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v o l u m e 1 2 - n ú m e r o 0 1 • J an e i r o / F e v e r e i r o 2 0 1 3 ISSN 16778510

Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

R evi st a
Fisiologia

B rasi l ei ra
exercício

de
do

Fisio lo gia
Brazilian Journal of Exercise Physiology

do
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

e xe r cício
ESPORTE
• Treinamento físico personalizado
• Voleibol e desenvolvimento infantil

ORTOPEDIA 14 anos
• Tratamentos na síndrome
femoropatelar

IMUNOLOGIA
• Células natural killer e efeito
do treinamento

FISIOLOGIA
• Alongamento estático sobre o teste
de 1RM
• Reexpansão pulmonar em trauma
raquimedular
• Exercício físico e estresse oxidativo
• Consumo máximo de oxigênio
e percentual de gordura

v o l u me 12 - n ú me ro 0 1 • Ja n e iro /Fe v er e ir o 20 13

MR

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percentual de gordura, já que esse suplemento é de uso sublingual e com isso a absorção
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INVESTIMENTO
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 1

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Associação de suplementos com rápida ação e melhor eficiência.

INVESTIMENTO
EFICIÊNCIA
VELOCIDADE

Máxima
definição
muscular
2 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

F i s io l o g ia
do exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

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Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro

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Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
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F i s io l o g ia
do exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Índice
volume 12 número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Editorial
Diversidade e novos horizontes para o exercício físico,
Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx............................................................................................ 6

ARTIGOS ORIGINAIS
Influência do alongamento estático sobre o teste de 1RM,
Luiz Alberto Werneck, Eduardo Lattari, Sergio Machado.................................................................. 7
Consumo máximo de oxigênio e percentual de gordura em universitários,
Igor Larchert Mota, Jair Sindra Virtuoso Junior.............................................................................. 13
Efeito agudo do exercício físico intenso no balanço oxidante e redutor
no sangue de indivíduos ativos, Albená Nunes da Silva,
Clara Araujo Veloso, Rodrigo Salles Amaral, Caroline Maria de Oliveira
Volpe, José Augusto Nogueira Machado, Danusa Dias Soares.......................................................... 19
Perfil morfofuncional e objetivo de sujeitos que procuram treinamento
físico personalizado, Beatriz Lopes de Almeida, Alexandre Correia Rocha,
Dilmar Pinto Guedes Junior............................................................................................................ 28
Influência da iniciação ao voleibol na aptidão física e desempenho motor
de crianças do quarto ano do ensino fundamental, Juliana Victer da
Silva Fraga, Roberto Pereira de Oliveira, Tomires Campos Lopes..................................................... 33

RELATO DE CASO
A efetividade do treino de ortostatismo progressivo na reexpansão pulmonar
em trauma raquimedular alto, Caroline Andréia Pizano, Melina Tarossi,
Rodrigo Marques Tonella, Cristiane Delgado Alves Rodrigues,
Núbia Maria Freire Vieira Lima, Shirley Mandu, Daniele Mascarenhas........................................... 40

REVISÕES
Células natural killer e o efeito do treinamento, Grasiely Faccin Borges,
Ana Maria Miranda Botelho Teixeira, Luís Manuel Pinto Lopes Rama............................................ 45
Protocolos de tratamento na síndrome femoropatelar,
Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Nayara Menezes Pereira......................................................... 55

NORMAS DE PUBLICAÇÃO............................................................................................ 62

EVENTOS.............................................................................................................................. 63
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6 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Editorial

Diversidade e novos horizontes


para o exercício físico
Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx

Neste primeiro número do ano de 2013, como o treino de ortostatismo progressivo poderia
apresentamos seis estudos originais, um relato influenciar na reexpansão pulmonar em pacientes
de caso e duas revisões da literatura. No campo com trauma raquimedular. Fecham a presente
do treinamento físico, grupo do Rio de Janeiro edição duas revisões, respectivamente vindas de
analisa a influência de exercícios de alongamento grupos do Amazonas e Santa Catarina, sobre
sobre a força máxima, enquanto estudo de Minas o efeito do treinamento sobre células natural
Gerais descreve a influência de exercício intenso killer e protocolos de tratamento da síndrome
no balanço oxidante no sangue. femoropatelar.
As relações entre exercício e aspectos da pro- Em poucas palavras, um conteúdo diversifi-
moção da saúde são abordadas em estudos sobre cado, rico e oriundo de diversas partes do país,
consumo de oxigênio e percentual de gordura em nas quais grupos com diferentes formações vêm
universitários da Bahia e perfil morfofuncional de produzindo conhecimento de qualidade e com
indivíduos que procuram treinamento personali- grande potencial de aplicação na rotina dos profis-
zado na região de Santos/SP. sionais que lidam com prescrição do exercício em
Interessante trabalho sobre iniciação ao volei- contextos vários. A Revista Brasileira de Fisiologia
bol em crianças do ensino fundamental e apresen- do Exercício, como se percebe, busca refletir essa
tado por grupo do Rio de Janeiro, enquanto as diversidade.
relações entre formato do pé e entorses do torno-
zelo foram investigadas por equipe do Paraná. O Aos nossos leitores, bom proveito!
relato de caso vem de Campinas/SP, descrevendo
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 7

ARTIGO ORIGINAL

Influência do alongamento estático


sobre o teste de 1RM
Influence of static stretching on the 1RM test

Luiz Alberto Werneck*, Eduardo Lattari**, Sergio Machado, D.Sc.***

*Especialista em Personal training e musculação (FAMATH-RJ), Laboratório de Biodinâmica, Univer-


sidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, **Mestrando em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE-
UGF/RJ), Laboratório de Neurociência do Exercício- Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, ***La-
boratório de Pânico e Respiração do IPUB/UFRJ, Programa de Quiropraxia da Faculdade de Ciências
da Saúde da Universidade Central (UCEN)- Chile, Laboratório de Neurociência da Atividade Física,
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física (PPGCAF), Universidade Salgado de Oli-
veira, Niterói/RJ (UNIVERSO)

Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi verificar se 1 série de The aim of this study was to verify if 10 seconds
10 segundos de alongamento estático poderia reduzir of static stretching could reduce the loads mobilized
as cargas mobilizadas no teste de 1RM. A amostra in 1RM test. The sample was composed of 10 young
foi composta de 10 homens participantes de um healthy men and participants of a bodybuilding pro-
programa de musculação por pelo menos 1 ano. A gram for at least 1 year. The sample was divided into 2
amostra foi dividida em 2 grupos de 5 indivíduos de groups of 5 individuals randomly forming 10 pairings
maneira aleatória formando 10 pareamentos em um in a crossover treatment where each subject was its
tratamento cruzado em que cada grupo era seu próprio own control. Two sessions were held in order to obtain
controle. No primeiro dia, cinco sujeitos realizaram reliability in 1RM test. On the first day, five subjects
o teste com o prévio alongamento e os outros cinco performed the test with the prior stretching and the
não. No segundo dia, inverteu-se o procedimento. other ones not. On the second day, the procedure was
Os resultados demonstraram que a aplicação prévia reversed. The results showed that the prior performance
de uma série com 10 segundos de permanência do of a 10 seconds static stretching did not result in loss
alongamento estático não levou a perda de força no of strength in 1RM test. It was concluded that a series
teste de 1RM. Concluiu-se que a realização de uma of ten seconds of static stretching before counter resis-
série de dez segundos de alongamento estático antes do tance training does not reduce strength development
início do treinamento contra resistência não prejudica Key-words: static stretching, muscular strength, 1RM.
o desenvolvimento da força.
Palavras-chave: alongamento estático, força
muscular, 1RM

Recebido em 7 de setembro de 2012; aceito em 4 de janeiro de 2013.


Endereço para correspondência: Sergio Machado, Laboratório de Neurociência da Atividade Física,
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física (PPGCAF) - Universidade Salgado de Oliveira,
Niterói, Rua Ferreira Viana, 62/601, 22410-040 Rio de Janeiro RJ, E-mail: secm80@yahoo.com.br
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Introdução Portanto, o objetivo deste trabalho foi verifi-


car se, utilizando como método o alongamento
Dentro de um programa global de condiciona- estático, executando apenas uma série de dez
mento, a compatibilidade e a priorização são funda- segundos, haveria redução das cargas mobilizadas
mentais na integração dos diferentes componentes no teste de 1RM.
da aptidão física. É comum, num programa de
treinamento que vise à saúde, à estética ou à perfor- Material e métodos
mance, a realização de exercícios de alongamento,
força muscular e atividades aeróbicas, sendo que, Amostra
o alongamento, é normalmente utilizado na fase
de aquecimento [1-5] e de volta a calma [6]. No A amostra foi composta de 10 sujeitos com
primeiro caso, é utilizado como forma de preparar média de idade de 23,3 ± 2,98, peso 84,9 ± 4,7 e
o sistema músculo-articular para um esforço físico, estatura de 1,81 ± 0,04, praticantes de treinamento
através da deformação elástica e, de acordo com de força há no mínimo um ano, sem histórico de
Evetovich et al. [4], Smith [7], Worrel et al. [8] e lesão, e aptos para a realização de testes e treinamen-
Pinfildi et al. [9], como prevenção de lesões, apesar tos específicos. Após serem previamente esclarecidos
desta afirmação estar sendo posta em dúvida nos sobre os propósitos da investigação e procedimentos
últimos anos [3,5,10-12]. No segundo caso, ou aos quais seriam submetidos, os indivíduos assina-
seja, na volta à calma, os exercícios de alongamento ram um termo de consentimento livre e esclarecido.
são utilizados com o intuito de provocar um relaxa- Os dez sujeitos foram divididos em dois gru-
mento, pela diminuição da tensão passiva [6]. En- pos de cinco indivíduos, de maneira aleatória,
tretanto, o efeito que um trabalho de alongamento para a realização dos procedimentos com e sem
pode ter sobre a força muscular ainda é bastante alongamento, de modo a formarem 10 parea-
controvertido [13]. Alguns autores demonstraram mentos, em um tratamento cruzado em que cada
uma redução na capacidade de gerar tensão nos sujeito era seu próprio controle. Este estudo está
músculos previamente submetidos a uma sessão de acordo com as normas da Resolução 196/96
de alongamento. Algumas revisões evidenciaram do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa
que o alongamento antecedendo a uma atividade envolvendo seres humanos.
de força muscular acarreta queda no desempenho
de força [14,15]. Entretanto, em uma importante Teste de 1RM para o exercício do supi-
revisão, Rubini et al.[16] destacaram que, embora no reto
a maioria dos estudos encontrasse diminuições
agudas na força, quando precedida de exercícios Para coleta de dados, foi aplicado, para os
de alongamento, tais diminuições pareciam ser dez sujeitos da amostra, o teste de uma repetição
mais proeminentes em protocolos mais longos de máxima (1RM), sendo realizado em dois dias
alongamento (número de exercícios e séries, e a diferentes, com intervalo de 48 horas entre eles e
duração de cada série) que, no geral, excediam as sendo utilizado o exercício do supino reto. As duas
escalas normalmente recomendadas na literatura. sessões de teste de 1RM para o exercício de supino
Consequentemente, a duração dos estímulos era reto tiveram, como objetivo, a familiarização com
excessivamente longa comparada com a prática o procedimento e a obtenção da fidedignidade
comum, assim, fazendo evidente a necessidade de das cargas.
mais estudos adicionais. Outro fator importante As seguintes estratégias foram adotadas,
é o método de alongamento utilizado, já que as durante o teste de 1RM, para reduzir erros de
respostas sobre a força muscular são diferenciadas execução:
mediante o método que se aplique, podendo acar- • Todos os participantes da pesquisa foram devi-
retar tanto em ganhos (balístico) [17-19] como em damente instruídos quanto aos procedimentos
perdas de força (estático e facilitação neuromuscu- do teste e técnica de execução no exercício de
lar proprioceptiva-FNP) [20-23]. supino reto;
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• Todos os testes foram realizados no mesmo início da execução do exercício foi de 30 segundos.
horário para o mesmo indivíduo; As duas sessões dos procedimentos experimen-
• Os equipamentos utilizados para os testes e tais foram realizadas com um intervalo de 48
para o treinamento foram devidamente che- horas entre elas, no mesmo horário, pelo fato da
cados; capacidade de produzir força oscilar durante o
• Como padronização da amplitude do movi- dia [25]. Os indivíduos foram orientados a não
mento, os sujeitos deveriam tocar a barra na realizar atividade física até o momento da coleta
caixa torácica no final da fase excêntrica, em dos dados, além de não realizar trabalhos contra
cada repetição executada; resistência utilizando a musculatura solicitada no
• Foi permitido aos sujeitos a realização de teste, no dia que precedia cada etapa. Antes dos
um aquecimento específico que consistiu na testes, foi realizado um aquecimento localizado,
execução do próprio supino reto, seguindo-se para, possivelmente, melhorar a capacidade de
as recomendações do American College of desempenho neuromuscular e reduzir o risco de
Sports Medicine’s Guidelines [24]: 1 série de lesões [26].
5 a 10 repetições com uma carga de 40 a 60
% de 1 RM, e uma segunda série, 1 minuto Análise estatística
depois, de 3 a 5 repetições com uma carga de
60 a 80 % de 1 RM. Após o aquecimento, Para verificar as cargas obtidas nos testes de
foi dado um intervalo de 5 minutos antes do 1RM, foi utilizado o coeficiente de correlação de
início dos testes. Pearson, enquanto que para verificar a influência
do alongamento estático antecedendo ao teste de
Aplicação experimental 1RM, foi utilizado um teste “t” Student pareado.

Verificada a fidedignidade das cargas obtidas Resultados


no teste de 1RM para o exercício de supino reto,
foram realizadas duas etapas para verificar a in- Através do coeficiente de correlação de Pearson
fluência do alongamento estático passivo sobre a foi observada uma alta correlação (r = 0,98) nos
força desenvolvida no teste de 1RM. testes de 1RM. Além disso, foi observado, atra-
a) 1º dia – Nesta etapa, cinco sujeitos realizaram vés do teste t Student, que não houve diferenças
o teste de 1RM com o prévio alongamento e significativas entre a aplicação ou não do alonga-
os outros cinco realizaram o teste de 1RM sem mento estático passivo antecedendo ao exercício
o alongamento prévio; de supino (Figura 1).
b) 2º dia – Nesta última etapa, os cinco sujeitos
que realizaram o teste de 1RM sem o alonga- Figura 1 - Comportamento da força muscular no teste
mento, dessa vez realizaram com o alongamen- de 1RM sem e com utilização de alongamento estático.
to prévio. Os outros cinco que realizaram com 87
o alongamento no primeiro dia, realizaram
Comportamento da força

86
sem o alongamento nesse segundo momento.
Foi realizada uma série de alongamento assis- 85
tido passivo que seguiu a seguinte rotina: com o 84
sujeito de costas, o avaliador, segurando-o pelas
mãos, realizou-lhe uma abdução no plano hori- 83
zontal, mantendo os braços aproximadamente no 82
nível dos ombros, até uma posição que o aluno
relatasse um ligeiro desconforto. O tempo de 81
duração do alongamento foi de 10 segundos, por 80
estar próximo do tempo normalmente utilizado Sem alongamento Com alongamento
nas academias pelos praticantes de musculação.
O tempo entre a realização do alongamento e o
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Discussão traram não haver interferência. Em concordância,


Mello e Gomes [13], utilizando 2 séries de 15, 30
Os métodos de alongamento, com intuito de e 60 segundos de insistência, também não encon-
promover o aumento da flexibilidade, mais utili- traram efeitos deletérios do alongamento prévio
zados nas academias, previamente aos exercícios ao trabalho de força. Dos estudos revisados neste
contra resistência são: estático, balístico e o de trabalho, com exceção ao de Mello e Gomes [13]
facilitação neuromuscular proprioceptiva [9,12]. e Prati et al. [14], nenhum utilizou um tempo de
A necessidade do aprimoramento dos 2 com- insistência próximo ao comumente utilizado pelos
ponentes da aptidão física, força e flexibilidade, praticantes de atividade física contra resistência
para a manutenção da qualidade de vida e a apa- que é de 10 segundos.
rente incongruência entre eles numa mesma sessão Vários autores propõem explicações para a
de treinamento, pelo fato do alongamento poder redução da força após a realização de exercícios de
ter um efeito negativo sobre a força, faz com que alongamento, tais como alteração das propriedades
vários estudos sejam realizados com o objetivo de viscoelásticas do músculo [45,46], redução da rigi-
esclarecer este ponto. dez muscular esquelética e a tensão passiva [45,47],
Os estudos que analisaram a influência do diminuição da ativação das unidades motoras após
alongamento nos exercícios de força são muito os exercícios de alongamento [37] e ativação dos
controversos, possivelmente pelo fato do tempo de órgãos tendinosos de Golgi e dos receptores de dor
duração e o tipo de alongamento variarem muito que inibem a produção de força [38].
entre eles. Quando trabalhos de alongamento De acordo com o estudo de Wilson et al. [48],
estático foram realizados imediatamente antes, um sistema músculo-tendão mais maleável teria
diversos estudos [1,4,20,21,27-41] demonstraram um período em que seu comprimento estaria
uma diminuição do desempenho nos exercícios reduzido, com ausência de sobrecarga, até que
de força. houvesse o ajustamento dos componentes elásti-
Grande parte dos estudos citados acima cos para a transmissão da força. Este fato colocaria
utilizou um tempo de permanência acima da o componente contrátil numa posição menos
realidade utilizada em ambientes de academia. favorável em termos de produção de força nas
Outro ponto importante é o tipo de alongamento curvas de força-comprimento e força-velocidade.
utilizado. As pesquisas demonstram que os tipos Porém, estas alterações talvez só ocorram com
de alongamento podem influenciar de formas tempos de estimulação suficientemente altos [12].
distintas a força muscular. Destes, o alongamento
estático e as técnicas de FNP demonstraram um Conclusão
efeito deletério sobre as diversas manifestações da
força muscular, conforme verificado em estudos Ao comparar os resultados do teste de 1RM
realizados [20-23]. Já o tipo de alongamento com e sem a utilização prévia de alongamento,
executado de maneira dinâmica (balístico), pode observou-se que não houve diferenças significa-
acarretar até mesmo em ganhos de força muscular, tivas entre os procedimentos, o que leva a crer
conforme descritos em outras pesquisas realizadas que a realização de uma série com 10 segundos
[17,19,42]. O fato de realizar um teste de força di- de permanência de alongamento estático, antes
nâmica máxima e protocolos de treinamento que do início do treinamento contra resistência, não
utilizam força submáxima (90% de 1RM) imedia- é contra producente para o mesmo.
tamente após a aplicação do alongamento estático Isso é de suma relevância para o profissional
passivo pode influenciar nas respostas imediatas de educação física que prescreve seus exercícios
sobre a força. Foi observado que três séries com dentro de academias e ambientes relacionados à
10 segundos de duração foram o suficiente para prática esportiva. Sugere-se que estudos eletro-
acarretar na perda de força verificada através de miográficos sejam feitos para observar se há ou
um volume total de treinamento executado no não uma menor ativação da musculatura agonista
exercício de supino [14]. Em oposição, os estudos após uma sessão de alongamento, durante testes
de Garrison et al. [43] e Cramer et al. [44], mos- de força máxima.
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Referências do flexionamento passivo sobre a força máxima:


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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 13

ARTIGO ORIGINAL

Consumo máximo de oxigênio e percentual


de gordura em universitários
Maximal oxygen intake and fat percentage
in university students

Igor Larchert Mota*, Jair Sindra Virtuoso Junior, D.Sc.**

*Fisioterapeuta Graduado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Especialista em


Fisioterapia Cardiorrespiratória com ênfase em UTI/FAINOR, Mestrando em Ciências da Saúde/UFS,
**Graduado em Educação Física, Professor adjunto da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
(UFTM)

Resumo de quatro dobras cutâneas (subescapular, tríceps,


Introdução: A aptidão física é um determinante suprailíaca, panturrilha). Na análise dos dados foram
no desempenho das tarefas diárias de um indivíduo, utilizados procedimentos da estatística descritiva e
e algumas qualidades físicas, a exemplo da capacidade medidas de correlação (Sperman), p < 0,05. Resultados:
cardiorrespiratória e da composição corporal estão A média do VO² foi de 41,8 ml/kg.min-1 (± 13,8) e
relacionadas à saúde. Objetivo: Analisar a relação do do percentual de gordura 19,9 (± 7,4). Na correlação
consumo máximo de oxigênio com o percentual de verificou-se uma relação inversa, ou seja, à medida que
gordura em universitários. Métodos: Trata-se de um o percentual de gordura aumenta há uma diminuição
estudo descritivo e analítico, de corte transversal, cuja na condição cardiorrespiratória dos sujeitos avaliados
amostra selecionada por conveniência foi composta (rho = -0,55). Conclusão: Os resultados permitem
por 55 universitários, com a média de idade de 21 concluir que a quantidade de gordura corporal é um
anos (± 2,8). Para coleta dos dados, foi utilizado o teste determinante no desempenho cardiorrespiratório em
máximo de Balke (bicicleta) na avaliação da capacidade jovens universitários.
cardiorrespiratória (VO² em ml/kg.min-1) e a medida Palavras-chave: distribuição da gordura corporal,
aptidão física, consumo de oxigênio.

Recebido em 15 de agosto de 2012; aceito em 4 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Igor Larchert Mota, Rua 2, n°291 Lot. Mar de Rosas, 49030-210 Aracaju
SE, E-mail: igorlarchert@hotmail.com
14 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Abstract Data analysis used descriptive statistics and Sperman


Introduction: Physical fitness is an individual deter- correlation measures, p < 0.05. Results: The average of
minant to perform daily tasks, and some physical qua- the maximal oxygen intake was 41.8 ml/kg.min-1 (SD
lities, for example, cardiorespiratory capacity and body = 13.8) and the fat’s percentage of 19.9 (± 7.4). When
composition are related to health. Objective: To analyze examined the relationship between the variables of the
the relationship between the maximal oxygen intake study, there was an inverse relationship, i.e. when the
and the percentage of fat in university students. Me- percentage of fat increases was observed a decreasing in
thods: This is a descriptive and analytic cross-sectional the cardiorespiratory capacity of the evaluated subjects
study, which was selected by convenience sample and (rho = -0.55). Conclusion: The results suggested that
consisted of 55 students, with a mean age of 21 years the amount of body fat is a determinant of cardiores-
(± 2.8). Data was collected using the Balke VO2max piratory capacity in university students.
Test (bicycling) in the capacity cardiorespiratory eva- Key-words: body fat distribution, physical fitness,
luation (VO ² in ml/kg.min-1) and the four skinfolds oxygen intake.
measurement (subscapular, triceps above iliac, calf ).

