundial. hori­zonte energético mundial. des da administração muni-
Entretanto, para os cenários cipal, e os equipamentos de
de risco surgem, também, saúde, segurança, ginásio de
oportunidades de práticas esportes e outros e, em mui-
ou ações eficientes com a tos casos, saneamento.
utilização de novas tecnolo-
gias e aprimoramento da gestão energética. Ul- Nestas condições, o controle e a redução
timamente, crises hí�dricas têm surgido no Bra- dos gastos com energia elétrica, por meio de
sil, aumentando a parcela de energia elétrica medidas como a eficiência energética, são fun-
gerada pelas usinas térmicas, agregando altos damentais e mais, sendo o planejador e organi-
custos de produção, com consequente aumen- zador do território, o Municí�pio pode influen-
to nas tarifas, e perspectivas ainda maiores de ciar neste consumo em função do resultado das
aumento. Com a vigência da aplicação das ban- escolhas no planejamento urbano, além de ser
deiras tarifárias, amarela e vermelha, em fun- também o incitador para desenvolver ações es-
ção das condições menos favoráveis de geração, timulando a população e os agentes econômi-
elas acarretam aumentos imediatos nas tarifas cos a promoverem o uso eficiente de energia
e, consequentemente, nas contas de energia, elétrica e novas tecnologias concentradas na
significando um maior desembolso. Nas con- Gestão Energética Municipal e implementadas
dições favoráveis de geração de energia é apli- por uma Unidade Gestora denominada UGEM.
cada a bandeira verde, não havendo neste caso
nenhum aumento na tarifa. Uma mudança regulatória teve impacto im-
portante no segmento de iluminação pública

Revista de Administração Municipal - RAM 14


no Brasil nos últimos anos. Em 2013, a ANEEL 9% na tarifa de IP; b) projetos de melhoria
determinou, através da Resolução Normativa na IP trazem uma imagem de modernidade e
nº 587/2013 que até o final de 2014, todos os exemplo de eficiência para a população, quan-
ativos de iluminação pública que antes estavam do realizados pelo Poder Público Municipal; c)
em poder das concessionárias de energia elé- adoção de ações de eficientização no sistema de
trica deveriam ser transferidos para os Municí�- IP, com resultados claramente percebidos pela
pios, afetando aproximadamente 42% de Muni- população nos Municí�pios que já implementam
cí�pios brasileiros. os princí�pios da Gestão Energética Municipal;
d) oportunidade de aquisição de equipamentos
Portanto, desde 01/01/2015, todos os Muni- (lâmpadas e luminárias) eficientes, que pos-
cí�pios do paí�s, que ainda não haviam assumido suam a etiqueta INMETRO (Instituto Nacional
os ativos de IP, passaram a exercer plenamente de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) ou Selo
o direito à titularidade dos serviços, conforme PROCEL (Programa Nacional de Conservação
determinado pela Constituição brasileira, bem de Energia Elétrica), por meio de licitações que
como a obrigação de gerenciar os ativos. exijam melhores ní�veis de eficiência energética
dentro de cada categoria; e e) polí�tica de segu-
Para os Municí�pios que receberam os ativos rança pública poderá atingir melhores resulta-
de IP é indispensável o conhecimento prévio dos a partir da gestão do sistema de IP geren-
dos documentos legais que fundamentaram a ciado pelo Municí�pio.
transferência dos ativos ao Poder Público Mu-
nicipal. O conhecimento dessa fundamentação
legal auxilia o gestor municipal a acompanhar
a adoção desta responsabilidade e a gestão do
sistema de iluminação pública.

No caso do Municí�pio, são competências


privativas aquelas que se referem ao interesse
local, detalhadas na Lei Orgânica Municipal:
como os Serviços Públicos que, entre outros, te-
mos limpeza urbana, iluminação pública, trans-
porte coletivo etc.

Isto significou que todos os serviços de ope-


ração e manutenção do sistema de IP, bem como
o atendimento às solicitações encaminhadas
pela população sobre reparos nessa área, não
mais foram prestados pelas distribuidoras e Foto: Josh Klute
considera-se que o Municí�pio tenha se organi- Mas existem aspectos negativos como:
zado para que a população conte com o serviço a) aumento dos gastos com a operação e ma-
adequado. nutenção do sistema de IP; b) possí�vel reajus-
te ou instituição da Contribuição para Custeio
Há aspectos positivos e aspectos negativos do Serviço de Iluminação Pública (COSIP) para
que ocorreram a partir do momento em que a fazer frente aos custos; e c) aumento das obri-
Administração Municipal assumiu a responsa- gações técnicas e de segurança inerentes ao sis-
bilidade de realizar os serviços de operação e tema de IP.
manutenção do sistema de IP.
Estas mudanças no setor elétrico tiveram
São aspectos positivos: a) redução de até reflexos na relação prefeituras municipais –

15 Revista de Administração Municipal - RAM


concessionárias. As empresas do setor elétrico, sódio de alta pressão e, em menor escala, por
privatizadas ou mantidas públicas, mas com lâmpadas a vapor de mercúrio com menor cus-
atuação empresarial, estabelecem uma relação to de instalação, mas ineficientes em muitos
comercial com as prefeituras municipais com as sentidos, principalmente em termos de consu-
caracterí�sticas dos grandes consumidores pri- mo de energia elétrica, comparados com a tec-
vados. nologia LED. A tecnologia LED é um componen-
te eletrônico semicondutor, ou seja, um diodo
Para gestão satisfatória do consumo, é im- emissor de luz (L.E.D = Light emitter diode),
perativo o melhor conhecimento possí�vel das mesma tecnologia utilizada nos chips dos com-
condições reais e necessárias de uso da energia putadores, que tem a propriedade de transfor-
elétrica, possibilitando melhor equilí�brio das mar energia elétrica em luz.
contas públicas.
A definição de uma forma de gestão do siste-
Gestão da operação e manutenção do ma de IP pela administração municipal requer
uma avaliação cuidadosa dos custos – análise
sistema de IP econômica e competências necessárias – análi-
se técnica para a implantação e posterior exe-
Estima-se que o setor de iluminação pública cução dessa gestão. Baseando-se na avaliação
no Brasil tenha mais de 18 milhões de pontos das análises econômica e técnica, uma série de
de luz, com uma penetração do serviço presta- fatores determina a forma a ser escolhida pelo
do a cerca de 95,5% dos domicí�lios do território Municí�pio podendo executar o serviço de IP
nacional. por meio de órgão da Administração Municipal
Centralizada ou Administração Municipal Des-
O parque luminotécnico instalado é compos- centralizada.
to predominantemente de lâmpadas a vapor de

Gráfico 1: Percentual de domicí�lios permanentes urbanos, segundo as caracterí�sticas do entorno


dos domicí�lios – 2010

Revista de Administração Municipal - RAM 16


Brasil Norte Nordeste Sul Centro-Oeste Sudeste

Vapor de mercúrio 23,5% 31,3% 20,7% 23,9% 23,0% 24,4%


Vapor de sódio 71,1% 64,5% 68,6% 71,4% 72,2% 72,5%
LEDs <0,1% <0,1% <0,1% <0,1% <0,1% <0,1%
Outras 5,3% 4,2% 10,7% 4,7% 4,9% 3,1%

Tabela 2: Quantidade de lâmpadas no Sistema de Iluminação Pública – Cadastro ELETROBRAS (situação em


2012). Fonte: http://wbg-eficienciaip.com.br/pdfs/1613639_EE_Lighting_Portuguese_Web.pdf

Quando por administração municipal cen- ras terceiriza, no todo ou em parte, seus servi-
tralizada ou direta, executada por secretaria ou ços de manutenção, conforme mostra a Figura
órgão da administração municipal. Quando por 1 a seguir.
administração municipal descentralizada ou in-
Uma nova modalidade disponí�vel para as
direta, execução por autarquia; fundações em-
prefeituras municipais é a de outorgar os ser-
presas públicas; sociedades de economia mista;
viços de iluminação pública por meio de uma
quando por concessões a terceiros, consórcios
concessão administrativa, ou Parceira Público-
e Parceria Público Privado – PPP.
-Privada (PPP) – sob a égide da Lei 11.079/04.
Como poder concedente, as prefeituras munici-
De acordo com a legislação, todos os servi-
pais têm pleno poder para definir o modelo de
ços de iluminação pública devem ser prestados
negócio que melhor lhe convir, desde que am-
pelas prefeituras municipais, seja de forma di-
parado na legislação em vigor.
reta ou mediante terceirização. Atualmente,
muitos Municí�pios estão terceirizando o servi-
� importante esclarecer que a responsabili-
ço de manutenção para o setor privado, sob o
dade pela prestação do serviço de iluminação
regime jurí�dico estabelecido pela Lei 8.666 ou
pública é sempre da prefeitura municipal. Isso
Pregão (Lei 10.520/01). Segundo uma pesqui-
foi estabelecido no art. 30, inciso V da Consti-
sa por amostragem realizada pelo Grupo Banco
tuição.
Mundial, mais da metade das cidades brasilei-

Figura 1: Responsabilidade pela manutenção da iluminação pública, % dos Municí�pios. Fonte:


http://wbg-eficienciaip.com.br/pdfs/1613639_EE_Lighting_Portuguese_Web.pdf

17 Revista de Administração Municipal - RAM


Não resta dúvida quanto à importância da mensais dos defeitos apresentados no sistema
iluminação pública na vida de uma cidade. Ela de IP?
está diretamente relacionada com a qualidade • Quais os recursos necessários para atender
de vida que o Municí�pio oferece aos seus cida- as necessidades do sistema?
dãos.
Independente do estágio no qual a Adminis- Descarte dos materiais de IP
tração Municipal se encontra em relação à ope-
ração e manutenção dos ativos de iluminação Os materiais retirados do sistema de IP, que
pública, é fundamental que se tenha condições não puderem ser reaproveitados, devem ser
ou preparação para responder as seguintes descartados, respeitando as determinações dos
questões: órgãos de proteção ambiental.
• Quantos pontos de luz efetivamente exis-
tem mensalmente no Municí�pio? As lâmpadas utilizadas na iluminação pú-
• Qual o consumo mensal de energia da ilu- blica, quase na sua totalidade, são lâmpadas
minação em ruas, avenidas, praças e logradou- de descarga de alta pressão, que contém ele-
ros? mentos quí�micos tóxicos, como o mercúrio, o
• Qual o valor do custeio do sistema de ilu- cádmio e o chumbo, considerados altamente
minação pública? prejudiciais à saúde pública e ao meio ambien-
• Quais as condições dos equipamentos e te. O mesmo não acontece com as lâmpadas de
acessórios da iluminação pública? tecnologia LED, que não possuem em sua com-
• Qual a quantidade e tipo de reclamações posição metais pesados, não tendo necessidade

Foto: Agência Brasilia

Revista de Administração Municipal - RAM 18


de um descarte especial. A existência da COSIP traz a segurança de
que serão gerados recursos para custear o pro-
Como responsável pela prestação desse ser- cesso de modernização dos sistemas de ilumi-
viço público, o Municí�pio tem que respeitar nação pública. Os fluxos da COSIP podem ser
esses procedimentos especí�ficos, como as reco- usados como garantia em modelos de negócio
mendações do “Guia de Manuseio, Transporte, com financiamento (p.ex., pagamento de em-
Armazenamento e Destinação Final”, publicado préstimos, contraprestação a ser paga ao con-
pelo PROCEL, para destinação das lâmpadas cessionário, no caso de uma PPP, etc.).
para empresas de reciclagem desse tipo de re-
sí�duo. Modelos de negócio
Recursos financeiros para os serviços Em recente estudo “Iluminando Cidades
de IP (CIP E COSIP) Brasileiras – Modelos de negócio para Eficiên-
cia Energética em Iluminação Pública”, o Banco
A Contribuição de Iluminação Pública – CIP Mundial destacou que os Municí�pios brasileiros
ou a Contribuição para o Custeio do Serviço de possuem alto grau de heterogeneidade, tanto
Iluminação Pública – COSIP está estabelecida em termos de caracterí�sticas socioeconômicas
no art. 149-A da Constitui- (ní�vel de renda e desenvol-
ção. Ainda segundo a Cons- vimento) como também fí�-
tituição, a forma de cobran- sicas e demográficas. Dessa
ça deve ser estabelecida nas forma, não é possí�vel conce-
leis municipais. É� bastante ber um modelo de negócio
usual que a cobrança da CIP Uma pesquisa por amostragem generalizado para projetos
ou da COSIP seja realizada realizada pelo Banco Mundial de iluminação pública. As-
na fatura de energia elétri- junto aos Municípios brasilei- sim, o primeiro desafio é
ca, pois a legislação permite. ros mostrou que a maioria des- agrupar os Municí�pios em
Questionamentos a respeito
da CIP ou da COSIP também
tes (81,6%) já cobra a COSIP. função de suas similarida-
des para desenvolver solu-
devem ser direcionados às ções mais adaptadas a cada
prefeituras municipais. tipo de Municí�pio. Esta di-
versidade dos Municí�pios
Em dezembro de 2002, brasileiros foi levada em
uma emenda constitucio- conta no trabalho de agru-
nal facultou a cobrança da contribuição para pamento produzido por este estudo, gerando
custeio do serviço de iluminação pública (CIP seis grupos de Municí�pios com caracterí�sticas
ou COSIP, doravante denominada COSIP) aos relativamente homogêneas e identificados oito
Municí�pios e Distrito Federal com a finalidade modelos de negócio.
exclusiva de custear os serviços de iluminação
pública. Trata-se de um recurso vinculado cujo A Tabela 3 a seguir apresenta um breve re-
objetivo é custear o fornecimento de eletricida- sumo dos modelos de negócios identificados.
de, bem como a manutenção, instalação e me- Observação: Os modelos contemplam possibili-
lhoria dos equipamentos de iluminação pública. dades de modernização do parque de IP com a
Uma pesquisa por amostragem realizada pelo utilização da tecnologia LED.
Banco Mundial junto aos Municí�pios brasileiros
mostrou que a maioria deste (81,6%) já cobra a
COSIP e, em boa parte dos demais Municí�pios,
um projeto de lei neste sentido já se encontra
em processo de tramitação.