Introdução ável utilizada para determinar e classificar o


condicionamento aeróbio de uma pessoa. Ele
A nova era da mecanização, da automação representa a quantidade máxima de oxigênio
e da computação eximiu os homens das tarefas que pode ser captado, transportado e con-
físicas mais intensas no trabalho e nas atividades sumido pelo metabolismo celular enquanto
da vida diária. Atualmente, observa-se uma trans- uma pessoa desempenha exercícios dinâmicos
formação notável de uma sociedade acostumada envolvendo grandes massas musculares, além
aos trabalhos pesados (fisicamente ativa), para de sofrer influência das variáveis: idade, sexo,
uma população de cidadãos urbanos ansiosos e nível de condicionamento, hereditariedade e
estressados e de suburbanos com pouca ou ne- estado clínico cardiovascular [4]. Além disso, é
nhuma oportunidade para o envolvimento em influenciado pelas variáveis idade, sexo, hábitos
atividades físicas. de exercício, hereditariedade e estado clínico
A associação entre a prática de atividade fí- cardiovascular. É, igualmente, conhecido como
sica e melhores padrões de saúde é amplamente potência aeróbica máxima, por sua medida ser
difundida. Entretanto, apenas recentemente (30 descrita, tanto na forma relativa como na forma
a 40 anos atrás), pôde-se admitir que o baixo absoluta, em volume de oxigênio (mililitros
nível de atividade física fosse fator de risco para ou litros) por minuto. Seus valores podem ser
o desenvolvimento de doenças crônicas não determinados tanto de forma direta, através da
transmissíveis [1]. análise de gases inspirados e expirados por meio
Uma boa aptidão aeróbia ajuda a prevenir de um espirômetro durante um teste de esforço
doenças cardíacas, alguns tipos de câncer, diabetes, máximo, como de forma indireta através da
hipertensão, obesidade, osteoporose entre outras avaliação de determinadas variáveis fisiológicas
doenças crônicas, por outro lado, os esportes que e físicas coletadas durante um teste de esforço
envolvem componentes aeróbios como correr, máximo e submáximo, cujos valores são inseri-
pedalar e nadar proporcionam um bom desenvol- dos dentro de modelos matemáticos [5].
vimento dessa capacidade aeróbica e consequente- A composição corporal, assim como o con-
mente a prevenção destas patologias crônicas [2]. dicionamento cardiorrespiratório, é considerada
Os componentes da aptidão física relaciona- uma qualidade física relacionada à saúde. Ela
dos à saúde compreendem consumo máximo de tem sido usada como parâmetro para vários
oxigênio (VO2máx), composição corporal, força segmentos da atividade física e desempenho pro-
muscular, flexibilidade e tolerância ao estresse [3]. fissional e é de grande importância na orientação
O consumo máximo de oxigênio (VO2máx) dos programas de controle do peso corpóreo. O
é também apresentado como a melhor vari- desenvolvimento precoce de doenças crônicas
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 15

não transmissíveis, como as cardiovasculares, Delineamento experimental


hipertensão, elevados níveis de lipoproteínas de
baixa densidade, entre outras, está associado sig- Trata-se de um estudo descritivo, de corte
nificativamente com elevados níveis de gordura transversal-analítico e abordagem quantitativa.
corporal [6,7]. Portanto, quantificar a gordura Os testes para determinação das medidas antro-
corporal com o menor erro possível torna-se pométricas e VO2 foram aplicados no laboratório
fundamental, fato que tem levado pesquisadores de exercícios resistidos do Campus de Jequié da
a desenvolverem e validarem diferentes técnicas UESB em outubro de 2005.
para estimá-la [8].
Nesse sentido, o ser humano resolve melho- Medidas antropométricas
rar a sua aptidão física no intuito de se prevenir
das patologias e se tornar saudável. Portanto, ser A massa corporal foi medida em uma balança
saudável é tornar-se responsável pela sua própria com precisão de 0,1kg (Filizola®, São Paulo, Brasil)
saúde. O ser saudável requer um compromisso e a estatura mensurada em um estadiômetro com
contínuo com o estilo de vida, uma grande von- precisão de 0,1 mm (Seca). A densidade corporal
tade de mudar em busca da melhor qualidade de (DC) foi estimada pela equação generalizada de
vida e da longevidade [9]. Petroski (10): 4 dobras cutâneas (tríceps, supra ilíaca,
Diante desta perspectiva, a monitorização panturrilha, subescapular), e o percentual de Gor-
da quantidade de gordura corporal e da prática dura (%G) calculado pela equação de Siri de 1961.
da atividade física tem recebido notoriedade A técnica da espessura das dobras cutâneas
em aspectos relacionados à promoção da saúde. como procedimento no estudo da gordura cor-
Na tentativa de contribuir para a elucidação do poral, está baseada no princípio de que existe
problema, o estudo procura analisar a relação do uma significativa relação entre a gordura situada
consumo máximo de oxigênio com o percentual diretamente abaixo da pele (gordura subcutâ-
de gordura em universitários. nea), a gordura interna e a densidade corporal
[11]. No Brasil, Petroski [10] e Rodriguez-Añez
Material e métodos [12] destacaram-se ao desenvolverem equações
antropométricas para a estimativa da densidade
Sujeitos corporal, e Petroski & Pires Neto [13] por vali-
darem equações estrangeiras, a maioria de origem
Participaram deste estudo 55 universitá- americana. A conversão da densidade corporal a
rios, 36 homens e 19 mulheres, saudáveis, da partir dos valores das dobras cutâneas para per-
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, centual de gordura pode ser realizada através das
localizada na região nordeste do Brasil. Os equações de Siri (1961) e de Brozek [10]
indivíduos foram selecionados e alocados em
grupos segundo o sexo para as avaliações, no Determinação do VO2 máx
entanto, a análise dos dados foi feita sem con-
siderar os gêneros. O VO2 max foi determinado a partir do teste
Os critérios de inclusão da pesquisa foram: máximo de Balke (bicicleta), 1959. Este teste foi
ser maior de 18 anos de idade e saudáveis. desenvolvido para eletrocardiografia de esforço,
Foram excluídos da amostra os indivíduos razão pela qual são mais indicados em indivíduos
que apresentaram qualquer doença no mo- destreinados. A técnica de Balke é escalonada
mento da realização dos testes propostos. Os máxima, sem intervalos. Inicia-se o teste com uma
participantes conheceram os procedimentos carga de 25 Watts (sedentários) ou 0,5 kg ou 150
do experimento e suas implicações (riscos kg para uma rotação de 6 metros (critério estabe-
e benefícios), por meio de um termo de lecido para o presente estudo), já para indivíduos
consentimento livre e esclarecido conforme treinados (50 Watts ou 1,0 kg ou 300 kgm) e
recomendações da resolução n° 196/96 do com velocidade de 50 rpm; a cada dois minutos,
Conselho Nacional de Saúde. aumentam-se mais 25 watts, sucessivamente, até
16 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

ser atingida a frequência cardíaca máxima do indi- Na Tabela II encontram-se os valores mínimos
víduo, ou outros critérios de interrupção, ou seja, e máximos, além das médias (19.92 e 41.80) do
a incapacidade de manter a velocidade e a carga. percentual de gordura e VO2.
A carga máxima sustentada permite se estimar o
VO2 máx. em L/min através da fórmula abaixo: Tabela II - Valores das variáveis gordura (%) e VO2
VO2 máx: 200 + (12 x W) / M = VO2 em ml 1/ máx (ml 1/(kg.min)).
(kg.min) n* Míni- Máxi- Média DP
W = carga máxima sustentada em Watt mo mo
M = peso corporal total do atleta expresso em kg G(%) 54 8 59 19,92 7,42
VO2máx 547 19,1 75,8 41,802 13,848
O protocolo de balke permite uma adaptação
fisiológica adequada, pois a carga é aumentada Na Figura 1, é apresentado os valores em
em pequenos incrementos, retardando o início da porcentagem de gordura correlacionados aos
ativação do metabolismo aeróbico. O resultado valores de VO2 máx, demonstrando uma relação
depende, entretanto, da motivação do indivíduo. negativa (r = -0,55).

Análise estatística Figura 1 - Gráfico de correlação entre as variáveis


percentual de gordura e VO2 máx.
Para a análise estatística dos dados utilizou-se 80
o software Microsoft Excel 2003®. Foi adotado r= -0,55
70
para análise e interpretação dos dados, um nível
60
de significância de 5% (p < 0,05).
A análise descritiva dos dados serviu para 50
VO2max

caracterização da amostra, com distribuição de 40


frequência, medida de tendência central (média) 30
e de dispersão (amplitude de variação, desvio-
-padrão). Para análise correlacional das variáveis 20
VO2máx e percentual de gordura, utilizou-se a 10
estatística não-paramétrica de Spearman, devido 0
a não normalidade dos dados. 0 20 40 60 80
%G
Resultados

O perfil antropométrico e as características de Discussão


faixa etária dos universitários estão expressos na
Tabela I. A média de idade que foi de 21 anos (± Este estudo procurou analisar a relação entre a
2.84) exibe o perfil jovem da população e as mé- composição corporal e a capacidade cardiorrespi-
dias obtidas para peso e estatura são semelhantes, ratória, que são consideradas propriedades físicas
o que torna a amostra homogênea quanto a esses análogas à saúde. A pesquisa demonstrou haver
aspectos, e tem importância pelo fato da amostra correlação inversa entre o percentual de gordura
ser relativamente reduzida. e o consumo máximo de oxigênio, ou seja, à
medida que o percentual de gordura aumenta há
Tabela I - Características Antropométricas. Jequié/ uma diminuição na condição cardiorrespiratória
BA, 2010. dos sujeitos avaliados (Figura 1).
n* Míni- Má- Média DP Os resultados das Tabelas I e II, sobre massa
mo ximo corporal, estatura e percentual de gordura, apre-
Idade (anos) 54 18 30 21,83 2,84 sentaram escores mais elevados quando com-
Peso (kg) 54 43,4 90,3 66,372 10,694 parados com a média da população masculina
Estatura (cm) 54 1,52 1,88 1,70 9,35 brasileira da região Sul, estimadas por Petroski
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 17

[10], em que, a massa corporal, a estatura e o encontrados nesta investigação são sustentados
percentual de gordura apresentaram os seguintes pelas evidências científicas de associação da
valores respectivamente, 73,6 kg (± 9,7), 174,5 quantidade de gordura corporal com o consumo
cm (± 6,8) e 16,1 % (± 6,8). máximo de oxigênio.
De acordo com o Institute for Aerobics Research, A possibilidade de viés de seleção e de aplica-
o percentual de gordura (19,9) para a faixa etária ção dos testes de desempenho físico está minimi-
de 20 a 29 anos de idade no sexo masculino, é zada, pois os aplicadores de tais testes passaram
considerado razoável [14]. por um treinamento prévio. Porém, é possível
A média de VO2máx (41,8 ± 13,8) é classifi- que fatores motivacionais possam ter interferido
cada no conceito “Bom”, de acordo com a classi- na realização dos testes.
ficação sugerida pela American Heart Association
[15]. A Associação Americana de Cardiologia Conclusão
sugere uma classificação por faixa etária do con-
sumo de VO2 máx, que são: baixa, regular, média, Com base nos resultados apresentados, é
boa e excelente. Segundo esta, as pessoas com possível concluir que a quantidade de gordura
idade menor que 29 anos, geralmente, apresen- do corpo é um determinante no desempenho
tam VO2máx em torno de 42 a 52 ml/kg/min. cardiorrespiratório em jovens universitários, uma
Valores estatisticamente baixos do percentual de vez que quanto maior o percentual de gordura
gordura associados aos altos índices de VO2máx, menor o consumo máximo de oxigênio destes
demonstram a presença de pessoas com excelentes indivíduos. Sugere-se, portanto, que a elaboração
aptidões físicas neste estudo. Em estudo feito na de programas direcionados à melhoria da aptidão
modalidade esportiva do handebol, Fiori [16] cardiorrespiratória inclua ações direcionadas ao
encontrou em atletas de 16 a 21 anos o VO- controle do peso corporal.
2máx. de 56,93 ± 4,47 ml/kg/min, estando este,
superior aos valores encontrados na literatura e Referências
nesta pesquisa.
Boldori [17], estudando um grupo de bom- 1. Rodrigues ESR, Cheik NC, Mayer AF. Nível de
beiros militares de Santa Catarina, encontrou as atividade física e tabagismo em universitários. Rev
médias de VO2 máx de 41,6 ± 6,5 ml/kg/min e Saúde Pública 2008;4(42):672-8.
2. Santos LS, Dias TLG, Ferreira LMH, Rocha
percentual de gordura de 16,0 ± 4,9 (%), numa
NFM, Escudeiro SS, Cerqueira GS. Análise das
faixa etária de 40 a 50 anos. Já para a faixa etária variáveis aeróbias e antropométricas de praticantes
de 20 a 29 anos, encontrou as médias de 46,1 ± de musculação da cidade de João Pessoa. Revista
6,0 (ml/kg/min) e 11,1 ± 4,3 (%) para VO2 e %G Digital EFDeportes 2010; 151.
respectivamente, valores estes bem próximos aos 3. Leite PF. Fisiologia do exercício. Belo Horizonte:
encontrados nos universitários avaliados neste Robe; 2000.
estudo. 4. Kruel LFM, Coertjens M, Tartaruga L. Validade
A relação da composição corporal com a e fidedignidade do consumo máximo de oxigênio
resistência cardiorrespiratória apresenta uma predito pelo frequencimetro polar M52. Revista
Brasileira de Fisiologia do Exercício 2003;2:147-
relação que foi destacada por George et al. [18],
56.
referindo como exemplo dois indivíduos com a 5. Mcardle WD, Katch FI, Katch VL. Exercise
mesma capacidade de VO2 absoluta, porém um Physiology: Energy, Nutrition and Human
indivíduo com 75 kg e o outro com 85 kg. Assim, Performance. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
o indivíduo com 75 kg tem condições de realizar Koogan; 1998.
um esforço de maior intensidade e por período 6. Gaziano JM. When should heart disease preven-
mais longo do que o indivíduo de 85 kg. tion begin? N Engl J Med 1998;338:1690-2.
Entre as potenciais e plausíveis limitações 7. Campbell I. The obesity epidemic: can we turn
deste estudo, é possível destacar o número redu- the tide? Heart 2003;89:22-4.
zido da amostra, porém com base na literatura 8. Glaner MF. Índice de massa corporal como
indicativo da gordura corporal comparado
consultada é possível identificar que os resultados
18 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 19

ARTIGO ORIGINAL

Efeito agudo do exercício físico intenso no


balanço oxidante e redutor no sangue de
indivíduos ativos
Acute effect of intense exercise on oxidative
and reducing blood response in trained men

Albená Nunes da Silva*, Clara Araujo Veloso*, Rodrigo Salles Amaral*, Caroline Maria de Oliveira Volpe*,
José Augusto Nogueira Machado*, Danusa Dias Soares**

*Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP), Hospital Santa Casa de Belo Horizonte, Belo Horizonte/MG, **La-
boratório de Fisiologia do exercício da Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais
(EEEFTO/UFMG), Belo Horizonte/MG

Resumo
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do utilizado o teste “t” de Student, sendo p < 0,05 consi-
exercício físico, representado pelo teste de Cooper, na derado estatisticamente significativo. O exercício físico
produção de Espécies Reativas de Oxigênio (ROS), foi capaz de aumentar em 39% a produção de ROS
na formação de AGEs, na ativação de proteína Kinase nos leucócitos coletados (p < 0,05). Entretanto, este
C (PKC) e na capacidade antioxidante do plasma de aumento não resultou em peroxidação lipídica (p >
indivíduos treinados. ROS foi quantificado utilizan- 0,05). A capacidade antioxidante do plasma diminuiu
do quimioluminescência dependente de luminol. A após o teste de Cooper (p < 0,05). Houve ainda grande
capacidade antioxidante total do plasma foi avaliada alteração na sensibilidade da via DAG-PKC (399%)
através da redução direta de sal tetrazólico (MTT). em resposta à atividade física, quando estimulada com
Para análise da produção de AGEs, as concentrações éster de forbol (PDB). Os resultados sugerem que o
de malonaldeído (MDA) plasmático foram medidas teste de Cooper induziu um aumento em respostas de
por kit de ácido tiobarbitúrico (TBARS) e a produção oxidação na ausência e na presença de PDB e diminui-
de ROS em resposta à ativação por PKC foi medida ção da resposta redutora para compensar este aumento
usando o ativador PDB. As análises estatísticas da e afastar a possibilidade de estresse oxidativo.
produção de ROS foram feitas em função logarítmica, Palavras-chave: espécies reativas de oxigênio,
usando-se o teste de Fisher. Para os demais dados, foi estresse oxidativo, exercício físico.

Recebido em 27 de novembro de 2012; aceito em 4 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Albená Nunes da Silva, Rua Major Lopes 738/601, 30330-050 Belo
Horizonte MG, E-mail: albenanunes@hotmail.com
20 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Abstract performed in vitro with leukocyte collected before and


The present study was designed to determine the after intense exercise under stimulation without or
effects of exercise (Cooper test) on Reactive Oxygen with phorbol ester (PDB), respectively. ROS produc-
Species (ROS) production, PKC activation, AGEs for- tion increased in leukocytes after exercise (p < 0.05).
mation, and antioxidant capacity of plasma in healthy Lipid peroxidation (MDA) was not altered when the
well trained male volunteers. ROS were quantified quantification performed before and after exercise were
by luminol-dependent chemiluminescence. Total compared (p > 0.05). In contrast, the total plasma
plasma antioxidant status was measure in a MTT dye antioxidant status was significantly decreased in plasma
reduction assay For the analysis of the production of collected after exercise. Our results suggest that physical
AGEs, plasma malondialdehyde (MDA) concentra- exercise induces an increase in the oxidizing metabolic
tion was measured by TBARS Assay Kit and ROS response in the presence or in the absence of PDB and a
production with PKC activation was measured using significant decrease in the plasma reducing response to
a PDB (phorbol ester) as activator. Statistical analyses compensate the oxidizing status and to avoid a typical
were made with Student’s t test and F test. Cooper test oxidative stress.
increased (39.0%) the ROS generation in leukocytes Key-words: reactive oxygen species, oxidative stress,
from well-trained athletes. Similar experiments were exercise.

Introdução O desequilíbrio entre a produção de espécies


reativas de oxigênio (ROS), ou seja, os radicais
O exercício físico representa aumento na uti- livres, e a remoção destes compostos pelo siste-
lização de substratos pelos músculos em atividade ma de defesa antioxidante leva o organismo a
devido ao aumento na demanda de energia e, uma situação conhecida como estresse oxidativo
consequentemente, na utilização do oxigênio para [3]. O estresse oxidativo é uma condição celular
produzi-la através da via oxidativa [1]. ou fisiológica de elevada concentração de ROS
Esse aumento do consumo de oxigênio (O2), que causa danos moleculares às estruturas ce-
assim como a ativação de vias metabólicas es- lulares, com consequente alteração funcional
pecíficas durante ou após o exercício, resultam e prejuízo das funções vitais [5]. Além disso,
na formação de Espécies Reativas de Oxigênio pode gerar danos às proteínas e ao DNA, provo-
(ROS) [2]. Essas substâncias, também chamadas cando alterações na função celular e, portanto,
de radicais livres, são produzidas naturalmente em tecidual [2].
nosso organismo através de processos metabóli- Esses danos acontecem em diversos órgãos
cos oxidativos que são altamente reativos e com e tecidos, como o muscular, hepático, adiposo,
tempo de vida fugaz na ordem de milésimos de vascular e cerebral; e um dos principais meca-
segundos [2]. nismos de lesão é a peroxidação lipídica, ou seja,
Radical livre é definido como qualquer a oxidação da camada lipídica da membrana
átomo, molécula ou fragmento de molécula celular [2]. Todavia, o efeito deletério do es-
contendo um ou mais elétrons desemparelhados tresse oxidativo varia consideravelmente de um
em suas camadas de valência [3]. Essas moléculas ser vivo para o outro, de acordo com a idade, o
têm sua produção aumentada por exercícios de estado fisiológico e a dieta [6]. Há, na literatura
alta intensidade e foram relacionadas, a partir da científica, evidências de correlação entre exercí-
década de 80, a diversas doenças, como enfisema cios de alta intensidade e excesso na produção
pulmonar, doenças inflamatórias, aterosclerose, de radicais livres [7], e os submáximos resultam
câncer, e ao envelhecimento [4]. Para sobre- em significantes mudanças na susceptibilidade
viver, os seres aerobionte desenvolveram um de hemácias à oxidação e ao estresse osmótico
mecanismo endógeno para minimizar os danos [8]. Além disso, quando realizados até a fadiga,
produzidos pelos radicais livres: o sistema de exercícios físicos levam ao aumento da utilização
defesa antioxidante [2]. da via oxidativa de produção de energia, e con-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 21

sequentemente, da produção de radicais livres, Tabela I - Dados físicos dos voluntários que partici-
causando um perfil agudo de estresse oxidativo. param do estudo.
O teste de Cooper, um teste internacionalmente Vo- VO2 máx
Peso Altura Idade % Gor-
usado para avaliar a condição física, consiste lun- (ml.kg-1.
(kg) (cm) (anos) dura
em correr-se na maior velocidade possível para tário min-1)
se atingir a maior distância possível, em doze 1 80 171 31 18 48
minutos, sendo caracterizado como um teste de 2 59,9 174 26 7,48 51,1
alta intensidade. Existe um crescente interesse 3 81,1 181,5 28 14,23 45
da comunidade científica envolvida com a ati- 4 76,3 173 28 11,31 45,3
vidade física pelo entendimento da relação entre 5 70 1.83 27 11 51
exercício físico e produção de ROS, pois estas 6 88.2 178 23 12,89 48
substâncias podem estar associadas às respostas 7 78,7 175 26 17,8 48,9
adaptativas induzidas pelo exercício físico. Sendo 8 74,8 175 25 14,45 58,8
assim, o objetivo deste trabalho foi investigar o 9 102,6 188 28 14,03 42,2
efeito do exercício físico intenso em parâmetros 10 60 170 24 15,79 47,1
oxidantes e redutores sanguíneos. 11 112 191 26 16,86 45,6
Média 86,62 179,5 26,54 13,98 48,27
Material e métodos DP 21,24 8,21 2,2 3,19 4,37

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Imediatamente antes e após o teste foram
Ética em Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia coletados 15 mL de sangue venoso periférico dos
(SCM) de Belo Horizonte. Todos os procedi- atletas através da punção venosa, em tubos vacu-
mentos adotados neste estudo estão de acordo tainers contendo heparina como anticoagulante
com as “Diretrizes e Normas Regulamentadoras e dirigidos para o laboratório de Imunologia da
das Pesquisas Envolvendo Seres Humanos” do SCM onde foram processados utilizando o proto-
Conselho Nacional da Saúde (Res. 196/96). Os colo de separação de leucócitos, desenvolvido por
voluntários assinaram um termo de consentimen- Bicalho et al. [9]. A contagem destes leucócitos
to livre e esclarecido. foi feita no microscópio usando-se uma câmara
Participaram deste estudo 11 voluntários de Neubauer e o número calculado pela fórmula:
masculinos com idade média de 26,54 ± 2,2 anos células/ml = nº / 4 x 10 x diluição (100) x 103.
saudáveis, praticantes regulares de atividade física, O ensaio de quimioluminescência depen-
sem histórico recente de lesão, não tabagistas e dente de luminol permite avaliar, indiretamente,
que não estivessem utilizando qualquer medicação a atividade da NAD(P)H oxidase, a enzima
(Tabela I). A avaliação física constou de medidas responsável pela geração de ROS durante a fa-
de massa corporal, estatura, dobras cutâneas e gocitose das células. A energia gasta na produção
teste de esforço progressivo submáximo na bici- de ROS, ao ser liberada, produz luminosidade,
cleta ergométrica. definida como quimioluminescência nativa ou
Neste estudo o teste de Cooper foi utilizado natural. Contudo, esta luminosidade pode ser
para representar um exercício físico intenso e amplificada usando-se reagentes químicos e os
de duração moderada. O teste de Cooper, que resultados foram expressos em RLU/min (Unida-
foi desenvolvido pelo Dr. Kenneth H. Cooper des Relativas de Luz por minuto). Em um tubo
em 1968, é mundialmente utilizado para ava- especial para luminômetro foram colocados: 200
liação da condição cardiorrespiratória. Neste μL de luminol 10-4 M, 500 μL de PBS e 100 μL
teste, o indivíduo deve correr a maior distância de células (1x105/mL), e a leitura foi realizada
possível em 12 (doze) minutos. Os valores da por 17 minutos no luminômetro. Após essa
distância são submetidos à fórmula: distância(m) leitura foi adicionado então 20 μL de ester de
- 504.9/44.73 para predizer o Volume Máximo phorbol (PDB) 1x10-5 M, e a leitura realizada
de Oxigênio (VO2máx), e o resultado é dado em por mais 25 minutos. A quimioluminescência
ml.kg-1.min-1. foi medida a cada minuto e os resultados ex-
22 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

pressos em RLU/min (unidades relativas de luz/ Resultados


minuto). O PDB, que é ativador fisiológico da
proteína Kinase C (PKC), foi adicionado com Para comprovar que o exercício físico (teste de
a intenção de investigar se o teste de Cooper Cooper) foi realizado em intensidade elevada, as
interferiu na via diacilglicerol-PKC (DAG- variáveis FC e PSE foram registradas em 3 mo-
-PKC), alterando a capacidade de produção de mentos durante o protocolo (Tabela II). O teste de
ROS pelos leucócitos. Cooper aumentou em 39% a média na produção
A quantificação da produção dos produtos de ROS por leucócitos em RLU/min (Figura 1).
avançados de glicação (AGEs) foi realizada utili-
zando o plasma congelado em heparina de acordo Tabela II - Dados individuais, médias e desvios da
com o TBARS ASSAY KIT (Cayman Chemical). frequência cardíaca (FC) e percepção subjetiva de
O malonaldeído (MDA) é usado como indicador esforço (PSE) nos minutos 4, 8 e 12.
de lesão em células, pois ocorre em consequência Vo- Fcmáx PSEmax
natural da peroxidação lipídica, um mecanismo lun-
12° 4° 8° 12°
já bem estabelecido de dano celular em tecidos tá- 4° min 8° min
min min min min
animais. Os peróxidos lipídicos, derivados de rios
ácidos graxos poliinsaturados, são instáveis e se 1 126 154 189 16 18 20
decompõem para formar uma série de complexos 2 111 150 179 15 17 19
altamente reativos. 3 118 147 198 13 17 20
A medida das substâncias reativas do ácido 4 122 152 182 12 16 20
tiobarbitúrico (TBARS), vastamente utilizada 5 106 153 192 11 13 18
por pesquisadores, é um método bem conhecido 6 104 162 201 12 18 21
para mostrar e monitorar a peroxidação lipídica 7 121 164 202 12 18 21
(Tbars Assay Kit – Cayman Chemical). A leitura, 8 112 160 197 13 17 21
feita em duplicata para minimizar a possibilidade 9 124 162 193 14 17 21
de erros, foi realizada no Espectrofotômetro (UV 10 128 163 191 15 18 21
mini-1240) da marca Shimadzu, a um compri- 11 112 147 175 14 17 20
mento de onda de 530-540 nm. Mé-
116,72 155,81 190,81 13,27 17 20,18
A quantificação da capacidade antioxidante dia
foi realizada adicionando 25 µL de sal tetrazóli- DP 8,17 6,53 8,91 1,61 1,41 0,98
co (MTT) a 100 µL de plasma. Este plasma foi
incubado por 2 horas a 37º C e após a incubação Figura 1 - Quantificação da produção de ROS (RLU/
foi acrescentado 100 µL de Dimetilsufóxido min): Antes e após o teste de esforço na presença e
(DMSO) e homogenizou-se o tubo em vórtex. ausência de PDB.
Este tubo foi centrifugado por 5 minutos a 2000 25000 399%
*#
x g. A leitura do sobrenadante foi realizada no 20000
ROS (RLU)

leitor de Elisa Stat Fax 2100 a 570 nm.


15000
Todo o procedimento foi realizado em duplicata 85%
10000 39%
e, então, realizada uma média da leitura para redu- * *
ção de possíveis de erros, para todas as amostras. 5000
Para comparar a produção de ROS, antes e de- 0
pois do exercício, na presença e ausência de PDB, Antes Após Antes Após
foi feita uma transformação de dados utilizando s/ PDB c/ PDB
uma função logarítmica e utilizado o teste de Fi- * = experimento significativo (p < 0,05) comparado ao
sher. Para compararmos as médias de formação de controle antes do exercício sem PDB.
AGEs e da Capacidade Antioxidante do plasma,
foi utilizado o teste “t” de Student. Foi adotado o Estes dados demonstram que a atividade fí-
nível de significância de p ≤ 0,05 e os dados estão sica intensa é um determinante para o aumento
expressos em média e ± desvio padrão da média. na produção de ROS. A Figura 1 também mostra
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 23

que a adição de PDB antes e após o exercício Discussão


físico aumenta a produção de ROS nas duas
situações em relação ao controle. Porém, após o Muitos trabalhos têm mostrado que a ativi-
exercício, a ativação foi superior, quando com- dade física intensa eleva a produção de espécies
paradas com as mesmas células antes do exercí- reativas de oxigênio (ROS). Os resultados deste
cio físico. A via responsável por este aumento, estudo mostram que a atividade física intensa e de
provavelmente, é a via da NADPH oxidase, já duração moderada (12 minutos), aqui represen-
que o PDB é o análogo de Diacilglicerol (DAG), tada pelo teste de Cooper, foi um estímulo capaz
que estimula as proteínas kinases C (PKCs), e de aumentar a produção (ROS) por leucócitos
estas fosforilam as subunidades citosólicas do em 39%. No presente trabalho, foi avaliada a
complexo multienzimático NADPH oxidase, produção de ROS por leucócitos de forma direta,
em uma rota de produção de ROS conhecida através de quimioluminescência dependente de
como DAG-PKC. A produção de Malonaldeído luminol. Nenhum outro trabalho havia investi-
(MDA) foi quantificada antes e após o teste de gado a produção de ROS utilizando protocolo
Cooper e os resultados estão apresentados na semelhante. A maioria dos estudos utiliza métodos
Figura 2. Não houve diferença nas concentrações indiretos para avaliar aumento na produção de
de MDA quando comparados antes e após o ROS, como, por exemplo, através da medida do
exercício físico. O perfil antioxidante do plasma malonaldeido (MDA), que é um marcador de
foi avaliado através da redução direta do MTT peroxidação lipídica e reage com as substâncias
(sal de tetrazólio) pelo plasma. Observou-se reativas do ácido tiobarbitúrico (TBARS), sinali-
diferença significativa na capacidade de redução zando a existência de estresse oxidativo. Demirbag
direta do MTT pelo plasma como mostrado na et al. [10] constataram que o teste de esforço na
Figura 3. esteira, com duração média de 7.7 minutos, foi
estímulo suficiente para aumentar a produção de
Figura 2 - Comparação entre as concentrações de peróxidos em sujeitos destreinados. Wang et al.
Manolnaldeido (MDA) antes e após o teste de Cooper. [11] investigaram como a intensidade do exercício
0.125 (NS) impacta o status redox mediado pela oxidação
Concentração MDA

0.100 da LDL em monócitos. Os autores concluíram


o trabalho afirmando que a atividade física de
0.075
alta intensidade (80% VO2máx) eleva a produção
0.050 de ROS. Miyazaki et al. [12] investigaram se
0.025 o treinamento com intensidade elevada (80%
0.000 FCmáx), durante doze semanas, alteraria o estresse
Antes Após oxidativo induzido pelo exercício após um evento
N.S. = Não significativo. até a fadiga. Os autores constataram que o exer-
cício físico até a fadiga aumenta a habilidade dos
Figura 3 - Capacidade antioxidante do plasma.
neutrófilos em produzir ROS e o treinamento
0.6 (-11,8%) diminui esta habilidade.
Absorbância (570nm)

0.5 No presente estudo foi investigado se o teste


0.4 de Cooper interfere na sensibilidade da PKC à
estimulação por PDB. Utilizando o cálculo do
MTT*

0.3
índice experimento dividido pelo controle (E/C),
0.2 houve diferença na ativação de 222% (dados
0.1 não mostrados) entre as células que não haviam
sofrido intervenção da atividade física e as células
0.0
Antes Após que haviam sofrido intervenção da atividade física.
* = experimento significativo (p < 0,05) comparado ao Como explicação para este fenômeno, pode-se
controle antes do exercício. argumentar que talvez a atividade física intensa,
como no caso do teste de Cooper, tenha causado
24 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

a translocação das Proteínas Kinases C (PKC) do apresentaram resultados que corroboram este
citoplasma para a membrana das células e, dessa achado. Bloomer et al. [14] mediram a resposta
forma, tenha facilitado o aumento na produção de estresse oxidativo após uma série de saltos ou
de espécies reativas de oxigênio (ROS) através sprint. O MDA foi avaliado, após cada sessão,
da via da NADPH-oxidase. Ou seja, quando o como marcador de estresse oxidativo.
PDB foi adicionado às células pré-estimuladas Em sua conclusão, os autores afirmaram que
pela atividade física, o ambiente celular estava esse modelo de exercício em homens bem treina-
propício para a produção de ROS. dos anaerobicamente não representou estímulo
Perrini et al. [13] mostraram que o exercício suficiente para causar estresse oxidativo, e que
agudo está associado ao aumento na quantidade talvez isso pudesse ser explicado pela excelente
e na fosforilação das PKC-λ no músculo esque- condição física de seus voluntários. Alessio et al.
lético. Nenhum outro estudo investigou a inter- [15] realizaram um estudo no qual compararam
venção da atividade física na via DAG-PKC nos o estresse oxidativo entre dois modelos diferentes
leucócitos, o que dificulta a comparação destes de atividade física: exercício aeróbico até a fadiga
resultados com os de outros estudos. e exercício isométrico. Não encontraram alteração
No nosso estudo, os níveis de MDA foram nos níveis de TBARS em nenhum modelo de
quantificados, antes e após o teste de Cooper exercício físico.
para verificar se houve peroxidação lipídica. Os Leaf et al. [16] caracterizaram a peroxidação
resultados mostram que o exercício físico não lipídica em exercícios de alta intensidade em sete
aumentou os níveis de MDA (Figura 4). Isto indivíduos (homens e mulheres) saudáveis. Os
indica que, apesar da produção de ROS ser au- níveis plasmáticos de MDA foram medidos an-
mentada pelo teste de Cooper, não há indício de tes e após o exercício até a fadiga e não sofreram
que este aumento conduza à situação de estresse nenhuma alteração significativa. Radak et al. [17]
oxidativo, levando a deterioração de membranas estudaram os efeitos de um longo período de trei-
lipoprotéicas celulares e a peroxidação lipídica namento (quatro semanas e quatorze meses) de
nesse grupo de voluntários. natação no status oxidativo de ratos de diferentes
idades e encontraram que a atividade física mode-
Figura 4 - Os resultados não mostram diferença en- rada realizada diariamente constitui uma proteção
tre a produção de ROS em repouso entre indivíduos contra estresse oxidativo induzido pelo exercício,
fisicamente ativos e sedentários em quando analisados medido através das reações do TBARS. Como o
em repouso. teste de Cooper levou ao aumento da produção de
(NS) ROS e esse aumento não instalou um quadro de
7500 estresse oxidativo, foi, então, investigado se houve
alteração da capacidade antioxidante do plasma.
5000 Os resultados mostraram que, após o teste de
ROS (RLU)

Cooper, a atividade antioxidante do plasma estava


reduzida em 11,8%, indicando que o próprio
2500
plasma sanguíneo agiu neutralizando o aumento
na produção de ROS induzido pela atividade
0 física. Pode-se inferir que o plasma possui uma
Sedentários Ativos
capacidade para neutralizar alterações redox no
Esse resultado é bastante coerente, uma vez sangue quando o sistema biológico aumenta
que, se o exercício físico como o teste de Cooper, a produção de ROS. Este achado do presente
gerasse aumento nas concentrações de MDA, essa estudo torna-se extremamente interessante, pois
prática, bem como outras formas de atividade corrobora outros resultados encontrados.
física com intensidades elevadas de esforço, seriam Kelle et al. [18] encontraram, em seu estudo,
desaconselhadas, pois poderiam causar danos uma redução da capacidade antioxidante do
irreparáveis às estruturas celulares, com consi- plasma quando seus voluntários terminaram
deráveis prejuízos à saúde. Vários outros autores uma meia maratona (21 km) e Demirbag et
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 25

al. [11], investigando se o teste de Bruce na Elosua et al. [22] testaram os efeitos do
esteira alteraria a capacidade antioxidante do treinamento aeróbico na atividade das enzimas
plasma em indivíduos sedentários, encontraram antioxidantes, avaliada antes e após a atividade
a capacidade antioxidante do plasma reduzida física. A atividade enzimática foi determinada em
pós-esforço. 0, 30, 60, 120 minutos e 24 horas após o exercício.
Miyazaki et al. [13] não encontraram alteração A atividade física regular aumenta a atividade da
na atividade das enzimas superóxido dismutase SOD e GSH. Os autores concluíram afirmando
SOD e glutationa peroxidase imediatamente após que a atividade antioxidante endógena, medida
atividade física realizada até a fadiga, contudo após um esforço, aumenta após um período de
encontraram a atividade da SOD aumentada em treinamento.
80% da intensidade máxima após um período de Ookawara et al. [23] estudaram os efeitos do
treinamento de corrida de 12 semanas, indicando treinamento da resistência e de uma sessão de
que estas enzimas respondem ao treinamento exercício executada até a fadiga nos níveis plas-
aeróbico intenso. máticos de três isoenzimas superóxido dismutase
Alessio et al. [16] investigaram se dois modelos (SOD). Nem o treinamento, nem o exercício
diferentes de atividade física alterariam de forma agudo alteraram os níveis plasmáticos de CuZn-
diferente a capacidade antioxidante total medida -SOD. Já exercícios agudos após o treinamento
através do ORAC (Capacidade de absorção do aumentaram os níveis plasmáticos de Mn-SOD e
radical oxigênio), e perceberam que esse marca- os níveis de SOD extracelulares em 33,6 e 33,5%,
dor estava aumentado nas duas situações; mais respectivamente. O treinamento reduziu os níveis
elevado, porém no exercício aeróbico até a fadiga da SOD extracelulares em repouso em 22,2%. O
(25%) do que no exercício isométrico (9%). exercício agudo após o treinamento, mas não antes
Briviba et al. [19] investigaram se meia ma- do treinamento, aumentou os níveis de peroxida-
ratona (21 km) e maratonas (42 km) modulam ção lipídica. A habilidade dos neutrófilos de gerar
a capacidade antioxidante nos linfócitos e no radical anion superóxido (O2•–) foi aumentada
plasma. Os autores concluíram que a capacidade pelo exercício agudo, porém, a produção de su-
antioxidante estava reduzida após as provas, para peróxido foi suprimida após o treinamento. Os
proteger os linfócitos contra o dano oxidativo que resultados deste estudo indicam que as isoenzimas
poderia ser causado pelo aumento na produção antioxidantes respondem de forma diferente ao
de espécies reativas de oxigênio. treinamento físico e ao exercício agudo.
Lee et al. [20] examinaram os efeitos de uma Neste estudo, não foi encontrada diferença
única série de exercício excêntrico no status antio- entre a produção de ROS por leucócitos entre
xidante. As amostras sanguíneas foram coletadas indivíduos fisicamente ativos e sedentários (Fi-
antes da realização do exercício e imediatamente, gura 5 )
24, 48, 72 e 96 horas após a realização do mesmo.
Os resultados mostraram que as concentrações Figura 5 - A capacidade antioxidante do plasma é
de glutationa não foram afetadas pelo exercício maior em indivíduos fisicamente ativos quando com-
excêntrico. parados com sedentários em repouso.
Khassaf et al. [21] investigaram o compor-
Absorbância (570 nm)

tamento das enzimas SOD e GPX muscular em 0.35


*#
030
uma única série de exercício aeróbico até a fadiga.
0.25
Biópsias foram obtidas 7 dias antes do exercício
MTT-

0.20 *
e 1, 2, 3, e 6 dias após. A SOD teve um pico 0.15
de atividade três dias após o exercício, porém a 0.10
CAT não alterou. Os autores concluíram que o 0.05
músculo esquelético humano respondeu a uma 0.00
única série de exercício aeróbio, aumentando a Sedentários 30' 120'
atividade da SOD. Ativos
26 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Os resultados do presente estudo vão ao en- 3. Halliwell B, Gutteridge JMC. Free radical in
contro de vários outros estudos, porém, é preciso biology and medicine. 4a ed. Oxford: University
salientar que ainda são necessárias outras pesqui- Press; 2007.
sas para se reconhecer qual modelo de atividade 4. Schneider CD, Oliveira AR. Radicais livres de
oxigênio e exercício: mecanismos de formação e
física que realmente eleva a produção de espécies
adaptação ao treinamento físico. Rev Bras Med
reativas de oxigênio, sem que o sistema de defesa Esporte 2004;10(4):308-13.
antioxidante consiga neutralizá-las, resultando em 5. Dröge W. Free radical in the physiological control
um quadro de estresse oxidativo, o que poderia of cell function. Physiol Rev Vol 2002;82;47-95.
causar danos às estruturas biomoleculares. 6. Niees AM, Hartmann A, Grunert-Fuchs M, Poch
Apesar de existirem vários estudos avaliando B, Speit G. DNA damage after exhaustive tread-
alterações na produção de espécies reativas de mill running in trained and untrained men. Int J
oxigênio e o surgimento de estresse oxidativo em Sports Med 1996;17:397-403.
resposta à atividade física, ainda não existe um 7. Koury JC, Donangelo CM. Zinco, estresse oxidati-
vo e atividade física. Rev Nutr 2003;16(4):433-41.
consenso neste tema, pois os modelos, exercícios
8. Smith JA, Kolbuch-Branddon M, Gillam I et
físicos e as formas de avaliar essa produção ainda
al. Changes in the susceptibility of red blood
não estão padronizados, o que dificulta uma cells to oxidative and stress following submaxi-
análise conclusiva. mal exercise. Eur J Appl Physiol Occup Physiol
É necessário que se padronizem os métodos 1995;70(5):427-36.
de avaliação, “status” físico da amostra, duração 9. Bicalho HMS, Gontijo MC, Nogueira-Machado
e intensidade da atividade física. Assim, será JA. A simple technique for simultaneous human
possível comparar resultados de alteração da leukocytes separation. J Immunol Methods
produção de ROS durante a atividade física e 1981;40:115-6.
também estabelecer a relação entre atividade física 10. Demirbag R, Yilmaz R, Güzel S, Çelik H, Koçyi-
git A, Özcan E. Effects of treadmill exercise test
e estresse oxidativo.
on oxidative/antioxidative parameters and DNA
damage. Anadolu Kardiyol Derq 2006;6(2):135-
Conclusão 40.
11. Wang J, Lee T, Chow S. Role of exercise intensi-
No presente estudo o exercício físico intenso ties in oxidized low-density lipoprotein-mediated
aqui representado pelo teste de Cooper, foi capaz redox status of monocyte in men. J Appl Physiol
de aumentar a produção de ROS por leucócitos. 2006;101:740-44.
O exercício físico também aumentou a sensibi- 12. Miyazaki H, Oh-ishi S, Ookawara T, Kizaki T,
lidade da PKC à estimulação por PDB e ainda Toshinai K, Ha S, Haga S et al. Strenuous endu-
diminuiu a capacidade antioxidante do plasma, rance training in humans reduces oxidative stress
following exhausting exercise. Eur J Appl Physiol
contudo não foi capaz de gerar aumento na for-
2001(84):1-6.
mação de produtos avançados de glicação (AGEs). 13. Perrine S, Henriksson J, Zierath JR, Widegren U.
A produção de ROS em repouso não é diferente Exercise-induced protein kinase C isoform-specific
entre fisicamente ativos e sedentários, porém a activation in human skeletal muscle. Diabetes
capacidade antioxidante do plasma em repouso 2004;53:21-4.
é maior nos fisicamente ativos. 14. Bloomer RJ, Falvo MJ, Fry AC, Schilling BK,
Smith WA, Moore CA. Oxidative stress response in
Referências trained men following repeated squats or sprints.
Med Sci Sports Exerc 2006;38(8):1436-42.
1. Baker JS, McCormick MC, Robergs A. Interaction 15. Alessio HM, Hagerman AE, Fulkerson BK,
among skeletal muscle metabolic energy systems Ambrose J, Rice RE, Wiley R. Generation of
during intense exercise. J Nutr Metabol 2010;1:13. reactive oxygen species after exhaustive aerobic
2. Signorini JL, Signorini SL. Atividade física e and isometric exercise. Med Sci Sports Exerc
radicais livres: aspectos biológicos, químicos, fisio- 2000;32(9):1576-81.
patológicos e preventivos. São Paulo: Universidade 16. Leaf DA, Kleinman MT, Hamilton M, Barstow
de São Paulo; 1993. TJ. The effect of exercise intensity on lipid peroxi-
dation. Med Sci Sports Exerc 1997;29(8):1036-39.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 27

17. Radak Z, Kaneko T, Tahara S, Nakamoto H, Ohno onset of muscle soreness. Med Sci Sports Exerc
H, Sasvári M et al. The effect of exercise training on 2002;34(3):443-48.
oxidative damage of lipids, protein and DNA in rat 21. Khassaf M, Child RB, Mcardle A, Brodie DA,
skeletal muscle: evidence for beneficial outcomes. Esanu C, Jackson MJ. Time course of responses
Free Rad Biol Med 1999;27:69-74. of human skeletal muscle to oxidative stress in-
18. Kelle M, Diken H, Semet A, Atmaca M, Koçyigit duced by nondamaging exercise. J Appl Physiol
Y. Changes in blood antioxidant status and lipid 2001;90:1031-35.
peroxidation following distance running. J Med 22. Elosua R, Molina L, Fito M, Arquer A, Sanchez-
Sci 1998;28:643-47. -Quesada JL, Covas MI et al. Response of oxidative
19. Briviba WB, Nickel K, Kulling S, Bös K, Haertel stress biomarkers to a 16-week aerobic physical
S, Rechkemmer G, Bub A. A half-marathon and activity program, and to acute physicak activity,
a marathon run induce oxidative DNA damage, in healthy young men and women. Atherosclerosis
reduce capacity to protect DNA against damage 2003;167:234-7.
and modify immune function in hobby runners. 23. Ookawara T, Haga S, Ha S, Oh-ishi S, Toshinai
Redox Report 2005;10(6):325-31. K, Kizaki T, et al. Effects of endurance training on
20. Lee J, Goldfarb AH, Rescino MH, Hegde S. three superoxide dismutase isoenzimes in human
Patrick S, Apperson K. Eccentric exercise effect plasma. Free Rad Res 2003;37(7):713-9.
on blood oxidative-stress markers and delay

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28 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

ARTIGO ORIGINAL

Perfil morfofuncional e objetivo de


sujeitos que procuram treinamento físico
personalizado
Morphofunctional profile and objectives of subjects
seeking
personalized physical training

Beatriz Lopes de Almeida*, Alexandre Correia Rocha*, Dilmar Pinto Guedes Junior**

*Centro de Treinamento Personalizado New Life, Santos/SP, **Grupo de Estudos e Pesquisa em Treina-
mento Físico, Santos, SP, **Faculdade de Educação Física e Esporte, Santos/SP, Faculdade de Educação
Física de Santos, Santos/SP

Resumo homens apresentou valores inferiores (H: 29 ± 12 e M:


Atualmente a procura de um professor particular 40 ± 10,8 cm), a FMD os valores relativos dos homens
vem aumentando já que um maior número de doenças estão fora dos padrões (H: 0,6 ± 0,3 e M: 2,1 ± 0,7) e
acomete a população e há maior necessidade de um ACR os homens apresentam níveis superiores (H: 44
treinamento personalizado. O objetivo deste estudo ± 12,6 e M: 26,8 ± 9,4 ml/kg/min). Para os objetivos,
é analisar o perfil morfofuncional e os objetivos dos 65% buscam melhora da estética, 34% saúde e 1%
alunos que iniciam o programa de treinamento físico performance. Ambos desejam enfatizar o abdômen, em
personalizado. Para análise do perfil morfofuncional seguida as mulheres os membros inferiores e os homens
foi avaliada a composição corporal (CC), flexibilidade, membros superiores. Concluímos que os investigados
força máxima dinâmica (FMD) e a aptidão cardior- apresentam aptidão física relacionada à saúde desfa-
respiratória (ACR) e para identificar os objetivos e vorável, as mulheres procuram enfatizar os membros
partes corporais que desejavam enfatizar durante o inferiores, e os homens os membros superiores, e o
treinamento utilizou-se um questionário. Para CC objetivo principal é a melhora da estética.
(H: 24,7 ± 6,8 e M: 34,7 ± 6,9 % de gordura), ambos Palavras-chaves: morfologia, capacidade funcional,
apresentaram valores desfavoráveis. A flexibilidade dos treinamento.