19 Revista de Administração Municipal - RAM


Modelo Breve descrição
Criação de concessionária, à qual o Mu-
nicí�pio outorga uma ampla gama de res-
ponsabilidades mediante concessão admi-
M1 – PPP Municipal
nistrativa para modernização do parque
de iluminação pública e para prestar ser-
viços de iluminação pública eficiente.
PPP em consórcio de Municí�pios, que utiliza o
M2 – Consórcios para PPPs instrumento de PPP a partir de um convênio en-
tre diversos Municí�pios de um mesmo estado.
Emissão de debêntures ou endividamen-
to municipal, que permitiria a Municí�pios
que não queiram ou não tenham capacida-
M3 – Financiamento Municipal
de (técnica ou financeira) para contratar
PPP financiem os investimentos necessá-
rios para a conversão do parque em LEDs.
Potencialização dos recursos provenien-
tes do pagamento de energia elétrica pe-
M4 – Programas de Concessionárias de Energia
los consumidores, sendo que a conces-
sionária financiaria a compra de LEDs.
ESCOs buscariam os recursos no mer-
cado e realizariam os investimentos ne-
M5 – Empresas de Serviço de Energia
cessários para a modernização nos
ESCO (s)
Municí�pios; a operação e manutenção con-
tinuariam a ser executadas pela prefeitura.
Criação de consórcios municipais para centrali-
M6 – Consórcio Municipal ou Agente Central de
zação de compras de LEDs para beneficiar-se de
Compras
economias de escala no preço dos equipamentos.
Utilização das receitas pari passu com as
despesas e investimentos, ou acumulação
M7 – Autofinanciamento
de valores para o investimento, ao longo
do tempo, sem obtenção de financiamento.
Solução provisória, que consiste no remane-
jamento de equipamentos usados de vapor de
sódio (ou vapor metálico) que serão liberados
M8 – Transferência de Luminárias
pela conversão em LEDs, para Municí�pios que
não têm boas perspectivas de converter seu
próprio parque para LEDs no futuro próximo.

Fonte: http://wbg-eficienciaip.com.br/pdfs/1613639_EE_Lighting_Portuguese_Web.pdf

Revista de Administração Municipal - RAM 20


Lacunas identificadas e soluções pública no Brasil.
propostas para implementação destes Confira o relatório: Iluminando Cidades
modelos Brasileiras - Modelos de negócio para Eficiên-
cia Energética em Iluminação Pública: http://
wbg-eficienciaip.com.br/pdfs/1613639_EE_
Algumas barreiras e lacunas impedem o
Lighting_Portuguese_Web.pdf
completo desenvolvimento dos modelos e ins-
trumentos propostos. Talvez as mais importan-
tes sejam: insuficiência de capacitação técnica Futuro: Adoção de novas tecnologias e
e/ou gestão a ní�vel dos Municí�pios. modelos de negócios
Recomendações entre outras do Banco Mun- Em 2012, a ONG Internacional The Climate
dial como a criação de programa (s) nacionais/ Group realizou estudos em cidades com proje-
estaduais para assistência técnica e criação de tos de iluminação pública com a tecnologia LED.
ferramentas para avaliação de projetos. O IBAM Utilizando o exemplo de 12 cidades, o estudo
– Instituto Brasileiro de Administração Munici- demonstrou que a tecnologia à base de LEDs
pal – vem, ao longo dos anos, estabelecendo e atinge ní�veis de economia energética de 50%
aprimorando programas de Capacitação Técni- a 70%, chegando até 80%, quando combinada
ca e Gestão de Iluminação Pública, como sugeri- com sistemas de gestão e controle inteligentes.
do pelo Banco Mundial no relatório “Iluminan-
do Cidades Brasileiras”. Além das economias de energia e custos de
manutenção reduzidos, a iluminação LEDs ge-
Este relatório identificou uma série de de- rou uma ampla gama de benefí�cios socioeco-
safios e oportunidade relacionados à moderni- nômicos, tais como melhorias na qualidade de
zação do setor de iluminação pública no Brasil. iluminação, diminuição da insegurança e me-
O próximo passo é a consulta mais ampla jun- lhorias nas atividades da economia local. A ado-
to a atores públicos e privados, incentivando o ção de sistemas de controle inteligentes permi-
diálogo entre as partes, oferecendo elementos te maior flexibilidade em termos de opções de
aos tomadores de decisões das diversas esferas iluminação, com um foco maior nas pessoas.
públicas e privadas para que possam gerar pro-
postas mais concretas, compondo uma agenda A penetração da tecnologia LEDs no Brasil
efetiva de melhoria do segmento de iluminação ainda é muito baixa (menor que 0,1% como

Mecanismo Riscos mitigados Observação

Garantias fornecidas por grandes


Garantia do fabricante ou
Risco de desempenho técnico fabricantes (custo incluí�do no
da fábrica
preço das lâmpadas de LED).
Empresas de resseguro: (p. ex.
Risco de desempenho técnico e/ MunichRe) embora o produto
Garantia da seguradora
ou operacional ainda nao esteja maduro no mer-
cado.
Seguros de instituições
Risco polí�tico MIGA (Banco Mundial).
financeiras multilaterais
Fundo Garantidor de Infraes-
Garantia do governo federal trutura (FGIE), tende a focar em
Riscos não gerenciáveis
para infraestrutura (ABGF) grandes projetos e não atende à
maior parte dos municí�pios.

Fonte: Elaborado pela Pezco a partir de consultas a atores e fontes públicas.

21 Revista de Administração Municipal - RAM


visto da Tabela 2), embora diversas cidades te- com o meio ambiente e o desenvolvimento tec-
nham projetos pilotos em andamento para im- nológico, a correta captação de recursos finan-
plementar a tecnologia. ceiros, entre outros.

Além de ser um item de segurança, a ilumi- Porém, estes fatores só serão colocados em
nação artificial nas vias interfere nas nossas execução com polí�ticas eficientes e se as equi-
vidas, sendo uma das interferências a poluição pes envolvidas possuí�rem capacitação e houver
luminosa que ocorre quando a iluminação arti- continuidade administrativa. A rotatividade
ficial é usada de forma excessiva e incorreta, e dos recursos humanos envolvidos, por diversos
pode-se classificar em três tipos: ofuscamento, fatores, cria uma descontinuidade não deseja-
luz intrusa e o brilho do céu. da, gerando perdas consideráveis na qualidade
e até na realização das diversas fases necessá-
O ofuscamento em vias urbanas geralmente rias à implementação de serviços adequados
acontece pelo excesso de luz, gerando cegueira de iluminação pública.
momentânea tanto para motoristas como para
pedestres, tendo como consequência redução
do ní�vel de segurança. Os outros dois tipos
acontecem quando o direcionamento das lâm-
padas de sódio deixa escapar a luz para onde
não devia. A luz intrusa é quando a iluminação
vai para um ambiente interno ou para as copas
de árvore. Já o brilho do céu é quando as luzes
sobre as cidades podem ser vistas até do espaço
e se consegue enxergar menos de 1% das estre-
las que são visí�veis a olho humano: um sinal de
que a energia elétrica está sendo desperdiçada
para iluminar inutilmente o céu.

As luminárias LED são direcionais para me-


lhorar esse cenário, com um posicionamento
correto para iluminar o que realmente importa:
as vias.

Avaliação conclusiva
Analisamos os principais aspectos da insta-
lação e desenvolvimento da iluminação pública
no Brasil. A sua disponibilidade no entorno de
um domicí�lio constitui elemento importante na
qualidade de vida dos moradores e da cidade
em geral. A melhoria da iluminação também
contribui para ampliar as horas de trabalho em
diversas atividades econômicas, como no setor
de turismo e de entretenimento.

Foram vistos os vários aspectos legais e os


atores envolvidos. A importância da relação

Revista de Administração Municipal - RAM 22


Referências Bibliográficas
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trica de forma atualizada e consolidada. Brasí�lia: ANAEEL, 2012. Disponí�vel em: <http://www2.
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23 Revista de Administração Municipal - RAM


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wbg-eficienciaip.com.br/pdfs/1613639_EE_Lighting_Portuguese_Web.pdf>. Acesso em: 25 jun.
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Revista de Administração Municipal - RAM 24
O novo sistema de planejamento da
Política de Assistência Social
Rosimere de Souza*

Resumo: Este artigo visa examinar aspectos importantes que configuram o novo sistema de
planejamento da política de assistência social, levando em consideração a sua posição e as suas
funções em relação às demais políticas sociais. Tem-se como objetivo também apresentar alguns
instrumentos e mecanismos que viabilizam a sua integração ao sistema de planejamento de
governo nas diversas etapas do ciclo de gestão de políticas públicas, com ênfase nos planos de
assistência social.

Palavras-chave: Sistema Único de Assistência Social - SUAS; Planejamento; Planos de Assistência


Social.

Introdução tica, oferecendo, assim, elementos que possam


sensibilizar e fornecer subsí�dios e meios aos
O momento atual parece bastante oportu- candidatos aos novos cargos eletivos e aos fu-
no para discutir o assunto tratado neste arti- turos representantes da população para buscar
go, pois nas eleições gerais que acontecerão no resultados efetivos no cumprimento de seu pa-
Brasil em 2018, os eleitores vão às urnas para pel no processo de implementação do Sistema
escolher seus representantes para os cargos de Ú� nico de Assistência Social / SUAS.
Presidente da República, Governadores, Sena-
dores, Deputados Federais e Deputados Esta- Importante evidenciar que a Constituição
duais/Distrital. Federal de 1988 / CF 88 inaugura o reconheci-
mento da assistência social como uma polí�tica
Esses agentes públicos, em cooperação com pública, integrando o tripé da seguridade so-
os representantes da administração pública cial, ao lado das polí�ticas de saúde e previdên-
municipal, participam nas distintas etapas dos cia social. Conforme o artigo 203 da CF:
ciclos de formulação e gestão de polí�ticas públi-
cas, em todas as áreas, respeitando-se as com- A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribui-
petências especí�ficas definidas na Constituição ção à seguridade social, e tem por objetivos:
Federal.
I - A proteção à famí�lia, à maternidade, à in-
Uma vez que a prática de planejamento da fância, à adolescência e à velhice;
polí�tica de assistência social é bastante recente II - O amparo às crianças e adolescentes ca-
e que o apoio técnico e/ou financeiro da União e
dos Estados aos Municí�pios ainda é estruturan-
te para as polí�ticas públicas nesta área, torna-se
indispensável realçar este tema na agenda polí�- * Rosimere de Souza - Graduação e mestrado em Serviço
Social pela PUC Rio; Coordenação do Programa de Direitos
e Cidadania do IBAM. Endereço eletrônico: rosimere@ibam.
org.br

25 Revista de Administração Municipal - RAM


rentes; documentos normativos aprovados nos últimos
III - A promoção da integração ao mercado de vinte e quatro anos, começando pela Lei Orgâ-
trabalho; nica da Assistência Social / LOAS, seguida da
IV - A habilitação e reabilitação das pessoas
portadoras de deficiência e a promoção de Norma Operacional Básica do Sistema Ú� nico de
sua integração à vida comunitária; Assistência Social / NOB SUAS de 2005 e, ten-
V - A garantia de um salário mí�nimo de bene- do como marco a aprovação da Norma Opera-
fí�cio mensal à pessoa portadora de deficiên- cional Básica de Assistência Social 2012 / NOB
cia e ao idoso que comprovem não possuir SUAS 2012.
meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua famí�lia, conforme dispu-
ser a lei.
Estudos sobre a história da assistência social
no Brasil apontam que, até a Constituição de
Contudo, em que pese o tempo de existência 1988, as ações direcionadas para o atendimen-
desta determinação constitucional - 30 anos -, to aos seus usuários eram complementares e
ainda há muito que se avançar neste campo, em residuais às demais polí�ticas, caracterí�stica esta
especial do ponto de vista institucional. que também se expressava pela falta de priori-
dade na composição dos orçamentos públicos.
Os serviços eram prestados, em sua maioria,
por entidades religiosas ou privadas, sem fins
lucrativos, cujas equipes muitas vezes eram
compostas por pessoal voluntário e o financia-
mento tinha origem em doações ou repasse de
recursos por parte da administração pública.

A ausência de padrões de atendimento, de


procedimentos e de um lugar próprio para a
assistência social no conjunto das demais polí�-
ticas públicas produziu, ao longo da história do
paí�s, ações e programas centralizados no âm-
bito federal. Conforme analisa Aldaí�za Sposati
no livro “A assistência na trajetória das polí�ti-
cas sociais brasileiras”, os serviços assistenciais
eram prestados como um favor, uma benesse,
Fonte: Flickr mdscomunicacao e não como um direito do cidadão. Com base
nesta perspectiva, as ações caracterizavam-se
por serem excessivamente tuteladoras e pouco
Planejamento e Política de Assistência emancipatórias. As necessidades das popula-
Social ções carentes eram supridas sem que todas as
providências relativas à sua solução estivessem
A organização do sistema de planejamento articuladas intersetorialmente. Esses fatores,
da polí�tica de assistência social, por exemplo, dentre outros, contribuí�ram para a emergência
começa a se desenvolver e se estruturar em ní�- dos bolsões de pobreza e miséria que caracte-
vel nacional muito recentemente, a partir das rizam determinadas regiões do paí�s (Norte e
disposições sobre os instrumentos de gestão Nordeste) há décadas.
e aprimoramento dos serviços socioassisten-
ciais, programas, projetos e benefí�cios oferta- A partir do reconhecimento da polí�tica de
dos - tais como os planos de assistência social, assistência social como uma polí�tica pública se-
os planos de ação, os pactos, dentre outros, que torial, com as diretrizes de descentralização po-
serão examinados mais adiante -, definidos em

Revista de Administração Municipal - RAM 26


lí�tico-administrativa e a participação e prima- Outro fator que contribuiu para o avanço da
zia da responsabilidade do Estado, bem como a estruturação e o aprimoramento da polí�tica de
previsão de implementação de um Sistema Ú� ni- assistência social foi a consagração, a partir da
co de Assistência Social - cujas bases estão na Constituição Federal de 1988, de um Sistema de
NOB SUAS 2005 -, em todo território nacional, o Planejamento Governamental, atividade que, a
planejamento, nas três esferas de governo, ga- partir de diagnósticos e estudos prospectivos,
nha maior importância, considerando-se a au- orienta as escolhas de polí�ticas públicas. Ele
tonomia e A competência de cada ente federado precede, condiciona e orienta a ação estatal e
e relações de cooperação e complementarieda- é o mecanismo pelo qual o Estado viabiliza o
de entre os mesmos para a implementação do acesso aos bens e serviços considerados direi-
sistema. tos sociais aos seus cidadãos, através das polí�ti-
cas públicas, realizando a mediação entre o pre-
Com efeito, as mudanças que se sucederam sente e o futuro. Importante frisar que ele está
no âmbito do SUAS, exigiram a progressiva inserido em todas as etapas do ciclo de gestão
substituição de projetos e programas eventuais de polí�ticas públicas como se poderá analisar
por um conjunto de equi- durante o texto, no que diz
pamentos próprios (que respeito à polí�tica de assis-
oferecem serviços e bene- Com efeito, as mudanças que tência social. O processo do
fí�cios socioassistenciais) e se sucederam no âmbito do planejamento governamen-
complementares, com ações SUAS, exigiram a progressi- tal envolve a elaboração e
sistemáticas e contí�nuas, va substituição de projetos a execução de importantes
transparentes, compartilha- instrumentos: o Plano Plu-
das e planejadas. e programas eventuais por rianual / PPA, a Lei de Dire-
um conjunto de equipamen- trizes Orçamentárias / LDO
Com esta nova configu- tos próprios e complementa- e a Lei Orçamentária Anual
ração da assistência social, res, com ações sistemáticas / LOA.
tornaram-se necessárias a
estruturação de sistemas
e contí�nuas, transparentes, Ainda em relação à con-
territorializados de gestão, compartilhadas e planejadas. veniência de se discutir
1

planejamento, financiamen- este assunto às vésperas


to e controle social da as- das eleições federais e es-
sistência social e, também, o desenvolvimento taduais, destaca-se que todos os governantes
de habilidades, de práticas e mudança de cul- brasileiros deverão inserir em suas peças or-
tura por parte dos trabalhadores da área, dos çamentárias as polí�ticas públicas para a área
responsáveis pelos setores de planejamento e de Assistência Social, conforme previsto em
finanças dos governos, dos próprios usuários seus principais instrumentos normativos, a sa-
e das organizações da sociedade civil. A NOB ber, a Polí�tica Nacional de Assistência Social /
2005 consagra também uma nova forma de fi- PNAS 2004 e a NOB SUAS 2012. A PNAS deter-
nanciamento das ações por intermédio do re- mina que o PPA, a LDO e a LOA contemplem a
passe de recursos entre os fundos especiais de apresentação dos programas e das ações, em
assistência social - com base em critérios e indi- coerência com os Planos de Assistência Social,
cadores especí�ficos -, rompendo com a relação considerando os ní�veis de complexidade dos
convenial entre os entes federados e as formas serviços, programas, projetos e benefí�cios, alo-
discricionárias de distribuição de recursos vi- cando-os como sendo de proteção social básica
gente até então. e proteção social especial de média e/ou de alta

1
O conceito de território para a política pública de assistência social é central e estruturante, pois leva em conta
características comuns a um determinado território as quais orientam a organização dos serviços e unidades de
atendimento. É um conceito dinâmico que ultrapassa o conceito geográfico e por vezes administrativo.