Recebido em 10 de setembro de 2012; aceito em 4 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Beatriz Lopes de Almeida, Rua Napoleão Laureano, 17/34, 11070-141
Santos SP, E-mail: biacalopes@hotmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 29

Abstract of the men showed lower values (H:​​ 29 ± 12 and M:


Currently looking for a personal trainer is increa- 40 ± 10.8 cm), the FMD values for ​​ men are in non-
sing since a greater number of chronic diseases affect -standard (H: 0.6 ± 0.3 and M: 2, 1 ± 0.7) and CRF
the population and there is a greater need for customi- men had higher levels (H: 44 ± 12.6 and M: 26.8 ± 9.4
zed training. The aim of this study was to analyze the ml/kg/min). For the objective, 65% seek improvement
morpho-functionality and objectives of the students in esthetics, 34% health and 1% performance. Both
who begin a physical training program customized. wish to emphasize the abdomen, the women the lower
For analysis of the morphofunctional profile was eva- limbs and the men the upper limbs. We conclude that
luated body composition (BD), flexibility, strength, the investigated people presented health-related fitness
maximum dynamics (FMD) and cardiorespiratory unfavorable; women seek to emphasize the lower lim-
fitness (CRF) and to identify the goals and body parts bs, men the upper limbs, and the main purpose is to
they wanted to emphasize during training we used a improve aesthetics.
questionnaire. For BD (H: 24.7 ± 6.8 and M: 34.7 ± Key-words: morphology, functional capacity, training.
6.9% fat), both values ​​were unfavorable. The flexibility

Introdução O exercício físico vem sendo utilizado na


profilaxia e na promoção de um melhor estilo de
Existem diversos princípios biológicos do trei- vida. A prática regular de exercícios físicos traz vá-
namento físico, sendo que o da individualidade rios benefícios à saúde, que podem ser verificados
biológica é o que principalmente justifica o treina- em ambos os sexos e em diferentes faixas etárias,
mento personalizado. Este diz que cada indivíduo entre eles: aumento do gasto energético, redução
caracteriza-se por genótipos e fenótipos diferentes, da gordura corporal, aumento e/ou manutenção
por isso respondem aos estímulos (treinamento) da força muscular e capacidade cardiorrespiratória,
de forma diferente [1]. Sendo assim, o treina- redução dos quadros de depressão, além de agir na
mento físico personalizado vem tendo grande prevenção e tratamento das doenças metabólicas.
aceitação. A população mundial vem aumentando Além disso, todos que se engajam em um programa
o interesse em contratar professores particulares, de treinamento apresentam particularidades no que
haja vista, que em muitos casos são portadores diz respeito ao nível de aptidão física e aos objetivos
de alguma patologia que merece maior atenção [4-6]. Sendo assim, o presente estudo visa analisar
do que a observada em academias convencionais, o perfil morfofuncional e os objetivos dos sujeitos
onde às vezes os professores se deparam com salas que procuraram o treinamento físico personalizado.
de musculação lotadas.
Treinamento personalizado pode ser definido Material e métodos
como um treinamento com aplicação adequada
de sobrecarga para aprimorar o condicionamento Foram avaliados 74 alunos com idade média
físico, e essa proposta vai de encontro com os 31 (7,9) anos, estatura média de 167 (9,3) cm
objetivos do aluno, ou um programa de exercícios e com massa corporal média de 74,6 (16,1) kg,
físicos individualizados desenvolvidos com intuito sendo 33 homens e 41 mulheres, todos alunos
de alcançar de forma rápida e segura os objetivos do Centro de Treinamento Personalizado New
almejados [2]. Life (Santos/SP).
O sedentarismo é visto atualmente como um Antes de iniciar o programa de treinamento
problema mundial de saúde [3], esta condição eleva físico personalizado, todos os sujeitos passaram
a incidência de doenças crônicas não transmissíveis por avaliação médica, física e morfológica e assi-
como as cardiovasculares, metabólicas e vários tipos naram termo de consentimento livre e esclarecido.
de câncer, aumentando a prevalência de doenças O estudo obedeceu a resolução de 196/96 do
osteomusculares com consequente redução da Conselho Nacional de Saúde para estudos em
capacidade de realizar atividades do cotidiano [4]. seres humanos.
30 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Avaliações morfológicas Tabela I - Composição corporal dos homens e das


mulheres participantes do programa de treinamento
Estatura: foi utilizada uma fita métrica com personalizado.
graduação em centímetros afixada na parede; Masculino Feminino
Massa corporal: foi utilizada uma balança da Classificação F % Classificação F %
marca Techline com precisão 800 gramas; *Em risco
0 0
*Em risco
0 0
Composição corporal: para avaliação da den- (= 5%) (= 8%)
sidade corporal foi utilizada a técnica de dobras Abaixo da Abaixo da
cutâneas. Em um primeiro momento foi utilizado média 3 9,1 média (9- 2 4,9
o protocolo de Jackson e Pollock (1978) para esti- (6-14%) 22%)
mar a densidade corporal. Em seguida, calculou-se Média (15%) 1 3 Média (23%) 0 0
o percentual de gordura utilizando a equação de Acima da
Acima da mé-
Siri (1961). Para esta avaliação foi utilizado o 14 42,4 média 11 26,8
dia (16-24%)
compasso científico da marca CESCORF. (24-31%)
**Em risco **Em risco (=
15 45,5 28 68,3
Avaliações funcionais (= 25%) 32%)
Os dados estão em forma de frequência (F) e percentual
(%). *Em risco para doenças e desordens associadas à
Flexibilidade: foi utilizado o teste de sentar
má nutrição. **Em risco para doenças relacionadas à
e alcançar;
obesidade
Força máxima dinâmica (FMD): A FMD
foi estimada através do protocolo de repetições
máximas (2 a 10RM). Foi avaliada a FMD de De acordo com os resultados, as mulheres
membros inferiores no aparelho Leg Press (Pró- apresentam melhores níveis de flexibilidade que
-Phisical) para as mulheres e para os homens a os homens. Estes valores vão ao encontro da li-
FMD foi avaliada nos membros superiores, no teratura, em que alguns autores concordam que
exercício de supino reto (Pró-Phisical); as mulheres possuem maior flexibilidade que os
O consumo máximo de oxigênio (VO²Máx): homens, seja por questões hormonais, menor
foi estimado através do teste submáximo em es- densidade dos tecidos provocada pelo estrógeno,
teira. O ergômetro e o frequencímetro utilizados maior acúmulo de água e de polissacarídeos,
eram da marca Reebok. havendo menor atrito entre as fibras musculares,
Para avaliar a preferência pelo segmento a consequentemente maior elasticidade, e também
ser enfatizado assim como os objetivos a serem por questões anatômicas, ocasionando em maior
alcançados foi utilizada uma anamnese com 8 grau de liberdade articular [1,11].
questões fechadas onde era possível marcar as A força muscular foi avaliada na sua forma relati-
partes corporais que desejava enfatizar durante va, ou seja, peso mobilizado dividido pela massa cor-
o treinamento. Para escolha do objetivo foi feita poral. Esse tipo de avaliação permite homogeneizar
uma pergunta aberta, que os voluntários poderiam o grupo e assim avaliar os níveis de força de sujeitos
citá-los. com diferentes massas corporais. Sendo assim, as
mulheres deveriam conseguir mobilizar uma carga
Resultados e discussão de 1,4 o peso corporal no exercício de leg press e
os homens de 1,0 do peso corporal no exercício de
Os resultados do percentual de gordura supino reto. As mulheres mobilizaram uma carga de
mostram que a maioria dos homens e mulheres 2,22, ou seja, (63,6%) acima dos valores de referên-
encontra-se acima da média, de acordo com a ta- cia para membros inferiores (MMII) para saúde e os
bela de referência citada por Heyward e Stlarczyk homens mobilizaram uma carga de apenas 0,6, ou
(2000). Essa condição pode ser atribuída ao fato seja, 40% abaixo do recomendado para membros
de serem sujeitos sedentários e com maus hábitos superiores (MMSS). A superioridade das mulheres
alimentares [7-10]. pode ser atribuída à cadeia muscular e tamanho dos
músculos envolvidos no exercício de leg press quan-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 31

do comparado com o exercício de supino reto, além Tabela III - Classificação da aptidão cardiorrespira-
de que os MMII são mais utilizados no cotidiano tória dos homens e mulheres.
do sedentário do que os MMSS. A força absoluta Masculino Feminino
está diretamente associada ao tamanho da massa Classificação F % Classificação F %
muscular recrutada [2,14-16]. Talvez esse déficit Baixo (< 30 Baixo (< 27
11 33,3 15 36,6
de 40% de força observada nos homens possa ser ml/kg/min) ml/kg/min)
devido a um valor de referência muito alto para o Média (31-48 Média (28-44
13 39,4 23 56,1
exercício citado. ml/kg/min) ml/kg/min)
Muito elevado Muito elevado
Tabela II - Níveis de flexibilidade entre homens e (> 48 ml/kg/ 9 27,3 (> 44 ml/kg/ 3 7,3
mulheres. min) min)
Masculino Feminino Os dados estão em forma de frequência (F) e percentual (%)

Classificação F % Classificação F %
Excelente (> Excelente (> As partes do corpo que são a preferência
11 33,3 20 48,8 feminina durante os programas de treinamento
38cm) 41cm)
Acima da Acima da são os membros inferiores e abdômen. Esta
média (33-37 0 0 média (36-40 8 19,5 escolha pode ser devido à característica ginóide
cm) cm) do sexo feminino, que contribui para uma maior
Média (28-32 Média (32-35 concentração de gorduras na região de quadril
7 21,2 2 4,9
cm) cm) e membros inferiores [2,18], já os homens pre-
Abaixo da Abaixo da ferem enfatizar em seus programas os membros
média (23-27 3 9,1 média (27-31 7 17,1 superiores. Vale ressaltar que ambos os gêneros
cm) cm) tendem a enfatizar o abdômen no seu programa
Ruim (< 22 Ruim (< 24 de treinamento físico. Essas escolhas são comuns
12 36,4 4 9,8
cm) cm) na maioria dos programas de musculação, onde
Os dados estão na forma de frequência (F) e percentual (%) se percebe ênfase em membros inferiores para
as mulheres e nos membros superiores para os
Para a avaliação cardiorrespiratória pode- homens [8,19].
mos observar que tanto homens, quanto as
mulheres encontram-se em sua maioria abaixo Tabela IV - Frequência e partes corporais mais en-
do esperado, de acordo com o American He- fatizadas durante o programa de treinamento físico
art Association. Quando comparado homens personalizado.
e mulheres, os homens apresentam melhores Gêne- Abdô- Pei- Cos- Om- Bí- Trí- Glú- Per-
níveis de capacidade cardiorrespiratória que as ro men to tas bro ceps ceps teo na
mulheres. Esses resultados podem ser atribuídos Ho-
31 7 4 4 13 7 4 5
às diferenças anatômicas e fisiológicas entre os mens
gêneros, dentre elas: coração menor e, conse- Mulhe-
36 4 10 5 7 10 21 21
quentemente, ventrículo esquerdo menor, menor res
quantidade de hemoglobina, maior massa gorda, Ambos 67 11 14 9 20 17 25 26
um sistema cardiovascular e respiratório menos Os dados estão na forma de frequência

desenvolvido, logo, essas condições contribuem


diretamente para um menor débito cardíaco e Segundo Tahara et al. [17], os motivos que
consumo máximo de oxigênio no sexo femini- levam os sujeitos a aderirem ao programa de exer-
no [1,11,17]. Estes fatores em conjunto fazem cício físico em academias incidem em questões
com que o desempenho desportivo seja 6 a 15% estéticas (26,67%) bem como na expectativa na
menor nas mulheres em comparação com os melhoria da qualidade de vida (23,33%).
homens, embora a capacidade de adaptação ao Corroborando outros estudos [18,19] este tra-
treinamento seja semelhante [11]. balho demonstra que a estética é o principal fator
que leva a maior parte dos indivíduos a procurarem
32 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

a prática regular de exercícios físicos. Em segundo 4. Domingos MR, Araújo CLP, Gigante DP. Co-
lugar vem a saúde, seguido pela performance. nhecimento e percepção sobre exercício físico em
uma população adulta urbana do sul do Brasil.
Cad Saúde Pública 2004;20(1):56-9.
Tabela V - Principais objetivos citados pelos alunos
5. Ravagnani CFC, Ravagnani FCP, Michelin E,
ao iniciarem o programa de treinamento físico per- Burini RC. Efeito do protocolo de mudança do
sonalizado. estilo de vida sobre a aptidão física de adultos
Esté- Esté- Saú- Saú- Perfor- Perfor- participantes de projeto de extensão universitária:
tica tica de de mance mance influência da composição corporal. Rev Bras Ciênc
Gêne- Mov 2006;14:45-52.
(F) (%) (F) (%) (F) (%) 6. Pitanga FJG. Epidemiologia da atividade física,
ro
Ho-
exercício físico e saúde. Salvador: Autor; 2001. 
18 55 14 42 1 3 7. Oliveira AMA, Cerqueira EMM, Souza JS,
mens
Oliveira AC. Sobrepeso e obesidade infantil:
Mulhe-
30 73 11 27 0 0 Influência de fatores biológicos e ambientais em
res Feira de Santana/BA. Arq Bras Endocrinol Metab
Ambos 48 65 25 34 1 1 2003;47(2):76-79.
Os dados estão na forma de frequência (F) e percentual (%). 8. Oliveira CL, Fisberg M. Obesidade na infância e
adolescência – uma verdadeira epidemia. Arq Bras
Endocrinol Metab 2003;47(2):107-8.
Os resultados encontrados, no presente estudo, 9. Fernandez AC, Mello MT, Tufik S, Castro PM,
vão de encontro aos da literatura, ou seja, os objetivos Fisberg M. Influência do treinamento aeróbio e ana-
independem do tipo de programa desenvolvido. eróbio na massa de gordura corporal de adolescentes
obesos. Rev Bras Med Esporte 2004;10(3):152-8.
Conclusão 10. Negrão CE, Tombeta IC, Tinucci T, Forjaz CLM.
O papel do sedentarismo na obesidade. Rev Bras
De acordo com os resultados, homens e mu- Hipertens 2000;2:149-55.
11. McArdle WD, Katch FI, Katch LV. Fisiologia do
lheres apresentam déficits nos componentes da
Exercício, energia, nutrição e desempenho hu-
aptidão física relacionada à saúde. Além disso, mano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1996.
embora tenham objetivos comuns, apresentam 12. Ikai M, Fukunaga T. Calculation of muscle
preferências distintas, quanto às partes do corpo strength per unit cross-seccional area of humans
que gostariam de enfatizar, logo, a elaboração dos muscle by means of ultrasonic measurements.
programas de treinamento físico deve levar em con- Arbeitsphysiologie 1968:26:26.
sideração esses aspectos. Esses dados apresentam o 13. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e
do exercício. São Paulo: Manole; 2001.
perfil do público que procura o treinamento físico 14. Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de
personalizado e podem ser úteis para a elaboração Medicina do Esporte: Atividade Física e Saúde na
e prescrição do treinamento físico personalizado Mulher. Rev Bras Med Esporte 2000;6(6):215-20.
por parte dos profissionais envolvidos nessa tarefa. 15. Saba F. Aderência: a prática do exercício físico em
academias. São Paulo: Manole; 2001.
Referências 16. Souto AM. Fisiologia dos exercícios resistidos. São
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feminina. São Paulo: Phorte; 2003. manutenção da prática de exercícios em academias.
2. Guedes Júnior DP, Rocha AC, Júnior TPS. Trei- Rev Bras Ciênc Mov 2003;11(4)7-12.
namento personalizado de musculação São Paulo: 18. Betti M. Corpo, cultura, mídias e educação física:
Phorte; 2008. novas relações do mundo contemporâneo. Revista
3. Blair SN, Booth M, Gyarfas I, Iwane H, Marti B, Digital EFDesportes 2004;10(79).
Matsudo V, et al. Development of public policy 19. Sanches WD, Tumelero S. Incidência de sobrepeso
and physical activity initiatives internationally. e obesidade hereditária. Revista Digital EFDespor-
Sports Med 1996;21:157-63. tes 2007;11(105).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 33

ARTIGO ORIGINAL

Influência da iniciação ao voleibol


na aptidão física e desempenho motor de
crianças do quarto ano
do ensino fundamental
Influence of volleyball initiation in physical fitness and
motor development of children of primary school

Juliana Victer da Silva Fraga*, Roberto Pereira de Oliveira**, Tomires Campos Lopes, M.Sc.***

*Acadêmica do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Mato Grosso, **Pós-graduado em


avaliação morfo-funcional e fisiologia do exercício UGF, ***Professor FEF-UFMT-GEEFE

Resumo ± 0,16 pré-teste e 4,91 ± 0,09 pós-teste, sendo p =


O voleibol é um esporte coletivo muito praticado 0,0075), força explosiva membros superiores (180,50
na educação física escolar. O objetivo deste estudo foi ± 7,37 pré-teste e 201,38 ± 6,56 pós-teste, sendo p =
investigar a influência da iniciação ao voleibol na apti- 0,0196) e força explosiva membros inferiores (135,12
dão física e desempenho motor em crianças do quarto ± 4,98 pré-teste e 146,27 ± 4,94 pós-teste, sendo p
ano do ensino fundamental. A amostra contou com a = 0,0500) obtiveram melhoras significativas, com
participação de 26 crianças de ambos os sexos, das quais exceção do teste de flexibilidade (24,15 ± 1,12 pré-
12 meninos e 14 meninas, oriundas da escola EMEB -teste e 26,15 ± 1,18 pós-teste, sendo p = 0,1125).
Senador de Matos Muller. Como instrumento de ava- Observou-se, assim, que a prática do voleibol pode
liação, utilizou-se os testes do Projeto Esporte Brasil influenciar de maneira positiva nas aulas de educação
(PROESP): flexibilidade, agilidade, velocidade e força física escolar, visto que suas atividades contribuíram
explosiva. Após a realização do pré-teste, foram minis- de maneira positiva para o aumento das habilidades
tradas 15 aulas, duas vezes por semana, comparando motoras e aptidão física.
com resultados no pós-teste. Os resultados encontrados Palavras-chave: voleibol, desenvolvimento infantil,
foram: testes de agilidade (7,98 ± 0,14 pré-teste e 7,31 aptidão física, jogos e brincadeiras.
± 0,09 pós-teste, sendo p = 0,00011), velocidade (5,38

Recebido em 13 de junho de 2012; aceito em 4 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Roberto Pereira de Oliveira, Av. Senador Metelo, 1121, 78030-300
Cuiabá MT, E-mail: robertopeoli@gmail.com
34 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Abstract p = 0.00011), speed (5.38 ± 0.16 pre-test and 4.91


Volleyball is a popular team sport in physical edu- ± 0.09 post-test, p = 0.0075), explosive strength of
cation. The objective of this study was to investigate the upper limbs (180.50 ± 7.37 pre-test and 201.38 ± 6.56
influence of initiation to volleyball in physical fitness post-test, p = 0.0196) and lower limb explosive power
and motor performance in children of the fourth year (135.12 ± 4.98 pre-test and 146.27 ± 4.94 post-test,
of primary school. The sample included the participa- p = 0.0500) had significant improvement, except for
tion of 26 children, 12 boys and 14 girls, from school the flexibility test (24.15 ± 1.12 pre-test and 26.15 ±
EMEB Senador de Matos Muller. We used the Projeto 1.18 post-test, p = 0.1125). We observed that volleyball
Esporte Brasil (PROESP) tests: flexibility, agility, speed may influence positively in physical education classes
and explosive power. After performing the pre-test, 15 in school, as the activity improve motor abilities and
classes were offered twice a week, and the results were physical fitness.
compared with the post-test. The results were: agility Key-words: volleyball, child development, physical
tests (7.98 ± 0.14 pre-test and 7.31 ± 0.09 post-test, fitness, fun and games.

Introdução Torna-se importante um trabalho que leve em


consideração o desenvolvimento das potenciali-
O voleibol é uma modalidade esportiva cole- dades da criança, para que esta alcance um nível
tiva praticada em quadra entre duas equipes com de desenvolvimento motor que capacite a rápida
seis integrantes para cada lado, utilizando-se as e fácil aprendizagem dos movimentos esportivos
mãos para jogar a bola para o lado do adversário, mais complexos, pois aprenderá mais rapidamente
por cima da rede. Originou-se nos Estados Uni- aquele que tiver um número maior de experiências
dos, em 1895, com o nome de minonette elabora- motoras, uma melhor formação multilateral e um
do pelo Prof. Willian Morgan, sofrendo evoluções alto nível de qualidades físicas básicas [2].
e alterações nas regras, até atingir a forma atual O desenvolvimento motor pode ser concei-
de se jogar [1]. Atualmente, o voleibol é bastante tuado como uma contínua alteração no com-
popular no Brasil, inclusive nossas seleções fe- portamento humano ao longo do ciclo da vida.
minina e masculina estão entre as melhores do Contudo, cada indivíduo tem um tempo peculiar
mundo. Em termos de popularidade este esporte para adquirir e para desenvolver habilidades mo-
é o segundo em nosso país e também em número toras. Isto quer dizer que a sequência é a mesma
de praticantes nas escolas. para todas as crianças, apenas a velocidade de
A iniciação desportiva é o primeiro contato da progressão varia [5]. Sendo assim, as crianças do
criança com o desporto em questão [2]. Por isso quarto ano do ensino fundamental estão na faixa
a criança antes de se envolver plenamente com etária dos nove anos de idade e encontram-se na
qualquer modalidade esportiva, primeiro precisa última fase do modelo da ampulheta de Gallahue
brincar. Brincar de praticar esporte [3]. Portanto, o que é denominada fase das habilidades motoras
desenvolvimento do trabalho não deve ser voltado especializadas, na qual a criança passa por três
às técnicas e às regras oficiais e sim ao desenvolvi- estágios: transitório, de aplicação e de utilização
mento das habilidades motoras e da aptidão física, permanente. Estas se deparam entre o primeiro
com o ensino de estratégias pedagógicas que irão estágio, que é caracterizado pelas primeiras ten-
contribuir no desempenho de habilidades espor- tativas da criança de refinar e combinar padrões
tivas e aumentar o repertório motor. motores maduros. Nesse estágio, o indivíduo
Devemos usar essas estratégias para conquistar trabalha para “compreender a ideia” de como
o interesse e afeição das crianças pela modalidade, desempenhar a habilidade esportiva [5].
utilizando a formação lúdica e os pequenos jogos Já a aptidão física é definida como uma condição
para auxiliar na iniciação desportiva. Priorizando positiva de bem estar influenciada por uma atividade
nesta fase inicial o ponto de vista motor, propor- física regular [5] e desempenho motor é o termo
cionando atividades com diferentes graus de difi- frequentemente usado para agrupar os vários com-
culdade, que estimulem aos gestos do voleibol [4]. ponentes da aptidão física relacionada à saúde [5].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 35