27 Revista de Administração Municipal - RAM


complexidade. Portanto, para que as ações de
Assistência Social sejam implementadas preci-
sam estar contempladas no PPA, na LDO e na
LOA.

Referências para o planejamento da


Política Pública de Assistência Social
- Normas e instrumentos
Como já assinalado anteriormente, a LOAS e
a NOB SUAS 2012 são os principais instrumen-
tos que abordam o tema do planejamento da po-
lí�tica pública de assistência social. Elas tratam
da elaboração dos planos nacional, estaduais,
distrital e municipais ou mesmo de planos de
contingência, planos de monitoramento, planos
de ação dos conselhos e servem de orientação
para esses processos. Ou seja, reforça que o pla-
nejamento é uma prática que deve ser contí�nua
em todos os ciclos de formulação e gestão da
polí�tica.
Logomarca SUAS - Fonte: mds.gov
As distintas aparições dos termos planeja-
mento e plano na normativa assinalam a im-
portância de se planejar de quatro em quatro Art. 30. É condição para os repasses, aos Muni-
anos quando se inicia uma nova gestão do go- cípios, aos Estados e ao Distrito Federal, dos re-
cursos de que trata esta lei, a efetiva instituição
verno, mas também evidenciam o planejamen- e funcionamento de: I - Conselho de Assistência
to da localização, da construção e/ou adequa- Social, de composição paritária entre governo
ção de equipamentos, programas ou serviços, e sociedade civil; II - Fundo de Assistência So-
a exemplo do Centro de Referência de Atendi- cial, com orientação e controle dos respectivos
mento de Assistência Social / CRAS, do Centro Conselhos de Assistência Social; III - Plano de
Assistência Social.
de Referência de Atendimento Especializado de
Assistência Social / CREAS, do Programa Bolsa Por sua vez, a NOB SUAS 2012 avança na es-
Famí�lia / PBF ou do Serviço de Convivência e truturação do sistema de planejamento da polí�-
Fortalecimento de Ví�nculos / SCFV em determi- tica, vez que apresenta, de forma mais detalha-
nado território. da, os distintos instrumentos que o integram,
exigindo assim a mobilização da participação
Em relação a este assunto, a Lei Orgânica de de um conjunto de atores envolvidos na imple-
Assistência Social estabelece o fundamental, ou mentação da polí�tica de assistência social, bem
seja: como o uso de informações e a aplicação de di-
ferentes metodologias de planejamento, pois:
Art. 10. A União, os Estados, os Municípios e o
Distrito Federal podem celebrar convênios com
entidades e organizações de assistência social, • Define como objetivo do SUAS o reco-
em conformidade com os Planos aprovados pe- nhecimento das especificidades, iniquidades e
los respectivos Conselhos. desigualdades regionais e municipais no plane-
(...)

Revista de Administração Municipal - RAM 28


jamento e execução das ações; de Providências, no caso de pendências e irre-
gularidades junto ao SUAS, aprovado pelo Con-
• Estabelece como responsabilidades co-
selho de Assistência Social do Distrito Federal /
muns entre os entes federados: o planejamento
CASDF e pactuado na CIT.
e acompanhamento da gestão, organização e
execução dos serviços, programas, projetos e • Estabelece como responsabilidades dos
benefí�cios socioassistenciais; a instituição do Municí�pios: a elaboração e o cumprimento do
Plano de Assistência Social; a instituição do pla- Plano de Providências, no caso de pendências
nejamento contí�nuo e participativo no âmbito e irregularidades do Municí�pio junto ao SUAS,
da polí�tica de assistência social; a garantia de aprovado pelo Conselho Municipal de Assistên-
que a elaboração da peça orçamentária esteja cia Social / CMAS e pactuado na Comissão Inter
de acordo com os Planos de Assistência Social e gestores Bipartite / CIB.
compromissos assumidos no Pacto de Aprimo-
• No que diz respeito especificamente aos
ramento do SUAS; a implantação de um sistema
Planos de Assistência Social, destaca que é este
de informação, acompanhamento, monitora-
um instrumento de planejamento estratégico
mento e avaliação para promover o aprimora-
que organiza, regula e norteia a execução da
mento, qualificação e integração contí�nuos dos
PNAS na perspectiva do SUAS, cuja responsabi-
serviços da rede socioassistencial, conforme
lidade pela sua elaboração cabe ao órgão gestor
Pacto de Aprimoramento do SUAS e Plano de
da polí�tica que deve submetê-lo à aprovação do
Assistência Social;
conselho de assistência social. Dispõe ainda so-
• Estabelece como responsabilidades da bre a composição de sua estrutura destacando
União: a elaboração de Plano de Apoio aos Es- 12 itens. Estabelece o perí�odo de 4 em 4 anos
tados e Distrito Federal com pendências e irre- para a elaboração dos Planos de acordo com os
gularidades junto ao SUAS, para cumprimento perí�odos de elaboração do Plano Plurianual –
do Plano de Providências, reconhecendo ainda PPA, com ênfase na importância de atualização
o Plano de Assistência Social, de que trata o dos diagnósticos socioterritoriais, parte impor-
art. 30 da LOAS, como um instrumento de pla- tante dos Planos, em todas as esferas de gover-
nejamento estratégico que organiza, regula e no. Enfatiza a importância do alinhamento en-
norteia a execução da PNAS na perspectiva do tre os Planos e as deliberações das conferências
SUAS; de assistência social para a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municí�pios, as metas na-
• Estabelece como responsabilidades dos
cionais e estaduais pactuadas, as ações articu-
Estados: a elaboração do Plano de Apoio aos
ladas e intersetoriais, as ações de apoio técnico
Municí�pios com pendências e irregularidades
e financeiro à gestão descentralizada do SUAS.
junto ao SUAS, para cumprimento do Plano de
Providências acordado nas respectivas instân- • Quanto aos Pactos de Aprimoramento
cias de pactuação e deliberação; a elaboração e do SUAS, chama atenção para a necessidade de
o cumprir o Plano de Providências, no caso de alinhamento com os Planos de Assistência So-
pendências e irregularidades do Estado junto cial, destacando, entre as suas etapas de formu-
ao SUAS, aprovado no Conselho Estadual/Dis- lação, o planejamento para o alcance de metas
trital de Assistência Social / CEAS e pactuado de aprimoramento da gestão, dos serviços, pro-
na Comissão Inter gestores Tripartite / CIT e; a gramas, projetos e benefí�cios socioassistenciais
instituição do Plano Estadual de Capacitação e do SUAS para cada quadriênio. Define ainda
Educação Permanente. que sua deliberação é atribuição dos conselhos
de assistência social e que os seus indicadores
• Estabelece como responsabilidades do
devem ser apurados anualmente a partir das
Distrito Federal: a instituição do Plano de Capa-
informações prestadas nos sistemas oficiais de
citação e Educação Permanente do Distrito Fe-
informações e sistemas nacionais de estatí�stica
deral; a elaboração e o cumprimento do Plano

29 Revista de Administração Municipal - RAM


disponibilizado pela União. viços socioassistenciais, imprimindo caráter
técnico à tomada de decisão. Esta área deve,
• Destaca os Planos de Providência e de
por exemplo, fornecer informações que propor-
Apoio como principais instrumentos de plane-
cionem o planejamento e a execução das ações
jamento e acompanhamento técnico e, quan-
de busca ativa que assegurem a oferta de ser-
do for o caso, financeiro, das ações para a su-
viços e benefí�cios às famí�lias e aos indiví�duos
peração de dificuldades dos entes federados
mais vulneráveis, superando a atuação pauta-
na gestão e execução dos serviços, programas,
da exclusivamente pela demanda espontânea;
projetos e benefí�cios socioassistenciais, a se-
colaborar com o planejamento das atividades
rem elaborados pelos Estados, Distrito Federal
pertinentes ao cadastramento e à atualização
e Municí�pios e detalha algumas de suas atribui-
cadastral do Cadastro Ú� nico. Por fim, apresenta
ções comuns e especí�ficas.
a gestão da informação, por meio da integração
• Sobre a gestão financeira e orçamentá- entre ferramentas tecnológicas, como um com-
ria do sistema único de assistência social, afir- ponente estratégico para a definição do conteú-
ma que o orçamento é instrumento da adminis- do da polí�tica e seu planejamento.
tração pública indispensável para a gestão da
• No tocante à gestão do trabalho no sis-
polí�tica de assistência social e expressa o pla-
tema único de assistência social, a NOB SUAS
nejamento financeiro das funções de gestão e
2012 acentua que esta área compreende o
da prestação de serviços, programas, projetos e
planejamento, a organização e a execução das
benefí�cios socioassistenciais à população usuá-
ações relativas à valorização do trabalhador e
ria. Ele deve estar em consonância com os Pla-
à estruturação do processo de trabalho institu-
nos de Assistência Social e o Plano de Ação para
cional, no âmbito da União, dos Estados, do Dis-
cada ano e orientam o repasse dos recursos dos
trito Federal e dos Municí�pios. Entre as ações
Blocos de Financiamento da Proteção Social Bá-
de valorização do trabalhador constam a insti-
sica e da Proteção Social Especial, os quais so-
tuição e implementação de Plano de Capacita-
mente devem ser aplicados nas ações e nos ser-
ção e Educação Permanente com certificação; a
viços a eles relacionados, incluindo as despesas
instituição de planos de cargos, carreira e salá-
de custeio e de investimento em equipamentos
rios (PCCS);
públicos. Ainda sobre o financiamento, afirma
a responsabilidade dos Conselhos de Assistên- • No que se refere ao controle social do
cia Social na discussão de metas e prioridades sistema único de assistência social, a NOB SUAS
orçamentárias, no âmbito do Plano Plurianual, 2012 destaca a importância do planejamento
da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Or- das ações dos conselhos de assistência social
çamentária Anual, podendo, para isso, realizar e da participação dos conselhos e dos usuários
audiências públicas. Com relação à fiscalização no planejamento local, municipal, estadual, dis-
dos fundos de assistência social, chama a aten- trital, regional e nacional;
ção para o papel do conselho na aprovação do
plano de aplicação dos recursos destinados às Conclui-se que o sistema de planejamento
ações finalí�sticas da assistência social e o resul- da polí�tica de assistência social compreende
tado dessa aplicação; um conjunto de instrumentos e arranjos, bem
como de agentes públicos e da sociedade civil
• Com respeito à Vigilância Socioterrito-
em seus processos. Tal sistema comporta eta-
rial, destaca que esta área é fundamental para o
pas distintas e temas também diferenciados
aprimoramento do SUAS, posto que se constitui
conforme os campos de atenção da polí�tica,
como uma área essencialmente dedicada à ges-
a saber, a organização e gestão do sistema de
tão da informação, comprometida com o apoio
atendimento, e a gestão dos recursos financei-
efetivo às atividades de planejamento, gestão,
ros e do trabalho no âmbito do SUAS. Por fim,
monitoramento, avaliação e execução dos ser-
prescinde de métodos distintos de formulação

Revista de Administração Municipal - RAM 30


Fonte: Flickr mdscomunicacao

e deve ser acompanhado pelo controle social, a Cada etapa de elaboração do plano de as-
saber, os conselhos de assistência e os usuários. sistência social é importante, se este processo
adotar uma abordagem sistêmica e participati-
Os Planos de Assistência Social va e não fragmentada, ou puramente cartorial e
protocolar, caracterizada pela centralização do
Segundo a NOB SUAS 2012 em seu Artigo processo no gabinete do gestor ou dos técnicos
18 §2º, a estrutura do plano, dentre outros ele- de planejamento e orçamento, descolado das
mentos, é composta basicamente por: demandas reais e expressadas em territórios
com peculiaridades distintas, mesmo dentro de
I - diagnóstico socioterritorial; um mesmo municí�pio. Reconhece-se, assim, a
II - objetivos gerais e específicos; multiplicidade de contextos marcados por gru-
III - diretrizes e prioridades deliberadas; pos sociais e demandas especí�ficas em razão de
IV - ações e estratégias correspondentes para
sua implementação; sua cultura e formas de sobrevivência, localiza-
V - metas estabelecidas; das em contextos geográficos que também de-
VI - resultados e impactos esperados; terminam tais condições.
VII - recursos materiais, humanos e financeiros
disponíveis e necessários;
VIII - mecanismos e fontes de financiamento;
IX - cobertura da rede prestadora de serviços;
X - indicadores de monitoramento e avaliação;
XI - espaço temporal de execução.

31 Revista de Administração Municipal - RAM


SEGURANÇAS
CARACTERÍSTICAS DAS AÇÕES SOCIOASSISTENCIAIS
AFIANÇADAS
Provida por meio da oferta pública de espaços e serviços para a
realização de proteção social básica e especial, devendo as insta-
lações fí�sicas e a ação profissional conter: a) condições de recep-
ção; b) escuta profissional qualificada; c) informação; d) referên-
Acolhida cia; e) concessão de benefí�cios; f) aquisições materiais e sociais;
g) abordagem em territórios de incidência de situações de ris-
co; h) oferta de uma rede de serviços e de locais de permanência
de indiví�duos e familiares sob curta, média e longa permanência.
Operada por meio da concessão de auxí�lios financeiros e da con-
cessão de benefí�cios continuados, nos termos da lei, para cida-
Renda dãos não incluí�dos no sistema contributivo de proteção social,
que apresentem vulnerabilidades decorrentes do ciclo de vida
e/ou incapacidade para a vida independente e para o trabalho.
Exige a oferta pública de rede continuada de serviços que garan-
tam oportunidades e ação profissional para: a) a construção, res-
Convívio ou convivência tauração e o fortalecimento de laços de pertencimento, de natureza
familiar e comnunitária geracional, intergeracional, familiar, de vizinhança e interesses co-
muns e societários; b) o exercí�cio capacitador e qualificador de ví�n-
culos sociais e de projetos pessoais e sociais de vida em sociedade.
Exige ações profissionais e sociais para: a) o desenvolvimento de
capacidades e habilidades para o exercí�cio do protagonismo, da
Desenvolvimento de cidadania; b) a conquista de melhores graus de liberdade, respei-
to à dignidade humana, protagonismo e certeza de proteção so-
autonomia cial para o cidadão e a cidadã, a famí�lia e a sociedade; c) conquista
de maior grau de independência pessoal e qualidade, nos laços so-
ciais, para os cidadãos e as cidadãs sob contingências e vicissitudes.
Quando sob riscos circunstanciais, exige a oferta de auxí�lios em
Apoio e auxílio bens materiais e em pecúnia, em caráter transitório, denominados
de benefí�cios eventuais para as famí�lias, seus membros e indiví�duos.
Quadro 1 - Seguranças afiançadas pelo SUAS.

O diagnóstico socioterritorial Um bom diagnóstico socioterritorial deve


levar em consideração as caracterí�sticas dos
A etapa do diagnóstico socioterritorial é o territórios no que diz respeito, dentre outros
ponto de partida neste caminho para a elabora- aspectos, ao perfil socioeconômico e cultural
ção do Plano de Assistência Social. Compreen- da população, às situações de vulnerabilidade
de a realização de atividades de identificação e e risco e à forma como se organizam os equipa-
caracterização das situações de risco e vulnera- mentos e os serviços e benefí�cios em relação às
bilidade social da população, levando em conta demandas por programas e serviços socioassis-
múltiplos fatores, e não apenas a renda, como tenciais, organizados por tipo de proteção so-
seleção dos possí�veis usuários da polí�tica. cial, conforme se pode conferir na sistematiza-
ção de alguns indicadores para cada dimensão
Aqui vale resgatar quais são as seguranças de análise constante do quadro seguinte:
afiançadas pela polí�tica de assistência social,
sobre as quais se deve debruçar um estudo so- O Brasil dispõe de excelentes bases de dados
bre as condições reais de vida da população e nas quais se pode encontrar diversas informa-
a estrutura dos serviços ofertados para assegu- ções para compor o Diagnóstico Socioterritorial.
rá-las. Para começar, é importante consultar os apli-
cativos do Ministério de Desenvolvimento So-

Revista de Administração Municipal - RAM 32


DIMENSÕES/VARIÁVEIS E ASPECTOS A SEREM
INDICADORES APRESENTADOS

Condições gerais de desenvolvimento econômi-


co e social dos Municí�pios, microrregiões e estados.
Devem abordar, de forma sintética, as informações es-
1- Variáveis e indicadores de contexto senciais das seguintes áreas: demografia, educação, saú-
de, trabalho, infraestrutura urbana, economia e meio am-
biente. Devem ocupar até 25% do documento produzido.
Apresentar uma referência numérica que possa expressar a de-
manda potencial ou como dimensionamento do público alvo para
2- Variáveis e indicadores de caracteriza- cada um dos serviços e benefí�cios do SUAS em um dado território.
ção da demanda potencial para os Servi- Devem considerar todos os Serviços Socioassistenciais Tipifica-
ços e Benefícios da Assistência Social dos, os Benefí�cios Eventuais, o Benefí�cio de Prestação Continua-
da – BPC e obenefí�cio pago por meio do Programa Bolsa Famí�lia.
Apresentar, por meio de dados quantitativos, informações sobre:
- existência, ou não, de oferta de cada um dos serviços ti-
pificados e benefí�cios do SUAS em um dado território;
3- Variáveis e indicadores relativos à es- - caracterização do volume de oferta e/ou da capacidade instalada;
trutura de oferta dos Serviços e Benefí- - quando possí�vel, incluir indicado-
cios da Assistência Social res relativos à qualidade da oferta instalada, e
- existência e volume de financiamen-
to federal para os referidos serviços e benefí�cios.

Apresentar, por meio de dados numéri-


cos e de dados categóricos, informações sobre:
4- Variáveis e indicadores relativos à es- - a existência, ou não, de outras ofertas que, embora não in-
trutura de oferta das demais políticas tegrem as ações de assistência social, constituem “retaguar-
públicas, exclusivamente no que se refere das” ou pontos de apoio indispensáveis à dimensão inter-
aos pontos de contato e de complementa- setorial da atenção aos usuários da polí�tica de assistência.
riedade entre estas e a Assistência Social - destacam-se estruturas de ofertas, relacionadas à Justi-
ça, aos serviços de saúde mental, equipes/unidades de Saú-
de da Famí�lia, programas de educação em horário integral, etc.

5- Indicadores que correlacionem deman- Apresentar indicadores que permitam anali-


da e oferta, segundo os Serviços Socioas- sar, direta ou indiretamente, a cobertura dos ser-
sistenciais Tipificados e, eventualmente, viços e benefí�cios em um determinado território.
públicos específicos

Quadro 2 - Apresentação de dados na elaboração do Diagnóstico Socioterritorial10

• CadSUAS - Sistema de cadastro do SUAS, que


cial, mais precisamente aqueles produzidos pela
comporta todas as informações relativas às pre-
Secretaria de Gestão da Informação / SAGI e
feituras, ao órgão gestor, ao fundo e ao conselho
pela Secretaria Nacional de Assistência Social /
municipal e a entidades que prestam serviços so-
SNAS para o monitoramento e a avaliação dos
cioassistenciais. Obs.: Para acesso à área restrita, é
programas, projetos, serviços e benefícios no
necessário senha e perfil SAA.
âmbito do SUAS, conforme destaque a seguir:
• Portal do Censo SUAS - Ferramenta da
• Sistema de Registro Mensal de Atendimentos SAGI que permite o acesso ao acompanhamento
– Ferramenta da SAGI que dá acesso aos formu- do desempenho do Censo SUAS por tipo de for-
lários do Registro Mensal de Atendimentos e ou- mulário; aos formulários para preenchimento do
tras informações sobre vigilância socioassistencial. Censo SUAS; aos relatórios dos RMAs por estado
Obs.: Para acesso à área restrita, é necessário senha e município; aos resultados dos indicadores de
e perfil SAA. desenvolvimento do SUAS (IGDSUAS, IDCRAS,

33 Revista de Administração Municipal - RAM


IDCREAS, ID Conselho e das metas do pacto de ções em nível estadual, de indicadores de interesse
aprimoramento); às publicações e pesquisas sobre para Busca Ativa do Programa Brasil sem Miséria,
o SUAS; ao TABSUAS - tabulador de microdado; para Ações da Assistência Social, para ações volta-
aos manuais do Censo entre outros assuntos. das para a Juventude e para o programa Juventude
Viva.
• Censo SUAS 2017 - Ferramenta da SAGI que
permite o acesso ao sistema de preenchimento do • Matriz de Informação Social - Variáveis e in-
Censo SUAS 2017; ao status do Censo – 2017 por dicadores para estados e municípios, com informa-
estado e município; às informações sobre os Cen- ções municipais, dados demográficos transferência
sos de anos anteriores; ao site da Secretaria Nacio- de renda, segurança alimentar, índice SUAS, Bolsa
nal de Assistência Social (SNAS); à SAGI e ao Cad- Família e Programa Brasil sem Miséria.
Suas. Obs.: Para acesso à área restrita, é necessário
• Relatório de Informações Sociais / RI - Ferra-
senha e perfil SAA.
menta de acesso aos RIs de Programas (Bolsa Fa-
• Censo SUAS – Bases e Resultados. Sistema da mília e Cadastro Único) e a Ações do MDS (Segu-
SNAS de acesso às bases de dados dos resultados rança Alimentar e Nutricional, da Proteção Social
do Censo SUAS por tipo de formulário e do RMA. Básica, da Proteção Social Especial, da Inclusão
Produtiva, do Pacto de Aprimoramento do SUAS
• Prontuário SUAS – Pagina Inicial - Ferramen-
2014 e 2013), da Pesquisa de Informações Básicas
ta da SNAS de acesso ao prontuário e a todas as
2009 IBGE e aos Boletins de informações.
informações a ele relacionadas.
• SUASWEB - Sistema de Autenticação e Auto-
• Prontuário Eletrônico do SUAS - Ferramenta
rização de Usuários. Obs.: Para acesso ao Plano de
que auxilia o trabalho dos profissionais dos CRAS
Ação e Demonstrativo é necessário possuir senha
e CREAS no registro dos atendimentos realizados
e perfil SAA.
às famílias e aos indivíduos, e que permite quali-
ficar o atendimento social e analisar de forma sis-
tematizada as informações sobre o território e a
população atendida. Sua utilização permite manter Além dos aplicativos do MDS, outras
um histórico dos atendimentos, agilizando assim o importantes fontes de dados e indica-
trabalho dos profissionais e facilitando a vida dos dores são os seguintes:
usuários do SUAS. Obs.: Para acesso à área restrita,
é necessário senha e perfil SAA. • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatí�s-
tica / IBGE, com destaque para algumas pesqui-
• CECAD – Consulta, Seleção e Extração de sas que podem auxiliar na composição da con-
Informações do CadÚnico - Dados do CADÚni- textualização socioeconômica das unidades da
co identificados. Obs.: Para acesso a área restrita, é federação e dos municí�pios a saber: o Censo De-
necessário senha e perfil SAA ou senha e perfil do mográfico, Pesquisa Básica de Informações Es-
SIGPBF. Quem tem acesso ao RMA, pode acessá- taduais (ESTADIC), a Pesquisa Básica de Infor-
-lo por dentro do site do RMA e quem tem aces- mações Municipais (MUNIC), a pesquisa Brasil
so SIGPBF, pode acessá-lo por dentro do site do em Sí�ntese, também conhecida como IBGE Ci-
SIGGPBF. dades e a Pesquisa Nacional de Amos¬tra de
• TABCAD – dados do CADÚnico identifica- Domicí�lios (PNAD) e o SIDRA – Banco de Tabe-
dos - Ferramenta da SAGI que permite conhecer a las Estatí�sticas - Sistema IBGE de Recuperação
realidade socioeconômica das famílias do Cadas- Automático (em especial Censo Demográfico e
tro Único. PNAD).

• IDV - Identificação de Localidades e Famílias • O Atlas do Desenvolvimento Humano no


em Situação de Vulnerabilidade - Com informa- Brasil 2013, uma plataforma de consulta ao Í�n-
dice de Desenvolvimento Humano Municipal

Revista de Administração Municipal - RAM 34


• DATASUS – Departamento de Informática
do SUS.
• DATASUS - Informações de Saúde (TAB-
NET).
• SINAN - Sistema de Notificação de Agravos
de Notificação - Informações de Saúde (TAB-
NETT) / Epidemiológicas e Morbidade.
• TABWIN – Ferramenta de Tabulação / Pro-
dução de Mapas (baixar e instalar o programa).
• Programa de Disseminação das Estatí�sti-
cas do Trabalho (PDET) - Tem por objetivo di-
vulgar informações oriundas de dois Registros
Administrativos, RAIS - Relação Anual de Infor-
mações Sociais - e CAGED - Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados, à sociedade ci-
vil.
• Informações de Trabalho Formal – RAIS e
CAGED.

Fonte: mds.gov • Informações Educacionais – INEPDATA -


Dados sobre o número de estabelecimentos de
ensino, matrí�culas e funções docentes na edu-
cação básica e superior.
de 5.565 municí�pios brasileiros. Disponibiliza
mais de 180 indicadores de população, educa- • IPEADATA - Base de dados econômicos e
ção, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnera- financeiros (macroeconômico); demográficos,
bilidade a partir de dados dos Censos Demográ- econômicos e geográficos para as regiões, es-
ficos de 1991, 2000 e 2010. O Atlas Brasil 2013 tados e municí�pios brasileiros (regional) e; in-
é realizado pelo Programa das Nações Unidas dicadores sociais abrangendo temas diversos
para o Desenvolvimento (PNUD), pelo Instituto (social).
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pela
Fundação João Pinheiro (FJP). Objetivos gerais e específicos
• Atlas da Vulnerabilidade Social nos Mu- Esta parte do Plano de Assistência Social
nicí�pios Brasileiros. O Instituto de Pesquisa deve deixar bem clara qual a sua finalidade,
Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com para que serão realizadas determinadas ações/
outras instituições, construiu um Í�ndice de Vul- projetos/serviços.
nerabilidade Social (IVS) constituí�do a partir de Os objetivos expressam as mudanças que
indicadores que expressam as situações de ex- se deseja para o futuro e devem comunicar as
clusão e vulnerabilidade social e a multidimen- intenções dos gestores, construí�das a partir do
sionalidade da pobreza para os mais de 5 mil levantamento das necessidades identificadas
municí�pios brasileiros. Este Í�ndice está orga- pelo conjunto dos atores da assistência social.
nizado em três dimensões as quais se referem Intenções estas que são oriundas das priorida-
à infraestrutura urbana, ao capital humano e à des definidas a partir do Diagnóstico Socioter-
renda e ao trabalho. ritorial.

35 Revista de Administração Municipal - RAM


A elaboração dos objetivos fornece as orien- ver a participação da comunidade por meio do
tações que permitem às organizações alcançar Conselho de Assistência Social.
os resultados esperados.