Com isso o desempenho motor e a aptidão de Matos Muller, da rede pública de ensino do
física de crianças têm sido estudados ao longo município de Cuiabá/MT.
do último século, pois compreende-se que existe Como aptidão física e desempenho motor es-
uma relação importante entre a melhora da ap- tão inter-relacionados, seus componentes tornam-
tidão física e das capacidades funcionais motoras -se inseparáveis. Portanto, para a avaliação foram
(força, flexibilidade, velocidade e agilidade) dos utilizados os materiais e testes recomendados pelo
indivíduos, contribuindo, assim, na eficiência da Proesp-BR (2009) [7].
realização de determinadas tarefas [6]. As variáveis selecionadas para o estudo da
Ao longo dos anos tem-se observado diversas aptidão física foram flexibilidade e força explo-
sugestões de baterias de testes para avaliar o de- siva de membros superiores e inferiores. Já para
sempenho motor e a aptidão física [6]. No Brasil, o desempenho motor avaliaram-se as variáveis:
encontramos o Projeto Esporte Brasil (PROESP- velocidade e agilidade. Os testes foram divididos
-BR, 2009) [7], que segue com informações para em duas categorias: as provas em sala e as provas
aplicação de medidas e testes, normas e critérios de campo.
de avaliação, desenvolvido no âmbito da educação
física escolar com o esporte educacional condi- Os testes de sala
zente com a nossa realidade cultural. Auxiliando
professores de educação física na avaliação dos O motivo para que os seguintes procedimen-
indicadores de crescimento corporal, do estado tos sejam realizados em sala é pelo fato da exi-
nutricional, da aptidão física relacionada à saúde gência de que as crianças permaneçam descalças
e ao desempenho esportivo em crianças e jovens durante os testes de massa corporal total, estatura
entre 7 e 17 anos. Sendo assim, o objetivo do e flexibilidade.
presente estudo tem como propósito investigar Para a medida da massa corporal total foi
a influência da iniciação ao voleibol na aptidão utilizada uma balança digital da marca Omron,
física e desempenho motor em crianças do quarto modelo HN-283LA e para a leitura da estatura foi
ano do ensino fundamental de uma escola muni- utilizado um estadiômetro da Soehnle. Para o teste
cipal de Cuiabá/MT. de flexibilidade (sentar-e-alcançar) foi utilizado o
Banco de Wells [7].
Material e métodos
Os testes de campo
Amostra
Já os procedimentos de campo são realizados
Inicialmente, foi feito um contato com a em espaços livres e com vestimentas adequadas
direção da escola para esclarecimentos sobre o (calção ou agasalho, camiseta e tênis) e seguem
objetivo da pesquisa e os procedimentos a serem a seguinte ordem para minimizar os efeitos de
realizados para a coleta de dados. Para a seleção fadiga fisiológica e interferência nos resultados.
dos participantes da pesquisa, determinou-se Os testes escolhidos foram: teste de força explosiva
como critério de inclusão crianças que estivessem de membros inferiores - salto horizontal, teste de
cursando o quarto ano do ensino fundamental, força explosiva de membros superiores – arremes-
que se encontram na faixa etária dos nove anos so de medicineball, teste de agilidade – teste do
de idade, as quais se deparam na fase motora quadrado e velocidade – corrida de 20 metros [7].
especializada. Esta fase é um período em que os
movimentos tornam-se uma ferramenta que será Protocolo de atividades
útil para muitas atividades motoras complexas que
estão presentes na vida diária, na recreação ou nos Após a realização da primeira coleta de dados,
jogos esportivos [5]. Neste estudo de característi- foram realizados exercícios voltados para a inicia-
cas de campo, participaram 26 crianças, de ambos ção ao voleibol baseados na estrutura funcional
os sexos, das quais 12 do sexo masculino e 14 do reduzida (EFR) que tem como propósito a modi-
sexo feminino, oriundas da escola EMEB Senador ficação do espaço de jogo, bem como o número
36 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

de jogadores e a altura da rede [8] nas aulas de Na terceira semana aplicou-se o vôlei lençol
educação física por um período de oito semanas. e o vôlei sem rede. O primeiro consistia em usar
As aulas foram aplicadas duas vezes por semana a rede de vôlei, e cada equipe mista ocupava um
com duração de 60 minutos cada. Disponibiliza- lado da quadra formando duplas que seguravam
ram-se duas aulas para realização das coletas de um lenço feito de tnt, cujo objetivo era repassar a
dados, uma antes da intervenção das atividades bola para o outro lado e a equipe adversária tinha
e outra após este período, totalizando-se assim, que receber esta bola dentro do lençol. O segundo
17 (dezessete) aulas. As aulas eram divididas em não utilizava a rede, as crianças eram divididas em
três partes: aquecimento, atividades principais e quatro pequenos grupos e ficavam dentro de qua-
volta-a-calma. drados desenhados no chão, e cada grupo tinha
Buscou-se oportunizar a vivência de jogos que recepcionar e repassar a bola com no máximo
recreativos, utilizando-se o método global. Priori- três batidas para outro grupo sem deixá-la cair ou
zando familiarização com a bola, a quadra, a rede, sem repassá-la de forma incorreta.
o deslocamento e o domínio de bola alta e baixa. Na quarta semana foi aplicado o vôlei maluco.
As atividades exploradas no aquecimento As equipes eram posicionadas em quadra com
foram jogos de pegador como: pega-pega, pega- o número igual de crianças de cada lado. Estas
-pega americano, pega-pega corrente, pega-pega tinham que tocar na bola, sem segurá-la e tentar
perneta, pega o rabo do macaco e pega a cobra. Já repassá-la para o outro lado. Primeiro foi utiliza-
para a prática das habilidades motoras globais uti- da uma bola de vôlei normal e depois uma bola
lizamos os jogos pré-desportivos que enfatizassem menor para dificultar a atividade.
os gestos do voleibol como: peteca, mosca tonta, Na quinta semana foi empregado o jogo de
alerta adaptada, vôlei-bexiga, vôlei-maluco, vôlei câmbio. Duas equipes mistas com número iguais
sem rede, vôlei lençol, mini-lancebol e lancebol de jogadores ocupavam cada uma um lado da
[4,9,10]. quadra e tinham como objetivo segurar a bola e
Na primeira semana de aula foi aplicado o depois repassá-la para a equipe adversária, sem
jogo da peteca, onde o campo era demarcado com deixar a bola cair no chão. Posteriormente foi
uma corda ou barbante a uma altura de 1m, cada aplicado o câmbio com seis jogadores, o jogo é o
equipe ocupava um lado do campo e tinha que mesmo, mas só que agora formando seis alunos
tocar a peteca para o outro lado sem deixá-la cair por equipe e os demais aguardavam analisando a
no chão (era permitido segurá-la); e o jogo da dinâmica do jogo, possibilitando um feedback e
mosca tonta era empregado em pequenos grupos, em seguida invertiam-se os papéis.
usando uma bola leve, e uma criança sempre se Na sexta semana foi aplicada a rede humana
posicionava no meio do círculo para tentar pegar com bola gigante com três grupos iguais. Dois
a bola que era arremessada pelos colegas. grupos se posicionaram cada um em um lado da
Na segunda semana foi aplicado o jogo do quadra e o terceiro grupo pocisionou-se no meio,
alerta adaptado e o vôlei bexiga. No primeiro para ser a rede. Os dois grupos que disputavam a
todos formavam um círculo e passavam a bola partida tinham que atravessar a bola para o outro
um para o outro aleatoriamente até que a bola lado sem tocar na rede. O grupo que se passava
caísse. A criança que derrubasse a bola tinha que por rede tinha que tentar interceptar a bola, se
gritar “Alerta” e dar três passos em direção a algum conseguisse trocavam de lugar com o grupo que
colega e arremessar a bola para queimá-lo. Esse arremessou a bola; e o jogo mini-lancebol foi
colega tinha que segurar a bola para arremessá-la aplicado de diversas maneiras: 1 contra 1, 2 contra
em outra pessoa, evitando que ninguém saísse 2, 3 contra 3 e 4 contra 4. Com o objetivo de
do jogo; e o vôlei bexiga era jogado com uma fazer com que os jogadores se movessem atrás da
bexiga cheia de confetes, usando a rede de vôlei, bola para jogá-la em espaços vazios e recepcioná-
cada equipe mista ocupava um lado da quadra e -la dentro do campo demarcado, com pequenos
tinha que dar três toques e lançar para a equipe deslocamentos.
adversária. Esta tentava receber a bexiga sem E, por fim, na sétima e oitava semana foi
deixar que estourasse. introduzido o lancebol, faziam parte de cada
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 37

equipe seis jogadores, utilizando a quadra e a Tabela I - Denota a média, o desvio padrão e erro
rede de voleibol para familiarizar-se com o jogo, padrão referente à massa corporal (peso), estatura,
cujo objetivo é recepcionar a bola, dar três toques IMC e % de gordura da turma e dos sexos masculino
e lançá-la para a equipe adversária, sem deixar a e feminino.
bola tocar no chão. Variá-
Turma Masculino Feminino
veis
Análise estatística Pré- Pós- Pré- Pós- Pré- Pós-
-teste -teste -teste -teste -teste -teste
Foi realizada a estatística descritiva com sof- Peso
tware Excel 2003® e para o teste de hipótese foi Nº da
26,00 26,00 12,00 12,00 14,00 14,00
utilizado o método teste t com amostras pareadas amostra
para a comparação do grupo no pré e pós-teste, Máximo 55,90 57,50 55,90 57,50 53,40 51,30
Mínimo 23,00 22,90 25,00 25,60 23,00 22,90
adotou-se como significância estatística p ≤ 0,05,
Média 33,96 65,02 32,08 33,14 35,57 36,62
utilizando para este o software Biostat 5.0.
Desvio
9,54 9,48 9,21 9,58 9,85 9,45
padrão
Resultados Erro
1,87 1,86 2,66 2,76 2,63 2,53
padrão
A descrição dos resultados obtidos na massa
Altura
corporal, estatura, IMC e percentual de gordura Máximo 1,54 1,56 1,52 1,52 1,54 1,56
no pré e no pós-testes foram apresentados em Mínimo 1,23 1,24 1,30 1,30 1,23 1,24
forma de tabela. Média 1,38 1,39 1,38 1,38 1,38 1,39
Ao analisar os resultados do peso e estatura Desvio
0,08 0,08 0,08 0,08 0,09 0,09
da turma e separadamente por sexo, observou- padrão
-se que na média total não existem diferenças Erro
0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02
significativas. padrão
Os resultados do IMC da turma demonstram IMC
que não houve mudança significativa, porém Máximo 24,80 24,89 24,19 24,89 24,80 24,65
quando analisados por sexo observa-se que tanto Mínimo 13,70 13,98 13,70 14,05 14,26 13,98
os meninos como as meninas encontram-se abaixo Média 17,51 17,90 16,56 17,02 18,32 18,66
da média. Desvio
3,25 3,26 3,18 3,24 3,20 3,20
Com relação ao percentual de gordura da tur- padrão
ma e por sexo não houve mudança significativa. Erro
0,64 0,64 0,92 0,93 0,85 0,85
Os resultados dos testes de flexibilidade, força padrão
%Gordura
explosiva de membros inferiores e superiores, de
Máximo 37,79 36,58 37,79 36,58 31,47 31,51
agilidade e velocidade foram representados em
Mínimo 11,87 11,87 11,87 11,87 15,45 14,53
forma de gráfico.
Média 23,48 22,84 20,51 20,39 26,04 24,93
Desvio
Figura 1 - Resultados das médias, erro padrão e linha 7,11 7,40 8,09 8,06 5,17 6,34
padrão
de classificação ideal (PROESP-BR, 2009) do teste Erro
de flexibilidade. 1,39 1,45 2,33 2,33 1,38 1,69
padrão
30,00 26,15
24,15 25,17 26,42 25,93
27,00 23,29
24,00 Os valores encontrados como média pela tur-
21,00 ma foram 24,15 ± 1,12 no pré-teste e 26,15 ± 1,18
18,00 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,1125), mos-
15,00
12,00 trando que não teve estatisticamente mudança
9,00 significativa. E quando verificado separadamente
6,00 por sexo, observamos que no masculino a média
3,00
0,00 encontrada foi de 25,17 ± 1,55 no pré-teste e
cm Turma Meninos Meninas

p=0,1125063 Referência p≤0,05 Ideal=


♂ 22 cm
AVAL 1 AVAL 2 ♀ 18 cm
PROESP
38 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

26,42 ± 1,66 no pós-teste. Enquanto no feminino Figura 3 - Resultados das médias, erro padrão e linha
a média encontrada no pré-teste foi 23,29 ± 1,63 de classificação ideal (PROESP-BR, 2009) do teste de
e no pós-teste de 25,93 ± 1,72. Observamos que força explosiva dos membros superiores.
as meninas obtiveram ganhos maiores no final das 240,00 201,38 201,92 200,93
atividades propostas. 220,00 *
180,50 182,58 178,71
200,00
180,00
Figura 2 - Resultados das médias, erro padrão e linha 160,00
140,00
de classificação ideal (PROESP-BR, 2009) do teste 120,00
de agilidade. 100,00
80,00
12,00 60,00
11,00 40,00
10,00 8,30 20,00
9,00 7,98 7,31 7,60 7,04 7,54 0,00
8,00 *
7,00 cm Turma Meninos Meninas
6,00
5,00 p=0,01964913 Referência p≤0,05 Ideal=
4,00 ♂ 220 cm
3,00 AVAL 2 ♀ 201 cm
2,00 AVAL 1
PROESP
1,00
0,00
seg Turma Meninos Meninas
p=0,00011 Referência p≤0,05 Ideal= Figura 4 - Resultados das médias, erro padrão e linha
♂ 7,25 seg de classificação ideal (PROESP-BR, 2009) do teste de
AVAL 1 AVAL 2 ♀ 6,89 seg
PROESP força explosiva de membros inferiores.
180,00 146,27 162,17
165,00 * 151,33
Os valores encontrados como média pela 150,00 135,12 132,64
turma foram 7,98 ± 0,14 no pré-teste e 7,31 ± 135,00 121,21
120,00
0,09 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,00011), 105,00
mostrando que houve uma mudança significativa. 90,00
75,00
E quando verificado separadamente por sexo, ob- 60,00
45,00
servamos que no masculino a média encontrada 30,00
foi de 7,60 ± 0,14 no pré-teste e 7,04 ± 0,09 15,00
0,00
no pós-teste. Enquanto no feminino a média cm Turma Meninos Meninas
encontrada no pré-teste foi de 8,30 ± 0,19 e no Ideal=
pós-teste de 7,54 ± 0,13. Observamos que quando p=0,05000 Referência p≤0,05 ♂ 140 cm
as amostras foram comparadas entre masculino e AVAL 1 AVAL 2 ♀ 127 cm
PROESP
feminino as meninas obtiveram ganhos maiores
que os meninos. Os valores encontrados como média pela tur-
Os valores encontrados como médias pela ma foram 135,12 ± 4,98 no pré-teste e 146,27 ±
turma foram 180,50 ± 7,37 no pré-teste e 201,38 4,94 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,0500),
± 6,56 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,0196), mostrando que houve mudanças significativas.
mostrando respostas significativas. Contudo, Entretanto, quando verificado separadamente
quando investigado separadamente por sexo, por sexo, observamos que no masculino a média
observamos que no masculino a média encontrada encontrada foi de 151,33 ± 7,03 no pré-teste e
foi de 182,58 ± 10,46 no pré-teste e 201,92 ± 162,17 ± 7,00 no pós-teste. Enquanto que no
10,30 no pós-teste. Ao passo que no feminino a feminino a média no pré-teste foi de 121,21 ±
média encontrada no pré-teste foi de 178,71 ± 4,62 e no pós-teste de 132,64 ± 4,56. Observa-
10,68 e no pós-teste de 200,93 ± 8,76. Observa- mos que quando as amostras foram comparadas
mos que quando as amostras foram comparadas entre masculino e feminino não houve mudanças
entre masculino e feminino não houve mudanças importantes.
importantes.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 39

Figura 5 - Resultados das médias, erro padrão e linha que os resultados encontrados estão abaixo dos
de classificação ideal (PROESP-BR, 2009) do teste ideais preconizados pelo PROESP-BR, isso pode
de velocidade. ter ocorrido pelo período curto da pesquisa, mas
6,50
5,73
comparando a avaliação 01 com os resultados da
6,00 5,38 * 5,16
5,50 4,96 avaliação 02, observamos melhoras significativas,
4,91
5,00 4,62 havendo modificações positivas em ambos os
4,50
4,00 sexos.
3,50
3,00
2,50 Conclusão
2,00
1,50
1,00 O presente estudo verificou a eficiência da
0,50 iniciação ao voleibol utilizando uma formação
0,00
seg Turma Meninos Meninas lúdica para influenciar e melhorar os componen-
tes da aptidão física e desempenho motor. Visto
p=0,0075833 Referência p≤0,05 Ideal=
♀ 4,28 seg que suas atividades contribuíram de maneira
AVAL 1 AVAL 2 ♂ 4,09 seg positiva para o aumento das habilidades motoras e
PROESP
aptidão física. Portanto, este trabalho foi essencial
Os valores encontrados como médias pela turma para demonstrar a importância de se introduzir o
foram 5,38 ± 0,16 no pré-teste e 4,91 ± 0,09 no voleibol, utilizando jogos pré-esportivos e lúdicos,
pós-teste, sendo o valor de (p = 0,0075), mostrando nas aulas de educação física escolar.
respostas significativas. Todavia, quando investigado
separadamente por sexo, observamos que no mas- Referências
culino a média encontrada foi de 4,96 ± 0,19 no
pré-teste e 4,62 ± 0,11 no pós-teste. Enquanto que 1. Bojikian JCM. Ensinando voleibol. São Paulo:
no feminino a média encontrada no pré-teste foi de Editora Phorte; 2003. p.19-22.
2. Mattos SCMG. Iniciação Desportiva: Uma abor-
5,73 ± 0,21 e no pós-teste de 5,16 ± 0,11. Obser- dagem teórica. Revista Sprint 1988;7(40):6-8.
vamos que quando as amostras foram comparadas 3. Nista-Piccolo VL, ed. Pedagogia dos Esportes.
entre masculino e feminino as meninas obtiveram Campinas: Papirus; 1999. p.9.
ganhos maiores no final das atividades propostas. 4. Machado AA. Iniciação ao estudo do voleibol. In: Ran-
gel ICA, Darido SC. Voleibol: do aprender ao especiali-
zar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p.13-5.
Discussão 5. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o de-
senvolvimento motor, bebês, crianças, adolescentes
Observando as variáveis peso, estatura, IMC e adultos São Paulo: Phorte; 2005.
e percentual de gordura não houve mudanças 6. Krebs RJ, Duarte MG, Nobre GC, Nazário PF,
significativas, pois a pesquisa foi realizada em um Santos JOL. Relação entre escores de desempenho
motor e aptidão física em crianças com idades entre
curto período de tempo.
07 e 08 anos. Rev Bras Cineantropom Desempe-
Na flexibilidade o teste realizado não demons- nho Hum 2011;13:(2)94-9.
trou mudanças significativas quanto à turma. Uma 7. Gaya ACA. Proesp/BR. Projeto Esporte Brasil:
possível explicação é que as crianças já possuíam um Medidas e Testes, Normas e Critérios de Avaliação.
nível de flexibilidade acima da classificação ideal e Ministério dos Esportes, 2009. [citado 2011 Set
3]. Disponível em URL: http://www.esef.ufrgs.br/
não foi realizada nenhuma atividade específica para
proespbr/proespbr.htm
esta capacidade física. Analisando o pré e pós-teste 8. Pessoa AE, Bertollo M, Carlan P. Voleibol. Ijuí:
as meninas obtiveram desenvolvimentos melhores Unijuí; 2009. p.144.
que os meninos. Isto se confirma na afirmação de 9. Carvalho OM. Voleibol: Técnicas de ensino para
Gallahue, em que relata que as meninas tendem a iniciantes. Revista Sprint 1992;11(63):22-30.
10. Darido S. Souza OM. Para ensinar educação física:
ser mais flexíveis que os meninos em todas as idades.
possibilidades de intervenção na escola. Campinas:
Nos resultados analisados dos testes de agi- Papirus; 2007. p.71-84.
lidade, força explosiva e velocidade observamos
40 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

RELATO DE CASO

A efetividade do treino de ortostatismo


progressivo na reexpansão pulmonar em
trauma raquimedular alto
The effectiveness of the progressive orthostatism training
in the pulmonary re-expansion in high spinal cord injury

Caroline Andréia Pizano*, Melina Tarossi*, Rodrigo Marques Tonella, Ft.**, Cristiane Delgado Alves
Rodrigues, Ft.**, Núbia Maria Freire Vieira Lima**,
Shirley Mandu***, Daniele Mascarenhas***

*Especialistas em Fisioterapia Respiratória em Unidade de Terapia Intensiva de Adulto pela UNICAMP,


**Fisioterapeutas do Hospital de Clínicas da UNICAMP, ***Especialistas em Ventilação Mecânica em
Adultos pela Faculdade Nossa Senhora de Lourdes

Resumo vação da prancha partindo de 0º até 30º, elevando de


Introdução: O trauma raquimedular (TRM) é ca- 15 em 15º, atingindo no máximo 60º devido à queda
racterizado por lesão na medula com alterações das fun- do nível de consciência. Em seguida, utilizou-se meia
ções motoras, sensoriais e autonômicas e causa diversas compressiva para assim atingir angulação máxima de
complicações. Uma das formas de preveni-las é utilizar 75°. Resultados: Observou-se redução da PAM; redução
o ortostatismo. Objetivo: O objetivo deste estudo foi nos valores de Vt e C durante a elevação e um aumento
analisar a efetividade do treino de ortostatismo pro- de seus valores quando comparados à posição supina
gressivo como estratégia de reexpansão pulmonar em antes e após o ortostatismo. Conclusão: Conclui-se que
um paciente com TRM alto considerando o compor- houve aumento da PAM e da expansão pulmonar pós
tamento das variáveis ventilatórias e hemodinâmicas. ortostatismo, observado pela melhora significativa do
Métodos: Participou um paciente com diagnóstico de Vt e da C nos mesmos parâmetros ventilatórios e que
TRM com lesão completa, nível C3-C4, dependente a posição ortostática pode ser utilizada como estratégia
da ventilação mecânica. Foram analisados o volume de reexpansão pulmonar no TRM.
corrente (Vt), a complacência (C) e a pressão arterial Palavras-chave: tetraplegia, hipotensão ortostática,
média (PAM). O procedimento constituiu-se de ele- fisioterapia.

Recebido 8 de outubro de 2012; aceito em 4 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Rodrigo Marques Tonella, Rua Culto à Ciência, 257/104, 13020-060
Campinas SP, E-mail: digomato@terra.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 41

Abstract of the board from 0° to 30°, increasing from 15 to


Introduction: The high spinal cord injury (SCI) 15°, reaching a maximum of 60° due to decrease in
is a trauma of the spinal cord with changes in motor, consciousness level. After, a compression stocking was
sensory and autonomic functions. The SCI brings used to achieve maximum of 75°. Results: We observed
several complications and one of the ways to minimize decrease in MBP and decline in tidal and complacency
them is by the orthostatism. Objective: The objective of during the orthostatism and an increase in their values
this study was to analyze the effectiveness of the pro- when compared to the supine position before and after
gressive orthostatism training as strategy of pulmonary the orthostatism. Conclusion: We concluded that there
re-expansion in a patient with high SCI considering was an increase of RBP and pulmonary expansion
the behavior of the ventilatory and hemodynamic after orthostatism, demonstrated by improvement of
variables. Methods: It was observed a patient with the tidal and complacency in original parameters, and
complete SCI, level C3-C4, dependent of mechanical that the orthostatic position can be used as a strategy
ventilation. It was analyzed the tidal volume (TV), of pulmonary re-expansion in SCI.
the complacency (C) and the medium blood pressure Key-words: quadriplegia, orthostatic hypotension,
(MBP). The procedure constituted of the elevation physical therapy.