Diretrizes e prioridades deliberadas Resultados e impactos esperados


Uma diretriz é uma orientação geral que É� importante que estejam em consonância
organiza as decisões e ações e o Plano de As- com as demandas e com a capacidade de im-
sistência Social deve ser coerente com as dire- plementação das soluções para os problemas a
trizes que orientam a administração pública, serem enfrentados, estarem definidos a partir
expressas no Plano Diretor, Plano Plurianual e de indicadores objetivos, e serem capazes de
outros. Ademais, o Plano deve considerar, ain- promover mudanças na gestão, no atendimento
da, as Diretrizes Organizacionais estabelecidas e no financiamento da polí�tica em determinado
pelo SUAS, expressas no artigo 5º da NOB/SUAS território.
2012, bem como os resultados do diagnósti-
co socioterritorial e os encaminhamentos das Recursos materiais, humanos e finan-
Conferências de Assistência Social, instância ceiros
máxima de decisões sobre os rumos da polí�ti-
ca, e devem ser acompanhadas das ações, es- Nesse item, deve ser apresentada a estru-
tratégias e metas correspondentes para a sua tura disponí�vel para a execução das polí�ticas.
implementação. As decisões sobre as ações, os Há que se considerar o porte do municí�pio e
serviços e a alocação de recursos devem envol- o ní�vel de gestão na organização da estrutura

Fonte: Flickr mdscomunicacao

Revista de Administração Municipal - RAM 36


da polí�tica, haja vista que cada municí�pio tem tante apresentar a evolução do orçamento no
caracterí�sticas próprias neste sentido em razão perí�odo anterior e a comparação entre o que foi
de sua autonomia constitucional do ponto de orçado e o que foi executado.
vista administrativo e orçamentário. Algumas
atividades, no entanto, requerem que exista um
setor ou departamento com pessoas responsá-
Indicadores de monitoramento e ava-
veis, tais como: Proteção social básica, Prote-
liação
ção social especial, Vigilância socioassistencial,
Esta parte deve conter informações sobre
Gestão do trabalho, Benefí�cios eventuais, setor
como será o processo de monitoramento e ava-
de convênios, entre outros. Imprescindí�vel que
liação do Plano de Assistência Social, quais os
atentem para o que dispõe a Norma Operacio-
indicadores que serão utilizados, os agentes
nal do SUAS sobre Recursos Humanos / NOB
que participarão dos momentos de monitora-
RH SUAS e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
mento e avaliação, os perí�odos nos quais os pla-
Cabe salientar também a relevância da Polí�tica
nos serão avaliados, levando em conta o papel
de Formação Permanente do SUAS como um
do Conselho de Assistência Social nesta tarefa.
dos aspectos que devem constar do Plano de
Importante que estes processos estejam alinha-
Assistência Social.
dos com as rotinas e os prazos de revisão e ava-
liação, do PPA e de construção da LDO e da LOA.
Mecanismos e fontes de financiamen-
to
Espaço temporal de execução
Primeiramente, o gestor local deve se preo-
cupar em compatibilizar o plano de assistên- Corresponde ao perí�odo de mandato de uma
cia social primeiramente com o PPA para que gestão de governo, portanto, se aliado ao PPA,
o planejamento das ações socioassistenciais tem iní�cio no segundo ano após aprovada pelo
integre o mundo orçamentário. Além de guar- legislativo e se encerra no primeiro ano da ges-
dar consonância com o PPA, os planos devem tão seguinte.
constar na LDO e, com maior detalhamento, na
LOA. O artigo 50 da NOB/SUAS de 2012 esta- Os Planos de Ação decorrem do Plano de
belece que o modelo de gestão do SUAS prevê Assistência Social e são elaborados para cada
o financiamento compartilhado entre a União, exercí�cio administrativo.
os Estados, o Distrito Federal e os Municí�pios.
Tal financiamento é viabilizado por meio de Os principais desafios para o planeja-
transferências regulares e automáticas entre os mento da política pública de assistên-
fundos de assistência social. cia social
No Plano, devem ser definidos com clareza Como assinalado inicialmente, ainda há
os recursos disponí�veis para a execução das muito que se avançar no aprimoramento dos
atividades, apresentando as fontes de financia- processos de planejamento da polí�tica de assis-
mento, sejam do orçamento próprio, das trans- tência social em seus diversos campos, consoli-
ferências intergovernamentais ou de apoios dando, assim, as bases institucionais desta polí�-
privados. tica e garantindo os direitos socioassistenciais2.

Além dos recursos alocados na implementa- Apresentam-se, em seguida, dados nacionais


ção da polí�tica de Assistência Social, é impor- extraí�dos dos resultados do Censo SUAS 2016

2
A V Conferência Nacional de Assistência Social (2005) aprovou 10 direitos socioassistenciais, também conheci-
dos como Decálogo Socioassistencial.

37 Revista de Administração Municipal - RAM


e 2017 relacionados à Gestão Estadual e Dis- tenha afirmado a autonomia dos municí�pios
trital e à Gestão Municipal, com destaque para para organizarem e financiarem as suas polí�-
os seguintes campos sob responsabilidade das ticas, deve-se levar em conta que muitos deles
gestões nesses dois ní�veis: estrutura adminis- ainda dependem do estado para executarem e
trativa e gestão do SUAS e gestão do trabalho. aprimorarem os programas, projetos e as ações
de sua responsabilidade, em especial nas ações
relacionadas à proteção social especial, ao co-
Estrutura administrativa e gestão do financiamento e ao assessoramento técnico.
SUAS Além disso, a inexistência de estruturas descen-
tralizadas pode ser um empecilho para o desen-
• Em 22 (84,6%) unidades da federação volvimento de tais processos. Vale lembrar que
identificadas no Censo SUAS 2017 as secreta- esta questão se torna mais relevante naquelas
rias que acomodam a polí�tica de assistência unidades da federação marcadas por grandes
social agregam outras polí�ticas setoriais; em distâncias entre os municí�pios e a capital, onde
sua maioria os setores de trabalho e emprego em geral está sediada a sede das secretarias
(30,8%) e segurança alimentar (25,0%). Uma de assistência no ní�vel estadual, sendo privile-
análise desta mesma variável no conjunto dos giadas as que se concentram no entorno des-
municí�pios respondentes revela que em 20,3% ta localidade. Há que se considerar ainda, em
(1120) deles as secretarias responsáveis pela algumas regiões, as distâncias que devem ser
polí�tica de assistência social agregam, em sua percorridas por estradas ou rios para se chegar
maioria, os setores de habitação (31,1%), tra- de um lugar ao outro, que muitas vezes levam
balho e emprego (23,4%) e saúde (12,9%). A horas ou dias, a exemplo dos estados da região
legislação que aborda este assunto dispõe que Norte e Centro Oeste.
a polí�tica deve ter um comando único, ou seja,
não ter ações precí�puas da assistência social • Quando se trata da existência de lei de
dispersas em outras secretarias, departamen- regulamentação do SUAS, é possí�vel conhecer
tos, coordenações ou qualquer outra divisão duas respostas a partir das duas últimas edi-
dentro de outra área setorial. Contudo, a conju- ções do Censo SUAS - 2016 e 2017. A primeira
gação de outras funções de governo no mesmo resposta diz respeito à existência desta norma-
órgão no qual se encontra a assistência social tiva, e, a segunda, ao ano de atualização da lei.
pode ter implicações operacionais quando se Em relação às unidades da federação, o Censo
trata da gestão e disponibilização dos recursos SUAS 2016 registrava que 22 (84,6%) delas não
necessários para a operacionalização do SUAS possuí�am uma lei de regulamentação do SUAS.
(humanos, materiais e financeiros) e ter impac- Entre os municí�pios, observa-se pelos dados
tos sobre os resultados pretendidos pela polí�ti- que 52,8% (2911) não dispõem desta norma-
ca. tiva. A existência de uma lei por si só pode não
dizer muito se ela não for analisada do ponto de
• Quanto à existência de estruturas ad- vista de sua atualização, tendo em vista as mu-
ministrativas descentralizadas (escritórios re- danças ocorridas no campo de regulamentação
gionais ou similares) no âmbito das secretarias do SUAS, notadamente a partir do ano de 2011,
estaduais, o Censo SUAS 2017 informa que em após a aprovação da Lei no. 12.435 – Lei do
20 (76,9%) das unidades da federação, tais ar- SUAS, que complementou a Lei Orgânica da As-
ranjos institucionais não existem, contra ape- sistência Social. E, nesta direção, de acordo com
nas 6 (23,1%) nas quais eles estão presentes. o Censo SUAS 2017, as 63 unidades da federação
Não obstante a Constituição Federal de 1988 que promoveram a atualização da legislação

3
Há uma diferença de duas unidades da federação que responderam positivamente à questão sobre a atualização
da Lei de Regulamentação em relação àquelas que responderam que possuem tal lei. Ocorre que os Resultados
Nacionais do Censo SUAS 2017 para a Gestão Estadual não apresentam a pergunta sobre existência de Lei de
Regulamentação.

Revista de Administração Municipal - RAM 38


o fizeram entre os anos de 2011 e 2017. Para Gestão do trabalho
além do que já foi dito anteriormente em re-
lação às responsabilidades do estado no apoio Quanto ao tipo de ví�nculo de trabalho da-
técnico e no aprimoramento do SUAS junto aos queles que estão lotados na sede da Secretaria
municí�pios, a inexistência de uma lei de regu- Estadual de Assistência Social no Brasil, estatu-
lamentação da polí�tica tem impactos sobre os tários e comissionados representam boa parte
dois ní�veis de gestão: na organização do SUAS do conjunto, compreendendo respectivamente
nos territórios, uma vez que não obedece aos o percentual de 52,1% (2460 trabalhadores)
dispositivos normativos que tratam da matéria e 32,4% (1528 trabalhadores), seguidos de
e, por consequência, em toda a sua estrutura de celetistas e outros ví�nculos. No entanto, nos
atendimento, de recursos e mesmo de gestão. estados do Espirito Santo, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Norte, Roraima e Sergipe menos de
• O controle social parece estar mais 20% dos trabalhadores possuem ví�nculo esta-
adiantado, pois a maioria das unidades da fede- tutário, sendo a maioria comissionados. No uni-
ração (22, 84,6%) possuem plano estadual de verso dos municí�pios brasileiros cerca de 38%
assistência social, os quais passaram por atua- (90.780) possuem ví�nculo estatutário seguidos
lizações entre os anos de 2001 e 2017, a maio- de 34,4% (82.485) que possuem outras rela-
ria (15) a partir do ano de 2011. Entre os 3.652 ções de trabalho, excetuando-se os celetistas
municí�pios que responderam sobre a existên- e os comissionados. Importante realçar que a
cia de planos municipais de assistência social, principal matéria-prima da polí�tica de assistên-
aproximadamente 50% o fizeram entre os anos cia é o seu corpo técnico de trabalhadores. Con-
de 2011 e 2016, ou seja, após a aprovação da tudo observa-se, ainda, seja nas unidades da
Lei do SUAS. Os planos são importantes instru- federação seja nos municí�pios, que muitos pro-
mentos de organização e gestão da polí�tica no fissionais que atuam nesta área ainda ocupam
território e é imprescindí�vel que suas ações e muitos cargos comissionados, não garantindo a
metas estejam refletidas nos demais mecanis- estabilidade da polí�tica.
mos de planejamento governamental, o Plano
Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias Os dados do Censo SUAS apresentados ex-
e a Lei Orçamentária Anual. E, neste sentido, o puseram alguns aspectos sobre os quais a ges-
Censo SUAS 2017 aponta que a maioria dos mu- tão estadual precisa ter atenção nos processos
nicí�pios sinalizou que os referidos planos servi- de planejamento da polí�tica de assistência so-
ram como instrumentos polí�ticos de referência cial. Contudo vale a pena examinar os dados
para os debates na construção do PPA 2018 – referentes às gestões municipais levando-se
2021. em conta as atribuições dos estados na imple-
mentação e aprimoramento do SUAS. Entre os
• Quanto à existência de planos de ca- problemas no âmbito local que impactam a pla-
pacitação e educação permanente entre as 20 nificação dos programas, benefí�cios e serviços
unidades da federação identificadas que res- socioassistenciais destacam-se: a ausência de
ponderam possuir tais instrumentos, todas uma área especí�fica de Vigilância Socioassis-
atualizaram o plano entre os anos de 2011 e tencial, a fragilidade dos espaços de controle
2017. Entre os municí�pios a situação é preocu- social com ênfase na participação dos usuários
pante, pois apenas 459 (8,3%) respondentes e a baixa capacidade de financiamento da polí�ti-
dispõem deste instrumento de organização das ca de assistência social com orçamento próprio
ações de formação e qualificação dos trabalha- na prestação dos serviços de Proteção Social
dores do SUAS. Básica.

39 Revista de Administração Municipal - RAM


Conclusões peciais, buscando-se alternativas locais para a
organização desta polí�tica de forma integrada
O ano de 2017 foi particularmente difí�cil às demais, numa perspectiva sistêmica.
para a polí�tica de assistência social que, assim
como as demais polí�ticas setoriais, sofreu com Para além do financiamento, outras estra-
os reflexos das mudanças econômicas globais tégias que podem contribuir para o aprimora-
que incidiram sobre a realidade brasileira, agra- mento da polí�tica compreendem, entre outras,
vando as situações de vulnerabilidade e risco o alinhamento entre as disposições legais e a
social de boa parte da população. O principal realidade atual no que diz respeito à estrutura-
indicador que aponta para este agravamento é ção da polí�tica, como no caso das leis de regula-
o aumento do desemprego para 14% da popu- mentação do SUAS; a criação de sistemas e for-
lação ainda em dezembro de 2017. Soma-se a mas de comunicação mais modernos e fluidos
isto o acirramento da crise polí�tica em meio às com o uso das tecnologias da informação atuais,
negociações em torno das reformas trabalhis- que impactem positivamente no monitoramen-
ta e previdenciária, os cortes orçamentários no to da polí�tica, e na aceleração dos processos de
orçamento do Fundo Nacional de Assistência troca de informações e de tomada de decisões.
Social, anunciado no segundo semestre do ano, Também é importante a valorização dos traba-
e a falta de um intenso e amplo debate para as- lhadores e dos conselheiros de assistência por
segurar recursos para estados e municí�pios. meio de capacitações para gestão, controle so-
cial e implementação dos serviços e benefí�cios,
Há que se garantir o cofinanciamento da bem como de programas especí�ficos.
polí�tica de assistência por meio dos Fundos Es-

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Revista de Administração Municipal - RAM 40


Referências Bibliográficas
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uma questão em análise. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

41 Revista de Administração Municipal - RAM


Parecer
Etiqueta PBE Edifica: um desafio para a
promoção de eficiência energética nas
edificações públicas municipais
Fabienne Oberlaender Gonini Novais *
Consulta
A Câmara consulente encaminha, para análise da constitucionalidade, o Projeto de Lei
nº.20/2018, de iniciativa parlamentar, que versa sobre a obrigatoriedade de os projetos
de edificações públicas municipais preverem a instalação de telhado verde ou ecotelhado.