Introdução bilidade reduzida devido à anormalidade do


desempenho dos músculos intercostais e pela
O TRM é caracterizado por um insulto espasticidade muscular. Este comprometimento
traumático da medula que pode resultar em resulta na redução de 20 a 50% da capacidade
alterações nas funções motoras (musculares vital, proporcionando prejuízo no desempenho
e ósseas), sensoriais e autonômicas normais. da tosse [4].
Dentre as complicações do TRM estão a insu- Muitos pacientes necessitam de suporte ven-
ficiência respiratória, espasticidade, infecções tilatório permanente ou por um longo período,
do trato urinário, úlceras por pressão, hipoten- além disso acabam apresentando distúrbios do
são ortostática e osteoporose [1,2]. sono. Inúmeros protocolos são utilizados como
A insuficiência respiratória é decorrente do recurso no treinamento da musculatura res-
déficit da inervação dos músculos primários da piratória. Estudos com treinamento muscular
respiração resultando em paralisia e fraqueza mus- baseado no controle de tronco e suporte abdo-
culares, reduzindo a capacidade vital e a expansi- minal proporcionaram melhorias na eficácia da
bilidade da caixa torácica, proporcionando uma ventilação pulmonar e redução das complicações
redução da complacência pulmonar. O acúmulo respiratórias [5,6].
de secreção e atelectasia são consequências diretas Com o comprometimento do sistema sim-
da ausência da contração muscular respiratória pático, a intolerância ortostática é comumente
e suspiro voluntário, por isso são necessárias observada em indivíduos com lesão cervical
manobras constantes de higiene e reexpansão alta. Deste modo, durante o ortostatismo
pulmonares [3,4]. ocorre uma redução do fluxo sanguíneo cere-
A redução da complacência pulmonar pode bral decorrente da incoordenação do sistema
ser atribuída à redução do volume pulmonar, a cardiovascular. Com o imobilismo muscular,
qual é proporcional às alterações das proprie- o sistema cardiovascular está comprometido
dades mecânicas do pulmão e alterações do ocasionando uma redução na atividade do
surfactante. Estes fatores podem estar relacio- retorno venoso. A fim de minimizar a hipoten-
nados ao baixo volume, geralmente decorrentes são, durante treino de ortostatismo, utiliza-se
de uma lesão alta (C3, C4 e C5), e dependência meia compressiva [7,8].
da ventilação mecânica devido ao comprome- Entre as intervenções utilizadas para prevenir
timento do nervo frênico, o que torna a ação e/ou minimizar as complicações do TRM está
do diafragma ineficaz, apresentando expansi- o ortostatismo progressivo. Os estudos sobre a
42 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

posição ortostática referem-se a seus efeitos na (Kendal®) desde o pé até a coxa, a partir do
prevenção da perda de massa óssea; melhora do 17º dia de protocolo. Posteriormente, nos oito
equilíbrio do sistema hemodinâmico na posição dias finais, a angulação máxima atingida foi
ortostática; prevenção de contratura muscular; de 75º. As variáveis eram registradas no 1º e
melhora da função urinária e intestinal; alívio de 5º minuto de cada ângulo e após o retorno à
pressões que ocorrem na posição sentada, redução posição deitada. Foram analisados os resultados
da incidência de úlceras por pressão, além da fa- de cada angulação, através do teste t pareado
cilitação da ventilação e trocas gasosas e melhora para análise das alterações entre as variáveis,
do estado vigil [9,10]. com nível de significância de p < 0,05. Deste
modo observou-se que houve uma diminuição
Material e métodos da PAM comparando-se os ângulos de 30º e
45º; aumento significativo de seu valor quan-
Trata-se de um relato de caso que foi do comparado o valor final com angulação de
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa 45º e quando comparado o valor final com
da FCM/UNICAMP sob o parecer de núme- o inicial sendo p=0,042, demonstrando que,
ro: 017/2009. Paciente masculino, 32 anos embora haja hipotensão postural importante,
de idade, com lesão medular completa, nível os valores atingidos não foram inferiores a 50
C3-C4, após mergulho em água rasa, inter- mmHg (Gráfico 1).
nado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
do Hospital de Clínicas da UNICAMP, no Gráfico 1 - Evolução da PAM nos diferentes graus de
53º dia de internação. Apresentava quadro elevação e após o retorno à posição supino.
neurológico estável com tetraplegia comple- 120 Pressão arterial média
ta, em uso de colar cervical, dependente de
Pressão arterial média (mmHg)

110 *
ventilação mecânica (Respirador Raphael® / **
Hamilton Medical, software 1.0) sem drive 100
ventilatório, traqueostomizado e sem sedação. 90
Hemodinamicamente estável sem uso de dro- *
gas vasoativas. O treinamento ortostático foi 80
realizado por meio de uma prancha ortostática 70 *
manual com duração de 24 dias consecutivos.
60
Foram analisados o Vt e a complacência
aferidos pelo respirador. A PAM foi obtida pelo 50
monitor multiparamétrico Dixtal®. O protocolo 40
era iniciado sempre após atendimento fisiotera- 0° inicial 30° 30° após 5' 45° 45° após 5' 0° final
pêutico com ajuste da FiO2 (fração inspirada de Posições
oxigênio) em 1.0.
O procedimento constituiu-se de elevação O Gráfico 2 demonstra uma queda da compla-
da prancha partindo de 0º até 30º, e a partir cência pulmonar em todos os ângulos analisados,
daí de 15 em 15º com intervalo de 5 minutos quando comparados ao valor inicial com valores
entre cada elevação. O procedimento foi inter- de p = 0,00. Porém apresentou um aumento
rompido quando houve a queda da PAM (< 50 considerável quando comparados os dados da
mmHg) ou diminuição do nível de consciência; posição 75º com o final. Houve também aumento
estes eventos ocorreram a partir da angulação em seu valor quando comparado à complacência
de 60º (16º dia). Nessas condições o protocolo final com a inicial com p = 0,00, demonstrando
foi interrompido imediatamente e a prancha que houve melhora nas condições de mecânica
retornada à posição inicial. Como forma de do sistema respiratório, ratificando a efetividade
minimizar o quadro de hipotensão, utilizou-se do protocolo.
uma meia compressiva de média compressão
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 43

Gráfico 2 - Evolução da complacência nos diferentes Sendo este resultado da incapacidade de ativar o
graus de elevação e após o retorno à posição supino. sistema simpático eferente, uma vez que os neu-
70 Complacência rônios pre-ganglionares simpáticos se localizam
* nos segmentos medulares T1 a L2, que neste
Complacência (mL/cmH2O)

** caso apresentam-se comprometidos pela lesão.


60
Gonzales et al. observaram que os indivíduos que
não apresentam hipotensão ortostática são capazes
50
de manter fluxo sanguíneo cerebral mesmo apre-
* sentando uma redução da PAM. Deste modo, a
40 *
autorregulação do fluxo sanguíneo cerebral apre-
senta maior importância na redução dos efeitos
30 da hipotensão ortostática [12].
Os mecanismos responsáveis pela hipotensão
20 estão relacionados ao distúrbio do sistema neuro-
0° inicial 30° 30° após 5' 45° 45° após 5' 0° final
lógico, endócrino e fatores mecânicos. Outro fator
Posições que contribui para a hipotensão ortostática é a
falta de ativação da contração muscular esqueléti-
O volume corrente apresentou a mesma ca, que leva a uma diminuição do retorno venoso,
tendência de comportamento com queda sig- com queda do débito cardíaco com consequente
nificativa nas angulações de 30, 45, 60 e 75º, queda da pressão arterial [13-14]. Para tal foi utili-
apresentando aumento do volume final em zada meia de compressão a qual se mostrou eficaz
comparação ao volume corrente inicial do pro- na melhora da hipotensão possibilitando maiores
tocolo (Gráfico 3). graus de elevação com a PAM em valores normais.
Os valores da complacência pulmonar e Vt
Gráfico 3 - Evolução do Vt nos diferentes graus de apresentaram uma redução durante os graus de
elevação e após o retorno à posição supino. elevação, diferentemente dos achados de Sibinelli
1000 Volume corrente * et al que realizaram o ortostatismo em pacientes
950 **
internados em UTI e obtiveram ganhos de volume
900
850 corrente significativos durante a elevação até 50
Volume corrente (mL)

800 graus. Esses resultados podem ser explicados pelo


750 * fato de que os pacientes do referido estudo não
700 possuíam TRM e quando colocados na posição
650 * *
600 ortostática apresentavam tônus abdominal normal
550 e uma contenção abdominal adequada, com a
500 pressão intra-abdominal mantida, permitindo que
450
400
o diafragma ao contrair-se encontrasse apoio para
350 realizar sua função normal [4].
300 Porto et al. avaliaram a influência do posi-
0° inicial 30° 30° após 5' 45° 45° após 5' 0° final cionamento corporal sobre a hemodinâmica do
Posições sistema respiratório analisando a pressão, volume
e fluxo nas posições sentada, decúbito lateral e
dorsal, em indivíduos submetidos a ventilação
Discussão mecânica invasiva prolongada. Observaram que
a posição sentada proporciou maior complacên-
A redução da PAM ocorreu conforme o cia do sitema respiratório quando comparado ao
esperado nos pacientes com TRM, durante o decúbito dorsal e lateral. Este evento pode estar
ortostatismo, devido à alteração no controle relacionado ao fato de ocorrer maior compresão
do tônus vasomotor, tanto nos vasos periféricos mecânica na caixa torácica em decúbito dorsal,
como em circulação visceral abdominal [11]. aumentado o trabalho respiratório e consequen-
44 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

temente reduzindo o desempenho do sistema posture. Arch Phys Med Rehabil 2009;90:1414-7.
respiratório. O mesmo não ocorre nos pacientes 4. Brown R, DiMarco AF, Hoit JD, Garshick E. Res-
com lesão medular acima do sexto segmento piratory dysfunction and management in spinal
torácico (T6), na qual a musculatura abdominal cord injury. Respiratory Care 2006;51(8):853-70.
5. Zimmer MB, Nantwi K, Goshgarian HG. Effect of
apresenta-se flácida, dessa forma não sustentan-
spinal cord injury on the respiratory system: basic
do o diafragma durante ortostatismo, ficando o research and current clinical treatment options. J
mesmo mais exposto à ação da gravidade [16]. Spinal Cord Med 2007;30(4):319-30.
Indivíduos com lesão medular alta também 6. Sheel AW, Reid WD, Townson AF, Ayas NT,
podem apresentar redução significativa da capa- Konnyu KJ. Effects of exercise training and inspi-
cidade vital, pressão inspiratória máxima e pressão ratory muscle training in spinal cord injury: A sys-
expiratória máxima, resultado da perda do tônus tematic review. J Spinal Cord Med 2008;31:500-8.
muscular e da disfunção respiratória. Zimmer et 7. Illman A, Stiller K, Williams M. The prevalence
al. descrevem que os treinamentos devem prio- of orthostatic hypotension during physiotherapy
treatment in patients with an acute spinal cord
rizar a função ventilatória a fim de minimizar os
injury. Spinal Cord 2000;38:741-7.
efeitos pós-lesão. Embora apresentassem uma
8. Theisen D, Vanlandewijck Y, Sturbos X, Francaux
redução durante o ortostatismo, os valores de M. Blood distribution adaptations in paraplegics
complacência pulmonar e Vt apresentaram um during posture changes: peripheral and central re-
aumento significativo, após o retorno à posição -ex responses. Eur J Appl Physiol 2000;81:463-9.
deitada, quando comparados com a posição ini- 9. Chang TA, Boots R, Hodges WP, Paratz J. Stan-
cial. Isso provavelmente ocorreu, pois em ortosta- ding with assistance of a tilt table in intensive care:
tismo as áreas posteriores ficam mais ventiladas e A survey of Australian physiotherapy practice. Aus
ao retornar à posição supina o volume pulmonar J Physiother 2004;50:51-4.
aumenta assim como a complacência, devido à 10. Leite JV, Rael, S, Castro W, Vicentini A. Influência do
ortostatismo no controle de tronco e na espasticidade
expansão pulmonar adquirida nestas áreas [5-15].
de pacientes paraplégicos. Intellectus 2008;4(5).
11. Mathias CJ, Frankel HL. Cardiovascular control
Conclusão in spinal man. Ann Rev Physiol 1988;50:577-92.
12. Gonzalez F, Chang JY, Banovac K, Messina D, Mar-
Foi observado no treino ortostático progres- tinez-Arizala A, Kelley RE. Autoregulation of cerebral
sivo no TRM alto que a complacência e o Vt blood flow in patients with orthostatic hypotension
sofrem redução inicial em seus valores durante after spinal cord injury. Paraplegia 1991;29:1-7.
a elevação, porém, ao retornar à posição supina, 13. Chao CYL, Cheing GLY. Orthostatic hypotension
apresentaram aumento significativo em seus va- for people with spinal cord injuries. Hong Kong
lores, promovendo uma melhora da ventilação e Physiotherapy Journal 2008;26:51-8.
14. Nobunga AI. Orthostatic hypotension in spi-
reexpansão pulmonar pós-ortostatismo.
nal cord injury. Top Spinal Cord Inj Rehabil
1997;4(1):73-80.
Referências 15. Sibinelli M, Maioral DC, Falcão ALE, Kosour C,
Dragosavac D, Lima NMFV. Efeito imediato do
1. Staas Junior WE, Formal CS, Freedman MK, ortostatismo em pacientes internados na UTI. Rev
Fried GW, Read ME. Lesões medulares e trata- Bras Ter Intensiva 2012;24(1):64-70.
mento médico nas lesões medulares. In: Delisa 16. Goldmam JM, Rose LS, Williams SJ, Silver
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abilitação: Princípios e Prática. 3a ed. São Paulo: on breathing in tetraplegic patients. Thorax
Manole; 2002. p. 1325-59. 1986;41:940-5.
2. Rodrigues D, Herrera G. Recursos Fisiotera- 17. Porto EF, Castro AAM, Leite JRO, Miranda SV,
pêuticos na prevenção de perda da densidade Lancauth A, Kumpel C. Análise comparativa
mineral óssea com lesão medular. Acta Ortop Bras da complacência do sistema respiratório em três
2004;12(3):183-8. diferentes posições no leito (lateral, sentada e
3. Ben-Dov I, Zlobinski R, Segel MJ, Gaides M, Shu- dorsal) em pacientes submetidos à ventilação me-
limzon T, Zeilig G. Ventilatory response to hyper- cânica invasiva prolongada. Rev Bras Ter Intensiva
capnia in C5–8 chronic tetraplegia: the effect of 2008;20(3):213-9.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 45

REVISÃO

Células natural killer e efeito do


treinamento
Natural killer cells and effect of training

Grasiely Faccin Borges, M.Sc.*, Ana Maria Miranda Botelho Teixeira, D.Sc.**, Luís Manuel
Pinto Lopes Rama, D.Sc.***

*Professora do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas, Dou-


toranda em Ciências do Desporto na Universidade de Coimbra, Portugal, Instituto de Saúde e
Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas, **Professora e Pesquisadora do Centro de
Investigação do Desporto e da Actividade Física da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação
Física e Coordenadora do Doutorado em Ciências do Desporto da Universidade de Coimbra, Por-
tugal, ***Professor e Pesquisador do Centro de Investigação do Desporto e da Actividade Física da
Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, Portugal

Resumo Os descritores utilizados foram: exercise, CD56,


As células natural killer (NK) possuem um Natural killer e NK. Treze estudos foram selecio-
importante papel na imunidade inata e tanto nados para esta revisão, nove deles apresentaram
sua quantidade quanto a sua atividade no sangue um aumento significativo no número de células
periférico sofrem uma grande flutuação durante e NK circulantes. O treinamento pode induzir uma
após o exercício físico. O objetivo desta revisão foi redistribuição das células NK que pode ser obser-
verificar a resposta das células NK após o treina- vada logo após o término do exercício, podendo
mento. Para a busca dos estudos utilizou-se as bases refletir um processo de recuperação e adaptação,
de dados eletrônicos National Library of Medicine em resposta ao estresse fisiológico.
(Medline/PubMed), Literatura Latino-americana e Palavras-chaves: células matadoras naturais,
do Caribe em Ciência da Saúde (Lilacs) e Scientific subpopulações de linfócitos, exercício, sistema
Electronic Library Online (Scielo) e Sport Discus. imunológico.

Recebido em 23 de novembro de 2012; aceito em 4 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Grasiely Faccin Borges, Faculdade de Ciências do Desporto e
Educação Física Estádio Universitário – Pavilhão III, Santa Clara, 3040-156 Coimbra Portugal, Tel:
(351) 239-802770, E-mail: gfborge@ufam.edu.br
46 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Abstract Sport Discus. The descriptors used were: exercise,


Natural killer cells (NK) cells have an impor- CD56, Natura killer and NK. Thirteen studies
tant role in innate immunity with both their num- were selected, nine of them showed a significant
ber and activity in peripheral blood undergoing increase in the number of circulating NK cells.
large fluctuations during and after exercise. The Training may induce a redistribution of NK cells
purpose of this literature review was to identify the that could be seen after the exercise, which may
effect of training on natural killer cells (NK). Were reflect a process of recovery and adaptation in
used the electronic databases National Library response to physiological stress.
of Medicine (Medline / PubMed), Latin Ameri- Key-words: killer cells, lymphocyte subsets,
can and Caribbean on Health Sciences (Lilacs), exercise, imune system.
Scientific Electronic Library Online (Scielo) and

Introdução As células NK imaturas diferenciam-se,


fenotipicamente e funcionalmente, em células
As células Natural Killer (NK) têm atraído NK maduras após a aquisição do CD56+ e
a atenção dos pesquisadores na área da fisio- o aparecimento do pontencial citolítico. A
logia do exercício, pois tanto o seu número expressão do complexo CD94/NKG2A surge
quanto a sua atividade no sangue periférico mais tarde, antes da etapa final, que culmina
sofrem uma grande flutuação durante e após com a expressão de CD16+ e de receptores
o exercício físico. Novos dados sobre a origem, específicos para moléculas MHC-I clássico, os
desenvolvimento, e interação destas células KIR. As células NK são derivadas das células
com outros fatores imunológicos e não-imu- progenitoras hematopoiéticas CD34+ e o pro-
nológicos têm surgido [1,2] e representam cesso de maturação permite classificá-las em
um campo com rápido desenvolvimento de duas subpopulações: as que expressam níveis
pesquisas, que tem explorado o significado elevados de CD56+ conhecidas como CD-
das alterações nas células NK induzidas pelo 56bright, ou as que expressam níveis reduzidos
exercício físico. chamadas de CD56dim [1,2]. As células natural
As células NK fazem parte da imuni- killer (NK) possuem um importante papel
dade inata, elas exibem o receptor para a na primeira linha de defesa contra micro-
interleucina 2 (IL-2R), CD16 e CD56 e -organismos e certos tipos de células tumorais.
não expressam o CD3. O marcador CD56 São características das CD3 -, e linfócitos
é considerado o principal marcador des- CD56+ expressar atividade de células assas-
te tipo de célula, esse existe também em sinas ativadas por linfocina (LAK) ao serem
outros tipos de células, incluindo NK e estimuladas por IL-2 e secretando citocinas
subpopulações de linfócitos T normalmente como o IFN-γ [7-9]. Existem tipos de células
denominados células NKT (CD3+CD56+), tumorais positivas para CD56 incluindo al-
tecido neural adulto e muscular, bem como guns tipos de leuceminas mielóides, mielomas,
em tecidos embrionários [3-5]. Interna- neuroblastomas, tumores de Wilm, tumores
cionalmente são aceitos e utilizados como e pequenas células cancerígenas [3,4,10]. O
marcadores do fenótipo das células NK o receptor IL-2 parece ativar preferencialmente
CD3-CD16+CD56+. Algumas células apre- as células CD3-CD16+ quando comparado
sentam a ausência do marcador CD16+ e com a população CD3-CD56+, no entanto o
possuem uma atividade citolítica natural, receptor IL-15 ativa uma maior percentagem
incluindo também uma pequena população de CD3-CD56+ [5]. A atividade citolítica
de CD3+CD56+, o CD57+ constitui também das células NK é reforçada pelo interferon-
outro marcador utilizado para identificação -alfa e pela interleucina-2 [11], enquanto que
dessas células [1,2,6,7] . certas prostagandinas [12] e inunocomplexos
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 47

regulam negativamente a função das NK. As ainda existem lacunas no que diz respeito à
células NK são também dotadas de funções compreensão das alterações ocorridas com as
imunoreguladoras, uma vez que segregam células NK após períodos de treino regular,
citocinas tais como IFN-γ, que favorecem o constituindo este aspecto o principal objetivo
desenvolvimento das células T helper 1 (Th1), deste artigo, onde por meio de uma revisão
e as quimiocinas, tais como CCL3/MIP-1α sistemática buscou-se explorar o efeito do trei-
e CCL4/MIP-1β, que recrutam várias células namento sobre o comportamento das células
inflamatórias para locais de inflamação [8,13]. natural killer (NK).
Com o aumento das pesquisas sobre o exer-
cício físico e as células natural killer, algumas Métodologia
questões têm sido respondidas enquanto que
outras ainda continuam obscuras [14]. Alguns Inicialmente realizou-se uma busca na
pesquisadores têm assumido que o aumento literatura utilizando os seguintes descritores
no número ou atividade no sangue periférico em inglês: exercise, CD56, Natura killer,
das natural killer seria benéfico, baseando-se NK, Para a busca dos estudos utilizou-se as
em evidências experimentais, através das quais bases de dados eletrônicas National Library
é possível verificar que uma fração de células of Medicine (Medline/PubMed), Literatura
mononucleares contendo células NK seriam Latino-Americana e do Caribe em Ciência da
capazes de destruir certas linhas de células Saúde (Lilacs) e Scientific Electronic Library
cancerígenas ou células infectadas por vírus, no Online (Scielo) e Sport Discus.
entanto é necessário observar cuidadosamente Para a seleção dos estudos foi estabelecido
esses resultados, visto que em resultados clíni- os seguintes critérios de inclusão: 1) avaliar as
cos, em pacientes com deficiência nas células células natural killer, apresentado valores em
NK, e com uma variedade de defeitos genéticos, percentuais ou número absoluto de células;
foi demonstrado que essas células não são super 2) o exercício físio e/ou treino estar definido
armas e que possuem uma faixa relativamente claramente (ex. número de repetições e/ou
estreita de possíveis alvos [15,16]. duração) do exercício ou treino; 3) ter na
As pesquisas sobre o exercício e/ou treino amostra indivíduos do sexo masculino, sau-
e as células NK têm normalmente incluído dáveis, visto que indivíduos do sexo feminino
estudos transversais e longitudinais [7,14]. possuem respostas diferentes das células NK
Os estudos transversais sobre esse tema levam em resposta ao exercício físico [19,20]; 4) ava-
em consideração que os efeitos residuais da liar indivíduos adultos, pois levamos em con-
prática de exercícios físicos regulares podem sideração que o processo de envelhecimento
ser sustentados por muitos anos. No entanto a poderia influenciar os resultados dos estudos
validade desse tipo de comparação é ameaçado [21,22]; 5) os sujeitos incluídos nas amostra
pela diferença entre o estilo de vida de atletas não deveriam estar utilizando medicamentos
de alto rendimento e a população sedentária ou suplementação nutricional; 6) foram in-
geral, que sendo distintas apresentam muitas cluídos os artigos publicados a partir do ano
vezes resultados de difícil interpretação. Além de 1990, pelo motivo da rápida evolução e
disso, problemas metodológicos em muitos mudanças sobre o tema.
estudos, como, por exemplo, a falta de atenção Os procedimentos para análise dos estudos
dada ao período de descanso utilizado antes foram organizados na seguinte sequência: na
da coleta de sangue que é utilizada, após a primeira etapa, realizou-se um levantamento
realização do exercício, tem contribuído para de artigos encontrados com os descritores
a dificuldade em comparar resultados uma propostos; na segunda, ocorreu uma leitura e
vez que o efeito sobre as células NK podem seleção criteriosa dos artigos para a formação
persistir por 3 dias ou mais [18]. de um banco de dados sistematizado. Os da-
Apesar de existirem evidências sobre as dos de todos os artigos incluídos foram cole-
células NK e o exercício físico agudo [7], tados e armazenados em novo banco de dados,
48 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Tabela I - Estudos selecionados sobre a resposta das células natural killer no sangue periférico após a realização de treinamento.
Tempo de descanso antes
Referência Amostra Treino Marcador/ Resultados
da coleta sanguínea
Anomasiri et al. 20 homens (militares entre CD56+
8 semanas de treino ?
[24] 21 a 23 anos) Não houve mudanças significativas
15 homens (21 anos)
6 meses de ciclismo (500Km CD16+
Baj et al. [25] (16 homens saudáveis ?
por semana) Reduziu 10% células NK
controles)
6 homens Ciclistas versus Repouso logo após o exer- NKH1 (CD57+)
Ferry et al. [26] 5 meses de ciclismo
6 homens controlos cício Aumento no número de NK
26 nadadores de elite 7 meses de natação. 20 -25
(15 homens e 15 mulheres horas/semana de treino na Mais de 24 horas após o CD56+
Gleeson et al. [27]
com idade de 19 a 41 piscina e 5 horas/semana de último exercício Redução do número de células NK.
anos) treino fora da piscina.
19 homens saudáveis 12-18 horas ou 36 a 48 CD16+
Host et al. [28] 10 semanas
horas após o exercício Aumentou 13% e depois 9%.
La Perriere et al. 14 homens saudáveis (18 45 min de ciclismo, 3 vezes/ CD56+
48 horas
[29] a 40 anos) semana Aumento de 22%
Comparação entre treina-
CD56+
mentos antes da competição
16 horas após ultramaratona Não apresentou evidências de
Peters et al. [30] Dois grupos de corredores (>120 km/semana; 3 sema-
(90Km) alterações ou correlação com
nas versus <80 km/semana;
infeccções.
2 semanas)
Corrida e Ciclismo
11 homens corredores 35 Aumento na carga de treino CD16+
Pizza et al. [17] anos) 30 dias de treino (14° dia 12 horas Aumentou 22% (corrida)
80% do treino normal 10 dias 0% (ciclismo)
de treino a 200% do normal)
CD56+
29 semanas de treino
19 nadadores e 11 não- Reduziu em dois momentos, espe-
Rama et al. [14] utilizou 4 momentos durante 48 horas
-atletas cificamente quando aumentaram a
todo o perído de treino.
carga de treino
12 semanas de treino super-
Com 36 horas depois e 12
visionados em cicloergômetro CD56+/CD16+
9 homens (23 anos) (6 horas de jejum da última ses-
Rhind et al. [31] (30 minutos de 65 a 70% Aumentou em 22% (Aumentou
controles) são e 30 a 120 min depois
doVO2max, 4–5 dias por CD16+, CD56+)
do exercício.
semana .
12 semanas de treinamento
(três grupos: grupo 1 de
exercícios aeróbios,70-85%
33 homens sedentários e da FCmáx 3 vezes/semana,
CD16+ Aumentou 27% treino leve,
Shore et al. [32] saudáveis grupo 2 exercícios modera- Repouso
21% treino moderado.
(19 a 29 anos) dos com programa similar ao
grupo 1, 4-5 vezes/semana)
e um grupo de controle,
sedentários)
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 49

Tempo de descanso antes


Referência Amostra Treino Marcador/ Resultados
da coleta sanguínea
CD16+
NK foi significativamente mais alta
nos ciclistas treinados (n = 15)
29 homens bem treinados do que nos não treinados (n =
alta e baixa intensidade de
Tvede et al. [33] ciclistas (23 anos) e 15 20 horas 10) tanto no período de treino de
treino de ciclismo
ciclistas não treinados baixa intensidade (39,2 ± 11,6%vs
30,9 ± 6,4%) enquanto no de alta
intensidade (55,2 ± 18.4% vs 33,6
± 20,3%).
8 semanas (3 vezes por
24 estudantes univer- CD56+
semana) Comparação entre
Unal et al. [34] sitários sedentários e ? Aumento de 65% em CD56+ no
diferentes tipos de treinos
trabalhadores grupo com maior volume de treino
(30min x 20 min)

além das características sociodemográficas da Nos estudos que apresentavam informações


população estudada: ano, tipo de estudo, for- das NK durante a realização do exercício
mas de coletas de dados, autores, entre outras físico, optou-se especificamente por incluir,
variáveis que se mostraram interessantes para apresentar e discutir os dados referentes as
essa investigação. coletas realizadas após o exercício físico/treino.
Como critério de exclusão para esse estudo A maioria dos estudos selecionados incluiu
utilizou-se: artigos em outros idiomas que no treinamento diversos tipos de exercícios, no
não português ou inglês; trabalhos científicos entanto o mais citado foi o ciclismo seguido
divulgados em outras formatações (ex.resumos pela corrida. O marcador mais utilizado para
apresentados em eventos, livros etc.). Ressalta- identificar as células NK foi o CD56+ seguido
-se ainda que se tomou a precaução necessária pelo CD16+, e alguns estudos utilizaram am-
para que os artigos não fossem incluídos duas bos marcadores. Apenas 2 estudos realizaram
vezes, caso estivessem indexados em várias a coleta do sangue após as 48 horas de repouso
bases de dados selecionadas. (Tabela I).
Apesar dos estudos selecionados fazerem
Resultados e discussão um relato da resposta do treino a longo prazo,
muitos também acompanharam a resposta
A partir da seleção dos artigos foram in- aguda, dessa forma foi possível verificar que o
cluídos nesta revisão 13 estudos, que foram comportamento do número de células natural
publicados entre os anos de 1995 a 2012. killer circulantes parece aumentar durante o
No quadro I estão apresentados detalhes dos exercício físico, seguido por uma brusca que-
estudos selecionados, como o primeiro autor da, imediatamente após o exercício físico, que
e ano, constituição da amostra, treinamento pode ocorrer até por volta de 30 a 50 minutos
realizado, tempo de descanso após o último após seu término, logo em seguida inicia-se
treino antes da coleta sanguínea, o marcador um aumento no número de células circulantes
que foi utilizado para determinação das célu- no sangue periférico e esse aumento prolonga-
las NK e os principais resultados que foram -se por 24 horas e em muitos casos por 48
encontrados. horas [17,24-34].
Durante a fase de análise dos estudos Nos resultados apresentados nessa revisão
foram excluídos 4 estudos que avaliaram (tabela I), mais de 8 estudos apresentaram da-
somente indivíduos do sexo feminino. Um dos referentes a exercícios físicos realizados por
estudo que avaliou adolescentes, entre 13 e mais de 6 semanas consecutivas. Nos estudos
14 anos de idade [23], também foi excluído. transversais, os benefícios a longo prazo do
50 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

treinamento podem ser mascarados por uma treinamento físico em que se encontravam
sessão de treino recente e que podem dificultar esses atletas.
a análise e entendimento dos resultados [7]. Comumente é sugerido que o exercício
Nos estudos selecionados ocorreram varia- induz ao aumento da quantidade de células
ções no tempo de repouso, que foi utilizado NK a partir dos reservatórios venosos que está
após a realização do exercício físico, para serem associada ao aumento do débito cardíaco e
feitas as coletas de sangue periférico. Através a uma demarginação dos linfócitos associa-
da análise dos estudos foi possível verificar, dos com a mediação da ação da adenosina
que o tempo utilizado para coleta de sangue monofosfato cíclica, que medeia a ação das
após o exercício físico pode influenciar nos catecolaminas e as moléculas de adesão [6]. A
resultados, em estudos centrados na resposta redução da quantidade das células NK após o
ao treino, pelo que um período de tempo após exercício físico pode ser causada pela remar-
o exercício tem sido respeitado para realizar ginação celular, quando a concentração das
a coleta da amostra de sangue. No caso do catecolaminas diminui para os níveis normais
exercício moderado, 24 horas parece ser sufi- de repouso. No entanto, é difícil indentificar
ciente para uma completa recuperação, mas qual é o mecanismo que reduz a quantidade
interpretações errôneas da resposta ao treino de células NK aos níveis normais. É muito
podem surgir em estudos em que a elevação postulado que as células NK migram para fora
destas células que ocorre na resposta aguda da circulação na primeira hora do exercício e
possa persistir por diversos dias [6,7]. Na esta migração é mais intensa nos exercícios
metanálise realizada por Shephard e Shek [6], vigorosos, possivelmente para dar assistência
na maioria dos artigos investigados, os sujeitos na morte celular, ocorrida como consequência
das amostras não tiveram mais que 24 horas de de microtraumas na atividade muscular[6,7].
recuperação, e em algumas instâncias o tempo Apesar de o exercício físico extenuante em
após o exercício foi muito próximo ou muito níveis mais intensos poder causar consequên-
curto em relação à última sessão de exercícios. cias negativas para a resposta imunológica,
Por dificuldades e alguns problemas envol- o exercício moderado a longo prazo pode
vendo as técnicas de análises e coleta de dados influenciar a função imunológica de forma
imunológicos, poucos estudos tem incluído benéfica [6]. Uma metanálise identificou que
grupo de controle [6]. A partir dos estudos indivíduos ativos fisicamente possuem uma
selecionados observou-se que após a realização vantagem de 17% no número de células NK
do exercício físico as células NK apresentaram quando comparados a indivíduos sendentá-
um comportamento similar, pois dos 12 estu- rios [6].
dos 9 apresentaram um aumento no número Relativamente ao número de células na-
de NK circulantes (tabela I). Verificou-se tural killer circulantes, é interessante destacar
que durante ou logo após o exercício físico que os exercícios muito intensos, realizados
as células NK (CD16+/CD56+) circulantes cerca de 20 a 120 minutos, com uma inten-
no sangue periférico parecem ser encontradas sidade a 75 até 90% do pico do VO2 máximo,
em maior número e percentagem em atletas podem causar uma maior elevação do número
do que em não atletas e esses valores podem de células NK, no entanto, após a prática de
ser mantidos por longos períodos de tempo exercícios muito pronlongados, acima de
[35]. Um estudo que avaliou 1038 atletas na 120 minutos e realizados até 120 dias, depois
China identificou proporções aumentadas em de passadas 24 horas de repouso podem ser
atletas cerca de 20 a 40% quando comparados encontrados valores muitos reduzidos no nú-
aos níveis normais, e as subpopulações CD3+, mero de células NK no sangue periférico [6].
CD3+CD4+, e CD3+CD8+ T, B, e NK foram Elevada atividade ou número de células
todas menores nos atletas quando comparados NK na circulação sanguínea não parece ser
com os valores de referência clínicos [36]. No sempre favorável, no caso de pacientes com
entanto, não foi detalhado o momento de problemas dermatológicos [16,37,38]. Em
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 51

outro estudo observou-se uma elevação no Assim a alteração do número e da ativi-


número e na atividade de NK devido a uma dade das células NK pode ser um reflexo da
expansão anormal dos grandes linfócitos atividade simpática independente do papel
granulares (NK), sendo uma adaptação com- imunológico das células NK [16,42]. No en-
pensatória a um defeito na mitogênese das tanto, o significado da redução da circulação
células T primárias [15,16]. das células NK, como também de outros
O elevado número de NK circulantes leucócitos, induzidos pelo exercício físico para
também pode estar relacionado com o dano a saúde ainda é desconhecida.
muscular ocasionado pelo exercício físico Após um mês de treino de voleibol veri-
e costuma ser observado em situações de ficou-se uma redução no número e também
inadaptação à carga de treino como é o caso na citotoxidade das células NK. Apesar desse
do “overtraining” [16,17]. Apesar das razões resultado os atletas não relataram comporta-
que ocasionam nas mudanças de percentuais mentos ou sintomas de modo que pudessem
e número das células NK provocadas pelo trei- ser considerados estarem mais suceptiveis a
namento, existe uma tentativa de relacioná-las infecções [43]. A queda do número circu-
com a performance e/ou “overtraining” em lante das células NK após o exercício físico
atletas [39]. Mesmo assim, como já relatado agudo tem sido relatada por diversos estudos
anteriormente o tempo de recuperação parece [27,44], uma tentativa para explicar esse efeito
ser um fator influenciador na resposta deste fisiológico como sendo uma redistribuição
tipo de célula. das células do sangue periférico resultado de
Apesar de a maioria dos estudos indicar um treino intenso [35]. Segundo Gleeson e Bishop
aumento no número das células NK circulan- [44], a duração e a intensidade de exercício
tes (tabela I), durante as buscas foi observado parecem influenciar a escala e a velocidade
que dois estudos relataram uma diminuição dessa mobilização.
no número total de células NK circulantes Dos estudos selecionados para esta revisão,
[25,27] e apenas um estudo relatou que os apenas um apresentou resultados sobre as sub-
valores não tiveram alterações significativas populações CD56bright e CD56dim [14], neste
[24]. Especificamente no estudo de Gleeson estudo foi relatado que quando foi aumentada
et al. [27], a percentagem das células NK a carga de treinamento reduziu o número
(CD16+/CD56+) declinaram entre 30 a 40 total de células NK CD56+ circulantes, mas
% após 7 meses de treinamento intenso de por outro lado ocorreu um aumento no nú-
natação e foram de 20 a 30% menores que mero de células CD56bright e uma redução no
nos não atletas [27], sendo importante lembrar número de células NK CD56dim. Sabe-se que
que esses dados foram colhidos após 24 horas o exercício exerce grande efeito agudo nessas
do último treino. É interessante destacar que subpopulações [7]. O exercício físico crônico
quando o exercício é continuado por diversos pode facilitar o turnover e a geração celular,
dias ou de forma prolongada a quantidade de com o surgimento de novas células imaturas
células NK pode cair a um número abaixo dos [2,43]. Os leucócitos circulantes representam
níveis iniciais [6,27]. apenas uma fracção muito pequena (1-2%) de
As mudanças no sistema nervoso autôno- leucócitos totais. Portanto, um recrutamento
mo resultantes da prática do exercício físico, de circulatório seletivo das células NK CD56+bright
fato parecem produzir alterações no ritmo cir- pode ocorrer, dependendo das mudanças no
cadiano dos leucócitos, sendo capaz de induzir ambiente interno [43].
um aumento no número das subpopulações Investigações sugerem que as células
incluindo os granulócitos, os linfócitos e as NK56bright dão origem as células CD56dim
células natural killer [40]. Esse fenômeno está maduras, as quais prevalecem com o fenó-
associado à atividade simpática em conjunção tipo das células NK. Sendo assim, existe
com a produção de catecolaminas no sangue uma hipótese que as células CD56dim seriam
causada também pelo exercício físico [40,41]. derivadas das células CD56bright, e o exercício
52 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

poderia induzir a mobilização desta última redistribuição das células NK induzida pelo
subpopulação, refletindo a mobilização de treino, após seu término, que pode refletir
células CD56+ imaturas. O exercício físico um processo de recuperação e adaptação, em
agudo pode mobilizar as células CD56bright resposta ao estresse fisiológico. Este compor-
para a circulação, provavelmente a partir do tamento pode suportar um risco acrescido
tecido linfóide onde são abundantes [1], o da eficácia da função imune. O número e
que faz com que o exercício físico possa ter percentual de células NK circulantes parece
um importante papel clínico. aumentar durante o exercício físico, seguido
No estudo de Shore et al. [32], foi evidencia- por uma brusca queda, que pode ocorrer até
do que o treinamento moderado, que seria capaz por volta de 30 a 50 minutos após seu térmi-
de causar um balanço energético negativo, pro- no, logo em seguida inicia-se um aumento
duz um menor aumento no número de células no número de células circulantes no sangue
NK CD16+CD56+, de células citotóxicas não periférico e esse aumento prolonga-se por 24
restriras ao complexo MHC, no entanto como horas e em muitos casos por 48 horas, esse au-
consequência os autores atribuíram como uma mento parece estar relacionado à intensidade
consequência negativa a diminuição dos linfó- e ao volume do exercício que foi realizado. A
citos B que ocorreu resultado do treinamento resposta ao treino prolongado, por outro lado,
realizado. Apesar desse resultado, é importante parece ser caracterizada por uma diminuição
destacar que os atletas possuíam um número nos níveis de células NK em repouso, podendo
menor de células NK em repouso. representar uma adaptação crônica ao treino
No entanto, o exercício total realizado intenso de longa duração.
pode influenciar as células NK pela via da
respostas neuroendócrina. Isto é possível, pois Agradecimentos
com um aumento da carga de treino ocorre
um aumento antecipatório das catecolaminas Ao Conselho Nacional de Desenvolvi-
(ex. Adrenalina). As células natural killer, mento Científico e Tecnológico- CNPq pelo
assim como outros linfócitos expressam re- apoio financeiro (Bolsa de doutorado pleno
ceptores β-adrenergicos os quais respondem no exterior-GDE/Ciências sem Fronteiras)
às catecolaminas aumentando o número em concedido a Grasiely Faccin Borges (202441/
circulação [45]. Controversamente, o aumento 2011-3).
da concentração do cortisol tem sido relata-
do em associação com uma diminuição no Referências
número das células NK [46] e isto pode ser
possível também pela aumentada produção de 1. Caligiuri MA. Human natural killer cells.
glucocorticóides como uma resposta do stress Blood 2008;112:461-9.
ocasionado pelo exercício. 2. Cooper MA, Fehniger TA and Caligiuri MA.
The biology of human natural killer cell sub-
As mundaças no número e percentual de
sets. Trends Immunol 2001;22:633-40.
células NK parecem ser efeitos de uma supres- 3. Barclay AN, Birkland ML, Brown MH, eds.
são protetora dos resultados do exercício físico The leukocyte antigen. London: Harcourt
intenso ou prolongado. As quedas ocasionadas Brace Jovanovich 1997:136-229.
têm sido sugeridas como deixando os atletas 4. Godfrey DI, Hammond KJ, Poulton LD,
potencialmente susceptíveis a infecções virais Symth MJ, Baxter AG. NKT cells: facts,
[27]. Porém, nem todos autores concordam functions and fallacies. Immunol Today
com essa hipótose [7, 43]. 2000;21(11):573-83.
5. Gharehbaghian A, Donaldson C, Newman
J, Bannister G, Bradley BA. The correlation
Conclusão between the percent of CD3- CD56+ cells and
NK precursor function. Iran J Allergy Asthma
Os estudos publicados e utilizados por esta Immunol 2006;5(4):167-75.
revisão sistemática apontam para um efeito de
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 53

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 55

REVISÃO

Protocolos de tratamento na síndrome


femoropatelar
Treatment protocols in patellofemoral syndrome

Alisson Guimbala dos Santos Araujo, M.Sc.*, Nayara Menezes Pereira**

*Supervisor do Ambulatório de Disfunções Músculo-Esquelética da Faculdade Guilherme Guimbala


(FGG), Especialista em Ortopedia e Traumatologia da FGG, **Acadêmica do Curso de Fisioterapia da
FGG

Resumo inclusão deste estudo. Diante dos diversos protocolos


Os conhecimentos sobre as patologias do joelho utilizados na reabilitação de pacientes com a SDFP,
sofreram grande avanço nos últimos dez anos. Em os resultados demonstraram serem satisfatórios nos
consequência disso, várias técnicas cirúrgicas e vários tratamentos envolvendo o fortalecimento de quadrí-
protocolos de tratamento conservador vêm sendo de- ceps femoral e alongamento de cadeia posterior. Os
senvolvidos. A síndrome da dor femoropatelar (SFP) benefícios obtidos foram de modo geral na melhora
é caracterizada por dor peri ou retropatelar. Sendo o de sinais e sintomas de pacientes com SDFP, como
principal fator etiológico de origem dinâmica a hipo- dor, capacidade funcional, flexibilidade, e na geração
trofia ou displasia do músculo vasto medial. O objetivo de força, trazendo assim melhora na qualidade de vida
do trabalho foi analisar os protocolos de tratamento do paciente. Porém há uma perspectiva para que outros
na instabilidade femoropatelar. Foi realizada pesquisa tipos de exercícios sejam inseridos no tratamento de
bibliográfica nas bases de dados eletrônicas, Pubmed e pacientes com SDFP, assim se faz necessário que mais
Scielo. As buscas foram realizadas restringindo a data estudos sejam feitos para comprovar a eficácia dos
para artigos publicados entre 2003 e 2012, em língua protocolos verificados na pesquisa.
inglesa e portuguesa. Desta forma foram analisados Palavras-chave: joelho, instabilidade femoropatelar,
25 artigos, dos quais 8 preencheram os critérios de protocolos.

Recebido em 22 de outubro de 2012; aceito em 4 de fevereiro de 2013.


Endereço para correspondência: Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rua Paulo Henk, 96, 89216550
Joinville SC, E-mail: alisson.araujo@ace.br
56 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

Abstract 25 articles were analyzed, 8 of which met the inclusion


The knowledge about the pathologies of the knee criteria of this study. The various protocols used in the
increased in the last ten years. Consequently, several rehabilitation of patients with PFS showed satisfactory
surgical techniques and conservative treatment pro- results in treatments involving the strengthening of the
tocols have been developed. The patellofemoral pain quadriceps and stretching of the posterior chain. The
syndrome (PFS) is characterized by peripatellar pain benefits obtained were generally improving in signs and
or retropatellar pain, being the main etiological factor symptoms of patients with PFS, such as pain, functio-
of dynamic origin the hypotrophy or dysplasia of the nal capacity, flexibility, and power generation, thereby
vastus medialis muscle. The objective of this study bringing improvement in quality of life of the patient.
was to analyze treatment protocols in patellofemoral But there is a prospect for other types of exercises to
instability. A literature review was performed in elec- be included in the treatment of patients with PFS, so
tronic databases, Pubmed and Scielo. Searches were more studies are needed to prove the effectiveness of
conducted restricting the date for articles published the protocols observed in the survey.
between 2003 and 2012 in English and Portuguese. Key-words: knee, patellofemoral instability, protocols.

Introdução A síndrome femoropatelar (SFP) é caracteriza-


da por dor peri ou retropatelar e acomete atletas
O joelho é uma articulação do tipo sinovial e não atletas. Os pacientes com SFP apresentam
que faz o movimento de flexão e extensão, através dor difusa anterior ou retropatelar, que exacerba
do deslizamento. É constituído pela extremidade quando submetidos a atividades funcionais. Ou-
distal do fêmur com a extremidade proximal da tros sinais observados são a crepitação patelar,
tíbia, patela, ligamentos que estabilizam a articula- edema e bloqueio articular. Sua incidência é maior
ção, meniscos que dão complacência a articulação no sexo feminino acometendo principalmente
e absorvem o impacto sobre as cartilagens. No mulheres jovens, ou atletas adolescentes de ambos
joelho ainda se encontram a articulação femoro- os sexos [9-11].
patelar, que é responsável por este deslizamento, Apesar de não estar claramente estabelecida, a
e a femorotibial [1,2]. etiologia pode estar relacionada com vários fatores
Os conhecimentos sobre patologias do joelho que levam ao mau alinhamento patelar, como
sofreram grande avanço nos últimos dez anos, a o aumento do ângulo Q, patela alta ou baixa,
necessidade do conhecimento mais profundo se deu pronação subtalar excessiva, rotação lateral da
pelo aumento dos casos de lesão nesta articulação, tíbia, anteversão femoral, joelho valgo ou varo e
acometendo 23 a 31% dos pacientes atendidos encurtamento do retináculo lateral, dos músculos
em clínicas de fisioterapia, sendo a mais comum a ísquiotibiais e do trato iliotibial. Porém, o princi-
síndrome da dor femoropatelar (SDFP). Em con- pal fator etiológico de origem dinâmica que leva
sequência disso, várias técnicas cirúrgicas e vários ao mau alinhamento é a hipotrofia ou displasia
protocolos de tratamento conservador vêm sendo do músculo vasto medial, que impossibilita esse
desenvolvidos e a fisioterapia vem mostrando ter um músculo de contrapor a força produzida pelo
papel muito importante na reabilitação de pacientes músculo vasto lateral e o trato iliotibial, já que
com SDFP. A reabilitação deve seguir alguns passos essas porções do músculo quadríceps femoral
com o objetivo de que o paciente retorne às suas controlam a biomecânica da articulação femoro-
atividades laborais ou ao esporte. Para tanto é neces- patelar [2-6,15,13-21].
sário a proteção das estruturas lesadas, manutenção Com isso muito se fala em qual seria a técnica
do condicionamento cardiorrespiratório, ganho ou protocolo de tratamento mais adequado para
completo da amplitude de movimento, prevenção estes pacientes e diversos trabalhos trazem técnicas
da atrofia muscular, manutenção da propriocepção, de fortalecimento de determinados músculos e
melhora da força muscular, e retorno à agilidade para diversas maneiras, alongamentos, eletroestimu-
diferentes atividades [2-8]. lação, o efeito de movimentos funcionais sobre a
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 57

Tabela I - Caracterização dos estudos selecionados.


Autores Grupo Metodologia Variáveis Conclusão
Miyamoto et N = 12 Alongamento muscular Ângulo Q, dor, capaci- Todas as variáveis apresen-
al. [2] segmentar bilateral. Com dade funcional. taram melhora significante
duração de 30 segundos, e após o tratamento.
10 repetições.
Cabral [3] N = 40 Alongamentos de cadeia Flexibilidade, ângulo Q, Redução efetiva da dor,
posterior, fortalecimento de capacidade funcional, melhora do realinhamento
quadríceps femoral. eletromiografia. dos joelhos e aumento da
flexibilidade.
Cabral et al. [9] N = 11 Exercícios de fortalecimento Dor, capacidade Evidenciou melhora signifi-
de quadríceps em cadeira funcional, ângulo Q, cante para as variáveis de
extensora, 16 sessões duas eletromiografia. dor, capacidade funcional e
vezes na semana. eletromiografia.
Cabral et al. [14] N = 20 Alongamentos de cadeia Dor, capacidade Melhora do realinhamen-
posterior pelo RPG e alonga- funcional, flexibilidade, to do joelho, melhora da
mento segmentar. Duração ângulo Q e eletromio- flexibilidade, o que facilita o
de 8 semanas com 2 sessões grafia. fortalecimento.
semanais.
Candeia et al. N=1 Aplicação de duas técnicas de Exame de vídeofluo- Aumento significativo para
[15] taping patelar. roscopia do joelho em melhor ângulo do tilt patelar
plano sagital, antes e após a aplicação das técni-
após o tratamento. cas de taping.
Cabral et al. [9] N = 20 Fortalecimento de quadríceps Dor capacidade funcio- Melhora da capacidade
em cadeia cinética aberta nal, flexibilidade, ângu- funcional e flexibilidade.
e fechada, durante oito lo Q, eletromiografia.
semanas.
Clark et al. [18] N = 81 Fortalecimento, alongamento, Dor, satisfação do Melhora da dor, satisfação
taping, reeducação. Durante paciente, força de do paciente e força de qua-
3 meses. quadríceps. dríceps, porém o taping não
influenciou no resultado.