PARECER de eficiência energética de máquinas, aparelhos


consumidores de energia fabricados ou comer-
Em 2001, com a crise do fornecimento de cializados no Paí�s, bem como as edificações
energia elétrica, o paí�s passou a promover a construí�das. Para se chegar a cada um desses
eficiência energética. Desde então, o Governo ní�veis, são levados em consideração indicado-
Federal, as universidades, os institutos de pes- res técnicos.
quisas e diversos setores da sociedade civil vêm
se empenhando para cumprir as determinações No caso das edificações, por determinação
instituí�das pela Lei Federal nº. 10.295/2001, do art.2º do Decreto, foi instituí�do, em 2003, o
que dispõe sobre a Polí�tica Nacional de Con- Comitê Gestor de Indicadores e Ní�veis de Efi-
servação de Energia Elétrica para a alocação ciência Energética - CGIEE e especificamente
eficiente de recursos energéticos e, consequen- para edificações, o Grupo Técnico para Melhoria
temente, a preservação do meio ambiente. da Eficiência Energética nas Edificações no Paí�s
(GT-Edificações) para regulamentar e elabo-
Neste contexto, o art.4º da Lei Federal nº. rar procedimentos para avaliação da eficiência
10.295/2001 determina que o Poder Executivo energética das edificações construí�das no Bra-
desenvolverá mecanismos que promovam a efi- sil, visando o uso racional da energia elétrica.
ciência energética nas edificações construí�das
no Paí�s. Em decorrência disso, deu-se iní�cio ao O estudo da eficiência energética, sobretu-
processo de etiquetagem de edificações. do nas edificações, merece destaque, pois de
acordo com as informações coletadas do site
A etiquetagem, de acordo com o art.1º do do PROCEL (Programa Nacional de Consumo
Decreto nº.4059/2001 que regulamenta a Lei de Energia Elétrica), no Brasil, o consumo de
Federal nº. 10.295/2001, consiste nos ní�veis
máximos de consumo de energia, ou mí�nimos
* Fabienne Oberlaender Gonini Novais - Advogada e
Assessora Jurídica do IBAM.
Endereço eletrônico: fabienne.novais@ibam.org.br

Revista de Administração Municipal - RAM 42


energia elétrica nas edificações residenciais e Sendo assim, a medida a ser desenvolvida no
comerciais, de serviços e públicas, é bastante Municí�pio é mais complexa que a apresentada
significativo, correspondendo a aproximada- no Projeto de Lei e deverá levar em conta não
mente 50% do total da eletricidade consumida só as futuras edificações, mas também aquelas
no paí�s. Nos prédios públicos, cerca de 70% do já existentes que deverão passar por estudo
consumo de energia elétrica se deve ao uso dos técnico que revele as alterações necessárias no
sistemas de iluminação e climatização dessas layout para alcançar a melhor eficiência ener-
edificações. É� , portanto, um percentual expres- gética possí�vel. No site do PBE Edifica (http://
sivo que torna a proposta legislativa sob exame www.pbeedifica.com.br) é possí�vel encontrar
extremamente pertinente, haja vista todos os informações acerca das linhas de financiamen-
fatores ambientais envolvidos. to de eficiência energética do BNDES e do Pro-
grama de Eficiência Energética da ANEEL.
Deste modo, com o propósito de fomentar o
uso racional de energia, o PROCEL tem promo- A tí�tulo de exemplo, compete assinalar que
vido a avaliação da eficiência energética de edi- há no âmbito da Administração Pública Federal
ficações residenciais, comerciais, de serviços a Instrução Normativa nº.02/2014, que dispõe
e públicas, em parceria com o INMETRO, que sobre regras para a aquisição ou locação de má-
confere a Etiqueta Nacional de Conservação de quinas e aparelhos consumidores de energia
Energia (ENCE) para as edificações, a Etiqueta pela Administração Pública Federal direta, au-
PBE Edifica. tárquica e fundacional, o uso da Etiqueta Nacio-
nal de Conservação de Energia (ENCE) nos pro-
Assim, para iniciar a reversão de um cenário jetos e respectivas edificações públicas federais
de uso irracional de energia, mudanças como a novas ou que recebam retrofit, que por ser bem
substituição de equipamentos ineficientes (ex: abrangente, pode servir como parâmetro para
lâmpadas incandescentes substituí�das por lâm- aplicação no Municí�pio.
padas de LED) e de hábitos de seus usuários
são importantí�ssimas. Neste particular, deve-se Cumpre assinalar, ainda, que em 2012, a
registrar que o PROCEL, em parceria com os Eletrobrás PROCEL em parceria com o IBAM,
administradores públicos de todas as esferas editou o "Guia Técnico PROCEL Edifica - Elabo-
do governo, tem incentivado ações tanto para ração e atualização de Códigos de Obras e edi-
o uso de equipamentos mais eficientes, como ficações" (BAHIA, Sergio Rodrigues; GUEDES,
também para o desenvolvimento de projetos Paula De Azevedo; MORAES, Ricardo. Elabora-
e utilização de práticas visando o combate ao ção e atualização do código de obras e edifica-
desperdí�cio e o incremento da eficiência ener- ções. 2 ed. rev. e atual. /Rio de Janeiro: IBAM/
gética em edificações públicas. DUMA, ELETROBRAS/PROCEL, 2012. 319 p.),
com o objetivo de subsidiar os gestores muni-
Isto posto, infere-se que não são ações isola- cipais na implantação de medidas que aspirem
das - como a previsão de instalação de telhados o uso racional de energia. Destarte, o guia ofe-
verdes ou ecotelhas nos projetos de edificações rece orientações atualizadas aos Municí�pios
públicas municipais - que trarão a eficiência com vistas à elaboração ou à revisão do Código
energética almejada. Isto porque, nos edifí�cios Municipal de Obras e Edificações e dos proce-
comerciais, de serviços e públicos três siste- dimentos de controle da atividade de constru-
mas são avaliados: a envoltória, a iluminação ção. Para mais informações, recomendamos a
e o condicionamento de ar. De modo que con- consulta do Guia Técnico no seguinte endereço:
centrar esforços em apenas um desses sistemas http://www.ibam.org.br/media/arquivos/es-
não garantirá a economia que se deseja. tudos/guia_planejamento_urbano_1.pdf.

43 Revista de Administração Municipal - RAM


A este respeito, é pertinente frisar, o Muni-
cí�pio é o ente federado que possui competência
e protagonismo na implementação de polí�ticas
urbanas com o objetivo de assegurar e garan- A maioria das
tir que sejam cumpridas as funções sociais das
cidades especialmente as previstas no Estatuto
Prefeituras e
da Cidade (Lei Federal nº. 10.257/2001). Câmaras Municipais
Nesta perspectiva, o Código de Obras con-
figura importante instrumento ao alcance dos
do Brasil é
gestores municipais para a efetivação de polí�ti-
cas urbanas que tenham como objeto a eficiên-
associada.
cia energética, pois é neste diploma que deve-
rão ser estabelecidos procedimentos relativos à
construção com impacto direto na qualidade do Conte com o apoio
ambiente urbano.
do IBAM para uma
Ante o exposto, dada a complexidade da me-
dida pretendida - pois para a sua implementa- gestão eficiente
ção serão necessários estudos técnicos, o que
invariavelmente acarretará na criação de uma
gama de atribuições a diversos órgãos perten-
centes ao Poder Executivo - e até mesmo por
determinação legal (art.4º da Lei Federal nº.
10.295/2001), a iniciativa do projeto de lei em
tela somente poderá ser do chefe do Poder Exe-
cutivo, sob pena de violação do princí�pio cons-
titucional da separação dos poderes.

Em suma, não obstante a relevância da pre-


sente propositura, esta, da forma como se apre-
senta, está eivada de inconstitucionalidade, so-
bretudo por ofensa ao princí�pio da separação
dos poderes insculpido no art. 2º da Constitui-
ção, razão pela qual não reúne condições para
validamente prosperar.
SEDE

Rio de Janeiro
Rua Buenos Aires, 19
CEP 20070-021 • Centro
Rio de Janeiro • RJ
Tel. (21) 2142-9797
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Revista de Administração Municipal - RAM 44
Parecer
O transporte privado individual por meio
de aplicativos e a observância de princípios
constitucionais pelos Municípios na sua
regulamentação e fiscalização
Gustavo da Costa Ferreira M. dos Santos *

Consulta
A Câmara Municipal consulta este Instituto quanto à legalidade e constitucionalidade do Projeto
de Lei nº 157/2018 que “dispõe sobre a exploração de atividade de transporte remunerado privado
individual de passageiros, serviço remunerado de transporte de passageiros, não aberto ao público, para
realização de viagens individualizadas ou compartilhadas solicitadas exclusivamente por usuários
previamente cadastrados em aplicativos ou outras plataformas de comunicação em rede no Município”.
A consulta vem documentada.

PARECER porte, é privativa da União nos termos do art.


22, XI, da CRFB. Assim, deve ser observada a
O tratamento jurí�dico a ser conferido aos Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro
serviços privados de transporte prestados - CTB), diploma que regulamentou a participa-
por intermédio de aplicativos e plataformas ção de cada um dos componentes do Sistema
computacionais é questão em debate, e que Nacional de Trânsito, dentre os quais se in-
ainda suscita controvérsias. Portanto, para cluem os órgãos e entidades responsáveis pela
conferir maior segurança na análise da via- fiscalização do trânsito e tráfego no Municí�pio.
bilidade do projeto de lei objeto de consulta,
procuraremos nos ater às disposições legais Nesse aspecto, é de se salientar que o art.
expressas do direito positivo e às tendências 97 do CTB determina que compete ao Conse-
jurisprudenciais apontadas em decisões já to- lho Nacional de Trânsito, órgão federal, esta-
madas pelos tribunais, que, pela contempora- belecer as caracterí�sticas dos veí�culos, suas
neidade do assunto, ainda não são pací�ficas. especificações básicas, configurações e con-
dições essenciais para registro. Por sua vez,
Deve o Municí�pio ter em vista, primeira- o art. 22, III, do CTB, atribui aos estados e ao
mente, a repartição de competências legisla-
tivas prevista na Constituição, notadamente
o fato de que, em matéria de trânsito e trans-
* Gustavo da Costa Ferreira M. dos Santos - Consultor
Técnico do IBAM.
Endereço eletrônico: gdos@outlook.com

45 Revista de Administração Municipal - RAM


Distrito Federal a competência para vistoriar regulatórios em virtude da disputa de merca-
e inspecionar veí�culos para expedir o Certifi- do consumidor com os táxis, que são serviços
cado de Registro e Licenciamento Anual, ca- de transporte de utilidade pública prestados
bendo ao Municí�pio tão somente a vistoria por particulares mediante autorização ou per-
de veí�culos que necessitem de "autorização missão dos governos locais (art. 12 e 12-A da
especial para transitar" (art. 21, XIV, do CTB). Lei nº 12.587/2012, com redação dada pela
Lei nº 12.865/2013). De outro lado, o uso do
Imprescindí�vel, também em razão da com- automóvel como meio de transporte em áreas
petência privativa da União para dispor sobre urbanas tem sido objeto de atenção em vista
trânsito e transporte, a adequação do Municí�pio dos problemas de mobilidade enfrentados nas
às regras impostas na Lei nº 12.587/2012, com cidades cada vez mais populosas, e, também,
suas modificações posteriores, que instituiu a dos impactos nos custos com manutenção da
Polí�tica Nacional de Mobilidade Urbana, objeti- malha urbana, assim como no meio ambiente.
vando a integração entre os diferentes modos de
transporte e a melhoria da acessibilidade e mo- Nessa mesma temática da mobilidade, ine-
bilidade das pessoas no território do Municí�pio. gável para os governos locais, a relevância da
integração de tecnologias de informação na
E, aqui, cabe observar que, desde a promul- gestão das cidades, com bancos de dados pú-
gação da Lei nº 12.587/2012, houve duas alte- blicos, privados ou mistos, por meio de algorit-
rações legislativas relacionadas ao tema obje- mos que orientam mediante imagens, mapas,
to do presente parecer: a Lei nº 12.865/2013, georreferenciamento e outras ferramentas, o
que detalhou regras atinentes aos serviços que se convencionou chamar de cidades inte-
de táxi; e a Lei nº 13.640/2018, que inseriu ligentes ("smart cities"). Pertinente, a respeito
normas especí�ficas destinadas ao transpor- do tema, o comentário de Laura Talho Ribeiro:
te remunerado privado individual de passa-
geiros, não aberto ao público, para realização "A introdução de dispositivos tecnológicos cada
de viagens individualizadas ou compartilha- vez mais modernos e inovadores nos espaços urbanos
tem gerado uma nova forma de se pensar a relação do
das solicitadas por usuários cadastrados em cidadão com a cidade em que vive, circula e interage.
aplicativos ou plataformas computacionais Nas últimas décadas, a ideia de criação de
(art. 4º, X da Lei nº 12.587/2012), confir- centros urbanos que aliem o uso desses aparatos in-
mando, assim, o entendimento deste Insti- formacionais às necessidades citadinas, desenvolveu
tuto (vide Parecer nº 2545/2015), em que o que se convencionou chamar de "cidades inteligen-
tes", termo que, ainda que não apresente um conceito
demonstramos que não se confundia essa mo-
pré-definido, nos indica a utilização de tecnologias de
dalidade de transporte privado com o serviço informação e comunicação (TICs) na gestão urbana
de táxi (“transporte público individual”, nos como forma de se tentar alcançar uma maior eficá-
termos do art. 4º, VIII da Lei nº 12.587/2012). cia e eficiência nos procedimentos em curso e na ado-
ção de políticas públicas pelos governos." (RIBEIRO,
Sem embargo da competência legislativa da Laura Talho. "Tecnologias inteligentes de vigilância:
percepções sobre segurança nos centros urbanos".
União, o tema é de inegável repercussão para os Instituto Tecnologia e Sociedade, 2017. Disponível
Municí�pios, o que foi reconhecido expressamen- em https://itsrio.org/wp-content/uploads/2018/03/
te a partir da mencionada Lei nº 13.640/2018, laura_talho_smartsurveillance.pdf )
ao incluir o art. 11-A na Lei nº 12.587/2012 e
determinar que compete aos Municí�pios "regu- Ao mesmo tempo que, numa dimensão local,
lamentar e fiscalizar" o serviço de transporte essas tecnologias impactam de modo permanen-
remunerado privado individual de passageiros. te a vida das cidades, é inegável que elas formam
redes de consumo complexas e transnacionais,
Com efeito, de um lado, essa modalidade que não conhecem fronteiras e contemplam o
de serviços de transporte tem gerado conflitos usuário, prestadores de serviços, fomentadores