Garcia et al. [8] N = 10 Estimulação elétrica de vasto Teste funcional, eletro- Após tratamento houve
medial. 3 vezes na semana miografia. aumento na capacidade de
por 6 semanas. geração de força.
Fonte: Dados coletados pelos pesquisadores.

articulação femoropatelar, entre outros. Porém, objetivo do trabalho foi analisar os protocolos de
não foi estabelecido um protocolo com com- tratamento na instabilidade femoropatelar.
provação de melhora para pacientes acometidos
por esta síndrome. O tratamento cirúrgico traz Material e métodos
mais de cem técnicas diferentes descritas, porém,
com um alto índice de resultados insatisfatórios, Foi realizada pesquisa bibliográfica nas bases
principalmente a longo prazo, somado ainda de dados eletrônicas, Pubmed e Scielo. Para tanto
com o grande potencial iatrogênico, fazem do foram utilizados os termos: knee, patellofemoral
tratamento conservador uma alternativa pro- instability, protocols, exercise, rehabilitation na
missora. Que leva ao alívio da dor, por meio de língua inglesa, e joelho, síndrome femoropatelar,
fortalecimentos e alongamentos associados ao uso instabilidade, protocolos, exercícios, reabilitação
de anti-inflamatórios [2,4,6,13,14,18,19,22]. O na língua portuguesa. As buscas foram realizadas
58 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

restringindo a data para artigos publicados entre moral e ísquiotibiais a 60 e 180º/s. O tratamento
2003 e 2012, em língua inglesa e portuguesa, consistiu em alongamento muscular segmentar
sendo inclusos os estudos que abordavam ca- bilateral dos músculos ísquiotibiais, tríceps sural e
sos nos quais a intervenção em pacientes com quadríceps femoral, teve duração de 30 segundos
síndrome femoropatelar se dera por tratamento e 10 repetições para cada músculo. Os resultados
conservador. Desta forma foram analisados 30 mostram que o alongamento muscular segmentar
artigos, dos quais 8 preencheram os critérios de possibilita melhoras de vários sinais e sintomas
inclusão deste estudo. apresentados pelo paciente com SDFP, como
alinhamento, dor e função do joelho.
Resultados Já outro estudo realizado comparou a eficácia
do alongamento muscular na recuperação fun-
Dos 25 artigos encontrados, apenas 8 apresen- cional de pacientes com SDFP, em um grupo de
tavam ensaios clínicos controlados, e os artigos 20 mulheres sedentárias com SDFP. Foi subdivi-
selecionados quanto aos tratamentos comparados dido em dois grupos sendo que o grupo 1 (G1)
para a síndrome femoropatelar foram: alonga- realizou alongamento dos músculos da cadeia
mento, fortalecimento, eletroestimulação, taping, posterior pela técnica de reeducação postural
influência dos músculos do quadril na SDFP, global e o grupo 2 (G2) alongamento segmentar
altura do STEP, combinados ou não. A tabela dos músculos ísquiotibiais e gastrocnêmios. As
I apresenta os dados dos estudos selecionados, variáveis avaliadas foram a intensidade da dor no
tendo respectivamente autor, grupo participante, joelho pela escala visual analógica, capacidade
metodologia, variáveis estudadas e conclusão. funcional, flexibilidade pelo teste 3º dedo solo,
encurtamento dos músculos ísquiotibiais, ângulo
Discussão Q, e eletromiografia dos músculos bíceps femoral
e gastrocnêmios porção lateral. O tratamento
Os artigos relacionados apresentaram uma teve duração de oito semanas, com duas sessões
variação de 1 a 81 pacientes nos grupos, sendo semanais. Os resultados mostraram que os dois
um total de 222 pacientes estudados. Em seis grupos obtiveram melhora em capacidade fun-
estudos [2,3,8,9,15], o total de grupos envolveu cional, encurtamento dos músculos ísquiotibiais,
entre 10 e 40 pacientes, em um estudo [15] o ângulo Q e flexibilidade. Porém, somente o G1
grupo envolveu apenas um paciente, e em outro obteve redução na intensidade da dor. Comparado
estudo [17] o grupo envolveu 81 pacientes. Dois a G2, o G1 teve melhor índice de flexibilidade.
artigos [9,14] subdividiram a amostra em dois Concluindo que os exercícios de alongamento
grupos, e dois artigos [3,19] a amostra foi sub- muscular, em especial o global, devem ser indi-
dividida em quatro grupos, formando assim 12 cados para pacientes com SDFP para redução
grupos de estudo, em que a maioria dos grupos efetiva da dor melhorando o realinhamento dos
analisados utilizou fortalecimento de quadríceps joelhos e aumentando a flexibilidade, facilitando
e alongamento de cadeia posterior. o fortalecimento muscular [14].
Miyamoto et al. [2] realizaram um estudo Cabral [3] observou a eficácia do alongamento
com o objetivo de avaliar os efeitos do alonga- dos músculos da cadeia posterior com exercícios
mento muscular segmentar no tratamento da de fortalecimento do músculo quadríceps femoral
SDFP. Participaram do estudo 12 indivíduos com na recuperação funcional de pacientes com SDFP.
SDFP, dominância do membro inferior direito e Foram selecionadas 40 mulheres sedentárias com
idade média de 20 anos. Os participantes foram idade entre 18 e 32 anos com SDFP. As variáveis
avaliados antes e após o tratamento, sendo as avaliadas antes do tratamento foram medida da
variáveis analisadas; o ângulo Q, intensidade da flexibilidade, encurtamento dos músculos ísquioti-
dor, capacidade funcional pela escala de Lysholm, biais, ângulo Q, aplicação da escala de capacidade
sensação de posição articular (SPA) a 40 e 50 graus funcional (escala de Lysholm e escala de avaliação
de flexão de joelho, trabalho total e momento de para articulação femoropatelar), eletromiografia dos
força concêntrico dos músculos quadríceps fe- músculos vasto medial, vasto lateral, bíceps femoral
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 59

e gastrocnêmios porção lateral durante contrações o ângulo Q, o que sugere que os tratamentos
isométricas de flexão e extensão da perna. Após a baseados no fortalecimento do músculo quadrí-
avaliação, o grande grupo se subdividiu em quatro ceps femoral resultam em melhora nos principais
grupos: G1 realizou alongamentos dos músculos de sintomas apresentados pelo paciente, porém, não
cadeia posterior pela técnica de RPG, G2 realizou houve diferenças evidentes na realização em cadeia
alongamento segmentar dos músculos ísquiotibiais cinética aberta ou fechada.
e gastrocnêmio, G3 fortaleceu o músculo quadríceps Já Cabral et al. [9] observaram a eficácia do
femoral em cadeia cinética aberta e G4 fortaleceu fortalecimento de quadríceps femoral em cadeia
também quadríceps femoral em cadeia cinética cinética aberta, no tratamento de pacientes com
fechada, ambos com aumento progressivo da carga. SDFP. Foram avaliadas as variáveis de dor, capa-
O tratamento durou oito semanas com frequência cidade funcional, ângulo Q e eletromiografia du-
de duas sessões semanais. Em todos os grupos houve rante contrações isométricas. As 10 pacientes com
melhora da capacidade funcional, diminuição do SDFP selecionadas realizaram fortalecimento do
encurtamento dos músculos ísquiotibiais e aumento músculo quadríceps femoral na cadeira extensora
da flexibilidade. Sugerindo que exercícios de alon- com aumento progressivo de carga, com duração
gamento, em especial o RPG, devem ser indicados de 16 sessões, duas vezes por semana. Concluindo
para pacientes com SDFP, principalmente em fases que os exercícios de fortalecimento realizados
iniciais de sinais e sintomas. devem ser prescritos para pacientes com SDFP
Apesar de terem sido utilizadas técnicas, dura- e produzem resultados funcionais satisfatórios.
ção e número de repetições diferentes nos estudos Clark et al. [18] pesquisaram a eficácia de
citados acima, nota-se uma melhora no quadro de três técnicas fisioterapêuticas isoladamente sendo
sinais e sintomas do paciente com SDFP quando aplicadas em pacientes com SDFP. Um grupo de
submetido a alongamentos, em especial de cadeia 81 jovens com SDFP foram separados aleatoria-
posterior. A dor demonstrou melhora efetiva, bem mente em quatro grupos: G1 realizou exercícios de
como a funcionalidade, alinhamento do joelho e fortalecimento, alongamentos e uso do taping; G2
flexibilidade. Os exercícios de alongamento são realizou exercícios de fortalecimento e alongamen-
indicados para pacientes com SDFP, principal- tos; G3 realizou alongamentos e utilizou taping; e
mente no início dos sintomas. G4 somente o alongamento. O tratamento teve
Cabral et al. [9] avaliaram a eficácia do for- duração de 3 meses, e as variáveis avaliadas foram
talecimento muscular em pacientes com SDFP, a satisfação do paciente, dor através da escala visual
comparando os exercícios em cadeia cinética analógica, funcionalidade, força de quadríceps. Os
aberta e cadeia cinética fechada. Um grupo de 20 pacientes foram avaliados após 3 meses de trata-
mulheres com SDFP foi dividido em dois grupos: mento e após 12 meses através de um questionário
G1 realizou o fortalecimento de quadríceps fe- postal. Todos os grupos apresentaram melhora
moral em cadeia cinética aberta, já G2 realizou o significativa no quadro de sintomas, entretanto
mesmo fortalecimento em cadeia cinética fechada, pacientes que fizeram apenas fortalecimento rela-
ambos com duração de 8 semanas e frequência taram retorno dos sintomas após 3 meses. O taping
de 2 vezes na semana. Antes e após o tratamento não mostrou eficácia significativa na melhora dos
foi avaliada a dor, capacidade funcional, flexi- pacientes. Com os dados apresentados sugere-se
bilidade, encurtamento de ísquiotibiais, ângulo que os efeitos de alongamento e fortalecimento
Q, eletromiografia dos músculos vasto medial são efetivos, porém, precisam ser mantidos por
e vasto lateral, durante extensão isométrica da pelo menos 1 ano após o tratamento, já o taping
perna. Os resultados mostram que houve me- não demonstrou eficácia.
lhora da capacidade funcional encurtamento de As técnicas de fortalecimento nos estudos
ísquiotibiais, e flexibilidade. Porém, somente o acima citados evidenciaram que há melhora do
grupo submetido a exercícios de cadeia cinética quadro do paciente em geral de sintomas, não
aberta apresentou diminuição na intensidade da havendo influência entre exercícios de cadeia
dor e aumento da atividade eletromiográfica do cinética aberta ou fechada para estes pacientes.
músculo vasto lateral. Ambos não modificaram Apesar de se mostrar efetivo, o exercício de for-
60 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013

talecimento associado ao alongamento trouxe da musculatura do quadril parecem contribuir


resultados bastante satisfatórios. para a manifestação da SDFP e devem ser consi-
Outro estudo verificou os efeitos do taping deradas na avaliação e tratamento dos pacientes
no tilt patelar anteroposterior durante a execução portadores da SDFP.
de movimentos de extensão e flexão do joelho.
Para isso um voluntário do sexo feminino, com Conclusão
diagnóstico de síndrome da dor patelofemoral
foi submetido ao exame de videofluoroscopia Diante dos diversos protocolos utilizados na
da articulação do joelho no plano sagital antes reabilitação de pacientes com a SDFP, os resultados
e após a aplicação de duas técnicas de taping demostraram serem satisfatórios no tratamento
patelar. Ocorreu um aumento do ângulo do tilt envolvendo o fortalecimento de quadríceps femo-
patelar anteroposterior após a aplicação das duas ral e alongamento de cadeia posterior, sendo que
técnicas de taping. O uso do taping pode mudar quando associados, os benefícios obtidos tiveram
o posicionamento do tilt patelar anteroposterior. maior duração. Quanto ao modo de aplicação dos
No entanto, são necessárias mais pesquisas para exercícios, em cadeia cinética aberta ou fechada,
avaliar a eficácia do taping patelar e seus mecanis- e diferentes técnicas de alongamento, não houve
mos de ação, principalmente no controle da dor diferença significativa nos resultados. Porém os be-
[15]. Quando analisado separadamente o uso do nefícios obtidos foram de modo geral na melhora de
taping demonstrou efetividade no tratamento de sinais e sintomas de pacientes com SDFP, como dor,
pacientes com SDFP. No entanto, são necessárias capacidade funcional, flexibilidade, e na geração de
mais pesquisas quanto à técnica. força, trazendo assim melhora na qualidade de vida
Garcia et al. [8] desenvolveram uma pesquisa do paciente. Porém há uma perspectiva para que ou-
através de um programa de fortalecimento muscular tros tipos de exercícios sejam inseridos no tratamento
com estimulação elétrica de vasto medial na SDFP de pacientes com SDFP, assim se faz necessário que
por meio da capacidade de avaliação de eletromio- mais estudos sejam feitos para comprovar a eficácia
grafia. Participaram do estudo 10 mulheres jovens dos protocolos verificados na pesquisa.
com idade média de 23 anos, SDFP unilareral, as
quais realizaram o teste funcional de subir degrau Referências
e para captação da atividade eletromiográfica dos
músculos vasto lateral e vasto medial. Os resulta- 1. Peccin MS, Ciconelli R, Cohen M. Questionário
dos mostraram que ocorreu alteração somente no específico para sintomas do joelho. Acta Ortop
Brasil 2006;14(5):268-72.
comportamento eletromiográfico relativo à razão da 2. Miyamoto CG, Soriano RF, Cabral NMC. Alon-
integral do sinal, mostrando que, após o treinamento gamento Muscular Segmentar Melhora Função
muscular, ocorreram mudanças na capacidade de e Alinhamento do Joelho de Indivíduos com
geração da força. O uso da eletroestimulação deve Síndrome Fêmoropatelar: Estudo Preliminar. Rev
ser considerado no sentido de complementar a Bras Med Esporte 2010;16(4):269-72.
abordagem terapêutica conservadora em portadores 3. Cabral CMN. Recuperação funcional da síndrome
fêmoro-patelar: um estudo comparativo entre
da SDFP. fortalecimento e alongamento muscular [Tese].
Portanto, a eletroestimulação não pode ser São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade
eleita como base de tratamento para pacientes de São Paulo; 2006.81f.
com SDFP, pois sua efetividade isoladamente não 4. Mello W, Marchetto A, Wiezbicki R. Tratamento
é suficiente, mas se associada a outras técnicas conservador das instabilidades patelofemorais com
pode trazer bons resultados e quando associada exercícios de cadeia cinética fechada. Rev Bras
Ortop 1998;33(4):255-60.
à eletromiografia será uma ferramenta útil na 5. Nakagawa TH, Muniz TB, Baldon RM, Serrão FV.
avaliação do paciente com SDFP. A abordagem funcional dos músculos do quadril
Apesar do objetivo da pesquisa não ser analisar no tratamento da síndrome da dor fêmoro-patelar.
a influência da musculatura do quadril na SDFP, Fisioter Mov 2008;21(1):65-72.
observou-se no estudo de Nakagawa et al. [5] 6. Pulzatto F, Gramani-Say K, Siqueira ACB, Grossi
que fraqueza e o retardo no tempo de ativação DB, Santos DBG, Oliveira AS, Pedro VM. A in-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 61

fluência da altura do step no exercício de subida patelar anteroposterior durante os movimentos


posterior: estudo eletromiográfico em indivíduos de extensão e flexão do joelho. In: XII Congresso
sadios e portadores da síndrome da dor femoropa- Brasileiro de Biomecânica 2007, São Pedro. Anais
telar. Acta Ortop Bras 2005;13(4):168-70. do XII Congresso Brasileiro de Biomecânica. Rio
7. Bevilaqua-Grossi1 D, Felicio LR, Simões R, Coquei- Claro: UNESP; 2007.
ro KRR, Pedro VM. Electromyographic activity eva- 16. Ribeiro DC, Loss JF, Cañeiro JPT, Lima CS,
luation of the patella muscles during squat isometric Martinez FG. Análise eletromiográfica do quadrí-
exercise in individuals with patellofemoral pain syn- ceps durante a extensão do joelho em diferentes
drome. Rev Bras Med Esporte 2005;11(3):159-163. velocidades. Acta Ortop Bras 2005;13(4):189-93.
8. Garcia FR, Azevedo FM, Alves N, Carvalho 17. Nakagawa TH. Função dos músculos abdutores
AC, Padovani CR, Filho N. Efeitos da eletroes- e rotadores laterais do quadril no tratamento da
timulação do músculo vasto medial oblíquo em Síndrome da dor femoropatelar [dissertação]. São
portadores de síndrome da dor patelofemoral: Paulo: Universidade de São Carlos; 2008.
uma análise eletromiográfica. Rev Bras Fisioter 18. Clark DI, Downing N, Mitchell J, Coulson L,
2010;14(6):477-82. Syzpryt EP, Doherty M. Physiotherapy for anterior
9. Cabral CMN, Melim AMO, Sacco ICN, Marques knee pain: a randomised controlled trial. Ann
AP. Fisioterapia em pacientes com síndrome fêmoro- Rheum Dis 2000;59:700-4.
-patelar: comparação de exercícios em cadeia cinética 19. Burmann RC, Locks R, Pozzi JFA, konkewicz RE,
aberta e fechada. Acta Ortop Bras 2008;16(3):180-5. Souza MP. Avaliação dos fatores predisponentes
10. Fulkerson JP. Diagnosis and treatment of patients nas instabilidades femoropatelares. Acta Ortop
with patellofemoral pain. Am J Sports Med 2011;19(1):37-40.
2002;30(3):447-56. 20. Fredericson M, Yoon K. Physical examination and
11. Leme GPC, Fujita AP. Efetividade do treinamento patellofemoral pain syndrome. Am J Phys Med
muscular excêntrico no tratamento da tendinopa- Rehabil 2006;85:234-43.
tia patelar. Ensaios e Ciência 2009;13(2):111-24. 21. Bitar AC, D’Elia1 CO, Demange MK, Viegas AC,
12. Gramani-Say K, Pulzatto GM, Vassimon-Barroso Camanho GL. Estudo prospectivo randomizado
V, Oliveira SO, Bevilaqua-Grossi D, Pedro MV. sobre a luxação traumática de patela: tratamento
Efeito da rotação do quadril na síndrome da dor fe- conservador versus reconstrução do ligamento
moropatelar. Rev Bras Fisioter 2006;10(1):75-81. femoropatelar medial com tendão patelar - míni-
13. Andrade MAP, Silva GMA, Freire MM, Teixeira mo de dois anos de seguimento. Rev Bras Ortop
LEM. Tratamento cirúrgico da instabilidade fê- 2011;46(6):675-83.
moro-patelar. Rev Bras Ortop 2009;44(6):529-32. 22. Gramani-Say K, Pulzatto F, Santos GM, Vassimon-
14. Cabral CMN, Yumi C, Camargo I, Sacco RAC, -Barroso V, Siriani de Oliveira A, Bevilaqua-
Marques AP. Eficácia de duas técnicas de alon- -Grossi D, et al. Efeito da rotação do quadril na
gamento muscular no tratamento da síndrome síndrome da dor femoropatelar. Rev Bras Fisioter
femoropatelar: estudo comparativo. Fisioter Pesq 2006;10(1):75-81.
2007;14(2);48-56.
15. Candeia R, Bernardes C, Portella G, Silveira LF,
Araújo MA, Loss JF.  Efeitos do taping no tilt
Normas de publicação Fisiologia do Exercício

A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação c) a aprovação definitiva da versão que será publicada.
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b)
e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos
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Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica é suficiente.
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela de autores durante o processo de revisão do manuscrito,
publicação na revista os autores já aceitem estas condições. especialmente se o total de autores exceder seis.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional Na segunda página deverá conter um resumo (com no
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês
Requisitos Uniformes no site do International Committee e espanhol.
of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos - Objetivos do estudo.
requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica - Procedimentos básicos empregados (amostragem,
Editora em pdf ). metodologia, análise).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções - Descobertas principais do estudo (dados concretos e
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo estatísticos).
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que novidade.
será notificado ao autor. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em
textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se
científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br.
Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais 5. Agradecimentos
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
processador de texto (Word), em página de formato A4, financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou
formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do
Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais artigo, antes as referências, em uma secção especial.
como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada 6. Referências
tabela junto à mesma. As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as definido nos Requisitos Uniformes. As referências
especificações anteriores. bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem
e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e no texto, seguindo as seguintes normas:
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
introdução, material e métodos, resultados, discussão, iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In:
conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do
tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos,
(key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas
de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados inicial e final, ponto.
por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma Exemplo:
cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
CD-ROM o nome do artigo, data e autor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd
ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
informações: letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
- Título em português, inglês e espanhol. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
e títulos acadêmicos. pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
- Local de trabalho dos autores. ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
respectivo endereço, telefone e E-mail. Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
para paginação. ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6,
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, colocar a abreviação latina et al.
aparelhos, etc. Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
3. Autoria localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
participado do trabalho o suficiente para assumir a
responsabilidade pública do seu conteúdo. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições Guillermina Arias - E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
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e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão atlanticaeditora.com.br
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual;
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 12 Número 1 - janeiro/fevereiro 2013 63

Calendário de eventos

2013

Abril 29 de maio a 1 de junho


4 a 7 de abril VIII Congresso Internacional de Educação
Física e Motricidade Humana
Goiânia Capital Fitness Campos de Rio Claro, SP
Centro de Convenções, Goiânia, GO Informações: www.rc.unesp.br
Informações: www.goianiacapitalfitness.com.br
30 de maio a 2 de junho
19 a 21 de abril
8º Congresso Carioca de Educação Física
54º Encontro Nacional de Atividade Física e Rio de Janeiro, RJ
Convenção de Dança Convenção Internacional Informações: www.congressocarioca.com.br
de Sport, Fitness e Saúde
Poços de Caldas, MG 30 de maio a 2 de junho
Informações: www.enaf.com.br 23º Fitness Brasil Internacional
25 a 28 de abril Santos, SP
Informações: www.fitnessbrasil.com.br/santos
Arnold Classic Brasil
Centro de Convenções SulAmérica, Rio de Janeiro,
RJ Junho
Informações: www.arnoldclasssicbrasil.com.br
21 a 23 de junho
2º ENAF Ribeirão Preto
Maio Ribeirão Preto, SP
15 a 18 de maio Informações: www.enaf.com.br
IV CIRNE - Congresso Internacional de 27 a 29 de junho
Reabilitação Neuromusculoesquelética e 15º RioSports Show
Esportiva Centro de Convenções SulAmérica, Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ RJ
Informações: www.cirne2013.com.br Informações: www.riosportshow.com.br
16 a 19 de maio
2º Congresso de Educação Física da FIEP/GO
2º Congresso de Fisioterapia do Centro-Oeste
Goiânia, GO
Informações: secretaria@geeventos.com.br
você muito mais uso combinado
Lanche da manhã: ½ porção de Iso Casein®

definido
Pré-treino: 1 pack do Heavy Bomber® + 1 porção de L-Carnitine Fire®
Durante o treino: 1 porção de L-Carnitine Concentrated®
Pós-treino: 1 porção de BCAA Heavy Bomber® + 2 cápsulas de
ZMA Way® + 1 porção de ISO Waxy Maize®
Antes de dormir: ½ porção de Iso Casein®

Na busca pela diminuição da gordura corporal, a L-Carnitine Fire® gera o melhor estímulo
para a diminuição da gordura acumulada no corpo. Isso ocorre devido a geração de energia
direta a partir de lipídios e pela rápida ação devido ao seu uso sublingual. O poder da L-Car-
nitine Concentrated® durante os treinos garante um estímulo maior para a diminuição do
percentual de gordura, já que esse suplemento é de uso sublingual e com isso a absorção
é imediata e, consequente, aumento do gasto calórico e maior performance. O ZMA Way®
fornece os micronutrientes importantes para os vários processos metabólicos que ocorrem
durante a realização de um treinamento intenso e, por isso, é importante para melhores efei-
tos ergogênicos. Durante esse processo é importante fornecer módulos nutricionais adequa-
dos para o fortalecimento muscular. O Heavy Bomber Pack® atuará nesse fortalecimento
ao manter o estado contínuo de anabolismo muscular e por fornecer um mix de nutrientes
específicos para a formação de energia e contração muscular. A recuperação de energia de
forma instantânea se dá pelo uso do ISO Waxy Maize®, que garante a reposição do glico- Associação de suplementos com rápida ação e melhor eficiência.
gênio muscular. Além disso, é de extrema importância estabelecer métodos para evitar a
INVESTIMENTO
perda de massa magra que ocorre, principalmente, durante os treinos. Desse modo, o uso de
ISO Casein® e BCAA Heavy Bomber® serão os principais responsáveis pela recuperação e EFICIÊNCIA
manutenção da massa muscular no pós-treino e ao longo do dia e da noite. VELOCIDADE
Felipe Franco MIDWAY TEAM

Máxima
definição
muscular
v o l u m e 1 2 - n ú m e r o 0 1 • J an e i r o / F e v e r e i r o 2 0 1 3 ISSN 16778510

Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

R evi st a
Fisiologia

B rasi l ei ra
exercício

de
do

Fisio lo gia
Brazilian Journal of Exercise Physiology

do
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

e xe r cício
ESPORTE
• Treinamento físico personalizado
• Voleibol e desenvolvimento infantil

ORTOPEDIA 14 anos
• Tratamentos na síndrome
femoropatelar

IMUNOLOGIA
• Células natural killer e efeito
do treinamento

FISIOLOGIA
• Alongamento estático sobre o teste
de 1RM
• Reexpansão pulmonar em trauma
raquimedular
• Exercício físico e estresse oxidativo
• Consumo máximo de oxigênio
e percentual de gordura

v o l u me 12 - n ú me ro 0 1 • Ja n e iro /Fe v er e ir o 20 13

MR

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