Revista de Administração Municipal - RAM 46


de mercado, provedores de plataforma, dentre (TELÉSFORO, Rachel Lopes. "Uber: inovação disrup-
outros atores. O surgimento de aplicativos e pla- tiva e ciclos de intervenção regulatória". Dissertação
taformas computacionais que agregam redes de Mestrado em Direito. Escola de Direito do Rio de
Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, 2016, p. 52).
de indiví�duos e empresas que trocam produtos,
serviços e informações é próprio do fenômeno
Cabe observar, de pronto, que a proibição
global designado economia do compartilha-
pura e simples é por óbvio inadmissí�vel e aten-
mento ("sharing economy"), possí�vel a partir
tatória aos fundamentos da república insculpi-
do desenvolvimento das novas ferramentas di-
dos no art. 1º da CRFB, notadamente os valores
gitais que vêm transformando mundialmente
sociais do trabalho e da livre iniciativa (art. 1º.
a dinâmica das relações sociais e econômicas.
IV, da CRFB). Saliente-se, adicionalmente, que
a ordem econômica brasileira se funda na livre
Essa tensão entre o caráter global da econo-
concorrência consoante determina o art. 170, IV
mia digital e os desdobramentos relativos aos
da CRFB. � inconstitucional, portanto, qualquer
interesses locais da cidade e dos muní�cipes de-
modalidade de intervenção estatal que imponha
safiam os gestores públicos a estabelecerem pa-
reservas de mercado ou condicione à prévia au-
râmetros e limites para sua atuação de modo a
torização o livre exercí�cio de atividades econô-
evitar que a disciplina jurí�dica seja hostil às no-
micas, ressalvados casos excepcionais previs-
vas tecnologias, prejudicando ao fim o desenvol-
tos em lei (art. 170, parágrafo único, da CRFB).
vimento, a inovação e relegando o paí�s ao atraso.
Sob a perspectiva do direito social ao tra-
Nesse passo, é de se observar que ao longo
balho (art. 6º, caput, da CRFB), é de se aver-
da história os avanços tecnológicos levaram
bar que a atividade legislativa e regulatória
o mercado de trabalho a se readequar em di-
não pode obstar os cidadãos de buscar o seu
versos setores, transformando e até extinguin-
sustento por meio de atividades laborais lí�-
do profissões. No caso dos serviços de trans-
citas, sob pena de ofensa à dignidade da pes-
porte privados oferecidos por intermédio de
soa humana, também fundamento da re-
aplicativos e plataformas computacionais, foi
pública nos termos do art. 1º, III, da CRFB.
sobre a profissão dos taxistas que repercutiu
Nesse sentido, pertinente o decisum do TJSP:
mais fortemente. Tanto repercutiu que estu-
dos já documentaram que a tendência inicial "Reexame necessário. Mandado de segurança
dos governos foi a proibição total do serviço preventivo. Exercício da atividade de transporte com
prestado por meio desses aplicativos, notada- base no aplicativo Uber. Santos. Liminar. Pretensão
mente a plataforma Uber. Aludindo a ciclos de mandamental do impetrante voltada ao reconheci-
intervenção regulatória, apontou Rachel Te- mento do direito líquido e certo de exercer livremen-
te seu trabalho, concedendo-se ordem de segurança
lésforo o seguinte quadro, apoiada em dados para o fim de que a autoridade coatora se abstenha
de mais de 100 cidades no Brasil e no mundo: de praticar atos que restrinjam ou impossibilitem o
exercício de atividade profissional de transporte in-
"O mercado de táxis é conhecido pela alta dividual por ele prestada, notadamente a aplicação
regulação, tendo, até então, pouca concorrência e de sanções previstas no art. 3º da Lei Municipal nº
baixo índice de satisfação do consumidor. A presen- 3.213/2015. Prevalência dos princípios da liber-
ça do Uber trouxe maior expectativa de qualidade, dade de iniciativa, liberdade de concorrência e
mas em contramão ao sucesso junto aos usuários, o do livre exercício de qualquer trabalho. Natureza
regulador segue o seguinte ciclo de intervenção regu- privada do transporte individual de passageiros
ladora, ao redor do mundo: (i) proibição imediata do desempenhado pelo impetrante, cujo exercício foi
aplicativo; (ii) proibição indireta do Uber, por meio previsto pelo impetrante, cujo exercício foi previs-
de regulação feita de acordo com o sistema tradicio- to pelos arts. 3º e 4º da Lei Federal nº 12.857/12 e
nal/ "a la táxi" (concessão de alvarás, dentre outros não depende de prévia regulamentação do Poder
mecanismos) e (iii) estudos para implementação de Público. Lei Municipal nº 3.213/2015 que proibiu
uma regulação específica, que une os benefícios tec- a execução do serviço de transporte particular, em
nológicos ao real atendimento do interesse público." verdadeira afronta da ordem de segurança mantida.

47 Revista de Administração Municipal - RAM


Recurso oficial desprovido". (TJSP: Reexame neces- mente provido." (TJ-SP 10130384120168260248 SP
sário nº 1028255-55.2016.8.26.0562, rel. Paulo Bar- 1013038-41.2016.8.26.0248, Relator: Paulo Galizia,
cellos Gatti, j. em 19 de junho de 2017 - grifo nosso). Data de Julgamento: 02/10/2017, 10ª Câmara de
Direito Público, Data de Publicação: 03/10/2017).
Pelos mesmos motivos não é admissí�vel, a
pretexto de disciplinar o serviço de transporte Tudo o que foi exposto até aqui coloca em
por meio de aplicativos e plataformas, impor xeque a viabilidade do projeto de lei muni-
condicionantes e requisitos para a atividade cipal em comento em face da aludida recen-
que a inviabilizem na prática, seja por se afi- te modificação pela Lei nº 13.640/2018, que
gurarem de impossí�vel cumprimento pelos conforme já exposto logo no princí�pio do pre-
particulares; seja por incompatibilidade com o sente parecer, acrescentou os art. 11-A e 11-B
modelo de negócio livremente arquitetado pe- à Lei nº 12.587/2012 para determinar que
los empreendedores, acarretando o atendimen- “compete exclusivamente aos Municípios e ao
to dessas condicionantes óbice à criatividade Distrito Federal regulamentar e fiscalizar o
e ao dinamismo próprio da economia digital. serviço de transporte remunerado privado in-
dividual de passageiros previsto no inciso X do
Com efeito, consoante os princí�pios infor- art. 4º desta Lei no âmbito dos seus territórios”.
madores da ordem econômica brasileira, a Lei
nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) prevê Conforme se pode observar nos disposi-
em seu art. 3º, VIII a "liberdade dos modelos de tivos em comento, os novéis arts. 11-A e 11-B
negócios promovidos na internet". Também a Lei se tratam de normas detalhadas o bastante e
nº 12.529/2011, que estrutura o Sistema Brasi- auto executáveis, que estabelecem requisitos
leiro de Defesa da Concorrência), determina em objetivos suficientes para a prestação do ser-
seu art. 3º que constituem infração da ordem viço pelos particulares independentemente de
econômica os atos manifestados que possam qualquer regulamentação adicional do Muni-
"limitar ou impedir o acesso de novas empresas cí�pio, exigindo-se, por exemplo, contratação
ao mercado" (inciso III) e "criar dificuldades à de seguros, inscrição do motorista como con-
constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvi- tribuinte individual no INSS, categoria da CNH
mento de empresa concorrente ou de fornecedor, necessária e anotação de atividade remunerada
adquirente ou financiador de bens ou serviços" e certidão negativa de antecedentes criminais.
(inciso IV). Assim também se posicionou o TJSP:
Seria o projeto de lei em comento exercí�cio
"MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO. da competência plena prevista no art. 30, I, da
Transporte motorizado privado. Fiscalização realiza- CRFB, quando exista interesse local? É� evidente
da pelo Município de Indaiatuba. Imposição de multa e
apreensão do veículo com fundamento no Decreto mu- que não. As matérias de interesse local previs-
nicipal nº 11.251/11 e artigo 2º da Lei 12.468/2011. tas no art. 30, I, da CRFB encampam domí�nio
Violação não caracterizada. Atividade desenvolvida legislativo reservado ao Municí�pio, hipótese em
pela plataforma digital UBER Tecnologia Ltda. que que não pode nem mesmo o legislador fede-
está em conformidade com a lei. Inteligência do arti- ral ou estadual se imiscuir, o que não é o caso
go 4º, X, da Lei nº 12.587/2012. Negócio jurídico fir- do transporte por meio de aplicativos sobre
mado entre usuário e motorista previsto pelo artigo
730 do Código Civil. Legalidade também decorrente o qual há legislação exauriente editada pela
do Princípio da liberdade dos modelos de negócios União (art. 11-A e 11-B da Lei nº 12.587/2012).
promovidos pela internet, conforme disposto no ar- Ademais, a cláusula do interesse local exi-
tigo 3º, VIII, da Lei nº 12.965/2014. Clandestinidade ge a caracterização de uma predominância,
afastada. Precedentes deste Tribunal. Sentença que conforme bem observa José Afonso da Silva:
concedeu a segurança e tornou definitiva a decisão
liminar. Parcial modificação para afastar a aplicação
"O princípio geral que norteia a repartição
de multa. Inteligência do artigo 26 da lei 12016/2009.
de competência entre as entidades componentes
Recurso não provido e reexame necessário parcial-
do Estado federal é o da predominância do inte-

Revista de Administração Municipal - RAM 48


resse, segundo o qual à União caberão aquelas maté- (d.1) possibilidade de disposição sobre o mesmo as-
rias e questões de predominante interesse geral, na- sunto ou matéria por mais de uma entidade federati-
cional, ao passo que aos Estados tocarão as matérias va; (d.2) primazia da União no que tange à fixação de
e assuntos de predominante interesse regional, e aos normas gerais (art. 24 e seus parágrafos); (e) suple-
Municípios concernem os assuntos de interesse lo- mentar, que é correlativa da competência concor-
cal, tendo a Constituição vigente desprezado o velho rente, e significa o poder de formular normas que
conceito do peculiar interesse que não lograra concei- desdobrem o conteúdo de princípios ou normas
tuação satisfatória em um século de vigência." (SILVA, gerais ou que supram a ausência ou omissão des-
José Afonso da. "Curso de Direito Constitucional Posi- tas (art. 24, §§ 1º a 4º)." (idem, p. 457 - grifo nosso).
tivo". São Paulo: Malheiros, 1997, p. 454 - grifo nosso).
Evidentemente, a municipalidade somente
Ora, no caso dos transportes privados pres- exercerá sua competência suplementar quan-
tados mediante aplicativos ou plataformas do a matéria não estiver atribuí�da a um só ti-
computacionais, não há como se sustentar a tular, pois aí� não haverá o que partilhar. Ou
existência de predominância do interesse lo- seja, não lhe cabe invocar o art. 30, II da Magna
cal. É� inegável, como se disse acima, que essa Carta diante da competência exclusiva ou pri-
modalidade de negócio digital repercute de vativa de outro ente federativo, exceto, nesse
modo definitivo na vida das cidades; porém, último caso, se houver - e for exercida - a pos-
a principal caracterí�stica da economia digi- sibilidade de delegação ao governo municipal.
tal é justamente a conectividade e a formação
de redes transnacionais de compartilhamen- Por exclusão, só lhe cumpriria exercer a
to de informações e serviços, conforme ob- competência legislativa suplementar diante da
servam Patricia Batista e Clara Iglesias Keller: concorrência admitida para tratar de um mes-
mo tema, quando a matéria se emprestar a
"As inovações tecnológicas constituem a linha tratamentos diversificados ao longo do ter-
de frente da globalização. As redes, plataformas, nu-
vens digitais não obedecem à lógica das fronteiras es- ritório nacional; a opção pela competência
tatais. Por isso, aqui, as perspectivas do direito admi- concorrente sinaliza a aceitação de variações
nistrativo global nos parecem particularmente úteis do sistema jurí�dico ao longo do paí�s, permitin-
para fornecer parâmetros jurídicos para relações do o tratamento de algumas questões de acordo
estabelecidas para lá do Estado." (BATISTA, Patricia com as peculiaridades das organizações polí�ti-
e KELLER, Clara Iglesias. "Por que, quando e como re- co-territoriais de nosso Estado Federal. Nesse
gular as novas tecnologias? Os desafios trazidos pelas
inovações disruptivas". RDA – Revista de Direito Ad- sentido, é pertinente a seguinte decisão do STF:
ministrativo, Rio de Janeiro, v. 273, p. 123-163, set./
dez. 2016, disponível em http://bibliotecadigital.fgv. "A competência para legislar sobre trânsito é
br/ojs/index.php/rda/article/view/66659/64683). exclusiva da União, conforme jurisprudência reite-
rada desta Corte (ADI 1.032, ADIMC 1.704, ADI 532,
ADI 2.101 e ADI 2.064), assim como é a competência
Por outro lado, em relação ao trânsito e para dispor sobre a obrigatoriedade do uso de cinto
transporte, que é assunto de competência legis- de segurança (ADIMC 874). - Ora, em se tratando
lativa privativa da União, não é possí�vel o exercí�- de competência privativa da União, e competên-
cio de competência legislativa suplementar nos cia essa que não pode ser exercida pelos Estados se
não houver lei complementar - que não existe - que
termos do art. 30, II, da CRFB, porque a com-
o autorize a legislar sobre questões específicas dessa
petência suplementar é correlativa da concor- matéria (artigo 22 da Constituição), não há como
rente, conforme observa José Afonso da Silva: pretender-se que a competência suplementar
dos Municípios prevista no inciso II do artigo 30,
"Quanto à extensão, ou seja, quanto à partici- com base na expressão vaga aí constante "no que
pação de uma ou mais entidades na esfera da normati- couber", se possa exercitar para a suplementa-
vidade ou da realização material, vimos que a compe- ção dessa legislação da competência privativa da
tência se distingue em: (a) exclusiva (...); (b) privativa União. - Ademais, legislação municipal, como ocorre
(...); (c) comum, cumulativa ou paralela (...); (d) con- no caso que obriga o uso de cinto de segurança e proí-
corrente, cujo conceito compreende dois elementos: be transporte de menores de 10 anos no banco dian-

49 Revista de Administração Municipal - RAM


teiro dos veículos com o estabelecimento de multa em exigências e requisitos absolutamente estra-
favor do Município, não só não diz respeito, obvia- nhas à disciplina federal prevista nos arts. 11-A
mente, a assunto de interesse local para pretender-se e 11-B da Lei nº 12.587/2012. Cabe invocar a
que se enquadre na competência legislativa munici-
pal prevista no inciso I do artigo 30 da Carta Magna, lição de Carlos Ari Sundfeld e André Rosilho
nem se pode apoiar, como decidido na ADIMEC 874, que, embora mereça adaptações em virtude da
na competência comum contemplada no inciso XII do noví�ssima Lei nº 13.640/2018, continua atual:
artigo 23 da Constituição, não estando ainda prevista
na competência concorrente dos Estados (artigo 24 "Contudo, leis e decretos municipais e distri-
da Carta Magna), para se sustentar que, nesse caso, tais, editados com a finalidade de disciplinar o trans-
caberia a competência suplementar dos Municípios. porte individual privado remunerado de passageiros,
Recurso extraordinário não conhecido, declarando-se vêm cometendo excessos pontuais. Importante, é, as-
a inconstitucionalidade da Lei 11.659, de 4 de novem- sim, delimitar aparentemente adentrando em espa-
bro de 1994, do Município de São Paulo." (RE 227384, ço reservado pela Constituição à legislação nacional
Relator (a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, de trânsito (art. 22, XI), de direito civil ou comercial
julgado em 17/06/2002, DJ 09-08-2002 PP-00068 (art. 22, I) ou de exercício de profissões (art. 22, XVI).
EMENT VOL-02077-02 PP-00190 - grifo nosso). (...)
Cabe à legislação nacional de trânsito dispor
Quanto ao transporte privado individual para todo o Brasil sobre os requisitos para a admis-
prestado por meio de aplicativos ou platafor- são dos veículos à circulação pelas vias públicas, em
atividade particular ou econômica. Quanto à restri-
mas computacionais, a possibilidade de haver ção para os veículos licenciados em outros Municí-
multiplicidade de tratamento jurí�dico em cada pios, trata-se de tentativa de reserva de mercado.
um dos Municí�pios brasileiros é inconcebí�- Mas um Município não pode fechar seu mercado ao
vel, e acarretaria a inviabilização do serviço. restante do Brasil. (...) As outras medidas têm o aspec-
Daí� que a disciplina prevista nos arts. 11-A e to de ação de autoridades municipais que, para pro-
teger o mercado dos táxis, querem impor barreiras
11-B da Lei nº 12.587/2012 deve ser exercida
novas ao desenvolvimento da liberdade econômica.
tão somente por meio de atos administrati- São mais alguns exemplos de excessos. Os requi-
vos regulamentares editados pela autoridade sitos para a condução profissional de veículos já são
municipal de trânsito competente nos ter- estabelecidos pela legislação nacional de trânsito
mos do CTB, com todas as limitações aplicá- e de profissões. A competência para tanto é exclu-
veis a atos administrativos, que não podem siva da União. Não podem os Municípios inventar
novos requisitos, pois estão lidando com a liberda-
criar direitos ou impor deveres exorbitantes. de profissional (CF, art. 5º, XIII). Não parece haver
muita justificativa para exigir cursinhos de quem
Por amor ao debate, e desde já nos mani- já é habilitado pelo Sistema Nacional de Trânsito,
festando pela inviabilidade de prosperar o na forma da legislação nacional, justamente para o
projeto de lei em questão, cabe observar que, exercício profissional da atividade de conduzir veí-
culos. (...) Não há como proibir a prestação de servi-
ainda que se tratasse de decreto regulamentar,
ços por motoristas residentes em outros Municípios.
o seu conteúdo se afiguraria ilegal, ao exigir, Quanto ao item 3, há casos, por exemplo, em que
por exemplo, que i) as empresas operadoras diplomas municipais ou distritais condicionaram a
da plataforma tecnológica tenham sede ou filial utilização, por prestadores do serviço de transporte
no Municí�pio, ii) que os motoristas assumam individual privado remunerado de passageiros, de
compromisso de "prestação do serviço única e aplicativos de intermediação, à exigência de que a
empresa fornecedora do aplicativo comprove possuir
exclusivamente por meio de plataformas tecno- matriz ou filial na localidade. Mas esse tema é de natu-
lógicas", impedindo que seja contratado como reza tributária e já é tratado pelas normas específicas.
chofer ou qualquer outra modalidade de con- Aqui, a interferência na liberdade de empreender
trato civil de transporte prevista nos arts. 730 parece grave. Normas locais tentam criar barreiras à
e ss. do Código Civil , iii) que o veí�culo seja em- atuação de empresas brasileiras, que funcionam se-
gundo os requisitos da legislação comercial e econô-
placado no Municí�pio; iv) que o motorista fre-
mica nacional. A ordem constitucional brasileira não
quente curso de formação; v) que seja realizada é simpática à reserva do mercado municipal de servi-
vistoria anual pelo Municí�pio; dentre outras ços apenas às empresas e profissionais do Município.

Revista de Administração Municipal - RAM 50


Em todos os exemplos a legislação municipal e a redação alterada pela Lei nº 13.640/2018,
distrital quis se sobrepor aos requisitos mínimos já fi- faz alusão a essa obrigação da municipalidade,
xados pela legislação nacional atinente a trânsito ou o que é requisito essencial da responsabilida-
transporte (matérias sobre as quais compete privati-
vamente à União legislar, sendo de observar que o art. de na gestão fiscal nos termos do art. 11 da LC
120 do CTB já trata do assunto) e introduzir alguma nº 101/2001 (Lei de Responsabilidade Fiscal).
reserva do mercado municipal de serviços a veículos,
empresas e profissionais da localidade, o que é difícil Em vista de todo o exposto, é de se concluir:
de compatibilizar com a unidade econômica do país,
que se quis viabilizar com um direito comercial, civil e - pela inconstitucionalidade do Projeto de Lei
econômico único. Seria penoso defender a constitucio- nº 157/2018, por não se tratar de assunto de predomi-
nalidade dessas normas. Por fim, quanto ao item 4, há nante interesse local (art. 30, I, da CRFB) e tampouco
casos em que a legislação municipal obrigou o serviço hipótese de competência legislativa suplementar (art.
de transporte individual privado remunerado de pas- 30, II, da CRFB), em vista da competência privativa
sageiros a observar tarifa máxima fixada por órgão da União para tratar sobre trânsito e transporte (art.
municipal." (ROSILHO, André e SUNDFELD, Carlos Ari. 22, XI, da CRFB), bem como sobre direito civil e sobre
"Serviços privados de transporte individual na lei na- o exercício das profissões (art. 22, I e XVI, da CRFB);
cional de mobilidade urbana". Revista de Direito da
Cidade. Vol. 10, nº 2, 2018. http://www.e-publicacoes. - que a regulamentação e fiscalização do trans-
uerj.br/index.php/rdc/article/view/32315/24085). porte privado individual por meio de aplicativos e
plataformas computacionais é competência material
Especificamente quanto à exigência de em- do Município (art. 11-A e 11-B da Lei nº 12.587/2012)
placamento no Municí�pio, cabe noticiar de- por meio de atos administrativos emanados de órgãos
cisão judicial também do TJSP que a reputou executivos de trânsito locais, que, sob pena de ilegali-
dade, não podem proibi-lo ou impor requisitos exorbi-
ilegal, ainda que mediante ato administrativo: tantes em relação aos exigidos pela legislação federal;
"A Resolução Municipal 16/2017 estabelece que - que a regulamentação do transporte privado
o licenciamento na capital é condição para o certifi- individual por meio de aplicativos e plataformas deve
cado de segurança. Ocorre que inexiste uma correção sempre ter no horizonte a livre iniciativa, a liberdade
evidente ou direta. (...) É uma dissonância que se pres- de trabalho e a livre concorrência (art. 1º, IV, art. 6º,
ta apenas a limitar a iniciativa privada e, ao menos na caput e art. 170, da CRFB), assim como a liberdade de
ótima imediata, sem qualquer ganho para o munícipe modelos de negócio prevista na Lei nº 12.965/2014
ou para o Município. Cria, a rigor, uma espécie de bar- (Marco Civil da Internet) em seu art. 3º, VIII, e a vedação
reira geográfica a atividade privada, uma reserva de às práticas anticoncorrenciais (Lei nº 12.529/2011);
mercado aos motoristas e taxistas locais, e tangencia
em seu conteúdo violar em último grau a limitação de - que a regulamentação do transporte priva-
tráfego e locomoção em território nacional, em tempos do individual por meio de aplicativos no Município
de paz, discriminando pela origem da placa." (TJSP: deve se prestar mais ao atendimento das finalidades
Processo nº 1002513-32.2018.8.26.0053, JUIZ DE DI- da Política Nacional de Mobilidade Urbana, usando-
REITO Kenichi Koyama. j. em 23 de Janeiro de 2018). -se das ferramentas tecnológicas, dentro da legalida-
de e com respeito à privacidade das pessoas, com o
Cabe abrir ressalva para observar, por fim, objetivo de melhoria da qualidade de vida na cidade
e da proteção ao meio ambiente, e menos para im-
que no bojo da proposição sob análise, é insti-
por procedimentos burocráticos para obstar ou di-
tuí�da a cobrança de taxa, bem como feita remis- ficultar o exercício de atividades econômicas lícitas;
são à cobrança do ISS. Embora não possa o pro-
jeto de lei em tela prosperar pelas razões acima - que a inviabilidade de disciplinar me-
aduzidas, estando prejudicada a análise quanto diante lei o serviço de transporte individual pri-
à instituição da taxa em questão, mister averbar vado por meio de aplicativos não elide a com-
petência do Município para instituir e cobrar os
que não se elide o exercí�cio da competência do tributos em razão da prestação desse serviço (art.
Municí�pio para criar tributos devidos em razão 11-A, parágrafo único, I da Lei nº 12.587/2012
desse serviço, e efetivamente arrecadá-los. Mui- e art. 11, da Lei Complementar nº 101/2000).
to ao contrário, a própria Lei nº 12.587/2012
em seu art. 11-A, parágrafo único, inciso I, com

51 Revista de Administração Municipal - RAM


Parecer
Impossibilidade de negativa de internação a
idoso sem acompanhante. Direito legalmente
assegurado não pode prejudicar seu titular

Priscila Oquioni Souto *

Consulta
Indaga o consulente acerca da possibilidade de ser negada internação a idoso pelo fato de estar ele
desacompanhado.
A consulta não veio documentada.

PARECER mia em seu aspecto substancial e não meramen-


te formal, ou seja, a lei em comento tem por fito
Inicialmente, para o escorreito deslinde da tratar desigualmente os desiguais na medida de
questão em tela, vale registrar que o Estatuto suas desigualdades.
do Idoso (Lei nº 10.741/2003) tem por escopo
primordial regular os direitos assegurados às Em cotejo, assentamos que o direito à saúde
pessoas com idade igual ou superior a 60 (ses- (direito social na forma do art. 6º da Constitui-
senta) anos. Trata-se, em realidade, de expres- ção) é direito de todos, indistintamente, e dever
são do princí�pio da dignidade da pessoa huma- do Estado, garantido mediante polí�ticas sociais
na, epicentro axiológico do nosso ordenamento e econômicas que objetivem à redução do risco
constitucional. de doenças, o acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção e proteção,
Desta feita, atendendo aos comandos consti- havendo uma responsabilidade solidária entre
tucionais que vedam a discriminação em razão os entes, na forma do art. 198 da Constituição.
da idade (CF, art. 3º, III), assegura especial pro-
teção ao idoso (CF, art. 230) e lhe garante as- Dentro deste contexto, na forma do art. 16
sistência social e alimentos (CF, 203, V), o men- do Estatuto do Idoso, a pessoa maior de 60 anos
cionado estatuto, empresta maior efetividade tem direito a um acompanhamento durante
à proteção dos maiores de 60 anos, conceden- todo o tempo em que estiver internada ou em
do-lhes o mesmo tratamento cuidadoso que é observação, excetos nas internações em UTI ou
dispensado a todo e qualquer cidadão. por decisão justificada do médico responsável.
Vejamos:
Nesse diapasão, impede destacar que o no-
bre estatuto se coaduna com a busca da isono-
* Priscila Oquioni Souto - Advogada e Assessora
Jurídica do IBAM.
Endereço eletrônico: priscila.oquioni@ibam.org.br

Revista de Administração Municipal - RAM 52


"Art. 16. Ao idoso internado ou em ob- radores de rua. Assim, por ocasião da interna-
servação é assegurado o direito a acom- ção de idoso sem acompanhante compete ao
panhante, devendo o órgão de saúde assistente social procurar a famí�lia ou pessoas
proporcionar as condições adequadas para a sua per-
manência em tempo integral, segundo o critério médico. próximas do paciente e, detectado descaso ou
Parágrafo único. Caberá ao profissional de maus tratos deverá, de igual forma, comunicar
saúde responsável pelo tratamento conceder auto- o fato ao Ministério Público do Estado para ado-
rização para o acompanhamento do idoso ou, no ção das medidas cabí�veis.
caso de impossibilidade, justificá-la por escrito."
Por tudo que precede, concluí�mos objetiva-
Em igual sentido, a Portaria nº 280, de 7 de mente a presente consulta no sentido da impos-
abril de 1999, do Ministério da Saúde. sibilidade de se negar efetivação do direito so-
Pois bem, ao idoso é assegurado o direito a cial à saúde ao idoso pelo fato de estar o mesmo
um acompanhante nas internações, porém, um desacompanhando, cabendo ao serviço social
direito que lhes é previsto não poderá de forma entrar em contato com os familiares do idoso.
alguma ser utilizado para prejudicá-los. Logo, De igual forma, ainda que o idoso não tenha fa-
não se revela razoável (aliás, não se revela legí�- miliar ou responsável, não poderá o mesmo ter
timo) recusar a um idoso direito social à saúde seu direito obstado.
- e, quiçá, à vida, pela ausência de um acompa-
nhante.

Aliás, tal entendimento pode ser aferido do


próprio Estatuto do Idoso, mais precisamente,
em seu art. 17, parágrafo único, inciso IV: IBAM OFERECE NOVOS
"Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas
MEIOS DE ACESSO
faculdades mentais é assegurado o direito de optar
pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais
favorável.
Por meio destes novos canais, to-
Parágrafo único. Não estando o idoso em
dos poderão acompanhar não só as
condições de proceder à opção, esta será feita:
ações desenvolvidas para os asso-
I - pelo curador, quando o idoso for interditado; ciados ao Instituto, assim como en-
II - pelos familiares, quando o idoso não tiver
curador ou este não puder ser contatado em tempo hábil; tendimentos escritos pela Consultoria
III - pelo médico, quando ocorrer imi- Jurídica do ibam, decisões judiciais,
nente risco de vida e não houver tempo há-
bil para consulta a curador ou familiar; inovações legislativas e muito mais.
IV - pelo próprio médico, quando não hou-
ver curador ou familiar conhecido, caso em que
deverá comunicar o fato ao Ministério Público."
Acesse já!
Em situações como a expressa na consulta,
há de se considerar, outrossim, que o assistente
social assume certo protagonismo nas ações de
saúde, quando os fatores causadores do aten- facebook.com/associacaoibam
dimento médico apresentam interseções com
as questões sociais, tais como violência contra
idosos, crianças, adolescentes, mulheres e mo-
instagram.com/associacaoibam

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